Sainda pura, ela sonhou estar grávida do chefe e quando ele descobriu, tudo mudou. De onde você está assistindo? Deixe aqui nos comentários sua cidade e não esqueça de se inscrever no canal e deixar seu like para mais histórias emocionantes como esta. O despertador ecoou às 5:40 da manhã no pequeno apartamento da zona leste de São Paulo.
Silvia Mendes abriu os olhos lentamente, ainda envolta pelos fragmentos de um sonho que a perturbava profundamente. No sonho, ela estava grávida, radiante, ao lado de Roberto Silva, seu chefe intimidador, em uma casa no interior, cercados de felicidade que jamais imaginara possível. “Que absurdo!”, murmurou para si mesma, passando as mãos pelo rosto.
Aos 22 anos, Silvia carregava o peso de responsabilidades que pareciam esmagar seus ombros delicados. O apartamento de dois cômodos na Vila Matilde abrigava ela e sua mãe Clara, que lutava contra um câncer que consumia não apenas sua saúde, mas também as poucas economias que restavam após a morte do pai. Há dois anos. Silvia se levantou, os pés descalços tocando o chão frio. Pela janela pequena podia ver a cidade acordando.
Ônibus lotados, trabalhadores apressados. A rotina implacável de quem sobrevive não vive. Ela mesma era parte dessa engrenagem, trabalhando como assistente administrativa na Silva Construções, uma das maiores construtoras de São Paulo. “Filha, você está bem?” A voz fraca da mãe chegou do quarto ao lado. Estou sim, mãe. Vai tomar seu remédio.
Silvia preparou o café com mãos automáticas, mas sua mente ainda estava presa àquele sonho absurdo. Roberto Silva, o homem de 34 anos que comandava um império empresarial com punho de ferro, olhos penetrantes e uma frieza que a fazia tremer sempre que ele se dirigia a ela.
Por que diabo sonhara com ele daquela forma? O trajeto até o centro da cidade durou duas horas. No metrô lotado, prensada entre corpos suados e cansados, Silvia não conseguia tirar as imagens do sonho da cabeça. A felicidade que sentira ao lado dele parecia tão real, tão intensa, que deixara um gosto doce e amargo em sua boca. Chegando ao elegante edifício espelhado na Vila Olímpia, onde funcionava a construtora, Silvia ajeitou o cabelo castanho preso em um coque simples e verificou se sua blusa branca estava bem alinhada.
Cada detalhe de sua aparência era cuidadosamente pensado para passar despercebida para não chamar atenção. “Bom dia, Silvia.” A voz grave a fez sobressaltar. Roberto Silva estava parado ao lado do elevador, impecável em seu terno azul marinho. Seus olhos escuros a analisaram rapidamente, um hábito que ela notara, como se ele calculasse o valor de tudo e todos ao seu redor. “Bom dia, Senr. Silva.
” Sua voz saiu mais baixa que o normal. No elevador, o silêncio era ensurdecedor. Silvia podia sentir a presença imponente dele, o perfume masculino que exalava, a forma como ele tamborilava os dedos impacientes contra a pasta de couro. Quando as portas se abriram no 20º andar, ela praticamente correu para sua mesa.
Silvia, Letícia, sua única amiga no trabalho, se aproximou com um sorriso maroto. Por que essa cara de quem viu fantasma? Nada não, Let, só tive um sonho estranho. Ah, conta. Você sabe que eu amo essas coisas. Silvia hesitou, olhando ao redor para se certificar de que ninguém estava ouvindo.
O dia passou em um borrão de planilhas, telefonemas e a tensão constante de trabalhar em um ambiente onde cada erro poderia custar seu emprego. À tarde, quando finalmente teve um momento de pausa, decidiu desabafar com Letícia, pegou o celular e foi para o banheiro procurando privacidade. Abriu o WhatsApp e começou a gravar um áudio para a amiga.
Você não vai acreditar no sonho maluco que eu tive hoje. Sonhei que estava grávida do Roberto, eu sei, é ridículo. Nós dois juntos, ele me tratando com carinho, em uma casa linda no interior. E o pior é que no sonho eu estava feliz, sabe? Completamente realizada.
É muito constrangedor admitir isso, ainda mais sendo bem, você sabe que eu nunca, enfim, sou virgem e sonhar com isso é meio bizarro. Acho que estou precisando de férias ou terapia. Ela riu nervosa e enviou a mensagem guardando o celular rapidamente. Às 5 da tarde, enquanto organizava os últimos documentos do dia, seu telefone vibrou. Era uma mensagem do WhatsApp. Abriu distraídamente, esperando a resposta de Letícia.
Até ela mostrava: “Roberto, chefe, seu sangue gelou. A mensagem que acabara de ler era dela mesma. o áudio embaraçoso, íntimo, confessional que enviara para o homem errado. “Meu Deus”, sussurrou, as mãos tremendo violentamente. No mesmo instante, o telefone da mesa tocou com o toque que ela reconhecia como chamada interna. Silvia Mendes na minha sala.
Agora a voz de Roberto Silva cortou a linha antes que ela pudesse responder. O tom era glacial, carregado de uma autoridade que não admitia questionamentos. Silvia permaneceu sentada por longos segundos, encarando o telefone como se ele fosse uma bomba prestes a explodir. Suas mãos tremiam tanto que mal conseguia segurar o aparelho.
O escritório ao seu redor continuava em movimento, pessoas digitando, conversando, vivendo suas vidas normais, enquanto o mundo dela desmoronava silenciosamente. “Você está bem?” Letícia apareceu ao lado de sua mesa, franzindo a testa com preocupação. Ficou pálida de repente. Eu eu preciso ir à sala do Sr. Silva. As palavras saíram entrecortadas, como se cada uma doesse para pronunciar.
Agora, mas já são quase 5:30. O que será que ele quer? Silvia não respondeu. Como poderia explicar a catástrofe que acabara de acontecer? Como admitir que enviara o áudio mais embaraçoso de sua vida para o próprio chefe? A humilhação a sufocava, uma onda quente que subia do peito até o rosto. Levantou-se com as pernas bambas e caminhou pelos corredores elegantes da construtora.
Cada passo euava em seus ouvidos como uma marcha fúnebre. Funcionários passavam por ela, alguns cumprimentando educadamente, alheios ao drama que se desenrolava. A secretária de Roberto, uma mulher elegante de meia idade chamada Miriam, a recebeu com um olhar que misturava curiosidade e piedade. Pode entrar, Silvia, ele está esperando.
A porta do escritório se abriu, revelando um ambiente que sempre a intimidara. Piso de mármore, móveis de Mógno, uma vista panorâmica de São Paulo que se estendia até onde os olhos alcançavam. E ali, atrás da mesa imponente, Roberto Silva. Ele não levantou os olhos dos documentos quando ela entrou. O silêncio se estendeu por minutos eternos, enquanto Silvia permanecia em pé, as mãos suando, o coração batendo tão forte que tinha certeza de que ele podia ouvir. Sente-se. A ordem veio sem que ele erguesse o olhar.
Silvia obedeceu, afundando na poltrona de couro que parecia querer engoli-la. Roberto finalmente levantou os olhos e o que ela viu neles a fez estremecer. Não era raiva como esperava, era algo mais complexo, mais perigoso, era cálculo. Então ele se recostou na cadeira, os dedos entrelaçados sobre a mesa.
Você sonha comigo? A afirmação direta fez o rosto de Silvia pegar fogo. Ela abriu a boca para negar, explicar e implorar, mas nenhum som saiu. E no seu sonho, somos um casal com um filho. Roberto inclinou ligeiramente a cabeça como se estivesse analisando um quebra-cabeças fascinante. Interessante. Senr. Silva, eu posso explicar? A voz de Silvia saiu como um fio. Pode? Então explique.
Ele se inclinou para a frente, apoiando os cotovelos na mesa. Explique como uma funcionária que mal fala comigo durante o expediente tem sonhos íntimos sobre seu chefe. Silvia sentiu lágrimas queimando seus olhos, mas lutou para contê-las. Não chorar, não mostrar mais fraqueza do que já mostrara. Foi um engano. O áudio era para minha amiga.
Eu estava desabafando sobre um sonho idiota que tive. Não significa nada. Não significa nada. Roberto repetiu as palavras lentamente, saboreando-as. Uma mulher de 22 anos, virgem, que sonha em ter uma família comigo, e isso não significa nada. A forma como ele pronunciou a palavra virgem fez Silvia se encolher na cadeira. Era uma mistura de surpresa e interesse.
Isso a assustou mais do que qualquer grito faria. Senr. Silva, se o senhor quiser minha demissão. Demissão? Roberto soltou uma risada seca. Por que eu demitiria uma funcionária que acabou de me dar uma informação extremamente valiosa? Silvia piscou confusa. Valiosa. Roberto se levantou e caminhou até a janela, as mãos nos bolsos. O sol da tarde criava um contorno dourado ao redor de sua silhueta alta e elegante.
Quando se virou de volta para ela, havia algo diferente em sua expressão, determinação. Silvia, vou lhe fazer uma pergunta e quero que pense bem antes de responder. Ele retornou à mesa, mas desta vez se apoiou na beirada, mais próximo dela. Até onde você iria para salvar sua mãe? A pergunta a atingiu como um soco no estômago.
O quê? Sua mãe está doente? Câncer não é o plano de saúde básico que oferecemos aqui na empresa mal cobre o essencial. Você precisa de dinheiro para um tratamento de qualidade. Como ele sabia sobre a mãe? Silvia sentiu uma onda de pânico misturada com indignação. Como o senhor? Sou empresário, Silvia. Conheço a situação de todos os meus funcionários.
Ele se inclinou mais próximo e ela pôde sentir seu perfume, ver os detalhes de seus olhos escuros. A questão é, você faria qualquer coisa para salvá-la? Eu? Sim, qualquer coisa. Ótimo. Roberto se afastou e voltou para sua cadeira, porque tenho uma proposta para você. Uma proposta que pode resolver todos os seus problemas financeiros e ainda realizar de certa forma seu sonho.
Silvia o encarou, o coração disparado. Que tipo de proposta? Roberto abriu uma gaveta e retirou uma pasta. colocou-a sobre a mesa entre eles, mas não a abriu ainda. Preciso de uma noiva, Silvia, e você precisa de dinheiro. É uma equação simples. Uma noiva? A palavra saiu estrangulada. Uma noiva falsa. Para ser mais específico, por se meses.
Ele tambourilou os dedos sobre a pasta. Em troca, quito todas as dívidas da sua família e pago o melhor tratamento médico para sua mãe. Hospital sírio libanês, os melhores oncologistas do país. Silvia sentiu o mundo girando ao seu redor. Por quê? Porque o senhor precisaria de uma noiva falsa. Roberto suspirou. E por um momento, ela vislumbrou algo além da máscara profissional.
uma frustração profunda, quase vulnerabilidade. Meu avô era um homem conservador, muito conservador. No testamento dele há uma cláusula que diz que eu só posso herdar completamente o controle da empresa se estiver casado até meus 35 anos. Ele olhou diretamente nos olhos dela. Faço 35 em dezembro. São se meses. E E por que eu? Porque você é perfeita.
A resposta veio sem hesitação, bonita o suficiente para ser credível, mas não o tipo de mulher que costuma estar no meu círculo social. Isso torna a história mais interessante, mais humana. Além disso, ele fez uma pausa significativa. Você já demonstrou que tem sentimentos por mim. Isso facilitará a interpretação.
Silvia sentiu o sangue ferver. Eu não tenho sentimentos pelo senhor, não. Roberto sorriu pela primeira vez e o sorriso era perigoso. Então o sonho foi apenas coincidência. Silvia abriu a boca para protestar, mas as palavras morreram em sua garganta. Como negar quando a evidência estava bem ali gravada em sua própria voz.
Pense no seguinte. Roberto continuou aproveitando sua confusão. Seis meses fingindo ser minha noiva, aparições públicas, alguns eventos sociais, fotos para os jornais. Em troca, sua mãe recebe o melhor tratamento médico disponível. Todas as dívidas são quitadas e você recebe uma quantia que permitirá que nunca mais precise se preocupar com dinheiro.
E depois dos se meses, terminamos o noivado amigavelmente. Você recebe uma indenização generosa e volta para sua vida. Simples assim. Silvia olhou para a pasta sobre a mesa. Lá dentro, provavelmente, estava a solução para todos os seus problemas. Mas a que custo? Quais seriam as regras? Roberto abriu a pasta e retirou um documento espesso, demonstrações públicas de afeto quando necessário, acompanhar-me em eventos sociais e empresariais, morar temporariamente em um apartamento que providenciarei. Não podemos manter a farça se você continuar na zona leste.
Ele fez uma pausa. E é claro, descrição absoluta. Ninguém pode saber que é um acordo. E quanto à intimidade, os olhos de Roberto se endureceram. Nenhuma. Este é um acordo comercial, não um relacionamento real. Manteremos as aparências em público, mas nossas vidas privadas permanecem separadas.
Silvia sentiu uma pontada estranha de decepção, o que a confundiu. Ela deveria estar aliviada, não desapontada. Preciso pensar. Sua mãe tem quanto tempo? A pergunta veio como uma lâmina afiada. Silvia engoliu em seco. Os médicos disseram: “Talvez se meses, um ano se conseguirmos pagar por um tratamento melhor, então você não tem tempo para pensar.
” Roberto se levantou e caminhou até a janela novamente. A oferta vale até amanhã de manhã, primeira hora. Depois disso, você volta à sua mesa, eu encontro outra solução. E sua mãe? Ele não terminou a frase, mas não precisava. A implicação estava cristalina no ar entre eles.
Silvia olhou pela janela panorâmica, vendo a cidade se estender infinitamente. Em algum lugar lá embaixo estava sua mãe, lutando contra uma doença que elas não tinham recursos para combater adequadamente. E ali, naquele escritório elegante, estava a solução, perigosa, comprometedora, mais uma solução. E se eu aceitar? Ela disse lentamente.
Quando começaríamos? Roberto sorriu novamente e desta vez havia triunfo naquele sorriso. Imediatamente, a noite foi a mais longa da vida de Silvia. Deitada no sofá cama do pequeno apartamento, ela ouvia a respiração irregular da mãe no quarto ao lado e sentia o peso da decisão que precisava tomar, pressionando seu peito como uma pedra.
Às 3 da manhã, desistiu de tentar dormir e se dirigiu à pequena cozinha. preparou um chá de camomila, as mãos tremendo ligeiramente enquanto esperava a água ferver. A proposta de Roberto ecoava em sua mente como um disco arranhado. Seis meses, noiva falsa: salvação para a mãe. Filha, a voz fraca de Clara a chamou.
Por que está acordada? Silvia foi até o quarto e se sentou na beirada da cama. Sua mãe estava muito magra, os cabelos ralos por causa da quimioterapia, mas os olhos ainda mantinham aquela luz carinhosa que sempre fora seu refúgio. Não conseguia dormir. Mãe, como está se sentindo? Melhor hoje. Clara sorriu e apertou a mão da filha.
Sabe, Silvia, às vezes penso que você sacrifica demais por mim. Uma moça da sua idade deveria estar namorando, se divertindo, não cuidando de uma mãe doente. Não fale assim. Silvia sentiu lágrimas queimando os olhos. A senhora é tudo que eu tenho e você é tudo que eu tenho também. Por isso, quero que seja feliz. Clara estudou o rosto da filha com aquela percepção maternal que parecia ler pensamentos.
Aconteceu alguma coisa no trabalho hoje? Silvia quase contou tudo. Quase desabafou sobre a proposta impossível, sobre o erro no WhatsApp, sobre o homem que oferecia salvação em troca de seis meses de sua vida. Mas as palavras ficaram presas em sua garganta. Não, mãe, só estou cansada.
Voltou para a sala e permaneceu acordada até o amanhecer, pesando os prós e contras de uma decisão que mudaria tudo. Às 8 da manhã em ponto, Silvia bateu na porta do escritório de Roberto. Ele a recebeu como se já soubesse sua resposta. Talvez soubesse mesmo. Eu aceito disse ela antes que ele pudesse falar qualquer coisa, mas tenho condições.
Roberto arqueou uma sobrancelha claramente divertido. Condições? Quero acompanhar pessoalmente o tratamento da minha mãe e quero que ela seja informada de que consegui um aumento substancial. Não que, bem, que estou fingindo ser sua noiva. Razoável. Ele gesticulou para que ela se sentasse.
Mais alguma coisa? Depois dos seis meses? Quero uma carta de recomendação e ajuda para conseguir um emprego melhor. Não quero voltar a ser apenas sua assistente. Roberto sorriu com genuína aprovação. Inteligente. Aceito suas condições. Ele empurrou o contrato em sua direção. Assine aqui. Silvia leu o documento rapidamente. Era denso, cheio de termos legais, mas as condições básicas estavam claras.
pegou a caneta com mão firme e assinou seu nome. Pronto, Roberto guardou o contrato. Agora vamos começar sua transformação. Transformação? Silvia, você é bonita, mas precisa parecer com alguém que um homem como eu namoraria. Ele se levantou e pegou o telefone. Marcos, prepare o carro. Vamos fazer compras. 20 minutos depois, eles estavam no banco de trás de uma Mercedes preta, deslizando pelas ruas de São Paulo em direção aos jardins.
Silvia nunca estivera em um carro tão luxuoso. O couro era macio como seda, havia água e champanhe em um miniar, e a música clássica criava uma atmosfera de elegância que a fazia se sentir como uma impostora. “Para onde estamos indo?”, perguntou ela, tentando parecer tão impressionada quanto estava.
Shopping e Guatemi primeiro, depois algumas boutiques especializadas. Roberto não tirava os olhos do tablet que segurava. Precisamos transformar você em alguém que pertença ao meu mundo. A primeira parada foi uma boutique de roupas femininas que irradiava a exclusividade. As vendedoras se aproximaram de Roberto com sorrisos profissionais e reverentes.
“Senor Silva, que prazer vê-lo novamente”, disse uma mulher elegante de cabelos platinados. Em que podemos ajudá-lo hoje? Minha noiva precisa de um guarda-roupa completo”, respondeu Roberto. E Silvia sentiu um choque ao ouvir a palavra noiva pela primeira vez. Roupas para o dia a dia, eventos sociais, jantares de negócios, o melhor que vocês têm. As próximas três horas foram um turbilhão de tecidos finos, medidas, provas e aprovações.
Silvia experimentou vestidos que custavam mais do que seu salário mensal, sapatos que pareciam obras de arte, bolsas que eram verdadeiras joias. A cada peça aprovada por Roberto, um olhar calculista, um aceno de cabeça, ela se sentia mais distante de si mesma. Agora o salão! Anunciou Roberto quando as sacolas foram carregadas no carro.
O salão de beleza era ainda mais intimidador que a boutique. Profissionais se revesaram em seus cabelos, cortando, pintando, modelando. Sua pele foi tratada, suas unhas feitas, sua maquiagem aplicada por mãos especializadas. Quando finalmente se olhou no espelho, Silvia mal se reconheceu. Os cabelos castanhos agora tinham reflexos dourados e caíam em ondas perfeitas sobre os ombros.
A maquiagem realçava seus olhos verdes de forma dramática, e o vestido azul marinho que Roberto escolhera a transformava em alguém completamente diferente, elegante, sofisticada. Melhor”, disse Roberto, analisando o resultado com aprovação. “Muito melhor.” Silvia se virou para ele, ainda chocada com sua própria transformação. “Eu Eu não me reconheço. Esse é o objetivo.
” Ele se aproximou e, para sua surpresa, tocou delicadamente seu rosto. “Esta é a mulher que vai ser minha noiva pelos próximos seis meses. Esta é a mulher que vai salvar sua mãe.” O toque dele fez algo estranho com seu coração, uma aceleração que ela tentou ignorar. Isso era apenas um negócio. Ela se lembrou.
Nada mais. E agora? Agora vamos jantar. Nosso primeiro encontro público. Roberto ofereceu o braço. Está pronta para começar a atuar? Silvia respirou fundo e aceitou seu braço. O tecido fino do terno dele era macio sob seus dedos e ela podia sentir a firmeza de seus músculos.
Tudo nele exalava poder e segurança, qualidades que sempre a intimidaram, mas que agora estranhamente a reconfortavam. Pronta, eles saíram do salão como um casal perfeito. Silvia podia sentir os olhares curiosos das pessoas na rua, o flash discreto de paparates que apareceram do nada. Roberto aguiava com uma mão protetora nas costas, sussurrando instruções em seu ouvido. Sorria. Olhe para mim como se eu fosse o amor da sua vida.
Lembre-se, você está profundamente apaixonada. O restaurante escolhido era no topo de um edifício nos jardins, com vista panorâmica da cidade. O metrios recebeu como realeza, conduzindo-os à melhor mesa. Durante todo o caminho, Roberto manteve uma postura afetuosa, a mão em sua cintura, sussurros carinhosos, olhares intensos que quase pareciam reais.
“Você está se saindo bem”, murmurou ele quando se sentaram. Não é tão difícil quanto imaginei”, respondeu Silvia, tentando ignorar como seu coração acelerava toda vez que ele a tocava. A conversa durante o jantar fluiu surpreendentemente bem. Roberto revelou-se mais interessante do que ela esperava. Falou sobre viagens, livros, música.
Silvia descobriu que tinha mais em comum com ele do que imaginara. “Qual é o seu sonho?”, perguntou ele de repente, cortando um pedaço de salmão. “Sonho?” além de salvar sua mãe. “O que você realmente quer da vida?”, Silvia hesitou. Era uma pergunta que ninguém nunca lhe fizera antes. Eu sempre quis escrever livros infantis e ter uma família um dia, uma casa no interior, talvez. Roberto parou de mastigar e a olhou com uma expressão estranha. “Uma casa no interior. Eu sei que é bobo.
” Não é bobo. Sua voz tinha uma qualidade diferente, mas suave. É bonito. Havia algo em seus olhos naquele momento, uma intensidade que fez Silvia se esquecer momentaneamente de que aquilo era uma encenação. Por um instante, pareceu real. O feitiço foi quebrado quando o garçom se aproximou para perguntar sobre a sobremesa.
Roberto voltou à sua postura empresarial e Silvia se lembrou de onde estava e porê. Quando saíram do restaurante, mais flashes os esperavam. Roberto a puxou para mais perto, sussurrando em seu ouvido: “Amanhã nossa foto estará nos jornais. São Paulo inteira saberá que Roberto Silva está namorando. E se alguém descobrir a verdade, ninguém vai descobrir.” Sua confiança era absoluta. Somos um casal apaixonado que se conheceu no trabalho.
Uma história simples e convincente. No carro, voltando para o apartamento temporário que ele providenciara para ela, um lugar elegante em Moema, Silvia olhou pela janela. e viu a cidade passando como um filme. Em um só dia, sua vida havia mudado completamente. Ela era outra pessoa agora, com roupas de grife, cabelo profissional, vivendo em um mundo que sempre parecera inalcançável. “Obrigada”, disse ela quando o carro parou em frente ao prédio.
“Pelo quê?” “Por dar uma chance à minha mãe”. Ela o olhou nos olhos. Eu sei que isso é só negócio para o senhor, mas para mim significa tudo. Roberto a estudou por um longo momento. Boa noite, Silvia. Amanhã começamos oficialmente. Ela saiu do carro e subiu para o apartamento, ainda sentindo o peso de sua nova realidade.
No espelho do elevador, viu novamente a estranha refletindo de volta, linda, sofisticada, completamente transformada. Mas por baixo de toda aquela elegância, ainda era apenas Silvia Mendes da zona leste, fingindo ser alguém que não era. A questão era por quanto tempo conseguiria manter a farça antes que a linha entre atuação e realidade começasse a desaparecer.
Três semanas se passaram desde que Silvia assinou o contrato que mudaria sua vida. Estabelecer-se na rotina de uma noiva de empresário revelou-se mais complexo do que imaginara. Cada manhã acordava no apartamento elegante de Moema, com vista para o parque, móveis de design e uma cozinha maior que todo o apartamento onde morava com a mãe e por alguns segundos esquecia onde estava.
A transformação física havia sido apenas o começo. Roberto contratara uma consultora de etiqueta chamada Helena Marchetti, uma mulher impecável nos seus 60 anos, que fora responsável por educar membros da alta sociedade paulistana durante décadas. Postura, querida, dizia Helena durante as sessões intensivas. Uma dama nunca se encosta no encosto da cadeira durante um jantar formal e sorria com os olhos, não apenas com a boca. Silvia absorvia cada lição como uma esponja.
Aprendeu sobre vinhos, protocolos sociais, como conversar em eventos sem revelar muito sobre si mesma. Descobriu que ser rica não era apenas sobre ter dinheiro, era sobre conhecer códigos, regras não escritas, uma linguagem inteira de gestos e comportamentos. Durante esse período, ela e Roberto se encontravam regularmente para ensaios de sua relação, jantares em restaurantes elegantes, caminhadas em parques, idas ao teatro. Para qualquer observador externo, eram um casal apaixonado.
Roberto representava o papel do namorado atencioso, com uma perfeição que às vezes a fazia esquecer que tudo era encenação. “Você está aprendendo rapidamente”, comentou ele durante um almoço no fazano, observando como ela manejava os talheres com elegância natural. “Boa professora”, respondeu Silvia, referindo-se à Helena. Não é só isso. Roberto a estudou com aquele olhar analítico que ela já conhecia bem.
Você tem uma inteligência natural para isso, como se pertencesse a este mundo. Silvia sentiu algo estranho ao ouvir essas palavras. Uma mistura de orgulho e melancolia. Pertencer à aquele mundo significava se afastar cada vez mais de quem realmente era.
O teste verdadeiro chegou em uma sexta-feira à noite, o primeiro evento empresarial importante, uma festa de lançamento de um novo empreendimento da Silva Construções no terraço do Hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, com a presença de investidores, políticos e membros da alta sociedade. Este é o momento crucial, explicou Roberto enquanto o jato particular deles. Sim, ela ainda se surpreendia com essas coisas.
Sobrevoava a costa brasileira. Estaremos sob observação constante. Qualquer deslize pode levantar suspeitas. Silvia olhou pela janela do avião, vendo as praias cariocas se aproximando. E se eu não conseguir? E se alguém descobrir que sou uma farsa? Roberto se inclinou em sua direção e ela pôde sentir seu perfume, uma fragrância masculina que havia se tornado estranhamente familiar e reconfortante.
Você não é uma farsa, Silvia. Você é uma mulher inteligente e elegante que está aprendendo a navegar em um mundo novo. Ele tocou sua mão brevemente. Confia em mim e confia em si mesma. O hotel Copacabana Palace era ainda mais impressionante que Silvia imaginara. O lobby em mármore e dourado, os funcionários impecáveis.
a vista deslumbrante da praia mais famosa do mundo. Tudo exalava história e luxo. No quarto, uma suí com vista para o mar que custava mais por noite do que ela ganhava em um mês, Silvia se preparou cuidadosamente para a festa. O vestido escolhido por Roberto era uma criação em seda azul petróleo que realçava seus olhos verdes e se ajustava perfeitamente a seu corpo.
Os sapatos eram lubutã era hermés e as joias, um empréstimo temporário, valiam mais que uma casa. “Está linda”, disse Roberto quando ela emergiu do closet. Ele estava impecável em um smoking que parecia ter sido feito especificamente para seu corpo alto e atlético. Por um momento, Silvia se permitiu imaginar que o comprimento era genuíno, não parte da performance.
Obrigada, você também está muito elegante. O terraço do hotel estava transformado em um cenário de conto de fadas. Luzes douradas criavam uma atmosfera mágica. Mesas elegantemente postas se espalhavam pelo espaço e a vista do pão de açúcar iluminado servia como pano de fundo perfeito. Os convidados, cerca de 200 pessoas, representavam o que havia de mais influente no Brasil.
Roberto, um homem corpulento de cabelos grisalhos, se aproximou assim que eles chegaram. Que prazer vê-lo. E esta deve ser a famosa noiva que anda movimentando as redes sociais. Senador Martinez. Roberto sorriu e se posicionou protetivamente ao lado de Silvia. Deixe-me apresentar Silvia Mendes, minha noiva. Encantado.
O senador beijou sua mão com galanteria exagerada. Uma beleza. Roberto sempre teve bom gosto, mas desta vez se superou. Silvia sorriu graciosamente, lembrando-se das lições de Helena sobre como aceitar elogios em sociedade. É muito gentil, senador. Roberto me conta que vocês trabalham juntos há anos. A conversa fluiu naturalmente e Silvia descobriu que conseguia navegar pelas complexidades sociais melhor do que esperava. Roberto permanecia sempre por perto, uma presença constante e tranquilizadora. Eles circularam pelo
evento conhecendo investidores japoneses, empresários alemães, políticos locais. A cada apresentação, minha noiva Silvia, ela sentia uma mistura estranha de orgulho e culpa. Orgulho por estar se saindo bem, culpa por estar mentindo para todas aquelas pessoas.
Você está se saindo perfeitamente”, sussurrou Roberto em seu ouvido durante um momento de pausa. Eles estavam na varanda, contemplando o mar iluminado pela lua, “Melhor do que muitas mulheres que nasceram neste meio. Às vezes parece surreal”, confessou Silvia, “comivesse vivendo a vida de outra pessoa.
” “E como se sente em relação a isso?”, ela o olhou, tentando decifrar a expressão em seus olhos. confusa, é libertador e assustador ao mesmo tempo. Antes que Roberto pudesse responder, uma voz feminina cortou o ar como uma lâmina afiada. Roberto Silva, que surpresa deliciosa. Eles se viraram para ver uma mulher se aproximando, alta, loira, deslumbrante em um vestido vermelho que custava uma fortuna.
Havia algo familiar nela e Silvia percebeu que já a vira em revistas de sociedade. Vanessa disse Roberto. E Silvia notou uma atenção imediata em sua voz. Não sabia que estaria aqui. Papai investiu no projeto respondeu Vanessa com um sorriso que não chegava aos olhos. Ele nunca perde uma oportunidade de negócio promissora.
Seu olhar se voltou para Silvia, analisando-a da cabeça aos pés com uma precisão cirúrgica. E esta deve ser a famosa noiva misteriosa, Vanessa Cortez. Silvia Mendes. Fez Roberto relutantemente. Cortz, repetiu Silvia, reconhecendo finalmente o sobrenome. A família Cort era dona de uma das maiores redes de televisão do país.
Prazer em conhecê-la, igualmente. Vanessa estendeu uma mão perfeitamente manicurada. Devo admitir que fiquei curiosa quando li sobre vocês nos jornais. Roberto sempre foi muito seletivo em seus relacionamentos. Havia veneno naquelas palavras, camuflado sob um verniz de educação social. Silvia sentiu Roberto se tensionar ao seu lado.
Silvia é especial, disse ele, colocando o braço ao redor da cintura dela de forma possessiva. Muito diferente de qualquer pessoa que já conheci. Tenho certeza. O sorriso de Vanessa se tornou ainda mais afiado. Conte-me, Silvia, onde vocês se conheceram? Roberto nunca mencionou os detalhes.
Era um teste, Silvia percebeu, uma tentativa de pegá-la em uma mentira ou inconsistência. No trabalho, respondeu calmamente. Eu sou assistente administrativa na empresa do Roberto. Um dia, ele simplesmente me notou de uma forma diferente e ela olhou para Roberto com o que esperava parecer adoração genuína. O resto é história como romântico”, murmurou Vanessa. “Uma história de Cinderela moderna.
O tom desdenhoso não passou despercebido. Silvia sentiu raiva subir pelo peito, mas manteve a compostura. Às vezes, os melhores relacionamentos surgem onde menos esperamos”, replicou educadamente. “Verdade. Vanessa bebeu um gole de champanhe, os olhos nunca deixando o rosto de Silvia.
E seus pais, querida, o que fazem? Era outra armadilha. Silvia sabia que sua origem humilde seria munição nas mãos de uma mulher como Vanessa. “Meu pai faleceu”, disse simplesmente. “Minha mãe está se recuperando de uma doença”. Por um momento, algo parecido com o constrangimento cruzou o rosto de Vanessa, mas foi rapidamente substituído pela máscara social.
“Sinto muito, deve ser difícil para você.” Roberto tem sido um grande apoio”, respondeu Silvia e percebeu que não estava mentindo completamente. Ele realmente havia tornado possível o tratamento da mãe. “Que sortuda.” Vanessa finalmente desviou o olhar. Bem, não vou tomar mais tempo de vocês. Foi um prazer conhecê-la, Silvia. Tenho certeza de que nos veremos novamente em breve.
Ela se afastou, mas Silvia podia sentir seus olhos ainda observando-os à distância. “Es-namorada?”, perguntou baixinho. Algo assim, respondeu Roberto, igualmente baixo. Você se saiu muito bem. Ela estava tentando desestabilizá-la. Percebi. Silvia respirou fundo. Porque sinto que fiz uma inimiga. Por que fez? Roberto a guiou de volta para dentro do salão. Vanessa não gosta de perder e ela me vê como algo que perdeu.
Vocês terminaram há muito tempo? Roberto hesitou antes de responder. Cerca de um ano. Ela queria casamento. Eu não estava pronto. Quando soube do meu noivado pelos jornais, ficou furiosa. Digamos que Vanessa não é conhecida por aceitar rejeição graciosamente. O resto da noite passou sem mais confrontos. Silvia dançou com Roberto ao som de uma banda de jazz.
sorriu para fotógrafos, conversou com investidores sobre arte e literatura, temas que descobriu conhecer melhor do que imaginava. Quando finalmente voltaram à suí, já passava das 2as da manhã. “Foi perfeito”, disse Roberto afrouxando a gravata. “Você foi perfeita”. Silvia chutou os sapatos e se sentou no sofá, sentindo os pés doloridos.
Não pareceu perfeito quando Vanessa estava tentando me humilhar, mas você não se deixou intimidar, respondeu com classe e inteligência. Roberto se sentou ao lado dela, mais próximo do que o necessário. Estou impressionado. Havia algo diferente em sua voz, uma admiração que parecia genuína. Silvia o olhou e viu que ele a observava com uma intensidade nova.
Roberto? Sim, porque sinto que esta noite mudou alguma coisa entre nós. Ele ficou em silêncio por um longo momento, os olhos fixos nos dela. Quando finalmente falou, sua voz estava mais rouca. Porque mudou? E então, para a completa surpresa de Silvia, ele se inclinou e a beijou. Não foi um beijo para as câmeras ou para manter as aparências.
Foi real, urgente, cheio de uma paixão que ela não sabia que existia entre eles. Por um momento, ela se perdeu completamente na sensação, os lábios dele firmes contra os seus, o sabor de champanhe, o perfume masculino que a envolvia. Quando se separaram, ambos estavam ofegantes. “Eu isso não deveria ter acontecido”, disse Roberto, passando a mão pelos cabelos. “Não”, concordou Silvia, ainda sentindo os lábios formigando. “Não deveria.
” Mas mesmo dizendo isso, nenhum dos dois parecia lamentar o que havia acontecido. Havia uma tensão no ar, uma consciência nova um do outro que não podia ser ignorada. “Silvia, eu não precisa explicar.” Ela o interrompeu. Foi só um momento. O champanhe, a tensão da noite, foi só isso? Seus olhos a desafiavam. Silvia hesitou.
Mentir seria mais seguro, mais simples. Mas, olhando nos olhos escuros de Roberto, percebeu que não conseguia. “Não sei”, sussurrou. “E essa honestidade assustadora pairou no ar entre eles como uma promessa e uma ameaça, mudando tudo o que pensavam saber sobre seu acordo e sobre si mesmos.
O voo de volta para São Paulo na manhã seguinte foi carregado de uma tensão que nem Roberto nem Silvia sabiam como lidar. Eles se sentaram em poltronas separadas no jato particular, fingindo ler revistas e trabalhar em laptops. Mas ambos estavam intensamente conscientes da presença do outro. Silvia olhava pela janela vendo as nuvens passarem, mas sua mente estava completamente focada na noite anterior.
O beijo havia mudado tudo, destruído o muro cuidadosamente construído entre realidade e fingo, entre sentimentos verdadeiros e atuação profissional. Precisamos conversar”, disse Roberto quando o avião começou a descida em Congonhas. “Sim”, concordou ela, sem tirar os olhos da janela, mas a conversa não aconteceu.
Assim que pousaram, Roberto foi imediatamente engolfado por uma série de chamadas urgentes sobre uma crise em uma das obras da empresa. Um guindastre havia quebrado, atrasando a construção de um edifício importante, e ele precisou correr para o canteiro. Conversamos mais tarde”, disse ele rapidamente antes de entrar em outro carro e desaparecer na confusão do trânsito paulistano.
Silvia voltou sozinha para o apartamento em Moema, sentindo-se estranhamente abandonada. As rosas que Roberto enviava religiosamente todas as segundas-feiras estavam na mesa da sala, parte da encenação pública de romance, mas agora elas pareciam diferentes, quase zombeteiras. Ela passou o resto do fim de semana em um estado de confusão emocional.
Visitou a mãe no hospital sírio libanês, onde Clara estava respondendo bem ao novo tratamento. Vê-la melhor deveria ter sido uma alegria pura, mas Silvia se sentia culpada por esconder a verdade sobre como conseguira pagar aquele tratamento. “Você está diferente, filha”, observou Clara durante uma das visitas.
Mais elegante, mais, sei lá, sofisticada. Esse aumento que você conseguiu realmente mudou sua vida. É, mãe, mudou muito. E esse namorado misterioso que você mencionou, quando vou conhecê-lo? Silvia engoliu em seco. Havia mencionado vagamente que estava saindo com alguém para explicar suas ausências e mudança de estilo de vida. Em breve, mãe, ele está muito ocupado com o trabalho.
Clara sorriu com aquela sagacidade maternal que sempre fazia Silvia se sentir como uma criança, tentando esconder algo. Só prometa que não vai se machucar, Silvia. Homens poderosos podem ser perigosos para o coração. As palavras da mãe ecoaram na mente de Silvia durante todo o caminho de volta. Homens poderos podem ser perigosos para o coração. Se ela soubesse quão profético aquele aviso era.
Na segunda-feira, Silvia chegou cedo ao escritório, esperando encontrar Roberto e, finalmente, ter a conversa que precisavam ter. Mas ele não apareceu até o final da tarde e quando apareceu estava claramente evitando-a. Senr. Silva, ela o interceptou quando ele saía do elevador. Podemos conversar agora? Não, Silvia.
Tenho uma videoconferência com investidores japoneses em 5 minutos. Era a terceira vez em dois dias que ele encontrava uma desculpa para evitá-la. Silvia sentiu frustração e algo parecido com mágoa crescendo em seu peito. A situação continuou assim por uma semana inteira. Roberto cancelou dois jantares públicos que tinham agendado, alegando emergências de trabalho.
Quando finalmente se encontraram, uma inauguração de galeria de arte em Pinheiros, ele manteve uma distância cuidadosa, tocando-a apenas quando absolutamente necessário para manter as aparências. “Tudo bem?”, perguntou Letícia na quinta-feira durante o intervalo para o almoço. “Você parece tensa ultimamente, só trabalho”, mentiu Silvia. “É o Roberto? Ele também está estranho, mais irritado que o normal, sabe? E olha que isso é dizer muito.
Silvia fingiu não estar interessada, mas a observação de Letícia confirmou o que ela já suspeitava. Roberto estava lutando contra os mesmos sentimentos confusos que a atormentavam. A situação chegou ao ponto de ruptura na sexta-feira à noite. Eles tinham um jantar importante com os pais de Roberto. A primeira vez que Silvia os conheceria. Era um marco crucial em sua farça e não podia ser cancelado.
Roberto a buscou no apartamento às 7, impecável como sempre, mas havia uma tensão em seus ombros que ela aprendera a reconhecer. Sobre o que aconteceu no Rio começou ele assim que entraram no carro. Não precisa explicar, interrompeu Silvia. Entendi a mensagem. Foi um erro. Não vai se repetir.
Não foi isso que eu ia dizer. Não. Ela o olhou surpresa. Roberto suspirou e passou a mão pelos cabelos. Um gesto que ela agora sabia indicar que ele estava lutando com alguma decisão interna. O que aconteceu entre nós foi inesperado e complicado. Ele a encarou, mas não foi um erro. O coração de Silvia disparou. Roberto, deixe-me terminar.
Sua voz era firme, mas ela podia ver a vulnerabilidade em seus olhos. Eu criei regras para este acordo porque pensei que seria simples. Seis meses de fingimento, problema resolvido. Mas você, ele fez uma pausa. Você faz com que eu questione essas regras. E isso é ruim, é perigoso. A resposta veio sem hesitação para os dois. Silvia sentiu algo quebrar dentro do peito.
Porque eu não sou do seu mundo. Porque você é boa demais para o meu mundo? corrigiu ele, tocando seu rosto gentilmente. E eu não quero corrompê-la. E se a escolha fosse minha? Roberto a estudou por um longo momento. Seria? Antes que Silvia pudesse responder, o carro parou em frente a uma mansão imponente no Alto de Pinheiros.
Era hora de conhecer os pais dele e a conversa teria que esperar mais uma vez. A mansão do Silva era exatamente o que Silvia esperava. Elegante, intimidadora, repleta de arte e antiguidades que valiam fortunas. Roberto a guiou pelos corredores até um salão onde um casal elegante os aguardava.
Eduardo Silva, o pai de Roberto, era uma versão mais velha do filho, autoimponente, com cabelos grisalhos e olhos penetrantes. Margarete Silva era uma mulher sofisticada de aproximadamente 55 anos, vestida com elegância discreta, mas claramente cara. Mãe, pai, esta é Silvia”, apresentou Roberto, colocando a mão nas costas dela em um gesto que parecia natural.
Finalmente, Margarete se aproximou com um sorriso que parecia genuíno. “Roberto tem falado tanto de você que já estávamos curiosos.” O prazer é meu, senhora Silva”, respondeu Silvia, lembrando-se das lições de etiqueta sobre como cumprimentar adequadamente. Eduardo analisou-a com o mesmo olhar calculista do filho, mas havia aprovação em sua expressão. “Bem-vinda à família, minha querida.
Espero que esteja preparada para as loucuras do Roberto.” O jantar decorreu surpreendentemente bem. Margarette fez perguntas educadas sobre a família de Silvia e ela conseguiu navegar pelas questões com respostas que eram verdadeiras, sem revelar a extensão de suas dificuldades financeiras passadas. Eduardo discutiu negócios com Roberto, ocasionalmente incluindo Silvia na conversa de uma forma que a fazia sentir-se respeitada.
Silvia estudou literatura na USP”, comentou Roberto durante a sobremesa. “Ela tem uma perspectiva interessante sobre os projetos culturais da empresa. Era uma mentira. Silvia nunca terminara a faculdade, tendo abandonado quando o pai morreu, mas Roberto a estava ajudando a construir uma narrativa mais aceitável para sua história. Que maravilhoso”, disse Margarete.
“Há tanto tempo não temos alguém com interesses culturais na família.” Após o jantar, eles se moveram para o terraço, onde a vista da cidade criava um cenário impressionante. Margarete e Eduardo se envolveram em uma discussão sobre uma viagem que planejavam à Europa, dando a Roberto e Silvia um momento de privacidade relativa. “Você está se saindo perfeitamente”, sussurrou Roberto.
“Eles adoraram você. Seus pais são muito gentis, diferentes do que eu esperava. O que esperava? Mas snobs, talvez menos acolhedores. Roberto Riu baixinho. Eles têm defeitos, mas preconceito de classe não é um deles. Meu pai construiu o império começando como operário na construção civil. Eles respeitam o trabalho honesto. A conversa foi interrompida quando Margarette se aproximou deles.
Silvia, querida, posso roubar você por alguns minutos? Gostaria de lhe mostrar algo. Margarete a levou para dentro da casa, até um escritório elegante, cheio de livros e fotografias familiares. Sente-se, por favor. Margarete indicou uma poltrona e se acomodou em outra. Quero conversar com você sobre meu filho.
Silvia sentiu um frio na barriga. Sim. Roberto sempre foi complicado quando se trata de relacionamentos, muito focado no trabalho, muito cauteloso com o coração. Margarete a estudou com olhos carinhosos, mas perspicazes. Mas desde que começou a namorar você, ele está diferente, mais leve, mais feliz. Fico feliz em ouvir isso. Ele ama você.
A afirmação direta fez o coração de Silvia parar. Posso ver nos olhos dele? E você ama ele também, não é? Era uma pergunta que exigia uma resposta. Silvia olhou nos olhos gentis de Margarete e sentiu uma culpa esmagadora por enganar aquela mulher que claramente se importava com o filho.
“Sim”, sussurrou e percebeu que não estava mentindo completamente. “Amo, então preciso lhe dar um conselho.” Margarete se inclinou para a frente. Roberto foi magoado antes. Há alguns anos, uma mulher chamada Vanessa. Bem, ela o usou pelos motivos errados. Desde então, ele tem sido extremamente cauteloso.
Se você realmente o ama, seja paciente com ele. Permita que ele confie em você no tempo dele. Silvia assentiu, sentindo lágrimas queimando seus olhos. Se Margarete soubesse a verdade. Obrigada pelo conselho. Eu eu não quero machucá-lo. Vejo isso em você também. Margarete sorriu. É por isso que acredito que vocês dois têm algo especial.
Quando voltaram ao terraço, Roberto estava conversando com o pai sobre um novo projeto. Ele olhou para Silvia com uma expressão questionadora e ela forçou um sorriso tranquilizador. O resto da noite passou rapidamente. Quando finalmente se despediram, Margarete abraçou Silvia calorosamente. Espero vê-la novamente em breve, querida.
E Roberto, ela olhou para o filho. Não deixe esta escapar. No carro, voltando para o apartamento de Silvia, o silêncio era carregado de tensão. “Minha mãe gostou de você”, comentou Roberto. “Ela é adorável. Ambos são. E o que ela queria conversar com você em particular?” Silvia hesitou sobre nós. Sobre como você é feliz. Roberto parou o carro em um semáforo e a olhou.
E o que você disse? Que que sou feliz também? O semáforo ficou verde, mas Roberto não tirou os olhos dela. Carros começaram a buzinar atrás deles. Silvia, o sinal está verde. Ele reluctantemente voltou a dirigir, mas a tensão no carro havia aumentado exponencialmente. Quando chegaram ao prédio dela, Roberto desligou o motor e se virou para encará-la completamente.
“Não podemos continuar assim”, disse ele a voz rouca. “Assim como? Fingindo que não sentimos nada, fingindo que aquele beijo não aconteceu, ele se inclinou mais perto, fingindo que não pensamos um no outro toda a hora de cada dia. O coração de Silvia disparou. Roberto, eu sei que é perigoso. Sei que pode complicar tudo.
Sua mão encontrou o rosto dela, mas não consigo mais lutar contra isso. Nem eu! sussurrou ela. E então ele a beijou novamente ali mesmo no carro, com toda a paixão reprimida das últimas semanas. Desta vez, Silvia não hesitou, entrelaçou os dedos nos cabelos dele e se entregou completamente ao momento. Quando se separaram, ambos estavam ofegantes.
“Suba comigo”, disse ela impulsivamente. Roberto a olhou nos olhos, procurando por incerteza. “Tem certeza?” Não tenho certeza de nada mais nesta vida, respondeu ela honestamente, exceto de que quero estar com você. E pela primeira vez, desde que assinaram aquele contrato, eles subiram juntos para o apartamento dela, não como CEO e funcionária fingindo ser um casal, mas como um homem e uma mulher, que haviam descoberto que os sentimentos podem ser mais fortes que qualquer acordo comercial. O apartamento pareceu diferente quando eles entraram juntos.
As luzes suaves de Moema criavam uma atmosfera íntima que contrastava dramaticamente com a tensão elétrica entre eles. Silvia tremia ligeiramente, não de frio, mas de antecipação e nervosismo. Roberto fechou a porta atrás deles e se encostou nela, observando-a com uma intensidade que a fazia se sentir nua, mesmo completamente vestida.
“Ainda podemos parar”, disse ele, a voz rouca. “Se você quiser, não quero parar. As palavras saíram mais firmes do que ela se sentia. E você, em resposta, Roberto se aproximou lentamente, como se ela fosse algo precioso que poderia quebrar. Quando chegou perto o suficiente para que ela sentisse seu calor, ele ergueu as mãos e enquadrou delicadamente seu rosto.
Silvia, seu nome nos lábios dele soou como uma oração. Você tem certeza? Porque depois disso não haverá volta. Ela cobriu as mãos dele com as suas. Eu sei. O beijo começou suave, quase irreverente, mas rapidamente se intensificou. Semanas de tensão reprimida explodiram entre eles. Roberto a pressionou gentilmente contra a parede do hall de entrada, suas mãos explorando o contorno de seu corpo por cima do vestido elegante que ela usara para jantar com os pais dele. “Você é tão linda”, murmurou contra seus lábios
desde o primeiro dia, mesmo quando tentava passar despercebida no escritório. “Você me notava?” A pergunta saiu entrecortada entre beijos. Notava tudo. A forma como mordia o lábio quando se concentrava, como seus olhos brilhavam quando sorria para os colegas. Ele trilhou beijos pela linha de seu pescoço. Como nunca sorria assim para mim. Silvia se derreteu com suas palavras.
Havia tanta vulnerabilidade naquela confissão, tanta honestidade nua, que a fez perceber que Roberto havia estado lutando contra seus sentimentos há muito mais tempo do que ela imaginara. Roberto. Ela entrelaçou os dedos em seus cabelos escuros. Eu queria sorrir para você. Só não sabia se podia. Ele se afastou o suficiente para olhar em seus olhos.
E agora pode? Em resposta, ela lhe deu o sorriso mais genuíno e radiante que já oferecera a alguém. O efeito foi imediato. Os olhos dele se aqueceram de uma forma que a fez sentir como se fosse a mulher mais desejada do mundo. Eles se moveram para o quarto em uma dança lenta e cheia de descobertas. Roberto tirou os grampos do cabelo dela, deixando que as ondas douradas caíssem pelos ombros.
Ela desfez sua gravata com dedos ligeiramente trêmulos, admirando como ele a observava com tanta intensidade. “Você já?” Ele parou de perguntar, lembrando-se do áudio que havia mudado tudo entre eles. “Nunca”, confirmou ela, corada, mas sem vergonha. “Eu sempre quis que a primeira vez fosse especial”.
Roberto parou completamente o que estava fazendo e a olhou com uma expressão que misturava surpresa, responsabilidade e algo mais profundo. “Silvia, se você quer esperar, eu esperei 22 anos pelo homem certo.” Ela tocou seu rosto e ele está aqui agora. O que aconteceu depois foi mais terno e apaixonado do que qualquer sonho que Silvia já tivera.
Roberto foi paciente, carinhoso, dedicando-se completamente a fazê-la se sentir amada e desejada. Quando finalmente se uniram, foi com uma conexão que ia muito além do físico. Depois, deitados, entrelaçados nos lençóis de seda, Silvia traçava círculos preguiçosos no peito de Roberto. A realidade do que havia acontecido estava começando a se instalar junto com todas as complicações que traria.
“Em que está pensando?”, perguntou ele, beijando o topo de sua cabeça. “Em como tudo mudou?” Ela se apoiou no cotovelo para olhá-lo. O que fazemos agora? Roberto suspirou, passando os dedos pelos cabelos dela. Não sei. Isso não estava nos planos. Se arrepende de você? Nunca. Sua resposta foi imediata e feroz, mas me preocupo com o que isso significa para nosso acordo.
Silvia sentiu uma pontada de medo. Quer cancelar tudo? Não. Ele a puxou mais para perto. Mas agora é real, Silvia. O que sentimos um pelo outro é real e isso torna tudo mais complicado. Não tem que ser complicado, não. E quando os seis meses acabarem, quando eu não precisar mais de uma noiva falsa. Seus olhos a estudaram intensamente.
O que acontece conosco? Era uma pergunta para a qual nenhum dos dois tinha resposta. O acordo original previa um fim limpo, um término amigável, uma separação sem complicações. “Mas como se separar de alguém que você ama? Vamos descobrir”, disse Silvia finalmente. Juntos. Roberto sorriu pela primeira vez desde que chegaram ao apartamento. Juntos.
As semanas que se seguiram foram as mais felizes da vida de Silvia. A linha entre fingimento e realidade havia desaparecido completamente. Roberto ainda era se durante o dia, mas a noite se transformava no homem mais atencioso e apaixonado que ela poderia imaginar. Eles desenvolveram rotinas íntimas que aqueciam o coração de Silvia.
Roberto aparecia em seu apartamento com o café da manhã favorito dela. Croaçãs da padaria francesa em Pinheiros que custavam mais do que ela ganhava em um dia. Eles cozinhavam juntos nos fins de semana. experimentando receitas complicadas que geralmente resultavam em desastres deliciosos e muitas risadas. Uma noite, Roberto a surpreendeu com um presente que quase a fez chorar.
“O que é isso?”, perguntou ela, olhando a caixa elegante que ele colocara sobre a mesa de jantar. “Abra! Dentro estava uma primeira edição de Dom Casmurro de Machado de Assis, em perfeito estado de conservação. Roberto, isso deve ter custado uma fortuna. Você mencionou que é seu livro favorito”, disse ele, quase tímido, e que perdeu a cópia do seu pai no incêndio.
Silvia olhou para ele com lágrimas nos olhos. O fato de ele ter se lembrado daquele detalhe íntimo, ter se importado o suficiente para procurar uma primeira edição, era mais romântico do que qualquer joia cara. “É perfeito”, sussurrou, abraçando-o. “Você é perfeito.” Mas nem tudo era um conto de fadas.
Quanto mais tempo passavam juntos, mais Silvia se sentia culpada por esconder a verdade de sua mãe. Clara estava se recuperando bem, os tratamentos no sírio libanês fazendo milagres que os médicos da rede pública disseram ser impossíveis. “Quero conhecer esse namorado misterioso”, insistia Clara durante uma das visitas.
“Que tipo de homem consegue fazer minha filha brilhar assim?” Em breve, mãe”, prometia Silvia, sabendo que estava prolongando uma mentira que se tornava mais dolorosa a cada dia. Roberto também enfrentava seus próprios dilemas. Durante uma reunião de diretoria, seu pai mencionou casualmente os planos para o casamento. “Pensei que poderíamos fazer algo no verão”, disse Eduardo.
“A fazenda em Campinas seria perfeita para uma cerimônia ao ar livre”. Roberto quase se engasgou com o café. “Pai, ainda não discutimos datas. Não deixem passar muito tempo, aconselhou Margarete. Vocês dois são perfeitos juntos e Silvia será uma adição maravilhosa à família. Cada comentário bem intencionado de seus pais era como uma punhalada de culpa.
Roberto estava enganando pessoas que amava, construindo esperanças que sabia que teria que destruir. O primeiro teste real de sua nova dinâmica veio três semanas depois de sua noite juntos. Roberto havia sido convidado para um evento beneficente na fazenda da família, a propriedade de 600 hactares em Campinas, onde seu avô havia construído um império agrícola antes de se mudar para a construção civil.
“Quero que você conheça a fazenda”, disse ele uma quinta-feira de manhã e minha avó Carmen estará lá. Ela é especial. especial como tem 82 anos, mente afiada como uma navalha e um detector de mentiras embutido que seria a inveja da Polícia Federal. Roberto sorriu com carinho. Se ela aprovar você, metade da batalha estará ganha. E se não aprovar, vamos torcer para que aprove. A viagem para Campinas numa sexta-feira de tarde foi uma revelação.
Conforme deixavam o concreto de São Paulo para trás, Silvia havia um Brasil que só conhecia de fotografias. Campos Verdes se estendendo até o horizonte, fazendas prósperas, uma tranquilidade que contrastava dramaticamente com o caos urbano. A fazenda do Silva era impressionante.
A sede principal era uma casa colonial restaurada que irradiava história e tradição. Jardins meticulosamente cuidados se espalhavam ao redor da construção. E, no fundo, Silvia podia ver estábulos elegantes onde cavalos árabes pastavam pacificamente. É lindo”, sussurrou ela quando o carro parou em frente à varanda principal. “Era o lugar favorito do meu avô”, disse Roberto, orgulho evidente em sua voz.
Ele dizia que um homem que não podia criar coisas da terra não merecia construir coisas da cidade. Dona Carmen os esperava na varanda. Uma mulher pequena, mas imponente, com cabelos prateados, presos em um coque elegante e olhos que pareciam ver através das pessoas. Usava um vestido simples, mas impecável. e carregava uma bengala que claramente não precisava para se apoiar. Roberto, meu menino”, disse ela, abraçando o neto com carinho genuíno.
“E esta deve ser a famosa Silvia que tem deixado sua mãe em êxtase. Dona Carmen, é uma honra conhecê-la”, disse Silvia, estendendo a mão respeitosamente. Carmen ignorou a mão e a examinou dos pés a cabeça com uma franqueza que teria sido rude vinda de qualquer outra pessoa.
“Bonita,” anunciou finalmente, mas já esperava isso. Roberto sempre teve bom gosto para mulheres bonitas. Seus olhos se estreitaram ligeiramente. A questão é se tem substância para acompanhar a beleza. Vovó, começou Roberto, mas Carmen o silenciou com um olhar. Quieto, menino. Estou conversando com sua noiva. Ela se virou de volta para Silvia. Que tal um passeio pelo jardim, querida? Quero conversar com você a sós.
O convite claramente não admitia a recusa. Silvia olhou nervosamente para Roberto, que lhe deu um sorriso encorajador, mas preocupado. “Vá”, disse ele. “Estarei aqui quando vocês voltarem.” Carmen a guiou pelos jardins com passos surpreendentemente ágeis. Por alguns minutos, elas caminharam em silêncio. Carmen aparentemente absorta na contemplação de suas rosezeiras.
Sabe”, disse ela finalmente. “Meu falecido marido costumava dizer que podia julgar o caráter de uma pessoa pela forma como ela tratava os animais e os empregados. Ela parou perto de um lago artificial onde patos nadavam tranquilamente, mas eu sempre preferi uma abordagem mais direta.
” “Sim, senhora, porque você ama meu neto?” A pergunta foi direta como um tiro. Silvia sentiu seu coração acelerar. Como explicar sentimentos que ela mesma ainda estava tentando entender? Porque ele me faz querer ser uma versão melhor de mim mesma”, respondeu honestamente. “E porque por baixo de toda aquela armadura empresarial, ele tem um coração que poucos conseguem ver.” Carmen a estudou em silêncio por um longo momento.
“Eli ama você?” “Sim.” A resposta saiu sem hesitação e Silvia percebeu que acreditava completamente nela. Bom, Carmen sorriu pela primeira vez porque estava preocupada que esta fosse outra Vanessa. A senhora conheceu Vanessa? Infelizmente. O desgosto na voz de Carmen era palpável.
Uma criatura calculista que via Roberto como um trampolim social. Ela o machucou profundamente, sabe? Fez com que ele desconfiasse de qualquer mulher que se aproximasse dele. Silvia sentiu uma pontada de culpa. Carmen não sabia quão próxima estava da verdade sobre os motivos iniciais de Silvia. “Mas você é diferente”, continuou Carmen. “Posso ver nos olhos dele quando olha para você e posso ver nos seus olhos também.
Amor verdadeiro não pode ser fingido se ela soubesse.” Pensou Silvia amargamente. “Venha”, disse Carmen, voltando em direção à casa. “Vamos tomar um chá e você me conta sobre sua família. Quero saber tudo sobre a mulher que conquistou o coração do meu neto. O resto da tarde passou agradavelmente. Carmen se revelou uma anfitriã encantadora e uma conversadora fascinante com histórias da família que remontavam há décadas.
Silvia se viu genuinamente gostando da mulher mais velha, o que tornava sua desonestidade ainda mais dolorosa. Quando o sol começou a se pôr, Roberto a encontrou na varanda, observando os campos dourados que se estendiam além dos jardins. “Como foi o interrogatório?”, perguntou ele, envolvendo-a por trás com os braços.
“Intimidador, mas acho que passei no teste. Ela gostou de você, posso perceber.” Roberto beijou seu pescoço suavemente, assim como eu. Silvia se aninhou contra ele, sentindo-se segura e amada de uma forma que nunca experimentara antes. O cenário era perfeito, o sol dourado, os campos tranquilos, o homem que amava, segurando-a como se ela fosse a coisa mais preciosa do mundo.
Roberto, hum, se as coisas fossem diferentes, se tivéssemos nos conhecido de outra forma, você acha que teríamos chegado aqui anyway. Ele ficou em silêncio por um momento, considerando a pergunta. “Sim”, disse finalmente. “Talvez tivesse demorado mais. Talvez o caminho fosse diferente, mas sim, acho que teríamos chegado aqui. Como pode ter tanta certeza?” Roberto a girou para que ficasse de frente para ele.
“Porque algumas coisas são destino, Silvia, e você? Você sempre foi meu destino. Ele a beijou ali mesmo na varanda, com o sol se pondo atrás deles e a fazenda da família servindo de testemunha silenciosa. Silvia se perdeu completamente no momento, esquecendo por alguns minutos que aquilo havia começado como uma mentira. Mas mentiras têm vida própria.
E a deles estava prestes a se complicar, de forma que nenhum dos dois podia imaginar, porque no dia seguinte Vanessa Cort chegaria inesperadamente à fazenda para o que diria ser uma visita de cortesia à família Silva. Na verdade, ela vinha para a guerra. Amanhã seguinte, amanheceu límpida e fresca na fazenda.
Silvia acordou nos braços de Roberto, no quarto de hóspedes elegante que dona Carmen lhes designara. quartos separados. Ela fizera questão de frisar com um sorriso maroto para manter as aparências. Mas Roberto havia se perdido durante a madrugada e aparecido em sua cama, onde passaram a noite entrelaçados em uma intimidade que ia muito além do físico.
“Bom dia, linda”, murmurou Roberto contra seu cabelo, a voz rouca de sono. “Bom dia, Silvia se virou para enfrentar seus olhos escuros, ainda impressionada como aquele homem poderoso podia parecer tão jovem e vulnerável nos primeiros momentos da manhã. Dormiu bem? Melhor do que dormir em anos. Ele traçou o contorno de seu rosto com o dedo. Você me faz sentir em paz.
Era uma confissão tocante. E Silvia se inclinou para beijá-lo suavemente, quando uma batida enérgica na porta os fez se separarem rapidamente. Roberto, Silvia. A voz de dona Carmen chegou através da madeira. O café da manhã está servido e temos uma visita inesperada. Roberto franziu a testa.
Quem viria até aqui sem avisar? Eles se vestiram rapidamente e desceram para o salão de café da manhã. A mesa estava posta elegantemente na varanda com vista para os jardins, mas a atmosfera estava tensa. Dona Carmen parecia visivelmente contrariada e no centro da tensão estava uma figura familiar que fez o estômago de Silvia afundar. Vanessa Cortz. Ela estava deslumbrante, como sempre, em um vestido de linho branco que custava uma fortuna e óculos de sol de grife parecendo ter saído diretamente de uma revista de moda.
Seu sorriso era perfeito e afiado como uma lâmina. “Roberto, que sorte encontrá-lo aqui”, disse ela, levantando-se para beijar suas bochechas como se fossem velhos amigos. E Silvia, claro, que surpresa deliciosa, Vanessa. O tom de Roberto era gelado. O que está fazendo aqui? Vim visitar dona Carmen, é claro. Fazem meses que não conversamos.
Vanessa se virou para a mulher mais velha com um sorriso que não convencia ninguém. Espero que não se importe com a visita inesperada. Claro que não, querida, respondeu dona Carmen educadamente, mas seus olhos estavam afiados. Embora seja incomum você vir sem avisar. Spur of the moment, disse Vanessa em inglês, claramente para marcar diferenças sociais. Estava passando por Campinas a negócios e pensei: “Por que não fazer uma visita?” Silvia notou como Vanessa usava pequenos marcadores de classe, o inglês casual, a referência a negócios em Campinas, como se fosse natural para ela circular por qualquer lugar do estado. Os óculos de sol que custavam mais que um carro
popular. Tudo calculado para lembrar a todos presente qual era seu lugar na hierarquia social. “Sente-se, por favor”, ofereceu Roberto, sempre educado, apesar da tensão óbvia. “Vai tomar café conosco?” Adoraria. O café da manhã, que havia prometido ser perfeito, se transformou em um campo minado social.
Vanessa dominava a conversa com maestria, lembrando de velhos tempos com Roberto, fazendo perguntas aparentemente inocentes sobre Silvia, que tinham segundas intenções claras. “Silvia, Roberto me contou que vocês se conheceram no trabalho”, disse ela, espalhando geleia artesanal em uma torrada. “Que departamento você chefia? Na verdade, eu trabalho como assistente administrativa”, respondeu Silvia calmamente.
“Ah, Vanessa fez uma pausa significativa. Como interessante! Roberto sempre foi fascinado por projetos de caridade. A frase foi dita com tanta doçura venenosa que até dona Carmen pareceu se contrair. Roberto colocou a xícara de café na mesa com força suficiente para fazer barulho. Silvia não é um projeto de caridade, Vanessa. É a mulher que amo. Claro.
Não quis dar a entender outra coisa. Vanessa sorriu inocentemente. É só que é tão romântico um CEO multimilionário se apaixonando por uma funcionária. Como nos filmes, cada palavra era uma pequena humilhação, cuidadosamente embrulhada em educação social. Silvia sentia o sangue ferver, mas forçou-se a manter a compostura.
Às vezes as melhores histórias são as mais simples, replicou Roberto. Viu em mim algo além do meu cargo no trabalho. Tenho certeza que viu. Vanessa riu delicadamente. E sua família, Silvia. Roberto mencionou que sua mãe está doente. Era um golpe baixo e todos à mesa perceberam. Usar a doença da mãe de Silvia como munição social ultrapassava todas as linhas de decência.
Vanessa”, disse dona Carmen friamente. “Talvez devêsemos falar de assuntos mais alegres.” Tem razão. Desculpem. Vanessa não parecia nem um pouco arrependida. Roberto, lembra quando íamos cavalgar juntos nestas trilhas? Passávamos horas explorando a propriedade e assim começou uma série de lembranças que eram claramente destinadas a fazer Silvia se sentir como uma intrusa.
Vanessa falava de viagens que fizera com Roberto, de eventos familiares dos quais participara, de tradições do Silva que conhecia intimamente. “Lembra do Natal de dois anos atrás?”, perguntou ela em determinado momento. Quando construímos aquele boneco de neve ridículo perto do lago, Roberto estava visivelmente desconfortável. Vanessa, isso foi há muito tempo. Foi mesmo? Como o tempo voa? Ela se virou para Silvia com falsa simpatia.
Você já experimentou um Natal aqui na fazenda, Silvia? É uma tradição familiar adorável. Ainda não, respondeu Silvia, sentindo-se cada vez menor. Ah, mas terá oportunidade este ano, não é? assumindo que bem que vocês ainda estejam juntos até lá. A implicação era clara, que o relacionamento de Roberto e Silvia era temporário, uma fase que passaria.
Roberto finalmente perdeu a paciência. Vanessa, não sei qual é seu jogo, mas Silvia e eu vamos nos casar. É melhor você se acostumar com isso. Casar? Os olhos de Vanessa brilharam perigosamente. Que maravilhoso. Quando será o grande dia? Ainda estamos decidindo os detalhes”, respondeu Silvia rapidamente.
“Claro, essas coisas levam tempo para planejar adequadamente, especialmente quando se quer fazer tudo certo.” Vanessa sorriu doçosamente. Imagino que seja um mundo completamente novo para você, Silvia. Tantas tradições para aprender, tantas pessoas importantes para conhecer. “Silvia está se adaptando perfeitamente”, interrompeu dona Carmen. E Silvia sentiu uma onda de gratidão pela mulher mais velha. Tenho certeza que sim.
É só que bem, é uma mudança e tanto da zona leste para os jardins, por assim dizer. Vanessa riu como se tivesse feito uma piada inocente. A referência à origem humilde de Silvia foi o último golpe. A tensão na mesa estava palpável quando Roberto se levantou abruptamente. Vanessa, posso falar com você em particular? Claro. Eles se afastaram da mesa, caminhando em direção aos jardins.
Silvia podia vê-los conversando intensamente, Roberto, claramente bravo e Vanessa gesticulando dramaticamente. Dona Carmen observava a interação com olhos afiados. “Não se deixe intimidar por ela, querida”, disse a mulher mais velha suavemente. Vanessa sempre foi complicada. Ela conhece Roberto há muito tempo, três anos.
Eles namoraram por dois. Dona Carmen suspirou. Ela queria se casar, ele não estava pronto. Quando terminaram, ela não aceitou bem. E agora ela quer ele de volta. Agora ela quer provar que pode tê-lo de volta. Dona Carmen olhou diretamente nos olhos de Silvia, mas está lutando uma batalha perdida. Posso ver como ele olha para você. Já é diferente. Diferente como? Como se finalmente tivesse encontrado sua casa.
As palavras tocaram profundamente Silvia, mas também intensificaram sua culpa. Se dona Carmen soubesse que tudo havia começado como uma mentira, Roberto e Vanessa voltaram da conversa particular, ambos com expressões controladas mais tensas. Vanessa se despediu educadamente, prometendo manter contato de uma forma que soou mais como uma ameaça que uma cortesia.
Foi um prazer revê-los”, disse ela, beijando as bochechas de Roberto de forma ligeiramente mais demorada que o necessário. “Silvia, espero que nos vejamos novamente em breve”. Depois que ela partiu, o alívio foi palpável. Roberto se sentou pesadamente na cadeira, passando as mãos pelos cabelos. “Sinto muito por isso”, disse ele para Silvia. “Ela não tinha direito de tratá-la assim.” “O que ela queria?”, perguntou dona Carmen diretamente.
Roberto hesitou. Ela fez algumas insinuações sobre nosso relacionamento. Sugeriu que eu estava sendo impulsivo, que deveria pensar bem antes de me casar. E o que você disse? Que ela deveria cuidar da própria vida e nos deixar em paz. Dona Carmen assentiu com aprovação, mas Silvia notou que Roberto parecia perturbado.
As palavras de Vanessa haviam plantado sementes de dúvida, mesmo que ele não quisesse admitir. O resto do dia na fazenda passou mais tranquilo, mas a visita de Vanessa havia deixado uma sombra sobretudo. Durante um passeio a cavalo pela propriedade, Silvia nunca havia montado antes e Roberto foi paciente, ensinando-a. Ela percebeu que ele estava mais quieto que o normal.
Você está bem?”, perguntou ela quando pararam perto de um córrego para deixar os cavalos beberem água. Estou pensando no que Vanessa disse. O coração de Silvia afundou. Sobre mim não pertencer a este mundo. Sobre nós estarmos indo muito rápido. Roberto desceu do cavalo e ajudou-a a descer também. Talvez ela tenha razão. Você acha que estamos? Roberto a puxou para seus braços, mas havia uma hesitação que não existira antes. Não sei, Silvia.
Seis meses atrás, eu era um solteiro convicto, focado apenas no trabalho. Agora estou falando de casamento com uma mulher que conhecia há três meses. Conheceu ou começou a conhecer de verdade? A pergunta saiu mais afiada que ela pretendia. Você sabe o que quero dizer? Sei. E talvez Vanessa tenha conseguido o que queria. Silvia se afastou dele. Plantar dúvidas.
Não são dúvidas sobre você, Silvia. São dúvidas sobre mim, sobre se posso fazer você feliz. se posso ser o homem que você merece. Era uma vulnerabilidade tocante, mas também perigosa. Silvia podia ver como as palavras venenosas de Vanessa estavam trabalhando na mente de Roberto, fazendo-o questionar não apenas o relacionamento, mas a si mesmo. Roberto, ela pegou seu rosto entre as mãos.
Você não precisa ser perfeito, só precisa ser você. E se não for suficiente, é mais que suficiente. É tudo. Ele a beijou ali mesmo ao lado do córrego, com os cavalos pastando tranquilamente e o sol da tarde criando um cenário idílico. Mas Silvia podia sentir que algo havia mudado.
Vanessa havia conseguido introduzir uma rachadura na armadura de Roberto, uma dúvida que cresceria se não fosse cuidada. Eles voltaram para São Paulo no domingo à noite, mas a viagem foi mais silenciosa que o normal. Roberto parecia perdido em pensamentos e Silvia se sentia como se estivesse perdendo-o lentamente para as vozes de dúvida que Vanessa havia plantado.
Na segunda-feira de manhã, quando Roberto a deixou no apartamento após uma noite inquieta, Silvia teve um pressentimento terrível de que a guerra que Vanessa havia declarado estava apenas começando e ela não fazia ideia de quão certo estava. Nas duas semanas que se seguiram à visita de Vanessa à fazenda, Silvia percebeu mudanças sutis, mas preocupantes em Roberto.
Ele continuava carinhoso e atencioso, mas havia uma distração em seus olhos, uma hesitação que não existira antes. Pequenos momentos de insegurança que Vanessa havia plantado começavam a florescer em dúvidas reais. “Você tem certeza de que quer ir ao baile beneficente da próxima semana?”, perguntou ele durante um jantar no apartamento dela. Será um evento grande, muita mídia, muitas pessoas do nosso círculo social.
Nosso círculo social? Silvia colocou o garfo na mesa. Desde quando você fala assim? Roberto pareceu surpreso com sua própria palavra. Não quis dizer nada com isso. Não, porque parece que você está começando a me ver como Vanessa me vê. Uma intrusa que não pertence ao seu mundo.
Silvia, isso não é verdade, não é? Então, por que de repente você está preocupado se posso ou não lidar com eventos sociais? Não lidei bem com a festa no Rio? Não impressionei seus pais? Não passei no teste da sua avó? Roberto suspirou e passou a mão pelos cabelos, um gesto que ela agora reconhecia como sinal de estresse interno. Você se saiu perfeitamente em tudo.
É só que ele lutou para encontrar as palavras. Talvez eu esteja sendo egoísta. Talvez esteja pedindo demais de você. Ou talvez você esteja ouvindo vozes do passado que não deveria escutar. A acusação pairou no arre. Roberto não negou, o que foi mais revelador que qualquer confissão. O evento em questão era o baile anual de uma fundação que combatia o câncer infantil, um dos maiores eventos sociais de São Paulo, realizado no Palácio dos Bandeirantes, com a presença de políticos, empresários e celebridades. Roberto era um dos principais
patrocinadores e sua presença era não apenas esperada, mas necessária. Você não precisa ir se não se sentir confortável”, insistiu ele na manhã do evento. Roberto Silva, disse Silvia, virando-se para encará-lo completamente. Sou sua noiva. Vou estar ao seu lado neste evento e em todos os outros que forem importantes para você.
A questão é: você quer que eu esteja lá? Claro que quero. Então pare de me tratar como se eu fosse frágil demais para lidar com sua vida real. O baile estava deslumbrante. O Palácio dos Bandeirantes havia sido transformado em um cenário de conto de fadas, com flores brancas, luzes douradas e uma orquestra tocando música clássica.
Silvia usava um vestido de gala azul noite que Roberto havia escolhido pessoalmente, uma criação de um estilista brasileiro famoso que realçava sua silhueta e fazia seus olhos verdes brilharem como esmeraldas. Você está deslumbrante”, sussurrou Roberto quando desceram do carro, oferecendo-lhe o braço. “Obrigada, você também está muito elegante.
” Eles entraram juntos no salão principal e Silvia imediatamente notou as cabeças se virando, os sussurros, os flashes discretos dos fotógrafos sociais. Ser a noiva de Roberto Silva significava estar sempre sob escrutínio, algo a que ela havia se acostumado, mas que ainda a deixava ligeiramente nervosa. Roberto, que prazer vê-lo. Um homem corpulento de cabelos brancos se aproximou.
Silvia o reconheceu como o prefeito da cidade. E a adorável Silvia, como está, minha querida? Muito bem, senhor prefeito. Obrigada por perguntar. A noite transcorreu suavemente nas primeiras horas. Silvia conversou com esposas de empresários sobre arte e literatura, dançou com Roberto ao som da orquestra e participou de um leilão beneficente, onde ele arrematou uma obra de arte por uma quantia que faria sua cabeça girar meses atrás.
“Você está se saindo perfeitamente”, murmurou Roberto em seu ouvido durante uma pausa entre as danças. “Como sempre, Silvia sorriu, sentindo-se finalmente relaxada. Talvez suas preocupações sobre a influência de Vanessa fossem exageradas. Talvez Roberto realmente tivesse superado as dúvidas que ela plantara. Foi então que Vanessa chegou.
Ela fez uma entrada digna de tapete vermelho, deslumbrante em um vestido dourado que parecia ter sido derramado sobre seu corpo perfeito. Não estava acompanhada, o que significava que todos os homens solteiros e alguns casados logo gravitariam ao seu redor. “Meu Deus!”, murmurou uma mulher próxima a Silvia. Vanessa Cortz está radiante esta noite.
Ouvi dizer que ela e Roberto Silva estão se reaproximando”, comentou outra em voz baixa. “Que pena para a noiva atual, ela parecia tão agradável. Silvia sentiu um frio na barriga. Os rumores já haviam começado e Vanessa nem sequer havia falado com eles ainda. Era uma mestra em manipulação social. “Ignó-as”, sussurrou Roberto, claramente tendo ouvido os comentários. São só fofocas. Mas Silvia podia ver que ele também estava tenso.
A presença de Vanessa tinha o poder de desestabilizá-lo de uma forma que a fazia questionar tudo o que pensava saber sobre o relacionamento deles. Vanessa se aproximou durante o jantar, quando todos estavam sentados em mesas elegantemente postas. Ela cumprimentou diversos conhecidos antes de casualmente parar na mesa, onde Roberto e Silvia estavam com outros casais importantes.
“Roberto, Silvia, que coincidência deliciosa”, disse ela, como se não tivesse planejado exatamente aquela aproximação. “Posso me juntar a vocês por alguns minutos? Minha mesa está terrível, pura política, muito chata.” Antes que alguém pudesse objetar, ela já havia se sentado na cadeira vazia ao lado de Roberto.
O movimento foi suave e natural, mas colocou-a em posição estratégica para dominar a conversa. Silvia, que vestido deslumbrante, disse Vanessa com um sorriso que não chegava aos olhos. Reconheço o trabalho do cavaleira. Roberto sempre teve bom gosto para escolher roupas femininas. A implicação era sutil, mas clara.
Roberto havia escolhido roupas para outras mulheres antes. Silvia forçou um sorriso educado. Obrigada. Roberto realmente tem um olho excelente para elegância. Tem mesmo. Lembro quando me levou aquela boutique maravilhosa em Paris. Como era o nome mesmo, Roberto. Aquela na Rui Sentonoré. Roberto se mexeu desconfortavelmente na cadeira. Vanessa, isso foi há muito tempo. Foi mesmo.
Mas algumas memórias ficam, não é? Ela riu delicadamente e se virou para os outros na mesa. Vocês conhecem a história de como Roberto e eu nos conhecemos? Foi em um evento exatamente como este há três anos. E assim começou uma narrativa cuidadosamente construída sobre o relacionamento passado dela com Roberto.
Vanessa falava com nostalgia carinhosa sobre viagens que fizeram juntos, eventos que frequentaram, momentos íntimos que compartilharam. Cada palavra era escolhida para fazer Silvia se sentir como uma substituta temporária em vez de uma escolha definitiva. “Roberto sempre foi incrivelmente romântico”, disse Vanessa em determinado momento, tocando levemente o braço dele.
“Lembra daquele fim de semana em Búzios, quando você me surpreendeu com um jantar na praia? Tinha velas por toda a areia?” “Vanessa!” Roberto finalmente interrompeu sua voz tensa. Acho que todos já entenderam que temos história. Claro. Desculpem-me. Ela sorriu inocentemente. É só que é tão raro encontrar pessoas que compartilharam tantos momentos especiais conosco, não é? O dano estava feito.
Os outros na mesa agora olhavam para Silvia com uma mistura de curiosidade e piedade, claramente imaginando como ela se sentia ouvindo sobre o grande amor do passado de seu noivo. Silvia manteve a compostura. Mas por dentro estava fervendo. Não era apenas a humilhação pública, era a forma como Roberto permitia que aquilo acontecesse.
Ele estava desconfortável, sim, mas não estava efetivamente defendendo-a ou encerrando o show de Vanessa. A situação piorou quando Vanessa casualmente mencionou que havia encontrado algumas fotos antigas enquanto organizava seus pertences. “Na verdade”, disse ela tirando o telefone da bolsa. Encontrei a mais adorável foto nossa da última vez que estivemos na fazenda da família. Roberto.
Quer ver? Antes que ele pudesse recusar, ela estava mostrando a foto para a mesa inteira. Era uma imagem de Roberto e Vanessa em cavalos, ele ajudandoa a montar, ambos rindo com intimidade clara e familiar. Que lindo! Comentou uma das mulheres na mesa. Vocês formavam um casal perfeito. Formávamos, não é? Vanessa suspirou dramaticamente.
Às vezes o timing simplesmente não é o certo, mas a vida sempre nos dá segundas chances. Silvia sentiu como se tivesse levado um soco no estômago. A implicação era cristalina. Vanessa acreditava que Roberto voltaria para ela, que o relacionamento com Silvia era apenas uma fase.
Com licença! Disse Silvia, levantando-se abruptamente. Preciso ir ao banheiro. Roberto se levantou também. Silvia, eu vou com você. Não precisa. Sua voz saiu mais afiada que pretendia. Fique com seus convidados. Silvia se dirigiu ao banheiro feminino, tentando manter a dignidade enquanto sentia os olhares curiosos a seguindo. Uma vez sozinha, permitiu-se alguns momentos para se recompor.
Olhou-se no espelho e viu uma mulher elegante e sofisticada, mas por baixo de toda aquela transformação externa ainda era a mesma Silvia, que se sentia como uma intrusa naquele mundo. Quando voltou ao salão principal, viu algo que fez seu sangue gelar. Roberto e Vanessa estavam conversando intensamente perto do bar, afastados dos outros convidados.
Ela estava muito próxima dele, uma mão no braço dele falando de forma urgente e Roberto Roberto estava ouvindo com uma atenção que fez o coração de Silvia afundar. Ela se aproximou devagar, tentando ouvir a conversa. Só estou preocupada com você, Roberto. Vanessa estava dizendo.
Você sempre foi impulsivo quando se trata de projetos de recuperação. Silvia não é um projeto de recuperação. Não. Uma garota da zona leste, sem educação formal, sem família de posses. E de repente você está falando de casamento? Vanessa balançou a cabeça tristemente. Parece muito com aquela fase em que você queria salvar todo mundo.
Isso é diferente, é? Ou você está confundindo gratidão com amor? Vanessa se inclinou mais próxima. Roberto, nós dois sabemos que você tem tendência a confundir compaixão com paixão. Lembra de como se sentiu responsável por mim no início? Até perceber que eu não precisava ser salva? Silvia parou de respirar.
Vanessa estava atacando exatamente onde Roberto era mais vulnerável, sua tendência a querer proteger e cuidar dos outros. “Silvia é diferente”, repetiu Roberto, mas havia menos convicção em sua voz. “Tenho certeza de que é. Ela parece uma moça adorável, mas adorável o suficiente para você passar a vida inteira fingindo ser algo que não é?” Vanessa fez uma pausa estratégica.
Porque é isso que você está fazendo, não é? fingindo que diferenças de classe não importam, que vocês têm algo em comum além da situação que os uniu. Nós temos muito em comum. Como o quê? Que livros vocês discutem? Que lugares visitaram juntos antes de ela se tornar sua projeto? Que amigos tem em comum? Cada pergunta era uma pequena lâmina cortando as bases do relacionamento deles. E o pior era que Vanessa tinha a habilidade suficiente para fazer parecer que suas preocupações eram genuínas.
Eu amo ela”, disse Roberto, mas sua voz soou mais como se estivesse tentando convencer a si mesmo. “Tenho certeza de que sim, do seu jeito.” Vanessa tocou seu rosto suavemente. “Mas amor baseado em piedade não é sustentável, Roberto. Eventualmente você se ressentirá de ter que fingir ser alguém que não é e ela se ressentirá de nunca ser realmente aceita.” Foi então que Silvia decidiu intervir.
Não podia ficar ali ouvindo Roberto ser manipulado. “Desculpem a interrupção”, disse ela, aproximando-se com um sorriso que não sentia. “Roberto, estão anunciando o próximo leilão. Você não queria participar?” Vanessa se afastou de Roberto casualmente, mas Silvia podia ver o triunfo em seus olhos. A semente da dúvida havia sido plantada e estava crescendo.
“Claro”, disse Roberto, parecendo quase aliviado pela interrupção. “Vanessa, foi esclarecedor conversar com você. Sempre é um prazer, Roberto. Cuidem-se. Eles voltaram para a mesa, mas a atmosfera entre eles havia mudado fundamentalmente. Roberto estava distraído, claramente processando as palavras de Vanessa.
Silvia podia quase ver os pensamentos girando em sua cabeça. O resto da noite passou em uma névoa tensa. Eles dançaram quando necessário, conversaram quando apropriado, sorriram para as câmeras quando preciso, mas havia uma distância entre eles que não existira. Antes, um muro invisível que Vanessa havia conseguido erguer com apenas algumas palavras bem escolhidas no carro.
Voltando para casa, o silêncio era ensurdecedor. “Você vai me contar o que ela disse?”, perguntou Silvia finalmente. Roberto hesitou. “Nada importante, Roberto?” Sua voz estava calma, mas havia uma firmeza nela que ele raramente ouvia. “Não minta para mim. Já temos mentiras suficientes entre nós. A última frase saiu antes que ela pudesse se deter. Era uma referência perigosa à origem falsa de seu relacionamento.
O que você quer dizer com isso? Silvia percebeu que havia se aproximado de um precipício. Quero dizer que não podemos começar a ter segredos agora. Roberto parou o carro em um semáforo e a olhou diretamente. Ela disse que acha que estou confundindo compaixão com amor, que você é outro dos meus projetos de recuperação. A honestidade brutal das palavras foi como um tapa. E você acredita nela? Não sei.
A admissão saiu como um sussurro. Talvez eu sempre tenha uma tendência a querer salvar as pessoas. E é isso que você acha que está fazendo comigo, me salvando? Roberto ficou em silêncio por tanto tempo que Silvia achou que ele não responderia. No início. Talvez sim, disse ele finalmente.
Mas depois, depois o quê? Depois me apaixonei por você, de verdade. Mas, mas talvez Vanessa tenha razão sobre nossas diferenças. Talvez eu esteja sendo egoísta, pedindo para você mudar toda sua vida para caber na minha. Silvia sentiu lágrimas queimando seus olhos.
E se eu quiser mudar? E se eu escolher esta vida? Porque te amo? Ou porque se sente obrigada por tudo que fiz pela sua mãe? A pergunta pairou no ar como veneno. Era a dúvida que Vanessa havia plantado e estava crescendo como uma erva daninha entre eles. Roberto Silva, disse Silvia, sua voz tremendo de emoção.
Se você realmente acha que estou com você por obrigação, então não me conhece mesmo. Silvia, pare? Quero descer. Não seja ridícula. Estamos no meio da Avenida Paulista, então me leve para casa e quando chegamos lá, quero que você pense muito bem sobre o que realmente sente por mim. Porque eu não vou competir com fantasmas do passado ou ser tratada como um projeto de caridade. O resto da viagem passou em silêncio total.
Quando Roberto a deixou no prédio, ele tentou falar, mas ela o interrompeu. Boa noite, Roberto. Quando você descobrir se me ama ou apenas tem pena de mim, me deixe saber. Ela saiu do carro e subiu para o apartamento sem olhar para trás, deixando Roberto sozinho com suas dúvidas e a satisfação distante de Vanessa, que havia conseguido exatamente o que queria. A guerra estava apenas começando.
Os próximos dias passaram em uma tensão quase insuportável. Roberto não ligou, não mandou mensagens, não apareceu no escritório. Silvia soube por Letícia que ele havia viajado para supervisionar uma obra em Brasília, uma viagem que não estava programada e que claramente servira como fuga da situação que Vanessa havia criado. “Você está bem?”, perguntou Letícia durante o intervalo para o almoço na quarta-feira.
Parece que não dormiu direito há dias, só cansada”, mentiu Silvia, mexendo distraídamente na salada que não conseguia comer. A verdade era que ela passava as noites acordada, repassando cada palavra da conversa que ouvira entre Roberto e Vanessa. A ex-namorada havia sido diabólica em sua precisão.
Cada dúvida que plantara tinha um fundo de verdade que tornava impossível ignorá-la completamente. Será que Roberto realmente a via como um projeto de caridade? Será que confundia a compaixão com amor? E a pior pergunta de todas, será que ela estava com ele por gratidão em vez de amor verdadeiro? Na quinta-feira à noite, quando finalmente voltou ao apartamento após outro dia de trabalho mecânico, encontrou um envelope elegante sob sua porta.
Seu coração disparou. Talvez fosse de Roberto uma explicação, uma desculpa, algum sinal de que queria conversar, mas quando abriu viu que era um convite para um chá beneficente no sábado, organizado por um grupo de senhoras da alta sociedade paulistana e no canto inferior direito, uma nota manuscrita em caligrafia perfeita: “Querida Silvia, seria uma honra ter sua presença há tanto que gostaria de conversar com você.” “Com carinho, Vanessa, era uma armadilha óbvia.
Vanessa queria encontrá-la sozinha, sem Roberto por perto para protegê-la ou intervir. Silvia deveria recusar, deveria rasgar o convite e fingir que nunca o recebera. Em vez disso, pegou o telefone e confirmou sua presença. Se Vanessa queria guerra, teria guerra. O chá beneficente acontecia na mansão de uma das famílias mais tradicionais de São Paulo, em um jardim que parecia saído de um filme de época.
Silvia chegou vestindo um conjunto elegante, mas discreto, um vestido midi em azul marinho e sapatos baixos escolhidos cuidadosamente para não parecer que estava tentando impressionar demais. Vanessa a cumprimentou como se fossem velhas amigas, beijando suas bochechas com calorosa falsidade. Silvia, que alegria que você veio. Estava ansiosa para nossa conversa.
O evento tinha cerca de 30 mulheres, todas da elite paulistana, circulando entre mesas elegantes, dispostas entre rosezeiras perfumadas. Silvia reconhecia algumas dos eventos que frequentara com Roberto, mas sabia que estava claramente em território inimigo. “Deixe-me apresentá-la a algumas pessoas”, disse Vanessa, guiando-a pelo jardim.
“Ladies, esta é Silvia Mendes, a noiva do Roberto Silva. As apresentações foram educadas, mas frias. Silvia podia sentir as mulheres a avaliando, notando cada detalhe de sua aparência, tentando decifrar se ela pertencia à aquele círculo. “Que trabalho interessante você faz”, comentou uma senhora de cabelos prateados após Silvia mencionar que trabalhava na Silva Construções.
Administração, não é? Deve ser educativo trabalhar tão próximo ao Roberto. A palavra educativo foi pronunciada com um tom que claramente questionava se Silvia era inteligente o suficiente para o cargo. Muito educativo, respondeu Silvia calmamente. Roberto é um chefe excelente, muito exigente, com qualidade e atenção aos detalhes. Imagino.
Ele sempre foi perfeccionista em tudo que faz. A mulher trocou um olhar significativo com Vanessa, especialmente em suas escolhas pessoais. O comentário foi deixado no ar como uma pergunta implícita sobre se Silvia estava à altura dos padrões de Roberto. Vanessa permitiu que essas pequenas humilhações continuassem por cerca de uma hora, cada comentário aparentemente inocente, mas carregado de condescendência.
Silvia aguentou tudo com dignidade, lembrando-se das lições de Helena sobre como manter a compostura em situações sociais difíceis. Finalmente, Vanessa sugeriu que fizessem uma caminhada pelos jardins para conversar em particular. “Espero que não se importe com as perguntas das girls”, disse Vanessa quando se afastaram das outras mulheres.
“Elas são naturalmente protetivas em relação ao Roberto. Ele é como um irmão para muitas delas. Entendo perfeitamente. Fico feliz que entenda, porque há algo que preciso discutir com você. Vanessa parou perto de uma fonte ornamental onde o som da água garantiria a privacidade. É sobre Roberto, imagino.
Ele veio me ver ontem. As palavras atingiram Silvia como um raio. Roberto havia procurado Vanessa. Depois de dias sem falar com ela, depois de fugir para Brasília, ele havia procurado sua ex-namorada. Ah, sim, Silvia. manteve a voz neutra com esforço sobre estava confuso, perturbado. Vanessa suspirou dramaticamente.
Coitado, ele realmente não sabe como lidar com a situação. Que situação? Vocês dois, é claro. Ele me disse que está questionando tudo, que talvez vocês tenham se precipitado. Vanessa a estudou com falsa compaixão. Disse que você o acusou de ter pena de você. Isso deve ter doído muito. Silvia sentiu o chão desabar sob seus pés.
Roberto havia contado para Vanessa sobre a briga deles. Havia compartilhado detalhes íntimos de seu relacionamento com a mulher que mais queria destruí-los. “Roberto tem o direito de conversar com quem quiser”, conseguiu dizer. “Claro que tem, e eu sempre vou estar aqui para ele como amiga.” Vanessa fez uma pausa calculada.
Ele me pediu um conselho. Na verdade, que conselho? sobre como terminar um relacionamento sem machucar a outra pessoa, especialmente quando há obrigações financeiras envolvidas. O mundo de Silvia parou de girar. Obrigações financeiras? Bem, o tratamento da sua mãe, as dívidas que ele quitou, Roberto é muito generoso, mas também muito responsável. Ele não vai simplesmente abandoná-la na dificuldade.
Vanessa tocou o braço de Silvia com falsa gentileza. Mas também não pode fingir que sente algo que não sente. E o que ele disse que sentia? Responsabilidade, carinho genuíno, até amor de um certo tipo. Vanessa suspirou. Mas não o tipo de amor que sustenta um casamento, sabe? Mais como afeto paternal.
Cada palavra era uma punhalada cuidadosamente colocada. Silvia sabia que estava sendo manipulada, mas as dúvidas que já existiam em sua mente tornavam as mentiras de Vanessa terrivelmente plausíveis. “Por que está me contando isso?”, perguntou Silvia. “Porque você merece a verdade. E por quê?” Vanessa hesitou como se estivesse lutando com uma decisão difícil.
“Porque há algo mais que você precisa saber.” “O quê?” Vanessa tirou o telefone da bolsa e abriu uma gravação de áudio. Roberto me enviou isso ontem à noite. Disse que precisava desabafar com alguém que o conhecesse bem. Ela pressionou play e a voz de Roberto encheu o arreas. Vanessa, estou perdido.
Não sei mais o que é real e o que é obrigação. Silvia é incrível. Mas talvez você tenha razão. Talvez eu esteja confundindo gratidão com amor. Como posso ter certeza de que meus sentimentos são verdadeiros quando tudo começou de uma forma tão complicada? Silvia sentiu o sangue drenar de seu rosto.
Era definitivamente a voz de Roberto, o tom de vulnerabilidade que ela conhecia tão bem. E há mais. Continuou a gravação. Às vezes olho para ela e vejo tudo que ela teve que mudar para estar comigo. A forma como fala se veste até onde mora é como se eu estivesse apagando quem ela realmente era. Isso é amor ou controle? A gravação terminou e Vanessa guardou o telefone com expressão triste. Sinto muito que tenha que ouvir isso, Silvia, mas achei que você merecia saber.
Silvia permaneceu em silêncio, processando o que acabara de ouvir. Era exatamente o tipo de coisa que Roberto poderia dizer, expressar exatamente as dúvidas que ela sabia que ele tinha quando ele gravou isso ontem à noite, por volta das 11, o que confirmava a história de Vanessa sobre Roberto ter-a procurado.
“O que você acha que devo fazer?”, perguntou Silvia, surpreendendo-se com sua própria pergunta. “Querida, Vanessa suspirou. Acho que vocês dois merecem ser felizes. Roberto nunca vai conseguir se entregar completamente enquanto se sentir culpado por mudá-la. E você nunca vai conseguir ser verdadeiramente você mesma em um mundo onde precisa fingir ser outra pessoa.
Você acha que devemos terminar? Acho que vocês deveriam ter uma conversa honesta, sem culpa, sem obrigações financeiras. Só verdade. Vanessa tocou o braço de Silvia novamente. E se chegarem à conclusão de que é melhor seguirem caminhos separados, bem, Roberto já deixou claro que continuará cuidando da sua mãe independentemente de qualquer coisa. Ele não é o tipo de homem que abandona alguém na necessidade.
Era o golpe final. Vanessa estava oferecendo a Silvia uma saída honrosa. Terminar o relacionamento, mas manter os benefícios financeiros. era quase generoso demais para ser verdadeiro. “Preciso ir”, disse Silvia abruptamente. “Claro, foi muito corajoso da sua parte vir hoje.” Vanessa sorriu com o que quase parecia genuíne admiração. “Você é mais forte do que Roberto Imagina.
” Silvia voltou para o apartamento em Moema, em estado de choque. A gravação de Roberto ecoava em sua mente, cada palavra confirmando seus piores medos sobre o relacionamento deles. Ela se sentou no sofá. o mesmo onde haviam se beijado pela primeira vez após o jantar com os pais dele e tentou processar tudo que havia acontecido.
As dúvidas que vinham crescendo desde a visita de Vanessa à fazenda agora pareciam conclusões inevitáveis. Talvez Vanessa estivesse certa. Talvez ela e Roberto estivessem destinados ao fracasso desde o início. Como um relacionamento que começara com uma mentira poderia se transformar em algo verdadeiro.
Quando o telefone tocou às 8 da noite, ela quase não atendeu, mas era Roberto, finalmente ligando após dias de silêncio. Silvia, preciso falar com você. Posso subir? Não acho que seja uma boa ideia. Por favor, sei que estraguei tudo, mas preciso explicar. Explicar o que, Roberto? Como está confuso sobre seus sentimentos? Como acha que me transformou em alguém que não sou? O silêncio na linha foi longo demais. Como você soube? Não importa como.
Silvia fechou os olhos. O que importa é que finalmente estamos sendo honestos um com o outro. Silvia, por favor, deixe-me explicar. Não é o que você está pensando. Não é? Então me diga, Roberto, você me ama ou tem pena de mim? Eu é complicado. A hesitação foi a resposta que ela precisava. Não deveria ser complicado, disse ela suavemente.
Quando você ama alguém de verdade, é a coisa mais simples do mundo. Silvia, boa noite, Roberto. Acho que os dois precisamos de um tempo para pensar. Ela desligou o telefone e se permitiu chorar pela primeira vez desde que tudo começara a desmoronar. Não eram apenas lágrimas pela perda do homem que amava, mas pelo fim de um sonho que talvez nunca tivesse sido real.
Lá fora, em seu carro estacionado na rua, Roberto permaneceu sentado por mais de uma hora, olhando para as janelas do apartamento de Silvia e se perguntando como havia permitido que Vanessa destruísse a melhor coisa que já lhe acontecera. Mas ele não sabia que a destruição estava apenas começando.
Dois dias se passaram sem contato entre Roberto e Silvia. O escritório da Silva Construções parecia um campo minado emocional. Silvia trabalhava com eficiência mecânica, enquanto Roberto permanecia trancado em sua sala, emergindo apenas para reuniões essenciais. Letícia tentou algumas vezes arrancar informações de Silvia sobre o que havia acontecido, mas ela mantinha um silêncio impenetrável.
Era como se tivesse erguido uma parede ao redor de si mesma, protegendo-se de mais dor. Na sexta-feira, quando Silvia estava organizando seus pertences para ir embora, Miriam, a secretária de Roberto, se aproximou com uma expressão preocupada. Silvia, querida, posso falar com você? Claro, Miriam. A mulher mais velha olhou ao redor para ter certeza de que estavam sozinhas.
Não sei o que aconteceu entre você e o Roberto, mas ele não está bem. Não está comendo, não está dormindo. Ontem o encontrei no escritório às 3 da manhã, simplesmente sentado no escuro. Silvia sentiu uma apontada de dor, mas forçou-se a manter a compostura. Lamento ouvir isso. Ele ligou para você.
Ligou e descobrimos que talvez não sejamos tão compatíveis quanto pensávamos. Miriam a estudou com aqueles olhos maternais que tinham décadas de experiência lendo pessoas. Silvia, trabalho para a família Silva há 15 anos. Vi Roberto com várias mulheres, incluindo Vanessa. Nunca ouvi olhar para ninguém da forma como olha para você. As aparências podem enganar, Miriam. Podem, mas os sentimentos verdadeiros são difíceis de fingir.
Ela tocou o braço de Silvia gentilmente. Seja qual for o problema entre vocês, não vale a pena uma conversa. Já conversamos, algumas coisas simplesmente não têm solução. Miriam suspirou e voltou para sua mesa, mas Silvia podia sentir seus olhos preocupados a seguindo. Sai no fim de semana chegou o carregado de uma melancolia que Silvia tentou combater, mantendo-se ocupada.
visitou a mãe no hospital, onde Clara continuava respondendo bem ao tratamento, uma lembrança constante dos benefícios que ainda recebia de Roberto. “Você está muito quieta hoje, filha”, observou Clara durante a visita de domingo e magra. “Está se alimentando direito?” “Estou bem, mãe. Só um pouco cansada do trabalho.
E esse namorado misterioso? Ainda não vou conhecê-lo?” Silvia forçou um sorriso em breve, mãe. Mas mesmo enquanto mentia para a mãe, ela se perguntava quanto tempo mais conseguiria manter a farsa. Como explicar que o namorado que permitira o tratamento médico de primeira linha havia desaparecido de sua vida? Na segunda-feira de manhã, quando chegou ao escritório, encontrou um envelope em sua mesa. Dentro havia uma única folha de papel com uma proposta que a deixou sem fôlego. A proposta era formal.
em papel timbrado da Silva Construções, assinada por Roberto, ele oferecia manter todos os benefícios do acordo original, o tratamento da mãe, uma quantia mensal substancial, um apartamento, sem exigir nada em troca, nenhuma encenação pública, nenhuma obrigação de continuar o noivado falso, apenas apoio financeiro contínuo.
Era exatamente o que Vanessa havia sugerido, uma saída honrosa, com todos os benefícios mantidos. Era também a prova final de que Roberto via o relacionamento deles como uma obrigação financeira, não amor verdadeiro. Silvia leu a proposta três vezes antes de guardá-la na gaveta. Então pegou uma folha em branco e começou a escrever sua própria resposta.
Roberto estava em uma videoconferência com investidores japoneses quando Miriam bateu na porta de seu escritório. Ele fez um gesto impaciente para que ela esperasse, mas ela insistiu, apontando para um envelope em suas mãos com uma expressão urgente. “Senhores, vou precisar remarcar esta conversa”, disse ele para a tela, desligando a conferência antes que pudessem protestar. É da Silvia”, disse Miriam, entregando-lhe o envelope.
Roberto o abriu com mãos que tremiam ligeiramente. Dentro havia uma folha com a letra cuidadosa de Silvia. Roberto, obrigada pela generosa proposta. Devo recusá-la. Quando aceitei seu acordo original, foi porque precisava salvar minha mãe. Agora entendo que aceitar sua ajuda contínua seria uma forma de prostituição emocional, vendendo meus sentimentos e dignidade por segurança financeira.
Prefiro lutar honestamente e talvez perder do que vencer desonestamente. Devolverei tudo que você me deu. O apartamento, as roupas, as joias, tudo, exceto as memórias que, mesmo sendo baseadas em uma mentira, foram reais para mim. Você é um homem bom, Roberto. Só não é o homem certo para mim. Silvia PS, por favor, não me procure. Torne isso mais fácil para nós dois.
Roberto leu a carta cinco vezes antes de conseguir processar completamente o que ela significava. Silvia estava terminando tudo, não apenas o relacionamento, mas recusando qualquer ajuda financeira. Estava escolhendo a pobreza em vez de aceitar o que via como caridade. “Onde ela está?”, perguntou ele para Miriam. Saiu a uma hora, disse que não voltaria.
Roberto correu para o elevador, desceu para o estacionamento e dirigiu como um louco até o apartamento em Moema. Usou a chave que ainda tinha para entrar e encontrou o lugar sendo sistematicamente esvaziado. Silvia estava dobrando as roupas caras que ele havia comprado para ela, colocando-as cuidadosamente em malas. havia despido o apartamento de qualquer traço de luxo que ele havia fornecido.
Silvia, ela se virou e ele viu que havia estado chorando, mas seus olhos estavam firmes, determinados. Pedi para você não vir. Não pode fazer isso. Posso e vou. Ela continuou dobrando roupas. Já liguei para o hospital. Vou transferir minha mãe de volta para o SUS na próxima semana. Ela pode morrer, pode ou pode viver, mas pelo menos vai morrer ou viver com dignidade, não como beneficiária da caridade do ex-namorado da filha.
Roberto se aproximou dela, tentando entender a frieza em sua voz. Silvia, você está sendo irracional. Estou sendo honesta pela primeira vez desde que aceitei sua proposta inicial. Eu amo você. Não, não ama. Ela parou de dobrar roupas e o encarou. Você tem pena de mim. sente responsabilidade por mim, talvez até tenha carinho por mim, mas amor verdadeiro não questiona a si mesmo da forma que você questiona.
Todos os relacionamentos têm dúvidas, não do tipo que você tem. Silvia fechou uma mala e colocou-a no chão. Roberto, você gravou um áudio para Vanessa, dizendo que não sabia se seus sentimentos eram reais. Não é o tipo de coisa que alguém apaixonado faz. Roberto parou confuso. Que áudio? O áudio onde você disse que talvez estivesse confundindo gratidão com amor, onde disse que estava apagando quem eu realmente sou.
Silvia, eu nunca gravei nenhum áudio para Vanessa, nem sequer falei com ela desde a noite do baile. A confusão no rosto dele parecia genuína, mas Silvia estava cansada demais para decifrar mais jogos mentais. Não importa se foi áudio, mensagem ou conversa pessoal. O ponto é que você tem dúvidas sobre nós. E essas dúvidas mostram que Vanessa estava certa desde o início.
Certa sobre o quê? Que somos de mundos diferentes. Que você merece alguém que pertença ao seu círculo social? Que eu sou apenas mais um dos seus projetos de caridade. Roberto a pegou pelos ombros, forçando-a a olhá-lo. Isso não é verdade, não é? Então me explique porque você fugiu para Brasília em vez de conversar comigo.
Me explique por questionou nosso relacionamento para Vanessa em vez de questionar para mim. Eu não me explique porque sua primeira reação às minhas acusações foi hesitar em vez de negá-las categoricamente. Roberto abriu a boca para protestar, mas percebeu que ela tinha razão.
Em cada momento crucial, ele havia hesitado, duvidado, permitido que as inseguranças plantadas por Vanessa crescessem em vez de lutar por eles. Silvia, eu cometi erros, mas isso não significa que não te amo. Talvez não, mas significa que você não me ama o suficiente. Ela se afastou dele e pegou outra mala. E eu me amo o suficiente para não aceitar migalhas de afeto disfarçadas de grande romance.
E se eu prometer mudar? E se, Roberto? Sua voz era suave, mas final. Pare. Não torture nem você, nem tentando consertar algo que talvez nunca devesse ter existido. Então, foi isso? Seis meses da nossa vida não significaram nada. Silvia parou na porta do apartamento, suas malas na mão. Quando se virou para olhá-lo uma última vez, Roberto viu lágrimas em seus olhos.
Significaram tudo disse ela suavemente. É por isso que dói tanto. E então ela se foi, deixando Roberto sozinho no apartamento vazio, cercado pelos ecos de um amor que ele havia perdido por não conseguir lutar contra suas próprias inseguranças. Do lado de fora, no estacionamento, Silvia se permitiu chorar por 5 minutos. Depois secou os olhos, endireitou os ombros e dirigiu-se para sua nova vida.
Uma vida onde seria pobre novamente, onde sua mãe estaria em risco, onde ela teria que recomeçar do zero. Mas seria uma vida honesta. E depois de meses vivendo uma mentira, honestidade parecia o único luxo que ela realmente precisava. Três semanas se passaram desde que Silvia deixara o apartamento em Moema.
Ela havia se mudado para um pequeno quitinete na Vila Madalena, conseguido um emprego como recepcionista em uma clínica médica e estava lentamente reconstruindo uma vida que fosse genuinamente sua. A realidade financeira era brutal. O salário da clínica mal cobria suas necessidades básicas e a transferência da mãe de volta para o sistema público de saúde estava sendo um pesadelo burocrático.
Mas cada noite, quando se deitava no sofá cama do pequeno apartamento, Silvia se sentia em paz consigo mesma, de uma forma que não experimentara em meses. Roberto havia tentado contatá-la várias vezes nas primeiras semanas. ligações que ela não atendia, mensagens que ela deletava sem ler, flores que chegavam à clínica e que ela pedia para darem para outros pacientes.
Finalmente, os contatos haviam cessado e ela imaginou que ele havia seguido em frente. O que ela não sabia era que Roberto estava passando pelos dias mais sombrios de sua vida. Você precisa parar com isso”, disse Eduardo Silva, observando o filho empurrar a comida no prato durante um jantar em família no domingo. Está há semanas se comportando como um adolescente deprimido.
“Deixe o menino em paz”, interveio Margarete. “Ele está sofrendo. Está sendo dramático, replicou Eduardo. Era apenas uma namorada, Roberto. Existem muitas outras mulheres em São Paulo. Ela não era apenas uma namorada”, disse Roberto finalmente falando. Era, é a mulher que amo. Era? Eduardo arqueou uma sobrancelha. Então, por que ela se foi? Roberto não tinha uma resposta que fizesse sentido.
Como explicar que havia permitido que sua ex-namorada destruísse o relacionamento mais importante de sua vida, plantando dúvidas que ele não soubera combater? Talvez seja melhor assim”, continuou Eduardo. “Francamente, eu estava preocupado com a diferença de classes entre vocês. Uma mulher da zona leste, pai”.
Roberto bateu o punho na mesa com força suficiente para fazer os pratos te lintarem. “Não fale assim sobre ela, Roberto. Acalme-se”, disse Margarete suavemente. “Seu pai só está preocupado com você”. Estou preocupado com vocês dois”, corrigiu Eduardo. “Um relacionamento assim seria sempre complicado. Talvez Silvia tenha percebido isso antes de você”. Roberto se levantou abruptamente da mesa.
Com licença, ele saiu para a varanda da mansão, tentando controlar a raiva que sentia. Parte dela era direcionada ao pai, parte a Vanessa, mas a maior parte era direcionada a si mesmo por ter permitido que chegasse àquele ponto. Margarete o seguiu alguns minutos depois, encontrando-o apoiado na balaustrada, olhando para os jardins iluminados.
“Seu pai não falou por mal”, disse ela suavemente. “Ele só não entende. E você entende? Entendo que você está sofrendo. Entendo que Silvia significa algo especial para você. Margarete se juntou a ele na balaustrada. O que não entendo é porque vocês se separaram. Roberto lutou consigo mesmo por um momento antes de decidir contar a verdade para alguém, porque ela acha que não a amo verdadeiramente, que tenho pena dela, que a vejo como um projeto de caridade.
E é verdade? Não, pelo menos não acho que seja. Roberto suspirou profundamente, mas Vanessa plantou essas dúvidas e eu comecei a questionar meus próprios sentimentos. Vanessa Margarete franziu a testa. O que ela tem a ver com isso? Roberto contou sobre os encontros com Vanessa, as coisas que ela havia dito, como havia conseguido fazer tanto ele quanto Silvia duvidarem do relacionamento.
E existe alguma verdade nas coisas que ela disse? Perguntou Margarete quando ele terminou. Não sei. É isso que me deixa louco. Talvez eu realmente tenha tendência a querer salvar pessoas. Talvez meus sentimentos por Silvia sejam complicados por ela precisar da minha ajuda. Margarete ficou em silêncio por um longo momento. Roberto, posso lhe perguntar algo? Claro.
Quando você olha para Silvia, o que sente? A pergunta era simples, mas a resposta veio do fundo de sua alma. Sinto que encontrei minha casa”, disse ele suavemente, “Como se todo o resto da minha vida tivesse sido apenas preparação para conhecê-la. Isso soa como pena para você?” “Não. Soa como um projeto de caridade?” “Não.
” “Então, por que você permitiu que Vanessa o convencesse do contrário?” Roberto não teve resposta para isso. Filho, continuou Margarete. Você cometeu o erro de buscar validação externa para algo que só você e Silvia poderiam definir, que agora perdeu a melhor coisa que já lhe aconteceu por causa de medo. Talvez seja melhor assim.
Talvez ela mereça alguém melhor, ou talvez ela mereça que você lute por ela. Na terça-feira seguinte, Roberto finalmente tomou uma decisão. Ele ligou para Vanessa e marcou um encontro em um café neutro em Pinheiros. Era hora de confrontar os demônios que ela havia criado. Vanessa chegou impecável, como sempre, um sorriso triunfante, mal disfarçado em seus lábios.
Roberto, que surpresa deliciosa. Como está? Vou direto ao ponto, Vanessa. Quero que pare de interferir na minha vida. Interferir? Ela arregalou os olhos com falsa inocência. Não sei do que está falando. Sei sobre o chá onde você encontrou Silvia. Sei sobre as coisas que disse para ela. Ah, isso Vanessa mexeu o café delicadamente. Só estava sendo uma amiga para os dois.
Amiga? Você destruiu meu relacionamento. Eu salvei você de cometer um erro terrível. Sua máscara de inocência caiu ligeiramente. Roberto, seja honesto comigo. Você realmente acha que poderia ser feliz com uma mulher da zona leste? Alguém que nunca entenderia seu mundo? Silvia me entendia perfeitamente.
Entendia ou fingia entender porque dependia financeiramente de você? Vanessa se inclinou para a frente. Roberto, ela era sua funcionária. Você pagou as dívidas dela, o tratamento da mãe. Como pode ter certeza de que os sentimentos dela eram genuínos? Da mesma forma que posso ter certeza de que os seus nunca foram. A frase atingiu Vanessa como um tapa. Como se atreve? Como me atrevo a que? A finalmente ver você pelo que realmente é.
Roberto se inclinou para a frente também. Uma mulher manipuladora que não consegue aceitar rejeição. Eu te amo. Não, você não me ama. Você ama a ideia de me ter. Ama o status, o dinheiro, a posição social que eu representava. Roberto se levantou e está tão amarga por ter perdido isso que destruiu minha chance de ser feliz com alguém que realmente me amava. Roberto, espera.
Não acabou, Vanessa. Suas manipulações, seus jogos, sua presença na minha vida, acabou tudo. Ele saiu do café, deixando Vanessa sozinha, finalmente vendo-a claramente pelo que sempre havia sido. Mas a clareza chegara tarde demais. Ele havia perdido Silvia e não sabia se haveria uma forma de recuperá-la.
Dois dias depois, Roberto estava em seu escritório quando Miriam bateu na porta com uma expressão estranha. Roberto, há uma mulher aqui que insiste em falar com você. Diz que tem informações importantes sobre Silvia. Quem é? Ela não quis dar o nome, só disse que você ia querer ouvir o que ela tem a dizer. Roberto suspirou.
Provavelmente mais uma pessoa querendo vender informações sobre sua vida. privada para a imprensa, mas algo na insistência da mulher o intrigou. Mande-a entrar. A mulher que entrou era jovem, bonita, mas havia algo nervoso em seus movimentos. Roberto a reconheceu vagamente, mas não conseguia se lembrar de onde. Senr. Silva, obrigada por me receber. Meu nome é Letícia Santos.
Eu trabalho trabalhava com Silvia. Letícia. Roberto se lembrou dela agora. A amiga de Silvia. Sim. E preciso contar algo para o senhor, algo sobre Vanessa Cortz. O nome fez Roberto se endireitar na cadeira. O que sobre ela? Letícia respirou fundo, como se estivesse se preparando para um salto perigoso.
Ela me procurou há duas semanas, ofereceu dinheiro para eu contar coisas sobre Silvia, sobre a família dela, sobre as dificuldades financeiras, sobre sobre o que mais? Sobre como vocês realmente se conheceram. Ela queria que eu confirmasse que Silvia estava com você só pelo dinheiro. Roberto sentiu o sangue gelar. E você confirmou? Não. É claro que não. Letícia pareceu ofendida. Eu conheço Silvia há anos.
Sei que ela nunca faria isso, mas mas eu menti sobre uma coisa. disse para Vanessa que Silvia havia comentado que se sentia grata pelo Senhor ter mudado a vida dela, mas que às vezes se questionava se era amor verdadeiro ou gratidão. Por que mentiu sobre isso? Letícia baixou os olhos claramente constrangida. Porque ela ofereceu muito dinheiro e eu preciso do dinheiro para a faculdade.
Pensei que era algo pequeno que não machucaria ninguém. Roberto se levantou e caminhou até a janela, processando a informação. Vanessa havia usado informações de Letícia para construir suas manipulações. Mais alguma coisa? Sim. Ela me pediu para gravar uma mensagem fingindo ser você. Disse que era para uma pegadinha, algo inofensivo.
Que tipo de mensagem? Algo sobre estar confuso em relação aos seus sentimentos por Silvia, sobre questionar se era amor ou pena. Letícia se mexeu desconfortavelmente. Minha voz é meio grave e com um pouco de edição, o mundo de Roberto parou. O áudio que Silvia mencionara, a prova que ela tinha de suas dúvidas tinha sido uma farça criada por Vanessa.
Você tem alguma prova disso? Letícia pegou o telefone e mostrou as mensagens trocadas com Vanessa, incluindo uma transferência bancária e instruções específicas sobre o que dizer na gravação. “Eu sinto muito”, disse ela, lágrimas nos olhos. Não sabia que Vanessa ia usar isso para machucar Silvia. Quando soube que vocês tinham terminado, que Silvia havia perdido o emprego e estava passando dificuldades. Espera. Roberto se virou rapidamente.
Que dificuldades? Ela está trabalhando numa clínica por um salário mínimo. Está tentando transferir a mãe de volta para o SUS. Está vivendo num quitinete minúsculo. Letícia parou ao ver a expressão no rosto de Roberto. O senhor não sabia. Roberto sentiu como se tivesse levado um soco no estômago. Silvia estava lutando sozinha, reconstruindo sua vida do zero, enquanto ele se afundava em autopiedade.
Onde ela está morando, Vila Madalena. Mas, Senr. Silva, sim. Ela me fez prometer que não contaria onde está. Disse que queria desaparecer da sua vida completamente. Roberto olhou pela janela, vendo a cidade se estender até o horizonte. Em algum lugar lá fora, a mulher que amava estava lutando sozinha contra problemas que ele poderia resolver facilmente.
Que ela estava fazendo isso por orgulho, por dignidade, porque acreditava que ele não a amava verdadeiramente, graças às mentiras de Vanessa. “Letícia”, disse ele, voltando-se para a jovem. “Você quer uma forma de se redimir? Mais que tudo? Então me ajude a trazer Silvia de volta.” E pela primeira vez em semanas, Roberto sentiu algo parecido com esperança crescendo em seu peito.
Talvez não fosse tarde demais. Talvez ainda houvesse uma chance de consertar o que Vanessa havia quebrado. Mas primeiro ele precisaria provar para Silvia que seu amor era real e que valia a pena lutar por ele. Roberto passou a noite inteira acordado, planejando. Pela primeira vez em semanas, tinha clareza sobre o que precisava fazer.
Vanessa havia criado um labirinto de mentiras e manipulações, mas agora ele conhecia a verdade. A questão era como convencer Silvia de que tudo havia sido uma farsa. Na manhã seguinte, ele começou sua investigação. Contratou um detetive particular para confirmar a localização de Silvia e descobrir mais detalhes sobre sua situação atual. O relatório que recebeu no final do dia o destroçou.
Silvia estava vivendo em um quitinete de 30 m quadrados na Vila Madalena. Trabalhava 12 horas por dia na clínica médica para conseguir pagar as contas básicas. Sua mãe havia sido transferida para um hospital público onde a lista de espera para quimioterapia era de 3 meses, tempo que Clara talvez não tivesse.
Roberto fechou o relatório e apoiou a cabeça nas mãos. Silvia estava passando por tudo isso por orgulho, recusando-se a aceitar sua ajuda, porque acreditava que ele não a amava verdadeiramente. “Senor Silva, Miriam bateu na porta. Sua mãe está aqui. Diz que vocês têm uma conversa pendente.” Margaret entrou no escritório com a determinação que Roberto conhecia desde criança, a expressão que significava que ela não aceitaria evasivas. “Mãe, agora não é uma boa hora. É exatamente a hora certa.
Ela se sentou na cadeira em frente à mesa dele. Acabei de falar com Letícia. Ela me contou tudo. Roberto suspirou. Então já sabe. Sei que você foi enganado por uma mulher manipuladora. Sei que Silvia está sofrendo desnecessariamente. E sei que você está aqui se lamentando em vez de fazer algo a respeito.
O que posso fazer, mãe? Ela não quer falar comigo, recusa minha ajuda, acredita que não a amo. Então prove que ama. Como? Margarete se inclinou para a frente. Roberto, quando seu pai quis se casar comigo, meus pais eram contra. Eles achavam que ele não era bom o suficiente, um operário da construção civil tentando conquistar a filha de um médico. Roberto conhecia a história, mas nunca havia prestado atenção aos detalhes.
Seu pai poderia ter desistido, poderia ter aceito que éramos de mundos diferentes. Em vez disso, ele apareceu na porta da nossa casa todos os dias durante três meses. Não para me convencer, mas para mostrar que seu amor era real, consistente e inabalável. E funcionou? Funcionou porque ele não estava tentando me impressionar ou me convencer com palavras.
Estava mostrando através de ações que eu era a coisa mais importante da vida dele. Margarete sorriu. 40 anos depois. Ainda é. Roberto ficou em silêncio, processando as palavras da mãe. O que está me sugerindo? que pare de tentar resolver isso como um problema de negócios e comece a tratá-lo como uma questão do coração.
Durante os próximos dias, Roberto desenvolveu um plano. Não seria grandioso nem espetacular, seria consistente e genuíno. Ele começaria pequeno, mostrando a Silvia que entendia o que ela mais valorizava: honestidade e dignidade. Primeiro, ele tratou da questão mais urgente. Usando contatos no hospital público onde Clara estava sendo tratada, garantiu que ela fosse transferida para o topo da lista de espera para quimioterapia.
Fez isso anonimamente através de uma doação generosa ao hospital, que coincidentemente permitiu que eles expandissem o programa de tratamento de câncer. Silvia nunca saberia que a melhoria súbita na situação da mãe havia vindo dele. Em seguida, ele começou a aparecer na clínica onde ela trabalhava, não para confrontá-la, mas como um paciente legítimo.
Marcou consultas médicas de rotina, exames preventivos, qualquer coisa que o colocasse no mesmo ambiente que ela, sem forçar uma conversa. A primeira vez que ela o viu na recepção, Silvia quase derrubou a pilha de prontuários que carregava. Roberto, o que está fazendo aqui? Consulta médica”, disse ele simplesmente mostrando a ficha de agendamento. “Você pode pagar qualquer médico particular de São Paulo.
Posso, mas gosto do atendimento aqui.” Silvia o encarou por um longo momento, claramente tentando entender seu jogo. “Roberto, se isso é algum tipo de tentativa de É uma consulta médica, Silvia, nada mais”. Ela o observou com suspeita, mas não podia recusar-se a atendê-lo profissionalmente.
Durante toda a manhã, Roberto permaneceu na sala de espera, lendo revistas antigas e observando discretamente como Silvia trabalhava. Ela era diferente ali, mais natural, menos refinada, mais parecida com a mulher que ele conhecera no primeiro dia de trabalho dela. Falava com sotaque paulistano mais carregado, ria mais livremente com os outros funcionários, mostrava uma calidez genuína com os pacientes idosos e crianças. Era ainda mais linda assim. Roberto percebeu, autêntica, real.
Quando finalmente foi chamado para a consulta, teve que se controlar para não sorrir da expressão resignada de Silvia. Dr. Ferreira, ela disse ao médico. Este é o Senr. Silva, consulta de rotina. Obrigado, Silvia. O médico era um homem na casa dos 50, claramente dedicado e sobrecarregado. O senhor pode entrar. A consulta foi rápida e profissional.
Roberto se submeteu aos exames básicos, respondeu às perguntas de rotina e agendou retornos legítimos. Quando saiu, acenou educadamente para Silvia e partiu sem tentar forçar uma conversa. Fez isso por uma semana. Apareceu na clínica, foi atendido profissionalmente e partiu sem drama.
Silvia ficava visivelmente tensa durante essas visitas, mas não podia fazer nada para impedi-las. Na segunda semana, Roberto mudou ligeiramente sua estratégia. Começou a levar pequenos presentes para a clínica, não para Silvia especificamente, mas para os funcionários e pacientes.
Caixas de chocolates para a recepção, revistas novas para a sala de espera, brinquedos para entreter as crianças. “Por que está fazendo isso?”, perguntou Silvia finalmente quando ele apareceu com uma máquina de café expressa para a sala dos funcionários. “Fazendo o quê?” Isso. Ela gesticulou para a máquina. Os presentes, as visitas constantes. O que quer de mim? Nada. Disse Roberto honestamente. Não quero nada de você. Então, por quê? Porque gosto de estar onde você está.
Porque ver você feliz, mesmo que não seja comigo, me faz bem. Silvia o estudou com aquela expressão analítica que ele adorava. Roberto, não estou tentando forçar nada, Silvia. Não estou tentando comprar seu perdão ou provar nada. Só ele hesitou, buscando as palavras certas. Só quero estar perto de você.
Mesmo que seja assim, isso não é saudável para nenhum de nós. Talvez não, mas é honesto. A virada veio na terceira semana quando Roberto chegou à clínica e encontrou Silvia chorando discretamente na recepção. Era o fim do dia. A maioria dos funcionários havia ido embora e ela estava sozinha organizando fichas com lágrimas escorrendo pelo rosto.
Silvia, o que aconteceu? Ela limpou rapidamente os olhos. Nada, só um dia difícil. Fale comigo, Roberto, por favor, vá embora. Não hoje, mas algo na vulnerabilidade dela quebrou as barreiras que ele havia cuidadosamente construído. Em vez de ir embora, ele se aproximou devagar e se sentou na cadeira ao lado da dela. O que aconteceu? Repetiu mais suavemente.
Silvia lutou consigo mesma por um momento antes de desabar. Minha mãe teve uma recaída. Tivemos que levá-la para a emergência hoje de manhã. Eles disseram que a quimioterapia não está funcionando como esperavam. Roberto sentiu o coração apertar. Sinto muito.
O pior é que sei que se eu não tivesse sido tão orgulhosa, se tivesse aceitado sua ajuda, ela soluçou. Ela estaria recebendo o melhor tratamento possível. Talvez não estivesse passando por isso. Silvia, olhe para mim. Ela ergueu os olhos vermelhos de choro. Sua mãe vai ficar bem. Você fez a escolha certa. Como pode dizer isso? Ela pode morrer por causa do meu orgulho. Ela pode se curar por causa da sua força.
Independentemente do que acontecer, vocês enfrentarão isso com dignidade. Dignidade não salva vidas, Roberto. Não, mas dá sentido a elas. Silvia o olhou por um longo momento e Roberto viu algo mudando em sua expressão. Pela primeira vez em semanas, ela realmente o estava vendo.
Não como ex-namorado, não como fonte de tentação financeira, mas como Roberto. Por que está sendo gentil comigo? Perguntou ela suavemente. Porque você é a pessoa mais importante da minha vida. E mesmo que não possamos estar juntos, isso não mudou. Roberto, não espero nada de você, Silvia. Só queria que soubesse isso. Ele se levantou para ir embora, mas a voz dela o deteve. Espera. Roberto se virou.
Quer quer tomar um café? Tem uma padaria aqui perto que fica aberta até tarde. Era a primeira vez em um mês que ela o convidava para qualquer coisa. Roberto sentiu uma esperança cautelosa crescendo em seu peito. A adoraria. E assim, em uma padaria simples na Vila Madalena, cercados pelo cheiro de pão fresco e o barulho de pratos sendo lavados, Roberto e Silvia começaram a conversar de verdade pela primeira vez, desde que tudo havia desmoronado.
Seria o início de uma longa jornada de volta um para o outro. Uma jornada que testaria não apenas seu amor, mas sua capacidade de perdoar e confiar novamente. A conversa na padaria se estendeu por 3 horas. Eles falaram sobre tudo e nada.
o trabalho dela na clínica, os pacientes que ela havia aprendido a amar, as pequenas alegrias de uma vida mais simples. Roberto contou sobre como os negócios pareciam vazios sem ela, como havia percebido que sucesso financeiro significava pouco se não tivesse alguém para compartilhar. Não falaram sobre o passado doloroso, sobre Vanessa ou sobre o que havia dado errado entre eles. Era como se ambos precisassem se conhecer novamente antes de abordar as feridas.
“Posso te levar em casa?”, ofereceu Roberto quando a padaria começou a fechar. “Obrigada, mas prefiro pegar o ônibus. É mais simples assim.” Roberto assentiu entendendo. Silvia estava estabelecendo limites, protegendo a independência que havia conquistado com tanto esforço. “Posso te ver amanhã na clínica?”, Silvia hesitou. Roberto, não quero que você fique criando expectativas. Não estou criando.
Só gosto da sua companhia. Mesmo sabendo que talvez não possamos voltar ao que éramos, mesmo assim, nos dias seguintes, eles desenvolveram uma rotina estranha, mas confortável. Roberto aparecia na clínica, não mais fingindo precisar de consultas médicas, mas para buscar Silvia no final do expediente.
Eles caminhavam pelas ruas da Vila Madalena, conversando sobre livros, filmes, sonhos, tudo exceto o elefante na sala, que era seu relacionamento passado. Silvia começou a relaxar em sua presença novamente. Roberto podia ver a mulher que havia se apaixonado, emergindo lentamente da armadura de independência que ela havia construído.
Uma noite, quando estavam sentados em um pequeno parque perto do apartamento dela, Silvia finalmente tocou no assunto que ambos evitavam. Roberto, preciso te perguntar uma coisa. Qualquer coisa. Por que está fazendo isso? Esta cortejo gentil. O que espera conseguir? Roberto ficou em silêncio por um longo momento, observando as luzes da cidade, piscando ao longe. Honestamente, no início esperava que você me perdoasse, que víssemos que ainda nos amávamos e voltássemos ao que éramos antes.
E agora? Agora percebo que não podemos voltar ao que éramos antes, porque quem éramos antes era baseado em mentiras. Minha mentira sobre precisar de uma noiva falsa. suas mentiras sobre por aceitou o acordo. Silvia se contraiu ligeiramente. Roberto, deixe-me terminar. Ele se virou para encará-la. Mas talvez possamos construir algo novo, algo baseado em quem realmente somos, não em quem fingíamos ser e quem você realmente é.
Um homem que trabalha demais porque tem medo de intimidade verdadeira, que construiu um império, mas não sabia como construir um lar, que se apaixonou por uma mulher extraordinária e quase a perdeu porque foi covarde demais para lutar por ela quando mais importava. As palavras pairaram no arreas e dolorosas.
E quem eu realmente sou? perguntou Silvia suavemente. Uma mulher forte que se disfarça de frágil, que ama tão profundamente que está disposta a sacrificar sua própria felicidade pelo orgulho, que merece ser amada por quem é, não por quem pode fingir ser. Silvia sentiu lágrimas, queimando seus olhos. Roberto, você não entende. Eu menti para você sobre coisas fundamentais.
O acordo que assinamos foi baseado em necessidade mútua. Você precisava salvar sua mãe. Eu precisava de uma noiva. Ambos obtivemos o que queríamos, mas depois se tornou real. Meus sentimentos se tornaram reais. Os meus também. Como posso ter certeza disso? Como posso saber se você me ama ou se apenas se sente responsável por mim? Era a pergunta que estava no coração de todos os problemas deles.
Roberto sabia que sua resposta seria crucial, porque se fosse apenas responsabilidade, eu teria insistido para que aceitasse minha ajuda financeira. Teria usado meu dinheiro para resolver seus problemas e minha culpa. Ele pegou a mão dela gentilmente. Em vez disso, estou aqui, sem oferecer nada além da minha presença, tentando conquistar você novamente da única forma honesta que conheço.
Que forma é essa? mostrando que você é mais importante para mim do que qualquer orgulho, qualquer conveniência, qualquer medo que eu tenha de ser vulnerável. Silvia estudou seu rosto à luz fraca dos postes de iluminação. Havia tanto que ela queria acreditar, mas as feridas ainda estavam muito frescas. Roberto, existe algo que você precisa saber sobre porque terminei tudo tão abruptamente.
O quê? Silvia respirou fundo, preparando-se para uma confissão que poderia mudar tudo. Vanessa me mostrou uma gravação. Sua voz dizendo que estava confuso sobre seus sentimentos, que talvez estivesse confundindo pena com amor. Roberto ficou tenso.
Silvia, eu nunca gravei nada para Vanessa, nem sequer falei com ela após aquela noite no baile. Era sua voz, Roberto. Reconheci perfeitamente. Não era minha voz. Roberto se levantou abruptamente, andando em círculos. ou melhor, talvez tecnicamente fosse, mas não eram minhas palavras. Não entendo. Roberto parou e a encarou. Vanessa criou aquela gravação. Usou tecnologia de edição para criar algo que soasse como eu, dizendo essas coisas.
Como pode ter certeza? Porque Letícia me contou tudo e então Roberto revelou toda a conspiração. Como Vanessa havia manipulado Letícia para conseguir informações sobre Silvia, como havia encomendado uma gravação falsa, como havia orquestrado cuidadosamente cada encontro para plantar sementes de dúvida em ambos.
Silvia ouviu em silêncio crescente o horror da traição se instalando lentamente. Ela planejou tudo sussurrou finalmente cada palavra, cada dúvida que plantou, cada mentira que fez você acreditar sobre meus sentimentos. Mas você teve dúvidas reais, Roberto. Eu vi em seus olhos. Tive, porque ela é muito boa no que faz.
Ela pegou inseguranças reais, tanto minhas quanto suas, e as amplificou até que parecessem verdades absolutas. Silvia se levantou e começou a andar pelo parque, tentando processar tudo. Se isso é verdade, se ela mentiu sobre a gravação, então passou o último mês sofrendo por causa de uma mentira. Nós dois passamos. Por que não me contou isso antes? Porque queria que você voltasse para mim pelos motivos certos. Não porque descobriu que foi manipulada, mas porque ainda me ama.
Silvia parou de andar e o encarou. E se eu disser que ainda amo você? Então pergunto se você pode me perdoar por ter sido covarde demais para lutar por nós quando mais importava? E se eu disser que você pode me perdoar por ter duvidado de nós tão facilmente? Então pergunto se você quer tentar de novo.
De verdade desta vez. Roberto Silva, disse ela suavemente. Você quer me namorar de verdade? Silvia Mendes respondeu ele, cobrindo a mão dela com a sua. Quero te amar de verdade pelo resto da minha vida, mesmo sabendo que vou te questionar sempre que começar a agir como se tivesse pena de mim, especialmente por isso, mesmo sabendo que nunca vou aceitar seu dinheiro simplesmente porque você oferece, mesmo assim, mesmo sabendo que se você mentir para mim novamente, mesmo que seja uma mentira pequena e bem intencionada, vou
embora e nunca mais voltar, mesmo assim, sem mentiras, sem acordos comerciais, sem nada além de dois pessoas que se amam tentando construir uma vida juntas. Silvia caminhou lentamente de volta para ele, parando quando estava perto o suficiente para tocar seu rosto.
E especialmente porque você é forte o suficiente para fazer isso. Silvia sorriu pela primeira vez em semanas. Não o sorriso educado que havia aperfeiçoado para eventos sociais, mas o sorriso genuíno e radiante que havia cativado Roberto desde o primeiro dia. “Então sim”, disse ela, “quero tentar de novo.” E ali, sob as luzes fracas de um parque na Vila Madalena, cercados pelo barulho distante do trânsito paulistano, Roberto e Silvia se beijaram pela primeira vez como duas pessoas genuinamente livres para se amar.
Não havia câmeras, não havia público, não havia agenda oculta, apenas duas pessoas que haviam encontrado seu caminho de volta uma para a outra, através da escuridão, mentira e manipulação. Mas mesmo sendo um momento perfeito, ambos sabiam que o verdadeiro trabalho estava apenas começando.
Construir um relacionamento real seria muito mais difícil do que fingir um e haveria uma última surpresa esperando por eles. Uma que mudaria tudo mais uma vez. Três meses se passaram desde que Roberto e Silvia decidiram tentar novamente. Desta vez, eles construíram seu relacionamento com a paciência de arquitetos cuidadosos, estabelecendo bases sólidas antes de tentar erguer paredes. Roberto havia respeitado completamente a independência de Silvia.
Ela manteve seu trabalho na clínica, seu pequeno apartamento na Vila Madalena, sua determinação de pagar as próprias contas. Eles se encontravam como dois adultos iguais, escolhendo estar juntos, não como benfeitor e beneficiária. A mãe de Silvia havia respondido melhor ao tratamento no hospital público do que qualquer um esperava, um milagre médico que ela atribuía às orações e à força de vontade, sem nunca saber da doação anônima de Roberto, que havia modernizado o setor de oncologia.
Era uma manhã de sábado quente quando Silvia acordou no apartamento de Roberto. Ela havia começado a passar fins de semana lá, uma evolução natural de seu relacionamento renovado. Dirigiu-se à cozinha para fazer café e encontrou Roberto na varanda falando ao telefone com uma expressão tensa. Sim, doutor, entendo. Muito obrigado por ligar pessoalmente.
Ele desligou e ficou parado por alguns segundos de costas para ela. Roberto, está tudo bem? Ele se virou e Silvia viu uma mistura de emoções em seu rosto que não conseguiu interpretar. Era o Dr. Mendoza do Hospital sírio Libanês. O coração de Silvia afundou. Alguma coisa sobre minha mãe? Mas ela está no hospital público agora. Não é sobre sua mãe. Roberto se aproximou dela pegando suas mãos.
É sobre você. Sobre mim? Roberto, o que está acontecendo? Você se lembra dos exames que fez na clínica na semana passada? Os de rotina? Sim, mas Silvia parou, uma possibilidade absurda cruzando sua mente. Roberto, por favor, me diga o que está acontecendo. O Dr. Mendoza é amigo da família há anos.
Quando viu seu nome nos exames que foram enviados para a revisão, me ligou porque Roberto hesitou, como se as palavras fossem difíceis de pronunciar. Porque você está grávida? O mundo de Silvia parou. O quê? Grávida? De aproximadamente seis semanas. Silvia se sentou pesadamente na cadeira mais próxima, tentando processar a informação grávida. Seis semanas atrás seria a noite que conversamos na padaria”, sussurrou ela.
“Quando voltamos ao seu apartamento, a primeira vez que ficamos juntos depois de nos reconciliarmos.” Eles se olharam em silêncio, ambos processando a magnitude do que isso significava. Silvia, eu sei que não planejamos isso. Sei que é complicado, Roberto. Sua voz estava estranhamente calma. Você se lembra do sonho que mencionei no áudio, o que começou toda essa história? Você sonhou que estava grávida comigo em uma casa no interior e agora estou grávida de você.
Eles ficaram em silêncio novamente, a ironia da situação se instalando lentamente. “Como se sente em relação a isso?”, perguntou Roberto cuidadosamente. Silvia levou a mão ao ventre instintivamente, assustada, surpresa, mas ela olhou nos olhos dele, não arrependida.
E você? Roberto se ajoelhou na frente dela, colocando as mãos sobre as dela em seu ventre. Sinto como se todos os sonhos que nunca soube que tinha estivessem se tornando realidade de uma vez, mesmo não sendo planejado, especialmente por não ser planejado, significa que é real. Não uma encenação ou um acordo. Silvia sentiu lágrimas queimando seus olhos.
Roberto, será que conseguimos? Depois de tudo que passamos, conseguimos o quê? Ser uma família de verdade, não fingindo para câmeras ou eventos sociais, mas real. Roberto se levantou e a puxou para seus braços. Silvia, você quer se casar comigo, Roberto? Não porque está grávida, não por obrigação ou conveniência, mas porque quero passar cada dia do resto da minha vida.
provando que você é a coisa mais importante que já me aconteceu, mesmo sabendo que vou ser uma esposa teimosa que vai questionar você constantemente, especialmente por isso, mesmo sabendo que nosso filho vai crescer, sabendo a verdade sobre como nos conhecemos e aprendendo que às vezes os melhores finais vem dos começos mais improváveis. Silvia sorriu através das lágrimas.
Então, sim, Roberto Silva, quero me casar com você. Eles se beijaram ali mesmo na varanda com São Paulo se estendendo infinitamente ao redor deles. Testemunha silenciosa de um amor que havia sobrevivido a mentiras, manipulações e suas próprias inseguranças. Seis meses depois, Silvia estava na varanda da fazenda em Campinas, uma mão apoiada no ventre que agora mostrava claramente a gravidez.
Roberto se aproximou por trás, envolvendo-a em seus braços. “Em que está pensando?”, perguntou ele. Em como chegamos aqui? Eles haviam se casado em uma cerimônia pequena e íntima na fazenda, com apenas as famílias e amigos próximos. Dona Carmen havia chorado durante toda a cerimônia, declarando que finalmente tinha uma neta de verdade.
Clara, agora em remissão completa, havia dado sua bênção com lágrimas de alegria. Vanessa havia tentado aparecer no casamento, mas Roberto havia tomado medidas legais para mantê-la longe. A última notícia que tiveram dela era que estava morando em Miami, tentando recomeçar a vida longe dos escândalos que havia criado em São Paulo.
Sabe o que ainda me surpreende?”, disse Roberto beijando o pescoço dela. “O quê? Que tudo começou com um erro. Um áudio enviado para a pessoa errada. Não foi um erro”, disse Silvia suavemente. Não foi destino, o universo forçando dois pessoas teimosas demais para se aproximarem por conta própria. “Roberto Rio, você realmente acredita nisso? Acredito que alguns sonhos são tão poderosos que encontram uma forma de se tornar realidade, mesmo quando tentamos sabotá-los.
Eles ficaram em silêncio, observando o sol se pôr sobre os campos que agora chamavam de lar. Roberto havia transferido a gestão da empresa para São Paulo, mas mantido a residência na fazenda, criando o ambiente que Silvia sempre sonhara. Roberto, sim. Quer saber uma coisa que nunca te contei? Sempre.
Naquele primeiro dia, quando você me chamou no escritório depois do áudio, por um segundo, quando você me ofereceu o acordo, pensei: “Este homem vai mudar minha vida para sempre”. E mudei. Mudou, mas não da forma que pensei. Ela se virou em seus braços. Pensei que você ia me transformar em outra pessoa. Em vez disso, você me ajudou a descobrir quem eu realmente era e quem você realmente é.
Uma mulher forte o suficiente para lutar pelo que quer, corajosa o suficiente para amar sem garantias e sortuda o suficiente para ter encontrado um homem que me ama exatamente como sou. Roberto a beijou profundamente, saboreando a verdade simples e perfeita daquelas palavras. Quando se separaram, Silvia colocou a mão no ventre e sorriu. Honestos, imperfeitos, mas completamente apaixonados um pelo outro e por esta criança.
Naquela noite, quando se deitaram na cama da casa que Roberto havia construído, especialmente para eles, com o quarto do bebê ao lado, um jardim dos sonhos da mãe de Silvia e uma varanda onde poderiam assistir ao nascer do sol todos os dias, Silvia sussurrou no escuro. Roberto. Hum. Obrigada por ter enviado aquele áudio para a pessoa errada. Na verdade, disse ele, puxando-a para mais perto.
Você enviou para a pessoa certa e agora vamos descobrir que tipo de pais seremos, os melhores que pudermos ser. Só levou um tempo para descobrirmos isso. E ali, na fazenda, onde tudo havia se complicado e se resolvido, Roberto e Silvia adormeceram, planejando o futuro que haviam construído juntos. Uma criança por nascer, uma família por formar e um amor que havia provado ser mais forte que qualquer mentira.
Às vezes, os erros mais embaraçosos realmente levam aos finais mais perfeitos. M.
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