Antes de começarmos, me conta de onde você está assistindo. Deixa aí nos comentários. E se você ama histórias de superação e segundas chances, se inscreve no canal e deixa aquele like. Agora sim, vamos para a história. O despertador nem chegou a tocar. Nilsy já estava acordada havia horas, os olhos fixos no teto de estuque branco da suite master, contando as pétalas das flores decorativas que pareciam observá-la com desdém.
Às 6 da manhã, a mansão de 1000 metros quadrados no Jardim Europa estava mergulhada em um silêncio pesado. O tipo de silêncio que não traz paz, apenas um vazio ensurdecedor. Ela virou o rosto para o lado esquerdo da cama, King Size. Gabriel não estava ali, nunca estava. Ele dormia no escritório quando trabalhava até tarde, o que significava praticamente todas as noites.
Nils se perguntava se ele fazia isso de propósito, se evitava sua companhia até mesmo durante o sono. Levantou-se devagar, os pés descalços afundando no tapete persa, que custava mais do que um carro popular. Caminhou até o closet, um cômodo inteiro dedicado apenas às roupas, maior que o apartamento onde morava antes de conhecer Gabriel.
As araras se estendiam por metros, repletas de peças em tons neutros: bege, cinza, preto, branco, cores seguras, cores invisíveis. Nils passou os dedos pelos cabides, uma sensação de náusea subindo pela garganta. Não lembrava mais quando havia escolhido sua própria roupa pela última vez. Gabriel sempre tinha uma opinião, sempre sabia o que era apropriado, o que a fazia parecer elegante, palavra que ele usava quando, na verdade queria dizer discreta ou apagada.
Seus olhos pararam em um único vestido vermelho vibrante escondido no canto mais distante do closet. Ela o havia comprado dois anos atrás em um momento de rebeldia silenciosa, mas nunca usara, nem ousara. Gabriel veria e Gabriel teria algo a dizer. Gabriel sempre tinha. Você acordou cedo. Nils se virou bruscamente.
Gabriel estava parado na porta do closet. impecável em seu terno Armani cinza chumbo, o cabelo perfeitamente penteado, o relógio Rolex brilhando em seu pulso. Aos 42 anos, ele tinha aquela beleza fria de executivo bem-sucedido, mandíbula quadrada, olhos calculistas, um sorriso que nunca chegava a ser genuíno.
“Não consegui dormir”, respondeu Nils, a voz saindo mais fraca do que pretendia. Nervosa com o evento de hoje? Gabriel entrou no closet, seus olhos fazendo uma varredura rápida e crítica. Não deveria estar. Você só precisa ficar ao meu lado, sorrir para as pessoas certas e não dizer nada constrangedor. Simples.
Nils engoliu a resposta que formigava em sua língua. Tr anos. Trs anos fazendo exatamente isso. Já escolheu o que vai usar? Perguntou Gabriel, aproximando-se das araras. Pensei em algo vermelho. Nilsey arriscou a mão, movendo-se instintivamente em direção ao vestido escondido. Vermelho. Gabriel soltou uma risada curta, sem humor. Ncey, você não é a estrela hoje. Eu sou.
Vou receber o prêmio de empresário do ano. Preciso que você esteja linda, sim, mas sem chamar mais atenção que eu. Ele puxou um vestido bege com caimento sóbrio. Use este. Combina com você. Combina com o fantasma que me tornei”, pensou Nils, mas apenas assentiu pegando o vestido das mãos dele. Ótima escolha.
Gabriel sorriu, beijando-a rapidamente na testa antes de sair. Estarei no carro às 18 horas. Não se atrase. Quando ele saiu, Nils olhou para o vestido bege em suas mãos, depois para o vermelho vibrante pendurado no canto. Fechou os olhos e deixou uma lágrima solitária escorrer. Quem eu me tornei? As horas arrastaram-se como sempre.
Nilsy tomou café sozinha na cozinha gourmet, que ela nunca usava, já que Gabriel preferia que a empregada cozinhasse. Tentou ler um livro na biblioteca, mas as palavras dançavam na página sem fazer sentido. Considerou ligar para sua única amiga Marina, mas não sabia o que dizer.
Como você explica que está morrendo por dentro quando tem tudo que o dinheiro pode comprar? Às 5 da tarde começou a se arrumar. Maquiagem leve, como Gabriel preferia, cabelo preso em um coque elegante, como Gabriel aprovava, o vestido bege que caía sem vida sobre seu corpo magro demais.
Quando se olhou no espelho, não reconheceu a mulher que a encarava de volta. Onde estava a Nilsy de 5 anos atrás? Aqui usava cores como se fossem sua assinatura, que ria alto, que sonhava em ser arquiteta, que amava desenhar projetos até de madrugada. Onde estava a Nils? que não. Não pense nele, nunca pense nele. O carro está esperando. A voz de Gabriel ecoou do andar de baixo.
Nils desceu as escadas lentamente, segurando a barra do vestido. Gabriel a observou de cima a baixo. Um aceno mínimo de aprovação. Aceitável, foi tudo que disse antes de seguir para a porta. No carro, uma Mercedes blindada, Gabriel revisava seu discurso, movendo os lábios em silêncio, completamente alheio a presença dela.
Nil se olhava pela janela, vendo a cidade passar em um borrão de luzes e movimento. Pessoas na rua riam, conversavam, viviam. Ela apenas existia. Quando chegarem os fotógrafos, sorria, mas não muito. Instruiu Gabriel, sem tirar os olhos do tablet. E se alguém te perguntar sobre seu trabalho, diga que está focada em apoiar minha carreira.
Não mencione aquela fase ridícula de querer ser arquiteta. As pessoas importantes não se impressionam com sonhos amadores. Nils apertou as mãos no colo. Sonhos amadores. Era assim que ele chamava tudo que tinha sido importante para ela. Gabriel, eu chegamos. Ele interrompeu guardando o tablet. Lembre-se, você é minha esposa. Isso significa ser impecável. Não me decepcione.
O carro parou em frente ao hotel Unique, onde o evento estava acontecendo. Flashes de câmeras explodiram. Gabriel saiu primeiro acenando para os fotógrafos como uma celebridade. Nils o seguiu invisível, um acessório caro em um vestido bege. Enquanto entravam no salão luxuoso, onde lustres de cristal pendiam do teto como estrelas capturadas, Nilsy não sabia que sua vida estava prestes a implodir.
Não sabia que em alguns minutos o passado que ela enterrara voltaria para assombrá-la. Não sabia que Leonardo Mendes estava no salão e que quando seus olhos se encontrassem, nada jamais seria o mesmo. O salão estava repleto de Brasil corporativo, empresários internos de grife, esposas ornamentadas em joias que custavam fortunas, garçons circulando com bandejas de champanhe canapés.
Nils conhecia aquele cenário de cor. Três anos de eventos idênticos, três anos de conversas vazias sobre mercado financeiro, investimentos, lucros trimestrais. Três anos de sorrir e assentir. Sorrir e assentir até que seu rosto doesse. Gabriel a guiava pelo salão com uma mão possessiva em sua lombar, apresentando-a sempre da mesma forma.
Minha esposa, Nilsy, nunca seu nome completo, nunca conquista dela, nunca nada que a diferenciasse de um objeto decorativo. Gabriel Almeida, o homem da noite. Um empresário barrigudo se aproximou, apertando a mão de Gabriel com entusiasmo exagerado. Nem olhou para Nilsy. Enquanto Gabriel mergulhava em uma conversa sobre ações e commodities, Nilsy deixou seus olhos vagarem pelo salão.
O palco ao fundo estava decorado com requinte, cortinas de veludo bordô, um púlpito de acrílico iluminado, arranjos florais extravagantes. Era ali que Gabriel receberia seu prêmio. “Mais um troféu para a coleção”, pensou ela amargamente. “Senhoras e senhores, a voz do mestre de cerimônias ecoou pelos altofalantes, capturando a atenção de todos.
Antes de iniciarmos a cerimônia de premiação, temos a honra de receber um convidado muito especial. Nilsy tomou um gole de champanhe, esperando mais um discurso corporativo tedioso. Direto de Paris, onde acaba de ter sua coleção apresentada na Fashion Week. Recebam o estilista que está revolucionando a moda brasileira no cenário internacional, Leonardo Mendes.
O nome atingiu Nils como um soco no estômago. Não, não pode ser. A taça escorregou de sua mão, espalhando champanhe pelo chão. Gabriel a fuzilou com os olhos, mas ela mal notou. Seus olhos estavam fixos no palco, onde uma figura subia os degraus com a confiança de quem conquistou o mundo, Leonardo. Mas não o Leonardo que ela conhecera, não o garoto humilde de jeans surrados e sonhos impossíveis.
Este Leonardo usava um terno preto impecavelmente cortado, claramente feito sob medida, que realçava seus ombros largos e porte atlético. O cabelo, antes sempre bagunçado, estava perfeitamente estilizado. Ele havia deixado crescer uma barba rala que lhe dava um ar sofisticado.
E os olhos, aqueles olhos castanhos profundos que ela conhecia tão bem, brilhavam com uma autoconfiança que não existia antes. Leonardo pegou o microfone, um sorriso encantador curvando seus lábios. Boa noite. É uma honra estar aqui entre mentes tão brilhantes do mundo corporativo brasileiro. Sua voz era mais profunda, mais firme. Nils sentiu o chão oscilar sob seus pés.
Sei que estão curiosos sobre porque um estilista está em um evento de negócios. Leonardo continuou, o carisma emanando dele como calor. Mas moda é negócio. E vim compartilhar como transformei dor em arte. Rejeição e motivação. Seus olhos escanearam o público e então pararam nela. O tempo congelou. Leonardo prendeu a respiração visível mesmo do palco.
Seu sorriso falhou por uma fração de segundo, os dedos apertando o microfone com força. Nils viu tudo, o choque, o reconhecimento, a dor antiga atravessando seu rosto como um relâmpago. Mas ele era um performer agora. recuperou-se quase imediatamente, desviando os olhos e continuando seu discurso, embora sua voz tivesse ficado ligeiramente mais tensa.
Há três anos eu não tinha nada, nem dinheiro, nem conexões, nem esperança. Alguém em quem eu confiava partiu meu coração em pedaços. Nils sentiu lágrimas queimando seus olhos, mas percebi algo fundamental. Leonardo olhou diretamente para ela novamente e desta vez foi proposital. A dor pode nos destruir ou nos reconstruir. Escolhi deixar que me transformasse.
Cada ponto que costurei, cada tecido que cortei, cada desfile que produzi, foi uma carta de amor para a pessoa que eu me tornei depois da traição. O salão explodiu em aplausos. Gabriel batia palmas mecanicamente, sem suspeitar de nada. Por isso, Leonardo concluiu, a voz carregada de significado.
Dedico o meu sucesso à pessoa que me ensinou que às vezes perder quem amamos é a única forma de encontrarmos a nós mesmos. Ele deixou o palco sob uma salva de palmas. Nilsy tremendo. Você está bem? Gabriel perguntou irritado. Está pálida. Não vai desmaiar e me envergonhar. Vai. Eu preciso ir ao banheiro”, Nils murmurou, afastando-se antes que ele pudesse protestar.
Ela atravessou o salão em passo rápido, o coração batendo tão forte que parecia que todos podiam ouvir. Refugiou-se no banheiro feminino, as mãos apoiadas na pia de mármore, olhando para seu reflexo desfocado. Leonardo, aqui bem-sucedido, deslumbrante. Memórias a inundaram como uma represa rompida. as noites estudando juntos na faculdade, seus dedos entrelaçados enquanto ele desenhava croques e ela projetava plantas baixas, os beijos roubados entre aulas, o pedido de casamento simples em um parque com um anel que ele economizara por meses para comprar. A felicidade que ela sentira, pura e verdadeira antes que antes que
Gabriel aparecesse, antes que ela escolhesse segurança em vez de amor, antes que ela destruísse tudo com uma mensagem de texto covarde. Não posso mais. Desculpa. A porta do banheiro se abriu. Nils se enrijeceu, limpando rapidamente os olhos, mas quando olhou no espelho, viu quem havia entrado.
Marina, sua amiga desde a faculdade, única pessoa que ainda a visitava. Nils meu Deus, eu vi Leonardo no palco. Você sabia que ele estaria aqui? Nils balançou a cabeça, incapaz de falar. Marina a abraçou forte. Ele está incrível, completamente diferente. Você viu como ele olhou para você, Nilsy? Ele ainda não. Nils se afastou. Não diga. Não posso. Eu sou casada. Marina, você está presa? Marina corrigiu.
Sua voz firme. Isso não é casamento, é prisão. Antes que Nils pudesse responder, a porta se abriu novamente e Leonardo entrou no banheiro feminino. Ele olhou para Marina, depois para Nilse. “Você poderia nos dar um minuto?”, pediu a Marina educadamente, mas com uma intensidade que não admitia a recusa. Marina apertou a mão de Nils rapidamente antes de sair, deixando-os sozinhos.
O silêncio era ensurdecedor. Eles ficaram parados a metros de distância, uma eternidade de mágoas entre eles. “Você está bem?”, Leonardo perguntou finalmente a voz rouca. Nils soltou uma risada sem humor. Bem, eu sim tenho tudo. Casa enorme, roupas caras, um marido bem-sucedido. Estou perfeita. Leonardo deu um passo à frente, seus olhos penetrando-os dela.
Nils ainda usa seu nome ou ele mudou isso também? A pergunta a atingiu como uma bofetada, porque Gabriel realmente tentara. Nils Almeida não tem prestígio. Use seu nome completo em eventos. Nilsy Cristina Almeida, como se seu nome de solteira fosse um defeito a ser corrigido. Eu Sua voz falhou. Você parece apagada. Leonardo continuou. Cada palavra uma punhalada precisa.
Onde está a mulher que usava cores como se fossem sua assinatura? A que misturava vermelho com laranja só porque podia. Aqui dizia que cinza era a cor da rendição. Nils olhou para seu vestido bege. Cinza, bege, branco. Tr anos de rendição. As pessoas mudam, Leonardo. Pessoas crescem. Você encolheu. Ele chegou mais perto. Ele fez isso com você. Ele te apagou. Pare.
Nil se sussurrou. Lágrimas finalmente escapando. Você não sabe nada sobre minha vida. Eu sei que aquela mulher no salão não é você. Leonardo disse, a voz quebrando ligeiramente. Eu vi a forma como ele te toca, como te apresenta, como você se encolhe ao lado dele. Nilsey, o que aconteceu com você? Eu cresci. Ela explodiu, a voz ecoando no banheiro.
Parei de viver em sonhos impossíveis. Você queria que eu O que, Leonardo? Que ficasse pobre com você? Que comesse miojo até os 30, esperando que você fizesse sucesso? Eu escolhi realidade. Você escolheu uma prisão. A verdade nas palavras dele era devastadora. Nil se encostou na pia, as pernas fraquejando. Por que você está aqui? Perguntou exausta.
Porque mesmo depois de trs anos, mesmo depois do que você fez, Leonardo parou, engolindo seco. Eu precisava saber se você estava bem, se valeu a pena, se ele te fez feliz de um jeito que eu nunca poderia. Ele esperou, os olhos implorando por uma resposta que ela não conseguia dar. Nilsy a voz de Gabriel trovejou do corredor. Onde você está? O prêmio vai ser entregue.
Leonardo recuou, a expressão se fechando. Seu dono está chamando disse amargo. Ele se virou para sair, mas parou na porta. Ah, e Nilsy, sobre aquele vestido bege que você está usando. Ele olhou por cima do ombro, os olhos tristes. A Nils que eu conheci preferia morrer a usar bege, mas suponho que aquela Nils já tenha morrido mesmo.
E saiu, deixando-a destruída entre as pias de mármore e sua própria mentira, porque Leonardo estava certo. A verdadeira Nilsy havia morrido no dia em que ela escolheu a gaiola. Nilsy voltou ao salão em piloto automático, o rosto uma máscara cuidadosamente recomposta. Gabriel a puxou imediatamente para o lado, seus dedos apertando seu braço com força suficiente para deixar marcas.
Onde você estava? Quase perdeu meu momento. Sibilou ele entre dentes, sorrindo para os fotógrafos. “Desculpa”, ela murmurou a palavra automática depois de três anos de prática. O mestre de cerimônias estava no palco anunciando os prêmios. Nilsy mal ouvia.
Seus olhos buscavam involuntariamente Leonardo no salão. Ele estava próximo ao bar, conversando com um grupo de empresários que pareciam fascinados por cada palavra sua. Ele ria, gesticulava, vivia, tão diferente do rapaz que ela conhecera. Ou era, a memória a arrastou para trás para 5 anos atrás, para quando tudo era diferente.
Faculdade de design 5 anos atrás. Nilsy tinha 22 anos e o mundo inteiro pela frente. Estudava arquitetura na Universidade Mckenzie. Trabalhava meio período em um escritório de design para pagar suas contas e usava roupas de brechó que ela mesma customizava com tintas e bordados. Seu cabelo era castanho claro natural, os olhos brilhavam com ambição e ela ria. Deus como ela ria.
Foi em uma aula optativa de história do design que ela conheceu Leonardo Mendes. Ele era do curso de moda, um ano mais velho que ela, com aquele jeito tímido de artista, sempre com um caderno de desenho debaixo do braço, tênis surrados, camisetas de bandas de rock indie. Sentou-se ao seu lado no primeiro dia porque era a única cadeira vazia.
Desculpa, esse lugar tá livre”, perguntou ele hesitante. Nils olhou para cima dos seus próprios desenhos. Estava projetando uma casa sustentável como exercício e sorriu. Só se você prometer não roncar durante a aula. Leonardo riu e algo naquele riso a atingiu. Era genuíno, caloroso, real. Eles se tornaram inseparáveis em semanas.
Estudavam juntos na biblioteca, compartilhavam ideias, criticavam o trabalho um do outro com honestidade brutal e afetuosa. Leonardo mostrava a ela seus croques de moda, vestidos impossíveis, ousados, cheios de cor e movimento. Nils desenhava para ele projetos de lojas onde suas coleções poderiam ser vendidas.
“Um dia vou ter minha própria grife”, Leonardo dizia, os olhos brilhando de sonho. “E você vai projetar minha flagship store? Vai ser toda de vidro e luz, como se a moda pudesse flutuar. Promete? Nils ria. Prometo. O beijo aconteceu três meses depois na saída da faculdade, enquanto a chuva caía e eles se abrigavam sob a marquise.
Foi Leonardo quem se inclinou primeiro, hesitante, esperando que ela o rejeitasse, mas Nils o puxou pela gola da camiseta e o beijou como se estivesse morrendo de sede e ele fosse água. Foram dois anos de felicidade, dois anos morando juntos em um apartamento minúsculo de um quarto em Pinheiros, dividindo contas, comendo miojo quando o dinheiro acabava, mas sempre rindo, sempre criando, sempre juntos.
Leonardo trabalhava como assistente em uma confecção durante o dia e desenhava suas próprias peças à noite. Nils fazia estágio em um escritório pequeno de arquitetura. eram pobres, mas eram felizes, ou pelo menos Nils se achava que era. O pedido de casamento aconteceu no Parque Ibirapuera, num domingo ensolarado de agosto.
Leonardo a levou até o lago, nervoso, as mãos tremendo quando ajoelhou. Nilsy, eu sei que não tenho nada para te dar agora. Nenhuma segurança, nenhum futuro garantido. Mas eu te amo mais do que amo respirar e sei que vou fazer sucesso. Sei que vou construir algo incrível e quero você ao meu lado quando isso acontecer.
Quer casar comigo? O anel era simples. Uma aliança de prata com uma pedra minúscula que provavelmente era vidro, não diamante. Ele havia economizado por 4 meses do seu salário irrisório. Nils chorou, riu e disse sim. Disse sim porque o amava. Disse sim porque acreditava.
Mas então, três meses antes do casamento, Nilsyva em um evento de networking de arquitetura arrastada por seu chefe. Ela usava um vestido vermelho que comprara em um brechó, seu vestido da sorte. Estava entediada, circulando com uma taça de vinho barato quando um homem se aproximou. Aquele vestido vermelho está causando um escândalo entre todos os arquitetos de terno cinza? Ele disse, sorrindo.
Ela olhou: “Gabriel Almeida, 40 anos, dono de uma construtora multimilionária, incrivelmente bem-sucedido, e estava olhando para ela como se ela fosse a única pessoa no salão. Escândalo bom ou ruim?”, Nils perguntou, desconfortável, mas lisongeada. “Depende. Você já é casada com alguém ou posso te levar para jantar?” Nils mostrou o anel simples. “Quase casada, quase não conta.
” Gabriel disse, pegando um cartão de visita e colocando na mão dela. Quando você decidir querer mais da vida do que quase, me liga. Ela deveria ter jogado o cartão fora. Deveria ter rido e esquecido. Mas algo naquelas palavras, querer mais da vida, ficou grudado em sua mente como um parasita. Porque a verdade era que, apesar de amar Leonardo, Nilsy estava exausta.
exausta de contas atrasadas, de não ter dinheiro para um casamento decente, de ver Leonardo trabalhar até a exaustão e ainda assim mal conseguirem pagar aluguel. Sua família havia perdido tudo em um investimento ruim dois anos antes. Ela não tinha para onde correr e Gabriel? Gabriel era segurança, era a promessa de nunca mais passar aperto.
Era estabilidade, era tudo que Leonardo não podia dar. Gabriel a cortejou intensamente durante três semanas. Jantares caros, presentes extravagantes, promessas de um futuro onde ela nunca precisaria se preocupar com dinheiro. Ele era charmoso, atencioso, interessado em sua carreira, ou pelo menos era no início.
Nils tentou resistir, disse a si mesma que amava Leonardo, que amor era o suficiente. Mas quando voltava para casa e via as contas de luz, água, aluguel empilhadas na mesinha da sala, quando via Leonardo dormindo exausto no sofá, porque passara a noite toda costurando peças para vender, quando percebia que o casamento teria que ser adiado de novo, porque eles não tinham dinheiro.
O medo venceu o amor. Numa terça-feira chuvosa, enquanto Leonardo estava no trabalho, Nils escreveu uma mensagem de texto. Leonardo, não posso mais. Não posso casar com você. Desculpa. Por favor, não me procure, Nilsy. Ela nem teve coragem de fazer pessoalmente, nem teve coragem de dar uma explicação, simplesmente desapareceu, bloqueou o número dele, pegou suas coisas e se mudou para o apartamento que Gabriel havia alugado para ela.
Três meses depois, se casou com Gabriel em uma cerimônia pequena e formal, sem amigos, sem festa, sem alegria, apenas assinatura de papéis e champanhe caro. Leonardo tentou falar com ela, apareceu no escritório onde ela trabalhava, desesperado, implorando por uma explicação. Nilsy, o que eu fiz? Por favor, me diz.
A gente pode resolver? A gente pode? Mas Gabriel estava lá, possessivo, territorial. Minha noiva pediu que você parasse de assediá-la, disse Gabriel frio. Se aparecer de novo, vou chamar a polícia. Nils viu Leonardo se despedaçar. viu a dor nos olhos dele, a incompreensão, o desespero, mas não disse nada. Apenas assistiu Gabriel arrastá-la para longe, enquanto Leonardo ficava parado na calçada chorando.
Essa foi a última vez que ela o vira até hoje, de volta ao presente. E o prêmio de empresário do ano vai para Gabriel Almeida. Os aplausos explodiram no salão. Gabriel apertou a mão de Nilsy rapidamente antes de subir ao palco, o sorriso de vencedor estampado no rosto.
Nilsy aplaudiu mecanicamente, mas seus olhos estavam fixos em Leonardo do outro lado do salão. Ele não estava aplaudindo, estava olhando para ela com uma expressão que ela não conseguia decifrar. Tristeza, raiva, pena. Gabriel fez seu discurso triunfante, agradecendo a si mesmo principalmente. Nem mencionou Nils quando desceu do palco, estava radiante. Viu? Eu fiz isso.
Eu conquistei isso. Ele disse a ela egocêntrico. A festa continuou. Gabriel foi cercado por admiradores e Nils ficou ali sozinha na multidão, vestida de bege invisível, até que uma voz soou ao seu lado. Trocou felicidade por isso? Leonardo estava ao seu lado, um copo de whisky na mão. Espero que tenha valido a pena.
E antes que ela pudesse responder, ele se afastou, deixando-a com o gosto amargo da verdade, porque não tinha valido a pena nem um pouco. O coquetel, após as premiações, transformou o salão em um mar de conversas animadas, risadas calculadas e brindes vazios. Gabriel estava em seu elemento, cercado por empresários ansiosos para se associar ao empresário do ano.
Segurava o troféu de vidro com uma mão e uma taça de champanhe e Dom Perrinhon com a outra, seus olhos brilhando com autosatisfação. Nilsy permanecia a dois passos atrás dele, como sempre, sorrindo quando necessário, a sentindo educadamente quando alguém a cumprimentava por ter um marido tão bem-sucedido. Ninguém perguntava sobre ela.
Ninguém nunca perguntava. Seus olhos, porém, seguiam Leonardo pelo salão. Ele navegava entre os grupos com desenvoltura impressionante, diferente do garoto tímido que ela conhecera. Cada movimento era calculado, mas natural, cada sorriso estratégico, mas genuíno. As pessoas gravitavam em torno dele, especialmente mulheres.
Nils notou com um aperto no peito, que tocavam seu braço, riam de suas piadas, claramente seduzidas por sua combinação de talento, sucesso e beleza masculina. Ele está tão diferente”, pensou ela, sentindo algo que demorou a reconhecer como ciúme. “Almeida, que noite triunfante! Um investidor barrigudo bateu nas costas de Gabriel e sua esposa Nilsy, não é? Belíssima como sempre.
O homem olhava para Nilsy como se estivesse avaliando o gado. Ela conhecia aquele olhar. Todos os amigos de Gabriel tinham aquele olhar, calculando quanto ela valia como troféu. “Nilce é minha joia mais preciosa”, Gabriel disse, a voz carregada de propriedade. Ele a puxou pela cintura, seus dedos cravando-se em sua costela dolorosamente.
“Não é, querida?” Claro. Ela respondeu automaticamente a palavra cinza como seu vestido. Devíamos A voz de Gabriel foi interrompida quando Leonardo se aproximou do grupo, sorrindo educadamente. Com licença, cavalheiros. Não pude deixar de notar. Seus olhos encontraram os de Nilsy por um segundo devastador. A beleza desta noite.
Parabéns pelo prêmio, Senr. Almeida. Gabriel se empertigou claramente lisongeado de estar sendo cumprimentado por uma celebridade internacional da moda. Leonardo Mendes. Seu discurso foi interessante. Moda como negócio, conceito inovador, disse Gabriel, seu tom ligeiramente condescendente. Ele ainda não percebia quem Leonardo realmente era para Nils. Agradeço.
Leonardo respondeu pegando uma taça de champanhe de uma bandeja que passava. Então, como se fosse casual, virou-se para Nils e você deve ser. O silêncio que se instalou entre eles foi carregado de eletricidade. Minha esposa, Nils Gabriel disse como sempre apenas isso. Nils Leonardo saboreou o nome lentamente, seus olhos nunca deixando-os dela. Nome interessante, único, combina com você.
A forma como ele disse fez parecer uma carícia e um corte ao mesmo tempo. “Obrigada”, Nilsy conseguiu dizer, sua voz saindo mais fraca que pretendia. “Você trabalha com algo, Nilsy?”, Leonardo perguntou. E havia veneno suave naquela pergunta. Ele sabia exatamente o que estava fazendo. Gabriel respondeu por ela. É claro.
Nils se dedica a ser minha parceira, apoiar minha carreira. É um trabalho em tempo integral”, ele riu, completamente alheio à atenção. Ela costumava ter umas ideias de ser arquiteta, mas amadureceu. Nilsy viu os dedos de Leonardo apertarem o copo com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos. “Amadureceu!”, ele repetiu a palavra soando como uma acusação. “Que interessante eufemismo para desistir dos sonhos.
” Gabriel franziu a testa, finalmente captando a hostilidade mal disfarçada. “Desculpe, nada. Nada. Leonardo sorriu, mas não tinha calor. Apenas acho fascinante como algumas pessoas trocam paixão por conforto, bem, talento e realidade raramente andam juntos. Gabriel retrucou o defensivo. Nem todo mundo pode ser artista.
Alguns precisam viver no mundo real. Leonardo o interrompeu. Concordo. Mas me pergunto qual é o preço de abrir mão de quem você realmente é? Qual o custo de acordar todos os dias e não se reconhecer no espelho? Ele estava olhando para Nils agora e ela sabia que cada palavra era direcionada a ela.
“Você parece ter opiniões muito fortes sobre escolhas alheias”, Gabriel disse, sua voz ficando fria. “Talvez.” Leonardo deu um gole no champanhe, os olhos ainda fixos em Nilsy. “Ou talvez eu apenas reconheça uma gaiola quando vejo uma, mesmo que seja feita de ouro.” O insulto pairou no ar como fumaça tóxica. Olha aqui. Gabriel começou vermelho de raiva, mas Leonardo se virou para ele com um sorriso encantador e profissional. Foi um prazer conhecê-los, Senor Almeida.
Parabéns novamente pelo prêmio. E Nils? Ele fez uma pausa significativa. Espero que você encontre o que está procurando, seja lá o que for. Ele se afastou antes que Gabriel pudesse responder, deixando um rastro de confusão e fúria. Que arrogante, Gabriel rosnou. Esses artistas sempre se acham superiores.
Provavelmente usa drogas e dorme com qualquer um. Fique longe dele, Nils. Gente assim é má influência. Nilsy apenas a sentiu, mas por dentro algo havia rachado. Gaiola de ouro. A noite se arrastou por mais duas horas intermináveis. Gabriel monopolizou cada conversa, cada fotografia, cada momento. Nils estava exausta, não fisicamente, mas emocionalmente esgotada de fingir.
Quando finalmente entraram no carro, o silêncio era sufocante. Gabriel mexia no celular, respondendo e-mails, completamente desinteressado em conversar. Nils olhava pela janela vendo São Paulo passar em um borrão de luzes. Por que aquele estilista estava olhando tanto para você? Gabriel perguntou de repente, sem tirar os olhos do celular. O coração de Nilsy pulou. Não estava.
Você está imaginando coisas? Eu vi, Nilsy. Não sou idiota. Ele finalmente olhou para ela, os olhos desconfiados. Vocês se conhecem? Não. A mentira saiu rápido demais para ser convincente. Gabriel a estudou por um longo momento, então voltou ao celular. Bom, porque se eu descobrir que há algo que você não está me contando, não vai gostar das consequências.
Não era uma ameaça velada, era uma promessa. Quando chegaram em casa, Gabriel foi direto para o escritório, como sempre. Nilsy subiu para o quarto, tirou o vestido bege e jogou-o no chão com uma força que a surpreendeu. Ficou parada de calcinha e sutiã na frente do espelho, olhando para seu corpo magro demais, seus olhos sem brilho, sua alma apagada, gaiola de ouro. Leonardo tinha razão.
Ela estava em uma prisão, mas a tranca estava do lado de dentro. Ela havia escolhido isso. Cada dia, cada segundo, ela escolhia ficar. Seu celular vibrou. Uma mensagem de um número desconhecido. Ainda desenha, Nilsy? Ou ele matou isso em você também. Não havia assinatura, não precisava. Ela sabia quem era. Suas mãos tremeram enquanto digitava.
Como consegui o meu número? A resposta veio em segundos. Seus projetos costumavam ser brilhantes. Tenho uma proposta profissional. Se ainda tiver coragem de ser quem você era. Nils olhou para a mensagem por longos minutos. Uma parte dela queria deletar, bloquear, esquecer a parte que Gabriel cultivara durante três anos, obediente, cautelosa, morta.
Mas outra parte, uma parte minúscula e sufocada que ainda respirava em algum lugar profundo de sua alma, sussurrava: “Diga sim, por favor, diga assim antes que seja tarde demais”. Seus dedos digitaram antes que seu cérebro pudesse impedir. Que proposta? A resposta foi imediata. Amanhã, 14 horas. Endereço: Rua Augusta, 1847. Meu atelier. Não conte a ele que vai.
Isso é entre você e quem você costumava ser. Nils se olhou para a mensagem, depois para seu reflexo no espelho. Duas versões de si mesma olharam de volta. a fantasma em bege que Gabriel criara e a sombra da Nils de vermelho, que ainda se recusava a desaparecer completamente. E pela primeira vez em três anos, ela tomou uma decisão que não foi aprovada por Gabriel.
Ela iria porque talvez ainda houvesse tempo de abrir a gaiola. Ou talvez ela estivesse apenas marchando para seu próprio coração ser despedaçado novamente. Nilsy mal dormiu naquela noite. Ficou acordada olhando para o teto, o celular apertado contra o peito, sentindo o peso da decisão que havia tomado.
Cada vez que fechava os olhos, via Leonardo no palco, confiante e transformado. Via o menino que ela havia destruído e o homem em quem ele se tornara. via a dor que ela causara sendo transformada em triunfo. E se perguntava o que ela havia construído com sua própria dor. Nada, absolutamente nada. Às 7 da manhã, Gabriel entrou no quarto já vestido em um de seus ternos impecáveis, mexendo no celular.
Reunião o dia todo. Anunciou sem olhar para ela. Não me espere para jantar. Aliás, não sei a que horas volto. Semana crítica. Gabriel, eu Nils começou tentando soar casual. Pensei em sair hoje, ver Marina, talvez. Faz tempo que não. Marina. Ele finalmente olhou para ela, franzindo a testa.
Aquela sua amiga que sempre teve inveja do que você conquistou, a que vive tentando colocar ideias ridículas na sua cabeça? Nils apertou os lençóis. Ela é minha amiga. A única que ainda a única que ainda o quê? Te respeita? Gabriel soltou uma risada sem humor. Nils, essa mulher é tóxica, sempre foi. Mas se você quer perder seu tempo com ela, vai em frente.
Não é como se você tivesse algo importante para fazer mesmo. A farpa atingiu o alvo. Gabriel sempre soube exatamente onde cortar. Só não volte para casa com mais dessas ideias absurdas de retomar sua carreira ou fazer algo significativo. Ele continuou pegando sua maleta. Você tem uma vida perfeita aqui. Não estrague isso com insatisfação boba. Ele beijou seu rosto rapidamente, um gesto mecânico, sem afeto, e saiu.
Nils esperou ouvir o barulho do carro saindo da garagem, então esperou mais 15 minutos. Então esperou mais 10, só para ter certeza. finalmente levantou-se com o coração disparado, abriu o closet e olhou para as araras de roupas bege, cinza, preto, todas apropriadas, todas elegantes, todas mortas.
Seu olhar deslizou para o canto mais distante, onde o vestido vermelho pendia sozinho, como uma chama solitária em uma caverna escura. Ela o havia comprado dois anos atrás, em um momento de desafio silencioso. Nunca usara. nunca ousara. Hoje ela ousou. Tirou o vestido do cabide, sentindo o tecido sedoso escorrer entre seus dedos. Era simples, mas vibrante, como um corte que realçava seu corpo sem ser vulgar.
Era a cor da vida, a cor da coragem, a cor de quem ela costumava ser. Vestiu-o lentamente, como se estivesse vestindo uma armadura. Quando se olhou no espelho, algo aconteceu. Por um segundo, apenas um segundo, ela reconheceu a mulher que olhava de volta e chorou. A rua Augusta às 2as da tarde era uma artéria pulsante de vida em São Paulo.
Nilsy pagou o Uber e desceu em frente ao número 1847, suas mãos suando apesar do ar condicionado do carro. O endereço era um prédio antigo restaurado, com uma fachada de tijolos expostos e grandes janelas de vidro que revelavam um interior moderno e luminoso. Uma placa discreta, dizia Leonardo Mendes, atelier. Nils respirou fundo.
Ainda podia voltar, ainda podia desistir, ainda podia manter a ilusão de que sua vida estava bem. Mas então lembrou das palavras de Leonardo. Se ainda tiver coragem de ser quem você era, empurrou a porta. O interior era deslumbrante, o espaço era aberto, com pé direito duplo e luz natural entrando em cascata pelas janelas.
Manequins vestidos com criações impressionantes se alinhavam como sentinelas de um exército de arte. Tecidos em todas as cores imagináveis pendiam do teto como cortinas de um sonho. Mesas de trabalho espalhadas exibiam sketes, tesouras, linhas, agulhas, as ferramentas da criação. E no centro de tudo, debruçado sobre uma mesa de corte, estava Leonardo.
Ele usava uma camiseta branca simples e jeans, os óculos de grau pendurados no pescoço, totalmente concentrado em um tecido azul turquesa que cortava com precisão cirúrgica. Não a havia visto entrar. Nilsy ficou parada na porta, observando o trabalhar. Havia algo hipnótico em seus movimentos. Cada corte deliberado, cada marca no tecido intencional.
Suas mãos, que ela conhecera tão bem, agora trabalhavam com uma maestria que vinha de anos de prática obsessiva. “Vai ficar aí parada ou vai entrar?”, Leonardo disse, sem levantar os olhos do tecido. Nils sobressaltou-se. Como sabia que era eu? reconheceria seu perfume em qualquer lugar”, ele respondeu, finalmente olhando para cima, e então congelou.
“Você Você está usando vermelho.” A forma como ele disse fez parecer que ela estava usando a própria alma exposta. Achei apropriado, Nils disse, tentando soar confiante, mas falhando. Leonardo largou a tesoura e caminhou em direção a ela lentamente, como se ela fosse um animal selvagem prestes a fugir.
Parou a 1 m de distância, os olhos escaneando cada centímetro dela. “Vermelho sempre foi sua cor”, ele disse baixinho. “Lembro quando você usava aquele vestido vermelho de brechó em todos os eventos. Dizia que era sua armadura.” “Era, Nils”, sussurrou.
E o que aconteceu com a guerreira?”, Leonardo perguntou, a voz carregada de dor antiga. Nilsy não soube como responder. Então, Leonardo suspirou, voltando à sua postura profissional. “Você veio pela proposta. Vamos ao que interessa.” Ele gesticulou para que ela o seguisse até o fundo do atelier, onde havia uma sala de reuniões toda de vidro.
Dentro havia uma mesa coberta de plantas, sketes e amostras de tecido. Leonardo abriu um portfólio e empurrou-o em direção a ela. Estou abrindo minha flagship store aqui em São Paulo. Três andares, 300 m² na Oscar Freire. É meu maior projeto até agora. Preciso de alguém que entenda minha visão, que consiga traduzir moda em espaço físico, que crie um ambiente onde a arte possa respirar. Ele a encarou. Preciso de você.
Nils folihou o portfólio, as mãos tremendo. Os sketes dele eram extraordinários, vestidos que pareciam esculturas vivas, peças que contavam histórias. E de repente ela viu cada peça, cada vestido, cada corte era inspirado em momentos que eles haviam compartilhado.
Um vestido azul turquesa, como o vestido que ela usava quando se conheceram, um em laranja vibrante como o pô do sol, que assistiram em sua primeira viagem para a praia. Um em verde esmeralda, como seus olhos quando ria. Leonardo sua voz falhou. Você ainda desenha, Nilsy? Ele perguntou de repente, a voz tensa. Ou ele matou isso em você também. A pergunta foi uma bofetada. Eu faz anos que não. Mentira.
Leonardo interrompeu abrindo uma gaveta e tirando um tablet. Com alguns toques, abriu um perfil no Instagram. O dela, um perfil secreto que ela criara seis meses atrás. Nil se empalideceu. Como ele? Você posta seus desenhos à meia-noite quando acha que ninguém está vendo, Leonardo disse, virando o tablet para ela.
Projetos de casas sustentáveis, lojas conceituais, museus que desafiam a gravidade. Você ainda cria, Nilsy. Você só faz isso escondida, como se fosse um crime. Lágrimas queimaram os olhos dela. Aquele perfil era seu segredo mais profundo. tinha apenas 47 seguidores, pessoas aleatórias que encontraram suas postagens por hashtags. Gabriel não sabia. Ninguém sabia, exceto Leonardo.
Por que está fazendo isso? N perguntou a voz quebrando. Por que me procurou? Depois de tudo que fiz com você, Leonardo se aproximou, seus olhos penetrando-os dela. Porque eu vejo você se apagando, Nilsy. Vejo você desaparecendo um pouco mais a cada dia naquele casamento. E não posso Sua voz falhou. Eu não posso ficar parado assistindo você morrer.
Você não me deve nada, Nilsy disse, lágrimas finalmente escorrendo. Eu te destruí. Eu fui covarde. Eu escolhi. Você escolheu medo em vez de amor. Eu sei. E me levou três anos para conseguir dormir à noite sem te odiar por isso. Leonardo disse brutalmente. Mas sabe o que percebi? Você se pune mais do que eu jamais poderia. Você se colocou em uma prisão e jogou a chave fora. Ele estendeu o portfólio para ela.
Este projeto pode ser sua chave, pode ser seu caminho de volta para quem você é. Ou pode ser apenas mais uma coisa que você deixa Gabriel te proibir de fazer. A escolha é sua. Nils olhou para o portfólio, depois para Leonardo, depois para suas próprias mãos, tremendo. Ele vai proibir, você sabe que vai. Então não conte ele. Leonardo disse simplesmente, como vou esconder um projeto inteiro? Você esconde seu Instagram, esconde seus desenhos, esconde quem você realmente é todos os dias.
Leonardo respondeu: “Pelo menos desta vez esconda algo que te faz sentir viva.” Nils fechou os olhos. O coração, uma tempestade dentro do peito. Se ele descobrir, se você não fizer isso, Leonardo a interrompeu. Em cinco anos, você vai acordar e não vai lembrar mais o som da sua própria risada. Em 10 anos, vai olhar no espelho e não vai reconhecer a pessoa que se tornou.
E quando você tiver 60 anos, vai se perguntar onde foi que você deixou sua alma morrer? Ele tinha razão. Deus como ele tinha razão. Nils abriu os olhos e pegou o portfólio. Vou fazer. Leonardo soltou um suspiro que parecia carregar três anos de tensão. “Bem-vinda de volta”, ele disse baixinho.
E pela primeira vez em três anos, Nils sentiu algo que havia esquecido existir, esperança. Mas nenhum dos dois sabia que Gabriel já suspeitava, que ele tinha seguranças vigiando Nils, que ele estava vendo tudo e que tempestade que viria seria devastadora. Os primeiros dias trabalhando no projeto foram como acordar de um coma. Nilsy chegava ao atelier de Leonardo às 10 da manhã, depois que Gabriel saía para o trabalho e ficava até às 5, sempre saindo com tempo suficiente para estar em casa quando ele voltasse. Dizia a Gabriel que estava em sessões de terapia, encontros
com Marina, consultas médicas. As mentiras saíam mais facilmente do que ela imaginara e se sentia terrivelmente viva mentindo. O ateliê se tornou seu santuário. Enquanto Leonardo trabalhava em suas coleções em um canto, Nilsy se instalava em uma mesa de desenho próxima à janela, cercada de plantas baixas, amostras de materiais e sketes em desenvolvimento.
A loja seria em três andares: térrio para a coleção principal, segundo andar para peças sob medida e consultoria de estilo, terceiro andar para eventos e desfiles. Ela projetava obsecada, as mãos se movendo sobre o papel como se tivessem vida própria. Cada linha era intencional, cada espaço tinha propósito. A loja seria toda de vidro e luz natural, com estruturas metálicas que pareceriam flutuar.
Os provadores seriam cápsulas de privacidade com espelhos que mudavam a iluminação conforme o humor. Haveria um jardim vertical no centro, trazendo natureza para dentro da moda. Era seu melhor trabalho. Talvez o melhor que ela já fizera. “Você está brilhando,” Leonardo disse uma tarde, aparecendo atrás dela com duas xícaras de café. Nilsy se sobressaltou, largando o lápis.
“Desculpa, não queria assustar.” Ele sorriu, oferecendo-lhe uma xícara. Mas é sério, você está radiante. Não vi você assim desde desde antes de estragar tudo. Nil se completou amargamente. Leonardo se sentou na cadeira ao lado dela, estudando os desenhos espalhados pela mesa.
Estes projetos são incríveis, Nilsy. Eu sabia que você era talentosa, mas isso isso é genial. Por que você parou? Nilsy tomou um gole do café ganhando tempo. Gabriel disse que era hobby de criança, que eu precisava amadurecer, que mulheres da posição dele não trabalhavam com ela. Fez arquotes, profissõezinhas artísticas. Profissõezinhas. Leonardo repetiu, o sarcasmo pingando.
Enquanto ele faz o quê? Construções genéricas que poderiam estar em qualquer lugar do mundo. Prédios sem alma que ele nem projeta, apenas financia. Ele diz que é sobre legado, sobre construir império. Nil se defendeu fracamente, mesmo sem acreditar. Leonardo se inclinou mais perto, seus olhos sérios. Nilsy, posso te fazer uma pergunta? Ela a sentiu nervosa.
Quando foi a última vez que ele te perguntou como você estava? De verdade? Não apenas você está bem enquanto mexe no celular, mas realmente olhou nos seus olhos e perguntou sobre seus medos, seus sonhos. O que te mantém acordada à noite? Nils abriu a boca para responder, mas percebeu que não tinha resposta porque Gabriel nunca perguntara em três anos.
Ele não nós não temos esse tipo de relacionamento. Leonardo completou. Não, vocês não têm. Vocês têm um arranjo, um acordo comercial onde você troca sua identidade por segurança financeira. As palavras eram cruéis, mas verdadeiras. Por que você se importa? Nil se perguntou de repente, virando-se para encará-lo.
Por que depois de tudo que eu fiz, você se importa se eu estou infeliz? Deveria me odiar. Leonardo ficou em silêncio por um longo momento, seus dedos traçando padrões na xícara de café. Quando finalmente falou, sua voz estava carregada de emoção contida. Porque eu te amei? Porque eu ainda? Ele parou, fechando os olhos.
Porque mesmo te odiando durante três anos, eu nunca parei de me preocupar. Todas as noites antes de dormir, eu me perguntava se você estava bem, se ele te tratava com gentileza, se você ria, se era feliz. Ele abriu os olhos e Nils viu lágrimas ali.
E quando te vi naquele evento, vestida como um fantasma, com aquele olhar vazio, soube que você não estava, não estava bem, não ria, não era feliz e percebi que mesmo depois de tudo eu não poderia ficar parado. Nils sentiu algo se despedaçar dentro do peito. Leonardo, eu não. Ele levantou a mão, interrompendo-a. Não diga nada agora. Só, só trabalhe comigo, crie, volte a ser quem você era e quando o projeto acabar, você decide.
Você decide se volta para sua gaiola ou se finalmente se liberta. Ele se levantou, começando a se afastar, mas Nils o segurou pelo pulso. “Obrigada”, sussurrou. Leonardo apenas assentiu, apertando sua mão rapidamente antes de voltar para sua mesa de trabalho. As semanas seguintes foram uma montanha russa emocional.
Nils mergulhou no projeto com uma intensidade que não sentia havia anos. Trabalhavam lado a lado, Leonardo criando coleções e Nilsy projetando o espaço que as abrigaria. Havia uma sinergia natural entre eles, uma dança criativa onde um entendia o outro sem precisar de palavras. Mas também havia momentos de tensão elétrica, quando suas mãos se esbarravam, alcançando a mesma ferramenta, quando Leonardo se inclinava sobre seu ombro para ver um desenho e ela sentia seu perfume familiar. Quando seus olhos se encontravam e seguravam por um segundo a mais do que deveriam.
Uma tarde, duas semanas depois do início do projeto, Leonardo a chamou até seu canto do atelier. Preciso que você veja algo”, disse ele, nervoso de uma forma que ela não vira desde a faculdade. Ele a guiou até uma arara coberta por um lençol branco. Com um movimento dramático, puxou o tecido, revelando aproximadamente 20 vestidos.
Cada um era mais deslumbrante que o anterior. Explosões de cor, cortes inovadores, tecidos que pareciam desafiar a gravidade. Nils ficou sem ar. Leonardo, estes são extraordinários. Eles são você”, ele disse simplesmente, “cada peça nesta coleção foi inspirada em você, na mulher que você era, na mulher que você ainda pode ser.
” Ele pegou um vestido, não, o vestido vermelho vibrante, com um corte que era ao mesmo tempo elegante e ousado, sexy e sofisticado. Era perfeito. “Este é o fechamento da coleção, a peça final.” Leonardo explicou. Eu o desenhei três anos atrás, logo depois que você partiu. Costurei cada ponto chorando. Era para ser um funeral, Nilse.
Era para ser o adeus a única mulher que eu amei. Ele segurou o vestido entre eles como uma oferenda. Mas agora, olhando para você aqui, criando de novo, viva de novo, quero que seja um renascimento. Quero que você experimente. Nils olhou para o vestido, depois para Leonardo, depois para suas próprias mãos, tremendo. Leonardo, eu não posso.
Pode, ele insistiu só por alguns minutos. Só para ver, só para lembrar quem você é quando não está se escondendo. Havia algo na voz dele, uma súplica silenciosa que fez Nils assentir. Leonardo a guiou até um pequeno provador no fundo do atelier. Ela fechou a cortina, tirando o blazer beige que usava, mais uma peça apropriada do guarda-roupa que Gabriel aprovara e vestindo o vermelho.
O tecido escorria sobre sua pele como água, acariciando cada curva. O corte era perfeito, como se tivesse sido feito para ela. Quando ela se olhou no espelho do provador, não viu a Nils de Gabriel, viu a Nils de verdade e chorou. Posso ver? A voz de Leonardo veio do outro lado da cortina. Nil se enxugou as lágrimas rapidamente e abriu a cortina.
Leonardo ficou paralisado por longos segundos, apenas a encarou, sua expressão percorrendo surpresa, dor, amor, perda, desejo, agonia, tantas emoções que Nils não conseguia distinguir onde uma terminava e outra começava. “Meu Deus!”, ele finalmente sussurrou. “Você é, você sempre foi a minha musa, Nilsy. Tudo que crio, todas as cores que escolho, cada linha que desenho é você”. sempre foi você.
Estes três anos, cada vestido foi uma carta de amor que nunca enviei. Cada coleção foi uma tentativa de te exorcizar da minha alma. E falhei toda vez falhei. Ele deu um passo à frente, depois outro, até estar a centímetros dela. Porque você não sai. Você está gravada em mim como tinta na pele.
E não importa quantas mulheres tentaram me fazer esquecer quantos sucessos alcancei, quanto tempo passou. Você está aqui? Ele colocou a mão no peito, vivendo dentro de mim como um fantasma que me assombra acordado. Nilsy estava chorando abertamente agora. Leonardo, eu não mereço não. Ele tocou seu rosto gentilmente, limpando uma lágrima com o polegar. Não diga que não merece. Você merece tudo.
Merece cores, merece criar, merece ser vista, merece ser amada exatamente como é. E o fato de você não acreditar nisso é o crime real aqui. Eles estavam tão pertos, tão perigosamente pertos. Se eu pedir para você me beijar agora, Leonardo sussurrou. Você vai? Nce fechou os olhos, cada fibra do seu ser gritando sim, mas então viu o anel de casamento em seu dedo, a aliança de ouro que Gabriel colocara ali três anos atrás.
Não posso. Ela se afastou à voz quebrada. Eu sou casada. Você está presa. Leonardo corrigiu. É diferente. Nils tirou o vestido rapidamente, vestindo suas roupas de volta com mãos trêmulas. Quando saiu do provador, Leonardo estava apoiado na mesa, os olhos no chão. “Desculpa”, ele disse. “Não deveria ter não.” Nil se interrompeu.
“Não se desculpe, eu preciso ir.” Ela pegou sua bolsa e praticamente correu para fora do atelier, incapaz de suportar mais um segundo naquele espaço, carregado de tudo que ela não poderia ter. Mas Leonardo ainda tinha uma surpresa final. Naquela noite, ele postou em todas as suas redes sociais, que somavam mais de dois milhões de seguidores, uma foto que havia tirado dela no vestido vermelho.
Ela estava de costas, o vestido caindo perfeitamente, olhando pela janela, com a luz do pô do sol iluminando seu perfil. A legenda dizia simplesmente: “Minha musa, a inspiração por trás da nova coleção. Ela é fogo vestindo seda. A postagem viralizou. Em 3 horas tinha 500.000 curtidas. Em 6 horas estava em todos os sites de moda do Brasil. E Gabriel viu, e a explosão que viria destruiria tudo.
Nils estava em casa preparando o jantar, algo que ela fazia quando queria parecer a esposa dedicada perfeita, quando seu telefone começou a explodir com notificações, uma após a outra, como uma metralhadora digital, Instagram, Twitter, Facebook, WhatsApp, ela pegou o aparelho com mãos trêmulas e abriu o Instagram. Seu perfil secreto tinha explodido de 47 para quase 3000 seguidores em questão de horas.
Mensagens inundavam sua caixa de entrada e então viu a foto que Leonardo postara. Ela no vestido vermelho, etérea, linda, livre. “Meu Deus!”, sussurrou, o sangue drenando de seu rosto. “O que ele fez?” Clicou nos comentários milhares deles. “Quem é ela?” Deus Leonardo, você achou sua musa perfeita.
Esse vestido, essa mulher, essa foto, arte pura. Quero esse vestido no meu casamento. E então, bem no meio dos elogios, viu um comentário que fez seu coração parar. Gabriel, tuntuucoceo. Não é essa sua esposa? Não, não, não, não, não, não. Nils correu até o laptop, abrindo o perfil de Gabriel. Ele havia curtido o comentário e postado uma resposta.
Vou descobrir o que está acontecendo aqui. A porta de entrada bateu com força suficiente para estremecer as paredes. Nils a voz de Gabriel trovejou pela mansão. Ela mal teve tempo de se preparar antes que ele entrasse na cozinha como um furacão. O celular apertado na mão, o rosto vermelho de fúria.
“Você quer me explicar que é essa?”, Ele gritou, jogando o celular na bancada de mármore. Na tela, a foto de Leonardo. Gabriel, eu posso explicar? Explicar? Ele avançou em direção a ela e Nils instintivamente recuou. Você está seminua em uma foto com milhões de pessoas vendo, postada por aquele estilista de merda. E você quer explicar? Não estou seminua. É só um vestido.
Um vestido que eu não comprei. Gabriel rosnou. Um vestido que você está usando sem minha permissão, em um lugar que você não me disse que ia, com um homem que claramente tem segundas intenções. Ele pegou o celular de volta, lendo a legenda em voz alta com escárnio. Minha musa. A inspiração por trás da nova coleção. Musa.
Você é musa dele agora. É só trabalho, Gabriel. Ele me contratou para contratou. A voz dele subiu mais uma oitava. Você está trabalhando com ele? Há quanto tempo? Nilsy hesitou uma fração de segundo. Foi o suficiente. Gabriel a agarrou pelo braço, seus dedos cravando-se em sua carne. Há quanto tempo, Nilsy? Três semanas. Ela admitiu, a voz pequena.
Estou projetando a loja dele, o design de interiores. Gabriel a soltou com tanta força que ela tropeçou para trás. Você mentiu para mim durante três semanas. me disse que estava em terapia com Marina, em consultas médicas e estava com ele porque eu sabia que você não deixaria. Nils explodiu de volta, finalmente encontrando sua voz. Sabia que você encontraria alguma razão para dizer não, como sempre faz, porque Deus me livre fazer algo que não seja ser sua bonequinha decorativa. A bofetada veio rápida e brutal.
Nils cambaleou a mão voando para o rosto, os olhos arregalados de choque. Em três anos de casamento, Gabriel nunca, ele nunca a havia. Ambos ficaram congelados. Gabriel olhava para sua própria mão como se pertencesse a outra pessoa. Nils, eu Ele começou algo parecido com arrependimento atravessando seu rosto, mas então endureceu de novo. “Você me fez fazer isso”, disse ele frio.
Suas mentiras, sua desobediência. Você me deixou sem escolha. Nils tocou o rosto dolorido, lágrimas silenciosas escorrendo. Sem escolha, repetiu a voz tremendo. Você escolheu levantar sua mão. Você escolheu me bater. Corrigi você. Gabriel corrigiu como deveria ter feito há muito tempo. Mas fui brando demais, permissivo demais. E olha no que deu.
Ele pegou o celular dela da bancada. Acabou. O projeto acabou. Você vai ligar para esse Leonardo agora mesmo e dizer que não pode mais trabalhar com ele. Não. Nil disse surpresa com sua própria coragem. Não. Gabriel deu uma risada sem humor. Você acha que tem escolha aqui? Tenho sim. Ela ergueu o queixo, mesmo com o rosto latejando de dor. Sou uma adulta.
Posso trabalhar se quiser. Gabriel se aproximou lentamente e perigosamente. Você esquece, querida esposa, que tudo que você tem veio de mim. Esta casa, suas roupas, sua comida, sua vida. Eu te tirei da pobreza, te dei tudo e você me paga com mentiras e traição. Traição? Estou trabalhando em um projeto de design. Com seu ex-namorado, Gabriel cuspiu a palavra.
Você acha que sou idiota? Acha que não vejo a forma como aquele verme te olhou no evento? Acha que não entendo o que está acontecendo aqui? Não está acontecendo nada ainda não. Gabriel gritou. Mas vai, porque homens como ele não querem só projetos. Eles querem te Nils. Querem destruir o que é meu. Eu não sou sua Nils gritou de volta. Não sou sua propriedade. Gabriel a agarrou pelos ombros, sacudindo-a. Você é sim.
Assinou os papéis, usou meu nome, gastou meu dinheiro. É minha. Ele a soltou com força, pegando o celular dela. Acabou. O projeto acabou e você não vai mais sair desta casa sem minha permissão. Vou trancar você aqui até que aprenda seu lugar. Você não pode. Posso e vou. Gabriel rugiu. Agora vá para seu quarto e não saia até que eu diga que pode.
Nilsy ficou parada, tremendo, o choque e a raiva travando uma guerra dentro dela. Eu disse vai. Gabriel avançou ameaçadoramente. Nils subiu as escadas correndo, as lágrimas finalmente vindo em torrentes. Trancou-se no quarto, jogando-se na cama, soluçando até não ter mais ar nos pulmões. Ouviu Gabriel batendo portas no andar de baixo, gritando ao telefone com alguém. Então ouviu um barulho que a fez congelar.
Clique! Ele havia trancado a porta do quarto do lado de fora. Nils correu até a porta tentando a maçaneta. Não abria. Gabriel! Ela bateu na porta. Gabriel, me deixa sair quando você tiver aprendido. A voz dele veio do corredor. Quando você tiver entendido qual é o seu lugar, talvez eu considere. Os passos dele se afastaram descendo as escadas. Nil se deslizou pela porta até o chão, abraçando os joelhos.
O que eu fiz? Como deixei chegar a esse ponto? Mas então se lembrou do atelier cheio de luz, dos desenhos espalhados pela mesa, da sensação de criar de novo, de Leonardo dizendo que ela brilhava, do vestido vermelho fazendo-a se sentir viva, e percebeu algo fundamental. Ela não estava mais disposta a morrer naquela gaiola.
Precisava sair, precisava escapar. Mas como? Enquanto isso, do outro lado da cidade, Leonardo via os comentários tóxicos aparecendo sob sua postagem, comentários de Gabriel, e percebia o erro que cometera, um erro que poderia custar a liberdade de Nilsy ou até mesmo sua vida. Três dias.
Nilsy ficou trancada no quarto por três dias completos. Gabriel deixava comida na porta, sempre pratos frios mal apresentados, como se até a refeição fosse uma punição. Ele entrava ocasionalmente, sempre com aquela expressão de dono controlando sua propriedade para ver se ela havia aprendido a lição.
“Está pronta para pedir desculpas?”, perguntou ele na manhã do terceiro dia, parado na porta com os braços cruzados. Nilsy, sentada no chão ao lado da cama, ela se recusava a deitar na mesma cama que ele, apenas o encarou. Seu rosto ainda estava levemente roxo onde ele a batera. Seus olhos, antes tão vivos, após semanas no atelier, haviam voltado àquele vazio morto.
“Nilsey, você está tornando isso mais difícil do que precisa ser.” Gabriel suspirou, fingindo paciência. Só precisa dizer três palavras. Eu sinto muito. E prometer que vai se comportar é simples. Ela não disse nada. Muito bem. Gabriel fechou a porta. Mais um dia, então. Mas o que Gabriel não sabia era que Marina sabia.
Marina que não recebia a resposta de Nilsy há três dias. Marina que ligou para a casa. E Gabriel disse que Nilsy estava gripada e não queria falar com ninguém. Marina, que conhecia seu melhor amiga o suficiente para saber quando algo estava errado, Marina, que decidiu agir. Na tarde do terceiro dia, enquanto Gabriel estava em seu escritório no andar de baixo, em uma reunião por vídeochamada, Marina chegou à mansão.
Ela tinha uma cópia da chave presente de Nils dois anos atrás para emergências. Isso definitivamente qualificava como emergência. Entrou silenciosamente, subindo as escadas nas pontas dos pés. A casa era absurdamente grande, cada passo ecoando no mármore frio. Encontrou a porta do quarto master trancada. Nils sussurrou batendo levemente. Nils sou eu. Marina. Silêncio. Então, Marina.
A voz de Nilsy era rouca, como se tivesse chorado demais. O que você está fazendo aqui? Te resgatando? Marina respondeu já mexendo na fechadura com um grampo de cabelo. Ela havia aprendido o truque na adolescência rebelde, graças a Deus, por escolhas questionáveis de juventude. Clique! A porta se abriu. Marina entrou e quase deixou escapar um grito.
Nils estava no chão, visivelmente mais magra, o cabelo embaraçado, ainda vestindo as mesmas roupas de três dias atrás. Mas o pior era o roxo no rosto. Meu Deus! Marina correu até ela, ajoelhando-se. Ele te bateu. Aquele filho da te bateu. Nil se tapou a boca dela. Ele está no escritório. Se ouvir você, se ele ouvir. Marina estava furiosa. Nilsey, você não pode ficar aqui. Isso é prisão doméstica. Isso é abuso. Você precisa sair agora.
Eu não posso apenas sair. Gabriel vai Gabriel vai fazer o quê? Chamar a polícia e dizer o quê? Exatamente. Minha esposa fugiu depois que a tranquei em um quarto e bati nela. Marina pegou a mão de Nilsy. Você está em perigo e nós vamos sair daqui agora. Nilsy olhou para a porta do quarto, depois para Marina, depois para suas próprias mãos, tremendo.
Havia medo, sim, mas também, pela primeira vez, em três dias, havia esperança. Para onde vamos? Marina sorriu. Para o único lugar onde você deveria estar. para quem está desesperado procurando por você. Leonardo estava em pânico absoluto, três dias sem notícias de Nilsy, três dias de mensagens não lidas, ligações direto paraa caixa postal, silêncio ensurdecedor.
Ele tentara ir à mansão, mas os seguranças não o deixaram nem chegar perto do portão. Tentou chamar a polícia, mas o que diria? Minha ex-namorada casada não está respondendo minhas mensagens. Eles riririam dele. Então, fez a única coisa que podia. trabalhou obsessivamente, transformando ansiedade em criação, mas cada ponto que costurava era uma prece silenciosa.
“Por favor, que ela esteja bem, por favor.” Estava debruçado sobre uma mesa de corte quando ouviu a porta do atelier se abrir. Virou-se esperando ver um cliente e viu Nils. O mundo parou. Ela estava magra, pálida, com um roxo horrível no rosto, mas estava ali viva, inteira. Nilsy, ele deixou tudo cair correndo até ela.
Meu Deus, Nilsy, onde você? As palavras morreram quando ele viu o hematoma de perto. Algo mortal atravessou seu rosto. Ele te bateu? Não foi uma pergunta. Foi uma constatação carregada de fúria homicida. Aquele filho da colocou as mãos em você. Leonardo Nils começou, mas ele a puxou para um abraço tão apertado que ela mal conseguia respirar. Eu fiz isso.
Ele sussurrou contra seu cabelo, a voz quebrada. Postei aquela foto e ele viu. E te machucou. Isso é culpa minha? Não. Nilsy se afastou apenas o suficiente para olhar em seus olhos. A culpa é dele, só dele. Marina entrou atrás deles, fechando a porta. Ti, Leonardo, desculpa a invasão dramática, mas temos um problema. Gabriel está louco procurando por ela. Liga a cada 5 minutos.
já ameaçou processar meio mundo. Precisamos de um plano. Leonardo assentiu, a mente já trabalhando. Ela fica aqui. Tem um apartamento no andar de cima do atelier, pequeno, mas seguro. Gabriel não sabe desse endereço. Ele tem seguranças. Nce disse a voz pequena. Ele tem dinheiro e conexões. Vai me encontrar. Então nos adiantamos.
Marina disse decidida. Você precisa de um advogado, precisa pedir divórcio. Precisa fazer boletim de ocorrência por agressão e cárcere privado. Nils começou a tremer. Vocês não entendem. Gabriel vai me destruir. Vai espalhar mentiras. Vai arruinar qualquer chance de eu trabalhar de novo. Vai vai fazer o que já está fazendo. Leonardo a interrompeu, segurando seu rosto gentilmente entre suas mãos, destruindo você.
A única diferença é que agora você escolhe se continua sendo destruída ou se começa a reconstruir. Lágrimas escorreram pelo rosto de Nilsy. Eu tenho tanto medo. Eu sei. Leonardo limpou suas lágrimas com os polegares. Mas você não está mais sozinha. Nunca mais vai estar sozinha. Eu prometo. Nils olhou para aqueles olhos castanhos que conhecia tão bem, cheios de preocupação e algo mais.
Algo que ela não se permitia nomear ainda. Por quê? Perguntou. Porque você me ajuda depois de tudo? Leonardo sorriu tristemente. Porque três anos atrás você partiu meu coração e descobri que corões partidos t uma capacidade estranha. Eles se refazem maiores do que eram antes, com mais espaço, mais compaixão.
E o meu aparentemente nunca conseguiu parar de te amar. As palavras pairaram no ar como confissão e maldição. Leonardo, eu não posso. Nós não podemos. Nils tentou protestar. Eu sei ele disse rapidamente. Não estou pedindo nada.
Só estou dizendo que você tem um lugar seguro aqui e que não está sozinha, independente do que acontecer entre nós ou não. Marina, que estava assistindo à troca com um sorriso sádico de Eu avisei, bateu palmas. Ótimo. Então está decidido. Nils fica aqui. Eu ligo para meu advogado, especialista em casos de violência doméstica. E nós montamos uma estratégia. Gabriel pode ter dinheiro, mas nós temos algo melhor.
O quê? Nil se perguntou. Marina sorriu. A verdade e 2 milhões de pessoas que viram sua foto e vão querer saber onde você está. Leonardo franziu a testa. Você quer tornar isso público? Gabriel sobrevive de imagem. Marina explicou. empresário do ano que tranca a esposa e bate nela. A imprensa vai adorar e ele vai ter que recuar seu império de reputação desmoronar. Era arriscado, perigoso até.
Mas Nils olhou para o roxo em seu rosto refletido no vidro da janela e percebeu já estava perigoso. Ficar calada era o maior risco de todos. “Vamos fazer isso”, disse ela, encontrando uma coragem que não sabia que possuía. Mas nenhum deles imaginava quão baixo Gabriel estava disposto a ir, porque Gabriel não era só controlador.
Gabriel era vingativo e ele estava apenas começando. O apartamento acima do atelier era pequeno, mas acolhedor, um loft com paredes de tijolos expostos, janelas grandes e móveis minimalistas. Era completamente diferente da mansão gelada onde Nilsy vivia com Gabriel. Aqui havia calor, vida, cor.
Leonardo deu-lhe uma camiseta oversized dele e calças de moletom para trocar. Enquanto ela se lavava no banheiro, a primeira vez em três dias que conseguia tomar um banho decente, Marina estava ao telefone com advogados, fazendo uma lista de tudo que precisavam reunir como evidência. Quando Nils saiu do banheiro, os cabelos molhados caindo sobre os ombros, vestindo as roupas de Leonardo, que cheiravam a ele, encontrou-o preparando chá na cozinha americana.
Marina foi para casa buscar alguns documentos que podem ajudar, ele explicou, oferecendo-lhe uma caneca fumegante. Volta amanhã cedo com o advogado. Nils pegou a caneca, sentando-se no sofá pequeno. Leonardo se sentou ao seu lado, não muito perto, deixando o espaço respeitoso entre eles. O silêncio que se instalou não era desconfortável, apenas pesado com tudo que não estava sendo dito. “Eu cometi um erro terrível há 3 anos.
” Nilsy finalmente disse a voz baixa. Leonardo não respondeu, apenas esperou que ela continuasse. Minha família perdeu tudo, literalmente tudo. Meu pai investiu suas economias de uma vida em um negócio fraudulento e faliu. Perdemos a casa, os carros, a dignidade. Vi meus pais se despedaçando e eu estava lá com você, feliz, mas sempre preocupada se teríamos dinheiro para o aluguel no mês seguinte. Ela tomou um gole do chá, as mãos tremendo ligeiramente.
Quando Gabriel apareceu, oferecendo segurança, estabilidade, um futuro sem preocupações financeiras, eu vi uma saída, uma forma de nunca mais sentir aquele medo e pensei: “Amor é lindo, mas amor não paga contas. Amor não salva famílias em crise.” “Ah, então você escolheu dinheiro?” Leonardo disse sem julgamento na voz, apenas compreensão.
Escolhi medo, Nils corrigiu. Medo de ser pobre de novo, medo de não ser suficiente. Medo de que nosso amor não fosse o bastante para sobreviver à realidade. E fui covarde. Te abandonei por mensagem porque não tive coragem de olhar em seus olhos e dizer por quê. Leonardo ficou quieto por um longo momento.
Você sabe qual foi a parte pior? Ele finalmente disse: “Não foi você partir, foi não entender porquê. Fiquei três meses me torturando, imaginando o que tinha feito errado. Se não fui atencioso o suficiente, romântico o suficiente, bem-sucedido o suficiente. Me culpei por tudo. Você não fez nada errado.” Nils disse rapidamente. Era eu. Sempre fui eu.
Eu falhei. Falhei com você, comigo mesma, com tudo que éramos. Leonardo se virou para encará-la completamente. Posso te contar um segredo? Ela assentiu. Depois que você partiu, eu pensei em desistir de tudo, de moda, de design e de sonhos, porque todos eles estavam conectados a você.
Cada skete que desenhava, você estava lá me dizendo para ser mais ousado. Cada tecido que escolhia lembrava de você dizendo que cores eram emoções vestindo a pele. Ele riu sem humor. Minha terapeuta? Sim, fiz terapia. Disse que eu tinha duas opções. Deixar você me destruir ou usar a dor como combustível. Escolhi a segunda. Trabalhei obsessivamente, 16 horas por dia, todos os dias, durante 3 anos.
Nem namorei outra pessoa seriamente. Não conseguia, porque todas elas não eram você. Nils sentiu lágrimas queimando seus olhos. Você construiu um império do seu sofrimento e eu construí uma prisão do meu medo. Ei! Leonardo pegou sua mão, mas você saiu. Está aqui. Isso conta. Estou aqui porque você me encontrou. porque postou aquela foto e Gabriel explodiu e ela parou percebendo algo.
Se você não tivesse postado, se Gabriel não tivesse me trancado, eu ainda estaria lá morrendo lentamente, aceitando. O universo trabalha de formas estranhas, Leonardo disse suavemente. Eles ficaram sentados em silêncio, as mãos entrelaçadas, processando três anos de dor e perda e arrependimento. Leonardo finalmente disse: “Posso te fazer uma pergunta honesta? E quero uma resposta honesta.
Claro, em algum momento desses três anos, você foi feliz?” A pergunta era simples, mas devastadora. Nils pensou, revisou memórias. O casamento sem alegria, os jantares silenciosos, os eventos onde era invisível, as noites dormindo em quartos separados, as críticas constantes, o controle sufocante. Não admitiu finalmente, nenhum único dia.
No começo, eu me convenci de que era porque estava em transição, me adaptando. Depois pensei que era normal, que casamentos amadurecidos eram assim, mas a verdade eu sabia. sempre soube que havia cometido um erro terrível. Só estava apavorada demais para admitir. Leonardo apertou sua mão. E agora? Agora estou aterrorizada. Nils confessou. Não sei como vou sobreviver financeiramente.
Gabriel vai congelar tudo. Não tenho emprego. Não trabalho há 3 anos. Não tenho dinheiro meu. Estou com 30 anos e preciso recomeçar do zero. Você não está do zero, Leonardo disse. Você tem talento, tem meu projeto, tem amigos que te apoiam e tem a mim, se quiser.
Nils olhou para seus olhos castanhos, tão familiares e ao mesmo tempo tão diferentes. Havia uma intensidade ali que não existia três anos atrás. Uma profundidade que vinha de sofrimento transformado em força. Leonardo ela sussurrou. Eu não posso. Nós não deveríamos. Eu ainda sou casada. Tecnicamente ele concordou. Mas seu coração, onde está seu coração, Nilsy? E essa era a pergunta, não era? Onde estava seu coração? Porque olhando para Leonardo, sentindo sua mão segurando-a dela, vendo a preocupação e o cuidado e o amor não dito em seus olhos, Nils sabia a resposta. sempre esteve com ele,
mesmo quando ela fugiu, mesmo quando escolheu Gabriel, mesmo durante três anos de casamento morto. Seu coração nunca saiu daquele atelier improvisado de estudante universitário, onde um garoto com sonhos impossíveis a fez acreditar em magia. Era sempre você, Nilsy disse, ecoando as palavras que ele dissera antes. Leonardo soltou um suspiro trêmulo. “Posso te beijar?”, perguntou sua voz rouca de emoção.
Porque eu tentei esquecer como era te beijar. Tentei por três anos e falhei miseravelmente em cada tentativa. Nilsy sabia que deveria dizer não. Sabia que ainda estava tecnicamente casada, que isso era complicado, que Gabriel usaria contra ela, mas também sabia que havia passado três anos fazendo as escolhas certas e apropriadas e sensatas.
E onde isso a levou? Há um rosto roxo e um quarto trancado. “Sim”, ela sussurrou. Leonardo a beijou como um homem beijando a única verdade que conhecia. Não foi gentil ou hesitante, foi desesperado, urgente, três anos de fome concentrados em um único momento. Suas mãos foram para o cabelo dela, puxando-a mais perto, como se temesse que ela fosse desaparecer se ele a soltasse.
Nils correspondeu com igual fervor, agarrando sua camisa, puxando-o contra ela. O gosto dele era sal e chá e memórias de outra vida. Era casa, era lar, era tudo que ela desperdiçou e tudo que ainda poderia ter. Quando finalmente se separaram, ambos estavam sem ar, testas encostadas, olhos fechados.
Eu te amo, Leonardo disse: “Deus, eu te amo tanto que dói respirar quando você não está perto. Eu também, Nils confessou. Sempre te amei, mesmo quando não deveria, mesmo quando tentei parar.” Eles se beijaram de novo, mais devagar, desta vez, saboreando, reaprendendo. As mãos de Leonardo traçaram seu rosto com reverência, como se ela fosse arte sacra e ele um devoto penitente.
Fica comigo esta noite, ele pediu. Só para dormir. Só para eu saber que você está segura que está aqui, que isso é real. Nil se assentiu, incapaz de falar. Eles foram para o pequeno quarto, deitando-se na cama estreita, corpos entrelaçados. Leonardo assegurou como se ela fosse porcelana quebrável, uma mão em seu cabelo, a outra entrelaçada com a dela.
“Temos muitos problemas pela frente”, ele sussurrou no escuro. “Gabriel, o divórcio, a mídia, tudo vai ser uma bagunça, eu sei. E não vai ser fácil. Vai ser feio e doloroso e complicado. Eu sei. Mas Nils ele a virou para encará-lo mesmo na escuridão. Qualquer que seja a tempestade que venha, nós enfrentamos juntos.
Você não está mais sozinha, nunca mais. E pela primeira vez em três anos, Nils dormiu em paz, não em seda egípcia ou colchão ortopédico de R$ 5.000, mas nos braços do homem que ela amava, usando uma camiseta velha dele em um apartamento pequeno acima de um atelier. E foi a melhor noite de sua vida.
Mas enquanto eles dormiam, Gabriel tramava, contratou um investigador particular, descobriu onde Nils estava e planejou sua vingança. Porque homens como Gabriel não aceitam perder, especialmente não para homens como Leonardo. Nil se acordou com luz do sol, entrando pelas janelas do loft, envolvida nos braços de Leonardo. Por um momento glorioso, esqueceu de tudo, de Gabriel, do divórcio, dos problemas.
Havia apenas aquele momento de paz, o calor do corpo dele contra o dela, o som de sua respiração suave. Então seu celular explodiu em notificações. Leonardo acordou sobressaltado. O que? Nils pegou o aparelho. 53 ligações perdidas de Gabriel, 128 mensagens. E então viu a última. Eu sei onde você está. Estou chegando e vou destruir aquele verme que roubou o que é meu. Merda. Nils se levantou de um pulo. Leonardo, Gabriel sabe.
Ele está vindo para cá. Leonardo estava já de pé, pegando uma camisa. Quando a resposta veio na forma de socos violentos na porta do atelier no andar de baixo. Nilsy a voz de Gabriel ecou. Nilsey, eu sei que você está aí. Saia agora antes que eu derrube essa de porta. Leonardo e Nils se entreolharam. O pânico visível. “Fica aqui,” Leonardo disse indo em direção às escadas.
“Não, Nils segurou. Ele está furioso. Pode te machucar. E você acha que vou deixar você descer lá sozinha?” Leonardo a encarou. Nem Nós descemos juntos. Mais socos na porta, mais gritos. Última chance, Nilsy. Ou sai ou eu chamo a polícia por sequestro. Sequestro? Leonardo soltou uma risada incrédula. Ele está delirando.
Está desesperado. Nils corrigiu. E homens desesperados são perigosos, mas não tinham escolha. Desceram as escadas juntos, as mãos entrelaçadas. Leonardo destrancou a porta e Gabriel explodiu para dentro como um touro enfurecido. Ele estava irreconhecível.
O executivo, sempre impecável agora, tinha olheiras profundas, a barba por fazer, o cabelo desalinhado. Suas roupas, ainda caras mais amarrotadas, mostravam que ele não dormira. Seus olhos estavam injetados, selvagens. Você, ele apontou para Leonardo com um dedo trêmulo de raiva. Você roubou minha esposa. Ninguém me roubou, Nils disse, dando um passo à frente.
Eu saí por vontade própria, porque você me trancou e me bateu. Gabriel riu. Um som histérico. Você me provocou, me mentiu, me traiu. Trabalhei em um projeto. Nils gritou de volta. Isso não é traição. Você passou a noite com ele. Gabriel urrou avançando. Leonardo se colocou entre eles imediatamente. Investigadores viram vocês entrando no apartamento ontem e não saindo. Vocês transaram.
Isso não é da sua conta, Leonardo disse. A voz perigosamente calma. Não é da minha conta. Gabriel estava espumando. Ela é minha esposa. Ela é uma pessoa. Leonardo corrigiu. Não sua propriedade. E você perdeu qualquer direito sobre ela quando levantou a mão.
Gabriel olhou para o hematoma no rosto de Nilsy, ainda visível, apesar da maquiagem que ela tentara aplicar. Algo parecido com vergonha atravessou seu rosto, mas foi rapidamente substituído por raiva renovada. Você não entende”, disse ele. E pela primeira vez havia algo além de fúria em sua voz. Havia dor. Eu dei tudo para ela. Tudo. Tirei ela da pobreza, dei luxo, segurança, uma vida que ela nunca teria com você.
Deu uma gaiola, Leonardo disse, e chamou de lar. Eu a amava. Gabriel gritou e a confissão pareceu surpreender a todos, incluindo ele mesmo. Nils sentiu algo se partir dentro dela, porque era verdade. Gabriel amava da única forma doentia e possessiva que sabia.
Amava como se ama um troféu, um objeto, uma conquista, mas ainda assim era amor do tipo mais destrutivo. Gabriel, ela disse suavemente. Se você me amasse de verdade, quereria minha felicidade, mesmo que não fosse com você. Felicidade. Ele cuspiu a palavra. Você acha que vai ser feliz com ele? Ele é um estilista, Nils trabalha com roupas. Isso não é profissão de homem.
Eu faturei R$ 8 milhões deais ano passado. Leonardo disse calmamente. Tenho contratos em cinco países, emprego 60 pessoas e construí tudo do zero sem comprar sucesso com dinheiro do papai. Então, sim, eu trabalho com roupas e sou bem mais homem do que você jamais será. A provocação atingiu o alvo. Gabriel avançou, o punho indo direto para o rosto de Leonardo.
Mas Leonardo estava preparado. Bloqueou o soco e empurrou Gabriel para trás com força. Não me obrigue a te machucar, Leonardo avisou. Porque diferente de você, eu não bato em pessoas mais fracas. Gabriel cambaleou a humilhação pintando seu rosto de vermelho. “Vocês vão se arrepender”, ele disse a voz baixa e venenosa.
Eu vou destruir os dois. Seu ateliê, vou cancelar cada contrato. Seu nome, vou espalhar que você é um sedutor de esposas casadas. E você, Nils? Ele a encarou com ódio puro. Vai ficar na rua sem nada. Como estava quando te encontrei? Melhor na rua livre do que em mansão prisioneira. Nils respondeu, surpreendendo a si mesma com a firmeza.
Gabriel olhou entre os dois, percebendo que perdera, que eles estavam unidos contra ele, que não importava quantas ameaças fizesse, eles já haviam escolhido. “Muito bem”, ele disse finalmente. “Então que seja a guerra, e eu nunca perco guerras”. Ele se virou para sair, mas parou na porta. Ah, e Nils? Aquela reunião com advogados que sua amiguinha Marina marcou, cancelada. Ameacei processar o escritório, se te representarem, e fiz o mesmo com outros 10 escritórios em São Paulo.
Boa sorte achando alguém disposto a me enfrentar. Ele saiu batendo a porta com força. O silêncio que ficou era pesado. Ele está blefando Leonardo disse. Mas não soou convincente. Nil se desabou no sofá mais próximo. Não está. Gabriel tem conexões em todo lugar. Ele vai cumprir cada ameaça. Então lutamos.
Leonardo se ajoelhou na frente dela. Achamos outros advogados. Vamos para a mídia. Tornamos isso público. A corte da opinião pública é algo que nem o dinheiro dele controla completamente. Ele vai destruir sua carreira. Nils disse, lágrimas escorrendo. Tudo que você construiu, não me importo. Leonardo pegou seu rosto. Ouve bem.
Eu perdi você uma vez por não ser rico o suficiente. Não vou perder de novo por ter medo de ficar pobre. Você vale mais que qualquer império. Nils o beijou desesperadamente, como se ele fosse ar e ela estivesse se afogando. O que vamos fazer? Vamos lutar, Leonardo repetiu. Mas precisamos ser inteligentes.
Gabriel quer guerra? Vamos dar guerra, mas nos nossos termos. Naquele momento, Marina explodiu pela porta ofegante. Seus porteiros são uma merda para segurança, sabia? Ela disse. Depois viu as expressões deles. O que aconteceu? Gabriel esteve aqui, Nils explicou. Está cancelando advogados, ameaçando destruir tudo. Marina sorriu, um sorriso perigoso. Perfeito. Perfeito.
Leonardo franziu a testa. Sim, porque enquanto ele estava aqui fazendo escândalo, eu estava no banco retirando isso. Ela jogou uma pasta na mesa. Extratos bancários dele. Tr anos de movimentações suspeitas, pagamentos a mulheres. Hotéis caros. presentes que nunca foram para Nilsy.
Nilsy pegou a pasta foliando página após página de evidências. “Como você conseguiu isso? Tenho minhas fontes”, Marina disse misteriosamente. E descobri algo interessante. Gabriel não é o santo que finge ser. Tem pelo menos duas amantes fixas. Gasta uma fortuna com elas. E tudo registrado em extratos bancários que uma esposa tem direito legal de acessar durante um processo de divórcio.
Ele pode dizer que são despesas corporativas. Leonardo ponderou. Pode. Marina concordou. Mas não pode explicar as mensagens. Ela jogou outro documento. Prints de conversas, centenas deles. Nilsy leu uma em voz alta, a voz tremendo. Minha esposa é uma decoração cara. Você é a que aquece minha cama. Ela olhou para Marina.
Como hackei o iCloud dele? Marina disse sem remorço. Tecnicamente ilegal, mas vamos chamar de espionagem doméstica justificada. E olha isso. Ela apontou para outra conversa. Ele vinha planejando te descartar há meses. Estava esperando fechar um negócio grande para se divorciar de você e casar com a amante principal, uma tal de Viviane. Nils sentiu náuseia. 3 anos.
Três anos desperdiçados com um homem que nem a queria de verdade. Isso muda tudo, Leonardo disse. Podemos usar contra ele mais do que isso. Marina sorriu. Podemos vazar para a imprensa. Empresário do ano traiu a esposa durante três anos enquanto a controlava. As manchetes vão se escrever sozinhas. Nils olhou para as evidências, depois para seus dois aliados. Fazemos isso.
Decidiu Gabriel quer guerra. Vamos mostrar que escolheu o inimigo errado, porque Nilsy não era mais a mulher apagada em vestido bege. Ela estava vestindo vermelho de novo. E vermelho era a cor da revolução. A bomba explodiu na mídia três dias depois.
Marina tinha conexões em jornalismo investigativo, uma ex-namorada que trabalhava em um portal de notícias grande. A matéria foi publicada às 6 da manhã de uma segunda-feira, horário nobre para viralização. Empresário do ano, traições, controle e abuso por trás da fachada perfeita. A reportagem era devastadora, incluía os extratos bancários com gastos suspeitos, prints das conversas com amantes, nomes ocultados, mas contexto claro, depoimento de Nilsy sobre o controle e o abuso, fotos do hematoma em seu rosto, testemunho de Marina sobre o resgate, comentários de funcionários anônimos de Gabriel sobre seu comportamento abusivo
no trabalho. Em 2 horas estava em todos os portais de notícia do Brasil. Em 4 horas era trending topic no Twitter. Em 6 horas, patrocinadores começaram a se afastar da empresa de Gabriel. Leonardo e Nilsy assistiam o desenrolar das redes sociais do apartamento. Uma mistura de alívio e terror.
“Não há volta”, Nilsy disse lendo os comentários. A maioria era de apoio a ela, mas havia os inevitáveis odiadores também. “Você queria volta?”, Leonardo perguntou. “Não, mas estou assustada com o que vem agora. O telefone de Leonardo tocou. Ele olhou para a tela e ficou pálido. É meu advogado. Atendeu, colocando no viva voz. Leonardo, precisamos conversar.
A voz do advogado soou tensa. Gabriel Almeida está processando você por alienação de afeto conjugal e difamação. Está pedindo 20 milhões em danos. Nils sentiu o chão sumir sob seus pés. Ele pode fazer isso? Leonardo perguntou. Tecnicamente sim. Praticamente é uma ação frívola, mas vai te custar tempo e dinheiro para se defender. E tem mais.
Ele congelou todos os seus contratos com empresas onde ele tem influência. Está usando cada conexão para sufocar seu negócio. Leonardo fechou os olhos. Quanto tempo tenho? Suas reservas? Seis meses, talvez. Se não conseguir novos contratos, vai ter que fechar o atelier e demitir todos.
Quando desligou, Leonardo estava tremendo. 60 pessoas. Ele disse, a voz quebrada, 60 pessoas dependem de mim para pagar suas contas e eu vou ter que demitir todas porque por minha causa. Nce completou lágrimas escorrendo. Eu destruí tudo de novo. Não. Leonardo a puxou para um abraço apertado. Gabriel destruiu e nós vamos reconstruir.
Mas nos dias seguintes a situação só piorou. Três grandes clientes cancelaram contratos com Leonardo, citando preocupações reputacionais. Dois investidores que iriam financiar a Flagship Store se retiraram e o próprio proprietário do imóvel da Oscar Freire, onde a loja seria aberta, cancelou o aluguel, alegando cláusula moral, claramente pressionado por Gabriel.
Leonardo tentou manter a calma, mas Nils via o estresse corroendo-o. Ele voltou a trabalhar 16 horas por dia, desesperado para encontrar novos clientes, novas oportunidades. Nils, por sua vez, descobriu que estava completamente sem dinheiro. Gabriel congelara todas as contas conjuntas. Ela não tinha cartão de crédito próprio, não tinha poupança pessoal, não tinha nada.
30 anos e dependente financeiramente de um homem que a odiava. “Preciso arrumar emprego”, disse ela a Leonardo uma noite enquanto ele trabalhava até tarde em sketes. “Fazendo o quê?”, ele perguntou cansado. “Não sei, qualquer coisa. Garçonete, recepcionista, o que aparecer.” Leonardo largou o lápis. Nils, você é arquiteta, designer, não vai trabalhar como garçonete? Não trabalhei em três anos, Leonardo. Ninguém vai me contratar.
Eu vou, ele disse. Quando essa tempestade passar, quando reconstruirmos tudo, você vai ser minha diretora de design de interiores. Salário fixo, contrato formal, tudo certinho. Com que dinheiro? Nil se perguntou exasperada. Você mal está conseguindo manter o atelier aberto, então vamos fechar o atelier. Leonardo disse de repente: “O quê? Se for para escolher entre manter um negócio ou te manter ao meu lado, escolho você sempre.
” Nils sentiu algo se despedaçar e se reconstruir simultaneamente. “Não, não vou deixar você desistir do que construiu por mim. Então me ajude a reconstruir.” Leonardo estendeu a mão. “Trabalhe comigo oficialmente. Vamos terminar o projeto da loja mesmo sem o espaço na Oscar Freire. Vamos criar um portfólio tão incrível que ninguém vai poder nos ignorar.
Era loucura, era arriscado, era possivelmente financeiramente suicida, mas Nilsy pegou sua mão. Vamos fazer isso. As semanas seguintes foram as mais difíceis da vida de Nilsy. Ela e Leonardo trabalhavam das 7 da manhã até meia-noite, criando projeto após projeto. Ela projetava espaços comerciais deslumbrantes. Ele desenhava coleções ousadas.
Marina aparecia com comida quando eles esqueciam de comer. Trazia notícias do mundo exterior. Gabriel estava em queda livre. Perdeu três grandes contratos. Dois patrocinadores o abandonaram. A imprensa estava implacável, mas ele também não desistia. Continuava processando Leonardo por tudo que podia imaginar. continuava pressionando empresas a não contratá-los, continuava espalhando rumores.
E então, o golpe mais baixo, Gabriel deu entrevista a um grande programa de TV se fazendo de vítima. Eles assistiram juntos, horrorizados, enquanto ele sentava na poltrona do entrevistador, com lágrimas nos olhos. “Eu amava minha esposa”, Gabriel disse a voz tremendo. “Dei tudo para ela e ela me traiu com um com um artista que só queria destruir meu casamento. Sim, tivemos problemas.
Todos os casais têm, mas eu nunca nunca levantaria a mão para ela. Essas acusações são fabricadas, coordenadas para destruir minha reputação. E quanto às provas, os exratos bancários, as mensagens? O entrevistador perguntou. Gabriel deu um sorriso triste. Hackeados, falsificados. Minha equipe jurídica já provou que foram manipulados.
A verdade é que minha esposa estava tendo um caso, se sentiu culpada e inventou essa história de abuso para justificar a traição. Mentiroso! Nilsy gritou para a TV, mas o dano estava feito. Metade dos comentários nas redes sociais agora duvidava dela. Talvez ela esteja mentindo mesmo. Mulheres fazem isso para pegar dinheiro no divórcio. Gabriel parece tão sincero. Nil se desabou chorando. Ele está ganhando. Está reescrevendo a narrativa.
Leonardo assegurou, mas ela podia sentir a tensão em seu corpo. Vamos encontrar um jeito. mas estavam ficando sem opções, sem dinheiro, sem tempo. E foi então que Leonardo tomou a decisão mais arriscada de sua vida. “Vou fazer um desfile”, anunciou. “Como não temos dinheiro para isso? Um desfile beneficente, independente. Vou chamar cada contato que tenho. Vou convidar a imprensa.
Vou mostrar a coleção que criei inspirada em você, na sua jornada, na nossa história. E você vai coordenar toda a produção. Leonardo, isso é loucura. É nossa única chance. Ele a interrompeu. De controlar a narrativa, de mostrar quem realmente somos, de provar que não somos as caricaturas que Gabriel está pintando.
Nils olhou para os olhos dele, vendo a determinação ali. Quando? Em três semanas. Tempo suficiente para organizar. E Nils? Ele sorriu. Você vai ser a modelo da peça final. Eu não sou modelo. Não. Você é muito mais. Você é a história. E assim começaram os preparativos mais frenéticos de suas vidas.
Mas o que eles não sabiam era que Gabriel tinha uma carta final na manga, uma que poderia destruir tudo e estava pronto para jogá-la. Três semanas podem parecer uma eternidade ou um piscar de olhos, dependendo do que você está enfrentando. Para Nilsy e Leonardo, foram ambos. O atelierê se transformou em um tornado de atividade. Leonardo chamou cada favor que tinha.
Modelos aceitaram desfilar por caixas ou de graça. Maquiadores e cabeleireiros se ofereceram pro Bono. A comunidade da moda, aqueles que não foram intimidados por Gabriel se uniu. Nils se coordenava tudo como uma maestrina regendo uma orquestra caótica. Descobriu que tinha talento para a produção de eventos.
Cada detalhe importava a iluminação, a música, o fluxo da passarela, o timing perfeito. A coleção que Leonardo criara era chamada de renascer e contava uma história visual poderosa. As primeiras peças eram em tons neutros, beges, cinzas, brancos, representando aprisionamento. Os cortes eram restritivos, sufocantes.
Era a Nilsce da gaiola. As peças do meio começavam a adicionar cor, primeiro timidamente, um tom de rosa pálido, um azul suave, depois mais ousadamente. Os cortes ficavam mais soltos, mais livres. Era a transição, o despertar. As peças finais eram explosões de cor e movimento. Vermelhos vibrantes, laranjas ousados, amarelos solares, roxos reais, tecidos que fluíam como água, que dançavam com cada movimento. Era a libertação.
E a peça final, aquela que Nils iria usar, era o vestido vermelho, o mesmo que ela experimentara semanas atrás. renascido, reconstruído, perfeito. Marina ajudava com a logística, garantindo que a imprensa certa fosse convidada. Ela também descobrira algo. Gabriel planejava sabotar o evento. “Tem uma ordem judicial falsa circulando.
” Ela alertou três dias antes do desfile, dizendo que Leonardo não pode realizar eventos públicos devido ao processo em andamento. É falsa, mas Gabriel vai aparecer com seguranças e tentar interromper. Deixe ele vir. Leonardo disse uma calma perigosa em sua voz. Vamos estar preparados. A noite do desfile chegou.
O local era um armazém reformado na Vila Madalena, industrial chique, perfeito. Passarela improvisada, cadeiras alugadas, luzes estratégicas. Não tinha o glamur de um evento corporativo milionário, mas tinha algo melhor: autenticidade. 300 pessoas compareceram. imprensa, influenciadores, amigos, apoiadores. O espaço fervilhava de energia.
Nils estava no backstage ajudando as modelos com os ajustes finais. Quando Marina apareceu, ofegante. Ele chegou. Gabriel está aqui com advogados e seguranças. Está ameaçando parar tudo. N sentiu o pânico subir. O que fazemos? Leonardo apareceu, já vestido em seu terno preto impecável para o show. Deixe comigo.
Ele saiu para o saguão de entrada onde Gabriel estava, cercado por quatro seguranças grandes e dois advogados nervosos acenando papéis. “Este evento é ilegal”, Gabriel declarou alto o suficiente para metade dos convidados ouvir. “Tenho uma ordem judicial falsa”. Leonardo o interrompeu calmamente. Essa ordem não existe. Pode checar com qualquer juiz real, mas continue, por favor. As câmeras adoram um vilão performando. E era verdade.
Pelo menos cinco celulares já estavam gravando e a TV que Marina convidara tinha uma câmera apontada diretamente para Gabriel. Gabriel percebeu a raiva lutando com o instinto de preservação de imagem. Você roubou minha esposa ele sibilou. Eu salvei uma mulher que você estava destruindo. Leonardo corrigiu. Grande diferença. Ela voltou para mim antes. Vai voltar de novo porque você não tem nada para oferecer.
Nenhum futuro, nenhuma estabilidade, nenhum nenhum abuso. Leonardo completou. Tem razão. Não ofereço isso. A multidão que havia se reunido para assistir à discussão murmurou o apoio. Gabriel sentiu que estava perdendo. Muito bem, ele disse recuando. Faça seu showzinho patético. Mas Nils ele gritou em direção ao backstage. Quando você ficar na rua porque ele faliu, não venha me procurar.
e saiu, o seguranças o escoltando, deixando um rastro de tensão. Leonardo voltou para o backstage, onde Nils estava tremendo. Ele vai estragar tudo, não vai? Leonardo segurou seu rosto. Porque estamos prestes a mostrar ao mundo quem realmente somos. Prontos, Nils respirou fundo. Prontos. As luzes se apagaram. A música começou.
Uma trilha original que misturava instrumentos clássicos com bits eletrônicos modernos. As primeiras modelos saíram usando as peças neutras, seus rostos expressivos, transmitindo aprisionamento, dor, perda. A plateia ficou em silêncio absoluto, hipnotizada. À medida que o desfile progredia, as peças ganhavam cor e as modelos ganhavam vida. Era mais que moda, era narrativa visual, era poesia em tecido.
Comentários de influenciadores já pipocavam nas redes sociais. Isso não é desfile, é arte. Leonardo Mendes é um gênio. Cada peça conta uma história. Estou chorando. E então chegou o momento final. Leonardo subiu ao microfone instalado na lateral da passarela. A última peça sua voz ecoou pelo espaço. Não é apenas um vestido, é uma declaração.
É sobre uma mulher que perdeu a si mesma e teve coragem de se encontrar de novo. É sobre escolher liberdade em vez de gaiolas, mesmo que a gaiola seja dourada. É sobre renascer. Ele fez uma pausa, seus olhos encontrando-os de Nilsy backstage. E é sobre amor. Amor que perdoa, amor que espera, amor que nunca desiste. A música mudou.
Mais suave agora, quase uma canção de amor. Por favor, recebam minha musa, minha inspiração, minha história. Ns Nilsy respirou fundo. Vestia o vermelho vibrante que a transformava em chama viva. Marina rapidamente retocou sua maquiagem, sussurrando: “Você nasceu para isso. Agora vai lá e brilha”. Nilsy entrou na passarela e o mundo parou.
Ela não era modelo profissional, não tinha o andar treinado, a pose perfeita, mas tinha algo que nenhuma modelo poderia falsificar. Verdade. Cada passo era uma declaração de liberdade. Cada movimento era uma recusa de voltar à gaiola. O vestido vermelho fluía ao seu redor como fogo líquido e sob as luzes ela brilhava.
A plateia explodiu em aplausos ainda antes dela chegar ao final da passarela. Quando chegou, parou, virou-se lentamente, exatamente como Leonardo a ensinara, e caminhou de volta. Mas no meio do caminho, Leonardo subiu na passarela. Não estava no roteiro. Nils parou confusa. Leonardo caminhou até ela, pegou o microfone que alguém lhe passou e olhou nos olhos dela.
Nils há três anos você partiu meu coração e passei esses três anos tentando te odiar, tentando te esquecer, tentando transformar dor em arte e consegui. Ele gesticulou para a coleção ao redor. Mas sabe o que percebi? Toda a arte que criei era uma tentativa de te trazer de volta. Cada ponto costurado era um pedido silencioso. Volta, por favor, volta.
Lágrimas escorriam pelo rosto de Nils abertamente agora. E então você voltou. Leonardo continuou. Não da forma que eu imaginei, não da forma que planejei, mas voltou e me mostrou algo fundamental. Amor verdadeiro não é sobre posse, é sobre libertação. É sobre querer que a outra pessoa seja livre, mesmo que não seja com você. Ele se ajoelhou.
A plateia ofegou coletivamente. Leonardo tirou algo do bolso. Não uma caixa veludo, apenas um anel simples. O mesmo anel de prata com uma pedra minúscula que ele havia dado três anos atrás. aquele que Nil se devolvera quando terminou com ele. “Eu guardei”, ele disse, “durante três anos guardei esse anel porque alguma parte idiota de mim acreditava que talvez um dia talvez você voltasse e agora você está aqui. E eu sei que é complicado. Sei que você ainda está casada tecnicamente.
Sei que tem mil problemas a resolver, mas Nilsy, sua voz quebrou. Eu não posso passar mais um dia sem perguntar. Quando tudo isso acabar, quando o divórcio for finalizado, quando você estiver livre de verdade, você se casa comigo? Silêncio absoluto, 300 pessoas segurando a respiração. Nils olhou para Leonardo, ajoelhado, vulnerável, oferecendo um anel que não valia nada em dinheiro, mas valia tudo em significado.
Olhou para a plateia, rostos esperançosos, celulares gravando, testemunhando. Olhou para si mesma, vestida de vermelho, livre, viva, e disse a única palavra que importava: “Sim!” O lugar explodiu. Aplausos ensurdecedores, gritos, lágrimas. Leonardo se levantou, colocou o anel em seu dedo e a beijou diante de todos. Um beijo que era promessa e perdão e recomeço.
Quando se separaram, ambos chorando e rindo, a música recomeçou e modelos voltaram para o encerramento final, todos desfilando juntos em celebração. Foi o desfile mais falado da temporada brasileira. viralizou internacionalmente. Chamaram de o momento mais romântico da história da moda nacional.
Mas enquanto a celebração acontecia, ninguém percebeu Gabriel na saída, assistindo tudo pela fresta da porta, vendo Nils se beijar Leonardo, vendo ela usar o anel, vendo ela escolher. E o ódio em seu rosto era palpável, porque ele tinha uma última carta, uma que jogaria no dia seguinte e que testaria se o amor de Nilsy e Leonardo era forte o suficiente para sobreviver a verdade.
Amanhã seguinte ao desfile, amanheceu com Nils Leonardo nos trending topics de todas as redes sociais. Vídeos do pedido de casamento tinham milhões de visualizações. Portais de moda internacional estavam republicando a história. Ofertas de trabalho começaram a chegar para ambos. Parecia que finalmente haviam vencido.
Mas às 9 da manhã, Gabriel convocou uma coletiva de imprensa. Marina ligou para Leonardo Frenética. Liguem a TV canal de notícias. Agora eles ligaram e viram Gabriel sentado atrás de uma mesa com microfones, flanqueado por advogados de terno impecável. Ele parecia calmo, controlado, perigoso. Bom dia, Gabriel começou a voz firme.
Convoquei esta coletiva porque preciso esclarecer alguns fatos distorcidos pela mídia nas últimas semanas. Nilsy sentiu algo gelado descer pela espinha. Minha esposa Nilsy e eu estamos casados há 3 anos. Durante esse tempo, tivemos problemas, como qualquer casal, mas recentemente influenciada por pessoas que não têm seus melhores interesses em mente, ela decidiu me deixar.
Ele fez uma pausa dramática. O que a maioria de vocês não sabe é que Nilsy tem um histórico de instabilidade emocional. Há dois anos foi diagnosticada com transtorno borderline de personalidade e tem episódios frequentes de dissociação. Tem o laudos médicos que comprovam. Mentiroso, Nils gritou para a TV. Tentei conseguir ajuda para ela. Gabriel continuou.
Terapia, medicação, mas ela se recusava a tratar. E recentemente começou um relacionamento com Leonardo Mendes, seu ex-namorado, enquanto ainda era casada comigo. Quando tentei intervir para protegê-la de si mesma, ela inventou essas acusações de abuso. Ele abriu uma pasta. Tenho evidências que provam que as fotos do suposto hematoma foram editadas.
Tenho testemunhas que podem confirmar que nunca levantei a mão para minha esposa. E tenho registros que mostram que Leonardo Mendes tem um histórico de manipulação emocional. com parceiras anteriores. “Isso é tudo mentira”, Leonardo gritou, mas Gabriel não havia terminado. Mais que isso, tenho provas de que a matéria publicada sobre mim foi baseada em documentos roubados e manipulados.
Estou processando o portal e os responsáveis por difamação e estou requisitando uma ordem de proteção contra Leonardo Mendes, que acredito estar alienando minha esposa de sua família e amigos em um claro caso de abuso psicológico e coersão. A bomba tinha sido lançada. Repórteres gritavam perguntas. Gabriel respondia com calma ensaiada, cada palavra calculada para plantar dúvida.
Quando a coletiva terminou, o telefone de Leonardo explodiu com ligações, marcas querendo respostas, clientes pedindo esclarecimentos, até alguns dos modelos que desfilaram ontem mandando mensagens hesitantes. “Ele está destruindo tudo”, Nilsy disse em choque. “Está reescrevendo a história completamente. Tem laudos médicos?”, Leonardo perguntou. “Não, nunca fui diagnosticada com nada.
Nunca fiz terapia até tentar há alguns meses e Gabriel sabotou. Então são falsos Marina disse já digitando furiosamente no laptop. Podemos provar que são falsos. Mas até provarmos Leonardo disse amargamente. O estrago já estará feito. Dúvida razoável é tudo que ele precisa. E era verdade. Os comentários nas redes sociais já mudavam de tom.
E se ele estiver falando a verdade, Borderline explicaria muita coisa. Ela realmente parece instável quando você pensa bem. Homens também podem ser vítimas. Nilsy sentiu o chão se abrir sob seus pés. Depois de tudo, o desfile, o pedido, a esperança, Gabriel encontrou uma forma de destruir sua credibilidade de uma vez.
Preciso fazer uma declaração pública ela disse de repente. Nilsy, não. Leonardo assegurou. Ele quer isso. Quer que você pareça desesperada e histérica. Então vou ser calma. Ela o interrompeu. Vou contar minha história, minha verdade, e vou deixar as pessoas decidirem em quem acreditam. Marina olhou para ela com admiração.
Você tem certeza? Porque não tem volta? Você vai se expor completamente. Já estou exposta, Nilsy disse. A diferença é que desta vez eu controlo a narrativa. Eles montaram uma câmera improvisada no atelier, sem maquiagem pesada, sem produção. Apenas Nilsy, sentada em uma cadeira simples, olhando diretamente para a lente. Marina gerenciaria as redes sociais.
Leonardo ficaria ao lado dela, mas fora do quadro. Isso era a história de Nilsy. Quando começaram a transmissão ao vivo, 2000 pessoas se juntaram imediatamente. Então, 5000, 10.000. A contagem explodia. Nils respirou fundo e começou: “Meu nome é Nilsy e por três anos vivia em uma prisão disfarçada de mansão.” Sua voz era firme, clara.
Gabriel Almeida me conheceu quando eu estava vulnerável. Minha família havia perdido tudo. Eu estava com medo do futuro, apavorada com pobreza e ele ofereceu segurança. Ofereceu um futuro sem preocupações financeiras. E eu, covardemente, escolhi medo em vez de amor. Ela não evitou a câmera, não desviou os olhos.
Terminei com o homem que amava de verdade, Leonardo, e casei com Gabriel. E descobri tarde demais que havia trocado liberdade por gaiola. Durante três anos. Gabriel controlou cada aspecto da minha vida, minhas roupas, meus amigos, minha carreira. Me disse que meus sonhos eram infantis, que eu precisava amadurecer, que sem ele eu não era nada.
Lágrimas começaram a escorrer, mas ela não as limpou. E eu acreditei: Deus me perdoe. Eu acreditei. Me tornei um fantasma. Usei cores mortas. Sorri quando devia, fiquei calada quando devia. Morri um pouco a cada dia e chamei isso de casamento. 30.000 pessoas assistindo agora.
Quando reencontrei Leonardo e ele me ofereceu um projeto, apenas um projeto de trabalho, vi uma chance de voltar a criar, de lembrar quem eu era. Então, menti para Gabriel e trabalhei escondida. E quando ele descobriu, não me deixou explicar. Me trancou em um quarto por três dias e me bateu. Ela tocou o rosto onde o hematoma ainda era levemente visível. Este hematoma não é editado, é real.
Assim como o medo que senti, assim como os três dias de prisão, assim como o controle que me sufocou durante 3 anos, 50.000 pessoas. Gabriel disse que tenho transtorno borderline. É mentira. Nunca fui diagnosticada porque nunca tive. Mas vou fazer todos os exames psiquiátricos necessários com médicos de sua escolha e tornar os resultados públicos, porque não tenho nada a esconder, ela respirou fundo.
Ele disse que Leonardo me manipula. Outra mentira. Leonardo me libertou. Me lembrou que eu posso criar, posso sonhar, posso ser mais que um acessório decorativo. Me fez sentir viva pela primeira vez em 3 anos. 70.000 pessoas. Eu não sou perfeita. Cometi erros. terríveis.
Magoei pessoas que amava, escolhi dinheiro em vez de amor e paguei o preço. Mas estou aqui hoje para dizer não mais. Não vou mais viver em uma gaiola. Não vou mais aceitar controle disfarçado de proteção. Não vou mais morrer lentamente em um casamento que é tudo menos amor. Ela se inclinou para a frente, olhando diretamente para a câmera. Gabriel, se está assistindo.
Eu te perdoo. Perdoo por me bater, por me prender, por tentar destruir quem eu sou, porque guardar raiva só me faria prisioneira de outra forma. Mas perdoar não significa aceitar. E não vou aceitar mais um dia sob seu controle, 100.000 pessoas assistindo. Para qualquer mulher ou homem que esteja em um relacionamento abusivo, você merece mais.
Merece ser visto, merece criar, merece cores, merece liberdade e nunca é tarde demais para abrir a porta da gaiola, mesmo se a gaiola for dourada, especialmente se for. Ela pausou, depois sorriu pela primeira vez. Meu nome é Nilsy. Eu escolhi sair e estou reconstruindo minha vida um dia de cada vez.
Obrigada por me ouvirem. Leonardo entrou no quadro, segurando sua mão. Não disseram nada, apenas ficaram ali unidos. Enquanto a contagem chegava a 200.000 pessoas ao vivo, quando terminaram a transmissão, a internet havia explodido. Uma newsforte era trending topic mundial. Centenas de mulheres compartilhavam suas próprias histórias de abuso. Celebridades postavam apoio.
E, mais importante, a narrativa de Gabriel havia se despedaçado porque números mentiam, testemunhas podiam ser compradas, mas havia algo em olhar nos olhos de alguém contando sua verdade, que não podia ser falsificado. Nas horas seguintes, o império de Gabriel começou a ruir de verdade. Três grandes clientes cancelaram contratos.
O conselho da sua empresa convocou uma reunião emergencial. Patrocinadores se afastaram publicamente e que a Ordem dos Advogados abriu investigação sobre os laudos médicos falsos. À noite, Gabriel tentou uma última cartada, apareceu no atelier, mas desta vez não estava furioso, estava destruído.
“Posso, posso falar com ela?”, perguntou a Leonardo, a voz quebrada. Leonardo olhou para Nilsy, ela assentiu. Gabriel entrou devagar, como um homem indo para a execução. “Eu assisti sua transmissão”, disse ele sem olhar para ela. “Todo mundo assistiu. Nils não disse nada. Você me fez parecer um monstro. Você se fez um monstro.” Ela corrigiu. Gabriel finalmente a encarou. Havia lágrimas em seus olhos.
Eu te amava do meu jeito torto e errado, mas te amava. Amor não prende, amor liberta. Eu sei disso agora”, ele disse amargamente. “Custou minha empresa, minha reputação, minha sanidade, mas eu sei.” Ele estendeu um envelope. Papéis do divórcio, sem disputa. “Você pode ficar com tudo o que quiser. Eu só só assina e me deixa tentar reconstruir o que sobrou de mim.” Nils pegou o envelope, as mãos tremendo.
Por que agora? Por que desistiu? Gabriel deu um sorriso triste. Porque passei minha vida inteira controlando coisas. negócios, pessoas, resultados e descobri que a única coisa que realmente importava, eu não poderia controlar nunca seu coração. Ele nunca foi meu, sempre foi dele. Ele olhou para Leonardo. Cuida dela, melhor do que eu cuidei. Vou, Leonardo prometeu. Gabriel acenou com a cabeça e se virou para sair. Na porta parou.
Nilsy? Sim, você está linda de vermelho. Sempre esteve. e saiu, deixando-os sozinhos com os papéis que marcariam o fim de um pesadelo e o começo de um sonho. Agora, finalmente, Nilsyva livre para recomeçar, para criar, para amar, mas o melhor capítulo ainda estava por vir.
Outubro trouxe primavera para São Paulo e com ela a primeira flagship store, Leonardo Mendes em Nilsy Santos. Design integrado. O espaço na Oscar Freire era exatamente como Nil se projetara. Três andares de vidro e luz, onde moda e arquitetura dançavam juntas. No térrio, as coleções de Leonardo. No segundo andar, consultoria de estilo personalizada.
No terceiro, um atelier aberto onde clientes podiam ver a magia acontecendo em tempo real. Mas o verdadeiro show eram as paredes, cada uma projetada por Nilsy como uma instalação de arte. Espelhos que mudavam a iluminação conforme o humor, jardins verticais que perfumavam o espaço, estruturas metálicas que pareciam flutuar desafiando a gravidade.
A loja havia aberto há três meses e já era um dos destinos mais fotografados de São Paulo. Nils estava no terceiro andar, supervisionando a montagem de uma nova coleção quando sentiu braços ao redor de sua cintura. “Você nunca para, né?”, Leonardo sussurrou em seu ouvido. “Olha quem fala.
Você trabalhou até às 3 da manhã ontem, porque estava terminando uma surpresa. Nilsy se virou em seus braços, curiosa. Que tipo de surpresa? Leonardo aguiou até uma arara coberta que ela não havia notado antes. Com um movimento dramático, puxou o tecido revelando um vestido, mas não qualquer vestido. Era branco, feito de seda pura, que brilhava como luz da lua. O corte era atemporal, clássico, mas com detalhes modernos.
E bordado por todo o corpete, em linhas douradas delicadas, estava um padrão que ela reconheceu, a planta baixa da primeira casa que ela projetara para ele na faculdade. Leonardo, sua voz falhou. É seu vestido de noiva. Se você ainda quiser se casar com um estilista obsessivo, que trabalha demais e é apaixonado demais por você.
Lágrimas encheram os olhos dela. O anel foi um pedido. Leonardo continuou. Mas eu nunca marquei a data porque queria que você estivesse totalmente livre, sem processos pendentes, sem Gabriel, sem sombras. E agora? Ele pegou as mãos dela. Agora você está. O divórcio foi finalizado há duas semanas.
Você tem sua própria empresa comigo, tem sua liberdade, tem sua vida de volta. Ele se ajoelhou exatamente como fizera no desfile um ano atrás. Então, Nils Santos, arquiteta extraordinária, mulher mais forte que conheço, amor da minha vida, casa comigo de verdade desta vez. Nils puxou-o de pé e o beijou com toda a força que tinha. Sim, mil vezes, sim.
O casamento aconteceu um mês depois, em novembro. Não foi na igreja chique que Gabriel escolhera para o casamento anterior. Foi no Parque Ibirapuera, no mesmo lugar onde Leonardo a pedira em casamento pela primeira vez 5 anos atrás. Era pequeno, apenas 50 pessoas. Marina como madrinha, usando um vestido laranja vibrante que Leonardo criou especialmente para ela.
A família de Nilsy, que se reconciliou com ela após o divórcio, chorava na primeira fila. colegas do atelier, modelos do desfile, amigos verdadeiros. Nilsy entrou usando o vestido que Leonardo criara, segurando um buquê simples de flores silvestres. Não havia marcha nupsal formal, apenas uma música que Leonardo escolhera, a mesma que tocou no desfile quando ela entrou na passarela vestindo vermelho.
Quando chegou ao altar improvisado sob as árvores, Leonardo estava chorando abertamente. “Você é a mulher mais linda que já existiu.” Ele disse: “Você já disse isso e vou repetir todos os dias pelos próximos 50 anos. O celebrante, um amigo deles, não um estranho formal, conduziu a cerimônia com calor e humor. Quando chegou a hora dos votos, Nils e Leonardo haviam escrito os próprios.
Leonardo foi primeiro. Nilse, há 5 anos você me pediu para sonhar junto com você. Então, sonhei com lojas impossíveis e vestidos que desafiavam gravidade. Há três anos, você me pediu para te deixar ir e eu aprendi que amar significa libertar, não prender. Há um ano, você me pediu para te ajudar a recomeçar e descobrimos que recomeços podem ser mais bonitos que começos.
Hoje eu te peço apenas uma coisa. Envelheça comigo. Deixa eu acordar ao seu lado quando nossos cabelos estiverem grisalhos e nossas mãos tremerem. Deixa eu te amar apenas quando você estiver vestindo vermelho e vibrante, mas também quando usar pijama furado no domingo. Deixa eu ser seu lar, como você é o meu para sempre.
Nilsy estava chorando tanto que mal conseguiu ler seus votos. Leonardo, você me ensinou que cores são emoções vestindo a pele, que criar é resistir, que amor verdadeiro não tem medo de esperar. Durante três anos vivia em preto e branco. Você me trouxe de volta para o Technicolor. Me lembrou que eu poderia ser mais. Hoje eu prometo.
Nunca mais vou esquecer. Nunca mais vou escolher medo em vez de amor. Nunca mais vou me apagar para caber em espaços pequenos. E nunca mais vou deixar você duvidar de quanto é amado. Você é minha casa, minha arte, minha vida e vou passar cada dia provando que merecia a segunda chance que você me deu.
Quando trocaram alianças, simples argolas de prata, idênticas às que usaram noivado original, não havia mais lágrimas, apenas sorrisos. E quando o celebrante disse pode beijar a noiva, Leonardo a mergulhou para trás dramaticamente, arrancando risadas da plateia. e a beijou como se fosse a primeira e última vez. A festa foi no atelier, transformado para a ocasião em salão de festas.
Comida simples, mas deliciosa, música que misturava MPB com eletrônico, dança improvisada. Marina fez um brinde memorável ao casal mais dramático que conheço. Vocês levaram 5 anos, três términos. Um casamento desastroso, um processo judicial, uma transmissão viral e um desfile de moda para finalmente acertarem. Mas olha, ela ergueu a taça.
Valeu cada segundo de drama, porque provaram que nunca é tarde demais para escolher certo. Aos noivos, aos noivos. Todos repetiram. Há mais tarde, quando a festa acalmou e os convidados começaram a ir embora, Nilsy e Leonardo subiram para o apartamento acima do atelier, que agora era oficialmente deles como casal.
Leonardo carregou Nils pela porta no estilo tradicional, ambos rindo. “Bem-vinda ao primeiro dia do resto de nossas vidas”, ele disse. “Estou pronta”, ela respondeu: “Para tudo, para os altos e baixos, para as dúvidas e certezas, para construir um império juntos. Já construímos. Leonardo a colocou no chão gentilmente. Olha ao redor.
Isto aqui, esta loja, este atelier, este apartamento, esta vida, construímos juntos do nada, da dor, do recomeço. Nils se olhou pela janela para a cidade de São Paulo, iluminada pela noite. Você acha que ele está bem, Gabriel? Leonardo abraçou-a por trás. Ouvi que ele se mudou para o interior, abriu uma construtora pequena, focada em projetos sociais, está em terapia.
Marina tem contatos e diz que ele está tentando ser melhor. Espero que seja feliz. Nils disse sinceramente, do jeito dele, longe de mim. Isso é muito maduro de você. Aprendi com o melhor. Ela se virou nos braços dele. Você me ensinou que podemos crescer com a dor, que podemos transformar feridas em arte, que podemos perdoar sem esquecer.
Não, Leonardo corrigiu. Você me ensinou isso. Você cresceu. Você transformou. Você perdoou. Eu só testemunhei. Eles se beijaram lentamente, sem pressa, saboreando o momento. Tinham o resto de suas vidas pela frente. Leonardo Nilsy disse depois. Sim.
Obrigada por nunca desistir de mim, mesmo quando eu desisti de mim mesma. Obrigado por voltar mesmo quando teria sido mais fácil ficar perdida. Eles ficaram ali abraçados na janela, dois artistas que quase se perderam e se encontraram contra todas as probabilidades. 5 anos depois, eles teriam dois filhos, um menino e uma menina, ambos tão criativos quanto os pais.
Leonardo Mendes em Nils Santos se tornaria uma das marcas mais respeitadas da América Latina. Eles abririam lojas em Nova York e Paris. Nilsy ganharia prêmios internacionais de arquitetura. Leonardo seria a capa de Vog International, mas mais importante que tudo, eles envelheceriam juntos. Em dias em que Nilsy se sentisse insegura, Leonardo a lembraria de usar vermelho.
Em dias em que Leonardo duvidasse de seu talento, Nilsy lhe mostraria todas as vidas que ele tocara com sua arte. brigavam, às vezes discordavam frequentemente, mas sempre, sempre escolhiam permanecer, escolhiam amar, escolhiam construir, porque haviam aprendido que amor não é encontrar a pessoa perfeita, é escolher a pessoa certa e construir algo perfeito juntos. É transformar erros em arte.
é pintar sobre as manchas em vez de jogar a tela fora. E quando Nils completasse 70 anos, em um evento de retrospectiva de sua carreira, alguém perguntaria: “Qual foi o projeto mais importante que você já criou?” E ela olharia para Leonardo, grisalho, com rugas profundas ao redor dos olhos, de tanto sorrir, ainda a olhando como se fosse a única mulher no mundo, e responderia: “Eu mesma, eu me recriei e tive a sorte de encontrar alguém que segurou minha mão durante a reconstrução, porque no final a história de Nilsy e Leonardo não era sobre um vestido vermelho ou um desfile viral ou um divórcio dramático. Era sobre
coragem. A coragem de sair de gaiolas mesmo quando elas são douradas. A coragem de recomeçar mesmo quando você tem 30 anos. E nada é seu nome. A coragem de amar de novo mesmo quando você foi quebrado antes. A coragem de escolher cores mesmo quando o mundo diz para você usar bege e, acima de tudo, a coragem de ser quem você realmente é, mesmo que isso custe tudo, porque no fim você sempre se encontra de novo. E quando encontra descobre que sempre valeu a pena. M.