Antes de começarmos, me conta de onde você está assistindo. Comenta aí embaixo. E se você quer histórias que mexem com o coração, se inscreve no canal e deixa aquele like para fortalecer. Agora prepara o coração, porque essa história vai te fazer sentir cada emoção. Vamos começar. O relógio na parede da recepção marcava 23:47 quando Luma Silva sentiu o peso da exaustão apertar seus ombros.
Seus dedos deslizavam pelo teclado do computador, com a mesma precisão mecânica dos últimos 5 anos, desde que deixara o interior do Rio Grande do Sul para tentar a vida em Florianópolis. O hotel Bela Vista respirava luxo. Lustres de cristal pendiam do teto alto. Mármore italiano cobria o piso e o perfume de lavanda francesa impregnava o ar condicionado.
Mas para Luma, aquilo tudo era apenas o cenário de mais um turno interminável. Ela ajeitou a blusa branca do uniforme e prendeu uma mecha rebelde do cabelo castanho atrás da orelha. Seus olhos verdes, herança da avó que a criara sozinha após a morte dos pais, carregavam uma mistura de cansaço e determinação.
Aos 23 anos, Luma era o oposto do que aquele hotel representava. simples, discreta, quase invisível entre tanto brilho. O som de passos ecoou pelo saguão vazio. Luma ergueu os olhos e sentiu algo estranho apertar seu peito. Um homem atravessava o lobby com uma presença que parecia sugar todo o oxigênio do ambiente.
Alto, provavelmente beirando 1,85 m, vestia um terno azul marinho que moldava perfeitamente seu corpo atlético. O cabelo negro estava impecavelmente penteado, e a mandíbula marcada exibia uma barba por fazer, que lhe davam ar de quem não se importava com convenções. Mas foram os olhos que a paralisaram, castanhos profundos, intensos, que pareciam decifrar segredos com um único olhar. “Boa noite”, ele disse, e sua voz grave reverberou como um trovão distante.
“Francisco Almeida, tenho uma reserva”. Luma piscou, forçando-se a retornar à realidade profissional. Boa noite, senhor Almeida. Um momento, por favor. Seus dedos tremiam levemente enquanto digitava o nome no sistema. Ela conhecia aquele nome. Todo mundo no sul do Brasil conhecia. Francisco Almeida era o prodígio empresarial que aos 28 anos construíra um império de investimentos, movimentando bilhões e transformando empresas falidas em gigantes do mercado.
As revistas de negócios sempre estampavam sua foto com manchete sobre o gênio implacável das finanças. Suíte presidencial 12º andar”, Luma disse, estendendo o cartão magnético. Suas mãos quase se tocaram durante a troca e ela sentiu uma corrente elétrica percorrer sua pele. Francisco segurou o cartão, mas não se moveu. Seus olhos a estudavam com uma intensidade perturbadora. “Você trabalha aqui há quanto tempo?”, a pergunta apegou desprevenida. “5 anos, senhor.
E sempre no turno da noite?” “Na maioria das vezes, sim.” Ele inclinou a cabeça ligeiramente, como se processasse aquela informação com o mesmo rigor que usava para analisar empresas. Deve ser solitário. Luma não sabia como responder. Havia algo na maneira como ele falava. Não era condescendência nem curiosidade superficial.
Era como se ele realmente enxergasse além do uniforme, além da recepcionista invisível que atendia hóspedes importantes todos os dias. Às vezes, ela admitiu baixinho, surpreendendo-se com a própria honestidade. Francisco a sentiu devagar e, por um momento que pareceu se estender por uma eternidade, eles apenas se olharam.
Luma sentiu seu coração acelerar, as bochechas esquentarem, algo desconhecido e assustador despertar em seu peito. “Boa noite, senhor”, ela conseguiu dizer, baixando o olhar. “Boa noite, Luma. Meu nome é Luma.” Um sorriso mínimo curvou os lábios dele. Boa noite, Luma. Ele se virou para os elevadores e Luma soltou o ar que nem percebera estar prendendo. Suas pernas tremiam e ela precisou se apoiar na mesa, o que acabara de acontecer.
Por que aquele estranho causara tamanha comoção em seu corpo, em suas emoções cuidadosamente guardadas? Na manhã seguinte, quando seu turno terminava e o sol começava a pintar o céu de laranja, Luma atravessava o saguão, carregando uma pilha de documentos para arquivar. Estava distraída, pensando na avó que ligara mais cedo, perguntando quando ela voltaria para visitá-la no interior, quando seus pés tropeçaram no próprio cansaço. Os papéis voaram pelo ar como folhas secas em um vendaval.
Droga”, ela murmurou, ajoelhando-se para recolher tudo. “Deixa eu ajudar”. Luma ergueu os olhos rapidamente e encontrou Francisco agachado ao seu lado, já reunindo documentos com movimentos ágeis. Ele vestia roupas casuais agora, uma camisa cinza e calça jeans escura, mas ainda exalava aquela aura magnética que a deixara sem chão na noite anterior.
“Não precisa, senor Almeida. Eu consigo, Francisco, e claro que preciso. Foi praticamente no meu caminho. Eles recolheram os papéis em silêncio, mas Luma sentia cada movimento dele, como se próprios nervos estivessem em chamas. Quando suas mãos se encontraram pegando o mesmo documento, ela sentiu novamente aquela eletricidade. Francisco não soltou o papel imediatamente.
Em vez disso, segurou a mão dela por um segundo a mais do que seria apropriado, seus olhos fixos nos dela, com uma intensidade que a fazia esquecer como respirar. “Você está sempre com pressa”, ele observou baixinho. “Tenho, tenho muito trabalho. Todo mundo tem, mas nem todo mundo carrega o peso do mundo nos ombros como você.” Luma piscou confusa e tocada por aquela observação vinda de um completo estranho. “O Senr. Francisco não me conhece.
” Ele sorriu, um sorriso pequeno, mas genuíno, que transformou completamente seu rosto sério. “Ainda não.” Entregou-lhe a pilha organizada de documentos e se levantou, estendendo a mão para ajudá-la. Luma hesitou apenas um segundo antes de aceitar. A mão dele era quente, firme, e quando ele a puxou para cima com facilidade, ela ficou perigosamente perto de seu corpo. “Obrigada”, ela sussurrou.
“O prazer foi meu, Luma”. A maneira como ele pronunciava seu nome, devagar, saboreando cada sílaba, fazia seu estômago dar voltas. Francisco se afastou em direção à saída do hotel, mas antes de atravessar as portas giratórias, virou-se uma última vez. Você tem um olhar que não combina com esse lugar”, ele disse.
E então saiu, deixando Luma parada no meio do saguão, segurando os documentos contra o peito, como se fossem a única coisa sólida em um mundo que, de repente, parecia estar girando rápido demais. Nos dias seguintes, Luma percebeu uma mudança perturbadora em sua rotina. Francisco começou a aparecer na recepção com frequência estranha para um hóspede de sua importância.
Primeiro foi um pedido simples de recomendação de restaurantes, depois perguntas sobre pontos turísticos em Florianópolis. Em seguida, dúvidas sobre horários de serviços que ele certamente poderia resolver com uma rápida ligação. Luma não era ingênua. Ela percebia o jogo, mesmo sem nunca ter participado de um antes, que o mais assustador era que seu coração acelerava toda vez que ouvia aquela voz grave chamando seu nome, toda vez que aqueles olhos castanhos a estudavam como se ela fosse um mistério digno de ser decifrado. Na quinta noite, desde a chegada dele, Francisco apareceu na
recepção às 10 da noite, quando o movimento já havia cessado. Apoiou-se no balcão de mármore com uma casualidade estudada. Preciso de uma indicação. Ele disse: “Claro, senhor Francisco. Posso ajudar com o quê? Um lugar para jantar, mas não qualquer lugar precisa ser especial.
Luma listou mentalmente os restaurantes mais caros e exclusivos da cidade. Tem o Ostradamos, especializado em frutos do mar, ou o diusepe, se preferir comida italiana. Ambos têm estrelas Michelan. E você já foi em algum deles?”, a pergunta a silenciou. Não, ela admitiu, não são exatamente compatíveis com meu orçamento.
Francisco inclinou-se ligeiramente, diminuindo a distância entre eles. Então, como você pode me recomendar um lugar que nunca experimentou? Luma sentiu as bochechas queimarem. Eu pesquiso, leio avaliações, converso com outros hóspedes, mas não viveu, não sentiu o sabor, o ambiente, a experiência.
Ele tinha razão, mas algo na maneira como a desafiava fazia seu sangue ferver. Uma mistura estranha de irritação e fascínio. Posso indicar lugares que eu conheço? Ela retrucou, erguendo o queixo. Mas imagino que não sejam do seu interesse. Um brilho divertido atravessou os olhos dele. Me surpreenda. Luma pegou um papel e anotou o endereço de um pequeno restaurante na Lagoa da Conceição, um lugar simples que servia a melhor tainha da região, onde ela ia ocasionalmente com amigas do trabalho.
“Não espere luxo”, ela disse entregando o papel, “mas a comida é honesta e o lugar tem alma.” Francisco dobrou o papel cuidadosamente e guardou no bolso da camisa bem próximo ao coração. Comida honesta e lugar com alma. Ele repetiu, seus olhos nunca deixando-os dela. Parece perfeito. Ele se virou para ir embora, mas parou após alguns passos. Luma, sim.
Obrigado por ser honesta comigo. Naquela noite, quando Luma voltou para seu pequeno apartamento na Trindade, não conseguiu dormir. Deitada na cama, olhando o teto rachado que tanto contrastava com o mármore do hotel, ela se perguntou pela primeira vez em anos: “E se sua vida pudesse ser diferente?” E se aquele homem, tão distante de seu mundo quanto as estrelas do céu, realmente a enxergasse como ele parecia enxergar? Mas então a voz da avó ecoou em sua mente, cheia de sabedoria campesina.
Menina, homem rico, brinca com coração de gente pobre e depois volta pro mundo dele. Não confunda a atenção com intenção. Luma fechou os olhos com força, tentando apagar a imagem daquele sorriso, daquele olhar que prometia coisas que ela nem sabia que podia desejar. Mas era tarde demais.
Algo dentro dela já havia despertado e não havia como voltar atrás. O fim de semana chegou trazendo o movimento típico do hotel. Famílias em férias, casais em lua de mel, executivos aproveitando folgas. Luma Mal teve tempo para respirar entre chequins, reclamações sobre toalhas e pedidos de informações turísticas, mas mesmo no caos, sua mente insistia em procurar por uma figura alta de terno azul, por uma voz grave que pronunciava seu nome como ninguém nunca havia pronunciado. Francisco não apareceu.
Luma se repreendia por cada vez que seus olhos traíam sua vontade e procuravam pela recepção, pelo saguão, pelos elevadores. Ele é apenas um hóspede, ela repetia para si mesma como um mantra. Um hóspede temporário que logo vai embora e esquecer que você existe. Era segunda-feira à noite quando tudo mudou. O gerente do hotel, Senr.
Cardoso, um homem de meia idade com barriga proeminente e ego ainda maior, estava especialmente irritável. Uma reserva importante havia sido dublicada no sistema e ele procurava um culpado. “Silva!”, Ele gritou da porta de seu escritório, fazendo Luma dar um pulo na cadeira. Aqui agora. Luma levantou-se com o coração disparado. Na recepção, alguns hóspedes observavam a cena com curiosidade mal disfarçada.
Ela manteve a cabeça erguida e caminhou até o escritório, sentindo o peso de dezenas de olhares. “Senhor Cardoso, explica isso aqui para mim.” Ele esbravejou, virando a tela do computador em sua direção. A suí presidencial foi reservada duas vezes para o mesmo fim de semana. Como isso aconteceu? Luma examinou os registros, seu cérebro trabalhando rapidamente. A primeira reserva foi feita pelo sistema automatizado do site, senhor. A segunda veio por telefone. Eu não.
Você não o quê? Não checou? Não fez seu trabalho direito? Eu não fiz a segunda reserva. Luma respondeu, mantendo a voz firme, apesar do tremor em suas mãos. Foi a Júlia do turno da tarde. Está registrado aqui no sistema com o código de login dela. Cardoso estreitou os olhos, claramente insatisfeito por não poder culpá-la diretamente.
Então, por que você não percebeu o erro quando assumiu o turno? Por que o sistema não emite alertas para reservas duplicadas quando são feitas em sessões diferentes, senhor. É uma falha do software que já foi reportada três vezes à ATI. A resposta técnica e precisa pareceu irritá-lo ainda mais. Sempre tem uma desculpa, não é, Silva? Sempre tem. Com licença. A voz cortou o ar como uma lâmina afiada.
Luma e Cardoso viraram-se simultaneamente. Francisco estava parado na porta do escritório, as mãos nos bolsos da calça social, a expressão tranquila, mas os olhos carregando uma tempestade contida. “Senhor Almeida” Cardoso imediatamente mudou de postura, inflando o peito e forçando um sorriso serviu.
“Em que posso ajudá-lo? Não pude deixar de ouvir a conversa”, Francisco disse, sua voz perigosamente baixa. “E me parece que há um mal entendido aqui.” “Mal entendido, senhor?” Francisco caminhou até o computador com passos medidos. “Posso?” Cardoso acenou nervosamente e Francisco assumiu o controle do mouse, seus dedos navegando pelo sistema com familiaridade surpreendente para quem, em tese, não tinha nenhum conhecimento de recepção hoteleira. Como a senrita Silva corretamente apontou, ele disse, seus olhos escaneando a tela. A primeira
reserva foi automática às 14:23 de sábado, a segunda foi manual, às 17:56 do mesmo dia, sob responsabilidade de uma funcionária diferente. O sistema de vocês, que devo acrescentar, é absurdamente desatualizado. Não tem integração em tempo real entre módulos. É uma falha estrutural, não humana. O silêncio que se seguiu era tão pesado que Luma podia ouvir seu próprio coração batendo.
Cardoso abriu e fechou a boca como um peixe fora d’água. Eu bem, senhor Almeida, agradeço pela análise, mas questões internas do hotel. Francisco virou-se para ele e Luma percebeu pela primeira vez a verdadeira presença que aquele homem carregava. Não era apenas riqueza ou poder, era a autoridade natural de quem estava acostumado a comandar, a ser obedecido, a não tolerar injustiças.
Questões internas que resultam em funcionários sendo humilhados publicamente por falhas sistêmicas. Francisco disse, cada palavra caindo como uma sentença. Interessante. Política de gestão. Cardoso empalideceu. Eu não estava. Quer dizer, a senrita Silva não cometeu erro algum e se seu sistema é tão falho quanto aparenta, sugiro que invista em atualizações ao invés de procurar bodes expiatórios.
Francisco então se virou para Luma e a expressão dura de seu rosto suavizou minimamente. Você está bem? Luma a sentiu, incapaz de formar palavras. Sentia gratidão, alívio, mas também uma pontada de vergonha por precisar ser defendida, por ser vista naquela posição de vulnerabilidade. “Senrita Silva, pode retornar ao seu posto?” Cardoso murmurou claramente querendo encerrar aquela situação constrangedora.
Luma saiu do escritório com pernas trêmulas e Francisco a seguiu. No saguão, longe de ouvidos curiosos, ele tocou levemente seu cotovelo. “Hei”, ele disse suavemente. “Você está tremendo. Eu obrigada. Você não precisava?” “Claro que precisava. Ele estava errado. Luma finalmente ergueu os olhos para encontrar os dele e o que viu ali a desarmou completamente. Não era pena, não era condescendência, era respeito, admiração. Até.
Você se defendeu bem, Francisco continuou. Conhece o sistema, apresentou fatos, manteve a calma. A maioria das pessoas teria apenas aceito a culpa. Aprendi que se você não se defender, ninguém mais vai fazer isso por você. Luma disse, a voz saindo mais amarga do que pretendia. Isso não é verdade.
Não, não, porque eu acabei de fazer. O olhar entre eles se prolongou, carregado de algo indefinível, mas innegável. Luma sentiu seu coração disparar novamente, mas dessa vez não era apenas atração física, era algo mais profundo, mais perigoso. Era conexão. Por quê? Ela sussurrou. Por que você fez isso? Francisco deu um passo à frente, diminuindo ainda mais a distância entre eles.
Estava perto o suficiente para ela sentir o perfume dele, amadeirado, masculino, envolvente. Porque pessoas como você, Luma, são raras. Você é competente, honesta, não busca holofotes. E quando alguém tenta diminuir isso, me irrita profundamente. Você não me conhece. Ela repetiu as mesmas palavras de dias atrás, mas agora soavam menos como afirmação e mais como questão. Então deixa eu conhecer. Antes que Luma pudesse responder, o telefone da recepção tocou, quebrando o momento.
Ela se afastou instintivamente, criando distância segura. Eu preciso trabalho, claro. Mas Luma? Sim. Amanhã 20 horas, restaurante do hotel. Jantar comigo. Não era um pedido, não era uma ordem. Era algo entre os dois, um convite que soava como promessa. Eu não sei se um jantar, apenas isso. Duas pessoas conversando.
Luma mordeu o lábio inferior, sua mente gritando todas as razões pelas quais aquilo era má ideia, seu coração sussurrando todas as razões pelas quais ela deveria dizer sim. Duas pessoas conversando. Ela eou. Exatamente. Tudo bem. 20. O sorriso que iluminou o rosto de Francisco foi a coisa mais bonita que Luma já havia visto. Naquela noite após o turno, Luma ligou para a avó com o celular tremendo nas mãos.
Vó, eu eu acho que fiz algo muito burro. O que foi, minha menina? Eu aceitei jantar com um hóspede, um homem importante. O silêncio do outro lado da linha era pesado de significado. Esse homem, ele é bom? Eu acho que sim. Ele me defendeu hoje, me trata como se eu importasse.
E você gosta dele? Luma fechou os olhos, lágrimas teimosas ameaçando cair. Eu não sei o que é gostar, vó. Nunca, nunca me permiti isso antes. Mas quando ele olha para mim, eu sinto que posso ser mais do que sou e isso me apavora. Escuta aqui, Luma Silva. A voz da avó ficou firme, carregada de amor e preocupação. Eu te criei para ser forte, para não depender de homem. Mas não te criei para ter medo de viver.
Se esse homem te faz sentir mais, então descobre o que significa esse mais. Só não esquece quem você é no processo. Aquelas palavras ecoaram na mente de Luma enquanto ela se preparava para dormir. Não esquecer quem era. Mas quem ela era, afinal? A menina do interior que trabalhava duro, a recepcionista invisível, ou havia algo mais, algo adormecido esperando para despertar.
No dia seguinte, Luma trabalhou em piloto automático, seus pensamentos constantemente desviando para a noite que se aproximava. Às 19:30, seu turno deveria terminar, mas Cardoso, ainda ressentido do dia anterior, a sobrecarregou com tarefas de última hora. Quando ela finalmente conseguiu se livrar, eram 20:15. correu para o vestiário, trocou o uniforme por um vestido simples azul marinho que guardava para emergências, soltou os cabelos que sempre mantinha presos, passou um pouco de rímel, seus reflexos no espelho a surpreendeu sem o uniforme, com os cabelos soltos e moldurando o rosto. Ela parecia diferente, vulnerável, feminina, assustada. Quando
chegou ao restaurante do hotel, eram 20:27. Francisco estava sentado em uma mesa do canto, próxima às janelas, com vista para o mar. Ele vestia uma camisa preta que realçava os ombros largos e, quando a viu, levantou-se imediatamente. “Desculpa o atraso eu. Você está perfeita.
” Ele interrompeu e o jeito como disse, com aquela sinceridade crua, fez Luma esquecer todo o nervosismo. Ele puxou a cadeira para ela, um gesto cavalheiresco que Luma só tinha visto em filmes. Quando se sentou, suas mãos tremiam ligeiramente. “Nervosa?”, Francisco perguntou, retomando seu lugar. “Aterrorizada, Luma, admitiu com um riso fraco. Bem-vinda ao clube.” Ela ergueu os olhos, surpresa.
“Você nervoso? Você não faz ideia. O garçom trouxe o menu, mas Francisco nem olhou. Posso pedir por nós? Luma assentiu observando fascinada enquanto ele conversava com o garçom em italiano fluente, pedindo pratos que ela nem sabia pronunciar. Quando ficaram sozinhos novamente, ela não conteve a curiosidade. Quantos idiomas você fala? Cinco fluentemente, três razoavelmente.
Meu Deus, Francisco sorriu. Não é talento, é necessidade. Negócios internacionais exigem, mas me conta sobre você. Sobre a menina do interior que veio pra capital e conquistou um trabalho em um dos melhores hotéis da cidade. Não há muito para contar. Eu duvido. E então, talvez pelo vinho que o garçom serviu, talvez pela maneira como Francisco a olhava, com genuína interesse e sem julgamento, Luma começou a falar.
Falou sobre a avó que a criara após perder os pais em acidente de carro quando tinha apenas 5 anos. Sobre crescer em uma cidade tão pequena que todos conheciam o nome de todos. Sobre a decisão de deixar tudo aos 18 anos para tentar uma vida diferente em Florianópolis. E você não teve medo? Francisco perguntou, inclinando-se para a frente. Estava apavorada, mas a voz sempre dizia que medo é só um sentimento, não um plano de ação.
Então eu vim, consegui o emprego no hotel, aluguei um quartinho minúsculo e aqui estou. Aqui você está, ele repetiu suavemente. Uma sobrevivente. Não sou especial. Você não entende, Luma. A maioria das pessoas passa a vida inteira falando sobre sonhos, sobre mudanças, sobre coragem. Você simplesmente viveu isso. Isso é extraordinário. Ninguém nunca tinha descrito sua vida daquela maneira.
Para Luma, tudo sempre foi apenas necessidade, sobrevivência. Mas na voz de Francisco soava como heroísmo. E você? Ela se atreveu a perguntar. Como é ser bem você? Francisco Riu. Um som grave e genuíno que fez algo dentro dela se aquecer. Você quer saber como é ser eu? Quero. Ele ficou sério, então, seus olhos fixos nos dela. É solitário, Luma.
Muito solitário. Você está sempre cercado de pessoas, mas nenhuma delas realmente te vê. Elas veem o dinheiro, o poder, as oportunidades, mas você, a pessoa real, essa se torna invisível. Luma sentiu uma pontada no peito. Ela conhecia aquela solidão, embora vinda de um lugar completamente oposto.
“Eu vejo você”, ela disse antes de poder se conter. Os olhos dele se arregalaram minimamente e por um momento, Luma viu vulnerabilidade ali, algo que apostava que poucas pessoas já tinham testemunhado. “Eu sei”, Francisco sussurrou. “É por isso que estou aqui. O jantar se estendeu por horas. Conversaram sobre livros. Luma adorava romances históricos. Francisco preferia biografias.
Sobre músicas, ela ouvia de tudo. Ele tinha predileção por Jess. Sobre sonhos, Luma queria um dia abrir sua própria pousada. Francisco queria se aposentar jovem e viajar o mundo. 35 anos. Ele disse: “Esse é meu prazo, construir o suficiente até lá e depois viver.
E você acha que dá para separar assim, construir e viver?” Francisco pausou a taça de vinho a meio caminho dos lábios. Nunca ninguém me perguntou isso. Talvez porque a resposta seja óbvia. Qual seria? Que não dá? Que vida é agora? Não depois. Que se você passa todos esses anos apenas construindo, pode esquecer como viver. O silêncio que se seguiu era carregado de peso. Francisco a observava com uma intensidade nova, como se ela tivesse acabado de dizer algo profundo que ele nunca havia considerado.
“Você tem 23 anos”, ele disse finalmente. “Como, diabos você é tão sábia?” “Não sou sábia. Só aprendi que amanhã não é garantido. Meus pais morreram voltando do mercado. Um segundo estavam vivos, no outro não. Então eu tento viver cada dia como se fosse o único que tenho. Francisco estendeu a mão por cima da mesa e, após uma hesitação, Luma colocou a dela sobre a dele.
O toque era simples, mas a eletricidade entre eles era innegável. “Luma Silva”, ele disse, sua voz rouca. Você está virando meu mundo de cabeça para baixo. Eu não quero virar nada, ela sussurrou. Eu só quero o quê? Não sei. Algo real, algo verdadeiro. E se eu te prometer que isso aqui é real? Que você não é uma distração, não é um capricho? Luma sentiu lágrimas picar em seus olhos.
Então eu diria que estou com muito medo do que isso significa. Francisco apertou suavemente sua mão. Bem-vinda novamente ao clube. Quando saíram do restaurante, já passava da meia-noite. Francisco a acompanhou até a entrada de funcionários. Um gesto simples que significava tudo. Luma, sim. Eu vou estar em Florianópolis por mais três semanas. Três semanas para descobrirmos se isso é real ou se é apenas química.
Muito mais que química. Mas sim, ela a sentiu. Seu coração uma mistura de esperança e terror. “Três semanas, três semanas”, ele confirmou. E então, antes que Luma pudesse se preparar, Francisco inclinou-se e beijou suavemente sua testa. Um beijo casto, quase reverente, que de alguma forma significava mais do que qualquer outro contato físico. “Boa noite, Luma. Boa noite, Francisco.
Quando ela finalmente chegou em casa, jogou-se na cama e permitiu que as lágrimas viessem, não de tristeza, mas de algo que ela não conseguia nomear. Medo, esperança, desejo, terror. Tudo misturado em um turbilhão que a deixava tonta e eufórica ao mesmo tempo. Três semanas.
Três semanas para descobrir se um empresário bilionário e uma recepcionista do interior poderiam realmente construir algo real. Três semanas para Luma descobrir se estava pronta para arriscar seu coração pela primeira vez na vida. E, enquanto dormia, com um sorriso no rosto, apesar dos medos, ela não fazia ideia de que aquelas três semanas mudariam sua vida de maneiras que jamais poderia imaginar.
Mas algo dentro dela já sabia. Não havia mais volta. O despertar havia começado. Os dias seguintes se desenrolaram como um sonho febril, que Luma não queria acordar. Francisco passou a frequentar a recepção com regularidade desconcertante, sempre com uma desculpa plausível. Precisava de informações sobre reuniões, confirmações de serviços, recomendações de lugares, mas seus olhos contavam outra história toda vez que pousavam sobre ela.
“Bom dia, Luma”, tornou-se a frase favorita dela, pronunciada naquela voz grave que fazia seu estômago dar cambalhotas. As colegas de trabalho começaram a notar. Menina, o que está acontecendo entre você e o hóspede da presidencial? Sussurrou Júlia durante uma troca de turno, os olhos arregalados de curiosidade. Ele vive aqui embaixo.
Luma sentiu o rosto esquentar. Nada. Ele é educado. Só isso. Educado, Luma. Ele olha para você como se você fosse a única pessoa no hotel, no planeta, aliás. Você está exagerando. Estou observando e não sou a única. As palavras ficaram ecoando na mente de Luma. Ela sabia que estava brincando com fogo, que permitir aquela aproximação era perigoso sobre todos os aspectos.
Mas quando Francisco aparecia com aquele sorriso discreto só para ela, todas as razões sensatas evaporavam como orvalho sob o sol. Na quarta-feira, ele desceu às 9 da noite carregando um livro. Trouxe algo para você”, disse colocando o volume sobre o balcão de mármore. Luma olhou a capa desgastada de 100 anos de solidão.
“Você mencionou que queria ler, mas nunca teve tempo de encontrar. Esse é meu exemplar pessoal. Tem anotações nas margens, páginas dobradas, café derramado na página 47. É meio bagunçado, mas é perfeito.” Luma sussurrou, passando os dedos com reverência sobre a capa. Ninguém nunca tinha feito algo assim por ela. Lembrar de um comentário casual e transformá-lo em gesto. Página 89.
Sublinhado em vermelho. Francisco disse, já se afastando. Minha parte favorita. Quando ele sumiu no elevador, Luma abriu o livro na página indicada. Lá, sublinhadas em vermelho, estavam as palavras. Ele não conseguia compreender o valor da ternura que ela começava a sentir por ele.
Luma fechou o livro rapidamente, seu coração batendo tão forte que tinha certeza que os hóspedes no lobby podiam ouvir. Na quinta-feira, foi a vez dela surpreendê-lo. Luma descobriu através da governanta que Francisco gostava de tomar café puro sem açúcar, sempre às 15 horas, horário em que costumava fazer intervalo entre reuniões.
Então preparou um café especial na máquina da Copa dos Funcionários, o melhor grão no ponto exato, e pediu para uma camareira entregar com um bilhete simples, justo L. 20 minutos depois, seu celular vibrou com uma mensagem de número desconhecido. Como você conseguiu meu número? Ela digitou de volta, sorrindo. Tenho meus recursos e sobre o café. Melhor que o do restaurante. Impossível. Fato.
Porque você fez pensando em mim? Luma encostou no bebedouro, o celular apertado contra o peito, sorrindo como adolescente boba. Ela estava se perdendo, afundando, e a parte mais assustadora era que não queria parar. Na sexta, Francisco apareceu com uma proposta. Preciso ir a bombinhas para uma reunião de negócios amanhã. Vem comigo. Luma piscou confusa.
O quê? Um dia apenas. Saímos cedo, voltamos à noite. A reunião será em italiano e eu queria alguém para me ajudar com anotações. Francisco, eu não sei, italiano. Não precisa, só precisa estar lá. Os olhos dele suplicavam de uma maneira que nada tinha a ver com negócios.
Você quer que eu vá com você para uma reunião como anotadora, como companhia, como a única pessoa nessa cidade com quem consigo ter uma conversa que não envolve percentuais e ações? Luma mordeu o lábio, sua mente gritando todas as razões sensatas para recusar, mas seu coração, aquele traidor, já tinha decidido. Tudo bem, mas eu trabalho sexta à noite, então já conversei com o gerente. Ele concordou em cobrir seu turno.
Você o quê? Francisco deu de ombros, um gesto quase infantil vindo daquele homem tão sério. Eu disse que precisava de serviços de tradução urgentes. Não menti. Você está me ajudando a traduzir sinais que eu esqueci como ler. Que sinais? Os do coração. A resposta era tão sincera, tão desprovida de jogos, que Luma sentiu suas defesas finais ruírem.
Que horas? 6 da manhã. Vista algo confortável. Na manhã de sábado, Luma estava pronta às 5:45, vestindo calça jeans, blusa branca simples e tênis. Quando desceu e viu o carro de Francisco, um Mercedes preto reluzente quase voltou correndo. “Ei”, ele disse, saindo do carro e caminhando até ela. “Você está linda. Estou normal. Exatamente.
A viagem até bombinhas levaria cerca de 2 horas. E durante o trajeto, Luma descobriu lados de Francisco que não tinha visto antes. Ele cantarolava baixinho enquanto dirigia, ria de piadas ruins que ela contava, apontava paisagens bonitas e dizia coisas como: “Olha só, aquele pôr do sol, mesmo sendo 7 da manhã. Não é pôr do sol, é nascer do sol.” Ela o corrigiu rindo. Tanto faz. É bonito.
Você realmente é terrível com vida normal, né? Francisco riu. Aquele som que ela estava aprendendo a adorar. Terrivelmente terrível. Por isso preciso de você. Para me lembrar que existem coisas além de planilhas e reuniões de acionistas. A reunião aconteceu em um resort à beiraar, em uma sala privada com vista para o oceano.
Luma sentou-se discretamente no canto enquanto Francisco negociava em italiano com três empresários mais velhos. Ela não entendia as palavras, mas entendia a linguagem corporal. Francisco era dominante sem ser agressivo, confiante sem ser arrogante. Ele comandava aquela sala com a facilidade de quem nasceu para liderar. Quando terminaram, já passava do meio-dia e Francisco dispensou o motorista que esperava.
Vamos almoçar? Foram a um restaurante Pé na Areia, um lugar simples, muito diferente dos estabelecimentos sofisticados que Francisco frequentava. Pediram peixe grelhado, arroz e salada. Comida simples, honesta, deliciosa. Você está diferente aqui. Luma observou, estudando-o. Como assim? Mais leve, como se pudesse respirar. Francisco ficou quieto por um momento, os olhos fixos no mar.
Sabe quando você fica tanto tempo usando uma máscara que esquece como é seu rosto de verdade? É assim, em São Paulo, em reuniões, em jantares de negócios, eu uso essa máscara, mas aqui com você não preciso. Por quê? Ele virou-se para ela e a intensidade em seus olhos a deixou sem ar. Porque você não quer nada de mim além do que eu realmente sou. Luma não soube o que responder.
Como explicar que ela queria tudo dele? O homem de negócios, o ser humano vulnerável, o sonhador escondido atrás da armadura corporativa depois do almoço, caminharam pela praia. Francisco tirou os sapatos sociais e enrolou as calças. Uma imagem tão incongruente que Luma riu. O que foi? Você, Francisco Almeida? Terror dos mercados financeiros. Andando descalso na areia.
Ele sorriu. Talvez esse seja o verdadeiro eu. Talvez seja. Sentaram-se na areia, observando as ondas quebrarem. O sol estava começando a baixar, pintando o céu de laranja e rosa. Francisco estava sentado tão perto que Luma podia sentir o calor emanando de seu corpo. “Luma, eu preciso te contar algo”, ele disse finalmente. “Estou ouvindo. Eu não. Não sou bom nisso.
Com sentimentos com vulnerabilidade. Fui treinado a vida inteira para ser racional, para não deixar emoções interferirem em decisões. Mas você, ele pausou, passando a mão pelos cabelos em gesto frustrado. Você me desestabiliza completamente. Quando estou perto de você, nada do que aprendi faz sentido. E eu não sei se isso é maravilhoso ou aterrorizante.
Luma virou-se para ele, reunindo coragem que não sabia que possuía. É, os dois. é maravilhoso e aterrorizante. É despertar sentimentos que você passou a vida inteira evitando. É perceber que controle é uma ilusão e que às vezes a melhor coisa que você pode fazer é apenas sentir. Francisco olhou para ela como se ela tivesse acabado de resolver o enigma mais complexo do universo.
Como você faz isso? O quê? dizer exatamente o que eu preciso ouvir. Eu só digo a verdade. E então, sem aviso, sem dramaticidade, Francisco inclinou-se e beijou-a. Não foi um beijo delicado de primeiro encontro, foi fome, necessidade, meses de solidão sendo quebrados em um único momento.
Luma correspondeu com igual intensidade, suas mãos entrelaçando nos cabelos dele, o mundo inteiro desaparecendo até que só existissem eles dois, aquela praia, aquele momento suspenso no tempo. Quando finalmente se separaram, ambos estavam ofegantes. Desculpa, Francisco sussurrou. Eu não queria. Não se desculpe. Luma interrompeu sua voz rouca. Não estraga isso se desculpando.
Ele riu baixinho, encostando a testa na dela. Você é incrível. Você que é. Não, você completamente, absolutamente você. Ficaram assim por longos minutos, apenas respirando o mesmo ar, sentindo os batimentos cardíacos um do outro, processando o que acabara de acontecer entre eles. Quando voltaram para Florianópolis, a noite já tinha caído. Francisco insistiu em levá-la até o apartamento.
No estacionamento do pequeno prédio, ele desligou o motor, mas não fez menção de sair. Luma, eu não quero te pressionar, mas preciso que você saiba que isso para mim não é brincadeira, não é passatempo. O que é? Então, ele segurou o rosto dela entre as mãos, seus polegares acariciando as bochechas dela. É a coisa mais real que já senti na vida.
Luma fechou os olhos, lágrimas teimosas escapando. Eu tenho medo. Eu também. E se não der certo? E se nossos mundos forem incompatíveis demais? E se derem certo? E se nossos mundos se complementarem de maneiras que nem conseguimos imaginar? Ela abriu os olhos, encontrando-os dele através das lágrimas.
Você realmente acredita nisso? Com cada parte de mim? Luma respirou fundo. Então vamos tentar. Tentar isso. Nós o que quer que seja isso? O sorriso que iluminou o rosto de Francisco foi como assistir ao nascer do sol. nós,” Ele repetiu, “gosto de como soa.” Beijaram-se novamente, mais lento dessa vez, saboreando, memorizando. Quando Luma finalmente saiu do carro, sentia como se estivesse flutuando.
Mas ao entrar no apartamento vazio, a realidade começou a se infiltrar. Ela, Luma Silva, recepcionista de hotel que dividia aluguel com duas colegas para conseguir pagar as contas, estava se envolvendo com um bilionário, um homem cujo não tinha nada a ver com o dela. Como aquilo poderia dar certo? Seu celular vibrou. Uma mensagem de Francisco, já com saudades. Ela sorriu apesar dos medos.
Também amanhã, amanhã. Luma deitou-se na cama estreita, abraçando o travesseiro, seu corpo ainda vibrando com a memória daqueles beijos. Não sabia o que o futuro reservava, não sabia se estava fazendo a escolha certa. Mas pela primeira vez na vida, Luma Silva estava escolhendo viver ao invés de apenas sobreviver. E talvez, apenas talvez, isso fosse o suficiente.
Por enquanto, era o suficiente. O domingo amanheceu com céu azul sem nuvens, como se até o universo estivesse conspirando a favor deles. Luma acordou com mensagens de Francisco, fotos do café da manhã que ele havia pedido com um bilhete. Falta você aqui. Ela sorriu ainda deitada, acariciando a tela do celular, como se assim pudesse tocar nele.
Passaram o dia trocando mensagens, besteiras, fotos, músicas que lembravam um do outro. Francisco enviou Atlast de Eta James. Luma respondeu com A Thousand years de Christina Perry, conversa de dois adolescentes apaixonados, exceto que não eram adolescentes e aquilo estava se tornando muito mais do que paixão. À tarde, Francisco apareceu no apartamento dela sem avisar, carregando sacolas de compras.
O que você está fazendo aqui? Luma perguntou, ainda de pijama, o cabelo bagunçado. “Não consegui ficar longe”, ele disse simplesmente e trouxe comida chinesa. Pensei que podíamos ter um deite caseiro. Francisco, meu apartamento é Ele olhou ao redor do minúsculo espaço. Sala com cozinha americana, quarto compartilhado, banheiro apertado, tudo limpo, mas visivelmente desgastado pelo tempo e uso. “É perfeito”, ele disse.
Porque você mora aqui? Comeram sentados no chão da sala, usando as caixas de papelão como pratos, rindo de coisas bobas, conversando sobre tudo e nada. Era surreal ver Francisco Almeida, em sua roupa casual, mais claramente cara, sentado no linóleo manchado do apartamento dela, comendo y yaquissoba, com palitinhos de plástico. “Você está feliz?”, Luma perguntou de repente.
“Nesse momento, mais do que imaginei ser possível.” Não, eu digo na vida. Você é feliz? Francisco mastigou devagar, pensando. Honestamente, eu não pensava muito sobre felicidade antes. Pensava em sucesso, em conquistas, em números. Mas felicidade, isso sempre pareceu algo supérfluo, sabe? Algo que pessoas comuns buscavam porque não tinham objetivos maiores.
E agora ele a olhou com aquela intensidade que fazia o estômago dela dar voltas. Agora eu percebo que passei 28 anos perseguindo a coisa errada. Sucesso é vazio se você não tem com quem compartilhar. E todos os zeros na conta bancária não aquecem a cama de noite. Luma sentiu um aperto no peito. Você deve ter tido muitas mulheres. Não era ciúme, era apenas constatação. Tive mulheres, sim, Francisco admitiu.
Modelos, executivas, herdeiras, mulheres lindas, inteligentes, bem-sucedidas. Mas sabe qual era o problema? Qual? Nenhuma delas me via. Elas viam o CEO, o bilionário, as possibilidades. Mas o Francisco, o homem que gosta de caminhar descalso na praia e que canta péssimo no chuveiro, esse não interessava. Eu te vejo Luma disse baixinho. Eu sei.
É assustador e libertador ao mesmo tempo. Terminaram de comer e migraram para o sofá minúsculo. Francisco a puxou para perto e Luma encostou a cabeça em seu ombro, ouvindo o batimento firme de seu coração. Francisco? Hum. Eu nunca com ninguém. Você sabe. Ela sentiu o corpo dele ficar tenso. Luma, olha para mim.
Ela ergueu o rosto, encontrando olhos cheios de ternura. Não há pressa, não há expectativa. O que rola entre nós vai no ritmo que você precisar que vá. Mas eu quero ela sussurrou. Eu quero. Só tenho medo do que especificamente de não saber o que fazer, de ser desajeitada, de você se decepcionar. Francisco riu suavemente, beijando sua testa.
Luma, você poderia fazer qualquer coisa e eu não ficaria decepcionado, porque o que eu quero não é performance, é você. toda vulnerável, toda nervosa, toda você, como você sempre sabe o que dizer. Não sei. Com você as palavras apenas saem. Beijaram-se então, e o beijo foi diferente dos anteriores, mais lento, mais profundo, carregado de promessas não ditas.
As mãos de Francisco acariciavam suas costas, seu cabelo, mas sempre com respeito, sempre dando a ela o controle. “Fica comigo essa noite”, Luma sussurrou contra seus lábios. Tenho certeza absoluta, Luma, eu confio em você, Francisco, e quero que seja você. Tem que ser você. Os olhos dele brilharam com emoção que Luma não conseguia nomear completamente. Desejo, sim, mas também algo mais profundo.
Proteção, reverência, amor. Muito cedo para aquela palavra, mas estava lá pairando entre eles como presença palpável. Francisco levantou-se, estendendo a mão. Então vem. Luma colocou sua mão na dele, deixando-se ser guiada até o quarto. Seu coração batia tão forte que ela tinha certeza que ele podia ouvir. Mas não era mais medo o que sentia.
Era antecipação, era desejo, era a certeza de que aquele momento marcaria uma mudança definitiva em sua vida. Francisco fechou a porta do quarto suavemente. A luz do entardecer entrava pela janela pequena, banhando tudo em tons dourados. Ele virou-se para ela e Luma viu toda a autodisciplina, todo o controle que ele exercia em sua vida corporativa sendo testado naquele momento. “Você é tão linda”, ele disse rouco. “Eu sou normal.
Você é extraordinária.” Aproximou-se devagar, dando a ela tempo para mudar de ideia para recuar. Mas Luma não recuou. Em vez disso, ergueu as mãos e começou a desabotoar a camisa dele, seus dedos trêmulos, mas determinados. Francisco cobriu as mãos dela com as suas. Ei, me olha. Ela ergueu os olhos.
Se em qualquer momento você quiser parar, a gente para, sem julgamento, sem decepção. Combinado? Combinado. Iluma, não existe jeito certo ou errado. É só a gente descobrindo juntos. Aquelas palavras acalmaram algo dentro dela. Não era sobre performance ou expectativas, era sobre conexão, sobre dois seres humanos escolhendo serem vulneráveis um com o outro.
E então, sob a luz dourada do entardecer, Luma entregou a Francisco não apenas seu corpo, mas algo muito mais precioso, sua confiança absoluta. Ele foi paciente, delicado, ensinando quando ela não sabia, perguntando sempre se estava tudo bem. garantindo que cada toque fosse sobre prazer compartilhado e não apenas físico.
Quando terminaram, Luma estava deitada nos braços dele, seus corpos entrelaçados embaixo do lençol fino, o suor esfriando em suas peles. “Você está bem?”, Francisco sussurrou, beijando seu cabelo. “Melhor que bem, eu estou completa. Ele a apertou mais contra si. Você é extraordinária Luma Silva em todos os sentidos. Você também ficaram assim por horas apenas abraçados, conversando baixo sobre nada e tudo.
Francisco contou sobre a pressão de assumir a empresa do pai aos 22 anos, sobre como sacrificou juventude e relacionamentos pelo sucesso. Luma contou sobre a solidão de Florianópolis, sobre saudades da avó, sobre sonhos que mal ousava reconhecer. Era a intimidade emocional que vinha após a física e, de certa forma, essa era ainda mais profunda. Quando o sono finalmente os venceu, era madrugada e pela primeira vez em anos ambos dormiram sem pesadelos, sem ansiedades, apenas embalados pela presença um do outro.
Mas nem tudo que é perfeito permanece assim para sempre, e as consequências daquela noite logo começariam a se revelar de maneiras que nenhum dos dois poderia prever. A segunda-feira chegou trazendo consigo a realidade crua que o fim de semana havia mantido à distância. Luma retornou ao trabalho com o corpo ainda vibrando das memórias da noite anterior, mas foi recebida por olhares que variavam entre curiosos e acusatórios.
“Bom dia”, ela cumprimentou as colegas no vestiário, mas o silêncio que se seguiu era eloquente. Júlia, que sempre fora amigável, agora a observava com uma expressão indefinível. Então é verdade?”, ela perguntou finalmente. “O que é verdade? Você e o Almeida, vocês estão juntos?” Luma sentiu o sangue gelar. Como as pessoas sabiam? Eles tinham sido discretos, não fizeram cenas públicas? Não. Ele foi visto saindo do seu apartamento ontem à noite.
Outra colega, Márcia, disse com um tom que misturava fofoca e desaprovação. “A consierge do seu prédio é prima da recepcionista do segundo andar.” Ela contou para todo mundo. “Meu Deus”, Luma sussurrou, encostando-se no armário. “Olha, Luma, não tô julgando.” Júlia disse, “bora seu Tom dissesse o contrário. Mas você tem que saber que as pessoas estão falando.
Tem gente dizendo que você tá dando em cima de hóspedes importantes para conseguir promoção.” O quê? Isso é absurdo? É, mas é o que estão falando. E o Cardoso tá furioso. Já chamou três supervisoras no escritório dele falando sobre conduta profissional inadequada. Luma sentiu o mundo girando.
Ela tinha sido tão cuidadosa a vida inteira, mantido-se invisível, evitado fofocas e agora, porque permitiu-se sentir algo genuíno, estava sendo transformada em exemplo do que não fazer. O turno foi um pesadelo. Cada olhar que sentia nas costas parecia julgar. Cada sussurro interrompido quando ela passava alimentava a paranoia crescente. Até os hóspedes pareciam tratá-la diferente, como se pudessem sentir o escândalo que a cercava.
Francisco apareceu às 3 da tarde com um sorriso no rosto que desapareceu assim que viu a expressão dela. Luma, o que aconteceu? Não aqui. Ela sussurrou, olhando ao redor nervosamente. Por favor. Ele entendeu imediatamente, apenas a sentindo. Mas Luma viu sua mandíbula se contrair, os ombros ficaram tensos. Ele estava furioso e aquilo só piorava as coisas.
Às 5 da tarde, Cardoso a chamou no escritório. Senrita Silva, sente-se. Luma obedeceu, suas mãos tremendo no colo. Estou tendo alguns relatórios preocupantes sobre sua conduta, especificamente sobre envolvimento inapropriado com um hóspede. Senr. Cardoso, com todo respeito, o que faço fora do meu horário de trabalho afeta a imagem do hotel quando envolve hóspedes VIP.
Você entende a posição delicada em que isso nos coloca? Se outros clientes pensarem que podem comprar a atenção das funcionárias, não é assim. Luma interrompeu, sua voz subindo, apesar dos esforços para manter a calma. Não é sobre dinheiro ou posição. Fé pessoal, pessoal? Cardoso riu. O som áspero e desagradável. Silva, você é uma boa funcionária, mas não seja ingênua. Homens como Francisco Almeida não têm romances com recepcionistas.
Eles têm distrações temporárias. As palavras eram cruéis. projetadas para ferir e funcionaram perfeitamente. Luma sentiu lágrimas picando seus olhos, mas se recusou a deixá-las cair na frente daquele homem. Posso voltar ao trabalho? Só mais uma coisa. A partir de agora, você está proibida de interagir com o Sr. Almeida, além do estritamente profissional.
Se eu receber mais um relatório de condutas inadequadas, você será desligada. Estou sendo claro cristalino. Luma saiu do escritório com pernas trêmulas, correu para o banheiro de funcionários e trancou-se em uma cabine, finalmente permitindo que as lágrimas viessem. Não eram apenas as palavras de Cardoso, era a realidade brutal que elas representavam.
Ele tinha razão. Como ela, Luma Silva, de um povoado esquecido no interior do Rio Grande do Sul, poderia manter um relacionamento com um bilionário. Era ridículo. Era impossível. Era: “Luma, você está aí?” A voz de Francisco do outro lado da porta a fez congelar. “Francisco, aqui é o banheiro feminino. Não me importo. Abre a porta. Eu não posso. Eu, por favor.
” algo na voz dele, uma vulnerabilidade que espelhava a dela a fez obedecer. Ela abriu a porta da cabine e Francisco estava ali de pé no meio do banheiro feminino do hotel, sem se importar com convenções ou regras. Ele a puxou nos braços imediatamente. O que ele disse? Diga. Ele Ele me avisou para manter distância de você. Disse que posso ser demitida se continuar enxeggando relatórios.
Francisco se afastou e ela viu fúria absoluta em seus olhos. Eu vou Não. Luma o segurou. Não faça nada. Você não entende? Qualquer coisa que você fizer vai piorar. Vai provar que eu sou o que as pessoas estão dizendo. A recepcionista que se vendeu para um homem rico. Você não se vendeu. Isso é ridículo. Mas é o que parece, Francisco.
Nossos mundos são muito diferentes. Eu sempre soube disso, mas achei que achei que poderíamos poderíamos o quê? Desistir? É isso que você está dizendo? Eu não sei. Ela gritou, lágrimas escorrendo livremente agora. Eu não sei mais de nada.
Só sei que eu trabalhei 5 anos para construir uma reputação aqui e agora ela está destruída porque eu fui estúpida o suficiente para achar que poderia ter algo bonito. Não era estupidez, Francisco disse, segurando seu rosto entre as mãos. Era coragem. E se essas pessoas são muito milpises para ver isso, problema delas. Fácil para você dizer. Você não vai perder seu emprego. Sua reputação não vai ser arrastada na lama. A verdade das palavras criou um abismo entre eles.
Francisco soltou-a lentamente. Você está certa. Eu não vou perder nada. E você pode perder tudo. Então, o que você quer fazer? Luma limpou as lágrimas com as costas da mão. Eu preciso de tempo para pensar, para descobrir como lidar com isso. Tempo, certo? A maneira como ele disse, plano vazio, partiu o coração dela. Francisco, não, você tem razão.
Eu entrei na sua vida como um furacão e não pensei nas consequências. Isso é culpa minha, não é culpa de ninguém. Então, de quem é? Porque claramente tem alguém sofrendo aqui e esse alguém é você. Eles ficaram se olhando, o peso de tudo que não podiam controlar, esmagando qualquer resquício da felicidade do fim de semana.
Eu deveria ir, Luma disse finalmente. Já estou atrasada para voltar ao balcão. Luma, eu, por favor, não agora. Ela passou por ele, cada passo parecendo arrancar um pedaço do seu coração. Quando chegou à recepção, tinha a compostura novamente no lugar. Máscara profissional, sorriso educado, funcionária exemplar, mas por dentro estava despedaçando.
E o pior ainda estava por vir. Os dias seguintes foram uma tortura. Silenciosa, Francisco respeitou o pedido de Luma por espaço, mas sua presença no hotel era um lembrete constante do que eles compartilharam e do que estava sendo negado agora. Ela ouvia ocasionalmente, atravessando o saguão, sempre sozinho, sempre sério, e cada vez que seus olhares se cruzavam, era como receber um soco no estômago.
As fofocas não diminuíram, se algo pioraram. Histórias cada vez mais elaboradas circulavam entre os funcionários, que Luma tinha perseguido Francisco, que ela estava tentando engravidar para garantir uma pensão, que ele já tinha uma noiva em São Paulo e Luma era apenas uma amante. Nada disso era verdade, mas verdade importava menos que narrativa. Na quinta-feira, tudo explodiu.
Um hóspede grosseiro, um empresário de Porto Alegre que se achava importante demais para seguir regras, começou a gritar com Luma porque seu upgrade de quarto não havia sido processado. Não era culpa dela. O sistema estava sobrecarregado e o pedido estava em análise, mas o homem não se importava. Isso é incompetência.
Ele berrou, batendo na mesa de mármore. Eu pago uma fortuna para ficar nesse hotel e sou tratado por uma recepcionista inépta que provavelmente só conseguiu esse trabalho porque Ele não terminou a frase. Francisco surgiu do nada, colocando-se fisicamente entre Luma e o Homem. Termine essa frase. Eu desafio você. Sua voz era baixa, perigosa, prometendo consequências.
O empresário recuou instintivamente, mas tentou recuperar a brav. Quem você pensa que é para Francisco Almeida, CEO da Almeida Investimentos? E você está desrespeitando uma funcionária desse hotel que, ao contrário de você, sabe fazer seu trabalho com dignidade. O silêncio que caiu sobre o lobby era absoluto.
Todos os presentes, hóspedes, funcionários, até o segurança, congelaram assistindo à cena. Senor Almeida, eu não sabia. O empresário gaguejou. Agora sabe e vai pedir desculpas à Srita Silva. Eu desculpe, para ela, não para mim. O homem virou-se para Luma, vermelho de humilhação. Desculpe, senhorita. Luma mal conseguiu a sentir, toda sua energia focada em não desmoronar ali mesmo.
O empresário saiu rapidamente e Francisco virou-se para ela. Você está bem? Mas antes que pudesse responder, a voz de Cardoso ecoou pelo lobby. Senhor Almeida, Senrita Silva, meu escritório. Agora, no escritório, Cardoso estava visivelmente nervoso.
Tinha acabado de testemunhar um dos hóspedes mais importantes do hotel, defendendo publicamente uma funcionária comum, criando exatamente o tipo de cena que ele tinha tentado evitar. Isso é exatamente o que eu estava tentando prevenir, ele começou, mas Francisco o cortou. Você estava tentando prevenir que sua funcionária fosse respeitada. Interessante política de RH. Senr.
Almeida, com todo respeito, a senrita Silva é uma profissional exemplar que estava sendo abusada verbalmente por um cliente. Qualquer gerente decente teria feito o que eu fiz. O fato de você estar mais preocupado com Optics do que com o bem-estar da sua equipe diz muito sobre sua liderança.
Cardoso abriu e fechou a boca, sem palavras. Mas vocês têm razão sobre uma coisa. Francisco continuou virando-se para Luma. Nossa, situação está causando problemas. Então, aqui está a minha solução. Encerro minha estadia no hotel hoje. Pago a diária completa até o fim da reserva original, mas saio. Não. Luma, exclamou. Você não precisa.
Preciso porque você tinha razão. Minha presença aqui está complicando sua vida. Então eu vou. Senr. Almeida, não é necessário. Cardoso tentou, provavelmente calculando a perda financeira. É necessário para mim. Providenciem meu checkout. Ele saiu do escritório sem olhar para trás, deixando Luma e Cardoso em silêncio atordoado. Silva. Cardoso começou, mas Luma não queria ouvir, não podia ouvir.
Saiu do escritório, pegou sua bolsa no vestiário e pediu licença médica para o resto do dia. Ninguém a impediu. Chegou em casa, trancou-se no apartamento e, finalmente, permitiu que a represa quebrasse. Chorou como não chorava desde o funeral dos pais, soluços profundos que arrancavam todo o ar dos pulmões.
chorou pela injustiça, pela humilhação pública, por ter conhecido algo tão bonito apenas para vê-lo ser destruído pela crueldade casual do mundo. E chorou porque Francisco tinha ido embora, porque ele desistira, porque no final ela era mesmo só a recepcionista pobre e ele o bilionário inalcançável. Mas então seu celular vibrou.
Uma mensagem de Francisco. Praça da Lagoa, 21 horas. Por favor, apareça. Luma olhou para a mensagem por longos minutos. Cada célula racional do seu corpo gritava para ignorar, para proteger o pouco que restava de seu coração. Mas outra parte, a parte que tinha descoberto o que era sentir-se viva, sentir-se vista, sentir-se amada, não conseguia desistir tão fácil.
às 20:45, vestindo jeans e uma blusa simples, ela caminhou até a Lagoa da Conceição. A praça estava tranquila na noite de quinta-feira, algumas pessoas caminhando, casais namorando, vida acontecendo indiferente aos dramas pessoais. Francisco estava sentado em um banco próximo à água. Quando a viu, levantou-se lentamente. Você veio? Você pediu.
Eu não tinha certeza se você viria. Eu também não. Ficaram se olhando à distância de 2 m, parecendo um abismo intransponível. Luma, eu sinto muito por tudo. Por entrar na sua vida e virar tudo de cabeça para baixo, por não pensar nas consequências, por ser tão Não. Ela interrompeu. Não se desculpe pelo que a gente teve. Foi real, foi bonito e eu não me arrependo.
Então, por que parece que estamos nos despedindo? Lágrimas encheram os olhos dela. Porque eu preciso da minha vida de volta, Francisco. Eu preciso poder olhar no espelho e reconhecer quem está ali. Eu preciso respirar sem sentir que estou sufocando. E eu te sufoco, não você, mas tudo que vem com você. As expectativas, os julgamentos, os olhares.
Eu não, eu não sei como ser eu mesma nesse mundo. Francisco deu um passo à frente. Então me ensina, me ensina como a gente faz isso funcionar do seu jeito, não do meu. Não funciona assim. Por que não? Porque no seu mundo é o sol e no meu eu sou eu. E quando os dois colidem, eu sou o que desaparece.
Você vai continuar brilhando, sendo incrível, mudando o mundo com seus investimentos bilionários. Mas eu vou me perder tentando me encaixar em um lugar onde nunca vou pertencer. A dor nos olhos de Francisco era palpável. Você pertence ao meu lado? Não, eu pertenço a mim mesma e preciso redescobrir quem essa pessoa é antes de poder dar pedaços dela para mais alguém.
Francisco fechou os olhos e quando os abriu novamente estavam vermelhos. Então é isso? Acabou. Luma forçou as palavras através da garganta apertada. Não acabou, mas precisa ser pausado. Eu preciso, preciso ir embora, Francisco. Voltar pro interior, ficar com minha avó, pensar, recarregar, descobrir o que eu quero, não o que os outros acham que eu deveria querer. Por quanto tempo? Não sei.
Você vai voltar? Não sei isso também. Francisco assentiu lentamente, cada movimento parecendo doloroso. Eu vou esperar. Não espere. Não posso evitar. Ele se aproximou então e, pela última vez beijou-a. Foi um beijo de despedida, lento, doce, carregado de todas as palavras que não conseguiam dizer. Quando se separaram, ambos estavam chorando.
“Seja feliz, Luma Silva”, Francisco. Sussurrou. “Você também, Francisco Almeida”. E então ela se virou e caminhou para longe, cada passo um ato de vontade pura. Não olhou para trás porque sabia que se olhasse não teria forças para continuar. Francisco ficou parado na praça até que ela desaparecesse completamente de vista e então, pela primeira vez, desde que era criança, permitiu-se chorar abertamente, sem se importar quem pudesse ver.
“Às vezes, o amor não é suficiente. Às vezes, você precisa se amar primeiro.” O interior do Rio Grande do Sul recebeu Luma como abraço familiar. Céu azul infinito, campos verdes que se estendiam até onde a vista alcançava e o silêncio abençoado de um lugar onde ninguém julgava, ninguém sussurrava, ninguém esperava nada além que você fosse você mesma.
A avó Ivonia a esperava na varanda da casa simples de madeira, os braços abertos e os olhos já úmidos antes mesmo do abraço. “Minha menina”, ela sussurrou, apertando Luma contra o peito. “Minha menina machucada!” Luma se desfez então chorando nos braços daquela mulher que a criara com tanta sabedoria e amor, chorando tudo que tinha segurado nas últimas semanas: a humilhação, a confusão, o amor que doía mais do que ela imaginara ser possível. “Chora filha, deixa sair.
” A água das lágrimas limpa a alma. Durante os primeiros dias, Luma mal saiu do quarto. Dormia até tarde. Comia pouco. Passava horas na varanda apenas olhando os campos. seu cérebro num loop infinito de memórias. O primeiro olhar de Francisco, o primeiro beijo, a primeira noite, a primeira humilhação pública.
Mas aos poucos, o ritmo do interior começou a trabalhar sua magia. Não tinha como permanecer deprimida quando galinhas invadiam a varanda às 6 da manhã exigindo comida, quando a vizinha dona Cleusa aparecia avisar com chimarrão e pão caseiro, quando seu primo João insistia que ela ajudasse a separar o gado. “Trabalho cura a alma melhor que remédio”, a avó dizia. E Luma descobriu que era verdade.
Uma semana após sua chegada, estava ajudando na horta quando a avó se sentou no banco próximo. Você vai me contar ou eu vou ter que adivinhar? Luma não fingiu não entender. Eu me apaixonei, vó, por um homem que é tão diferente de mim, que não deveria fazer sentido, mas fazia.
E então o mundo inteiro nos disse que era errado, que era impossível, que eu estava sendo estúpida. E no final eu não sabia mais quem estava certo. E esse homem, ele te amava? Eu acho que sim. Do jeito dele. Do jeito dele ou do jeito que você precisava? A pergunta a silenciou. Kivon continuou, suas mãos calejadas arrancando ervas daninhas com precisão.
Tem amor que ilumina e tem amor que consome. O primeiro te faz crescer, te dá raiz enquanto te deixa voar. O segundo te prende, te diminui, mesmo que sem querer. Qual era o de vocês? Luma pensou por longos minutos. Eu não sei. Começou como o primeiro, mas no final eu estava desaparecendo. Mas vó, eu não sei se era culpa dele ou minha, se eu era fraca demais para lidar com o mundo dele, ou se ele era poderoso demais para o meu.
Ou talvez vocês dois precisavam crescer um pouco mais antes de estarem prontos para o que encontraram. Ele disse que ia esperar. E você quer que ele espere? Eu não sei o que quero. Luma explodiu, lágrimas escorrendo. Toda a minha vida eu sempre soube o que queria. Sair daqui, trabalhar duro, ser independente. Mas agora eu não sei mais nada. Não sei se devo voltar para Florianópolis.
Não sei se devo procurar outro emprego, não sei se devo tentar novamente com Francisco ou deixar aquilo ficar como memória bonita. Eu não sei de nada. Ivone se levantou, caminhou até ela e segurou seu rosto com ambas as mãos. Então essa é sua resposta. Não saber é resposta. Não, mas aceitar que você não sabe é o primeiro passo para descobrir.
Você passou a vida inteira fugindo, Luma, fugindo da dor de perder seus pais, fugindo da possibilidade de ser vulnerável, fugindo de qualquer coisa que pudesse te machucar. E aí apareceu esse homem e você finalmente parou de fugir. Você sentiu e doeu. Mas minha menina, a vida é para ser sentida mesmo quando dói. É muito difícil. É, mas você é filha de quem? Da Ivone Silva, que criou uma neta sozinha depois de enterrar uma filha.
Da Maria Silva, que trabalhou dois empregos para dar educação pros filhos. De mulheres fortes, Luma. Você tem essa força no sangue, só precisa lembrar disso. Aquelas palavras plantaram algo novo no peito de Luma. Não esperança ainda, mas a semente dela. As semanas passaram. Luma ajudava na fazenda, visitava vizinhos, reencontrava amigos de infância que nunca tinham saído dali.
Conversava com João sobre a vida simples, mas feliz que ele construíra. Casado aos 24, pai de um bebê, trabalhando à mesma terra que o pai e o avô trabalharam. “Você é feliz?”, ela perguntou numa tarde enquanto davam banho no cavalo. “Muito. Mas não porque minha vida é fácil ou perfeita, é porque eu a escolhi, cada pedaço dela, até os difíceis.
E se você tivesse escolhido diferente, ir pra cidade grande como eu?” João sorriu. Talvez fosse feliz também, mas seria outro tipo de felicidade. O negócio é, não existe escolha perfeita, só a escolha que é verdadeira para você naquele momento. E depois viver com as consequências com coragem. Viver com as consequências com coragem.
Naquela noite, pela primeira vez desde que chegara, Luma abriu seu celular. Tinha desinstalado o aplicativo de mensagens, mas as mensagens de texto ainda estavam lá. dezenas de Francisco. Ela as leu todas, uma por uma, lágrimas escorrendo livremente. Você deve estar bem. Espero que esteja. Passei hoje no restaurante que você recomendou. Você tinha razão. A tainha é incrível.
Vi uma criança na rua brincando de pular corda e lembrei de quando você contou que era campeã disso na escola. Eu sorri. Ainda não aprendi a dormir sem pensar em você. Um mês parece uma vida. Às vezes eu vou até a recepção do hotel onde estou hospedado agora, São Paulo, e por um segundo acho que vou ver você ali. Sempre me desaponto.
Eu sei que você pediu espaço. Eu estou tentando respeitar, mas preciso que você saiba. Não desisti. Não vou desistir não de você. Luma fechou os olhos, o celular apertado contra o peito. Francisco não tinha desistido. Mesmo depois de semanas sem resposta, ele ainda estava lá esperando, enviando pedaços de si mesmo na esperança de que ela recebesse.
Pela primeira vez, Luma se perguntou: “Será que tinha fugido de novo? Será que, ao ir embora, ao cortar contato, ao se esconder no interior, ela não estava apenas repetindo o padrão de sempre? correr quando as coisas ficavam difíceis demais, intensas demais, reais demais.
Vó, ela chamou, entrando na cozinha onde Ivone preparava o jantar. Eu preciso de um conselho. Estou ouvindo. Eu acho, eu acho que preciso voltar. Ivone parou de mexer o feijão, virando-se lentamente. Voltar pra cidade? Sim. Pro emprego? Não. Esse capítulo acabou. Mas voltar para para mim mesma, paraa pessoa que eu estava me tornando antes de ter medo.
Um sorriso lento iluminou o rosto enrugado da avó. Agora você está falando como uma Silva, mas eu tenho medo ainda. Muito medo. Coragem não é ausência de medo, menina. É agir, apesar dele. Naquela noite, Luma abriu seu laptop velho e começou a procurar emprego em Florianópolis. Não em hotéis. Aquele capítulo tinha acabado mais em agências de turismo, consultorias, até mesmo empresas de tecnologia que precisavam de pessoas que entendessem atendimento ao cliente.
Ela não sabia o que encontraria. Não sabia se Francisco ainda estaria lá, ainda esperando. Não sabia se eles teriam uma chance ou se aquele momento tinha passado. Mas pela primeira vez em semanas, Luma Silva sabia algo com certeza absoluta. Ela estava pronta para descobrir, estava pronta para parar de fugir. Estava pronta para lutar pelo que queria, mesmo que lutasse sozinha.
E isso por si só era uma vitória. Duas semanas depois, com uma mala pequena e um coração ainda incerto, mas determinado, Luma voltou para Florianópolis. A cidade a recebeu com seu ar salgado familiar, o movimento caótico das ruas, a vida pulsante que tanto contrastava com o silêncio do interior.
Mas Luma não voltou para o mesmo apartamento, não voltou para o Hotel Bela Vista, voltou como versão diferente de si mesma. ainda a mesma mulher do interior, mas agora carregando algo novo. A convicção de que merecia ocupar espaço, de que sua história importava, de que ela não precisava se diminuir para caber no mundo de ninguém. Conseguiu um emprego em uma agência de turismo na Lagoa da Conceição.
Pagava menos que o hotel, mas a gerente, uma mulher de 40 anos chamada Beatriz, a contratou na hora após ouvir sobre sua experiência. Você tem o olhar de quem entende pessoas”, Beatriz disse. E no turismo isso vale mais que qualquer diploma. O apartamento novo era ainda menor que o anterior, mas era só dela. Sem colegas de quarto, sem ter que negociar horário do chuveiro, sem ter que esconder choro no travesseiro, com medo de acordar alguém. Seu refúgio, seu espaço.
Luma não tentou contatar Francisco, não porque não quisesse Deus como queria, mas porque precisava provar para si mesma. que conseguia reconstruir sua vida sozinha primeiro, que não estava voltando por ele, mas por ela. Mas o destino, como sempre, tinha seus próprios planos. Era uma tarde de sábado, três semanas após seu retorno.
Luma estava em um café próximo à lagoa, trabalhando em seu laptop, criando roteiros turísticos personalizados para a agência, quando uma voz que ela conheceria em qualquer lugar, mesmo em meio a uma multidão, disse: “Esse lugar serve o melhor café da cidade.” Pelo menos era o que uma pessoa muito especial me disse uma vez.
Luma ergueu os olhos tão rápido que quase derrubou a xícara. Francisco estava ali parado ao lado de sua mesa, vestindo jeans e uma camiseta simples, os cabelos ligeiramente mais longos, a barba por fazer mais evidente. Ele parecia diferente, menos polido, mais humano, mais bonito do que ela se lembrava, e ela se lembrava dele todos os segundos de cada dia.
“Francisco”, ela conseguiu dizer, sua voz saindo estrangulada. “Posso sentar?” Ela a sentiu incapaz de formar palavras. Ele se sentou e, por um longo momento, apenas se olharam dois astronautas que tinham se perdido no espaço e acabavam de se reencontrar, ainda não acreditando que o outro era real. “Você voltou?”, ele disse.
“Finalmente, voltei quando, três semanas atrás, algo passou pelos olhos dele, mágoa, talvez por ela não ter avisado, mas foi rapidamente substituído por algo mais suave. e não me procurou. Eu precisava precisava me encontrar primeiro. E você se encontrou? Luma sorriu levemente. Estou chegando lá. Francisco assentiu, seus dedos tamborilando nervosamente na mesa, um gesto tão humano, tão vulnerável, vindo daquele homem sempre tão controlado.
“Eu venho aqui todo sábado”, ele admitiu, “desde que você foi embora, sento naquela mesa do canto, peço café e fico esperando. Sei que é patético, mas não é patético.” Luma interrompeu, lágrimas já queimando seus olhos. É, é a coisa mais linda que alguém já fez por mim. Luma, eu deixa eu falar primeiro, por favor. Ele fechou a boca assentindo.
Eu fugi quando as coisas ficaram difíceis, quando a pressão ficou grande demais, eu fugi. É o que eu sempre fiz. Quando meus pais morreram, eu fugi para dentro de mim mesma. Quando a vida no interior ficou sufocante, eu fugi pra cidade. E quando me apaixonei por você e fiquei apavorada com o que isso significava, eu fugi de novo.
Ela pausou, limpando as lágrimas que começavam a cair. Mas no interior minha avó me fez entender algo. Ela disse que eu passo a vida fugindo de dor, mas que vida é para ser sentida, mesmo quando dói. E ela estava certa. Eu estava tão ocupada me protegendo, que esqueci de viver. Luma, ainda não terminei.
Eu voltei, Francisco, mas não voltei por você, voltei por mim, porque essa cidade é minha também, porque eu mereço estar aqui. Mereço construir minha vida aqui, independente de você ou de qualquer outra pessoa. E eu precisava provar isso para mim mesma antes de poder. De poder, de poder o quê? Ela o encarou através das lágrimas.
de poder te amar merece, não como alguém que precisa de você, mas como alguém que te escolhe. O silêncio que se seguiu era carregado de tanta emoção que Luma mal conseguia respirar. Francisco estendeu a mão sobre a mesa lentamente. Luma olhou para ela, para aqueles dedos que conhecia tão bem e então colocou sua mão sobre a dele.
“Eu cansei de fingir que consigo viver sem você”, ele disse, sua voz rouca. Passei dois meses tentando. Mergulhei no trabalho, viajei, fiz tudo que costumava fazer antes de te conhecer, mas nada tinha sabor, nada tinha cor, era tudo cinza. Francisco, você me perguntou uma vez se eu era feliz, lembra? E eu não soube responder porque nunca tinha pensado nisso, mas agora sei a resposta.
Qual é? Eu sou feliz quando estou com você, não porque você me completa. Eu odeio essa expressão como se a gente fosse metades esperando por outra metade. Mas porque você me desafia? Você me faz querer ser melhor? Você me vê, o verdadeiro eu e ainda assim fica. Eu sempre vou ficar, Luma sussurrou. Mesmo sabendo que eu venho com todo o peso do meu mundo, as viagens, as reuniões, à exposição pública, mesmo sabendo, porque eu agora sei quem eu sou. E essa pessoa não desaparece só porque está ao seu lado.
Essa pessoa cresce, evolui, mas não desaparece. Francisco levantou a mão dela até seus lábios, beijando delicadamente seus dedos. Luma Silva, você me assusta e me fascina em medidas iguais. Bom, porque você tem o mesmo efeito em mim. Eles sorriram. Então, sorrisos molhados de lágrimas mais genuínos carregados de recomeço. Então, a gente tenta de novo, Francisco perguntou.
Do jeito certo dessa vez? Do nosso jeito. Luma corrigiu. Não existe jeito certo. Só existe o jeito que funciona pra gente. Do nosso jeito. Ele concordou. E ali, naquele café simples na lagoa da Conceição, com o sol começando a se pôr e banhando tudo em luz dourada, Luma e Francisco recomeçaram.
Não como conto de fadas, não como história perfeita, mas como duas pessoas imperfeitas escolhendo construir algo real juntas. Passaram o resto da tarde conversando sobre os dois meses separados, sobre as mudanças que cada um tinha atravessado, sobre medos que ainda existiam, mas que agora eram enfrentados juntos. “Onde você está morando?”, Luma perguntou. Aluguei um apartamento aqui.
Decidi ficar em Florianópolis por tempo indeterminado. Posso trabalhar de qualquer lugar. E bem, esse lugar tem você. Você mudou sua vida toda por mim? Não mudei por mim. Mas ter você aqui é um bônus incrível. Luma riu. E o som foi música para os ouvidos dele. Quando saíram do café, já era noite. Francisco ofereceu carona e Luma aceitou.
No carro, com a cidade iluminada passando pelas janelas, ela sentiu uma paz que não sentia há meses. Francisco? Hum, obrigada. Por quê? Por esperar, por não desistir, por ver em mim coisas que eu mesma não via. Ele segurou sua mão sobre o câmbio. Sempre vou ver, porque você é extraordinária, Luma, e um dia você vai acreditar nisso tanto quanto eu acredito.
Quando chegaram no prédio dela, Francisco a acompanhou até a porta do apartamento. Não vai me convidar para entrar? Ele perguntou, mas havia humor nos olhos. Não, pressão. Não, hoje. Hoje foi perfeito assim. Leve, sem pressa. Sem pressa. Ele concordou. Eu posso te ver amanhã? Pode me ver todos os dias se quiser. O sorriso dele foi como sol nascendo.
Então nos vemos amanhã e depois e depois. Beijaram-se na porta. Um beijo suave. Promessa de muitos outros que viriam. Quando Luma entrou e fechou a porta, encostou-se nela, o coração tão cheio que parecia que ia transbordar. Pegou o celular e ligou para a avó. Vó, menina, como você está? Estou apaixonada, completamente irremediavelmente apaixonada. A risada da avó ecoou pelo telefone.
E você tá feliz? Mais do que nunca pensei ser possível. Então tá certo. Vai em frente. Mas sempre lembrando. Eu sei, vó. Sempre lembrando quem eu sou. Isso mesmo. Te amo, minha menina. Também te amo. Naquela noite, Luma dormiu com um sorriso no rosto e esperança no coração.
A história deles estava apenas começando e dessa vez ela estava pronta. Os meses seguintes foram um aprendizado constante de como equilibrar independência e intimidade, espaço individual e vida compartilhada. Francisco respeitava os limites que Luma estabelecia e ela aprendia lentamente a baixar as defesas que tinha erguido por tanto tempo. Estabeleceram rotinas que eram só deles.
Sexta à noite era sempre jantar no restaurante Pé na Areia em Bombinhas, aquele mesmo onde tinham comido pela primeira vez. Domingo de manhã, corriam juntos pela orla. Terça à noite, Luma ia ao apartamento dele e cozinhavam juntos, testando receitas que quase sempre davam errado, mas geravam memórias que davam certo.
“Você sabia que esse macarrão deveria ter ficado ao dente?”, Luma disse uma noite, olhando a massa empapada no prato. “Eu li a receita. Francisco se defendeu, mas estava rindo. Você leu ou interpretou criativamente? Pode ser a segunda opção. Jogaram o macarrão fora e pediram pizza. comendo sentados no chão da sala, conversando sobre tudo, desde filosofia até fofocas bobas, desde planos futuros até memórias de infância. Mas nem tudo era fácil.
Houve a primeira briga de verdade em um jantar com amigos empresários de Francisco. Luma tinha se arrumado especialmente, tentado encaixar-se naquele mundo de conversas sobre ações e fusões corporativas. Mas uma mulher, uma executiva de cabelos impecavelmente presos e olhar afiado, fez um comentário: “Então, você trabalha com turismo? Que interessante! bem diferente do nosso círculo.
O tom era claramente condescendente. Luma manteve o sorriso, mas Francisco viu a mágoa em seus olhos. No caminho de volta para casa, a tensão no carro era palpável. “Você quer falar sobre isso?”, ele perguntou finalmente. “Falar sobre o quê? Sobre como eu obviamente não pertenço ao seu mundo de executivos importantes e conversas sobre milhões.” Luma, não é verdade. Aquela mulher deixou bem claro.
E sabe o pior? Ela tem razão. Eu não entendo de mercado de ações. Não sei diferenciar fusão de aquisição. Eu só só conheço sobre praias bonitas e onde comer boa comida. Francisco parou o carro bruscamente no acostamento, virando-se para ela. Primeiro, você pertence a qualquer lugar que quiser estar, porque você é incrível. Segundo, aquela mulher é insuportável. Todos ali sabem disso.
Ela trata todo mundo com condescendência. Terceiro, você conhece coisas que nenhum deles conhece. Como o quê? Como viver? Como rir? Como fazer um dia comum parecer extraordinário? Como me lembrar que números em uma tela não definem valor de uma vida? Luma sentiu as lágrimas virem.
Mas eu queria poder conversar com você sobre seu trabalho e entender. Você acha que eu quero mais alguém falando de trabalho comigo? Luma, eu mergulho em trabalho o dia inteiro. Quando estou com você, quero esquecer disso. Quero ser só eu. E você me permite ser só eu. Mesmo sempre. Ela respirou fundo, limpando as lágrimas. Desculpa, eu sei que sou insegura.
Estou trabalhando nisso. Francisco segurou seu rosto entre as mãos. Você é perfeita exatamente como é. E qualquer pessoa que não vê isso não merece um segundo do seu tempo. Beijaram-se ali no acostamento escuro, carros passando em alta velocidade, o mundo girando ao redor, mas eles presos em seu próprio universo.
As semanas se transformaram em meses. Luma foi promovida na agência. estava criando roteiros personalizados tão populares que clientes pediam especificamente por ela. Beatriz, sua chefe, sugeriu que ela considerasse abrir sua própria consultoria de turismo. Você tem talento, Luma. Visão de negócio. Não deveria estar trabalhando para mim. deveria estar construindo seu próprio império.
A ideia plantou uma semente. Luma começou a pesquisar, fazer planos, sonhar maior do que nunca tinha se permitido. Uma noite, mostrou a Francisco um documento que tinha criado plano de negócios completo para Luma Tours, consultoria especializada em experiências turísticas autênticas. “O que você acha?”, Ela perguntou nervosamente.
Francisco leu cada página com atenção, seus olhos de empresário analisando números, projeções e estratégias. Quando terminou, olhou para ela com uma expressão que ela não conseguia ler. “É brilhante”, ele disse simplesmente mesesmo. “Totalmente. O conceito é único. O mercado está subestimado e você tem experiência de campo que nenhum competidor tem. Então, você acha que eu deveria tentar? Eu acho que você vai ter sucesso absoluto.
Luma sentiu uma onda de alívio. Eu estava pensando, você poderia me ajudar com investimento inicial? Eu pagaria de volta, obviamente, com juros justos? Francisco ficou quieto. O que foi? Ela perguntou, o estômago afundando. Luma, eu posso te ajudar de muitas maneiras. Posso conectar você com contatos, revisar seu plano de negócios, dar consultoria estratégica, mas não posso ser seu investidor. Por quê? Ele suspirou. Porque isso mudaria a dinâmica entre nós.
Você deixaria de ser minha parceira para ser minha investida. E eu não quero isso. Você não quer isso. Você precisa construir isso sozinha para que seja verdadeiramente seu. Luma sentiu uma pontada inicial de rejeição, mas então entendeu. Ele estava certo. Se Francisco financiasse seu negócio, ela sempre se perguntaria se o sucesso era dela ou do dinheiro dele. “Você tem razão”, ela disse lentamente.
“Eu vou conseguir o financiamento de outra forma. Sei que vai.” E quando conseguir, vai ser muito mais gratificante, porque foi conquista sua. Aquela conversa definiu algo importante entre eles. Limites saudáveis entre vida pessoal e profissional, respeito pela independência um do outro. Luma se candidatou a um programa de microcrédito para pequenos empreendedores e foi aprovada.
Três meses depois, Luma Tours abriu oficialmente um escritório minúsculo na Lagoa da Conceição, apenas ela e um estagiário, mas era dela, completamente dela. Francisco apareceu na inauguração com champanhe e um buquê de flores. Parabéns, empresária. Obrigada, empresário. Eles brindaram e Luma sentiu uma completude que nunca tinha sentido antes. tinha construído algo do zero, sem favores, sem atalhos, e tinha um homem ao seu lado que não a diminuía, mas a celebrava.
Mas claro, a vida nunca é só alegrias. Uma tarde, Francisco recebeu uma ligação que o deixou pálido. Preciso ir para São Paulo hoje. Problemas sérios na matriz. O que aconteceu? Investigação de compliance. Um dos meus diretores pode ter feito transações duvidosas. Se não for resolvido rápido, posso perder investidores importantes. Por quanto tempo? Não sei. Semanas, talvez.
Luma sentiu o medo antigo ressurgir, o medo de abandono, de ser deixada para trás, mas respirou fundo, lutando contra o instinto de se fechar. Então vai, faz o que precisa fazer. Eu estarei aqui quando voltar. Você tem certeza? Não, mas estou tentando confiar em você, em nós.
Francisco a abraçou tão forte que ela mal conseguia respirar. Eu volto, prometo. Eu sei. Mas quando ele partiu no dia seguinte, levou um pedaço dela junto. As primeiras semanas de separação foram tortura. Francisco ligava todos os dias, mas as conversas eram curtas, interrompidas por reuniões de emergência, advogados, crises que explodiam a cada hora.
Luma tentava ser compreensiva, mas a distância fazia velhos demônios voltarem. “Você está bem?”, Beatriz perguntou um dia, notando as olheiras profundas. “Estou só lidando com algumas coisas. Esse algumas coisas tem nome de empresário bonito.” Luma sorriu fraco. Ele está em São Paulo, problemas no trabalho.
E você está aqui se corroendo de preocupação. Não estou, Luma, eu te conheço. Você está entrando em modo de autossabotagem. convencendo-se de que ele não vai voltar, de que você não é importante o suficiente, de que isso era bom demais para ser verdade. Luma ficou quieta porque Beatriz tinha razão. O que eu faço? Confia. E enquanto isso vive sua vida.
Você tem um negócio para tocar, clientes para atender, sonhos para perseguir. Não coloca sua vida em pausa porque ele não está aqui. Eram palavras sábias. Luma decidiu seguir o conselho. Mergulhou no trabalho com intensidade renovada. Fechou contratos com três hotéis boutique. Desenvolveu uma parceria com uma empresa de ecoturismo. Foi entrevistada por um blog de viagens local.
Luma Tours estava crescendo e ela mal tinha tempo para respirar, o que era bom, porque significava menos tempo para se preocupar. Mas as noites eram difíceis. Sozinha no apartamento, o silêncio era ensurdecedor. O lado da cama onde Francisco dormia nas vezes que ficava ali, permanecia frio, vazio. Uma noite, após semana particularmente exaustiva, Luma quebrou, ligou para ele às 2as da manhã, chorando. Eu sei que você está ocupado. Eu sei que eu deveria ser forte, mas eu não consigo.
Eu sinto sua falta tanto. E eu tenho medo que você perceba que a vida sem mim é mais fácil. Mais simples, sem complicações. Para, respira. A voz dele era firme, mas gentil. Você está ouvindo? Estou. Vida sem você não é mais fácil. É vazia. Cada segundo que passo aqui, eu quero estar aí. Cada decisão que tomo, me pergunto o que você acharia.
Cada vitória pequena, quero compartilhar com você. Então, não, Luma, eu não estou percebendo que é melhor sem você. Estou percebendo o oposto. Quando você volta? Ainda não sei. A investigação está se arrastando, mas eu volto. Pode levar tempo, mas eu volto.
E se levar meses, então você vem me visitar ou eu vou para aí nos fins de semana. A gente dá um jeito. Porque é isso que pessoas que se amam fazem. Dão um jeito. Pessoas que se amam. Era a primeira vez que a palavra amor era dita explicitamente entre eles: “Francisco, você me ama?” Silêncio do outro lado. E então, Luma Silva, eu te amo tanto que às vezes não sei o que fazer com isso. Te amo desde aquele primeiro dia no lobby do hotel.
Te amo quando você está sendo teimosa. Te amo quando está sendo vulnerável. Te amo quando está conquistando o mundo e quando está precisando que o mundo espere um pouco. Eu simplesmente te amo. Luma chorou, mas dessa vez eram lágrimas de alívio, de alegria, de algo tão grande que não cabia em palavras. Eu também te amo. Tanto que assusta. Bom, porque se só eu estivesse aterrorizado, seria injusto.
Eles riram através das lágrimas, através da distância, através de tudo que tentava separá-los, mas não conseguia. Nos dias seguintes, algo mudou em Luma. Não era mais insegurança o que sentia, mas certeza. Certeza de que o amor deles era real, de que sobreviveria à distância, aos desafios, a tudo. E então, cinco semanas após partir, Francisco voltou. Não avisou.
Simplesmente apareceu no escritório dela em uma quinta-feira à tarde, carregando uma mala e um sorriso cansado, mais genuíno. Você o que? Como? Luma gaguejou, levantando-se da cadeira tão rápido que quase caiu. Resolvi o problema. Demiti o diretor corrupto, reestruturei o departamento de compliance, recuperei a confiança dos investidores e então me dei conta de algo.
Do quê? Francisco largou a mala e caminhou até ela. De que posso ter o negócio mais bem-sucedido do mundo. Posso ter bilhões na conta. Posso ter poder e influência. Mas sem você não tenho nada que realmente importa. Luma se jogou em seus braços e ele a pegou no ar, girando, rindo, beijando. O estagiário discretamente saiu da sala fechando a porta. Você voltou. Ela sussurrou contra seus lábios.
Sempre vou voltar. Promete? Prometo. E quando não puder voltar, eu te levo comigo para São Paulo, para onde você quiser. Porque Luma, você é meu lar agora. Não importa onde eu esteja, se você está comigo, eu estou em casa. Naquela noite fizeram amor com uma intensidade nova. Não era apenas físico, era reconexão de duas almas que tinham sobrevivido à separação e saído mais fortes.
Era celebração de tudo que tinham construído e promessa de tudo que ainda construiriam. Deitados na cama, depois, corpos entrelaçados, Francisco disse: “Eu tomei uma decisão.” Qual? Vou descentralizar a empresa, contratar um CEO operacional para São Paulo e fazer Florianópolis minha base. Posso trabalhar daqui, viajar quando necessário, mas minha vida principal vai ser aqui. Francisco, você não precisa.
Eu quero, não por você, mas por mim também. Esses últimos meses em São Paulo me lembraram porque eu odeiava aquela vida. O trânsito infernal, as reuniões intermináveis, a falta de ar. Aqui eu respiro, aqui eu vivo. E sim, a parte de você estar aqui é bônus enorme. Luma sorriu, aninhando-se mais em seu peito.
Então ficamos, ficamos e construímos juntos, juntos. Ela ecoou. E naquele momento, com a lua entrando pela janela e o som distante das ondas, Luma Silva finalmente acreditou. Acreditou que merecia aquilo. Acreditou que o amor não precisava ser sofrimento. Acreditou que dois mundos diferentes podiam coexistir, se complementar, criar algo novo e belo.
Mas o maior teste ainda estava por vir e ele chegaria mais cedo do que qualquer um imaginava. Três meses depois do retorno de Francisco, as coisas estavam mais estáveis do que nunca. Lumatours estava prosperando. Francisco tinha finalizado a descentralização da empresa e eles tinham encontrado um ritmo que funcionava.
Independência individual, mas intimidade profunda. Foi quando Francisco recebeu o convite. Gala de premiação em São Paulo ele disse, mostrando a carta impressa em papel caro com brasão dourado. Empresa do ano. Querem me homenagear, Francisco. Isso é incrível e eu quero que você vá comigo. Luma pausou, o entusiasmo esfriando.
Eu não sei se Luma, isso é importante para mim. Quer dizer, não a premiação em si. Eu realmente não ligo para troféus, mas ter você ao meu lado em algo que o mundo considera importante, isso sim importa. Como dizer não quando ele colocava dessa forma: “Tudo bem, eu vou. O evento seria em duas semanas”. Luma entrou em leve pânico sobre o que vestir.
Seu guarda-roupa consistia em roupas casuais para o escritório, nada remotamente apropriado para a gala de empresários bilionários. Beatriz e duas amigas a arrastaram para um shopping. Você precisa de um vestido que diga sim. Estou com o homem mais bem suucedido do evento e eu mesma sou bem-sucedida o suficiente para estar aqui. Beatriz declarou. Experimentaram dúzias. muito justo, muito solto, muito chamativo, muito sem graça.
E então Luma vestiu um vestido azul marinho de seda, corte elegante, mas simples, que abraçava suas curvas sutilmente e tinha fenda discreta na perna. Quando saiu do provador, as três amigas ficaram em silêncio. Esse, disseram em unísono. O vestido custava mais do que Luma ganhava em um mês. Mas ela comprou mesmo assim, dizendo a si mesma que era investimento em sua confiança, em seu relacionamento, em mostrar ao mundo que ela pertencia ao lado de Francisco.
A viagem para São Paulo foi de avião, primeira classe que Luma nunca tinha experimentado. As poltronas eram maiores que sua cama, o champanhe fluía livremente e ela se sentiu como Cinderela indo ao baile. “Nervosa?”, Francisco? Perguntou, segurando sua mão durante o voo, aterrorizada. Por quê? “Porque esse é seu mundo de verdade, Francisco. Os empresários, a elite, as pessoas que realmente importam na sua vida profissional. E eu sou apenas pare.
Você não é apenas nada. Você é Luma Silva, empresária bem-sucedida, mulher incrível e pessoa mais importante da minha vida. E se alguém não vir isso, problema deles. Mas era mais fácil falar do que fazer. O evento era no Hotel Unique, um dos mais luxuosos de São Paulo. Luma nunca tinha visto nada assim.
Carpete vermelho, lustres de cristal que pareciam custar mais que seu apartamento inteiro, pessoas vestidas como se tivessem saído de revista de moda. E os olhares, Deus, os olhares. Quando entraram juntos, braços entrelaçados, Luma sentiu cada par de olhos se voltando para eles, para ela especificamente, analisando, julgando, se perguntando quem era aquela mulher desconhecida ao lado de Francisco Almeida.
Você está apertando minha mão muito forte”, Francisco sussurrou, mas estava sorrindo. “Desculpa, nervos. Respira! Você está linda. Você é incrível. E eu sou o cara mais sortudo desse evento inteiro.” As palavras ajudaram um pouco. A noite começou com um coquetel. Francisco a apresentou para dúzias de pessoas, investidores, CEOs, magnatas de várias indústrias.
A maioria era educada, mas Luma via a curiosidade mal disfarçada, as perguntas não feitas pairando no ar. Quem é ela? De onde veio? O que ela faz? E então encontraram Marcela. Ela era tudo que Luma não era. Alta, magra, cabelos negros impecáveis, em coque elegante, vestido de grife que provavelmente custava mais que o carro de Luma.
E a maneira como olhou para Francisco, com familiaridade, posse, história, fez o estômago de Luma afundar. Francisco, quanto tempo? Ela o beijou nos dois lados do rosto, demorando um segundo a mais do que apropriado. Marcela, você está bem? Melhor agora. Tenho sentido sua falta nas reuniões do conselho. Estive ocupado. Eu sei.
Todo mundo está falando que você se mudou para onde mesmo? Florianópolis. O jeito como ela disse, como se fosse interior da Amazônia, era claramente depreciativo. Francisco tensionou, mas manteve a voz educada. Sim, Marcela. Essa é Luma, minha namorada. Luma. Marcela é membro do conselho da Associação de Investidores. Marcela estendeu a mão com um sorriso que não chegava aos olhos. Prazer.
Então, você é a razão de Francisco estar se escondendo no sul. Não estou me escondendo”, Francisco disse, uma aresta entrando em sua voz. “Claro que não, apenas explorando novos horizontes.” Marcela voltou sua atenção para Luma. “E, Luma, o que você faz? Tenho uma empresa de turismo. Que charmoso, passeios de barco, esse tipo de coisa. Consultoria de experiências turísticas autênticas, na verdade. Ah, então você leva pessoas em passeios.
Luma sentiu o sangue ferver com a condescendência óbvia. Mas antes que pudesse responder, Francisco interveio. Luma desenvolveu uma empresa do zero que está revolucionando o turismo regional. Ela fez em meses o que maioria dos empresários não consegue em anos. Impressionante, Marcela disse. Mas claramente não estava impressionada. Bem, eu vou deixar vocês. Francisco, não seja estranho. Liga para mim.
Podemos almoçar quando você voltar para a civilização. Ela se afastou em um rodopio de seda e perfume caro. Que vaca, Luma, murmurou. Francisco riu, apesar da tensão. Sim, ela é sempre foi. Ignore. Mas era difícil ignorar quando por toda a noite Luma encontrou variações de Marcela, pessoas educadas na superfície, mas julgando por baixo.
Olhares que diziam claramente: “Ela não pertence aqui”. Conversas que a excluíam sutilmente. O momento pior foi durante o jantar. Estavam sentados em uma mesa com seis outros casais, todos empresários de alto escalão, com suas esposas, que eram, sem exceção, mulheres de sociedade, herdeiras ou profissionais de carreira igualmente impressionantes.
A conversa girou em torno de assuntos que Luma não tinha base para contribuir. Mercado internacional, propriedades em Miami, escolas na Suíça para os filhos. Uma das mulheres, notando o silêncio de Luma, tentou incluí-la. Ai, você, Luma, para onde costuma viajar? Ah, eu não viajo muito.
Trabalho com turismo, mas para outras pessoas. Ó, a mulher não soube como continuar a conversa. Outro homem, três taças de vinho menos sutil, disse: “Francisco, você sempre teve gosto. Eclético para mulheres, mas essa é uma surpresa até para você. O silêncio que caiu sobre a mesa era mortal. Francisco colocou o garfo com um clique alto. Desculpa, não entendi. Explica esse comentário.
O homem pareceu perceber que tinha cruzado uma linha. Eu só quis dizer, você quis dizer o que exatamente? que minha namorada não é boa o suficiente para estar aqui, que ela não tem pedigri social suficiente, ilumina a gente. Francisco, eu não quis ofender, mas ofendeu.
Você ofendeu a mulher que eu amo e isso eu não tolero, independente de quem você é ou quanto dinheiro você move. Ele se levantou, estendendo a mão para a Luma. Vamos, mas sua premiação não importa. Você importa. saíram do salão sob olhares chocados no elevador. Luma finalmente desabou. Eu estraguei tudo. O quê? Não, Luma, eu não pertenço a esse mundo. Você viu? Todo mundo viu.
Eu sou a namorada inadequada que não sabe de que roupa usar, o que dizer, como agir. Francisco segurou seu rosto, forçando-a a olhar para ele. Você está ouvindo? Você não estragou nada. Aquelas pessoas são tóxicas. Eu não percebia antes porque estava imerso naquilo, mas agora com seus olhos eu vejo e eu não quero mais nada daquilo.
Mas é seu mundo? Não, não é. Meu mundo é onde eu escolho estar. E eu escolho estar com você. No quarto do hotel, Luma chorou de frustração, exaustão e alívio. Francisco assegurou, deixando-a processar tudo. Eu tentei tanto. Ela soluçou. Tentei encaixar, tentei impressionar. E você não deveria ter que fazer isso. O problema não é você, Luma, é aquele ambiente.
Aquelas pessoas, elas mediram seu valor pelo tamanho da sua conta bancária e não pelo tamanho do seu coração. E isso está errado. Mas como a gente faz dar certo se nossos mundos são tão diferentes? Francisco ficou quieto por um longo momento, criando nosso próprio mundo. Um onde não importa de onde você veio ou quanto você tem.
Um onde o que importa é caráter, amor, respeito, um mundo só nosso. Isso é possível com você? Eu acho que sim. Luma se aninhando em seu peito, exausta, mas calma. Mas algo tinha mudado naquela noite. Eles tinham sido testados pelo fogo da realidade cruel. E, enquanto sobreviveram, as cicatrizes permaneceriam e ainda havia um teste final por vir.
Voltaram para Florianópolis na manhã seguinte. Francisco perdendo a premiação sem um pingo de arrependimento. No avião, Luma estava quieta, olhando pela janela às nuvens passando. No que você está pensando? Francisco perguntou suavemente se isso vai funcionar a longo prazo.
Por que não funcionaria? Porque ontem foi um vislumbre do que nossa vida vai ser sempre. Eu vou sempre ser a namorada deslocada. Você vai sempre ter que me defender, me proteger de comentários e eventualmente você vai se cansar disso. Luma, eu nunca vou. Você não sabe disso. Ninguém sabe. As pessoas mudam, circunstâncias mudam. E eu não quero ser o peso que te impede de voar.
Você não é peso, você é asas. São só palavras bonitas, Francisco. Ele recuou como se tivesse sido esbofeteado. Só palavras? Luma, quando foi a última vez que eu te dei motivos para duvidar? Ela não tinha resposta. As semanas seguintes foram tensas, não brigavam, mas havia uma distância que não existia antes.
Luma mergulhava no trabalho com obsessão, aceitando todos os clientes, trabalhando até tarde, evitando ter tempo para pensar. Francisco tentava, mas ele também estava lidando com consequências da saída abrupta da gala. Investidores chateados, comentários na imprensa de negócios, rumores de que estava perdendo o foco. Uma noite, ele apareceu no apartamento dela sem avisar.
Luma estava em pijama, cabelo bagunçado, comendo miojo direto da panela porque tinha esquecido de fazer compras. “Precisamos conversar”, ele disse. O estômago dela afundou. Nada de bom começava com essas palavras. sobre sobre nós, sobre o que aconteceu em São Paulo, sobre o elefante na sala que a gente está fingindo que não existe.
Luma colocou a panela de lado, desligando o fogão. Tudo bem, conversa. Francisco se sentou na mesinha de jantar pequena, parecendo grande demais para aquele espaço minúsculo. Você está se afastando, não fisicamente, mas emocionalmente. Eu sinto. Não estou. Está. E eu entendo porê. Eu te coloquei em situação impossível naquela gala. Deveria ter te preparado melhor.
Deveria ter antecipado como aquelas pessoas poderiam reagir. Não é sua culpa, mas é minha responsabilidade. E Luma, eu preciso saber. Você ainda quer isso? Nossa, a pergunta pairou no ar pesado. Eu não sei. Ela admitiu finalmente, lágrimas começando a cair. Eu te amo tanto, mas eu não sei se amor é suficiente quando nossos mundos são tão incompatíveis.
Então, o que você quer que eu faça? Desisto de você? Desisto de nós? Eu não sei. Eu só sei que estou cansada, Francisco. Cansada de sentir que não sou boa o suficiente. Cansada de precisar provar meu valor. Cansada de ser a namorada e não Luma. Mas você é Luma. Sempre foi. Para você sim.
Mas para o resto do mundo, eu sou a menina do interior que pegou um bilionário e eu não sei como viver com isso. Francisco levantou-se, passando as mãos pelos cabelos em frustração. Então me diz o que fazer, porque eu não sei mais. Eu te amo. Eu quero construir uma vida com você. Mas parece que tudo que faço está errado. Não está errado. É só complicado. Vida é complicada, relacionamentos são complicados, mas a gente supera juntos. Não desiste.
Eu não estou desistindo. Está parecendo muito que está. A primeira briga de verdade. Vozes levantadas, frustrações derramando, anos de inseguranças de Luma e meses de impotência de Francisco, colidindo em explosão emocional. Talvez devêsemos dar um tempo. Luma disse finalmente, a voz quebrada. Francisco congelou.
Um tempo só para pensar, para descobrir se isso é realmente o que a gente quer. Eu já sei o que quero. Quero você. sempre quis, mas eu não sei. Eu não sei mais de nada. O silêncio que seguiu era diferente de qualquer outro. Era final, definitivo, assustador. Francisco pegou sua jaqueta, caminhando até a porta, mas antes de abrir virou-se uma última vez.
Eu vou te dar o tempo que você está pedindo, mas Luma não demora muito, porque eu posso esperar, posso ser paciente, mas não posso viver em eterno limbo. Quanto tempo você me dá? quanto tempo você precisar, mas quando decidir, decida de verdade, sim ou não, nós ou nada, porque meio termo não funciona mais.
E então ele saiu deixando Luma sozinha no apartamento, que de repente parecia gelado demais, vazio demais, errado demais. Ela deslizou até o chão, abraçando os joelhos, soluçando. Tinha acabado de empurrar para longe a melhor coisa que já tinha acontecido com ela. E a parte mais assustadora era que não sabia se tinha feito a escolha certa. Ligou para a avó desesperada. Voz, eu estraguei tudo.
O que aconteceu? Luma contou tudo, a gala, as inseguranças, a briga, o pedido de tempo. Ivone ficou em silêncio por tanto tempo que Luma pensou que a ligação tinha caído. Vó, eu estou aqui só pensando em quê? Em como você está repetindo o mesmo padrão de sempre, menina? Foge quando fica difícil. Empurra embora quem ama porque tem medo de ser abandonada primeiro.
Não é isso? É exatamente isso. Seu pai fez a mesma coisa com sua mãe. Ela conta que ele quase foi embora três vezes antes de casar porque tinha medo de não ser bom o suficiente para ela. Mas ela não deixou. Ela lutou e eles tiveram 20 anos lindos juntos antes do acidente. Luma nunca tinha ouvido essa história. Eu não sabia. Porque você nunca perguntou.
sempre achou que seus pais tinham história perfeita, que amor era fácil para eles, mas não era. Eles lutaram, escolheram um ao outro todos os dias. E você precisa fazer o mesmo. E se eu não forte o suficiente? Então você aprende a ser. Luma. Esse homem te ama. Ele provou isso de todas as maneiras possíveis e você também o ama.
Então para de ser covarde e vai atrás do que você quer. As palavras eram duras, mas necessárias. Luma desligou e ficou sentada no chão por horas, pensando sobre seus pais, sobre Francisco, sobre quem ela era e quem queria ser. E lentamente, como sol nascendo após noite interminável, a clareza veio.
Ela tinha medo, claro que tinha, mas viver com medo não era viver. E Francisco valia a pena lutar. Decidida, Luma pegou o celular, mas antes que pudesse discar, ele tocou. Número desconhecido. Alô, senhorita Silva. Aqui é do Hospital Regional. Você é contato de emergência de Ivone Silva? O mundo parou. O que aconteceu com minha avó? Ela deu entrada há uma hora.
Infarto. Está estável agora, mas precisamos que você venha imediatamente. Luma nem lembra de como chegou ao hospital, de qual ônibus pegou, de quanto tempo levou. Só lembra de correr pelos corredores brancos até encontrar a avó deitada na cama. hospitalar, pálida, frágil, conectada a máquinas que apitavam. “Vó”, ela sussurrou, segurando a mão calejada.
Os olhos de Ivone abriram lentamente. “Minha menina, não fala, descansa. Preciso falar antes que caso não diz isso. Escuta, eu te amo. Sempre te amei e você precisa saber. Você é forte, mais forte que imagina. E esse rapaz, o Francisco, ele é bom? Não deixa o medo estragar isso, vó. Você vai ficar bem, você vai.
Mas Ivone já tinha fechado os olhos novamente, exausta. Luma se sentou ao lado da cama, segurando aquela mão, orando para quem quer que estivesse ouvindo, e então sentiu uma presença atrás dela. Virou-se. Francisco estava ali ofegante, como se tivesse corrido, os olhos arregalados de preocupação. Como? Como você soube? Você me tem como contato de emergência no hospital. Lembrei quando você me colocou há dois meses.
Quando ligaram, eu larguei tudo e vim. Francisco. Ele a puxou em seus braços e Luma finalmente se permitiu desmoronar. Chorou toda a atenção das últimas semanas, todo o medo pela avó, todo o arrependimento pela briga. “Eu sinto muito.” Ela soluçou por tudo. Eu fui covarde. Eu não agora.
Agora você só precisa estar aqui e eu vou ficar com você todo o tempo que você precisar. E ele ficou a noite inteira, enquanto médicos entravam e saíam, enquanto testes eram feitos, enquanto Luma alternava entre medo e esperança, Francisco estava lá segurando sua mão, trazendo café ruim da máquina, apenas sendo presença constante.
Quando o sol nasceu e o médico finalmente veio com boas notícias, Ivone estava estável, o infarto foi pequeno, ela se recuperaria completamente com medicação. Luma se virou para Francisco com lágrimas de alívio. Obrigada por estar aqui. Sempre vou estar, mesmo depois de como eu te tratei. Luma, você estava assustada. Eu entendo. E não importa quantas vezes você empurrar, eu sempre vou voltar, porque é isso que amor significa.
Ela o beijou. Então, suave, reverente, carregado de gratidão e algo mais profundo que finalmente ela conseguia nomear. Rendição, não rendição de derrota, mas de aceitação. Aceitação de que amar significava ser vulnerável, significava confiar, significava escolher todos os dias ficar.
E Luma estava finalmente pronta para fazer essa escolha. Dois meses se passaram desde o susto com a saúde da avó. Ivon se recuperou completamente e voltou para o interior, com ordens médicas de desacelerar e uma neta que visitava todo o fim de semana sem falta. O relacionamento de Luma e Francisco encontrou um novo equilíbrio, mais profundo, mais maduro, construído sobre fundação testada por crises e fortalecida por escolhas conscientes. Luma Tours estava em expansão.
Beatriz tinha se tornado sócia minoritária, trazendo investimento e experiência administrativa que permitiram contratar três funcionários e abrir segundo escritório. Luma estava realizando o sonho que mal ousara ter. E Francisco, Francisco tinha feito algo inesperado. Vendeu participação majoritária de sua empresa.
Você fez o quê? Luma quase gritou quando ele contou em um jantar casual em casa. Vendi. Mantive ações suficientes para ter voz em decisões importantes, mas passei a administração diária para CEO que contraei. E sabe o que vou fazer com o dinheiro? Comprar ilha particular, Jatinho, IAT, Francisco Rio. Criar fundação para jovens empreendedores de baixa renda, microcrédito, mentoria, suporte.
Tudo que eu tive porque nasci em família rica, mas oferecido para pessoas que têm talento, mas não tem oportunidade. Luma olhou para ele como se o visse pela primeira vez. Você está falando sério? Completamente. E quero que você seja cofundadora.
Você entende de construir algo do zero, conhece as dificuldades, pode mentorar de verdade. Juntos poderíamos mudar vidas. Francisco, eu não sei o que dizer. Diz sim. Diz que vamos fazer algo que realmente importa. Lágrimas encheram os olhos dela. Sim, mil vezes sim. Eles brindaram com vinho barato, porque Francisco tinha aprendido que não era o preço que importava, era o momento.
E conversaram até tarde sobre planos, sonhos, sobre como transformar riqueza em impacto real. Era madrugada quando Francisco ficou sério de repente. Luma, tem algo que preciso te perguntar. Pode perguntar. Ele ficou em silêncio por tanto tempo que ela começou a ficar preocupada. Francisco, o que foi? Ele levantou-se caminhando até a janela, olhando a cidade iluminada lá fora. Quando se virou, tinha uma expressão que ela nunca tinha visto. Nervosismo puro.
Quando eu te conheci, você estava escondida atrás daquele balcão de hotel invisível para todo mundo, mas não para mim. Eu te vi e cada dia, desde então, eu continuo te vendo. E cada dia eu me apaixono mais. Francisco, espera, deixa eu terminar. Eu passei 28 anos construindo o império, acumulando riqueza, perseguindo definição de sucesso que outras pessoas me deram.
E então você apareceu e me mostrou que eu estava perseguindo a coisa errada o tempo todo. Ele caminhou de volta para ela, ajoelhando-se ao lado da cadeira. O coração de Luma parou. Você me ensinou que sucesso real não é sobre números em conta bancária. É sobre acordar ao lado de alguém que te faz querer ser melhor. É sobre construir algo que importa.
É sobre amar e ser amado sem jogos, sem máscaras, sem medo. Ele tirou uma pequena caixa de veludo do bolso. Luma Silva, você quer casar comigo? O mundo parou completamente. Luma não conseguia respirar, não conseguia pensar, não conseguia processar que aquilo estava realmente acontecendo. Eu, você, nós Francisco sorriu através da própria emoção.
Respira e responde: “Mas e seus amigos empresários? E a sociedade? E todos aqueles que dizem que eu não sou boa o suficiente? Que se danem todos eles. A única opinião que importa é a sua e a minha. Então eu pergunto novamente: “Você quer casar comigo?” Luma olhou para aquele homem ajoelhado no piso simples do seu apartamento minúsculo.
O homem que tinha mudado completamente sua vida, o homem que a via quando ela era invisível, que a amava quando ela duvidava ser amável, que ficava quando ela empurrava. “Sim”, ela sussurrou. “O quê? Eu não ouvi sempre.” Sim!”, ela gritou, rindo e chorando simultaneamente. “Sim, mil vezes, sim.” Francisco deslizou o anel, simples, elegante, perfeito em seu dedo, e então a puxou do chão, girando-a no ar, enquanto ambos riam como crianças.
Quando finalmente se acalmaram, estavam deitados no sofá, entrelaçados, olhando o anel que capturava a luz da luminária. “Quando você quer casar?”, ele perguntou. Não sei. Precisa ser grande. Pode ser o que você quiser. Então quero pequeno, íntimo. Só as pessoas que realmente amamos. Perfeito. Na praia, onde você quiser. Com minha avó fazendo o doce. Francisco Riu.
Não teria de outro jeito. Marcaram para três meses depois. Tempo suficiente para planejar, mas não tanto que Luma tivesse chance de ficar nervosa demais e mudar de ideia. Mas claro, três meses podem trazer muitas surpresas. Uma semana após o noivado, Luma começou a se sentir estranha. Nuseas pela manhã, cansaço excessivo, seios doloridos.
Inicialmente atribuiu ao estress planejamento do casamento, mas quando a menstruação não veio, uma suspeita terrível maravilhosa começou a se formar. Comprou três testes de farmácia, todos positivos. Luma Silva estava grávida, sentou-se no banheiro, o teste tremendo em suas mãos, mente girando.
Eles tinham sido cuidadosos, bem, na maioria das vezes, havia aquela noite depois do hospital, quando ambos estavam tão emocionais que não pensaram em nada, além de estarem juntos. Como ela contaria para Francisco? Eles mal tinham decidido se casar, agora teria bebê na equação? Seria demais, muito rápido ou seria perfeito? guardou os testes, decidindo esperar o momento certo.
Esse momento veio dois dias depois, durante jantar na casa que Francisco tinha comprado, uma residência térrea linda na lagoa, com jardim que dava direto para a água. Estavam na varanda vendo o pô do sol, quando Luma reuniu coragem. Francisco, preciso te contar algo. Estou ouvindo. É sobre mudanças no planejamento do casamento. Ele se virou preocupado. Você quer adiar? Não, mas talvez devêsemos antecipar. Por quê? Luma respirou fundo, colocando a mão no ventre ainda plano.
Porque em sete meses vamos ser três. Francisco piscou confuso e então entendeu. Seus olhos se arregalaram comicamente. Você está Nós estamos. Tem um bebê. Sim. O silêncio que seguiu foi o mais longo da vida de Luma. Francisco apenas olhava para ela, processando, e ela não conseguia ler sua expressão. “Você está bravo?”, ela sussurrou finalmente.
“Bravo? Bravo!” Ele a pegou no colo tão rápido que ela deu um grito. “Eu estou estasiado, Luma. A gente vai ter um bebê.” “Um bebê?” Girou-a no ar, como tinha feito quando ela aceitou o pedido, rindo, chorando, completamente descontrolado, de felicidade. “Você tem certeza?”, Ele perguntou quando finalmente a colocou de volta no chão. Três testes todos positivos.
Meu Deus, a gente vai ser pais. Estamos. Isso muda tudo? Francisco segurou seu rosto entre as mãos. Muda tudo, mas de jeitos que só deixam tudo mais perfeito. Luma, você vai ser mãe e eu vou ser pai. E nosso filho vai crescer vendo o que é amor verdadeiro, parceria real, família construída com escolha e não apenas sangue. Lágrimas escorriam pelo rosto dela. Eu estou com tanto medo.
Eu também, mas vamos ter medo juntos. E vai dar certo, porque é a gente. Naquela noite, deitados na cama, mão de Francisco sobre o ventre de Luma, onde seu filho crescia, eles falaram sobre futuro com uma certeza que não tinham antes. Não seria fácil. Haveria desafios. julgamentos, momentos de dúvida, mas enfrentariam juntos. E isso era tudo que importava.
Três semanas depois, fizeram o ultrom. Viram o coraçãozinho batendo, o som mais bonito que qualquer um deles já tinha ouvido. Olha, o médico disse, aqui está seu bebê. E ali, naquela tela, em preto e branco, estava o futuro deles. Minúsculo, perfeito, impossível, real. O casamento aconteceu em um sábado ensolarado de março em uma praia reservada em Jurerê. Eram apenas 20 pessoas.
A avó de Luma, que chorou da chegada até a saída, Beatriz e alguns amigos próximos de Luma, dois colegas de longa data de Francisco, que tinham provado ser verdadeiros amigos, o pessoal da fundação que eles tinham criado e algumas crianças do bairro que corriam pela areia fazendo bagunça alegre. Não havia carpete vermelho, não havia lustres de cristal, não havia lista de convidados importantes ou fotógrafos profissionais, apenas amor, puro, simples, real.
Luma usava um vestido branco simples de algodão, os cabelos soltos ao vento, os pés descalços na areia. Francisco estava de calça de linho e camisa branca, também descalço, sorrindo como se todo seu mundo estivesse ali, porque estava. A cerimônia foi conduzida por um amigo juiz de paz, mas foram as palavras que eles escreveram um para o outro que realmente importaram. Francisco falou primeiro, segurando as mãos de Luma, seus olhos brilhando com emoção contida.
Luma, quando te conheci, eu achava que sabia o que era sucesso. Achava que tinha todas as respostas. Mas você me mostrou que eu estava fazendo as perguntas erradas. Você me ensinou que riqueza não se mede em dinheiro, que poder não se mede em influência, que uma vida bem vivida se mede em momentos de conexão verdadeira.
Você me ensinou a viver, não apenas existir. E hoje, na frente dessas pessoas que amamos, eu prometo, vou passar o resto da minha vida te honrando, não te colocando em pedestal, porque você não precisa disso, mas caminhando ao seu lado como parceiro, como amigo, como companheiro nessa jornada louca que é vida. Eu te amo mais do que palavras podem expressar e sou grato todos os dias por você terme visto quando eu era apenas mais um hóspede em um hotel e ter decidido que eu valia a pena conhecer. Não havia olho seco na praia. Então foi a vez de Luma.
Ela limpou as lágrimas, respirou fundo e falou com voz que tremeu, mas nunca quebrou. Francisco, eu passei a vida inteira me fazendo pequena, tentando não ocupar muito espaço, não incomodar, não ousar sonhar grande demais. E então você apareceu e viu coisas em mim que eu mesma não via. Você me deu permissão para ser grande, para sonhar, para ocupar espaço.
Mas mais importante, você me mostrou que eu já tinha tudo dentro de mim. Você apenas me ajudou a ver. Hoje eu não estou aqui porque preciso de você. Estou aqui porque te escolho. Escolho seu coração, sua bondade, sua risada boba, sua habilidade impressionante de queimar macarrão. Escolho construir família com você, criar nosso filho juntos e enfrentar tudo que a vida trouxer.
Não como metade procurando outra metade, mas como pessoa inteira escolhendo outra pessoa inteira. Que vou continuar escolhendo você todos os dias pelo resto da minha vida. O juiz mal conseguiu falar através da própria emoção. Pelos poderes que me são conferidos, eu os declaro marido e mulher. Você pode beijar a noiva.
E Francisco beijou Luma sob o céu azul infinito, com o som das ondas e aplausos misturados, com o futuro se estendendo à frente deles, cheio de possibilidades. A festa foi simples. Churrasco na praia, música de violão, dança descalça na areia. A avó de Luma tinha feito o bolo, três camadas de chocolate, a receita da família Silva passada por gerações.
Para nova geração, ela disse ao servi-lo, sua mão pousando no ventre discretamente arredondado de Luma para meu bisneto. Enquanto o sol se punha, pintando o céu de laranja e rosa, Francisco e Luma se afastaram da festa, caminhando pela praia de mãos dadas. “Você se arrepende?”, Ele perguntou suavemente. De todo o caminho até aqui, das dificuldades, das dores, Luma pensou na pergunta. Realmente pensou.
Lembrou-se de cada lágrima chorada, cada noite em son de dúvida, cada momento em que quase desistiu. Não ela disse finalmente, porque tudo me trouxe até aqui, até você, até nós mesmo, as partes ruins, especialmente as partes ruins, porque foram elas que nos ensinaram que éramos fortes o suficiente para isso. Francisco parou, virando-a para ele, a luz dourada do pô do sol banhando ambos.
Luma Almeida se lhe disse testando o nome. Como soa? Ela sorriu como casa, como recomeço, como promessa cumprida, boa, porque essa é você agora e para sempre. C meses depois, em uma manhã de agosto, Mariana Almeida Silva chegou ao mundo pesando 3,2, com pulmões poderosos e cabelos escuros do pai.
Quando a colocaram nos braços de Luma, exausta, mas radiante, ela olhou para aquele rostinho perfeito e pensou em tudo que tinha atravessado para chegar ali. A menina do interior que fugiu para a cidade, a recepcionista invisível que ousou ser vista, a mulher que quase desistiu do amor por medo e a mãe que agora segurava o futuro nos braços. “Ela é perfeita.” Francisco sussurrou, sentado na cama hospitalar, braços ao redor de ambas.
Ela é nossa, Luma corrigiu. Nossa, ele ecuou. Anos depois, quando Mariana tivesse idade suficiente para perguntar, Luma contaria a história de como seus pais se conheceram. não omitiria as partes difíceis, os julgamentos, as dúvidas, as brigas, porque essas partes eram importantes, eram o que tornava o resto significativo.
Ela diria: “Amor verdadeiro não é conto de fadas, é escolha, é trabalho, é acordar todos os dias e decidir que aquela pessoa, com todas as suas imperfeições, vale a pena lutar. É sobre duas pessoas imperfeitas, criando algo perfeito entre elas”.
E quando Mariana perguntasse, “Mas valeu a pena, Luma olharia para Francisco para a vida que tinham construído juntos, a fundação que mudava vidas, os negócios que prosperavam, mas principalmente o amor que apenas crescia mais forte com o tempo e responderia sem hesitação. Valeu cada lágrima, cada dúvida, cada momento de medo, porque me trouxe até você, até nossa família, até essa vida que eu nem sabia que podia ter, porque no final essa era a verdade mais profunda.
Luma Silva tinha passado anos fugindo de dor, de vulnerabilidade, de amor. Até que Francisco Almeida apareceu e a ensinou que algumas coisas valem a pena o risco, que o amor verdadeiro não é sobre encontrar alguém perfeito, é sobre encontrar alguém imperfeito e decidir que suas imperfeições são perfeitas para você e que a maior coragem não é nunca ter medo, é ter medo e escolher amar mesmo assim.
10 anos depois do casamento, Luma estava no escritório da fundação, agora com três sedes em diferentes estados. Quando Francisco apareceu com um envelope. “O que é isso?”, ela perguntou. “Abra dentro estava uma foto. Aquela primeira foto que alguém tinha tirado deles sem que soubessem no lobby do Hotel Bela Vista. Francisco olhando para ela com aquela intensidade, Luma corada e linda em seu uniforme.
“Onde você achou isso?”, pedi ao segurança. “Queria algo para lembrar onde começamos.” Luma traçou os rostos na foto com o dedo, tão jovens, tão assustados, tão inconscientes da jornada que tinham pela frente. “Você se arrepende?”, ela perguntou, ecoando a pergunta que ele tinha feito anos atrás. Francisco puxou-a para perto, beijando sua testa.
Nunca, nem por um segundo, mesmo com todo o caos, as dificuldades, as imperfeições, especialmente por causa delas, porque nos fizeram quem somos hoje. Do jardim da fundação vinha o som de risadas, Mariana brincando com as crianças do programa de mentoria, sua filha de 10 anos já mostrando a mesma empatia e bondade que definia seus pais.
Nós fizemos bom trabalho, Luma disse. Fizemos, Francisco concordou, e ainda estamos fazendo, porque a história deles não tinha realmente fim. Era contínua, se desdobrando, crescendo. Era sobre duas pessoas que escolhiam um ao outro todos os dias e continuariam escolhendo através de tudo que a vida trouxesse.
Porque amor verdadeiro não é destino, é escolha. Uma escolha que Luma Silva e Francisco Almeida faziam com alegria, gratidão e certeza absoluta hoje, amanhã, para sempre. M.