E se o seu maior pesadelo se transformasse na sua maior oportunidade? Imagine estar no casamento do seu ex e ser beijada pelo homem mais poderoso do país na frente de todos. E esse foi só o começo de uma história que vai te prender até o último segundo. Me conta nos comentários de onde você está assistindo.

 E se você adora histórias de revir a volta e emoção intensa, se inscreve no canal e deixa aquele like, porque essa narrativa vai te surpreender do primeiro ao último capítulo. Vamos lá. O envelope creme pousou sobre a mesa de Lara Mendes como uma sentença. Papel vergê de alta gramatura, caligrafia dourada em relevo, lacre de cera com as iniciais G em ios entrelaçadas. Ela não precisava abrir para saber o que era.

Seus dedos tremeram ao rasgar o lacre. Gael Augusto Furtado e Yasmim Brandão tem o prazer de convidá-la para celebrar sua união. As letras dançaram diante dos olhos castanhos de Lara. 5 anos. C anos de planos, sonhos compartilhados, promessas sussurradas em madrugadas frias, tudo evaporado a exatos 12 meses, quando Gael simplesmente decidiu que ela não era suficiente para o futuro que ele planejava. “Lara, você está pálida.

” A voz de Iris, sua melhor amiga, cortou o silêncio do pequeno apartamento em Pinheiros. Lara levantou os olhos. Iris segurava duas xícaras de café, mas a preocupação estampada em seu rosto moreno era impossível de ignorar. “Ele vai casar?” A voz de Lara saiu mais fraca do que pretendia com a Yasm Brandão, filha do Antônio Brandão, o rei da construção civil, aquela patricinha que só posta foto em Dubai.

 Iris depositou as xícaras com força na mesa. Claro, ele sempre foi um interesseiro, mas espera, ele teve a audácia de te convidar? Antes que Lara pudesse responder, o celular vibrou, número desconhecido. Ela atendeu por reflexo. Lara, querida. A voz açucarada de Celeste furtado, mãe de Gael era inconfundível.

 recebeu nosso convite, nosso, como se ela tivesse alguma propriedade sobre aquele casamento. Recebi agora mesmo, dona Celeste. Maravilha. Faço questão absoluta da sua presença. Afinal, uma pausa calculada, venenosa. Você fez parte da vida do meu filho durante sua fase mais, como posso dizer, imatura.

 É importante que você veja o homem extraordinário que ele se tornou. Cada palavra era uma alfinetada coberta de mel. Lara apertou o telefone com força. Claro, estarei lá. Excelente. Ah, e querida, é trage de gala. Sei que pode ser um desafio para você, mas tenho certeza que fará o seu melhor. A ligação encerrou. Lara permaneceu imóvel. O convite ainda entre os dedos. Você não vai nesse casamento.

 Iris decretou categórica. É humilhação de graça. Vou sim. Lara ergueu o queixo, uma determinação súbita incendiando seu peito. Vou provar que superei, que estou bem, que ele não me destruiu. Iris suspirou. Lara, você está com 150.000 em dívidas depois daquela sociedade desastrosa com o Bruno. Seu apartamento está penhorado.

 Você mal consegue pagar suas contas e quer gastar dinheiro com um vestido de gala para impressionar o ex. Era verdade. Cada palavra era uma verdade cortante. O negócio que Lara investira todas suas economias, um estúdio de design em sociedade com um antigo colega de faculdade, havia falido em seis meses. Bruno desaparecera, deixando-a com todas as dívidas.

 Seu talento como designer gráfica mantinha na viva, com trabalhos freelancer, mas mal pagava o essencial. Eu vou. Lara repetiu. Mais para si mesma que para a amiga, nem que seja a última coisa que faço. Três semanas depois, Lara estava diante do espelho de uma boutique caríssima na Oscar Freire. O vestido azul petróleo abraçava suas curvas com perfeição quase cruel. O decote nas costas revelava a pele alva.

 A saia esvoaçante, prometia a elegância. Custava R$ 3.000 que ela não tinha. Perfeito,” murmurou a vendedora, os olhos brilhando com a comissão imaginada. Lara passou o cartão de crédito já sufocado, sentindo o nó no estômago apertar. Estava fazendo uma loucura, uma loucura monumental, mas algo dentro dela, orgulho, desespero, ou talvez apenas o desejo desesperado de provar seu próprio valor, a impelia adiante.

 Na noite anterior à viagem para Campos do Jordão, Lara não conseguiu dormir. As paredes do apartamento pareciam se fechar sobre ela, as contas empilhadas na mesa, os e-mailos de cobrança, a realidade esmagadora de sua vida desmoronando. Ela pegou o convite novamente. Gael e Yasm, o homem que prometera envelhecer ao seu lado agora construía um futuro com outra.

 E ela, ela seria apenas a ex-namorada fracassada, objeto de pena e fofoca. “Eu vou mostrar para todos”, sussurrou para o próprio reflexo na janela escura. Vou mostrar que sou mais do que isso. Mas no fundo, no silêncio cruel da madrugada, Lara sabia a verdade. Ela estava completamente, devastadoramente quebrada.

 O palácio Tangará, erguido entre montanhas cobertas de araucárias, parecia saído de um conto de fadas europeu. Campos do Jordão estava magnífica naquele sábado de abril, o frio cortante da serra, trazendo um ar de sofisticação quase cruel. Lara desceu do Uber. Não tinha dinheiro para alugar carro, ajeitando o vestido azul petróleo e tentando controlar o tremor nas mãos enluvadas.

 Havia gastado os últimos reais com uma maquiadora profissional e o resultado era impecável. Maquiagem esfumada, realçando os olhos, batom vermelho sangue, cabelos castanhos presos em coque elegante. Por fora era a imagem da sofisticação. Por dentro um caos de insegurança e pânico. “Lara!” Uma voz arrastada a fez virar. Camila, antiga amiga do círculo social de Gael, a observava com olhos arregalados.

 Nossa, você veio mesmo? A pergunta carregava tanto espanto quanto algo próximo de pena. Claro, fui convidada. Lara forçou um sorriso. Que corajosa! O tom de Camila destilava com descendência. Depois de tudo, Lara não respondeu. Seguiu em direção à entrada do salão, sentindo os olhares se cravarem em suas costas, como facas invisíveis dentro.

 300 convidados ocupavam cadeiras forradas de veludo branco. Arranjos florais gigantescos de rosas brancas e lilazes perfumavam o ar. Um quarteto de cordas tocava Vivalde. Era tudo perfeito, absurdamente perfeito. Lara encontrou seu lugar, última fileira naturalmente, e sentou-se. Ao redor murmúrios. reconheceu rostos, amigos de Gael, colegas de trabalho, a elite paulistana que sempre a fizera sentir-se deslocada. “Pobre coitada”, sussurrou alguém atrás.

“Teve coragem de aparecer? Ouvi dizer que está falida.” Lara manteve a postura ereta, olhos fixos à frente, mas cada palavra era um açoite. Queria desaparecer, evaporar, estar em qualquer lugar, menos ali. A música mudou. Wagner, a marcha nupsal. Yasmim Brandão surgia ao fundo do salão. Um sonho em renda francesa e pedrarias Swarovski.

 Cabelos loiros, encaixos perfeitos, pele bronzeada artificial, sorriso de quem nunca conheceu frustração. Do braço do pai, gigante de terno armani e expressão triunfante, ela deslizava como se o mundo inteiro existisse apenas para testemunhar sua vitória. E no altar, Gael, o coração de Lara se contorceu dolorosamente. Ele estava diferente, mais encorpado, cabelo cortado em estilo executivo, postura confiante.

 Os olhos verdes que ela conhecera tão bem agora brilhavam com algo que ela não reconhecia. Ambição realizada, futuro garantido. Ele olhou para Yasm com adoração calculada. Ele nunca me olhou assim, percebeu Lara. E a dor foi física. A cerimônia começou. Palavras sobre amor eterno, compromisso, parceria.

 Cada frase era uma ironia cruel. Lara apertou a bolsa no colo, lutando contra as lágrimas que ameaçavam borrar a maquiagem cara. Alguém se opõe a esta união. Silêncio tenso, alguns olhares fugazes em direção a Lara. Ela sentiu o rosto queimar e, então, bem alto o suficiente para o salão inteiro ouvir, a voz de celeste furtado ressoou da primeira fileira. Graças a Deus, meu filho encontrou alguém de verdadeiro valor desta vez.

 O silêncio que se seguiu foi sepulcral. 300 pares de olhos se voltaram para Lara, alguns brilhando com malícia, outros com pena, todos com curiosidade mórbida. Lara sentiu o mundo desabar. As paredes do salão pareceram se aproximar. O ar rareou, sua visão embaçou.

 precisava sair imediatamente, levantar e correr, preservar o último farrapo de dignidade. Ela começou a se levantar quando uma mão firme e quente pousou em sua cintura. Desculpe o atraso, amor. A voz era grave, aveludada, carregada de autoridade natural. Lara virou o rosto e se deparou com o homem mais imponente que já vira na vida. Ele era alto, facilmente 1,90 m, com ombros largos sob um terno três peças azul marinho que custava mais que um carro popular.

 Cabelos negros penteados para trás, mandíbula angulosa sombreada por barba rala perfeitamente aparada, olhos cor de mel que brilhavam com inteligência predatória. Antes que Lara pudesse processar, ele a puxou para si e a beijou. Não foi um beijo delicado, foi possessivo, profundo, declarativo. Os lábios dele eram firmes e quentes. Uma mão segurava sua nuca com propriedade. A outra permanecia na cintura. O mundo explodiu em sensações.

 O perfume amadeirado dele, a textura do terno italiano, o calor irradiando do corpo másculo. Quando ele se afastou, 300 convidados estavam boqueabertos. Reunião em Brasília, ele explicou em voz alta, casual. como se não tivesse acabado de virar 300 vidas de cabeça para baixo. Vocês sabem como é. Negócios não esperam. Lara o encarava completamente paralisada.

 Quem diabos era aquele homem? Mas então registrou os murmúrios explodindo ao redor. Eh, Eitor Alvarenga, o dono do grupo Alvarenga, um dos homens mais ricos do Brasil, Heitor Alvarenga. O nome ressoou na mente de Lara como um trovão. Ela o conhecia de revistas de negócios, matérias em jornais. 35 anos bilionário, controlador de um império que abrangia mineração, tecnologia e investimentos.

 Forbes o listara entre os 50 empresários mais influentes da América Latina e ele acabara de beijá-la como se fosse dona dela. Vamos, querida. Heitor estendeu a mão, aqueles olhos dourados fixos nela com uma intensidade perturbadora. Ainda temos o jantar em São Paulo. Lara, operando no piloto automático, aceitou a mão dele.

 Os dedos longos e elegantes fecharam-se sobre os seus com firmeza. Eles caminharam pelo corredor central. Agora todo mundo os observava, não Gael e Yasmim, em direção à saída. Lara sentia as pernas bambas, o coração disparado, a mente um tumulto de confusão e choque. No momento em que passaram pela primeira fileira, Celeste Furtado estava lívida.

 Gael os observa com expressão indecifrável, surpresa, ciúme, incredulidade. Yasm simplesmente parecia furiosa por ter seu momento roubado. Heitor não olhou para nenhum deles, conduziu Lara para fora do palácio com a naturalidade de quem acabara de comprar uma empresa. Não explodido um casamento. Um motorista uniformizado aguardava ao lado de um Mercedes My Bar preto.

 Heitor abriu a porta traseira para Lara, que entrou ainda atordoada. Ele deslizou ao lado dela e o carro partiu. Silêncio. Lara finalmente encontrou a voz. Quem? Quem é você? Por que fez isso? Heitor virou-se para ela e, pela primeira vez, um sorriso pequeno calculado, tocou os lábios bem desenhados. Eitor Alvarenga.

E quanto ao porquê, ele estudou o rosto dela com atenção clínica. Digamos que tenho uma proposta, umas para você. A cobertura duplex no Jardim Europa era o tipo de imóvel que Lara só conhecia por revistas de arquitetura, piso em mármore travertino, pé direito duplo com lustre de cristal bacará, janelas do chão ao teto revelando São Paulo, iluminada como um tapete de estrelas.

 Obras de arte contemporânea, um Beatriz Milhazes, um Vic Muniz, decoravam as paredes brancas. Lara permanecia de pé na sala, ainda usando o vestido azul petróleo, sentindo-se completamente deslocada. Eitor serviu dois copos de whisky e escocês, algo que provavelmente custava mais que seu aluguel, e estendeu um para ela. Beba, você vai precisar. Lara aceitou com mãos trêmulas e tomou um gole.

 O líquido queimou garganta abaixo, mas ajudou a clarear a névoa de choque. “Precisa me explicar o que está acontecendo?”, Ela exigiu a voz finalmente firme. Agora Heitor se acomodou no sofá de couro italiano, cruzando as pernas com elegância casual. Sob a luz suave dos abajures, ele era ainda mais impressionante. Traços aristocráticos, porte de quem nasceu comandando, aqueles olhos cor de mel, desse movimento dela.

Sente-se, por favor, essa conversa vai demorar. Lara hesitou, mas obedeceu, escolhendo a poltrona mais distante. Heitor notou e seu sorriso se ampliou. Um lobo divertido com a cautela da presa. Vou ser direto começou ele. O tom empresarial. Preciso de uma namorada falsa, mas convincente por seis meses.

Lara piscou. Mas faz o quê? O conselho da minha empresa está me pressionando há dois anos para amadurecer minha imagem pública. Ele praticamente cuspiu as palavras com desdém. Querem que eu me case, forme uma família, projete estabilidade para investidores e parceiros, preferencialmente com Melissa Cavalcante, filha de Otávio Cavalcante, meu maior concorrente. Uma aliança corporativa disfarçada de romance.

 E você não quer? Absolutamente não. A voz dele era gelo. Não aceito ser manipulado. Não formo alianças através de casamento arranjado, mas preciso tirar essa pressão de cima de mim. E a única forma é apresentar uma namorada séria o suficiente para satisfazê-los temporariamente. Lara tomou outro gole do whisky, tentando processar. Por que eu? Você acabou de me conhecer.

 Na verdade não. Heitor pegou um tablet da mesa de centro e deslizou a tela para ela. Lara Mendes, 28 anos, designer gráfica autônoma, formada pela Mckenzie com honras. 5 anos de relacionamento com Gael Furtado, terminado abruptamente há 12 meses. Investiu 150.

000, suas economias completas, em uma sociedade com Bruno Tavares que faliu, deixando você com todas as dívidas. Atualmente em atraso com banco, corretora de crédito e em processo de perda do imóvel. O sangue de Lara gelou. Você me investigou? Obviamente. Heitor era indiferente. Eu não faço negócio sem pesquisa completa. Quando vi seu nome na lista de convidados do casamento furtado Brandão.

Sim, tenho acesso a essas listas. E soube do passado entre vocês. Percebi a oportunidade perfeita. Oportunidade? Você precisa desesperadamente de dinheiro. Eu preciso desesperadamente de uma namorada falsa. Matemática simples. A raiva começou a ferver no peito de Lara, substituindo o choque. Você me usou.

 Aquilo foi uma cena calculada para para criar buz nas redes sociais? Sim. Heitor a interrompeu. Implacável. Até amanhã de manhã seremos trending topic. Bilionário rouba show em casamento da alta sociedade com foto. Nossa. É o início perfeito para nossa narrativa. Nossa narrativa? Lara repetiu. Incrédula. Você é absolutamente sociopata. Sou pragmático.

 Ele se inclinou para a frente, os olhos fixos nela. E você é inteligente demais para deixar orgulho destruir a melhor chance que terá de sair do buraco onde está afundando. O silêncio que se seguiu foi denso. Lara queria gritar, xingar, jogar o whisky na cara daquele homem arrogante, mas ele estava certo, terrivelmente, cruamente certo. O que exatamente está propondo? Heitor abriu um sorriso satisfeito.

 Sabia que a havia fisgado, seis meses fingindo ser minha namorada. Aparições públicas em eventos, jantares, viagens, redes sociais ativas. Você precisará parecer convincentemente apaixonada por mim e eu retribuirei em público. Ele fez uma pausa. Em troca, pago todas suas dívidas, quitação completa, imediata, e te ofereço um emprego real como designer senior no departamento de marketing do grupo Alvarenga. Salário de 25.000 mensais, mais benefícios. A cabeça de Lara girou.

25.000. Suas dívidas quitadas. Um emprego de verdade, não apenas freelances instáveis. Por que deveria confiar em você? Porque teremos um contrato blindado, redigido pelos melhores advogados de São Paulo. Heitor deslizou um documento grosso na mesa. Tudo detalhado.

 Pagamento das dívidas antes de começarmos depósito caução, cláusulas de confidencialidade e quebra de acordo. Você estará protegida legalmente. Lara foliou o contrato. Era real, meticulosamente real. E quando terminar, depois dos se meses, terminaremos publicamente de forma amigável. Diferenças irreconciliáveis. Comunicado conjunto, sem drama. Você mantém o emprego pelo tempo que quiser. Seguimos nossas vidas.

 Parecia simples demais, desesperador tentador. E regras? Deve haver regras, naturalmente. Heitor cruzou os braços. Primeira regra: em público somos um casal apaixonado. Afeto físico necessário. Segurar mãos, abraços, beijos quando apropriado. Segunda, em particular, mantemos distância profissional, nada de confundir atuação com realidade. Terceira, confidencialidade absoluta.

Ninguém pode saber que é falso. Quarta, nada de sentimentos. Lara o interrompeu a voz fria. É isso, não é? Nada de se envolver emocionalmente. Os olhos dourados de Heitor brilharam com algo indefinível. Exatamente. Isso é um acordo de negócios, Lara. Não um romance. Ela deveria recusar.

 Deveria ter dignidade suficiente para rejeitar aquela proposta absurda, mercenária, moralmente questionável. Mas então lembrou, as contas empilhadas, os telefonemas de cobrança, o olhar de pena de íris, a humilhação no casamento, a voz de celeste furtado, alguém de verdadeiro valor. Lara ergueu o queixo e encarou o Heitor Alvarenga.

 Quero ver o dinheiro das dívidas depositado antes de assinar qualquer coisa e quero cláusula, garantindo que se você quebrar o acordo, eu recebo compensação de 500.000 Rais, um sorriso genuíno, impressionado, quase respeitoso, iluminou o rosto de Heitor. Você aprende rápido. Ele estendeu a mão. Temos um acordo. Lara olhou para aquela mão. Era a mão do diabo oferecendo salvação.

 Era manipulação embrulhada em oportunidade. Era tudo errado de todas as formas. E ela apertou. Temos um acordo. A primeira semana como namorada de Heitor Alvarenga foi um mergulho brutal em um mundo que Lara não sabia existir. O grupo Alvarenga ocupava três andares do edifício corporativo mais moderno da Faria Lima: vidro, aço, design minimalista alemão, funcionários internos impecáveis, se movendo como peças de xadrez em tabuleiro invisível.

O departamento de marketing, onde Lara fora alocada como designer senior, era um espaço aberto com vista panorâmica de São Paulo. Você deve ser a Lara. Fernanda Alcântara, diretora de marketing, tinha 40 e poucos anos, cabelos loiros em corte Chanel e olhos azuis penetrantes. Bem-vinda. Aqui os prazos são apertados e a exigência é máxima. Heitor não tolera a mediocridade.

 Lara percebeu os olhares curiosos da equipe. Todos sabiam. A foto dela e Heitor beijando-se no casamento havia viralizado os Imagnata rouba cena novos casais gols dos heitor alvarenga namorada. O vídeo tinha 3 milhões de visualizações. “Vou dar o meu melhor”, prometeu Lara, ignorando o burburinho. E deu.

 Nos três primeiros dias, finalizou duas campanhas visuais e apresentou um rebranding parcial para uma subsidiária. Fernanda ficou genuinamente impressionada. Você tem talento real”, foi o comentário seco. Mas vindo daquela mulher, era elogio máximo. Heitor, por outro lado, era um enigma andante. No escritório, ele era distância personificada. Passava por Lara sem olhá-la.

 Tratava-a com a mesma cordialidade profissional que dedicava a qualquer funcionário. Quando alguém perguntava sobre o relacionamento, ele respondia com monossílabus e mudava de assunto. Vicente Moura, o braço direito de Heitor, homem negro de meia idade, com olhar perspicaz, observava tudo com expressão indecifráve.

 Lara o pegara, encarando-a mais de uma vez, como se tentasse decifrar um quebra-cabeça. Na quinta-feira, Heitor entrou em sua sala sem avisar. Lara levantou os olhos do Mac, surpresa. Jantar beneficente amanhã no Copacabana Palace, Rio de Janeiro. Ele depositou um cartão preto sobre a mesa. Compre um vestido.

 Algo elegante, mas não ostensivo. Uma consultora de etiqueta te visitará hoje à noite. Vou sai às 14 as de Congonhas. E saiu sem esperar resposta. Lara encarou o cartão American Express Centurion. sem limite, como se fosse radioativo. Bem-vinda ao jogo, pensou amargamente. A consultora de etiqueta, Clariss Drumond.

 Era uma senhora elegante de 60 anos que tratou Lara com educação profissional e paciência infinita. Postura ereta, mas não rígida. Sorria com os olhos, não apenas com a boca. Quando o Heitor tocar em você em público, incline-se ligeiramente em direção a ele. Linguagem corporal de proximidade. Nunca beba mais de duas taças de vinho.

 Não puxe assuntos sobre negócios, mas demonstre inteligência se perguntada. E querida, Clarice encarou seriamente. Ame-o com os olhos. As pessoas acreditam no que vem nos olhos. Na sexta-feira, Lara estava no assento de primeira classe ao lado de Heitor. O voo foi silencioso. Ele trabalhou no laptop a viagem inteira, revisando contratos e respondendo e-mails. O Copacabana Palace irradiava glamur antigo.

 O salão de festas brilhava com lustres de cristal, mesas decoradas com arranjos de orquídeas brancas, garçons servindo champanhe e lorromperer. 500 convidados, empresários, políticos, socialaites, celebridades, circulavam como peixes ornamentais em aquário luxuoso. Lara usava um vestido Letícia Bronstein. Tomara que caia cor de prata.

 Cabelos soltos em ondas suaves, maquiagem impecável. Sentia-se como atriz em estreia. “Respire”, murmurou o Heitor, a mão pousando na lombar dela. “Você está perfeita.” O toque era elétrico. Lara se forçou a relaxar. Eles adentraram o salão juntos e as cabeças se voltaram. Eitor cumprimentava pessoas com acenos breves, mas mantinha Lara próxima, propriedade sutil que não passou despercebida. Eitor, um homem corpulento com bigode grisalho se aproximou.

 Ouvi os rumores, mas precisava ver com meus próprios olhos. Augusto. Heitor apertou a mão dele. Lara, este é Augusto Mendonça, CEO da Mendonça Investimentos. Augusto. Lara Mendes. Um prazer enorme, senrita Mendes. Os olhos de Augusto a examinaram com interesse mal disfarçado. Eitor, finalmente domado. Jamais pensei que veria esse dia. Não fui domado.

Eitor respondeu, o tom levemente divertido. Apenas encontrei quem vale a pena ficar ao lado. Ele puxou Lara para mais perto, depositando um beijo suave em sua têmpora. O gesto era casual, íntimo, perfeitamente calibrado para parecer genuíno e alarmantemente fez o coração de Lara disparar.

 O resto da noite foi uma sequência de apresentações, conversas superficiais, sorrisos forçados. Lara representou o papel perfeitamente, atenciosa, sem ser pegajosa, educada sem ser subserviente, mostrando inteligência quando adequado. Durante o jantar, 10 pratos de alta gastronomia, Heitor mantinha contato físico constante, mão sobre a dela na mesa, dedos acariciando levemente seu ombro nu, olhares prolongados que pareciam carregar promessas não ditas.

Era tudo falso. Lara repetia como mantra: “Tudo falso.” Mas quando ele se inclinou para sussurrar algo trivial em seu ouvido e seus lábios roçaram levemente a concha da orelha, o arrepio que percorreu sua espinha foi absolutamente inconvenientemente real. A ligação chegou inesperadamente na segunda-feira de manhã. Lara estava revisando layouts quando o celular corporativo vibrou.

 Preciso que me acompanhe a Minas Gerais neste fim de semana. A voz de Heitor era objetiva. Minha avó quer nos conhecer. Nós A palavra soou estranhamente real. Sua voz sabe que é que somos. Ela sabe que estou namorando. Heitora interrompeu. E faz questão de conhecer a mulher que finalmente capturou seu neto impossível. Palavras dela.

 Lara sentiu o estômago se revirar. Eitor, enganar a mídia é uma coisa, mas sua avó. Duas noites. Lara. Mansão dela fica em Tiradentes. Considere parte do acordo. Ele desligou antes que ela pudesse protestar. A mansão em Tiradentes era uma construção colonial restaurada com perfeição obsessiva. Paredes caiadas, telhas de barro, jardins floridos, capela particular.

 Ficava no topo de uma colina cercada por montanhas azuladas e céu impossível. Estela Alvarenga aguardava na varanda, 82 anos, pequena e delicada como porcelana chinesa, cabelos brancos presos em coque impecável, olhos ar idênticos aos do neto, brilhando com inteligência afiada, usava vestido floral modesto e cardigã de lã. Vovó. Heitor abraçou com uma ternura que Lara nunca vira nele.

 Como está se sentindo velha e teimosa? Estela riu. Depois voltou aqueles olhos penetrantes para Lara. Então você é Lara? Não era pergunta, era avaliação. Senora Alvarenga, é uma honra. Me chame de Estela ou dona Estela. A senhora a interrompeu, mas sem rispidez. E venha cá, criança. Deixe eu olhar você direito. Lara se aproximou.

 Estela pegou suas mãos. As dela eram pequenas, quentes, surpreendentemente fortes. Olhos honestos! Murmurou, estudando o rosto de Lara, coração ferido recentemente, mas espírito resiliente. Então sorriu luminosa. Meu neto escolheu bem. Lara sentiu calor subir no rosto. A culpa de enganar aquela senhora adorável a atingiu como soco.

 O jantar foi servido na sala de jantar com teto de vigas de madeira, frango com quiabo, angu, feijão tropeiro, comida mineira autêntica e deliciosa. Estela contou histórias da família, o avô de Heitor, que fundara a empresa mineradora no ano 50, As Dificuldades, Os triunfos e então o Roberto. Ela se referiu ao pai de Heitor. Assumiu nos anos 90.

 Expandiu para tecnologia, investimentos. Era visionário. Sua voz embargou até morrer tão jovem. Heitor ficou rígido. Lara notou a mandíbula apertada, os dedos se fechando ao redor do garfo. “Quantos anos você tinha?”, Lara perguntou suavemente. 19. A resposta veio curta, cortante, recém-entrado na faculdade e teve que assumir tudo da noite para o dia. Estela completou, os olhos marejados, menino virando o homem forçosamente, mas olhe o que construiu.

Ela acariciou a mão do neto. Seu pai estaria orgulhoso. Reitor não respondeu, mas Lara viu apenas por um segundo a vulnerabilidade nua, atravessando aqueles olhos cor de mel. À noite foram conduzidos ao quarto de hóspedes. Lara parou na porta. Um quarto só? Óbvio. Somos um casal. Eitor entrou despindo o casaco. Não se preocupe.

 É uma cama king size. Posso dormir na poltrona se você preferir. Não, você vai machucar as costas. Lara engoliu seco. Divideos a cama. Somos adultos. O silêncio foi constrangedor enquanto ambos se preparavam para dormir. Lara no banheiro vestindo pijama comportado. Quando saiu, Heitor estava na varanda.

 Apenas calça de moletom, torço nu, revelando músculos definidos e tatuagem discreta no ombro esquerdo. Uma fênix. Ela desviou o olhar. Vovó gostou de você, comentou eitor sem se virar. Ela é maravilhosa e eu sou uma farça horrível. As palavras escaparam amargas. Heitor finalmente olhou para ela. Por que se importa? É porque ela é real. Tudo aqui é real e estamos mentindo para uma senhora adorável que claramente te ama.

 Ela quer me ver feliz. Eitor deu de ombros. Durante seis meses vou estar. Tecnicamente não é mentira. Você realmente não sente nada sente? Lara o encarou. Nenhuma emoção genuína. Tudo é transação para você. Algo perigoso lampejou no olhar dele. Cuidado, Lara. está começando a esquecer as regras, as estúpidas regras.

 Ela não sabia de onde vinha a coragem. Você as usa como escudo. Não se permite sentir nada, conectar-se com ninguém. Deve ser bem solitário viver assim. Heitor cruzou a varanda em três passadas. Parou tão perto que Lara podia sentir o calor dele, o perfume de sândalo e algo indefinivelmente masculino. “Você não sabe nada sobre mim”, ele disse baixinho, perigosamente. “Não me analise como se tivesse esse direito.

 Você me investigou, leu minha vida inteira antes de me conhecer. Isso é diferente. Isso é negócios. Então me explique algo sobre negócios, Heitor.” Lara ergueu o queixo desafiadoramente. Como seu pai morreu de verdade? Porque sua avó disse tão jovem e você ficou tenso. Há mais nessa história. O silêncio que se seguiu foi gélido. Quando Heitor falou, cada palavra gotejava controle forçado.

 Meu pai morreu de infarto aos 48 anos. Oficialmente estresse e fatores genéticos. Ele fez uma pausa. Não oficialmente. Ele estava sendo sabotado. Contratos cancelados misteriosamente. Processos jurídicos fabricados. Pressão de investidores manipulados. Alguém o destruiu sistematicamente até que o coração dele não aguentasse.

 A raiva crua na voz dele era assustadora e, finalmente, humana. Você descobriu quem? Descobri. Os olhos cor de mel eram brasas. E um dia farei justiça, mas por enquanto fingjo, sorrio, jogo o jogo. Ele se afastou. Como você está fazendo comigo? E voltou para dentro, encerrando a conversa. Lara ficou na varanda. abraçando os próprios braços no frio da serra.

 Pela primeira vez, vira a pessoa sob a máscara de empresário impecável e era alguém tão quebrado quanto ela. Quando finalmente deitou na cama, mantendo distância respeitosa, Heitor já estava com os olhos fechados, mas Lara jurou que por horas ele permaneceu acordado, cada músculo tenso, lutando demônios que ela apenas começara a vislumbrar.

 Na manhã seguinte, durante o café com Estela, a senhora apertou a mão de Lara e sussurrou: “Obrigada por trazê-lo de volta à vida”. E Lara, encarando o homem que fingidamente amava, mas cujos segredos começava a desvendar, percebeu com terror crescente. Ela não estava mais fingindo. A cafeteria na Vila Madalena era um refúgio que Lara frequentava há anos. Lugar pequeno, aconchegante, com cheiro de café torrado e bolos caseiros.

 Ela precisava daquele pedaço de normalidade em meio ao turbilhão que sua vida se tornara. Estava revisando um briefing no laptop quando a sombra caiu sobre sua mesa. Lara, ela ergueu os olhos e congelou. Gael furtado estava ali, mais magro que no casamento, com olheiras evidentes sobes.

 Usava jeans e camisa polo, casual demais para alguém que se casara com a herdeira Brandão Gael. Lara fechou o laptop lentamente. O que faz aqui? Posso sentar? Não. Ele sentou mesmo assim, ignorando a recusa. O garçom trouxe café sem ser pedido. Gael sempre pedira o mesmo. Expresso duplo, sem açúcar. Vi as notícias. Você e Eitor Alvarenga. Ele mexia a colher no café nervoso. Foi bem rápido. E isso te importa por quê? Lara Gael se inclinou para a frente.

 Nós terminamos há um ano. Um ano? E de repente você está com o homem mais poderoso do Brasil. Ciúmes, Gael. Sério? A voz dela gotejava sarcasmo. Você se casou com a Yasmin três semanas atrás. Foi um erro. As palavras caíram como bomba. Lara piscou incrédula. O quê? Casar com Yasmin foi um erro. Gael passou a mão pelos cabelos. Gesto desesperado. Eu percebi na lua de mel.

Ela não é. Não somos compatíveis. Tudo que ela quer é festa, viagem, gastar dinheiro. Não tem profundidade. Não me entende como você para. Lara ergueu a mão, a raiva borbulhando. Para agora mesmo. Eu te amava, Lara. Te amo. Os olhos dele brilhavam com lágrimas não derramadas. Cometi um erro terrível quando te deixei. Fui covarde.

 Me deixei levar pelo dinheiro dela, pelas promessas do pai dela. Mas você é quem deveria estar comigo. Você me destroçou. A voz de Lara tremeu. 5 anos, Gael. 5 anos de planos, sonhos, promessas. E você me jogou fora como lixo porque eu não era suficiente para sua ambição. Eu sei, eu sei e me arrependo todos os dias. Ele tentou pegar a mão dela, mas Lara recuou.

 Mas esse relacionamento seu com alvarenga é recente demais para ser sério. Ele é conhecido por trocar de namorada como de terno. Você vai se machucar de novo. Minha vida não te diz respeito. Diz sim, porque eu te conheço. Conheço seu coração, sua alma. Gael se desesperava. Volta para mim, Lara, por favor. Podemos recomeçar. Vou pedir o divórcio. Não me importo com o escândalo. Não. A palavra saiu firme, definitiva.

 Lara se levantou pegando seus pertences. Eu não sou sua segunda opção. Não sou prêmio de consolação porque seu casamento arranjado não deu certo. E sabe de uma coisa? Heitor pode ser calculista, frio e complicado, mas ao menos ele é honesto sobre quem é. Você é só um covarde que não sabe o que quer.

 E saiu deixando Gael boquei aberto na cafeteria. Mas alguém havia registrado o encontro. Naquela noite, Lara estava no apartamento. Já havia se mudado para um lugar melhor, cortesia das dívidas quitadas, quando o celular explodiu com notificações. Instagram, Twitter, blogs de fofoca. Ex de Lara Mendes tenta reconquistá-la. Triângulo amoroso. Gael arrependido busca designer.

 Conversa íntima entre Lara e ex levanta questões. Havia fotos. Gael se inclinando, tentando pegar a mão dela. Parecia íntimo, parecia suspeito. O telefone tocou. Heitor, podemos conversar? A voz era gelo. Sobre o quê? Não se faça de desentendida. Meu motorista te busca em 20 minutos. Ele desligou. A tensão na cobertura era palpável quando Lara entrou.

 Heitor estava na varanda, Scot na mão, postura rígida como aço. Virou-se quando ela se aproximou e a expressão dele era indecifráve. Mas os olhos cor de mel queimavam. Quer me explicar? Ele mostrou o celular com as fotos. Não há nada para explicar. Ele apareceu. Eu dispensei. Não parece que você dispensou. Parece uma conversa bem próxima. Você está me vigiando agora.

 Estou protegendo o nosso acordo. A voz de Heitor subiu, raiva contida explodindo. Você acha que Otávio Cavalcante e outros não estão esperando um deslize nosso? Uma prova de que isso é falso? Eu não fiz nada de errado. Você se encontrou secretamente com seu ex-namorado. Não foi secreto, foi casual. Lara avançou furiosa.

 E desde quando você se importa com quem eu encontro? Me importo quando compromete nosso acordo. Nosso acordo. Ela cuspiu a palavra. É sempre sobre o maldito acordo para você. Nunca sobre pessoas reais com emoções reais. Porque é o que é. Heitor quebrou o copo de Scot na pia, o som ecoando violentamente. É um acordo, Lara. Você finge me amar.

 Eu pago suas contas todos felizes. Eu não estou fingindo. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Lara tapou a boca, horrorizada com o que acabara de admitir. Eitora encarava paralisado, os olhos arregalados. O que você disse? Nada. Esquece, Lara. Eu disse para esquecer. Lágrimas ardiam em seus olhos.

 Você quer saber a verdade? Gael veio me implorar para voltar. Disse que cometer um erro ao casar com Yasmin, que me ama. E sabe o que senti? Nada. Absolutamente nada. Porque eu sou idiota o suficiente para estar desenvolvendo sentimentos de verdade por um homem incapaz de sentir qualquer coisa. Heitor deu dois passos em direção a ela. O rosto uma máscara de conflito. Você não pode fazer isso.

Fazer o quê? Sentir? Desculpe por ser humana. As regras eram claras. Que se danem as regras. Lara estava chorando abertamente. Agora você acha que eu planejei isso? Acha que quis me apaixonar por alguém que me trata como peça de xadrez? Eu não. Eitor parecia genuinamente perdido. Não posso te dar o que você quer. Eu sei.

 Lara enxugou as lágrimas com raiva. Porque você é covarde demais para arriscar. Prefere vingança e controle a qualquer coisa real. Você não entende? Eu entendo perfeitamente. Ela se virou para sair. Vou cumprir meu acordo. Vou fingir em público. Mas não me peça para sentir nada em particular. Já cumpri essa cota. Lara, espera. Mas ela já estava na porta. Parou sem se virar.

 Uma coisa, Heitor, quando você me viu com Gael, não foi o acordo que te incomodou, foi ciúme. Porque você sente sim. só tem medo demais para admitir. E saiu, deixando Heitor sozinho na cobertura silenciosa, os cacos de vidro espalhados no chão, como metáfora de algo que ambos teimavam em negar que estava quebrando.

Três dias de silêncio tenso, Lara e Heitor mantinham contato apenas profissional, e-mails curtos, mensagens objetivas. No escritório evitavam-se. Nas redes sociais postavam fotos antigas com legendas genéricas. Até que Vicente apareceu na sala de Lara. O chefe quer te ver agora. Heitor estava atrás da mesa monumental de Mogno, trajando terno carvão, expressão neutra.

 Mas havia algo diferente. Cansaço nos olhos, uma vulnerabilidade quase imperceptível. Preciso ir a Recife para reuniões na quinta e sexta. Ele não a encarava diretamente. Achei apropriado estendermos até domingo em Fernando de Noronha, aparências nas redes sociais. Se concordar, Lara queria recusar.

 Deveria recusar, mas algo na voz dele, uma hesitação, quase um pedido, a fez assentir. Está bem. Fernando de Noronha era paraíso líquido, água azul turquesa, areia branca, formações rochosas majestosas, golfinhos dançando ao amanhecer. A pousada boutique que Heitor reservara era exclusiva. Apenas cinco chalés à beiraar, privacidade absoluta.

 Nas primeiras horas mantiveram a farça mecânica. Fotos para Instagram, abraços coreografados, sorrisos forçados. Mas quando o sol começou a se pôr pintando o céu de laranja e rosa, algo mudou. Vem. Eitor estendeu a mão. Quero te mostrar uma coisa. Caminharam pela praia deserta até uma enceada escondida.

 As ondas quebravam suavemente contra as pedras, criando música natural. Heitor sentou na areia, patins e gravata descartados, apenas calça social arregaçada e camisa entreaberta. Lara sentou ao lado, mantendo distância respeitosa. “Meu pai me trouxe aqui quando eu tinha 10 anos.” Começou eitor, voz baixa. Primeira e única vez que viajamos, só nós dois.

 Ele estava exausto, sobrecarregado com a empresa, mas aqui, aqui ele riu. Brincou comigo na água. Foi só um fim de semana, mas foi real. Lara o observa em silêncio. Sob a luz dourada do crepúsculo, Heitor parecia mais jovem, menos blindado. Dois anos depois, ele começou a ser sabotado. Nunca mais o vi relaxado assim. Eitor pegou um punhado de areia, deixando escorrer entre os dedos. Otávio Cavalcante. Foi ele.

 Levei anos juntando provas, mas agora tenho tudo. Documentos, e-mailos, gravações de suborno. Ele destruiu meu pai por ganância pura. Queria contratos que eram nossos, por não o expõe? Timing. Preciso do momento certo para causar máximo impacto e preciso proteger as pessoas que amo no processo.

 Ele finalmente olhou para ela. Como você? O coração de Lara saltou. Eitor, você estava certa. As palavras saíram difíceis, como se fossem arrancadas à força. Quando te vi com Gael, não foi o acordo que me incomodou. Foi ciúme, puro, irracional, devastador ciúme. E isso me apavorou. Lara mal respirava. Por quê? Porque não posso me dar ao luxo de sentir.

 Não posso me apegar, me tornar vulnerável. As pessoas que amo se tornam alvos. Meu pai amava demais, confiava demais e isso o matou. A voz dele estava carregada de dor antiga. Então construí muralhas. Transformei tudo em transação. É mais seguro assim. Mais seguro, mas mais solitário. Sim.

 Eitor fechou os olhos até você aparecer e bagunçar tudo. Lara estendeu a mão hesitante e tocou o rosto dele. Heitor abriu os olhos dourados, intensos, vulneráveis como ela jamais vira. Você não precisa estar sozinho nessa guerra. Eu vou te machucar, Lara. Era quase uma súplica. Sou bom em destruir, não em construir. Então me deixe te ensinar. E ela o beijou.

 Não foi como o beijo performático no casamento. Foi desesperado, honesto, carregado de sentimentos que ambos reprimiam há semanas. As mãos de Eitor subiram pelos cabelos dela, puxando-a para mais perto, aprofundando o beijo até que ambos estivessem ofegantes. Quando se separaram, Heitor encostou a testa na dela.

 Isso é real para você? Ele sussurrou. Não fingo. Não acordo. Real. Sempre foi real para mim. Mesmo eu sendo impossível, especialmente porque você é impossível. Lara sorriu através das lágrimas. Alguém precisa te salvar de si mesmo. Eles voltaram para o chalé de mãos dadas. Jantaram na varanda privativa, lagosta grelhada, vinho branco, conversa que fluía natural pela primeira vez.

 Heitor contou sobre a infância, as pressões, o peso de um império nos ombros. Aos 19 anos. Lara compartilhou seus sonhos de ter um estúdio próprio, a frustração com o fracasso anterior, o medo de nunca ser suficiente. “Você é extraordinária”, Heitor disse, os olhos fixos nela com intensidade que a fez corar. Talentosa, resiliente, corajosa. Gael foi um idiota em te deixar ir.

 Você também estava me usando. Era? Ele não negou, mas não mais. Agora, agora é diferente. Quando entraram no quarto, a tensão sexual era palpável. Eitor puxou Lara contra si, as mãos explorando a curva da cintura dos quadris. Ela arqueou contra ele, sentindo o calor, a solidez do corpo masculino. “Tem certeza?”, Ele perguntou a voz rouca, absoluta.

 A noite que se seguiu foi revelação. Toques exploratórios que se tornaram urgentes, sussurros entrecortados, lençóis emaranhados. Heitor era surpreendentemente atento, aprendendo cada reação, cada suspiro, dedicando-se a conhecer o corpo dela, com a mesma intensidade obsessiva que aplicava a negócios.

 Quando Lara finalmente adormeceu, aninhada contra o peito dele ao som das ondas, pela primeira vez em meses se sentiu completa. Na manhã seguinte, acordaram entrelaçados, luz solar invadindo pela janela. Heitora observava com expressão suave que ela jamais vira. “Bom dia”, murmurou, afastando uma mecha de cabelo do rosto dela. “Bom dia.” Lara sorriu sonolenta sobre ontem à noite. Foi incrível.

 Ele a beijou suavemente e assustador e real, muito real. Então, Heitor hesitou, vulnerabilidade cruzando seu rosto. Como seguimos? Ainda temos três meses de acordo, mas depois depois vemos. Lara traçou a linha da mandíbula dele com o dedo, sem pressão. Apenas sendo, sendo. Ele testou a palavra. Posso fazer isso? Passaram o domingo explorando a ilha.

 Mergulho na baía do Sancho, trilha até o mirante, almoço em restaurante rústico. E, pela primeira vez, as fotos que postaram eram genuínas. Sorrisos reais, afeto não performático, conexão palpável. No voo de volta para São Paulo, Heitor segurou a mão de Lara durante toda a viagem e ambos fingiram não perceber que haviam cruzado uma linha da qual não havia retorno.

 As semanas seguintes foram confusas, intensas e inesperadamente felizes. Lara e Heitor mantinham as aparências do acordo em público, mas em particular, em particular eram algo diferente. Não, namorado e namorada oficialmente. A palavra real ainda os assustava, mas algo mais profundo que ambos temiam nomear. Vicente notou.

 Você está diferente, comentou durante uma reunião estratégica. Apenas ele e Heitor. Mais leve, quase humano. Já cale a boca, resmungou Eitor, mas sem verdadeira irritação. É a Lara, não é? Vicente se recostou na cadeira, deixou de ser atuação. Eitor não respondeu, mas o silêncio era confissão. Tome cuidado, Heitor. A voz de Vicente era séria. Você está se distraindo.

 As investigações sobre Cavalcante estão paradas há três semanas. Você precisa focar. Eu sei. Sabe porque parece que está mais interessado em jantares românticos que em vingança. A palavra vingança caiu como pedra. Heitor fechou os olhos. Eu não esqueci o que ele fez. Então prove. Vicente depositou uma pasta sobre a mesa. Isso são as últimas peças que faltavam.

 Gravações de Otávio admitindo suborno a auditores fiscais. Documentos de offshore usada para desviar contratos. Com isso, você o destrói completamente. Heitor abriu a pasta, os olhos escurecendo ao processar o conteúdo. Isso o manda para prisão por anos. Exato. E recupera a honra do seu pai. Vicente se inclinou. Mas você precisa agir rápido.

 Se Otávio descobrir que temos isso, ele vai contra-atacar e vai mirar seus pontos fracos. Como Lara? Eitor completou a mandíbula apertando. Como Lara. Naquela noite, Heitor chegou ao apartamento de Lara. Ela insistira em manter o próprio espaço, apesar dos convites dele para morar na cobertura, visivelmente tenso. “Precisamos conversar”, anunciou.

 Sem prebulos, Lara, que preparava jantar, sentiu o estômago afundar. Isso soainoso. Heitor se serviu de vinho e contou tudo. As investigações sobre Otávio Cavalcante, as provas que juntara ao longo de anos, o plano de exposição pública e, finalmente, o risco que isso representava para qualquer pessoa próxima a ele. Otávio é sociopata.

 Quando exposto, vai tentar me destruir de todas as formas possíveis e isso inclui atingir você. Os olhos dourados de Heitor estavam tempestuosos. Posso te proteger, mas preciso que entenda a gravidade. Lara processou em silêncio o jantar esquecido. Você planejou isso desde o início. Percebeu lentamente. O acordo, a namorada falsa não era só para satisfazer o conselho, era para ter alguém ao seu lado durante a guerra contra Cavalcante. A hesitação de Heitor foi resposta.

 Inicialmente, sim, mas depois você se tornou mais que mais que uma ferramenta. Lara recuou a dor aguda. Mais que uma peça no seu jogo de xadrez. Lara, você me usou. A voz dela subiu. Fernando de Noronha. As confissões, tudo que compartilhamos era só parte do plano? Não. Heitor avançou desesperado. No início. Talvez sim, mas mudou. Você mudou tudo. Eu te amo, Lara.

 As palavras explodiram entre eles como granada. Ambos congelaram. Era a primeira vez que qualquer um dizia aquelas três palavras. Você o quê? Lara sussurrou. Eu te amo. Eitor repetiu cada sílaba dolorida. Não planejava, não queria, mas aconteceu e agora estou apavorado porque te coloco e em perigo apenas por me aproximar de você.

 As lágrimas desciam silenciosas pelo rosto de Lara. Como posso confiar? Como sei que isso não é mais manipulação? Você não pode. Eitor reconheceu com brutal honestidade. Só pode escolher acreditar. E eu entendo se não conseguir. Lara afundou no sofá, a cabeça nas mãos. Heitor se ajoelhou diante dela. Vulnerabilidade nua em cada linha de seu corpo.

 Eu estraguei tudo admitiu, a voz quebrando. Passei tanto tempo construindo planos que esqueci como simplesmente sentir. E agora a única coisa real que tenho corre risco por minha causa. Lara levantou os olhos inchados. Você precisa destruir Cavalcante. Sim, pelo meu pai. Por justiça. Então me deixe estar nisso com você. Ela segurou o rosto dele entre as mãos, sem mentiras, sem manipulações.

Parceiros de verdade, você pode se machucar. Vou me machucar muito mais se você me afastar. Lara encostou a testa na dele. Eu também te amo, seu idiota complicado. Então para de tentar me proteger, tomando decisões por mim. Heitor a puxou num abraço desesperado, enterrando o rosto no pescoço dela. Não mereço você. Provavelmente não.

 Lara sorriu através das lágrimas, mas está preso comigo mesmo assim. Eles ficaram assim por longos minutos, dois corações feridos tentando se curar mutuamente, mas do lado de fora, nas sombras, um carro preto observava o apartamento e dentro dele, Melissa Cavalcante, filha de Otávio, e obsecada por Eitor, fotografava tudo, o sorriso venenoso distorcendo seus traços delicados.

 A guerra estava apenas começando. O convite chegou em envelope lacrado, entregue por mensageiro particular. Papel algodão, monograma OC em ouro, caligrafia impecável. Otávio Cavalcante tem o prazer de convidar Heitor Alvarenga e companheira para jantar de negócios. Faz ano, sábado, 20 horas. Trage rigor. Vicente leu sobre o ombro de Eitor e assobiou baixo. É armadilha.

Óbvio. Heitor estudou o convite. Ele sabe que temos algo. Está tentando descobrir o quê. E você vai? Claro. Recusar seria admitir fraqueza. Lara estava menos certa. Eitor, isso é perigoso. Ele pode tentar alguma coisa. Em público cercado de testemunhas. Improvável. Mas os olhos dourados estavam calculistas. Mas você não precisa ir. Já discutimos isso, parceiros. Ela cruzou os braços. Vou.

 O fazano era temple da alta gastronomia paulistana. Otávio havia reservado a sala privativa, paredes forradas em madeira nobre, lustre murano, mesa para seis pessoas. Otávio Cavalcante era homem imponente nos 60 e poucos anos. Cabelos grisalhos penteados para trás. Terno Brione, olhos azuis gelados como lago congelado.

 Ao lado, Melissa, loira platinada, vestido de or vermelho, beleza artificial e perigosa. Eitor, Otávio abriu os braços teatralmente. Que prazer finalmente conhecer a famosa Lara Mendes. A forma como disse famosa destilava veneno. Senhor cavalcante Lara aceitou o aperto de mão, sentindo os dedos grossos e frios. Me chame Otávio.

Somos todos amigos aqui. Ele gesticulou para as cadeiras. Melissa, você já conhece Eitor? Claro, claro. Melissa praticamente ronronou, os olhos percorrendo o Eitor com propriedade. Sentimos sua falta nos últimos eventos. Estive ocupado. Heitor mantinha a voz neutra, mas a mão na lombar de Lara era possessiva. O jantar começou.

 Oito pratos de alta gastronomia, vinhos caríssimos, conversa superficial sobre economia e política, mas havia undercurrent de tensão como eletricidade antes de tempestade. No quarto prato, Otávio atacou. Então, Lara, ouvi dizer que é designer, trabalha no grupo Alvarenga agora, correto? Sim, no departamento de marketing. Fascinante. Otávio bebeu o vinho.

 E como é trabalhar para o namorado? Não há conflito de interesses. Lara foi contratada por mérito. Heitor interveio. A voz cortante. Fernanda Alcântara, nossa diretora de marketing, tomou a decisão. Claro, claro. Otávio ergueu as mãos em gesto apaziguador. Não quis insinuar nada, apenas curiosidade sobre como jovens casais modernos lidam com dinâmicas profissionais.

 Mas os olhos dele diziam o contrário. Melissa entrou na conversa. Você veio de onde, Lara? Família de empresários? A pergunta era armadilha mal disfarçada, classe média. Lara manteve a cabeça erguida. Meu pai era professor, minha mãe enfermeira. Que história inspiradora. Melissa sorriu, mas era sorriso de tubarão.

 De professores, a namorada de bilionário. Verdadeiro conto de fadas. A implicação gold digger interesseira pairou não dita. Heitor apertou o garfo com força. Cuidado, Melissa. Com o que fiz um elogio? Ela piscou inocente. Admiro mulheres que sabem aproveitar oportunidades. O clima se tornou glacial. Otávio interveio suavemente.

Filha, não seja indelicada. Mas o sorriso dele era satisfeito. Missão cumprida: plantar sementes de dúvida. O prato principal chegou. Vaguiu com molho de trufa negra. Otávio voltou a atacar. Eitor, gostaria de discutir uma proposta. Fusão parcial entre Cavalcante Construções e Grupo Alvarenga, especificamente o braço de mineração. Podemos dominar o mercado juntos.

 Não tenho interesse em fusões nem em alianças. Otávio se inclinou. Seu pai, que Deus o tenha, sempre foi mais colaborativo. A menção do pai foi como tapa. Heitor se enrijeceu completamente. Meu pai também foi mais confiante. E veja onde isso o levou. O silêncio foi sepulcral. Melissa arregalou os olhos. Otávio perdeu o sorriso. O que exatamente está insinuando? Nada.

 Apenas observando que confiança em parceiros errados pode ser fatal. Os dois homens se encaravam, gladiadores em arena invisível. Lara podia sentir a violência latente, a raiva antiga, os segredos mortais pairando não ditos. Otávio quebrou o contato visual primeiro, rindo forçadamente. Bem, negócios à parte.

 Ele ergueu a taça. Um brinde aos jovens casais, encarou Lara e Eitor. Espero que seja amor verdadeiro, não apenas conveniência. A palavra ficou suspensa, carregada de significado. Heitor segurou a mão de Lara sobre a mesa, entrelaçando os dedos. É real, afirmou os olhos fixos em Otávio.

 Mais real que qualquer aliança corporativa. Que bom. Otávio sorriu, mas era sorriso de predador. Seria terrível descobrir que é tudo em cenação. Eles saíram do restaurante uma hora depois, Lara sentindo-se como se tivesse sobrevivido a campo minado. No carro, Heitor estava tenso como corda de arco. Ele suspeita. Tem certeza? Otávio não faz nada sem motivo.

 Aquele jantar foi teste. E Melissa, ele hesitou. Ela sempre foi obsecada por mim. Recusei suas investidas repetidamente. Agora está ressentida. Você acha que ela pode tentar algo? Eu acho. A voz de Heitor era sombria. Que acabamos de cutucar um ninho de cobras e precisamos nos preparar para o PIP bot. A bomba explodiu na segunda-feira de manhã. Vicente invadiu o escritório de Heitor sem bater. Tablet na mão, rosto lívido.

Temos problema grande. Ele jogou o tablet sobre a mesa. Na tela, um dossiê detalhado. Relatório confidencial. Fraudes na Cavalcante Construções. Suborno, desvio de fundos, manipulação contratual. Evidências ligando Otávio Cavalcante a sabotagem contra Roberto Alvarenga. 20102. Conclusão. Responsabilidade direta no estresse que resultou em morte por infarto.

 Eram as provas, todas elas, compiladas, irrefutáveis, devastadoras. Como conseguiu? Heitor foliava o coração acelerado. Fonte anônima, hacker que estava nas sombras há anos, também investigando cavalcante, decidiu compartilhar tudo conosco. Vicente se sentou pesadamente. Com isso, você o destrói completamente. Prisão, falência, escândalo nacional.

 Heitor estudou os documentos. Anos de busca obsessiva finalmente recompensados. Justiça para o Pai. Vingança servida fria. Mas então pensou em Lara. Se eu expor isso agora, começou devagar, Otávio vai contra-atacar com tudo. Sim, Vicente confirmou. Ele vai investigar você, sua vida, suas relações e vai descobrir sobre o acordo com Lara e ela vai ser destroçada publicamente, provavelmente.

Heitor empurrou o tablet, fechando os olhos. A escolha era cristalina, vingança ou proteção, justiça para o morto ou futuro com a viva. Quanto tempo temos antes que Otávio descubra que temos isso? Dias, talvez semana. Vicente o observou. O que vai fazer, Heitor? Por três dias, Heitor se fechou.

 Não atendia ligações. Trancava-se no escritório, mal comia. Lara tentou se aproximar múltiplas vezes, mas ele a afastava com monossilábicos. Na quinta à noite, ela teve o suficiente. Invadiu a cobertura usando a chave que ele dera, símbolo de confiança que agora parecia zombaria.

 Heitor estava na varanda, Scott na mão, olhando a cidade iluminada com expressão devastada. “Você está me afastando”, acusou Lara sem preâmbulos. “Estou te protegendo?” “Não, está tomando decisões sozinho de novo.” “Isso é parceria, lembra?” Heitor finalmente a encarou e Lara quase recuou com a dor nua naqueles olhos dourados. Eu posso destruir Otávio Cavalcante agora. Tenho tudo.

 Provas que o mandam para a prisão que vingam o meu pai, que fazem justiça. Ele pausou. Mas isso significa expor você. Nossa farça inicial vai vir à tona. Você vai ser crucificada. Lara processou, o coração disparado. E você está hesitando? Por minha causa, eu não planejava me importar com você. Ele admitiu a voz quebrada. Não planejava sentir nada.

 Era só controle, estratégia, vingança. Mas agora ele cruzou a distância, segurando o rosto dela entre as mãos. Você é a única coisa que me importa mais que vingança. As lágrimas desceram silenciosas pelo rosto de Lara. Eitor. Passei 15 anos obsecado com justiça para meu pai.

 15 anos construindo provas, planejando-me, consumindo e agora tenho tudo nas mãos, mas não consigo apertar o gatilho porque significa te perder. Você não vai me perder. Vou sim. Quando a verdade explodir, quando virem que começou como acordo, você vai me odiar e eu não aguento esse pensamento. Lara o puxou num beijo desesperado, salgado com lágrimas de ambos.

 Seu idiota”, sussurrou contra os lábios dele. “Você realmente acha que eu me importo com o que as pessoas vão pensar? Com escândalo, com fofoca? Você deveria. Vai ser brutal, talvez. Mas estarei com você.” Ela segurou os ombros dele com firmeza. Não vou deixar você enfrentar isso sozinho. E não vou deixar Otávio cavalcante impune, porque você tem medo de me perder.

 Seu pai merece justiça e você merece paz. Eu mereço a verdade. Lara o encarou com intensidade feroz. Verdade em tudo. Nossa história começou como mentira, mas se tornou real. E relacionamentos reais enfrentam tempestades juntos. Heitor a abraçou com força, que quase doía, enterrando o rosto nos cabelos dela. “Eu te amo tanto que assusta”, confessou.

 “Mas que vingança, mais que justiça, mais que qualquer coisa. E isso me apavora”. Bom, bem-vindo à vulnerabilidade. Lara sorriu através das lágrimas. Agora me solta porque precisamos fazer um plano. Eles passaram a noite na cobertura discutindo estratégia. Como expor Otávio quando falar com imprensa, como se preparar para contra-ataque inevitável.

 Vicente se juntou via a chamada de vídeo e juntos traçaram plano de ação. Duas semanas, definiuente. Tempo para Lara se preparar emocionalmente e blindar redes sociais. Depois explodimos com tudo. E sobre o acordo, Lara perguntou: “Faltam dois meses oficialmente.” Heitora encarou vulnerabilidade e determinação misturadas. Que se dane o acordo.

 Isso parou de ser acordo há tempos. Ele segurou a mão dela. Depois que a tempestade passar, você me namora de verdade? Sem contratos, sem tempo limite, só nós? Lara sorfu através das lágrimas. Pensei que nunca fosse pedir. Então é sim, é um sim gigante, idiota. Eles se beijaram selando promessa que transcendia qualquer papel assinado.

 Mas naquela mesma noite, em escritório sombrio, Melissa Cavalcante entregava ao pai um pen drive, fotos, áudio de conversas, cronologia detalhada. Seu sorriso era triunfante. O relacionamento Alvarenga Mendes começou como acordo falso. Eu tenho provas. O ataque de Heitor foi cirúrgico.

 Na terça-feira às 9 da manhã, dossiê completo sobre crimes de Otávio Cavalcante foi simultaneamente entregue à Polícia Federal, Ministério Público, Comissão de Valores Mobiliários e três dos maiores veículos jornalísticos do país. Às 11 horas, as manchetes explodiam. Império da Corrupção, Otávio Cavalcante, acusado de fraude bilionária. Documentos revelam: empresário sabotou o concorrente até a morte.

 Áudios comprometem suborno, lavagem de dinheiro e manipulação. Às 14 horas, Otávio Cavalcante era preso preventivamente, algemado diante das câmeras, a expressão de choque e fúria eternizada em milhões de telas. A Cavalcante Construções entrou em colapso. Ações despencaram 87%, contratos cancelados em cascata, investidores fugindo como ratos de navio afundando. Heitor assistia das janelas de seu escritório.

 Vicente ao lado, expressão sombria. Você conseguiu disse Vicente. Justiça para seu pai. Sim. Mas a voz de Heitor estava vazia. Então por que parece tão vazio? Porque vingança nunca preenche o vazio que pensamos que vai. Vicente pousou a mão no ombro do amigo. Mas pelo menos seu pai pode descansar em paz.

 Heitor assentiu, emoção atravessando seu rosto. Mas a paz durou exatas 3 horas. Às 17 horas, Melissa Cavalcante, agora porta-voz improvisada da família destruída, convocou coletiva de imprensa. Cabelos perfeitos, vestido preto, lágrimas calculadas escorrendo por maquiagem à prova d’água. Meu pai é inocente”, declarou a voz embargada.

 Heitor Alvarenga forjou essas provas como vingança pessoal e eu posso provar que ele é capaz de qualquer coisa. Ela ergueu documentos, incluindo fingir um relacionamento por se meses para manipular opinião pública. O mundo parou. As câmeras fechavam no que Melissa segurava. Contrato assinado entre Eitor Alvarenga e Lara Mendes.

 Cláusulas detalhando o acordo de namoro falso, pagamento de dívidas, duração específica. Tudo foi em cenação. Melissa continuou. Veneno destilando em cada palavra. Heitor Alvarenga contratou uma namorada para melhorar sua imagem enquanto preparava esse ataque covarde contra minha família. E Lara Mendes, uma oportunista que vendeu sua dignidade por 150.000 e um emprego. A internet explodiu.

Heitor e Lara fake, amor comprado. Ira Gold Digger Lara, Magnata Manipulador. Comentários brutais inundavam redes sociais. Ela é pior que prostituta. Pelo menos elas são honestas. Ele é psicopata, capaz de fingir amor por se meses. Casamento do ex- dela deve ter sido melhor escolha. Lara estava em casa quando o telefone explodiu. Iris ligou frenética. Lara.

 está vendo as notícias?” “Estou vendo,” respondeu Lara, a voz surpreendentemente calma enquanto assistia seu nome ser destroçado em tempo real. “Isso é verdade? O relacionamento foi contratado? Inicialmente?” “Sim, Lara não via sentido em mentir, mas mudou. Ficou real. Ninguém vai acreditar nisso. Você está sendo massacrada.

” Era verdade. A cada segundo, mais comentários venenosos, mais matérias sensacionalistas, mais pessoas que amavam sentir-se moralmente superiores, destruindo alguém que não conheciam. Ligação entrando. Gael, Lara, está tudo bem? Vi as notícias. Eu sabia que havia algo estranho. Gael, não, agora eu posso te ajudar.

 Posso fazer uma declaração pública dizendo que te conheço, que você não é essa pessoa que estão pintando. Podemos dizer que sempre foi real, que não. Lara foi firme. Não preciso de Salvador, especialmente não você. E desligou. O telefone tocou novamente. Eitor, Lara, estou indo para aí. Não. A voz dela saiu mais forte que se sentia. Você tem entrevistas. precisa defender as provas contra Otávio.

 Não pode parecer que está fugindo. Que se dane as aparências. Você está sendo destroçada e você também. Precisamos ser estratégicos. Lara, Heitor. Eu aguento, prometo. Mas você precisa terminar o que começou. Não deixe Otávio manipular isso. Silêncio carregado. Eu te amo. A voz dele estava quebrada. Eu sei. Também te amo. Lara fechou os olhos.

 Agora vai lá e luta. Mas quando desligou, desabou. As paredes do apartamento se fechavam, os comentários ecoavam como gritos, a humilhação queimava como ácido. Iris chegou 30 minutos depois, arrombando a porta com chave reserva. “Vem aqui”, comandou, puxando Lara num abraço. “Deixa chorar”. Depois levantamos e lutamos. E Lara chorou.

 chorou pela humilhação, pela exposição, pelo julgamento de milhões que não a conheciam, mas também chorou por Heitor, que tentara protegê-la, e agora assistia a ambos serem destroçados. Enquanto isso, no escritório, Heitor enfrentava o conselho do grupo Alvarenga. “Você precisa renunciar”, exigiu Augusto Mendonça, o mesmo que elogiara o relacionamento semanas atrás. “Sua credibilidade está destruída.

 A empresa não pode ser associada a isso. As provas contra cavalcantes são reais. Heitor rebateu a voz gelo. Cada documento, cada áudio, verificáveis por peritos independentes. Mas agora tudo é questionado porque você fingiu um relacionamento. Outro conselheiro argumentou: “Parece vingança pessoal, não justiça.

 É justiça?” Heitor bateu a mão na mesa. Meu pai foi assassinado por aquele homem, então deveria ter ido pelos canais legais. Não montado uma farça elaborada. Augusto se levantou. Temos reunião de emergência amanhã. Sugiro que tenha sua carta de renúncia pronta. Heitor assistiu o conselho sair. Vicente permanecendo.

 Eles vão te tirar, afirmou Vicente, mesmo sendo fundador, mesmo tendo razão. Eu sei. E Lara? Eitor fechou os olhos à dor física. Ela está sofrendo por minha causa, como eu sempre soube que aconteceria. Então conserta. Não tem conserto, Vicente. Heitor explodiu. Eu a destruí como tudo que toco. Vicente o encarou.

 Você pode lutar por ela de verdade, publicamente, sem esconder. Mas antes que Heitor pudesse responder, nova notificação explodiu no celular. Gael Furtado havia postado em suas redes sociais, em todos os lugares. Sempre soube que Lara Mendes merecia melhor. Ela é mulher extraordinária que foi manipulada por bilionários sem escrúpulos.

 Se ela aceitar, estou pronto para dar a ela o amor verdadeiro que sempre merece eu. Justica para Lara. A postagem viralizou instantaneamente. Gael como cavaleiro salvador, Lara como donzela em perigo. Quando o Heitor leu, algo dentro dele quebrou definitivamente. A entrevista foi ao vivo. Prime time, maior audiência da semana.

 Heitor Alvarenga, impecável interno cinza escuro, sentado diante da apresentadora mais respeitada do jornalismo brasileiro. Lara a assistia de casa, Iris ao lado, o coração se despedaçando antes mesmo de começar. Senr. Alvarenga! Iniciou a apresentadora. O Brasil inteiro quer saber o relacionamento com Lara Mendes foi real ou calculado? Heitor não hesitou, olhou diretamente para a câmera, expressão impenetrável.

 Foi um erro de julgamento. Lara sentiu o ar ser sugado dos pulmões. Um erro? A apresentadora pressionou. Sim. Eu precisava de alguém para apresentar publicamente, melhorar minha imagem corporativa. Lara Mendes estava em situação financeira difícil. Propus um acordo que beneficiava ambos. Cada palavra era precisa, cortante.

 Foi transação de negócios que confundi com algo mais. E os sentimentos, as declarações públicas de amor, parte da atuação necessária para a credibilidade. Os olhos dourados eram frios como gelo. Lara cumpriu sua parte do acordo perfeitamente, mas quando a farça foi exposta, percebi que mantê-la associada a mim apenas a prejudicaria mais. Então, está terminando o relacionamento.

 Estou reconhecendo que nunca houve relacionamento real. Heitor ajustou os punhos da camisa, gesto casual e devastador. Foi erro meu envolvê-la em meus planos contra Cavalcante. Ela foi ferramenta e agora está pagando o preço injusto. Iris agarrou a mão de Lara com força. Ele está tentando te proteger, sussurrou, tirando o alvo das suas costas. Mas Lara mal ouvia.

 As palavras de Heitor ecoavam como punhaladas, erro de julgamento, transação, atuação, ferramenta, tudo que viveram, Fernando de Noronha, as confissões noturnas, os beijos desesperados, as promessas sussurradas, reduzido a teatro. A entrevista continuou, Heitor defendendo metodicamente as provas contra Otávio, mantendo compostura empresarial perfeita. Mas sobre Lara, frieza absoluta.

 Quando terminou, os comentários online mudaram de tom. Pelo menos ele assumiu. Melhor que continuar mentindo. Ela deve estar destroçada. Coitada. Gael furtado tem razão. Ela merece melhor. Lara desligou a TV. O silêncio do apartamento ensurdecedor. Ele fez isso para te salvar. Iris insistiu. Eitor assumiu toda a culpa. Te pintou como vítima. Ele me descartou.

 A voz de Lara estava morta na TV nacional, como se tudo que vivemos fosse nada. Mas não foi. Você sabe que não foi. Sei. Lara finalmente olhou para a amiga, os olhos secos, mas destroçados. Porque parece que fui idiota que confundiu manipulação com amor de novo. O telefone tocou. Heitor. Lara desligou. Tocou novamente. Desligou.

 Na 20ª tentativa atendeu apenas para dizer: “Não me liga mais. Lara, por favor, me escuta. Você me chamou de ferramenta na TV para milhões de pessoas. Eu precisava te tirar da linha de fogo. Cavalcante ainda pode. Você não me consultou. A raiva finalmente explodiu. Decidiu sozinho de novo, que sabia o que era melhor para mim.

 me humilhou publicamente para me proteger. Eu estava tentando. Eu sei o que estava tentando. Lara estava chorando agora, mas não precisava me destruir no processo. Poderia ter me defendido, dito que ficou real, que sentimentos mudaram, mas preferiu fingir que nunca significou nada. Porque significou tudo? Heitor gritou do outro lado.

 E é por isso que não posso te arrastar mais fundo na minha guerra. Essa não era sua decisão. Silêncio pesado. Você terminou comigo? Lara disse, cada palavra saindo dolorida na frente do país inteiro. E agora não temos nada a conversar. Lara, ela desligou. Os dias seguintes foram névoa de dor. Lara se trancou em casa, rejeitando ligações, ignorando mensagens.

 Heitor tentou visitá-la, ela não abriu. Ele enviou flores, ela as devolveu. Ele escreveu cartas explicando, pedindo perdão. Ela as queimou sem ler. E então chegou a proposta. Estúdio de design em Lisboa. Buscava designer senior. Salário generoso, trabalho remoto parcial, chance de recomeçar em outro continente, longe de escândalos e memórias dolorosas.

 Iris encontrou Lara olhando o e-mail da proposta. “Você vai aceitar?”, perguntou suavemente. Não sei. Talvez fugir seja a resposta. Ou talvez Iris e se sentou ao lado. Ficar e lutar. Seja lutar por quê? Ele me jogou fora, Iris, bem quando eu mais precisava dele. Ele te protegeu do único jeito torto que esse homem emocionalmente aleijado sabe fazer. Iris segurou a mão da amiga.

Eitor Alvarenga passou a vida inteira construindo muralhas. Você as derrubou e agora ele está apavorado e tomando decisões idiotas. Isso não justifica, não justifica, mas explica. Iris suspirou. Você precisa decidir. Ele vale a dor de lutar. Lara olhou pela janela, São Paulo se estendendo cinza e interminável. Uma semana. Tinha uma semana para decidir sobre Lisboa.

 Uma semana para escolher entre fugir da dor ou enfrentá-la. Uma semana para descobrir se amava Heitor Alvarenga o suficiente para perdoá-lo. Vicente encontrou o Eitor no escritório às 3 da manhã. Ele estava afundado na cadeira, garrafa de escot, gravata desfeita, olhar perdido nos arranhacéus iluminados. “Você está destruído”, observou Vicente sem rodeios, perceptivo como sempre.

 Heitor tomou mais um gole. O conselho votou. Você está suspenso por seis meses. Depois disso, revisão. Que se danem, Heitor. Que se danem. Ele atirou o copo contra a parede, o vidro explodindo em mil pedaços. A empresa, o conselho, minha reputação, tudo. Nada disso importa, porque eu destruí a única coisa que era vial.

 Vicente se sentou, deixando o amigo desabar. Ela não atende suas ligações. Nenhuma. Troquei os números dela. Não abre a porta. devolveu tudo que dei. Eitor passou as mãos pelo rosto. E eu mereço. Mereco cada segundo dessa dor. Você fez o que achou certo. Fiz o que era conveniente. Heitor se levantou, começando a andar de um lado para o outro.

 Pintei ela como vítima, eu como vilão, para tirar o alvo das costas dela. Mas não perguntei o que ela queria. Decidi sozinho, igual sempre faço. E se tivesse pedido opinião dela, ela teria dito para lutarmos juntos, para enfrentarmos a tempestade lado a lado. Eitor riu amargamente. Porque ela é corajosa e forte. E tudo que eu não sou.

 Você enfrentou o homem que matou seu pai. Isso foi fácil. Vingança sempre é mais fácil que vulnerabilidade. Heitor voltou para a cadeira, afundando nela. Passar a vida construindo império, juntando provas, planejando destruição, tudo que precisava era raiva e determinação. Mas amar Lara, confiar nela, ser genuinamente vulnerável, isso apavora mais que qualquer outra coisa.

Vicente observou o amigo em silêncio, reconhecendo o momento de transformação genuína. Então, o que vai fazer? Antes que Heitor pudesse responder, o celular dele tocou. Não, Lara, sua avó. Vovó, são 3 da manhã e você está no escritório bebendo e se afundando em autopiedade. A voz de Estela era firme. Vicente me ligou. Heitor fuzilou Vicente com o olhar. O outro deu de ombro sem remorço.

Vovó, agora não é. Cale a boca e escute, menino. Estela Alvarenga nunca havia usado esse tom com o neto. Eu sabia. Desde o primeiro dia que vocês visitaram, eu sabia que era arranjado. Heitor congelou. O quê? Você acha que cheguei aos 82 sendo idiota? Ela riu sem humor.

 Vi vocês tentando demais, atuando um pouco exagerado, mas também vi parou de ser atuação. Vi quando vocês se olharam no café da manhã e esqueceram que eu estava na sala. Vi quando suas mãos se procuraram automaticamente. Vi con amor real nascendo. Lágrimas ardiam nos olhos de Heitor.

 Então, por que não disse nada? Porque às vezes mentiras se transformam em verdades e vocês precisavam descobrir isso sozinhos. Ela suspirou. Mas agora você, meu neto brilhante e idiota, destruiu tudo por medo. Eu estava protegendo. Ela estava se protegendo. Estela o interrompeu, protegendo seu coração de mais uma perda. Seu pai morreu, você se fechou e agora que finalmente se abriu para alguém, está fugindo antes que ela possa te machucar.

 As palavras acertaram como socos. Ela já está machucada por minha causa. Então conserta. A voz da avó suavizou. Não com grandes gestos ou dinheiro. Com honestidade, vulnerabilidade real. Deixa ela decidir se você vale o risco. E se ela disser que não, então você terá sua resposta e pelo menos terá tentado. Estela fez uma pausa.

 Seu pai teria orgulho do homem que destruiu Cavalcante, mas teria mais orgulho do homem que luta por amor. A ligação encerrou, deixando Heitor em silêncio. Vicente finalmente falou: “Lara está decidindo se aceita emprego em Lisboa.” Heitor levantou os olhos pânico, cruzando seu rosto. Lisboa, quando? Ela tem até sexta para responder. Vicente checou o celular. Hoje é quinta. Merda.

 Heitor se levantou. Onde ela está? Última vez que soube apartamento. Mas Eitor Vicente segurou o braço do amigo. Não vá como empresário com plano. Vá como homem apavorado que ama ela. Honestidade crua é a única chance. Eitor assentiu pegando o casaco. Estava quase na porta quando Vicente chamou.

 E Eitor, seu pai estaria orgulhoso do homem que você é e do homem que está tentando se tornar. O apartamento de Lara estava silencioso quando a campainha tocou às 6 da manhã. Ela abriu sem ver quem era, pensando que fosse íris. Era e Heitor. Ele estava destruído, terno amarrotado, barba por fazer, olheiras profundas, olhos vermelhos. Mas foi o desespero nuqueles olhos cor de mel que a fez congelar.

 Eu sei que não mereço te ouvir”, começou ele antes que ela pudesse fechar a porta. “Sei que te machuquei de forma imperdoável, mas por favor, por favor, me dá 5 minutos”. Lara deveria dizer não. Deveria ter dignidade, mas algo na postura quebrada dele, o homem mais poderoso do Brasil, reduzido a suplicante, a fez recuar, deixando-o entrar. Eles ficaram de pé na sala, distância cuidadosa entre eles.

 Eu fudi tudo. Heitor começou sem rodeios na entrevista, com as decisões, com tudo. E fiz porque estava apavorado. Apavorado de quê? De te amar, de te perder, de ser vulnerável. As palavras jorravam como confissão. Meu pai amou profundamente, confiou demais e morreu.

 Então construí muralhas, transformei tudo em transação, porque transações são controláveis. Mas você, você as derrubou todas e me deixou aterrorizado. Lágrimas silenciosas desciam pelo rosto de Lara. Quando o escândalo explodiu, continuou o heitor. Entrei em pânico. Pensei: “Se eu te afastar agora, te transformar em vítima, você fica protegida.” Mas estava mentindo para mim mesmo. Não estava te protegendo.

 Estava me protegendo de inevitável momento em que você perceberia que não vale a dor de estar comigo. “Eitor, me deixa terminar, por favor.” Ele deu um passo, parando a si mesmo. Você disse uma vez que eu tinha medo de sentir. Tinha razão. Passei 15 anos obsecado com vingança, porque era mais fácil que luto, mais fácil que aceitar que meu pai se foi. E quando finalmente consegui justiça, percebi que não preenchia o vazio.

 Sabe o que preenchia? Você, seus sorrisos, suas broncas, a forma como me desafia e me entende e me faz querer ser melhor. Ele se ajoelhou. Heitor Alvarenga, bilionário, CEO, homem mais poderoso do Brasil, ajoelhado no chão do apartamento simples de Lara. Eu te amo, não como no acordo, não como estratégia.

 Eu te amo de forma que me assusta, me completa e me quebra ao mesmo tempo. E se você decidir ir para Lisboa, vou respeitar. Mas precisava que soubesse. Você não foi erro, não foi ferramenta, você foi e tudo. E sinto muito, tanto, por fazer você acreditar diferente. O silêncio que se seguiu foi denso de emoções cruas.

 Lara finalmente falou, a voz trêmula: “Você me humilhou na TV Nacional. Eu sei. Me chamou de ferramenta. Eu sei e vou passar o resto da vida compensando se você deixar, porque deveria acreditar. Como sei que não vai entrar em pânico de novo e me afastar?” Eitor levantou os olhos vulneráveis, honestos, desesperados. Não sabe.

 Só pode confiar que vou tentar, que vou falhar às vezes, porque sou homem quebrado, ainda aprendendo a se reconstruir, mas vou tentar todos os dias ser digno de você. Lara se ajoelhou na frente dele, seus rostos no mesmo nível. Eu também te amo e também estou apavorada. Ela tocou o rosto dele, mas escolho arriscar. Escolho acreditar. Escolho você. Eitora a puxou num abraço desesperado, ambos chorando, segurando um ao outro como se fossem linha de vida.

 Não vá para Lisboa! Ele implorou contra o cabelo dela. Ou se for, me leva junto. Não me importa onde, desde que seja com você. Lara riu através das lágrimas. Você deixaria o grupo alvarenga? Estou suspenso mesmo. E percebi império, dinheiro, poder. Nada disso importa sem você. Eles se beijaram. Salgado, desesperado, honesto.

 Um beijo que selava não promessas perfeitas, mas compromisso de tentar. Quando se separaram, Lara segurou o rosto dele entre as mãos. Então vamos fazer direito dessa vez. Sem acordos, sem regras, só nós construindo algo real. Do zero. Heitor sentiu os olhos brilhando. Do emuzeiro e para sempre. Seis meses depois, São Paulo florescia sob céu limpo de primavera.

 Lara ajustava a última peça no espaço que era oficialmente seu. Estúdio LM Design no coração de Pinheiros. Amplo, luminoso, com grandes janelas de vidro, plantas pendentes, mesa de desenho vintage que encontrara em brechó. Três clientes já fechados, portfólio crescendo organicamente. Heitor havia investido como sócio minoritário, 20%. Contratos assinados, tudo oficial. Mas ela comandava. Era dela.

 Ficou perfeito! Comentou Iris, inaugurando o espaço com champanhe barata. Seu sonho virando realidade. Finalmente, Lara brindou. Do outro lado da cidade, Heitor concluía a reunião com o conselho do grupo Alvarenga. Sua suspensão terminara, mas ele voltava com mudanças.

 Vicente como CCEO, delegação de responsabilidades, horários, sãos de trabalho, empresário ainda, mas não mais escravo do império. Otávio Cavalcante cumpria pena de 8 anos por fraude e corrupção. Melissa desaparecera da vida pública. Rumores diziam que estava em clínica de reabilitação em Malibu. A ferida da exposição pública ainda doía, mas cicatrizava.

 Lara e Eitor haviam dado entrevista juntos, honesta, vulnerável, explicando como mentira se transformara em verdade. Nem todos acreditaram, muitos ainda os julgavam. Mas alguns, alguns entenderam que amor raramente é linear. Aquela noite, Heitor buscou Lara no estúdio. “Pronta?”, perguntou, estendendo a mão. Para surpresa, eles dirigiram para fora da cidade, estrada serpenteando por montanhas.

 Quando pararam, Lara a reconheceu, o mirante onde Eitor a levara em Fernando de Noronha, ou melhor, versão paulista. Vista de São Paulo iluminada, céu estrelado, vento fresco trazendo cheiro de eucalipto. “Nosso lugar”, explicou Heitor, longe do caos. Eles se sentaram no capô do carro, ombros encostados, dedos entrelaçados.

 Vicente me disse que você recusou proposta da empresa alemã”, comentou Lara. Exigia muitas viagens, prefiro ficar. Ele beijou a témpora dela. “Minha prioridade é outra agora. Está virando sentimental, Magnata. Sua culpa me corrompeu completamente.” riram confortáveis no silêncio compartilhado. “Ga me mandou mensagem.” Lara contou casualmente, divorciou-se da Yasmin.

Queria saber se poderíamos conversar. Heitor se enrijeceu imperceptivelmente. E você quer? Não bloqueei. Ela o encarou. Porque já sei onde quero estar. O sorriso dele foi puro alívio. E seus pais? Perguntou Heitor. Sei que sua mãe ainda é cética. Ela está tentando. Lara suspirou. Ainda não gosta do escândalo das manchetes, mas me viu feliz de verdade pela primeira vez em anos.

 Isso conta. Heitor sentiu. Conhecera os pais de Lara mês anterior. Jantar desconfortável, mas honesto. O pai, professor aposentado, fizera milhões de perguntas. A mãe, enfermeira pragmática, dissera francamente: “Você machucou minha filha. Faça de novo e responderá a mim”. Heitor prometera não fazer. Vovó mandou o recado.

 Ele disse, quer que passemos o reveillon em Tiradentes, família toda. Família toda? Larqueou sobrancelha. Conheço alguém que até recentemente evitava conexões humanas. Você me mudou. Heitor virou segurando o rosto dela. Me ensinou que vulnerabilidade não é fraqueza, que confiar não é ingenuidade, que amar, ele engoliu. Amar não é garantia de perda. Seu pai estaria orgulhoso murmurou Lara.

Espero que sim. Eles se beijaram suave, profundo, promessa sem palavras. Quando se separaram, Eitor alcançou o bolso, tirando pequena caixa aveludada. Lara arregalou os olhos. Eitor, calma, não é o que pensa. Ele abriu, revelando não anel, mas pingente delicado, fênix em ouro branco. Vi e pensei em você, reerguendo das cinzas mais forte cada vez.

 Lágrimas brilhavam nos olhos dela enquanto ele colocava o colar. Obrigada. E quanto a isso, ele pegou nova caixa maior, dentro duas chaves. Comprei apartamento novo, cobertura no Itaim, vista incrível espaço suficiente para meu obsessivo compulsivo e seu caos criativo. Ele hesitou. Você quer morar comigo de verdade? Não por acordo. O sorriso de Lara iluminou a noite.

 Sim, mil vezes, sim. Semanas depois, noite fria de junho, eles estavam na pequena capela em Tiradentes. Não era cerimônia pública, não era evento da alta sociedade, era íntimo. 30 pessoas que genuinamente os amavam, Estela como madrinha radiante em vestido lavanda, pais de Lara na primeira fileira, sua mãe ainda cética, mas tentando sorrir.

 Vicente ao lado de Íris, subplote romântico que ninguém vira vindo, mas todos apoiavam. Alguns funcionários leais. Amigos reais. Lara usava vestido simples de renda off white, grinalda de flores no cabelo, eitor, terno carvão sem gravata, olhos apenas para ela. O padre, amigo antigo da família Alvarenga, falava sobre jornadas, perdões, recomeços. Eitor, seus votos.

Ele segurou as mãos dela, voz firme, mas carregada de emoção. Lara, você me ensinou que ser forte não significa não sentir, significa sentir profundamente e continuar. Me ensinou que confiar é risco que vale a pena. Você viu minhas sombras e não fugiu. Prometo passar nossa vida retribuindo isso.

 Prometo ser seu parceiro, não seu protetor. Prometo escolher você todos os dias, mesmo quando ficar difícil. Especialmente quando ficar difícil. Lara, chorando livremente, respondeu: “Eitor, você me mostrou que recomeços são possíveis, que feridas cicatrizam quando tem amor para tratá-las.

 Você me desafiou, me frustrou, me quebrou e depois me ajudou a me reconstruir mais forte. Prometo te desafiar sempre. Prometo não deixar você se esconder atrás de muralhas. Prometo que quando você esquecer de ser humano, vou lembrá-lo. E prometo te amar, o impossível, complicado, extraordinário. Você até meu último suspiro. Alianças, Vicente entregou simples douradas gravadas por dentro do zero para sempre.

Eu os declaro marido e mulher. Pode beijar. Heitor já estava beijando Lara antes que o padre terminasse, puxando-a contra si, enquanto aplausos e risas explodiam na capela. Na festa, salão rústico decorado com luzes de fada e flores silvestres, Eitor e Lara dançaram valçados sob estrelas. Então, senora Alvarenga provocou ele.

 Como se sente? Ainda sou Lara Mendes profissionalmente, ela corrigiu. Mas aqui tocou o coração dele. Aqui sou sua completamente. Acho que tecnicamente você me possui também. Tecnicamente? Lara arqueou sobrancelha. Ok, nada técnico. É fato absoluto. Ele girou ela. Você tem poder total sobre mim. Bom, vou usar para o bem ou para o mal. Aceito ambos.

 riram dançando sob céu infinito, cercados por pessoas que os amavam genuinamente. Estela observava da varanda Vicente ao lado. “Roberto estaria orgulhoso”, murmurou a senhora. “do homem que nosso menino se tornou e da mulher que o ajudou a chegar lá”, completou Vicente. Dentro, Iris brindava com os pais de Lara. Sei que foi difícil aceitar”, ela disse suavemente.

“Mas olhe para eles”. No centro da pista, Heitor sussurrava algo que fez Lara gargalhar. Depois beijava seu nariz. Então, testa. Então, finalmente lábios. Pura adoração. “Minha filha é feliz”, admitiu a mãe de Lara. Os olhos marejados. De verdade feliz. Isso basta. A noite avançou em celebração.

 Histórias compartilhadas, brincadeiras, música ao vivo tocando MPB, que todos cantavam em couro. Quando a madrugada chegou, os convidados foram se retirando, abraços prolongados e bênçãos sussurradas. Finalmente, sozinhos, Heitor e Lara subiram para a suí da mansão, quarto que pertencera aos avós dele, agora preparado com pétalas de rosa e champanhe.

 Na varanda, envoltos em cobertor contra o frio da serra, observaram o nascente do sol, pintando montanhas de dourado e rosa. “Nós conseguimos”, murmurou Lara, aninhada contra o peito dele. “Conseguimos o quê?” “Transformar mentira em verdade? Acordo em amor. Sobreviver à tempestade? Não foi fácil. As melhores coisas nunca são, ela virou beijando sua mandíbula, mas foram reais e valeram cada segundo de dor para chegar aqui. Heitor segurou o rosto dela com reverência. Te amo.

Mais que conseguir expressar em votos, mais que palavras conseguem abranger. Eu sei. Lara sorriu. E te amo de volta. Até o fim. Até o fim. Ele euou. Mas esperançosamente, esse fim está bem, bem distante. Concordo. Temos muitas histórias para viver ainda. Eles permaneceram assim. Dois corações que se encontraram no caos se machucaram profundamente, mas escolheram curar juntos. Não era conto de fadas.

 foi mais dolorido, mais real, mais imperfeito, mas foi manspadelis. E sob o céu de Tiradentes, enquanto Minas Gerais despertava em nova manhã, Lara Mendes e Eitor Alvarenga começavam não um final feliz, mas um recomeço verdadeiro. Porque às vezes os melhores amores não começam com perfeição, começam com honestidade crua, vulnerabilidade assustadora e escolha corajosa de arriscar o coração uma última vez.

 E sempre, sempre valem a pena. Yeah.