E se um simples silêncio pudesse custar milhões? E se você descobrisse que seu maior inimigo era, na verdade, sua única chance de redenção? Esta é a história de Simone Silva, uma intérprete que precisou escolher entre obedecer ordens ou salvar um homem que destruiu sua família. Uma decisão que mudaria tudo.
De onde você está assistindo? Comenta aí embaixo. E se você quer descobrir como essa história termina, se inscreve no canal e deixa aquele like, porque essa narrativa vai te prender do início ao fim. O telefone vibrou no exato momento em que Simone Lin Silva terminava de contar as moedas sobre a mesa da cozinha. R$ 32.
Era tudo que tinha até o fim da semana. Seus dedos tremeram ao atender a chamada de número desconhecido. Alô, Simone Silva. A voz masculina era apressada, quase impaciente. Fala Rodrigo, da agência Premium Traduções. Tem uma emergência aqui.
Um cliente corporativo precisa de intérprete português mandarim para hoje às 15. Você está disponível? Simone olhou para o relógio digital no microondas quebrado. 11:47. Seu coração acelerou. Depende do valor. Ela respondeu tentando soar profissional, apesar do desespero que lhe apertava a garganta. R$ 3.000, metade adiantado. Ela quase deixou o celular cair. R$ 3.
000 era o triplo do que normalmente recebia por uma interpretação. Era o suficiente para pagar o aluguel atrasado. E o A próxima sessão de quimioterapia da mãe. Eu aceito disse rápido demais, tentando disfarçar a urgência. Ótimo. Hotel Majestic Bay Suí presidencial. O cliente se chama Vinícius Carvalho, empresário do ramo de tecnologia.
vista algo apresentável. A ligação foi encerrada antes que Simone pudesse fazer qualquer pergunta. Ela correu para o guarda-roupa, procurando algo que não parecesse tão desgastado quanto se sentia. Optou pelo blazer preto que usava em entrevistas e pela única blusa social que ainda tinha cor.
No espelho rachado do banheiro, prendeu os cabelos escuros em um coque baixo, disfarçou as olheiras com o último resquício de corretivo e respirou fundo. “Você consegue”, sussurrou para o próprio reflexo. “É só mais um trabalho.” Mas havia algo no tom de voz do Rodrigo que dizia o contrário. O hotel Majestic Bay era exatamente o tipo de lugar onde Simone nunca deveria entrar.
O mármore do piso brilhava tanto que refletia seu reflexo inferior, e os lustres de cristal pareciam mais caros que tudo que ela já possuiu na vida. O porteiro a olhou de cima a baixo com desprezo mal disfarçado. “Vim para uma reunião na suí presidencial”, ela anunciou levantando o queixo. O homem checou algo em seu tablet e relutante indicou o elevador. 22º andar.
As portas do elevador se fecharam e Simone sentiu o estômago revirar. Não era apenas nervosismo profissional. Havia algo errado ali. Trabalhos bem pagos demais sempre tinham um preço oculto. Quando as portas se abriram diretamente na suí presidencial, Simone foi recebida por um ambiente que parecia saído de uma revista de arquitetura.
Janelas do chão ao teto revelavam a cidade de São Paulo se estendendo como um mar de concreto e vidro. Móveis minimalistas e caros compunham um cenário intimidador. Você deve ser a intérprete. A voz veio de trás dela, grave e cortante como uma lâmina. Simone se virou e encontrou os olhos mais frios que já vira na vida. Vinícius Carvalho tinha 38 anos, mas sua postura sugeria alguém que já havia vivido muitas vidas: alto, ombros largos, mandíbula quadrada e um olhar que parecia avaliar o valor de mercado de tudo e todos. Ele usava um terno cinza chumbo que provavelmente custava
mais que o aluguel anual de Simone. Simone Silva. Ela estendeu a mão. Profissional. Português e mandar influentes. Certificação: “Não me importo com seu currículo”, ele interrompeu, ignorando a mão estendida. A agência disse que você é boa. É o bastante. Simone engoliu a raiva e baixou a mão. Já lidara com homens arrogantes antes.
Vinícius caminhou até a janela, as mãos nos bolsos e ficou em silêncio por longos segundos. O maxilar estava tenso. “A reunião começa em 15 minutos”, ele disse sem olhar para ela. São três investidores chineses da Chen Industries, negociação de 50 milhões para expansão de infraestrutura de data centers na América Latina.
Entendido? Alguma informação específica? Que só mais uma coisa. Vinícius se virou e seus olhos perfuraram os dela com uma intensidade perturbadora. Ele deu três passos até ficar próximo demais. invadindo seu espaço pessoal. Simone conseguia sentir o cheiro caro de sua colônia. “Você vai fazer exatamente o que eu mandar”, ele sussurrou. “Baixo o suficiente para que apenas ela ouvisse.
Quando eles falarem em português, traduza normalmente, mas quando conversarem entre si em mandarim, ele fez uma pausa significativa. Você vai traduzir apenas o essencial, o mínimo necessário.” “Entendeu, Simone franziu a testa. Senr. Carvalho, isso não é, entendeu? Ele repetiu mais firme. Por que você quer? R$ 3.
000 não é suficiente para comprar descrição. Seu tom era gelo puro. Simone sentiu o sangue esquentar nas veias. Queria jogar o dinheiro na cara dele e sair. Mas então lembrou da mãe na cama de hospital, dos cabelos caindo, da conta que vencia amanhã. “Entendi”, ela disse entre dentes. Ótima garota. Ele se afastou no momento em que a campainha da suí tocou.
Vinícius alisou o terno e sua postura mudou completamente. Os ombros relaxaram, um sorriso político surgiu. Toda a frieza anterior desapareceu como mágica. Era assustador ver alguém mudar de máscara tão rápido. “Showtime”, ele murmurou antes de abrir a porta. Os três investidores chineses entraram com sorrisos cordiais e cumprimentos educados.
O líder, um homem de cerca de 40 anos com óculos de armação dourada e terno impecável, se apresentou como Chen Way. Senor Carvalho, um prazer finalmente conhecê-lo pessoalmente. Chen Way falava um português carregado, mas compreensível. Eles apertaram as mãos calorosamente. O prazer é todo meu, Senr. Chen. Esta é Simone Silva, nossa intérprete. Chenway olhou para Simone com um interesse que a fez querer recuar.
Seu sorriso não alcançava os olhos. “Encantador”, ele disse em português, mas algo em seu tom de voz fez os pelos da nuca dela se arrepiarem. A reunião começou civilizadamente. Vinícius apresentou slides sobre infraestrutura. Chan e seus associados faziam perguntas técnicas em português. Simone traduzia quando necessário, tudo muito protocolar.
Até que Chen Way e seus colegas começaram a conversar entre si em Mandarim. Simone sentiu o corpo inteiro ficar alerta. Vinícius a olhou de soslaio, lembrando silenciosamente da ordem que dera. Ela a sentiu discretamente. “Esse idiota realmente acha que somos investidores legítimos”, Chen Way disse em mandarim para o homem à sua direita, sorrindo largo enquanto apontava para um slide.
Os documentos falsificados ficaram perfeitos. Simone sentiu o sangue gelar. O segundo homem rio baixinho. 48 horas. É só precisamos aguentar mais 48 horas e estaremos fora do país com o dinheiro dele. E esse tolo ambicioso vai perceber que foi enganado só quando já estivermos em Shangai. Chen Way completou, fingindo anotar algo no tablet.
Simone precisou de todo seu autocontrole para não deixar o pânico tomar conta. Seus olhos se fixaram em Vinícius, que sorria confiante, completamente alheio ao que estava sendo dito. Ele pegou uma caneta e começou a assinar documentos preliminares que Chen Way empurrava em sua direção.
“Ele vai ser roubado, Simone” pensou, o coração batendo descompensado. 50 milhões. Ele vai perder 50 milhões. Simone, Vinícius a chamou. Eles disseram algo importante. Todos os olhos se voltaram para ela. Chen Way a encarou com um sorriso de lobo. Simone viu algo em seus olhos. Um desafio. Uma ameaça silenciosa. Ela abriu a boca, fechou. A ordem de Vinícius ecoava em sua mente.
Traduza apenas o essencial. Mas isto era essencial. Era um maldito golpe. Eles estavam discutindo detalhes técnicos sobre transferência internacional. Ela mentiu, a voz saindo mais fraca que pretendia. Nada relevante para a negociação atual. Vinícius a sentiu satisfeito e voltou sua atenção para os documentos. Simone sentiu náusea. Suas mãos tremiam discretamente.
Ela era cúmplice agora, cúmplice de um crime de milhões. Chen deu uma piscadela quase imperceptível para ela e Simone soube, com certeza aterradora, que fizera a escolha errada. A reunião terminou com apertos de mão e promessas de finalizar tudo na próxima semana.
Quando os chineses saíram, Vinícius soltou um suspiro de alívio e serviu-se de um whisky caro da cristaleira. Correu bem, ele disse, mais para si mesmo. Melhor que esperado. Simone ficou parada perto da porta, segurando a bolsa com tanta força que os nós dos dedos estavam brancos. Precisava falar, precisava contar. Senhor Carvalho, seu pagamento será depositado até amanhã.
Ele interrompeu, verificando algo no celular. Rodrigo tem seus dados, certo? Sim, mas eu preciso. Ótimo, pode ir. Ele nem olhou para ela. Simone sentiu a raiva ferver. Os documentos ela insistiu, a voz mais firme. O senhor verificou as referências da Chen Industries. Checou a sede física da empresa. Finalmente, Vinícius levantou os olhos. Seu olhar estava gelado novamente.
Você acha que cheguei onde estou sem fazer de diligence básica? Ele deu um sorriso condescendente. Fiz meu trabalho, Simone. Você fez o seu. Agora, se me der licença, tenho outras reuniões. Era uma dispensa clara. Simone quis gritar, quis pegar os ombros dele e sacudir até que escutasse, mas olhou para a bolsa, onde teoricamente R$ 1500 seriam depositados em breve, pensou na mãe e fez a segunda escolha errada do dia. Saiu em silêncio.
No elevador descendo, Simone olhou para o próprio reflexo nas portas metálicas. não reconheceu a mulher que via ali, covarde, omissa, cúmplice. As portas se abriram no lobby e ela atravessou o mármore reluzente, com passos rápidos, querendo apenas sair dali, respirar ar que não cheirasse a luxo e mentiras. Mas quando empurrou a porta giratória da saída, alguém a segurou pelo cotovelo.
Simone se virou assustada e encontrou um dos investidores chineses, o que estava sentado à esquerda de Chenway. Ele não sorria mais. Senhorita Silva”, ele disse em português perfeito, sem nenhum sotaque. “Você foi muito discreta lá em cima, inteligente. O estômago de Simone afundou.
Eu não sei do que você está, Ni Henkong Ming.” Ele murmurou em mandarim. “Você é muito esperta. Espero que seja esperta o suficiente para continuar sendo discreta, entende?” Não era um pedido, era uma ameaça. Simone puxou o braço bruscamente. “Me solta?” Ele a soltou, mas inclinou-se mais perto, o hálito quente contra o rosto dela.
“Pessoas curiosas têm a tendência de sofrer acidentes infelizes em São Paulo”, ele sussurrou. “Seria uma pena se algo acontecesse com sua mãe no Hospital Santa Cecília, não?” O sangue de Simone congelou, como ele sabia sobre sua mãe, como sabia onde ela estava internada. O homem se afastou, ajeitou o terno e voltou a sorrir aquele sorriso falso e cordial. Tenha um ótimo dia, senhorita Silva.
E desapareceu na multidão da Avenida Paulista. Simone ficou ali paralisada, enquanto centenas de pessoas passavam ao seu redor, sem fazer ideia de que o mundo dela acabara de desmoronar completamente. Ty, como Simone poderia salvar um homem arrogante de um golpe milionário quando os criminosos já sabiam exatamente onde atacá-la? Simone não dormiu naquela noite.
Deitada na cama estreita do apartamento de um quarto que dividia com a mãe, agora vazio e silencioso demais. Ela encarava o teto manchado pela infiltração enquanto a ameaça ecoava em sua mente. Seria uma pena se algo acontecesse com sua mãe no hospital. Às 4 da manhã, desistiu de fingir que conseguiria descansar. sentou-se à mesa da cozinha com o notebook velho e começou a pesquisar Chen Industries.
O site era bonito, profissional, cheio de fotos de prédios corporativos reluzentes e textos sobre inovação sustentável e expansão global. Mas quando Simone clicou em sobre nós, algo não batia. As fotos dos executivos pareciam genéricas demais. Stock fotos, talvez. Ela verificou o registro do domínio criado há três meses. Três meses.
Uma empresa supostamente estabelecida na China, com décadas de experiência em infraestrutura, tinha um site de 3 meses. Simone anotou o endereço da sede listado no rodapé. Rua comercial 847, distrito financeiro, Shangai. Jogou no Google Maps Street View. O prédio existia, mas era um shopping center. Meu Deus. Ela sussurrou para o quarto vazio.
Precisava avisar Vinícius. Mas como? Ele a tinha despedido friamente, deixando claro que não queria sua opinião, que agora tinha homens a ameaçando, homens que sabiam onde sua mãe estava. Simone olhou para o celular. 7 horas da manhã, cedo demais para ligar, provavelmente. Mas empresários workaholics, como Vinícius Carvalho, certamente já estavam acordados.
Ela discou o número da empresa dele encontrado facilmente no Google. Uma secretária atendeu no terceiro toque. Carvalho Tech Solutions, bom dia. Bom dia. Preciso falar com o senor Vinícius Carvalho. É urgente. O Senr. Carvalho não está disponível no momento. Posso anotar um recado. Por favor, diga que é Simone Silva a intérprete de ontem. É sobre a reunião com a Shen Industries. Um momento.
Música de espera irritante encheu o ouvido de Simone. Ela esperou 2 minutos. Tr Senrita Silva. A secretária voltou, o tom ligeiramente mais frio. O Senr. Carvalho agradece o contato, mas informa que a questão está resolvida e não necessita de acompanhamento adicional. Ele precisa ouvir o que tenho a dizer. Tenha um bom dia. Clique.
Simone ficou olhando para o telefone incrédula. Ele realmente acabara de mandá-la calar a boca através da secretária. Arrogante filho da Ela se interrompeu, respirando fundo. Raiva não resolveria nada. Ela tinha duas opções deixar para lá e proteger a própria vida ou insistir e arriscar tudo. A imagem da mãe no hospital, frágil e dependente dela, pesou como chumbo em seu peito.
Mas a imagem de Vinícius perdendo 50 milhões para criminosos também doía. Por mais arrogante que fosse, ninguém merecia ser roubado assim. E você vai carregar essa culpa pro resto da vida se deixar acontecer. Uma voz interna sussurrou. Faz às 9 da manhã. Simone estava em frente ao prédio espelhado da Carvalho Tech Solutions, na região da Berrini, 23 andares de vidro e aço proclamando sucesso corporativo.
Ela não tinha credenciais para entrar, nenhum agendamento, mas tinha determinação e uma quantidade perigosa de desespero. O segurança da recepção aparou imediatamente. Nome e empresa, por favor. Simone Silva. Estou aqui para ver o Sr. Vinícius Carvalho. O homem checou a lista. Você tem agendamento? Não, mas então vai precisar marcar com a secretária dele. Já tentei. É urgente. Sinto muito, mas sem agendamento.
Por favor. Simone se inclinou sobre o balcão, baixando a voz. É sobre um assunto confidencial que pode custar milhões à empresa. Eu preciso falar com ele. O segurança a estudou por um momento, claramente avaliando se ela era maluca ou legítima. Pegou o telefone interno Central. Tenho uma visitante aqui dizendo que precisa falar com urgência com o presidente Simone Silva.
Pausa. Entendo. Sim. Ele desligou. A secretária dele disse que você não está na lista de visitas e que deve agendar formalmente se quiser reunião. Simone cerrou os punhos. Ele está me ignorando propositalmente. Senhorita. Vou ter que pedir que se retire. Você não entende. Ele está sendo enganado, senhorita.
O tom agora era firme, uma ameaça velada. Simone sentiu lágrimas de frustração queimando os olhos, mas se recusou a deixá-las cair. Assentiu e saiu antes que a humilhação ficasse pior. Do lado de fora do prédio, ela se encostou na parede de vidro e puxou o celular. Talvez um e-mail anônimo, sem se identificar.
Só os fatos cru sobre a Chain Industries. Sim, era a solução. Ela começou a digitar ali mesmo em pé, enquanto executivos apressados passavam por ela como se fosse invisível. E assunto urgente, fraude Chen Industries. Senr. Carvalho, não me conheço pessoalmente, mas presenciei a reunião de ontem com os representantes da Chen Industries. Preciso alertá-lo sobre irregularidades graves que descobri.
Um, o site da empresa foi criado há apenas três meses. Dois, o endereço da sede em Shangai é falso. Shopping Center. Três. Durante a reunião, os investidores conversaram entre si em Mandarim, revelando que se trata de um golpe. Por favor, verifique novamente todas as referências antes de assinar qualquer documento. Um alerta de alguém que se importa.
Simone releu três vezes antes de apertar enviar. O e-mail partiu para o endereço corporativo de Vinícius, encontrado no site da empresa. Pronto, ela fizera sua parte. Agora era com ele. Pelo menos era isso que tentava se convencer enquanto caminhava até o metrô, o peso da culpa ainda esmagando seu peito.
À tarde, Simone visitou a mãe no hospital. Linan Silva estava sentada na cama, tão magra que parecia feita de papel. O cabelo, antes longo e negro, agora era apenas uma lembrança sob o lenço colorido que usava. Mas quando viu a filha entrar, seus olhos se iluminaram. Baobei! Ela disse em mandarim, meu tesouro? Oi, mãe.
Simone beijou a testa dela, sentindo a pele quente demais. Como você está? Cansada. Lin admitiu. Mas melhor agora que você chegou. Simone puxou a cadeira plástica e sentou-se ao lado da cama. segurou a mão frágil da mãe, sentindo os ossos sob a pele fina. “A enfermeira disse que você comeu bem hoje.” “Menti para ela.” “Lin sorriu fracamente. A comida daqui é horrível.
Você deveria trazer aquele macarrão que fazemos. Da próxima vez eu trago.” Ficaram em silêncio por um momento, apenas segurando as mãos uma da outra. Simone observou o soro gotejando, os monitores apitando suavemente, a realidade cruel de que o tempo estava se esgotando. “Você está preocupada”, Lin disse de repente. Mesmo doente, ainda conseguia ler a filha como um livro aberto, só cansada. Trabalho, Simone.
Lin apertou sua mão com força surpreendente. Você é péssima mentirosa. Sempre foi. Simone quase contou tudo. Quase despejou sobre a mãe toda a bagunça sobre Vinícius, Chen Way, o golpe, as ameaças, mas olhou para aquele rosto frágil e decidiu que Lin não precisava carregar mais esse peso. “Só um trabalho complicado.” Ela mentiu de novo. “Nada que eu não possa resolver.
” Linha estudou com aqueles olhos escuros e profundos que já viram muita coisa na vida. “Você é forte, minha filha, mais forte do que imagina.” Ela tocou o rosto de Simone com ternura. “Mas lembre-se, ser forte não significa carregar tudo sozinha.” As palavras atingiram Simone como um soco no estômago.
Ela piscou rapidamente para conter as lágrimas. “Eu sei, mãe, mas a verdade era que Simone sempre carregara tudo sozinha. Desde que o pai morreu 15 anos atrás, ela se tornou a provedora, a responsável, a que segurava todas as pontas. Não sabia ser de outro jeito. Quando Simone saiu do hospital, já era noite.
Luzes artificiais da cidade se acendiam como estrelas no concreto. Ela verificou o celular. Nenhuma resposta ao e-mail para Vinícius. Talvez ele tivesse ignorado, ou talvez a secretária filtrasse todos os e-mails de malucos antes que chegassem a ele. De qualquer forma, estava fora de suas mãos agora. Pelo menos era isso que tentava se convencer quando começou a caminhar em direção ao ponto de ônibus.
Foi quando sentiu que estava sendo seguida. Não era nada óbvio. Apenas aquela sensação instintiva de olhos nas costas. Simone acelerou o passo. A presença acelerou também. Ela virou uma esquina rapidamente e se escondeu atrás de uma banca de jornal fechada, o coração disparado esperou. Segundos depois, uma figura passou caminhando devagar. Não era o homem que a ameaçara na saída do hotel.
Era outro, mais jovem, usando moletom preto. Eles estão me vigiando. O pânico subiu pela garganta de Simone. Ela esperou até que o homem se afastasse. Então correu na direção oposta, entrando no metrô e se perdendo na multidão. Só quando estava dentro do vagão lotado, prensada entre corpos suados de trabalhadores cansados, sentiu-se minimamente segura.
Preciso sair dessa”, ela pensou, agarrada ao corrimão enquanto o metrô sacudia nos trilhos. “Preciso deixar isso para lá antes que seja tarde demais”. Mas quando finalmente chegou em casa e trancou a porta com corrente, cadeado e ferrolho, Simone percebeu algo terrível.
Já era tarde demais, porque no capacho da porta alguém havia deixado um envelope. Com mãos tremendo, ela o pegou e abriu. Dentro uma única foto, sua mãe dormindo no hospital, tirada hoje, tirada por alguém que entrou no quarto dela. No verso, uma mensagem em mandarim. Juing, continue quieta. Simone acabara de descobrir que silêncio não a protegeria, mas falar poderia matar quem ela mais amava.
Simone passou a noite em claro, sentada no sofá com uma faca de cozinha ao lado, encarando a porta trancada e esperando que alguém tentasse entrar. Ninguém veio, mas a foto da mãe permanecia sobre a mesa de centro, lembrando-a constantemente do quão vulnerável estava. Eles podiam chegar a Lim quando quisessem e Simone não poderia estar lá 24 horas por dia para protegê-la. Às 6 da manhã, ela tomou uma decisão.
Se Vinícius Carvalho não queria ouvi-la pessoalmente, ela encontraria outra forma de alertá-lo. Um e-mail anônimo não funcionara. Então, ela precisava de provas, provas concretas de que Chen Way era uma fraude. Simone abriu novamente o notebook e começou a cavar mais fundo. Procurou por registros da Chen Industries em bases de dados corporativas chinesas. Nada. Tentou a Receita Federal Brasileira.
Nenhuma empresa com esse nome registrada para a operação no país. Buscou notícias em Mandarim sobre Chen Industries e investimentos em infraestrutura. Nada relevante. Era como se a empresa simplesmente não existisse fora daquele site bonito e das roupas caras dos três homens. Frustrada, Simone mudou de tática. Começou a pesquisar sobre o próprio Vinícius Carvalho. Perfil no LinkedIn impecável.
Formação em engenharia da computação pela USP, MBA pela Insper. Fundador da Carvalho Tech Solutions há 12 anos. diversos artigos sobre ele em revistas de negócios, sempre pintado como o empresário visionário ou jovem prodígio da tecnologia brasileira. Mas quando Simone aprofundou a pesquisa, encontrou algo interessante, uma notícia antiga de 2010 em um jornal secundário.
Empresário Roberto Silva, encontrado morto em acidente de carro suspeito. Simone quase passou direto, mas então o sobrenome a fez parar. Roberto Silva. Ela clicou na notícia. A foto granulada de um homem de meia idade apareceu na tela e o coração de Simone parou. Era seu pai. Como assim? Ela leu freneticamente.
Roberto Silva, 47 anos, empresário do ramo de tecnologia, foi encontrado morto após carro capotar na rodovia dos Bandeirantes na madrugada de ontem. Autoridades investigam se houve falha mecânica. Silva era sócio da então promissora startup Tech Vision Solutions, que declarou falência semanas antes. Seu ex-sócio, Vinícius Carvalho, não quis comentar o caso. Simone teve que ler duas vezes para ter certeza de que não estava alucinando.
Vinícius Carvalho fora sócio do seu pai. Vinícius conheceu meu pai. Eles trabalharam juntos e depois meu pai morreu e a empresa faliu. Memórias enterradas há 15 anos começaram a ressurgir. Simone tinha 17 anos quando o pai morreu. Lembrava da confusão, das dívidas que apareceram do nada de advogados invadindo a casa, da mãe chorando sem parar.
Lembrava de gritar com Lin, culpando-a por tudo, pela herança chinesa que trouxe má sorte, pelas escolhas erradas do pai. lembrava de se afastar emocionalmente da própria identidade mista, de focar apenas no sobrenome Silva e ignorar o Lin, de parar de falar mandarim em público, de fingir que metade da sua herança não existia, e lembrava de um nome que sua mãe mencionara com raiva em uma das últimas vezes que falaram sobre o pai. Aquele Vinícius nos abandonou.
Ele sabia do que estava acontecendo e fugiu como um covarde. Simone levou as mãos trêmulas à boca. Vinícius Carvalho, o homem arrogante que a contratara ontem, o homem prestes a perder 50 milhões, o homem que mandara a secretária desligarem na sua cara, era o mesmo homem que destruíra a sua família.
A raiva veio primeiro, quente, violenta, consumindo todo o medo anterior. Simone teve vontade de voltar àquele prédio espelhado, invadir o escritório dele e gritar na cara do desgraçado tudo que ele fizera. Depois veio a confusão. Se Vinícius abandonara seu pai, porque ela se importava em alertá-lo sobre um golpe? Ele não merecia perder tudo como seu pai perdera. Mas então, mais calma, veio o pensamento racional.
Vinícius provavelmente nem fazia ideia de quem ela era. Silva era um sobrenome tão comum no Brasil que ele jamais associaria a intérprete freelancer Simone Silva com o falecido Roberto Silva, especialmente porque ela praticamente apagara qualquer conexão pública com o pai após sua morte. Ele não sabe, Simone percebeu.
Ele me contratou sem fazer ideia de quem eu sou. E isso mudava tudo, porque agora Simone tinha uma decisão muito mais complicada, deixar o destino seguir seu curso e permitir que Vinícius pagasse pelos pecados do passado ou lutar para salvá-lo. Apesar de tudo. Ela olhou novamente para a foto da mãe sobre a mesa, para a ameaça escrita em mandarim.
O que o papai faria? Roberto Silva fora muitas coisas. impulsivo, sonhador, às vezes imprudente, mas nunca fora vingativo. Mesmo quando tudo desmoronou, mesmo quando foi traído, ele tentou fazer o certo e talvez fosse por isso que morrera. Simone fechou os olhos, respirou fundo e tomou sua decisão.
Ela ia salvar Vinícius Carvalho, não por ele, mas porque seu pai teria feito o mesmo. Com uma determinação renovada, Simone voltou ao notebook. Se Vinícius não queria escutá-la, ela precisava de provas tão incontestáveis que ele não teria escolha. Ela passou horas garimpando informações. Descobriu que Chen Way não tinha nenhum histórico profissional real, nem LinkedIn, nem menções em veículos de imprensa chineses. Era um fantasma. Então, Simone teve uma ideia.
Se ela não conseguia entrar no prédio da Carvalho Tech, talvez conseguisse acessar os sistemas deles de outra forma. Ela se odiou pela ideia, mas desesperados precisam de medidas desesperadas. Quando trabalhara na reunião, recebera um crachá temporário para acessar a suí do hotel. Mas o mesmo crachá tinha a logo da Carvalho Tech impressa no verso, provavelmente reaproveitado de algum evento corporativo.
Ela o pegou na bolsa e examinou. Tinha um código de barras e um chip RFAD. Não vai funcionar. Sua mente racional alertou. Mas e se funcionar? Sua mente desesperada rebateu. Às 11 da noite, Simone estava de volta ao prédio da Carvalhotec. A região da Berrini era quase deserta naquele horário, apenas alguns seguranças noturnos e pessoal de limpeza.
Ela se aproximou da entrada lateral, aquela usada para carregamentos e funcionários de serviço. Havia uma leitora de crachá na porta. Com o coração na garganta, Simone passou o crachá. Bip. Luz vermelha. Acesso negado. Ela tentou de novo. Nada. Óbvio que não funcionaria, ela pensou, quase rindo da própria ingenuidade. O que você esperava? Que a porta se abriu. Simone congelou.
Um homem de macacão de limpeza saiu segurando um saco de lixo. Ele olhou para ela claramente surpreso. Esqueci uma pasta no escritório. Simone improvisou rapidamente, mostrando o crachá. Posso entrar rapidamente? O homem deu de ombros. Não é meu problema. Só segura a porta aberta, vai. E assim, com uma mistura de sorte absurda e timing perfeito, Simone entrou no prédio.
As luzes da emergência criavam um brilho fantasmagórico nos corredores. Simone encontrou as escadas e começou a subir, evitando os elevadores, que certamente tinham câmeras mais sofisticadas. 17º andar, sala da presidência. A placa dourada na porta dizia: “Vinicius Carvalho, CEO.” Simone tentou a maçaneta trancada, claro, mas ao lado havia uma salinha de arquivos com porta de vidro.
Através dela, Simone viu estantes cheias de pastas e caixas. E, para sua surpresa, a porta estava apenas encostada. Ela entrou silenciosamente, começou a vasculhar, contratos, relatórios financeiros, auditorias, documentos jurídicos, nada sobre Chen Industries ainda. Então, na última instante encontrou uma caixa de arquivo marcada com casos pendentes.
Pessoal, Simone a abriu apenas por curiosidade e seu mundo virou de cabeça para baixo. Dentro, uma pasta grossa. Na etiqueta, Projeto Roberto Silva. Investigação pendente. As mãos de Simone tremeram ao abrir a pasta. Dentro, dezenas de documentos, recortes de jornais sobre a morte do pai, relatórios de investigadores particulares, fotos antigas da Tech Vision Solutions, e-mails impressos. Um deles chamou sua atenção.
Era de Vinícius para um investigador datado de 3 anos atrás. Preciso que reabramos o caso Roberto Silva. Já se passaram anos demais. Eu sei que não foi acidente. Alguém matou meu sócio e eu fui covarde demais para enfrentar isso na época. Mas não serei mais. Custo o que custar. Vou descobrir a verdade. Simone teve que sentar-se no chão. Suas pernas não a sustentavam mais.
Vinícius não abandonara seu pai. Vinícius estava investigando a morte dele por anos sozinho. Eu fui covarde demais. As palavras ecoavam em sua mente. Ela continuou lendo. Havia mais e-mails. Um deles mencionava: “Usei parte dos lucros da empresa para pagar anonimamente as dívidas médicas da viúva de Roberto. É o mínimo que posso fazer.
Não mereço perdão, mas posso tentar reparação.” As lágrimas vieram antes que Simone pudesse impedi-las. Vinícius vinha pagando os tratamentos da mãe dela anonimamente por anos. Lin sempre dizia que um anjo da guarda mandava doações que cobriam parte das contas. Simone assumira que fosse alguma instituição de caridade. Era Vinícius todo esse tempo.
Por quê? Ela quis gritar. Por que fazer isso em silêncio? Por que não aparecer? Mas então entendeu? culpa, vergonha, a impossibilidade de olhar nos olhos da família do homem que ele achava ter falhado em proteger. Simone estava tão absorta lendo, que não ouviu os passos no corredor.
“O sistema de segurança me alertou que alguém abriu esta sala”, uma voz grave disse atrás dela. Simone levantou-se bruscamente, derrubando papéis. Vinícius Carvalho estava parado na porta, com jeans escuro e uma camisa casual. Mesmo sem terno, ele era intimidador, mas desta vez não era a raiva que Simone via em seus olhos. Era puro choque. Você, ele começou olhando para a pasta aberta no chão.
Você está lendo sobre Roberto Silva era meu pai, Simone disse, a voz embargada. E eu não tinha ideia de que você, ela apontou para os documentos, que você estava tentando. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Vinícius passou a mão pelo rosto, parecendo subitamente exausto. “Você é a filha do Roberto”, ele repetiu como se precisasse dizer em voz alta para acreditar.
“Simone Lin Silva, eu parei de usar o Lin depois que ele morreu.” Ela admitiu, quis apagar, quis esquecer. Vinícius se aproximou devagar. cuidadoso, como se estivesse lidando com algo frágil, pegou a foto de Roberto Silva dentre os papéis e olhou para ela com uma expressão de dor profunda. “Você tem os olhos dele?”, ele disse suavemente.
E então, ali no chão daquela sala de arquivos, às 2as da manhã, rodeados pelos fantasmas de um passado que ambos tentaram enterrar, Simone e Vinícius finalmente conversaram sobre o homem que os conectava, mas nem todos os segredos estavam revelados. E alguns deles eram muito mais perigosos do que qualquer um imaginava.
“Você deveria estar me mandando prender”, Simone disse, ainda sentada no chão, cercada por documentos. Vinícius puxou uma cadeira de escritório e sentou-se, os cotovelos apoiados nos joelhos. Ele parecia ter envelhecido 10 anos nos últimos minutos. Por invadir meu prédio? Tecnicamente, sim. Ele soltou um riso sem humor.
Mas considerando que eu passei 15 anos invadindo a privacidade da sua família sem permissão, acho que estamos empatados. Não era invasão. Você estava investigando sem contar para ninguém, sem pedir licença à sua mãe, sem Ele parou, a voz falhando, sem ter coragem de encarar as pessoas que eu falhei em proteger. Simone o estudou na luz fraca.
Aquele não era o homem arrogante que a dispensara friamente no hotel. Este Vinícius estava cru, vulnerável, humano. “Você não falhou em proteger meu pai”, ela disse suavemente. “Falhei”. A palavra saiu como vidro quebrado. Na noite antes dele morrer, Roberto me ligou. 2as da manhã. Estava apavorado. Disse que descobrira algo nos contratos da empresa. Algo errado.
Que pessoas perigosas estavam envolvidas. Vinícius fechou os olhos. Eu disse que ele estava paranóico, que o estresse da possível falência estava fazendo ele ver coisas. Mandei ele dormir e resolver pela manhã. E pela manhã ele estava morto. Vinícius abriu os olhos e Simone viu lágrimas contidas ali. O carro dele capotou na estrada.
A polícia disse que foi falha nos freios. Arquivaram o caso em semanas, mas eu sabia. sempre soube. Não foi acidente. Simone sentiu um aperto no peito. Durante todos esses anos, culpara Vinícius por abandonar o pai, quando na verdade ele carregava um peso de culpa muito maior. “Quem matou ele?”, ela perguntou, embora já soubesse a resposta no fundo da alma.
“Ainda não tenho provas concretas, mas todas as pistas levam a Eleitou. Cha!” Simone completou. Vinícius ergueu os olhos bruscamente. “Como você sabe?” Foi a vez de Simone hesitar, mas não havia mais espaço para mentiras entre eles, porque Chain Way está aqui em São Paulo e vai roubar 50 milhões de você em menos de 48 horas.
Nos 15 minutos seguintes, Simone contou tudo. A reunião no hotel, a ordem estranha que Vinícius dera, a conversa em mandarim sobre o golpe, as ameaças, a foto da mãe no hospital. Vinícius ouviu em silêncio absoluto o maxilar cada vez mais tenso. “Filho da puta”, ele murmurou quando Simone terminou. “Eu procurei por esse homem durante 15 anos e ele veio até mim.
Ele sabia que você estava investigando? Provavelmente. Vinícius se levantou e começou a andar em círculos. Ele é chinês de verdade ou brasileiro usando identidade falsa? Não sei, mas ele fala mandar influente e sem sotaque. E você tem certeza de que é o mesmo Chain Way das investigações? O sobrenome é comum, mas Simone mordeu o lábio.
Minha mãe mencionou esse nome uma vez quando era mais jovem antes do Brasil. Ele era parente distante da família Lin na China. Vinícius parou de andar. Espera, sua mãe conhece ele? Não diretamente, mas as famílias tinham contato décadas atrás. Os olhos de Vinícius se estreitaram, processando informações. Isso não é coincidência. Ele veio atrás de mim porque eu estava investigando e escolheu você como intérprete para me testar.
Simone percebeu sentindo náusea. Ele queria ver se eu entregaria a própria família. Que doente desgraçado. Simone se levantou determinada. Precisamos avisar a polícia. Com tudo que descobrimos não é suficiente. Vinícius balançou a cabeça. Tudo que temos são suspeitas, nada que prenda ele legalmente. E no momento que a polícia aparecer, ele desaparece de novo, talvez por mais 15 anos.
Então, o que fazemos? Vinícius olhou para ela e algo mudou em sua expressão. Era aquela máscara corporativa voltando, mas desta vez havia clicidade nela. Jogamos o jogo dele”, ele disse. Deixamos a armadilha se fechar, mas gravamos tudo. Reunimos provas e quando tivermos material suficiente para destruí-lo legal e publicamente, atacamos.
Isso é arriscado. Extremamente. Ele deu um passo em direção a ela. E eu entendo. Se você quiser sair. Você não me deve nada, Simone. Na verdade, eu devo tudo a você e a sua família. Se quiser pegar sua mãe e desaparecer até isso acabar, eu vou entender. Simone pensou na foto ameaçadora, no homem que a seguira, no medo constante.
Mas também pensou no pai, nos olhos de Vinícius quando ele admitira a culpa, na pasta de investigações que provava que ele nunca desistira. “Eu fico”, ela disse, “mas com uma condição. Qual? Depois disso acabar, você vai parar de pagar anonimamente pelas contas da minha mãe. Vinícius pareceu surpreso. Simone, eu não quero sua caridade, nem sua culpa. Ela cruzou os braços, mas quero sua amizade.
Acho que meu pai gostaria disso. Pela primeira vez desde que se conheceram, Vinícius sorriu. Um sorriso pequeno, triste, mas genuíno. Acho que ele gostaria também. Eles passaram o resto da madrugada planejando. Vinícius mostrou a Simone todos os contratos preliminares que Chaway enviara. Ela traduziu cada linha em mandarim das cláusulas especiais, que estavam sutilmente redigidas para transferir não apenas o dinheiro, mas também as dívidas fraudulentas para o nome de Vinícius.
É genial de uma forma perversa, Vinícius admitiu no papel. Parece que meu dei o golpe neles. Eles saem limpos e milionários. Eu fico arruinado e possivelmente preso. Precisamos de provas em áudio dessas conversas em mandarim, Simone disse. É a única forma de mostrar que eles sabiam exatamente o que estavam fazendo.
Então você volta como intérprete na próxima reunião, mas desta vez leva um gravador escondido. Eles vão me revistar, especialmente depois das ameaças. Vinícius pensou por um momento. E se eu pedir um segundo intérprete oficial? Você fica como observadora, testemunha silenciosa. Eles não vão aceitar alguém novo de última hora. Deixa eu me preocupar com isso.
Simone ia protestar quando o celular de Vinícius tocou. Ele olhou a tela e seu rosto empalideceu. É Chain Way. Eles trocaram olhares. 3:30 da manhã. Ninguém liga a essa hora com boas intenções. Vinícius atendeu no viva voz. Senr Carvalho. A voz sibilante de Chen Way preencheu a sala. Espero não estar interrompendo. É madrugada, Chen.
O que você quer? Apenas confirmar nosso encontro de amanhã para a assinatura final as dizendo aviores. Mas há uma pequena mudança de planos. Simone e Vinícius se entreolharam tensos. Que mudança? Meus sócios e eu preferimos um ambiente mais privado, um restaurante chinês que conhecemos, fechado para nossa reunião, sem distrações.
Por que a mudança? Digamos que preferimos descrição. Afinal, são 50 milhões em jogo. Uma pausa carregada. E, Senr. Carvalho, venha sozinho. Sem advogados, sem intérpretes, apenas você, eu e meus sócios. Um acordo entre cavalheiros. Vinícius cerrou os punhos. E se eu insistir em trazer meu advogado, então, infelizmente, teremos que cancelar toda a negociação.
O tom de Cheng Way era veneno puro. Seria uma pena desperdiçar tanto tempo e potencial. O recado era claro. Aceite as condições ou perca tudo. Entendo Vinícius disse controlado. Qual o endereço? Chain Way passou o local, um restaurante no bairro da Liberdade. Então, antes de desligar, ele acrescentou: “Ah, e Senr. Carvalho, certifique-se de que aquela intérprete curiosa não apareça por perto.
Já tivemos uma conversa com ela sobre descrição. Espero que ela tenha entendido a mensagem.” Clique. Simone sentiu o sangue gelar. Eles sabiam. Sabiam que ela alertara Vinícius. Talvez até soubessem que estava ali naquele exato momento. “Eles estão me vigiando”, ela sussurrou. “E sabem que estamos trabalhando juntos agora”. Vinícius jogou o celular sobre a mesa com força. Mudaram o jogo. Estão nos isolando.
Se você for sozinho, vai ser roubado e provavelmente morto. E se não for, eles desaparecem e voltamos à estaca zero. Vinícius passou as mãos pelo cabelo frustrado. É um cheque mate. Simone observou os documentos espalhados, a pasta sobre seu pai, os 15 anos de investigações, a ameaça à mãe dela. Não, ela pensou com determinação crescente.
Não é cheque mate, é apenas a abertura do jogo verdadeiro. Então criamos um plano B, ela disse a voz firme, um que eles não vejam vindo. Vinícius a olhou com algo entre surpresa e respeito. Estou ouvindo. E ali na madrugada silenciosa de São Paulo, entre arquivos de fantasmas do passado, uma improvável aliança começou a traçar o contra-ataque mais arriscado de suas vidas.
Mas Chen Way estava sempre três passos à frente e o preço de subestimá-lo seria muito mais alto do que qualquer um imaginava. A luz fria do amanhecer invadia o escritório quando Simone e Vinícius finalmente terminaram de traçar o plano. Ambos estavam exaustos, mas a adrenalina os mantinha despertos. Então está decidido, Vinícius resumiu.
Eu vou à reunião sozinho, conforme Chaway Way pediu, mas você estará escondida nas proximidades gravando tudo remotamente. Como eles vão revistar você em busca de grampos? Não, se eu usar um transmissor de última geração. Vinícius abriu o laptop. Minha empresa desenvolveu tecnologia de vigilância para contratos governamentais.
Tenho acesso a equipamentos que parecem relógios, botões de punho, até óculos. E se detectarem? Por isso o backup. Ele mostrou um mapa do restaurante na tela. O dragão dourado tem cozinha que dá acesso aos fundos. Você entra por lá antes da reunião começar. Se algo der errado, você liga paraa polícia. Simone estudou o mapa memorizando cada detalhe.
Era arriscado. Absurdamente arriscado, mas era a única chance. Precisamos de mais do que gravações, ela disse. Precisamos fazer Chaway confessar em português algo que não precise de tradução em tribunal. Como Simone pensou por um momento provocando ele. Ele tem ego. Se você mencionar meu pai diretamente, Roberto Silva, ele não vai resistir a se gabar.
Vinícius ficou pálido. Você quer que eu acuse ele de assassinato? No meio de uma reunião onde estarei sozinho e desarmado? Eu disse que era arriscado. Arriscado é dirigir sem cinto. Isso é suicida. Você tem uma ideia melhor? Vinícius abriu a boca para responder, mas foi interrompido por uma batida urgente na porta.
Ambos congelaram. “Senhor Carvalho”, era a voz da secretária. “Desculpe chegar tão cedo, mas há um senhor na recepção dizendo que precisa falar com urgência sobre um caso antigo. Ele diz que é sobre Roberto Silva. Simone e Vinícius trocaram olhares alarmados. Quem é? Vinícius perguntou: “Dr. Mendes, seu advogado. Dr.
Augusto Mendes tinha 62 anos, cabelos grisalhos perfeitamente penteados e o tipo de postura que vem de décadas lidando com a elite empresarial de São Paulo. Ele entrou no escritório de Vinícius com passos medidos, mas Simone percebeu imediatamente que algo estava errado. As mãos do advogado tremiam. Vinícius.” Ele cumprimentou a voz cansada.
Então olhou para Simone com reconhecimento súbito. Você é a intérprete da reunião, Simone Silva. Ela confirmou desconfiada. O olhar de Dr. Mendes se encheu de uma emoção que parecia culpa. Ele se virou para Vinícius. Precisamos conversar em particular. Ela fica. Vinícius disse firme: “Qualquer coisa que você tenha a dizer pode ser dito na frente dela.
” O advogado hesitou, então assentiu pesadamente. Sentou-se como se cada movimento doesse. “Eu traí você”, ele disse sem rodeios. O silêncio que se seguiu foi brutal. “Explica”, Vinícius ordenou. A voz perigosamente baixa. Os chineses, Chain Way e seus sócios. Dr. Mendes tirou os óculos e esfregou os olhos. Eles me procuraram há três meses.
Sabiam, sabiam de coisas sobre mim, coisas que poderiam me destruir. Que coisas? Há se anos, assessorei um cliente em uma fraude contábil. Pequena. Eu pensei. Ninguém seria prejudicado. Mas os valores eram maiores do que imaginei. Se a verdade sair, vou pra cadeia por no mínimo 15 anos. Vinícius se levantou bruscamente.
Você está me dizendo que colocou minha empresa em risco porque foi burro o suficiente para cometer fraude? Eu não tive escolha. Dr. Mendes levantou a voz desesperado. Eles tinham provas, documentos, gravações. Disseram que iriam à Polícia Federal se eu não cooperasse.
Cooperasse como? Assinando os pareceres jurídicos dos contratos com a Chen Industries, validando a documentação deles como legítima. Ele baixou a cabeça. Eu sabia que algo estava errado, mas tinha medo demais para questionar. Simone se aproximou. Quanto eles pagaram a você? Dr. Mendes a encarou, surpreso pela pergunta direta. Nada. Não foi por dinheiro, foi por silêncio.
Eles prometeram enterrar minhas minhas transgressões se eu ajudasse. E você acreditou? Vinícius praticamente cuspiu as palavras. Você que trabalhou décadas com criminosos de colarinho branco, acreditou que extorcionários honrariam um acordo? Eu estava desesperado. E agora? Simone perguntou. Por que está confessando agora? Dr. Mendes tirou um envelope do bolso interno do terno e o colocou sobre a mesa.
Porque recebi isso ontem à noite? Vinícius pegou o envelope e retirou o conteúdo. Fotos. Fotos dele e Simone, tiradas através da janela daquele exato escritório, tiradas naquela madrugada enquanto conversavam. “Eles estão nos vigiando”, Simone sussurrou, sentindo o terror subir pela espinha. “Há um bilhete também”, Dr. Mendes indicou. Vinícius leu em voz alta. Dr. Mendes, esperamos que mantenha Vinícius Carvalho focado no negócio.
Qualquer tentativa de alertá-lo ou sabotar nossa operação resultará não apenas na exposição de seus crimes, mas também em consequências mais permanentes. Sabemos onde sua filha estuda, sabemos onde sua neta faz balé. Seria uma pena se houvesse um acidente. A temperatura da sala pareceu cair 10º.
Eles ameaçaram sua família”, Simone disse. “Por isso estou aqui.” Dr. Mendes encarou Vinícius com os olhos marejados. “Trabalhei com você por 10 anos. Você confiou em mim e eu eu traí essa confiança, mas não posso deixar que machuquem minha filha. Não por mim, não por minha covardia”. Vinícius ficou em silêncio por longos segundos, processando, então se sentou pesadamente.
Você deveria ter vindo a mim desde o início. Eu sei. Poderíamos ter resolvido. Eu sei. Mas você escolheu proteger a si mesmo. Eu sei. A voz de Dr. Mendes quebrou. Simone observou a cena, reconhecendo o peso da culpa. Ela mesma carregava a sua própria versão disso, o silêncio durante a primeira reunião, a escolha de obedecer ordens em vez de fazer o certo.
O que Chen Way pediu que você fizesse especificamente? Ela perguntou prática. Dr. Mendes fungou e recompôs-se minimamente. Validar os documentos de transferência bancária, assinar como testemunha legal. Ferson, ele hesitou. garantir que Vinícius assinasse todos os contratos sem ler as cláusulas em mandarim. Quais cláusulas que transferem não apenas o investimento, mas também responsabilidade legal por dívidas fictícias.
Quando tudo explodir, Vinícius será processado por fraude contra os chineses. Eles saem como vítimas, ele fica como criminoso. Filho da Vinícius murmurou. É um golpe duplo. Roubam meu dinheiro e minha reputação. Há mais. Doutor Mendes puxou outro papel do bolso. Encontrei o nome verdadeiro de Chain Way. Ele não é investidor chinês, é brasileiro.
Simone arrancou o papel da mão dele, leu rapidamente. Chain Way, Way. Chain Lin. Nascimento. São Paulo. Brasil. Nacionalidade brasileira chinesa. Registros criminais na China. Fraude bancária, estelionato, extorção. Wen Lin. Simone repetiu lentamente e então algo clicou. Lin, como minha mãe, como a família da minha mãe. Vinícius se levantou.
Você acha que ele é parente? Minha mãe mencionou um primo problemático, alguém que foi expulso da família há décadas por crimes financeiros. Simone sentiu náusea. Deus, preciso conversar com ela. Não. Vinícius assegurou pelo braço. Se ele está vigiando, vai saber se você for ao hospital fora do horário normal. Não podemos alertá-lo. Mas se ele é parente da minha mãe, se há uma conexão familiar, então há uma razão pessoal para o golpe. Dr.
Mendes completou sombriamente. Vingança. Os três ficaram em silêncio, deixando o peso daquela revelação a Centar. Finalmente, Vinícius perguntou a Dr. Mendes: “Você está disposto a nos ajudar de verdade desta vez?” “Sim, mas eles têm provas contra mim. Nós também temos agora.” Simone interrompeu.
“Você acabou de confessar tudo. Gravei discretamente no meu celular.” Ela mostrou o aparelho. “Se você nos trair de novo, essa gravação vai direto para a Polícia Federal.” Dr. Mendes empalideceu, mas assentiu. Justo. Vinícius estendeu a mão. Então vamos acabar com esse desgraçado. Juntos. Dr.
Mendes apertou a mão e, pela primeira vez desde que entrara, esboçou algo parecido com esperança. Simone saiu do prédio da Carvalho Tec às 8 da manhã, exausta, mas determinada. Tinha 12 horas até a reunião armadilhada, 12 horas para se preparar, 12 horas para descobrir a verdade sobre Chain Way e sua conexão com a família Lin, mas primeiro precisava ver a mãe. Lin Chen Silva estava acordada quando Simone entrou no quarto do hospital.
A TV mostrava uma novela antiga, mas Lin não prestava atenção. Seus olhos estavam perdidos na janela, observando a cidade acordar. Ba! Ela sorriu ao ver a filha, mas o sorriso murchou quando notou a expressão de Simone. Shenmi. O que aconteceu? Simone puxou a cadeira bem perto da cama e segurou as mãos da mãe.
Mãe, preciso que você me conte sobre a família Lin na China. Sobre alguém chamado Ween Lin. Lin ficou pálida como os lençóis. Como, como você sabe esse nome? Ele está aqui em São Paulo e está tentando destruir pessoas que eu me importo. Lin fechou os olhos. Respirando com dificuldade, Simone quase pediu desculpas por perturbar, mas sabia que precisavam daquela conversa.
W Chan Lin Lin começou devagar. É meu primo, filho da irmã da minha mãe. Quando éramos jovens, ele era problemático, obsecado com dinheiro, com poder. O que aconteceu? Ele aplicou golpes financeiros em Shangai, roubou dinheiro de idosos, fingindo ser consultor de investimentos. Quando a família descobriu, meu pai, seu avô, o expulsou.
Disse que não era mais um Lin, que estava morto para nós. Como ele reagiu? Lin abriu os olhos e havia medo ali. Jurou vingança. Disse que a família Lin era hipócrita, que meu casamento com um brasileiro, com seu pai, era uma traição à herança chinesa. Ele me culpou por corromper a linhagem da família. Simone sentiu raiva ferver. Ele te culpou por se casar com quem você amava? Para Way Chan, pureza era tudo.
Ele odiava mestiçagens, odiava o ocidente, odiava. Lin tocou o rosto de Simone. Odiava você, minha filha. Quando soube que eu tive uma filha meio brasileira, ele mandou uma carta dizendo que éramos uma abominação. As peças começaram a se encaixar na mente de Simone. Mãe, você acha que Wane teve algo a ver com a morte do papai? Lin começou a chorar silenciosamente.
Sempre suspeitei, mas não tinha provas. E estava com tanto medo, com tanto medo, que ele voltasse e terminasse o trabalho. Por isso, nunca investiguei mais fundo. Por isso, aceitei quando Vinícius nos abandonou. Só queria que você ficasse segura. Vinícius não abandonou a gente, Simone revelou suavemente. Ele estava investigando e tem pago suas contas de hospital anonimamente. Lin arregalou os olhos.
O o anjo da guarda era ele sempre foi. Novas lágrimas escorreram pelo rosto de Lin, mas desta vez de emoção diferente, alívio misturado com tristeza. Roberto tinha razão sobre ele. Ela sussurrou. Seu pai sempre disse que Vinícius era um bom homem, apenas perdido. Simone limpou as lágrimas da mãe com ternura. E agora o Chen está tentando destruir Vinícius.
Como destruiu papai? É um plano de vingança contra todos nós. Você não pode enfrentá-lo, Simone. Lin segurou a filha com força surpreendente. Ele é perigoso. Ele não tem limites. E eu sou filha de Roberto Silva e Lin Chen. Simone respondeu com firmeza. Tenho a força dos dois e não vou deixar que ele destrua mais ninguém que amo.
Linha a encarou por um longo momento, então a sentiu lentamente, tão teimosa quanto seu pai, ela murmurou com afeto triste. Pelo menos seja mais esperta que ele foi. Vou tentar. Simone beijou a testa da mãe e se preparou para sair, mas Lin a chamou. Simone, sim. Tome cuidado com Wehanen. Ele coleciona segredos das pessoas. usa o que mais amamos contra nós.
Ela fez uma pausa e ele sempre teve um talento para aparecer quando menos esperamos. As palavras da mãe ecoaram ameaçadoramente na mente de Simone enquanto ela saía do hospital. Aparece quando menos esperamos. Ela olhou ao redor paranoica, procurando por olhos que a observassem. A rua estava movimentada com o trânsito matinal, mas não viu nada suspeito.
Pegou o celular para mandar mensagem para Vinícius atualizando sobre a conversa, mas algo a fez parar. Um homem de terno escuro estava encostado em um carro do outro lado da rua, olhando diretamente para ela. Era um dos investidores da primeira reunião. E ele sorriu. Simone sentiu o sangue gelar. Virou-se e caminhou rapidamente na direção oposta. Houviu passos atrás de si. começou a correr.
A armadilha estava se fechando e Simone percebeu tarde demais que desde o começo ela nunca foi a caçadora, era a presa. Simone correu pelas ruas de São Paulo como nunca havia corrido antes. Os sapatos baixos batiam no asfalto enquanto ela desviava de pedestres e carrinhos de ambulantes. O homem de terno a perseguia implacavelmente.
Ela virou em um beco estreito entre prédios comerciais, o coração batendo tão forte que parecia que explodiria. Havia uma escada de incêndio. Simone agarrou os degraus de metal e começou a subir, as mãos suando e escorregando. “Ei, desce daí!” O homem gritou embaixo, mas Simone já estava no segundo andar, depois no terceiro.
Ela chutou uma janela meio aberta e entrou em um depósito empoeirado. Correu até a porta do outro lado, desceu escadas internas e saiu em uma rua completamente diferente. Finalmente, quando teve certeza de que o perdera, parou em uma padaria lotada, entrando e se misturando aos clientes.
Suas mãos tremiam tanto que mal conseguia segurar o celular para ligar para Vinícius. Ele atendeu no primeiro toque. Simone, onde você está? Me perseguiram. Ela o fegou saindo do hospital. Um dos homens de Chain Way. Merda. Você está segura agora? Acho que sim. Mas Vinícius, ela abaixou a voz. Minha mãe confirmou.
Chen Way é primo dela e ele odiava meu pai por corromper a família, por ser brasileiro, por me ter silêncio do outro lado. É vingança pessoal, Vinícius concluiu, contra sua família e contra mim por ter sido sócio do seu pai. Exatamente. Onde você está? Vou mandar alguém te buscar. Não. Simone olhou ao redor paranoica. Se estão me seguindo, vão rastrear qualquer carro que você mandar. Preciso chegar sozinha.
Então vem direto pro prédio. Vou avisar a segurança. Eles vão te escoltar até meu escritório. OK. Mas, Vinícius? Sim. Precisamos encerrar isso hoje. Não posso viver mais um dia olhando por cima do ombro. Eu sei ele disse suavemente. Nem eu duas horas depois, Simone estava de volta ao escritório de Vinícius.
Ela tomara um banho no vestiário executivo, cortesia dele, e vestira roupas limpas que uma assistente comprara rapidamente em uma loja próxima. calça preta, blusa discreta, tênis para poder correr se necessário. Dr. Mendes também estava lá junto com Vinícius. Os três estudavam mapas, plantas do restaurante e testavam equipamentos de gravação. Isso aqui é do tamanho de uma moeda. Vinícius mostrou um minúsculo dispositivo prateado.
Cola na pele, transmite áudio em tempo real até 2 km de distância. Imperceptível em revistas e se usar em detectores de radiofrequência. Dr. Mendes perguntou: “Funciona em frequência criptografada que imita sinais de celular. A menos que eles tenham equipamento militar de ponta, não vão detectar.” Simone pegou o dispositivo.
Era surpreendentemente leve. “Onde você vai colocar isso?” “Atrás da orelha, coberto pelo cabelo.” Vinícius demonstrou, “Tem outro como backup no pulso dentro da pulseira do relógio. Redundância é boa, Dr. Mendes aprovou. E quanto a mim, Simone perguntou. Como vou entrar no restaurante sem ser vista? Vinícius abriu uma sacola e tirou um uniforme de entregadora de comida. Entregas de aplicativo entram pela cozinha.
Você vai chegar uma hora antes da reunião vestindo isso. Deixa uma mochila térmica falsa. Se esconde no depósito dos fundos. Quando começarmos a conversar, grava tudo. E se me descobrirem? Os dois homens trocaram olhares desconfortáveis. Você corre. Vinícius disse simplesmente: “Tem uma saída de emergência que dá numa viela lateral. Vai direto paraa polícia.
E você?” Vou segurar Chen Way até a polícia chegar. Você pode ser morto ou posso finalmente ter justiça pelo seu pai. Seus olhos encontraram os dela. Vale o risco. Simone queria discutir, mas conhecia aquele olhar. Era o mesmo que via no espelho toda vez que pensava em desistir de cuidar da mãe. Era determinação absoluta. “Então vamos fazer direito”, ela disse, “sem heróis mortos.
Entendido, Vinícius sorriu de lado. Entendido. Às 5 da tarde, eles fizeram um último ensaio do plano. Cada um sabia sua posição, suas falas, seus movimentos. Dr. Mendes seria o traidor arrependido que chegaria durante a reunião com a polícia, fingindo ter finalmente reunido coragem. “Só não cheguem tarde demais”. Vinícius o alertou. 10 minutos depois de você entrar, Dr. Mendes confirmou.
“Tempo suficiente para Chen Way se incriminar, mas não o suficiente para te matarem. Que reconfortante.” Simone checou o celular. Uma mensagem da enfermeira do hospital. Sua mãe está perguntando por você. diz que precisa contar algo urgente. Ela mostrou para Vinícius. Vai, ele disse, “mas leva o motorista da empresa e volta em uma hora. A reunião é às 7. Tenho tempo.
Você precisa fazer isso. Vai ficar pensando nisso o tempo todo se não for.” Simone assentiu grata. Vinícius entendia. Lin estava sentada na cama quando Simone entrou, mais alerta do que estivera em dias. Havia uma intensidade em seus olhos que assustou a filha. Mãe, a enfermeira disse que você sente. Linrompeu indicando a cadeira. Simone obedeceu apreensiva.
Lembrei de algo. Lin começou. Sobre Way Chane. Algo que pode ajudar você. O quê? Quando éramos jovens, antes dele ser expulso, Way Cheng era obsecado com duas coisas: dinheiro e honra. Mas não honra verdadeira. Honra como fez, como o mundo o via. OK. Se você quer destruí-lo, não basta provar que ele é criminoso. Precisa destruir sua face, sua imagem, humilhá-lo publicamente de uma forma que ele nunca se recupere. Simone franziu a testa.
Como? Lin se inclinou para a frente, sussurrando como se Chen Way pudesse estar ouvindo. Way Chan tem um orgulho doentio de sua inteligência. Ele acha que é sempre o mais esperto da sala. Se você provar publicamente que ele foi enganado, que alguém foi mais inteligente que ele, ela sorriu sem humor. Isso vai destruí-lo mais do que qualquer prisão.
Você está dizendo para eu fazer um contragolpe. Estou dizendo para você usar a arrogância dele contra ele. Deixe que ele pense que está ganhando e então vire o jogo na frente de testemunhas, de preferência gravando tudo. Simone processou aquilo. Não era apenas sobre prendê-lo, era sobre garantir que ele nunca mais tivesse poder sobre ninguém.
Mãe, você é uma gênia? Não, só conheço meu primo. Lin tocou o rosto da filha. E conheço minha filha. Você tem a inteligência do seu pai e a astúcia da nossa família. Use ambas. Simone beijou a testa da mãe, segurando aquele momento. Eu te amo, Balbei. Eu também te amo, meu tesouro.
Quando Simone voltou ao prédio da Carvalho Tech, encontrou Vinícius no estacionamento, testando o transmissor pela décima vez. Ele estava visivelmente nervoso, ajeitando o terno repetidas vezes. “Você está bem?”, ela perguntou. “Ótimo.” Ele mentiu. “Mentiroso. Vinícius soltou um suspiro e encostou no carro. Estou apavorado”, ele admitiu. “Passei 15 anos procurando esse homem, 15 anos querendo olhar nos olhos dele e perguntar por matou Roberto.
E agora que está acontecendo? Eu Ele passou as mãos pelo rosto. Eu não sei se estou pronto. Simone se aproximou e, surpreendendo ambos, segurou a mão dele. Meu pai acreditava em você, ela disse suavemente. E eu também acredito. Você consegue. Vinícius olhou para a mão dela, segurando a sua. Algo mudou em sua expressão. A vulnerabilidade deu lugar à determinação renovada. “Obrigado”, ele sussurrou.
Não morra”, Simone, respondeu, tentando soar firme, apesar do nó na garganta. “Vou tentar.” Ela soltou a mão dele e pegou a mochila com o uniforme de entregadora. “Nos vemos do outro lado.” “Do outro lado?”, ele repetiu. E então, sob o céu alaranjado do fim de tarde de São Paulo, Simone Silva e Vinícius Carvalho partiram para a armadilha mais perigosa de suas vidas.
O restaurante Dragão Dourado ficava em uma rua lateral da Liberdade, escondido entre lojas de importados e um estacionamento. A fachada vermelha e dourada tentava parecer autêntica, mas tinha aquele ar de chinês genérico para turistas. Simone chegou às 18:15, vestindo o uniforme de entregadora e carregando uma mochila térmica vazia.
Tocou a campainha da entrada dos fundos. Um cozinheiro jovem abriu, olhando entediado. Entrega? Ele perguntou em português arrastado. Não vim buscar. Simone improvisou. Pedido pro shopping Frei Caneca. Cliente tá esperando. Não temos nenhum pedido pronto. Sério? Deixa eu checar. Simone fingiu mexer no celular enquanto dava passos para dentro da cozinha. O cozinheiro se distraiu com algo no fogão. Era sua chance.
Simone atravessou rapidamente a cozinha, passou pela área de armazenamento e encontrou um pequeno depósito no fundo, exatamente como nos planos que Vinícius mostrara. Entrou e trancou a porta por dentro, escuro, cheirando a óleo de cozinha e papelão mofado. Perfeito. Ela tirou o celular e mandou mensagem para Vinícius. Estou dentro.
A resposta veio segundos depois. Chegando em 15 mineiro, fica em silêncio absoluto. Simone se sentou atrás de umas caixas de suprimentos, coração martelando, testou a gravação do celular, funcionando. Agora era esperar. 15 minutos se arrastaram como horas. Simone ouvia vozes abafadas da cozinha, o barulho de panelas, conversas em mandarim entre os funcionários.
Então, às 18:50, um silêncio súbito. Passos, muitos passos. Vozes novas, autoritárias, ordenando em mandarim. Todo mundo sai. Restaurante está fechado hoje. Saiam agora. Protestos dos funcionários. Então, o som de pessoas sendo escoltadas para fora. “Chan limpando o local.” Simone percebeu, eliminando testemunhas.
Ela prendeu a respiração quando passos se aproximaram do depósito. Alguém testou a maçaneta trancada. “Este quarto está trancado”, uma voz disse em mandarim. Deixa outra voz respondeu Way. É só depósito. Vamos. Os passos se afastaram. Simone soltou o ar que prendia. Estava sozinha agora, completamente sozinha em um restaurante controlado por criminosos.
Não pense nisso ela ordenou a si mesma. Foca na missão. Às 19:03, a campainha da entrada principal tocou. Senhor Carvalho”, a voz oleosa de Chen Way ecuou. “Pontual como sempre. Por favor, entre.” Simone encostou o ouvido na porta do depósito. Conseguia ouvir vozes abafadas, mas não palavras claras.
Precisava se aproximar mais. Lentamente girou a tranca e entreabriu a porta a alguns centímetros. A cozinha estava vazia. As vozes vinham do salão principal. Ela saiu do depósito, gatinhando entre os balcões de inox da cozinha até uma cortina que separava a cozinha do salão. Por uma fresta conseguia ver parcialmente a cena. Vinícius estava sentado em uma mesa redonda.
Chais de seus sócios estavam de frente para ele, todos sorrindo cordialmente. Uma pilha de documentos sobre a mesa. “Dispensou seus advogados? Como pedi?”, Cha Way perguntou, servindo chá em xícaras delicadas. Como pediu, Vinícius confirmou, pegando uma xícara. Sábio, negócios dessa magnitude requerem descrição.
Simone ligou a gravação do celular, o colocou em modo silencioso e observou. 50 milhões é muito dinheiro, Vinícius disse casualmente. Espero que a Chain Industries esteja preparada para corresponder ao investimento. Ó, estamos mais que preparados. Cha Way sorriu. Era um sorriso de predador. Na verdade, Senr. Carvalho, estou curioso.
O que o motivou a aceitar esta proposta tão rapidamente? Normalmente, empresários do seu calibre fazem du diligence extensiva. Vinícius tomou um gole do chá. Fiz minha pesquisa. A Chen Industries tem uma reputação interessante. Interessante. Chenway arqueou uma sobrancelha. Vamos parar de fingir. Vinícius colocou a xícara na mesa com um som seco. Eu sei quem você é.
Way Chan Lin, primo da Lin Chen, ex-cminoso de Shanghai. O sorriso de Chen Wei congelou. Os dois homens ao lado dele imediatamente tensionaram, as mãos indo para os bolsos. O ar ficou pesado com perigo iminente. Simone segurou o celular com força, pronta para correr ou para gravar a confissão que mudaria tudo.
O jogo acabara de começar e as próximas palavras decidiriam quem sairia vivo daquela sala. O silêncio que se seguiu foi cortante como vidro quebrado. Cha inclinou-se para trás na cadeira, o sorriso falso finalmente desaparecendo. Em seu lugar havia algo muito mais perigoso, o rosto verdadeiro de um predador sem máscaras. “Impressionante”, ele disse lentamente, em português perfeito e sem sotaque.
“E aqui estava eu pensando que você seria apenas mais um idiota ambicioso. Parece que subestimei Vinicius Carvalho. Erro comum. Vinícius respondeu, mas Simone via suas mãos crispadas sobre a mesa. Ele estava aterrorizado, apenas escondendo bem. Então, Chen Way estalou os dedos e seus dois homens sacaram armas, apontando discretamente para Vinícius por baixo da mesa.
Já que dispensamos as formalidades, vamos conversar de verdade. Como descobriu investigadores particulares. 15 anos de trabalho. Você esconde bem seu rastro, Wayne, mas não perfeitamente. 15 anos. Chen Way franziu a testa. Por que tanto tempo investigando? Ó. Seu rosto se iluminou com compreensão cruel. Roberto Silva, você ainda está preso à aquele caso.
Que tocante! Vinícius cerrou os punhos à máscara de calma racando. Você o matou. Eu? Chenway riu. Querido Vinícius, você o matou. Foi sua ganância que o colocou na mira. Foi seu plano de golpe original que atraiu atenção para a Tech Vision. Eu apenas limpei a bagunça. No esconderijo, Simone teve que morder a própria mão para não gritar. Vinícius estava envolvido no golpe original.
A confissão da madrugada foi mentira. Eu nunca pedi para você matá-lo. Vinícius disse entre dentes. Não pediu, mas quando Roberto descobriu seu esquema e ameaçou denunciá-lo, você me ligou em pânico. Lembra, Chen? Preciso de ajuda. Roberto vai me destruir. Pode fazer algo? Chainway imitou a voz de Vinícius com crueldade. Então fiz algo.
Simone sentiu o mundo girando. Não podia ser verdade. Vinícius tinha culpa real na morte do pai. Eu nunca imaginei que você fosse tão longe. Vinícius sussurrou. Você não imaginou porque não quis imaginar. Você queria que o problema desaparecesse. E desapareceu. Chen Way tomou um gole do próprio chá. Calmo agora. Claro. Você passa anos tentando se redimir pagando a viúva. investigando. Que nobre.
Mas não muda o fato de que você foi cúmplice. Eu era jovem, estúpido, desesperado e agora é o quê? Velho e sábio. Chen Way gargalhou. Você veio aqui sozinho, Vinícius. Armado de quê? Consciência pesada? Vou roubar seus 50 milhões, destruir sua reputação e você vai para a cadeia como fraudador, exatamente como Roberto deveria ter ido se não tivesse sido tão inconvenientemente moral.
Um dos homens de Shen Way se levantou e revistou Vinícius agressivamente. Encontrou o transmissor atrás da orelha. Chefe, ele disse em mandarim, mostrando o dispositivo. Ele estava gravando. Cha pegou o minúsculo transmissor e o esmagou sob o salto do sapato. Decepcionante, Vinícius. Você realmente achou que seria tão fácil? Não. Uma voz disse da entrada, mas eu achei. Todos se viraram. Dr.
Mendes estava na porta segurando um celular bem alto. Gravei tudo. Ele anunciou a voz tremendo, mas determinada. Cada palavra, cada confissão, inclusive a parte onde você admitiu ter matado o Roberto Silva. Chen Way se levantou lentamente. Dr. Mendes, que surpresa desagradável. A polícia está a caminho. O advogado continuou.
Vocês têm 2 minutos para se renderem ou serão presos à força? Polícia. Chen Way sorriu. Não vai ter polícia, doutor. Ele fez um gesto. Um terceiro homem que Simone não vira antes, saiu da sombras próximas à entrada. Estava atrás de Dr. Mendes, apontando uma arma para sua cabeça. Pensou que eu não esperaria isso, Chen Way riu.
Vigiamos você o tempo todo. Sabíamos que sua consciência culpada eventualmente trairia. Por isso, temos alguém colado em você desde ontem. Dr. Mendes empalideceu. Suas mãos começaram a tremer. O celular, o homem ordenou. Devagar. Derrotado, Dr. Mendes entregou o aparelho. O homem o esmagou contra o chão.
E agora Chen Way voltou sua atenção para Vinícius. Vamos acabar com isso de uma vez. Assine os documentos. Transfira o dinheiro e talvez eu deixe vocês vivos. E se eu recusar? Então mato você, depois mato o advogado e forço sua empresa a pagar mesmo assim, usando os documentos que o inútil do Mendes já validou. Você escolhe.
Vinícius olhou para os papéis sobre a mesa. 50 milhões, sua reputação, sua liberdade, tudo que construiu durante 15 anos de redenção. Preciso de uma caneta, ele disse derrotado. Cha sorriu vitorioso e estendeu uma caneta dourada. Vinícius a pegou, aproximou a ponta do papel. e então olhou diretamente para Chany.
“Roberto Silva era um homem melhor do que eu jamais serei”, ele disse calmamente. “Mas há uma coisa que aprendi com ele: “Há momento de ser esperto e a momento de ser corajoso”, e enfiou a caneta no pescoço de Chen Way. Caos absoluto explodiu. Chen Way gritou cambaleando para trás com a caneta cravada no pescoço, sangue espirrando. Os dois homens com armas atiraram, mas Vinícius já estava se jogando sob a mesa. Dr.
Mendes foi empurrado e caiu no chão. Simone não pensou, apenas agiu, pegou uma panela pesada da cozinha e correu para o salão, gritando em mandarim para distrair. Polícia, todo mundo no chão. Um dos atiradores se virou confuso para ela. Foi o suficiente. Simone arremessou a panela com toda a força, acertou o rosto dele. O homem caiu atordoado.
Vinícius emergiu de sob a mesa e lutou corpo a corpo com o segundo atirador. Ambos rolaram pelo chão, disputando a arma. O terceiro homem, que segurava Dr. Mendes, apontou para Simone. O tempo desacelerou. Simone viu o dedo dele no gatilho, viu a morte chegando e então Dr.
Mendes, o homem que traíra todos por covardia, fez a primeira coisa corajosa em anos. Jogou-se na frente de Simone, o tiro ecoou. Dr. Mendes caiu, sangue brotando do peito. Não! Simone! gritou, ajoelhando-se ao lado dele. O atirador preparou um segundo tiro, mas Vinícius já havia desarmado seu oponente e disparou primeiro. O terceiro homem caiu. Sirenes. Sirenes policiais se aproximando. Chen Way, ainda sangrando do pescoço mais vivo, cambaleou em direção à saída dos fundos.
Vinícius correu atrás dele. Vinícius, Simone gritou, mas ele já havia sumido no corredor. Ela olhou para Dr. Mendes. Seus olhos estavam abertos, mas vidrados, sem vida. Não, não, não. Ela pressionou as mãos no ferimento, mas era tarde demais. Por favor, não. A porta da frente explodiu. Policiais invadiram, gritando ordens. Simone ergueu as mãos, lágrimas escorrendo. Ele morreu me salvando ela soluçou.
Ele morreu tentando fazer o certo. Um policial a ajudou a se levantar, afastando-a do corpo. “Onde está o outro?”, ele perguntou, vendo Vinícius não estava ali. Simone apontou para os fundos, foi atrás de Chen Way. Sozinho, sozinho. Os policiais correram naquela direção, mas Simone sabia que seria tarde.
O confronto final entre Vinícius e Chenway Way estava acontecendo longe dos olhos da lei e apenas um deles sairia vivo. Dr. Mendes dera sua vida pela redenção, mas o preço final ainda estava sendo pago nos becos escuros de São Paulo. Os paramédicos cobriram o corpo de Dr. Mendes com um lençol branco que rapidamente ficou vermelho. Simone estava sentada em uma cadeira, uma manta térmica sobre os ombros, em estado de choque, enquanto policiais faziam perguntas que ela mal conseguia processar. “Senrita Silva, preciso que se concentre.
” A detetive, uma mulher de meia idade, com olhos cansados, mais gentis, disse pela terceira vez: “Para onde exatamente o Senr. Carvalho foi?” “Atrás de Chen Way.” Simone repetiu mecanicamente, “Pela saída dos fundos. Isso foi há 20 minutos. A equipe já vasculhou os arredores. Não há sinal de nenhum dos dois. 20 minutos. Simone sentiu o pânico finalmente perfurar o entorpecimento. 20 minutos era tempo demais.
Qualquer coisa poderia ter acontecido. Ele estava ferido. A detetive perguntou. Chatava. Vinícius cravou uma caneta no pescoço dele. E o Senr. Carvalho, não sei. Tudo aconteceu tão rápido. O celular de Simone vibrou no bolso. Ela o pegou com mãos tremendo. Uma mensagem de número desconhecido. Terraço Avete Paulista, 1578. Venha sozinha ou ele morre. 30 minutos.
Simone mostrou para a detetive que imediatamente chamou reforços pelo rádio. É uma armadilha óbvia, a policial disse. Não vai sozinha. Vamos montar uma operação. Não há tempo. Simone se levantou bruscamente, deixando a manta cair. São 30 minutos, meia hora. Vocês não vão conseguir organizar nada a tempo. Senrita Silva, ele tem Vinícius.
Simone quase gritou. Chenway vai matar ele se eu não for e vai matar vocês dois se você for. Então me deu uma arma, um colete, qualquer coisa, mas não vou deixar outro homem morrer por minha causa hoje. A detetive a estudou por um longo momento, então suspirou e fez um gesto para um policial. Colete balístico, microfone e rastreador.
Detetiva. O policial protestou. Agora ela ordenou, então olhou para Simone. Você vai usar tudo isso. Vamos estar a dois quarteirões de distância. Ao primeiro sinal de perigo, invadimos. Entendido? Entendido. E Senrita Silva, tente não morrer. Paperwork é um inferno. Simone quase sorriu. Quase.
O prédio na Avenida Paulista, 1578 era um arranha comercial de 30 andares. O térrio estava vazio naquele horário, quase 10 da noite. Simone usou as escadas de emergência, conforme instruída na segunda mensagem que recebera. subia degrau por degrau, o coração martelando, o colete balístico pesado sob a blusa.
A cada andar esperava que alguém pulasse das sombras, mas nada, apenas o som de sua própria respiração ofegante. 28º andar, 29º 30º. A porta do terraço estava entreaberta. Vento frio da noite soprava, trazendo o barulho do trânsito lá embaixo. Simone a empurrou lentamente. O terraço era amplo, com maquinário de ar condicionado e antenas.
E no centro, sob a luz fraca de um poste, estava Vinícius, ajoelhado, mãos amarradas nas costas, sangue escorrendo de um corte na testa, mas vivo. Vinícius. Simone correu em sua direção. Não ele gritou. É a armadilha tarde demais. Uma corda laçou o tornozelo de Simone. Ela caiu brutalmente no chão de concreto. Antes que pudesse se recuperar, mãos fortes a viraram e um joelho pressionou suas costas.
Chen Way, ele estava pálido, um curativo improvisado no pescoço onde a caneta o acertara, mas seus olhos brilhavam com ódio absoluto. “A bastarda mestiça”, ele cuspiu em mandarim. “Você custou 15 anos do meu plano.” 15 anos. Ele a virou violentamente. Simone viu a arma na mão dele.
Sua mãe corrompeu nossa família casando-se com aquele brasileiro. Você é a prova física dessa corrupção e hoje eu limpo essa mácula. Você está louco. Simone cuspiu de volta em mandarim. Não há pureza em genocídio familiar. Chen We a esbofeteou. Simone sentiu gosto de sangue. Você não entende nada sobre honra, sobre linhagem, sobre o que significa ser lim verdadeiro.
Eu sei o que significa ser humano. Simone rebateu. Algo que você claramente esqueceu. Chan preparou-se para bater nela de novo, mas Vinícius gritou. Chen Way, deixa ela e vem acabar comigo. Eu sou quem você quer. Chen Way pausou, olhando entre os dois. Então sorriu aquele sorriso doente que Simone aprendera a odiar.
Na verdade, ele disse, voltando ao português, eu quero ambos e vou ter. Mas primeiro ele puxou Simone para perto do parapeito do terraço. Vou fazer você assistir seu namorado morrer, assim como sua mãe deveria ter assistido seu pai morrer. Não toque nele. Simone lutou, mas Chen Way era mais forte. Ó, eu vou fazer mais que tocar. Chen Way apontou a arma para Vinícius.
Vou explodir seus miolos bem na frente dela e então vou jogá-la daqui de cima. Suicídio duplo. Amantes desesperados. Que trágico. A polícia sabe que estamos aqui Vinícius disse tentando ganhar tempo. Não rápido o suficiente. Cha engatilhou a arma. Simone fez a única coisa que podia. Gritou em mandarim alto o suficiente para que o microfone escondido captasse.
Meu nome é Simone Lin Silva, filha de Roberto Silva. E Lin Chen. Chan confessou ter assassinado meu pai. Está prestes a nos matar. Chan a socou no estômago. Simone dobrou sem ar. Cala a boca, mas era tarde. No fone minúsculo em seu ouvido, Simone ouviu a detetive. Equipe, invadir agora. Agora. Segundos depois, a porta do terraço explodiu. Polícia, solte a arma. Chin Way virou-se surpreendido.
Foi o segundo de distração que Vinícius precisava. Mesmo com as mãos amarradas, ele se jogou contra Chenway, derrubando-o. A arma disparou. A bala ricocheteou em algum lugar. Policiais invadiram o terraço, gritando ordens. Chainway empurrou Vinícius e correu para o parapeito. Por um momento terrível, Simone pensou que ele fosse pular, mas então ele agarrou ela.
Puxou Simone para perto da borda, o braço ao redor de seu pescoço, a arma pressionada contra sua têmpora. Recuem! Chen Way gritou. Recuem ou eu atiro! Os policiais congelaram. Simone estava na ponta dos pés, a beirada do prédio a centímetros de distância, 30 andares de queda mortal. Chain Way. A detetive se aproximou, mãos erguidas. Não há saída.
Você sabe disso. Há sempre saída. Ele ofegou. Sangue escorria do curativo no pescoço. Ele estava enfraquecendo. “Deixem-me sair ou ela cai. Se ela cair, você morre em seguida.” Vinícius disse, já libertado por um policial. “Não há final feliz para você, não.” Chen Way riu sem humor. Estava ficando histérico. Então, ninguém tem final feliz.
e empurrou Simone. Por uma fração de segundo, ela sentiu o nada sob, o vento, o vazio, então mãos fortes, desesperadas, agarraram seu pulso. Vinícius, ele assegurava com uma mão enquanto policiais seguravam ele. “Eu te peguei”, ele gritou, o rosto vermelho de esforço. “Não solto.” Simone estava pendurada no ar, 30 andares de morte abaixo dela.
Apenas a força de Vinícius entre ela e o fim. Vinícius, ela o fegou. Não fala, economiza a energia. Policiais correram para ajudar, formando uma corrente humana para puxá-la de volta. Chan, percebendo que perder a sua última carta, tentou correr, mas a perda de sangue o alcançou. Ele tropeçou, cambaleou e caiu do parapeito.
Seu grito ecoou brevemente antes de ser engolido pela noite e pelo som do trânsito. Então, silêncio. Simone foi puxada de volta para o terraço seguro. Desmoronou nos braços de Vinícius, ambos tremendo, ambos vivos. Acabou, ele sussurrou em seu ouvido. Acabou. Mas quando Simone olhou para a beira do terraço para onde Chenway desaparecera, ela sabia que a verdade era mais complicada.
Sim, Chenway estava morto, mas os fantasmas que ele ressuscitara, a culpa de Vinícius, o trauma de Simone, a verdade sobre a morte de Roberto, esses fantasmas ainda estavam vivos e eles teriam que enfrentá-los juntos. Chen Way estava morto, mas algumas verdades são mais mortais que qualquer homem.
Três semanas depois, Simone estava sentada na sala de interrogatório da Polícia Federal pela quinta vez. As paredes cinzas pareciam apertar a cada visita. A detetive, que ela agora conhecia como Márcia Tavares, colocou uma pasta grossa sobre a mesa metálica. Última sessão? Márcia disse. Não, sem gentileza, prometo. Você disse isso da última vez. Simone murmurou. E dessa vez é verdade. A detetive abriu a pasta.
Fechamos o caso. Chen Way ou Chen Lin morreu na queda. A autópsia confirmou. Os dois homens que sobreviveram no restaurante estão cantando. Descobrimos a rede inteira. E Vinícius. Senr. Carvalho, está livre de acusações. Consideramos que ele agiu em legítima defesa e ajudou a desmantelar uma organização criminosa.
Márcia pausou. Mas há algo que você precisa saber. O estômago de Simone afundou. O quê? Durante o depoimento de um dos capangas, surgiu informação sobre a morte do seu pai. Simone se preparou. Já sabia que Vinícius tinha culpa. Chan deixara isso claro antes de morrer. Roberto Silva foi morto por Chan. Isso já confirmamos.
Márcia continuou, mas a motivação era mais complexa do que pensávamos. Como assim? A detetive deslizou uma foto antiga pela mesa. Era Roberto Silva e Vinícius Carvalho, muito mais jovens, sorrindo em frente ao escritório da Tech Vision Solutions. Seu pai descobriu que alguém estava desviando fundos da empresa, Márcia explicou, cerca de 2 milhões.
Ele investigou por conta própria, discretamente, porque não queria acreditar que fosse Vinícius. E era, não era um terceiro sócio que você provavelmente nem conheceu, um homem chamado Henrique Campos. Ele tinha conexões com Chen Way. Simone piscou. Espera, havia um terceiro sócio, minoritário, 5%, mas com acesso aos livros contábeis.
Márcia virou mais páginas. Quando Roberto descobriu, confrontou Henrique. Henrique entrou em pânico e pediu ajuda a Chane Way, que já era conhecido por resolver problemas. Chain Way matou meu pai por causa de 2 milhões pelo silêncio. Henrique estava disposto a pagar qualquer coisa para evitar prisão.
Cha viu a oportunidade, elimina Roberto, incrimina Vinícius pela morte e pelo desvio e fica com parte do dinheiro. Três pássaros, uma pedra. Simone sentiu náuseia e Vinícius foi enganado do começo ao fim. Chenway plantou evidências, fazendo parecer que Vinícius estava envolvido no desvio.
Roberto morreu, achando que o sócio o traíra. Vinícius viveu 15 anos achando que falhou em proteger o amigo. Tudo mentira plantada por Chenway. Então, Vinícius realmente era inocente de assassinato. Totalmente. Márcia fechou a pasta, mas ele carregou culpa mesmo assim. Culpa de sobrevivente, culpa de não ter percebido o que estava acontecendo. Por isso, a investigação obsessiva, por isso os pagamentos anônimos para sua família.
Simone apoiou o rosto nas mãos. 15 anos. 15 anos de mentiras e culpa desnecessária. “Onde está o Henrique agora?”, ela perguntou. Morto. Cha o matou seis meses depois do seu pai. Eliminou o único que poderia delatá-lo. “Claro.” Simone riu sem humor. “Claro que matou. Márcia se levantou, estendendo uma mão. Você é livre para ir, senorita Silva.
E formalmente, em nome da Polícia Federal, sinto muito pelo seu pai. Por tudo. Simone apertou a mão dela, sentindo-se estranhamente vazia. Obrigada. Do lado de fora da delegacia, o sol de São Paulo era forte demais. Simone colocou os óculos escuros e procurou um banco para sentar. Precisava processar. Seu celular tocou. Vinícius.
Ela hesitou, então atendeu. Oi? Oi. A voz dele soava tão cansada quanto ela se sentia. A detetive te contou sobre Henrique, sobre Chen Way ter manipulado tudo. Sim, eu não sabia, Simone. Eu juro que não. Eu sei. Ela o interrompeu suavemente. Eu sei. Silêncio na linha. Você está bem? Vinícius perguntou finalmente. Não sei.
Você também não sei. Simone olhou para o céu azul. procurando alguma resposta nas nuvens. Não encontrou. Preciso ver minha mãe ela disse. Contar para ela. Ela merece saber a verdade. Quer que eu vá com você? Simone pensou. Parte dela queria dizer sim. Queria que Vinícius estivesse lá quando ela quebrasse o coração da mãe com verdades enterradas há tanto tempo.
Mas outra parte, a parte cansada, traumatizada, só queria estar sozinha. Não, ela respondeu. Mas obrigada. Entendo. Ele pausou. Quando você estiver pronta para conversar, para processar tudo isso, eu estarei aqui. Eu sei. Ela desligou antes que as lágrimas começassem a cair. Lin Silva estava sentada na cama do hospital quando Simone entrou. Ela estava melhor.
O tratamento finalmente estava funcionando. Seus cabelos começavam a crescer de novo, ainda esparços, mas crescendo. Baobei. Ela sorriu. Nanilai Henley, você parece cansada. Estou. Simone admitiu sentando-se. Mas preciso te contar algo sobre papai, sobre como ele realmente morreu. E então, nos próximos 30 minutos, Simone contou tudo.
Jane Way. Henrique, a manipulação, a verdade que Vinícius carregou por tanto tempo. Lin chorou silenciosamente, segurando a mão da filha. Então, Roberto não foi traído. Ela sussurrou quando Simone terminou. Ele morreu acreditando que Vinícius o traíra, mas não era verdade. Não era. E Vinícius passou 15 anos carregando culpa por algo que não fez. Sim.
Lin fechou os olhos, lágrimas escorrendo pelas bochechas. Que desperdício, que desperdício terrível de vidas e anos e amor. Simone não conseguia discordar. Ficaram sentadas em silêncio por longos minutos, apenas segurando as mãos uma da outra, chorando por um homem que morreu há 15 anos acreditando em mentiras. Finalmente, Lin limpou o rosto e olhou para a filha. Chenway está morto. Está bom.
Não havia perdão naquela palavra. Apenas finalidade. E o que você vai fazer agora? Não sei. Você gosta do Vinícius? A pergunta pegou Simone de surpresa. Eu eu não pensei sobre isso. Mentirosa. Lin deu um meio sorriso. Você sempre pensa demais sobre tudo. Simone soltou um riso molhado. Talvez. Mas é complicado, mãe.
Depois de tudo que aconteceu, a vida é complicada. Lyn a interrompeu. Seu pai e eu enfrentamos complicações. Família me expulsou por casar com o brasileiro. Tivemos dívidas, tivemos perdas, mas também tivemos amor. E amor vale todas as complicações. Você acha que papai aprovaria, Vinícius e eu? Seu pai aprovaria qualquer coisa que fizesse você feliz. Lin disse com certeza.
E eu também. Simone abraçou a mãe, sentindo pela primeira vez em semanas um pouco da pressão aliviar. Obrigada, Buyong Xé. Baobei. De nada, meu tesouro. Mas quando Simone saiu do hospital naquela tarde, não foi para casa, foi para o cemitério onde Roberto Silva estava enterrado. O túmulo era simples, uma lápide de mármore com nome, datas e a inscrição: pai amado, esposo dedicado, amigo leal.
Simone se ajoelhou na grama, colocando as flores que comprara no caminho. “Poi, pai”, ela sussurrou. “Desculpa ter demorado tanto para visitar”. O vento soprou suavemente, balançando as árvores do cemitério. Descobri a verdade sobre como você morreu, sobre quem realmente te traiu. Ela respirou fundo. Vinícius não te abandonou.
Ele foi enganado como você e passou 15 anos tentando fazer o certo. Uma lágrima escorreu. Eu queria que você soubesse disso onde quer que esteja. Queria que soubesse que seu amigo nunca te traiu e que ele me salvou. Salvou a mamãe também do jeito dele. Simone tocou a lápide fria. Acho que você ficaria orgulhoso de mim, de Vinícius, de como enfrentamos Chen Way juntos.
ficou ali por mais uma hora, apenas conversando com o pai, como não fazia há anos, contando sobre a vida, sobre a mãe, sobre as dúvidas e medos. E quando finalmente se levantou para ir embora, Simone sentiu algo que não sentia há muito tempo. Paz, não completa, não permanente, mas um começo. Mas a paz verdadeira ainda exigiria confrontar a última mentira e a mais dolorosa.
Uma semana depois, Vinícius ligou para Simone em uma terça-feira cinzenta. Preciso te mostrar algo ele disse, sem preâmbulo. Pode vir ao escritório. É sobre o caso? É sobre a verdade. O tom dele fez Simone parar. Havia algo ali, um peso que ela reconhecia. Era o mesmo tom que ele usara na madrugada em que se encontraram pela primeira vez naquele escritório, cercados por arquivos sobre Roberto Silva. Vou agora.
Quando Simone chegou a Carvalho Tech, Vinícius a estava esperando no lobby. Ele parecia não ter dormido em dias. Olheiras profundas, barba por fazer, roupas amarrotadas. Você está bem? Ela perguntou. Não ele indicou o elevador. Mas preciso fazer isso antes que perca a coragem. Subiram em silêncio tenso. No escritório dele havia uma caixa de papelão sobre a mesa, velha, desgastada, lacrada, com fita adesiva amarelada.
“O que é isso?”, Simone perguntou. “A pasta completa, tudo que investiguei sobre a morte do seu pai nos últimos 15 anos. Tudo. Vinícius encarou a caixa como se fosse um animal perigoso, incluindo as partes que nunca mostrei para ninguém, as partes que tenho vergonha de admitir. Simone sentiu o estômago apertar.
Vinícius, o que você está tentando dizer? Ele finalmente olhou para ela e Simone viu algo quebrado em seus olhos. Eu menti, não completamente, mas menti por omissão. Ele puxou uma cadeira e se sentou pesadamente. A detetiva te contou sobre Henrique Campos, sobre como ele desviou dinheiro e Chainway matou seu pai para encobrir. Sim, mas há algo que ela não sabe.
Algo que só eu sei porque encontrei em uma conta bancária antiga de Henrique antes de ele ser morto. Simone se aproximou devagar. O quê? Vinícius abriu a caixa e tirou um envelope grosso. Tremendo. Entregou para ela transferências bancárias de Henrique para uma conta offshore, depois dessa conta para outra e dessa para Ele fechou os olhos. Para mim, o mundo de Simone parou.
O quê? Eu recebi parte do dinheiro desviado. Vinícius confessou a voz quebrada. Não sabia na época. Henrique disfarçou como bônus de performance. Eu era jovem, idiota e acreditei. Usei o dinheiro para pagar dívidas pessoais e só descobri a verdade anos depois, quando investiguei mais a fundo. Simone abriu o envelope com mãos tremendo.
Extratos bancários, comprovantes, tudo ali em preto e branco, R$ 100.000, transferidos para a conta de Vinícius Carvalho, três dias antes de Roberto Silva morrer. “Você Você ganhou dinheiro com a morte do meu pai”, ela sussurrou. Eu não sabia. Vinícius explodiu se levantando. Eu juro que não sabia. Quando descobri 5 anos depois, tentei devolver, mas Henrique estava morto. Ch Way tinha desaparecido.
Não havia para quem devolver. Você poderia ter doado. Poderia ter. Eu doei. Ele apontou para outros documentos na caixa, todo centavo, para instituições de caridade, para pesquisa de câncer, para sua mãe. Gastei o triplo tentando compensar.
Mas não muda o fato de que por 5 anos eu vivi com dinheiro manchado de sangue sem saber. Simone sentia náusea, raiva, traição. Por que não me contou antes? Porque sou um covarde. Vinícius admitiu lágrimas nos olhos. Porque tinha medo de te perder. Tinha medo que você me odiasse, que nunca me perdoasse. E você acha que me enganar é melhor? Não. Por isso estou contando agora. Por isso abri essa maldita caixa.
Ele apontou para os documentos. Leva tudo, lê tudo, cada transferência, cada número e depois decide se ainda quer falar comigo. Simone segurou o envelope contra o peito, sentindo o peso físico das mentiras. Você mentiu para mim. Eu omiti e foi errado, totalmente errado. É a mesma coisa. Eu sei.
Vinícius passou as mãos pelo cabelo desesperado. Eu sei e me odeio por isso. Simone olhou para aquele homem que salvara sua vida, que lutara ao lado dela, que ela começara a confiar e viu um estranho. “Preciso ir”, ela disse pegando a caixa. “Simone, por favor, não.” Ela se virou furiosa. “Você não tem direito de pedir nada agora.
Você mentiu, omitiu? É igual ao Chain Way? Não sou igual a ele. Não. Vocês dois usaram minha família. Vocês dois lucraram com a morte do meu pai. A única diferença é que Ching Way foi honesto sobre ser um monstro. As palavras cortaram Vinícius mais profundamente que qualquer ferida física.
Ele cambaleou como se tivesse levado um soco. “Você tem razão”, ele sussurrou. “Você está absolutamente certa.” Simone esperou que ele lutasse mais. implorasse, fizesse algo, mas ele apenas afundou na cadeira, derrotado. “Desculpa”, ele disse para o vazio. “Desculpa por tudo.” Simone saiu batendo a porta. Ela não foi para casa, foi para o único lugar onde podia pensar, o túmulo do pai.
Sentou-se na grama, a caixa de documentos ao lado e chorou. chorou pela traição, pela ingenuidade, por ter começado a confiar em alguém de novo só para descobrir que esse alguém também carregava culpa. “O que eu faço, pai?”, ela perguntou ao túmulo silencioso. “Como eu perdoo isso?” O vento soprou, mas não trouxe respostas.
Simone abriu a caixa e começou a ler cada documento, cada extrato, cada nota explicativa que Vinícius fizera ao longo dos anos e descobriu algo que a detetive não mencionara. Os pagamentos para o tratamento da mãe não começaram há 3 anos como Simone pensava. Começaram há 10 anos.
Antes mesmo de Vinícius descobrir sobre o dinheiro sujo, antes de ele saber que precisava compensar qualquer coisa, ele pagava porque queria, porque se importava, porque carregava culpa de sobrevivente, mesmo quando achava que era inocente. Simone encontrou mais documentos, cartas que Vinícius escrevera, mas nunca enviara, endereçadas a Roberto Silva. Ela leu uma com as mãos tremendo.
Roberto, hoje faz s anos que você se foi. 7 anos carregando o peso de não terte protegido, de não ter acreditado quando disse que algo estava errado. Eu era jovem, estúpido. Achei que você estava paranóico e por isso você morreu. Não sei como compensar. Não sei se é possível compensar uma vida, mas vou tentar todo dia.
Vou tentar ser o homem que você achava que eu era. Desculpa por ter falhado com você, meu amigo Vinícius. Havia dezenas dessas cartas, uma para cada ano, cada uma mais angustiada que a anterior. Simone terminou de ler com lágrimas, escorrendo silenciosamente. Vinícius não era Chen Way. Chen Way matava sem remorço, manipulava sem consciência. Vinícius carregava cada erro como uma cruz, torturava-se, tentava compensar.
Ser imperfeito não é ser monstruoso. Simone percebeu. É ser humano. E ela, que também carregava culpas por não ter alertado Vinícius imediatamente sobre o golpe, por ter escolhido dinheiro sobre verdade, não tinha direito de julgar tão duramente. Mas perdoar, perdoar era muito mais difícil que julgar. Simone voltou para o escritório de Vinícius ao entardecer.
A secretária já havia ido embora. O prédio estava quase vazio. Ela bateu na porta dele. Nenhuma resposta. Abriu devagar. Vinícius estava sentado no escuro, olhando pela janela para a cidade iluminada lá embaixo. “Você leu tudo?”, ele perguntou sem se virar. “Li.” “I.” Simone se aproximou, colocou a caixa de volta sobre a mesa. “Você é um idiota”, ela disse. “Eu sei.
Um idiota que mentiu por omissão. Eu sei. Um idiota que carrega culpas que não deveria carregar sozinho. Vinícius finalmente se virou. Seus olhos estavam vermelhos. Eu não esperava perdão. Bom, porque eu ainda não te perdoo completamente. Simone cruzou os braços. Vai levar tempo, muito tempo. Eu entendo. Mas ela hesitou.
Eu li suas cartas para o meu pai e eu acho acho que ele te perdoaria eventualmente. Você acha? Sei que sim. Simone se sentou na cadeira em frente a ele, porque meu pai acreditava que pessoas podiam mudar, que erros não definiam alguém eternamente, que redenção era possível. “E você acredita nisso?”, Simone pensou.
Pensou em Cha, que nunca buscou redenção. Pensou em Dr. Mendes, que morreu encontrando a sua. Pensou em Vinícius, que passara 15 anos tentando. Estou aprendendo a acreditar, ela finalmente disse. Vinícius deixou escapar um suspiro que parecia carregar anos de peso. Obrigado. Não me agradeça ainda. Tenho condições.
Quais? Primeira, nunca mais me omita nada, nem que seja difícil, nem que machuque. Verdade. Sempre prometido. Segunda, você vai à terapia, sério, porque ninguém deveria carregar tanto peso sozinho. Vinícius quase sorriu. Essa é fácil. Já marquei sessões. Terceira. Simone respirou fundo. Precisamos redefinir o que somos. Amigos, parceiros, não sei. Mas precisa ser honesto, sem expectativas não ditas.
Somos sobreviventes”, Vinícius disse suavemente. “das pessoas que passaram por algo terrível juntas e saíram do outro lado. O que isso significa? Podemos descobrir aos poucos.” Simone assentiu. Era justo. Era honesto. Aos poucos. Eles ficaram sentados no escritório escurecido, não dizendo mais nada, apenas existindo no mesmo espaço, sem peso de mentiras entre eles.
Era um começo, não um final feliz, não ainda, mas um começo. Fat, às vezes começos honestos valem mais que finais perfeitos. Dois meses depois, a vida voltou a algo parecido com normalidade. Simone conseguira um contrato fixo com uma grande multinacional, interpretando em conferências corporativas.
O pagamento era bom o suficiente para alugar um apartamento melhor e ainda sobrar para o tratamento da mãe. Lin estava em remissão. Os cabelos cresciam devagar, mas cresciam. Ela sorria mais, reclamava da comida do hospital menos. E Simone? Simone estava aprendendo a dormir sem pesadelos na maior parte das noites, pelo menos. Vinícius e ela mantinham contato.
Cafés ocasionais, mensagens de texto, nada romântico, nada pressurizado, apenas dois sobreviventes aprendendo a ser amigos sem trauma, forçando proximidade. Era agradável. Simone estava saindo de mais uma sessão de trabalho em uma tarde de sexta-feira quando o celular tocou, número desconhecido.
Normalmente ela ignoraria, mas algo, instinto, paranoia, memória muscular de dias ruins, a fez atender. Alô. Silêncio. Depois respiração pesada. Simone Lin Silva, uma voz distorcida, disse, eletronicamente alterada. Impossível identificar. Você pensou que acabou, mas não acabou. O sangue de Simone congelou. Quem é você? Um amigo do Chain? Ou devo dizer um parceiro de negócios.
Você realmente achou que ele trabalhava sozinho? O estômago afundou. Não, não, não. Ch Way está morto, mas seus planos não. E você? Você e aquele idiota do Vinícius custaram muito dinheiro a muitas pessoas importantes. A voz fez uma pausa. É hora de pagar. Vai se Simone cuspiu desligando. O celular tocou de novo, mesmo número. Ela atendeu, furiosa.
Eu disse: “Olha para sua esquerda.” Simone pausou, virou a cabeça. Do outro lado da rua, um homem de terno escuro segurava um celular, olhando diretamente para ela. Ele acenou. Simone correu. Correu mais rápido do que jamais correra, zigu-zagueando entre pessoas na calçada lotada. Entrou em uma loja, saiu pela saída de emergência, virou duas esquinas, entrou no metrô.
Só quando estava dentro do vagão lotado, prendendo-se entre dezenas de corpos suados, sentiu-se minimamente segura. Ligou para Vinícius. Ele atendeu no segundo toque. Simone, tem mais gente. Ela ofegou. Chen Way tinha parceiros. Eles estão me seguindo. Onde você está? Metrô, linha vermelha. Indo para não sei longe. Desce na próxima estação.
Vou te buscar. Me manda à localização, Vinícius. E se eles te pegarem também? Então enfrentamos juntos. Sua voz era aço. Como da última vez. Eles se encontraram na estação Sé. Vinícius chegou com um motorista, um segurança particular que ele contratara depois de Chen Way. Para onde? O segurança perguntou. Delegacia. Vinícius disse, detetive Márcia.
Mas quando chegaram, Márcia tinha notícias ruins. “Senão podemos oferecer proteção policial sem ameaça concreta”, ela explicou. “Um telefonema anônimo não é suficiente. Ele me seguiu.” Simone protestou. “Você tem foto, vídeo? Algo que prove?” Simone não tinha. Estava apavorada demais para pensar em gravar. “Olha, Márcia suspirou.
Oficialmente minhas mãos estão atadas. Não oficialmente. Vocês dois fizeram muitos inimigos. Chen Way não trabalhava sozinho. Ele tinha contatos. Pessoas que perderam dinheiro quando a operação foi exposta. E o que fazemos, Vinícius perguntou? Ficam juntos, lugares públicos, contratar segurança particular, se puderem. E ao primeiro sinal de perigo real ligam para mim. Eu corro tudo que for necessário.
Não era o que queriam ouvir, mas era tudo que tinham. Vinícius insistiu que Simone ficasse na casa dele. Uma cobertura com segurança, 24 horas. Câmeras, portaria rigorosa. É temporário. Ele garantiu, até descobrirmos quem está te ameaçando. E a minha mãe, ela está no hospital sozinha. Já coloquei seguranças no quarto dela. Dois em turnos.
Simone queria discutir sobre aceitar mais ajuda dele, sobre ficar vulnerável de novo, mas estava cansada de orgulho. Obrigada. Não precisa agradecer. A cobertura era bonita, minimalista, muito Vinícius. Simone ficou no quarto de hóspedes trancando a porta por hábito antes de lembrar que estava segura ali, ou pelo menos mais segura que na rua.
Ela não dormiu naquela noite, apenas ficou deitada, encarando o teto, ouvindo cada ruído do apartamento e se perguntando se estaria segura em algum lugar. Pela manhã, Vinícius bateu na porta do quarto. Café da manhã e notícias. Simone saiu ainda de pijamas emprestados dela comprados rapidamente em uma farmácia 24a. Que notícias! Meu pessoal de segurança cibernética rastreou o número que te ligou ontem. Vinícius serviu café.
É um celular descartável comprado há três dias, mas conseguimos triangular a área de onde a ligação foi feita. Onde, Berrini? Perto do meu prédio. Eles estão perto ou estavam? Pode ter sido só intimidação, ou pode ser que estejam planejando algo. Vinícius não discordou. Comeram em silêncio tenso. Simone mexia na comida mais do que comia.
Não vai acabar nunca, ela perguntou de repente. Toda vez que achamos que está seguro, aparece outra ameaça. Vai acabar. Vinícius disse com convicção. Porque dessa vez não vamos esperar eles atacarem. Vamos atacar primeiro. Como? Infiltração. Ele se levantou pegando um tablet. Se Shaneway tinha parceiros, eles estão escondidos. Mas deixaram rastros. Sempre deixam. Que eu tenho recursos que a polícia não tem.
Você está falando de contratar hackers? Estou falando de usar toda a ferramenta disponível. Seus olhos eram duros. Legal ou não tão legal? Simone deveria ter protestado. Deveria ter dito que era errado, que acabariam presos. Mas depois de meses de medo, depois de quase morrer múltiplas vezes, depois de ver Dr.
Mendes cair para salvá-la, faça ela disse, faça o que for necessário. Os próximos dias foram uma combinação estranha de rotina doméstica e operação paramilitar. Simone ia trabalhar com seguranças discretos. Vinícius contraou hackers para vasculhar comunicações relacionadas a Chenway.
Eles comiam jantar juntos e discutiam estratégias como se fosse normal planejar contra-ataques a criminosos e lentamente conseguiram resultados. Um hacker encontrou e-mails criptografados entre Chainway Way e alguém conhecido apenas como sócio L. As mensagens eram vagas, mas mencionavam 50 milhões e vingança contra Carvalho. Sócio L. Simone repetiu. L de quê? Lin, Vinícius sugeriu outro parente seu. Não sei.
Minha mãe disse que cortou o contato com todos depois de casar com meu pai. Ou poderia ser sobrenome, Lóz, Lima, ou poderia ser nome de código aleatório. Eles não chegaram a conclusões, mas tinha mais informação que antes. Então, na quinta noite de Simone na cobertura, tudo mudou.
Ela estava tomando banho quando ouviu gritos, barulho de móveis quebrando, tiros. Simone saiu do box agarrando uma toalha, o coração disparado, pegou o telefone para ligar pra polícia. Sem sinal, bloqueador de sinal. Ela percebeu. Eles estão aqui. Trancou a porta do banheiro, procurando desesperadamente por armas. Encontrou um secador de cabelo. Patético, mas era algo. Vozes no corredor em Mandarim, o quarto de hóspedes. Ela está lá.
Passo se aproximando. Simone olhou ao redor freneticamente. Janela 12º andar. Queda mortal. A porta explodiu com um chute. Dois homens mascarados entraram. Um deles agarrou Simone antes que pudesse gritar. Quieta ele sussurrou em português. Ou seu namorado morre. Eles a arrastaram para a sala.
Vinícius estava no chão, sangrando de um corte na testa, dois homens apontando armas para ele. E no centro da sala, sentado calmamente em uma poltrona, como se fosse o dono do lugar, estava um homem de aproximadamente 60 anos, cabelos grisalhos, perfeitamente penteados, terno caro, sorriso frio. “Senrita Silva”, ele disse em português impecável. E Sr.
Carvalho, que prazer finalmente conhecê-los pessoalmente. Quem é você? Vinícius cuspiu sangue. Me chamem de sócio L. O homem cruzou as pernas elegantemente. Vim cobrar uma dívida. Simone lutou contra quem assegurava, mas era inútil. “Chane Way está morto”, ela disse. Não devemos nada. Ah, mas devem. 50 milhões para ser exato. Mais juros.
Sócio pegou um copo de whisky do próprio bar de Vinícius e tomou um gole. Cha Way era meu parceiro. Investimos juntos naquela operação. Quando ele morreu, o prejuízo foi meu. Você é criminoso, Vinícius disse. Não tem direitos legais sobre nada. Direitos legais? Sócio riu. Querido rapaz, quem está falando de legal? Estou falando de consequências. Ele fez um gesto.
Um dos homens pressionou a arma contra a têmpora de Vinícius. Vocês têm 24 horas, transferem 50 milhões para esta conta. Ele deslizou um papel sobre a mesa. Ou começo a matar pessoas que vocês amam. A mãe doente no hospital parece um bom começo. Simone sentiu Billy subir pela garganta. Não temos 50 milhões ela gritou. Então conseguem.
Sócio se levantou. Vendam propriedades, empresas, o que for necessário, ou enterram pessoas. Ele caminhou até a porta. Os homens começando a se retirar. Ah, sócio pausou na saída. E não pensem em chamar a polícia. Tenho olhos em todo lugar, inclusive na delegacia. Qualquer movimento errado. E a viúva Lin Silva tem um trágico acidente hospitalar.
Entendido? Simone e Vinícius não responderam, apenas encararam com ódio puro. Excelente. 24 horas. Não me decepcionem. E então saíram, deixando para trás um apartamento destruído, e dois sobreviventes que perceberam estar mais longe da liberdade do que nunca. A armadilha não estava se fechando, já estava fechada e dessa vez não havia saída. Assim que os criminosos saíram, Vinícius correu para o telefone fixo, linha morta.
Tentou o celular sem sinal ainda. Bloquearam tudo ele murmurou, limpando o sangue da testa. Equipamento militar. Simone estava tremendo, ainda segurando a toalha ao redor do corpo. Vinícius pegou um roupão e estendeu para ela. Vista isso. Precisamos sair daqui. Para onde? Ele disse que tem olhos em todo lugar. Então vamos para onde ele não espera.
Vinícius abriu um painel secreto na parede que Simone nem sabia que existia, revelando um pequeno cofre. De dentro tirou dinheiro, passaportes e dois celulares ainda lacrados. Telefones limpos comprados há meses como precaução. Você planejou isso? Depois de Chen Way planejei para toda a eventualidade. Ele ativou um dos aparelhos. Vista-se rápido. 5 minutos.
Simone correu para o quarto, colocou as primeiras roupas que encontrou e voltou. Vinícius já estava com uma mochila pronta. Saímos pela garagem. Tenho um carro reserva que ninguém sabe, nem o sócio L. E depois? Depois vamos para o único lugar onde podemos nos reunir com alguém em quem confio. Alguém que pode nos ajudar. Quem? Você vai ver.
Eles saíram do prédio usando as escadas de serviço. A garagem estava estranhamente vazia. Os seguranças haviam sumido. Mortos, pagos. Simone não queria saber. O carro reserva de Vinícius era um sedã velho, discreto, registrado em nome de uma empresa fantasma, perfeito para passar despercebido.
Enquanto Vinícius dirigia pelas ruas escuras de São Paulo, Simone ligou um dos celulares limpos. “Vou ligar para a detetive Márcia”, ela disse. “Não, ele disse que tem olhos na delegacia. E você acredita?” “Não posso arriscar não acreditar”. Vinícius virou em uma rua lateral. Chain Way tinha contatos na polícia, sócio L provavelmente também.
Então estamos completamente sozinhos? Não, eu disse que conheço alguém que pode ajudar. 20 minutos depois, pararam em frente a um prédio residencial modesto na zona leste. Vinícius tocou o interfone. “Quem é?” Uma voz idosa atendeu. Sou eu. Preciso de ajuda. Pausa. Então um suspiro. Sobe. A porta do apartamento se abriu, revelando um homem de aproximadamente 70 anos.
Baixo, cabelos completamente brancos, mas olhos afiados como navalhas. Ele usava roupão e chinelos. “Vinicius Carvalho”, ele disse sem emoção. “Não nos falamos há quanto?” “Cos?” “Seis. Desculpa aparecer assim, coronel.” “Excoronel.” O homem olhou para Simone e você trouxe companhia. Simone Silva. Simone, este é o coronel Tavares, força nacional aposentado, especialista em operações encobertas. O coronel estudou Simone da cabeça aos pés.
Silva, você é parente do Roberto Silva, aquele que morreu em 2010. Simone piscou surpresa. Era meu pai. O senhor o conhecia? Conheci. Bom homem. Ele abriu mais a porta. Entrem antes que os vizinhos comecem a fazer perguntas. O apartamento era espartano, funcional. Mapas nas paredes, computadores antigos, uma estante cheia de manuais militares. Café, Tavares ofereceu.
Não temos tempo, Vinícius disse, coronel, estamos sendo estorquidos. 50 milhões em 24 horas ou pessoas que amamos morrem. Tavares serviu café mesmo assim, ignorando a urgência. Quem? Alguém que se identifica como sócio parceiro de um criminoso chinês brasileiro chamado Chen Way. Chenway. Tavares franziu a testa. Conheço esse nome. Caso antigo.
Fraudes em Shangai. Extorão. Desapareceu do radar há 15 anos. Ele voltou, tentou nos matar, morreu no processo e agora o sócio dele quer vingança financeira. Tavares assentiu. Clássico. Vocês chamaram a polícia? Ele diz ter informantes lá dentro. Provavelmente tem corrupção na corporação não é novidade. Tavares tomou um gole do café.
E vocês querem o quê? Que eu mate o sujeito? Simone arregalou os olhos. Não, queremos queremos que nos ajude a expor ele legal e publicamente. Legal. Tavares riu sem humor. Menina, se ele tem 50 milhões em jogo e recursos para invadir uma cobertura de luxo, ele não vai cair no sistema legal facilmente. Mas deve ter alguma forma. Tem.
Tavares colocou a xícara na mesa, mas não é bonita e não é totalmente legal. Vinícius se inclinou para a frente. Estou ouvindo. Tavares explicou o plano pelos próximos 30 minutos. Era arriscado. Beirava o ilegal em vários pontos. Mas era a única chance. Vocês vão precisar de gravações ele disse. Confissões claras e testemunhas que não possam ser compradas.
Como fazemos isso? Fingem que vão pagar. marcam reunião para transferência. Eu coloco equipamento de gravação de última geração, militar, não detectável por scanners comuns. E enquanto ele se gaba da vitória, nós capturamos tudo. E se ele simplesmente nos matar depois de pegar o dinheiro? Aí entra minha equipe. Tavares abriu um laptop velho.
Tenho ex-militares que me devem favores. Homens que não estão mais em serviço ativo, mas ainda sabem atirar. Posicionamos eles ao redor da reunião. Ao primeiro sinal de problema, eles invadem. Isso é uma operação paramilitar, Simone disse incrédula. É sobrevivência. Tavares corrigiu. E considerando que vocês têm menos de 20 horas agora, é também a única opção. Vinícius olhou para Simone. Sua decisão.
Você está mais exposta que eu. É sua mãe que está ameaçada. Simone pensou. pensou na mãe no hospital, em Dr. Mendes morrendo para salvá-la, em todas as pessoas que já haviam sido machucadas por causa dessa guerra que ela nunca pediu para lutar. “Fazemos,”, ela disse, “mas com uma condição.
Qual?”, Tavares perguntou. Ninguém mais morre, nem criminosos. Prendemos, gravamos, entregamos paraa justiça, mas não matamos. Tavares a estudou por um longo momento. Você é idealista, como seu pai era. É errado querer fazer o certo? Não é errado, só é difícil. Ele suspirou. Mas tudo bem. Minha equipe vai ter ordens de não atirar, a menos que seja absolutamente necessário para salvar vidas. Acordo.
Acordo às 7 da manhã, com menos de 15 horas para o prazo, Vinícius mandou uma mensagem para o número que sócio L deixara. Concordo com os termos. Preciso de tempo para liquidar ativos. Transferência será feita às 18 horas hoje. Local neutro de minha escolha. A resposta veio 3 minutos depois. Aceito. Mas o local será inspecionado.
Qualquer armadilha e as consequências serão imediatas. Vinícius respondeu com o endereço. Um galpão abandonado na região portuária. Longe o suficiente para não ter testemunhas civis. espaçoso o suficiente para esconder a equipe de Tavares. E se ele não aceitar? Simone perguntou. Vai aceitar. Tavares disse com confiança.
Homens como ele são arrogantes. Acham que já ganharam. Essa arrogância vai ser a queda dele. O dia se arrastou em preparação frenética. Tavares coordenou sua equipe. Cinco ex-militares, todos com históricos limpos, mas habilidades letais. Eles chegaram em horários diferentes, usando roupas de trabalhadores portuários, carregando equipamentos em caixas marcadas como peças automotivas.
Vinícius hackiou o sistema bancário da própria empresa, criando uma ilusão de transferência. Números que pareciam reais, mas que não moveriam um centavo de verdade. Seria suficiente para enganar sócio L por alguns minutos. Tempo suficiente para gravarem a confissão. Simone visitou rapidamente a mãe no hospital.
acompanhada por um dos homens de Tavares, disfarçado de enfermeiro. “Bai, você está pálida”, lindice, preocupada. “Só cansada, mãe?” Simone beijou a testa dela. “Mas tudo vai melhorar, prometo. Você está me escondendo algo. Estou te protegendo de algo. É diferente.” Lin segurou a mão da filha com força surpreendente. “Seja cuidadosa, por favor, sempre.
Mentira! Mais uma mentira necessária. Às 17:30, Simone e Vinícius estavam no galpão. Era vasto, vazio, com teto alto e janelas quebradas, deixando entrar a luz dourada do fim de tarde, perfeito para emboscadas de ambos os lados. Tavares e sua equipe estavam escondidos em posições estratégicas atrás de contêineres enferrujados no mesanino, em um veículo estacionado do lado de fora.
Teste de áudio. Tavares falou no fone minúsculo no ouvido de Simone. Recebendo, ela sussurrou de volta. Vinícius usava um transmissor ainda mais sofisticado, camuflado como um relógio comum, impossível de detectar sem equipamento específico. Lembrem-se, Tavares instruiu, deixem ele confessar, sobre Chainway, sobre extorção, sobre qualquer crime. Quanto mais ele falar, melhor.
E se ele simplesmente nos matar? Vinícius perguntou: “Não vai. Ele quer o dinheiro primeiro e depois? Depois nós o impedimos. Não era reconfortante, mas era tudo que tinham. Às 17:55, um comboio de três SUVs pretos chegou. Homens armados saíram primeiro, verificando o perímetro. Então, do veículo do meio, sócio L emergiu. Ele usava o mesmo terno caro de ontem.
Sorria como se estivesse em um almoço de negócios casual. “Senr Carvalho, senrita Silva.” Ele abriu os braços como recebendo velhos amigos. Que prazer! E pontuais. Adoro pontualidade. Vamos terminar logo com isso, Vinícius disse, segurando um tablet. A transferência está pronta, 50 milhões, mas preciso de garantias. Garantias? Sócio riu.
Você está sendo estorquido e quer garantias? garantia de que não vai machucar a mãe dela depois de receber o dinheiro. Ah, isso, sócio acenou casualmente. Claro, claro. Desde que vocês não causem problemas, a viúva Lin vive seus últimos dias em paz. Isso é, como dizem, win win. Ótimo. Então confirme.
Você está recebendo 50 milhões para esquecer toda essa história sobre Chang Way e o golpe que ele planejou. Sócio pausou. Seus olhos se estreitaram. Por que você quer que eu confirme isso em voz alta, Sr. Carvalho? Apenas clareza, para ambos sabermos os termos. Ou sócio L. Deu um passo para trás, fazendo um gesto. Seus homens apontaram armas. Ou você está tentando me gravar. Merda. Revista eles.
Sócio ordenou. Dois capangas agarraram Vinícius e Simone, revistando brutalmente. Encontraram o transmissor no relógio de Vinícius. Olha só. Sócio pegou o dispositivo e o esmagou sob o sapato. Achou que eu seria estúpido? Achou que não verificaria? Valeu a tentativa, Vinícius disse, tentando soar calmo, apesar do terror. Realmente valeu. Sócio L sacou uma arma.
E agora vocês vão morrer por isso. Mas primeiro ele apontou para Simone. Primeiro vou ligar para o hospital e dar uma ordem, uma ordem muito desagradável sobre a paciente do quarto 304. Não! Simone!” gritou. Sócio sorriu e pegou o celular. Foi quando Tavares e sua equipe atacaram. Portas explodiram, janelas quebraram.
Homens de preto invadiram de todas as direções, gritando: “No chão, armas no chão! Agora! Caos absoluto. Os capangas de sócio l dispararam. A equipe de Tavares revidou. Balas ricochetearam nas paredes de metal. Vinícius derrubou Simone e se jogou sobre ela, protegendo-a com o próprio corpo. “Fica baixa!”, ele gritou. Sócio L correu para um dos SVs, disparando enquanto recuava.
Atingiu um dos homens de Tavares no ombro, mas foi impedido por Tavares em pessoa que emergiu de trás de um contêiner com uma escopeta. “Federal, solta a arma! “Você não é polícia.” Sócio cuspiu. “Mas eu sou.” Uma voz feminina disse. Todos congelaram. Da entrada do galpão, com colete à prova de balas e distintivo erguido, estava a detetive Márcia Tavares, seguida por uma dúzia de policiais federais.
Márcia Tavares, o coronel, piscou. O que você está fazendo aqui? Meu trabalho, pai. Ela respondeu sec. Recebemos denúncia anônima de operação paramilitar ilegal. Imagine minha surpresa ao descobrir que você está envolvido. Vocês são parentes? Simone ofegou ainda no chão. “Complicado”, os dois Tavares disseram em uníssono.
Sócio L tentou aproveitar a confusão e correr, mas foi derrubado por um policial e algemado antes de dar três passos. Luciano Ferreira Lima. Márcia leu enquanto revirava os bolsos dele. Vulgo, sócio L. Procurado por extorção, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Quantos anos eu te procurei, Luciano? Não
sei do que está falando. Ele cuspiu. Não. Bom, eu tenho gravações. Márcia mostrou um celular. Vocês acharam que só o Vinícius estava gravando? Eu plantei escuta no galpão 3 horas antes de vocês chegarem. Tenho cada palavra que você disse, cada ameaça, cada confissão. A expressão de sócio L desmoronou. Impossível. possível quando você subestima policiais federais. Márcia olhou para o pai.
E quando você tem um pai teimoso que te liga pedindo ajuda, Off the Record, porque não confia no próprio departamento? O coronel Tavares deu um meio sorriso. Você sempre foi a mais esperta da família. Aprendi com o melhor, infelizmente. Enquanto os policiais algemavam sócio L e seus capangas, Vinícius ajudou Simone a se levantar. Ambos estavam cobertos de poeira e suor, mas vivos. Acabou? Simone perguntou quase sem acreditar.
Acabou, Vinícius confirmou. Mas então sócio gritou já sendo empurrado para a viatura. Vocês pensam que acabou? Chen Way tinha mais parceiros, mais pessoas que vão querer vingança. Isso nunca acaba. Márcia deu um tapa na nuca dele. Cala a boca. E então para Simone e Vinícius, ela disse: “Ele está blefando. Investigamos”. Chain Way tinha dois parceiros. Um era o Luciano.
O outro morreu há três anos de cirrose. Não há mais ninguém. Vocês estão seguros de verdade desta vez. Simone sentiu as pernas fraquejarem. Vinícius assegurou antes que caísse. Respirem, Márcia ordenou gentilmente. Vocês sobreviveram. Está terminado. E pela primeira vez em meses, Simone acreditou.
Mas sobreviver era apenas metade da jornada. Agora precisavam aprender a viver de novo. Uma semana depois, o julgamento de Luciano, sócio L. Ferreira Lima, foi rápido. Com as gravações, testemunhos e a confissão inadvertida capturada pela Polícia Federal, não havia muito o que defender. 25 anos, sem possibilidade de liberdade condicional pelos primeiros 10.
Simone estava na plateia quando a sentença foi lida. Vinícius ao seu lado, Lin Chin Silva, agora forte o suficiente para sair do hospital em cadeira de rodas, no corredor, assistindo por videoconferência. Quando Luciano foi levado algemado, ele olhou diretamente para Simone. Não havia raiva em seu olhar, apenas cansaço, derrota absoluta.
Simone deveria sentir satisfação, vitória, mas só sentia vazio. Justiça fora feita, mas não trazia de volta Dr. Mendes, não apagava os traumas, não curava as cicatrizes. “Está bem”, Vinícius sussurrou. Vou estar”, ela respondeu. E pela primeira vez acreditou nisso de verdade. Mas três dias depois, quando Simone pensava que finalmente podia respirar, seu mundo foi abalado mais uma vez.
Vinícius a chamou para uma reunião urgente. Não no escritório, em um café pequeno, discreto, longe de tudo. “O que aconteceu?”, ela perguntou ao sentar. Vinícius parecia não ter dormido novamente. Havia papéis sobre a mesa entre eles. A defesa de Luciano quis fazer um acordo. Ele começou. Redução de pena em troca de informações sobre Chain Way e as operações dele.
E E ele contou algo, algo sobre a morte do seu pai que Vinícius passou a mão pelo rosto. Que muda tudo. O estômago de Simone afundou. Mudança como Vinícius empurrou os papéis para ela. Eram transcrições de interrogatório. Simone começou a ler e quanto mais lia, mais o chão parecia desaparecer sob seus pés. Luciano Ferreira Lima. Depoimento. Cha Way não agiu sozinho na morte de Roberto Silva.
Ele tinha ordens, ordens diretas de alguém dentro da Tech Vision Solutions. Alguém que queria Roberto morto porque ele descobriu não apenas o desvio de Henrique Campos, mas outro esquema. muito maior. Envolvendo, Simone parou de ler, olhou para Vinícius, que evitava seu olhar. Não ela sussurrou. Não pode ser. Leia até o fim.
Com mãos tremendo, ela continuou envolvendo transferências internacionais fraudulentas que Vinícius Carvalho estava fazendo há meses. Roberto descobriu e confrontou Vinícius. Disse que ia à polícia. Foi quando Vinícius, desesperado, pediu ajuda para Chan através de Henrique. Chan ofereceu solução. Eliminar Roberto e fazer parecer acidente. Vinícius pagou 100.
000 pela solução. Chen Way guardou provas disso. Eu vi os comprovantes. Simone deixou os papéis caírem. Isso, isso é mentira”, ela disse, mas a voz saiu sem convicção. “Eu queria que fosse.” Vinícius finalmente a encarou e havia lágrimas em seus olhos. Deus, eu queria que fosse. Mas Luciano entregou os documentos, comprovantes de transferência, e-mails, gravações de chamadas. “Não.
” Simone se levantou bruscamente, derrubando a cadeira. “Você mentiu para mim de novo. Você disse que não sabia que Chen Way ia matar meu pai. Eu não sabia. Vinícius também se levantou. Eu pedi ajuda para resolver o problema. Achei que seria intimidação, chantagem no máximo. Eu tinha 23 anos, Simone. Estava endividado até o pescoço. Fiz escolhas terríveis por desespero.
Você pagou R$ 100.000 para resolver meu pai. Eu nunca pedi para matarem ele. A voz de Vinícius rachou. Quando descobri que Chane Way tinha matado Roberto, entrei em pânico, quis ir à polícia, mas Chan me chantageou. Disse que tinha provas do pagamento, que eu seria preso como mandante.
Eu era covarde demais para arriscar. Simone sentiu como se estivesse sendo despedaçada por dentro. Então, então você foi cúmplice, de verdade? Não, indiretamente. Você pagou. Eu paguei para um problema desaparecer. Eu não especifiquei como eu não. Vinícius cobriu o rosto com as mãos. Deus, eu não pensei que seria assassinato.
Mas foi, Simone, gritou, não se importando que outras pessoas no café estavam olhando. Meu pai morreu por sua culpa. Eu sei Vinícius gritou de volta. Você acha que não sei disso? Você acha que passei 15 anos investigando por quê? por culpa, por ter sido o covarde que colocou tudo em movimento. E você mentiu para mim sobre isso, porque tinha medo de te perder. Ele sussurrou.
Porque você é a única coisa boa que sobrou dessa tragédia toda e eu sou egoísta o suficiente para querer te manter perto, mesmo não merecendo. Simone o encarou. Aquele homem que ela começara a confiar, que ela começara a Não, ela não podia pensar nisso agora. Você vai preso? Ela perguntou prática. Promotoria está avaliando. Luciano não tem todas as provas que alega.
Algumas foram destruídas por Chainway. Pode ser que arquivem por falta de evidências concretas ou pode ser que me processem por homicídio qualificado. E o que você quer que eu faça com essa informação? Nada. Vinícius disse simplesmente. Só queria que você soubesse a verdade. Toda ela, sem mais omissões.
Simone pegou a bolsa. Preciso ir, Simone. Não, não fala, só me deixa processar sozinha. Ela saiu do café sem olhar para trás, mesmo ouvindo Vinícius a chamar. Simone foi direto para o cemitério, ajoelhou-se no túmulo do pai e chorou. Chorou por todas as mentiras, por todas as traições, pela ingenuidade de ter acreditado que poderia confiar de novo. “Papai”, ela soluçou. “Eu não sei o que fazer.
Ele matou você não diretamente, mas foi culpa dele. E eu eu estava começando a gostar dele. Como isso é possível? Como eu posso gostar de alguém que destruiu nossa família? O vento soprou, balançando as árvores. Me diz o que fazer, por favor. Mas túmulos não respondem. Apenas seguram silêncio. Simone ficou ali até o sol se pôr, até suas lágrimas secarem, até o celular tocar pela décima vez. Vinícius tentando ligar. Ela finalmente atendeu.
O quê? A promotoria decidiu. Vão me processar. Julgamento começa em duas semanas. Sua voz era distante, resignada. Simone, há algo que você precisa saber, algo que vai decidir meu destino. O quê? A promotora quer você como testemunha principal. Você esteve presente em várias conversas relevantes. Seu testemunho pode me condenar ou absolver. O coração de Simone parou.
Você está dizendo que meu testemunho decide se você vai paraa cadeia? Sim. E você me conta isso. Por quê? Porque você merece saber o poder que tem. Vinícius respirou fundo. E porque não importa o que decida, não vou te culpar. Se testemunhar contra mim, vai ser o que mereço. Se testemunhar a meu favor, seria uma misericórdia que não mereço.
Vinícius, só uma coisa eu peço. Ele a interrompeu. Seja honesta. Não minta nem para me ajudar, nem para me destruir. Apenas fale a verdade como você vê. É tudo que peço. E então desligou. Simone ficou ali no cemitério escuro, segurando um telefone morto e uma decisão impossível. Na manhã seguinte, procurou a mãe.
Lin estava em casa agora, na casa de Simone, já que não podia morar sozinha ainda. Estava sentada na varanda tomando chá, observando a cidade acordar. Baobei! Ela sorriu ao ver a filha, mas o sorriso murchou quando viu a expressão de Simone. O que aconteceu? Simone contou tudo. A revelação de Luciano, a culpa de Vinícius, o julgamento iminente, a decisão impossível.
Lin ouviu em silêncio absoluto. Quando Simone terminou, ficaram sem falar por longos minutos. Finalmente Lin disse: “O que seu coração diz? Que eu deveria odiá-lo, que ele merece cadeia. E o que mais?” Simone hesitou. Que que ele passou 15 anos tentando compensar, que ele salvou minha vida, que ele é humano. Falho, mas humano. Lin assentiu.
Seu pai era assim também. O quê? Humano? Falho. Lin olhou para o horizonte. Ele cometeu erros, Simone. Muitos. Fez escolhas ruins nos negócios. Confiou em pessoas erradas, mas ele sempre tentou consertar, sempre tentou ser melhor. Vinícius não é papai, não é? Mas carrega a mesma culpa que seu pai carregaria se os papéis fossem invertidos. Lin olhou para a filha.
A pergunta não é se Vinícius merece perdão. A pergunta é: Você consegue viver com a verdade do que ele fez? E consegue viver com qualquer decisão que tomar sobre isso? Simone pensou e pensou e pensou e finalmente teve sua resposta. O julgamento seria o palco final. E Simone estava prestes a tomar a decisão mais importante de sua vida.
Duas semanas depois, o tribunal estava lotado. Jornalistas nas primeiras fileiras, curiosos nos fundos. Vinícius sentado na mesa da defesa com um advogado público. Ele recusara contratar um dos caros, dizendo que não merecia privilégios. Simone estava na área de testemunhas, esperando ser chamada. A promotora, uma mulher severa de aproximadamente 50 anos, apresentou o caso metodicamente: Comprovantes de transferência, testemunho de Luciano, cronologia dos eventos.
O réu Vinícius Carvalho contratou um assassino para eliminar seu sócio, Roberto Silva. Ela declarou. Pode não ter puxado o gatilho, mas financiou a execução. Isso o torna tão culpado quanto o executor. A defesa argumentou. Meu cliente, jovem e desesperado na época pediu ajuda para resolver um problema. Não especificou violência, não ordenou morte.
Ch We, criminoso conhecido, agiu por conta própria e depois chantageou meu cliente por 15 anos. Vinícius Carvalho é vítima tanto quanto culpado. Eles apresentaram provas da investigação de Vinícius, os pagamentos à família de Roberto, as tentativas de expor Chen Way. Este é um homem buscando redenção.
O advogado concluiu. Não absolvição, redenção. Então foi a vez de Simone ser chamada. Ela subiu ao estrado, jurou dizer a verdade e sentou-se. A promotora se aproximou. Senrita Silva, você é filha de Roberto Silva, correto? Sim, e desenvolveu relacionamento pessoal com o réu durante as investigações sobre a morte de seu pai.
Sim, poderia descrever esse relacionamento? Simone olhou para Vinícius. Ele a encarava com resignação tranquila, como se já tivesse aceitado qualquer destino. Começou como desconfiança, Simone disse honestamente. Depois virou aliança por necessidade. Combatemos Chen Way juntos. Ele salvou minha vida.
Eu salvei a dele e quando descobriu que ele financiou a morte de seu pai, fiquei devastada, traída, furiosa. Continua sentindo isso? Simone pausou. A sala inteira estava em silêncio, esperando. Sim e não. Ela finalmente disse. A promotora franziu a testa. Explique sim, porque a dor não desaparece. Meu pai está morto. Nada que Vinícius faça traz ele de volta.
Mas não, porque Simone respirou fundo, porque vingança não traz paz. E Vinícius passou 15 anos se torturando. Ele não fugiu, não se escondeu. Enfrentou suas culpas do único jeito que sabia, tentando compensar. Então você perdoa o réu? Não sei se perdoar é a palavra certa, Simone admitiu, mas entendo que ele não é monstro.
É um homem que fez escolhas terríveis quando jovem e passou a vida tentando consertar. Isso não o absolve, mas humanamente, sim, eu o vejo como humano, falho, mas humano. A promotora não pareceu satisfeita, mas a sentiu sem mais perguntas, a defesa se aproximou. Senrita Silva, em sua opinião, Vinícius Carvalho representa perigo à sociedade? Não, ele demonstrou remorço genuíno.
Sim, mais do que qualquer pessoa que já conheci. Se ele fosse condenado à prisão, você acredita que seria justo? Simone pensou cuidadosamente: “Acredito que seria legal. Não sei se seria justo, mas entendo que a lei precisa ser aplicada. E se for, aceito.” O advogado a sentiu satisfeito. Sem mais perguntas. Simone desceu do estrado.
Quando passou por Vinícius, ele sussurrou: “Obrigado.” Ela não respondeu, apenas continuou andando. O júri deliberou por 6 horas. Quando voltaram, a tensão na sala era palpável. Quanto ao crime de homicídio qualificado, o juiz leu o júri considerou o réu. O mundo pareceu desacelerar, culpado de clicidade involuntária em homicídio.
Mas, considerando circunstâncias atenuantes, juventude e manipulação, 15 anos de tentativas de redenção, a pena é estabelecida em 3 anos de prisão com regime semiaberto, mais 500 horas de serviço comunitário e indenização de 1 milhão de reais à família da vítima. Vinícius fechou os olhos, um suspiro de alívio escapando. 3 anos.
Não era absolvição, mas também não era perpétua, era justo dentro do possível. Se meses depois, Vinícius cumpria sua sentença em regime semiaberto, trabalhando em uma ONG que ajudava pequenos empresários vítimas de fraudes. Ele ensinava jovens empreendedores a não cometerem os mesmos erros que ele cometera.
Simone visitava ocasionalmente, não por obrigação, mas porque estranhamente encontraram uma amizade honesta nas cinzas do que sobrou. Lin estava completamente recuperada, cabelos crescidos, energia voltando. Ela abriu um pequeno restaurante chinês, Lin’s Kitchen, e se tornou querida no bairro. E Simone, Simone finalmente parou de carregar o peso do mundo.
Abriu sua própria empresa de tradução e consultoria, prosperou, contratou funcionários, construiu uma vida que era dela, não herdada de tragédias, mas criada por escolhas próprias. Em uma tarde de sábado, Simone visitou o túmulo do pai. Trazia flores frescas, as favoritas dele, margaridas amarelas. Oi, pai”, ela disse, ajoelhando-se. “Desculpa não ter vindo mais cedo. Estava ocupada, com vida.
O vento soprou suavemente. O julgamento acabou. Vinícius está pagando pelo que fez. Não da forma que você esperaria, talvez. Mas está. E sabe de uma coisa? Acho que você ficaria ok com isso. Você sempre foi sobre segundas chances.” Ela tocou a lápide. “Mamãe está bem, forte, feliz.
Acho que você ficaria orgulhoso de como ela lutou, de como nós lutamos. Lágrimas silenciosas escorreram, mas não eram de dor, eram de liberação. Aprendi algo com tudo isso, Pai. Aprendi que carregar raiva é mais pesado que carregar perdão. E que às vezes as pessoas mais quebradas são as que mais tentam consertar o mundo. Ela se levantou limpando as lágrimas.
Não vou dizer que esqueci ou que não dói, mas vou dizer que estou vivendo de verdade, finalmente. E quando saiu do cemitério, Simone sentiu algo que não sentia há muito tempo. Paz. Um ano depois, Vinícius foi solto por bom comportamento, depois de cumprir 2/3 da pena. Quando saiu da instituição, Simone estava esperando do lado de fora. Ele parou surpreso. Você não precisava vir.
Eu sei”, ela disse, “mas quis.” Eles caminharam lado a lado até um café próximo. Sentaram-se em silêncio confortável, bebendo café ruim e observando a cidade passar. “O que você vai fazer agora?”, Simone perguntou. “Trabalhar na ONG, se me aceitarem como voluntário, reconstruir, devagar.” Ele olhou para ela.
“E você?” Continuar vivendo, crescendo a empresa, cuidando da mãe. Ela sorriu. Coisas normais. Finalmente, finalmente ele ecoou. Ficaram ali por mais uma hora apenas conversando sobre coisas simples, trabalho, clima, planos pro futuro. Não como vítima e culpado, não como amantes, mas como duas pessoas que passaram pelo inferno juntas e saíram do outro lado, diferentes, mas vivas. Meses se passaram.
Simone e Vinícius se viam ocasionalmente, cafés, jantares raros, sempre em grupo, com Lin ou com amigos da ONG. Não havia pressão, não havia expectativas, apenas duas vidas paralelas que se cruzavam gentilmente. E então, em uma noite de dezembro, quando Simone visitou o túmulo do pai pela última vez naquele ano, encontrou algo inesperado, flores frescas, margaridas amarelas, as favoritas de Roberto, e um bilhete simples.
Roberto, nunca vou parar de lamentar, mas aprendi a viver com o lamento sem deixar que me destrua. Espero que onde você esteja isso seja suficiente. Vinícius Simone segurou o bilhete, lágrimas escorrendo silenciosamente. Ela puxou o celular e digitou uma mensagem. Vi suas flores. Meu pai teria gostado. A resposta veio minutos depois. Espero que sim.
Simone digitou de novo, os dedos tremendo. Quer jantar na semana que vem na Lin’s Kitchen? Mamãe perguntou se você estava bem. Pausa, então adoraria. Simone sorriu através das lágrimas. Não era final feliz de conto de fadas. Não havia beijos cinematográficos ou declarações dramáticas, mas era real, honesto.
E talvez, no final das contas isso fosse mais valioso que qualquer ficção perfeita. E três anos depois, Lyn’s Kitchen estava lotado em uma noite de cesta. Lin comandava a cozinha com mão firme, gritando ordens em mandarim e português. Simone ajudava no caixa, rindo enquanto tentava dar troco errado para o démo cliente.
E em uma mesa do canto, Vinícius jantava sozinho, como fazia toda sexta há dois anos. Simone se aproximou com uma xícara de chá. A conta, ela brincou. Coloca no débito. Ele brincou de volta. Ela se sentou em frente a ele, cansada, mas feliz. Dia bom? Ele perguntou. Dia normal, que é bom no fim das contas. Normal é subestimado. Eles sorriram um para o outro.
Um sorriso que carregava história, trauma, perda, mas também sobrevivência e recomeço. Vinícius, Simone disse de repente. Sim, você é meu amigo, sabe disso, né? Ele piscou claramente surpreso pela declaração direta. Sou. É um bom amigo, alguém que eu confio. Vinícius engoliu em seco, emoção cruzando seu rosto. Obrigado. Isso significa significa mais do que você imagina. Eu sei.
Simone se levantou. Agora come logo essa comida antes que esfrie. Mamãe fica brava quando desperdiçam a comida dela. Enquanto voltava para o caixa, Simone olhou ao redor do restaurante lotado, pessoas rindo, comendo, vivendo. E pela primeira vez em muitos anos, ela não pensou em chaway ou em assassinatos ou em vingança.
pensou apenas enquanto estava grata por estar viva, por ter uma mãe saudável, por ter construído algo próprio e por ter aprendido que perdão não significa esquecer, significa escolher não deixar o passado, envenenar o futuro. 5 anos após tudo começar, Simone estava no aeroporto, mala na mão, passagem para Shangai no bolso. Primeira viagem de negócios internacional da empresa dela.
Um contrato grande, importante. Seu celular tocou. Vinícius, boa sorte na viagem, ele disse. Obrigada. Cuida da minha mãe enquanto estou fora? Claro. Já marquei almoço no restaurante dela para domingo. Ela vai adorar. Simone sorriu até voltar. Até voltar. Ela desligou e seguiu para o portão de embarque, mas antes de passar pela segurança, parou. Olhou para trás.
Vinícius não estava ali fisicamente, mas de certa forma estava. Assim como Dr. Mendes e Chan Way e seu pai, todos faziam parte de quem ela era agora. As cicatrizes, os traumas, as lições, mas também a força, a resiliência, a capacidade de perdoar mesmo quando dói. Nem todo silêncio é clicidade, ela pensou, relembrando onde tudo começou.
Às vezes é a pausa antes da coragem. E com essa verdade no coração, Simone Silva atravessou a segurança e embarcou em seu futuro, um futuro que ela finalmente construíra com as próprias mãos. A verdade pode destruir, mas também pode libertar. E às vezes as pessoas que menos esperamos são aquelas que nos dão a chance de recomeçar.
Não todo silêncio custa milhões, mas a honestidade essa não tem preço.