E se eu te dissesse que um bilionário sussurrou para sua esposa: “Sente-se na mesa dos funcionários, em pleno jantar corporativo, na frente de 300 pessoas. Que tipo de homem humilha a própria mulher assim? E mais importante, o que ela descobriu que mudou tudo? Antes de começar essa história de reviravolta emocional, me conta de onde você está assistindo. Comenta aí sua cidade.
E se você curte histórias que mexem com o coração, se inscreve no canal e deixa aquele like. Você vai precisar porque essa narrativa vai te fazer questionar tudo sobre amor, poder e redenção. Agora vamos à história. A chuva batia contra as janelas do pequeno apartamento de 40 m² em Mouca.
Mariana Silva, 28 anos, estava sentada na beira da cama estreita, segurando um envelope branco que tremia em suas mãos. As palavras do médico ainda ecoavam em sua mente como um martelo implacável, câncer de pâncreas, estágio avançado. O tratamento convencional tem baixa taxa de sucesso, mas há uma clínica experimental na Suíça, R$ 500.000.
O número dançava diante de seus olhos embaçados pelas lágrimas. Seu salário como assistente administrativa mal cobria o aluguel e as contas básicas. R$ 5.200 por mês para viver e 500.000 para salvar a única pessoa que sempre acreditou nela. Filha a voz de Célia Silva veio do pequeno corredor, frágil, cansada, mas ainda tentando soar forte.
“Você está bem aí?” Mariana engoliu o choro, limpou o rosto rapidamente com as costas da mão. Estou sim, mãe, só terminando uns e-mails do trabalho. Mentira. Ela estava navegando freneticamente em sites de empréstimos, todos negando crédito, renda insuficiente, sem garantias, sem saída. Foi quando o anúncio apareceu. Procuro esposa. Contrato de 2 anos. Pagamento 500.000. Interessadas em enviar CV para contato e roca empresarial como BR.
Os dedos de Mariana congelaram sobre o teclado do notebook antigo. Seu coração disparou, não de esperança, mas de um misto de desespero e incredulidade. Que tipo de pessoa anuncia por uma esposa assim? Mas R$ 500.000, exatamente o que ela precisava. Com as mãos trêmulas, ela clicou em enviar CV antes que a razão pudesse detê-la.
Três dias depois, Mariana estava parada em frente ao edifício mais imponente da Avenida Faria Lima. Vidro espelhado, refletindo o céu cinzento de São Paulo. 40 andares de puro poder corporativo. A placa dourada brilhava mesmo sob a luz fraca. Roxatech, inovação em tecnologia. Suas mãos suavam dentro da bolsa de couro sintético que carregava há 5 anos.
O vestido azul marinho era o único apresentável que possuía, comprado em liquidação para uma entrevista de emprego que nunca resultou em nada. Os sapatos de salto baixo estavam desgastados nas pontas, mas ela os lustrou até brilharem. Senora Silva, uma secretária impecável, cabelos presos em coque perfeito, esmalte vermelho sem nenhuma falha, a chamou do outro lado do lobby de mármore. O Sr. Rocha está aguardando. Quadrago. Andar.
O elevador subiu em silêncio, apenas o suave som eletrônico marcando cada andar. Mariana viu seu reflexo no espelho, rosto oval. Olhos castanhos grandes demais para o rosto magro, cabelos castanhos lisos caindo sobre os ombros. Pele pálida de quem passava mais tempo sob luzes fluorescentes de escritório do que ao sol.
Nada de especial, nada de extraordinário. Por que alguém como ele me chamaria? As portas se abriram para um ambiente que mais parecia uma galeria de arte moderna, piso de madeira escura, paredes brancas decoradas com quadros abstratos caríssimos, móveis de design que ela só via em revistas e ao fundo, atrás de uma mesa de vidro gigantesca.
Ele, Dante Rocha, tinha 35 anos, mas sua postura transmitia décadas de comando absoluto, alto, devia ter 1,90 m, ombros largos sob o terno cinza chumbo cortado sob medida, cabelos pretos penteados para trás, revelando uma testa ampla. Olhos azuis acinzentados, frios como gelo, analisa Mariana com a mesma intensidade com que um cientista examina uma amostra sob microscópio. Sente-se, não foi convite, foi ordem.
Mariana sentou na cadeira de couro, sentindo-se ainda menor sob aquele olhar de secante. Ele não sorriu, não estendeu a mão, apenas abriu uma pasta diante de si e começou a ler em voz alta. Mariana Silva, 28 anos, formada em administração por universidade pública. Trabalha como assistente administrativa na Ferreira em associados há 5 anos. Salário R$ 5.200.
Mora em Mouca, solteira, sem dívidas significativas. Ele ergueu os olhos e Mariana sentiu um calafrio. Mãe diagnosticada com câncer de pâncreas há seis dias. Tratamento experimental na Suíça. 500.000 O sangue congelou nas veias dela. Como? Como você sabe disso? Dante fechou a pasta com um movimento seco.
Eu investigo tudo o que pode se tornar um ativo ou um passivo na minha vida, Senrita Silva. Você respondeu ao meu anúncio. Logo, eu precisava saber exatamente quem você é. Isso é invasão de privacidade. Isso é due diligence. Ele se recostou na cadeira, dedos entrelaçados sobre a mesa. Você está aqui porque precisa de R$ 500.000. Rapidamente, eu estou aqui porque preciso de uma esposa para herdar o controle total da Rocha Tech.
Meu avô deixou cláusula testamentária idiota. Ou me caso até completar 36 anos, ou o controle acionário é diluído entre primos que destruiriam tudo que construí. Tenho 4 meses até meu aniversário. Mariana piscou, tentando processar. Então, você quer uma esposa de fachada? Eu quero uma biotransação comercial.
Dante se levantou, caminhou até a janela panorâmica que mostrava São Paulo, se estendendo até onde os olhos alcançavam. Você casa comigo? Mantemos aparências públicas por do anos. Você recebe R$ 500.000 no dia do casamento. Ao final do contrato, divorciamos amigavelmente. Você fica com o dinheiro, eu fico com minha empresa.
Por que eu? Ele virou e pela primeira vez algo quase humano passou por seus olhos. Desdem. Porque você é boa apresentável, co mas não ameaçadora, bonita o suficiente para não levantar suspeitas, mas não tão bonita a ponto de criar expectativas. Inteligente o suficiente para manter uma conversa em eventos corporativos, mas não tão brilhante a ponto de me ofuscar e, principalmente, ele deu dois passos na direção dela e Mariana teve que se forçar a não recuar.
Você está desesperada o suficiente para aceitar. As palavras cortaram como lâminas. Mariana sentiu o rosto queimar de humilhação, mas forçou a voz a suar firme. E se eu recusar? Dante voltou à mesa, puxou um documento grosso e o empurrou para ela. Você não vai recusar, porque enquanto você hesita por orgulho, sua mãe está morrendo.
Ele pegou uma caneta Mon Blanck de prata e a colocou sobre o contrato, 40 páginas. Leia. Tire dúvidas com o advogado, se quiser, mas decida rápido. Tenho outras três candidatas em standby. Mariana pegou o contrato com mãos trêmulas. As palavras dançavam diante de seus olhos. Cláusula 3.1. Não deve haver envolvimento emocional ou físico entre as partes. Cláusula 5.7.
A segunda parte não terá direito a decisões empresariais. Cláusula 8.2. Aparições públicas serão coordenadas com antecedência mínima de 48 hours. Você quer que eu seja uma funcionária disfarçada de esposa. Eu quero que você seja o que o contrato diz que você deve ser. Nada mais, nada menos. O silêncio se estendeu.
Lá fora, a cidade fervilhava com milhões de pessoas vivendo suas vidas. E ali, naquele escritório gelado no quadrao andar, Mariana Silva teve que escolher entre sua dignidade e a vida de sua mãe. Não houve escolha real. Ela pegou a caneta, a ponta tocou o papel. Sua assinatura fluiu irregular, trêmula, mas definitiva. Dante pegou o documento, conferiu a assinatura e acenou com a cabeça.
Transferência será feita hoje ainda. Casamento civil é em cinco dias. Minha secretária enviará os detalhes. Ele voltou a se sentar, já pegando o telefone, dispensada, invisível novamente. Mariana se levantou, pernas bambas, e caminhou até a porta. Já tinha a mão na maçaneta quando a voz dele veio baixa e quase inaudível.
Senrita Silva, ela parou, não virou. Obrigado por assinar. Sei que não foi fácil, mas quando Mariana olhou por sobre o ombro, Dante já estava falando ao telefone sobre cotações de ações, como se ela nunca tivesse existido. O casamento civil foi exatamente o que Mariana esperava: frio, rápido e desprovido de qualquer emoção.
Cartório no centro de São Paulo, sala pequena sem janelas, cheiro de papel velho e café requentado. Mariana usava um vestido branco simples comprado às pressas em loja de departamento, sem gralda, sem buquê, sem sonhos. Dante chegou direto de reunião, ainda de terno grafite, gravata azul marinho, maleta de couro na mão. Durante toda a cerimônia de 10 minutos, ele atendeu três ligações.
Se os noivos quiserem trocar as alianças, começou o juiz de paz, um senhor de 60 e poucos anos que já devia ter visto de tudo, mas ainda arqueou uma sobrancelha quando Dante ergueu um dedo pedindo pausa. Só um momento. Ele atendeu o celular. Rocha. Sim, pode fechar o negócio. 15 milhões é aceitável. Manda o contrato para revisão legal.
Desligou, olhou para o juiz. Pode continuar. Não havia alianças. Então, pelo poder que me confere a lei, o juiz parecia querer terminar logo aquilo. Eu os declaro marido e mulher. O noivo pode beijar a noiva se desejar. Dante olhou para Mariana como se estivesse avaliando um móvel. Depois estendeu a mão para um aperto formal. Prazer em fazer negócio com você, senora Rocha.
Mariana apertou a mão dele fria, firme, vazia. Testemunhas assinaram duas secretárias da Rocha Tech que foram embora assim que terminaram. Certificado de casamento foi emitido e então Dante pegou a maleta, checou o relógio Patec Felipe no pulso. Tenho conferência em 20 minutos. Motorista vai levá-la para a cobertura. Suas coisas já foram transferidas.
Francisca, a empregada vai explicar as regras da casa. Regras? Você tem a ala leste inteira. Eu fico na ala oeste. Não entre no meu espaço sem avisar. Jantamos separados, a menos que haja compromisso social. Qualquer dúvida, pergunte a Francisca. Ele já estava saindo quando Mariana, finalmente encontrando a voz, chamou. Dante.
Ele parou, mas não virou completamente, apenas o perfil firme e visível. Obrigada por salvar minha mãe. Silêncio. Depois foi transação comercial, não emoção, e ele saiu deixando Mariana sozinha no cartório vazio, com um certificado de casamento na mão e um vazio enorme no peito. A cobertura tinha 600 m² de puro luxo impessoal, piso de mármore travertino, teto pé direito duplo, janelas do chão ao teto mostrando São Paulo iluminada lá embaixo.
Móveis de design italiano, quadros modernos nas paredes, cozinha gourmet que parecia nunca ter sido usada, tudo branco, preto e cinza, sem cor, sem vida. Francisca, uma senhora de 50 e poucos anos, com rosto gentil e olhos castanhos cheios de pena, mostrou o espaço. Seus quartos ficam nesta ala, senhora.
Quarto principal, closet, banheiro com hidromassagem. O senhor Dante fica na outra ala. Ele hesitou. Ele trabalha muito, às vezes dorme no escritório. Mariana entrou no quarto que seria seu pelos próximos dois anos. Cama kings com lençóis brancos de algodão egípcio. Cortinas blackout. Nada de pessoal, como um quarto de hotel cinco estrelas. Francisca, posso fazer uma pergunta? Claro, senhora.
Ele já foi casado antes. A empregada negou com a cabeça, expressão triste. O Sr. Dante nunca trouxe ninguém aqui, nem namoradas, nem nada. Trabalha 16 horas por dia, seis dias por semana, nunca viaja sem ser a trabalho. Eu trabalho aqui há 8 anos e nunca vi ele sorrir de verdade, senhora. Mariana absorveu isso. Um homem de 35 anos que vivia como uma máquina. E ele é cruel, violento. Não.
Francisca pareceu chocada. Nunca. Ele é educado, paga bem, respeita todos. Só é muito fechado, como se tivesse construído muros tão altos que ninguém consegue atravessar. Naquela noite, Mariana deitou na cama enorme sozinha e chorou pela primeira vez desde que assinara o contrato. Chorou pela vida que poderia ter tido, pelo casamento que sonhara quando menina, pelo homem que acabara de se casar com ela sem nem olhá-la nos olhos. Mas quando o celular vibrou com a notificação bancária, transferência recebida, R$ 500.000, R$
1.000. Ela limpou as lágrimas, pegou o telefone e ligou para a clínica na Suíça. Alô? Sim. É sobre Célia Silva. Gostaria de agendar o tratamento. Sim. Tenho o valor integral disponível. Três semanas depois, o primeiro vídeo chegou. Sua mãe sorrindo da cama do hospital, rosto menos pálido, olhos com um brilho que Mariana não via há meses. Filha, os médicos dizem que está funcionando.
Eu vou ficar boa. Mariana assistiu ao vídeo cinco vezes sozinha na sala imensa da cobertura vazia e chorou, dessa vez de alívio. Dante passou pelo corredor naquele momento, voltando tarde do escritório. Viu a luz acesa, ouviu o choro baixo, parou diante da porta entreaberta. viu ela no sofá, celular na mão, lágrimas escorrendo, mas um sorriso no rosto.
Algo se mexeu dentro dele, algo pequeno, esquecido, enterrado sob camadas de gelo. Ele deu um passo em direção à porta. A mão se ergueu, quase bateu, mas então seu próprio reflexo no vidro da janela o deteve. Homem sério, terno, impecável, expressão dura, homem que mostra emoção, é fraco. A voz do avô ecoou em sua mente.
Dante deixou a mão cair, virou-se e seguiu para sua ala da cobertura, sozinho, como sempre fora. Não viu quando Mariana levantou os olhos, achando que tinha ouvido passos, mas o corredor estava vazio, invisível. Ela ainda era invisível para ele. Três meses se arrastaram como anos. Mariana acordava às 7 da manhã, tomava café sozinha na cozinha enorme preparado por Francisca, ia para seu emprego na ferreira em associados. Voltava às 6 da tarde para uma cobertura vazia.
Dante saía antes das 6 da manhã, voltava depois das 10 da noite, às vezes não voltava. Eles se encontravam aos domingos para reuniões matrimoniais, 10 minutos de conversa mecânica sobre compromissos sociais futuros, coordenação de agendas, manutenção de aparências. Jantar com os Ferreira no sábado. Você vai? Ele nem levantava os olhos do laptop. Vou sim. Que horas? 8.
Motorista busca você às 7:40. Certo. Silêncio. Ele voltava a digitar. Mais alguma coisa? Não. E ela ia embora, sentindo-se mais sozinha do que quando era solteira. Pelo menos antes, ela tinha a ilusão de que um dia alguém a enxergaria. Agora sabia que havia-se vendido para um homem que havia como mobília, mas as notícias da Suíça eram boas.
Célia respondendo ao tratamento, tumor regredindo, esperança real de sobrevivência. Mariana se agarrava a isso nas noites em que chorava no chuveiro para ninguém ouvir. E então chegou o convite. Envelope branco, pérola com letras douradas em relevo. Jantar anual Rochates. Celebração dos 15 anos da empresa. Lista de convidados incluía 300 pessoas, CEOs, investidores, políticos, celebridades.
A elite da elite. Junto ao convite, uma nota de Dante, a primeira comunicação direta em semanas, vista algo adequado, Personal Shopper entrará em contato. Este evento é crucial para a imagem da empresa. Não me decepcione. Dr. O vestido chegou três dias antes do evento. Caixa enorme da Valentino.
Tecido vermelho sangue que parecia feito de pura elegância líquida, decote nos ombros, caimento perfeito. Fenda lateral discreta, sapatos lubutã. Salto agulha de 12 cm, joias emprestadas de joalheria de luxo, colar de diamantes e brincos que custavam mais que o apartamento onde ela cresceu. Mariana se viu no espelho no dia do evento e não se reconheceu.
A mulher refletida era glamorosa, sofisticada, pertencente àquele mundo de luxo, mas os olhos castanhos ainda eram os mesmos, vazios. O motorista a levou em Mercedes classe S preto, hotel unique na Vila Olímpia, um dos mais exclusivos de São Paulo. Entrada com tapete vermelho, flashes de fotógrafos, seguranças verificando convites. Mariana desceu do carro, pernas tremendo nos saltos altíssimos.
Câmeras dispararam, jornalistas gritaram: “Senora Rocha, olhe aqui! Como está o casamento? Seu vestido é maravilhoso. Ela sorriu, o sorriso ensaiado diante do espelho acenou delicadamente e entrou no saguão dourado do hotel. O salão principal tirou seu fôlego, teto de vidro mostrando o céu noturno, lustres de cristal Swarovssk, mesas redondas para 10 pessoas cada uma, cobertas com toalhas de linho branco, arranjos florais de rosas colombianas, orquídeas e peônias, orquestra tocando música clássica suave. Garç circulando com champanhe Krug e canapés de fuagra.
E no centro de tudo cercado por executivos e investidores, Dante. Ele usava Smokington Ford preto, gravata borboleta impecável, cabelo penteado para trás, revelando a testa ampla. Conversava com três homens de terno, gesticulando enquanto explicava algo. Postura confiante de quem comanda mundos. Seus olhos se encontraram através do salão.
Algo passou pelo rosto dele. Surpresa, aprovação, mas foi tão rápido que ela achou ter imaginado. Ele disse algo aos homens e caminhou na direção dela. As pessoas abriam caminho automaticamente. O dono da noite. Você está Ele parou diante dela, olhos percorrendo o vestido, o cabelo preso em coque baixo elegante, a maquiagem suave que o personal shopper tinha aplicado. Ju apresentável. Não linda, não deslumbrante, apresentável.
Mariana sorriu o sorriso vazio de esposa Troféu. Obrigada. Você também está bem. Ele ofereceu o braço. Ela segurou sentindo o músculo rígido sob o tecido do smoking. Eles caminharam pelo salão e Mariana viu os olhares. Mulheres avaliando o vestido com inveja ou aprovação. Homens avaliando ela com interesse inadequadamente óbvio.
Casais sussurrando. Dante a apresentava mecanicamente. Este é Jorge Martinelli, CEO da Martinelli Holdings. Minha esposa Mariana. Prazer. Ela apertava mãos, sorria, repetia frases decoradas que o personal shopper a ensinara. Miguel Santos, investidor anjo, minha esposa, encantada. Patrícia Guzmão, presidente do conselho da Tecinest. Minha esposa, nunca Mariana, sempre minha esposa.
Um título, uma propriedade. Ela engolia a humilhação com goles de champanhe que não matavam a sede. Depois de uma hora de apresentações, luzes piscaram. Anúncio no microfone. Senhoras e senhores, convidamos todos para o jantar. Por favor, encontrem seus lugares. O salão se moveu como máquina bem ajeitada. Pessoas procuravam mesas numeradas.
Mariana viu a mesa principal elevada em plataforma. 10 lugares reservados para Dante, membros do conselho e convidados VIPs. Ela seguiu Dante naturalmente. Afinal era sua esposa. Claro que se sentaria ao lado dele. Ele subiu os três degraus da plataforma. Ela foi atrás. Foi quando ele parou, virou-se e sussurrou tão baixo que só ela ouviu.
Sente-se na mesa dos funcionários. Mariana congelou um pé no segundo degrau. Deve ter ouvido errado. O quê? Dante olhou com aqueles olhos azuis acinzentados, frios e impenetráveis. Você ouviu? Sente-se na mesa dos funcionários. Não, na mesa principal. Mesa 17. Ali no fundo, ela procurou por um sinal de brincadeira, um sorriso, uma piscada, algo que indicasse que ele estava testando.
Nada, apenas aquela expressão gélida. Mas eu sou sua esposa e este é evento empresarial. Você não tem função executiva na Rocha. Logo senta com os funcionários administrativos. Cada palavra foi uma bofetada. O salão inteiro estava assistindo agora. 300 pares de olhos fixos nela, parada no meio da escada, vestido vermelho de R$ 40.
000, diamantes emprestados no pescoço, sendo publicamente rebaixada. O silêncio era ensurdecedor. Dante, a voz dela falhou. Mesa 17. Não me faça repetir. Ela desceu o degrau, as pernas bambas nos saltos altíssimos. O salão imenso de repente pareceu um oceano impossível de atravessar. Cada passo ecoava no mármore. Rostos se viravam para assistir sua caminhada da vergonha.
Sussurros começaram. Ele mandou ela sentar onde? Com os funcionários. Nossa, que humilhação. Mariana passou por mesas de executivos, investidores, celebridades, todos testemunhando. Passou pela mesa de sócios da Rocha Tech, cinco homens de meia idade que desviaram os olhos constrangidos. Continuou até o fundo do salão. Mesa 17.
Oito pessoas usando vestidos eternos claramente menos caros. Assistentes administrativos, coordenadores júniores, analistas. A mesa dos esquecidos. Ela puxou a cadeira vazia, sentou-se mecanicamente. Alguém ofereceu água. Ela não ouviu. Seus olhos foram até a mesa principal, elevada como altar.
Dante já estava sentado conversando animadamente com o presidente do conselho, rindo de alguma piada interna, como se ela não existisse, como se não tivesse acabado de destruir algo nela. Isso foi inaceitável. A voz veio da cadeira ao lado. Mariana virou e viu um homem de aproximadamente 40 anos, cabelos grisalhos nas têmporas, óculos de armação fina, terno cinza escuro, bem cortado, mas não ostensivo, olhos castanho escuros, cheios de raiva genuína. Desculpe, o que ele acabou de fazer com você? O homem estendeu a mão.
Ricardo Mendes, sócio minoritário da Rocha Tech, 8% das ações. Acabei de descer da mesa principal porque não consigo ficar lá depois de assistir aquilo. Mariana apertou a mão dele confusa. Você deixou a mesa principal para sentar aqui? Alguém precisava mostrar para você que o que ele fez foi errado. Ricardo pegou a taça de vinho, bebeu expressão amarga.
Eu conheço Dante há 10 anos. Ele é brilhante, visionário e às vezes completamente sem alma. O jantar começou. Entrada de carpá de salmão, prato principal de cordeiro com risoto de açafrão, sobremesa de pana cota com frutas vermelhas. Mariana comeu mecanicamente, sem sentir sabor.
Ricardo conversava não por pena, mas por interesse genuíno. Perguntou sobre ela, sua formação, seus interesses. Quando descobriu que ela era formada em administração, animou-se: “Você já trabalhou com análise de processos empresariais?” “Trabalho como assistente administrativa, mas”, ela hesitou e sempre tive interesse em otimização de fluxos. Conte mais.
E pela primeira vez em três meses, Mariana falou, falou sobre ideias que tinha para melhorar processos na ferreira em associados, mas que ninguém ouvia, sobre inteligência artificial aplicada à logística, sobre redução de custos através de automação inteligente. Ricardo ouvia fascinado. Você já apresentou essas ideias para alguém? Quem ouviria a assistente administrativa? Eu ouviria.
Ele pegou o cartão, estendeu. Liga para mim na segunda-feira. Quero que você apresente projeto formal para o conselho da Rocha Tech. Mariana pegou o cartão incrédula. Você está falando sério? Completamente. Você é brilhante, Mariana, e está desperdiçando seu talento, sendo invisível. A palavra a atingiu como soco, invisível. Ela olhou novamente para a mesa principal.
Dante agora fazia discurso de agradecimento, microfone na mão, projetado em telão gigante, confiante, poderoso, sem nem olhar na direção dela, invisível. Eu vendi minha dignidade para ser invisível. O jantar terminou, pessoas começaram a se levantar, conversar, circular. Mariana queria sumir, evaporar, morrer ali mesmo. Ricardo a seguiu até o saguão. Você vai ficar bem? Vou. Mentira.
Liga na segunda, promete? Ela olhou o cartão na mão. Ricardo Mendes, sócio, diretor de inovação. Rochach, prometo. O motorista a levou de volta para a cobertura. Silêncio durante todo o trajeto. Quando chegaram, Dante ainda não havia voltado, provavelmente em after party com investidores VIP, apenas os VIP de verdade.
Mariana entrou na ala dela, trancou a porta, tirou o vestido vermelho com violência, rasgou a costura delicada, tirou os diamantes, jogou na cômoda, entrou no chuveiro e deixou a água quente cair sobre ela até acabar a água quente, depois a fria, até seus dentes baterem. Quando finalmente deitou na cama, não chorou.
Pela primeira vez, sentiu algo mais forte que tristeza. Raiva, raiva de ter-se vendido, raiva de ter acreditado que ele tinha alguma decência, raiva de ter sido tão invisível a vida toda que até quando usava vestido de R$ 40.000 ainda era nada. Mas enquanto fitava o teto no escuro, uma semente começou a brotar.
Ricardo viu algo nela, algo que nem ela sabia que existia. E se ela parasse de ser invisível? E se ela se fizesse ser vista do outro lado da cobertura? Três horas depois, Dante entrou silenciosamente, foi direto para o bar, serviu burbom, dupla dose, bebeu de uma vez, serviu outra. A imagem dela atravessando o salão não saía de sua cabeça.
O vestido vermelho, o rosto pálido, a humilhação nos olhos castanhos. Por que fiz aquilo? Ele pensou, mas já sabia a resposta. Porque ela estava linda demais, porque homens a olhavam com interesse, porque pela primeira vez em três meses ele sentiu algo ao vê-la, algo quente, perigoso, incontrolável. E Dante Rocha não perdia controle. Então ele a destruiu antes que ela pudesse ter poder sobre ele.
Bebeu a terceira dose, depois a quarta. Quando finalmente cambaleou até o quarto, passou pelo corredor da ala dela. A luz estava apagada. Ele parou diante da porta. A mão tocou a madeira, quase bateu, quase pediu desculpas, mas então a voz do avô ecoou: “Homem que se desculpa mostra fraqueza.
Dante deixou a mão cair e seguiu para seu quarto, mais sozinho do que nunca. Nenhum dos dois dormiu naquela noite. Mas enquanto ela planejava deixar de ser invisível, ele começava a perceber que talvez tivesse acabado de cometer o erro que mudaria tudo. Segunda-feira, 8:15 da manhã. Mariana estava na sua mesa minúscula, na ferreira em associados, dedos hesitantes sobre o telefone, o cartão de Ricardo diante dela, três vezes pegou o aparelho, três vezes desligou antes de completar a ligação.
E se foi só pena? E se ele estava bêbado e nem se lembra, mas a raiva do sábado ainda queimava e algo mais. Determinação. Ela discou três toques. Quatro. Ela quase desligou quando a voz veio. Ricardo Mendes. Senr. Mendes. É Mariana. Mariana Silva. Digo Rocha. Da mesa 17 do jantar. Mariana. A voz dele se aqueceu.
Estava esperando sua ligação. Pensou no projeto? Pensei, mas tenho uma pergunta primeiro. Fala por você está fazendo isso? Ela precisava saber. Foi pena. Silêncio do outro lado. Depois foi raiva. Raiva de trabalhar com um homem que é capaz de humilhar a própria esposa publicamente. E foi reconhecimento de talento verdadeiro quando ouço um. Você tem ideias brilhantes, Mariana.
Seria crime deixá-las morrer porque você acha que não merece ser ouvida. As palavras a atingiram no peito, alguém a via. Então, a oferta é real, completamente. Me manda o projeto até sexta. Apresentação para o conselho é semana que vem, terça-feira, 10 da manhã. Sala de reuniões principal da Rocha Tech. O coração dela acelerou.
Dante sabe disso? Não. A voz de Ricardo ficou séria e sugiro não contar ainda. Deixa o projeto falar por você primeiro. Se ele for bom, e tenho certeza que será, o conselho vai aprovar independente da opinião dele. Ele é CEO, mas não é imperador. Mariana desligou com as mãos tremendo. Não de medo, de adrenalina.
As próximas duas semanas foram as mais intensas da vida dela. Durante o dia, trabalhava na ferreira em associados. À noite, assim que chegava na cobertura vazia, mergulhava na pesquisa. A cozinha imensa virou seu escritório improvisado. Laptop aberto, documentos espalhados, gráficos impressos, xícaras de café esquecidas. O projeto era sobre otimização de logística através de IA, algoritmos de machine learning para prever demanda, reduzir estoque parado, automatizar distribuição, análise de dados dos últimos 5 anos da RochaTech, projeções de ROI, casos de sucesso internacional,
simulações de implementação. Ela trabalhava até 3, 4 da manhã, dormia 4 horas, acordava, recomeçava. Francisca a encontrava adormecida sobre a mesa, laptop ainda ligado. Senora Mariana, isso não é saudável. Só mais um dia, Francisca. Só mais um dia. Dante percebia. Impossível não perceber. Ele chegava às 11 da noite e via a luz acesa na cozinha.
ouvia o som do teclado, passava, parava na porta, olhava ela de costas, cabelo preso em coque desmanchado, camiseta larga, calça de moletom, descalça, completamente focada na tela. Algo dentro dele se mexia. Curiosidade, o que ela estava fazendo? Uma noite ele quase entrou, quase perguntou, mas o orgulho, aquele orgulho destrutivo, o impediu. Provavelmente curso online de alguma coisa inútil.
Passa tempo de entediada. Ele seguiu para seu quarto, mas não dormiu bem. Sonhou com ela na mesa 17, vestido vermelho, olhos vazios. acordou às 5 com o peito apertado. Na noite antes da apresentação, Mariana não dormiu, revisou slides pela décima vez, ensaiou a fala, trocou gráficos, ajustou fontes.
Às 6 da manhã, impressa, encadernada, perfeita. Ela tomou banho longo, vestiu o terno cinza escuro que comprara com o primeiro salário 15 anos atrás, mas ainda apresentável. prendeu o cabelo em coque profissional, maquiagem leve. No espelho viu uma mulher diferente, ainda Mariana, mas com algo novo nos olhos. Fogo. Dante já tinha saído como sempre.
O motorista a levou até a Rocha Tech. Ela desceu na frente do prédio imponente. Respirou fundo três vezes. Você consegue. Você é boa. Você merece isso. Ricardo a esperava no lobby. Pronta. Aterrorizada, mas pronta. Eles subiram ao 30º andar. Sala de reuniões de vidro, mesa de mogno para 20 pessoas, telão de projeção, vista panorâmica de São Paulo.
Oito membros do conselho já estavam sentados, três homens, duas mulheres, todos acima de 50 anos, expressões profissionais e céticas. E na cabeceira da mesa, Dante. Os olhos dele se arregaram quando a viu entrar. Ele não sabia. Ricardo não contou. O que começou Dante, mas Ricardo o cortou. Buenos dias, senhores. Agradeço a presença de todos. Hoje teremos apresentação de projeto inovador de otimização logística através de IA.
Apresentadora Mariana Rocha. Dante ficou pálido, depois vermelho. Raiva pura atravessou seu rosto. Ricardo, podemos conversar um momento? voz perigosamente baixa. Após a apresentação, Ricardo sorriu. Senora Rocha, o palco é seu. Mariana conectou o laptop ao projetor, mãos trêmulas.
Dante a fuzilava com os olhos. Os outros conselheiros olhavam entre ela e Dante, sentindo atenção. Slide um. Título do projeto e objetivo. Ela respirou fundo e começou. Bom dia, senhoras e senhores. Nos últimos 5 anos, a Rocha Tech cresceu 300% em receita. Mas nossa margem de lucro cresceu apenas 45%.
Por quê? Porque nossa logística não acompanhou a escala. Hoje perdemos em média 12 milhões anuais em estoque parado, entregas atrasadas e distribuição ineficiente. Slide dois. Gráficos comparativos devastadores. Ela mostrou números, dados, análises. Sua voz, inicialmente trêmula, ganhou força, confiança.
Minha proposta é implementar sistema de IA preditiva, que analisa padrões de compra, sazonalidade e variáveis econômicas para otimizar estoque em tempo real. Redução estimada de custos, 35%. ROI em 18 meses, 300%. Slide após slide, argumentos sólidos, exemplos internacionais, simulações baseadas em dados reais da própria Rocha Tech. Os conselheiros se inclinavam para a frente, faziam perguntas. Ela respondia com precisão.
Dante não disse uma palavra, apenas a observava com expressão indecifrável. 25 minutos depois, slide final. Implementação em três fases ao longo de 12 meses. Investimento inicial 8 milhões. Retorno projetado 32 milhões nos primeiros 2 anos. Obrigada pela atenção. Silêncio. Depois aplausos. A conselheira mais velha, Dra. Helena Borges, foi a primeira. Impressionante.
Trabalho de qualidade executiva. Senr. Dante, você sabia desse projeto? Todos os olhos foram para ele. Mariana viu o maxilar dele contrair. Não fui surpreendido. Bem, eu proponho votação. Helena olhou ao redor. Quem aprova a implementação do projeto conforme apresentado. Seis mãos se levantaram. Quem rejeita? Uma mão. Dante, quem se abstém? Uma mão.
Helena bateu a caneta na mesa. 6 a 1. Projeto aprovado. Senr. Ricardo, você fica responsável pela supervisão. Senora Rocha. Ela sorriu pela primeira vez. Gostaria de se juntar à Rocha Tech oficialmente, propõe o cargo de diretora de inovação. Salário inicial, R$ 80.000 mensais. O mundo de Mariana parou.
Eu desculpe, você acabou de apresentar projeto que pode economizar milhões para esta empresa. Seria tolo não contratá-la. Aceita? Mariana olhou para Dante. Ele estava lívido, mãos fechadas em punhos sob a mesa. “Eu aceito.” Sua voz saiu firme. “Obrigada pela oportunidade. Mais aplausos. Conselheiros se levantaram, cumprimentaram ela, saíram comentando animados. Em 3 minutos, a sala esvaziou.
Sobraram três, Mariana, Ricardo e Dante. O silêncio era denso como chumbo. Dante se levantou devagar, pegou sua maleta, caminhou até a porta, parou com a mão na maçaneta, de costas para eles. Ricardo, minha sala agora. Saiu sem olhar para Mariana. Ricardo apertou o ombro dela. Você foi perfeita. Deixa ele comigo.
Ele saiu e Mariana ficou sozinha na sala de reuniões. Pernas bambas, coração disparado, mãos tremendo. Ela tinha feito, tinha vencido. Mas a expressão de Dante, no escritório de Dante, a porta se fechou com estrondo. Você me sabotou. Dante jogou a maleta na mesa. Trouxe minha esposa para trabalhar na minha empresa sem me consultar.
Ricardo não se intimidou. Ela apresentou o projeto brilhante. O conselho aprovou por mérito, não por nepotismo. Você sabe o que vai acontecer agora. Vou virar piada. O CEO que nem sabe o que a esposa faz na própria empresa. Então, talvez você devesse conhecer sua esposa ao invés de tratá-la como mobília. Dante deu um passo ameaçador.
Cuidado, Ricardo. Você pode ter 8%, mas eu tenho 70. Posso te destruir? Pode. Ricardo cruzou os braços. Mas não vai, porque no fundo você sabe que estou certo. Ela é talentosa. Você é que tem medo disso. Medo? Do que eu teria medo? De ela ser melhor que você. A frase caiu como bomba. Dante ficou imóvel, depois sussurrou perigosamente baixo. Sai. Dá minha sala.
Ricardo saiu, mas antes de fechar a porta, você a humilhou no jantar. Ela te respondeu com excelência. Bola está no seu campo agora, Dante. O que vai fazer? A porta se fechou. Dante ficou sozinho no escritório imenso. Caminhou até a janela, olhou São Paulo lá embaixo. As mãos tremiam de raiva, de medo. Pegou o telefone e discou segurança. Quero câmeras instaladas no escritório da nova diretora de inovação.
Monitoramento completo. Desligou. Serviu Bourbon. 3 da tarde e ele precisava beber para controlar o caos interno. Não conseguia tirar a imagem dela, apresentando confiante, articulada, brilhante, tudo que ele nunca deixou ela ser. E agora ela seria isso na frente dele, todos os dias lembrando-o de que ele estava errado. Bebeu a dose de uma vez.
Quando chegou em casa naquela noite, 2as da manhã, a cobertura estava escura. Ele foi direto ao bar, serviu outra dose, mas antes de beber murmurou para o silêncio vazio. Ela é melhor que eu. A admissão doeu mais que qualquer coisa. O primeiro dia de Mariana como diretora de inovação da Rocha foi uma declaração de guerra silenciosa.
Escritório no 29º andar, um andar abaixo do de Dante, mas mesmo assim no topo da pirâmide corporativa. Sala de vidro com vista para a Avenida Paulista, mesa de design escandinavo. Dois monitores de última geração, cadeira ergonômica. Na porta placa dourada. Mariana Rocha, diretora de inovação. Ela tocou a placa com a ponta dos dedos, coração acelerado. Seu nome, sua conquista.
Gostou? Ricardo apareceu com duas xícaras de café. Merece isso e mais. Obrigada por tudo. Ela pegou o café, mas a mão tremia levemente. Dante ainda está-te furioso. Está, mas vai ter que engolir. O conselho adora você. O que Ricardo não contou.
Dante passou a manhã inteira tentando encontrar brechas no contrato dela, formas de demiti-la, razões legais para reverter a decisão. Não encontrou nenhuma. A equipe de Mariana tinha oito pessoas: quatro desenvolvedores de IA, dois analistas de dados, um gerente de projetos e uma assistente. Todos jovens talentosos e claramente surpresos por terem uma mulher de 28 anos como líder. Primeira reunião de equipe, 10 da manhã. Bom dia, pessoal. Sei que muitos se perguntam se estou qualificada para esta posição.
Ela olhou cada um nos olhos. Resposta curta. Vou provar que sim pelos resultados. Resposta longa. Estou aberta a aprender com vocês, ouvir sugestões e construir juntos. Minha porta está sempre aberta. Vamos começar. Felipe, desenvolvedor sé sior de 30 e poucos anos, trocou olhares céticos com os colegas, mas ao final da reunião de duas horas, onde Mariana demonstrou conhecimento técnico sólido e visão estratégica clara, ele levantou a mão. Posso fazer uma pergunta pessoal? Pode. Por que você não trabalhava aqui
antes? Com esse nível de conhecimento, Mariana hesitou, depois decidiu ser honesta porque eu mesma não acreditava que era boa o suficiente. Alguém teve que me mostrar que eu era. Felipe sorriu. Bem-vinda ao time, chefe. A guerra com Dante começou sutilmente. Primeira semana, ele negou o orçamento para software essencial que ela requisitou. Ela foi direto ao conselho.
Aprovaram na hora. Segunda semana, ele convocou reunião de líderes e esqueceu de convidar ela. Ricardo ligou, ela apareceu. Dante ficou lívido. Terceira semana, ele questionou publicamente uma decisão técnica dela em reunião com investidores. Ela respondeu com dados irrefutáveis, fez ele parecer despreparado. Investidores ficaram impressionados com ela.
Quarta semana, ele colocou o prazo impossível em projeto dela. Ela trabalhou 18 horas por dia com a equipe. Entregou antes do prazo, com qualidade impecável. Dante estava perdendo e ele sabia. Mas o pior não era a guerra profissional, era o que acontecia nos momentos em que se cruzavam nos corredores. Elevador, segunda-feira, 8:40 da manhã.
Portas se abrindo, ele dentro, ela esperando para entrar. Olhares se encontraram. Mariana entrou. ficou do lado oposto, 40 andares de tensão silenciosa. Ela conseguia sentir o calor dele do outro lado da cabine, o cheiro do perfume amadeirado, a respiração controlada. O elevador parou no 15º andar. Três pessoas entraram. ficou apertado.
Alguém esbarrou em Mariana, empurrando-a direto contra Dante. As costas dela tocaram o peito dele. Por meio segundo, ela sentiu o corpo rígido, o calor atravessando o tecido fino da blusa. “Desculpa.” Ela se afastou rápido. Ele não respondeu, mas os dedos dele estavam fechados em punhos brancos.
Quando o elevador chegou no 29º andar e ela saiu, Dante prendeu a respiração até as portas se fecharem. Então soltou o ar devagar, coração disparado, corpo reagindo de formas que ele odiava não controlar. A situação explodiu numa quinta-feira chuvosa de março. Reunião sobre estratégia de expansão para a América Latina. Sala de reuniões principal.
20 executivos presentes, Mariana apresentando análise de mercado que contradisse projeções anteriores de Dante. Com todo respeito, senhor Rocha, sua análise está baseada em dados de 2023. O cenário mudou radicalmente. Ela projetou gráficos atualizados. Argentina estabilizou moeda. Chile abriu incentivos fiscais. Colômbia está me dizendo que minha análise está desatualizada? Tant cortou voz perigosamente baixa.
Estou dizendo que precisamos ajustar estratégia conforme realidade atual. E você, com seus 4 meses de experiência, sabe melhor que eu que construí esta empresa. Silêncio tenso, todos olhando. Mariana respirou fundo, manteve voz calma, mas firme. Não se trata de quem sabe mais. Se trata de usar dados corretos para tomar melhores decisões.
E os dados dizem que sua projeção está otimista demais. Se seguirmos ela, vamos perder dinheiro. Você está me chamando de incompetente na frente da diretoria. Não, estou fazendo meu trabalho. Apresentar análise honesta mesmo quando contraria seu ego. A sala inteira prendeu a respiração. Dante se levantou, caminhou lentamente até onde ela estava, na frente do telão. Parou a 30 cm. Minha sala. Agora estamos em reunião agora.
Ela sustentou o olhar, depois sorriu friamente. Como quiser, chefe. Êfase sarcástica na última palavra. Eles saíram. Corredor silencioso. Subiram um andar. Escritório dele. Porta se fechou com estrondo e então Dante explodiu. Quem você pensa que é? Ele deu murro na mesa. Me contradizer publicamente, me humilhar. Eu te humilhar. Mariana deu risada amarga.
Você me humilhou na frente de 300 pessoas, me mandou sentar na mesa dos funcionários como se eu fosse lixo. Aquilo foi diferente. Como? Como foi diferente? Eles estavam gritando agora, um contra o outro, meses de raiva explodindo. Por que você é minha esposa? Não deveria estar trabalhando aqui? Por quê? Porque mulheres ficam em casa? Porque esposas não têm cérebro? Porque você me irrita. Ele estava na frente dela agora, praticamente colado, dedos apontando.
Você me irrita profundamente. Tudo em você me irrita. A forma como você anda como se fosse dona do lugar. Como fala comigo como se fôssemos iguais. Como todo mundo te adora quando eu construí isso tudo. Mariana deu um passo para a frente. Peito contra peito dele agora. E você quer saber o que me irrita? Sua arrogância, seu ego frágil que não aguenta ser desafiado, o fato de você ter tudo e não saber o que fazer com nada. Você é homem mais vazio que já conheci.
Eles estavam ofegantes, rostos a centímetros de distância, olhos fixos nos olhos, respirações aceleradas. E então ninguém soube quem beijou quem primeiro. Dante a puxou pela cintura ou Mariana agarrou a gravata dele, mas de repente estavam colados, boca contra boca.
Beijo violento com raiva, meses de tensão explodindo em pura química animal, as mãos dele nos cabelos dela destroçando o coque profissional, as mãos dela arrancando a gravata, desabotoando a camisa, sem romantismo, sem ternura, pura raiva, transmutada em desdesejo ele a empurrou contra a mesa de vidro. Papéis espalharam. Ela puxou ele com força. As bocas não se separavam. Beijos famintos, dentes mordendo, línguas se encontrando.
“Eu te odeio”, ela sussurrou contra a boca dele. “Eu também te odeio”, ele respondeu enquanto as mãos dela desabotoavam o cinto. Aconteceu ali mesmo na mesa, rápido, intenso, quase violento. Desejo misturado com raiva, atração com repulsa, necessidade com ódio, os papéis amassados sob eles, a cidade lá embaixo invisível, apenas aquele momento de rendição total à química innegável.
Depois, silêncio pesado. Dante se afastou primeiro, ajeitando as roupas em movimentos mecânicos, camisa para dentro da calça, gravata amassada de volta ao pescoço, cabelo penteado com os dedos. Mariana desceu da mesa, pernas trêmulas, ajeitou a saia, tentou arrumar o cabelo. Impossível, ia ter que refazer tudo. Nenhum dos dois falou. Dante foi até a janela de costas para ela. Isso foi erro. Voz baixa controlada.
Não vai acontecer de novo. Mariana pegou o blazer da cadeira onde tinha caído. Concordo. Erro completo. Ela foi até a porta, abriu, parou, olhou para trás. Ele continuava de costas, perfil tenso contra a luz. Dante, ele não virou. Minha análise continua certa. Você está errado sobre a América Latina. E ela saiu fechando a porta suavemente.
Sozinho no escritório, Dante socou a mesa, depois socou novamente e novamente até os nós dos dedos doerem. O que tinha feito? O que tinha feito? Mas a parte terrível ele queria fazer de novo. O padrão se estabeleceu. Eles brigavam em reuniões, discussões acaloradas sobre estratégia. visão, métodos.
A tensão sexual era óbvia para qualquer um com olhos funcionais. E então depois, quando a sala esvaziava, o fogo consumia. Uma vez no escritório dela, porta trancada, cortinas fechadas. Outra vez no estacionamento deserto dentro do carro dele. 3 da manhã, uma terceira vez durante viagem de negócios a São Paulo, hotel diferente do que a empresa reservou, encontro as escondidas, sempre intenso, sempre carregado de raiva e sempre, sempre, ele se afastava depois.
Mariana começou a perceber que estava se apaixonando nos momentos pequenos quando ele deixava café pronto no escritório dela antes de ela chegar. sem bilhete, mas ela sabia que era ele quando enviava e-mails curtos e técnicos sobre projetos, mas no final sempre bom trabalho, quando durante reunião tensa, defendeu sutil, mas firmemente uma decisão dela que outro executivo questionou.
Ele não era só o homem gelado. Havia algo mais sob a superfície, algo quebrado tentando se consertar, mas toda vez que ela tentava conversar de verdade, ele bloqueava. Uma noite, após sexo no sofá do escritório dele, clichê completo, ela ficou deitada no peito dele, dedos traçando círculos preguiçosos. “Fica”, ela sussurrou.
Ele ficou rígido, depois se levantou, começou a se vestir. “Tenho reunião cedo amanhã, Dante. São 11 da noite. Preciso revisar a apresentação.” Ele se vestiu rápido, metódico. Mariana sentou, puxando a blusa. Por que você faz isso? O quê? me usa e depois age como se eu fosse nada. Ele parou de costas para ela, depois virou e a expressão era a mais fria que ela já vira.
Porque isso não significa nada, é sexo, atração física, nada mais. As palavras cortaram como faca. Mariana vestiu o resto das roupas em silêncio, pegou a bolsa, foi até a porta. Sabe qual é a diferença entre eu e você, Dante? Ele não respondeu. Eu admito quando sinto algo. Você finge que não sente, mas os dois sabemos quem está mentindo.
Ela saiu e dessa vez chorou no elevador vazio. A gota d’água veio três semanas depois. Mariana estava fechando o maior contrato da carreira dela. Parceria com empresa japonesa de IA. 2 milhões de dólares de investimento. 3 meses de negociação. Apresentação final para executivos japoneses voados de Tóquio.
Sala de reuniões principal: Sete japoneses de terno escuro. Inérprete Ricardo, Dante e Mariana. Ela apresentou Projetos: Piloto bem-sucedidos, ROY projetado, Sinergia Tecnológica, cronograma de implementação, 40 minutos de apresentação impecável. O CEO japonês Senr. Nakamura sorriu pela primeira vez muito impressionado.
Você é profissional de primeira classe, senora Rocha. Obrigada, senor Nakamura. Temos apenas algumas questões técnicas sobre a arquitetura dos algoritmos. Foi quando Dante interveio. Talvez eu possa esclarecer essa parte. Ele se levantou, foi até o quadro branco. Veja a arquitetura que nós estamos propondo e começou a explicar, mudando detalhes, corrigindo desnecessariamente pontos que Mariana tinha apresentado, sutilmente minando a credibilidade dela.
Mariana sentiu o sangue ferver, mas manteve expressão profissional. Os japoneses olhavam entre ela e Dante, confusos sobre quem era o líder real do projeto. A reunião que estava caminhando para sucesso completo virou questionamento. Então, quem é exatamente responsável técnico? Perguntou Nakamura. A senora Rocha lidera o projeto respondeu Ricardo rapidamente.
Mas senhor Rocha tem autoridade final sobre decisões? Nakamura queria hierarquia clara. Dante sorriu friamente. Como se sim, tenho autoridade final sobre Mutud na empresa. A credibilidade de Mariana evaporou instantaneamente. A reunião terminou sem assinatura. Precisamos considerar mais, disseram os japoneses. Quando eles saíram, Ricardo explodiu.
Dante, que diabos foi aquilo? Estava esclarecendo pontos técnicos. Você sabotou ela propositalmente. Mariana não disse nada, apenas saiu da sala. Ricardo correu atrás. Mariana, ele é idiota. Nós vamos. Está tudo bem, Ricardo? Sua voz estava gelada. Agora eu sei exatamente quem ele é.
Ela voltou ao escritório, sentou na cadeira, ficou olhando São Paulo pela janela. Três meses de trabalho destruídos por ego dele. Às 7 da noite, quando todos já tinham ido embora, ela fez três ligações. Primeira, advogado. Pediu revisão do contrato de casamento, procurando brechas para divórcio antecipado. Segunda, corretor de imóveis. Pediu apartamentos para alugar orçamento até R$ 5.000.
Terceira mãe na Suíça. Filha, como está? Oi, mãe. A voz falhou. Você está melhor? Muito melhor. Médicos dizem que estou em remissão. Pode voltar ao Brasil semana que vem. Célia estava radiante. Que notícia maravilhosa. Mas você está bem? Sua voz está estranha. Mariana limpou os olhos rapidamente. Estou sim, mãe. Só cansaço de trabalho.
E seu marido? Ele está tratando você bem? Silêncio longo. Depois. Estamos encontrando nosso caminho. Mentira. Mas a mãe não precisava saber. Quando desligou, Mariana olhou para a tela preta do celular, vendo seu reflexo distorcido. Estamos encontrando nosso caminho, ela repetiu para ninguém. Mentira, não havia caminho, apenas guerra.
E ela acabara de perder a batalha. Mariana chegou na cobertura antes de Dante naquela noite. Não foi por acaso. Ela planejou. Duas malas abertas na cama kingsize, roupas dobradas metodicamente, sapatos, documentos, fotos da mãe. Tudo que realmente importava cabia em duas malas de viagem. Resto era só cenário. Francisca apareceu na porta, olhos vermelhos.
Senora Mariana, a senhora tem certeza? Tenho, Francisca. Mariana não olhou para ela, continuou dobrando blusas. Não posso mais ficar aqui. Mas vocês vocês pareciam estar melhorando. Mariana parou, deu risada amarga. Melhorando. Ele me sabotou na frente de investidores, me humilha sempre que pode, me usa quando quer e me descarta quando termina. Isso não é casamento, Francisca. Nem nunca foi. A empregada limpou os olhos.
Ele não sabe demonstrar amor, mas eu vejo como ele olha para a senhora quando acha que ninguém está vendo. Não importa como ele olha, importa como ele ocage. E as ações dele deixam claro que sou apenas propriedade dele. Fechou a última mala com zíper definitivo, pegou a pasta de couro da bolsa. Dentro, papéis de divórcio impressos rascunhados por advogado mais cedo. Só faltavam assinaturas.
desceu para a sala, posicionou os papéis no centro da mesa de centro de vidro, sentou no sofá de couro branco, pernas cruzadas, postura ereta esperou. 9:40 da noite, a porta da cobertura se abriu. Dante entrou, afrouxando a gravata, rosto cansado. Parou ao ver ela sentada na sala. Normalmente cada um ficava na própria ala.
Mariana, o que viu? as malas no chão ao lado dela. Depois os papéis na mesa, o rosto dele ficou branco. O que é isso? Papéis de divórcio. Voz dela calma, fria. Já paguei o tratamento da minha mãe com o meu salário. Não devo mais nada a você. Quero o divórcio. Dante largou a maleta, caminhou até a mesa, pegou os papéis, leu em silêncio. Ela viu o maxilar contrair, as mãos apertarem as folhas.
Depois, lentamente, metodicamente, ele rasgou os papéis ao meio, depois em quatro, o 8, 16 pedaços. Jogou os pedaços na mesa. Não. Mariana ficou de pé. Não é pedido, é aviso. O contrato é de do anos, falta meses. Me processa. Então, ela pegou a bolsa, pendurou no ombro.
Vai ser interessante explicar para a imprensa que nosso casamento era contrato comercial. Tirou cópia do contrato original da bolsa, jogou na mesa sobre os pedaços rasgados. Dante olhou para o contrato, depois para ela, pânico começando a aparecer nos olhos azuis acinzentados. Você não faria isso. Destruiria sua reputação também. Minha reputação? Mariana riu sem humor.
Dante, eu não tenho reputação para perder. Sou a esposa do Dante Rocha. Sempre fui invisível. Sempre serei. Mas você, você perderia tudo. A imprensa adoraria. Bilionário compra esposa para herdar empresa. Ações despencam. Conselho perde confiança. Tudo que você construiu destruído.
Ela deu um passo em direção à porta. Ele bloqueou o caminho. Mariana, espera. Sai da frente. Não, não. Até conversarmos. Não há nada para conversar. Ela tentou passar. Ele segurou o braço dela. Não com força, mas firme. Me solta, Mariana. Eu me solta. Ela se desvencilhou violentamente. Dante recuou, surpreso com a intensidade. Você me humilhou pela última vez.
Lágrimas de raiva nos olhos dela. Agora posso aguentar ser odiada. Posso aguentar ser usada, mas não aguento mais ser invisível. Prefiro estar sozinha e ser nada do que estar com você e ser nada. Pegou as malas, começou a arrastar para a porta. Mariana. Voz dele saiu quebrada. Ela parou. Não virou, mas parou. Esperou 10 segundos. 20 30.
Diz alguma coisa, diz que sente, diz que está errado, diz qualquer coisa. Mas Dante ficou em silêncio, as palavras presas na garganta, engasgadas por anos de treinamento emocional para nunca mostrar vulnerabilidade. 50 segundos. Mariana pegou as malas novamente. Adeus, Dante, e saiu fechando a porta suavemente, o som do elevador descendo. Depois silêncio.
Dante ficou parado na sala por 5 minutos, sem se mexer, olhando a porta fechada. Depois foi até o bar, pegou a garrafa de burbom, sem copo, bebeu direto da garrafa, sentou no sofá onde ela tinha estado, pegou os pedaços rasgados do divórcio, tentou juntar como quebra-cabeça impossível. E pela primeira vez em 20 anos desde a morte do avô, Dante Rocha sentiu algo que não sabia mais como processar.
Medo, medo de ter perdido algo que não sabia que importava. Mariana alugou o apartamento em Perdizes, 50 m quadrados, um quarto, cozinha americana, banheiro pequeno, vista para prédios vizinhos, contraste absurdo com a cobertura de 600 m², mas era dela. Primeira noite, deitada no colchão, ainda sem lençóis, móveis chegavam manhã. Olhando o teto rachado, ela sentiu algo estranho.
Paz, solidão doía, mas era melhor que invisibilidade. Na Rocha Tech, os dois mantinham profissionalismo gelado, reuniões de segunda. Ele sentava na ponta oposta da mesa, não olhava diretamente para ela. Aprovava projetos com acenos de cabeça silenciosos. Ela apresentava relatórios em voz neutra. Não provocava, não engajava além do necessário.
Ricardo observava preocupado. Vocês precisam conversar. Não há o que conversar. Mariana nem levantou os olhos dos documentos. No escritório dele, Dante não conseguia se concentrar. Três reuniões canceladas porque esqueceu horários. Dois contratos quase perdidos por falta de atenção. Sócio de Hong Kong ligou cinco vezes. Ele não atendeu nenhuma.
À noite voltava para a cobertura vazia. nem entrava na ala dele. Ficava na sala bebendo, olhando a cidade. Uma noite, bêbado, foi até a ala leste, entrou no quarto que foi dela, vazio, cama sem lençóis, closet sem roupas, banheiros sem produtos, como se ela nunca tivesse existido, exceto uma coisa esquecida na gaveta da mesinha de cabeceira. Foto pequena, 3×4.
Mariana com aproximadamente 7 anos abraçada à mãe, ambas sorrindo, desgastada nas bordas, claramente carregada por anos. Ele pegou a foto, sentou na cama vazia, ficou olhando. A menina na foto tinha os mesmos olhos castanhos, grandes demais para o rosto, mas estavam cheios de luz, cheios de esperança. Quando foi que a luz apagou? Quando foi que ela se tornou invisível? Dante sabia a resposta.
Ele apagou a luz. Ele a fez invisível. Guardou a foto no bolso do palitó, saiu do quarto, trancou a porta. Francisca o encontrou no dia seguinte, ainda de roupa de trabalho, adormecido no sofá da sala, garrafa vazia no chão, foto apertada na mão. Duas semanas após a separação, Ricardo entrou no escritório de Dante sem avisar.
Precisamos conversar. Não tenho tempo. Você a ama? Não. Dante ficou imóvel. caneta suspensa sobre documento. Ricardo fechou a porta, sentou sem ser convidado. Você a ama, finalmente, depois de meses tratando ela como lixo, você percebeu. Não sei do que está falando. Você bebeu três garrafas de burbom esta semana, cancelou seis reuniões, está dormindo no escritório.
E ontem, durante teleconferência com Tóquio, você chamou a assistente de Mariana por engano. Dante largou a caneta. Mesmo que fosse verdade, não importa. Por que não? Porque eu a destruí, Ricardo, voz baixa, derrotada, sistematicamente. Humilhei ela, usei ela, a fiz se sentir pequena porque eu me sentia pequeno perto dela. Então, conserta. Como? Dante explodiu.
Como conserto meses de crueldade? Como faço ela acreditar em mim quando eu provei repetidas vezes que sou monstro? Ricardo se levantou, foi até a janela. Você quer saber o que eu acho? Acho que você não é monstro. É só homem que nunca aprendeu a amar. E agora que finalmente sente algo de verdade, está aterrorizado. Silêncio. Ricardo virou.
Meu avô me disse uma vez: “Ricardo, arrependimento não muda passado, mas pode mudar futuro se você tiver coragem de agir. Você tem coragem, Dante?” Saiu deixando a pergunta no ar. Dante ficou sozinho no escritório, pegou o telefone, hesitou, discou investigações particulares, Atlas, boa tarde. Quero contratar serviço, mas não é para prejudicar ninguém, é para entender alguém.
O relatório chegou uma semana depois, envelope pardo grosso. Dante abriu sozinho no escritório. Portas trancadas, relatório investigativo. Mariana Silva, Rocha, 50 páginas. fotos, documentos, linha do tempo completa de vida dela. Ele leu tudo, cada palavra, cada detalhe. Pai abandonou família quando ela tinha 5 anos.
Mãe trabalhou como fachineira, cozinheira e costureira, simultaneamente para sustentar ela e o irmão mais novo, que morreu de pneumonia aos 3 anos. Dante não sabia disso. Mariana sempre foi primeira da classe, bolsa parcial em escola particular. Trabalhou desde 16 anos. Babá, atendente de lanchonete, repositora de supermercado. Estudava de madrugada. Passou em universidade pública para administração.
Continuou trabalhando tempo integral para se sustentar. Formou com mérito acadêmico, mas sem rede de contatos, sem sobrenome de família, arranjou apenas trabalho como assistente administrativa. E então veio a parte que fez Dante parar de respirar. Informação adicional relevante.
No primeiro mês, trabalhando na Rocha, após ser nomeada diretora de inovação, sujeito recebeu salário de R$ 80.000. Investigação bancária autorizada revelou que sujeito doou R$ 40.000 R$ 1000 para a instituição Educação para Todos. Organização que financia a educação de crianças carentes. Anexo: comprovante de doação. Quando questionada sobre motivo por diretora da instituição, sujeito respondeu: “Porque eu sei como é ser criança inteligente, sem oportunidade.
Se posso mudar isso para alguém, devo fazer”. Dante leu aquilo três vezes. Ela ganhou R$ 80.000, R, dinheiro que nunca tinha visto na vida e doou a metade para crianças que nem conhecia. Ele virou a página, mais fotos, Mariana visitando a instituição, sorrindo genuinamente enquanto conversava com crianças de 5 se anos.
A luz nos olhos dela, aquela luz da foto antiga, estava lá novamente quando ela não estava perto dele. Dante fechou o relatório, apoiou os cotovelos na mesa, rosto nas mãos e, pela primeira vez em 20 anos, desde aquele dia, quando o avô morreu e ele não chorou no funeral, porque homens não choram, Dante Rocha deixou as lágrimas caírem. Chorou sozinho no escritório às 3 da manhã.
chorou por ela, pelo que fez, por quem ela era e ele nunca viu. Chorou porque finalmente entendia. Ele não estava com medo de ela ser melhor que ele. Estava com medo de não ser bom o suficiente para ela e ele estava certo. Duas semanas se arrastaram em rotina mecânica. Mariana, apartamento, trabalho, apartamento. Noite sozinha com miojo e Netflix.
Finais de semana limpando o apartamento minúsculo que ficava limpo em 20 minutos. Solidão cortante, mas escolhida. Dante, escritório, cobertura. Escritório. Burbom toda a noite, olheiras fundas. Ricardo e o conselho começando a questionar se ele estava bem. Quinta-feira, 3:15 da tarde. Mariana estava no escritório dela finalizando a apresentação sobre implementação de blockchain em contratos inteligentes.
Celular tocou. Número suíço desconhecido, estranho. Ela atendeu. Alô, senhorita Rocha, voz feminina. Sotaque alemão carregado. Tom sério. Sou enfermeira chefe Heide Wagner da clínica Alpen Vista em Zurike. O coração de Mariana apertou. É sobre minha mãe? Sim. Lamento informar. Sua mãe teve hemorragia cerebral severa. Há 2 horas.
Fizemos cirurgia de emergência, mas o dano foi extenso. Ela está em coma induzido. As próximas 48 horas são críticas. O mundo parou. Ela vai ficar bem? Silêncio pesado. Sinceramente, chances são pequenas. Sugiro que venha para Zurique o mais rápido possível. O telefone escorregou da mão de Mariana caiu no chão. Ela ficou olhando a parede, cérebro recusando processar.
Mãe, coma morrendo. Os joelhos falharam. Ela caiu. Literalmente caiu de joelhos no meio do escritório de vidro. Som abafado quando o joelho bateu no chão. E então o som que saiu dela foi animal, soluço profundo, gutural, de dor pura. Funcionários do lado de fora da sala de vidro olharam alarmados. Felipe entrou correndo.
Chefe, o que aconteceu? Mariana não conseguia falar, apenas soluçava, abraçando o próprio corpo, balançando para a frente e para trás. “Alguém chama ajuda?”, gritou Felipe. Dante estava três andares acima em teleconferência tensa com investidores de Dubai. “Senor Rocha, estamos preocupados com queda de 10% nas ações no último trimestre.” Ele não estava prestando atenção.
Olhava a tela do notebook, mas via apenas ela. Sempre ela. Secretária dele, Patrícia abriu a porta bruscamente. Algo que nunca fazia. Senr. Dante, desculpe interromper, mas estou em reunião. É sobre a senora Mariana? Ele ficou de pé tão rápido que a cadeira tombou para trás. O que aconteceu? Ela desmoronou no escritório. Está no chão. Não para de chorar.
Não responde ninguém. Dante saiu correndo, literalmente o correndo pelos corredores. Ele que sempre andava com postura executiva impecável. Três andares de escada, não esperou elevador, corredor lateral, virou à esquina. Viu através do vidro, Mariana no chão, Felipe e dois outros funcionários tentando ajudá-la a se levantar, ela resistindo, soluçando descontroladamente. Ele entrou sem bater. “Saiam!”, ordenou.
Felipe hesitou. Senr Rocha, ela precisa de ajuda médica. Eu cuido dela. Saiam. Eles saíram rapidamente. Dante trancou a porta, abaixou as persianas do vidro, correu até ela, ajoelhou. Mariana, Mariana, o que aconteceu? Ela levantou o rosto vermelho, molhado, destroçado. Tentou falar, mas apenas soluços saíram.
Ele a puxou para os braços, apertou contra o peito. Respira, respira comigo. Um, dois, trs. Ela se agarrou nele, dedos cravando na camisa dele, rosto enterrado no peito, corpo tremendo incontrolavelmente. Levou 5 minutos para ela conseguir falar. Me minha mãe, voz estrangulada. Coma hemorragia cerebral.
Eu preciso Suíça agora. Dante não hesitou nem meio segundo. Pegou o celular, discou Roberto, prepara o jato particular. Destino Zurik. Decolagem em 2 horas. Não, não pode esperar. 2 horas. Desligou. Discou outro número. Patrícia, cancela tudo na minha agenda pelos próximos cinco dias. Tudo não. Não é pedido, é ordem. Desligou, olhou para Mariana. Vamos para Suíça agora.
Eu eu não tenho dinheiro para a passagem de última hora. Meu jato particular vai estar pronto em duas horas. Dante, você não precisa. Ele segurou o rosto dela com as duas mãos, forçando ela a olhar nos olhos dele. Eu estou indo com você. Não é negociável. Algo quebrou nela. Novo ciclo de soluços. Mas ela a sentiu.
Ele a ajudou a levantar, pegou a bolsa e a jaqueta dela. Consegue andar? Acho que sim. Ele passou o braço pela cintura dela, sustentando. Saíram do escritório. Corredores inteiros de funcionários os observando. A imagem era chocante. Se bilionário, sempre impecável, com gravata torta, cabelo bagunçado, segurando a ex-esposa, que mal conseguia ficar de pé. Não havia ex mais.
Naquele momento era apenas ele segurando ela. Jato particular decolou do aeroporto de Congonhas às 6:40 da noite. Golfstream G650. Capacidade para 12 passageiros. Interior em couro bege, poltronas que viravam camas, minibar, banheiro privativo. Luxo que Mariana nem registrou.
Ela sentou numa poltrona, olhando pela janela enquanto São Paulo ficava pequena lá embaixo, luzes piscando na noite. Dante sentou ao lado, não falou, apenas ficou perto, quando o avião atingiu a altitude de cruzeiro e o sinal de apertem cintos apagou. Ela finalmente falou: “Por que você está fazendo isso?” Ele demorou para responder depois. “Porque quando você precisa, eu preciso estar aqui. Mas a gente nem é, a gente não está mais.
Não importa. Ele olhou pela janela também. Algumas coisas são mais importantes que orgulho, que contratos, que o que quer que tenha acontecido entre nós. Silêncio. Apenas o som suave dos motores. Eu estou com muito medo, Dante. Voz dela pequena, quebrada. Minha mãe é tudo que tenho. Se ela morrer, não fala assim.
Mas e se? Ele virou, pegou a mão dela. Primeira vez que tocavam voluntariamente, sem raiva ou desejo, em semanas. Então eu vou estar lá. Você não vai passar por isso sozinha. Lágrimas escorreram silenciosas pelo rosto dela. Ele limpou com o polegar, gesto surpreendentemente gentil. O voo durou 12 horas. Mariana dormiu algumas horas, cabeça apoiada no ombro dele.
Ele ficou acordado a noite toda, imóvel para não acordá-la, olhando ela dormir com expressão que nunca teve antes. Ternura. Chegaram em Zurique às 9 da manhã, horário local. motorista particular os levou direto para a clínica Alpen Vista, instalação médica de última geração no Sopé dos Alpes suíços.
Prédio moderno de vidro e aço, jardins impecáveis, descrição total. Enfermeira Hide os recebeu pessoalmente. Senrita Rocha, sou eu. Como ela está? O rosto da enfermeira era profissionalmente neutro, mas Mariana viu a verdade nos olhos dela, estável no momento, mas o coma é profundo. Vou levá-los até ela.
Corredor branco, cheiro de antisséptico, silêncio pesado quebrado apenas por bips de monitores distantes. Quarto 304. Heide abriu a porta devagar. Mariana entrou e o mundo se estilhaçou novamente. Célia Silva estava na cama hospitalar. Tubos por toda parte. Tubo na garganta conectado a respirador mecânico, carves em ambos os braços, monitores cardíacos, pressão sanguínea, saturação de oxigênio.
O rosto, sempre cheio de vida, estava pálido, relaxado, ausente. Mãe! Pariana correu, pegou a mão dela fria. Mamãe, sou eu. Estou aqui. Nenhuma resposta, apenas o som rítmico do respirador, forçando o ar nos pulmões dela. Dante ficou na porta, observando e sentiu algo perfurar seu peito. Não dor física, mas emocional. Ver Mariana assim quebrada. Hide explicou em voz baixa. A hemorragia foi extensa.
Fizemos o que pudemos, mas pausa. Precisam estar preparados para a possibilidade de dano cerebral permanente, ou pior. Quanto tempo até sabermos? Perguntou Dante. 48 a 72 horas. Vamos monitorar a atividade cerebral. Se não houver melhora, vocês terão decisão difícil pela frente. Decisão. Desligar os aparelhos. Mariana não ouviu ou fingiu não ouvir.
Apenas segurava a mão da mãe, sussurrando. Você prometeu que ia ficar boa. Prometeu que voltaria para o Brasil. Não pode me deixar. Você é tudo que tenho. Por favor, por favor, não vai embora. Heide saiu discretamente. Dante ficou. Três dias em Zurique viraram rotina de hospital.
Quarto 304 permitia apenas um visitante por vez, mas flexibilizaram regra quando viram que Mariana não sairia de lá. Dante ficava na sala de espera, trazendo café que ela não bebia, comida que ela não comia, tentando fazê-la descansar. Ela não descansava. Primeira noite, ela dormiu na cadeira desconfortável ao lado da cama. Acordou com dor nas costas, pescoço travado.
Dante tinha sumido. Voltou duas horas depois com travesseiro ortopédico, cobertor de lã, almofada lombar. Para hoje à noite você precisa dormir direito. Não consigo dormir sabendo que ela tem que tentar. Ela precisa de você forte. Segunda noite, ele trouxe comida de restaurante italiano próximo.
Risoto de fungue, favorito de Mariana. Detalhe que ela mencionou uma vez seis meses atrás. Ele lembrou: “Come três colheradas, por favor.” Ela comeu mecanicamente, sem sabor, mas comeu porque ele pediu. Terceira noite, às 2as da manhã, ela acordou da cadeira com outro pesadelo.
Dante estava dormindo no sofá minúsculo da sala de espera, recusou o hotel. Ela saiu cambaleando, perdida, exausta demais para pensar direito. Ele acordou com o som dos passos dela, viu ela parada no corredor vazio, olhando o nada. Levantou, foi até ela, a guiou de volta para dentro do quarto, mas dessa vez ele puxou outra cadeira, sentou ao lado dela. Não precisa ficar. Fica quieta, sem rispidez. Tom gentil.
Ele pegou a mão dela, entrelaçou os dedos e ficaram assim, lado a lado, segurando mãos, olhando Célia a respirar artificialmente até o sol nascer. Quarto dia, médico chefe entrou. Dr. Klaus Hoffman, 60 e poucos anos. Expressão grave. Precisamos conversar. Eles saíram para a sala privativa. Dante insistiu em ir junto. Mariana não protestou. Dr. Hoffman não rodeou. Fizemos novos scansã cerebrais.
A atividade cerebral da senhora Silva é mínima, quase inexistente. O dano foi irreversível. Mariana ficou muito quieta. Dante sentiu a mão dela gelar. O que significa? Significa que mesmo se ela acordasse, cenário improvável, seria estado vegetativo permanente, sem consciência, sem qualidade de vida.
Está dizendo que ela não vai acordar? Estou dizendo que a senora Silva que vocês conheciam já se foi. O corpo está aqui. Mas não. Mariana se levantou violentamente. Ela está viva. O coração está batendo pelo respirador, sim, mas sem suporte artificial. Então, mantém o suporte. Dr. Hoffman suspirou compassivo, mas firme.
Por quanto tempo? Meses, anos, mantendo o corpo vivo quando a pessoa já partiu. É minha mãe. Dante se levantou. segurou os ombros dela. “Mariana, não.” Ela empurrou ele. “Não vou desistir dela.” Mas no fundo ela sabia. Via a verdade nos olhos gentis, mas honestos do médico. Dr. Hoffman colocou o papel na mesa.
Esta é a autorização de suspensão de suporte vital. Quando estiverem prontos. Saiu fechando porta suavemente. Mariana caiu na cadeira, olhou o papel. Autorização de suspensão de suporte vital. Célia. Aparecida Silva, eles querem que eu mate minha mãe. Voz oca. Dante ajoelhou na frente dela. Não, eles querem que você liberte ela.
Como vou assinar isso? Como vou, como vou apertar o botão que passe para o coração dela? Lágrimas grossas caindo sem controle. Tante a puxou, abraçou apertado. Você não vai estar sozinha. Eu vou estar lá segurando você o tempo todo. Ela chorou no ombro dele por 20 minutos. Quando finalmente parou, pegou a caneta com mão tremendo violentamente, assinou.
Marcaram para 3 da tarde daquele dia. Mariana pediu uma hora sozinha com a mãe antes. Entrou no quarto 304, fechou a porta, sentou na cama ao lado do corpo inconsciente, pegou a mão fria. “Oi, mamãe”, voz engasgada. “Sou eu, sua filha. Você Você Você me ensinou a ser forte. Trabalhou três empregos para eu estudar. Nunca reclamou. nunca desistiu.
E eu eu preciso ser forte agora por você. Limpou os olhos. Os médicos disseram que você não vai acordar, que se eu te mantiver aqui é só egoísmo meu. Porque você já foi, né? Seu corpo está aqui, mas você já foi para algum lugar melhor, sem dor, sem luta. Beijou a testa fria.
Me perdoa por desistir, mas não consigo te ver assim, presa. Você sempre foi livre, forte, viva. Isso aqui é, não é vida? Acariciou o cabelo ralo. Vou deixar você ir, mas prometo que vou viver. Vou ser feliz. Vou ser a mulher que você me criou para ser. Forte, independente, boa como você. Últimas lágrimas caíram. Te amo, mãe, para sempre. Beijou a mão uma última vez, levantou, saiu.
Dante estava esperando do lado de fora, viu o rosto dela e apenas abriu os braços. Ela foi, se aninhando no peito dele. “Pronta?”, ele sussurrou. Nunca vou estar pronta. “Mas vamos.” “Tara. 3:15 da tarde. Dr. Hoffman, duas enfermeiras, Mariana e Dante, no quarto 304. Vamos desligar o respirador primeiro, Dr.
Hoffman explicou suavemente. Depois remover tubo endotraquial. O coração pode continuar batendo por alguns minutos ou pode parar imediatamente. Cada caso é único. Mariana assentiu. Muda. Querem um momento? Só me diga quando começar. Dante ficou atrás dela, mãos nos ombros dela. Dr.
Hoffman foi até os monitores, mão no interruptor. Agora o som do respirador, aquele clique rítmico que foi trilha sonora de quatro dias parou. Silêncio. Enfermeira removeu o tubo da garganta de Célia com movimentos delicados. E então, espera. Monitor cardíaco continuou bipando. 72 bpm 68 65 60. Mariana segurava a mão da mãe com força. Dante segurava Mariana. Vai, mãe.
Está tudo bem. Pode ir. Sussurro desesperado. 50 bpm 45 40. Respiração irregular. O corpo tentando instintivamente, sem consciência, comandando. Três respirações fracas. 4 5 30 bpm 25. Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo. Mariana repetia como mantra. 20 bpm. 15. Dante fechou os olhos, apertou os ombros dela. 10 bpm. Cinco.
Última respiração. Suave, quase imperceptível. 3 BPM, bip contínuo, linha reta no monitor. 15:31. Célia Aparecida Silva, 54 anos, falecida. O som que saiu de Mariana foi inumano, grito gutural, dor pura cristalizada em som. Ela desabou para a frente, abraçando o corpo ainda quente da mãe, soluçando de forma que parecia nunca mais terminar.
Dante ficou atrás. mão no ombro dela, sem palavras, porque não existem palavras. E então, pela segunda vez na vida adulta, lágrimas escorreram pelo rosto de Dante Rocha, silenciosas. Ele não soluçava, mas lágrimas grossas caindo, molhando o cabelo de Mariana, onde ele apoiou o rosto. Ela sentiu a humidade, levantou o rosto confuso, virou, viu ele chorando.
“Você está, você está chorando?” Sinto muito, voz dele quebrada completamente. Sinto muito por tudo, por ter feito você passar por isso, por não terte valorizado quando tinha chance, por tudo. Mariana se virou completamente, ainda ajoelhada na cama, e abraçou ele. Dois corpos quebrados, abraçados, chorando juntos ao lado do corpo de Célia. Dr.
Hoffman e enfermeiras saíram discretamente, dando privacidade. Eles ficaram ali por 40 minutos. chorando sem falar, apenas juntos, pela primeira vez desde que se conheceram, genuinamente, completamente juntos. O corpo de Célia foi repatriado para Brasil em caixão lacrado, processo burocrático que levou quatro dias, quatro dias que Mariana e Dante passaram em Zurique, presos em limbo entre Vida Antiga e o que quer que viesse depois. Hotel cinco estrelas com vista para lago de Zurique. Dante reservou dois quartos.
Mas na primeira noite, quando ouviu ela chorando através da parede às 3 da manhã, bateu na porta. Mariana, posso entrar? Silêncio. Depois trava abrindo. Ela estava de camisola, olhos inchados, cabelo bagunçado. Não consigo dormir. Voz pequena, criança perdida. Eu sei. Ouvi através da parede. Constrangimento cruzou o rosto dela.
Desculpa por acordar você. Não pedi desculpas. Ele entrou, fechou a porta. pode dormir no meu quarto ou eu durmo aqui. Você não deveria estar sozinha. Ela olhou ele. Realmente olhou pela primeira vez vendo algo além do se gelado, vendo apenas homem cansado, preocupado, tentando ajudar. Fica aqui, por favor.
Ele deitou por cima das cobertas do lado oposto da cama. King size, respeitoso, casto. Mariana deitou também de costas para ele. 5 minutos de silêncio. Depois, Dante, hum, obrigada por estar aqui, por tudo. Não precisa agradecer. Mais silêncio. Ela virou, ficou olhando o teto. Sabe o que é pior? Alívio. O quê? Sinto alívio.
Lágrimas escorrendo pelos cantos dos olhos. Ela estava sofrendo tanto. E agora acabou. E eu me sinto aliviada. Que tipo de filha se sente aliviada quando mãe morre? Dante virou para o lado, olhando o perfil dela na penumbra. O tipo de filha que amava tanto que não suportava ver ela sofrer. Alívio não significa que você não a amava, significa que você a amava.
Tanto sim que o descanso dela importava mais que sua própria dor. Mariana virou o rosto, encontrou os olhos dele a 40 cm de distância. Quando você ficou assim, sábio, canto da boca dele subiu, quase sorriso desde sempre. Só escondia sob camadas de idiotice. Ela deu risada, pequena, trêmula, mas risada. Primeira em cinco dias. Definitivamente tinha muitas camadas.
Tinha. Tenho. Ele ficou sério novamente. Desculpa por tudo, Mariana, de verdade. Sei que palavras não mudam o que fiz, mas x. Ela colocou o dedo nos lábios dele. Depois a gente conversa depois. Agora só fica. Ele beijou o dedo dela levemente, depois assentiu. Ela virou de volta e dessa vez se aproximou, costas contra peito dele.
Ele hesitou, depois passou o braço por cima, abraçando. Dormiram assim, sem sexo, sem tensão, apenas consolo. Funeral foi quatro dias após chegarem ao Brasil. Cemitério São Paulo Pinheiros. Cerimônia simples, 40 pessoas. colegas de trabalho antigos de Célia, vizinhos do prédio onde moravam, duas primas distantes, padre da igreja que Célia frequentava.
Mariana usava vestido preto, simples, sem maquiagem, cabelo solto. Parecia ter envelhecido 10 anos em uma semana. Dante organizou tudo, sem perguntar, sem esperar ser solicitado. Pagou o caixão de Mógno, não o mais caro, mas digno, flores brancas, lírios favoritos de Célia, segundo Francisca, missa almoço após cerimônia. Durante missa, Mariana sentou na primeira fileira, Dante ao lado.
Quando o padre falou sobre mãe dedicada que sacrificou tudo pelos filhos, ela começou a tremer. Dante discretamente pegou a mão dela. Ela apertou com força, que devia doer. Ele não soltou. Cemitério estava sobam. Céu cinza, vento frio de maio paulistano. Caixão sendo baixado na terra. Som da corda rangendo. Primeiro punhado de terra caindo. Tud seco na madeira.
Mariana ficou paralisada, segurando rosa branca que deveria jogar. Não consigo. Sussurro. Quer que eu jogue junto com você? Dante perguntou baixo. Ela assentiu. Ele pegou outra rosa, segurou a mão dela. Juntos jogaram. Flores caíram sobre caixão. Brancas contra madeira escura. Cerimônia terminou. Pessoas ofereceram condolências vazias.
Ela está em lugar melhor. O tempo cura tudo. Seja forte. Mariana sorria mecanicamente, agradecia, mal registrando quem falava. Quando o último convidado foi embora, ela ficou parada diante da sepultura ainda aberta, coveiros esperando respeitosamente à distância. Chuva aumentou. Dante abriu o guarda-chuva grande, segurou sobre ela. Mariana, vamos. Você vai ficar doente.
Só mais um minuto. Minuto virou cinco, 10, 15. Ela estava encharcada, chuva batendo de lado, molhando vestido, cabelo, rosto, tremendo de frio. Dante não reclamou. Ficou segurando o guarda-chuva, ele próprio encharcando, porque protegia ela, não a si mesmo. Finalmente, ela sussurrou. Adeus, mãe. Virou-se. Ele a guiou de volta ao carro.
No Mercedes, aquecedor ligado, ela tirando os sapatos molhados, ele viu que ela estava tremendo violentamente, tirou o próprio blazer, também molhado, mais menos, e colocou sobre os ombros dela. Vê, você vai ficar com frio, dentes batendo. Eu aguento, você não. Motorista os levou direto para a cobertura.
Mariana não tinha discutido, estava exausta demais. Francisca tinha preparado sopa de legumes, chá de camomila, lareira acesa na sala. Mariana tomou banho quente, vestiu roupas secas que Francisca manteve guardadas, calça de moletom, blusa de lã, meias grossas. Quando desceu, Dante já estava com roupa de casa também. Primeira vez que ela ouvia sem terno.
Calça de moletom cinza, camiseta preta simples. Ele parecia humano, apenas humano. Jantaram em silêncio. Ela comeu metade da sopa. Ele não pressionou. Depois foram para a sala, lareira crepitando. Sentaram no sofá, ele numa ponta, ela na outra. Silêncio confortável, apenas som do fogo, chuva na janela. Até que Mariana falou: “Meu pai nos abandonou quando eu tinha 5 anos.
” Dante olhou para ela surpreso pela revelação súbita. Ela continuou olhando as chamas. Ele disse que minha mãe não era suficiente, que nós mais não éramos suficientes. Arrumou outra mulher, mais jovem, mais bonita, foi embora numa terça-feira à tarde. Nem se despediu de mim.
Quando voltei da escola, metade das coisas tinha sumido. Minha mãe estava chorando na cozinha. Pausa. Desde então, passei a vida tentando provar que eu era suficiente. Primeira da classe, melhor aluna, trabalhava mais que todos, mas nunca, nunca conseguia acreditar de verdade, porque se meu próprio pai não me quis, porque outra pessoa quereria? Ela limpou lágrima teimosa.
Então, quando você me escolheu para casar, mesmo sendo contrato frio, parte de mim ficou feliz. Estúpido, né? Feliz por ser Kiss escolhida, mesmo que fosse só transação. Deu risada amarga até você me humilhar no jantar, até mandar eu sentar na mesa dos funcionários.
E sabe o que foi pior? Não foi surpresa, foi confirmação. Claro que ele faria isso. Claro que eu não sou o suficiente para a mesa principal. Nunca fui, nunca serei. Dante ficou em silêncio por longo tempo, depois se moveu pelo sofá até ficar ao lado dela. Posso te contar sobre meu pai? Ela virou surpresa. Ele nunca falava sobre família.
Meu pai era bilionário, gênius da tecnologia. Construiu primeiro império dos Rocha e era vazio, completamente vazio. Casou com minha mãe por conveniência. Ela era de família tradicional paulista, bom para a imagem. tiveram um filho, eu, porque era esperado, mas ele nunca, nunca nos viu. Éramos apenas peças no tabuleiro de xadrez dele. Voz ficou mais baixa.
Quando eu tinha 8 anos, cheguei em casa da escola, encontrei minha mãe no banheiro. Ela tinha tomado o frasco inteiro de remédios. Suicídio. Havia carta. Não aguento mais ser invisível. Paramédicos tentaram reanimar, não conseguiram. Ela morreu na ambulância. Eu segurava a mão dela. Mariana prendeu a respiração. Dante, eu não sabia. Ninguém sabe. Oficialmente foi complicação cardíaca.
Meu pai pagou médicos, falsificou o atestado de óbito, enterrou ela rapidamente. Duas semanas depois, estava namorando secretária de 23 anos, punhos fechados. Fui criado por meu avô paterno, coronel reformado, disciplina militar, zero emoção. Ele dizia: “Dante, homem que mostra sentimento, é fraco. Império não é construído com lágrimas, é construído com aço. Então me treinaram para ser aço.
Quando ganhei prêmio acadêmico aos 10 anos, levei correndo mostrar. Ele olhou, leu, devolveu. Segundo lugar, não importa. Volte quando for primeiro. Eu era primeiro. Ele nem leu direito. Lágrima escorreu. Ele limpou raivosamente. Construí Rocha Tec aos 25 anos sozinho, sem ajuda do meu pai ou avô, provando que eu era suficiente, mas por dentro, por dentro eu estava morto igual minha mãe. Olhou para Mariana. Quando te conheci, você era segura.
Sabia que nunca me amaria, que apenas cumpriria contrato. Não teria que arriscar. Arriscar o quê? Voz saiu quebrada. Arriscar ser insuficiente. Você era brilhante. Eu vi isso desde a entrevista. Inteligente, forte, determinada. Tive medo. Medo de você descobrir que por baixo do seou bilionário sou só homem vazio que nunca aprendeu a amar. Então mantive você pequena para viu parecer grande. Silêncio pesado.
Não sou sua inimiga, Dante, Mariana disse suavemente. Eu sei. Ele segurou o rosto dela, mas eu me tornei meu próprio inimigo e machuquei você no processo. Ela cobriu a mão dele com a dela. Não sou minha mãe. Não vou sumir. E você não é seu pai ou avô. Não precisa ser aço. Pode ser humano, imperfeito, real.
Ele puxou ela, abraçou forte. rosto enterrado no cabelo dela. Sinto muito por tudo. Me perdoa? Já perdoei. Ela se afastou, olhou nos olhos dele. Mas, Dante, perdão não significa esquecer ou que voltamos ao que éramos. Significa que podemos tentar de novo, do jeito certo, sem contratos, sem jogos, sem máscaras. Quero isso. Quero tentar, mas não sei como.
Nunca tive relacionamento de verdade. Ninguém nasce sabendo, a gente aprende junto. Eles ficaram assim, abraçados no sofá, luz da lareira dançando, chuva lá fora, mundo inteiro silenciado. E então Mariana fez algo corajoso. Beijou ele. Não foi beijo de raiva como antes. Foi suave, exploratório, pedindo, não exigindo.
Dante respondeu com mesma suavidade. Mãos nos cabelos dela delicadas, beijos lentos. Ela se afastou, pegou a mão dele, guiou escada a cima. Quarto dele, enorme, mas pela primeira vez sentia acolhedor. Eles se despiram lentamente, sem pressa, cada peça de roupa revelando vulnerabilidade. Quando ele foi tirar a camiseta dela, parou. Posso? Pode.
Ela levantou os braços. Cada toque era pergunta, cada beijo era permissão pedida e concedida. Quando finalmente se deitaram na cama, ele sobre ela, olhos fixos nos olhos, ele sussurrou: “Tem certeza? Tenho, mas Dante, não me use! Não dessa vez, nunca mais.” Ele beijou as lágrimas que escorriam dos olhos dela. “Te prometo, fizeram amor.
Não transaram? Não foderam. Fizera um amor devagar, profundo, olhando nos olhos. Quando ele entrou nela, movimentos lentos, ela chorou. Ele parou imediatamente. Machuca? Não. Ela tocou o rosto dele. É que pela primeira vez você está realmente me vendo. Ele beijou cada lágrima e continuou. Movimentos suaves, profundos, conexão real.
Quando chegaram juntos, foi intenso, mas diferente. Não explosivo. Era a onda lenta, profunda, que os inundava simultaneamente. Depois ele não saiu da cama, não se vestiu, não arrumou desculpa, apenas a puxou contra o peito, braços firmes, beijo na testa. Fica comigo. Não só hoje, sempre. Você tem certeza? Ela precisava ouvir.
Nunca tive certeza de nada na minha vida. Mas de você, de nós tenho. Ela aninhou no peito dele, dedos traçando o formato dos músculos. Então vamos tentar. De verdade, de verdade. Ele beijou o topo da cabeça dela. Cousos. Ela riu. Coos. e marido, esposa, de verdade, de verdade.
Ele segurou o queixo dela, fez ela olhar. Mariana Rocha, posso tentar ser o homem que você sempre mereceu. Não precisa ser perfeito, precisa ser presente. Presente. Ele repetiu como voto. Eu prometo. E pela primeira vez desde aquele casamento civil frio, seis meses atrás, eles dormiram juntos como marido e mulher, não por contrato, por escolha.
Primeira manhã acordando juntos, genuinamente juntos, sem remorço ou vergonha, foi estranhamente normal. Dante acordou primeiro, 6 da manhã, hábito de anos. Ia se levantar para ir ao escritório quando sentiu o peso dela sobre o braço. Mariana dormia de lado, rosto relaxado, cabelos espalhados no travesseiro, uma perna jogada sobre a dele. Ele ficou olhando, realmente, olhando pela primeira vez.
Pequena cicatriz acima da sobrancelha direita. Ele nunca tinha percebido. Sardas minúsculas no nariz, forma delicada dos lábios, vulnerabilidade absoluta do rosto adormecido. Como fiquei cego por tanto tempo. 7:15 ela acordou, olhos piscando, confusa. Depois memória voltando, corpo tensionando, preparando para ele se afastar, como sempre fazia.
Mas ele não saiu, apenas sorriu pequeno, genuíno. Bom dia. Bom dia. Ela ainda esperava a rejeição. Dormiu bem? Dormi. Você melhor que em meses. Silêncio. Ela se apoiou no cotovelo, olhando ele com expressão cautelosa. Dante, ontem foi real. Ele rolou para o lado, enfrentando ela. Foi e continua sendo. A menos que você tenha mudado de ideia.
Não, não mudei. Só não quero acordar amanhã e você ter voltado a ser ele. Ele se ou gelado, que me tratava como mobília. Dante puxou ela, beijou suave, lento. Não vou voltar, prometi. Mas hesitou. Vai ser difícil às vezes. Passei 35 anos construindo muros. Não vão cair todos de uma vez.
Vou vou errar, recuar, voltar a velhos hábitos. Preciso que você me lembre quando eu fizer isso. Como? Chuta minha canela, grita, joga coisa na minha cabeça, sei lá, mas não deixa eu voltar a ser aquele homem. Ela sorriu pela primeira vez, combinado? Implementaram regras novas escritas em papel.
Sentados na cozinha, café da manhã feito por Francisca, que chorou ao vê-los juntos de verdade. Criaram lista Regras do recomeço, Dante a Mariana. Um. Comunicação honesta sempre. Mesmo quando for difícil, mesmo quando doer. Dois, decisões empresariais compartilhadas. Cous de verdade. Nenhuma decisão importante sem consultar o outro. Três. Terapia de casal semanal. Terças-feiras, 17 horas. Não negociável. Quatro.
Um jantar por semana só nosso, sem celulares, sem falar de trabalho, só marido e mulher. Cinco. Permissão para chamar bullshit. Se um estiver voltando a comportamentos tóxicos, o outro pode dizer bullshit e pausar conversa para reajustar. Seis. Sexo nunca como arma. Não usar intimidade para manipular. Não negar afeto como punição.
Assinaram embaixo. Grudaram na geladeira. Francisca leu. Sorriu com olhos marejados. Finalmente parece casa de verdade aqui. Primeiro mês foi teste. Mariana voltou oficialmente para cobertura, mas dessa vez mudaram layout. Sem alas separadas. Quarto principal virou de ambos. Closet reorganizado. Metade dele, metade dela. Banheiro com dois lavatórios.
Primeira semana compartilhando espaço foi estranha. Dante tinha hábitos bizarros que ela nunca soube. Organizava meias por cor obsessivamente. Tomava banho escaldante de 30 minutos. Roncava levemente. Ela achou fofo. Lia relatórios financeiros na cama antes de dormir. Mariana tinha os próprios.
Deixava xícara de café pela casa. Cantava no chuveiro, mal, mas animada. Roubava cobertas durante sono. Assistia reality shows ridículos. Segunda semana, primeira briga após recomeço, reunião executiva na Rocha sobre estratégia de marketing. Mariana propôs investimento em influenciadores digitais. Dante, sem pensar, reverteu para a estratégia tradicional na frente de toda a diretoria. Voltaram para a cobertura em silêncios tensos.
Ela entrou direto no quarto, bateu porta. 5 minutos depois, ele bateu. Mariana, vai embora. Não vou. Preciso falar. Não quero ouvir. Ele abriu a porta. Erro tático. Ela jogou a almofada nele. Eu disse: “Vai embora.” A almofada acertou o cara dele. Ele parou chocado. Depois riu. Primeiro riso genuíno dela ouvindo dele.
“Você realmente jogou a almofada em mim?” Regra número cinco. Estou chamando Pull Shit. No que fez? Riso morreu. Ele ficou sério. “Você está certa.” Eu voltei. Controlei decisão sem consultar. Entrou, sentou na cama. Desculpa foi instinto, anos de comando sozinho. Mas não é desculpa, me desculpa. Ela ainda estava brava, mas a sinceridade dele era óbvia.
Por que você fez isso? Porque sua ideia era tão boa que me assustou. E voltei ao velho padrão. Controlar para não mostrar que você é mais inovadora que eu. Então, admite que minha ideia é melhor. Ele suspirou. É muito melhor. Vou reverter minha decisão amanhã em e-mail geral com crédito para você. Mesmo? Mesmo? Ele puxou ela para sentar.
Mas você também pode melhorar em algo. No quê? Quando fico no modo se automático. Me cutuca na reunião. Ali mesmo, baixinho. Dante bullshit. Antes de escalar. Combinado. Combinado. Dia seguinte, e-mail para a diretoria inteira. Prezados. Ontem rejeitei proposta da CO Mariana sobre estratégia digital. Foi erro meu. A proposta dela é superior. Implementaremos conforme apresentado por ela. Dante Rocha. Escritório inteiro.
Comentou durante semanas. CEO admitindo erro publicamente inédito. Terapia de casal começou na segunda semana. Dra. Beatriz Camargo, 58 anos. Psicóloga com especialização em terapia relacional. Consultório acolhedor em Pinheiros. Sofás confortáveis, luz natural, chá de ervas. Primeira sessão foi brutal.
Então, qual o objetivo de vocês aqui? Dout. Beatriz tinha bloquinho, mas não olhava para ele, apenas para eles. Mariana, não voltar a ser como éramos. Dante, aprender a ser parceiros de verdade. E como vocês eram. Silêncio. Depois, Mariana. Ele me humilhava para se sentir poderoso. Dante engoliu seco, mas não contestou.
E você, Mariana, você era vítima passiva? Não, eu usei sexo como arma. Sabia que ele me desejava e manipulava isso. Dante olhou surpreso. Ela nunca tinha admitido. Então, ambos foram tóxicos. Doutora Beatriz não julgava, apenas observava. Ambos machucaram. Bom começo. Reconhecer. Sessões seguintes foram progressivamente mais profundas. Terceira sessão.
Dante, por que você controla tanto? Porque controle a segurança. Se controlo tudo, nada pode me machucar. Mas também impede que algo bom entre. Sim. Quinta sessão. Mariana, por que você aceita tão pouco para si? Porque aceitar pouco é seguro. Se não espero nada, não me decepciono. Mas também não vive plenamente. Hum, verdade. Oitava sessão. Breakthrough. Dout.
Beatriz colocou duas cadeiras, uma de frente para a outra, no centro da sala. Sentem. joelho se tocando. Eles obedeceram constrangidos. Agora, Dante, olhe nos olhos dela e diga uma verdade que nunca disse. Depois, Mariana faz o mesmo. Tante respirou fundo, olhou nos olhos castanhos de Mariana.
Tenho medo todos os dias de acordar e você perceber que merece muito mais e ir embora e eu voltar a ser vazio. Mariana sentiu lágrimas picarem. Depois tenho medo de me apaixonar completamente e você voltar a ser cruel. porque da próxima vez isso vai me destruir de verdade. Eles ficaram assim, segurando mãos, chorando, falando verdades. Dra. Beatriz não interferiu, apenas deixou acontecer.
Ao final, vocês estão reconstruindo, mas sobre base fraturada, normal ter medo de ruir. Por isso, trabalhamos sessão por sessão, tijolo por tijolo. Empresa prosperava com liderança compartilhada. Dante era visionário estratégico, pensava 5 anos à frente. Mariana era executora tática, fazia acontecer no presente. Implementaram política nova, licença parental de 6 meses.
Antes era apenas um mês, flexibilidade de horário para todos os setores, programa de mentoria para mulheres em tecnologia, creche corporativa, no prédio. Alguns acionistas reclamaram. Isso vai custar milhões. Mariana respondeu friamente em reunião trimestral. Vai me economizar, tio. Milhões em rotatividade, recrutamento e perda de talentos.
Em se meses provamos retenção de funcionários subiu 60%. Dante completou e para ser claro, implementamos porque é certo, não apenas lucrativo. Rochatec vai ser empresa que as pessoas querem trabalhar, não que precisam trabalhar. Se meses depois, resultados vieram: lucro recorde, zero rotatividade de líderes senior, lista de espera de 4.
000 candidatos para 50 vagas. Forbes Brasil, matéria de capa. Casal Poder, como Dante e Mariana Rocha revolucionaram cultura corporativa na entrevista. Jornalista, como separam trabalho e vida pessoal. Dante olhou para Mariana, sorriu genuinamente. Não separamos. Ela me torna melhor CEO porque me te desafia e melhor homem porque me te enxerga. Mariana completou.
E ele me ensinou que ser forte não significa fazer tudo sozinha, significa ter parceiro de verdade, jornalista. Há rumores que casamento de vocês começou como arranjo empresarial, silêncio pesado. Dante começou errado, de forma que não tenho orgulho, mas o que esquema agora é real, construído sobre escolha, não obrigação. Vida doméstica ganhou ritmo. Jantares semanais só deles viraram tradição.
Terças-feiras reservavam restaurante pequeno, italiano, sempre mesma mesa de canto. Garç pedidos. Burrata para dividir, risoto de fungue para ela, subuco para ele, vinho tiante. Conversavam por horas, sobretudo. Se pudesse voltar no tempo, mudaria alguma coisa? Ela perguntou certa vez. Mudaria como te tratei no início, mas não mudaria te conhecer.
Ele segurou mão dela por cima da mesa. E você? Mudaria aceitar tão pouco para mim, mas não mudaria te dar segunda chance. Terceira? Quarta, rio. Estou na quinta já. Pelo menos sexo também mudou. Não era mais raiva ou rendição, era exploração. Eles aprenderam o que o outro gostava. Ela beijos no pescoço, mordidas suaves no ombro, palavras sussurradas sobre o quão linda era ele.
Unhas arranhando costas, ela tomando controle às vezes ela dizendo exatamente o que sentia. Uma noite após fazerem amor, ele deitado de bruços, ela traçando preguiçosamente cicatrizes poucas nas costas dele. Dante, hum, eu te amo. Ele ficou imóvel, virou, apoiando-se no cotovelo. O que você disse? Te amo sem medo dessa vez.
Sei que não mereço ainda acreditar disso vindo de você, mas te amo e não vou deixar de dizer por medo de você não dizer de volta. Ele segurou o rosto dela com ambas mãos. Mariana Rocha, eu te amo com tudo que tenho, com tudo que sou, que nunca fui bom em mostrar, mas te amo desde aquele dia em Zurique, quando segurei você enquanto sua mãe, quando finalmente me entendi o que é importante. E é você, sempre foi você. Ela chorou, ele chorou.
Beijaram, fizeram amor novamente, dessa vez lento, profundo, repetindo: “Eu te amo”. Como mantra. Mas nem tudo era perfeito. Ele ainda tinha recaídas. Mês quatro, Mariana viajou sozinha para a conferência Tech em Londres. Três dias. Dante ligou 15 vezes no primeiro dia. Controlou o horário dela, perguntou onde estava, com quem. Ela voltou furiosa.
Voltamos para isso. Controle obsessivo. Só estava preocupado. Estava sendo por possessivo. Diferença enorme. Sessão de terapia emergencial. Dout. Beatriz. Dante, isso não é amor, é medo disfarçado de cuidado. Mas eu tenho pavor de perdê-la. Controlando, você vai perder. Ela não é propriedade, é parceira. Trabalharam nisso. Mês. Oito.
Mariana viajou para a conferência em Nova York. Uma semana. Dante ligou uma vez. Boa sorte na apresentação. Te amo. Me liga quando puder. Quando ela voltou, pulou nele no aeroporto. Você evoluiu. Ainda tenho vontade de checar onde você está a cada hora, mas respiro fundo e confio. É tudo que peço. Confiança. Comemoração de um ano desde recomeço. Não do casamento civil, do recomeço real, foi íntima.
Dante alugou vila mesma em Toscana, onde passaram lua de mel após renovação de votos. Duas semanas, apenas eles dois, dias de bicicleta por vinhedos, aulas de culinária italiana. Ele queimou três massas. Ela riu até doer barriga, visitando igrejas antigas, fazendo amor em todos cômodos da vila. Última noite, jantar na varanda sob estrelas. Você está diferente. Mariana observou.
Mas leve. Você me libertou. Ele segurou a mão dela. Durante 35 anos vivia em prisão que eu mesmo construí. Você me deu chave. Você que escolheu usar a chave. Eu só mostrei onde estava. Silêncio confortável. Depois, Mariana. Hum. Quero ter filhos com você. Ela quase derrubou taça de vinho. O quê? Ele ficou nervoso. Desculpa. Foi rápido demais? Não precisamos não. Ela riu.
Não foi rápido. Também quero. Só não esperava você falar primeiro. Por que não? Porque você sempre disse que nunca queria filhos, que não tinha jeito para ser pai. Não tinha. Mas você você me fez querer tentar ser melhor, construir família de verdade, uma que não seja quebrada como as nossas eram. Ela se levantou, sentou no colo dele.
Nenhum de nós vai ser nossos pais. Vamos ser nós e vamos errar muito, mas vamos tentar juntos. Juntos. Ele beijou ela. Quando começamos, ela riu. Tipo, agora se você quiser. Ela já estava se levantando, puxando ele para o quarto. Fizeram amor naquela noite com intencionalidade diferente. Não apenas prazer, criação, possibilidade de nova vida.
Seis meses tentando engravidar. Cada teste negativo era uma pequena morte. Mariana começou a se culpar. Dante a encontrou chorando no banheiro. Teste na mão com uma linha só. Mais um mês. Ela sussurrou devastada. Ele ajoelhou, segurou o rosto dela. Não importa quando acontecer, importa que vamos passar por isso juntos. Mas o sexo programado matou a espontaneidade.
Aplicativos de ovulação, termômetros, posições específicas. Virou tarefa, não prazer. Uma noite, após sexo de procriação mecânico, Mariana rolou para o lado da cama e chorou silenciosamente. Dante percebeu e decidiu. Precisavam reconectar como casal antes de serem pais. Na manhã seguinte, ele entrou no escritório dela com envelope. Abre dentro convite manuscrito.
Mariana, casei com você por contrato. Quero renovar votos por amor. Sábado, 17 horas. Vinícola Aurora em Bento Gonçalves. Se você aceitar casar comigo de verdade dessa vez, Dante. Ela olhou para ele, olhos brilhando. Você organizou o casamento sem me contar. Surpresa ruim. Ela pulou da cadeira, o abraçou forte. Surpresa perfeita.
Sábado, vinícola Aurora, Vale dos Vinhedos. Jardim ao pôr do sol, decoração simples com flores do campo. 30 pessoas. Ricardo, executivos próximos, Rosa, Francisca e surpresa que fez Mariana chorar. Três amigas da faculdade que ela não via há 10 anos. Dante rastreou, convidou, pagou passagens. Como você? Investiguei. Ele sorriu. Dessa vez para fazer algo bom.
Mariana usava vestido esvoaçante branco, cabelos soltos com flores entrelaçadas, Dante em trage cinza claro, sem gravata, mais leve, mais ele, quando ela entrou ao som do quarteto de cordas, ele chorou vendo ela caminhar. Dessa vez Pir Presente Beis, de verdade. Celebrante perguntou pelos votos. Dante respirou fundo. Mariana, me casei com você por egoísmo.
Te tratei como objeto, te humilhei porque tinha medo de você ser melhor que eu e você sempre foi. Voz tremeu. Hoje escolho você por amor. Prometo nunca mais usar poder como arma contra você. Prometo honrar sua voz mesmo quando discordar. Prometo construir vida onde ambos brilhamos. Te amo e vou passar resto da vida provando que mereço o seu amor. Lágrimas escorriam abertamente pelo rosto dele. Mariana limpou os próprios olhos.
Dante, aceitei casar por desespero, mas hoje escolho você livremente com coração inteiro. Você me machucou, mas também me curou. Me mostrou que sou forte. Sorriu através das lágrimas. Prometo perdoar o passado sem esquecer as lições. Prometo construir futuro com paciência. Prometo te amar nas imperfeições, porque são elas que te tornam humano. Te amo.
O beijo foi longo, apaixonado. 30 pessoas aplaudindo, alguns chorando também. A festa foi descontraída. Vinho, comida caseira, dança. Dante dançou com ela na pista. Sussurrou: “Sou o homem mais sortudo do mundo. Não, você é o homem que mais trabalhou para merecer sorte.
Lua de mel, duas semanas na Toscana, vila rústica inquiante, dias de bicicleta, aulas de culinária. Ele ainda queimava tudo. Ela ria. Sexo preguiçoso, sem pressão de engravidar. E foi justamente quando pararam de tentar obsessivamente que aconteceu. Última semana lá, fazendo amor numa tarde chuvosa, apenas por prazer, conexão pura sem expectativas.
Duas semanas depois, de volta ao Brasil, Mariana, atrasada fez teste escondida no banheiro do escritório, duas linhas. Ela ficou olhando, mãos tremendo, sorriso crescendo lentamente. Guardou o teste na bolsa. Esperou até a noite. Jantar em casa apenas os dois. Dante servindo vinho quando ela disse: “Só água para mim hoje, não está se sentindo bem?” Depende. Ela colocou o teste na mesa ao lado do prato dele.
Como você se sente sobre ser pai? Dante olhou o teste, processou duas linhas. Grávida. Você nós não conseguiu terminar a frase. Apenas se levantou, puxou ela da cadeira, abraçou apertado, rosto enterrado no cabelo dela e chorou lágrimas de pura alegria. Vamos ter um bebê. Vamos. Ela ria e chorava simultaneamente.
Ele ajoelhou, levantou a blusa dela, beijou a barriga ainda plana. Oi, bebê. Sou seu pai e prometo ser melhor que meu pai foi. Prometo estar presente. Prometo te amar sempre. Mariana acariciou os cabelos dele, sentindo o amor tão intenso que quase doía. Mas na última noite, na Toscana, antes de descobrir a gravidez, Dante revelou o segredo.
Eles estavam na varanda ao pôr do sol, ele bebendo vinho rápido demais. nervoso. Tem algo que preciso te contar. Deveria ter contado antes. Ela sentiu o estômago apertar. O quê? Quando te escolhi para casar ou não foi acaso? Contratei investigador particular antes Guio de te conhecer. As palavras saíram atropeladas. Investiguei 20 candidatas.
Li tua vida inteira. Tua mãe doente, tuas dívidas, teu histórico acadêmico. Vi que você era invisível, apesar de brilhante. E eu, voz quebrou. Eu te escolhi porque sabia que você seria grata demais para me desafiar. Pensei que seria fácil controlar alguém desesperado. Mariana ficou pálida, levantou-se e afastou. Você me mostra investigou antes mesmo de me conhecer.
Sim. E tem mais. Ele se levantou desesperado no jantar corporativo. Ricardo sentar com você não foi acidente. Eu pedi para ele sentar lá. Parte de mim sabia que era monstruoso o que eu fazia. Então orquestrei tua oportunidade porque era covarde demais para te dar diretamente. Você manipulou tudo. Ela tremia de raiva.
A oportunidade eu criei. Mas o que você fez com ela foi 100% você. Teu talento, tua apresentação brilhante. Isso foi seu. Eu só abri a porta. Por que está contando agora? Dante aproximou, arriscando. Porque não quero mais mentiras, nem por omissão. Te amo de verdade e você merece verdade, mesmo que me custe você.
Mariana sentou, processando minutos de silêncio pesado. Ele esperou, apavorado. Finalmente, você me manipulou desde o início, me investigou, me escolheu como peça de xadrez. Sim, mas também me deu chance que ninguém nunca deu. Ele olhou esperançoso. Ainda foi manipulação, Dante. Ela segurou o olhar dele. Mas prefiro honestidade tardia que mentira eterna. Estou brava, muito brava. Mas também entendo.
Você não sabia amar de forma saudável. Só conhecia controle. Não merecia seu perdão. Não é perdão completo ainda. É entendimento. Perdão você vai ganhar diariamente. Provando que mudou. Vou passar vida inteira provando. Ela se levantou, foi até ele, segurou o rosto. Então começa agora sem mais segredos. Promete? Prometo. Sem mais segredos. Eles se beijaram. Não apaixonado, mas selando promessa.
Reconstrução continuava. Primeiro trimestre foi brutal. Mariana vomitava seis vezes ao dia. Enjou que durava 24 horas. Cheiro de café, perfume, até água, tudo causava náusea. Dante virou marido grávido, obsessivo, pesquisou tudo sobre gravidez, comprou 15 livros, assistiu vídeos no YouTube até 2 da manhã. Você precisa comer gengibre. Ajuda no enjoo, Dante.
Gengibre me dá mais enjoo. Mas a internet disse: “A internet não está grávida. Eu estou. Primeira briga.” Ele recuou, pediu desculpas, parou de citar internet, mas quando ela vomitou durante reunião executiva importante, ele colocou baldes no escritório dela. Executivos estranharam. Ela achou fofo e ridículo ao mesmo tempo. Um balde rosa com flores.
Sério? Se vai vomitar, que seja com estilo. Ele sorriu sem jeito. Sexto mês, ultrassom morfológico. Mariana deitada na maca, gel frio na barriga já saliente. Dante segurando a mão dela, os dois olhando a tela borrada do ultrassom. Dra. Fernanda, obstetra, moveu o transdutor franzindo a testa. Hum, interessante. Mariana sentiu o coração disparar. Algo errado? Não, não.
Dra. Fernanda sorriu. Mas vocês vão precisar de mais fraldas do que planejaram. Como assim? A médica girou a tela. Aqui o bebê A e aqui bebê B. São gêmeos. Silêncio absoluto. Dante olhou para a tela, depois para Mariana, depois para a Tela novamente. Dois dois bebês ao mesmo tempo.
Geralmente é como gêmeos funcionam. Dra. Fernanda riu. E mais um menino e uma menina. Parabéns. Mariana começou a rir. Aquela risada histérica de quem não sabe se chora ou ri. Dante ficou branco, sentou na cadeira antes de cair. Respira, papai. A médica ofereceu água. É comum essa reação.
No carro, voltando para casa, Dante dirigindo em silêncio total, processando. Dante, você vai surtar? Já estou surtando. Ele parou no semáforo, virou. Como segura dois bebês? Só tenho duas mãos. Vamos descobrir juntos. Dois, Mariana, dois. Fraldas duplas, mamadeiras duplas, choro em estéreo. Ei, ela pegou a mão dele. Nós conseguimos.
Ele respirou fundo, depois sorriu. Aquele sorriso torto dele. Dois. OK. Dupla surpresa. Vamos fazer isso. Vamos. Mas quando chegaram em casa, ele foi direto para o computador, começou a pesquisar como cuidar de Gêmeos. Pai de Gêmeos, primeira viagem. sobreviver aos primeiros meses com gêmeos. Mariana observou da porta sorrindo. Ele estava apavorado, mas presente.
E isso era tudo. Reformaram a cobertura, contrataram designer de interiores, transformaram três quartos. Quarto principal maior para eles. Quarto para o menino. Tema espacial: Estrelas no teto, azul suave. Quarto para a menina. Tema: Jardim encantado, flores pintadas nas paredes, rosa claro. Dante gastou 300.000 riles só na reforma.
Isso é muito. Mariana protestou. Meus filhos merecem o melhor. Eles merecem pais presentes, não quartos caros. Ele parou, processou. Você está certa, mas deixe eu fazer isso. É o único jeito que sei mostrar que me importo. Tudo bem, mas depois dos quartos prontos, investe em tempos full, não dinheiro. Combinado. Combinado. Meses finais foram desafiadores. Barriga enorme.
Mariana não conseguia amarrar os próprios sapatos. Dormia sentada porque deitada não conseguia respirar. Levantava para fazer xixi oito vezes por noite. Dante foi incrível. amarrava sapatos dela toda manhã, montou travesseiros especiais para ela dormir sementada. Acordava junto nas idas ao banheiro, mesmo sem precisar ir. Por que você acorda também? Porque você não deveria fazer isso sozinha.
Sétimo mês, ele trouxe presente. Duas alianças novas, ouro branco com pequeno diamante embutido. Nossas primeiras alianças foram mentira. Nem tivemos. Essas são verdade. Colocou no dedo dela. Ela colocou no dele. Agora é real. Ela beijou ele. Sempre foi real. Desde aquele dia em Zurique. Só não sabíamos ainda.
Nascimento, 15 de dezembro, 3:47 da manhã. Mariana acordou sentindo o líquido quente. Bolsa estourou. Dante, está acontecendo? Ele pulou da cama, tropeçou no próprio pé, quase caiu. Francisca, carro. Hospital, agora. Calma, Mariana ria mesmo sentindo primeira contração. Temos tempo? Não temos. Vamos. Hospital VIP, quarto privativo.
Equipe de cinco obstetras esperando. Gêmeos são parto de risco. Trabalho de parto durou 18 horas. Mariana gritou, suou, chorou, xingou. Eu ódio você por fazer isso comigo. Eu sei, amor. Eu sei. Tante segurava a mão esmagada, não largava. Nunca mais transo com você. Tudo bem. Tudo bem, Dra. Fernanda, está na hora. Faz força. 21:47. Lorenzo Dante Rocha nasceu. 2,8.
Chorou imediatamente. Forte, saudável. 21 a 52. Isabela Célia Rocha nasceu. Dois. S kills. Choro mais suave, delicado. Enfermeira colocou os dois no peito de Mariana. Ela olhou, chorou. Eles são perfeitos. São nossos. Dante ajoelhou ao lado da maca, tocou as cabecinha minúsculas. Uma lágrima caiu no lençol. Oi, Lorenzo. Oi, Isabela. Voz completamente quebrada. Sou eu.
Sou o papai de vocês e vou fazer tudo nis para ser o pai que vocês merecem. Beijou Mariana na testa. Você é incrível. Você criou vida. Pela primeira vez ele entendeu o que era amor incondicional. Primeiras semanas em casa, caos. Gêmeos não sincronizavam sono. Lorenzo dormia, Isabela acordava. Isabela dormia, Lorenzo acordava. Ciclo infinito. Mamadas de três em três horas.
Fraldas Porn e Quarna e tantas fraldas. Mariana com os seios doloridos. Dante, aprendendo trocar fraldas, colocou ao contrário duas vezes. Mariana riu mesmo exausta. Uma noite, quatro rir da manhã, cada um com bebê chorando nos braços, olheiras fundas, roupas manchadas de leite e cocô, eles se olharam no corredor e começaram a abrir daquela forma histérica de quem está no limite.
Somos péssimos nisso, Dante balançava Lorenzo. Somos, mas estamos aprendendo. Decidiram pedir ajuda. Entrevistaram candidatas. Conheceram Rosa, 55 anos, viúva. Perdeu filho único em acidente de carro aos 2 anos, 15 anos atrás. Nunca superou. Trabalhava com crianças para preencher vazio. Quando pegou Lorenzo pela primeira vez, algo quebrou nela.
Lágrimas silenciosas. Posso, posso cuidar deles como se fossem meus? Mariana também chorando. Você é parte da família agora, Rosa. Rosa se mudou para a suí ao lado dos quartos dos bebês e completou o sistema. Rosa durante dia. Mariana amamentava manhã e noite. Dante participava sempre que estava em casa.
Seis meses depois, rotina funcionando. Mariana voltou ao trabalho meio período. Três dias presenciais, dois home office. Culpa materna era real. chorou no elevador no primeiro dia. Dante reorganizou tudo. Chegava 18 horas religiosamente, não 21 hors. Não viajava sem necessidade extrema. Finais de semanas sagrados. Ricardo assumiu mais operacionalmente. A empresa funcionava.
Vida sexual levou três meses para voltar. Quando voltou, noite, bebês finalmente dormindo. Milagre. Mariana no chuveiro. Dante entrou. Posso entrar? Pode, fizeram amor ali mesmo, água quente caindo, rápido e silencioso, medo de acordar gêmeos. Depois riram. Não foi nosso melhor momento. Ela encostou a testa nele. Foi perfeito porque foi com você.
Rosa percebeu que o casal precisava reconectar. Ofereceu. Deixa eles comigo uma noite. Saiam. Seja um casal. Não só pais. Primeira noite sozinhos em seis meses, Dante reservou o hotel, o mesmo em Niguis, onde conceberam os gêmeos. Simbolismo. Jantar romântico, conversa sem interrupção de choro. Mariana usava vestido que não vestia há um ano. Você está linda.
Estou com 8 kg a mais, estrias, seios. Ele a cortou com beijo. Você criou dois humanos com esse corpo. Está perfeita. No quarto, insegurança dela veio. Barriga flácida, estrias, corpo mudado. Ele a despiu devagar, beijando cada marca. Isso aqui beijou estria, criou meu filho. Isso aqui beijou barriga, o segurou nove meses.
Como posso não achar perfeito? Fizeram um amor diferente, mais lento, mais profundo, conhecendo o corpo novo dela, intimidade mais madura, depois deitados, entrelaçados. Achei que tinha perdido isso. Ela traçou o peito dele. Impossível perder o que construímos. Só estava em pausa. Gêmeos com um ano. Fase exploradora. Lorenzo, aventureiro, escalava tudo, caía, levantava, escalava novamente.
Isabela, observadora, sentava assistindo o irmão. Depois fazia igual. Mais melhor. Primeira palavra de Isabela. Papa. Dante chorou. Duas semanas depois. Lorenzo. Mama. Mariana chorou. A cobertura virou parque de brinquedos. Mesmo com 600 m mais, parecia pequena com dois bebês engatinhando em velocidade luz.
Dante chegava do trabalho, jogava a maleta, se jogava no chão para brincar. Executivos ligavam: “Senror Dante, precisamos decidir sobre investimento no Chile amanhã. Agora estou construindo torre de blocos com meu filho. Mariana assistia da porta, coração derretendo, mas nem tudo era perfeito. Primeira festa infantil que participaram como pais. Aniversário de filho de executiva da empresa.
Mãe do aniversariante olhou Mariana com desdém. Ah, você trabalha então quem realmente má cuida dos seus filhos? Mariana respirou fundo. Eu cuido. E Rosa, nossa babá, cuida. E o pai deles cuida. E Francisca ajuda. Juntos criamos família. Desculpe se não se encaixa na sua definição limitada de maternidade. A mulher ficou sem resposta.
Outras mães aplaudiram discretamente, mas à noite Mariana chorou para Dante. Sou mamãe por trabalhar. Você é a melhor mãe. Ele a abraçou porque mostra para Isabela que mulher pode ser o que quiser. E para Lorenzo que mulheres são iguais a homens. Eles têm sorte de ter você. Cobertura ficou apertada. Dois bebês crescendo, equipamentos, brinquedos por todo canto. Precisavam mais espaço.
Encontraram mansão em Alpaville, 6 quartos, 8 cm e mais, piscina, quintal com playground, segurança 24 horas, 8 milhões. Ex. Dante mostrou fotos. É muito. Nossos filhos precisam de espaço para crescer, quintal para brincar. E Rosa e Francisca merecem quartos próprios. Não dividir suí. Compraram a à vista. Mudança quando gêmeos tinham 18 meses.
Primeira noite na casa nova, bebês já dormindo nos quartos novos. Móveis chegavam manhã. Dante e Mariana no chão da sala vazia gigante, olhando o teto. “Lembra da cobertura?”, ele perguntou. Lembro, fria, vazia, igual eu era. Era. Ela virou para ele. Agora somos casa cheia de vida.
Fizeram amor ali mesmo no chão da sala vazia, rindo como adolescentes. Depois deitaram olhando as estrelas através da janela do teto. De contrato falso a isso. Mariana sussurrou. Valeu cada cicatriz. Ele beijou a testa dela. Se trouxe a gente aqui. Por empresa continuou crescendo. Com liderança compartilhada genuína. Rocha implementou mudanças revolucionárias.
Licença parental, 6 meses, não só materna. Parental, flexibilidade total de horário, creche corporativa. Rosatech Kids, programa mentoria para mulheres em tech. Home office permanente para quem quisesse. 6 meses depois, retenção de funcionários subiu 60%. Lista de espera de 4.000 candidatos para 50 vagas. Forbes Brasil, matéria de capa, o casal que humanizou o capitalismo.
Na entrevista, jornalista perguntou: “Como vocês equilibram vida pessoal e profissional?” Dante olhou para Mariana, respondeu: “Não equilibramos, integramos. Meus filhos vão ao escritório comigo”. Às vezes Mariana amamenta em reuniões quando precisa. Somos humanos primeiro, executivos depois. Mariana completou e isso não nos fez mais fracos, fez mais fortes.
Porque funcionários veem que família importa e trabalham melhor quando felizes. Mas Mariana sentia que faltava algo. Noite, após colocar gêmeos para dormir, ela e Dante no quarto. Sinto falta da minha mãe, lágrimas nos olhos. Ela adoraria conhecê-los. Dante a puxou. Ela conhece de onde quer que esteja e está orgulhosa de você.
Como você sabe? Porque eu estou e ela te criou, então sei que está ainda mais orgulhosa que eu. Momento de silêncio. Depois, Dante, quero ter outro filho. Ele se afastou surpreso. Outro? Não agora, mas eventualmente. Quero que nossos filhos tenham irmãos. Família grande, cheia de vida. Ele sorriu, acariciou o rosto dela. Família grande, cheia de amor. Sim, quando estivermos prontos.
Prontos como? Quando eu não tiver mais pesadelos de ser meu pai e você não tiver medo de não ser sua mãe, nenhum de nós será nossos pais. Somos nós. Exatamente. Somos nós. Cha gêmeos com do anos, personalidades definidas. Lorenzo, extrovertido, brincava com todas crianças, dividia brinquedos, liderava naturalmente. Isabela, introvertida, observadora, gostava de livros, desenhava, falava pouco, mas quando falava era profundo.
Uma tarde, Isabela, 2 anos e meio, olhou Mariana arrumando o cabelo e perguntou: “Mama, por que você chora às vezes?” Mariana parou surpresa. A menina percebia mais que imaginavam. Às vezes mama fica triste lembrando de alguém que amava. Vovó Célia. Mariana se ajoelhou, olhos marejados. Ela contava histórias sobre a avó que nunca conheceram.
Sim, vovó Célia. Isabela abraçou. Não chora, mamã. Vovó tá nas estrelas. Ela vê você. Mariana abraçou a filha chorando agora de emoção pura. Essa menina tinha alma velha. Festa de dois anos dos gêmeos. Tema: Pequeno príncipe e pequena princesa. Dante se fantasiou de rei, completamente ridículo. Mariana fotografou tudo rindo. 80 convidados. Pula pula.
Algodão doce, mágico, palhaço. Lorenzo deu primeiros passos corridos, tentando pegar bola. Caiu, levantou, tentou de novo. Determinação do pai. Isabela ficou hipnotizada pelo mágico, estudando cada truque, inteligência da mãe. A noite após festa, casa finalmente quieta, Dante e Mariana no sofá, pés para cima, exaustos. Conseguimos. Ela apoiou cabeça no ombro dele. Conseguimos.
Ele beijou o topo da cabeça dela. Somos pais. Pais. Pais os bons. Tentando ser todo dia. É tudo que importa. Tentar. E então veio a surpresa. Três meses depois da festa, Mariana, atrasada de novo, fez teste positivo. Filho número três a caminho. Ela contou durante jantar íntimo deles. Só o casal. Lembra quando falamos sobre ter outro? Lembro.
Não precisa esperar mais. Estou grávida. Dante ficou imóvel. Depois sorriu. Aquele sorriso enorme, genuíno. Sério? Sério? Outro bebê. Ele puxou ela, beijou. Ok, temos experiência agora. Conseguimos, conseguimos. Ela riu. Mas Dante, dessa vez só um. OK. Sem surpresa de gêmeos. Não posso prometer. Aparentemente temos genes teimosos.
Mas ultrassom confirmou. Um bebê. Menino. Miguel. Miguel Rocha nasceu num domingo chuvoso de julho. Parto mais tranquilo que dos gêmeos. Apenas 6 horas. 3,2 kg. Saudável. Chorou forte. Lorenzo, 3 anos. e Isabela 3 conheceram o irmão no hospital. Lorenzo tentou pegar imediatamente. “Meu bebê! Nosso bebê”, Isabela corrigiu sempre mais sábia.
Dante segurava Miguel, olhando os três filhos, sentindo o peso da responsabilidade, mas também gratidão imensa. Vida com três crianças pequenas era matemática complexa. Rosa cuidava durante o dia, mas noites eram guerra. Miguel chorando, Isabela acordando com pesadelos. Lorenzo querendo atenção. Uma noite, 3 da manhã, Mariana amamentando Miguel, Dante consolando Isabela de pesadelo, Lorenzo na cama deles porque sentiu frio. Isso é loucura.
Mariana sussurrou. É. Dante ajeitava Isabela. Mas é nossa loucura. Eles trocaram olhares cansados e riram baixinho. Caos completo, mas escolhido. Lorenzo e Isabela cresciam rápido. 4 anos. Lorenzo queria ser programador igual papa. Isabela queria mandar em empresa igual mama. Dante ensinou Lorenzo a escrever primeira linha de código Python básico.
O menino de 4 anos ficou fascinado. Papa, eu posso fazer computador obedecer? Pode. Computador faz o que você manda se você falar a língua dele. Isabela preferia sentar em reuniões com Mariana quando possível. observa, absorvia, perguntava depois: “Mama, por que aquele homem tentou falar alto com você? Porque ele acha que gritar faz dele certo? Ele estava certo?” “Não.
Então, por que você não gritou de volta? Porque não preciso gritar para estar certa. Só preciso ter razão.” Isabela processou aquilo. Lição aprendida. Empresa agora valia 10 bilhões. Lais, líder em tecnologia na América Latina. Mas Dante e Mariana mantiveram valores. Durante reunião com o conselho, investidor pressionou por cortes. Precisamos reduzir custos.
Sugiro cortar programa de licença parental. Dante o cortou gelado. Não, senhor Rocha, são milhões. Não, mas firme, Rocha Tech não é apenas lucro, é má a propósito. Cortamos gordura, não humanidade. Próximo assunto. O investidor tentou insistir. Mariana interveio. Se discordar de nossos valores, sinta-se livre para vender ações. Teremos fila de interessados alinhados com nossa visão.
O homem recuou. Depois da reunião, Ricardo murmurou: “Vocês dois juntos são assustadores. É o objetivo.” Mariana sorriu. Maguel com dois anos pequeno furacão, completamente diferente dos irmãos. Lorenzo era educado, Isabela quieta, Miguel era caos puro, escalava tudo, quebrava tudo, ria de tudo. Dante perseguindo ele pela casa. Miguel, não escala a estante, mas eu consigo, papa.
Não é sobre conseguir, é sobre não quebrar o pescoço. Mariana assistia rindo. Dante virou. Ajuda ao invés de rir. Você lidando com miniatura de você mesmo, é poético demais para eu interferir. Verdade. Miguel era igualzinho ao pai, teimoso, determinado, sem noção de limites. E então, surpresa número quatro. Mariana grávida novamente. Não planejado.
Ela contou durante café da manhã. Caótico. Tenho novidade. Dante servindo pan. Quecas. Boa ou ruim, depende. Vai ser pai de novo. Ele derrubou a espátula. Lorenzo e Isabela olharam curiosos. Outro bebê? Isabela perguntou. Outro bebê? Mariana confirmou. Lorenzo gritou. Eu quero irmão
. Isabela. Eu quero irmã. Miguel, dois anos. Eu quero panqueca. Dante sentou, processando quatro filhos. Quatro. Mariana esperou a reação. Ele respirou fundo, depois sorriu. OK, quarteto completo. Vamos fazer isso. Mas acrescentou. Mas Mariana promete que é o último? Prometo. Ela riu. Depois desse eu amarro as trompas.
Sofia nasceu meses depois. Menina, 2,9 kg, calmíssima desde o nascimento. Bebê tranquila. Rosa comentou: “Deus compensou enviando um bebê fácil após Miguel. Verdade absoluta. Rotina com quatro filhos era circo permanente. 6:30, invasão matinal, quatro crianças pulando na cama. Dante fingia roncar. Eles atacavam. Mariana ria. 7. Café da manhã.
Francisca fazia panquecas. Isabela comia educadamente. Lorenzo devorava. Miguel jogava metade no chão. Sofia, um ano, babava feliz na cadeirinha. 7:45. Dante levava três maiores para a escola creche corporativa. Rover cheio barulho ensurdecedor. Ele conhecendo todas músicas infantis cantava junto. 18. Chegada em casa, gritos de papai.
Quatro crianças correndo. Ele pegava dois nos braços. Outros dois abraçavam pernas. 19. Jantar em família. Mesa enorme, comida espalhada, conversas sobrepostas, risadas, pequenos dramas. 20:30 ritual de sono. Histórias, beijos, mais um pouquinho, por favor. Negociações infinitas. 21 Áries. Dante e Mariana finalmente sozinhos, exaustos, felizes.
Uma noite na varanda, vinho nas mãos, quatro filhos. Mariana balançava a cabeça. Quem diria? Quando casei com você, mal conseguia te olhar nos olhos. Dante segurou a mão dela. Agora não consigo imaginar vida sem você e essa bagunça linda. É bagunça mesmo. Ela riu. Mas é nossas bagunça. Você se arrepende de algo? Ela pensou.
Me arrependo de ter aceitado tão pouco no início, de não ter visto meu valor antes, e eu me arrependo de ter sido cego, de ter quase perdido você por orgulho, mas não perdeu. Estou aqui. Está. Ele beijou a mão dela. E vou fazer cada dia valer a pena. Sofia chorou do quarto. Ambos suspiraram. Minha vez. Dante se levantou.
Mariana o observou entrar, pegou a filha, balançar gentilmente cantando baixinho. Esse homem, tão diferente do se gelado de anos atrás. Transformação era real e permanente. 5 anos voaram. Lorenzo e Isabela, 8 anos. Miguel, 5 anos. Sofia 2 anos. A casa em Alfaville era exatamente o que Mariana sonhou, cheia de vida, correria matinal, gritos, risadas, pequenas tragédias. Miguel quebrou o vaso antigo ontem, grandes alegrias.
Isabela ganhou o prêmio de melhor aluna. Rochac agora valia 50 bilhões. Abriram capital, mas Dante e Mariana mantiveram controle majoritário. A empresa tinha 8.000 funcionários, operava em 15 países, mas sucesso não mudou. valores em reunião com investidores internacionais.
Investidor alemão, senhores Rocha precisam expandir agressivamente. Competição aperta, Mariana, expandimos sim, mas sustentavelmente, não às custas do bem-estar dos funcionários. Investidor, sentimentalismo não gera lucro. Dante, voz gelada. Nosso lucro cresceu 400% em 5 anos, justamente porque cuidamos das pessoas. Quer resultados? Veja os números. Quer sentimentalismo? Olhe no espelho.
O alemão ficou vermelho, mas checou números e se calou. Crianças cresciam com valores sólidos. Lorenzo, oito, programava jogos simples, vendia na escola com permissão e doava metade para a instituição de caridade. Papa, se tenho mais que preciso, devo dividir. Certo. Dante sentiu lágrimas picarem. Esse menino, certíssimo filho. Isabela, oito.
Liderava projetos na escola, defendia colegas que sofriam bullying, já tinha postura de CEO. A, por que aquele menino falou que meninas não sabem matemática? Porque ele é ignorante. Prove ele errado, sendo melhor. Isabela tirou 10 na prova, o menino tirou seis. Ela ofereceu ajuda a ele depois. Mariana chorou de orgulho. Miguel c ainda caótico, mas com coração enorme, trouxe três cachorros de rua para casa. Eles estavam com fome, mama. Ficaram com os três cachorros.
Sofia, dois. Bebê, calma. Virou criança doce. Abraçava todo mundo. Dizia: “Te amo”. 15 vezes por dia desafios continuavam. Dante teve recaída quando Lorenzo, oito, quis fazer acampamento escolar de três dias. Não é perigoso, Dante. Mariana o puxou de lado. Ele precisa de independência. Ele tem 8 anos e você está sendo super protetor de novo.
Sessão de terapia. Ainda faziam mensalmente. Durá Beatriz. Dante, por que não quer que ele vá? Por pausa? Porque tenho medo que algo aconteça e eu não esteja lá para proteger. Você não pode protegê-lo de tudo. Parte de amar é deixar crescer. Difícil. Mas Dante deixou Lorenzo ir.
E quando o menino voltou, radiante contando aventuras, Dante entendeu. Às vezes amar é soltar. Mariana enfrentou próprios demônios. Isabela oit perguntou durante jantar. Mama, por que não tem fotos da sua mama na casa? Silêncio. Mariana engoliu o nó na garganta. Porque dói lembrar que ela não está aqui, mas ela está, Isabela, sempre sábia.
Nas histórias que você conta, nas coisas que você faz, ela tá em você. Mariana chorou ali mesmo na mesa. Dante segurou a mão dela. Semana seguinte, Mariana mandou fazer quadro enorme. Foto de Célia sorrindo. Pendurou na sala principal. Agora você conhece vovó Célia, disse às crianças. Os quatro olharam em silêncio respeitoso.
Depois Sofia, dois apontou vovó bonita. Era Mariana sorriu através das lágrimas. muito bonita por dentro e fora. Face vida sexual do casal continuava ativa. Milagre com quatro filhos. Ainda faziam noites só do casal semanais. Rosa ficava com as crianças. Numa dessas noites, Hotel Boutique, Mariana deitada no peito dele após sexo.
Ainda me acha bonita, com estrias, barriga flácida, cabelos grisalhos começando. Dante a virou, forçou ela a olhar. Você criou quatro humanos. Seu corpo é mapa da jornada mais incrível e cada marca, beijou estria, é medalha de honra. Você é a mulher mais linda que já vi mesmo, sempre.
Aos 28, quando te conheci, aos 35 agora e aos 80, quando estivermos velhinhos assistindo netos. Netos? Ainda não. Eles riram, fizeram amor novamente, mais lento, mais profundo, conhecendo cada centímetro um do outro após anos juntos. Evento corporativo anual. Dessa vez eles levaram as crianças. Jantar de gala. Dante discursando. Este ano Rocha que bateu recorde, mas o recorde que mais me orgulha não é financeiro. Fez sinal. Porta abriu.
Quatro crianças entraram vestidas elegantemente. É esse construir empresa humanizada significa poder trazer meus filhos para mostrar. Sucesso não é só dinheiro, é tempo, é presença, é vida. Plateia de 500 pessoas aplaudiu de pé. Lorenzo acenou animado. Isabela fez reverência digna. Miguel fez careta clássico. Sofia mandou beijo.
Mariana, assistindo da mesa principal chorou. Esse homem. Conversa importante aconteceu quando Lorenzo fez 9 anos. Ele perguntou durante café da manhã do nada. Papa, é verdade que você e mama casaram por contrato? Dante quase engasgou com café. Mariana congelou.
Quem? Quem te contou isso? Ouvi adultos falando na festa da escola. Silêncio pesado. Dante olhou para Mariana. Ela assentiu. Verdade. Dante se ajoelhou na frente do filho. É verdade. No começo foi contrato. Eu precisava casar para herdar empresa. Sua mãe precisava de dinheiro para salvar vovó Célia, mas segurou as mãos pequenas do menino. O que começou como contrato virou amor de verdade.
Hoje eu amo sua mãe mais que qualquer coisa no mundo e vocês quatro são fruto desse amor. Lorenzo processou. Então começo ruim. Final feliz. Exatamente. Mariana se ajoelhou também. Às vezes, coisas boas nascem de começos difíceis. O importante é escolher melhorar todo dia. Como príncipe e sapo, Dante Rio. Tipo isso. Eu era sapo. Mama me transformou em príncipe. Lorenzo pareceu satisfeito. Foi brincar.
Isabela que escutou tudo, veio depois. Mama, você foi forte. Aceitou ajuda quando precisou. Isso não é fraqueza. Maturidade absurda para 9 anos. Onde você aprendeu isso? Com você assistando. Mariana abraçou a filha, coração explodindo de orgulho. 10 anos após renovação de votos, 20 anos após casamento civil. Lorenzo e Isabela, 13 anos. Miguel 10 anos. Sofia 7 anos.
Mas havia um quinto. Mariana tinha brincado anos atrás sobre amarrar as trompas. Não amarrou. E aos 38 anos, surpresa final, Henrique, nascido quando Sofia tinha 5 anos, último filho. Dessa vez Dante realmente disse: “Chega com amor”. Manhã típica na mansão em Alfa Ville. Fez 15. Despertador.
Dante desligou e beijou Mariana. Cabelos grisalhos nascendo nas têmporas dela. Ele achava sexy. 6:30. Invasão matinal menos caótica. Agora os mais velhos respeitavam, mas Henrique V ainda pulava na cama gritando acorda sete se era. Café da manhã, mesa enorme para sete pessoas. Lorenzo 13 no celular provavelmente programando.
Isabela 13 lendo livro denso sobre economia. Miguel 10 construindo algo com Lego no chão da cozinha, porque normal é super estimado. Sofia sete ajudando Francisca a fazer panquecas. Henrique 5 tentando convencer cachorro a usar fantasia de superherói. Dante e Mariana trocaram olhares. Essa é nossa vida. 7:45. Dante levava todos no SUV. Agora era van. precisavam espaço.
Trânsito caótico de São Paulo, mas ele cantava com eles. Mariana ia separado, agenda diferente, mas sempre beijava cada um antes de sair. Rocha era líder global indiscutível. Receita anual, 100 bilhões de dólares, 15.000 funcionários. Operações em 30 países, mas valores permaneceram. Licença parental, 8 meses agora aumentaram. Semana de 4 dias.
Experimento que funcionou. Produtividade subiu. Programa de saúde mental gratuito para todos. Creche, escola, academia no campus. Fortune Global Sa Best Companies, um mundial por três anos consecutivos. Imprensa perguntava o segredo. Mariana respondia sempre: “Não há segredo.
Trate pessoas como humanos, não recursos. Simples assim. Na filhos crescendo com personalidades definidas”. Lorenzo 13. Nerd assumido, programava apps complexos, já tinha empresa júnior com supervisão, doava 50% dos lucros para educação de crianças carentes. Papa, aprendi isso com você e mama. Sucesso que não é compartilhado é egoísmo. Dante abraçou o filho. Coração transbordando. Isabela de 13.
Líder Nata, presidente do Grêmio estudantil, já fazia cursos online de gestão. Queria fazer MBA aos 18. Mama, quando eu assumir, Rocha Tech, se acu assumir. Mariana corrigiu. Você pode fazer o que quiser. Eu quero continuar o legado, mas do meu jeito, então será perfeito. Miguel 10. Criativo caótico.
Queria ser inventor, astronauta, chefe, superherói, tudo ao mesmo tempo. Desenhava máquinas impossíveis, construía protótipos com sucata, dirigia todos loucos com experimentos. Miguel, não pode fazer foguete caseiro no quintal. Mas eu calculei a trajetória. Papa Dante, esse garoto vai me matar de susto ou de orgulho. Sofia sete, doçura pura.
Queria ser médica para curar todo mundo. Cuidava dos cachorros, ajudava irmãos menores, abraçava estranhos na rua. Mama, por que tem gente dormindo na rua? Pergunta difícil. Mariana respondeu honestamente, porque o mundo não é justo ainda, mas pessoas como você, com coração grande, podem ajudar mudar isso. Sofia doou mesada inteira para moradores de rua. Tinha 7 anos. Henrique 5.
Mistura de todos os irmãos. Inteligente como Lorenzo, líder como Isabela, maluco como Miguel, doce como Sofia e teimoso como os pais. Henrique, não escala a árvore, mas eu quero ver as nuvens de perto. Nuvensão muito mais altas que árvore, então preciso árvore maior, lógica de 5 anos, irrefutável.
Jantar em família continuou sagrado. Todo dia 19 horas, todos à mesa. Regra absoluta: sem celulares, sem trabalho, apenas família. Conversas se sobrepunham. Lorenzo explicando o código para Isabela. Miguel mostrando o desenho novo. Sofia contando sobre aula. Henrique fazendo perguntas impossíveis.
Papa, se eu cavar buraco fundo, chego na China? Não, filho. Terra é redonda. Chegaria no oceano. Então, por que não cavamos buraco pro oceano sair e acabar com sede no mundo? Dante olhou para Mariana. Nosso filho de 5 anos quer resolver crise hídrica global. Ela riu. Deixa ele tentar. Quem sabe momento importante aconteceu numa noite de inverno. Crianças dormindo.
Dante e Mariana na varanda. Ritual de 15 anos. Vinho nas mãos, cadeiras de balanço. Silêncio confortável. Mariana quebrou o silêncio. Você lembra do jantar corporativo? Aquele onde tudo começou de verdade. Dante tensionou. Sempre tensionava quando o assunto vinha. Lembro. Pior momento da minha vida. Não. Ela virou para ele.
Foi o melhor como? Porque foi o começo. Sua humilhação me fez acordar. Me fez perceber que eu tinha valor mesmo você não vendo. E você me teve que provar que mudou. Se não fosse aquela noite, eu teria continuado invisível. Até para mim mesma. Dante processou. Nunca tinha pensado assim. Você me deu a pior e melhor coisa. Ela continuou. A pior foi me fazer sentir pequena.
A melhor foi me forçar a crescer. Ainda sinto culpa, eu sei. Mas olha o que construímos. Sobre Punberry e a dor apontou para a casa iluminada atrás deles. Sons de Rosa e Francisca rindo assistindo novela, brinquedos espalhados. Fotos de família cobrindo paredes. Família real, amor real, vida real. Ele pegou a mão dela, entrelaçou dedos. Eu não merecia. Você não merecia.
Ela sorriu, mas mereceu ao tu tentar. Todo dia você me mostra que está tentando e isso basta. Silêncio. Então, Dante. Hum. Não vou ter mais filhos. Ele riu. Eu sei. Você disse isso após cada um dos últimos três. Não, sério, dessa vez. Ela riu também. Cinco é perfeito. Nossa família está completa. Está.
Ele a puxou para beijo. E é mais do que sonhei ter. Revelação final. Mariana apoiou cabeça no ombro dele. Sabe, há algo que nunca te contei. O quê? Naquela noite do jantar corporativo, quando você me mandou sentar na mesa dos funcionários, parte de mim quis ir embora, pegar bolsa, sair, nunca mais voltar.
Por que não foi? Porque vi Ricardo descendo para sentar comigo, vi a humanidade dele e pensei: “Se existe homem bom nessa empresa, talvez exista esperança.” Olhou para ele. Não sabia que o homem bom estava dentro mim e de você o tempo todo. Só precisava ser libertado. Dante sentiu lágrima escapar. Limpou rapidamente. Você me libertou de prisão que eu construí. Nós libertamos um ao outro. Ela corrigiu. To na final.
Flashback. 20 anos atrás. Mariana sozinha na mesa dos funcionários, vestido vermelho, humilhação absoluta, olhos vazios, corta para presente, mesma mulher, agora na varanda, rodeada por amor, casa cheia de vida, olhos brilhando, Dante sussurra de contrato frio a isso. Valeu cada segundo de aprender a te amar, Mariana. Amor não é ser perfeito, é ser presente.
E você está presente. Eles ficam abraçados. Casa atrás iluminada. Sons de vida, risadas, cachorros latindo, música suave. Câmera se afasta lentamente, mostrando família completa através das janelas. Rosa lendo para Henrique. Francisca ajudando Sofia com dever. Miguel construindo algo, Isabela e Lorenzo discutindo amigavelmente sobre projeto. Última frase, narração. Voz de Mariana.
Às vezes, o maior amor nasce da maior humilhação. E a maior força vem de quem aprende que ser vulnerável não é ser fraco, é ser humano. Ele aprendeu. Eu aprendi. E juntos construímos algo que nenhum contrato poderia prever. uma família de verdade, porque no final não importa como começa, importa como você escolhe continuar.
E nós escolhemos amor todo dia, de novo e de novo e sempre. Último plano. Dante e Mariana se beijando na varanda. Silhuetas contra lua cheia. Casa iluminada ao fundo. Fade to black. Epílogo. Breve. 10 anos depois. Lorenzo. 23. CEO Júnior da Rocha Tech, desenvolvendo IA ética. Isabela 23, cursando MBA em Harvard, já com propostas de cinco empresas. Miguel 20, fazendo engenharia aeroespacial.
O astronauta está quase lá. Sofia, 17, medicina. Estágio em hospital, sonhando em médicos sem fronteiras. Henrique 15. Ainda decidindo, mas brilhante em tudo que toca. Dante B 55 e Mariana 48, semiaposentados da operação diária, mas ainda no conselho, viajando, aproveitando, sendo a voz eventualmente. Lorenzo casou, Rosa 72 e Francisca 77, aposentadas, mas vivendo na casa de hóspedes, parte da família para sempre. Última cena.
Almoço de domingo, mesa enorme. 20 pessoas, filhos, netos. Rosa, Francisca, Ricardo, outros. Dante se levanta, taça na mão. Um brinde. A família, não a que nasce do sangue, mas a que construímos com escolhas. Eu comecei como homem vazio. Olha para Mariana. Ela me ensinou a viver. Vocês, olha, filhos, me ensinaram a amar.
E agora, olha, neto de um ano no colo de Lorenzo. Vejo o legado continuando. Não de dinheiro, de cu valores. Todos brindam. Mariana sussurra só para ele: “Ainda me ama, mas a cada dia, beija ela para sempre. Moral da história, o amor verdadeiro não nasce perfeito, nasce quebrado, machucado, imperfeito.
Mas quando duas pessoas escolhem crescer ao invés de desistir, perdoar ao invés de guardar rancor, construir ao invés de destruir, até o pior começo pode ter o mais belo final.” Dante aprendeu que poder sem humanidade é vazio. Mariana aprendeu que seu valor não depende de validação externa. E juntos provaram que família não é perfeição, é presença, tentativa e amor escolhido diariamente.
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