E se eu te dissesse que a maior loucura da sua vida pode se tornar seu maior amor? Hoje vou te contar a história de Carla e Rafael, dois amigos de infância que fizeram uma proposta tão maluca que mudou para sempre suas vidas em Florianópolis. Mas antes me conta aqui nos comentários de onde você está assistindo esse vídeo. E não se esqueça de se inscrever no canal e deixar aquele like maroto que me ajuda muito.
Agora vem comigo para essa história que vai mexer com suas emoções. O barulho familiar dos passos ecoava pelo piso de madeira do centro cultural da Lagoa da Conceição. Carla Santos ajustava o coque castanho claro enquanto observava suas alunas ensaiarem uma coreografia de dança contemporânea.
Aos 28 anos, ela havia encontrado sua paz naquele pequeno estúdio com vista para a Alagoa, onde as águas calmas refletiam o céu dourado do entardecer florianoitano. “Professora Carla, você pode demonstrar aquele movimento novamente?”, perguntou Amanda, uma de suas alunas mais dedicadas.
Carla sorriu, suas bochechas rosadas contrastando com os olhos verdes brilhantes. Claro, querida, lembrem-se, a dança precisa sair da alma, não apenas do corpo. Com movimentos fluidos que pareciam desafiar a gravidade, ela executou uma sequência que hipnotizou toda a turma. Era nestes momentos que Carla se sentia mais viva, mais conectada consigo mesma.
A dança havia sido seu refúgio desde criança, quando perdera a mãe e fora criada pela avó Helena no interior da ilha. “Perfeito, meninas, vamos finalizar por hoje”, disse, secando o suor da testa com uma toalha branca. As alunas se despediram uma a uma e Carla ficou sozinha no estúdio, organizando os equipamentos. O silêncio era quebrado apenas pelo som distante das ondas da lagoa e pelo vento que balançava as folhas dos eucaliptos do lado de fora. Foi então que ouviu passos diferentes, mais pesados, masculinos, exitantes.
“Desculpe, já fecharam?” A voz grave e familiar fez seu coração disparar antes mesmo que ela se virasse. Rafael Silva estava parado na porta, mais alto do que na lembrança, os cabelos castanhos levemente grisalhos nas têmporas. vestindo um terno azul marinho que não conseguia esconder a tensão em seus ombros largos.
Os olhos castanhos que ela conhecia tão bem agora carregavam uma intensidade diferente, uma maturidade que falava de responsabilidades e solidão. “Rafael”, a palavra escapou como um sussurro e ela sentiu suas pernas tremularem. “Carla”, ele deu um passo à frente e ela notou como suas mãos estavam ligeiramente trêmulas. faz tempo, 10 anos. 10 longos anos desde que se despediram no aeroporto, ele indo para São Paulo estudar a administração, ela partindo para o Rio de Janeiro com uma bolsa de dança.
10 anos de silêncio de vidas que tomaram rumos completamente diferentes. “Como você me encontrou?”, perguntou ela, ainda processando a realidade de tê-lo ali parado a poucos metros de distância. Sua avó Helena. Rafael sorriu e, por um instante ela viu o menino de 8 anos que conhecera na biblioteca da escola.
Ela me disse que você dava aulas aqui. Espero que não se importe. Eu precisava te ver. A palavra precisava carregava um peso que Carla não conseguia decifrar. Havia algo diferente em Rafael, uma urgência escondida atrás do sorriso educado e da postura corporativa. “Claro que não me importo”, disse ela guardando a última garrafa d’água na bolsa. É, só que é uma surpresa e tanto para mim também.
Ele passou a mão pelos cabelos, um gesto nervoso que ela se lembrava da adolescência. Você está incrível. Carla sentiu o calor subir pelas bochechas. Obrigada. Você também está bem. Ouvi dizer que está comandando a empresa do seu pai agora. A expressão de Rafael se fechou ligeiramente. É, depois que ele morreu, há três anos, assumi tudo. A Silva Transportes Marítimos está crescendo bastante.
“Sinto muito”, disse ela, tocando levemente seu braço. Seu pai era um homem bom. Era. Rafael olhou para suas mãos pequenas sobre seu braço e ela percebeu que ele não se afastou. Carla, eu sei que pode parecer estranho depois de tanto tempo, mas você gostaria de tomar um café comigo? Tem algo importante que preciso te dizer.
O tom sério de sua voz fez um arrepio percorrer a espinha de Carla. Havia algo naqueles olhos castanhos que ela não conseguia interpretar. Uma mistura de determinação e vulnerabilidade que a deixou intrigada. Está bem”, respondeu ela, pegando a chave para trancar o estúdio. “Conheço um lugar aqui perto.
” Enquanto caminhavam lado a lado pelas ruas de paralelepípedo da Lagoa da Conceição, Carla não conseguia parar de pensar na intensidade do olhar de Rafael, o que poderia ser tão importante que o fizera procurá-la depois de uma década de silêncio. Que proposta misteriosa Rafael tinha para fazer que mudaria suas vidas para sempre? O café vida que Segue estava quase vazio naquele fim de tarde de quinta-feira.

Carla escolheu uma mesa no canto, longe das janelas, pressentindo que a conversa seria íntima demais para ouvidos curiosos. Rafael pediu um café expresso duplo. Ela optou por um cappuccino. Seus dedos tamborilavam nervosamente na xícara de porcelana branca. “Você está nervoso”, observou ela, estudando suas expressões. “Conheço você há 20 anos, Rafael. O que está acontecendo? Ele suspirou profundamente, como se estivesse reunindo coragem para mergulhar em águas desconhecidas.
“Carla, o que vou te dizer? Vai soar completamente maluco. Promete que vai me escutar até o final antes de sair correndo?” O coração dela acelerou. “Você está me assustando?” “Não é para assustar”. Rafael inclinou-se sobre a mesa, baixando a voz. É para mudar nossas vidas. Carla engoliu em seco, suas mãos apertando ainda mais a xícara.
Fala logo. Eu quero ter um filho com você. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Carla piscou várias vezes, como se tivesse ouvido errado. Um casal na mesa ao lado conversava sobre o trânsito. Uma criança chorava longe, mas ela só conseguia ouvir o próprio coração batendo, descompassado.
“Como é que é?”, sussurrou, sua voz quase falhando. Eu sei como soa, mas me deixa explicar. Rafael estendeu as mãos sobre a mesa sem tocá-la, mas numa clara demonstração de que queria conexão. Não estou falando de casamento, romance, nada disso. Estou falando de uma parceria, uma sociedade entre amigos para criar uma criança. Carla soltou uma risada nervosa e incrédula.
Rafael, você enlouqueceu completamente, talvez. Ele sorriu tristemente. Mas me escuta, por favor. Nos últimos três anos, desde que assumi a empresa, minha vida virou um inferno dourado. Você não faz ideia de quantas mulheres se aproximaram de mim interessadas no meu dinheiro.
Quantos relacionamentos vazios eu tive com pessoas que não me conheciam de verdade. Os olhos castanhos de Rafael brilharam com uma intensidade que Carla nunca havia visto. Havia dor ali, uma solidão profunda que ela reconhecia, porque também carregava a sua própria. E você acha que ter um filho vai resolver isso?”, perguntou ela a sua voz mais suave agora. “Não resolve, mas”.
Rafael parou, escolhendo as palavras cuidadosamente. “Eu quero ser pai, Carla. Quero muito, mas não consegui encontrar alguém em quem confie completamente para dividir isso comigo. Alguém que me ame pelo que eu sou, não pelo que eu tenho. E você acha que eu eu sei que você me ama.” As palavras saíram com uma certeza que a deixou sem ar.
Como amigo, como a pessoa que fui quando éramos crianças. Você me conhece de verdade, conhece meus medos, meus sonhos, minhas manias irritantes. Carla sentiu lágrimas queimando seus olhos. Era verdade. Rafael era a única pessoa no mundo que realmente a conhecia também, que sabia de sua insegurança com relacionamentos, de como a morte da mãe a afetara, de como ela guardara seu coração como um tesouro nunca aberto.
Rafael, sua voz tremeu. Isso é loucura. É. Ele finalmente tocou sua mão e ela sentiu um choque elétrico familiar. Mas é uma loucura que faz sentido para nós dois. Pensa bem, você já teve algum relacionamento que realmente te fizesse feliz? A pergunta a atingiu como um soco no estômago.
Aos 28 anos, Carla havia tido poucos relacionamentos, todos superficiais, todos terminados, quando os homens percebiam que ela não se entregaria facilmente física ou emocionalmente. Sua virgindade era um fardo que carregava como uma marca de sua incapacidade de se conectar verdadeiramente com alguém. Não”, admitiu ela em voz baixa. “Nem”, disse Rafael. “Mas contigo é diferente. Sempre foi.
” Quando éramos crianças, você era a única pessoa com quem eu podia ser eu mesmo. E agora, depois de todos esses anos, ainda sinto essa conexão. Carla puxou a mão, precisando de espaço para pensar. E como exatamente você imagina que isso funcionaria? Não é como se estivéssemos falando de adotar um cachorro, Rafael. Eu sei. Ele sorriu e, pela primeira vez, desde que chegara ao café, pareceu relaxar um pouco. Eu pensei em tudo.
Moraria aqui em Floripa por um tempo, para estarmos próximos durante a gravidez. Dividiríamos todas as responsabilidades igualmente. A criança seria nossa, não minha ou sua. E depois a voz dela saiu mais áspera do que pretendia. Depois que o bebê nascesse, você voltaria para São Paulo e eu criaria a criança sozinha aqui? Não.
A resposta foi imediata e firme. Jamais te abandonaria assim. Nós encontraríamos um jeito de fazer funcionar. Talvez você se mudasse para São Paulo. Talvez eu vendesse a empresa e voltasse para cá. Isso nós decidiríamos juntos. Carla levantou-se abruptamente, a cadeira raspando no chão. Preciso de ar.
Rafael levantou-se também, deixando dinheiro suficiente na mesa. Vem, vamos caminhar na orla. Eles saíram do café em silêncio e Carla sentiu a brisa fresca da lagoa acalmar seus nervos exaltados. O sol estava se pondo, pintando o céu de tons alaranjados que se refletiam na água parada.
“Por que eu, Rafael?”, perguntou ela finalmente, parando próxima ao deck de madeira que se estendia a lagoa adentro. Existem milhares de mulheres mais adequadas para isso, porque você é a única em quem confio completamente. Ele parou ao lado dela, olhando para o reflexo das primeiras estrelas na água. E porque, sendo completamente honesto, sempre carreguei um sentimento especial por você. O coração de Carla disparou novamente.
Que tipo de sentimento? Rafael virou-se para encará-la e ela viu uma vulnerabilidade crua em seus olhos. O tipo que me fazia sonhar em te reencontrar um dia. O tipo que fez com que nenhuma outra mulher preenchesse o vazio que você deixou quando partiu. Será que o coração de Carla estava pronto para a decisão mais importante de sua vida? Três dias se passaram desde a conversa no café e Carla não conseguia tirar Rafael da cabeça.
Ela tentou manter sua rotina normal, aulas de dança pela manhã, ensaios à tarde, mas seus pensamentos sempre voltavam àquela proposta impossível. Na manhã de domingo, decidiu visitar a única pessoa que poderia ajudá-la a enxergar com clareza, professora Marina, sua mentora de dança e amiga há mais de 15 anos.
Marina Oliveira morava numa casa pequena e aconchegante no Ribeirão da Ilha, rodeada por plantas e com vista para o mar. Aos 65 anos, ela havia sido uma das primeiras bailarinas do teatro Álvaro de Carvalho e agora se dedicava a ensinar e orientar jovens talentos. “Você está com cara de quem não dormiu direito”, disse Marina assim que abriu a porta. Seus cabelos grisalhos presos num coque elegante. “Entra, vou fazer um chá.
Carla sentou-se na poltrona de tecido florido, que conhecia desde a adolescência, o local onde havia chorado por decepções amorosas, comemorado aprovações em concursos e compartilhado seus maiores medos. “É sobre um homem?”, perguntou Marina, trazendo duas xícaras de chá de camomila.
Como você, querida, estou neste mundo há 65 anos, conheço essa expressão. Marina sentou-se na cadeira em frente, seus olhos azuis acinzentados, estudando Carla com atenção. É alguém que te deixou confusa? Muito confusa. Carla tomou um gole do chá quente, sentindo o líquido aquecer seu peito. É o Rafael. Marina arqueou as sobrancelhas. Aquele menino da sua infância. Pensei que vocês haviam perdido contato. Havíamos.
Ele apareceu no estúdio na quinta-feira. Carla respirou fundo, preparando-se para a bomba que estava prestes a soltar. Marina, ele me fez uma proposta que que eu nem sei como descrever. Tentativa e descrição. Ele quer ter um filho comigo, não como casal, mas como amigos. Uma sociedade para criar uma criança juntos. Marina quase derrubou a xícara.
Seus olhos se arregalaram e, por um longo momento, ela apenas ficou olhando para Carla como se ela tivesse anunciado que pretendia voar para a lua. “Meu Deus do céu”, murmurou finalmente. “E você está considerando isso?” “Não sei.” Carla colocou a xícara na mesinha de centro, suas mãos tremendo ligeiramente.
“Parte mim acha que é a coisa mais maluca que já ouvi, mas outra parte? Que outra parte?” A voz de Marina era gentil, sem julgamento. Outra parte se lembra de como eu me sentia completa quando estava com ele, de como nunca consegui me conectar verdadeiramente com nenhum outro homem. Lágrimas começaram a formar nos olhos de Carla. Marina, eu tenho 28 anos e nunca me apaixonei de verdade.
Nunca nem nunca nem fiz amor com alguém. Marina suspirou profundamente, sua expressão suavizando. Querida, não há nada de errado em ter se guardado para alguém especial. Mas e se esse alguém especial nunca aparecer? A voz de Carla quebrou. E se Rafael for a minha única chance de ter uma família, de não morrer sozinha como a minha mãe? Sua mãe não morreu sozinha, disse Marina firmemente.
Ela morreu tendo você, tendo criado uma filha maravilhosa. E você não vai morrer sozinha. Tem muitas pessoas que te amam, mas não é a mesma coisa. Carla limpou as lágrimas com as costas das mãos. Eu quero ter filhos, Marina. Sempre quis. E Rafael, ele me conhece, sabe quem eu sou de verdade.
Marina ficou em silêncio por alguns minutos, olhando pela janela para o mar. O sol da manhã criava reflexos dourados na água e gaivotas voavam em círculos próximos à costa. Conte-me sobre ele”, disse finalmente, “Sobre como você se sentia quando eram crianças”. Carla fechou os olhos, deixando as memórias retornarem. Ele era tímido, acreditou. Mesmo sendo de família rica, sempre foi quieto.
Eu o encontrei na biblioteca da escola, escondido atrás dos livros de história marítima. Estava chorando porque os outros meninos zombavam dele por preferir ler a jogar futebol. E você fez o quê? Sentei ao lado dele e comecei a contar sobre as aulas de dança da minha avó. Disse que ele podia vir assistir se quisesse, que lá ninguém zombaria dele.
Um sorriso nostálgico brotou nos lábios de Carla. Ele foi no dia seguinte e no outro e no outro. Ele se apaixonou pela dança. Ele se apaixonou por mim, admitiu Carla, as bochechas corando. Aos 8 anos, ele já dizia que ia se casar comigo quando crescêsemos.
Eu achava bobagem na época, mas mas ele cuidava de mim como ninguém nunca cuidou. Quando minha avó ficou doente e eu pensei que teria que parar de dançar por falta de dinheiro, ele convenceu os pais a patrocinarem minhas aulas. Quando os garotos da escola me chamavam de estranha por preferir dançar a brincar de boneca, ele os enfrentava, mesmo sendo menor que eles. Marina sorriu. Parece que ele sempre te amou.
Como amigo, corrigiu Carla rapidamente. Querida Marina se inclinou para a frente, pegando as mãos de Carla entre as suas. Homens não fazem propostas desse tipo para amigas. Ele pode estar se escondendo atrás da palavra amizade, mas o que você descreveu não é amizade, é amor. Um amor que vem crescendo há 20 anos. O coração de Carla disparou.
Você acha? Tenho certeza. Marina apertou suas mãos. A questão é, você está disposta a arriscar descobrir se é recíproco? Carla respirou fundo, sentindo como se estivesse à beira de um precipício, prestes a saltar, sem saber se havia rede de segurança. E se der tudo errado? E se tivermos um filho e depois descobrirmos que não funcionamos como casal? A criança vai pagar pelo nosso erro.
E se der tudo certo? Rebateu Marina. E se vocês descobrirem que foram feitos um para o outro, mas estavam com medo demais. para admitir, essa criança nasceria do amor mais puro que existe, aquele que cresce devagar, com base no conhecimento profundo entre duas pessoas. Carla sentiu lágrimas de esperança misturadas com medo.
Você acha que eu deveria aceitar? Marina sorriu, seus olhos brilhando com sabedoria acumulada. Acho que você deveria seguir seu coração. E, pelo que vejo nos seus olhos, ele já decidiu. Carla estava pronta para tomar a decisão que mudaria sua vida para sempre. Rafael não dormira direito desde quinta-feira. Passou o fim de semana inteiro no apartamento que alugara temporariamente na beira norte, olhando obsessivamente o celular, esperando uma ligação ou mensagem que não chegava.
Na segunda-feira de manhã, decidiu trabalhar para se distrair. Sentou-se no notebook na varanda do apartamento, tentando concentrar-se nos relatórios da empresa, mas sua mente sempre voltava para Carla, para a expressão de choque em seu rosto, para o jeito como ela tremera quando ele tocou sua mão. O telefone tocou às 14:17. O nome dela apareceu na tela e ele quase derrubou o aparelho de tão nervoso.
Carla. Oi. A voz dela soava calma, mas ele conseguia perceber a tensão subjacente. Podemos nos encontrar? Claro. Onde? Praia do Campeste. Conheço um lugar reservado onde podemos conversar sem interrupções. Rafael sentiu o estômago revirar. O tom de Carla sugeria uma decisão havia sido tomada, mas ele não conseguia adivinhar qual.
Duas horas depois, ele estava caminhando pelas areias douradas do Campeche, procurando por ela. A praia estava relativamente vazia numa segunda-feira de março, apenas alguns surfistas aproveitando as ondas pequenas e pescadores na distância. Encontrou-a sentada numa pedra grande, longe das casas de veraneio, olhando para o mar.
Ela vestia um vestido azul claro que esvoaçava com a brisa marinha, os cabelos soltos dançando ao vento. Rafael parou por um momento apenas para admirá-la, lembrando-se de quantas vezes havia sonhado com este exato cenário durante os anos de separação. “Oi”, disse ele, aproximando-se devagar. “Oi!” Carla virou-se para encará-lo e ele viu determinação em seus olhos verdes. “Senta aqui.
” Rafael sentou-se na areia ao lado da pedra. olhando para cima para ela. Você decidiu? Não era uma pergunta. Decidi. Carla respirou fundo e ele segurou a própria respiração. Mas antes de te dar minha resposta, preciso que você seja completamente honesto comigo sobre uma coisa. Qualquer coisa. Você realmente acredita que conseguimos fazer isso apenas como amigos? Carla desceu da pedra e sentou-se na areia ao lado dele, seus joelhos se tocando.
Porque eu conversei com a Marina e ela me fez pensar em algumas coisas. Rafael sentiu seu coração acelerar. Que tipo de coisas? Sobre como você me olhava quando éramos adolescentes. Sobre por você nunca se casou, mesmo tendo tudo que qualquer mulher poderia querer. Sobre por veio me procurar depois de todos esses anos.
Carla virou-se completamente para encará-lo. Rafael, você está me propondo ter um filho? Porque não consegue me ter de outra forma? A pergunta o atingiu como um murro. Rafael abaixou a cabeça, de repente incapaz de encará-la. Responde, disse ela suavemente. Por favor, eu Rafael engoliu em seco, lutando contra anos de medo e autoproteção.
Eu nunca parei de te amar, Carla. Nem um dia, nem um momento. O silêncio que se seguiu foi preenchido apenas pelo som das ondas quebrando na areia e pelo vento nas dunas. Rafael finalmente ergueu a cabeça e viu lágrimas escorrendo pelo rosto de Carla. Por que não me disse isso desde o início? sussurrou ela. Porque eu tinha medo.
A admissão saiu rouca, carregada de 10 anos de dor reprimida. Medo de que você não sentisse o mesmo. Medo de destruir nossa amizade. Medo de ser rejeitado pela única pessoa que realmente importa para mim. Carla estendeu a mão e tocou seu rosto, seu polegar, limpando uma lágrima que ele nem sabia que havia derramado. Idiota! Disse ela, mas havia ternura na palavra. Como você pode pensar que eu não sinto o mesmo? O mundo parou.
Rafael sentiu como se o ar tivesse sido sugado de seus pulmões. Você sente? Sempre senti. Carla sorriu através das lágrimas. Por que você acha que nunca consegui me interessar de verdade por nenhum outro homem? Por que você acha que ainda sou virgem aos 28 anos? Rafael a olhou completamente boque aberto. Você é virgem? Carla corou intensamente.
Eu me guardei inconscientemente. Eu me guardei para você, mesmo sem saber se te veria novamente. Carla. Rafael levantou a mão e entrelaçou seus dedos com os dela. Eu te amo. Te amo desde criança e esse amor só cresceu durante todos esses anos. Eu também te amo! Sussurrou ela. E é por isso que minha resposta é sim. Sim.
Rafael sentiu como se fosse desmaiar. Sim, eu quero ter um filho com você, mas não como amigos, Rafael. Carla se inclinou mais perto, seus lábios a centímetros dos dele, como pessoas que se amam, como um casal que esteve separado tempo demais. Rafael sentiu todo o peso dos últimos 10 anos sendo erguido de seus ombros.
Sem pensar, sem hesitar, ele puxou Carla para mais perto e beijou-a. O beijo foi suave no início, exitante, como se eles estivessem testando se aquilo era real. Mas então Carla respondeu, suas mãos se enrolando em sua camisa e o beijo se aprofundou, carregado de anos de saudade e amor reprimido. Quando finalmente se separaram, ambos estavam ofegantes.
“Isso significa que você aceita minha proposta modificada?”, perguntou Rafael, sorrindo. “Qual seria a sua proposta modificada?” Rafael ficou de pé e estendeu a mão para ajudá-la a levantar. “Casa comigo, Carla Santos.
Não por causa de um filho, mas porque eu te amo e não consigo imaginar minha vida sem você. Carla aceitou sua mão e levantou-se, ficando na ponta dos pés, para beijá-lo novamente. “Ainda não me pediu em casamento oficialmente”, disse ela, os olhos brilhando de alegria. “Mas aceito a proposta modificada. Vamos ter nossa família, Rafael Silva. Mas será que a transformação de amigos em amantes seria tão simples quanto prometiam suas palavras? Duas semanas se passaram desde o beijo na praia do Campeche e Rafael sentia como se estivesse vivendo em um sonho. Ele havia cancelado todas as viagens de negócios e dedicado-se inteiramente a
reconquistar Carla, não que precisasse, já que ela correspondia a cada gesto, a cada olhar apaixonado. Nesta manhã de terça-feira, eles tinham uma consulta médica marcada. Rafael estava nervoso, tambori lavando os dedos no volante de seu Audi preto enquanto aguardava Carla sair do prédio onde morava.
Quando ela apareceu, vestindo uma saia media azul marinho e uma blusa branca, Rafael sentiu aquela pontada familiar no peito, uma mistura de desejo e ternura que agora sabia que podia expressar livremente. “Está nervosa?”, perguntou ele quando ela entrou no carro. Um pouco, admitiu Carla, ajustando o cinto de segurança.
E você, apavorado, disse Rafael com honestidade, fazendo-a rir. Pelo menos estamos nisso juntos. A clínica médica ficava no centro de Florianópolis, num prédio moderno com vista para a Baia Sul. Dr. Roberto Mendes era o ginecologista mais renomado da cidade, especializado em fertilidade e gravidez de risco.
“Então,” disse o médico, um homem de cabelos grisalhos e óculos redondos, depois de examinar os exames de sangue de Carla, não vejo nenhum impedimento para que vocês engravidem naturalmente. Os hormônios dela estão perfeitos. E pelos seus exames, Rafael, você também não tem problemas de fertilidade. Carla sentiu o rosto queimar.
A palavra naturalmente carregava implicações que a deixavam simultaneamente animada e aterrorizada. “Quanto tempo geralmente leva?”, perguntou Rafael, segurando a mão dela. Para casais saudáveis da idade de vocês, pode acontecer já na primeira tentativa ou levar até um ano. O importante é não criar pressão. Dr. Mendes sorriu. Vocês são muito jovens ainda. Tem tempo.
Depois da consulta, eles caminharam em silêncio até o carro. O peso da realidade estava começando a se instalar. Eles realmente iam tentar ter um bebê juntos. Carla”, disse Rafael quando chegaram ao estacionamento. “Precisamos conversar sobre bem sobre como vamos fazer isso.” Ela parou de andar e o encarou.
“Como assim? Você sabe?” Rafael passou a mão pelos cabelos, claramente desconfortável. Nós ainda não. Quer dizer, desde que voltamos a nos falar, nós só nos beijamos e agora, de repente, vamos ter que fazer amor. Terminou Carla. salvando-o do constrangimento. É, e eu não quero que se sinta pressionada. Não quero que nossa primeira vez seja apenas por causa do bebê.
Carla sentiu o coração derreter. Mesmo depois de tantos anos, Rafael ainda a conhecia profundamente. Sabia de seus medos, suas inseguranças. “Eu também pensei nisso,”, admitiu ela. “cho que temos que deixar as coisas fluírem naturalmente. Quando nos sentirmos prontos, saberemos.” Rafael sorriu e puxou-a para um abraço. Você é incrível.
Também acho disse ela provocando-o. Agora me leva para almoçar. Todo esse papo de bebê me deu fome. Eles foram ao mercado público, um lugar que ambos adoravam desde a infância. Entre as bancas de frutas e os restaurantes tradicionais, eles compraram camarão com casquinha e se sentaram numa mesa de madeira desgastada, observando o movimento dos turistas e locais.
“Lembra quando seus pais nos trouxeram aqui pela primeira vez?”, perguntou Carla, descascando um camarão. Lembro. Você tinha 10 anos e insistiu em experimentar todas as frutas exóticas que nunca tinha visto. Rafael sorriu. Passou mal a tarde toda por causa da jaca. E você ficou cuidando de mim no banheiro da sua casa, me trazendo água e contando piadas para me distrair.
Já estava apaixonado por você, disse Rafael. E a simplicidade da admissão fez Carla parar de comer. Mesmo? Mesmo? Lembro do momento exato. Foi quando você riu da minha piada sobre o tubarão que queria ser vegetariano. Você riu tanto que soltou o que estava bebendo pelo nariz. E mesmo assim eu achei a coisa mais linda do mundo. Carla sentiu lágrimas formando em seus olhos.
Como você consegue fazer com que momentos embarraçantes só em românticos? Tá lento”, disse Rafael, piscando para ela. Eles estavam terminando de almoçar quando uma mulher elegante se aproximou da mesa. Carla a reconheceu imediatamente. Patrícia Oliveira, uma das fofoqueiras mais conhecidas da lagoa da Conceição.
“Rafael Silva”, exclamou Patrícia, os olhos brilhando de curiosidade. “Que surpresa te ver por aqui e com a Carla Santos?” Oi, Patrícia”, disse Rafael educadamente, mas Carla percebeu atenção em sua voz. “Vocês estão juntos?” A pergunta saiu carregada de insinuação. “Estamos namorando”, respondeu Carla antes que Rafael pudesse falar.
“Que interessante!”, Patrícia sorriu, mas havia malícia no gesto depois de todos esses anos. E olha só, o empresário milionário e a professora de dança, uma história e tanto. O comentário foi como um tapa na cara de Carla. A implicação era clara. Ela estava com Rafael pelo dinheiro. Patrícia, disse Rafael, sua voz baixa, mas carregada de aviso.
Sugiro que pense bem antes de espalhar qualquer fofoca. Ó, não é fofoca, é só observação. Patrícia riu falsamente. Enfim, vocês formam um casal interessante. Tchau. Quando ela se afastou, Carla estava visivelmente perturbada. Não liga para ela disse Rafael. Patrícia sempre foi assim. Não é só ela. Carla mexeu na comida sem comer.
Vai ser assim sempre que estivermos juntos em público. As pessoas vão achar que estou contigo pelo dinheiro. E daí? Rafael pegou sua mão sobre a mesa. Nós sabemos a verdade. É isso que importa. Importa sim. Carla retirou a mão suavemente. Porque essas pessoas também vão julgar nosso filho um dia.
Como eles enfrentariam o peso do julgamento social sobre seu relacionamento improvável? Três semanas depois da consulta médica, Rafael e Carla haviam estabelecido uma rotina confortável. Ele a buscava todas as manhãs para tomarem café da manhã juntos na padaria do bairro. Depois a deixava no estúdio e seguia para suas reuniões de trabalho. À tarde se encontravam para caminhadas na orla ou jantares simples em restaurantes pequenos e aconchegantes.
Mas havia uma tensão crescente entre eles, uma consciência mútua de que suas carícias estavam ficando mais íntimas, seus beijos mais longos e intensos. Ambos sabiam que estavam se aproximando do momento que mudaria tudo. Nesta sexta-feira à noite, Carla havia convidado Rafael para jantar em sua casa pela primeira vez.
Ela morava num apartamento pequeno, mais charmoso, no centro da Lagoa da Conceição, decorado com objetos de dança e plantas que davam vida ao ambiente. “Está nervosa?”, perguntou Rafael quando chegou, trazendo uma garrafa de vinho e um buquê de lírios brancos. Um pouco, admitiu Carla, aceitando as flores. Não costumo receber visitas, muito menos você.
Sou só eu disse ele suavemente. O mesmo Rafael de sempre. Não, não é. Carla o conduziu até a pequena sala de estar. Você é o Rafael que me ama, que quer ter um filho comigo. Isso muda tudo. Rafael sentou-se no sofá de tecido bege, observando-a a arranjar as flores num vaso. Ela estava linda nesta noite, vestindo um vestido verde água que realçava seus olhos e deixava seus ombros descobertos.
“O jantar está quase pronto”, disse ela. “Fiz sua comida favorita”. “Você lembra? Bobinho strogonof de camarão com arroz branco. Você comeu isso na casa da minha avó? pelo menos 50 vezes. Durante o jantar, eles conversaram sobre tudo e nada. As alunas de Carla, os negócios de Rafael, planos para o futuro.
Mas havia uma corrente elétrica no ar, uma consciência mútua que tornava cada toque acidental dos dedos, cada olhar prolongado, carregado de significado. “Carla”, disse Rafael quando terminaram de comer. “osso te fazer uma pergunta?” “Claro.” “Você tem medo de mim?” A pergunta a pegou de surpresa. Medo? Por quê? Porque toda vez que as coisas esquentam entre nós, você se afasta e eu não quero que se sinta pressionada por causa da questão do bebê. Carla suspirou, brincando com a taça de vinho.
Não tenho medo de você. Tenho medo de mim mesma. Como assim, Rafael? Eu nunca. Ela parou, o rosto corando intensamente. Você sabe que eu nunca estive com ninguém e tenho 28 anos. é constrangedor. Rafael se levantou e contornou à mesa, ajoelhando-se ao lado da cadeira dela. Não há nada de constrangedor nisso.
E você não está sozinha. Eu também me guardei. Carla o olhou surpresa. Você não completamente como você, admitiu ele. Mas nunca estive com alguém que realmente importasse. Nunca fiz amor, Carla. apenas outras coisas, sem significado. A honestidade dele a tocou profundamente. Carla estendeu a mão e acariciou seu rosto. “Nós somos um par e tanto não somos”, disse ela rindo nervosamente.
“Somos perfeitos um para o outro.” Rafael beijou a palma de sua mão. E não há pressa. Quando estivermos prontos, saberemos. “E se eu nunca estiver pronta?” A pergunta saiu carregada de insegurança. Você vai estar porque você me ama e eu te amo. E quando duas pessoas se amam de verdade, o resto acontece naturalmente.
Rafael se levantou e estendeu a mão para ela. Vem, vamos dançar. Dançar aqui? Por que não? Você é professora de dança e eu sempre quis dançar contigo numa pista de verdade. Carla aceitou sua mão e o levou para a pequena sala de estar. Ela ligou o som, escolhendo uma música suave, e se virou para encontrá-lo já esperando. Os braços abertos.
Eles dançaram devagar, colados, ela com a cabeça apoiada em seu peito, ouvindo as batidas aceleradas de seu coração. A música fluía ao redor deles e Carla sentia como se estivessem em uma bolha mágica, protegidos do mundo exterior. “Carla”, sussurrou Rafael em seu ouvido. “Hum, eu te amo tanto que às vezes dói.
” Ela ergueu a cabeça para olhá-lo e viu tanto amor em seus olhos castanhos que sentiu seu coração transbordar. “Então, me ama de verdade”, sussurrou ela, ficando na ponta dos pés para beijá-lo. O beijo foi diferente, desta vez, mais profundo, mais urgente.
As mãos de Rafael deslizaram pelas costas dela, enquanto as mãos dela se enrolavam em seus cabelos. A música continuava tocando, mas eles pararam de dançar perdidos um no outro. Carla”, murmurou Rafael contra seus lábios. “Tem certeza?” “Tenho certeza de que te amo”, sussurrou ela. “Tenho certeza de que quero ser sua completamente.” Rafael a pegou no colo e ela se surpreendeu com a facilidade com que ele a carregou.
Ela apontou para o quarto e ele a levou como se ela fosse feita de cristal. O quarto era pequeno e aconchegante, iluminado apenas pela luz suave que vinha da sala. Rafael a colocou de pé ao lado da cama e, por um momento, eles apenas se olharam. “Você é linda”, disse ele, sua voz rouca de emoção. “Estou nervosa”, admitiu ela. Eu também. Rafael sorriu tocando seu rosto suavemente.
Mas estamos juntos e isso é tudo que importa. Quando finalmente se entregaram um ao outro, foi com uma ternura e paixão que transcendeu qualquer expectativa. Carla descobriu que o amor verdadeiro tinha o poder de transformar o medo em confiança, a insegurança em entrega completa. Horas depois, deitados abraçados sob as cobertas, Carla sussurrou: “Agora entendo porque esperei por você.
Mas será que essa união perfeita resultaria imediatamente na família que tanto desejavam? Duas semanas se passaram desde a primeira noite que passaram juntos e Carla sentia como se uma nova versão de si mesma tivesse nascido. Rafael havia se tornado ainda mais presente em sua vida. dormia em sua casa quase todas as noites. A acompanhava no estúdio sempre que possível e juntos haviam criado uma intimidade que ela nunca imaginara ser possível.
Mas agora, sentada no banheiro de seu apartamento numa manhã de segunda-feira, ela olhava para o teste de gravidez com uma mistura de esperança e apreensão. Negativo. Carla sentiu uma pontada de decepção que a surpreendeu. Ela sabia que era normal não engravidar na primeira tentativa, mas mesmo assim havia esperado um milagre. “Carla.
” A voz de Rafael veio do quarto. “Tudo bem aí?” Tudo”, respondeu ela, escondendo o teste na gaveta. Não queria decepcioná-lo também. Rafael apareceu na porta do banheiro, já vestido para o trabalho, mas percebeu imediatamente a expressão dela. “Fez?”, perguntou suavemente. Carla a sentiu, incapaz de falar. “E, negativo.
” Rafael entrou no banheiro e a puxou para seus braços. “Está decepcionada?” Um pouco”, admitiu ela contra seu peito. “Eu sei que é bobagem, mas não é bobagem”. Rafael beijou o topo de sua cabeça. Eu também estava esperançoso. E agora? Agora continuamos tentando. Rafael se afastou para olhá-la nos olhos.
O médico disse que pode levar até um ano. Temos tempo. Mas conforme os meses passaram, a pressão começou a crescer. O segundo teste deu negativo. O terceiro também. No quarto mês, Carla começou a se questionar se havia algo errado com ela. “Talvez devêsemos voltar ao médico”, sugeriu ela numa tarde de sexta-feira, depois de mais um resultado negativo.
Eles estavam na varanda do apartamento de Rafael, observando o movimento da beira mar norte. O sol estava se pondo, pintando o céu de tons rosados, mas Carla mal notava a beleza do cenário. “Se você quiser”, disse Rafael, “mas percebeu hesitação em sua voz. Você não quer?” “Não é isso.” Rafael virou-se para encará-la.
“É que eu não quero que isso vire uma obsessão. Nós estamos felizes, Carla. Muito felizes. O bebê vai vir quando for a hora certa.” “E se não vier?” A pergunta saiu mais angustiada do que ela pretendia. Vai vir. Rafael pegou suas mãos. E se não vier naturalmente encontraremos outras formas, mas não vamos deixar isso nos consumir.
Carla a sentiu, mas por dentro sentia um nó crescendo. E se Rafael ficasse cansado de tentar? E se ele percebesse que podia encontrar alguém mais jovem, mais fértil? Esses medos foram amplificados numa manhã de terça-feira, quando ela estava saindo do mercado, e esbarrou com Patrícia Oliveira novamente.
Carla, como está? Patrícia sorriu com falsa simpatia. Ouvi dizer que você e o Rafael estão tentando ter um bebê. Que emocionante. O estômago de Carla se revirou. Como Patrícia sabia disso? Não sei de onde você tirou essa informação”, disse Carla friamente. “Ah, querida, numa cidade pequena como esta, as notícias correm rápido.
Patrícia se inclinou como se fosse compartilhar um segredo, especialmente quando alguém faz várias consultas com o Dr. Mendes. As recepcionistas falam: “Você sabe como é.” Carla sentiu o rosto queimar de raiva e embarraço. Enfim, continuou Patrícia. Espero que dê tudo certo. Embora entre nós, eu sempre achei que ele acabaria com alguém mais adequada para o nível social dele. Com licença! Disse Carla, tentando passar por ela. Claro, claro. Só espero que você não esteja se iludindo, querida.
Homens ricos têm necessidades específicas. E se você não conseguir dar o que ele quer, Carla saiu andando rapidamente, mas as palavras de Patrícia ecoavam em sua mente como veneno. E se ela realmente não conseguisse engravidar? E se Rafael se cansasse dela? Essas inseguranças começaram a afetar seu relacionamento. Carla ficou mais fechada, mais sensível.
Rafael notou a mudança imediatamente. “O que está acontecendo?”, perguntou ele numa noite depois que ela se afastou quando ele tentou tocá-la. “Nada, Carla, eu te conheço há 20 anos. Sei quando algo está errado.” Ela suspirou, sentando-se na beira da cama. “Rafael, e se eu não conseguir engravidar? Já conversamos sobre isso?” Não, escuta. Carla se virou para encará-lo.
E se depois de tudo isso você perceber que cometeu um erro, que poderia ter escolhido alguém melhor, mais jovem, de uma família mais adequada? Rafael a olhou como se ela tivesse enlouquecido. De onde veio isso? Das pessoas falando, da Patrícia insinuando que a Patrícia. Rafael se levantou visivelmente irritado. Você está deixando aquela víbora mexer com sua cabeça? Não é só ela.
Carla também se levantou. É todo mundo. Todos olham para nós e pensam a mesma coisa. Que eu estou contigo pelo dinheiro. E eu penso que você está comigo pelo meu irresistível charme e humor, disse Rafael, tentando aliviar a tensão. Não é piada, Rafael. Você está certa, não é? Rafael parou em frente a ela, seu tom ficando sério.
Carla, você quer saber o que eu penso? Penso que você está com medo. Medo de ser feliz. Medo de que isso seja real demais para ser verdade. Talvez seja, sussurrou ela. Bem, eu vou te dizer uma coisa. Rafael pegou seu rosto entre as mãos. Eu não vou a lugar nenhum com bebê ou sem bebê, com a aprovação das pessoas ou sem ela. Eu te amo, Carla Santos, e isso não vai mudar.
Mas será que o amor seria suficiente para superar todas as pressões externas e os medos internos que ameaçavam separá-los? No quinto mês de tentativas, algo mudou. Carla acordou numa manhã de quinta-feira, sentindo-se estranha, um enjoo suave que ela inicialmente atribuiu a algo que havia comido na noite anterior. Mas quando o enjoo persistiu por três dias consecutivos, ela começou a suspeitar.
Rafael estava viajando a negócios em Santos e Carla decidiu fazer o teste sozinha. Ela não queria criar falsas esperanças novamente. Sentada no chão do banheiro, de costas para a porta, ela segurou o teste com mãos trêmulas. 5 minutos nunca pareceram tão longos em sua vida inteira. Quando finalmente olhou para o resultado, suas pernas quase falharam.
Positivo. Duas linhas claras e inequívocas. Carla cobriu a boca com as mãos, tentando conter um grito de alegria. Lágrimas escorriam por seu rosto enquanto ela olhava para o pequeno dispositivo que confirmava o milagre que ela havia esperado por tanto tempo. Estava grávida. Havia uma vida crescendo dentro dela.
Uma vida criada com Rafael, fruto do amor que eles haviam cultivado por 20 anos. Sua primeira reação foi ligar para ele imediatamente, mas então parou. Essa notícia não podia ser dada por telefone. Ela queria ver a expressão no rosto dele, queria compartilhar esse momento único pessoalmente. Rafael voltaria na sexta-feira à noite.
Ela teria que guardar o segredo por um dia inteiro. Foi o dia mais longo de sua vida. Carla cancelou suas aulas, fingindo estar indisposta, e passou as horas planejando como contaria a notícia para Rafael. Comprou uma camisa pequena de bebê branca com os dizeres Papis Little Star e preparou um jantar especial com todas as comidas favoritas dele.
Quando Rafael chegou no apartamento dela na sexta-feira às 19 horas, Carla estava tão nervosa que mal conseguia ficar parada. “Você está diferente”, disse ele assim que entrou, beijando-a suavemente. “Aconteceu algo?” Talvez”, disse ela, mal conseguindo conter o sorriso. “Como foi a viagem?” “Produtiva. Fechei três contratos novos.” Rafael parou de falar e a estudou mais atentamente. “Carla, você está radiante. Há algo que você não está me contando?” “Talvez.
” Ela pegou sua mão e o conduziu para a mesa de jantar. Mas primeiro você precisa comer. Durante o jantar, Rafael não parou de olhá-la com curiosidade. Carla estava visivelmente ansiosa, mexendo com a comida, falando mais do que o normal sobre assuntos aleatórios. “Tá bom”, disse ele finalmente, empurrando o prato.
“Você vai me contar o que está acontecendo ou vou ter que adivinhar?” “Na verdade, Carla se levantou, o coração batendo descompassado. “Eu tenho um presente para você. Presente não é meu aniversário, é um presente especial. Carla foi até o quarto e voltou com um pequeno embrulho. Abre. Rafael a olhou com uma expressão entre confuso e divertido, mas aceitou o pacote.
Quando removeu o papel e viu a pequena camisa de bebê, seu rosto ficou completamente imóvel. Carla, sua voz saiu como um sussurro. Estou grávida, Rafael. As palavras saíram em um sopro. carregadas de emoção pura. Cinco semanas. Rafael olhou da camisa para ela, depois de volta para a camisa, como se seu cérebro não conseguisse processar a informação. “Grávida”, repetiu ele.
Grávida? De repente, Rafael se levantou tão rapidamente que quase derrubou a cadeira. Em dois passos, ele estava ao lado dela, puxando-a para seus braços e girando-a no ar. “Meu Deus, Carla! Meu Deus!” Ele a colocou no chão e segurou seu rosto entre as mãos, lágrimas escorrendo livremente por seu rosto. Você tem certeza? Absoluta.
Fiz três testes, todos positivos. Rafael a beijou com tanta paixão que ela quase perdeu o equilíbrio. Quando se separaram, ambos estavam chorando e rindo ao mesmo tempo. “Vai ter um bebê”, sussurrou Rafael, colocando as mãos delicadamente sobre o ventre ainda plano de Carla. Nosso bebê, nosso bebê”, repetiu ela, cobrindo as mãos dele com as suas.
Eles ficaram assim por longos minutos, absorvendo a magnitude do que estava acontecendo. Rafael, de joelhos no chão, as mãos na barriga de Carla, ela acariciando seus cabelos. “Tenho que ligar para a minha avó”, disse Carla finalmente. “Tenho que contar para os meus pais”, disse Rafael ao mesmo tempo. Eles se olharam e riram.
Vamos juntos”, disse Rafael, ficando de pé. “Quero estar ao seu lado quando você contar para a Helena”. A primeira ligação foi para a avó de Carla. Quando Helena atendeu, sua voz carregava o cansaço de seus 78 anos. “Vó”, disse Carla, colocando o telefone no viva voz. “Você está sentada?” “Estou.
Por quê? Aconteceu algo?” Sim, algo maravilhoso. Carla olhou para Rafael, que a sentiu encorajadoramente. Você vai ser bisavó. O silêncio do outro lado da linha durou tanto que Carla temeu que a ligação tivesse caído. Vó, você está aí? Estou aqui, minha filha. A voz de Helena estava embargada. Estou aqui e estou chorando de felicidade. Meu Deus do céu, um bebê.
O Rafael está aqui comigo disse Carla. Nós estamos tão felizes, Rafael, meu filho, disse Helena. Você cuida bem da minha neta, viu? E desse bebê também. Vou cuidar com minha vida, prometeu Rafael, sua voz emocionada. Depois ligaram para os pais de Rafael em São Paulo. A reação foi ainda mais explosiva.
Sua mãe gritou de alegria e seu pai, conhecido por ser um homem sério, chorou no telefone. Quando é o casamento? Foi a primeira pergunta prática da mãe de Rafael. Carla e Rafael se olharam em meio à excitação da gravidez. Eles haviam esquecido completamente dessa questão. “Em breve, mãe”, disse Rafael, “Muito em breve. Mas será que planejar um casamento e se preparar para a paternidade ao mesmo tempo seria tão simples quanto prometiam?” A notícia da gravidez trouxe uma felicidade avaçaladora, mas também pressões que Carla não havia antecipado. Na manhã seguinte ao anúncio, ela acordou com enjoos mais intensos e uma
súbita consciência de que sua vida mudaria para sempre nos próximos meses. Rafael estava na cozinha preparando torradas com geleia, o único alimento que ela conseguia tolerar nas manhãs dos últimos dias. “Como se sente?”, perguntou ele quando ela apareceu na porta da cozinha com o rosto pálido e o cabelo desarrumado.
“Como se um caminhão tivesse passado por cima de mim”, disse ela, aceitando gratefully o prato que ele ofereceu. “É normal se sentir assim?” Segundo tudo que li na internet na madrugada, Rafael sorriu. “É completamente normal e significa que os hormônios estão funcionando. Você passou a noite pesquisando sobre gravidez?” Carla se sentiu tocada pela dedicação dele. Passei a noite pesquisando sobre tudo.
Gravidez, parto, amamentação, desenvolvimento infantil. Acho que li todos os artigos disponíveis sobre paternidade responsável. Carla riu, mas a risada foi interrompida por uma onda de enjoo. Rafael estava ao seu lado imediatamente, segurando seus cabelos enquanto ela corria para o banheiro. “Desculpa”, murmurou ela quando conseguiu se recompor.
“Pelo quê? por estar grávida do meu filho, Rafael a ajudou a se levantar. Jamais se desculpe por isso. O telefone tocou e Rafael atendeu enquanto Carla se enxaguava a boca. Alô, mãe? A voz dele ficou tensa. Sim, ela está bem. Não, não pode vir para cá hoje.
Sim, eu sei que você está ansiosa para conhecê-la melhor, mas Carla saiu do banheiro e fez um gesto para Rafael passar o telefone para ela. Dona Mariana, disse ela, tentando soar alegre. Aqui é a Carla, minha querida. A voz da mãe de Rafael era calorosa, mas determinada. Estava dizendo para o Rafael que preciso conhecer você melhor. Afinal, você está carregando meu neto. Seria um prazer disse Carla. diplomaticamente.
Ótimo. Então está decidido. Eu e o Antônio chegamos aí na quinta-feira. Vamos ajudar com os preparativos do casamento. Carla olhou para Rafael com pânico. Eles nem haviam discutido detalhes do casamento ainda. “Mãe”, interveio Rafael. “Talvez seja melhor esperarmos um pouco.
A Carla está com enjoos e nós ainda estamos processando tudo. Besteira! Gravidez não é doença e vocês não podem ficar enrolando com o casamento. Imagina o que as pessoas vão pensar. Depois que desligaram, Carla se sentou pesadamente no sofá. Sua mãe tem opiniões muito fortes disse ela. Ela é assim mesmo, mas não se preocupe, eu lido com ela.
Rafael sentou-se ao seu lado. A questão é: você quer mesmo se casar comigo? A pergunta a pegou de surpresa. Claro que quero. Por que pergunta isso? Porque quero ter certeza de que não está fazendo isso só por causa do bebê. Rafael pegou suas mãos. Carla, eu te amo e quero me casar contigo independentemente da gravidez, mas só se for isso que você realmente quer. É o que eu quero, disse ela firmemente. Quero ser sua esposa.
Quero que nosso filho nasça numa família completa. Então vamos nos casar. Rafael sorriu. Simples assim. Simples. Carla riu. Sua mãe está vindo para cá organizar um casamento que nem sabemos como queremos. Então decidimos agora. Rafael se levantou e estendeu a mão para ela. Vem, vamos dar uma volta e conversar sobre isso.
Eles caminharam pela orla da lagoa da Conceição, observando os pescadores voltando com suas redes e os primeiros turistas do dia, começando a aparecer nas trilhas. “Como você imagina nosso casamento?”, perguntou Rafael. Simples,” disse Carla imediatamente. “Poucas pessoas numa igreja pequena, talvez a igreja do Rosário no centro histórico. E a festa, um almoço, nada muito elaborado.
” Carla parou de andar e se virou para ele. Rafael, eu não me sinto confortável com festas grandes. Não sou desse mundo. Qual mundo? Do seu mundo, dos seus amigos empresários, das suas relações sociais? Carla suspirou. Eu só quero que seja sobre nós, nossa família, as pessoas que realmente nos amam. Rafael a puxou para um abraço.
Então vai ser exatamente assim, mesmo que minha mãe tenha um ataque. E se ela não gostar de mim? A insegurança de Carla transpareceu em sua voz. Ela vai adorar você. Como não adoraria? Você é inteligente, linda, talentosa e está carregando o primeiro neto dela.
Sou uma professora de dança que cresceu numa família humilde”, disse Carla. Não exatamente a nora que ela sonhava para o filho milionário. Carla. Rafael a afastou para olhá-la nos olhos. Para com isso. Você vale mais que qualquer herdeira mimada que minha mãe poderia ter escolhido. E ela vai perceber isso. Mas quando Mariana e Antônio Silva chegaram na quinta-feira, ficou claro que a situação seria mais complicada do que Rafael havia previsto.
Mariana Silva era uma mulher elegante de 58 anos, cabelos loiros perfeitamente arrumados, vestindo um conjunto de linho bege que gritava caro mesmo sendo discreto. Antônio, aos 62 anos, era uma versão mais velha de Rafael, alto, imponente, mas com olhos gentis. Carla, Mariana a cumprimentou com dois beijos, mas Carla percebeu o olhar avaliativo que a percorreu de cima a baixo. “Que bom finalmente conhecer você.
” “O prazer é meu”, disse Carla, consciente de seus jeans desbotados e camiseta simples. Rafael nos contou que vocês se conhecem desde crianças. disse Antônio, mais caloroso que a esposa. Que romântico! Durante o almoço num restaurante na Alagoa, Mariana bombardeou Carla com perguntas disfarçadas de conversa casual. É sua família, querida. Rafael mencionou que você foi criada pela avó.
Sim, minha mãe morreu quando eu era pequena e meu pai nunca esteve presente. Que triste. Mariana tomou um gole de vinho. E você sempre trabalhou com dança? Sim, é minha paixão. Que lindo ter hobbies criativos”, disse Mariana. E Carla percebeu a palavra hobbies carregada de condescendência. “Na verdade é minha profissão”, corrigiu Carla educadamente.
“Sou proprietária do estúdio onde ensino.” “Ah, Mariana sorriu, mas seus olhos permaneceram frios. E pretende continuar trabalhando depois que se casar?” A tensão na mesa era palpável. Rafael estava visivelmente desconfortável e Antônio tentava mudar de assunto, mas Carla sabia que essa era uma batalha que teria que enfrentar. “Pretendo sim”, disse ela firmemente.
“A dança é parte de quem eu sou.” “Claro, claro. É só que com o bebê vindo e Rafael sendo quem é, talvez fosse mais prático se você se dedicasse integralmente à família.” Como Carla conseguiria provar para a sogra que era digna de Rafael, sem abrir mão de quem realmente era? A tensão com a família de Rafael aumentou durante os dias seguintes.
Mariana tinha opiniões sobre tudo, desde o apartamento modesto de Carla até suas roupas inadequadas para a posição social que ocuparia como esposa dele. Cada comentário era disfarçado de preocupação maternal, mas Carla sentia o veneno por trás das palavras delicadas. Na manhã de sábado, Rafael teve que ir resolver um problema urgente no porto, deixando Carla sozinha com os pais.
Antônio havia saído para caminhar na orla e Mariana sugeriu que elas tivessem uma conversa de mulher para mulher. Sentadas na varanda do apartamento de Rafael, com vista para a Baia Norte, Mariana foi direto ao ponto. “Carla, você parece uma moça muito doce”, começou ela mexendo delicadamente no café. E é óbvio que Rafael sente algo por você.
Ele me ama, corrigiu Carla, tentando manter a voz firme. E eu o amo também. Claro, claro. Mas você entende que amor nem sempre é suficiente, não é? Mariana sorriu condescendentemente. Rafael tem responsabilidades enormes. A empresa, as relações sociais, a imagem pública. Ele precisa de uma esposa que possa acompanhá-lo nesse mundo.
E a senhora acha que eu não posso? Querida, não é culpa sua ter nascido em circunstâncias diferentes, mas você precisa entender que casando com Rafael estará entrando num universo completamente diferente. Eventos sociais, jantares com empresários, viagens internacionais.
Você se sente preparada para isso? Carla sentiu uma pontada de insegurança, mas forçou-se a manter a compostura. Acredito que posso aprender o que for necessário. Aprender? Mariana riu suavemente. Minha querida, essas coisas não se aprendem. São, como posso dizer, questão de berço. A cruel implicação atingiu Carla como um tapa. Mariana estava basicamente dizendo que ela nunca seria boa o suficiente para Rafael.
Dona Mariana, disse Carla, escolhendo as palavras cuidadosamente. Com todo respeito, Rafael me escolheu exatamente como sou. Ele não precisa de uma esposa que seja uma cópia das outras mulheres do círculo social dele. Você acha? Mariana se inclinou para a frente.
E o que acontece quando ele se cansar da novidade? Quando perceber que vocês não têm nada em comum além da nostalgia da infância? As palavras ecoaram as inseguranças mais profundas de Carla. Ela sentiu lágrimas queimando seus olhos, mas recusou-se a demonstrar fraqueza. A senhora está sendo muito cruel”, disse ela em voz baixa. “Estou sendo realista”, rebateu Mariana.
“Olha, eu não tenho nada contra você pessoalmente, mas meu filho merece alguém que possa ser uma parceira verdadeira, não um projeto de caridade.” Foi nesse momento que Rafael chegou. Ele apareceu na varanda no exato instante em que Carla se levantava abruptamente, lágrimas escorrendo por seu rosto. “O que está acontecendo aqui?”, perguntou ele, olhando da mãe para Carla.
“Nada demais”, disse Mariana calmamente. “Só uma conversa franca.” Carla. Rafael se aproximou dela, tocando suavemente seu braço. “Sua mãe deixou muito claro o que pensa sobre mim”, disse Carla, a voz tremendo. “E talvez ela esteja certa.” “Do que vocês estavam falando?” A voz de Rafael estava perigosamente baixa. Apenas expliquei para ela as realidades da vida que vocês vão levar.
disse Mariana. Alguém precisava ser honesta. Rafael olhou para sua mãe com uma expressão que Carla nunca havia visto. Fúria fria e controlada. Mãe, pode nos dar licença? Preciso conversar com a Carla. Rafael. Agora. Mariana saiu visivelmente descontente e Rafael puxou Carla para seus braços. Me conta tudo”, disse ele suavemente.
Carla desabou, contou sobre cada comentário venenoso, cada insinuação cruel, cada tentativa de fazê-la se sentir inadequada. E a pior parte, disse ela entre soluços, é que parte de mim acha que ela está certa, que eu realmente não sirvo para o seu mundo. Rafael a afastou para olhá-la nos olhos, suas mãos segurando firmemente seu rosto. Carla Santos, me escuta bem. Minha mãe está completamente errada.
Você não precisa servir para o meu mundo. Você é o meu mundo. Mas, Rafael, sem más. Você acha que eu me importo com eventos sociais e jantares chatos? Você acha que preciso de uma esposa que saiba qual garfo usar primeiro? Rafael balançou a cabeça. Eu preciso de você, da sua honestidade, da sua paixão, da sua capacidade de me fazer rir mesmo nos piores dias.
E se ela estiver certa sobre nós, não termos nada em comum? Nós temos tudo em comum. Rafael sorriu através das próprias lágrimas. Temos 20 anos de amizade, temos amor. Temos este bebê crescendo dentro de você e agora temos uma decisão a tomar. Que decisão? Sobre o casamento. Porque eu não vou me casar numa cerimônia onde você se sinta desconfortável ou julgada.
Rafael pegou suas mãos. Se quiser, nós fugimos. Casamos só nós dois numa igreja pequena, sem ninguém da minha família. Rafael, não posso pedir isso de você. Não está pedindo. Estou oferecendo. Ele beijou suas mãos. Carla, minha família sempre será importante para mim, mas você é mais importante. Você e nosso filho são minha prioridade agora.
Carla sentiu o coração transbordar de amor. Você realmente faria isso por mim? faria qualquer coisa por você. Nesse momento, Antônio apareceu na varanda, seguido por uma Mariana de cara fechada. Desculpem interromper, disse Antônio, mas acho que precisamos conversar todos nós. Rafael suspirou. Pai, não é uma boa hora, pelo contrário, é a hora perfeita.
Antônio olhou para Mariana com reprovação. Mariana, você precisa se desculpar imediatamente. Antônio, imediatamente, repetiu ele com uma autoridade que raramente demonstrava. Mariana olhou ao redor, percebendo que estava em desvantagem numérica. Carla, disse ela finalmente. Peço desculpas se fui direta demais. Só me preocupo com meu filho.
Não aceito disse Rafael antes que Carla pudesse responder. Uma desculpa de verdade, mãe. Mariana respirou fundo, claramente lutando contra seu orgulho. Carla, você tem razão. Fui cruel e injusta. Rafael a ama e isso deveria ser suficiente para mim. Peço sinceras desculpas.
Carla estudou a expressão da sogra, procurando sinceridade. Encontrou pelo menos arrependimento. “Aceito suas desculpas”, disse ela. “mas preciso que entenda uma coisa. Eu amo seu filho mais que minha própria vida e vou lutar por nossa família, independentemente do que qualquer pessoa pense. Será que Mariana finalmente entenderia que havia subestimado completamente a força e determinação de Carla? Depois do confronto com Mariana, algo mudou na dinâmica familiar.
A sogra de Carla não se transformou numa pessoa completamente diferente da noite para o dia, mas começou a fazer um esforço genuíno para conhecê-la melhor. No domingo pela manhã, enquanto Rafael e Antônio discutiam negócios, Mariana surpreendeu Carla com um convite. “Gostaria de ver onde você trabalha?”, perguntou ela, mexendo nervosamente na alça da bolsa.
Rafael fala tanto do seu estúdio que fiquei curiosa. Carla hesitou por um momento, mas decidiu dar uma chance à sogra. O centro cultural da lagoa da Conceição estava vazio no domingo, mas Carla tinha a chave e levou Mariana para conhecer seu pequeno reino. “É aqui que tudo acontece”, disse Carla, abrindo as portas do estúdio. Mariana entrou devagar, observando tudo.
Os espelhos nas paredes, a barra de dança, as fotografias de apresentações passadas, os troféus e certificados nas prateleiras. “Você construiu tudo isso sozinha?”, perguntou ela, tocando delicadamente uma das fotografias. Com muito trabalho, algumas economias e um empréstimo que ainda estou pagando admitiu Carla. Não é grande coisa, mas é meu. É impressionante.
Mariana se virou para encará-la e havia algo diferente em seus olhos. Carla, posso te fazer uma pergunta pessoal? Claro. Como você conseguiu manter essa independência, essa força? Aos 28 anos, você tem seu próprio negócio, seus próprios sonhos. Quando eu tinha sua idade, já estava casada há 8 anos e nunca havia tomado uma decisão importante sozinha. A pergunta pegou Carla de surpresa.
Acho que nunca tive escolha. Depois que minha mãe morreu, aprendi que só podia contar comigo mesma. Deve ter sido muito solitário. Foi. Mas também me ensinou que posso conseguir qualquer coisa se me esforçar o suficiente. Mariana ficou em silêncio por alguns minutos, observando uma fotografia de Carla numa apresentação de dança contemporânea.
“Você é muito bonita quando dança”, disse ela. “Finalmente. Rafael me mostrou alguns vídeos no celular. Você se transforma completamente. A dança é minha forma de me expressar quando as palavras não são suficientes. Posso ver uma demonstração? Carla a olhou surpresa. Sério? Se não for incômodo? Carla ligou o som e escolheu uma música suave, uma peça instrumental que sempre a tranquilizava.
Começou devagar, deixando a música guiar seus movimentos, esquecendo completamente da presença de Mariana. Quando a música terminou, ela se virou e viu lágrimas nos olhos da sogra. Foi lindo! Sussurrou Mariana. Agora entendo por Rafael se apaixonou por você. Como assim? Você tem luz própria, Carla. Não precisam te ensinar a brilhar. Você já brilha.
Mariana limpou os olhos discretamente. Eu estava errada sobre você. Completamente errada. Carla sentiu o nó na garganta. Dona Mariana, me chama de Mariana. e me perdoa por ter sido uma sogra terrível nos primeiros dias. Não foi terrível, só estava protegendo seu filho. Estava sendo preconceituosa e elitista, corrigiu Mariana. Mas agora vejo que Rafael não precisa de proteção.
Ele precisa de uma mulher forte como você ao lado dele. Quando voltaram para o apartamento, Rafael e Antônio notaram imediatamente a mudança na atmosfera entre elas. “Tudo bem?”, perguntou Rafael, puxando Carla para um abraço. Melhor que bem, disse Carla, sorrindo para Mariana. Sua mãe me deu uma ideia. Que tipo de ideia? Para o casamento? Que tal se fizéssemos aqui em Florianópolis, mas com uma festa que honrasse tanto nossas tradições quanto as da sua família? Como assim? Rafael parecia intrigado. Cerimônia na igreja do Rosário, como queríamos, explicou Carla.
Mas a recepção poderia ser no centro cultural. Eu poderia coreografar uma apresentação especial, misturando dança contemporânea com música clássica. Seria íntimo, mas elegante. Mariana sorriu. E eu poderia ajudar com a decoração e o cardápio. Tenho alguns contatos aqui em Florianópolis.
Rafael olhou da esposa para a mãe, claramente surpreso com a súbita harmonia. Vocês duas planejaram isso enquanto eu estava fora? Podemos dizer que chegamos a um entendimento”, disse Mariana piscando para Carla. Naquela tarde eles visitaram a igreja do Rosário e conversaram com o padre sobre a disponibilidade para um casamento em três semanas.
Tempo suficiente para os preparativos, mas não tanto que a gravidez de Carla ficasse muito aparente. “É pouco tempo”, disse o padre consultando seu calendário. “Mais para um casal que se conhece há 20 anos, talvez já tenham esperado tempo demais. Na segunda-feira, quando Mariana e Antônio voltaram para São Paulo, a despedida foi completamente diferente da chegada. “Cuida bem do meu filho”, disse Mariana, abraçando Carla calorosamente.
“E deixa ele cuidar de você também.” “Vou cuidar”, prometeu Carla. “E Carla?” Mariana baixou a voz. “Obrigada por me ensinar que o amor não tem classe social”. Depois que eles partiram, Rafael e Carla se sentaram na varanda, observando o movimento do fim de tarde na beira mar norte.
“Como você conseguiu conquistar minha mãe?”, perguntou Rafael, brincando com os cabelos dela. Mostrei para ela quem eu realmente sou, sem tentar impressionar, sem fingir ser alguém que não sou. E funcionou. “Funcionou porque sua mãe tem um coração bom. Ela só estava com medo de perder você.” Rafael beijou o topo de sua cabeça. “Impossível. Ela ganhou uma filha.
E eu ganhei uma família”, sussurrou Carla, colocando a mão sobre o ventre, que começava a mostrar uma pequena curva. Mas será que os preparativos para o casamento correriam tão suavemente quanto essa reconciliação familiar? Com apenas duas semanas para o casamento, Carla sentia como se estivesse numa montanha russa emocional. Os enjoos matinais haviam diminuído, mas foram substituídos por uma ansiedade constante sobre os preparativos, combinada com momentos de pura felicidade, quando Rafael colocava a mão em sua barriga e sussurrava palavras
carinhosas para o bebê. Na manhã de quarta-feira, ela estava no estúdio ensaiando a coreografia especial para o casamento, quando sentiu uma pontada estranha no baixo ventre. Parou de dançar imediatamente, a mão voando para a barriga.
Tudo bem?”, perguntou Amanda, uma de suas alunas, que estava ajudando com o ensaio. “Acho que sim”, disse Carla, mas apontada voltou mais forte desta vez. “Professora, você está pálida”, observou Amanda preocupada. Carla se sentou numa cadeira tentando se acalmar. A dor passou, mas deixou um eco de medo. “Amanda, pode cancelar o resto das aulas hoje? Acho que preciso descansar.” “Claro. Quer que eu ligue para alguém?”, “Para o Rafael, por favor.
O número está na agenda ali. 20 minutos depois, Rafael chegou ao estúdio como um furacão, o rosto marcado pela preocupação. “O que aconteceu?”, perguntou ele, ajoelhando-se ao lado da cadeira onde ela estava sentada. “Uas pontadas, provavelmente não é nada, mas me assustei. Vamos ao médico agora, Rafael, não precisa, Carla”.
Ele pegou suas mãos e ela viu medo real em seus olhos. “Por favor, pelo nosso bebê. Na clínica, Dr. Mendes realizou uma ultronografia completa. O som das batidas cardíacas do bebê encheu a sala forte e regular. Tudo normal, disse o médico sorrindo. As pontadas provavelmente são o útero se expandindo. É comum nesta fase da gravidez. Tem certeza? Perguntou Rafael ainda tenso. Absoluta. Vejam só. Dr.
Mendes apontou para a tela. Aqui está seu bebê. Oito semanas desenvolvendo-se perfeitamente. Carla e Rafael olharam para a pequena forma na tela e ambos começaram a chorar simultaneamente. É real, sussurrou Carla. É realmente real. É nosso filho, disse Rafael, sua voz embargada. Querem uma foto? perguntou o médico. “Várias”, disse Rafael imediatamente.
Saindo da clínica com as primeiras fotos do bebê, Carla sentia uma mistura de alívio e nova determinação. “Rafael”, disse ela quando chegaram ao carro, “Preciso te contar uma coisa. Se for que está com medo do casamento, eu não é isso. Carla virou-se para encará-lo. É sobre São Paulo.
São Paulo. Venho pensando no que sua mãe disse sobre sua vida lá, sobre a empresa, sobre suas responsabilidades. Carla respirou fundo e acho que devemos nos mudar para São Paulo depois do casamento. Rafael a olhou como se ela tivesse enlouquecido. Carla, você odeia a ideia de São Paulo? Não odeio, tenho medo, mas também tenho você. Ela pegou as mãos dele. Rafael, sua empresa está lá, sua vida está lá.
E se vamos ser uma família, precisamos estar onde você pode ser mais feliz e realizado profissionalmente. Mas e seu estúdio? Sua vida aqui? Posso montar outro estúdio em São Paulo. Posso fazer novos amigos, criar uma nova vida? Carla sorriu. Com tanto que seja com você. Você tem certeza? Porque se for só por pressão da minha mãe, é por amor, interrompeu ela.
Por amor a você, ao nosso bebê, a família que estamos construindo. Rafael a puxou para um beijo intenso ali mesmo no estacionamento da clínica. “Eu te amo tanto”, murmurou contra seus lábios. Tanto que às vezes não sei o que fazer com todo esse sentimento. Então, dividir comigo para sempre, disse ela. É para isso que serve o casamento.
Naquela noite eles ligaram para a avó Helena para contar sobre a decisão de se mudarem para São Paulo. Eu sabia que esse dia chegaria, disse a voz sábia da avó pelo telefone. Desde que vocês se reencontraram, eu sabia que Florianópolis ficaria pequena demais para o amor de vocês. Vó, você não está triste?”, perguntou Carla. “Estou feliz, minha neta.
Feliz porque você finalmente encontrou onde pertence, ao lado do homem que ama. E o senhor se mudaria para mais perto de nós?”, Rafael perguntou a Helena. “É em São Paulo. Posso providenciar um apartamento lindo para a senhora com vista para o parque.” “Ah, meu filho,” riu Helena. Esta velha tem raízes muito profundas na ilha, mas vocês podem me visitar sempre e eu vou espoilar esse bisneto como ele merece.
Depois da ligação, Carla e Rafael se sentaram para fazer listas dos preparativos que ainda faltavam. Dois problemas”, disse Rafael, olhando as anotações. Primeiro, onde vamos morar em São Paulo? Meu apartamento atual é de solteiro. E segundo, preciso encontrar alguém confiável para gerenciar a filial daqui em Florianópolis.
Não vou simplesmente abandonar os negócios na ilha. “Para o primeiro problema,” disse Carla. “Que tal procurarmos uma casa? Com quintal para a criança brincar? Espaço para eu montar um estúdio pequeno para o segundo”. Rafael sorriu. Tenho uma ideia. Lembra do Marcos, meu amigo da faculdade? Ele sempre quis trabalhar com transporte marítimo e está desempregado desde que a empresa onde trabalhava faliu.
Você confia nele? Completamente. E ele conhece o negócio. Carla se recostou no sofá, a mão automaticamente indo para a barriga. Parece que está tudo se encaixando. Quase tudo. Disse Rafael. Ainda falta uma coisa. O quê? Rafael se levantou e foi até o criado mudo, voltando com uma pequena caixa de veludo azul. Ainda não te pedi oficialmente em casamento. O coração de Carla disparou. Rafael.
Ele se ajoelhou na frente dela, abrindo a caixa para revelar um anel de ouro branco com uma água marinha rodeada de pequenos diamantes. “Carla Santos”, disse ele, sua voz tremendo de emoção. “Você quer se casar comigo? Não por causa do bebê, não por causa de promessas do passado, mas porque você me ama e quer passar o resto da vida comigo.
Lágrimas escorriam pelo rosto de Carla enquanto ela estendia a mão esquerda. Sim, sussurrou mil vezes. Sim. Mas será que o dia do casamento seria tão perfeito quanto este momento de pedido? O dia 15 de abril amanheceu com um céu azul perfeito sobre Florianópolis. Carla acordou na casa da avó Helena. onde havia dormido na noite anterior, seguindo a tradição de que os noivos não deveriam se ver antes da cerimônia.
“Nervosa?”, perguntou Helena, entrando no quarto com uma xícara de chá de camomila. “Apavorada”, admitiu Carla, sentando-se na cama. “E se eu tropear caminhando até o altar? E se desmaiar durante a cerimônia? E se E se você simplesmente se concentrar no fato de que em algumas horas será a esposa do homem que ama?”, interrompeu Helena.
Carinhosamente. Carla sorriu tocando o ventre que agora mostrava uma pequena curva sob a camisola. Tem razão. Estamos fazendo isso, bebê, sussurrou para a barriga. Papai e mamãe vão se casar hoje. O telefone tocou e Helena a atendeu. É a Mariana, disse ela passando o aparelho.
Quer falar contigo, Carla, minha querida? A voz da sogra soava animada. Como está se sentindo? Nervosa, mas feliz. Perfeito. Ouça, o Rafael está subindo pelas paredes de ansiedade aqui. Passou a noite toda ensaiando os votos que escreveu para você. O coração de Carla derreteu. Ele escreveu votos? escreveu e reescreveu cinco vezes e chorou cada vez que leu para mim e para o Antônio. Mariana Riu.
Minha querida, prepare-se para uma declaração de amor que vai deixar toda a igreja chorando. Às 14, Carla estava no salão de beleza, sendo penteada e maquiada pela melhor profissional da cidade, presente de casamento de Mariana. Seu vestido era simples, mas elegante, cetim branco com corte império que disfarçava sutilmente a gravidez.
mangas longas de renda e uma cauda discreta. “Você está linda”, disse Marina Oliveira quando chegou para acompanhá-la até a igreja. “Radiante é o amor”, disse Helena, ajustando o véu delicado na cabeça de Carla. Deixa qualquer mulher mais bonita. A igreja do rosário estava decorada com lírios brancos e rosas cor- de rosa, criando um ambiente íntimo e romântico para os 40 convidados presentes.
Carla havia insistido numa cerimônia pequena, apenas família mais próxima e amigos verdadeiros. Do lado de fora da igreja, Carla respirou fundo antes de entrar. “Pronta?”, perguntou o fotógrafo. “Mais que pronta”, disse ela, pegando o braço de Helena, que faria o papel tradicionalmente reservado ao pai. As portas se abriram e a marcha nupcial começou a tocar.
Carla deu o primeiro passo e imediatamente seus olhos encontraram os de Rafael no altar. Ele estava impecável no smoking azul marinho, mas foi sua expressão que a fez quase tropeçar. Puro amor e admiração, lágrimas já escorrendo por seu rosto. Cada passo em direção ao altar parecia durar uma eternidade, mas ao mesmo tempo passava rápido demais. Carla via os rostos conhecidos dos convidados.
Marcos, o amigo que Rafael havia contratado para gerenciar a filial de Florianópolis, suas alunas mais queridas, alguns primos distantes, mas seus olhos sempre voltavam para Rafael, que a esperava como se ela fosse um milagre. caminhando em sua direção. Quando finalmente chegou ao altar, Helena beijou sua testa suavemente antes de colocar sua mão na de Rafael.
“Cuida bem da minha neta”, sussurrou para ele. “Com minha vida”, prometeu Rafael, sua voz embargada. O padre João, um homem gentil de 60 anos que havia batizado Carla quando criança, sorriu para o casal. Queridos irmãos, começou ele, estamos reunidos hoje para celebrar o amor de Rafael e Carla, duas almas que se encontraram na infância e agora escolhem caminhar juntas para a eternidade.
Durante as primeiras partes da cerimônia, Carla mal conseguia se concentrar nas palavras do padre. estava hipnotizada pelos olhos de Rafael, pela intensidade do amor que havia refletido neles. “E agora”, disse o padre, Rafael e Carla gostariam de compartilhar os votos que escreveram um para o outro. “Rafael!” Rafael tirou um papel dobrado do bolso, mas suas mãos tremiam tanto que ele quase o derrubou.
Respirou fundo e olhou diretamente para Carla. Carla, começou ele, sua voz ganhando força. Há 20 anos você entrou na minha vida como um raio de sol numa biblioteca escura. Naquele dia, aos 8 anos, você não apenas se tornou minha melhor amiga, você se tornou minha casa.
Lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Carla e ela viu que metade da igreja também estava chorando. Durante todos esses anos de separação, carreguei você comigo. Em cada decisão importante, eu me perguntava o que a Carla faria. Em cada momento de solidão, eu fechava os olhos e me lembrava do seu sorriso. A voz de Rafael quebrou e ele parou por um momento para se recompor.
Quando te procurei com aquela proposta maluca de termos um filho juntos, eu estava desesperado para te de volta na minha vida. Mas o que descobri foi que você nunca havia saído do meu coração. E agora aqui diante de Deus e de nossas famílias, prometo que vou amar você e proteger você e nosso bebê pelo resto da minha vida. Prometo ser o marido que você merece e o pai que nosso filho precisa.
Prometo que nossa casa sempre será cheia de amor, dança e muitas histórias para contar. Rafael dobrou o papel, suas mãos ainda tremendo. Carla Santos, você é meu passado, meu presente e meu futuro. Te amo infinitamente. O silêncio na igreja era total, quebrado apenas por alguns soluços emocionados. Carla limpou as lágrimas e pegou seu próprio papel.
Rafael, começou ela, sua voz mais firme do que esperava. Você disse que eu fui um raio de sol na sua vida, mas a verdade é que você foi minha âncora. Em todos os momentos em que me senti perdida, em que duvidei de mim mesma, a lembrança do seu amor me deu forças para continuar. Ela olhou para Helena, que chorava orgulhosa, na primeira fileira.
Quando você apareceu no meu estúdio há alguns meses, meu primeiro pensamento foi: “Finalmente, meu coração pode parar de procurar, porque era isso que ele fazia há 10 anos. Procurava por você”. Rafael sorriu através das lágrimas e Carla sentiu coragem renovada. Sua proposta de termos um filho juntos era maluca, sim.
Mas sabe o que era mais maluco ainda? O fato de que meu coração imediatamente disse: “Sim, porque sabia que qualquer aventura contigo seria a aventura certa”. Carla colocou a mão livre sobre o ventre. Hoje não estou apenas me casando com meu melhor amigo. Estou me casando com o pai do meu filho, com o homem que me faz querer ser a melhor versão de mim mesma.
Prometo te amar em todos os dias fáceis e principalmente nos difíceis. Prometo dançar contigo na cozinha mesmo quando estivermos velhinhos. E prometo que nossa família sempre será construída sobre honestidade, respeito e muito, muito amor. Ela dobrou o papel e olhou diretamente nos olhos dele.
Rafael Silva, você transformou minha vida numa história de amor que nem nos meus sonhos mais loucos eu imaginei possível. Te amo. Amo nosso bebê e mal posso esperar para viver todas as aventuras que o destino preparou para nós. Houve um momento de silêncio sagrado antes do padre continuar com a cerimônia. A troca de alianças foi simples, mas emocionante.
Duas alianças de ouro branco gravadas com suas iniciais e a data do casamento. Pelo poder conferido pela Santa Igreja, disse o padre, finalmente, eu os declaro marido e mulher. Rafael, pode beijar sua esposa. Rafael pegou o rosto de Carla delicadamente entre as mãos e a beijou com toda a ternura do mundo. Foi um beijo suave, cheio de promessas, assistido por 40 pessoas que gritaram e aplaudiram como se estivessem presenciando um milagre, porque de certa forma era exatamente isso que estavam presenciando. saída da igreja foi uma chuva de pétalas de rosa e lágrimas de felicidade. Mas
será que a festa revelaria mais surpresas para os recém-casados? A recepção no Centro Cultural da Lagoa da Conceição estava transformada. Mariana havia superado todas as expectativas, criando um ambiente elegante, mas aconchegante, com luzes suaves, flores naturais e uma decoração que respeitava tanto a simplicidade que Carla desejava, quanto a sofisticação que a família Silva apreciava. Minha nossa”, disse Carla quando entraram no salão. “Está perfeito.
Sua sogra tem bom gosto”, admitiu Helena, impressionada com a transformação do espaço que conhecia há anos. O jantar foi íntimo e caloroso. Rafael fez um brinde emocionado, agradecendo a todos por compartilharem o dia mais importante de suas vidas.
Carla chorou novamente quando Helena contou histórias da infância dela para a família Silva e Mariana retribuiu com relatos hilários da adolescência de Rafael. E agora? Anunciou Rafael quando terminaram o jantar. Minha esposa preparou uma surpresa especial para vocês. Carla levantou-se de repente nervosa. A coreografia que havia ensaiado parecia muito mais assustadora agora na frente de todos os convidados.
Quando era pequena, disse ela, minha avó me ensinou que a dança é a linguagem mais pura do coração. Hoje quero dançar para vocês a história do nosso amor. A música começou, uma versão instrumental suave de a thousand years e Carla iniciou a coreografia.
Cada movimento contava uma parte de sua história com Rafael: O encontro na infância, a separação dolorosa, os anos de saudade, o reencontro e, finalmente, o amor renascido. Quando a música terminou, não havia um olho seco no salão. Rafael se levantou e a puxou para um abraço longo e apertado. “Foi a coisa mais linda que já vi na minha vida”, sussurrou em seu ouvido. Foi para você, sussurrou ela de volta. Tudo sempre foi para você.
O resto da noite passou numa neblina de felicidade. Eles dançaram sua primeira dança como marido e mulher. Atlast de James receberam parabéns e presentes e riram até a barriga doer com as histórias que os amigos contaram.
Quando os convidados começaram a se despedir, por volta das 23 horas, Carla sentia-se exausta, mas completamente realizada. Pronta para ir embora, Senhora Silva? Perguntou Rafael, oferecendo o braço. Senora Silva, repetiu ela, sorrindo. Ainda não me acostumei com isso. Tenho o resto da vida para se acostumar. Eles se hospedaram na suí presidencial do melhor hotel de Florianópolis, presente de casamento dos pais de Rafael.
A vista da janela mostrava toda a ilha iluminada, com a ponte Ercílio Luz brilhando ao longe. “Foi perfeito”, disse Carla, tirando os sapatos e massageando os pés inchados. “Absolutamente perfeito. Ainda não acabou”, disse Rafael misteriosamente. “Como assim?” Ele sumiu no banheiro e voltou com uma garrafa de champanhe sem álcool e duas taças.
“Para a futura mamãe”, disse ele, servindo a bebida. “E para celebrarmos nossa primeira noite? como uma família oficialmente constituída. Eles brindaram na varanda, observando as luzes da cidade. “Rafael”, disse Carla de repente, “Posso te confessar uma coisa?” “Qualquer coisa. Quando você apareceu no meu estúdio com aquela proposta maluca, eu sabia que ia aceitar antes mesmo de pensar direito.
” “Sabia?” Ele pareceu surpreso. Meu coração reconheceu você imediatamente, como se estivesse esperando há anos por você voltar para me buscar. Rafael colocou a taça de lado e a puxou para seus braços. E eu estava esperando há anos para ter coragem de voltar, confessou. Se soubesse que seria assim, teria voltado muito antes. Não.
Carla balançou a cabeça. Aconteceu na hora certa. Precisávamos crescer, nos tornar as pessoas que somos hoje para podermos construir isso juntos. Eles ficaram abraçados em silêncio, simplesmente absorvendo o momento. “Carla”, disse Rafael finalmente. “Hum, obrigado.
Por quê? por ter aceitado minha proposta maluca, por ter confiado em mim, por estar construindo uma família comigo. Ele beijou o topo de sua cabeça por me fazer o homem mais feliz do mundo. Seis meses depois, o apartamento em Moema, São Paulo, estava finalmente parecendo um lar. Carla havia montado um pequeno estúdio de dança em um dos quartos e Rafael havia transformado o outro em escritório para trabalhar de casa quando necessário.
“Como está se sentindo?” perguntou Rafael, encontrando Carla na varanda, observando o movimento do Parque Ibirapuera ao longe. Ela estava com 32 semanas de gravidez, a barriga bem redonda, as mãos apoiadas no ventre, onde pequenos chutes eram visíveis por baixo da blusa. “Enorme”, disse ela rindo e ansiosa para conhecer nosso filho. “Nossa filha”, corrigiu Rafael. “Tenho certeza de que é uma menina.
Vamos descobrir em duas semanas”, disse Carla. “Até lá é apenas nosso bebê”. Rafael se sentou ao lado dela, colocando a mão na barriga. Imediatamente o bebê chutou como se reconhecesse o toque do pai. “Oi, bebê”, sussurrou Rafael. “Papai está aqui.” Carla sorriu, observando o homem que amava conversar com a criança que carregava.
Em seis meses de casamento, Rafael havia se tornado ainda mais carinhoso e atencioso. Ele lia livros sobre paternidade, montara o bersário com perfeição obsessiva e conversava com o bebê todas as noites antes de dormirem. “Rafael”, disse ela de repente. “Hum, você se arrepende de alguma coisa?” Ele a olhou surpreso.
“Como assim? de ter desistido da vida de solteiro, dos negócios correndo soltos, da liberdade. Rafael riu e a beijou suavemente. Carla Silva, disse ele, a única coisa de que me arrependo é de ter demorado 10 anos para te encontrar novamente. Naquela noite, deitados na cama, Rafael, com a mão na barriga de Carla, sentindo os movimentos do bebê, ela sussurrou: “Conseguimos, não foi? Criamos nossa família maluca, a família mais linda do mundo, concordou Rafael.
E tudo começou com sua proposta impossível, a melhor ideia maluca que já tive. Carla virou-se para encará-lo na penumbra do quarto. Te amo, Rafael Silva. Te amo para sempre, Carla Silva. Do lado de fora, São Paulo continuava seu ritmo frenético, mas dentro daquele apartamento, duas pessoas que se amavam desde criança finalmente haviam encontrado o seu lugar no mundo, nos braços um do outro, construindo juntos o futuro que sempre esteve esperando por eles.
E quando o bebê chutou novamente, como se quisesse participar da conversa, eles souberam que sua história estava apenas começando. Tr anos depois, Gabriel Silva Santos nasceria numa manhã ensolarada de dezembro, com os olhos verdes da mãe e o sorriso travesso do pai. E quando Rafael o segurou pela primeira vez com Carla observando exausta, mas radiante, ele sussurrou: “Bem-vindo à nossa família maluca, pequeno. Você é a prova de que os melhores milagres começam com as decisões mais impossíveis. M.
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