Uma jovem virgem de 22 anos chorava abandonada no altar até o milionário poderoso levantar e mudar a vida dela. Antes de começarmos essa jornada emocionante, me conta de onde você está assistindo esse vídeo. Deixa nos comentários. E se você gosta de histórias de superação e segundas chances, se inscreve no canal e deixa aquele like para fortalecer.
Agora sim, vamos mergulhar nessa história. A Catedral da Sé erguia-se imponente sob o céu azul de São Paulo, suas torres neogóticas cortando a paisagem urbana como guardiãs silenciosas de milhares de histórias. Naquela tarde de sábado, a maior igreja da cidade abrigaria mais uma história, ou pelo menos era o que Isadora Mendesmos acreditava, enquanto ajeitava pela décima vez o véu de renda francesa diante do espelho.
Seus dedos tremiam ligeiramente. Nervosismo normal, dizia a si mesma. Nervosismo de noiva. Você está linda, Isa! murmurou sua mãe Cleusa, ajeitando uma última dobra do vestido branco que havia custado três meses de salário. Os olhos da mulher brilhavam com lágrimas de alegria.
“Minha menina se casando com um Cardoso, quem diria.” Isadora sorriu, mas algo apertou em seu peito. Aquele comentário sobre o sobrenome, sempre sobre o sobrenome. Téardoso vinha de uma família tradicional de São Paulo, donos de uma rede de concessionárias de carros de luxo espalhadas pela capital. Isadora, por outro lado, era filha de uma professora de escola pública e um mecânico aposentado.
Té costumava dizer que isso não importava, que o amor deles era maior que qualquer diferença social. O amor conquista tudo. Ele havia sussurrado naquela noite mágica no Parque Ibirapuera, seis meses atrás, quando se ajoelhou sob as árvores iluminadas e abriu a caixinha de veludo azul. Está na hora! anunciou a cerimonialista, uma mulher magra de taer cinza que checava o relógio com precisão militar.
“Os convidados estão todos acomodados. Seu pai está esperando.” Isadora respirou fundo. Através da porta entreaberta da sacristia, conseguia ouvir o murmúrio de 300 pessoas. 300, a maioria amigos e conhecidos da família Cardoso. Ela havia conseguido convidar apenas uns 40, parentes próximos, alguns amigos da faculdade de Letras na USP. poucos conhecidos do bairro onde crescera na zona leste.
Seu pai, Osvaldo, apareceu no corredor. O terno alugado estava um pouco largo nos ombros, mas ele jamais parecera tão elegante aos olhos da filha. Os olhos do homem estavam vermelhos. Pronta, minha flor, pronta, pai. Mas não estava. Enquanto os primeiros acordes da marcha nupsal ecoavam pelas colunas da catedral, enquanto seu pai entrelaçava o braço no dela e começavam a caminhar pelo corredor central, coberto com pétalas de rosas brancas.
Isadora sentiu um frio estranho subir pela espinha. A luz das velas laterais dançava nas paredes de pedra. Os vitrais projetavam reflexos coloridos sobre os rostos dos convidados que se viravam para admirar a noiva. Fleches de câmeras explodiam como pequenas estrelas. O perfume de gardênias e lírios do campo enchia o ar.
E lá, no altar elevado, sob o imenso crucifixo dourado, estava Té, alto de cabelos castanhos, perfeitamente penteados para trás. Smoking preto impecável, gravata borboleta alinhada. Ele olhava em sua direção, mas algo estava errado. Seu rosto estava pálido demais, as mãos crispadas ao lado do corpo, a mandíbula tensa. Isadora continuou caminhando. Cada passo ecoava em seus ouvidos como batidas de tambor. 50 passos até o altar. 40 passos. 30.
O sorriso nervoso que ela mantinha nos lábios começou a vacilar. Porque Té não estava sorrindo de volta. Té estava suando. Sua testa brilhava sob as luzes. Seus olhos se desviavam, incapazes de manter contato visual. 20 passos. Foi então que Isadora viu. Sentada na terceira fileira do lado direito, estava Melissa, sua melhor amiga desde os 12 anos.
A garota que havia sido madrinha do casamento, que ajudara a escolher o vestido, que organizara o chá de panelas, que prometera estar ali para sempre. Melissa não olhava para Isadora. Seus olhos estavam fixos em té e havia algo naquele olhar, uma intensidade, uma conexão, uma intimidade que fez o coração de Isadora parar por um segundo. 10 passos. Seu pai a entregou a Té. As mãos frias do noivo tocaram as dela. Isadora subiu os três degraus até o altar.
O padre, um senhor de cabelos brancos e óculos de aro dourado, abriu a Bíblia. Amados irmãos e irmãs, estamos reunidos aqui diante de Deus. Té soltou a mão de Isadora. Esperem. Sua voz saiu rouca, quase inaudível. O padre pausou. Um silêncio pesado caiu sobre a catedral. Té? Isadora sussurrou confusa. Ele deu um passo para trás, outro.
Suas mãos foram ao rosto, os dedos pressionando as têmporas como se tentasse conter uma dor insuportável. Eu eu não posso fazer isso. As palavras flutuaram no ar como cinzas após uma explosão. Como? Isadora não reconheceu a própria voz. Eu não posso me casar com você, Té gritou. E o som reverberou pelas paredes de pedra, multiplicado pelo eco da catedral. 300 pares de óleo se voltaram para eles.
Câmeras foram erguidas, fleches explodiram. O murmúrio cresceu como uma onda. Isadora sentiu o chão balançar sob seus pés. Isto não estava acontecendo. Não podia estar acontecendo. Té, o que você está fazendo? A voz dela saiu fina, infantil, desesperada. Ele finalmente a encarou. Havia lágrimas em seus olhos, mas também algo pior. Determinação.
Eu sinto muito, Isa. Eu realmente sinto, mas eu não posso continuar mentindo para você, para mim, para todos aqui. Mentindo. Mentindo sobre o quê? Té respirou fundo e então, como se estivesse se atirando de um penhasco, disse: “Eu estou apaixonado por outra pessoa. Já estou, já estou com ela há três meses.” O mundo de Isadora girou, suas pernas fraquejaram.
Alguém na primeira fileira, a mãe de Té, deixou escapar um grito abafado. Quem? Isadora mal conseguia formar as palavras. Quem é ela? Té olhou além dela para a terceira fileira. Não, não, não. Melissa se levantou lentamente. Seu vestido de madrinha, Lavanda, escolhido por Isadora, parecia uma acusação. Ela caminhou pelo corredor lateral, subiu os degraus, ficou ao lado de Té. Isa.
A voz de Melissa tremia. Nós não queríamos que fosse assim. Nós tentamos resistir. Juro que tentamos, mas vocês, a palavra saiu como um gemido. Vocês dois. Eu sinto muito. Melissa estendeu a mão, mas Isadora recuou como se o toque pudesse queimá-la. Você é a minha melhor amiga! Isadora gritou e sua voz ecoou pela catedral inteira. Você era minha melhor amiga.
Eu sei, eu sei e eu odeio isso, mas não dá para controlar o que o coração sente. E seu coração. Isadora sentiu algo se partir dentro dela. Não o coração. Aquilo já estava em pedaços. Era algo mais profundo. Sua fé na humanidade, sua capacidade de confiar. Vocês me fizeram de idiota. Vocês me deixaram planejar este casamento, gastar dinheiro que meus pais mal tinham, convidar toda essa gente enquanto vocês, enquanto vocês, ela não conseguiu terminar.
As lágrimas vieram quentes e amargas, borrando a maquiagem que havia levado duas horas para aplicar. Os flashes eram incessantes agora pessoas tiravam fotos com os celulares. Alguém estava gravando, provavelmente vários. Isto estaria nas redes sociais em minutos. A humilhação de Isadora Mendes transmitida ao vivo para o mundo inteiro. Isa, por favor, tente entender. Té começou. Entender.
Entender o quê? Ela girou para encará-lo, o vel voando ao redor de seu rosto. Que você me propôs casamento sabendo que estava traindo? que você me fez acreditar em um futuro juntos enquanto destruía tudo pelas minhas costas. Que você esperou o dia do nosso casamento com 300 pessoas nos assistindo para me humilhar dessa forma? Eu não queria te machucar, ele sussurrou. Mas você machucou.
Isadora sentiu as pernas cederem. Ela caiu de joelhos, o vestido branco se espalhando ao seu redor como uma nuvem. Você me destruiu. O padre, completamente perdido sobre o protocolo para aquela situação, balbuciou algo sobre conversarem com calma. A mãe de Isadora correu pelo corredor, gritando obsenidades.
O pai ficou paralisado, as mãos fechadas em punhos, o rosto vermelho de raiva impotente. E foi naquele momento, com Isadora ajoelhada no altar, soluçando dentro de seu vestido de noiva, com centenas de estranhos documentando seu colapso, com sua vida implodindo em tempo real, que ela ouviu passos firmes, diferentes dos outros, decididos, pesados.
Uma figura atravessou o corredor central, alto, ombros largos, terno preto, perfeitamente talhado, gravata cinza escura. Ele não corria, mas havia urgência em cada movimento. Seu rosto era angular, másculo, com uma mandíbula forte e olhos castanhos escuros que pareciam enxergar através das pessoas. Dante Albuquerque. Isadora o reconheceu vagamente.
Ele havia aparecido em algumas revistas de negócios que circulavam pela faculdade. O empresário de tecnologia mais rico de São Paulo. Algumas pessoas diziam mais rico do Brasil. O homem que tinha apenas 34 anos e construíra um império do zero. Mas o que ele estava fazendo ali? Ela nem o conhecia.
Dante subiu os degraus do altar, ignorou completamente Té e Melissa, tirou o palitó de seu terno, um corte italiano impecável que provavelmente custava mais do que todo o casamento, e o colocou sobre os ombros trêmulos de Isadora. Então, para choque de todos, ele se ajoelhou diante dela. Seus olhos encontraram-os dela. Havia algo naquele olhar.
Uma intensidade que cortou através do caos, da vergonha, do desespero. Permita-me tirá-la daqui. Sua voz era baixa, controlada, mas carregava um peso que fez todos ao redor silenciarem. Isadora piscou através das lágrimas. Quem era esse homem? Por que ele estava fazendo isso? Eu eu não. Você não merece isso, Dante disse simples e direto. Ninguém merece isso.
Aceite minha mão. Vamos sair daqui agora. Havia uma autoridade em sua voz que não admitia questionamento, como se ele estivesse acostumado a dar ordens e ser obedecido. Mas também havia algo mais suave, quase gentil na forma como olhava para ela. Isadora olhou para Té, para Melissa, para centenas de rostos ao redor, alguns horrorizados, outros claramente deliciados com o escândalo.
E então olhou novamente para aquele estranho de olhos escuros que a encarava como se ela fosse a única pessoa na catedral. Ela colocou a mão trêmula na dele. Os dedos de Dante se fecharam ao redor dos seus, firmes, quentes, seguros. Ele a ajudou a se levantar. O paletó dele escorregou ligeiramente de seus ombros e ele o ajeitou com cuidado, como se ela fosse algo precioso e frágil. Então, mantendo a mão dela na sua, Dante virou-se para Té.
Seu olhar era glacial. Você é um covarde”, ele disse. “Cada palavra carregada de desprezo e covardes sempre pagam por suas escolhas.” Sem esperar resposta, ele começou a guiar Isadora pelo corredor. Os convidados se afastaram como se fossem água e ele fogo. Fleches ainda explodiam, mas agora capturavam algo diferente.
Não uma noiva humilhada, mas uma mulher sendo resgatada. Os pais de Isadora tentaram segui-los, mas Dante fez um gesto discreto com a cabeça que os fez parar. Depois, aquele olhar dizia: “Eles saíram da catedral. O ar de São Paulo, poluído, barulhento, caótico, nunca parecera tão bom.
Um carro preto esperava na frente um Mercedes-Benz S Class, que brilhava sob o sol da tarde. Um motorista de boné e uniforme impecável abriu a porta traseira. Dante guiou Isadora para dentro. O interior cheirava a couro italiano e madeira nobre. Ele entrou depois dela e fechou a porta, isolando-os do mundo exterior. “Para casa, Miguel”, ele disse ao motorista.
O carro deslizou suavemente para longe da Catedral da Sé, deixando para trás o caos, a vergonha, os flashes, as risadas cruéis. Isadora afundou no banco de couro. Sua respiração saía em soluços irregulares. Ela não conseguia parar de tremer. Por quê? Ela finalmente conseguiu perguntar: “Por que você fez isso? Você nem me conhece.” Dante a encarou.
Pela primeira vez, uma emoção atravessou aquele rosto impassível. Raiva, fria e contida, mas definitivamente raiva. “Digamos que não suporto injustiças públicas”, ele respondeu. “E o que fizeram com você hoje?” Ele não terminou a frase, mas seu maxilar se contraiu e Isadora percebeu que aquele homem estava genuinamente furioso.
Não com ela, com Té, com Melissa, com todos que riram ou tiraram fotos ou fizeram daquela humilhação um entretenimento. Aonde estamos indo? Ela perguntou de repente consciente de que estava em um carro com um completo estranho para um lugar seguro. Dante respondeu e então, como se lendo seus pensamentos, acrescentou: “Você não precisa ter medo de mim, Isadora. Eu prometo.
Ele sabia seu nome, mas antes que ela pudesse processar isso, antes que pudesse fazer mais perguntas, o cansaço emocional a atingiu como uma onda. Toda a adrenalina, toda a tensão, todo o trauma das últimas horas desabaram sobre ela de uma vez. Seus olhos se fecharam e, pela primeira vez naquele dia terrível, Isadora Mendes permitiu se desmoronar completamente.
O último pensamento que atravessou sua mente antes que a escuridão a reclamasse foi estranho. Quem é esse homem? E por que sinto que minha vida acabou de mudar para sempre? Isadora acordou em um quarto que não era seu. Por um momento de puro pânico, ela não conseguiu se lembrar onde estava.
O colchão era macio demais, os lençóis de uma qualidade de tecido que ela nunca havia experimentado, o ar cheirava a lavanda e algo mais, uma fragrância cara que ela não conseguia identificar. Então tudo voltou em uma enchurrada brutal. O altar, os gritos de Té, o rosto de Melissa, os flashes incessantes e aquele homem de olhos escuros que a tirara de lá, Dante Albuquerque.
Ela sentou-se bruscamente, o coração disparado, ainda usava o vestido de noiva, embora alguém houvesse retirado o véu. Suas mãos foram imediatamente ao corpo, verificando, mas não. Ela estava intacta. Ninguém havia tocado nela de forma inadequada. O quarto era enorme.
Paredes em tons neutros de cinza e branco, móveis de madeira escura que pareciam antiguidades. Uma janela enorme com cortinas de linho cru que permitiam a entrada de luz suave. Uma porta entreaberta revelava um banheiro privativo com mármore e metais dourados. Onde diabos ela estava? Isadora deslizou para fora da cama. Seus pés descalços, quando havia perdido os sapatos, afundaram em um tapete persa que provavelmente custava mais do que o carro dos seus pais. Ela foi até a janela. A vista a deixou sem ar.
Jardins, não um quintal comum, mas jardins extensos e meticulosamente cuidados, grama aparada em um verde impossível, fontes de pedra, canteiros de flores em explosões de cores, árvores altas que criavam sombreados estratégicos. E além deles, ela podia ver a imponência de uma mansão, não, um palácio, com arquitetura clássica, colunas brancas, sacadas, envidraçadas. Está acordada.
Isadora girou tão rápido que quase tropeçou no vestido. Na porta do quarto estava uma mulher de uns 60 anos, cabelos grisalhos presos em um coque impecável, uniforme preto, simples, mas elegante, avental branco. Eu quem é você? Dona Rosa, a governanta. A mulher sorriu gentilmente. O Senr. Dante me pediu para ficar atenta. Ele disse que a senhorita passou por uma situação difícil.
Situação difícil? Que eufemismo delicado para a pior humilhação da vida de alguém. Onde eu estou? Na mansão do senhor Dante, no Jardim Europa. Ele a trouxe ontem à tarde. A senhorita dormiu por quase 14 horas. 14 horas. Isadora olhou pela janela novamente, percebendo agora que o sol estava alto. Era manhã, domingo de manhã.
Deveria estar em sua lua de mel agora. Deveria estar em um resort em Angra dos Reis, nadando com golfinhos jantando à luz de velas, começando sua nova vida como esposa de Té Cardoso. Em vez disso, estava em um quarto estranho na casa de um homem que mal conhecia, ainda vestindo o vestido de noiva que se tornara um símbolo da sua humilhação.
“Meus pais”, ela começou a voz falhando. “Eles devem estar preocupados. O Sr. Dante falou com eles ontem à noite. Dona Rosa disse suavemente. Explicou que a senhorita estava segura e precisava de tempo. Sua mãe chorou muito, mas seu pai compreendeu. Eles virão visitá-la quando a senhorita se sentir pronta. Lágrimas arderam nos olhos de Isadora.
A ideia de seus pais, pessoas simples, trabalhadoras, que haviam economizado cada centavo para aquele casamento maldito, tendo que lidar com a vergonha pública, trouxe roupas limpas. Dona Rosa continuou apontando para uma poltrona onde estavam dobrados uma calça de moletom cinza e uma blusa branca simples. Depois que se trocar, o Senr. Dante gostaria de conversar com a senhorita.
Sem pressão, é claro, no horário dela. Isadora queria dizer que não, que só queria ir para casa, esconder-se embaixo das cobertas e nunca mais sair. Mas uma parte dela, a parte que sempre fora curiosa, que sempre fizera perguntas demais, que escolhera literatura justamente para entender as complexidades humanas, essa parte queria respostas.
Quem era Dante Albuquerque? Porque ele a ajudara? O que ele queria? “Vou me trocar”, ela murmurou. Dona Rosa assentiu e saiu discretamente, fechando a porta atrás de si. O banheiro era ainda mais impressionante de perto. Isadora ficou um minuto inteiro apenas olhando para a banheira de imersão, que parecia esculpida em um único bloco de mármore branco, mas foi para o chuveiro que ela se dirigiu, precisando lavar não apenas a sujeira física, mas também a emocional.
A água quente caiu sobre ela como absolvição. Ela ficou ali até seus dedos enrugarem, até as lágrimas misturarem-se com a água do chuveiro, até não ter mais força nem para chorar. Quando finalmente saiu, enrolou-se em uma toalha tão macia que parecia feita de nuvens. As roupas que dona Rosa deixara serviam perfeitamente.
Não eram dela, obviamente, mas pareciam novas, com etiquetas ainda anexadas. Alguém havia saído para comprá-las especialmente para ela. Isadora prendeu os cabelos molhados em um rabo de cavalo simples, olhou-se no espelho e não reconheceu a mulher que a encarava de volta. Seus olhos estavam inchados de tanto chorar, a pele pálida, os lábios sem cor. Ela parecia um fantasma de si mesma. Isso é o que a traição faz.
Pensou amargamente. Uma batida suave na porta. Senhorita Isadora, a voz de dona Rosa. O senhor Dante está no escritório. Quer que eu a acompanhe? Isadora respirou fundo. Não há como adiar para sempre. Sim, por favor. O corredor era uma galeria de arte, quadros que Isadora suspeitava serem originais.
Um de cavalcante ali, o que parecia um portináriolá. Esculturas em nichos iluminados. A casa toda cheirava a dinheiro antigo. Apesar de Dante ser um empresário jovem e novo rico, eles desceram uma escadaria ampla de mármore com corrimão de Mogno. O hall de entrada era do tamanho do apartamento inteiro onde Isadora crescera.
Um lustre de cristal pendia do teto alto. O piso era um mosaico intrincado que devia ter custado uma fortuna. Dona Rosa a conduziu por outro corredor, parou diante de uma porta dupla de madeira escura e bateu duas vezes. “Entre”, a voz de Dante soou do interior. A governanta abriu a porta e fez um gesto para que Isadora passasse.
Então se retirou discretamente. O escritório era masculino e imponente, estantes que iam do chão ao teto, repletas de livros e não livros decorativos, mas volumes claramente lidos com marcadores e cantos dobrados. Uma mesa enorme de madeira escura dominava o centro do ambiente. Janelas amplas mostravam os jardins e, em uma das paredes, vários monitores mostravam gráficos, números, cotações de bolsa.
Dante estava de pé junto à janela, usando calça jeans escura e camisa branca com as mangas dobradas até os cotovelos. Sem a formalidade do terno, ele parecia mais jovem, mas não menos intimidador. Seus antebraços musculosos sugeriam que ele não passava todo o tempo atrás de uma mesa. Ele se virou quando ela entrou. Isadora. Sua voz era diferente agora, menos autoritária, mais cuidadosa. Como está se sentindo? Que pergunta.
Como alguém deveria se sentir depois de ter a vida implodida em público? Não sei”, ela respondeu honestamente, confusa, envergonhada e grata. “Você não precisava fazer o que fez ontem.” “Precisava sim”, ele replicou imediatamente com uma intensidade que a surpreendeu. O que aquele covarde fez foi, Ele parou, claramente se controlando. “Me desculpe, não é sobre mim.” Ele gesticulou para uma poltrona de couro confortável, perto de uma lareira apagada. “Por favor, sente-se.
Quer café? Chá. Dona Rosa faz um pão de queijo extraordinário. A menção à comida fez o estômago de Isadora roncar. Ela não havia comido nada desde o café da manhã do dia anterior, antes do casamento, que não aconteceu. “Chá seria bom”, ela murmurou, sentando-se. Dante apertou um botão discreto na mesa. Momentos depois, dona Rosa apareceu com uma bandeja prateada.
Bule de porcelana, xícaras delicadas, pão de queijo ainda quente, exalando aquele aroma irresistível, geleias artesanais, manteiga em uma pequena travessa de cristal. Isadora comeu em silêncio, surpreendendo-se com sua própria fome. Dante não falou, apenas observou e, estranhamente ela não se sentiu desconfortável sob aquele olhar atento.
Quando ela terminou, limpou delicadamente os lábios no guardanapo de linho e, finalmente, fez a pergunta que martelava em sua mente. Por quê? Dante arqueou uma sobrancelha. Por que? O quê? Exatamente tudo. Por que você estava naquele casamento? Por que você me ajudou? por me trouxe para sua casa. Você nem me conhece.
Ele ficou em silêncio por um longo momento, os olhos fixos nela com uma intensidade que fazia Isadora querer desviar o olhar, mas ela se forçou a manter contato visual. Téo Cardoso Dante começou, sua voz carregando um tom de desdém. Fechou um negócio com minha empresa há seis meses. Concessão de tecnologia para os sistemas das concessionárias dele. Foi uma negociação difícil.
Ele é escorregadio, tentou me enganar três vezes no contrato. Eventualmente, chegamos a um acordo que me favorecia mais do que ele percebeu. Ele se levantou, caminhou até a janela, as mãos nos bolsos. Quando recebi o convite para o casamento, pensei em recusar, mas havia uma cláusula no contrato que beneficiava minha empresa se eu comparecesse a eventos sociais importantes relacionados aos Cardosos. Então, fui, era apenas negócios.
Ele pausou e quando continuou, sua voz havia mudado, ficado mais suave, mas também mais intensa. E então vi você entrando naquela catedral radiante, esperançosa, apaixonada, e pensei: “Essa garota não faz ideia do tipo de homem que está prestes a se casar, porque eu conhecia Téo, conhecia sua natureza escorregadia, sua falta de caráter, mas pensei que talvez, talvez ele fosse diferente na vida pessoal”.
Dante virou-se para encará-la. E então ele fez aquilo, destruiu você diante de centenas de pessoas e percebi que ele era exatamente o covarde que eu suspeitava. E eu, Celesitou, como se as próximas palavras fossem difíceis. Eu não pude simplesmente assistir, mas me trazer para sua casa, me dar um quarto, por que tamanha generosidade com uma estranha? Dante voltou para a mesa, apoiou-se nela, seus olhos penetrantes não se desviando dos dela. “Porque eu sei o que é ser humilhado publicamente”, ele disse baixinho. “Meu pai perdeu tudo que
tínhamos quando eu tinha 16 anos. Uma falência fraudulenta orquestrada por sócios que roubaram dele. Fomos despejados de nossa casa. Minha mãe morreu seis meses depois. Dizem que foi câncer, mas eu sei que foi o coração partido. Meu pai se entregou ao álcool e eu eu tive que reconstruir tudo do zero. Ele sorriu, mas não havia humor ali, apenas amargura antiga. Então, sim, Isadora.
Eu sei o que é ter sua vida destruída em público e jurei a mim mesmo que se algum dia tivesse poder para impedir que isso acontecesse com outra pessoa, eu o faria. As palavras pairaram entre eles. Isadora sentiu algo se mover em seu peito. Empatia, reconhecimento. Esse homem havia passado por seu próprio inferno e saíra do outro lado. “Eu sinto muito”, ela murmurou.
“Pelo seu pai, pela sua mãe.” “Não sinta”, ele respondeu secamente. Aquilo me tornou quem sou, forte, implacável quando necessário, mas também consciente do valor da compaixão quando ela é devida. Ele se afastou da mesa, caminhou até uma das estantes e pegou um livro Grandes Sertões, Veredas, de Guimarães Rosa, edição antiga, Capa desgastada pelo tempo. Você estuda a literatura na USP, não é? Isadora piscou surpresa.
Como você sabe disso? Eu faço minha lição de casa. Ele respondeu simplesmente foliando o livro. Quando decidi intervir ontem, fiz algumas pesquisas básicas. Você está no último ano de Letras com especialização em literatura brasileira, bolsista por mérito. Média 9.2. Escreveu um artigo sobre a dicotomia entre civilização e sertão em Euclides da Cunha, que foi publicado em uma revista acadêmica.
Mora com seus pais em Itaquera e estava prestes a se casar com um idiota que claramente não merecia você. Ele disse tudo isso de forma casual, mas o impacto foi imenso. Esse homem havia pesquisado sobre ela em menos de 24 horas. Ele sabia mais sobre sua vida acadêmica do que Té jamais se importou em descobrir. “Você me investigou”, ela disse, não conseguindo decidir se deveria se sentir lisongeada ou invadida.
Eu quis saber quem era a mulher que estava ajudando. Dante corrigiu e fiquei impressionado. “Você é brilhante, Isadora. Seu currículo acadêmico é excepcional, mas mais que isso, ele pausou. Os professores que consultei discretamente disseram a mesma coisa: você tem fogo, paixão, determinação.
Uma garota da zona leste que conquistou uma bolsa integral na USP e se destacou entre alunos de classes privilegiadas. Ele colocou o livro de volta na prateleira. Então, minha pergunta é: “Por que diabos você estava se casando com Té Cardoso?” A pergunta atingiu Isadora como um soco. Porque? Por que mesmo? Ela pensou que era amor.
Pensou que ele era charmoso, atencioso, que vinha de um mundo diferente, mas que a aceitava como era. Mas agora, com a clareza brutal que só o trauma pode trazer, ela se perguntou: “Havia mesmo amor ali? Ou apenas o deslumbramento de uma garota de classe média baixa com um boy de vida privilegiada?” Eu pensei, ela começou a voz falhando. Eu pensei que ele me amava e você o amava.
Isadora abriu a boca para dizer sim, mas a palavra não veio, porque sendo brutalmente honesta, ela não tinha certeza. Ela amava a ideia dele, amava a vida que ele representava ou amava verdadeiramente o homem. “Eu não sei”, ela admitiu em um sussurro. E então as lágrimas vieram novamente. Meu Deus, eu não sei.
Como eu posso não saber? Eu ia me casar com ele. Dante se moveu e de repente estava ajoelhado diante dela, como havia feito no altar. Mas desta vez não havia plateia, era apenas eles dois. Seus olhos castanhos escuros a encaravam com uma gentileza inesperada. Não ser capaz de responder essa pergunta diz mais sobre Té do que sobre você”, ele disse suavemente.
Um homem que realmente ama não deixa dúvidas. Ele faz você ter certeza todos os dias de que é amada. E ele claramente nunca fez isso. Isadora soluçou. Dante pegou um lenço de tecido do bolso, quem ainda usava lenços de tecido, e o ofereceu a ela. “Obrigada”, ela murmurou, enxugando os olhos.
por tudo, pela ajuda, pelo refúgio, pelas palavras, mas eu eu preciso ir para casa em breve. Preciso enfrentar isso. Não posso me esconder aqui para sempre. Você pode Dante disse. E havia algo estranho em sua voz. Algo que fez Isadora erguer os olhos para encontrá-lo estudando-a intensamente. Ficar aqui, quero dizer, se quiser. Eu não posso simplesmente viver na sua casa.
Isso seria inadequado, estranho? Ele sorriu pela primeira vez e o sorriso transformou completamente seu rosto. Ele ficou menos intimidador, mais humano, talvez, mas tenho uma proposta melhor. Isadora sentiu algo apertar em seu peito. Que tipo de proposta? Dante se levantou, estendeu a mão para ela. Venha, tem alguém que quero que você conheça.
Confusa, mas curiosa, Isadora aceitou a mão dele. Os dedos dele eram firmes, quentes, seguros, assim como haviam sido ontem quando ele a tirou da catedral. Ele a guiou para fora do escritório, através da mansão, até os jardins. O sol da manhã estava brilhante. O ar cheirava a grama recémcortada e jasmim. Eles caminharam por um caminho de pedras até uma área mais afastada, onde havia uma pequena casa de hóspedes pintada de branco com janelas azuis. Dante bateu na porta. Entre, meu menino.
Uma voz feminina idosa, mas vigorosa, chamou de dentro. Quando entraram, Isadora viu uma sala aconchegante, repleta de fotografias em molduras antigas, crochês coloridos sobre móveis de madeira, um cheiro de bolo no ar e sentada em uma poltrona de balanço com uma xícara de chá na mão e um sorriso caloroso no rosto enrugado.
Estava uma senhora de cabelos brancos como neve, olhos azuis brilhantes e uma expressão que irradiava bondade. Vovó”, Dante disse, sua voz suavizando de uma forma que Isadora não achava possível. Esta é Isadora Mendes. Isadora, minha avó, dona Teresa. A velha senhora colocou a xícara de lado e abriu os braços. Vem cá, minha filha. Dante me contou tudo sobre você. Que tristeza o que te fizeram.
E antes que Isadora pudesse processar, ela estava sendo envolvida em um abraço de avó. O tipo de abraço que cheirava a talco e amor incondicional, que fazia você se sentir segura. Mesmo quando o mundo estava desmoronando, Isadora afundou naquele abraço e chorou. Chorou tudo que não havia chorado ainda.
E dona Teresa apenas assegurou, fazendo pequenos sons reconfortantes, acariciando seus cabelos como se ela fosse uma criança assustada. Quando finalmente se separaram, a avó de Dante a fez sentar, serviu chá fresco e pão de queijo caseiro ainda quente. Aparentemente, essa era a solução universal da família para todos os problemas. Agora, dona Teresa disse, suas mãos enrugadas segurando-as de Isadora. Dante tem uma ideia.
É meio maluca, para ser sincera, mas meu neto sempre foi assim. E sabe de uma coisa, suas ideias malucas sempre funcionam. Isadora olhou para Dante, que estava apoiado no batente da porta, observando-as com uma expressão indecifável. Que ideia! Dante respirou fundo e, então, com a mesma seriedade com que provavelmente fechava negócios de milhões de reais, disse: “Case-se comigo. O mundo parou.” Isadora tinha certeza de que havia ouvido errado.
“O quê?” Um casamento de conveniência por um ano. Contrato formal, tudo acertado legalmente. Minha avó está doente. Ele olhou para dona Teresa com uma ternura que partiu o coração de Isadora. E o último desejo dela é me ver casado antes de antes do final. Dante querido, não seja mórbido.
Dona Teresa repreendeu gentilmente, mas seus olhos brilhavam com lágrimas. Desculpe, vovó. Ele voltou a atenção para Isadora. O ponto é, eu preciso de uma esposa temporariamente e você precisa de bem de uma nova vida, uma forma de recomeçar longe do escândalo, da vergonha pública, das redes sociais, longe de Té e Melissa. Isadora apenas o encarava, incapaz de formar palavras. Pense bem.
Dante continuou agora caminhando até ficar de frente para ela. Se casar comigo, você terá segurança financeira, proteção do assédio da mídia, acesso a recursos que podem transformar sua carreira acadêmica, conexões que podem abrir portas que você jamais imaginou. E depois de um ano, quando minha avó, ele pausou, engoliu em seco. Depois de um ano, nos divorciamos amigavelmente.
Você fica com um generoso acordo financeiro e pode reconstruir sua vida como desejar, mas isso é loucura. Isadora finalmente encontrou sua voz. Casamento de conveniência. Isso só existe em novelas, existe em contratos inteligentes. Dante corrigiu. Eu posso te mostrar a papelada. Tudo legal, tudo claro, sem ambiguidades. Você teria sua própria suí, sua liberdade.
Não esperaria nada romântico ou físico de você. Seria apenas um acordo de negócios. Meu neto, dona Teresa, interveio, é bom em muitas coisas, mas ele é terrível em pedir ajuda ou em explicar seus sentimentos. O que ele está tentando dizer, minha filha, é que isso seria bom para ambos. Ele cumpre o desejo de uma velha moribunda e você ganha tempo e recursos para se curar e reconstruir.
Isadora olhou entre os dois, o empresário implacável, de olhos intensos, aó doce de sorriso caloroso. Isso era absolutamente insano. Mas qual era sua alternativa? Voltar para casa, enfrentar as fofocas, os olhares de pena, as piadas nas redes sociais? Ver sua humilhação se tornar meme, cruzar com Té e Melissa pelas ruas de São Paulo? Ou se eu aceitar essa oferta maluca de um estranho que a salvou no pior dia de sua vida.
Preciso de tempo para pensar, ela disse finalmente. É claro, Dante assentiu. Fique aqui pelo tempo que precisar, sem impressão. Quando estiver pronta, me dê sua resposta. Ele se virou para sair, mas Isadora chamou. Dante. Ele parou, olhou por sobre o ombro. Por que eu? Se você precisa de uma esposa temporária, certamente há dúzeas de mulheres que aceitariam de bom grado, mulheres da sua classe social, do seu mundo. Um sorriso triste tocou os lábios dele.
Porque você é genuína, ele respondeu simplesmente: “E nesse mundo de pessoas falsas e interesseiras, isso é mais raro do que você imagina”. E então ele saiu, deixando Isadora sozinha com dona Teresa, com uma xícara de chá esfriando em suas mãos e com a decisão mais absurda e potencialmente transformadora de sua vida pela frente.
Três dias se passaram antes que Isadora desse sua resposta. Três dias em que ela ficou na mansão do Jardim Europa explorando os jardins, conversando com dona Teresa, evitando as redes sociais que explodiam com memes e vídeos do casamento mais desastroso de São Paulo. Três dias em que mal viu Dante, que parecia estrategicamente se manter distante, dando-lhe espaço.
Três dias em que ela ligou para seus pais, explicou a situação absurda e ouviu seu pai dizer algo que mudou tudo. Filha, você passou a vida inteira fazendo o que era esperado, estudando duro, seguindo as regras, tentando agradar todo mundo. E olha onde isso te levou.
Talvez seja a hora de fazer algo inesperado, algo só para você. Era uma terça-feira à tarde quando Isadora finalmente bateu na porta do escritório de Dante. Entre. A voz dele ecuou. Ele estava atrás da mesa, três monitores à sua frente mostrando gráficos complexos, telefone preso entre o ombro e a orelha. enquanto digitava algo rapidamente. Quando viu Isadora, ele interrompeu a ligação abruptamente.
“Preciso ligar de volta”, disse ao telefone e desligou sem esperar resposta. Ele se levantou, a atenção totalmente focada nela. Usava calça social cinza e camisa azul marinho com as mangas dobradas, revelando um relógio caro no pulso. Estava com uma barba por fazer de dois dias que estranhamente o deixava ainda mais atraente. Pare com isso. Isadora repreendeu a si mesma.
Isso é apenas negócios. Decidi. Ela disse, sem preâmbulos. Vou aceitar sua proposta, mas tenho condições. Algo brilhou nos olhos de Dante. Surpresa, alívio, satisfação. Estou ouvindo. Isadora ergueu o queixo, lembrando-se das palavras do pai. Faça algo para você. Primeiro, quero continuar meus estudos.
Vou terminar minha graduação e quero fazer mestrado. Se isso significa ficar na USP ou ir para outra universidade, não quero ser impedida. Concordo totalmente. Na verdade, posso facilitar contatos em programas de pós-graduação excelentes, se desejar. Segundo, liberdade de movimento. Não vou ser prisioneira desta casa, por mais bonita que seja. Quero poder sair ver meus pais ter minha própria vida.
Obviamente, você terá um motorista à disposição 24 horas e um cartão corporativo sem limite para suas necessidades pessoais. Isadora piscou. Ela estava esperando ter que negociar cada ponto. Terceiro, ela continuou mais confiante agora. Quando o ano terminar, nos separamos de forma amigável, sem drama, sem brigas judiciais. Cada um segue seu caminho. Concordo. Teremos um contrato prénupcial muito claro sobre isso.
Meu advogado é um dos melhores do Brasil. Ele garantirá que seus interesses estejam protegidos. E quarto, Isadora respirou fundo. Nada de intimidade física. Este é um acordo de negócios. Não quero que haja confusão sobre isso. Pela primeira vez, uma emoção clara atravessou o rosto de Dante. Ele pareceu quase magoado, mas desapareceu tão rápido que Isadora pensou ter imaginado.
“Claro”, ele disse, sua voz voltando ao tom profissional. Quartos separados, vidas separadas. Atuaremos como casal apenas em público quando necessário. Então, temos um acordo. Isadora estendeu a mão. Dante olhou para a mão dela, depois para seu rosto e então, em vez de apertar sua mão, ele pegou um controle remoto da mesa e apontou para a parede.
Um painel deslizou, revelando uma tela enorme. Ele clicou algumas vezes e um documento apareceu. Este é o contrato de casamento que meu advogado preparou, ele explicou. Leia com atenção. Se quiser um advogado próprio para revisá-lo, eu pago. Não quero que haja dúvidas ou mal entendidos. Isadora se aproximou da tela, começando a ler.
O documento tinha 43 páginas e quanto mais lia, mais impressionada ficava. Dante não estava apenas oferecendo segurança financeira durante o ano. Ele estava oferecendo transformação completa, uma mesada mensal generosa, mais do que seus pais ganhavam juntos em se meses. Cobertura total de educação, cursos, viagens acadêmicas, materiais, um fundo fiduciário que seria liberado após o ano, garantindo independência financeira, seguro de saúde premium para ela e seus pais, um apartamento em seu nome após o divórcio, conexões profissionais na área literária, mas
também havia cláusulas interessantes, aparições públicas, juntos, mínimo de dois eventos por mês, visitas regulares à dona Teresa, Descrição total. Nenhum dos dois poderia falar sobre o acordo para terceiros. Cláusula de fidelidade. Nenhum dos dois poderia se envolver romanticamente com outras pessoas durante o ano. A última cláusula.
Isadora apontou sobre fidelidade. Mas você disse que nada de intimidade entre nós. Isso não é contraditório? Dante se aproximou, ficando ao lado dela enquanto apontava para o texto. É para proteger a imagem pública do casamento, ele explicou. E ela podia sentir o calor emanando de seu corpo, o perfume sutil de sua colônia. Se qualquer um de nós for visto com outra pessoa romanticamente, a farça cai por terra.
Minha avó ficaria devastada e você voltaria a ser manchete dos tabloides. Fazia sentido, mas também significava um ano inteiro sem possibilidade de o que exatamente ela mal havia se recuperado de té. A ideia de outro homem fazia seu estômago revirar. Tudo bem. Ela concordou. Mas e depois do ano? Somos livres? Completamente livres. Isadora leu o restante do documento.
Estava tudo ali, claro e legal. Ele não estava tentando enganá-la ou aprisioná-la. Ao contrário, parecia estar lhe dando a oportunidade de reconstruir sua vida de uma forma que ela nunca teria sozinha. “Preciso de uma caneta”, ela disse. “Finalmente.” Dante piscou. “Tem certeza? Não quer tempo para pensar? Consultar alguém? Tenho certeza. E estranhamente ela tinha.
Pela primeira vez em dias, sentia que estava tomando o controle de sua própria vida, não sendo vítima das circunstâncias, mas fazendo uma escolha ativa. “Mas quero que você assine primeiro.” Um sorriso lento, genuíno, se espalhou pelo rosto de Dante. Ele pegou uma caneta Mon Blanc da mesa, foi até a última página do documento na tela, que aparentemente era digital e poderia ser assinado eletronicamente, e assinou com um floreio.
Então ofereceu a caneta a Isadora. Ela a pegou, suas mãos roçando-nas dele. Houve uma centelha, eletricidade estática, certamente, que fez ambos recuarem ligeiramente. Isadora assinou. Isadora Mendes. Sua caligrafia parecia tão pequena e inadequada ao lado da assinatura forte e confiante de Dante.
“Pronto”, ela disse, devolvendo a caneta. “Agora o quê? Agora?” Dante salvou o documento, enviou cópias para vários endereços de e-mail. Nós nos casamos oficialmente no cartório. Amanhã, se você concordar, quanto mais rápido, menos chance da imprensa descobrir e transformar em circo. Amanhã, meu Deus, ela estaria se casando novamente, apenas uma semana depois do desastre na catedral. Tudo bem.
Ela ouviu a própria voz dizer: “Amanhã, amanhã seguinte, amanheceu nublada, típica de São Paulo. Isadora acordou com dona Rosa, batendo suavemente em sua porta, trazendo café da manhã em uma bandeja prateada: pão francês quentinho, manteiga, geleia de frutas vermelhas, suco de laranja espremido na hora e um pequeno buquê de lírios brancos.
Para dar sorte, a governanta disse com um sorriso caloroso. Senr. Dante já saiu para resolver alguns assuntos. Ele estará de volta ao meio-dia para buscá-la. Isadora comeu mecanicamente, olhando pela janela para os jardins, onde a névoa da manhã ainda não havia se dissipado completamente. Ela estava realmente fazendo isso, casando-se com um estranho por dinheiro e conveniência. Não, ela se corrigiu.
Não é apenas por dinheiro, é por uma segunda chance, por liberdade, por escolha. Às 11 horas, dona Rosa retornou com um vestido. Não era um vestido de noiva, era um vestido medid seda na cor champanhe, elegante e sofisticado, com um corte que valorizava suas curvas sem ser exagerado. Havia também sapatos de salto nude, uma bolsa pequena de couro e um casaco leve de alfaiataria. O Sr. Dante mandou buscar especialmente para hoje, dona Rosa explicou.
Mas se a senhorita preferir usar outra coisa, não está perfeito Isadora murmurou tocando a seda suave e estava. Quando se vestiu e se olhou no espelho, viu uma versão diferente de si mesma. Não a noiva ingênua de uma semana atrás. Não a garota humilhada do altar, mas uma mulher decidida no controle. Exatamente ao meio-dia, o Mercedes preto parou em frente à entrada principal.
Dante saiu e Isadora sentiu o ar escapar de seus pulmões. Ele usava um terno cinza carvão impecavelmente cortado, camisa branca sem gravata, o primeiro botão aberto de forma casual, mas elegante. Havia uma pequena caixa de veludo em sua mão. “Está linda”, ele disse quando ela desceu os degraus da entrada. “Obrigada. Você também está apresentável.” Ele sorriu e aquele sorriso fez algo estranho com o estômago de Isadora.
Antes de irmos, ele abriu a caixa. Eu sei que isso é apenas negócios, mas precisaremos de alianças para manter as aparências. Dentro da caixa havia dois anéis simples de ouro branco, elegantes, discretos, caros. Não precisava. Isadora começou. Precisava sim, minha avó perguntaria. Ele pegou o menor dos anéis, segurou a mão esquerda de Isadora.
Posso? Ela assentiu incapaz de falar. Dante deslizou o anel em seu dedo anelar. Encaixou perfeitamente, como se tivesse sido feito para ela. O metal estava frio contra sua pele, mas esquentou rapidamente. “Seu turno”, ele ofereceu a própria mão. Isadora pegou o outro anel com dedos trêmulos. A mão de Dante era grande, forte, com dedos longos e uma cicatriz pequena no polegar.
Ela deslizou o anel, seus dedos roçando a pele dele e, de novo sentiu aquela centelha estranha. “Pronto”, ela sussurrou. “Pronto!”, ele ecoou. Então, como se voltando ao modo empresário, ele se virou para o carro. “Vamos, temos um casamento para oficializar”. O cartório no Jardim Paulista era discreto, elegante, longe dos olhares curiosos.
Dante havia agendado tudo com antecedência e garantido privacidade absoluta. Havia apenas quatro pessoas além deles. O oficial de registro, Dr. Fernando, um homem de meia idade, com óculos e um sorriso gentil. Duas testemunhas que Dante trouxe, seu advogado particular e a secretária executiva.
E para a surpresa de Isadora, dona Teresa, a avó de Dante estava sentada em uma cadeira de rodas, desde quando ela precisava de cadeira de rodas. Mas seu sorriso era radiante. Não perderia isso por nada, ela disse quando Isadora se aproximou. Meu menino finalmente encontrando alguém especial. Isadora se sentiu culpada. Se ela soubesse que isso é apenas um acordo.
A cerimônia foi rápida, nada como o espetáculo planejado na catedral. Dr. Fernando leu os artigos legais, fez as perguntas formais, carimbou os documentos. Pode beijar a noiva”, ele disse com um sorriso. Isadora congelou. Claro, era esperado. Mas a cláusula de não intimidade, Dante se aproximou. Seus olhos encontraram os dela. Uma pergunta silenciosa. Ela deu um pequeno aceno.
Ele se inclinou. Seus lábios tocaram o canto da boca dela, um beijo casto, rápido, apropriado para o contexto. Mas mesmo aquele toque mínimo enviou ondas de calor através de seu corpo. Quando se separaram, dona Teresa estava aplaudindo com lágrimas escorrendo pelo rosto. “Finalmente”, ela murmurou.
“Finalmente meu menino está feliz”. Isadora sentiu o peso da culpa. Dante estava fazendo isso por sua avó e ela estava permitindo que a mulher acreditasse em uma mentira. Mas quando olhou para Dante, viu algo em seus olhos, gratidão genuína, e percebeu que mentira ou não, eles estavam dando paz a uma mulher moribunda.
Havia honra nisso, não? Eles voltaram para a mansão como marido e mulher, legalmente casados. Isadora Mendes Albuquerque dizia agora seu documento. Ela deveria se sentir estranha, deveria se sentir errada, mas em vez disso sentiu alívio, como se um peso tivesse sido tirado de seus ombros. “Sua família está vindo jantar”, Dante disse quando chegaram.
“Se você se sentir confortável, achei que seria bom eles verem que você está bem”. Isadora parou no meio do hall de entrada. “Você convidou meus pais e seu irmão mais novo, Pedro, certo? 17 anos cursando o terceiro ano do ensino médio. Quer estudar engenharia? Dante sorriu diante da expressão chocada dela. Eu disse que faço minha lição de casa.
Às 7 da noite, quando os pais e o irmão de Isadora chegaram no modesto corça amarelo da família, parecendo completamente deslocados no portão imponente da mansão, Isadora correu para abraçá-los. Sua mãe chorou. Seu pai tentou ser forte, mas seus olhos estavam vermelhos. Pedro apenas a abraçou forte e sussurrou. Você está mesmo bem, mana? Estou, ela respondeu. E era verdade.
O jantar foi surpreendentemente confortável. Dante não agiu como um empresário arrogante. Ele conversou com seu pai sobre mecânica. Aparentemente colecionava carros clássicos. Elogiou a comida simples que sua mãe insistiu em trazer, um bolo de cenoura caseiro e até ofereceu orientação de carreira para Pedro.
Se você quer engenharia, Dante disse ao garoto, eu conheço os melhores programas e posso garantir que você consiga estágios nas minhas empresas quando estiver pronto. Os olhos de Pedro brilharam. Ninguém nunca havia oferecido algo assim para a família Mendes. Quando eles saíram tarde da noite, Cleusa puxou Isadora para um canto. Esse homem, ela sussurrou. Ele olha para você de um jeito diferente.
Mãe, isso é apenas um arranjo temporário. Eu te expliquei. Eu sei o que você explicou, filha, mas eu sou sua mãe. Eu vejo coisas. E esse homem, ele não olha para você como negócio. Ele olha para você como quem vê algo precioso. Isadora queria discordar, mas quando olhou de volta para a mansão e viu Dante na janela do escritório, observando-a, não conseguiu negar que havia algo no olhar dele, algo que fazia seu coração disparar de uma forma que não deveria.
As primeiras semanas, como Isadora Albuquerque, ela ainda não se acostumara com o sobrenome, foram um borrão de ajustes e descobertas. A rotina na mansão era clockwork. Dona Rosa acordava às 6, preparava café da manhã. Miguel, o motorista, estava sempre disponível. A equipe de limpeza vinha três vezes por semana.
Um chefe particular preparava jantares quando solicitado. Isadora tinha sua própria suí, maior que a casa inteira onde crescera. Banheiro privativo com banheira de hidromassagem, closet que era inicialmente vazio, até que Dante contratou uma personal stylist para adequar seu guarda-roupa. Palavras dele que ela aceitou com alguma relutância, mas que secretamente apreciou. Dante mantinha distância respeitosa.
Eles compartilhavam cafés da manhã quando ambos estavam em casa. ocasionalmente jantavam juntos, mas ele passava a maior parte do tempo no escritório ou viajando para reuniões. Era estranho, como viver com um colega de apartamento extremamente educado e absurdamente rico. Até que na terceira semana, Dante bateu na porta do quarto dela uma noite.
“Entre”, ela chamou, marcando a página do livro que lia, uma análise acadêmica sobre Machado de Assis. Ele estava em trages casuais. Calça de moletom cinza e camiseta preta que acentuava seus ombros largos, cabelos úmidos da ducha, descalço. Era a primeira vez que ela ouvia tão humano. Desculpe incomodar.
Ele começou, mas tem um evento amanhã à noite. Gala beneficente no MASP. Será nossa primeira aparição pública como casal. Pensei em avisá-la com antecedência. Isadora sentiu o estômago dar um nó. Primeira aparição pública. Significava olhares, sussurros. Julgamentos algum código de vestimenta? Black tie. Mas a Stylist já deixou três opções de vestidos no seu closet.
Escolha o que se sentir mais confortável. Ele se virou para sair, mas Isadora o chamou. Dante, eu eu não sou boa nessas coisas. Eventos sociais da alta sociedade. Eu vou fazer você passar vergonha. Ele voltou, seus olhos intensos focados nos dela. Isadora, você tem mestrado em uma das universidades mais prestigiadas do país. Você lê literatura em três idiomas.
Você pode discutir filosofia, história, arte. A maioria das pessoas nesses eventos mal consegue ler um livro por ano. Eles é que deveriam se preocupar em impressioná-la. Não, o contrário. As palavras dele derramaram sobre ela como bálsamo. Eu estarei ao seu lado. Ele continuou mais suavemente o tempo todo. Se ficar desconfortável, apenas segure minha mão um pouco mais forte. Entenderei o sinal e nós vamos embora.
Combinado? Ela assentiu algo quente se espalhando em seu peito. Combinado. O MASP à noite era mágico. O museu iluminado, com sua arquitetura icônica sobre os pilares vermelhos parecia flutuar sobre a Avenida Paulista. Limusines e carros importados descarregavam homens em smokings e mulheres em vestidos de gala.
Isadora escolhera um vestido verde esmeralda de um ombro só que a personal stylist dissera destacar seus olhos castanhos quentes. Sapatos de salto. Ainda estava aprendendo a andar nele sem parecer um Clutch pequena, cabelos soltos em ondas naturais, maquiagem discreta, mas elegante. Quando desceu as escadas e viu Dante esperando no hall smoking preto impecável, gravata borboleta, cabelos penteados para trás, ela quase esqueceu de respirar.
Por Deus, ele era absurdamente bonito e pela forma como os olhos dele se arregalaram quando a viu, ela soube que o sentimento era mútuo. “Você está”, ele procurou palavras deslumbrante. “Você também não está mal.” Ela tentou suar casual, mas sua voz saiu um pouco rouca. Ele ofereceu o braço. Pronta? Não, mas vamos assim mesmo. O sorriso dele foi genuíno. Cúmplice.
A gala era exatamente o que Isadora imaginava. Opulência, ostentação, pessoas importantes fazendo networking enquanto bebiam champanhe de R$ 500 a taça. Mas Dante não mentira. Ele ficou ao lado dela o tempo todo, apresentou-a a dezenas de pessoas. Minha esposa Isadora, especialista em literatura brasileira pela USP.
Não minha jovem esposa, não apenas Isadora, mas reconhecendo suas conquistas, dando-lhe credibilidade instantânea. E as pessoas reagiam, alguns com desdém, especialmente mulheres de uma certa idade, que claramente tinham interesse em Dante. Outros com curiosidade genuína. Houve um momento em que uma socialite de nariz empinado, Patrícia alguma coisa, comentou com veneno: “Que interessante você ter se casado tão rápido após aquele incidente infeliz na catedral. As redes sociais ainda falam sobre isso.
O veneno era claro, a insinuação óbvia. Caça fortuna, aproveitando humilhação para pegar um peixe maior. Isadora sentiu o rosto corar, o velho instinto de encolher e desaparecer voltando. Mas então Dante se moveu, passou o braço pela cintura dela, puxando-a contra seu corpo de forma possessiva, mas respeitosa. Interessante, ele disse, sua voz cortante como aço.
É como algumas pessoas não conseguem reconhecer valor real quando ele está na frente delas. Isadora é a mulher mais inteligente, talentosa e genuína que já conheci. O tal incidente foi apenas o universo, corrigindo um erro grotesco e me dando uma oportunidade que eu não desperdiçaria por nada neste mundo. Patrícia empalideceu. Outras pessoas ao redor ficaram em silêncio. Dante não esperou resposta. Ele guiou Isadora para longe, sua mão ainda na cintura dela.
“Obrigada”, ela sussurrou quando estavam sozinhos perto de uma escultura de bronze. “Por quê? Eu apenas disse a verdade e a forma como ele disse, como se realmente acreditasse, fez algo se mover no coração de Isadora. O resto da noite foi um borrão de conversas, apresentações, uma coreografia social que Isadora começou a navegar com mais confiança.
Dante sempre presente, sempre atento, sempre a protegendo de comentários sutilmente cruéis da elite paulistana. Houve até um momento de leveza. Um quarteto de cordas tocava uma versão de bossa nova quando Dante a puxou para a pista de dança improvisada. “Eu não sei dançar”, ela protestou. Nem eu, ele admitiu, mas vamos fingir que sabemos. E eles dançaram desajeitadamente no começo, depois encontrando um ritmo, a mão dele firme nas costas dela, a dela no ombro dele, os corpos se movendo juntos, encontrando sincronia.
Houve um momento, apenas um segundo, em que os olhos dele se encontraram verdadeiramente e Isadora viu algo ali, algo além de negócios, além de conveniência, calor. Mas então a música terminou e o momento se foi. Na volta para casa, dentro da limusine silenciosa, Isadora olhou pela janela para as luzes de São Paulo passando. “Você se saiu muito bem”, Dante disse no silêncio.
Melhor do que muitas pessoas que fazem isso a vida toda. Você facilitou. Ela respondeu honestamente. Obrigada por por me defender da Patrícia e dos outros. Sempre. Ele disse. E havia uma promessa naquela palavra que fez o coração de Isadora apertar. Quando chegaram em casa, ele a acompanhou até a porta do quarto dela. Uma cortesia que não era necessária, mas que ele fazia mesmo assim. Boa noite, Isadora.
Boa noite, Dante. Mas nenhum dos dois se moveu imediatamente. Ficaram ali no corredor, fracamente iluminado, apenas olhando um para o outro. Foi Isadora quem quebrou o momento, entrando rapidamente no quarto e fechando a porta. Ela encostou-se nela, respirando irregularmente, a mão sobre o coração disparado.
O que está acontecendo comigo? Isso era apenas negócios, apenas um acordo. Mas então por ela não conseguia parar de pensar na forma como Dante a defendeu, na forma como ele dançou com ela, na forma como seus olhos a encaravam, como se ela fosse a única pessoa no mundo? Perigo? Sua mente alertou. Você está entrando em território perigoso, mas seu coração, seu coração traiçoeiro, sussurrava algo diferente.
Os meses seguintes foram uma montanha russa de transformação. Isadora voltou para a USP, terminando seu último semestre de literatura. Mas agora não era apenas mais uma aluna, era Isadora Albuquerque, esposa de um dos empresários mais poderosos do Brasil. As reações foram mistas. Alguns professores a tratavam com novo respeito, outros com desconfiança, como se ela tivesse vendido sua integridade.
Os colegas ou eram excessivamente amigáveis, querendo conexões, ou abertamente hostis, inveja. Mas Isadora se manteve firme, focou em seus estudos, terminou sua monografia sobre a representação do sertão na literatura brasileira, graduou-se com honras. Dante compareceu à formatura, sentou-se no fundo do auditório, de terno escuro e óculos de sol, tentando ser discreto e falhando miseravelmente.
Mulheres se viravam para olhá-lo. Quando Isadora subiu ao palco para receber seu diploma, ela ouviu o aplauso dele, forte, orgulhoso, inconfundível. Depois, ele a levou para jantar em um restaurante à beiraar em Santos, apenas os dois, longe de olhares curiosos. Estou orgulhoso de você”, ele disse, erguendo uma taça de vinho.
“Pela forma como você reconstruiu sua vida, pela força que demonstrou, eu não teria conseguido sem sua ajuda.” Ela admitiu: “Besteira, você teria conseguido de qualquer forma. Eu apenas acelerei as coisas. Mas enquanto olhava para ele sobre a luz de velas, sobre o som das ondas ao fundo, Isadora percebeu algo assustador. Ela não queria mais apenas agradecer pela ajuda. Ela queria mais.
A mudança foi gradual. Pequenas coisas que se acumularam ao longo dos meses. A forma como Dante sempre deixava uma xícara de café pronta para ela nas manhãs, exatamente do jeito que ela gostava. dois açúcares, toque de canela. Como ele comprava livros que sabia que ela ia gostar e os deixava em sua escrivaninha com pequenas notas, achei que você apreciaria a análise sociológica deste, a forma como ele cancelava reuniões importantes quando ela precisava dele, como quando descobriu que seu artigo foi aceito para publicação em uma revista acadêmica
conceituada, e ele apareceu com champanhe para celebrar, como seus dedos roçavam acidentalmente quando passavam o sal no jantar. Como ele olhava para ela quando pensava que ela não estava vendo, um olhar intenso, quase doloroso, carregado de algo não dito, e mais perigoso de tudo, como ela começou a corresponder.
Encontrava desculpas para passar mais tempo no escritório dele. Escolhia roupas sabendo que ele iria vê-la. Pegava-se pensando nele quando deveria estar estudando. Sonhava com ele à noite. Sonhos que a faziam acordar corada e confusa. Isso é um problema. Ela se dizia. Isto viola todo o acordo. Termina em ve meses. Não pode haver sentimentos.
Mas o coração não escutava contratos. O ponto de virada veio em uma noite de inverno paulistano. Dante estava no escritório trabalhando tarde, como sempre. Isadora estava na biblioteca da mansão lendo. Quando ouviu um crash vindo de lá. Ela correu, o coração disparado. Encontrou Dante no chão do escritório, cercado por papéis espalhados, uma garrafa de whisky pela metade na mesa, a cabeça entre as mãos.
Dante, ela entrou hesitante. O que aconteceu? Ele ergueu a cabeça. Seus olhos estavam vermelhos. Estava chorando? Minha avó, ele disse, a voz quebrando. Os médicos ligaram. Ela tem no máximo três meses, talvez menos. Isadora não pensou, apenas agiu, foi até ele, ajoelhou-se no chão, o abraçou e Dante desmoronou.
Esse homem forte, implacável, poderoso, desmoronou em seus braços, chorou como criança e Isadora apenas o segurou, acariciando seus cabelos, fazendo pequenos sons reconfortantes, seu próprio coração partindo por ele. “Ela é tudo que me resta”, ele sussurrou contra o ombro dela. Quando meus pais morreram, quando eu não tinha nada, ela me acolheu, me deu amor quando o mundo me deu costas, me ensinou que havia bondade neste mundo cruel e agora? Agora ela está se indo e eu não posso fazer nada. Todo o meu dinheiro, todo o meu poder e não posso salvá-la. Você fez algo melhor, Isadora
disse suavemente, afastando-se um pouco para olhá-lo nos olhos injetados de vermelho. Você deu a ela o último desejo, ver você feliz. Ver você casado, isso vale mais do que qualquer cura médica, mas é uma mentira. Ele disse amargamente. Nosso casamento é uma mentira. Algo se apertou no peito de Isadora. É, ela queria perguntar.
Ainda é, mas em vez disso, ela apenas o abraçou novamente. Eles ficaram ali no chão do escritório, abraçados entre papéis e planos de negócios esquecidos até o relógio bater duas da madrugada. Eventualmente, Dante adormeceu, a cabeça recostada no ombro dela, exausto emocionalmente.
Isadora o observou dormir, os cílios longos contra as bochechas, a vulnerabilidade em seu rosto, a pequena ruga entre as sobrancelhas que aparecia mesmo no sono, e soube com absoluta certeza aterradora. Ela estava se apaixonando por ele. Duas semanas depois, em um evento no teatro municipal, um lançamento de livro de um autor renomado, o inevitável aconteceu.
Isador estava ao lado de Dante, discutindo as nuances da obra lançada com um professor universitário, quando sentiu os olhos sobre ela, virou-se e congelou. Ali, do outro lado do elegante Foyer, estavam Té e Melissa. ele de terno azul marinho, ela em um vestido rosa que a fazia parecer mais jovem do que era. Eles a haviam visto também.
Os rostos empalideceram em reconhecimento simultâneo. Por um segundo, Isadora pensou em fugir. Seu primeiro instinto foi virar-se e desaparecer pela porta mais próxima. Mas então sentiu a mão de Dante encontrar a sua, dedos entrelaçando, apertando gentilmente, suporte silencioso e algo mudou dentro dela. Não, ela não fugiria não mais.
Com licença ela disse educadamente ao professor e começou a caminhar em direção ao casal que a traíra. Dante veio com ela, mão ainda entrelaçada, presença sólida ao seu lado. Té e Melissa pareciam querer desaparecer, mas estavam encurralados contra uma parede de mármore, sem rota de fuga. Isa. Té começou quando ela se aproximou. Eu nós não sabíamos que você estaria aqui.
É Isadora. Ela corrigiu. Sua voz surpreendentemente firme. E este é um evento público. Eu tenho tanto direito de estar aqui quanto vocês. Melissa olhava para baixo, incapaz de fazer contato visual. Bem, você está bem? Té perguntou. E havia algo em sua voz. Culpa, arrependimento. Eu ouvi que você que você casou. Sim.
Isadora ergueu a mão esquerda, mostrando a aliança que agora usava com orgulho. Este é meu marido, Dante Albuquerque. Dante deu um passo à frente, estendendo a mão para Té com um sorriso que não chegava aos olhos. O famoso Té Cardoso. Ouvi muito sobre você. O tom educado, mas o substexto era claro. Eu sei exatamente quem você é e o que você fez.
Té apertou a mão dele, mas soltou rapidamente, como se o toque queimasse. Então, Isadora continuou e havia uma força nova em sua voz que ela não sabia possuir. Vocês dois ainda juntos, presumo. Nós estamos sim. Melissa finalmente falou. Sua voz pequena. Isa, eu preciso te dizer que que você sente muito. Isadora a interrompeu. Que não era sua intenção me machucar, que o amor aconteceu inesperadamente.
Melissa assentiu lágrimas nos olhos. Isadora respirou fundo e, então, para sua própria surpresa, sentiu nada. Não raiva, não dor, não humilhação, apenas paz. Sabia de uma coisa? Ela disse e até sorriu. Eu deveria agradecer a vocês. Té piscou confuso. O quê? Vocês me fizeram um favor. Se aquele casamento tivesse acontecido, eu estaria presa em uma vida que não era realmente minha.
Com um homem que claramente não me amava de verdade, vocês me libertaram. Ela olhou para Dante, que a observava com uma expressão indecifrada. Vocês me levaram para onde eu precisava estar. Mas mais na catedral, Melissa soluçou: “Você estava tão devastada. Eu nunca vou esquecer seu rosto. Eu estava.
” Isadora concordou, porque naquele momento tudo que eu enxergava era o que estava perdendo. Mas agora vejo o que ganhei. Liberdade, crescimento, uma nova vida. Ela pausou e talvez até algo real. A última frase saiu antes que pudesse impedi-la. Seus olhos foram automaticamente para Dante, que a encarava com intensidade penetrante. De qualquer forma, Isadora se recompôs.
Eu desejo sinceramente que vocês sejam felizes, genuinamente, porque guardar ressentimentos só me machucaria e eu não dou mais esse poder a vocês. E com isso ela se virou, a cabeça erguida, e caminhou embora. Dante a seguiu, mas não antes de lançar um último olhar para Té, um olhar que dizia claramente: “Você perdeu um diamante e ficou com uma pedra comum.
” Eles saíram do teatro em silêncio, entraram na limousine. Miguel começou a dirigir de volta para casa. Isadora olhava pela janela, processando o que havia acabado de fazer. Ela confrontara seus demônios e sobrevivera. Mais que isso, triunfara. Você foi incrível. Dante disse no silêncio. Ela se virou para encará-lo. Eu estava tremendo por dentro. Não dava para perceber. Você estava magnífica.
Algo no tom dele fez o coração de Isadora acelerar. A parte sobre agradecer a eles. Dante continuou. Seus olhos fixos nos dela no interior sombrio do carro. Você quis dizer isso? Que eles te levaram para onde você precisava estar? Isadora engoliu em seco. Este era um momento decisivo. Ela podia recuar, manter as defesas, respeitar o contrato ou podia ser honesta.
“Sim”, ela sussurrou. “Eu quis dizer e a parte sobre algo real. Seu coração batia tão forte que ela tinha certeza de que ele podia ouvir. Dante, eu Mas ele se moveu, deslizou pelo banco de couro, fechando a distância entre eles. Sua mão foi ao rosto dela, polegar acariciando amassando o rosto. “Me diga para parar”, ele murmurou, rosto a centímetros do dela.
“Se você não quer isso, me diga para parar e eu paro.” Voltamos ao acordo. Sem complicações. Isadora sabia que deveria fazer exatamente isso. A escolha sensata, a escolha segura. Mas quando foi que ela começou a se importar com segurança? “Não pare”, ela sussurrou. E ele a beijou, não como no cartório, casto, apropriado, sem sentimento, mas realmente beijou, profundo, apaixonado, urgente, como se tivesse esperado meses por isso, e talvez tivesse como se ela fosse ar e ele estivesse se afogando.
Isadora respondeu com igual fervor, mãos indo para os cabelos dele, puxando-o mais perto. O gosto dele era whisky e hortelã e algo uniclidante. Suas mãos estavam em sua cintura nas costas, ancoradas, mas trêmulas, como se ele estivesse se segurando de ir mais longe. Quando finalmente se separaram, ofegantes, Dante encostou a testa na dela. Isso complica tudo ele disse. Voz rouca.
Eu sei. Ela respondeu. O contrato. Eu sei. Podemos estragar tudo. Eu sei. Ele se afastou o suficiente para olhá-la nos olhos. Mas eu não me importo mais com o maldito contrato. Eu me importo com você. Talvez desde o dia em que te vi naquele altar, destruída, mas ainda lutando. Você me fascinou, Isadora.
Me desarmou, me fez sentir coisas que jurei nunca mais sentir. Lágrimas surgiram nos olhos dela. Eu sinto o mesmo. Tentei lutar contra isso. Tentei me lembrar que é apenas negócios. Mas então você faz algo gentil. ou me olha de um certo jeito, ou simplesmente existe no mesmo espaço que eu, e eu me perco.
“Então, o que fazemos?”, ele perguntou. Isadora respirou fundo. Vivemos, honestamente, sem fingimentos e vemos onde isso nos leva. E após o ano, o contrato ainda expira? Essa era a pergunta de milhão de dólares. “Só se nós quisermos que expire.” Ela disse suavemente. O sorriso que se espalhou pelo rosto de Dante foi como o sol nascendo.
“Então não vai espirar”, ele disse e a beijou novamente. Mais suave desta vez uma promessa ao invés de urgência. Quando chegaram em casa, ao invés de se separarem para seus quartos respectivos, Dante segurou a mão dela. “Fique comigo”, ele pediu. “Apenas fique. Vamos conversar ou assistir algo ou ficar em silêncio. Não importa. Só não quero que esta noite termine.
Isadora sorriu também não. E pela primeira vez desde que se casaram, eles adormeceram juntos no sofá da sala de estar, uma manta sobre eles, os dedos entrelaçados, enquanto um filme esquecido tocava na televisão. Não houve nada sexual, apenas intimidade, conexão.
Duas pessoas que começaram como estranhos viraram parceiros de negócio e agora? Agora eram algo mais, algo real. O café da manhã no dia seguinte foi diferente. Isadora desceu para a cozinha a 7 da manhã, ainda vestindo as roupas da noite anterior, amassadas agora, cabelos despenteados e encontrou Dante já lá. Ele também vestia as mesmas roupas. Estava descalço preparando café.
Quando a viu, ele sorriu, um sorriso verdadeiro aberto, sem as defesas habituais. Bom dia”, ele disse. E havia uma ternura na voz que fez o coração de Isadora derreter. “Bom dia.” Eles se entreolharam por um longo momento. Nenhum dos dois mencionou o beijo ou a confissão, ou como tudo havia mudado na noite anterior, mas estava ali entre eles, palpável e precioso.
Dante serviu café para ambos, adicionou o açúcar e a canela dela automaticamente e então sugeriu: “Quer tomar café no jardim? Há um lugar que eu nunca te mostrei. Isadora concordou curiosa. Ele a guiou através dos jardins extensos, passando pelas fontes e canteiros de flores que ela já conhecia até uma área mais afastada. Ali, escondido entre árvores antigas, havia um pequeno gazebo de madeira pintado de branco, coberto de trepadeiras com flores roxas.
Dentro havia almofadas confortáveis, uma mesa baixa e uma vista perfeita para o nascer do sol sobre São Paulo. Este era meu esconderijo quando criança. Dante disse enquanto se sentavam. Bem, não esta mansão especificamente, mas antes de perdermos tudo, tínhamos uma casa de campo em Campos do Jordão. Havia um gazebo exatamente assim. Eu passava horas ali lendo, sonhando com o futuro.
Você recriou isso aqui, Isadora percebeu tocada. Depois que fiz meu primeiro milhão, a primeira coisa que comprei foi esta propriedade e a primeira coisa que mandei construir foi este gazebo. Uma lembrança de tempos mais simples, antes da ambição, do dinheiro, das máscaras que usamos. Ele olhou para ela, vulnerável de uma forma que ela nunca havia visto.
“Você é a primeira pessoa que trago aqui.” As palavras pairaram no ar matinal, carregadas de significado. “Por quê?”, Isadora perguntou suavemente. “Porque você é a primeira pessoa em anos que me faz querer tirar a máscara, que me faz querer ser apenas eu.” Não, Dante Albuquerque, o empresário implacável? Não, o homem que construiu um império do zero, apenas Dante, com todas as falhas, medos, vulnerabilidades.
Isadora colocou sua xícara de café de lado, moveu-se para ficar mais perto dele. Eu vejo você, Dante, o homem real por trás do império, e gosto do que vejo. Ele pegou a mão dela, entrelaçando os dedos. Conte-me sobre você”, ele pediu. “Não os fatos que pesquisei, mas você de verdade.
O que sonhava quando criança? O que te assusta? O que te faz feliz?” E ali no gazebo escondido enquanto São Paulo acordava ao longe, Isadora se abriu de uma forma que nunca havia feito antes. contou sobre crescer em Itaquera, em um apartamento pequeno, onde ela dividia o quarto com o irmão, sobre como descobriu os livros como forma de escapar da realidade limitada, sobre a professora de literatura no ensino médio, que reconheceu seu talento e a encorajou a tentar a USP, mesmo quando todos diziam que era impossível para alguém como ela. contou sobre a solidão de ser uma bolsista entre alunos
ricos, sempre sentindo que não pertencia completamente a nenhum mundo, nem ao de onde veio, nem ao que aspirava, sobre como Té pareceu ser a ponte entre esses mundos, como ele a fez se sentir aceita, desejada, e como em retrospecto ela percebeu que ele nunca realmente a conheceu.
Ele amava a ideia dela, a garota inteligente da classe trabalhadora que ele podia elevar, mas não a pessoa real. Ele nunca me perguntou sobre meus sonhos, ela disse. E foi a primeira vez que conseguiu falar de Té sem dor. Ele decidiu o que nosso futuro seria, onde viveríamos, quantos filhos teríamos, que tipo de vida levaríamos. E eu apenas concordei, porque achei que era o que amor significava, sacrifício, compromisso.
Não é, Dante disse firmemente. Amor verdadeiro não exige que você se diminua. Ele te eleva, te desafia, te faz querer ser a melhor versão de si mesmo, não uma versão mais palatável para o parceiro. “Como você sabe disso?”, Isadora perguntou. “Você já esteve apaixonado?” A expressão de Dante ficou distante. Uma vez, há muito tempo.
Eu tinha 24, ainda construindo minha empresa. Conheci uma mulher, Clarissa, filha de um empresário importante. Achei que era amor. Planejamos casamento, futuro juntos. Ele pausou a mandíbula apertando e então minha empresa passou por dificuldades financeiras. Um investimento ruim quase me faliu. De repente, eu não era mais o prospecto promissor, era um risco.
E Clarissa, ela terminou tudo. Disse que não podia apostar sua vida em alguém tão instável. Uma semana depois, estava a noiva do filho de um banqueiro. Sinto muito. Isadora sussurrou. Dante deu de ombros, mas ela havia a dor antiga ali. Foi uma lição valiosa.
Me ensinou que pessoas são atraídas ao poder, ao dinheiro, ao status, não ao homem. Então, construí muros. Tive relacionamentos, claro, mas sempre superficiais, sempre temporários. Nunca permitia ninguém perto o suficiente para me machucar novamente. Ele olhou para ela e seus olhos estavam úmidos. Até você. Você que me viu em meu pior momento chorando sobre minha avó e não fugiu, não julgou, apenas ficou como se minha vulnerabilidade não fosse fraqueza, mas humanidade.
Isadora sentiu lágrimas surgirem em seus próprios olhos. É humanidade, ela disse, e te torna mais bonito, não menos. Eles se beijaram então, suave e doce, selando algo que ia além de palavras. Quando se separaram, Dante hesitou, então disse: “Há algo que preciso te contar sobre o contrato, sobre por eu realmente propus este casamento?” Isadora sentiu um aperto no peito. “O que quer dizer?” Ele respirou fundo. “Minha avó estar doente é verdade.
Seu último desejo de me ver casado é verdade. Mas não é toda a verdade. Continue”, ela disse incerta se queria ouvir. “Há uma cláusula no testamento do meu avô.” Dante explicou as palavras saindo rápidas. Ele morreu 10 anos atrás e deixou uma fortuna considerável em um fundo fiduciário para mim, mas com uma condição.
Eu só poderia acessá-la se estivesse casado até meus 35 anos. Ele era antiquado. Acreditava que homem solteiro não tinha estabilidade. Isadora ficou muito quieta. Eu faço 35 anos em 8 meses. Dante continuou. Se eu não estivesse casado, perderia R$ 3 bilhões de reais, dinheiro que eu não necessariamente preciso, mas que transformaria completamente o alcance das minhas empresas e fundações filantrópicas.
Então, então este casamento não foi apenas sobre sua avó? A voz de Isadora saiu fina. Foi sobre as duas coisas”, ele disse rapidamente. Eu não menti sobre minha avó. Ela realmente queria me ver feliz. Mas sim, a herança foi um fator e eu não te contei porque achei que você não aceitaria se soubesse, que pensaria que estava sendo usada de forma ainda mais transacional.
Isadora se afastou, levantou-se do banco, seu mundo girava novamente. Então eu era o quê? Uma solução conveniente para dois problemas? Agradar a vovó moribunda e garantir uma fortuna? Não. Dante também se levantou. No começo, talvez tenha sido pragmatismo, mas Isadora, você precisa acreditar. Tudo que senti, tudo que desenvolvi por você é real. Tão real que me assusta.
Como posso saber? Ela perguntou, lágrimas escorrendo agora. Como posso confiar em qualquer coisa quando você escondeu algo tão importante? Porque eu estou te contando agora? Ele disse desesperado. Quando não precisava, o contrato já está assinado. Você já concorda em ficar o ano todo.
Eu podia simplesmente nunca mencionar isso, mas não quero mentiras entre nós. Não mais, mesmo que arrisque perder você. Isadora o encarou, procurando por falsidade, por manipulação, mas tudo que via era um homem aterrorizado de ter arruinado algo precioso. “Eu preciso preciso de um tempo”, ela disse finalmente para processar isso, para pensar quanto tempo você precisar.
Dante disse imediatamente. Eu não vou pressioná-la, apenas por favor desista de nós, do que estamos construindo. Ela acenou porque não confiava na própria voz. E então caminhou para longe do gazebo, através dos jardins, de volta para a mansão. Seu coração estava dilacerado. Parte dela entendia. Dante havia sido pragmático, estratégico.
Era assim que ele sobrevivera, construíra seu império. Mas outra parte sentia-se usada, enganada, como se os sentimentos dele tão convincentes na noite anterior pudessem ser apenas mais uma estratégia. Mas ele te contou. Uma vozinha insistia. Ele te contou quando não precisava. Isso significa algo. Isadora passou o resto do dia em seu quarto processando, pensando.
Dona Rosa trouxe comida que ela mal tocou. Seu telefone vibrou várias vezes. Mensagens de Dante, todas variações de “me desculpe, eu fui covarde em não contar antes, mas meus sentimentos são reais. Por favor, acredite nisso.” Anoiteceu e com a escuridão veio clareza. Sim. Dante tinha escondido algo, mas todos tinham segredos, camadas, motivações complexas.
O importante era, ele estava sendo honesto agora, escolhendo vulnerabilidade sobre autopreservação. E ela, ela amava isso nele. Amava a complexidade, a imperfeição, a humanidade. amava, ó Deus, ela amava Dante, não por seu dinheiro ou poder ou status, mas pelo homem que chorava pela avó doente, que criava gazebos escondidos para guardar memórias de infância, que a defendia em galas sociais, que via valor nela quando ela própria duvidava.
Isadora foi até a janela, olhou para os jardins iluminados pela lua e viu Dante. Ele estava no gazebo visível através das árvores, pela pequena luz acesa lá. Sozinho, a cabeça entre as mãos, a imagem da desolação. Ela tomou sua decisão. Quando Isador entrou no gazebo minutos depois, Dante ergueu a cabeça abruptamente.
Seus olhos estavam vermelhos. “Isadora, eu cale a boca”, ela disse, “mas sua voz era suave. E me escute.” Ele fechou a boca esperando. Você escondeu algo importante e isso dói. Mas sabe o que dói mais? A ideia de perder você por orgulho, por medo, por me recusar a ver que todos nós somos imperfeitos e cometemos erros.
Ela se aproximou, ajoelhou-se diante dele, como ele havia feito por ela tantas vezes. Você me mostrou vulnerabilidade hoje. Verdade. E isso vale mais do que qualquer desculpa perfeita. Então, aqui está o que vamos fazer. Vamos seguir em frente. Vamos construir algo real, sem mais segredos, sem mais contratos, ditando nossos sentimentos.
Apenas nós descobrindo isso juntos. Lágrimas escorriam pelo rosto de Dante. Agora você me perdoa? Não há nada a perdoar. Ela disse, porque você escolheu honestidade quando podia ter escolhido conveniência. E isso isso me diz tudo que preciso saber sobre quem você realmente é.
Ele a puxou para um abraço desesperado, rosto enterrado no cabelo dela. “Eu te amo”, ele sussurrou. “Eu sei que é cedo demais, que é assustador, mas é verdade. Eu amo você, Isadora, com cada parte imperfeita de mim”. Isadora sorriu contra o peito dele, sentindo o coração batendo forte. “Eu também te amo”, ela sussurrou de volta. “E sim, é assustador, mas talvez as melhores coisas sejam”.
Eles ficaram assim por um longo tempo, abraçados sob as estrelas, enquanto as flores do gazebo perfumavam o ar ao redor. E pela primeira vez, ambos acreditaram que isso, o que tinham juntos, poderia realmente durar para sempre. Duas semanas depois, dona Teresa foi hospitalizada. A ligação veio às 3 da manhã. Dante atendeu com mãos trêmulas e Isadora acordou pelo som de sua voz quebrando. Estou indo agora.
Ela não hesitou. vestiu-se rapidamente e juntos dirigiram através da madrugada paulistana até o hospital sírio libanês. Dona Teresa estava em uma suí privativa conectada a máquinas que bipavam suavemente, mas quando viu Dante, ela sorriu. Meu menino sua voz estava fraca. Você veio sempre, vovó.
Ele segurou a mão dela, beijou os dedos enrugados. Então, Teresa viu Isadora na porta. Minha linda menina, venha. Sente-se aqui comigo. Isadora se aproximou pegando a outra mão da senhora. Era tão frágil, tão leve como papel. Eu preciso te dizer algo. Teresa começou olhando entre os dois. Eu sempre soube.
Soube o que, vovó? Dante perguntou confuso. Sobre o casamento de vocês, que não era tradicional, que começou como um arranjo. Isadora congelou. Dante empalideceu. Como? Teresa riu suavemente que se transformou em tosse. Quando se recuperou disse: “Eu tenho 87 anos. Não cheguei até aqui sendo tola.
Eu vi a forma como vocês se comportavam no começo, educados, cuidadosos, como atores em um palco. E eu percebi o que meu neto havia feito. Vovó, eu posso explicar? E não precisa.” Ela interrompeu gentilmente, “Porque eu também vi quando mudou, quando os olhares se tornaram genuínos, quando os toques pararam de ser encenados. Quando o amor, o amor verdadeiro, floresceu entre vocês, lágrimas escorriam pelo rosto de Isadora.
E eu preciso que ambos saibam. Teresa continuou, sua voz ficando mais fraca, que eu morri, a mulher mais feliz do mundo. Não porque meu neto se casou, mas porque ele finalmente abriu seu coração, finalmente permitiu se amar e ser amado. Ela torciu novamente, mais forte desta vez. Agora me prometam algo, ambos.
Qualquer coisa, Dante disse, voz embargada, vão para Campos do Jordão, para a fazenda da família. Ainda está lá, Dante, você nunca vendeu. Passem um tempo juntos, longe do mundo, do dinheiro, das expectativas, apenas vocês dois. Descubram quem são como casal. Descubram o que realmente querem. Vovó, você vai melhorar. E não vou, meu amor. E está tudo bem. Viv uma vida longa e completa. Agora é hora de vocês viverem a sua.
Prometem? Dante e Isadora trocaram olhares. Então em uníssono, prometemos. Teresa sorriu, fechou os olhos e adormeceu. Ela nunca acordou. O funeral de dona Teresa foi uma grande cerimônia na Catedral da Sé. Ironicamente, o mesmo lugar onde Isadora fora humilhada meses atrás. Mas desta vez ela entrava não como noiva perdida, mas como esposa do homem mais poderoso de São Paulo, oferecendo apoio enquanto ele enterrava a pessoa que mais amava.
Centenas de pessoas compareceram, empresários, políticos, artistas e muitos outros que Teresa havia ajudado ao longo de sua longa vida através das fundações filantrópicas da família. Dante deu o elogio. Sua voz tremeu, mas ele permaneceu forte, compartilhando histórias sobre a mulher extraordinária que o criara quando não tinha mais ninguém.
Isadora permaneceu ao seu lado, mão entrelaçada na dele, âncora silenciosa. Após o enterro, após os convidados partirem, após voltarem para a mansão vazia que parecia menor sem a presença luminosa de Teresa, Dante finalmente desmoronou e Isadora o segurou enquanto chorava, oferecendo o que ele havia oferecido a ela tantos meses atrás. Presença, conforto, amor incondicional. Ela sabia. Ele sussurrou na escuridão do quarto dele, onde estavam deitados.
Todo esse tempo, ela sabia que começou como negócio. E ainda assim, ainda assim, ela acreditou em nós, porque ela via demoramos para perceber. Isadora respondeu suavemente, que mesmo começando por razões erradas, era verdadeiro. É verdadeiro. Dante a virou para encará-lo, seus rostos quase se tocando no travesseiro. Vamos para Campos do Jordão.
Ele disse, “Como prometemos, preciso sair daqui por um tempo e quero estar com você. Apenas com você. Quando? Amanhã. Dona Rosa pode cuidar da casa. Miguel pode tratar dos negócios urgentes. Eu preciso disso. Nós precisamos disso. Isadora beijou-o suavemente. Então vamos. A fazenda em Campos do Jordão era um refúgio no tempo, não tão grande quanto a mansão, mas igualmente bonita.
Uma casa de estilo europeu, com telhados inclinados, janelas charmosas, rodeada por pinheiros e montanhas. O ar era frio e limpo, cheirando a madeira queimada nas lareiras e flores silvestres. “Esta propriedade está na minha família há três gerações”, Dante explicou enquanto entravam. “Meu avô a comprou nos anos 60. Meus verões felizes eram aqui.
A casa estava impecavelmente mantida. Dante pagava um caseiro para cuidar dela, mas claramente não era habitada regularmente. Havia uma qualidade atemporal, como entrar em uma fotografia antiga. Eles passaram os primeiros dias apenas existindo, sem agenda, sem expectativas. Caminhadas pelas trilhas da montanha, leitura ao lado da lareira, conversas longas sobre tudo e nada.
Cozinhando juntos pela primeira vez, Isadora descobriu que Dante sabia fazer umobuco excepcional. Ele descobriu que ela queimava até água fervendo. Riram muito, algo que não faziam o suficiente na mansão, com todas as responsabilidades e aparências a manter. Uma noite, enquanto estavam no sofá sob uma manta, um vinho tinto entre eles e o crepitar do fogo como trilha sonora, Isadora fez uma pergunta que vinha aguardando. O que acontece agora com o contrato com nossa vida? Sua voz se foi.
A condição do testamento será cumprida em breve. Tecnicamente, tecnicamente não há mais razão para permanecermos casados. Dante ficou muito quieto, então colocou a taça de vinho de lado, virou-se para encará-la completamente. Você quer que nos divorciemos? Não. A resposta veio rápida, instintiva. Não. Mas eu preciso saber o que você quer.
Sem obrigações, sem contratos, sem pressões externas. Apenas você. O que você quer? Ele pegou as mãos dela entre as suas. Eu quero você. Ele disse simplesmente, não por um ano, não por conveniência, mas para sempre. Eu quero acordar ao seu lado quando tivermos 70 anos. Eu quero discutir sobre qual filme assistir.
Eu quero viajar pelo mundo com você, descobrir todos os cantos de Portugal onde você quer estudar literatura. Eu quero filhos que tenham seus olhos inteligentes e minha teimosia. Eu quero tudo com você. Lágrimas surgiram nos olhos de Isadora. Mas apenas se você quiser também. Ele rapidamente adicionou. Sem pressão, sem expectativas.
Se você precisa de tempo, de espaço, de Eu quero também. Ela o interrompeu. Tudo que você disse, tudo e mais. Eu te amo, Dante. Não o empresário, não o salvador, mas você, o homem que chora por sua avó, que constrói gazebos por nostalgia, que queima oobuco quando distrai discutindo filosofia. Você. Ele a beijou então, e era diferente dos beijos anteriores.
Não havia urgência desesperada ou hesitação nervosa. Era promessa, era para sempre. Quando se separaram, Dante a pegou no colo e a carregou para cima, para o quarto principal, com vista para as montanhas. E ali, sob as estrelas visíveis através das janelas, na casa onde ele passara seus verões mais felizes, Dante e Isadora fizeram amor pela primeira vez.
Não era apenas físico, era conexão em todos os níveis, emocional, espiritual, mental. Era dois pedaços imperfeitos, se encaixando em algo maior e mais bonito do que a soma de suas partes. E quando terminaram, deitados, entrelaçados, enquanto a lua lançava luz prateada sobre eles, ambos souberam que o contrato estava oficialmente obsoleto. Isto não era mais arranjo, era amor.
Eles voltaram para São Paulo após duas semanas em Campos do Jordão, bronzeados pelo sol da montanha, descansados, conectados de uma forma que não eram antes. A mansão parecia diferente agora. Não mais um palco onde atuavam papéis, mas um lar que compartilhavam. Dante mergulhou de volta ao trabalho com energia renovada. Isadora começou a procurar programas de mestrado.
Havia uma oportunidade excepcional em Coimbra, Portugal, estudando literatura comparada entre Brasil e Portugal. O programa aceitava início no semestre seguinte. “Você deveria ir”, Dante disse quando ela mencionou. “É uma oportunidade incrível, mas são dois anos em outro continente, então eu visito sempre que puder e você volta nas férias. Isadora, eu não vou te prender.
Seu crescimento, seus sonhos, eles são tão importantes quanto os meus. E ali estava novamente, o homem que a elevava ao invés de diminuir. Ela se inscreveu no programa, foi aceita três semanas depois, com uma bolsa completa e uma posição como assistente de pesquisa. A data de início, daqui a 4 meses.
Mas antes de Coimbra havia algo importante a resolver. Isadora ainda não tinha oficialmente anunciado seu casamento para o mundo, além do círculo íntimo. As pessoas sabiam, afinal estivera em eventos públicos com Dante, mas não havia havido pronunciamento formal, entrevistas, nada. Então, quando a revista Vog Brasil pediu para fazer uma matéria sobre o casal mais intrigante de São Paulo, após algumas discussões, eles concordaram. A entrevista aconteceu na mansão com fotógrafo e jornalista presentes.
Eles foram honestos até certo ponto. Explicaram que se conheceram em circunstâncias incomuns, sem detalhar o fiasco do primeiro casamento, que começaram como amigos, que o relacionamento se desenvolveu organicamente. A jornalista Sofia, uma mulher de meia idade com olhos perspicazes, fez a pergunta inevitável: “Isadora, você saiu de um relacionamento muito público e doloroso, direto para casar com um dos homens mais poderosos do Brasil.
Algumas pessoas dizem que foi conveniente. Como você responde a isso?” Isadora não hesitou. “Eu diria que eles estão absolutamente certos. Foi conveniente. Foi conveniente encontrar alguém que me via por quem eu realmente sou. Foi conveniente reconstruir minha vida ao lado de um homem que apoia meus sonhos ao invés de limitá-los.
Foi conveniente me apaixonar por alguém que me faz querer ser melhor a cada dia. Então, sim, extremamente conveniente. Eu recomendaria para todos. O sorriso que Dante lhe deu após essa resposta valeu todos os comentários maldosos que a entrevista geraria. A edição da revista saiu um mês depois.
A capa mostrava Isadora e Dante nos jardins da mansão. Ela em vestido floral esaçante, ele em camisa branca com mangas dobradas, ambos rindo genuinamente de algo que o fotógrafo dissera. O título Do altar ao amor verdadeiro. A segunda chance de Isadora Mendes. A matéria era surpreendentemente favorável.
Destacava a trajetória acadêmica de Isadora, seu trabalho em literatura, sua aceitação em Coimbra. mencionava as fundações filantrópicas de Dante, especialmente o Instituto Cultural, que acabara de lançar uma divisão de publicações digitais focada em autores brasileiros emergentes com Isadora como curadora. As redes sociais explodiram, mas desta vez os comentários eram majoritariamente positivos.
Ela é tão mais feliz com ele do que parecia com o ex de humilhação pública à capa de Vog. Essa é a definição de superar. Dante Albuquerque realmente é príncipe encantado. Quero um também. A forma como ele olha para ela nas fotos, isso é amor de verdade. Claro, havia comentários negativos, também sempre havia. Mas Isadora descobriu que não se importava mais. Ela sabia sua verdade, sabia o amor que tinha e isso era suficiente.
Foi duas semanas após a publicação da revista, em uma manhã ensolarada de setembro, que Isadora acordou sentindo-se estranha, enjoada, tonta. Seu peito estava sensível. Ela inicialmente descartou como estress. Os preparativos para Coimbra estavam intensos, mas quando o enjoo persistiu por três dias, quando sua menstruação atrasou, uma possibilidade começou a se formar em sua mente. Não pode ser, mas podia.
Ela pediu para Miguel levá-la discretamente a uma farmácia longe do Jardim Europa. Comprou três testes diferentes. Todos deram positivo. Isadora ficou sentada no banheiro de mármore da mansão, olhando para as três tirinhas que confirmavam o impossível. Ela estava grávida com o filho de Dante. Ó Deus, ó Deus, ó Deus, como isso aconteceu? Bem, ela sabia como Campos do Jordão, eles haviam sido cuidadosos, mas não 100% do tempo, e aparentemente uma única vez descuidada era suficiente.
Mas agora, quando ela estava prestes a ir para Portugal, quando estava finalmente construindo sua carreira, quando a porta do banheiro se abriu, Dante entrou. Eles pararam de bater após campos do Jordão. Parou ao vê-la no chão. Isadora, o que aconteceu? Ela não conseguiu falar, apenas estendeu um dos testes para ele. Dante olhou, seus olhos se arregalaram.
Ele olhou para ela para o teste de volta para ela. “Você está Nós estamos grávida”, ela sussurrou. “Estou grávida.” E então, para seu absoluto choque, Dante começou a chorar. Mas não eram lágrimas de tristeza ou pânico, eram de pura alegria. Ele caiu de joelhos diante dela, mãos indo ao rosto dela. “Nós vamos ter um bebê”.
Sua voz estava cheia de admiração. Um bebê. Nosso bebê. Você está feliz? Isadora perguntou confusa por sua reação. Feliz, Isadora? Eu estou estático. Eu sei que é inesperado. Eu sei que complica seus planos, mas espera. Ela o interrompeu. Você não está bravo, assustado. Assustado? Claro. Ser pai é aterrorizante, mas bravo nunca.
Como eu poderia estar bravo sobre criar uma vida com a mulher que amo? Lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Isadora também. Então, mas Coimbra, meu mestrado vai esperar, Dante disse firmemente. Ou você pode fazer remotamente, pelo menos parte, ou pode adiar um ano. Isadora, seus sonhos não acabaram. Eles apenas evoluíram. Nós vamos descobrir isso juntos. Juntos? Ela repetiu a palavra suando como promessa.
Dante beijou-a suavemente. Então colocou a mão na barriga dela, ainda plana, ainda sem mostrar a vida crescendo dentro. “Oi, pequeno”, ele sussurrou. “Seu pai aqui, só para avisar. Sua mãe é a mulher mais incrível do mundo. Você ganhou na loteria genética de bondade, inteligência e força. Eu eu mal posso esperar para te conhecer.
” Isadora soluçou, mas agora eram lágrimas de felicidade. Tudo havia mudado mais uma vez, mas desta vez ela não estava assustada, porque tinha Dante e juntos eles podiam enfrentar qualquer coisa. Os meses seguintes foram um turbilhão. A gravidez de Isadora foi anunciada discretamente, apenas para família e amigos próximos. Eles queriam manter privacidade o máximo possível antes que a mídia descobrisse.
Coimbra foi adiado, mas como Dante prometeu não cancelado. O programa concordou em mantê-la matriculada para começar após o nascimento do bebê, com opções de estudo remoto quando necessário. Enquanto isso, Isadora mergulhou no trabalho como curadora do Instituto Cultural. Descobriu que amava ler manuscritos de autores emergentes, decidir quais histórias mereciam ser contadas.
ajudar jovens escritores a encontrar suas vozes. Sua barriga crescia. Dante era obsecado, constantemente tocando, falando com o bebê, lendo livros sobre paternidade, preparando o quarto do bebê com dedicação obsessiva. O quarto ficou lindo, neutro, em tons de bege e branco. Eles decidiram não saber o sexo, com uma biblioteca inteira de livros infantis, contribuição de Isadora, mobília de madeira clara e um mural pintado à mão nas paredes, mostrando personagens da literatura brasileira, desde o Sassi Pererê até os personagens de Monteiro Lobato. Os pais de Isadora visitavam
regularmente, sua mãe Cleusa frequentemente, trazendo comida e conselhos não solicitados, mas bem intencionados. Seu irmão Pedro, agora estudando engenharia na USP, com bolsa facilite pela Fundação de Dante, estava estasiado com a ideia de ser tio. “Vou ensinar o garoto tudo sobre carros”, ele declarou durante um jantar em família.
“E se for menina?” Isadora provocou, “ainda vou ensinar sobre carros e também sobre chutar bundas, porque ela vai ser sobrinha minha e da minha irmã, então obviamente vai ser fodona”. Todos riram e Isadora sentiu seu coração aquecer. Isto, esta família reunida, feliz, suportando uns aos outros, era tudo que ela sempre quis, mas nem tudo era perfeito.
Em seu sexto mês de gravidez, Isadora e Dante compareceram a um evento beneficente no Hotel Unique. Era o lançamento de uma exposição de arte brasileira contemporânea com toda a sociedade paulistana presente. Isadora, em um vestido de maternidade elegante, azul marinho, que valorizava suas curvas, estava conversando com um grupo de curadores sobre literatura quando ouviu uma voz familiar.
Isadora, meu Deus, você está grávida. Ela se virou, Melissa. Sua ex-melhor amiga parecia diferente, mas magra, cansada. Os olhos não tinham aquele brilho de antes. Melissa Isadora disse, mantendo a voz neutra. Sim, estou esperando. Seis meses. Eu parabéns, Melissa disse. Mas havia algo em sua voz. Amargura? Tristeza? Você e Dante, eu li sobre vocês na Vog.
Parece que parece que você está muito feliz. Estou. Isadora respondeu simplesmente porque era verdade. Um silêncio desconfortável pairou entre elas. Olha. Melissa finalmente disse: “Eu sei que não tenho direito. Eu sei que o que fiz foi imperdoável. Mas eu preciso te dizer, eu estraguei tudo. Isadora piscou. Como assim, Téo? Melissa disse e sua voz quebrou.
Ele Ele terminou comigo três meses atrás. Disse que não estava pronto para compromisso, que a única razão que tinha planejado casar com você era pela pressão da família e que eu eu fui apenas uma distração. Ela soltou uma risada amarga. Então eu destruí nossa amizade, destruí seu casamento, humilhei você publicamente, tudo por um homem que nunca realmente me quis, que só queria a emoção da traição.
Isadora deveria se sentir vingada, deveria se sentir satisfeita, mas tudo que sentiu foi pena. Lamento que você tenha sido machucada, ela disse honestamente. Eu realmente lamento. Como você pode dizer isso? Melissa olhou para ela com olhos vermelhos. Depois do que te fiz, porque guardar rancor só envenenaria minha própria vida. Isadora explicou. Eu sou feliz agora, Melissa.
Genuinamente feliz. E parte disso é por ter deixado ir a raiva. Você e Té, vocês me libertaram de uma vida que não seria verdadeira, de um homem que não me amava realmente. Você é melhor pessoa do que eu, Melissa murmurou. Não sou. Apenas aprendi que o perdão liberta mais quem perdoa do que quem é perdoado. Melissa assentiu, lágrimas escorrendo.
Eu espero Espero que seu bebê seja saudável, que sua vida seja tudo que você merece. Obrigada, Isadora disse e quis dizer. Melissa se afastou então, perdendo-se na multidão. Isadora nunca mais a viu, mas aquele encontro, embora emocionalmente carregado, finalmente fechou aquele capítulo de sua vida completamente.
Ela perdoara, seguira em frente e estava livre. Aquela noite, deitada na cama com Dante, ela contou sobre o encontro. “Como você se sentiu?”, ele perguntou mão descansando protetoramente em sua barriga, onde o bebê chutava ocasionalmente. “Livre! Ela disse completa, como se o último peso do passado tivesse sido levantado. Isso parece pacífico. É.
Ela virou-se para olhá-lo. Dante, eu sei que começamos estranho, com contratos e acordos e motivações complicadas, mas olhe onde chegamos. Ela colocou a mão dele mais firme em sua barriga. Um chute forte, respondeu. Estamos criando uma vida. Estamos construindo uma família. Estamos estamos felizes de verdade.
A coisa mais estranha, Dante disse pensativo, é que se você tivesse se casado com Té naquele dia, nada disso teria acontecido. Este bebê não existiria. Nós não estaríamos juntos. Todo o nosso futuro dependeu de uma humilhação pública e um estranho com um senso de justiça peculiar. Destino, Isadora murmurou.
ou sorte ou apenas caos do universo que às vezes funciona a nosso favor. Seja lá o que for. Dante a beijou suavemente. Eu sou grato. Todos os dias. Sou grato. O bebê chutou novamente, como se concordando. O trabalho de parto começou duas semanas antes do esperado. Isador estava no instituto revisando um manuscrito promissor sobre a migração nordestina quando sentiu a primeira contração.
Pensou que era falso alarme, afinal era comum no final da gravidez. Mas então veio outra e outra, mais fortes, mais regulares. “Merda!”, ela murmurou pegando o telefone, mas suas mãos tremiam tanto que deixou cair. Sua assistente Camila, notou imediatamente. Isadora, você está bem? Acho, acho que estou em trabalho de parto.
O escritório entrou em caos organizado. Camila ligou para Dante, que estava em uma reunião, mas saiu imediatamente. Miguel foi chamado para trazer o carro. Alguém pegou a bolsa que Isadora havia preparado e deixado no escritório por precaução, segundo Dante, que sempre planejava tudo. 15 minutos depois, Isadora estava na limusine correndo para o hospital sírio libanês.
Dante chegou em seu próprio carro, dirigindo ilegalmente rápido. Ele admitiu depois, 5 minutos depois dela. Estou aqui. Estou aqui. Ele ofegou, pegando a mão dela enquanto uma enfermeira a levava para uma suí de parto. “Você está bem?” “Defina bem”, ela disse entre dentes, enquanto outra contração a atingia. Por Deus, ninguém me avisou que seria tão doloroso.
As próximas 8 horas foram um borrão de dor, suor, respiração ofegante, Dante segurando sua mão. Ela provavelmente quebrou alguns ossos dele com a força do aperto, médicos e enfermeiras entrando e saindo, e Isadora jurando mais vezes que na vida inteira combinada. “Nunca mais”, ela gritou em determinado momento. “Nunca mais estou fazendo isso.
Você disse isso?” Dante tentou acalmá-la, passando um pano úmido em sua testa e eu estava certa. Mas então, finalmente, após mais empurrões do que ela achava possível, após sentir que seu corpo ia literalmente se partir ao meio, ela ouviu: “É uma menina!” E, então, um choro forte, saudável, indignado. Uma enfermeira colocou o bebê, minúsculo, rosado, coberto de vernico, de Isadora, e o mundo parou.
Isadora olhou para aquela criaturinha impossível, dedos perfeitos, nariz pequeno, olhos semicerrados e sentiu um amor tão avaçalador que não tinha palavras. “Soi!”, ela sussurrou lágrimas escorrendo. “Oi, minha linda. Eu sou sua mãe.” Olhou para Dante, que estava chorando abertamente, olhando para a filha com pura adoração.
“E esse é seu pai?” Ela continuou, “que te amou antes mesmo de te conhecer.” Dante estendeu um dedo que a bebê agarrou com força surpreendente. “Ela é perfeita”, ele murmurou. “Absolutamente perfeita. Helena”, Isadora disse de repente. Era o nome que haviam discutido, mas agora olhando para a filha tinha certeza. Helena Teresa Albuquerque. Dante Solsou ao ouvir o nome da avó. Perfeito. Ele concordou. Ela teria amado.
Os primeiros dias com Helena foram caóticos. Ninguém os havia avisado sobre quantas vezes um bebê recém-nascido acordava à noite, ou como trocar fraldas era um esporte extremo, ou como amamentação, que supostamente era natural, era, na verdade muito difícil e doloroso no começo. Mas também ninguém os havia avisado sobre a magia.
A forma como Helena agarrava o dedo de Isadora enquanto dormia, os pequenos sons satisfeitos que ela fazia ao mamar, como ela se acalmava instantaneamente ao ouvir a voz grave de Dante, a primeira vez que ela abriu os olhos completamente, castanhos escuros, como os diz Adora, e pareceu realmente vê-los. Dante era um pai devotado ao extremo.
Ele cancelou reuniões, adiou viagens, basicamente parou de trabalhar pelas primeiras três semanas para estar presente. Aprendeu a trocar fraldas depois de uns cinco desastres cômicos. Embalava Helena às 3 da madrugada cantando música brasileira desafinadamente. Lia para ela: literatura brasileira clássica, porque nunca é cedo demais para a cultura.
Isadora se apaixonou por ele de novo, mais profundamente, vendo-o como pai. Foi quando Helena tinha dois meses que Dante fez uma sugestão. O Instituto Cultural está organizando um baile anual, quinta edição, celebrando autores brasileiros emergentes com toda a receita indo para programas de alfabetização em comunidades carentes.
“Parece lindo”, Isadora disse, ajeitando Helena em seu peito enquanto a bebê dormia. “Quando é? daqui a um mês e eu gostaria que você estivesse lá como curadora, como minha esposa, como minha parceira em tudo. Mas Helena é tão pequena. Minha mãe e seu irmão já se ofereceram para Babá por uma noite, apenas algumas horas.
Isadora, ele se ajoelhou diante dela, como fazia tantas vezes. Há algo que quero fazer nesse baile, algo importante e preciso que você esteja lá. Ela o estudou. Que tipo de algo? É surpresa. Ele sorriu misteriosamente. Mas prometo que vai valer a pena. Intrigada, mas confiando nele completamente, Isadora concordou. Tudo bem, vamos ao baile. O mês passou rapidamente entre mamadas noturnas, trocas de fraldas e o trabalho constante de cuidar de um bebê. Mas Isadora também encontrou tempo para se preparar para o baile.
Não apenas escolher um vestido vermelho profundo, elegante que valorizava suas curvas pós parto, mas também para ajudar a organizar detalhes do evento. O Instituto Cultural havia se tornado seu projeto tanto quanto de Dante. A divisão de publicações digitais já havia lançado cinco autores novos, três dos quais conseguiram contratos com editoras tradicionais baseados no sucesso digital.
Era gratificante ver talento emergindo, vozes sendo ouvidas. Na noite do baile, enquanto se arrumava, Isadora olhou para si mesma no espelho. Há um ano, apenas um ano, ela era uma noiva humilhada, destruída publicamente, sem esperança. Agora era esposa, mãe, curadora literária, e ela percebeu com surpresa, genuinamente feliz.
Pronta, Dante apareceu na porta do closet de smoking preto, cabelos penteados para trás. Ele estava absurdamente bonito. “Pronta”, ela respondeu pegando a clutch dourada, mas quando ele ofereceu o braço, ela pausou. “Dante, o que você vai fazer esta noite? Que surpresa é essa?” Ele sorriu.
“Você vai descobrir, mas prometo, vai mudar tudo de novo.” E com essa declaração enigmática, eles saíram. O C pavilhão da Bienal no Parque Ibirapuera, estava transformado. Luzes douradas pendiam do teto alto. Mesas redondas decoradas com flores brancas e velas ocupavam o espaço. Um palco elevado no fundo onde uma orquestra tocava música clássica brasileira.
E centenas de pessoas, a elite cultural e empresarial de São Paulo, circulavam com taças de champanhe. Isadora e Dante entraram juntos. Fleches explodiram, fotógrafos oficiais do evento, pessoas se viraram para olhar, murmúrios correram pela multidão, mas desta vez Isadora não se encolheu. Ela ergueu a cabeça, apertou a mão de Dante e caminhou com confiança.
As primeiras horas foram networking, conversas sobre literatura, arte e filantropia. Isadora conheceu autores que ela havia ajudado a publicar, ouviu seus agradecimentos, viu o impacto real de seu trabalho. Então veio o jantar, três pratos elaborados, vinhos caros, discursos intermináveis de benefatores e organizadores. Finalmente, após a sobremesa, Dante se levantou, foi até o palco, pegou o microfone, esperou que a multidão silenciasse. Boa noite a todos. Sua voz projetou-se pelo salão.
Obrigado por virem celebrar o quinto aniversário do Instituto Cultural Albuquerque. Esta organização é muito importante para mim, focada em promover literatura brasileira e alfabetização. Mas esta noite, esta noite eu gostaria de falar sobre algo pessoal. Isadora sentiu seu coração disparar. O que ele estava fazendo há um ano? Dante continuou. Eu conheci uma mulher no pior dia de sua vida.
Ela estava quebrada, humilhada, sem esperança. E eu, eu ofereci uma solução prática, um acordo. Conveniência mútua. A multidão murmurou. Algumas pessoas olharam para Isadora, reconhecimento nos olhos. Mas o que começou como transação? Dante continuou seus olhos encontrandoos dela através do salão. Transformou-se na coisa mais real e profunda de minha vida.
Esta mulher, Isadora Mendes Albuquerque me ensinou o que significa verdadeiramente amar. Me ensinou que vulnerabilidade não é fraqueza, que abrir o coração, mesmo quando assustador, é a única forma de realmente viver. Ele desceu do palco, começou a caminhar em direção a ela. Ela me deu uma filha, Helena, a criatura mais perfeita que já existiu. Me deu propósito além de negócios e dinheiro.
Me deu uma família. Dante chegou à mesa dela, estendeu a mão. Isadora a pegou tremendo, permitindo que ele a ajudasse a se levantar. E então, diante de todas aquelas pessoas, Dante se ajoelhou. Não estava com um anel. Eles já eram casados, já usavam alianças, mas o gesto era claro.
Isadora, ele disse, voz embargada, nós nos casamos por conveniência, por contrato, por razões que não eram amor. Mas agora, agora eu te peço de novo, não por obrigação, não por herança ou acordos ou expectativas externas, mas porque te amo, porque não consigo imaginar um dia sem você, porque você é minha parceira, minha confidente, minha melhor amiga, o amor da minha vida. Lágrimas escorriam livremente pelo rosto de Isadora.
Agora, então ele continuou, diante de todas estas testemunhas, eu te pergunto, Isadora Mendes, você faria a honra de continuar casada comigo? Não por um ano, não por contrato, mas para sempre. Você compartilharia sua vida com um homem imperfeito que te ama perfeitamente? A multidão estava em silêncio absoluto.
Câmeras capturavam tudo, mas Isadora mal notava. Tudo que via era Dante, ajoelhado diante dela como no altar meses atrás, mas desta vez não estava a salvando. Estavam se salvando mutuamente. Sim, ela disse, voz clara e forte, mil vezes, sim. Mas ela desceu, ajoelhando-se diante dele, ao nível dos olhos. Mas eu também faço a mesma pergunta a você, Dante Albquerque.
Você faria a honra de continuar casado comigo? Uma mulher que veio do nada, que ainda está aprendendo este mundo, que às vezes queima água, que acorda você às 3 da manhã porque a bebê precisa trocar fralda, você compartilharia sua vida comigo para sempre? Dante riu através das lágrimas. Mil vezes, sim.
E ali, ajoelhados no meio do salão do pavilhão da Bienal, enquanto centenas de pessoas aplaudiam e choravam junto, Dante e Isadora se beijaram, não como marido e mulher forçados por contrato, mas como parceiros que escolheram, verdadeiramente escolheram passar suas vidas juntos. Quando se separaram, Dante sussurrou contra os lábios dela.
Nós vamos precisar de um casamento de verdade, eventualmente com votos escritos por nós. Uma festa onde apenas pessoas que amamos estão presentes. E eu vou usar vestido branco novamente. Isadora provocou. Depois de já ter tido o pior casamento da história, você vai usar branco, preto, arco-íris, o que quiser, porque desta vez não é sobre o vestido ou a cerimônia, é sobre nós. Sobre nós. Ela ecoou e estava certo.
Tudo sempre foi sobre eles dois, encontrando o caminho um para o outro através do caos, da dor e, finalmente, para o amor. Seis meses depois, Isadora estava no aeroporto de Guarulhos. Helena no colo, observando Dante dar instruções finais a Miguel sobre o carro. estavam indo para Portugal.
Finalmente, o mestrado em Coimbra ainda a esperava, mas agora não era apenas sobre ela, era sobre eles. Família completa. Dante havia organizado tudo: apartamento espaçoso perto da universidade, escritório para ele trabalhar remotamente, creche recomendada para Helena, embora Isadora soubesse que ele mal deixaria a filha sair de seu campo de visão.
“Pronta para a aventura?”, ele perguntou, voltando com os passaportes e documentos. Mais que pronta, ela respondeu, e era verdade, não apenas para Coimbra, mas para tudo que viria, o mestrado que ela finalmente poderia fazer, viagens pela Europa que haviam planejado com Helena em uma mochilinha naturalmente, eventualmente voltar para São Paulo e expandir o Instituto Cultural, mais filhos, talvez eventualmente quando se recuperasse do trauma do parto de Helena, crescer velhos juntos.
No avião, após Helena adormecer em seu colo, Isadora olhou pela janela para São Paulo, desaparecendo abaixo. Esta cidade havia sido palco de seu pior pesadelo, mas também de sua maior transformação. “No que está pensando?”, Dante, perguntou dedos entrelaçadosnos dela. “Em como somos sortudos?”, ela respondeu. “De como o pior dia da minha vida levou ao melhor.” “Sorte não.” Ele corrigiu gentilmente. “Escolha. Você escolheu confiar em mim quando não havia razão.
Escolheu arriscar quando seria mais fácil se esconder. Escolheu amar quando seria mais seguro manter distância. Nós escolhemos, ela corrigiu. Ambos juntos. Ele beijou o topo de sua cabeça, então desceu para olhar Helena dormindo. Nossa pequena família, ele murmurou, indo para novas aventuras.
Nossa família, Isadora repetiu as palavras carregadas de contentamento. E enquanto o avião voava para leste, em direção a um novo começo em um novo continente, Isadora refletiu sobre a jornada impossível que a trouxera até ali. De noiva humilhada, a esposa amada, de vítima de traição, a mulher empoderada, de acordo de conveniência a amor verdadeiro, de quebrada a inteira.
5 anos depois, o Instituto Cultural Albuquerque inaugurava sua terceira sede, desta vez em Lisboa, Portugal. Isadora, agora com mestrado completo e doutorado em andamento, cortava a fita simbólica ao lado de Dante. Helena, agora com 4 anos e falando português com sotaque adorável misturado de Brasil e Portugal, segurava a mão de ambos.
“Mamãe, quando vou ganhar um irmãozinho?”, Ela perguntou em voz alta para risos dos presentes. Isadora e Dante trocaram olhares cúmplices. Ela estava com três meses de gravidez. Não haviam anunciado ainda. Em breve, meu amor. Isadora respondeu, acariciando a barriga ainda plana. Muito em breve. Naquela noite, após o evento, eles jantaram em um restaurante com vista para o Tejo.
Helena dormia em uma cadeirinha entre eles, exausta do dia. “Você está feliz?”, Dante perguntou a pergunta que fazia regularmente, como se ainda não conseguisse acreditar na sorte deles. Imensamente. Isadora respondeu. E era verdade.
Ela tinha a carreira que sempre sonhou, a família que não sabia que queria, o amor que achava impossível. E você? Ela devolveu a pergunta. Dante segurou a mão dela através da mesa, aliança de casamento brilhando sob a luz de velas. Eu sou o homem mais sortudo do mundo”, ele disse simplesmente, “Porque há 5 anos entrei em uma catedral para um compromisso de negócios em Tediante e saí com meu futuro inteiro.” Isadora sorriu. “Tecnicamente eu saí. Você me escoltou.
” “Detalhes técnicos.” Ele descartou. O ponto é: Encontrei você e tudo mais seguiu a partir disso. Eles brindaram ele com vinho, ela com suco de frutas, gravidez. E Isadora pensou em como a vida era estranha. Quantas pessoas poderiam dizer que a pior humilhação de suas vidas se transformou na melhor coisa que já aconteceu? Quantas poderiam dizer que um casamento de conveniência se tornou o amor de suas vidas? Quantas encontraram não apenas parceiros, mas verdadeiros companheiros de alma através de causa e coincidência? Talvez apenas
ela, ou talvez houvesse outros por aí, passando por suas próprias jornadas tortuosas em direção a finais felizes. De qualquer forma, Isadora era grata. Grata a Té por ter exposto a verdade, por pior que fosse. Grata à Melissa por ter forçado um recomeço necessário. grata a Dante por ter sido corajoso o suficiente para intervir quando não precisava e grata a si mesma por ter sido forte o suficiente para reconstruir para confiar novamente, para amar, apesar do risco, 10 anos depois, Isadora, agora professora titular de literatura comparada na USP, entrou em
seu escritório e encontrou um envelope na mesa. Dentro havia um convite elegante em papel artesanal. Té Cardoso e Marina Silva tem o prazer de convidá-la para sua cerimônia de casamento. Ela estudou o convite, sentiu nada, nem raiva, nem dor, nem satisfação, apenas indiferença serena. Aquele capítulo da vida estava tão distante que parecia de outra pessoa.
Ela não iria ao casamento, não por amargura, mas porque simplesmente não fazia parte daquela história mais. jogou o convite no lixo, virou-se para a janela com vista para a USP, seu território agora conquistado por mérito próprio, e sorriu. Em casa, Dante estaria preparando jantar. Ele havia se tornado surpreendentemente bom cozinheiro ao longo dos anos.
Helena estaria ajudando, provavelmente fazendo mais bagunça que ajuda. E Mateus, o filho de 4 anos, estaria correndo pela casa gritando algo sobre dinossauros. Sua vida era caótica, imperfeita e absolutamente linda. E tudo porque há anos atrás ela escolheu levantar quando o mundo a derrubou. Escolheu confiar quando seria mais fácil se fechar.
Escolheu amar quando seria mais seguro se proteger. E no final não foram as circunstâncias que a salvaram. Foi ela mesma, com ajuda, claro, com apoio e amor e parceria. Mas fundamentalmente foi sua própria força, resiliência e coragem que a transformaram de mulher quebrada no altar para mulher realizada e completa. Esta era a verdadeira lição. Salvadores só podem abrir portas.
Você precisa ser corajosa o suficiente para atravessá-las. E Isadora. Isadora havia corrido através de cada porta aberta, abraçado cada oportunidade, construído uma vida que superava seus sonhos mais selvagens. do altar à redenção, da humilhação à transformação, do fim ao começo e, acima de tudo, do contrato ao amor verdadeiro.