Forçado a casar, ele a ignorava até ouvir a notificação no celular dela e explodir de ciúmes. Me conta aqui nos comentários de onde você está assistindo esse vídeo. E se você quer saber como essa história termina, se inscreve no canal e deixa aquele like, porque você não vai querer perder nenhum detalhe dessa jornada emocionante.
A brisa quente de fevereiro entrava pelas janelas do 45º andar da Silva Incorporações, trazendo consigo o cheiro salgado da baía de Guanabara. Isabel Costa observava a vista panorâmica do Rio de Janeiro, seus dedos tamborilando nervosamente sobre a mesa de Mogno enquanto esperava. O vestido azul marinho que usava parecia sufocar cada respiração.
“Você está linda, querida”, murmurou vovó Maria, apertando sua mão com dedos delicados cobertos de joias antigas. “João Pedro é um homem de sorte.” Isabel forçou um sorriso. “Sorte?” A palavra ecoava em sua mente como uma piada cruel. Nadaquilo tinha a ver com sorte. tinha a ver com dívidas astronômicas, empresas à beira da falência e avós octogenários determinados a unir duas famílias antes de partirem deste mundo. A porta dupla se abriu com um som seco.
João Pedro Silva entrou na sala de reuniões como quem entra em um campo de batalha. Passos firmes, ombros retos, olhar calculista varrendo o ambiente. Aos 35 anos, ele era a personificação do sucesso corporativo brasileiro. Terno armani impecável, cabelos negros perfeitamente penteados, mandíbula quadrada que parecia esculpida em granito.
Seus olhos castanhos escuros pousaram brevemente em Isabel antes de deslizarem para os avós com uma frieza que ela já conhecia bem das três reuniões anteriores. Vovô Antônio, vovô Roberto cumprimentou com um aceno de cabeça, ignorando completamente as esposas dos patriarcas. Isabel sentiu o estômago revirar. Era assim que seria uma vida inteira de ser invisível para aquele homem, meu neto.
Vovô Antônio se levantou com dificuldade, apoiando-se na bengala. Hoje é um dia histórico. As famílias Silva e Costa finalmente unidas, como sempre sonhamos. Roberto Costa, sentado ao lado do velho amigo, acenou com entusiasmo. Os dois haviam crescido juntos na zona sul carioca, construído impérios lado a lado, e agora, em seus 80 e tantos anos, estavam determinados a ver seu último desejo realizado. “Vamos direto ao ponto”, disse João, puxando uma cadeira e sentando-se sem cerimônia.
Ele abriu uma pasta de couro e começou a foliar documentos. Os advogados finalizaram o contrato. Costa Construções será incorporada à Silva Incorporações. As dívidas serão quitadas. Em troca, ele ergueu os olhos e, pela primeira vez, desde que entrara na sala, olhou diretamente para Isabel. Em troca nos casamos. Não era uma pergunta.
Era uma declaração fria, calculada, desprovida de qualquer emoção. Isabel sentiu o sangue ferver nas veias. Quem aquele homem pensava que era? Ela abriu a boca para protestar, mas vovô Roberto segurou seu pulso. Isabel, querida, sua voz estava carregada de súplica. Isso salvará tudo que seu pai construiu, tudo que nossa família representa. As palavras morreram em sua garganta. Ela pensou no pai falecido há dois anos, que dedicara a vida inteira àquela empresa.
Pensou nos funcionários que seriam demitidos se a costa construções falhisse. Pensou em sua mãe, fragilizada pela viuvez, que perderia até a casa onde morava. João continuou, indiferente ao turbilhão de emoções que via nos olhos verdes de Isabel. O casamento acontecerá em três semanas. Cerimônia nos jardins da minha propriedade em Ipanema. Minha assessoria cuidará de todos os detalhes.
Ele deslizou um papel pela mesa na direção dela. Assine aqui. Isabel olhou para o documento. Seu nome já estava digitado em letras elegantes. Isabel Costa Silva. E se eu recusar? Sua voz saiu mais fraca do que pretendia. João inclinou a cabeça, estudando-a como se fosse uma peça defeituosa em uma linha de produção. Então, a costa construções entrará em recuperação judicial na próxima segunda-feira.
200 funcionários ficarão desempregados. Sua mãe perderá a casa e tudo que seu pai construiu em 30 anos desaparecerá. Ele fez uma pausa, deixando as palavras penetrarem. Mas é sua escolha, Isabel. Não era escolha, era chantagem emocional disfarçada de proposta de negócios.
As lágrimas queimavam atrás de seus olhos, mas ela se recusou a deixá-las cair, não na frente dele. Pegou a caneta com dedos trêmulos e assinou seu nome, sentindo como se estivesse assinando a própria sentença de prisão. “Excelente”, disse João guardando o documento. “Minha secretária entrará em contato com você amanhã para discutir os detalhes.
” Ele se levantou, ajeitando os punhos da camisa. “Agora, se me dão licença, tenhoos uma reunião em São Paulo em 2 horas”. E assim, sem mais uma palavra, sem sequer um aperto de mão, ele saiu da sala. Vovó Maria abraçou Isabel imediatamente. Tudo vai ficar bem, querida. Você vai ver. João é um bom homem por baixo dessa casca dura. Ele só precisa de alguém para derreter esse gelo.
Isabel olhou pela janela para a cidade que se estendia abaixo, como um mar de concreto e vidro. derreter o gelo de João Pedro Silva. Ela duvidava que houvesse algo além de gelo naquele homem, mas agora ela estava presa, presa a um contrato, presa a um casamento sem amor, presa a um estranho que havia como nada mais que uma peça em seu tabuleiro corporativo. As três semanas seguintes passaram como um borrão.
Isabel foi arrastada para provas de vestido, reuniões com cerimonialistas, sessões de fotos para revistas de negócios. João aparecia apenas quando absolutamente necessário, sempre atrasado, sempre impaciente, sempre com o telefone colado na orelha. “Sorria, querida”, sussurrava a assessora de imprensa durante as fotos.
“Vocês precisam parecer apaixonados.” “Apaixonados.” A palavra soava como ficção científica. Na véspera do casamento, Isabel estava sozinha em seu pequeno apartamento em Botafogo, olhando para o vestido de noiva pendurado na porta do guarda-roupa. Era deslumbrante. Seda italiana, renda francesa, pérolas minúsculas bordadas à mão.
Devia custar mais do que ela ganhara em toda sua vida como arquiteta júnior, mas era apenas um figurino. E amanhã ela subiria ao palco para representar o papel de sua vida. O telefone tocou. Era um número desconhecido. Alô, Isabel. A voz de João, seca e direta. Amanhã, após a cerimônia você se mudará para minha cobertura no Leblon. Seu quarto fica na ala leste. O meu fica na ala oeste.
Uma pausa. Mantenha essa informação privada. Publicamente, somos um casal. Privadamente temos nossas próprias vidas. Está claro? Isabel apertou o telefone com tanta força que seus nós dos dedos ficaram brancos. Cristalino. Ótimo. Até amanhã. Ele desligou. Isabel jogou o telefone no sofá e enterrou o rosto nas mãos. Alas separadas, vidas separadas.
Um casamento que não era casamento, apenas uma transação comercial com véu e gralda. Mas enquanto as lágrimas finalmente escorriam por seu rosto, uma pequena chama de raiva começou a acender em seu peito. João Pedro Silva achava que podia comprá-la, achava que podia transformá-la em uma boneca silenciosa e obediente. Ele estava muito enganado.
E de alguma forma, mesmo sem saber como, Isabel jurou para si mesma: ela não seria apenas uma peça no tabuleiro dele. Ela encontraria uma forma de recuperar sua vida, sua identidade, sua liberdade, mesmo que isso significasse declarar guerra ao próprio marido. O casamento de Isabel Costa e João Pedro Silva foi manchete em todos os jornais de economia do país.
Fusão de gigantes, Silva e Costa unem impérios proclamava o valor econômico. Havia mais fotógrafos que convidados nos jardins da mansão Silva. Isabel sorriu para as câmeras, seu vestido de noiva brilhando sob o sol de março, enquanto João segurava sua mão com a mesma emoção de quem segura uma pasta executiva.
O beijo no altar foi casto, rápido, mecânico. Mais um item checado na lista de obrigações do dia. Vocês estão radiantes! Gritou Vovó Maria durante a recepção, lágrimas escorrendo pelo rosto. Meu Deus! Finalmente! Finalmente. Vovô Antônio ergueu uma taça de champanhe. Sua voz embargada. Roberto, meu irmão, conseguimos.
Nossas famílias são uma só agora. Os dois velhos se abraçaram, chorando abertamente. Isabel sentiu uma pontada de culpa. Para eles, aquilo era real. Para eles, era amor. Mas quando João a guiou até a pista de dança para a valsa obrigatória, ela podia sentir a rigidez em cada movimento dele. Seus olhos não a encontravam.
estavam fixos em algum ponto distante, como se já estivesse mentalmente em sua próxima reunião de negócios. “Sorria”, ele murmurou, os lábios mal se movendo. As câmeras estão gravando. Isabel forçou o sorriso mais largo que conseguiu, mas por dentro algo estava se partindo. Quando a festa finalmente terminou, já eram quase meia-noite. João a conduziu até uma limusine preta que os esperava.
Carlos nos levará até a cobertura”, disse ele, verificando o celular. “Amanhã cedo viajo para Brasília, reunião com o ministro do planejamento.” Isabel o observou. Era lua de mel? Não, para João Pedro Silva. Claro que não. A cobertura no Leblon era exatamente o que ela imaginara. minimalista, fria, mais parecida com um showroom de arquitetura moderna do que com um lar, vidro aço, concreto aparente.
Móveis designer em tons de cinza e preto, vista espetacular do mar através das janelas do chão ao teto, mas nenhum traço de humanidade. “Sua ala!”, disse João, apontando para um corredor à esquerda. Quarto, closet, banheiro privativo, tudo que precisa. Ele se virou para o corredor oposto. Eu fico ali. Tentemos não nos cruzar muito pela manhã. Tenho rotina específica.
Isabel ficou parada no meio da sala de estar, ainda usando o vestido de noiva, assistindo seu marido de poucas horas desaparecer em seu próprio mundo. “João, ela chamou, sua voz ecuando no espaço vazio. Ele pausou, virando-se parcialmente. Isso é, isso é assim que vai ser?” As palavras saíam atropeladas. Nós nem vamos tentar. Por um momento, apenas um breve momento, ela viu algo passar pelos olhos dele.
Surpresa, hesitação, mas desapareceu tão rápido quanto surgira. Tentar o qu, Isabel? Sua voz era neutra, quase gentil, o que, de alguma forma era pior do que frieza. Nós dois sabemos o que isso é. Um acordo, um que beneficia a ambos. Ele deslizou as mãos nos bolsos. Você tem liberdade total. Faça o que quiser, vá onde quiser. Só peço que mantenha as aparências em público e compareça aos jantares dominicais com os avós.
E se eu quiser mais? Isabel ouviu-se dizer, odiando o desespero em sua própria voz. João a estudou por um longo momento, sua expressão ilegível, então sugiro que gerencie suas expectativas. Ele se virou novamente. Boa noite, Isabel. Bem-vinda ao seu novo lar. E então ele se foi, deixando-a sozinha no meio daquela prisão de luxo. Isabel não dormiu naquela noite.
Explorou seu quarto, que era maior que todo o seu antigo apartamento, com crescente sensação de claustrofobia, closet, cheio de roupas caras em seu tamanho, todas escolhidas pela assessora. Banheiro de mármore com banheira de hidromassagem, cama kings com lençóis egípcios. Tudo perfeito, tudo vazio.
Ela tirou o vestido de noiva e o jogou no chão, um pequeno ato de rebeldia que ninguém veria. Enfiou-se num dos roupões aveludados e foi até a varanda. O mar estava escuro, pontilhado por luzes de barcos distantes. A brisa noturna mexia em seus cabelos soltos. De algum lugar na cidade chegava o som abafado de música e risos. Vida acontecendo, vida real.
que ali estava ela, Miss Silva, agora presa em uma gaiola de ouro. As semanas seguintes estabeleceram um padrão cruel. Isabel acordava sozinha. O lado de João da cobertura estava sempre silencioso. Ele saía antes do amanhecer, voando no helicóptero particular do telhado para São Paulo, Brasília, Miami. Às vezes, ela nem o via por dias. Quando ele estava em casa era um fantasma.
passava por ela nos corredores com um aceno distraído, sempre ao telefone. Comia sozinho em seu escritório, trabalhava até tarde da noite. Os domingos eram pura tortura. Então, crianças, vovô Antônio batia na mesa durante o jantar na mansão em Ipanema. Como está a vida de casados? Já estão pensando em me dar um bisneto? Isabel engasgava com o vinho. João nem piscava.
Ainda estamos nos ajustando, vovô”, respondia ele com a mesma voz que usava em teleconferências. “Ajustando, vovó Maria ria. No meu tempo a gente não se ajustava. A gente só bem ela corava. Vocês sabem, Isabel queria afundar na cadeira. Ao lado dela, João continuava comendo sua picanha com a mesma expressão impassível.
Depois do jantar no carro voltando para casa, o silêncio entre eles era ensurdecedor. Um mês se tornou dois, dois se tornaram quatro. Isabel tentou preencher os dias vazios, ia ao spa, frequentava aulas de pilates, decorava e redecorava seu quarto. Era o único espaço que podia controlar, mas nada disso apagava a sensação de estar definhando.
Ela era a esposa troféu perfeita, a senora Silva, que sorria nas fotos de revistas e eventos beneficentes, mas por dentro estava se perdendo. Foi numa tarde de junho, enquanto mexia em caixas de mudança que ainda não havia desempacotado completamente, que Isabel encontrou, seu antigo portfólio da faculdade de arquitetura.
Ela passou os dedos pelas páginas, observando os projetos que fizera anos atrás. Um centro comunitário, uma biblioteca infantil, uma praça pública com jardins verticais. Havia paixão naqueles desenhos, propósito, vida. Quando foi a última vez que sentira paixão por algo? Isabel fechou o portfólio, mas a semente estava plantada.
Naquela noite, enquanto João estava em São Paulo, ou era Miami, ela perdera a conta. Ela abriu seu laptop e começou a atualizar seu currículo. Isabel Costa. Não, Silva, só Costa. Arquiteta formada pela UFRJ. Experiência em projetos residenciais e comerciais. Especialização em sustentabilidade. Ela clicou em enviar antes que pudesse mudar de ideia, enviando seu currículo para meia dúzia de escritórios pequenos no Rio.
Nada grande, nada que chamasse atenção, só uma chance de voltar a ser ela mesma. Três dias depois, seu telefone tocou. Isabel Costa, uma voz masculina, calorosa. Aqui é Lucas Rodrigues, da Rodrigues Arquitetura. Recebi seu currículo e fiquei impressionado. Você tem um olhar único para espaços urbanos. Poderia vir para uma entrevista? O coração de Isabel disparou. Sim, sim, eu adoraria. Ótimo.
Que tal amanhã? Nosso escritório fica em Santa Teresa. É pequeno, mas fazemos um trabalho do qual nos orgulhamos. Ele riu. Pagamos pouco, mas a vista é linda e sempre tem café fresco. Isabel sorriu pela primeira vez em semanas. Café fresco, vista linda. Era exatamente o que ela precisava. Até amanhã.
Então, quando João voltou de viagem naquela noite, tarde, como sempre, exausto de reuniões, ele a encontrou na sala trabalhando no laptop. Ainda acordada? Ele perguntou afrouxando a gravata. Tenho uma entrevista amanhã, Isabel disse sem olhar para ele. Silêncio. Uma entrevista? Não era pergunta, era constatação quase divertida para um trabalho de arquiteta.
João serviu-se de um copo d’água, observando-a com uma expressão que ela não conseguia decifrar. “Você sabe que não precisa trabalhar, certo?”, ele disse finalmente. “Você é uma Silva agora. Tem acesso a tudo que precisa”. Isabel fechou o laptop devagar, encontrando seus olhos pela primeira vez em semanas. Eu não preciso do seu dinheiro, João. Eu preciso de propósito. Algo passou pelo rosto dele.
Surpresa genuína, talvez. Como se a ideia de que ela quisesse mais do que seu cartão de crédito ilimitado fosse completamente alienígena. “Faça o que achar melhor”, ele disse finalmente, dando de ombros, “contanto, que não interfira nos seus deveres conjugais. Os jantares de domingo não são negociáveis.
Deveres conjugais, como se ela fosse uma funcionária. Isabel sentiu a raiva familiar ferver. “Não se preocupe”, ela disse, forçando um sorriso doce. “Eu nunca perderia a chance de ouvir vovô Antônio perguntar quando ele vai ganhar um bisneto.” Por uma fração de segundo, ela viu os lábios de João se contraírem. “Humor, irritação, era impossível dizer.
Boa noite, Isabel”, ele disse e desapareceu em sua ala. Mas enquanto Isabel se preparava para dormir, algo havia mudado. Pela primeira vez desde o casamento, ela não se sentia completamente impotente. Amanhã ela começaria a recuperar sua vida e João Pedro Silva teria que se acostumar com uma esposa que não ficaria esperando silenciosamente em sua gaiola de ouro.
A questão era: ele notaria ou ela era invisível demais até mesmo para isso? O escritório da Rodrigues Arquitetura ficava num sobrado colonial amarelo em Santa Teresa, com janelas azuis desbotadas pelo sol e trepadeiras subindo pelas paredes. Era o oposto completo do prédio de vidro espelhado da Silva Incorporações.
Isabel subiu as escadas rangentes até o segundo andar, o coração batendo com uma mistura de nervosismo e empolgação que não sentia há meses. “Você deve ser a Isabel.” Um homem de aparência descontraída apareceu na porta. Cabelos castanhos bagunçados, camiseta de banda indie, jeans desbotado e tênis surrado.
Lucas Rodrigues não tinha nada a ver com os executivos engomados com quem ela se acostumara a conviver. “Entre, entre. Desculpe a bagunça. Acabamos de ganhar um projeto e está todo mundo em modo pânico feliz. O escritório era caótico de uma forma encantadora. Pranchetas cobertas de croques, maquetes de papelão espalhadas, plantas enroladas contra a parede. Três pessoas mais jovens trabalhavam em computadores, conversando animadamente entre si.
Cheiro de café fresco e tinta nanquim. Sente-se, por favor. Lucas indicou uma cadeira de madeira perto da janela. A vista dava para as ladeiras arborizadas de Santa Teresa, os bondes amarelos serpenteando entre as casas antigas. Então, Isabel Costa, seu portfólio me impressionou muito. Esse projeto de centro comunitário com jardins verticais integrados, brilhante.
É exatamente o tipo de pensamento que precisamos. Isabel sentiu o rosto esquentar com o elogio. Quando foi a última vez que alguém elogiara seu trabalho? Seu cérebro, não, sua aparência ou seu sobrenome? Obrigada. Eu tenho paixão por arquitetura sustentável.
Acredito que podemos criar espaços lindos e funcionais sem destruir o meio ambiente. Sim, exatamente. Lucas bateu na mesa entusiasmado. É isso que tentamos fazer aqui. Nosso foco é revitalização urbana com consciência social. Não construímos arranhacéus luxuosos. Construímos espaços para comunidades. Ele puxou alguns papéis. Temos um projeto grande agora, um centro cultural na Lapa, convertendo um armazém abandonado.
A licitação foi aprovada semana passada. É um trabalho complicado, mas significativo. Os olhos de Isabel brilharam. Eu adoraria fazer parte disso. Lucas sorriu. O pagamento não é nada comparado ao que você provavelmente ganhava em escritórios maiores. Somos uma equipe pequena, mas garanto que aqui você vai fazer diferença real. Ele estendeu a mão.
Bem-vinda à equipe, Isabel. Ela apertou a mão dele, sentindo como se estivesse acordando de um longo sono. Naquela noite, Isabel chegou em casa mais cedo que João, pela primeira vez desde o casamento. Ela estava na cozinha preparando um jantar simples, massagem ao molho pesto, salada, vinho branco, quando ouviu o elevador privativo.
João entrou na cobertura, carregando a pasta de couro de sempre, o palitó jogado sobre o ombro, gravata afrouxada. Ele parou ao ver Isabel na cozinha. “Você está cozinhando. Era quase uma acusação. Consegui o emprego.” Isabel disse, tentando conter o sorriso. Começo segunda-feira. João colocou a pasta no balcão de granito, observando-a com uma expressão que ela não conseguia ler.
Parabéns. Ele fez uma pausa. Onde? Rodrigues Arquitetura. Um pequeno escritório em Santa Teresa. Trabalhamos com revitalização urbana. Nunca ouvi falar. Não somos grandes como a Silva Incorporações, Isabel disse, servindo o vinho, mas fazemos trabalho honesto. Ela empurrou um copo na direção dele.
Jantar? João olhou para o copo, depois para ela, como se estivesse tentando resolver um quebra-cabeça particularmente difícil. Eu geralmente, como no escritório. Eu sei. Isabel interrompeu, mantendo a voz leve. Mas hoje não. Hoje você vai jantar com sua esposa e me contar sobre a reunião em Brasília. E eu vou contar sobre meu novo emprego. Vamos fingir só por uma hora que somos um casal normal. Por um longo momento, ela achou que ele recusaria.
Ele olhou para o celular vibrando no bolso, para a pasta cheia de documentos não lidos, depois de volta para ela. Uma hora. Ele concordou finalmente, pegando o copo de vinho. Foi estranho, quase desconfortável no início.
Eles se sentaram à mesa de jantar minimalista que nunca haviam usado, procurando por assuntos seguros. João falou sobre um contrato de concessão para um complexo comercial. Isabel descreveu o projeto do Centro Cultural. Mas devagar, muito devagar, algo começou a mudar. Os ombros de João relaxaram um pouco. Isabel riu de um comentário sarcástico dele sobre políticos em Brasília.
E por alguns minutos preciosos, eles não eram CEO e esposa Troféu, eram apenas duas pessoas compartilhando uma refeição. Esse Lucas Rodrigues, João disse de repente, refazendo um copo de vinho. Ele é o dono do escritório? É por pergunta. Só curiosidade. Mas havia algo em sua voz, uma tensão quase imperceptível. Isabel decidiu não insistir.
Era um começo frágil demais para arriscar, quebrando com perguntas difíceis. Quando João finalmente se levantou para ir ao escritório trabalhar, ele hesitou. “O jantar estava bom”, ele disse, não encontrando seus olhos. “Obrigado.” E isso Isabel percebeu, era o máximo de vulnerabilidade que João Pedro Silva permitiria a si mesmo. As semanas seguintes foram transformadoras.
Isabel mergulhou no trabalho com fome voraz. chegava no escritório às 8 da manhã e ficava até às 6 da tarde, às vezes mais. O projeto do Centro Cultural da Lapa era desafiador. Estrutura antiga, orçamento apertado, prazos agressivos, mas ela amava cada segundo.
“Sua ideia de usar a iluminação natural através de clarabóias é genial”, disse Marina, uma das arquitetas juniores, revisando os desenhos de Isabel. Vai economizar tanto em energia elétrica? Sei criar um espaço mais humanizado, Isabel adicionou ajustando as linhas no computador. As pessoas precisam de luz do sol, não apenas de lâmpadas fluorescentes. Lucas apareceu por trás delas, segurando duas xícaras de café.
Vocês duas vão ficar aqui até meia-noite de novo, ele brincou, entregando uma xícara para cada. Isabel, sua dedicação é admirável, mas vai acabar esgotada, esgotada e feliz. Isabel sorriu, aceitando o café. É melhor do que entediada e morta por dentro. Lucas riu, mas seus olhos estudavam na com preocupação. Tudo bem em casa? Era uma pergunta simples, mas carregada. Isabel percebeu que havia falado demais.
Ninguém no escritório sabia que ela era casada com João Pedro Silva. Seu currículo dizia Isabel Costa e ela não usava aliança de casamento no trabalho. A mantinha na bolsa durante o expediente. Tudo ótimo. Ela mentiu suavemente. Só gosto muito do que faço. Mas a verdade era mais complicada. Quanto mais tempo Isabel passava no escritório, menos tempo passava na cobertura.
E quanto menos tempo passava na cobertura, menos via João. Eles estavam se tornando estranhos que compartilhavam um endereço, exceto pelos domingos. Os jantares semanais na mansão dos avós em Ipanema continuavam sendo o palco onde encenavam sua peça matrimonial. Isabel e João chegavam juntos de mãos dadas, sorrindo. Sentavam-se lado a lado.
Respondiam perguntas sobre a vida de casados com mentiras bem ensaiadas. “Vocês estão tão lindos juntos”, suspirava a vovó Maria toda semana. “João, você parece mais leve. O casamento te faz bem.” João apertava a mão de Isabel debaixo da mesa, uma ação mecânica, parte do script. “Isabel traz equilíbrio à minha vida”, ele dizia com convicção surpreendente. Equilíbrio, que piada.
Eles mal conversavam, mas algo estava mudando, mesmo que sutilmente. Isabel não estava mais esperando por João. Ela tinha sua própria vida agora, seu próprio propósito. E, ironicamente, isso a tornava invisível para ele. Ele começou a fazer perguntas. Como foi o dia?”, perguntava quando cruzavam nos corredores à noite.
Produtivo e o seu? Cansativo, conversas curtas, superficiais. Mas era algo. Uma quinta-feira à noite, Isabel estava no escritório até tarde, trabalhando numa apresentação para investidores do projeto da Lapa. Lucas pedir que ela liderasse a reunião. Uma chance de brilhar, de provar seu valor. Ela estava tão concentrada que não percebeu a hora.
Quando finalmente olhou o relógio, eram quase 11 da noite. “Droga”, murmurou, salvando o arquivo e desligando o computador às pressas. Pegou um táxi de volta ao Leblom, as ruas do rio brilhando com luzes noturnas. Quando entrou na cobertura, todas as luzes estavam apagadas, exceto uma, a do escritório de João. Ela foi até lá, empurrando a porta entreaberta.
João estava sentado à mesa, óculos de leitura empoleirados no nariz. Ela nunca o tinha visto usar óculos antes. Camisa com as mangas arregaçadas, cabelos despenteados, papéis e laptop abertos à sua frente. Ele levantou os olhos quando ela entrou. “Você está bem?”, ele perguntou. E, pela primeira vez parecia genuinamente preocupado. “São quase 11 trabalhando numa apresentação”, Isabel explicou. “Nem vi a hora passar”.
João tirou os óculos, esfregando os olhos cansados. Isso. Isso acontece quando você está apaixonado pelo que faz. Havia algo em sua voz. Nostalgia, inveja? Você não ama o que faz? Isabel se pegou, perguntando. Ele ficou em silêncio por tanto tempo que ela achou que não responderia. Então, surpreendentemente ele disse: “Eu costumava amar quando estava construindo o império, lutando para provar meu valor, mas agora” gesticulou vagamente para os papéis. Agora é só manutenção. Reuniões intermináveis, política corporativa.
Ele a olhou. Você lembra para que está trabalhando? Eu esqueci. Era a coisa mais pessoal que ele já havia dito para ela. Isabel entrou no escritório, sentando na beira da mesa. Então, lembre-se, ela disse suavemente. Por que você começou? O que te movia? João deu um sorriso cansado, sem humor. Queria construir coisas, mudar paisagens urbanas, criar espaços onde as pessoas pudessem viver melhor. Ele riu amargamente.
Isso antes de perceber que o negócio de verdade é política e dinheiro, não arquitetura. Não precisa ser assim. Não. Ele olhou para ela com ceticismo. E como você sugere que eu mude o rumo de um conglomerado multimilionário, Isabel? Um projeto de cada vez. Ela respondeu: “Lucas diz que cada edifício conta uma história. Se você não gosta da história que está contando, mude o roteiro. Algo passou pelos olhos dele.
Surpresa, consideração, quase admiração. Lucas diz isso.” João repetiu e sua voz tinha uma qualidade estranha. Você fala muito sobre ele. Ele é meu chefe, Isabel disse confusa. E um bom arquiteto. Eu aprendo muito com ele. Claro. João colocou os óculos de volta, voltando os olhos para os documentos. É tarde, você deveria descansar. Estava sendo dispensada.
Isabel se levantou, hesitando na porta. João, sim. Obrigada por me perguntar se eu estava bem. Ele não levantou os olhos, mas ela viu seus ombros tensionarem brevemente. Boa noite, Isabel. Enquanto ela se preparava para dormir, Isabel não conseguia parar de pensar naquela conversa. Havia rachaduras aparecendo na fachada de gelo de João, pequenas, quase imperceptíveis, mas estavam lá.
Talvez, apenas talvez, houvesse um homem real sob aquela armadura corporativa. A questão era, ela queria conhecê-lo? E mais importante, ele permitiria que ela o conhecesse? Isabel adormeceu com essas perguntas rodopeiando em sua mente, sem imaginar que em breve tudo mudaria, que um simples gesto de bondade desencadearia uma tempestade, e que João Pedro Silva estava prestes a descobrir algo sobre si mesmo que nem ele sabia que existia.
Ciúme. Quinta-feira, três semanas depois, foi o dia que mudou tudo. Isabel estava radiante. A apresentação para os investidores do projeto da Lapa havia sido um sucesso retumbante. Lucas a deixara liderar toda a reunião e ela brilhara, respondendo perguntas técnicas com segurança, defendendo escolhas de design e compaixão, convencendo homens de ternos céticos de que um antigo armazém poderia se transformar em algo mágico.
Você foi absolutamente sensacional”, disse Lucas enquanto os investidores saíam da sala de conferências. Seus olhos brilhavam de orgulho. “Isa, você é uma força da natureza. Eles amaram cada palavra que você disse. Isa!” Era a primeira vez que ele a chamava assim, com essa intimidade casual. Fez algo esquentar no peito dela.
Não atração romântica, mas o calor de ser vista, valorizada, reconhecida. Eu só apresentei nosso trabalho”, ela disse, “mas não conseguiu conter o sorriso. Não, você vendeu uma visão. Há uma diferença. Lucas colocou a mão no ombro dela brevemente, um gesto de camaradagem. Vamos comemorar. Que tal jantar hoje? Minha conta. Você merece. Adoraria, mas sem mais.
Você ganhou isso. Ele já estava à mensagem os outros membros da equipe. Vou avisar a turma. encontro naquele restaurante japonês em Ipanema às 8. Isabel hesitou. Ela deveria avisar João, mas qual era o propósito? Ele provavelmente nem estaria em casa. Estava sempre viajando, sempre ocupado.
E pela primeira vez em meses, ela tinha algo para comemorar que era dela. 8 horas, ela confirmou. João Pedro Silva estava num dia incomumente bom. A negociação com o grupo espanhol para um empreendimento no Nordeste havia fechado três meses de trabalho finalmente pagando dividendos. Ele decidiu, num impulso raro, voltar para casa cedo, talvez jantar com Isabel novamente, como tinham feito aquela vez.
O jantar tinha sido agradável, surpreendentemente agradável. Ele não examinava muito de perto porque queria jantar com a esposa. João não era homem de introspecção emocional. Quando o helicóptero pousou no telhado do prédio às 7 da noite, ele estava quase, quase Maile sorrindo. A cobertura estava silenciosa, escura. “Isabel”, ele chamou soltando a gravata. Nada estranho.
Ela geralmente chegava do trabalho por volta das 7. João foi até a cozinha buscar água quando viu. O celular de Isabel estava na bancada de quartzo, conectado ao carregador. Ela havia esquecido. A tela acendeu com uma notificação. João não era do tipo que bisbilhotava telefones. Nunca tinha sido. Mas algo na prévia da mensagem o fez parar.
Lucas Isa, você foi absolutamente brilhante na reunião com os investidores hoje. Eles amaram a ideia da fachada verde. Você é uma força da natureza. Mal posso esperar por amanhã. PS: Aquele café não foi suficiente. Você me deve um jantar para comemorar. João leu a mensagem uma vez, depois duas, depois três. Algo escuro e primitivo despertou em seu peito.
Uma sensação visceral, irracional, que ele nunca tinha experimentado antes. Não quando uma modelo italiana tinha flertado agressivamente com ele num evento, não quando seu concorrente mais próximo roubara um contrato valioso. Agora, lendo aquelas palavras, Isa, força da natureza, você me deve um jantar, aquele emogi piscando.
Ele sentiu como se alguém tivesse acendido um fósforo dentro dele. Ciúme, puro, ardente, ridículo ciúme. Quem diabos era esse Lucas para chamar sua esposa de Isa, para elogiá-la com tanta familiaridade, para convidá-la para jantar com um maldito em piscando? João percebeu que estava apertando o telefone com tanta força que suas mãos tremiam.
Largou-o como se queimasse e se afastou. Racional, disse a si mesmo. Seja racional. Era apenas uma mensagem de trabalho. Colegas comemorando um sucesso profissional, mas a imagem já estava plantada em sua mente. Isabel rindo com esse Lucas. Isabel brilhando sob a atenção de outro homem.
Isabel, sendo chamada de força da natureza, enquanto ele, o marido, tratava-a como uma peça decorativa em sua cobertura minimalista. Ele caminhou até a janela, olhando para o oceano escuro lá embaixo. Seu reflexo no vidro mostrava um homem que ele mal reconhecia. Mandíbula apertada, olhos selvagens, respiração irregular. Quando foi que isso aconteceu? Quando Isabel passou de uma obrigação contratual para para o quê? Para alguém que importava? Ele não sabia, não queria saber, mas o pensamento dela jantando com outro homem, sorrindo para outro homem, sendo
vista por outro homem, era intolerável. João olhou o relógio, 7:15, onde ela estava, pegou o próprio celular e ligou para Isabel, direto para a caixa postal. É claro, o telefone estava ali na bancada. Sem pensar direito, João abriu o aplicativo de geolocalização. Quando se casaram, tinham instalado nos telefones um do outro.
Medida de segurança, dissera ele na época, mas ele nunca tinha usado antes. Agora viu o pontinho azul representando Isabel e Panema movendo-se. Suas mãos agiram antes que seu cérebro pudesse protestar. Chamou o motorista. Carlos, prepare o carro. Vamos sair. Isabel estava rindo tanto que lágrimas escorriam pelo rosto. Marina estava contando uma história desastrosa sobre um cliente que queria um apartamento decorado em motivos de Star Trek e o caos que se seguira.
O restaurante japonês em Ipanema era pequeno e acolhedor, cheio de luz quente e conversas animadas. A equipe da Rodrigues Arquitetura ocupava uma mesa grande no fundo, seis pessoas celebrando a vitória do dia. E então, Marina continuava gesticulando dramaticamente. O cara olha para mim e diz: “Mas não pode ser só uma foto da Enterprise na parede, precisa ser uma mural, uma parede inteira. Por favor, me diga que você recusou”, pediu Thago.
Outro arquiteto. Pior, meu chefe na época aceitou. Tivemos que contratar um artista especializado em ficção científica. O mural custou mais que a reforma toda. Marina tomou um gole de saquê. Jeia que saí daquele escritório foi o melhor da minha vida. Lucas ergueu o copo. Aos escritórios onde ninguém nos força a pintar naves espaciais. E a Isabel, que hoje provou que é a melhor contratação que já fizemos.
Aí todos brindaram. Isabel sentiu o rosto corar de orgulho e vinho. Esse era seu lugar. com essas pessoas que a respeitavam, que viam seu valor, que se importavam. “Obrigada”, ela disse, a voz embargada. “Vocês não fazem ideia do quanto isso significa para mim trabalhar com vocês. Vocês me devolveram a vida.
” Lucas inclinou a cabeça, observando-a com atenção. “Você estava perdida, não estava? Antes de nos encontrar, Isabel a sentiu lentamente, muito perdida. Bem, agora você foi encontrada.” Ele ergueu o copo novamente e não vamos deixá-la se perder de novo. Era um momento perfeito, um daqueles momentos de conexão humana pura que fazem a vida valer a pena.
E foi exatamente nesse momento que Isabel viu João. Ele estava parado na entrada do restaurante, impecável em seu terno escuro, mãos nos bolsos. Mas seu rosto, seu rosto estava transformado. Olhos escuros fixos nela com intensidade que fez o estômago dela cair. Maxilar apertado, uma tempestade contida em forma humana. O riso morreu na garganta de Isabel.
“Com licença!”, ela murmurou, levantando-se da mesa. Suas pernas pareciam bambas. Ela caminhou até João, consciente de que a equipe inteira estava observando. “O que você está fazendo aqui?”, perguntou baixinho quando chegou perto dele. “Você esqueceu isso?”, João disse, sua voz perigosamente calma. Ele ergueu o celular dela. Achei que pudesse estar preocupada. Mentira.
Ela podia ver nos olhos dele que não era sobre o celular esquecido. “Obrigada.” Ela estendeu a mão, mas ele não entregou o aparelho imediatamente. “Lucas Rodrigues?” João perguntou, olhando por cima da cabeça dela para a mesa. “É ele? O de camisa azul que está olhando para cá? O tom era casual, mas havia veneno embaixo.
João, só curiosidade. Ele finalmente entregou o telefone, mas seus dedos roçaram-os dela intencionalmente. Não sabia que vocês eram tão próximos. Isabel sentiu raiva começar a ferver. Estamos comemorando. O projeto foi aprovado hoje. Que conveniente. Seus olhos varreram o restaurante antes de voltar para ela.
Você não achou necessário me avisar que faria hora extra? A ênfase sarcástica em hora extra foi inconfundível. Você está me rastreando? Isabel sussurrou incrédula. Você verificou minha localização? Você não atendeu o telefone. Fiquei preocupado. Mas ele não parecia preocupado, parecia possessivo. Eu não preciso reportar cada movimento meu para você, João. Não sou sua funcionária. Não sou sua propriedade.
Algo perigoso lampejou nos olhos dele. Não, você é minha esposa. Há uma diferença. Isabel deu um passo para trás, chocada pela intensidade. Desde quando você se importa? Desde quando você nota que eu existo? As palavras saíram mais altas do que pretendia. Algumas cabeças se viraram no restaurante. João percebeu. Sua expressão mudou máscula profissional deslizando de volta no lugar.
“Vamos discutir isso em casa?” Ele disse entre dentes. “Não estou comemorando com minha equipe. Você pode ir embora, Isabel. Vá embora.” Ela se virou, voltando para a mesa, com o coração trovejando. Por um momento, ela achou que ele a seguiria, que faria uma cena, mas quando olhou para trás, João estava saindo do restaurante, costas rígidas, mãos fechadas em punhos. Tudo bem? Lucas perguntou quando ela se sentou, preocupação genuína em seu rosto.
Tudo ótimo. Isabel mentiu, tomando um grande gole de saquê, mas suas mãos tremiam, porque pela primeira vez desde que se casara com João Pedro Silva, ela viu algo além de indiferença naqueles olhos frios. Ela viu fogo e não sabia se deveria estar aterrorizada ou estranhamente excitada. Quando Isabel finalmente chegou em casa, passava da meia-noite.
Ela esperava que João estivesse dormindo, ou mais provável trancado em seu escritório. Em vez disso, ele estava na sala de estar, sentado no escuro, com um copo de whisky na mão. “Chegou”, ele disse quando ela entrou. “Não era pergunta.” Isabel deixou a bolsa no aparador, preparando-se para a batalha. “João, sobre mais cedo. Você leu?” Ele interrompeu. “Li o quê?” Ele tomou um gole do whisky.
A mensagem do Lucas, dizendo que você é uma força da natureza, convidando você para jantar. Então era isso. Isabel sentiu algo se partir dentro dela, a última ilusão de que ele se importava com ela e não com sua propriedade. Você invadiu meu celular? Não era pergunta, era acusação. Não invad. A mensagem apareceu na tela, mas havia culpa no tom dele.
E você achou que eu estava o quê? Tendo um caso com meu chefe, João se levantou, o movimento predatório. Ele caminhou até ela, parando perto demais. “Está?”, ele perguntou, voz baixa, perigosa. A audácia da pergunta roubou o fôlego dela. Por um segundo, Isabel só conseguiu encará-lo, boquin aberta.
Então, pela primeira vez em sua vida, ela ergueu a mão e esbofeteou o marido. O som ecoou na sala silenciosa. João nem piscou, apenas ficou ali, rosto virado para o lado onde ela o acertara, uma marca vermelha surgindo em sua bochecha. “Como? Ousa”, Isabel disse, a voz tremendo de raiva. “Como ousa me acusar depois de meses me tratando como se eu fosse invisível? Você me comprou, João? Comprou minha família, minha empresa, e achou que me comprou também, mas não comprou. Você não me possui.
Ela virou-se para ir embora, mas ele agarrou seu pulso. Isabel, espera. Me solta, por favor. E havia algo em sua voz. Algo quebrado e desesperado que a fez parar. Ela o encarou, lágrimas de frustração queimando em seus olhos. O que você quer de mim, João? Porque eu não aguento mais. Não aguento ser sua esposa, na teoria? e sua inquilina prática.
Não aguento sorrir nos jantares de domingo fingindo que temos um casamento quando você mal olha para mim. As lágrimas começaram a cair e eu definitivamente não aguento você ter ciúmes de um homem que simplesmente me trata como um ser humano. João soltou seu pulso, passando as mãos pelos cabelos, destruindo o penteado perfeito. “Você tem razão”, ele disse finalmente.
“Você tem toda a razão. Eu fui um idiota arrogante e cruel. Eu te tratei como um ativo a ser gerenciado ao invés de uma pessoa. E eu, ele parou lutando visivamente com as palavras. Eu odeio isso. Odeia o quê? Odiar pensar em você com ele. Odiar ver você sorrindo para outro homem. Odiar que um desconhecido a chame de Isa, quando eu nem sei seu nome do meio.
Ele a encarou e pela primeira vez havia vulnerabilidade crua em seu rosto. Eu não tenho direito de sentir isso. Eu sei que não tenho, mas eu sinto mesmo assim. O silêncio entre eles era denso, pesado, com coisas não ditas. Catarina, Isabel disse suavemente. Meu nome do meio é Catarina. Isabel Catarina Costa. Agora Silva. Aparentemente, algo passou pelo rosto dele. Surpresa, vergonha.
Eu deveria saber isso. Sim, deveria. Ela enxugou as lágrimas. Você deveria saber muitas coisas sobre mim, João, mas você nunca perguntou. Nunca se importou o suficiente para perguntar. Eu me importo ele disse. E as palavras saíram como confissão forçada. Eu me importo demais. E isso me assusta porque não fazia parte do plano.
Qual plano? O plano de manter tudo simples, transacional, seguro. Ele deu um riso amargo. Mas você estragou tudo. Você e seu maldito trabalho e sua paixão por arquitetura sustentável e a forma como seus olhos brilham quando você fala sobre jardins verticais. Você estava prestando atenção? Isabel sussurrou. Eu sempre prestei atenção. Eu só fingi que não estava.
O coração dela estava batendo tão forte que doía. Por quê? Porque é mais fácil. Porque se eu admitisse que você importa, teria que admitir que estraguei tudo desde o primeiro dia. Ele se aproximou um passo. Eu coloquei você em uma ala oposta e achei que estava sendo nobre, dando-lhe espaço.
Mas eu estava apenas sendo covarde. Isabel não sabia o que dizer, não sabia o que sentir. Raiva, confusão, esperança, tudo misturado em um turbilhão caótico. Lucas é só meu chefe, ela disse finalmente. Não há nada romântico entre nós. Mas mesmo se houvesse, você abriu mão desse direito quando desenhou nosso casamento como um contrato comercial. Eu sei. João respirou fundo.
Eu não vim aqui exigir explicações. Vim porque porque eu estava errado sobretudo. E eu preciso que você saiba que eu vi. Viu o quê? Você. Ele gesticulou vagamente, a mulher brilhante, apaixonada, talentosa, que estava escondida atrás do acordo que eu forcei. E eu eu quero conhecê-la de verdade, se você me der permissão.
Era a coisa mais vulnerável que João Pedro Silva já dissera. E pela primeira vez, Isabel viu além da fachada de Sió impiedoso, viu um homem perdido, um homem assustado, um homem que construíra muros tão altos ao redor do coração que esquecera como deixar alguém entrar. “Eu vou dormir no quarto de hóspedes esta noite”, ela disse finalmente. “Preciso pensar sobre tudo isso.
” João assentiu, aceitando. Tudo bem. Isabel começou a se afastar, mas parou. João, sim. Você ter ciúmes é péssimo, possessivo e imaturo. Ela fez uma pausa. Mas também é a primeira coisa real que você me mostrou desde que nos casamos. E com isso, ela foi para o quarto de hóspedes, deixando João sozinho com seu whisky e seus demônios.
Mas enquanto ela se deitava na cama estranha, Isabel não conseguia parar de pensar. João sentia ciúmes. João havia. E essa realização era ao mesmo tempo aterradora e emocionante, porque se ele podia sentir ciúmes, talvez pudesse sentir outras coisas também. Talvez, apenas, talvez, o gelo estivesse começando a rachar e ela não sabia se deveria correr para longe das rachaduras ou ver o que havia embaixo.
Na manhã seguinte, Isabel acordou com som de helicóptero, João saindo como sempre, mas algo era diferente. Quando ela finalmente se levantou e foi até a cozinha, encontrou um bilhete na bancada de quartzo escrito à mão na caligrafia elegante dele. Isabel Catarina Costa Silva. Agora eu sei, Jota, ela passou os dedos pelas palavras, um sorriso involuntário tocando seus lábios antes que pudesse impedi-lo.
Era um gesto pequeno, talvez insignificante, mas vinha de um homem que não fazia gestos pequenos. O dia no escritório passou como um turbilhão. A aprovação do projeto da Lapa significava uma montanha de trabalho novo. Isabel mergulhou nele com alívio, permitindo que plantas e orçamentos preenchessem sua mente no lugar dos pensamentos confusos sobre João.
Reunião em 10 minutos anunciou Lucas, aparecendo ao lado de sua mesa. A licitação para a revitalização da praça 15 chegou. Pense que podemos concorrer. Isabel estudou o documento que ele entregara. Uma praça histórica no centro do rio precisava de reforma urgente, orçamento modesto, escopo desafiador, possibilidade de impacto social tremendo.
“Podemos mais do que concorrer?”, ela disse, entusiasmo subindo. “Podemos vencer?” “Olha isso.” Ela apontou para os requisitos. “Eles querem soluções sustentáveis. Respeito ao patrimônio histórico e funcionalidade para a comunidade local é literalmente nossa especialidade. Lucas sorriu largamente. É por isso que você é indispensável, Isa. Vamos montar a proposta esta semana? Com certeza.
O que nenhum deles sabia era que, naquele exato momento, a 45 andares acima do nível do mar, João Pedro Silva estava recebendo o mesmo documento de licitação. “Sir”, disse Carla, sua assistente executiva, entrando na sala com um tablet. “A prefeitura acabou de abrir licitação para a praça 15. Normalmente não nos envolvemos com projetos desse porte, mas João mal olhou para o documento.
Descarte, muito pequeno para nosso interesse. Carla assentiu e estava saindo quando João perguntou quase casualmente: “Quem mais está concorrendo?” Ela verificou o tablet. Até agora, três escritórios menores. Rodriguez arquitetura, um tal de costa em filhos e Rodrigues. A palavra saiu mais afiada do que João pretendia. Carla piscou surpresa.
Sim, sir. É um escritório pequeno em Santa Teresa, especializado em Eu sei o que eles fazem. João se levantou, caminhou até a janela. A baía de Guanabara se estendia abaixo. Barcos minúsculos como brinquedos. Quer o relatório completo sobre a Rodrigues Arquitetura, finanças, projetos anteriores, estrutura da equipe, tudo.
Sir, até o fim do dia, Carla. Quando ela saiu, João ficou ali parado, odiando a si mesmo um pouco, mas não o suficiente para mudar de ideia. Ele disse a si mesmo que era só curiosidade profissional, du diligence básica sobre competidores. Não tinha nada a ver com o fato de que Isabel passava mais tempo com Lucas Rodrigues do que com o próprio marido. Nada mesmo. O relatório chegou às 5 da tarde.
João leu cada linha com intensidade crescente. Rodrigues, arquitetura. Análise corporativa, fundada 2018. Proprietário Lucas Henrique Rodrigues, 37 anos. Receita anual: 2,4 milhões. Lucro líquido, 180.000. Dívidas 350.000. Empréstimos bancários, projetos ativos quatro. Funcionários sete. Vulnerável João pensou.
Pequeno o suficiente para ser esmagado. Havia até uma foto de Lucas sorrindo em algum evento de arquitetura, camisa informal. Cabelos desgrenhados, o tipo de homem que se descrevia como apaixonado por design sustentável em bio de LinkedIn, o tipo de homem que chamava Isabel de Isa. João fechou o arquivo e pegou o telefone. Carla, entre em contato com o departamento de licitações da prefeitura.
Silva incorporações vai concorrer à praça 15. Silêncio do outro lado. Sir, mas você disse que era pequeno demais. Mudei de ideia. E faremos a proposta pro bono. Pro Bono? Carla não conseguiu esconder a incredulidade. Sir, isso não faz sentido financeiro. Perderíamos dinheiro ativamente. Não questionei sobre sentido financeiro. Sua voz era gelo.
É investimento em imagem corporativa, responsabilidade social. Os acionistas vão adorar. Mentiras, mas mentiras convincentes. E Carla, mantenha isso discreto até a proposta ser submetida. Não quero vazamentos. Quando desligou, João se afundou na cadeira, passando as mãos pelo rosto. O que ele estava fazendo? Sabotar um projeto só porque sua esposa trabalhava lá.
Desperdiçar recursos da empresa por ciúmes irracionais. Não é por ciúmes. A voz racional em sua cabeça insistia. É estratégia de negócios. expandir nosso portfólio, mostrar versatilidade. Mas a voz racional estava mentindo. A verdade era mais sombria, mais primitiva. Ele queria eliminar Lucas Rodriguez. Não fisicamente, João não era um monstro, mas profissionalmente.
Queria tirar aquele homem da órbita de Isabel. Porque se Lucas perdesse o projeto da praça, seu escritório sofreria. talvez até fechasse e Isabel, Isabel teria que procurar outro emprego, preferencialmente um onde seu chefe não a convidasse para jantares comemorativos com emojis piscando. João se odiava por isso, mas não o suficiente para parar.
O domingo chegou com sua tortura semanal habitual, jantar na mansão dos avós em Ipanema. Isabel e João mal haviam conversado desde a noite do restaurante. Ele estava em reuniões constantemente. Ela estava enterrada em trabalho. Eles se comunicavam por mensagens breves e formais. Mas agora, sentados no carro a caminho de Ipanema, o silêncio era sufocante. Sobre quinta-feira. João começou. Não quero falar sobre quinta-feira.
Isabel interrompeu, olhando pela janela. Isabel, você me acusou de ter um caso, João, baseado em uma mensagem de trabalho perfeitamente inocente. Ela finalmente o encarou. Você me rastreou como se eu fosse uma funcionária faltando trabalho. Então não, não quero falar sobre isso. João apertou o volante. Insistira em dirigir ele mesmo hoje, dispensando Carlos.
Eu me desculpei. Não, você explicou. Há uma diferença. Então, o que você quer? A frustração escapou em sua voz. quer que eu me ajoelhe e implore perdão? Isabel deu uma risada amarga. Eu quero que você decida o que quer de mim, porque esse meio termo, onde você me ignora 90% do tempo e então fica possessivo nos outros 10, não funciona.
Eles chegaram à mansão antes que João pudesse responder e então a máscara teve que subir novamente. Mãos dadas, sorrisos, o espetáculo semanal. Vovó Maria os recebeu na porta com abraços efusivos. Meus amores, vocês parecem cansados. Está tudo bem? Trabalho pesado. João disse suavemente. Você sabe como é. Trabalho. Sempre trabalho. Ela balançou a cabeça. João, você precisa lembrar que esposa não é sócia de negócios.
Precisa de atenção, carinho. Isabel quase riu da ironia. O jantar foi particularmente difícil. Vovô Antônio estava especialmente insistente sobre bisnetos. Vocês já estão casados há meses”, ele disse, cortando o churrasco. “No meu tempo, em seis meses já tínhamos o primeiro a caminho. Pai”, tentou o pai de João constrangido. “Não, não, deixa eu falar.
Isabel, querida, você é jovem e saudável. João, você é um homem no auge. Qual é o problema?” Isabel se engasgou com o vinho. João, para seu crédito, manteve a compostura. Essas coisas levam tempo, vovô. Tempo? Tempo no meu tempo. Antônio, deixa os meninos em paz. Interveio o vovô Roberto.
Mas havia um brilho nos olhos dele também, embora, confesso, seria maravilhoso. Imagina um pequeno Silva Costa correndo por aí. Isabel sentiu a mão de João agarrar a dela debaixo da mesa. Não era o toque mecânico de costume. Tinha tensão real nele. Quase proteção. Quando acontecer, vocês serão os primeiros a saber. João disse firmemente. Agora podemos mudar de assunto, mas o dano estava feito.
O resto do jantar foi carregado de perguntas veladas e olhares esperançosos dos avós. No carro voltando, Isabel explodiu. Isso é insustentável. Eu sei. Eles vão perceber eventualmente que não compartilhamos nenhum quarto, muito menos eu sei. João repetiu mais tenso. E o que vamos fazer? continuar mentindo.
Eventualmente eles vão querer visitar, ver como estamos decorando o quartinho do bebê ou algo ridículo assim. João dirigia com mandíbula apertada, olhos fixos na estrada. “Podemos mudar isso?”, ele disse finalmente. “Mudar o quê?” “O arranjo, as alas separadas?” Ele olhou para ela rapidamente antes de voltar os olhos para a estrada. Não, para.
Não estou sugerindo nada que você não queira, mas poderíamos ao menos compartilhar um quarto para manter as aparências caso eles apareçam. Isabel processou isso. Você quer que eu durma no seu quarto ou eu no seu? Não importa. Mas havia tensão em sua voz que sugeria que sim, importava. Eu posso dormir no sofá ou no chão.
Eu só preciso que os avós acreditem que temos um casamento real. Mas não temos. Isabel apontou. João não respondeu imediatamente. Quando falou, sua voz estava baixa. Não, não temos. E de alguma forma, admitir isso em voz alta doeu mais do que Isabel esperava. Eles passaram o resto do caminho em silêncio.
Quando chegaram à cobertura, Isabel foi direto para seu quarto, fechando a porta atrás de si. Ela não sabia que em poucas horas sua vida seria virada de cabeça para baixo, que na segunda-feira de manhã Lucas a chamaria em seu escritório com rosto pálido e notícias devastadoras, e que João Pedro Silva estava prestes a descobrir que algumas ações não podem ser desfeitas, que ciúmes não justificam destruição e que machucando Isabel, ele machucaria a única pessoa que começava a importar de verdade.
Segunda-feira chegou com céu nublado, ameaçando chuva, presságio perfeito para o que viria. Isabel entrou na Rodrigues Arquitetura às 8 em ponto, como sempre, café em mãos e os últimos cálculos para a proposta da praça 15 no laptop. Ela estava animada. A proposta deles era sólida, criativa, exatamente o que a prefeitura procurava. Mas o escritório estava silencioso demais.
Normalmente às 8 já havia música tocando baixo, conversas animadas, risadas. Hoje nada. Marina a viu entrar e desviou o olhar rapidamente. Tiago estava ao telefone, voz tensa, e Lucas? Lucas estava em seu escritório de vidro, cabeça entre as mãos. O estômago de Isabel despencou. “O que aconteceu?”, ela perguntou para Marina. A outra mulher hesitou, mordendo o lábio. É melhor Lucas contar.
O que fosse era ruim, muito ruim. Isabel bateu na porta do escritório de Lucas. Ele levantou a cabeça e ela viu algo que nunca tinha visto antes, no rosto normalmente otimista dele. Derrota. Isa, entre. Ele gesticulou para a cadeira. Preciso te contar algo. Ela sentou, mãos apertadas no colo.
Lucas, você está me assustando? Ele pegou um papel impresso, deslizou pela mesa. Silv Corporações entrou na licitação da Praça 15 ontem à noite. Isabel pegou o documento, leu uma vez, duas. As palavras não faziam sentido. Silva Incorporações. Proposta pro bono para revitalização da Praça 15. Compromisso: Execução sem custos para a prefeitura. Pra 30% menor que média do mercado. Portfólio 150 p escala concluídos.
Probo, Lucas disse: “Vozca, eles vão fazer de graça. Como diabos competimos com isso?” O papel tremia nas mãos de Isabel. “Não, não, não, não. Deve haver um erro.” Ela ouviu-se dizer. Silva Incorporações não faz projetos pequenos. Eles lidam com shopping centers, complexos residenciais, empreendimentos milionários. Uma praça de bairro. Não faz sentido. Eu pensei a mesma coisa.
Lucas esfregou o rosto cansado. Liguei para um contato na prefeitura. Ele disse que a proposta foi submetida pessoalmente pelo CEO, pelo próprio João Pedro Silva. O mundo inclinou. Isabel sentiu o sangue drenar do rosto. As mãos ficaram geladas. A sala pareceu estreitar. “João”, ela sussurrou. Você o conhece?”, Lucas perguntou surpreso.
“Claro, todo mundo no Rio conhece sobre ele, mas Isabel não estava ouvindo. Sua mente estava correndo, conectando pontos que ela desesperadamente não queria conectar. João descobrindo onde ela trabalhava, perguntando sobre Lucas, os ciúmes, a possessividade, a raiva fria em seus olhos naquela quinta-feira.
Eu vou destruir isso, ele não dissera, mas fizera mesmo assim. Isa. A voz de Lucas estava distante. Você está bem? Está pálida. Ela se levantou tão rápido que a cadeira quase tombou. Eu preciso ir. Desculpa, eu só preciso ir. Isabel, espera. Mas ela já estava correndo para fora do escritório pelo corredor, escadas abaixo. Puxou o celular com mãos tremendo e ligou para João caixa postal.
ligou de novo. Caixa postal. Terceira vez. Isabel. A voz dele fria e profissional. Estou em reunião. Posso te ligar de volta? Você. As palavras saíram como gelo e fogo misturados. Você fez proposta para a praça 15. Silêncio. Longo demais. Revelador demais. De onde você tirou essa informação? João perguntou finalmente voz cuidadosamente neutra. É verdade.
Isabel estava na calçada. Agora chove começando a cair. João, é verdade? A Silva Incorporações entrou na licitação da praça. Pausa. Sim, uma palavra. Mas ela destruiu tudo. Isabel quase deixou o telefone cair. Como? Como você pode? Lágrimas de raiva queimavam. Você sabia. Você sabia que meu escritório estava concorrendo.
E você fez isso mesmo assim? Isabel? Não. Ela estava gritando agora, sem se importar com os olhares curiosos na rua. Não me diga que é só negócios. Não insulte minha inteligência. Você fez isso porque está com ciúmes. Com ciúmes de Lucas? Então você decidiu destruir o projeto inteiro só para para o quê? Para me machucar? Para me controlar? Não é assim.
Então como é? A chuva estava mais forte agora, ensopando seu cabelo, suas roupas. Explica para mim, João. Explica como o homem que nem falava comigo há dois meses de repente decide sabotar meu trabalho. Não estou sabotando. Estou fazendo uma proposta legítima para um projeto público. Probono. Isabel quase riu. Um som histérico.
Você, o homem que não move dedo sem calcular Roy, de repente decidiu fazer caridade com uma pracinha histórica no centro. Ela o ouviu respirar fundo do outro lado. Eu não sabia que significava tanto para você. Mentira. Isabel estava soluçando agora. Você sabia exatamente o que significava. Lucas me contou sobre o projeto. Você me viu animada e você deliberadamente entrou para destruir nossas chances. Isabel, venha para casa.
Vamos conversar sobre isso direito. Não, eu vou aí. Vou aí agora. E você vai olhar na minha cara e me explicar porque diabos achou que tinha o direito de fazer isso. Ela desligou antes que ele pudesse responder. 20 minutos depois, Isabel invadia o quartinto andar da Silva Incorporações como um furacão molhado. Carla tentou detê-la.
Senora Silva, o Sr. Silva está em reunião. Não me importo se ele está negociando com o Papa. Isabel passou direto. Sai da frente. Ela abriu as portas duplas da sala de reuniões sem bater. João estava sentado à cabeceira de uma mesa longa, rodeado por cinco executivos de terno. Todos viraram para olhá-la.
A mulher molhada, tremendo, com olhos flamejantes. Isabel. João se levantou. Todo mundo fora agora. Sua voz cortou como chicote. Os executivos olharam para João incertos. Vocês ouviram minha esposa?” João disse, “Vozensa, reunião adiada.” Eles saíram rapidamente, murmurando entre si.
Quando a porta fechou, deixando João e Isabel sozinhos, o silêncio era explosivo. “Você está encharcada”, João disse, tirando o palitó. “Deixa eu não se atreva”. Isabel deu um passo atrás quando ele se aproximou. “Não se atreva a fingir que se importa agora.” João parou. Palitó ainda nas mãos. Eu me importo. Você sabotou o meu trabalho. As palavras ecoaram na sala enorme.
Como isso é se importar? Explica, por favor. Porque eu estou realmente confusa sobre como destruir a empresa onde trabalho demonstra afeto. João jogou o palitó em uma cadeira, passando as mãos pelos cabelos, gesto de frustração que ela começara a reconhecer. Não foi assim. Não foi para te machucar. Então, por quê? Isabel caminhou até ele implacável.
Por que a Silva Incorporações de repente se importa com uma praça histórica? Por que pro Bono? Responde João. Ele a encarou e pela primeira vez ela viu a verdade nua em seus olhos: culpa, vergonha e por baixo disso aquela mesma possessividade feroz. Porque aquele homem te convida para jantares? Ele disse, voz baixa e perigosa, porque ele te chama de Isa.
Porque quando você fala sobre trabalho, você sorri para ele da forma que nunca sorri para mim. Isabel ficou boquerta. Você está Você está sendo sério? Você investiu recursos da sua empresa? Potencialmente prejudicou o negócio de um escritório pequeno. Tudo porque estava com ciúmes. Sim. A admissão saiu como confissão arrancada. Sim, estava. Estou.
E foi estúpido e irracional e errado. Eu sei disso. Mas ver aquela mensagem, pensar em você com ele, João cerrou os punhos. Eu perdi a cabeça. Você perdeu mais do que isso. Você perdeu qualquer respeito que eu estava começando a ter por você. As palavras o atingiram como tapa físico. Isabel viu ele recuar. Isabel, Lucas não é nada além do meu chefe.
Um bom chefe que me deu uma chance quando eu precisava, que viu meu talento quando você só via uma peça no seu tabuleiro corporativo. E você quer destruir isso? Ela riu amargamente. Você sabe o que isso fala sobre você, João? Fala que você é pequeno, inseguro. Apesar de todo esse poder e dinheiro, você é tão inseguro que não aguenta imaginar outro homem me respeitando.
Não é sobre respeito, então é sobre o quê? Isabel estava perto demais agora, dedos cutucando o peito dele. Sobre propriedade, posse, porque você já deixou claro que não me quer como esposa de verdade. Então, o que é? Você só não quer que mais ninguém me tenha. Eu quero você. João praticamente gritou, agarrando os pulsos dela.
Eu quero você de uma forma que está me deixando louco. Eu quero que você sorria para mim como sorri para ele. Quero que seus olhos brilhem quando fala comigo. Quero Ele puxou-a mais perto, voz caindo para sussurro rouco. Eu quero parar de dormir sozinho na minha ala, sabendo que você está dormindo sozinha na sua.
O coração de Isabel estava martelando tão alto que ela mal conseguia pensar. Então, por que por você nunca disse? Porque em vez de falar comigo você decidiu sabotar tudo porque eu sou um idiota. João disse simplesmente um idiota arrogante que não sabe como lidar com sentimentos, que construiu um império, mas não sabe como conversar com a própria esposa. Ele soltou seus pulsos, se afastando.
Você está certa. Sobretudo. Eu fui pequeno e inseguro e cruel. E eu Ele virou-se para a janela, mãos nos bolsos. Eu vou consertar isso. Como? João pegou o telefone na mesa, apertou um botão. Carla, entre aqui, por favor. A assistente apareceu segundos depois, olhando nervosa entre os dois. Sir, cancele nossa proposta para a praça 15.
João disse voz firme: “Retire completamente e envie uma nota à prefeitura recomendando a Rodrigues arquitetura para o projeto. Diga que após análise acreditamos que eles são mais adequados para a escala e visão necessárias.” Carla piscou chocada. “Sir, mas a proposta já foi, eu sei. Cancele mesmo assim. E Carla?” Ele finalmente olhou para Isabel. Envie também uma carta a Rodriguez Arquitetura.
Diga que a Silva Incorporações gostaria de patrocinar o projeto deles como investimento cultural, sem condições, sem vínculos, apenas um cheque para cobrir custos adicionais que a prefeitura não cobrir. O queixo de Carla caiu. Quanto devo? 200.000. E deixe claro, é patrocínio, não parceria. O mérito do projeto é todo deles. Carla a sentiu lentamente e saiu ainda confusa.
Quando ficaram sozinhos novamente, Isabel não sabia o que dizer. João acabara de jogar fora uma licitação ganha por ela para consertar o erro. Isso não apaga o que você fez, ela disse finalmente voz embargada. Eu sei. Você ainda me machucou. Traiu minha confiança. Eu sei. E R$ 200.000 Rais não compram perdão. Eu sei disso também.
João finalmente a encarou completamente. Havia vulnerabilidade crua em seu rosto, algo que ela nunca vira antes. Mas é um começo. E Isabel, eu vou passar o resto do tempo que me der consertando o que quebrei. Não apenas o projeto. Nós lágrimas escorriam pelo rosto dela agora, misturadas com água da chuva.
Não sei se há um nós para consertar. Ele acenou, aceitando. Então eu vou começar do zero e dessa vez vou fazer direito. Ele estendeu a mão formalmente. Olá, meu nome é João Pedro Silva. Sou um idiota completo que quase perdeu a mulher mais incrível que já conheceu.
Você me daria a honra de me deixar te conhecer de verdade? sem contratos, sem condições, apenas nós. Isabel olhou para a mão estendida, para o homem que a comprara em um acordo corporativo, que a ignorara por meses, que a machucara profundamente, mas também o homem que acabara de jogar fora uma negociação por ela, que estava ali vulnerável e arrependido, oferecendo algo que João Pedro Silva nunca oferecia a ninguém.
Uma segunda chance. Ela não pegou sua mão. Não, ainda vou voltar para o escritório. Ela disse limpando as lágrimas. Lucas precisa saber sobre tudo e eu preciso de tempo para pensar, para sentir, para decidir se consigo confiar em você de novo. Quanto tempo você precisa? Não sei. Isabel foi até a porta, parou. Mas João, obrigada por cancelar a proposta.
Foi foi a coisa certa a fazer. E então ela saiu, deixando-o sozinho em sua sala de reuniões, com vista para a cidade que ele governava, mas sem a única coisa que importava, Isabel. Enquanto o elevador descia, ela sentiu algo complexo no peito. Raiva ainda pulsava ali, mágoa também, mas algo mais estava nascendo, esperança.
Porque pela primeira vez, João não tinha se escondido atrás de lógica corporativa. Ele admitira seus sentimentos, seus erros e tentara consertá-los. Era suficiente? Ela não sabia. Mas talvez fosse um começo. Lucas quase desmaiou quando Isabel contou tudo. Você é você é casada com João Pedro Silva? Ele estava de pé em seu escritório, mãos na cabeça.
O CEO da Silva Incorporações, o homem que acabou de cancelar uma licitação milionária e nos oferecer R$ 200.000 é seu marido. Isabel sentiu encolhida na cadeira, ainda pingando água da chuva. Casamento arranjado para salvar a empresa do meu pai. Eu usei o nome de solteira por quê? Porque queria ser julgada pelo meu trabalho, não por qu em casei. Lucas sentou pesadamente, processando.
Então, toda aquela coisa com a proposta pro Bono, foi ele sendo possessivo e imaturo. Sim. Isabel cobriu o rosto com as mãos. Lucas, eu sinto tanto. Isso é tudo culpa minha. Se eu não tivesse vindo trabalhar aqui para Lucas se inclinou para a frente. Isso não é sua culpa. Você não pode controlar as ações do seu marido, ciumento. Ele fez uma pausa.
Embora devo admitir, o gesto de cancelar e patrocinar o projeto foi surpreendente, quase romântico, de uma forma caótica e corporativa. Isabel deu uma risada úmida. Bem-vindo ao meu casamento. Lucas ficou quieto por um momento, depois perguntou gentilmente: “Você o ama?” A pergunta pegou Isabel de surpresa. Ela abriu a boca, fechou, tentou de novo. Eu não sei. Eu nem o conheço de verdade.
Ele foi um estranho frio por meses. Mas agora ela pensou em João estendendo a mão, se apresentando formalmente. Agora ele está tentando. E isso assusta porque eu não sei se posso confiar. Não sei se ele vai voltar a me machucar. Relacionamentos são riscos. Lucas disse sábio, especialmente quando começam do jeito errado. Ele sorriu de leve, mas pelo menos ele está lutando.
Homens como João Pedro Silva não fazem grandes gestos à toa. Isabel sabia que era verdade. João cancelara a proposta, oferecer patrocínio, admitir seus erros publicamente. Para ele era revolucionário. Então Lucas continuou voltando ao profissional. Aceitamos o patrocínio. Você decide. É seu escritório. Não, ele a estudou.
Essa decisão afeta você diretamente, então você precisa estar confortável. Isabel pensou. Aceitar o dinheiro de João parecia complicado, mas recusar seria o orgulho tolo que prejudicaria o projeto. Aceite, ela disse finalmente. Mas deixe claro, é patrocínio corporativo, não favoritismo marital. O escritório ganha por mérito, não por conexão.
Lucas acenou feito. Quando Isabel voltou para a cobertura naquela noite, tarde e exausta, ela esperava que João estivesse viajando ou trancado em seu escritório. Em vez disso, ele estava na cozinha, cozinhando. Isabel parou na entrada, boca aberta. João Pedro Silva, CEO multimilionário que não sabia onde ficava a esponja de lavar louça, estava com avental ridículo nele, cortando legumes desajeitadamente. “O que você está fazendo?”, ela perguntou.
Ele se virou, quase derrubando uma panela, tentando fazer jantar. Ele olhou para o desastre na bancada. Cebolas queimadas, molho de tomate respingado em tudo, macarrão fervendo agressivamente. “Não está indo bem.” Isabel sentiu algo amolecer em seu peito. Você não sabe cozinhar? Não, João admitiu, mas você cozinhou para mim.
Então eu pensei, pensei que deveria retribuir. Ele olhou para o fogão com desespero. YouTube me disse que carbonara era fácil. YouTube mentiu. Ela não conseguiu evitar. Riu. Realmente riu pela primeira vez naquele dia horrível. Você está fazendo carbonara? Estava. Agora estou fazendo restos cremosos de culpa. Isabel se aproximou, inspecionando o dano. O bacon estava crocante demais.
Os ovos haviam cozinhado em vez de criar molho cremoso. O macarrão estava grudado. É um desastre, ela declarou. Eu sei. João parecia genuinamente desolado. Eu só queria queria te mostrar que estou tentando de verdade. E isso, sua disposição de parecer ridículo de falhar publicamente e de tentar. significava mais do que qualquer jantar perfeito. “Vem”, Isabel, disse, empurrando-o gentilmente para o lado.
“Vamos salvar o que der”. Eles trabalharam lado a lado, em silêncio inicialmente, Isabel jogou fora o bacon queimado e fez novo. Ensinou João a fazer o molho corretamente. Ovos, queijo, água do macarrão. Timing perfeito. “Precisa ser rápido”, ela explicou. Ou os ovos cozinham como um experimento químico. João observou concentrado intensamente. Exatamente.
Quando finalmente sentaram para comer, carbonara imperfeita, mas comestível, havia uma leveza entre eles que não existia antes. Não está ruim, João disse surpreso. Você estava esperando veneno? Isabel brincou. Depois do que fiz hoje não te culparia. O humor evaporou. Isabel colocou o garfo de lado.
João, por que você realmente fez isso? A proposta, quero dizer, a verdade completa. Ele ficou quieto por tanto tempo que ela achou que não responderia. Então, devagar. Quando você começou a trabalhar, algo mudou. Você brilhava, tinha propósito. E eu percebi que nos meses em que você viveu aqui, você nunca brilhou para mim. Ele brincou com o copo de vinho.
Depois vi aquela mensagem e algo dentro de mim quebrou. Não era só ciúmes, era medo. Medo de que você encontrasse alguém que te fizesse feliz, alguém que não fosse eu. E ao invés de lutar direito, te conquistando, te mostrando que eu podia ser melhor, eu tentei eliminar a competição. Lucas não é competição. Isabel disse suavemente.
Eu sei disso agora, mas na hora tudo que eu via um homem que te fazia sorrir. E eu: eu nunca te fiz sorrir, nenhuma vez. Isabel estendeu a mão pela mesa, tocando a dele hesitantemente. Você me fez rir hoje com sua carbonara desastrosa. João virou a mão, entrelaçando os dedos nos dela. O toque era elétrico, diferente dos toques mecânicos de antes. Posso fazer mais? Não, só carbonar as ruins.
Ele a encarou. Eu quero te conhecer, Isabel. Quero saber sua cor favorita, seu filme preferido. Por que você escolheu arquitetura? Quero saber o que te faz rir e o que te faz chorar. Quero saber você. Azul turquesa. Isabel ouviu-se dizer: “Minha cor favorita é azul turquesa, como o mar em dias claros. Azul turquesa.” João repetiu como se estivesse memorizando algo precioso. Continua.
E então, sob a luz suave da cozinha, Isabel começou a contar sobre como se apaixonara por arquitetura aos 12 anos, visitando o museu do amanhã. sobre seu filme favorito, Amelie Pulan, porque a protagonista encontrava beleza em pequenos detalhes. Sobre como ela tinha medo de altura, mas adorava estar em lugares altos, sobre a cicatriz quase invisível em seu joelho de quando caiu de bicicleta aos 8 anos.
João absorvia cada palavra como se estivesse coletando tesouros. Ele contou sobre sua própria infância, o peso de ser herdeiro único, a pressão de provar valor ao avô, como construir o império tinha sido sua única forma de se sentir digno. “Eu nunca tive tempo para pensar em cores favoritas”, ele admitiu.
“Tudo sempre foi sobre inúmeros contratos e estratégias até você. E agora? Agora eu quero aprender.” Ele apertou a mão dela. “Se você me deixar”. Isabel não respondeu imediatamente. Olhou para suas mãos entrelaçadas. para o homem que havia sido seu marido fantasma e agora tentava ser algo mais verde escuro ela disse finalmente.
O quê? Sua cor é verde escuro, como aquela gravata que você usou no nosso casamento? Ela sorriu de leve. Eu estava prestando atenção, mesmo quando você não estava. Algo passou pelo rosto dele. Surpresa, gratidão e algo mais profundo que nenhum dos dois estava pronto para nomear. Eles terminaram o jantar conversando, realmente conversando, pela primeira vez.
E quando finalmente se levantaram para limpar a bagunça na cozinha, foi natural trabalharem juntos, ombros se tocando ocasionalmente, movimentos sincronizados. Isabel, João disse enquanto secava o último prato sobre o arranjo das alas. Ela ficou tensa. Não estou pedindo nada. Ele continuou rapidamente.
Mas podemos tentar algo intermediário? Talvez jantares regulares como esse, conversas, conhecer um ao outro antes de Ele gesticulou vagamente, antes de compartilharmos um quarto, Isabel completou. Sim, sem pressão. No seu tempo, era razoável, respeitoso, tudo que João não tinha sido antes. Tá, ela concordou. Vamos tentar.
E pela primeira vez desde o casamento, Isabel foi dormir com algo parecido com esperança, aquecendo seu peito. As semanas seguintes, trouxeram uma mudança sutil, mas significativa na dinâmica da cobertura. João começou a chegar mais cedo. Não sempre. Ele ainda era CEO de um conglomerado, mas algumas noites por semana ele estava em casa às 7 e quando estava eles jantavam juntos. Pequenas tradições começaram a se formar.
Sexas-feiras eram noites de tentativas culinárias de João, cada vez menos desastrosas. Terças-feiras, Isabel mostrava seus projetos do trabalho e ele realmente ouvia, fazendo perguntas inteligentes sobre sustentabilidade e design urbano. “Esse sistema de captação de água da chuva é genial”, ele disse certa noite, estudando os desenhos de Isabel para o centro cultural da Lapa.
Por que mais prédios não fazem isso? Porque custa um pouco mais no início, Isabel explicou, mas economiza a longo prazo. É só que desenvolvedores pensam em lucro imediato. João ficou quieto depois. E se não pensassem? E se houvesse incentivos para a construção sustentável? Seria revolucionário, mas exigiria mudança de política corporativa. Eu sei. Ele olhou para ela.
Vou falar com a equipe. A Silva Incorporações poderia ser pioneira nisso. Isabel piscou surpresa. Sério? Você me fez lembrar porque entrei nesse negócio para construir coisas que importam. Ele tocou o desenho dela com reverência. Talvez seja a hora de voltar a isso. Eram momentos como esses, João realmente ouvindo, mudando, crescendo, que faziam as paredes de Isabel começarem a cair, mas os domingos continuavam sendo complicados.
Então, vovô Antônio estava particularmente insistente um domingo. Já faz quase se meses de casamento. No meu tempo, pai, já sabemos, no seu tempo, vocês já tinham três filhos aos seis meses. O pai de João interrompiu exasperado. Exatamente. Antônio ignorou o sarcasmo. João, Isabel, vocês precisam se esforçar mais. Isabel engasgou com a água. João, para surpresa dela, riu.
“Vovô, garanto que estamos nos esforçando”, ele disse. E havia algo em sua voz, um tom mais leve que fez Isabel corar. Sob a mesa, ele pegou a mão dela, não o aperto mecânico de antes. Era caloroso, reconfortante, real. “Vocês parecem diferentes”, observou Vovó Maria, olhos aguçados, mas próximos, finalmente. E ela estava certa.
Eles estavam mais próximos, não sentido físico que os avós esperavam, mas emocionalmente, conhecendo um ao outro, construindo algo que nunca tiveram chance de construir antes. Mas havia tensão crescendo também, uma consciência. Isabel começou a notar pequenas coisas. Como João arrumava o cabelo nervosamente quando ela entrava na sala, como seus olhos se demoravam nela quando achava que ela não estava olhando.
Como a voz dele ficava um tom mais baixa quando falavam tarde da noite. E ela sentia também o calor que subia quando ele acidentalmente roçava contra ela na cozinha. A forma como o coração acelerava quando ele sorria. Sorrisos de verdade agora não máscaras corporativas. Como ela se pegava, imaginando como seria beijá-lo sem raiva, sem contratos, apenas eles. Uma quinta-feira à noite, três semanas após a reconciliação da carbonara, algo mudou. Isabel estava trabalhando tarde em seu laptop na sala quando João chegou em casa.
Ele afrouchou a gravata, serviu-se de whisky, veio sentar ao lado dela no sofá. Proximidade que teria sido impensável meses atrás. “Dia difícil?”, Ela perguntou, fechando o laptop. Reunião com acionistas. Propus mudança para práticas mais sustentáveis. Metade achou que eu enlouqueci. Ele tomou um gole. Mas vamos fazer. Vai custar mais inicialmente, mas é o certo.
Você está mudando. Isabel observou. A forma como faz negócios é impressionante. João virou-se para ela e, de repente, o espaço entre eles pareceu muito pequeno. “Você me mudou”, ele disse simplesmente. Me fez questionar tudo que achava que sabia sobre sucesso e propósito. “João, eu sei. Você ainda não confia totalmente em mim. Eu entendo.
Ele colocou o copo de lado. Mas Isabel, eu preciso que você saiba. O que sinto por você não é mais sobre contratos ou obrigações. É real, assustadoramente real. O coração dela estava trovejando. É o que você está dizendo. Estou dizendo que me apaixonei pela minha esposa. As palavras saíram cruas, vulneráveis. Sei que estraguei tudo no começo. Sei que não mereço.
Mas está acontecendo mesmo assim. E eu, Isabel o beijou, não planejou, não pensou, só se inclinou e pressionou os lábios nos dele, silenciando as palavras, porque as ações eram mais claras. Por um segundo, João ficou congelado. Depois, ele a puxou para mais perto, aprofundando o beijo com uma fome que fez o mundo desaparecer. Não era como o beijo casto no altar.
Era fogo e promessa e meses de tensão finalmente liberada. As mãos dele em seu cabelo, as dela agarrando sua camisa, respirações entrelaçadas. Quando finalmente se separaram, ambos estavam ofegantes. “Isabel”, João sussurrou, testa encostada na dela. “Tem certeza? Não quero apressar.” Cala a boca”, ela murmurou e o beijou de novo.
Na manhã seguinte, Isabel acordou em um quarto que não era o dela, o quarto de João, ala oeste, que por meses tinha sido território proibido. Ela virou-se, encontrando-o já acordado, apoiado no cotovelo, observando-a com uma expressão que fez seu coração derreter. “Bom dia”, ele disse suavemente. “Oi”. Ela sentiu o rosto esquentar, a realidade do que havia acontecido na noite anterior caindo sobre ela. “Arrependida?”, João perguntou.
E havia vulnerabilidade em sua voz. “Não.” “Era verdade. Você nunca.” Ele afastou uma mecha de cabelo do rosto dela. “Isabel, isso muda tudo para mim? Se para você também muda.” Ela admitiu. “Mas João, ainda temos muito a resolver. Ainda estou processando tudo. O que você fez? O perdão. Isso. Nós Eu sei e vamos no seu ritmo.
Ele beijou sua testa. Mas agora que te tive nos meus braços de verdade, não sei como voltarei às alas separadas. Isabel sorriu. Então não volte. A mudança foi gradual, mas innegável. Isabel começou a mover suas coisas para o quarto de João.
Primeiro algumas roupas, depois livros, pequenos objetos pessoais que transformavam o espaço minimalista em algo mais parecido com um lar. João observava cada adição com algo próximo à reverência. “Você está invadindo meu closet”, ele comentou uma manhã, mas estava sorrindo. “Nosso closet.” Isabel corrigiu, pendurando um vestido.
“Ou você prefere que eu volte para a ala leste?” Ele a puxou pela cintura, beijando seu pescoço. Prefiro você exatamente aqui. Eram momentos como esses, pequenos, domésticos, íntimos, que transformavam a cobertura fria em algo quente. Mas nem tudo era perfeito. Havia cicatrizes que ainda doíam. Uma tarde, Isabel estava no escritório quando recebeu mensagem de Lucas.
Lucas, reunião com prefeitura confirmada para quinta. Você vai apresentar, certo? Você é a estrela desse projeto. Isabel sorriu respondendo que sim. Quando levantou os olhos, João estava na porta do quarto. Ela nem tinha ouvido ele chegar. “Lucas”, ele perguntou e havia tensão em sua voz. Sobre reunião de trabalho. Isabel respondeu calmamente.
Por quê? Vai saber a proposta de novo? A farpada foi intencional. João mereceu. Ele entrou no quarto, passando as mãos pelos cabelos. Não, desculpa, é só eu ainda fico tenso quando vejo o nome dele. João, nós conversamos sobre isso. Eu sei. E eu confio em você. Confio. Ele sentou na cama, mas confiar nele é diferente e eu sei que é meu problema, não seu.
Só ainda estou aprendendo a não ser um idiota possessivo. Isabel foi até ele, ficando entre suas pernas, mãos nos ombros dele. Você precisa confiar em mim o suficiente para saber que mesmo se Lucas estivesse interessado e ele não está, eu escolhi você. Estou aqui no nosso quarto, na nossa cama, por escolha. João puxou-a para mais perto, enterrando o rosto em sua cintura.
Eu sei. Desculpa, é estúpido. É, mas estamos trabalhando nisso. Ela beijou o topo da cabeça dele juntos. O projeto da Lapa estava progredindo bem. Isabel liderava grande parte do trabalho de campo, supervisionando construção, resolvendo problemas, garantindo que a visão se materializasse corretamente.
João começou a se interessar, não de forma invasiva, mas genuinamente curioso. “Posso ver?”, ele perguntou uma noite quando Isabel trouxe plantas para casa. “O canteiro de obras.” Ela estava surpresa. “Quero ver o que você está construindo, se você não se importar”. No sábado seguinte, Isabel o levou. O antigo armazém na Lapa estava irreconhecível.
Paredes antigas cuidadosamente restauradas, novas estruturas de aço subindo, futuras clarabas sendo instaladas. Aqui, Isabel apontou animada, será o espaço principal, teatro comunitário, oficinas de arte. E aqui, olha, os jardins verticais usando aquele sistema de irrigação com água da chuva.
João caminhou pelo espaço, observando cada detalhe. Os operários reconheceram-no, impossível não reconhecer João Pedro Silva, e ficaram visivelmente nervosos. Mas ele os cumprimentou com respeito, fez perguntas inteligentes sobre a construção. “Sua esposa é brilhante”, disse um dos mestres de obras. “Melhor arquiteta que já trabalhei, sabe exatamente o que quer, mas ouve nossas sugestões.
” João olhou para Isabel com orgulho tão óbvio que ela corou. Eu sei”, ele disse simplesmente tenho sorte. No caminho de volta, João estava quieto, pensativo. “O que foi?”, Isabel perguntou. “Eu esqueci.” Ele disse finalmente. “Como é construir algo que importa? Todos os meus projetos agora são lucrativos, sim, mas esse isso vai mudar vidas.
Dar à comunidade um espaço que é deles.” Ele olhou para ela. “Você me lembrou disso, do por eu comecei. Você pode fazer os dois.” Isabel disse: “Lucro e propósito não são mutuamente exclusivos. Você está certa.” Ela podia ver engrenagens girando em sua cabeça. De fato, tenho uma ideia. Mais preciso da sua opinião.
Ele apresentou a ideia naquela noite. Um novo braço da Silva Incorporações focado em projetos de impacto social, habitação popular, centros comunitários, revitalização de áreas degradadas. Menos lucrativo que empreendimentos tradicionais, mas significativo. Seria arriscado. Ele admitiu. Os acionistas vão questionar. Mas se fizermos direito, mudaria o legado da empresa. Isabel completou entusiasmada. João, isso é incrível.
Você me ajudaria? Ele perguntou. Não oficialmente. Eu sei que ama seu trabalho na Rodriguez. Mas consultoria, sua visão. Isabel pensou. Era tentador, mas também complicado. Sob uma condição. Ela disse qualquer uma. Você contrata arquitetos pequenos como consultores, dá oportunidades a escritórios como o de Lucas, não deixa a Silva incorporações dominar, ela compartilha.
João sorriu feito. O domingo seguinte foi diferente. Pela primeira vez, Isabel e João chegaram na mansão dos avós realmente de mãos dadas. Não um ato. Mas verdade. Vovó Maria notou imediatamente. Vocês Ela praticamente gritou. Alguma coisa mudou. Olha como estão se olhando.
Vovô Antônio apontou acusadoramente com o garfo. Finalmente! Eu sabia. Eu disse pro Roberto que vocês dois só precisavam de tempo. Isabel riu, escondendo o rosto no ombro de João. Ele beijou seu cabelo naturalmente, gesto que teria sido impensável meses atrás. Vovô, a gente sempre não minta para mim, menino. Eu vi vocês nos primeiros meses. Pareciam estátuas. Agora ele gesticulou.
Agora parecem casados de verdade. Não estavam errados. A diferença era óbvia. A forma como João puxava a cadeira para Isabel, como ela naturalmente servia vinho para ele, como conversavam durante o jantar sem forçar, rindo de piadas internas. Então, vovó Maria se inclinou conspiratoriamente. Posso esperar novidades em breve? Isabel quase engasgou.
João apertou sua mão debaixo da mesa. Vovó, quando houver novidades, você será a primeira a saber, ele disse diplomaticamente. Depois, no carro, Isabel estava quieta. O que foi? João perguntou. Eles querem tanto bisnetos? Eu sei. E nós ainda estamos reconstruindo. Mal temos três meses realmente juntos.
João parou o carro em um mirante com vista para o mar, desligou o motor e se virou para ela. Isabel, não há pressa, zero. Quando e se estivermos prontos para isso, será nossa decisão. Não dos avós. Ele tocou seu rosto. Estamos escrevendo nossa própria história agora, no nosso tempo.
E se eu nunca quiser, filhos, quero dizer, então não teremos. Ele disse tão simplesmente: “Você não é incubadora, é minha esposa, minha parceira e eu te quero, com ou sem miniersões nossas correndo por aí.” Lágrimas queimaram nos olhos dela. João sempre dizia as coisas certas. Agora, como ele mudara tanto, eu quero ela sussurrou, “Eventualmente, mas não agora. Agora eu só quero nós.
Então é isso que teremos.” Ele a beijou suavemente. Nós, três meses de felicidade doméstica quase fizeram Isabel esquecer que relacionamentos reais não são contos de fadas. Eles têm conflitos, desentendimentos, tempestades. A primeira grande briga começou pequena. Isabel tinha uma apresentação importante na prefeitura.
O projeto da Lapa precisava de aprovação final. Ela estava nervosa, preparando-se há semanas. Na manhã da apresentação, João estava em teleconferência com investidores japoneses. Conexão ruim, negociação complicada, janela de apenas duas horas devido ao fuso horário. Isabel precisava de apoio emocional. João precisava de silêncio. “João, você pode olhar minha apresentação mais uma vez?”, ela perguntou ansiosa, só para ter certeza que está clara.
“Isa! Estou em reunião”, ele sussurrou, cobrindo o microfone. “Eu sei, mas são só 10 minutos.” “Não tenho 10 minutos agora.” Havia tensão em sua voz. “Essa negociação é crítica. Minha apresentação também é crítica.” Os investidores japoneses na tela começaram a parecer confusos. João desligou o áudio. “Isabel, por favor, mais tarde. OK, te ajudo depois. Esqueça.
” Ela pegou seu laptop. Eu resolvo sozinha. Não seja assim. P é como esperando que meu marido me apoie. Que ridículo da minha parte. Ela saiu batendo a porta. João, dividido entre a reunião urgente e a esposa magoada, escolheu a reunião. Erro. Isabel foi para a apresentação sozinha, com o apoio de Lucas e da equipe.
Foi bem, excelente, na verdade, e receberam aprovação. Mas quando voltou à noite, estava fria. Como foi? João perguntou assim que ela entrou. Foi ótimo. Aprovamos. Isso é maravilhoso. Ele tentou abraçá-la, mas ela se afastou. É. E Lucas esteve lá. Marina também. Thago, toda a equipe. Sua voz gotejava veneno.
Estranho como todo mundo conseguiu tempo para me apoiar, menos meu marido. João suspirou. Isabel, aquela negociação era com o Japão. A janela era de 2 horas. Eu não podia. Você sempre pode. Você é o CEO, João. Você pode fazer o que quiser. Você escolheu não estar lá. Não é justo. Justo. Isabel deu uma risada sem humor. Eu cancelei reuniões para te apoiar quando você precisou.
Estava lá quando você apresentou a nova divisão social para o conselho. Mas quando eu preciso uma vez. Foi uma vez que não pude estar lá. É sempre assim. Seu trabalho vem primeiro, sempre veio. A acusação doeu porque tinha verdade nela. João passou a mão pelos cabelos, frustrado. O que você quer de mim? Largar tudo sempre que você precisar? Eu tenho responsabilidades.
E eu não. Meu trabalho não importa tanto quanto o seu. Não disse isso. Não precisa dizer. está implícito. João Pedro Silva, magnata, e sua esposa, arquiteta Hobby. Hobby. Agora ele estava genuinamente furioso. Eu apoiei seu trabalho desde que acordei e parei de ser idiota. Investi em você, no seu escritório. Ah, voltamos nisso. Isabel explodiu.
Você investiu em mim? Como se eu fosse outro empreendimento seu. Obrigada por me lembrar. O silêncio que seguiu era tóxico. João cerrou a mandíbula, claramente tentando controlar o temperamento. Você sabe que não quis dizer assim, não, porque so exatamente como o João que me comprou. O João que me via como ativo. Isso é injusto e você sabe. Sua voz estava baixa, perigosa.
Eu mudei. Lutei para mudar. E você joga isso na minha cara na primeira briga? Lágrimas queimavam nos olhos de Isabel, mas ela estava raivosa demais para recuar. Talvez a mudança não foi tão profunda quanto eu pensava. Ela viu a dor atravessar o rosto dele, mas ao invés de suavizar, ela girou nos calcanhares e foi para o quarto, o antigo quarto dela, na ala leste. Trancou a porta.
João ficou parado na sala, olhando para a porta fechada, sentindo como se tivesse levado um soco no estômago. Nenhum dos dois dormiu bem. Isabel, deitada na cama de hóspedes, que não usava há meses, repassava a briga. Ela fora injusta, talvez. Mas a mágoa era real.
Quando ela precisara dele, João escolhera o trabalho, exatamente como nos velhos tempos. Mas não foi a mesma coisa. Uma voz sussurrou. Ele tinha razão. Era uma janela de 2 horas com investidores internacionais. Você sabe como essas coisas funcionam? Ela abafou a voz. Estava magoada e queria ficar magoada. No quarto principal, João estava sentado na cama vazia.
Olhando para onde Isabel deveria estar. Ele errara. Devia ter cancelado a reunião, mas eram milhões em jogo, dezenas de empregos dependendo dessa negociação. Faz ela precisava de você. Outra voz contraargumentou. 10 minutos. Ela pediu 10 minutos e você a dispensou.
Ele pegou o telefone, pensou em mandar mensagem, digitou várias versões. Desculpa, podemos conversar? Você estava linda hoje, apesar de eu ser idiota. Apagou todas. Palavras não bastariam agora. Na manhã seguinte, Isabel acordou com cheiro de café e panquecas. Ela saiu do quarto hesitante. João estava na cozinha preparando café da manhã.
Havia um buquê de flores no balcão. Não rosas caras, mas margaridas simples. As favoritas dela, como ele sabia. Bom dia”, ele disse calmamente. “Café, panquecas? Ambos provavelmente frios porque não sei há quanto tempo você acordou e eu não queria bater na porta.” Isabel olhou para a cena, para ele, vestido casualmente em jeans e camiseta, quando fora a última vez que ela o vira sem terno para o café da manhã preparado, com cuidado óbvio. “João, deixe eu falar primeiro, por favor.
” Ele colocou a espátula de lado. “Você estava certa. Ontem, quando precisou de mim, eu não estava lá. E eu sei, eu sei que não é a primeira vez, que meu trabalho sempre veio primeiro, mas Isabel, ele se aproximou, mantendo distância respeitosa. A reunião era urgente, sim, mas eu podia ter pausado 10 minutos. Podia ter pedido 5 minutos de intervalo.
Não fiz por quê? Porque o velho João teria sido eficiente e por um segundo eu voltei a ser ele. Ele passou a mão pelos cabelos, frustrado consigo mesmo. Mas eu não quero ser esse João. Quero ser o homem que está lá quando você precisa, mesmo se for só para segurar sua mão antes de uma apresentação, porque seu trabalho não é hobby, é brilhante e importante e muda vidas. E eu devia ter celebrado isso ao invés de ficar na defensiva.
Isabel sentiu a raiva derreter lentamente. Eu também exagerei ela admitiu. Comparei você ao João antigo e foi cruel. Você mudou. Eu sei que mudou. Foi só doeu quando você escolheu o trabalho. Eu sei e vou fazer melhor. Ele apontou para o calendário na parede. Olha. Isabel se aproximou. No calendário em marcador vermelho, ele havia circulado datas, apresentações dela, datas importantes de projetos, eventos do escritório.
“Bloqueei essas datas”, ele explicou. “Nada entra nelas, nem reuniões urgentes, nem investidores internacionais. Esses são seus dias e eu vou estar presente.” As lágrimas vieram, então Isabel não tentou segurá-las. Você fez um calendário? Fiz. E comprei margaridas porque você mencionou uma vez há semanas, que são suas flores favoritas.
E fiz panquecas porque você disse que sua avó fazia nas manhãs especiais. Ele deu um sorriso hesitante. Não ficaram tão boas quanto as dela, provavelmente, mas Isabel o beijou, interrompendo as palavras porque elas não eram necessárias. “Obrigada”, ela sussurrou contra seus lábios.
“Por tentar, por ver o erro. Por por isso vamos brigar de novo. João disse prático. Somos teimosos demais para não brigarem. Mas Isabel promete que não vai trancar portas? Que vamos conversar mesmo quando estivermos furiosos? Prometo, se você promete realmente ouvir, prometo. Eles tomaram café da manhã juntos, panquecas frias, mas feitas com amor.
E depois, naturalmente, Isabel voltou para o quarto principal, para o quarto deles, porque alas separadas eram coisa do passado. Eles eram um casal de verdade. Agora, imperfeito, sim, ainda aprendendo, mas real. Os meses seguintes trouxeram um ritmo, não perfeição, mas parceria.
Isabel e João desenvolveram linguagem própria, pequenos gestos que significavam volumes, café deixado pronto de manhã, postites com mensagens bobas, mãos entrelaçadas debaixo da mesa em reuniões chatas. O projeto da Lapa foi inaugurado em setembro. Foi espetacular. A comunidade compareceu em massa, famílias, crianças, idosos, todos maravilhados com o espaço que agora era deles. O centro cultural tinha teatro, biblioteca, oficinas, jardins.
Era funcional e lindo e exatamente o que Isabel imaginara. Você fez isso? Lucas disse emocionado, observando as crianças correrem pelos jardins verticais. Você trouxe vida para esse lugar. Isabel sorriu, mas procurou por João na multidão. Ele prometera estar lá, bloqueara a data e estava conversando com alguns líderes comunitários, genuinamente interessado, fazendo perguntas sobre o que mais a região precisava.
Quando seus olhos encontraram os dela através da multidão, ele sorriu, aquele sorriso que era só dela. Mais tarde, quando a festa oficial acabou, eles caminharam pelo jardim sozinhos. Estou orgulhoso de você”, João disse. Sei que digo isso muito ultimamente, mas é verdade isso aqui. Ele gesticulou para o prédio iluminado. Isso é legado real. Nós fizemos isso, Isabel corrigiu.
Seu patrocínio possibilitou. Sua nova divisão social inspirou outros investidores. Isso é nosso. João a puxou para perto, beijando sua têmpora. Gosto de como isso soa. Nosso, estavam prestes a ir embora quando uma mulher idosa se aproximou. Dona Rosa, uma das moradoras antigas da região. Vocês dois são os arquitetos? Ela perguntou. Eu sou a arquiteta Isabel disse.
Ele é meu marido e investidor. Dona Rosa segurou as mãos dos dois. Obrigada. Meus netos vão poder estudar na biblioteca aqui, ter aulas de música, coisas que eu nunca pude dar para meus filhos. Vocês vocês deram futuro para eles. Quando ela se afastou, Isabel viu lágrimas nos olhos de João. Ele as enxugou rapidamente, constrangido. Desculpa, é bobagem, não é? Isabel apertou sua mão.
É empatia. É você lembrando do porquemos isso. No caminho de casa, João estava pensativo. Quero fazer mais. Ele disse finalmente. Mais projetos assim. A divisão social da empresa está indo bem, mas poderia ser maior. Poderia ser o foco principal. Os acionistas vão odiar. Alguns vão, outros vão ver a visão. Ele olhou para ela.
E se não virem, talvez seja hora de mudanças na liderança. Isabel piscou. Você está pensando em sair? Não, exatamente, mas reestruturar, focar no que importa? Sim. Ele sorriu. Uma mulher sábia me disse uma vez que podemos ter lucro e propósito. Talvez seja a hora de provar isso. No domingo seguinte, o jantar dos avós tomou uma direção inesperada.
Vovô Antônio estava particularmente observador. “João, você parece diferente.” Diferente como? João perguntou cortando a carne. Mais leve, menos carregado. O velho olhou entre ele e Isabel. Vocês dois finalmente descobriram, não foi? Descobriram o que, pai?” O pai de João perguntou confuso: “Que casamento não é transação, é parceria.” Antônio apontou com o garfo.
Levou tempo, mas eles chegaram lá. Houve silêncio constrangido. Isabel e João trocaram olhares. Quantos avós sabiam? Vovó Maria suspirou. Vocês acham que somos cegos? Vimos vocês nos primeiros meses, frios, distantes, um acordo comercial com véu. Ela balançou a cabeça. Nós ficamos tão tristes, mas não disseram nada. Isabel murmurou. Porque forçar amor nunca funciona.
Roberto disse suavemente. Vocês precisavam encontrar o caminho sozinhos. E encontraram. Antônio se levantou, erguendo sua taça, um brinde ao meu neto, que finalmente parou de ser orcaholic robótico, e a Isabel, que o ensinou a ser humano de novo. Seus olhos estavam marejados.
Vocês nos deram o que queríamos, não bisnetos ainda, mas algo melhor. Amor real. João apertou a mão de Isabel sob a mesa. Pela primeira vez, não era performance, era gratidão. Depois do jantar, enquanto os outros conversavam na sala, vovô Antônio puxou João para o jardim. Meu neto, preciso te contar algo. João esperou preocupado com o tom sério.
Quando fiz aquele acordo com Roberto para unir as famílias, não foi apenas por negócios. O velho se sentou num banco. Eu vi você, João, tão focado em provar seu valor que esqueceu de viver. Pensei que talvez, talvez alguém como Isabel pudesse te mostrar que há mais na vida. Você planejou isso? João estava atônito. Não foi apenas sobre salvar a empresa dela? Ó, a empresa precisava ser salva, sim, mas eu poderia ter feito isso de outras formas.
Antônio sorriu. Eu precisava que você tivesse razão para mudar. E Isabel, ela é forte. Não ia deixar você continuar sendo idiota. João não sabia se rir ou ficar furioso. Você manipulou minha vida. Sim, sem remorço e funcionou. Olhe para você agora, feliz, apaixonado, construindo coisas que importam.
Ele bateu no ombro do neto. Às vezes os velhos sabem das coisas. João balançou a cabeça, mas estava sorrindo. Você é impossível. Eu sei. É genético. Você também é. O outono trouxe mudanças. A divisão social da Silva Incorporações estava prosperando. João implementou políticas radicais, parcerias com ONGs, projetos em favelas, habitação popular de qualidade. Os acionistas estavam divididos.
Alguns viam visão, outros viam insanidade. Em uma reunião particularmente tensa do conselho, um dos acionistas mais velhos confrontou João diretamente. Seu avô construiu esse império com sangue e suor e você está desperdiçando em caridade. Senr. Oliveira bateu na mesa. Habitação popular não dá lucro, dá em longo prazo. João contraargumentou calmo.
Constrói reputação, lealdade, impacto social mensurável. Nosso valor de marca aumentou 30% desde que começamos essas iniciativas. Números manipulados são dados auditados. João deslizou relatórios pela mesa. Mas além dos números, Sr. Oliveira, há algo mais importante. Legado. O que queremos que Silva incorporações represente? Apenas lucro ou mudança real? Foi Antônio quem falou. Então, o patriarca raramente aparecia em reuniões, mas estava ali hoje.
Eu construí esse império ele disse, voz fraca, mas firme, pensando apenas em dinheiro. E sabe o que consegui? Dinheiro, muito. Mas também solidão. Arrependimento por perder momentos com família, culpa por comunidades que deslocamos para construir torres. Ele olhou para João com orgulho. Meu neto está fazendo melhor.
Está construindo riqueza e consciência. E qualquer um de vocês que não vê isso pode vender suas ações e sair. Silêncio atordoado. João olhou para o avô emocionado. Antônio acenou um gesto pequeno que dizia: “Continue”. A reunião terminou com João mantendo o poder. Alguns acionistas saíram. Novos alinhados com a visão, entraram.
Quando João contou tudo para Isabel naquela noite, ela viu o peso nos ombros dele. “Está difícil?”, ela perguntou, massageando suas costas tensas. às vezes, mas vale a pena. Ele se virou para ela. Isabel, eu quero te mostrar algo. Ele abriu o laptop mostrando plantas. Um projeto enorme, complexo residencial com centenas de unidades.
Habitação de qualidade para famílias de baixa renda, perto de transporte público, escolas, postos de saúde, áreas verdes, playground, centro comunitário. Ele a encarou. Quero que você arquitete. Isabel ficou boca e aberta. João, isso é enorme. Eu nunca fiz algo nessa escala. Você fez o centro cultural, fez projetos de revitalização.
Você entende o que essas comunidades precisam melhor que qualquer arquiteto de escritório grande. Ele segurou suas mãos. E não é apenas contratar você, porque você é minha esposa, é porque você é a melhor pessoa para isso. Lucas, contratamos a Rodrigues Arquitetura como consultores, junto com outros escritórios pequenos.
Mas você lhe dera, se quiser. Isabel olhou para as plantas. Era um projeto dos sonhos, assustador, mas incrível. Eu preciso pensar sem pressão, mas Isabel João a puxou para seu colo. Eu acredito em você, mais do que acredito em qualquer outro profissional, porque você tem talento e coração.
Isabel conversou com Lucas na segunda. É uma oportunidade incrível, ele disse honestamente. Mas entendo se você está preocupada com conflito de interesses ou nepotismo. Não quero ser conhecida como esposa do CEO que ganhou o contrato. Então não seja. Lucas sorriu. Seja a Isabel Costa Silva, arquiteta brilhante que por acaso é casada com CEO.
Faça um trabalho tão espetacular que ninguém questione seu mérito. Marina concordou quando Isabel pediu opinião dela também. Isa, você se provou aqui. Todos sabemos que você é talentosa, independentemente de quem você casou. Ela pousou a mão no ombro da amiga. E, honestamente, se não for você, será algum escritório grande, sem alma, que vai fazer gentrificação.
Você vai fazer algo significativo com encorajamento da equipe. E após noites de reflexão, Isabel aceitou. O projeto foi anunciado em outubro, complexo habitacional Esperança, 800 unidades para famílias de baixa renda. A imprensa teve reação mista. Alguns elogiaram a iniciativa social, outros especularam sobre nepotismo.
Silva contrata esposa arquiteta, favorecimento ou talento real? Leu uma manchete. Isabel tentou ignorar, mas doía. João estava furioso. Vou processar. Não. Isabel o segurou. Isso só confirma o que eles estão dizendo. Que preciso de você para lutar minhas batalhas. Deixa. Meu trabalho vai falar por mim. E falou. Isabel atacou o projeto com ferocidade.
Trabalhou 16 horas por dia, consultou moradores de comunidades similares, pesquisou exaustivamente sobre habitação popular bem-sucedida globalmente. Suas plantas eram revolucionárias, apartamentos pequenos, mas inteligentemente projetados, uso máximo de luz natural, ventilação cruzada, áreas compartilhadas que incentivavam comunidade, acessibilidade total.
Quando apresentou para o Conselho da Silva Incorporações, houve silêncio impressionado. Isso disse um arquiteto sénior. É arquitetura de classe mundial, melhor que muitos projetos de luxo que vejo. Isabel permitiu-se sentir orgulho, não porque era esposa de João, mas porque era boa, muito boa. O trabalho intenso começou a cobrar seu preço. Isabel estava exausta.
Acordava cedo, voltava tarde, caía na cama esgotada. João começou a se preocupar. Isa, você precisa descansar. Não posso. Os prazos, os prazos podem ser ajustados. Você não pode. Mas Isabel era teimosa. Continuou empurrando, determinada a provar que merecia o projeto, até que seu corpo decidiu por ela. Em uma terça gelada de julho, Isabel desmaiou no canteiro de obras.
Ela acordou no hospital, João segurando sua mão com tanta força que doía. Você está bem”, ele dizia, “mas parecia estar convencendo a si mesmo. O médico disse que foi exaustão, desidratação. Você está bem?” Isabel viu lágrimas nos olhos dele. “João, você desmaiou, caiu. Poderia ter se machucado seriamente.” Sua voz quebrou. Eu quase. Eu não posso.
Não posso perder você, Isabel. Você não vai me perder. Promete? Ele estava quase gritando agora. Medo transformado em raiva. Promete que vai se cuidar, que vai parar de se matar provando algo que você não precisa provar? Isabel finalmente viu o medo real nele. Não medo de perder a arquiteta, medo de perder a mulher que ele amava.
Prometo ela sussurrou. Desculpa, eu só queria provar que mereço. Você já provou para todo mundo. João beijou sua testa, mas principalmente para você mesma. Então agora, por favor, descanse. O médico a colocou em repouso obrigatório por duas semanas. Isabel protestou. João foi inflexível. Ou você descansa voluntariamente, ou eu sequestro você para uma praia remota sem Wi-Fi.
Ele estava falando sério. As duas semanas foram tortura no início. Isabel ficava inquieta, querendo trabalhar. Mas João se certificou de distraí-la. Eles assistiram todos os filmes da lista dela que ele nunca tinha visto. Cozinharam juntos, João ficando cada vez melhor. Fizeram caminhadas lentas na praia, conversaram. Realmente conversaram.
Eu tenho medo às vezes. Isabel admitiu uma noite deitados na cama. De que você ainda me veja como aquela garota que você comprou. Que toda essa mudança seja temporária. João se virou para ela, forçando-a a encontrar seus olhos. Isabel Catarina Costa Silva. Ouça bem, eu te vejo.
A mulher brilhante, teimosa, apaixonada, que se recusa a fazer arquitetura mediocre. A mulher que me fez questionar tudo, que me fez querer ser melhor. Ele tocou seu rosto. Você transformou minha vida. E sim, comecei errado, horrivelmente errado. Mas cada dia desde então eu escolho você. Não por obrigação, por amor. Diz de novo. Isabel sussurrou. Eu te amo.
João beijou-a suavemente. Te amo. Te amo. Te amo. Foram as palavras mais doces que ela já ouvira. Eu também te amo ela disse. E era verdade. Em algum lugar entre o contrato frio e agora, ela se apaixonara pelo marido completamente. Quando Isabel voltou ao trabalho, estava renovada e com nova perspectiva.
Ela delegou mais, confiou em sua equipe, estabeleceu limites saudáveis entre trabalho e vida. Pessoal, o projeto progrediu lindamente. As primeiras unidades do complexo Esperança foram concluídas em setembro. Quando as famílias começaram a se mudar, Isabel estava lá.
Viu mães chorando de alegria, crianças correndo pelos playgrounds, idosos sentados nas áreas sombreadas conversando. “Você fez isso?”, João disse, abraçando-a por trás enquanto observavam. “Nós fizemos.” Ela corrigiu. Todos nós. Uma menina pequena se aproximou timidamente. “Você é a arquiteta?”, ela perguntou. Isabel agachou para ficar na altura dela. “Sou. Você gostou da sua casa nova? É linda.
Eu tenho meu próprio quarto.” Seus olhos brilhavam. “E playground e biblioteca. É como, é como um castelo.” A menina correu de volta para sua mãe, deixando Isabel com lágrimas nos olhos. “Castelo!” Ela murmurou. Para ela, habitação digna é castelo. João apertou sua mão igualmente emocionado. Aquela noite eles jantaram em silêncio confortável.
Depois Isabel disse: “Quero fazer mais, mais projetos assim, não apenas grandes complexos, mas reformas, revitalizações, tudo que puder para criar habitação digna. Então faremos”, João disse simplesmente juntos. Novembro chegou com calor sufocante e mudanças inesperadas. Isabel estava se sentindo estranha há semanas.
Cansaço inexplicável, náuseas matinais ocasionais, sensibilidade a cheiros. Ela atribuiu ao trabalho, ao estresse. Até que Marina comentou casualmente: “Isa, você está grávida?” Isabel quase deixou cair o café. “O quê?” “Não. Por que?” Pergunta. Você está com aquela aura e enjoada de manhã e comendo picles com sorvete ontem. Marina riu.
Minha irmã ficou exatamente assim quando estava esperando. A possibilidade não tinha ocorrido para Isabel. Ela e João não estavam tentando, mas também não estavam particularmente cuidadosos. Naquela noite, a caminho de casa, ela comprou três testes de farmácia, trancou-se no banheiro, mãos tremendo, fez os três. Esperou os intermináveis 3 minutos. Positivo, positivo, positivo.
Isabel sentou-se no chão frio do banheiro, olhando para os testes, emoções em turbilhão, medo, empolgação, pânico, alegria. Ela estava grávida, ia ser mãe. E João, João ia ser pai. Como ele reagiria? Eles tinham falado sobre filhos, sim, eventualmente, mas eventualmente era agora. Isabel ouviu a porta da frente abrir, João chegando do trabalho.
Isa, você está em casa? Ela guardou os testes, lavou o rosto, tentou parecer normal. Aqui chamou, saindo do banheiro. João a olhou imediatamente percebendo algo. O que foi? Você está pálida? Estou bem. Só cansada, mas ele conhecia suas mentiras agora. aproximou-se tocando seu rosto. “Isabel, o que aconteceu?” Ela abriu a boca, fechou. “Como dizer algo tão grande? Eu preciso te mostrar algo.
” Foi até a bolsa, tirou os três testes, colocou-os na palma de João, sem palavras. Ele olhou para baixo, processou, olhou para ela, de volta para os testes. “Você está? Nós estamos.” Ele não conseguia formar frases completas. Grávida? Isabel sussurrou. Eu estou grávida.
Por um momento interminável, João apenas ficou ali segurando os testes como se fossem explosivos. Então, devagar, um sorriso começou a se formar, pequeno no início, depois crescendo até iluminar todo o seu rosto. “Nós vamos ter um bebê”, ele disse, voz cheia de reverência. “Nós vamos ter um bebê”, Isabel repetiu e de repente estava chorando.
“João, eu estou apavorada. Eu também.” Ele a puxou para seus braços. aterrorizado, mas também também mais feliz do que posso expressar. Eles ficaram ali abraçados, deixando a realidade penetrar. Os avós vão enlouquecer, Isabel disse, rindo através das lágrimas. Vovô Antônio vai fazer festa. João beijou seu cabelo.
Isa, você quer isso? Realmente, porque se não quiser, se for cedo demais, eu quero. Ela interrompeu. É assustador e não planejado, e nosso timing é uma loucura, mas eu quero. Então vamos fazer isso. João colocou as mãos em sua barriga ainda plana, os três. Naquela noite, eles ficaram acordados até tarde, falando sobre tudo.
Nomes, escolas, como equilibrar trabalho e paternidade, medos, esperanças. Vou ser um pai melhor que o meu, João disse com determinação. Vou estar presente. Não vou deixar trabalho consumir tudo. E eu vou ser mãe que mostra que mulheres podem ter carreiras e famílias que não precisamos escolher. Nosso filho vai ter o melhor dos dois mundos. João disse. Estabilidade e paixão, estrutura e criatividade.
Isabel sorriu, aninhando-se nele. Acha que vamos estragar muito? Completamente, ele riu. Mas vamos estragar juntos. e com muito amor. Contar para os avós foi exatamente o caos que esperavam. Vovó Maria literalmente gritou: “Vo Antônio derramou vinho na camisa de tanta empolgação. Roberto e sua esposa se abraçaram, chorando.
Finalmente!” Antônio gritou, puxando João e Isabel para abraço sufocante. “Um bisneto? Eu vou viver para ver um bisneto. Pai, você está esmagando a menina.” O pai de João tentou intervir. Ela está grávida. Não é feita de vidro. Mas ele soltou mesmo assim, segurando o rosto de Isabel com mãos trêmulas. Obrigado.
Obrigado por dar isso para nós. Isabel estava chorando. João estava chorando. Todo mundo estava chorando. Vovó Maria já estava planejando. Vamos reformar o quarto de hóspedes. Precisa ser perfeito. Ah, e as melhores escolas. Precisamos pesquisar. E um pediatra excelente. Conheço o melhor. E vovó. João interrompeu gentilmente. Temos meses. Calma.
Não é nada, mas ela estava radiante. O jantar foi celebração pura, planos, sonhos, promessas. Quando finalmente foram embora, exaustos, mas felizes, Isabel olhou para João. Nossa vida vai mudar completamente. Já mudou completamente várias vezes. Ele beijou sua mão e cada mudança me trouxe mais perto de você. Então, traga mais mudanças. Estou pronto.
Os meses seguintes foram montanha russa, enjoo matinais que duravam o dia todo. Desejos estranhos, mudanças hormonais que faziam Isabel chorar em comerciais de margarina. João foi perfeito. Acordava de madrugada para buscar comida tailandesa. Segurava seu cabelo quando ela vomitava. Lia livros sobre gravidez e paternidade como se estivesse estudando para exame final.
O trabalho continuou, mas Isabel reduziu o ritmo, delegou mais, focou no que importava e João. João transformou a Silva em corporações completamente. A empresa era agora referência em arquitetura social. Outros desenvolvedores começaram a copiar o modelo. Você mudou uma indústria? Isabel disse uma noite maravilhada. Nós mudamos, ele corrigiu. Você me mostrou o caminho.
Eu só o segui. Em fevereiro, fizeram ultrassom para descobrir o sexo. Menina. A médica anunciou sorrindo. João olhou para Isabel, olhos brilhando. Uma menina. Vamos ter uma filha. Beatriz. Isabel disse impulsivamente. Bia, como minha avó. Beatriz Silva. João testou o nome. Perfeito. Naquela noite ele falou com a barriga de Isabel pela primeira vez. Oi, Bia. Sou seu pai.
Ainda não sei o que estou fazendo, mas prometo amar você com tudo que tenho. E sua mãe. Sua mãe é a mulher mais incrível do mundo. Você tem muita sorte. Isabel chorou novamente. Hormônios eram uma jornada. Maio chegou com calor e expectativa. Isabel estava com 38 semanas, enorme, desconfortável e completamente apaixonada por cada chute que a mantinha acordada à noite. O complexo esperança estava completo, todas as 800 famílias instaladas.
O impacto era mensurável. Taxa de criminalidade na área havia caído, matrículas escolares aumentado, pequenos negócios florescendo. Isabel ganhou prêmios, reconhecimento internacional, ofertas de todo o Brasil. Mas o que mais importava era a dona Rosa, que ela visitara às semanas, dizendo: “Meus netos estão crescendo em um lugar seguro e lindo. Obrigada por nos dar dignidade.
” Na manhã de 15 de maio, Isabel acordou com contrações. “João,” ela sacudiu o marido. “É hora!” Ele saltou da cama tão rápido que tropeçou nos próprios pés. “Agora? É agora. A bolsa já respira.” Isabel ordenou mais calma do que se sentia. Pega a mala, liga pro médico e João. Sim, coloca calças. Não podemos ir pro hospital com você de cueca. Ele olhou para baixo, percebendo. Apesar da dor, Isabel riu.
O parto foi longo. 19 horas de trabalho árduo. João ficou ao lado dela o tempo todo, segurando sua mão, enxugando seu rosto, sussurrando o encorajamento. Você consegue. Você é forte. Tão forte. Eu vou matar você por isso, Isabel gritou durante uma contração particularmente forte. Tudo bem, me mata depois.
Agora respira. Finalmente, às 3:47 da manhã de 16 de maio, Beatriz Silva chegou ao mundo, pequena, perfeita, chorando com força impressionante. Quando colocaram a bebê nos braços de Isabel, o mundo parou. “Oi, Bia”, ela sussurrou, lágrimas escorrendo. “Finalmente te conhecemos.
” João estava ao lado tocando a cabecinha de cabelos escuros da filha com reverência. Ela é perfeita. Sua voz estava quebrada. Isabel, nós fizemos isso. Fizemos uma pessoa, uma pessoa muito alta e irritada pelo som dela. Isabel riu através das lágrimas. Eles passaram horas apenas olhando para Beatriz, contando dedos, admirando orelhas minúsculas, completamente encantados. Quando os avós chegaram pela manhã, foi caos controlado.
Vovô Antônio chorava sem vergonha. Vovó Maria segurava Beatriz como se fosse feita de vidro. Roberto tirava mil fotos. Ela tem seus olhos, Isabel. Maria observou. E a teimosia do João Antônio adicionou, fazendo todos rirem. Nos dias seguintes, aprenderam a ser pais, tropeçando, errando, mas fazendo juntos.
Trocas de fraldas às 3 da manhã, amamentações eternas, canções de ninar improvisadas, pânico com cada espirro. Ela está respirando. João checava a cada hora. Está. Você acabou de olhar. Vou olhar de novo. Eram ridículos e exaustos e perfeitamente felizes. Seis meses depois, em novembro, Isabel estava no lançamento de um novo projeto, centro comunitário em Duque de Caxias, parceria entre Silva Incorporações e três escritórios pequenos.
Bia estava nos braços de João, observando tudo com olhos curiosos enormes. Ele era pai completamente transformado. Trabalhava menos horas, priorizava a família, estava presente. Quando chamaram Isabel ao palco para falar, João aplaudiu mais alto que qualquer um. Essa mulher, ela disse olhando para ele, e Bia, é minha inspiração, mas mais importante, essa comunidade é minha inspiração.
Arquitetura não é sobre prédios, é sobre pessoas, sobre criar espaços onde vidas florescem e é um privilégio fazer isso. Depois, uma jornalista a puxou para a entrevista. Que hora Silva, como você equilibra ser mãe e arquiteta renomada. Primeiro, Isabel sorriu. Sou Isabel Costa Silva.
E, honestamente, eu não equilibro perfeitamente. Alguns dias o trabalho sofre, alguns dias sou mãe medíocre, mas eu apareço todo dia e tenho parceiro que também aparece. Isso faz toda a diferença. E sobre as críticas iniciais, sobre nepotismo, deixei meu trabalho falar. Isabel olhou para o prédio atrás dela e acho que falou alto.
Aquela noite em casa com Bia finalmente dormindo, João e Isabel se sentaram no sofá com vinho. Dela só um gole pequeno, ainda amamentando. “Lembra do nosso casamento?”, João perguntou. O corporativo frio nos jardins, difícil esquecer. Eu estava tão errado, sobretudo. Ele a puxou para perto. Achei que poderia transformar amor em transação. Transformar você.
em ativo gerenciável. E agora? Agora sei que você é incontrolável. Ele beijou sua têmpora. Eu amaria mesmo que fosse pobre, mesmo que nunca tivesse desenhado um prédio, só por ser você. Isabel virou-se para encará-lo. Sabe o que é engraçado? Eu passei os primeiros meses te odiando, planejando como sobreviveria casada com você.
E agora? Agora não imagino viver sem você. Então não viva. João sorriu. Fique para sempre. Não por contrato, mas por escolha. Por escolha. Isabel repetiu e o beijou. Eram interrompidos por choro do quarto de Bia. Minha vez, João disse, levantando-se. Você foi das últimas três. Isabel o observou ir.
O CEO poderoso que agora trocava fraldas às 2as da manhã sem reclamar. Como eles chegaram ali de um acordo frio para amor verdadeiro, não foi mágica, foi trabalho, vulnerabilidade, segundas chances, crescimento. Foi João aprendendo que controle não é amor. Foi Isabel aprendendo que confiar não é fraqueza. Foi ambos aprendendo que relacionamentos reais são bagunçados, imperfeitos e infinitamente valiosos.
Ela ouviu João cantando suavemente para Bia, algo brega sobre estrelas e luar, completamente desafinado, perfeito. Epílogo, 3 anos depois, domingo de primavera, mansão dos avós em Ipanema. Jardim cheio de vida. Beatriz, agora com três anos, corria atrás de borboletas enquanto o vovô Antônio fingia ser monstro perseguindo-a.
Ele estava frágil agora, com 87, mas ainda brincava como criança. “Vovô monstro!”, Bia gritava, rindo. “Gã! Vou pegar a Beatriz!” Isabel observava, mão em sua barriga arredondada. 5 meses de gravidez. Gêmeos dessa vez, um menino e uma menina. “Você acha que sobreviveremos a três?”, Ela perguntou João. Não. Ele riu.
Mas vamos amar cada segundo de caos. Vovô Roberto se aproximou, sentando ao lado deles. Vocês dois? Ele balançou a cabeça, olhos marejados. Quando fizemos aquele acordo, eu tinha esperança, mas isso ele gesticulou para Bia, para eles, para a família reunida. Isso é mais do que sonhamos.
Obrigado, Isabel disse emocionada, por acreditar, mesmo quando começamos errado. Ah, mas o final está certo, isso é o que importa. Roberto apertou mão dos dois. Vocês transformaram negócio em amor e amor em família. Vovó Maria apareceu com bolo gigante. Chegou a sobremesa. Todos se reuniram na mesa grande. Três gerações, avóz, pais, Beatriz. Logo mais dois bebês.
Antônio bateu no copo, exigindo atenção. Um brinde. Sua voz estava fraca, mas firme. A família, não aquela que nasce de papéis assinados, mas aquela que cresce de escolhas diárias, de amor cultivado, de perdão e segundas chances. Ele olhou para João e Isabel com orgulho imenso. Vocês dois começaram como estranhos, tornaram-se parceiros, depois amantes, agora pais.
E eu eu vivi para ver isso. Morerei feliz. Sapai, não fala de morrer. O pai de João protestou. Vou falar sim. Tenho 87 anos. Ganhei o direito. Mas Antônio estava sorrindo. Só digo que morrer feliz sabendo que essa família está unida, que João aprendeu que sucesso não é só dinheiro, que Isabel tem voz e poder, que Beatriz crescerá sabendo que é amada.
E esses gêmeos, ele apontou para a barriga de Isabel, também todos brindaram. Lágrimas e risos misturados. Mais tarde, quando Bia dormia no colo de João, ela só dormia em colos ultimamente, Isabel olhou ao redor, a mansão onde tudo começara, onde um contrato frio foi assinado, onde domingos eram tortura, agora era lar, calor, amor verdadeiro.
Em que você está pensando? João sussurrou para não acordar a filha. Em ciúmes. Isabel respondeu, sorrindo. O quê? Seu ciúme ridículo e imaturo mudou tudo. Se você não tivesse surtado com aquela mensagem de Lucas, não me lembre da minha pior hora, mas ele estava sorrindo também. Foi sua melhor hora. Isabel beijou-o suavemente.
Porque te forçou a ser honesto, a lutar por nós, a mudar. João entrelaçou os dedos livres nos dela. Então obrigado, ciúme idiota. Você nos deu isso. Eles ficaram assim por longo tempo. Família ao redor, filha dormindo, gêmeos chutando na barriga de Isabel, futuro brilhante pela frente, do contrato à consciência, da obrigação ao amor, de estranhos a almas gêmeas.
Não foi fácil, não foi perfeito, mas foi real. E no final, amor real. Aquele que cresce através de desafios, que é escolhido diariamente, que transforma pessoas, vale toda dor, todo erro, todo recomeço. Isabel Costa Silva e João Pedro Silva provaram isso e viveriam o resto de suas vidas provando de novo todos os dias. O amor verdadeiro não nasce pronto.
Ele é construído, tijolo por tijolo, escolha por escolha, até se tornar inquebrantável. M.