Me conta aqui nos comentários de onde você está assistindo esse vídeo. Quero saber de qual cidade vocês são e se você gosta de histórias que tocam o coração, se inscreve no canal e deixa aquele like no para me ajudar a trazer mais narrativas incríveis como essa. Valeu. Agora vamos à história.
A chuva de dezembro tamborilava nas janelas da mansão em moinhos de vento, como dedos impacientes batendo em vidro. Roberto Santos estava parado diante da janela panorâmica do seu escritório, observando as luzes da cidade se acenderem uma a uma, enquanto o crepúsculo engolia Porto Alegre.
Aos 48 anos, ele era o que muitos chamariam de bem-sucedido, dono da Santos em associados, uma das maiores construtoras do sul do país, com projetos espalhados por três estados. Mais sucesso. Roberto aprendera da forma mais cruel. Não aquecia os lençóis de uma cama kingsiz, nem preenchia o eco de corredores vazios.
Ele girou o copo de whisky e escocês entre os dedos, observando o líquido capturar e distorcer a luz do lustre de cristal. era véspera de Natal novamente, o vigéso Natal sozinho desde que seus pais morreram naquele acidente na BR116, deixando-o com uma empresa em crescimento e um vazio que nenhuma aquisição empresarial conseguia preencher.
O interfone tocou, quebrando seus pensamentos como um martelo contra vidro. Seu Roberto, já terminei a limpeza do segundo andar. O senhor precisa de mais alguma coisa antes de eu ir? A voz de Ana Paula Costa era suave, com aquele sotaque carregado do interior gaúcho, que ela ainda não havia perdido mesmo depois de três meses em Porto Alegre.
Roberto pressionou o botão do interfone. Pode subir um momento, por favor? Ele não sabia exatamente porque havia pedido isso. Talvez fosse a solidão pressionando contra seu peito como uma mão invisível. Talvez fosse a data. Ou talvez fosse simplesmente porque Ana Paula era a única pessoa que atravessaria aquela porta hoje.
Ela entrou no escritório com passos contidos, ainda vestindo o uniforme simples de trabalho. Aos 32 anos, Ana Paula tinha o tipo de beleza discreta que passava despercebida em primeiro olhar, mas que se revelava nos detalhes. Os olhos castanhos expressivos, o sorriso gentil que iluminava seu rosto quando ela achava que ninguém estava olhando. as mãos calejadas de quem conhecia trabalho duro.
“Pois não, seu Roberto”, ele hesitou, sentindo-se ridículo. O que estava fazendo? Prendendo sua funcionária no trabalho, na véspera de Natal, só porque não suportava a ideia de ficar completamente sozinho, eu começou, mas as palavras morreram em sua garganta. Nada. Desculpe incomodá-la. Boas festas, Ana Paula. O bônus de Natal está na sua conta. Ana Paula não se moveu.
Seus olhos, aqueles olhos que pareciam ver além das máscaras que as pessoas usavam, estudaram Roberto com uma intensidade desconfortável. Ela notou a garrafa de whisky pela metade na mesa, o terno amarrotado, a solidão que emanava dele como o perfume caro demais. “O senhor vai passar o Natal aqui?”, perguntou ela.
E havia algo em sua voz que não era pena, mas compreensão genuína. “Vou”. A palavra saiu mais crua do que ele pretendia. Como todos os anos, Ana Paula mordeu o lábio inferior, uma batalha visível acontecendo em sua expressão. Então, como se tomasse uma decisão que contrariava toda a lógica, ela disse: “Janta lá em casa”. Roberto piscou, certo de ter ouvido errado.
“Como?” Eu disse? Ana Paula respirou fundo, suas bochechas corando levemente. O senhor quer jantar lá em casa? Não é nada chique. Moro numa casa bem simples, na restinga, mas eu vou fazer um peru pequeno, farofa, a salpicão que minha mãe me ensinou. Vai ter comida sobrando e ela fez uma pausa, escolhendo as palavras com cuidado.
Ninguém merece passar o Natal sozinho, seu Roberto. O silêncio que se seguiu foi pesado como chumbo. Roberto sentiu algo se apertar em seu peito. Uma emoção que ele havia enterrado tão fundo que mal reconhecia. vulnerabilidade. Toda sua lógica gritava para recusar. Ele era o patrão. Ela era a empregada. Havia barreiras sociais, protocolos, uma distância que deveria ser mantida.
Mas então ele olhou para o escritório vazio, para a mansão que ecoava seus passos solitários, para o futuro imediato de mais um Natal com apenas uma garrafa como companhia. Que horas? As palavras saíram antes que ele pudesse detê-las. O sorriso que iluminou o rosto de Ana Paula foi como o sol rompendo nuvens de tempestade.
8 horas, Rua das Hortênsias, 87. É a casa amarela com um pé de jasmim na frente. Depois que ela saiu, Roberto ficou parado no meio do escritório, perguntando-se o que diabos acabara de fazer. Ele, Roberto Santos, que jantava em restaurantes estrelados e frequentava clubes exclusivos, havia acabado de aceitar um convite para jantar numa casa na Restinga.
E a parte mais assustadora, ele estava ansioso por isso, mas Roberto não fazia ideia de que aquele simples sim estava prestes a desmoronar todas as paredes que ele havia construído ao redor do coração nas últimas duas décadas, que aquela ceia de Natal mudaria não apenas uma noite, mas o resto de sua vida. O GPS do Mercedes classe Suava quase ofendido ao guiá-lo pelas ruas estreitas da Restinga.
Roberto segurou o volante com mais força do que o necessário, consciente de que seu carro valia mais do que a maioria das casas pelas quais passava. Pela primeira vez em anos, ele se sentiu constrangido por sua riqueza. A rua das hortênsias era exatamente como Ana Paula havia descrito, modesta, com casas coladas umas às outras, pintadas em cores vibrantes que desafiavam a simplicidade de suas estruturas. A de número 87 era impossível de errar.
Amarelo girassol com um pé de jasmim que perfumava o ar noturno com uma doçura que fez Roberto lembrar vagamente da casa de sua avó décadas atrás. Ele estacionou e ficou sentado por um momento, os dedos tamborilando no volante. Ainda havia tempo de voltar atrás. Poderia mandar uma mensagem educada, inventar uma desculpa de última hora.
Mas então a porta da frente se abriu e Ana Paula apareceu na soleira, trocando o uniforme por um vestido simples estampado com flores, os cabelos soltos caindo sobre os ombros. E Roberto percebeu que não queria voltar atrás. conseguiu achar. Ana Paula sorriu descendo os três degraus da entrada. Pensei que o senhor fosse desistir no meio do caminho. Pensei nisso.
Roberto admitiu com uma honestidade que o surpreendeu. Mas aí lembrei que você disse que ia ter salpicão. O riso dela era leve, musical. Entre e por favor aqui. O senhor pode me chamar só de Ana. Esse negócio de senhor e senhora deixa tudo muito formal. A casa por dentro era pequena, mas acolhedora de uma forma que a mansão de Roberto nunca conseguia ser, apesar de seus 5000 m quadrados.
A sala de estar tinha um sofá surrado, mais limpo, uma televisão antiga e fotografias nas paredes, rostos sorridentes que Roberto assumiu serem a família de Ana no interior. O cheiro de peru assado e temperos caseiros preenchia cada canto. Senta ali. Ana indicou a pequena mesa já posta para dois. Já, já está tudo pronto.
Roberto se sentou, sentindo-se grande demais para a cadeira simples, deslocado naquele cenário humilde. Mas enquanto observava Ana se mover pela cozinha minúscula, com uma graça eficiente, algo nele começou a relaxar. “Precisa de ajuda?”, ofereceu, surpreendendo a si mesmo novamente. Ana virou, os olhos arregalados.
“O senhor quer dizer, você sabe cozinhar?” Não faço a menor ideia”, Roberto admitiu, “mas posso aprender. O sorriso que ela lhe deu fez algo estranho em seu peito. Pode cortar o pão, então? Está ali na tábua.” E assim Roberto Santos, CEO de uma construtora multimilionária, se viu cortando pão caseiro numa cozinha do tamanho do seu closet e não conseguia lembrar a última vez que havia se sentido tão vivo.
O jantar foi servido sem cerimônia, peru temperado com ervas que Ana havia trazido de Bento Gonçalves, farofa dourada faiscando com bacon, salpicão cremosa, arroz com passas e uma salada simples. Não havia vinho caro, nem pratos de porcelana fina, mas quando Roberto deu a primeira garfada, o sabor era tão autêntico, tão carregado de cuidado e atenção, que ele teve que piscar para afastar uma emoção inesperada. “Está gostoso?”, Hann perguntou.
E havia uma vulnerabilidade na pergunta que tocou Roberto. “Está perfeito.” Ele respondeu. E era verdade. Faz tempo que não como algo assim. Comida de verdade, sabe? feita com, ele procurou a palavra certa, carinho. Ana corou, baixando os olhos. Minha mãe sempre dizia que a comida absorve a energia de quem cozinha. Se você cozinha com raiva, a comida fica amarga.
Se cozinha com amor, fica deliciosa. Roberto completou. Eles comeram em silêncio confortável por alguns minutos. O tipo de silêncio que não precisa ser preenchido com palavras vazias. Foi Ana quem finalmente quebrou a quietude. Posso fazer uma pergunta indiscreta? Roberto levantou os olhos guardado, mas curioso. Pode.
Por que você passa todos os natais sozinho? A pergunta era simples, direta, mas carregava o peso de 20 anos de solidão autoimposta. Roberto colocou o garfo no prato, limpou a boca com o guardanapo, ganhou tempo. Ele poderia desviar, mudar de assunto, reconstruir as paredes que começavam a rachar. Mas algo na expressão aberta de Ana, na forma como ela olhava para ele, realmente olhava, não através ou ao redor dele, fez com que as palavras saíssem.
Meus pais morreram há 20 anos, acidente de carro na véspera de Natal. Eles estavam voltando da serra, trazendo presentes. Sua voz era controlada, quase clínica, como se estivesse relatando fatos de terceiros. Depois disso, o Natal meio que perdeu o sentido. Virou só mais uma data. Mais fácil ignorar do que enfrentar.
E a solidão? Ana perguntou gentilmente: “Também é mais fácil?”, A pergunta acertou Roberto como um soco no estômago. Ninguém em duas décadas havia tido a coragem ou o interesse genuíno de perguntar isso. Não ele admitiu a voz saindo mais rouca. Não é mais fácil, é só familiar. Ana Paula estendeu a mão sobre a mesa, hesitou, depois pousou levemente sobre a dele.
O toque era casto, fraterno, mas Roberto sentiu como se uma corrente elétrica percorresse seu braço. Sabe o que eu acho? Ela disse suavemente. Acho que dor e solidão se tornaram tão familiares que você esqueceu que existe outra forma de viver. Roberto olhou para aquela mulher que ele conhecia há apenas três meses, que limpava sua casa e dobrava suas roupas, e de repente viu além da empregada.
viu Ana Paula Costa, uma mulher que deixara sua família no interior para buscar uma vida melhor, que trabalhava duro, sem perder a gentileza, que tinha a sabedoria, que não vem de livros, mas de realmente viver, e percebeu, com um misto de terror e fascínio, que ela estava certa. “E você?”, Roberto? Perguntou, virando a palma da mão para entrelaçar os dedos nos dela, antes que pudesse pensar melhor.
“Por que está aqui sozinha, sem sua família? A tristeza que passou pelos olhos de Ana foi rápida, mas Roberto a capturou. Minha família tem uma pousada em Bento Gonçalves. Dezembro é a época mais movimentada do ano ela explicou. Eu vim para Porto Alegre porque bem, porque lá eu sempre seria a filha dos donos da pousada. Aqui eu posso ser só Ana, mas é solitário, sabe? Passar o Natal longe de quem a gente ama.
Então você me convidou por pena? Roberto perguntou. E havia um toque de humor autoepreciativo em sua voz. Não. Ana respondeu firme, apertando a mão dele. Te convidei porque reconhecia em você o que eu sinto e porque achei que ambos merecíamos uma companhia melhor do que a solidão. Eles terminaram o jantar conversando sobre tudo e nada, as lembranças dela crescendo entre vinhedos, as histórias dele construindo um império empresarial, os sonhos que ambos haviam adiado, os medos que carregavam em silêncio e com cada palavra trocada, cada sorriso compartilhado. Algo se deslocava no
universo de Roberto Santos. Quando ele finalmente se levantou para ir embora, já passava da meia-noite. “Obrigado”, ele disse na porta. E a palavra carregava o peso de algo maior do que agradecimento por uma refeição. Por tudo. “Foi um prazer”, Ana respondeu sorrindo. “E Roberto?” Ela o chamou quando ele já estava descendo os degraus. Feliz Natal.
Roberto parou, virou-se e, pela primeira vez em 20 anos, conseguiu dizer de volta: “Feliz Natal, Ana”. No caminho de volta para Moinhos de Vento, Roberto Santos dirigiu em silêncio, mas sua mente gritava porque ele sabia, com uma certeza que era tanto assustadora quanto libertadora, que algo fundamental havia mudado naquela casa amarela. e ele não fazia ideia se estava pronto para o que viria a seguir.
Roberto acordou no dia de Natal com uma sensação estranha de leveza no peito. Demorou alguns segundos para identificar o que era. Pela primeira vez em 20 anos, ele não acordara com aquele peso sufocante, aquela necessidade de apenas deixar o dia passar despercebido.
Ele havia sonhado com a casa amarela, com o cheiro de jasmim e comida caseira, com o sorriso de Ana Paula. Sentando na cama, Roberto pegou o celular na mesinha de cabeceira. Havia mensagens de Marcelo, seu sócio e único amigo próximo, desejando boas festas, uma dúzia de e-mails automáticos de clientes, notificações bancárias, mas nada do que ele realmente queria ver. Ele abriu o WhatsApp, encontrou o contato de Ana Paula, digitou: “Bom dia” e apagou.
Digitou: “Obrigado novamente por ontem e apagou. digitou, “Está tudo bem?” E também apagou. Que diabos estava acontecendo com ele? Era como se tivesse 15 anos de novo tentando descobrir como falar com alguém que despertava algo que ele não sabia nomear. O telefone tocou, fazendo-o pular. Era Marcelo. Feliz Natal, seu antissocial.
A voz alegre do amigo veio pelo viva-voz. Júlia e eu estamos indo pro almoço na casa dos pais dela. Quer vir? Ela fez eu ligar para te convidar. disse que você não pode passar mais um Natal sozinho. Roberto hesitou. Em qualquer outro ano, ele teria recusado educadamente, mas algo havia mudado. “Talvez no próximo ano.
” Ele respondeu, surpreendendo até a si mesmo com a sinceridade na voz. “Mas obrigado pelo convite e diga a Júlia que esse ano, esse ano foi diferente.” Diferente como? Marcelo perguntou. E Roberto podia ouvir a curiosidade em sua voz. Diferente. Bom, foi tudo que Roberto conseguiu dizer.
Depois que desligou, ele ficou sentado na cama, olhando para o celular. Então, antes que pudesse se convencer do contrário, digitou uma mensagem simples: “Bom dia, Ana, tudo bem? Dormiu bem? Obrigado novamente por ontem. Foi especial. Ele enviou antes que pudesse deletar novamente. A resposta veio em menos de um minuto. Bom dia, Roberto. Dormi ótimo. E você? Eu que agradeço a companhia.
também foi especial para mim. Roberto sorriu para a tela do celular como um idiota. Então, algo aconteceu. Eles começaram a conversar. Mensagem simples no começo, sobre o tempo, sobre planos para o dia, sobre nada em particular. Mas então as mensagens ficaram mais longas, mais pessoais.
Ana contou sobre a ligação de vídeo matinal com sua família, como tinha sentido falta do abraço apertado de sua mãe e das piadas ruins de seu pai. Roberto falou sobre a mansão vazia, mas admitiu que pela primeira vez não parecia tão opressora. As horas passaram. O dia de Natal se transformou em tarde, depois em noite e eles continuaram conversando, não sobre o fato óbvio que pairava entre eles, que ele era o patrão milionário e ela, a empregada, mas sobre coisas reais: medos, sonhos, as cicatrizes invisíveis que todos carregam.
Às 10 da noite, o telefone de Roberto tocou. Era uma ligação de voz, Diana. Oi. A voz dela era suave, um pouco tímida. Desculpa incomodar. Você não está incomodando. Roberto respondeu rápido demais, mas não se importou. O que houve? Nada. Eu só. Ela pausou. Achei que era mais fácil falar do que escrever.
Você está bem? E assim eles conversaram pelo telefone por mais 3 horas sobre tudo. Sobre nada. sobre a estranheza de uma conexão que não deveria fazer sentido, mas de alguma forma fazia todo o sentido do mundo. Quando finalmente desligaram, já passava da 1 da manhã. Roberto se deitou no escuro do quarto, um sorriso bobo no rosto que ele não conseguia apagar mesmo se quisesse.
E pela primeira vez em 20 anos, ele adormeceu, pensando que talvez, apenas talvez, o próximo Natal não precisasse ser solitário. Mas enquanto Roberto Santos adormecia com esperanças renovadas, ele não percebia que o universo estava prestes a testar aquela conexão frágil de formas que ele jamais poderia imaginar. Os dias seguintes ao Natal foram estranhos.
Ana Paula voltou ao trabalho na mansão, como sempre, mas agora havia uma diferença palpável no ar, como se um fio invisível conectasse ela e Roberto, vibrando com cada olhar casual, cada palavra trocada. Roberto tentou manter as coisas profissionais.
Ele realmente tentou, mas descobriu-se encontrando desculpas para descer da área de escritório e passar pela área onde Ana trabalhava para oferecer um café, para perguntar se ela precisava de algo para simplesmente estar no mesmo ambiente. Seu Roberto, Ana o chamou numa tarde de final de dezembro, enquanto dobrava roupas na lavanderia. Havia um tom de divertimento em sua voz.
Essa é a terceira xícara de café que o senhor me oferece hoje. Vou ter insônia se beber mais uma. Roberto parou na porta flagrado. Ele abriu a boca para dar uma desculpa qualquer, mas então viu o sorriso brincando nos lábios de Ana e decidiu pela honestidade. “Desculpe”, ele disse encostando no batente da porta. “Eu só não sei.
Sinto como se aquela noite tivesse mudado algo e agora eu não sei como voltar ao normal.” Ana colocou a camisa que estava dobrando de lado, sua expressão ficando séria. “Você quer voltar ao normal?”, A pergunta pairou entre eles como uma ponte suspensa sobre um abismo.
Roberto sabia que a resposta certa, a resposta sensata era: “Sim, ele era o patrão, ela era a empregada. Havia linhas que não deveriam ser cruzadas, barreiras sociais que existiam por um motivo. Não. Ele ouviu sua própria voz dizer. Não quero. O ar na lavanderia ficou carregado. Ana deu um passo em direção a ele, seus olhos buscando os dele com uma intensidade que fez o coração de Roberto disparar. “Eu também não”, ela sussurrou.
“Mas então ela recuou, abraçando-se como se precisasse se proteger de algo. Mas isso é complicado. Você sabe que é. Eu sei. Roberto concordou passando a mão pelos cabelos em frustração. Acredite, eu sei. Há 50 razões pelas quais isso é uma péssima ideia. Então, por que parece tão certa? Ana perguntou e havia dor em sua voz. Roberto não tinha resposta, ou tinha, mas era assustadora demais para dizer em voz alta.
O interfone da mansão tocou, quebrando o momento. Era Marcelo querendo saber se Roberto estaria no escritório no dia seguinte para fechar alguns contratos. Roberto respondeu no automático, mas sua mente estava em outro lugar. Naquela noite, depois que Ana foi embora, Roberto se encontrou no escritório com uma garrafa de whisky, não para afogar mágoas, como costumava fazer, mas para tentar fazer sentido do turbilhão em sua cabeça.
Seu celular vibrou. Mensagem de Ana. Desculpa pela conversa mais cedo deixei as coisas estranhas. Roberto digitou de volta. Você não deixou nada estranho. Estranho é o que eu sinto quando você não está aqui. Ele hesitou sobre o botão de enviar. Era demais. Era cruzar uma linha.
Mas então ele pensou na casa amarela, no sorriso de Ana, na forma como ela o fazia sentir vivo pela primeira vez em anos. Enviou. A resposta demorou 5 minutos eternos. Você está tomando o whisky? Roberto olhou para o copo cheio na mesa e riu. Como você sabe? Por que você só fica assim, tão honesto quando está bebendo ou quando está exausto? Talvez eu esteja exausto de fingir, Ana. Outra pausa.
Então, fingir o quê? Roberto respirou fundo e digitou: “Fingir que não penso em você o tempo todo? Fingir que aquela noite não mudou tudo. Fingir que eu não estou completamente perdido aqui?” Não houve resposta imediata. Roberto olhou para a tela do celular, seu coração afundando. Ele havia sido longe demais.
havia estragado tudo, mas então o telefone tocou. Chamada Diana. Não desligue, foi a primeira coisa que ela disse quando ele atendeu. Por favor, não vou desligar. Roberto prometeu. Você está me deixando assustada, Roberto, Ana disse. E ele podia ouvir o tremor em sua voz. Porque eu sinto a mesma coisa e isso é, isso vai complicar tudo. Eu sei.
Você é meu patrão. Eu sei. As pessoas vão falar, vão me julgar, vão dizer que sou interesseira. que estou atrás do seu dinheiro. Eu sei. Roberto repetiu e então acrescentou suavemente. E eu não me importo. O silêncio do outro lado da linha era pesado. Você deveria se importar. Ana finalmente disse. Eu me importo.
Então o que fazemos? Roberto perguntou e havia uma vulnerabilidade crua em sua voz que ele nunca deixava transparecer. Não sei, Ana admitiu, mas acho acho que precisamos de tempo para pensar, para ter certeza do que isso realmente é. Roberto fechou os olhos, a decepção e o alívio guerreando em seu peito. Você está certa, como sempre, Roberto. Ana chamou antes que ele pudesse desligar.
Sim, eu também penso em você o tempo todo. A ligação terminou, deixando Roberto sozinho com seus pensamentos e a garrafa de whisky intocada. Mas pela primeira vez a solidão não parecia tão absoluta, porque agora havia esperança assustadora, complicada, impossível, mas real. E Roberto Santos, homem que construíra um império baseado em cálculos e estratégias, descobriu que estava completamente despreparado para lidar com algo que não podia ser planejado ou controlado, o coração.
A última semana de dezembro trouxe consigo o evento que Roberto mais temia. A festa de ano novo da Santos em associados. Todo ano era a mesma coisa. Sócios importantes, clientes endinheirados, conversas vazias sobre mercado imobiliário e retorno de investimento.
Um desfile de pessoas que conheciam Roberto Santos, CEO, mas não tinham a menor ideia de quem era Roberto, o homem. Mas este ano, pela primeira vez, Roberto não queria ir sozinho. A ideia surgiu numa quinta-feira, três dias antes da virada. Ele estava revisando os últimos contratos do ano quando Ana trouxe café para o escritório. Já havia se tornado um ritual.
Ela subia com dois cafés, sentava na cadeira em frente à mesa dele e conversavam por 15 minutos que nunca eram suficientes. “Grande festa no sábado?”, Ana perguntou casualmente, mas Roberto notou como seus dedos brincavam nervosamente com a alça da xícara. Como você sabe? Vi o convite na mesa da entrada ontem. Bonito? Ela sorriu. Papel vergê, letras douradas. Deve ser chique.
É tedioso. Roberto corrigiu. Três horas de sorrisos forçados e conversas sobre taxas de juros. Parece divertido. Ana brincou. Mas havia algo em seus olhos que Roberto não conseguiu decifrar. Ele respirou fundo. Era agora ou nunca. Vai comigo. Ana quase deixou a xícara cair. O quê? Paraa festa. Vai comigo.
As palavras saíram atropeladas. Nada como o homem controlado que ele geralmente era. Como minha acompanhante. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Ana colocou a xícara devagar sobre a mesa, suas mãos tremendo levemente. Roberto, você sabe que não posso.
Por que não? Porque ela gesticulou vagamente, porque sou sua empregada. Porque as pessoas vão falar? Porque você tem um certo tipo de mulher que leva para esses eventos e eu definitivamente não sou esse tipo? Roberto se levantou, contornou a mesa e ajoelhou na frente da cadeira de Ana, pegando as mãos dela nas suas.
O gesto era tão íntimo, tão inesperado, que Ana prendeu a respiração. “Eu não quero certo tipo de mulher”, ele disse, olhando diretamente em seus olhos. “Eu quero você, Ana Paula Costa, que me convidou para jantar quando estava sozinho, que faz a melhor salpicão que eu já provei, que me faz rir quando nem lembro que ainda sei como fazer isso.
Eu quero você ao meu lado quando o ano virar. Não. Alguma desconhecida perfumada que está lá porque é esperado. As pessoas vão assumir coisas. Ana disse suavemente. Mas Roberto viu a resistência dela vacilando. Deixa assumirem. Marcelo vai ter um ataque. Marcelo vai sobreviver. Eu não tenho nada para vestir numa festa dessas. Roberto sorriu.
Agora você está procurando desculpas. Ana o encarou por um longo momento e Roberto podia ver a guerra acontecendo em seu interior. Prudência versus desejo, medo versus esperança. Uma condição, ela finalmente disse. Qualquer uma. Segunda-feira, eu peço demissão. Roberto congelou. O quê? Não, Ana, você não precisa. Preciso sim. Ela o interrompeu firmeza em sua voz.
Se vamos explorar o que quer que seja isso, não posso ser sua empregada. Não é certo. Não é justo com nenhum de nós. Mas você precisa do emprego. Você tem contas. Tenho experiência em hotelaria. Ana o lembrou. E você conhece meio mundo. Aposto que consegue me indicar para algum lugar. Mas não assim, Roberto. Não com você sendo meu patrão. Isso precisa ser igual ou não acontece.
Roberto olhou para aquela mulher incrível na sua frente e sentiu algo se expandir em seu peito. Respeito, admiração e algo mais profundo que ele ainda tinha medo de nomear. Você é impressionante, sabia? Ele disse suavemente. Sou prática. Ana corrigiu, mas estava sorrindo. Então, temos um acordo. Temos um acordo, Roberto confirmou.
Mas deixa eu ajudar a encontrar algo. Conheço o gerente do Hotel Plaza. Eles sempre estão procurando gente qualificada. Vê, já está sendo útil como contato ao invés de patrão. Ana brincou e ambos riram. Então, sábado, eu te busco às 7. Ana mordeu o lábio, nervosa, mas excitada. Às 7. Os dois dias seguintes foram um turbilhão.
Hann, com a ajuda entusiasmada de sua prima Fernanda, encontrou um vestido azul marinho elegante, mas simples num brechó chique. Roberto fez questão de não saber os detalhes. Queria se surpreender. Marcelo quase engasgou com o café quando Roberto mencionou casualmente que levaria uma acompanhante. Você uma acompanhante? Marcelo olhou como se ele tivesse crescido uma segunda cabeça.
Você que há 5 anos vai sozinho a todos os eventos, as coisas mudam. Roberto respondeu tentando soar casual. Quem é ela? Marcelo perguntou imediatamente. Alguém que eu conheço conhece de certa forma? Roberto Marcelo cruzou os braços. O que você está aprontando? Nada. Roberto insistiu. Só viver para variar. Na noite de sábado, Roberto se pegou nervoso pela primeira vez em décadas, enquanto dirigia até a casa amarela.
Ele havia escolhido o terno azul marinho, o favorito de Ana. Ele havia descoberto num dia em que ela comentou que aquela cor realçava seus olhos. Quando Ana abriu a porta, Roberto esqueceu como respirar. O vestido azul era simples, mas se ajustava perfeitamente em seus ombros, caindo em linhas elegantes até os joelhos.
Ela havia preso os cabelos num coque baixo, deixando alguns fios emoldurar em seu rosto. A maquiagem era discreta, um toque de batom vermelho, os olhos levemente sombreados. Ela usava uma estola que Roberto tinha certeza que era emprestada, mas que completava o visual com perfeição. “Você está?” Roberto começou, mas as palavras fugiram. Linda. Uma voz feminina completou atrás de Ana. Sua prima Fernanda apareceu sorrindo. A palavra que você está procurando é linda.
E sim, ela está. Ana corou furiosamente. Fernanda, o quê? É verdade. Fernanda se virou para Roberto com um olhar avaliador. E você cuide dela direito hoje. Ana é especial. Machuca ela e eu mesma vou atrás. Não importa quantos milhões você tenha. Fernanda, Ana estava mortificada, mas Roberto sorriu. Prometo ele disse sinceramente.
E obrigado por emprestar a estola. No carro, Ana estava quieta, mexendo nervosamente na bolsa pequena. Ei, Roberto tocou sua mão suavemente. Se você mudou de ideia, posso te levar de volta. Sem ressentimentos. Ana olhou para ele e o sorriso que iluminou seu rosto foi como o sol. Não mudei de ideia. Só estou nervosa. Eu também. Roberto admitiu.
Você por quê? Porque eu realmente quero que você se divirta. E porque vou ter que compartilhar sua atenção com um monte de gente hoje quando tudo que eu quero é Ele parou. É o quê? Ana perguntou suavemente. Ficar conversando com você como sempre fazemos. Ele confessou. Mas dessa vez sem ter que inventar desculpas. A mão dela encontrou a dele novamente, entrelaçando os dedos.
Então vamos fazer isso? Ela disse. Vamos passar a noite conversando. O resto é só cenário. E pela primeira vez em horas, Roberto relaxou. A festa era exatamente como ele esperava. Decoração extravagante no terraço do hotel mais caro de Porto Alegre, vista deslumbrante para o Guaíba, champanhe francesa fluindo livremente.
Mas Roberto mal notou porque Ana estava ali ao seu lado, seu braço delicado, entrelaçado no dele, e de repente tudo parecia diferente. As conversas chatas com clientes se tornaram suportáveis, porque ele podia olhar para ela e ver compreensão em seus olhos. As piadas ruins de Marcelo ficaram engraçadas porque o riso de Ana era contagiante.
O ambiente pretencioso perdeu sua opressão porque ela estava ali sendo simplesmente ela mesma, genuína, calorosa, real. Sua acompanhante é encantadora. Júlia, esposa de Marcelo, sussurrou no ouvido de Roberto quando Ana estava conversando com um grupo de esposas sobre vinhos gaúchos. e completamente diferente de qualquer pessoa que você já trouxe. Eu nunca trouxe ninguém. Roberto a corrigiu. Exatamente meu ponto. Júlia sorriu. Ela é especial, Roberto.
Não deixa escapar. Quando faltavam 10 minutos para a meia-noite, Roberto pegou a mão de Ana. Vem comigo ele disse baixinho. Ele a guiou para longe da multidão, através das portas francesas, até um canto mais isolado do terraço, onde podiam ver toda a orla do Guaíba iluminada. mas estavam relativamente sozinhos.
“É bonito aqui”, Ana disse, apoiando-se na balaustrada. “Dá para ver toda a cidade. Ana”, Roberto começou sua voz séria. “Eu preciso te dizer algo antes do ano virar”. Ela se virou para ele, os olhos curiosos e um pouco apreensivos. “O quê? Eu sei que isso tudo é complicado. Eu sei que tem mil razões pelas quais isso não deveria funcionar, mas eu Ele Ele respirou fundo.
Eu não sinto nada há tanto tempo que já estava esquecendo como era. E então você apareceu com aquele convite simples para jantar e de repente tudo mudou. Os fogos de artifício começaram a explodir no céu. A contagem regressiva havia começado em algum lugar, mas Roberto nem notou. Eu não estou pedindo promessas. Ele continuou.
Não estou pedindo garantias. Só estou pedindo uma chance. Uma chance de ver se isso é real. Se o que eu sinto é Sua voz falhou. É o quê? Ana sussurrou, lágrimas brilhando em seus olhos. Roberto pegou o rosto dela entre suas mãos, seus polegares acariciando suavemente suas bochechas. Amor, ele finalmente disse, se o que eu sinto é amor.
A multidão gritou: “Feliz ano novo! Ao longe, os fogos de artifício iluminaram o céu em explosões de cores, mas Roberto só tinha olhos para a mulher na sua frente. “Eu já sei o que eu sinto”, Ana disse suavemente e me assusta, mas também me dá esperança.
“E o que você sente?”, Roberto perguntou, seu coração batendo tão forte que ele tinha certeza que ela podia ouvir. Ana se ergueu nas pontas dos pés, suas mãos subindo até o rosto dele, espelhando o gesto dele. “Amor”, ela sussurrou. E então, com Porto Alegre explodindo em celebração ao redor deles, Roberto a beijou. Foi um beijo gentil no começo, quase hesitante, dois corações assustados se encontrando pela primeira vez, mas então se aprofundou, carregado com todas as emoções que eles haviam guardado, todas as palavras não ditas, toda a solidão que finalmente encontrava seu fim. Quando se separaram, ambos estavam sem fôlego. Roberto encostou sua
testa na dela, sorrindo como não sorria há 20 anos. Feliz ano novo, Ana Paula Costa. Feliz ano novo, Roberto Santos. E naquele momento, sob as estrelas e os fogos de artifício, com a cidade aos seus pés, dois corações solitários finalmente encontraram seu lar. Mas a felicidade Roberto logo descobriria é apenas o começo da história.
O verdadeiro desafio estava por vir, fazer aquele amor sobreviver no mundo real com todos seus julgamentos, obstáculos e testes. E o primeiro desses testes estava ali apenas uma virada de esquina. A segunda-feira chegou rápido demais. Roberto acordou com a sensação persistente de que havia sonhado o beijo no terraço, o calor da mão de Ana na sua, as palavras sussurradas depois que voltaram à festa, mas então seu telefone vibrou com uma mensagem dela.
Bom dia, ainda vai me buscar? E ele soube que era real, perigosamente, maravilhosamente real. Eles haviam combinado que Ana falaria pessoalmente com Roberto sobre a demissão, formalizando tudo corretamente. Era o jeito dela de fazer as coisas com dignidade e respeito.
Uma das muitas coisas que Roberto havia aprendido a admirar nela. Quando Ana chegou à mansão às 9 da manhã, ela estava diferente. Não vestia o uniforme de trabalho. Em vez disso, usava uma calça jeans simples e uma blusa branca, os cabelos presos num rabo de cavalo prático. Ela parecia mais jovem assim, mas também mais vulnerável. Roberto a encontrou na sala de estar, ambos evitando o escritório onde a dinâmica patrão empregada era mais acentuada. Café?”, ele ofereceu nervoso de uma forma que não sentia desde o colégio.
“Por favor”, Ana, respondeu, sentando-se no sofá com as mãos entrelaçadas no colo. Eles tomaram café em silêncio por alguns momentos, a realidade do que estavam prestes a fazer, pairando no ar como neblina matinal. Então, Ana finalmente começou colocando a xícara de lado. Eu vim entregar minha carta de demissão. Ela estendeu um envelope branco simples.
Roberto o pegou, mas não o abriu, colocando-o na mesa ao seu lado. “Você tem certeza disso?”, ele perguntou, embora soubesse que ela tinha. Ana não fazia nada sem ter certeza. “Tenho.” Ela confirmou. Não é sobre desistir do emprego, Roberto. É sobre começar algo novo, algo que seja certo. Certo. Roberto repetiu gostando da palavra. Você conversou com o gerente do Plaza? Conversei. Ana sorriu.
Entrevista amanhã. Ele disse que qualquer indicação sua tem peso. Não é indicação. Roberto corrigiu gentilmente. É reconhecimento de competência. Você é boa no que faz, Ana. Qualquer hotel seria sortudo em te ter. O rubor nas bochechas dela o fez sorrir. “Obrigada”, ela disse suavemente.
Então, depois de uma pausa, e agora? Era a pergunta de milhão de dólares. Eles haviam resolvido o aspecto profissional, mas e o resto? E o que vinha depois? Roberto se levantou, estendendo a mão para ela. Agora eu quero te levar para almoçar. Como Ana e Roberto, não como patrão e empregada. Só duas pessoas que querem se conhecer melhor.
Ana pegou sua mão, deixando-se ser puxada para cima, mas então ela hesitou. Roberto, eu preciso te dizer algo primeiro. O tom de voz dela fez o estômago de Roberto apertar. O quê? As pessoas vão falar? Ela disse, olhando diretamente em seus olhos. Vão dizer que sou interesseira, que dei um golpe do baú, que estou usando você. E eu eu preciso saber se você está pronto para isso, porque eu tô Eu decidi que não me importo com o que desconhecidos pensam, mas me importo com o que você pensa.
Roberto puxou-a mais perto, até que praticamente não havia espaço entre eles. Eu penso ele disse, sua voz baixa, mas firme, que você é a pessoa mais genuína que eu conheci em décadas. Penso que você me convidou para jantar quando eu não tinha nada a te oferecer, além de companhia. Penso que você está abrindo mão de estabilidade financeira para fazer isso do jeito certo.
Ele tocou gentilmente o rosto dela. E eu penso que qualquer pessoa que não consegue ver isso pode ir pro inferno. O sorriso que iluminou o rosto de Ana foi como o sol rompendo nuvens. Você acabou de falar palavrão? Ela apontou divertida. Vou falar muito mais se alguém falar mal de você. Roberto prometeu. E ela riu.
Meu cavaleiro com armadura reluzente. Seu o quê? Ele pareceu genuinamente surpreso. Deixa para lá, Ana riu mais alto. Vamos almoçar? Eles foram a um restaurante modesto no Cidade Baixa, escolha de Ana, que insistiu que não queria nada muito chique. Era um lugar pequeno, com mesas de madeira e comida caseira, o tipo de lugar que Roberto jamais teria considerado há um mês atrás.
Mas sentado ali, dividindo um prato de galinhada com Ana, ouvindo-a contar histórias de sua infância nos vinhedos, Roberto percebeu que era um dos melhores almoços de sua vida. Meu pai sempre dizia que uva é igual gente. Ana estava contando, seus olhos brilhando. Precisa de sol, mas também de tempestade.
Precisa de cuidado, mas também de espaço para crescer. E as melhores uvas, as que fazem os melhores vinhos, são as que passaram por mais dificuldades. Seu pai é um filósofo, Roberto observou. É um viticultor teimoso. Ana corrigiu sorrindo. Mas sim, às vezes solta umas pérolas. Quero conhecê-lo um dia, Roberto disse. E então percebeu o peso daquelas palavras.
Não era apenas um comentário casual, era uma declaração de intenções. Ana também percebeu. Seus olhos se arregalaram levemente. Sério? Muito sério, Roberto confirmou. Se se é isso que você quer, se estamos fazendo isso de verdade. Estamos fazendo isso de verdade, Ana disse, sua mão encontrando a dele sobre a mesa. Mas talvez demos pequenos passos. Não precisa conhecer minha família toda ainda, especialmente meu irmão. Ele é super protetor.
Roberto Rio. Pequenos passos. Eu consigo lidar com isso. Mas claro, o universo tinha outros planos, porque enquanto eles estavam ali, mãos dadas sobre a mesa, compartilhando risos e histórias, alguém tirou uma foto. E essa foto, Roberto descobriria mais tarde mudaria tudo. Por enquanto, porém, ele estava simplesmente feliz pela primeira vez em 20 anos, genuinamente, completamente feliz. E isso ele logo aprenderia.
Era tanto uma bênção quanto uma vulnerabilidade. A foto apareceu num blog de fofocas locais na quarta-feira. O título sensacionalista fez o estômago de Roberto revirar. Milionário solitário em contra companhia. Roberto Santos, flagrado em clima de romance com ex-funcionária. A imagem era íntima demais.
Ele e Ana no restaurante, mãos entrelaçadas, olhando um para o outro com uma intensidade que não deixava dúvidas sobre a natureza do relacionamento. Roberto estava no escritório quando Marcelo e rompeu pela porta, tablet na mão e uma expressão que oscilava entre preocupação e irritação. Você viu isso? Marcelo jogou o tablet na mesa. Roberto nem precisou olhar.
Seu telefone já havia explodido com mensagens de conhecidos preocupados, cada um mais invasivo que o anterior. Vi, ele respondeu, mantendo a voz calma, mesmo sentindo a raiva ferver em suas veias. Roberto Marcelo sentou, passando as mãos pelo cabelo. Não é que eu me importe com quem você namora. Sério, cara, depois de te ver sozinho por 20 anos, estou aliviado que encontrou alguém.
Mas isso ele gesticulou para o tablet. Isso vai trazer problemas. Que tipo de problemas? O tipo que envolve conselhos administrativos e acionistas fazendo perguntas. Marcelo disse seriamente: “Rodrigo já ligou. Quero uma reunião”. Rodrigo Mendes era o investidor mais conservador da Santos em associados, um homem da velha guarda que achava que CEOs deveriam manter uma imagem apropriada. “Deixa ele ligar.
” Roberto respondeu, mas sabia que não era tão simples assim. E Ana? Marcelo perguntou suavemente como ela está lidando com isso? A verdade era que Roberto não sabia. Ele havia tentado ligar para ela dezenas de vezes desde que a matéria saiu, mas ela não atendia. Suas mensagens permaneciam sem resposta e isso o apavorava mais do que qualquer dano à sua reputação profissional.
Roberto encontrou-a finalmente naquela tarde, sentada no banco de uma pracinha perto de sua casa. Ela estava com o celular nas mãos, rolando a tela com uma expressão de dor que partiu o coração dele. “Ana”, ele chamou suavemente, sentando ao seu lado. Ela não olhou para ele. “Você viu os comentários?” Sua voz era pequena, quebrada. “Não.” Roberto admitiu. “Não li.” “Deveria?” Ela estendeu o celular para ele.
“Deveria saber o que estão dizendo sobre mim. Com mãos trêmulas, Roberto pegou o celular. Os comentários na matéria eram veneno puro. Claro, subiu na vida deitada, oportunista, viu um homem rico e solitário e deu o bote. Coitado dele. Não vê que ela só quer o dinheiro? Essas empregadas são todas iguais. Sabem exatamente o que fazer.
Havia mais, dezenas mais, cada um mais cruel que o anterior. Roberto sentiu a Billy subir em sua garganta. Ana, essas pessoas não te conhecem. Ele começou. Mas todo mundo vai pensar assim. Ela o interrompeu, finalmente, olhando para ele, com olhos vermelhos de chorar. Isso era exatamente o que eu temia. Eu sabia que ia acontecer.
Mas ler, ver as pessoas dizendo essas coisas, elas estão erradas, Roberto insistiu, pegando as mãos dela completamente, absolutamente erradas. “Mas como eu provo?”, Ana perguntou, a frustração evidente em sua voz. Como eu provo para todos que não estou com você pelo dinheiro? Que eu não dei um golpe? Você não precisa provar nada para ninguém. Roberto disse firmemente. Preciso sim.
Ana puxou as mãos de volta, levantando-se do banco. Porque cada vez que você me levar a algum lugar, cada vez que alguém nos ver juntos, eles vão pensar essas coisas. Vão me olhar com desprezo, vão te olhar com pena. Eu não me importo, mas eu me importo. Ela praticamente gritou e então abaixou a voz consciente das pessoas passando. Eu me importo, Roberto.
Me importo com minha reputação, com minha dignidade, com o que minha família vai pensar quando ver isso. Roberto levantou também, mas manteve distância, dando-lhe espaço. Então, o que você quer fazer? Ele perguntou. E havia medo real em sua voz. Quer terminar? Quer fingir que nada disso aconteceu? Ana fechou os olhos, lágrimas escorrendo por suas bochechas.
“Eu não sei o que eu quero”, ela admitiu. “Eu só preciso de tempo. Tempo para processar isso. Tempo para pensar com clareza. Quanto tempo?”, Roberto perguntou cada palavra custando-lhe. “Não sei.” Ana abriu os olhos e a dor neles era palpável. “Só sei que agora mesmo, com todo mundo dizendo essas coisas, eu não consigo pensar direito.” Roberto queria argumentar.
Queria dizer que o tempo não mudaria o julgamento das pessoas, que fugir não resolveria nada. Mas então ele olhou para o rosto de Ana, viu a angústia real e percebeu que pressionar agora seria egoísta. OK, ele disse suavemente. Toma o tempo que você precisar. Mas Ana, ele esperou até ela olhar para ele. Eu vou estar aqui quando você decidir, não importa quanto tempo demore.
E se eu decidir que é demais, que eu não consigo lidar com isso? Ela perguntou a voz tremendo. Roberto sentiu como se alguém estivesse esmagando seu peito. Então vou respeitar sua decisão. Ele mentiu porque respeitar ele respeitaria. Mas superar isso ele duvidava que conseguisse. Mas vou te dizer uma coisa, essas pessoas que estão julgando, elas não sabem de nada, não sabem da mulher incrível que você é, da sua integridade, da sua bondade, da forma como você ilumina qualquer ambiente que entra.
Eu sei e é isso que importa para mim. Ana soluçou cobrindo o rosto com as mãos. Roberto resistiu ao instinto de puxá-la para um abraço, sabendo que ela precisava desse espaço. “Eu vou embora agora”, ele disse suavemente, “mas meu telefone vai estar sempre ligado quando você quiser conversar, dia ou noite, eu vou atender.
” Ele começou a se afastar cada passo mais difícil que o anterior, mas então a voz de Ana o parou. “Roberto, ele virou. Obrigada”, ela disse limpando as lágrimas. “Por entender e por por me escolher, mesmo sabendo que ia ser difícil. Sempre vou escolher você.” Roberto respondeu com convicção absoluta. Sempre.
Ele foi embora, deixando parte de seu coração naquele banco de praça, com uma mulher que estava lutando para acreditar que o amor poderia ser mais forte que o julgamento alheio. E pela primeira vez desde que beijara a Ana na virada do ano, Roberto se permitiu sentir medo real, não de escândalo social ou de danos à reputação, mas de perder a única pessoa que havia conseguido fazer seu coração bater novamente depois de tanto tempo. A tempestade estava apenas começando.
que Roberto não fazia ideia se eles conseguiriam sobreviver a ela juntos ou se o vento seria forte demais, separando-os antes que tivessem a chance de se tornar algo permanente. Mas ele sabia uma coisa, não ia desistir, não sem lutar. Os três dias seguintes foram os mais longos da vida de Roberto. Ana não ligava, não respondia mensagens.
Ele oscilava entre respeitar o espaço que ela pediu e enlouquecer com a ausência dela. O trabalho se tornou sua fuga, mas até isso estava complicado. A reunião com Rodrigo e os outros investidores havia sido marcada para sexta-feira. Roberto sabia que seria um tribunal informal onde julgaria não suas capacidades empresariais, mas suas escolhas pessoais. Na quinta à noite, quando Roberto estava no escritório da mansão revisando relatórios que não conseguia realmente absorver, o interfone tocou. Era Ana.
Roberto correu até a entrada como não corria desde a adolescência. Quando abriu a porta, encontrou-a ali parada, com uma mochila pequena nos ombros e uma expressão determinada que ele não conseguia decifrar. “Posso entrar?”, ela perguntou sempre. Roberto respondeu imediatamente, abrindo o espaço.
Eles foram até a sala de estar, aquele espaço que havia se tornado deles nos últimos dias antes da tempestade. Ana sentou no sofá, mas na beirada, como se estivesse pronta para sair correndo a qualquer momento. Eu pensei, ela começou sem rodeios. Pensei muito sobre nós, sobre o que as pessoas dizem sobre se vale a pena.
O coração de Roberto estava batendo tão forte que ele mal conseguia ouvir suas próximas palavras. E eu conversei com minha mãe. Isso Roberto não esperava. Você contou para ela? Ana assentiu. Tive que contar. Ela viu a matéria. Alguém da comunidade gaúcha em Porto Alegre mandou para ela. Ana deu um sorriso triste. Notícias viajam rápido, principalmente as ruins.
E o que ela disse? Roberto perguntou, embora tivesse medo da resposta. No começo, ficou chocada. Ana admitiu preocupada. disse todas as coisas que eu já estava pensando. Mas então, então ela me fez uma pergunta. Que pergunta? Ana olhou diretamente para ele e havia algo diferente em seus olhos, algo que parecia suspeitamente com esperança.
Ela perguntou se eu era feliz com você, se quando eu estava ao seu lado eu me sentia completa. Ana fez uma pausa e eu disse sim. Disse que com você eu me sinto vista, valorizada, como se depois de anos tentando ser quem todos esperavam que eu fosse, eu finalmente podia ser só Ana. Roberto sentiu algo se apertar em sua garganta.
E o que ela respondeu? Ela disse: “Ana sorriu, lágrimas brilhando em seus olhos, que isso é tudo que importa, que as pessoas sempre vão falar, sempre vão julgar, mas que eu não podia deixar de viver minha vida por medo do que outros pensam”. Ana riu baixinho. Depois ela disse que se você me machucasse, ela mesma viria aqui com um facão de cortar uva.
Apesar da atenção, Roberto Riu. Sua mãe parece ser uma mulher sábia e aterrorizante. Ela é Ana concordou e então ficou séria novamente. Roberto, eu não posso prometer que vai ser fácil. Não posso prometer que não vou ter momentos em que vou querer desistir, em que os comentários vão doer demais. Eu sei. Roberto disse suavemente. Mas Ana continuou. Eu quero tentar.
Quero ver se isso que sentimos é forte o bastante para aguentar a tempestade. Ela estendeu a mão para ele. Se você ainda quiser, se ainda achar que vale a pena. Roberto cruzou a distância entre eles em dois passos, pegando a mão dela e puxando-a para cima, para seus braços.
Achar que vale a pena? Ele repetiu, afastando-se apenas o suficiente para olhar em seus olhos. Ana, você vale cada segundo de julgamento, cada olhar torto, cada comentário maldoso. Você vale tudo. E então ele a beijou, derramando naquele beijo todas as emoções dos últimos três dias. O medo de perdê-la, o alívio de tê-la de volta, a esperança renovada de que talvez, apenas talvez, eles conseguissem fazer isso dar certo. Quando se separaram, Ana estava sorrindo através das lágrimas.
Então, vamos encarar isso juntos. Ela perguntou. Juntos. Roberto confirmou. Mas Ana, eu preciso ser honesto sobre algo. Ela inclinou a cabeça curiosa. O quê? Amanhã eu tenho uma reunião com os investidores. Rodrigo e o pessoal do conselho. Eles vão questionar sobre você, sobre nós, sobre se isso é apropriado para a imagem da empresa.
E você vai dizer o quê? Ana perguntou. E havia uma nota de desafio em sua voz que Roberto amou. Vou dizer. Ele respondeu, segurando o rosto dela entre suas mãos. Que minha vida pessoal não é assunto deles. Que você não é um escândalo nem um erro de julgamento. Que você é a melhor coisa que me aconteceu em 20 anos.
E se eles não conseguem ver isso, então talvez estejam na empresa errada. Os olhos de Ana se arregalaram. Você não pode dizer isso, Roberto. É sua empresa. É a nossa empresa. Ele a corrigiu. Minha e do Marcelo. E o Marcelo concorda comigo. Concorda. Conversamos ontem. Roberto admitiu. Eu disse que não ia esconder você, nem pedir desculpas por te ter na minha vida.
E ele disse que era hora de eu parar de viver para agradar os outros e começar a viver para mim. Júlia meteu a colher nisso, não foi? Ana adivinhou. E Roberto riu. Júlia disse que se eu perdesse você por medo do que os investidores pensam, ela mesma me daria um tapa. Ana riu, o som enchendo a sala como música. Gosto dela cada vez mais.
Ela gosta de você também, Roberto disse. Quer que a gente vá jantar com eles no fim de semana? Se você quiser, claro, sem pressão. Hana ficou séria novamente. Pequenos passos, ela sugeriu. Pequenos passos. Roberto concordou. Eles passaram o resto da noite conversando, reconstruindo as pontes que a tempestade havia tentado derrubar. Ana contou mais sobre a ligação com sua mãe, como havia sido difícil, mas libertador, admitir tudo.
Roberto falou sobre o medo que sentiu quando ela se afastou, sobre como percebeu que preferia enfrentar mil escândalos sociais a passar um dia sem ela. “Fica aqui hoje”, Roberto pediu quando já passava da meia-noite. “Não em outro sentido.” Ele se apressou em esclarecer. vendo o rubor nas bochechas dela. Só fica, temos quartos de sobra.
Eu só não quero que você vá embora ainda. Ana considerou por um momento, depois sentiu. OK, mas numa condição. Qual? Amanhã, antes da sua reunião, eu vou com você. Vou esperar na recepção da empresa enquanto você conversa com eles para que você saiba que eu tô ali te apoiando. Roberto sentiu o peito apertar com emoção. Você não precisa. Eu sei que não preciso.
Ana o interrompeu, mas quero. Estamos juntos nisso, lembra? Então eu vou estar lá literalmente. E naquele momento, Roberto soube com absoluta certeza que estava completamente irremediavelmente apaixonado por Ana Paula Costa. A reunião do dia seguinte seria um teste, mas pela primeira vez, Roberto sentia que tinha algo pelo que lutar, alguém por quem valia a pena enfrentar qualquer tempestade. E juntos ele acreditava eles poderiam enfrentar qualquer coisa.
A sala de reuniões da Santos em Associados estava diferente naquela manhã de sexta-feira. Roberto podia sentir a tensão no ar antes mesmo de entrar. Ele havia deixado Ana na recepção com um café e uma revista, mas o beijo rápido que ela lhe dera antes dele subir ainda queimava em seus lábios como um talismã de coragem.
Marcelo já estava lá posicionado estrategicamente ao lado da cadeira de Roberto na cabeceira da mesa. Era uma demonstração clara de lealdade que não passou despercebida pelos outros presentes. Rodrigo Mendes estava sentado no meio da mesa, ladeado por outros dois investidores menores, Sandra Portela e João Machado, todos com expressões que variavam de preocupação a desaprovação aberta. Roberto Rodrigo começou assim que ele sentou.
Obrigado por aceitar esta reunião. Não tive muita escolha, pelo que entendi. Roberto respondeu calmamente, mas havia aço em sua voz. Nós estamos preocupados. Sandra se inclinou para a frente. A matéria que saiu essa semana levanta questões sobre apropriação de dinâmica de poder, sobre julgamento, sobre imagem corporativa. Questões, Roberto repetiu, sua voz perigosamente calma, ou julgamentos.
Roberto João tentou um tom mais conciliador. Você é um homem adulto. Sua vida pessoal é sua. Mas quando isso afeta a percepção da empresa, quando clientes começam a fazer perguntas, que tipo de perguntas? Marcelo interrompeu. Porque até onde eu sei, nenhum cliente nos questionou sobre nada.
Nossas ações continuam estáveis. Nossos projetos continuam no prazo. Então, com todo respeito, que problema real temos aqui? Rodrigo bateu a mão na mesa claramente frustrado. O problema, Marcelo, é Optics, é a imagem. Roberto é o rosto desta empresa.
E quando o rosto da empresa está envolvido com uma ex-empregada, isso levanta questões éticas. Ana Paula pediu demissão. Roberto disse, cada palavra cuidadosamente articulada. Ela pediu demissão especificamente para que nosso relacionamento não fosse inadequado. Ela abriu mão de estabilidade financeira para fazer a coisa certa. Então me digam onde está exatamente o problema ético. As pessoas vão presumir. As pessoas presumem muitas coisas erradas. Roberto interrompeu Rodrigo.
Inclusive vocês aparentemente o silêncio que se seguiu foi pesado. Com todo respeito, Roberto. Sandra tentou novamente sua voz mais suave. Nós não estamos dizendo para terminar com ela. Só estamos sugerindo que talvez um perfil mais baixo, menos exposição pública até as águas se acalmarem.
Então vocês estão sugerindo que eu esconda a Ana como se fosse algum segredo vergonhoso? Roberto se levantou, apoiando as mãos na mesa. Vocês estão sugerindo que eu trate a mulher que amo como se ela fosse algo de que me envergonhar. Foi Marcelo quem reagiu primeiro ao ouvir a palavra amo, um sorriso pequeno, mas significativo aparecendo em seu rosto. Amor é uma palavra forte, Rodrigo disse sec. É, Roberto concordou. E é exatamente o que eu sinto. Ana Paula é a mulher mais íntegra que eu já conheci.
Ela me desafiou quando eu precisava ser desafiado. Me mostrou que havia mais na vida do que balanços financeiros e porcentagens de lucro. Ela me fez lembrar como é ser humano. Ele olhou cada investidor nos olhos, um por um. Então, se vocês estão me pedindo para escolher entre ela e a aprovação de vocês, a escolha é fácil. Roberto.
João começou claramente alarmado. Ninguém está pedindo para você escolher. Mas estão. Roberto o cortou. Indiretamente estão. E eu estou dizendo que escolho Ana. Sempre vou escolher Ana. Rodrigo se levantou também. Seu rosto vermelho. Você está deixando emoção turvar seu julgamento empresarial.
Isso pode custar caro para todos nós. Sabe o que custou caro? Roberto retrucou. 20 anos sozinho, 20 anos construindo um império, mas sem ninguém com quem compartilhar. 20 anos fingindo que sucesso financeiro era suficiente. Ele respirou fundo. Eu não vou voltar para aquilo, não por vocês, não por ninguém.
Marcelo se levantou ao lado de Roberto uma demonstração clara de solidariedade. Roberto tem razão, Marcelo disse firmemente. Nós construímos esta empresa baseada em integridade e valores. Ana Paula demonstrou ambos. E se não conseguem ver isso, se estão mais preocupados com fofocas do que com o caráter real das pessoas, então talvez sejam vocês que precisam reavaliar seus valores.
Sandra pareceu genuinamente surpresa com a ferocidade da defesa de Marcelo. Marcelo, você concorda com isso? Completamente, Marcelo confirmou. Júlia e eu jantamos com eles. Ana é extraordinária e posso dizer pela primeira vez em 5 anos de sociedade que Roberto está feliz. Realmente feliz. Isso não tem preço. Rodrigo olhou de Roberto para Marcelo e de volta.
Vocês estão cometendo um erro, ele disse finalmente. Talvez. Roberto admitiu, mas é meu erro para cometer e eu prefiro arriscar tudo com Ana ao meu lado do que ter sucesso garantido sozinho. Houve um longo momento de silêncio. Foi Sandra quem finalmente o quebrou. Eu respeito sua posição, Roberto, ela disse suavemente.
E talvez estejamos sendo antiquados. Talvez a óptica que devêsemos nos preocupar seja a de um homem que encontrou felicidade depois de tanto tempo, não a de um escândalo manufaturado por fofoqueiros. João assentiu lentamente. Sandra tem um ponto. E honestamente, Roberto, os números não mentem. Você tem sido mais produtivo nas últimas semanas do que nos últimos seis meses.
Se Ana é parte disso, quem somos nós para julgar? Rodrigo olhou para os dois como se eles tivessem perdido a cabeça. Vocês não podem estar falando sério. Estou completamente séria. Sandra respondeu. Rodrigo, talvez seja a hora de você decidir se está investindo numa empresa ou numa imagem corporativa sem alma. Foi uma estocada precisa. Rodrigo ficou vermelho, pegou seus papéis da mesa.
“Eu vou considerar minha posição aqui”, ele disse friamente. “Você tem todo o direito.” Roberto respondeu, mantendo a voz calma. Mas se decidir vender suas ações, eu as compro. Eu e Marcelo sempre discutimos consolidar mais controle mesmo. Rodrigo saiu batendo a porta. Sandra e João ficaram por mais alguns minutos suavizando as arestas, assegurando a Roberto que tinham confiança nele.
Quando finalmente saíram, Roberto se deixou cair na cadeira, o adrenaline esvaindo e deixando-o exausto. Isso foi, Marcelo. Começou. necessário, Roberto completou. Eu não podia deixar isso passar. Não podia deixar eles ditarem minha vida. Você disse que ama ela Marcelo observou, sorrindo, na frente de todos. Roberto riu, passando as mãos pelo rosto, disse: “E é verdade. Ela sabe?” Ainda não. Roberto admitiu, “mas vou contar hoje.
Marcelo bateu no ombro do amigo. Então vai lá. Ela está esperando. Roberto desceu para a recepção com o coração acelerado por razões completamente diferentes. Agora Ana estava exatamente onde ele a havia deixado, mas a revista estava fechada no colo. Ela estava olhando pela janela, perdida em pensamentos. Ei, Roberto chamou suavemente.
Ela virou e a preocupação em seu rosto era palpável. Como foi? Rodrigo provavelmente vai vender suas ações, Roberto disse honestamente. Sandra e João estão OK e eu Ele pegou as mãos dela. Eu disse a eles que te amo. Os olhos de Ana se arregalaram. Você o quê? Eu amo você, Ana Paula Costa. Roberto repetiu mais alto agora, sem se importar com quem na recepção pudesse ouvir.
Amo sua força, sua integridade, a forma como você me desafia e me apoia ao mesmo tempo. Amo como você faz eu querer ser um homem melhor. E eu disse isso para eles porque queria que soubessem. Você não é um escândalo. Você é a melhor coisa que me aconteceu em 20 anos. As lágrimas escorriam livremente pelo rosto de Ana. Agora eu também te amo. Ela sussurrou.
Deus, Roberto, eu te amo tanto. E estava com tanto medo de admitir. Ele a puxou para seus braços ali mesmo na recepção e a beijou como se ela fosse ar e ele estivesse se afogando. Quando se separaram, meia dúzia de funcionários estavam olhando, alguns sorrindo, outros com expressões chocadas. “Roberto não se importou nem um pouco.
” “Vem”, ele disse, entrelaçando os dedos dela nos seus. Vamos sair daqui. Vamos fazer algo completamente fora do roteiro. Como o quê? Não sei. Roberto admitiu sorrindo como não sorria em décadas. Mas vamos descobrir juntos. E assim eles saíram, deixando para trás os julgamentos, as expectativas, os medos, prontos para enfrentar o que quer que viesse a seguir juntos.
As semanas seguintes trouxeram uma nova normalidade, ou mais precisamente um abandono glorioso da antiga normalidade. Roberto descobriu que havia um mundo inteiro além de salas de reunião e relatórios financeiros. Com Ana, ele foi à feira de orgânicos no sábado de manhã, algo que jamais havia cogitado fazer. Ele aprendeu a diferença entre manjericão e alfa vaca, provou queijos artesanais que nunca apareceriam em um brunch executivo e riu enquanto Ana peixinchava com um senhor de 80 anos sobre o preço de tomates.
Eles jantaram em Botequim Simples, onde Roberto era apenas Roberto, não o Roberto Santos da Santos em associados. Assistiram pôr do sol no Guaíba, sentados na grama, não em varandas de restaurantes estrelados, e descobriram que simplicidade não era ausência de riqueza, mas presença de autenticidade. Ana conseguiu a vaga no Hotel Plaza e se saiu tão bem que em três semanas já estava sendo considerada para supervisora.
Roberto ficava orgulhoso ao vê-la crescer profissionalmente, provando para si mesma e para qualquer um que duvidasse que seu mérito era seu, não reflexo de conexões dele. Consegui coordenar um evento corporativo completamente sozinha hoje. Ana contou animada numa sexta à noite, enquanto jantavam no apartamento novo que ela havia alugado no Bom Fim. Era pequeno, mas era dela, conquistado com seu próprio trabalho.
O gerente disse que foi o evento mais organizado do trimestre. Claro que foi. Roberto sorriu servindo mais vinho. Você é brilhante. Para Ana corou. Você é tendencioso. Sou completamente tendencioso. Roberto concordou. Mas não estou errado. Era no apartamento de Ana que eles passavam a maior parte do tempo agora. A mansão em moinhos de vento, com seus 5000 m quadrados, parecia fria e pretenciosa em comparação.
Ali, no espaço aconchegante de Ana, com suas plantas na varanda e fotos da família nas paredes, Roberto se sentia em casa de verdade. “Você já pensou em vender aquela mansão?”, Tana perguntou casualmente, mas Roberto percebeu que ela havia pensado nisso com cuidado antes de perguntar. Já ele admitiu, mas é complicado.
Foi a primeira grande compra que fiz com o dinheiro da empresa, um símbolo de que consegui, sabe? Vender. Parece admitir que que você mudou. Ana completou gentilmente. É. Roberto olhou para ela. Mas mudei, não foi? Você me mudou. Ana balançou a cabeça. Eu não te mudei, Roberto. Só te ajudei a encontrar partes de você que estavam enterradas sobativas e aparências. Era essa a sabedoria dela, sempre surpreendente, que fazia Roberto se apaixonar um pouco mais a cada dia.
Mas nem tudo era perfeito. Ainda havia olhares nas ruas quando andavam juntos. Ainda havia comentários maldosos em redes sociais. E ainda havia momentos em que Ana se retraía ferida por algum julgamento alheio que não deveria importar, mas importava. Viu o que aquela colunista social escreveu? Ana perguntou numa noite, seu telefone na mão e uma expressão magoada no rosto.
Roberto pegou o telefone dela gentilmente, leu o texto venenoso sobre arranjadores profissionais que sabem exatamente como capturar homens solitários e ricos, e sentiu a raiva ferver em suas veias. “Ana”, ele disse, segurando o rosto dela para que ela o olhase. “Essa mulher não te conhece.
Ela não sabe que você recusou quando eu ofereci comprar um carro para você. Não sabe que você insiste em dividir contas nos restaurantes? Não sabe que você quase teve um ataque quando descobriu o preço do presente de aniversário que eu te dei? Era verdade. Roberto havia dado a Ana um colar simples, mas elegante no mês anterior, e ela quase o fez devolver ao descobrir que custava o equivalente ao seu salário de 2 meses. “Eu sei disso,” Ana suspirou.
“Mas às vezes eu leio essas coisas e me pergunto: “Vale a pena todo esse julgamento, toda essa exposição? Você não merecia algo mais simples? Ei, Roberto puxou-a para seus braços. Nada sobre você é complicado. As pessoas é que complicam. E sim, vale a pena. Mil vezes vale a pena. Mas Roberto sabia que precisava fazer algo mais.
Precisava de um gesto que mostrasse, não apenas para Ana, mas para o mundo, que seu compromisso com ela era real, profundo e permanente. Foi Júlia quem lhe deu a ideia. Eles estavam jantando juntos. Roberto, Ana, Marcelo e Júlia num restaurante italiano no Moinhos de Vento. A amizade entre os quatro havia se solidificado naturalmente e essas saídas se tornaram tradição mensal. “Quando vocês vão conhecer a família dela?”, Júlia perguntou casualmente.
Mas Roberto percebeu que não havia nada de casual na pergunta. Ana quase engasgou com o vinho. “Júlia! O quê? É uma pergunta legítima.” Júlia sorriu. Vocês estão juntos há quatro meses. Você fala da sua família o tempo todo. Está na hora de Roberto conhecer de onde você veio, suas raízes. Júlia tem razão. Marcelo concordou, ganhando um olhar de advertência de Ana. Não, vocês também.
Mas Roberto estava pensativo. Ele não havia pressionado sobre conhecer a família de Ana, respeitando o ritmo dela. Mas a verdade era que ele queria. Queria ver os vinhedos sobre os quais ela falava com tanto carinho. Conhecer os pais que a criaram para ser a mulher extraordinária que ela era, entender completamente de onde ela vinha. “Eu gostaria de conhecer sua família”, Roberto disse suavemente.
“Mas só quando você estiver pronta”. Ana ficou quieta por um momento, mexendo no guardanapo nervosamente. Não é que eu não queira. Ela finalmente admitiu, é que minha família é simples. Meu pai vai usar a mesma camisa que usa para trabalhar nos vinhedos. Minha mãe vai fazer comida demais porque acha que você é magro.
Meu irmão vai te interrogar como se estivesse na polícia. É tudo muito real. Real é exatamente o que eu quero. Roberto assegurou. E você? Ana olhou para ele com uma vulnerabilidade que partiu seu coração. Você veio de um mundo onde jantares tm sete talheres e conversas são sobre mercados financeiros. Minha família não é assim.
Bom, Roberto sorriu porque eu nunca me senti confortável naquele mundo, mas me sinto confortável com você e quero conhecer as pessoas que te fizeram ser quem você é. Júlia estava praticamente radiante. Então está decidido. Um fim de semana em Bento Gonçalves. Júlia. Ana começou, mas estava sorrindo apesar de si mesma. O quê? Alguém precisa empurrar vocês dois. Júlia brincou.
Senão vocês vão ficar nessa de quando estiver pronto até o próximo século. Todos riram. Mas quando Roberto olhou para Ana mais tarde naquela noite, enquanto dirigiam de volta para o apartamento dela, ele podia ver que ela estava nervosa. Ei, ele pegou a mão dela. Se você realmente não quer, não precisamos ir. Não tem pressão. Ana olhou para ele e então tomou uma decisão visível.
Não, Júlia está certa. Está na hora. Se vamos fazer isso, ela gesticulou entre eles. Fazer isso de verdade a longo prazo, você precisa conhecer minha família. E eles precisam te conhecer. O verdadeiro você não o CEO ou o milionário. Só Roberto. Só Roberto. Ele repetiu gostando de como soava. Quando? Fim de semana que vem.
Ana sugeriu e então riu nervosamente antes que eu perca a coragem. E assim foi marcado, uma viagem a Bento Gonçalves, um fim de semana que Roberto intuía seria transformador de formas que ele ainda não podia imaginar, porque estava prestes a fazer algo que não fazia há muito tempo, confiar completamente em outra pessoa, abrir-se não apenas para Ana, mas para toda a vida dela, todas as raízes que a faziam ser quem era, e talvez, apenas talvez, encontrar suas próprias raízes no processo, descobrir que lar não Não é onde você mora, mas onde você é amado
completamente, incondicionalmente, como ele amava Ana. E ele esperava como a família dela poderia um dia amá-lo também. A estrada para Bento Gonçalves serpenteava entre colinas verdes cobertas de vinhedos organizados em linhas perfeitas. Era início de primavera e as parreiras estavam começando a brotar, prometendo uma nova safra.
Roberto dirigia, enquanto Ana apontava pontos de referência de sua infância, a escola onde estudou, o mercadinho onde comprava picolés no verão, a igreja onde fez primeira comunhão. “Está nervoso?”, Ana perguntou, notando como os dedos dele apertavam o volante. “Pavorado, Roberto admitiu honestamente. E se eles não gostarem de mim? Ana Rio Roberto Santos, você fecha contratos de milhões com investidores internacionais sem suar.
Mas meus pais te deixam nervoso? Investidores internacionais não vão me julgar por estar com você. Roberto respondeu. Seus pais têm todo o direito de me analisar com lupa. Eu faria o mesmo se tivesse uma filha como você. OK. Isso foi fofo, Ana admitiu. Mas relaxa, eles já te amam só porque eu te amo. Minha mãe disse isso ontem no telefone. Roberto olhou para ela rapidamente antes de voltar os olhos para a estrada.
Você falou para ela que me ama? Falei, Ana confirmou, sem vergonha, porque eu falo e porque queria que ela soubesse que isso é sério para mim. O coração de Roberto inchou no peito. A pousada Vale dos Sonhos ficava no alto de uma colina, cercada por vinhedos que pareciam se estender até o horizonte.
Era menor do que Roberto imaginava, talvez 10 quartos no máximo, mas impecavelmente mantida. Flores coloridas alinhavam o caminho de pedras até a entrada, e havia uma fonte no centro do jardim frontal, onde água cristalina dançava. Antes mesmo de Roberto desligar o motor, a porta principal se abriu e uma mulher saiu correndo. Era claramente a mãe de Ana.
Os mesmos olhos expressivos, o mesmo sorriso caloroso, só que com cabelos grisalhos presos num coque frouxo e rugas de riso ao redor dos olhos. Ana, minha filha. Ela praticamente puxou Ana do carro, abraçando-a com força. Oi, mãe. Ana ria, retribuindo o abraço. Deixa eu te apresentar. Mas a mãe de Ana já tinha soltado a filha e estava se aproximando de Roberto, que havia saído do carro e ficado ali parado, sem saber exatamente o que fazer.
“Roberto”, ela disse. E havia uma avaliação cuidadosa em seus olhos, mas também uma bondade. “Eu sou Clarice. Bem-vindo à nossa casa. Então, para a surpresa de Roberto, ela também o abraçou. Não abraço formal, mas um abraço genuíno, materno, que fez algo doer em seu peito. Uma saudade de abraços maternos que ele não sentia há 20 anos.
“Obrigado por me receber”, Roberto disse quando ela o soltou. “Qualquer pessoa importante para minha Ana é importante pra gente.” Clarice respondeu simplesmente: “Agora vem, entra. Paulo tá lá dentro e aviso logo. Ele vai parecer rude no começo, mas é só jeito dele. O coração é bom. O interior da pousada era aconchegante, todo em madeira clara, com toques rústicos.
Havia fotos de família por toda parte. Ana criança nos vinhedos, Ana adolescente na Vindima, a família toda em reuniões de Natal. Roberto se viu sorrindo ao verões mais jovens de Ana, radiante e livre. Paulo Costa estava na cozinha, um homem robusto de uns 60 anos, com mãos calejadas e uma expressão que, de fato, era intimidante.
Ele deu um abraço curto em Ana, mas quando olhou para Roberto, seus olhos eram aço puro. “Então você é o tal milionário, foi tudo que ele disse. Pai, Ana repreendeu. O quê? É o que ele é, não é?” Paulo cruzou os braços. Sou. Roberto respondeu decidindo pela honestidade direta. Mas também sou o homem que se apaixonou pela sua filha e espero que você me conheça pela segunda coisa, não pela primeira.
Paulo estudou Roberto por um longo momento e Roberto manteve o olhar sabendo que isso era um teste. Finalmente Paulo acenou com a cabeça. Justo vamos ver se você aguenta um dia de trabalho real. Então amanhã você vem comigo pro vinhedo. Pai, ele veio paraa visita, não para trabalhar. Ana tentou intervir.
Se ele quer conhecer nossa família, tem que conhecer nosso trabalho. Paulo foi inflexível. É assim que funciona aqui. Roberto viu a preocupação no rosto de Ana e sorriu. Tudo bem. Eu adoraria conhecer os vinhedos. O jantar foi uma experiência. A mesa estava repleta de comida caseira, galinhada, macarrão com molho de tomate da horta, saladas frescas, pães artesanais e vinho, obviamente.
Paulo insistiu que Roberto provasse o vinho que a família produzia, observando cada reação dele com olhos de falcão. É excepcional. Roberto disse honestamente depois do primeiro gole. Há uma complexidade aqui que não se encontra em vinhos comerciais. Paulo pareceu levemente surpreso, mas satisfeito. Você entende de vinho? Não muito, Roberto admitiu, mas aprendia a apreciar. E isso aqui é arte. Foi o elogio certo.
Paulo relaxou visivelmente e logo estava explicando sobre as diferentes variedades de uva que cultivavam, sobre terroar e sobre a paixão que colocavam em cada garrafa. Clarice, enquanto isso, bombardeava Ana com perguntas sobre sua vida em Porto Alegre, sobre o trabalho no hotel, sobre se estava comendo direito, mas seus olhos frequentemente pousavam em Roberto com uma expressão pensativa.
Depois do jantar, enquanto Ana ajudava a mãe a lavar a louça e Paulo foi verificar algo nos vinhedos, Roberto se viu sozinho na varanda, olhando as estrelas que pareciam infinitamente mais próximas aqui do que na cidade. Bonita noite”, Clarice disse, aparecendo ao seu lado com duas xícaras de chá. “Linda”, Roberto concordou, aceitando o chá.
“Posso te fazer uma pergunta pessoal?”, Clarice perguntou depois de um momento. “Claro, você ama minha filha” ou a ideia dela? Roberto quase engasgou com o chá. A pergunta era direta, sem rodeios, e cortava direto ao ponto. “Com todo respeito, Clarice, qual a diferença?” A diferença, Clarissou pacientemente, é que a ideia de alguém é perfeita, é o que você imagina, o que você projeta, mas a pessoa real é complicada, tem falhas, tem dias ruins, tem inseguranças e medos.
Então eu pergunto de novo: “Você ama minha Ana” ou a ideia que você criou dela? Roberto pensou cuidadosamente antes de responder. “Eu a amo”, ele disse finalmente. Ana real, a que é teimosa e às vezes não aceita ajuda, mesmo quando precisa, a que chora quando assiste comerciais de cachorro, a que tem medo de não ser boa o suficiente, mesmo sendo extraordinária, a que me desafia e me apoia na mesma medida. Ele olhou para Clarice.
Eu a amo completamente, inclusive as partes que ela acha que precisa esconder. Clarice estudou-o por um longo momento, então assentiu. Boa resposta. Você passou no meu teste. Havia um teste? Roberto perguntou meio rindo. Sempre há teste quando se trata da minha filha. Clarice sorriu. Mas você se saiu bem. Agora só falta passar no de Paulo. O teste de Paulo veio no dia seguinte. Roberto acordou às 5 da manhã.
chamado por batidas na porta do quarto de hóspedes. Vamos. O vinhedo não espera. Foi tudo que Paulo disse. As próximas 6 horas foram as mais fisicamente exigentes da vida de Roberto desde bem, desde sempre. Eles verificaram cada linha de parreira, procurando sinais de praga ou doença.
Paulo ensinou a Roberto como podar corretamente, como avaliar a saúde da vinha, como sentir a textura do solo. O sol subia implacável e logo Roberto estava suado e exausto. Suas costas doíam, suas mãos estavam arranhadas e ele tinha certeza que teria bolhas. Mas não parou, não reclamou porque entendia o que Paulo estava fazendo.
não apenas testando sua resistência física, mas sua disposição de entrar no mundo de Ana, de valorizar o que era importante para ela. Ao meio-dia, Paulo finalmente acenou para uma sombra sob uma árvore antiga. Pausa. Eles sentaram e Paulo abriu uma mochila, tirando sanduíches caseiros e uma garrafa de água gelada. Comeram em silêncio por alguns minutos. Você não desistiu, Paulo disse.
Finalmente, não havia razão para desistir. Roberto respondeu: “A maioria dos homens da cidade desistiria. Achariam que trabalho manual é embaixo deles. A maioria dos homens da cidade é idiota.” Roberto disse. E Paulo riu. Foi a primeira vez que Roberto o viu realmente rir. Ana te escolheu bem. Paulo admitiu.
Ou você a escolheu bem. Não sei qual. Acho que foi mútuo. Roberto sorriu. Paulo ficou sério novamente. Eu vi a matéria, li os comentários. Antes que Roberto pudesse falar, Paulo levantou a mão. Não que eu acredite neles, mas me preocupa o que minha filha vai ter que enfrentar por estar com você. O julgamento, a exposição. Me preocupa também.
Roberto confessou. Todos os dias me preocupo se ela vai acordar e decidir que é demais, que eu não valho todo esse problema. Então, por que não deixa ela ir? Paulo desafiou. Pouparia ela de tudo isso? Porque ela não quer que eu a deixe ir. Roberto respondeu. E porque eu sou egoísta o suficiente para querer ficar. Ele olhou diretamente para Paulo.
Mas também porque eu protegerei ela de tudo que puder, dos julgamentos, das fofocas, de qualquer pessoa que tente machucá-la. Talvez eu não consiga protegê-la de tudo, mas vou passar minha vida tentando. Paulo estudou-o longamente. Você a ama mesmo, mais do que qualquer coisa. Então tem minha bênção. Paulo disse simplesmente: “Não que vocês precisem dela, vocês são adultos.
Mas tem mesmo assim. Algo se soltou no peito de Roberto. Obrigado”, ele disse. E a emoção em sua voz era real. “Mas machuca ela.” Paulo acrescentou com uma seriedade mortal. E você descobre o que um viticultor irritado é capaz de fazer. Roberto riu, mas sabia que Paulo não estava completamente brincando. Naquela noite houve um jantar maior.
O irmão de Ana, Daniel, chegou com sua família. Havia primos, tios, amigos da comunidade. A pousada estava cheia de vida, riso, música. Roberto sentou no meio daquilo tudo, Ana ao seu lado, e pela primeira vez em 20 anos sentiu o que era fazer parte de algo maior que si mesmo, uma família, uma comunidade, um lugar onde pertencer.
Feliz, Ana sussurrou em seu ouvido. Mais do que posso expressar. Roberto respondeu honestamente. Mais tarde, quando todos tinham ido embora e a casa estava quieta, Roberto e Ana caminharam pelos vinhedos sob a luz da lua. Obrigado, Roberto disse. Por quê? Por me trazer aqui, por me mostrar suas raízes, por me deixar fazer parte disso. Ele gesticulou para os vinhedos, para a pousada ao longe. Eu nunca tive isso.
Nunca tive uma família assim. E é mágico. Ana parou de andar, virando para ele. Agora você tem, você faz parte disso. Minha família é sua família agora. Roberto sentiu lágrimas picar em seus olhos. Eu não mereço você. Você merece tudo de bom. Ana corrigiu tocando seu rosto. Que eu vou passar o resto da minha vida provando isso para você.
Eles se beijaram ali entre as vinhas, sob as estrelas. E Roberto soube com certeza absoluta que estava prestes a fazer a pergunta mais importante de sua vida. Em breve, muito em breve. As semanas após a visita a Bento Gonçalves, passaram numa espécie de névoa feliz. Roberto não conseguia lembrar a última vez que havia se sentido tão completo.
Era como se todas as peças de um quebra-cabeça que ele nem sabia que estava montando tivessem finalmente se encaixado. Mas com a completude veio também clareza. Ele sabia exatamente o que queria. Uma vida com Ana, não eventualmente ou quando as coisas se acertarem, mas agora, para sempre. Era uma manhã de quinta-feira quando Roberto finalmente marcou a reunião.
Não uma reunião de negócios comum, mas uma das mais importantes de sua vida. Marcelo, Roberto começou assim que seu sócio entrou no escritório. Eu preciso da sua ajuda. Marcelo sentou curioso. Com o quê? Algum projeto novo? Não, exatamente. Roberto respirou fundo. Eu quero pedir Ana em casamento.
O silêncio que se seguiu durou apenas um segundo antes de Marcelo explodir num sorriso enorme. Finalmente, Júlia me deve R$ 20. Ela apostou que você ia esperar pelo menos dois meses. Vocês apostaram? Roberto não sabia se ria ou fingia ofensa. Claro que apostamos. Marcelo se recostou na cadeira ainda sorrindo. Você está completamente apaixonado. Qualquer um com olhos pode ver.
E Ana, cara, ela é perfeita para você. Ela é. Roberto concordou um sorriso bobo no rosto. E é por isso que eu não posso fazer isso de qualquer jeito. Tem que ser especial, significativo, algo que seja nós. Então, nada de restaurantes chiques com violinistas? Marcelo brincou. Definitivamente não. Roberto balançou a cabeça. Você conhece a Ana. Ela ficaria horrorizada com algo muito ostentoso.
Então, o que você está pensando? Roberto passou a mão pelos cabelos, um gesto que Marcelo reconheceu como nervosismo. Honestamente, ainda não sei. É por isso que preciso de ajuda. Você e Júlia conhecem Ana quase tão bem quanto eu agora. Júlia, especialmente. Elas ficaram próximas. É verdade. Marcelo concordou. Ana e Júlia almoçam juntas toda semana. Ele se inclinou para a frente. OK, vamos pensar nisso.
O que é importante para Ana? Família. Roberto respondeu imediatamente. Autenticidade, simplicidade. Momentos significativos, ao invés de gestos grandiosos. Certo? Então, talvez algo em Bento Gonçalves, com a família dela presente, Roberto considerou, mas balançou a cabeça. Eu pensei nisso, mas quero que seja só nós dois primeiro.
Um momento que seja nosso antes de compartilhar com o mundo. Faz sentido. Marcelo assentiu. E quanto a lugar, algum lugar que seja especial para vocês dois? Roberto pensou. Havia tantos lugares agora. O restaurante onde almoçaram pela primeira vez, o terraço onde se beijaram na virada do ano, até a casa amarela onde tudo começou.
A casa amarela, Roberto disse de repente. É onde tudo começou. Onde ela me convidou para jantar quando eu estava no meu pior momento. Foi ali que eu comecei a sentir de novo. Perfeito. Marcelo bateu na mesa. Mas como você transforma isso num pedido de casamento memorável? E foi assim que nasceu o plano.
Com ajuda de Marcelo, Júlia, que foi trazida para a conspiração e ficou emocionalmente devastada com a notícia. E surpreendentemente, Fernanda, a prima de Ana, que emprestou a estola para o ano novo, Roberto começou a orquestrar o pedido. Não seria no restaurante mais caro da cidade, não haveria quarteto de cordas ou champanhe de R$ 1.000.
Em vez disso, seria algo infinitamente mais precioso, uma recreação daquela primeira noite de Natal, mas com um toque que mudaria tudo. O primeiro desafio era conseguir acesso à casa. Fernanda revelou que Ana ainda mantinha o aluguel, mas raramente ficava lá.
Ela passava a maior parte das noites no apartamento novo ou na mansão com Roberto, que ele finalmente havia colocado à venda, decidindo que era hora de construir um novo lar, não viver assombrado pelo passado. Ela vai na casa só para pegar correspondência e regar as plantas, Fernanda explicou numa reunião secreta no apartamento de Roberto. Mas eu tenho chave reserva.
Posso preparar tudo enquanto vocês estiverem, sei lá, ocupados em outro lugar. Você é uma gênia criminosa! Júlia declarou. Sou uma romântica! Fernanda, corrigiu sorrindo. E depois de tudo que Ana passou, de todos os julgamentos e fofocas, ela merece esse momento perfeito. O plano estava tomando forma. Roberto pediria Ana em casamento na casa amarela, na mesma mesa onde jantaram naquele Natal transformador.
Mas desta vez ele não seria o CEO solitário aceitando caridade. Seria um homem apaixonado, oferecendo seu coração e seu futuro. O anel foi o próximo desafio. Roberto instintivamente queria comprar algo extravagante, mas Marcelo o freou. “Pensa no que Ana apreciaria”, ele aconselhou. “Não no que você pode pagar.” Roberto visitou cinco joalheras antes de encontrar o certo. Não era o maior diamante ou o mais caro.
Era um anel em ouro branco, delicado e elegante, com uma safira azul no centro cercada por pequenos diamantes. A safira era da cor exata do vestido que Ana usou no ano novo. A cor que ela disse ser sua favorita. É perfeito. A joalheira disse quando Roberto escolheu. Singular, elegante, mas não ostentoso. Muito pensado. Como a mulher que vai usá-lo, Roberto murmurou. A data foi marcada para um sábado, três semanas depois.
Seria simples. Roberto diria a Ana que queria passar o dia juntos fazendo coisas simples, feira, caminhada no parque, talvez cinema. E então, no final da tarde sugeriria que passassem pela casa amarela só para matar a saudade. Você acha que ela vai suspeitar? Roberto perguntou a Júlia nervosamente dias antes do pedido.
Provavelmente, Júlia admitiu, Ana é perspicaz, mas mesmo se ela suspeitar, ela não vai saber dos detalhes. E é a intenção que conta, Roberto. O fato de você estar fazendo isso de uma forma que honra quem ela é, não quem você é financeiramente. E se ela disser não? A pergunta saiu antes que Roberto pudesse detê-la, revelando o medo que o roía por dentro.
Júlia olhou para ele com uma expressão que era ao mesmo tempo divertida e compassiva. Roberto, eu vejo como ela olha para você. Ela não vai dizer não. Mas mesmo se houvesse uma chance de mil de ela dizer que não está pronta, isso significaria apenas ainda não. Não, nunca. Você sabe disso. Roberto sabia, mas o medo era real mesmo assim. Os dias antes do pedido foram torturantes.
Roberto teve que manter o segredo agir normal enquanto sua mente estava constantemente no sábado que se aproximava. Ele ensaiou o que diria dezenas de vezes, mas as palavras sempre pareciam inadequadas. Como expressar em simples palavras o que Ana significava para ele? Como condensar uma transformação de vida inteira numa declaração? Para de pensar demais, Marcelo aconselhou na sexta-feira.
fala do coração. É tudo que ela quer ouvir mesmo. Naquela noite, Roberto e Ana jantaram juntos no apartamento dela. Era só mais uma cesta normal. Mas Roberto gravou cada detalhe na memória, a forma como ela ria de uma piada boba que ele fez, como seus olhos brilhavam quando ela falava sobre um evento que coordenou no hotel, como ela se encaixava perfeitamente em seus braços quando eles se deitaram no sofá para assistir um filme. “Você está quieto hoje?”, Ana observou, acariciando seus cabelos.
Tudo bem? Tudo ótimo. Roberto mentiu, ou talvez não mentiu, porque tudo estava ótimo, ou estava prestes a ficar ainda melhor. Amanhã a gente podia fazer algo especial, ele sugeriu casualmente. Feira de manhã, talvez almoçar naquele lugar que você gosta no Cidade Baixa depois. Depois? Ana incitou quando ele pausou. Depois a gente vê. Roberto sorriu.
Deixa o dia nos levar. Ana riu. Você deixando o dia te levar, sem planejar cada detalhe. Sou um homem cheio de surpresas. Roberto brincou. És mesmo. Ana concordou, beijando-o suavemente. Se ela soubesse exatamente qual surpresa o aguardava, Roberto pensou, mas em breve, muito em breve, ela saberia. E ele só esperava que sua resposta fosse o sim que seu coração inteiro estava implorando para ouvir.
O sábado amanheceu com aquele tipo de luz dourada que parece prometer que algo especial está prestes a acontecer. Roberto acordou na mansão ainda vazia. Ele tinha dormido lá na noite anterior, precisando de espaço para processar seus nervos e imediatamente checou o telefone. Havia uma mensagem de Fernanda no grupo secreto. Tudo pronto.
A casa está perfeita. Boa sorte, cunhado. Cunhado? A palavra fez o estômago de Roberto dar um salto. Se tudo desse certo, era exatamente o que ele seria. Ele se vestiu com cuidado. Nada muito formal. Ana odiaria se ele aparecesse de terno num sábado casual. Em vez disso, escolheu uma camisa azul, a favorita dela, e jeans.
O anel estava num bolso pequeno e especial que ele havia mandado costurar no casaco, que levaria mais tarde, quando o tempo esfriasse. Roberto encontrou Ana na feira como planejado. Ela estava radiante, com um vestido leve florido, o cabelo solto, sem maquiagem, além de um toque de batom. Ela nunca havia parecido mais linda.
“Oi!”, ela sorriu, se erguendo nas pontas dos pés para beijá-lo. Pronto para um dia inteiro de não fazer nada produtivo? Mais do que pronto, Roberto respondeu. E era verdade. Eles vagaram pela feira, provando queijos, comprando flores. Ana insistiu em lírios brancos, porque são lindos e cheiram como esperança, rindo de vendedores excessivamente entusiasmados.
Era tão normal, tão cotidiano, que Roberto quase esqueceu o peso do anel no bolso. Quase. O almoço foi no pequeno restaurante no Cidade Baixa, que havia se tornado o deles, o lugar onde iam quando queriam apenas ser Ana e Roberto, sem o peso de expectativas ou julgamentos. A dona, dona Marisa, já os conhecia pelo nome e sempre reservava a mesa do canto quando os via chegar.
Vocês dois estão brilhando hoje”, ela observou ao servir o prato. “Algo especial?” “Todo dia com ela é especial”, Roberto respondeu e Ana corou. “Tai, que coisa linda. Dona Marisa abanou-se dramaticamente. Vocês me dão esperança no amor, sabia? Depois de 40 anos casada, às vezes a gente esquece de como pode ser mágico. Depois do almoço, eles caminharam pelo parque Redenção, de mãos dadas, observando famílias fazendo piquenique, crianças correndo atrás de pipas, casais idosos sentados em bancos alimentando pombos. Era vida acontecendo ao redor deles e Roberto se viu imaginando décadas no futuro. Ele e Ana sendo
aquele casal idoso, ainda de mãos dadas, ainda apaixonados. “No que você está pensando?”, Ana perguntou, notando seu olhar distante. “Em nós?” Roberto respondeu honestamente. “Em como eu quero isso todo dia, para sempre”. Ana parou de andar, virando para ele com uma expressão curiosa.
Roberto Santos, você está ficando romântico na sua velice. Talvez eu sempre fui romântico. Ele rebateu. Só precisava da pessoa certa para tirar isso de mim. Eles se beijaram ali no meio do caminho com pessoas passando ao redor. E Roberto pensou que se Ana dissesse não mais tarde, ele ainda teria tido este momento perfeito. Mas ele realmente, realmente esperava que ela não dissesse não.
Às 5 da tarde, enquanto o sol começava a se pôr pintando o céu de laranjas e rosas, Roberto sugeriu casualmente: “Sabe onde eu queria ir? A casa amarela. Faz tempo que você não vai lá, não é?” Ana olhou para ele e Roberto viu o momento exato em que a suspeita brilhou em seus olhos. Quer ir à minha antiga casa agora? Só para dar uma olhada.
Roberto encolheu os ombros tentando parecer casual, apesar do coração acelerado. Sinto falta daquele lugar às vezes. Foi onde tudo começou. Ana estudou-o por um longo momento, um sorriso pequeno brincando em seus lábios. “Ok”, ela disse finalmente. “Vamos lá.” A casa amarela estava exatamente como Roberto lembrava, só que de alguma forma mais bonita, sob a luz dourada do fim de tarde.
O pé de jasmim estava florido, perfumando o ar com aquele cheiro que sempre o faria pensar naquele primeiro Natal transformador. Ana tirou as chaves da bolsa, mas hesitou antes de abrir a porta. Roberto, você precisa me dizer algo? Talvez. Ele admitiu, seu coração batendo tão forte que tinha certeza que ela podia ouvir.
Ana balançou a cabeça, mas estava sorrindo enquanto abria a porta e então parou completamente. A casa tinha sido transformada. Velas cintilavam por toda parte. Não milhares, como em alguma produção exagerada, mas o suficiente para criar uma luz suave e acolhedora. A mesinha simples estava posta para dois, exatamente como naquele primeiro Natal, mas desta vez com os lírios que eles haviam comprado na feira dispostos num vaso no centro.
E havia comida, peru, farofa, salpicão, todos os pratos daquele jantar inicial. Roberto, a voz de Ana era um sussurro. O quê? Me deixa explicar. Roberto disse suavemente, guiando-a para dentro e fechando a porta atrás deles. Aquela noite no Natal, quando você me convidou para jantar aqui, você salvou minha vida. Não literalmente, talvez, mas em todos os jeitos que importam. Eu estava tão perdido, Ana, tão sozinho.
Tinha tudo que o dinheiro podia comprar, mas nada que realmente importava. E então você, com sua gentileza simples, me ofereceu algo que eu não tinha há 20 anos. Conexão humana real. Lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Ana. Você não precisa agradecer por isso. Não é agradecimento. Roberto a interrompeu gentilmente. Ou não é só isso. É. Deixa eu começar direito.
Ele pegou as mãos dela, levando-a até a mesa onde tudo havia começado. Em vez de sentar, ele simplesmente ficou ali, segurando as mãos dela, olhando em seus olhos. Ana Paula Costa, antes de te conhecer, eu estava vivendo uma vida que parecia sucesso, mas era realmente só existência. Eu ia de reunião em reunião, de projeto em projeto, acumulando conquistas, mas esquecendo de viver.
E então você apareceu com seu sorriso genuíno e seu coração enorme. E tudo mudou. Roberto, Ana estava chorando abertamente. Agora você me ensinou que vulnerabilidade não é fraqueza. Que deixar alguém entrar não significa perder controle. Que amor verdadeiro não é sobre o que você pode oferecer materialmente, mas sobre quem você escolhe ser quando está com a outra pessoa. Ele soltou uma mão dela, procurando no bolso com dedos trêmulos.
Você me ensinou a voltar a sentir, a voltar a viver. O anel emergiu, capturando a luz das velas, a safira azul brilhando como um fragmento do céu noturno. Ana cobriu a boca com a mão livre, um soluço escapando. E agora, Roberto continuou, sua própria voz tremendo com emoção.
Eu estou aqui na casa onde tudo começou, te pedindo para me deixar passar o resto da minha vida, te mostrando o quanto você significa para mim, te mostrando que você não é um escândalo ou um erro de julgamento, mas a melhor coisa que já me aconteceu, a única coisa que realmente importa. Ele começou a se ajoelhar, mas Ana o parou, puxando-o de volta. Sanão! Ela disse entre lágrimas. Nada de ajoelhar.
Somos iguais, lembra, parceiros. Roberto riu através de suas próprias lágrimas, mantendo-se de pé como ela pediu. Ana Paula Costa, ele disse, a voz carregada com cada emoção que sentia. Você quer se casar comigo? Não pelo dinheiro ou status ou qualquer outra coisa que as pessoas vão presumir, mas porque eu te amo, porque você me faz querer ser um homem melhor.
Porque não consigo imaginar enfrentar um único dia sem você ao meu lado. O silêncio que se seguiu durou apenas um segundo, mas pareceu uma eternidade. Então Ana jogou os braços ao redor do pescoço dele, rindo e chorando ao mesmo tempo. “Sim”, ela exclamou. “Sim, mil vezes.” “Sim! Claro que eu quero casar com você, seu idiota maravilhoso.
Roberto girou ela no ar, o alívio e a alegria explodindo em seu peito como fogos de artifício. Quando a colocou de volta no chão, suas mãos tremiam tanto que ele mal conseguiu colocar o anel no dedo dela. Mas quando finalmente conseguiu e o anel se encaixou perfeitamente, como se tivesse sido feito para estar ali, ambos ficaram parados apenas olhando. “É perfeito”, Ana sussurrou, admirando o anel.
A safira da cor do seu vestido de ano novo. Roberto completou. Da cor dos seus olhos quando você está feliz. Da cor que eu quero ver todos os dias pelo resto da minha vida. Ana puxou-o para um beijo que foi ao mesmo tempo gentil e apaixonado, casto e promissor. Um beijo que selava uma promessa que começava uma nova jornada.
Quando se separaram, Ana olhou ao redor da casa, para a mesa posta, para as velas, para os detalhes cuidadosos. Você fez tudo isso? Tive ajuda. Roberto admitiu. Fernanda, Marcelo, Júlia, todos conspirando para tornar isso perfeito. E a comida, Clarice, Roberto confessou. Eu liguei para sua mãe há duas semanas, pedi a bênção dela e do seu pai e então perguntei se ela podia me ensinar a fazer salpicão, exatamente como ela fez naquele primeiro Natal. Você você ligou pros meus pais? Ana estava impressionada. E eles não me contaram?
Pedi para eles não contarem. Roberto sorriu e sua mãe concordou, mas só depois de me fazer passar por um interrogatório de duas horas sobre minhas intenções, planos de futuro e se eu realmente entendia o quão especial você é. E o que você disse? Disse que entendo perfeitamente o quão especial você é. É por isso que estou pedindo ela em casamento.
Ana abraçou-o novamente, segurando-o como se ele pudesse desaparecer. “Eu te amo tanto”, ela murmurou contra seu peito, “tanto que às vezes me assusta. Eu sei o sentimento, Roberto respondeu, beijando o topo de sua cabeça. Mas vamos ter o resto de nossas vidas para nos acostumarmos com isso. Eles jantaram à luz de velas, cada garfada de salpicão e peru trazendo memórias daquela primeira noite, mas agora tingidas com a promessa de milhares de noites futuras.
Conversaram sobre tudo, sobre quando contar a família, sobre que tipo de casamento queriam. pequeno, ambos concordaram imediatamente. Só família e amigos próximos sobre onde viver. Talvez uma casa nova que fosse deles, não dele ou dela, mas deles. Há algo que eu quero te pedir, Ana disse quando já estava tarde. Aí você pode dizer não. Qualquer coisa. Roberto prometeu. Eu não quero um casamento caro e extravagante.
Ela começou e Roberto já estava assentindo antes dela terminar. Quero algo simples, significativo. Talvez em Bento Gonçalves, nos Vinhedos, só nossa família e amigos mais próximos. Parece perfeito, Roberto disse honestamente. Mas só se você me deixar fazer uma coisa. O quê? Pagar para trazer todos, sem exceções.
Eu sei que sua família tem gastos com a pousada, que alguns dos seus parentes não poderiam se dar ao luxo de viajar. Me deixa fazer isso, não como ostentação, mas como forma de garantir que todos que vocês amam possam estar lá. Ana estudou-o, então assentiu lentamente. OK, mas Roberto, nada de decoração exagerada ou simples ele prometeu. Autêntico como você, como nós.
Enquanto dirigiam de volta para o apartamento dela mais tarde naquela noite, a mão de Ana encontrou-a de Roberto sobre o câmbio, o anel brilhando sob as luzes da rua. “Posso fazer uma confissão?”, Ana perguntou sempre. Eu meio que suspeitei. Você estava agindo estranho a semana toda. Roberto riu. Eu sou péssimo guardando segredos de você. Bom, Ana apertou a mão dele.
Significa que somos sinceros um com o outro, como deve ser. E enquanto dirigiam pelas ruas de Porto Alegre, passando de áreas ricas para modestas, sem nem notar a diferença, Roberto percebeu que finalmente havia encontrado o que passara 20 anos procurando sem saber. Casa, não um lugar. mais uma pessoa e seu nome era Ana Paula Costa.
Em breve Ana Paula Santos, sua noiva, seu futuro, seu tudo. Os meses seguintes ao pedido foram um turbilhão feliz de planejamento, descobertas e pequenas decisões que se tornaram grandes quando feitas juntos. Ana e Roberto decidiram casar na primavera seguinte, dando tempo suficiente para organizar tudo da forma que queriam, simples, mas significativa.
A notícia do noivado foi recebida com reações variadas. A família de Ana estava em êxtase. Clarice chorou ao telefone por 20 minutos quando Ana ligou para contar. E Paulo, no fundo, podia ser ouvido, dizendo: “Eu já sabia que esse rapaz era esperto” numa voz grossa de emoção. A sociedade portoalegrense, porém, teve uma reação mais mista.
Os mesmos blogs que haviam criticado o relacionamento agora faziam matérias especulativas sobre casamentos por interesse e estratégias matrimoniais. Roberto leu uma ou duas, ficou furioso por exatos 5 minutos e então simplesmente decidiu não se importar. Eles vão falar de qualquer jeito.
Ele disse a Ana quando ela estava particularmente irritada com um artigo especialmente venenoso. Podemos passar nossa vida nos preocupando com o que pessoas que nem nos conhecem pensam. Ou podemos simplesmente viver. Viver sou a melhor, Ana concordou. Mas a verdadeira surpresa veio de onde eles menos esperavam. Rodrigo Mendes, o investidor que havia saído em Fúria da reunião meses atrás apareceu no escritório de Roberto num dia de março, sem avisar, com uma expressão que era difícil de ler. “Roberto, ele começou sem preâmbulos. Eu vim me desculpar.
Roberto quase caiu da cadeira. Desculpar por quê? Por ser um idiota antiquado.” Rodrigo disse sem rodeios. Eu tive muito tempo para pensar e minha filha teve algumas palavras bem escolhidas para mim sobre julgamento e hipocrisia. Ele fez uma careta. Ela tende a ser brutalmente honesta quando quer. Bom para ela. Roberto não conseguiu deixar de sorrir.
O ponto é, Rodrigo continuou, que eu estava errado sobre você e Ana, sobre optics de decisões pessoais, sobre presumir o pior das pessoas. E eu queria, não sei me desculpar. e perguntar-se a chance de eu voltar como investidor. Roberto estudou o homem mais velho. Havia sinceridade genuína em seus olhos, mas também algo mais. Humildade com uma condição.
Roberto disse finalmente, qual? Você e sua filha vem ao nosso casamento como convidados, não como obrigação de negócios. Porque se vamos trabalhar juntos de novo, quero que seja baseado em respeito mútuo, não apenas em números. Rodrigo pareceu genuinamente surpreso, mas então sorriu. Seria uma honra. A venda da mansão foi concluída em abril. Roberto não sentiu nenhuma tristeza ao assinar os papéis.
Aquela casa nunca havia sido um lar, apenas um símbolo de sucesso vazio. Em vez disso, ele e Ana compraram um terreno em Bela Vista, com vista para o Guaíba, e começaram a projetar uma casa que seria deles desde a fundação, não muito grande. Ana insistiu enquanto revisavam projetos com o arquiteto. Quero uma casa onde eu possa chamar cada pessoa em cada quarto pelo nome, onde não nos percamos um do outro.
E um jardim. Roberto adicionou um grande para quando? Ele pausou, olhando para Ana. Para quando tivermos família. Ana olhou para ele, os olhos brilhando. Crianças, se você quiser, Roberto disse suavemente. Eu nunca pensei muito nisso antes, mas agora, agora eu não consigo parar de imaginar uma menina com seus olhos ou um menino com sua teimosia. Nossa teimosia. Ana corrigiu rindo.
Você não é exatamente flexível, Sr. Santos. futura senora Santos. Ele rebateu, puxando-a para um beijo rápido que fez o arquiteto discretamente fingir estar muito interessado nas plantas. O casamento foi marcado para o primeiro sábado de outubro nos vinhedos de Bento Gonçalves. Como prometido, seria simples.
Cerimônia ao ar livre entre as parreiras, recepção na pousada, não mais que 50 convidados. Ana usaria um vestido simples, mas elegante que Júlia a ajudou a escolher. Nada de renda excessiva ou cauda quilométrica, apenas um vestido que a fazia se sentir como ela mesma, só que mais radiante. Roberto teria Marcelo como padrinho e Ana escolheu Júlia como madrinha.
A amizade entre os quatro havia se solidificado ao ponto onde não era incomum encontrá-los, fazendo jantar conjunto às cestas, jogando baralho até tarde ou simplesmente conversando sobre a vida. Vocês dois vão ser padrinhos dos nossos filhos também, Ana anunciou certa noite um pouco tonta de vinho. Filhos, plural. Júlia arqueou uma sobrancelha. Pelo menos dois. Ana confirmou.
Filho único é solitário. Acredite, eu sei. Meu irmão foi a melhor parte de crescer. Roberto apenas sorriu imaginando uma casa cheia de vida, riso, pequenos pés correndo. Era uma imagem tão diferente da mansão vazia, onde havia vivido por anos que quase doía. Mas doía no bom sentido, como um músculo que não é usado há muito tempo, sendo finalmente exercitado.
Os convites foram enviados em agosto. Eram simples. Papel reciclado com texto minimalista, nenhuma ostentação ou elementos dourados. Apenas Ana Paula Costa e Roberto Santos convidam você para celebrar o início de sua jornada juntos. 1o de outubro de 2025. Vinhedos Vale dos Sonhos. Bento Gonçalves. Um mês antes do casamento, Roberto e Ana foram juntos visitar os túmulos dos pais dele, algo que Roberto não fazia há anos.
Eu queria, ele começou parado em frente aos dois marcos de granito, a mão de Ana firme na sua. Eu queria apresentar ela a vocês. Sei que é bobagem que vocês não podem realmente ouvir, mas não é bobagem. Ana disse suavemente. Pai, mãe. Roberto continuou. Sua voz embargada. Eu sei que vocês sempre se preocuparam comigo, sempre quiseram que eu fosse feliz, não apenas bem-sucedido.
E eu queria que vocês soubessem que finalmente entendia a diferença. Ele apertou a mão de Ana. Ela me mostrou. Ana, ela vai ser minha esposa em um mês e eu eu queria que vocês a conhecessem. Acho que vocês teriam gostado muito dela. Ela é gentil como você era, mãe, e forte como você, pai. e ela me torna melhor só por existir.
Ana estava chorando silenciosamente ao seu lado. “Vou cuidar dele”, ela disse aos Marcos. Prometo. “Vou amá-lo e desafiá-lo e apoiá-lo, e vou fazer o meu melhor para ser o tipo de esposa que ele merece”. Quando saíram do cemitério, ambos estavam emocionalmente exaustos, mas também mais leves, como se um círculo tivesse sido fechado, dando espaço para um novo começar.
Os últimos dias antes do casamento passaram num borrão. Havia detalhes de última hora, flores que precisavam ser confirmadas, o menu final para a recepção, a banda local que tocaria, uma decisão de Ana. Ela insistiu em contratar músicos da comunidade ao invés de alguma banda famosa de Porto Alegre. Roberto vendeu suas ações na construtora a Marcelo e alguns investidores cuidadosamente selecionados, mantendo apenas participação minoritária. Era hora de dar um passo atrás.
Ele decidiu passar mais tempo vivendo e menos tempo trabalhando. Você tem certeza disso? Marcelo perguntou quando assinaram os papéis. absoluta, Roberto respondeu. Eu tenho dinheiro mais que suficiente. Tenho segurança mais que suficiente. O que eu quero agora é tempo. Tempo com Ana. Tempo para viajar, para experimentar coisas novas, para simplesmente ser. Você mudou muito.
Marcelo observou, mas estava sorrindo. Para melhor, espero definitivamente para melhor. Na noite anterior ao casamento, era tradição que noiva e noivo não se vissem. Ana ficou na pousada com sua mãe Júlia e Fernanda, enquanto Roberto ficou numa pousada próxima com Marcelo, Paulo e Daniel, o irmão de Ana, que havia inicialmente sido desconfiado, mas eventualmente se aquecido a Roberto depois de várias conversas e uma quantidade impressionante de cerveja artesanal.
“Nervoso,”, Daniel? Perguntou enquanto tomavam uma última cerveja na varanda. “Apavorado, Roberto admitiu, mas não de forma ruim. É aquele tipo de medo que vem antes de algo grande e importante. Você vai ser bom para ela, Daniel disse seriamente. Eu fiquei de olho. Vi como você a trata, como você a olha. Você vê minha irmã. Realmente vê ela. Sabe não só a ideia dela.
Era a mesma coisa que Clarice havia perguntado meses atrás. Ver a pessoa não a ideia. Roberto estava grato que a resposta continuava sendo sim. E então chegou o dia. Um sábado perfeito de outubro. Céu azul limpo, temperatura ideal, nem muito quente, nem muito frio. Roberto estava de pé no início de um corredor improvisado entre as vinhas, vestindo um terno simples azul marinho.
Decisão de Ana. Por você fica lindo de azul e porque é mais você do que aqueles smoking pretos com Marcelo ao seu lado? Os 50 convidados estavam sentados em cadeiras rústicas de madeira, conversando baixo, o som de uma violinista local tocando suavemente ao fundo. Era perfeito, exatamente como eles queriam. E então a música mudou.
Uma versão instrumental suave de Lavian Rose começou a tocar. Roberto olhou para o final do corredor e seu coração parou. Ana estava ali, ao lado de seu pai, radiante. O vestido era simples, como ela prometeu. Mangas longas de renda, corte reto que fluía suavemente até seus pés, sem muito volume ou drama.
Ela usava os lírios brancos que compraram juntos na feira, porque cheiram como esperança, no cabelo preso frouxamente. Mas era seu sorriso que roubou o fôlego de Roberto, puro, genuíno, iluminando seu rosto inteiro. O caminho até ele pareceu durar uma eternidade e um segundo ao mesmo tempo. Quando Paulo colocou a mão de Ana na de Roberto, havia lágrimas nos olhos do homem mais velho. “Cuida dela”, ele murmurou com minha vida.
Roberto prometeu: “A cerimônia foi curta e doce. O oficiante, um pastor local que conhecia a família de Ana desde que ela era criança, falou sobre raízes e asas, sobre como o amor verdadeiro é tanto ancoragem quanto liberdade.” “Roberto e Ana”, ele disse, olhando entre eles.
“Vocês dois encontraram um ao outro quando ambos precisavam ser encontrados, quando ambos estavam prontos para ver e ser vistos. E agora vocês escolhem continuar se encontrando todos os dias pelo resto de suas vidas. É isso que casamento é, uma escolha diária de continuar escolhendo um ao outro. Os votos foram escritos por eles mesmos. Ana foi primeiro. Sua voz trêmula, mas firme. Roberto, quando eu te conheci, você era o homem mais solitário que eu já tinha visto.
E algo em mim reconheceu isso porque eu também estava solitária, mesmo estando cercada de pessoas. Nós nos encontramos na nossa solidão e descobrimos juntos que a cura para solidão não é companhia, mas conexão verdadeira. Ela sorriu através das lágrimas. Você me fez acreditar em mim mesma de formas que eu não acreditava. Me fez sentir valiosa, não pelo que eu faço, mas por quem eu sou.
E eu prometo passar todos os dias da minha vida retribuindo isso, te amando, não apesar de suas falhas, mas incluindo elas, sendo sua parceira em tudo, na alegria e na dor, no sucesso e no fracasso, nos dias fáceis e nos difíceis. Eu te escolho hoje e vou continuar te escolhendo todos os dias. Roberto estava chorando abertamente agora, sem se importar com quem via.
Hanhas ele começou, sua voz rouca de emoção. Você salvou minha vida. Não dramaticamente, mas fundamentalmente. Você me mostrou que eu estava vivendo uma versão diminuída de mim mesmo, que sucesso sem conexão é vazio, que riqueza sem amor é pobreza. Ele pegou as mãos dela mais firme.
Você me ensinou a sentir de novo, a rir de novo, a esperar de novo. E agora eu prometo passar o resto da minha vida honrando esse presente. Vou te apoiar em cada sonho. Vou te desafiar quando você precisar ser desafiada. Vou te ouvir quando você precisar ser ouvida. Vou te amar nos dias em que você é fácil de amar e nos dias em que é difícil. Porque você é meu lar, não a casa que vamos construir, não as coisas que vamos acumular mais você, Ana Paula Costa.
Hoje você se torna Ana Paula Santos e eu me torno a pessoa mais sortuda do mundo. Não havia olho seco entre os convidados. As alianças foram trocadas, simples anéis de ouro gravados com suas iniciais e a data. E então, finalmente, pelo poder que me foi conferido, e, mais importante, pelo amor que vocês compartilham, eu os declaro marido e mulher. Roberto, você pode beijar sua esposa. E assim ele fez.
Um beijo que era promessa e celebração, fim e começo, tudo ao mesmo tempo. A recepção foi exatamente como eles queriam. Comida caseira, deliciosa, vinho da família, música ao vivo que logo tinha todos dançando. Não havia decorações extravagantes ou displays ostensivos, apenas pessoas que amavam Ana e Roberto celebrando junto com eles. Durante o jantar, Marcelo fez um brinde.
Eu conheci Roberto há 10 anos. Ele era brilhante, focado, bem-sucedido e completamente miserável, mesmo que não admitisse, ele levantou a taça. Hana, você fez por ele em meses o que nenhum de nós conseguiu em décadas. Você o fez feliz, realmente profundamente feliz. E por isso, todos nós aqui te devemos nossa gratidão. A Ana e Roberto.
Que vocês tenham décadas de felicidade pela frente. A Ana e Roberto, todos ecoaram. Paulo também fez um brinde mais tarde. Minha filha sempre foi especial. Desde pequena ela via as pessoas, realmente via. E quando ela me disse que estava se casando com Roberto, eu tive minhas preocupações. Não vou mentir. Ele olhou diretamente para Roberto. Mas então eu te conheci. Vi como você olha para ela.
Vi como você a respeita e, mais importante, vi como ela brilha quando está com você. Então, bem-vindo à família, filho. Cuida dela bem sempre. Roberto prometeu mais uma vez. Quando a noite estava acabando e os convidados começando a ir embora, Roberto e Ana se encontraram sozinhos por um momento na varanda da pousada, olhando os vinhedos banhados por luz de lua. Esposa! Roberto disse, testando a palavra.
Minha esposa, marido. Ana respondeu sorrindo. Meu marido, como você se sente? Ana considerou a pergunta seriamente completa. Ela finalmente disse: “Pela primeira vez em muito tempo, sinto que estou exatamente onde estar. Com exatamente quem deveria estar. Eu também.” Roberto puxou-a para mais perto.
“E sabe o que é louco? Há um ano eu estava sozinho numa mansão vazia, bebendo whisky e fingindo que estava bem. E agora? Agora?” Ana incitou. Agora eu tenho tudo. Roberto completou literalmente tudo que importa. Você, sua família, que me aceitou como parte delas amigos verdadeiros, um propósito que vai além de lucros e perdas.
Ele beijou sua testa. Você me deu uma vida, Ana. Uma vida real e bonita. Nós nos demos uma vida, Ana corrigiu. Juntos. É assim que funciona. Eles ficaram ali por mais alguns minutos, apenas existindo no momento, antes de finalmente entrarem para começar sua primeira noite como marido e mulher.
E enquanto a lua subia sobre os vinhedos de Bento Gonçalves, iluminando o lugar onde duas pessoas solitárias encontraram um ao outro e se tornaram completos, uma coisa era certa. Roberto Santos não era mais o milionário solitário. Ele era apenas Roberto, marido, parceiro, homem apaixonado. E ele não trocaria isso por nada no mundo.
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