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A caneta Mon Blanc pesava como chumbo nas mãos trêmulas de Isadora. Ela olhou para o documento diante dela. Um contrato de casamento redigido por advogados caros, cheio de cláusulas sobre propriedades, finanças e obrigações mútuas. Faltava apenas uma coisa naquelas 20 páginas. Amor. Assine aqui, senorita Tavares. A voz do advogado era neutra, profissional, como se estivesse mediando a compra de um apartamento, não a venda de uma vida.
Isadora tinha 25 anos, cabelos castanhos que caíam em ondas naturais até a cintura. Olhos cor de mel que costumavam brilhar com sonhos e esperanças. Mas naquele momento, sentada na sala de reuniões de mogno e vidro da Almeida Holdings, aqueles olhos estavam opacos, resignados. Do outro lado da mesa, Rodrigo Almeida não desviava o olhar dos próprios documentos.
Seou da maior empresa de tecnologia do país aos 32 anos. Ele era a definição de sucesso. Ombros largos sob o terno Tom Ford, perfeitamente cortado, mandíbula marcada, olhos negros que intimidavam adversários em salas de reunião. Seu rosto estava impassível, como se estivesse aprovando uma fusão empresarial qualquer, porque era exatamente isso que aquele casamento representava para ele, uma fusão, uma jogada estratégica. Senr. Almeida.
O advogado o cutucou gentilmente. Rodrigo finalmente ergueu os olhos e, por uma fração de segundo, seu olhar encontrou o de Isadora. Ela viu então o que procurava desesperadamente, alguma emoção, algum sinal de humanidade, mas seus olhos eram apenas vazios, calculistas. Ele a analisava como analisaria números em uma planilha.
Vamos terminar logo com isso”, ele disse, sua voz grave ecoando pela sala. “Tenho uma videoconferência em 15 minutos”. As palavras foram como um tapa na cara de Isadora. Ela piscou rapidamente, afastando as lágrimas que ameaçavam cair. Não aqui, não na frente dele.
Sua mente voou para três semanas atrás, quando o pai tinha entrado em seu quarto no meio da noite, rosto pálido, mãos trêmulas. A empresa da família, três gerações de trabalho duro, estava à beira da falência. Dívidas, maus investimentos, a economia em colapso. Eles perderiam tudo. Existe uma saída. O pai havia sussurrado, incapaz de olhar nos olhos da filha.
Rodrigo Almeida está procurando uma esposa, alguém da sociedade de boa família, para melhorar sua imagem pública. Ele ofereceu ofereceu saudar todas as nossas dívidas em troca, em troca de mim. Isadora pensou naquele momento. Ele quer me comprar. Papai, você não pode estar falando sério, Isadora. Filha, a voz dele quebrou. São 50 funcionários, 50 famílias que dependem de nós. É sua avó que vai perder a casa onde criou seus filhos. É o nome da nossa família.
Eu não estaria pedindo isso se não estivéssemos completamente desesperados. E ali estava ela três semanas depois assinando sua vida como se assinasse um recibo. A caneta tocou o papel. Isadora escreveu seu nome com letras que pareciam pertencer à outra pessoa. Do outro lado, Rodrigo fez o mesmo. Sua assinatura era firme, decidida, sem hesitação.
“Parabéns aos noivos”, o advogado disse com um sorriso profissional que não alcançava os olhos. Não houve champanhe, não houve beijo. Rodrigo simplesmente se levantou, ajeitou os punhos da camisa e estendeu a mão para Isadora. uma mão para selar o negócio. Ela olhou para aquela mão grande, de dedos longos, com um rolex de ouro no pulso e sentiu seu coração se estilhaçar um pouco mais. Mesmo assim, colocou sua mão na dele.
O aperto foi breve, formal, impessoal. “A cerimônia será na próxima sexta-feira”, Rodrigo informou, já se virando para sair. “Minha assistente entrará em contato com os detalhes. Algo discreto, apenas família próxima. Não há necessidade de espetáculo. Claro que não. Isadora pensou amargamente. Afinal, isso é apenas mais uma transação empresarial para você, Rodrigo.
Ela o chamou, sua voz saindo mais fraca do que pretendia. Ele parou na porta, olhou por cima do ombro. Sim, tantas coisas que ela queria dizer. Você ao menos se importa? Isso não te incomoda nem um pouco? Como você consegue ser tão frio? Mas o que saiu foi apenas nada. Esquece.
Um músculo saltou na mandíbula dele, mas ele apenas assentiu e saiu, deixando atrás de si apenas o perfume caro de sua colônia e o som de passos decididos. Isadora ficou ali sozinha na sala de reuniões, encarando o contrato assinado. As lágrimas finalmente caíram, manchando o papel. Ela as enxugou rapidamente, envergonhada. A porta se abriu e uma mulher entrou.
aparentava 50 anos, cabelos grisalhos presos em um coque impecável, expressão gentil. Senrita Tavares, sou Helena, governanta da mansão Almeida. Vim buscá-la para conhecer sua nova casa. Nova casa? As palavras soaram tão erradas. Uma casa deveria ser um lar, um refúgio. Isadora tinha a impressão de que estava apenas mudando de uma prisão para outra, uma mais luxuosa, talvez, mas ainda uma prisão.
A mansão dos Almeida ficava em um condomínio fechado na zona sul da cidade, um palacete de três andares cercado por jardins que pareciam saídos de uma revista. Isadora desceu do carro e ficou paralisada diante da imponência do lugar. É grande”, ela murmurou. Helena sorriu com tristeza, como se soubesse exatamente o que passava pela cabeça da moça. “Senor Rodrigo não gosta de visitas, diz que precisa de espaço.
Na maior parte do tempo é só ele aqui. E agora a senhora?” É claro. Espaço, é claro, espaço para me evitar. Por dentro, a mansão era ainda mais intimidadora. Tetos altos, decoração minimalista em tons de cinza e branco, obras de arte caras que pareciam ter sido escolhidas por um designer, não por alguém que realmente as apreciava. Tudo era perfeito, impecável, sem alma.
“Esta será a sua suí”, Helena anunciou, abrindo uma porta no segundo andar. O quarto era enorme, cama kings com lençóis de algodão egípcio, closet do tamanho de um apartamento pequeno, banheiro de mármore com banheira de hidromassagem. Havia até uma varanda com vista para os jardins, mas Isadora mal conseguiu apreciar o luxo. “E o quarto de Rodrigo?”, ela perguntou, tentando manter a voz firme.
Helena hesitou no terceiro andar, “Senhorita. A ala dele é separada. Claro que é. A cerimônia de casamento foi exatamente como Rodrigo prometera, pequena, discreta, eficiente. 20 pessoas na capela privada da família Almeida, os pais de Isadora, visivelmente aliviados, mas incapazes de olhar nos olhos da filha, a mãe de Rodrigo, uma mulher elegante e fria, como o filho, alguns tios e primos.
Isadora usava um vestido de renda branco, simples, mas bonito, escolhido às pressas. Rodrigo estava impecável em seu terno preto. Eles pareciam o casal perfeito para qualquer um que não prestasse atenção nos detalhes, no jeito que ele não a tocava, a não ser quando estritamente necessário, no sorriso forçado dela, que não alcançava os olhos, na distância cuidadosa que mantinham um do outro.
“Pode beijar a noiva”, o juiz de paz anunciou. Rodrigo se virou para Isadora. Por um momento, seus olhares se encontraram e ela viu algo passar rapidamente por aqueles olhos negros. Arrependimento, dúvida, mas desapareceu tão rápido que ela pensou ter imaginado.
O beijo foi casto rápido, apenas um roçar de lábios para as aparências não significou nada. A festa foi servida no salão da mansão. Champanhe caro, canapés sofisticados, pequenos discursos vazios. Isadora sorriu até seus músculos faciais doerem. Rodrigo ficou o tempo todo perto da mãe, discutindo negócios em voz baixa com um tio que era acionista da empresa.
Quando os convidados finalmente foram embora e a noite caiu, Isadora se viu sozinha no quarto. Sua suíte, Helena tinha dito, enfatizando o pronome possessivo, ainda vestida no vestido de noiva. Ela esperou, esperou Rodrigo entrar, dizer algo, qualquer coisa, talvez explicar como seria a vida deles dali em diante. Talvez apenas estar presente. Meia-noite chegou e passou. 1 da manhã, duas.
Às 3 da madrugada, Isadora finalmente tirou o vestido, pendurando-o cuidadosamente no closet. Vestiu um camisola simples e se deitou na cama kings que parecia grande demais, fria demais, vazia demais. Foi só então, com a lua entrando pela varanda e banhando o quarto em tons de prata, que ela permitiu que as lágrimas caíssem.
Soluços silencios sacudiram seu corpo enquanto ela abraçava um travesseiro tentando preencher o vazio ao seu lado. Ele nem veio. Na nossa noite de núpcias, ele nem teve a decência de ao menos me desejar boa noite. Lá embaixo, no escritório do primeiro andar, Rodrigo permanecia sentado em sua cadeira de couro, um copo de whisky pela metade em sua mão. Ele podia ouvir, mesmo a três andares de distância, os sons abafados do choro de Isadora. Sua mão apertou o copo com força.
Por que se sentia tão culpado? Ele tinha deixado tudo claro. Era um arranjo de negócios. Ela sabia onde estava se metendo. Mas você não precisa ser cruel. Uma voz no fundo de sua mente sussurrou. poderia ao menos ter ido se despedir dela. É a noite de casamento de vocês, mesmo que seja uma farça. Rodrigo tomou o resto do whisky de um gole só e se levantou, determinado a ir até o quarto de Isador dizer algo, qualquer coisa para fazer aquele sentimento horrível em seu peito desaparecer.
Mas quando chegou à porta dela, levantando a mão para bater, ouviu o som do choro. Já tinha cessado. Silêncio. Ela devia ter adormecido. Melhor assim, ele pensou, abaixando a mão. É mais fácil manter distância, mais fácil não se envolver, mais fácil lembrar que isso é só negócios. Rodrigo voltou para seu próprio quarto no terceiro andar, deitou-se em sua cama, também vazia, também fria, e encarou o teto até o sol raiar. Nenhum dos dois dormiu de verdade naquela noite.
E assim começou o casamento de Isadora e Rodrigo, duas pessoas sob o mesmo teto, presas em um contrato, vivendo vidas separadas. Mas o que nenhum dos dois sabia era que aquela dor, aquela solidão, aquele vazio, seria apenas o começo de uma jornada que transformaria ambos de maneiras que jamais poderiam imaginar. Três meses se arrastaram como 3 anos.
Isadora aprendeu a rotina da mansão com uma eficiência que a surpreendia. Acordava às 7 da manhã, tomava café sozinha na enorme mesa de jantar que cabia 20 pessoas. Helena sempre deixava tudo preparado. Frutas frescas, pão francês quentinho, suco de laranja espremido na hora. Às vezes, se tivesse sorte, encontrava uma xícara de café ainda morna no balcão da cozinha.
Evidência de que Rodrigo tinha passado por ali minutos antes, mas nunca o via. Ele era como um fantasma, uma presença que se sentia, mas não se via. Isadora sabia que ele existia apenas pelos pequenos sinais, o perfume de sua colônia que ficava no ar, os ternos que apareciam na lavanderia, o som do motor de seu porche saindo da garagem antes do amanhecer. Bom dia, senora Almeida. Helena a cumprimentava todas as manhãs com o mesmo sorriso gentil e preocupado.
Senora Almeida, Isadora ainda estremecia ao ouvir aquele nome. Parecia pertencer a outra pessoa, não a ela. As manhãs eram preenchidas com nada. Ela tentou ler, mas as palavras dançavam na página sem fazer sentido. Tentou assistir TV, mas tudo parecia insípido, sem cor.
caminhou pelos jardins até conhecer cada rosezeira, cada fonte, cada banco de pedra. À tarde, Helena servia almoço, sempre pratos elaborados que a governanta preparava com carinho, tentando fazer Isadora comer mais do que algumas garfadas. “A senhora está emagrecendo”, Helena murmurava preocupada. precisa se alimentar melhor. Mas Isadora não tinha fome. A solidão tinha um jeito de roubar o apetite.
Ela tentou decorar seu quarto, dar um toque pessoal, comprou algumas plantas, colocou fotos da família em portaretratos, organizou seus livros favoritos em uma instante, mas toda vez que olhava ao redor, só conseguia ver uma gaiola dourada, luxuosa, confortável, mas ainda uma gaiola. O jantar era sempre às 8 da noite.
Helena preparava a mesa com duas configurações, uma na cabeceira, outra do lado. Isadora descia pontualmente, vestida em roupas elegantes que escolhia com cuidado. Maquiagem leve, cabelos penteados. Nos primeiros dias tinha esperança. Talvez hoje ele venha. Talvez hoje ele se junte a mim. Mas o lugar de Rodrigo permanecia sempre vazio. O Senr. Rodrigo mandou avisar que não virá para o jantar.
Helena informava com o mesmo tom de desculpas. Reunião de última hora ou jantar com investidores ou videoconferência com o escritório de Londres. Sempre uma desculpa, sempre a mesma ausência. Isadora jantava sozinha, os talheres de prata tininando no silêncio opressivo do salão de jantar.
Às vezes, Helena tentava fazer conversa, mas Isadora mal ouvi. Sua mente estava sempre em outro lugar, perguntando-se: “O que há de tão errado comigo? Que meu próprio marido não suporta estar na mesma sala que eu?” Após o jantar, ela subia para seu quarto. A cama King Size a esperava, tão vazia quanto na noite de Núciassias.
Ela havia tentado nas primeiras semanas esperar acordada. Talvez Rodrigo viesse dar boa noite. Talvez ele apenas aparecesse para conversar sobre o dia, como casais normais faziam, mas ele nunca apareceu. Às vezes, por volta da meia-noite ou uma da madrugada, ela ouvia seus passos no corredor. Ele subia direto para o terceiro andar, para seu quarto separado, sem nem ao menos hesitar em frente à porta dela.
Sou apenas um móvel para ele. Isadora pensava nas noites sem sono, uma parte do contrato que ele preferiria ignorar. Na quinta-feira da 12ª semana de casamento, Isadora decidiu tentar algo diferente. Ela acordou mais cedo, às 5:30 da manhã e desceu para a cozinha. Se Rodrigo sempre saía antes dela acordar, então ela acordaria mais cedo. Preparou o café.
Suas mãos tremiam de nervosismo enquanto mexia o açúcar. Torrou o pão, organizou a mesa. Às seis em ponto, ouviu os passos dele descendo as escadas. Seu coração disparou. Ela alisou o vestido, verificou o cabelo no reflexo da janela, preparou um sorriso. Rodrigo entrou na cozinha e parou de repente ao vê-la ali.
“Bom dia”, Isadora disse, sua voz saindo mais aguda que o normal. “Eu preparei café. Pensei que poderíamos tomar juntos antes de você sair para o trabalho. Por um momento, apenas um momento, algo passou pelo rosto dele. Surpresa, culpa? Mas rapidamente a máscara voltou. “Não tenho tempo”, ele disse, sua voz neutra. “Tenho uma reunião às 6:30.
” Ele pegou uma xícara, despejou o café rapidamente, nem olhou para as torradas que ela tinha preparado com tanto cuidado. “Rodrigo!” Isadora deu um passo em sua direção. Podemos ao menos conversar 5 minutos. Ele bebeu o café em dois goles rápidos, já se virando para sair. Sobre o quê? A pergunta era tão fria, tão distante, que Isadora sentiu algo se quebrar dentro dela. Sobre qualquer coisa. Ela sussurrou.
Sobre nós, sobre como tornar isso mais fácil. Nós estamos casados, Rodrigo. Moramos na mesma casa. Não podemos continuar vivendo como estranhos. Ele parou na porta de costas para ela. Os ombros tensionaram sob o terno impecável. É exatamente assim que devemos viver, Isadora. Como estranhos educados sob o mesmo teto. Foi isso que acordamos? Não. Ela retrucou, sentindo uma fagulha de raiva atravessar a dor.
Nós não acordamos isso. Você decidiu isso. Eu nunca tive escolha em nada disso. Rodrigo finalmente se virou para encará-la. Seus olhos negros estavam frios, impenetráveis. Você escolheu assinar aquele contrato. Ninguém a forçou. Não tinha opção. Minha família. Exatamente. Ele a cortou. Sua família precisava da minha ajuda financeira.
Eu preciso de uma esposa adequada para melhorar minha imagem pública. É uma transação justa. Não entendo porque você insiste em complicar as coisas tentando transformar isso em algo que nunca vai ser. Cada palavra era uma punhalada. em algo que nunca vai ser. Isadora repetiu lentamente.
Tipo, um casamento de verdade. Precisamente. O silêncio que se seguiu era ensurdecedor. Isadora sentiu as lágrimas queimando atrás dos olhos, mas se recusou a deixá-las cair. Não na frente dele. Ela já tinha se humilhado o suficiente. Entendi. Ela disse sua voz saindo perigosamente calma. Obrigada por deixar isso claro.
Rodrigo assentiu já pegando sua maleta. Vou viajar para São Paulo. Volto na segunda-feira. Quatro dias, quatro dias de paz, sem sentir a ausência dele como um fantasma pela casa. Deveria se sentir aliviada, mas tudo que sentiu foi vazia. Ele saiu sem dizer mais nada. O som do porche ligando ecoou pela casa silenciosa.
Isadora ficou ali parada na cozinha, encarando o café que tinha preparado com tanto carinho, as torradas que estavam ficando frias. Helena apareceu na porta vendo a cena, a mesa posta para dois, a senorita Isadora de pé sozinha tentando não chorar. “Senhora,” ela começou gentilmente. “Não, Helena.” Isadora levantou a mão.
Por favor, eu só preciso de um momento. A governanta assentiu e discretamente desapareceu. Isadora se sentou devagar em uma das cadeiras, pegou uma das torradas e deu uma mordida. Estava seca, sem gosto. Ela mastigou mecanicamente, engoliu com dificuldade. Isso foi patético, ela pensou. Acordo de madrugada, preparo café, como uma esposa apaixonada de filme e ele mal olha para mim.
Que idiota, que completa idiota. Mas não era apenas essa manhã. Eram todas as manhãs, todos os jantares solitários, todas as noites em que ela dormia abraçada a um travesseiro, fingindo que era um marido de verdade ao seu lado. 3 meses, 12 semanas, 90 dias de viver como um fantasma na própria vida.
Quanto tempo mais vou aguentar isso? Naquela noite, Isadora fez algo que não fazia desde a adolescência. pegou seu diário empoeirado da gaveta e começou a escrever. Querido diário, tem dias que eu não me reconheço no espelho. Meus olhos perderam o brilho. Meu sorriso parece falso até para mim mesma. Emagreci 6 kg. Helena fica preocupada, mas como posso comer quando cada garfada parece engasgar na garganta? Eu tento, Deus sabe que eu tento. Acordo cedo, me arrumo, preparo o café e espero.
Mas ele sempre tem uma reunião, uma viagem, um compromisso mais importante. Tudo é mais importante do que eu. Às vezes, nas noites sem sono, eu fico imaginando. Será que ele ao menos pensa em mim? Quando está em suas reuniões intermináveis, quando viaja para outras cidades, quando dorme no escritório evitando subir para cá? Será que em algum momento ele se lembra que tem uma esposa? Ou eu sou apenas mais um item marcado em sua lista de obrigações cumpridas.
O pior não é a solidão, é sentir solidão mesmo sabendo que ele está aqui do outro lado das paredes desta mansão. É saber que ele escolhe me ignorar, que eu não valho nem 5 minutos do tempo precioso dele. Mamãe ligou hoje, perguntou se eu estava feliz. Eu menti. Disse que sim, que tudo estava maravilhoso, que Rodrigo era atencioso.
Ela ficou tão aliviada. Valeu a pena. Então ela disse, o sacrifício valeu a pena, mas eu não sei se valeu. Salvar a empresa da família, sim, mas perder a mim mesma no processo, isso vale alguma coisa? Não sei por quanto tempo mais consigo viver assim, como uma sombra, como algo opcional, como nada.
Isadora fechou o diário com força, sentindo as lágrimas finalmente escaparem. Ela se enfiou debaixo das cobertas e chorou até adormecer. O travesseiro encharcado de lágrimas salgadas e sonhos destruídos. E em algum lugar da cidade, em um hotel cinco estrelas em São Paulo, Rodrigo Almeida terminava mais uma reunião de negócios, desligava o laptop e olhava para o telefone. O nome de Isadora estava lá nos contatos.
Seria tão fácil ligar, perguntar como ela estava, talvez apenas conversar, mas ele não ligou, porque ligar significaria admitir que se importava. E importar-se era perigoso. Importar-se era fraqueza. Importar-se significava poder se machucar. E Rodrigo Almeida tinha passado a vida inteira construindo muros tão altos que nada nem ninguém pudesse machucá-lo.
Nem mesmo a esposa que chorava sozinha em sua casa, a quilômetros de distância. O ponto de virada chegou em uma manhã de sábado, seis semanas depois daquela conversa desastrosa na cozinha. Isadora estava em frente ao espelho do banheiro, o rosto inchado de tanto chorar na noite anterior. Mais uma noite em que Rodrigo tinha cancelado o jantar, que surpreendentemente tinha prometido comparecer.
Ela olhou para seu reflexo e mal se reconheceu. Quando foi a última vez que tinha sorrido de verdade? Quando foi a última vez que tinha feito algo por si mesma? Não na esperança de chamar a atenção de um marido que a tratava como mobília. Chega”, ela sussurrou para a mulher no espelho. “Chega de definhar por alguém que não te quer.” A decisão não foi dramática.
Não houve música inspiradora ou momento de revelação cinematográfico. Foi apenas uma jovem mulher cansada, decidindo que se ia viver naquele casamento sem amor, pelo menos viveria por si mesma. Na segunda-feira, Isadora acordou e não chorou. fez suas coisas sem esperar que Rodrigo aparecesse. Tomou café lendo um livro que tinha comprado meses atrás, mas nunca abriu. As palavras finalmente fizeram sentido.
Helena, ela chamou após terminar a refeição. Você conhece alguma escola de dança aqui por perto? A governanta ergueu as sobrancelhas, surpresa, mas visivelmente aliviada. A senhora costumava dançar na adolescência, balé clássico, contemporâneo. Abandonei tudo quando entrei na faculdade. Isadora sorriu. Um sorriso pequeno, mas real. Acho que está na hora de voltar.
A Academia Movimento ficava a 20 minutos da mansão. Era um estúdio pequeno, aconchegante, com cheiro de esforço e sonhos. Isadora inscreveu-se nas aulas de dança contemporânea para iniciantes. Mesmo tendo sido boa antigamente, seu corpo estava fraco, enferrujado pelo luto que havia feito de sua vida nos últimos meses. A primeira aula foi humilhante. Ela não conseguia acompanhar os movimentos. Tropeçava nos próprios pés.
Seus músculos gritavam de dor. Mas pela primeira vez em meses, Isadora sentiu algo além de dor emocional. Sentiu seu corpo existindo, suando, movendo-se. Sentiu-se viva. Não desista. Marina, a instrutora, disse após a aula, vendo Isadora massagear as pernas doloridas. Seu corpo lembra, só precisa redespertar.
Isadora voltou na quarta-feira e na sexta, e na semana seguinte aumentou para quatro vezes por semana. Com o tempo, os movimentos foram ficando mais naturais, seu corpo recuperando a flexibilidade perdida. Ela emagreceu mais, mas dessa vez não pela tristeza. Era o músculo definindo, o corpo ganhando força. Ela começou a usar roupas diferentes. Nada muito ousado.
Isadora ainda era reservada por natureza, mas parou de usar apenas cores neutras. Comprou um vestido amarelo vibrante, uma blusa vermelha. Jans que de fato mostravam que ela tinha curvas. “A senhora está linda hoje”, Helena comentou uma manhã vendo Isadora descer as escadas em um macacão azul marinho, cabelos presos em um rabo de cavalo alto. “Obrigada, Helena”.
Isadora pegou sua bolsa, verificou as chaves do carro que Rodrigo tinha colocado à sua disposição, mas que ela raramente usava. “Vou passar o dia fora. Tem uma exposição de arte no centro que quero ver.” A governanta sorriu. Aproveite, senhora. Está na hora de viver um pouco. As semanas se transformaram em meses. Isadora se inscreveu em um curso de curadoria de arte online, algo que sempre quisera estudar, mas nunca tinha tido coragem.
Frequentou verniçagens, galerias, museus, fez amizade com outros alunos da Academia de Dança, começou a ter uma vida que não girava em torno do homem que a ignorava. Ela ainda tomava café sozinha, ainda jantava sozinha. A cama ainda estava vazia à noite, mas agora quando deitava, estava cansada das aulas de dança, mentalmente estimulada pelas leituras sobre arte, planejando a próxima exposição que visitaria.
A dor ainda estava lá, constante, latejante, como uma ferida que nunca cicatrizava completamente. Toda vez que cruzava com Rodrigo no corredor, ocasiões raras, mas que aconteciam. Toda vez que via fotos dele em revistas de negócios, toda vez que Helena mencionava casualmente, o Senr. Rodrigo pediu que preparasse o jantar para 10 pessoas, tem investidores vindo.
A dor voltava, a lembrança de que ela era a esposa que nem ao menos merecia ser convidada para jantares na própria casa. Mas Isadora estava aprendendo a viver com a dor. Não a ignorar, isso seria impossível, mas não deixar que a consumisse completamente. Foi em uma tarde de quinta-feira, 4 meses e meio após o casamento, que Rodrigo finalmente a viu. Realmente viu.
Ele tinha voltado mais cedo de uma viagem, reunião cancelada, vou adiantado, e entrou na mansão esperando o silêncio usual, mas ouviu música vindo do salão. clássico, algo de Chopan, curioso, e nem ele mesmo sabia porque estava curioso. Rodrigo seguiu o som e parou na porta do salão completamente congelado. Isadora estava dançando.
O salão tinha sido transformado. Móveis afastados, criando um espaço aberto. Ela estava descalça, usando apenas leggings pretas e uma regata, cabelos presos em um coque que deixava seu pescoço exposto e dançava. Não era apenas mexer o corpo ao som da música, era arte, poesia em movimento.
Cada gesto era fluido, controlado, cheio de emoção. Ela girava, saltava, seus braços criando formas no ar. Seus olhos estavam fechados, completamente imersa na música e no movimento. Rodrigo ficou paralisado. Quem é essa mulher? Não era a moça tímida e triste que tinha assinado o contrato 4ro meses atrás? Não era a sombra que ele vislumbrava ocasionalmente pelos corredores.
Esta mulher era diferente, forte, confiante, viva. Seu corpo tinha mudado, mais magro, sim, mas de um jeito saudável agora. Músculos definidos, movimentos ágeis. O rosto tinha uma expressão que ele nunca tinha visto. Concentração, paixão, alegria e tristeza misturadas em uma emoção complexa que ele não conseguia nomear. Ela era linda, não de um jeito convencional de revista, mas de um jeito real, humano, genuíno, como ele não tinha percebido antes. “Porque você nunca parou para olhar?” Uma voz sussurrou em sua mente.
“Você estava tão obsecado em manter distância que nunca viu quem ela realmente era.” A música terminou. Isadora abriu os olhos, ainda segurando a pose final. Um braço estendido para o céu, o outro sobre o coração, corpo ligeiramente inclinado. E então ela o viu. O constrangimento atravessou seu rosto como uma onda. Ela rapidamente baixou os braços, pegou uma toalha próxima, enxugou o suor do rosto.
Rodrigo, não. Não sabia que você estava em casa. Ele deveria dizer algo. Deveria fazer algum comentário, mas sua voz tinha sumido. Eu posso limpar tudo. Ela continuou rapidamente, já começando a empurrar os móveis de volta ao lugar. Eu só Helena disse que você não voltava antes de sexta, então pensei, você dança bem. As palavras saíram antes que ele pudesse filtrá-las.
Isadora parou surpresa. Obrigada. Um silêncio desconfortável se instalou. Rodrigo não sabia o que fazer com as mãos, onde olhar. Aquilo era ridículo. Ele comandava salas de reunião cheias de executivos intimidadores sem pestanejar, mas não conseguia manter uma conversa simples com a própria esposa. “Eu não sabia que você dançava”, ele disse. Finalmente. Algo passou pelo rosto dela. “Uma mistura de tristeza e resignação.
Tem muita coisa que você não sabe sobre mim, Rodrigo. Sua voz não era acusatória, apenas factual. Mas isso nunca foi exatamente prioridade sua. Foi direto, honesto, doloroso. Reis adora. Não. Ela levantou a mão. Não precisa de discursos ou desculpas. Eu entendi. Você deixou muito claro naquela manhã na cozinha. Isso aqui ela gesticulou entre eles. Não é real. Então, está tudo bem.
Eu parei de esperar que fosse. Ela pegou sua garrafa de água e passou por ele em direção às escadas. Rodrigo a viu subir, cada degrau parecendo aumentar a distância entre eles. E pela primeira vez desde o casamento, Rodrigo sentiu algo que não era apenas indiferença ou irritação.
Sentiu perda, como se algo precioso estivesse escorregando por entre seus dedos, e ele nem ao menos tinha percebido que estava segurando. Naquela noite, Rodrigo não conseguiu trabalhar. ficou no escritório encarando documentos sem vê-los, sua mente repetindo a imagem de Isadora dançando, a paixão em seus movimentos, a vida em seus olhos e, então, suas próprias palavras: “Eu parei de esperar que fosse” Ela tinha desistido dele.
Depois de 4ro meses e meio sendo ignorada, maltratada, tratada como algo descartável, ela tinha finalmente desistido. “Não era isso que você queria?”, Ele perguntou a si mesmo, alguém que entendesse o lugar dela, que não exigisse mais do que você está disposto a dar? Mas se era isso que ele queria, porque seu peito doía como se algo estivesse sendo arrancado? Rodrigo abriu o laptop e digitou o nome de Isadora no Google, algo que nunca tinha feito antes.
As primeiras páginas eram sobre o casamento deles. CEO bilionário Rodrigo Almeida casa-se em cerimônia íntima. Rodrigo Almeida oficializa a união com Isadora Tavares. Fotos deles na saída da capela, ambos com sorrisos forçados. Mas depois ele encontrou outras coisas. Fotos antigas. Isadora adolescente em um palco usando um tutu clássico. Ela tinha ganhado prêmios. Tinha sido chamada de prodígio.
Jovem bailarina promete revolucionar dança contemporânea brasileira. E então, nada. Aos 18 anos, ela tinha simplesmente parado. Entrou na faculdade de administração, provavelmente pressão do pai para entrar no negócio da família, deixou o sonho para trás. Ela sacrificou sua paixão pela família. Rodrigo percebeu, assim como sacrificou sua liberdade por eles.
Ela está acostumada a colocar as necessidades dos outros antes das suas. Ele continuou pesquisando redes sociais, entrevistas antigas. Descobriu que ela amava arte moderna, especialmente obras de Tarcila do Amaral, que seu livro favorito era A insustentável leveza do ser, que ela gostava de risoto com fungue porcine e odiava café sem açúcar.
Cada informação era uma peça de um quebra-cabeça que ele nunca tinha se importado em montar. Às 3 da madrugada, Rodrigo finalmente desligou o computador e subiu para seu quarto. Passou em frente à porta de Isadora e hesitou. Bata, peça desculpas. Diga que foi um idiota que quer tentar fazer isso direito.
Mas orgulho e medo o mantiveram paralisado. Medo do que ele não saberia dizer. Talvez medo de descobrir que era tarde demais, que ela realmente tinha desistido. Rodrigo continuou andando para seu próprio quarto, mas pela primeira vez em meses ele não dormiu pensando em planilhas e estratégias de negócios.
Ele dormiu pensando em uma mulher dançando descalça, em movimentos cheios de paixão que ele nunca tinha percebido que existiam e em como tinha sido um completo idiota. A vida continuou. Rodrigo voltou a viajar, a se enterrar em trabalho. Isadora continuou sua rotina, dança, arte, estudos. Eles viviam na mesma casa como planetas em órbitas diferentes, às vezes se cruzando brevemente, mas nunca realmente colidindo. Mas algo tinha mudado. Rodrigo começou a notar coisas.
Como Isadora acordava cantarolando baixinho quando voltava da academia de dança, como ela tinha adicionado plantas por toda a mansão, pequenos vasos de suculentas, jarros com lírios brancos, como ela usava cores agora, não apenas os tons neutros do início. Ele notou como Helena sorria mais quando falava com Isadora, como o motorista Paulo parecia genuinamente gostar de levá-la aos lugares.
Como a mansão, que sempre parecera um mausol frio, tinha adquirido uma leveza que ele não conseguia explicar. É ela. Ele percebeu uma noite, olhando ao redor do salão e vendo um vaso com giraçóis na mesa de centro. Ela trouxe vida para esta casa e eu nem percebi. Foi nesse clima de consciência crescente, mas não admitida, que o convite chegou.
Rodrigo estava em seu escritório, finalizando um contrato de fusão quando Helena bateu na porta. Senr. Rodrigo, desculpe interromper, mas chegou isto. Ela entregou um envelope cremoso, pesado, claramente caro. Ele reconheceu a caligrafia imediatamente, sua irmã, Melissa. abriu o envelope e encontrou um convite de casamento elaborado, cheio de detalhes em dourado e letras cursivas.
Melissa Almeida e Fernando Costa ten o prazer de convidá-lo para celebrar sua união. O casamento seria dali há três semanas, sábado às 5 da tarde, na fazenda da família, onde eles passavam verões na infância. Rodrigo franziu a testa. Melissa tinha falado sobre o casamento. Claro. Ela não parava de falar na verdade ligando toda a semana.
com atualizações sobre flores, vestidos, cardápios, mas de alguma forma a realidade de ter que comparecer não tinha realmente se materializado em sua mente até aquele momento. E então veio a segunda percepção. Ele teria que ir acompanhado de sua esposa, que mal conhecia e que ele tinha evitado meticulosamente por 5 meses. Merda.
Rodrigo adiou a conversa por três dias. Elaborou cinco discursos diferentes em sua cabeça, descartou todos. Finalmente, em uma quinta-feira à noite, ele desceu para o salão de jantar. Pela primeira vez em meses, Isadora não estava sozinha.
Ela tinha companhia, uma amiga que Rodrigo não conhecia, uma mulher de cabelos curtos e coloridos que gesticulava animadamente enquanto falava. As duas estavam rindo de algo. Taças de vinho na mão, uma bandeja de queijos e frutas entre elas. E então Marina disse que se eu não parasse de tentar fazer o salto triplo antes de dominar o duplo, eu ia quebrar o tornozelo. Isadora contava, rindo.
Mas você me conhece. Sempre fui teimosa. Ela parou ao ver Rodrigo na entrada. Seu sorriso diminuiu, mas não desapareceu completamente, sinal de quanto ela tinha mudado. Nos primeiros meses, ela ficava visivelmente tensa em sua presença. “Rodrigo”, ela disse surpresa. “Não sabia que estava em casa. Cheguei há uma hora.
” Ele olhou para a amiga que o analisava com um olhar crítico que ele não estava acostumado a receber. “Desculpe interromper. Esta é Júlia.” Isadora apresentou. Nos conhecemos nas aulas de dança. Júlia, este é Rodrigo, o famoso marido. Júlia disse, seu tom carregando um peso que Rodrigo não gostou. Ela sabia. Obviamente Isadora tinha desabafado com a amiga sobre o casamento desastroso. Um silêncio desconfortável pairou.
Eu vou indo Júlia anunciou já levantando. Tenho aula cedo amanhã. Ela beijou a bochecha de Isadora e sussurrou algo no ouvido dela que fez Isadora revirar os olhos. Mas com um sorriso. Quando a amiga saiu, Isadora começou a recolher as taças e a bandeja. Deixa isso, Rodrigo disse. Helena, cuida amanhã. Eu preciso falar com você.
Isadora o olhou com as sobrancelhas erguidas, claramente surpresa, mas se sentou novamente. Tudo bem. Rodrigo puxou uma cadeira, mas ao invés de sentar à cabeceira, como sempre fazia em suas raras aparições na sala de jantar, sentou na cadeira ao lado da dela, próximo demais. Ele podia sentir o perfume dela, algo floral, leve.
Melissa está se casando. Ele começou tirando o convite do bolso do palitó. Daqui a três semanas. Que lindo, Isadora disse. Mas sua voz era cautelosa. Ela sabia que havia algo mais. Vai ser uma festa grande. Toda a família vai estar lá. Amigos, parceiros de negócios vai ter. Ele hesitou. Muita atenção. Muitas perguntas sobre nós. Entendimento cruzou o rosto dela. Ah, precisamos ir juntos.
Como casal, Rodrigo forçou as palavras. Seria estranho se eu aparecesse sozinho cinco meses depois de nos casarmos. Isadora ficou em silêncio por um longo momento. Quando falou, sua voz estava controlada, mas ele podia ouvir a dor subjacente. Claro, não podemos deixar as pessoas descobrirem que nosso casamento perfeito é uma farsa, não é, Isadora? Não, não, eu entendo. Ela levantou, começou a andar em direção às escadas.
Vou estar pronta. Vista adequada, comportamento adequado, sorriso adequado. Afinal, é para isso que você me paga, certo? para parecer a esposa perfeita quando é conveniente. As palavras foram como um soco no estômago. Rodrigo se levantou também. Não é assim. Ela parou, virou-se. Seus olhos cor de mel estavam brilhando. Raiva ou lágrimas ele não sabia dizer.
Então, como é, Rodrigo? Me explica porque daqui de onde estou pareço uma funcionária convocada para um evento corporativo, vista algo adequado. Mantenha as aparências. São suas palavras, não minhas. Ela estava certa, completamente certa, e ele odiava isso. Eu só eu preciso que seja convincente, ele disse, sabendo que estava cavando um buraco maior, mas incapaz de parar.
Melissa é importante para mim. Não quero que o dia dela seja estragado por fofocas sobre nosso casamento. Isadora riu. Um som sem humor. Claro, o dia de Melissa. Porque Deus nos livre que alguém descubra que o grande Rodrigo Almeida tem um casamento falho, que ele comprou uma esposa e nem ao menos tem a decência de fingir que ela existe.
Eu não comprei você não? Ela deu um passo em sua direção e Rodrigo ficou surpreso com a intensidade em seus olhos. Você pagou as dívidas da minha família em troca de eu ser sua esposa. Se isso não é comprar, eu não sei o que é. Foi um acordo de negócios. Você sabia disso desde o início? Sabia sim e concordei, mas não concordei em ser tratada como se eu não existisse. Não concordei em viver como um fantasma na própria casa, Rodrigo.
Não concordei em me sentir tão vazia, tão invisível, tão inútil, que tem dias que eu parou, mordendo o lábio, claramente tendo dito mais do que pretendia. Que você o quê? Rodrigo perguntou, seu peito apertando com algo que ele não reconhecia. Isadora balançou a cabeça, as lágrimas finalmente escapando. Nada. Esquece.
Ela enxugou o rosto rapidamente. Eu vou ao casamento da sua irmã. Vou sorrir, vou ser encantadora, vou fazer tudo certo. Afinal, fui treinada a vida inteira para sacrificar minha felicidade pelo bem da família. Isso não é diferente. Ela começou a subir as escadas. Isadora, espera. Mas ela já tinha ido à porta de seu quarto fechando com um som definitivo.
Rodrigo ficou ali parado no meio do salão de jantar, com o convite de casamento da irmã em mãos e o peso da culpa esmagando seu peito. “Ela tem razão”, ele admitiu para si mesmo. “Ela tem razão sobre tudo. Eu a tratei como se ela não existisse, como se ela fosse apenas um item em um contrato.” Ele pensou nas palavras dela.
“Tem dias que eu Dias que ela O quê? O que ela estava prestes a dizer antes de se interromper? Medo gelado atravessou suas veias. Será que ele a tinha machucado tão profundamente? Será que a solidão que ele tinha imposto a ela era tão destrutiva assim? Rodrigo subiu para seu quarto, mas passou novamente em frente à porta de Isadora. Desta vez, ele ouviu sons abafados de choro do outro lado.
Sua mão foi para a maçaneta, mas no último segundo ele recuou. Você não tem direito de confortá-la. Você é a razão pela qual ela está chorando. E em seu quarto, Isadora chorava no travesseiro, abraçando a si mesma, desejando ter força para simplesmente ir embora.
Mas ela tinha assinado um contrato, tinha feito um acordo e Isadora Tavares ou Almeida agora, sempre cumpria suas promessas, mesmo quando isso a destruía por dentro. As três semanas passaram em um borrão de tensão não resolvida. Rodrigo tentou falar com Isadora mais algumas vezes, mas ela se tornou especialista em evitá-lo, saindo de manhã cedo, voltando tarde, sempre com algum compromisso, alguma aula, alguma desculpa.
Ele comprou um vestido para ela, um azul midnight que a estilista garantiu que seria perfeito. Deixou a caixa na porta do quarto dela com um bilhete simples para o casamento. R: Nenhuma resposta. A caixa simplesmente desapareceu porta adentro. No dia do casamento, eles viajaram em silêncio. A fazenda da família ficava a 2 horas da cidade no interior. O motorista Paulo os levou no Mercedes de Rodrigo.
A tensão no ar tão espessa que podia ser cortada com uma faca. Isadora passara a viagem toda olhando pela janela, fones de ouvido nos ouvidos, uma barreira clara de não fale comigo. Rodrigo trabalhava no laptop fingindo revisar contratos, mas na verdade lendo o mesmo parágrafo cinco vezes.
Quando finalmente chegaram à fazenda, o sol já estava começando a se pôr, banhando tudo em tons dourados. A propriedade estava irreconhecível, transformada por decoradores em um cenário de conto de fadas, com luzes penduradas nas árvores, flores em todo lugar, mesas elegantemente arrumadas. “Nós chegamos, senhora e senhor Almeida”, Paulo anunciou, abrindo a porta.
Rodrigo saiu primeiro ajeitando o smoking e então se virou para ajudar Isadora a sair do carro e perdeu completamente o fôlego. O vestido que ele tinha escolhido era de fato perfeito. O azul midnight realçava os olhos cor de mel dela, que pareciam capturar a luz do entardecer. O vestido era longo, justo no corpo até os quadris e depois caindo em ondas suaves. Um decote modesto, mas elegante, alças finas. Ela tinha soltado os cabelos.
que caíam em ondas suaves sobre os ombros. Mas não era apenas o vestido, era ela. Era o jeito que ela segurava a cabeça erguida, os ombros para trás, a maquiagem sutil que destacava seus olhos, os sapatos de salto que a faziam parecer mais alta, mais confiante. Ela estava deslumbrante.
“Está bom?”, Isadora perguntou, sua voz fria, adequado o suficiente para suas necessidades. As palavras quebraram o trans. Rodrigo piscou, percebendo que estava encarando. Está você está linda, ele disse, sua voz saindo mais rouca do que pretendia. Algo passou pelo rosto dela, surpresa, talvez, ou desconfiança, mas rapidamente a máscara voltou. Obrigada. Ela aceitou seu braço porque não havia escolha, não porque queria.
Vamos logo com isso. A festa já estava em pleno andamento. Mais de 200 convidados circulavam pelos jardins, o som de música ao vivo flutuando pelo ar. Melissa tinha ido ao laout, como era típico dela. Fontes de chocolate, uma pista de dança iluminada, até fogos de artifício estavam programados para mais tarde.
No momento que Rodrigo e Isadora entraram, as cabeças se viraram. É o Rodrigo. Ele trouxe a esposa. Nossa, ela é linda. Ouvi dizer que o casamento foi super secreto. Os sussurros eram como abelha zumbindo. Isadora apertou o braço de Rodrigo. Uma reação instintiva, mas seu rosto permaneceu sereno. Ela tinha ficado boa em usar máscaras nos últimos meses. Rodrigo.
Melissa praticamente correu na direção deles, o vestido de noiva branco esvoaçando. Ela jogou os braços em volta do irmão, rindo. Você veio. Eu estava com medo que cancelasse de última hora. Não perderia o casamento da minha irmã favorita, Rodrigo disse, relaxando um pouco. Sou sua única irmã idiota.
Melissa se virou para Isadora, seu sorriso se ampliando. E você deve ser Isadora, finalmente. Rodrigo te escondeu tão bem que comecei a achar que você era imaginária. Isadora forçou um sorriso. É um prazer te conhecer, Melissa. Parabéns pelo casamento. Deus, você é ainda mais linda do que nas fotos. Melissa a puxou para um abraço apertado, pegando Isadora de surpresa.
Quando se afastou, havia um brilho travesso em seus olhos. E olha, qualquer mulher que conseguiu fazer meu irmão Workah Holic se casar merece uma medalha. Sério, você deve ter super poderes. A ironia era dolorosa. Isadora mal conseguiu manter o sorriso. Venham. Vou apresentar vocês às pessoas. Melissa começou a puxá-los para dentro da festa.
A próxima hora foi uma tortura. Rodrigo e Isadora foram apresentados a tios, primos, amigos da família. Cada pessoa tinha a mesma reação. Surpresa por Rodrigo ter se casado, curiosidade sobre Isadora, perguntas invasivas sobre como se conheceram quando planejariam ter filhos.
Rodrigo mantinha um braço ao redor da cintura de Isadora, puxando-a para perto sempre que alguém se aproximava. Ela interpretou o papel perfeitamente, sorria, respondia educadamente, até segurava a mão dele algumas vezes para reforçar a imagem de casal apaixonado. Mas Rodrigo podia sentir a tensão em seu corpo. Via como o sorriso nunca alcançava seus olhos.
Notava como ela se afastava assim que ficavam sozinhos, criando distância entre eles. “Vocês formam um casal lindo”, uma tia avó disse, beliscando a bochecha de Isadora. “E quando vão nos dar um almeida bebê para carregar no colo?” Isadora quase engasgou com o champanhe. “Em breve, tia Helena”. Rodrigo respondeu automaticamente, apertando a cintura de Isadora. “Mas ainda estamos aproveitando só nós dois.
” Quando a tia se afastou, Isadora se virou para ele, olhos brilhando de raiva. Nunca mais faça isso. Ela sebilou baixinho. Nunca mais sugira que nós que há qualquer possibilidade de Era só para manter as aparências. Ele respondeu igualmente baixo. É sempre para manter as aparências com você.
Ela colocou a taça vazia em uma mesa próxima. preciso de ar fresco.” E se afastou, deixando Rodrigo ali parado, sentindo os olhares curiosos das pessoas ao redor. Isadora saiu para o jardim mais afastado, onde havia menos pessoas. Apoiou-se em uma árvore antiga, fechou os olhos, respirou fundo. “Você consegue mais algumas horas. Só sorria e acene.
Sorria e acene. Pardom, você está bem?” A voz tinha um sotaque francês. Isadora abriu os olhos e viu um homem se aproximando. Ele era alto, cabelos castanho claro, puxados para trás, olhos verdes, um sorriso gentil. Trazia duas taças de champanhe. Eu vi você correr para cá e pensei que talvez precisasse disso. Ele ofereceu uma das taças.
Casamentos podem ser avaçaladores. Isadora aceitou a bebida com um pequeno sorriso. Pode-se dizer assim. Loraná. Ele estendeu a mão. Amigo do noivo. Você é Isadora Almeida. Ela ainda tropeçava no sobrenome. Cunhada da noiva. Ah, então você é a esposa do famoso Rodrigo. Lohan assentiu. Reconhecimento em seus olhos. Ouvi falar muito sobre seu marido. Gênio dos negócios dizem. Isadora tomou um longo gole de champanhe. Dizem.
Loran a estudou por um momento e Isadora teve a impressão desconcertante de que ele via mais do que deveria. “Desculpe, estou sendo invasivos”, ele disse. “É um hábito francês. Nós somos péssimos com limites.” Ele sorriu de um jeito que era impossível ficar ofendida. “Mas você não parece muito feliz para alguém em um casamento.
É tão óbvio assim?”, Isadora perguntou, uma risada amarga escapando, apenas para alguém prestando atenção. Loran se apoiou na árvore ao lado dela e eu tenho o péssimo hábito de prestar atenção. Isadora sabia que deveria voltar, que Rodrigo provavelmente estava procurando por ela, que conversar com um estranho charmoso era perigoso.
Mas pela primeira vez na noite, ela estava conversando com alguém que parecia genuinamente interessado em como ela estava, não em julgar seu casamento ou fazer perguntas invasivas. “Quer conhecer o lado bom da fazenda?” Lohan ofereceu. Melissa me mostrou mais cedo. Tem um lago com cisnes, muito romântico. Ele fez uma careta cômica.
“Demais para o meu gosto, mas você pode gostar.” Isadora riu, uma risada real que a surpreendeu. “Por que não?”, ela disse, ignorando a voz em sua cabeça que soava suspeitamente como prudência. F. Em algum lugar da festa, Rodrigo procurava por sua esposa, sem saber que ela tinha acabado de aceitar o convite de um estranho charmoso, sem saber que aquela decisão inocente mudaria absolutamente tudo.
O lago ficava a uma curta caminhada da área principal da festa, escondido por um bosque de árvores antigas. A lua cheia refletia na água, criando um caminho prateado que dançava com o vento. Era de fato incrivelmente romântico, viu? Ridiculamente pitoresco. Loran comentou, mas havia admiração em sua voz. Melissa tem bom gosto, devo admitir. Isadora caminhou até a beira da água, observando os cisnes que deslizavam suavemente pela superfície.
A paz do lugar era um contraste gritante com o caos da festa. Obrigada”, ela disse de repente por por perceber que eu estava sufocando lá dentro. Lauran se juntou a ela na margem. “De nada. Grandes festas podem ser.” Ele gesticulou vagamente, procurando a palavra oppressivas, especialmente quando você precisa manter uma fachada. Isadora o olhou de soslaio.
“Você é muito perceptivo ou você é muito transparente.” Ele sorriu para suavizar as palavras. Sem ofensa, nenhuma ofensa recebida. Isadora soltou uma risada cansada. Eu realmente sou péssima em esconder emoções. Minha melhor amiga sempre diz que meu rosto é um livro aberto. Então, por que tentar esconder? Loran perguntou genuinamente curioso.
Porque meu marido pagou pela aparência de um casamento feliz? Isadora pensou amargamente. Mas o que disse foi, às vezes é mais fácil fingir que está tudo bem do que explicar porque não está. Lohan assentiu pensativamente. Eu entendo isso completamente. Ele pausou, então adicionou: “Mas entre nós, aqui neste lago ridiculamente romântico, sob esta lua, ridiculamente brilhante, você não precisa fingir. Eu sou basicamente um estranho. Confissões para estranhos não contam.
” Isadora riu novamente e percebeu que estava rindo mais naqueles 15 minutos do que tinha ido em meses. “Como você veio parar no Brasil?”, Ela perguntou, mudando de assunto. Trabalho, Loran explicou. Sou investidor especializado em startups de tecnologia. Fernando, o noivo, e eu nos conhecemos em uma conferência em Paris há dois anos.
Ficamos amigos e quando ele me convidou para o casamento, achei que seria uma boa chance de explorar o mercado brasileiro. Você sempre mistura trabalho com prazer. Sempre. Ele sorriu. A vida é curta demais para separá-los. Não é mais divertido quando o trabalho é uma paixão, não apenas um meio de vida? Isadora pensou em Rodrigo, trabalhando 18 horas por dia, nunca desligando, sempre obsecado com o próximo negócio, a próxima reunião.
Era paixão ou era fuga? E você? Laan perguntou. O que faz além de ser esposa de um CEO importante? A pergunta deveria ser insultuosa, reduzindo-a apenas ao papel de esposa. Mas o jeito que Lhan perguntou era genuíno, como se realmente quisesse saber sobre ela, não sobre sua relação com Rodrigo.
“Eu danço”, Isadora respondeu, surpresa com a facilidade que as palavras saíram, “contemporâneo e estou estudando curadoria de arte. Sempre amei arte e estou pensando em talvez, talvez trabalhar em uma galeria ou até abrir minha própria. Sério? Os olhos de Lauran se iluminaram. Eu amo arte. Meu apartamento em Paris está cheio de obras de artistas locais, principalmente abstratos.
Algo sobre cores e formas que não fazem sentido imediato me fascina. E assim começaram a conversar sobre arte, sobre dança, sobre viagens. Loran tinha estado em dezenas de países, cada um com uma história engraçada ou uma observação perspicaz. Ele falava com as mãos, seus olhos se acendendo quando discutia algo que o apaixonava.
E ele ouvia, realmente ouvia quando Isadora falava, fazendo perguntas, lembrando de detalhes, construindo sobre o que ela dizia, ao invés de simplesmente esperar sua vez de falar. Seu português é excelente”, Isadora comentou em um momento, quase sem sotaque. “Obrigado. Estudei por anos. Minha mãe é brasileira de Bahia, então cresci ouvindo a língua, mas viviente na França com o meu pai.
Loran pegou uma pedrinha, jogou na água, observando as ondulações se expandirem. Sempre me senti dividido entre dois mundos. Francês demais para os brasileiros. Brasileiro demais para os franceses. Entendo, Isadora disse suavemente. Ser pego entre dois lugares, não pertencer completamente a nenhum. Eles trocaram um olhar, um momento de compreensão silenciosa.
Dentro da festa, Rodrigo finalmente encontrou Helena, a mãe dele, conversando com alguns convidados. Mãe, você viu Isadora? Helena olhou para o filho com aquele olhar penetrante que só mães têm. Sua esposa. Não deveria ser você quem sabe onde ela está? Nós nos separamos por alguns minutos e Rodrigo Henrique Almeida. Helena, interrompeu, usando o nome completo. Nunca um bom sinal.
O que você está fazendo? Como assim? Helena o puxou para um canto mais reservado, longe dos ouvidos curiosos. Quando falou, sua voz estava baixa, mas feroz. Aquela moça ali dentro sorrindo educadamente para todos, segurando sua mão quando necessário, fazendo o papel de esposa perfeita. “Ela está sofrendo.” Eu vi nos olhos dela.
Reconheço aquele olhar porque eu mesma já o tive. Rodrigo ficou paralisado. Sua mãe raramente falava sobre seu próprio casamento, um arranjo que tinha se tornado, ao longo dos anos amor verdadeiro, mas que começou como uma fusão empresarial não muito diferente do casamento dele e Isadora.
Mãe, eu não o quê? Não percebeu que está destruindo ela ou não se importa? Helena tocou o rosto do filho, seu toque surpreendentemente gentil comparado à dureza de suas palavras. Eu sei que você é fechado, Rodrigo, que tem medo de intimidade depois do que passou com Amanda, mas essa moça não é Amanda. E se você continuar a mantendo a distância, vai perdê-la. A menção de Amanda foi como um soco.
Rodrigo não pensava nela há anos. A ex-namorada que o tinha usado, que tinha fingido amá-lo apenas para ter acesso às suas conexões e dinheiro. Isso é diferente, ele disse tenso. Como? Porque você formalizou o arranjo com um contrato desta vez? Helena balançou a cabeça.
Você acha que papel e tinta protegem seu coração? Você já está envolvido, filho. Já estava no momento que disse sim naquela capela. A questão é, vai admitir isso antes que seja tarde demais? Eu não sei o que você quer que eu faça. Trate-a como se ela importasse. Helena Sibilou. Converse com ela. Conheça-a. Dê a ela o que todo ser humano merece.
ser vista, ser ouvida, ser valorizada. Ela pausou, sua voz suavizando. Antes que alguém mais perceba o tesouro que você tem e que está ignorando. Com isso, Helena se virou e voltou para a festa, deixando Rodrigo ali parado, as palavras da mãe ecoando em sua mente. No lago, a conversa entre Lahan e Isadora continuava.
Eles tinham sentado em um banco de pedra, suas conversas derivando de tópico em tópico naturalmente. Então, Loran disse eventualmente, posso fazer uma pergunta invasiva? Você vem fazendo perguntas invasivas desde que nos conhecemos. Isadora apontou, mas estava sorrindo. Verdade. Ele sorriu de volta, mas esta é particularmente invasiva. A risco.
Por que você está tão triste? A pergunta era simples, direta e completamente desarmo, Isadora. Eu começou, então parou. Como explicar? Como colocar em palavras aquele vazio, aquela solidão, aquela dor de ser ignorada pela pessoa que deveria? As lágrimas vieram antes que ela pudesse impedi-las. “Merda”, Loran murmurou imediatamente colocando um braço ao redor dos ombros dela. “Desculpa, eu não queria.” “Não, está tudo bem.
” Isadora enxugou o rosto rapidamente. Eu só tem sido difícil o casamento, tudo. Quer falar sobre isso? E surpreendentemente ela quis. Talvez porque ele era um estranho, talvez porque ele tinha sido gentil, talvez porque ela estava cansada de segurar tudo dentro. Foi um casamento arranjado, ela confessou. Minha família precisava de ajuda financeira.
Rodrigo precisava de uma esposa para melhorar sua imagem. Foi. É apenas negócios. A compreensão cruzou o rosto de Lohan. E você esperava que se tornasse algo mais? Não esperava exatamente, mas imaginei que que poderíamos ao menos ser amigos, companheiros, algo além de dois estranhos compartilhando uma casa.
Ela soltou uma risada amarga, mas ele mal sabe que existo. Passa dias viajando, trabalha até de madrugada. Quando estamos na mesma sala, ele age como se eu fosse transparente. Loran ficou quieto por um momento, absorvendo tudo. Ele é um idiota, ele disse finalmente. Isadora piscou surpresa. O quê? Seu marido. Ele é um completo idiota. Loran se virou para encará-la.
Você é inteligente, engraçada, apaixonada por coisas lindamente humana e ele te ignora. Ou ele é cego ou é estúpido. Possivelmente ambos. Isadora riu. Um som molhado entre lágrimas e alegria. Obrigada. Acho. É um elogio, prometo. Loran sorriu, mas havia algo sério em seus olhos. Você merece mais, Isadora. Merece alguém que veja você, que ouça você, que aprecie todas as coisas maravilhosas que você é.
As palavras deveriam parecer vazias. Eles mal se conheciam, afinal. Mas algo na sinceridade de Lohan, na maneira que ele a olhava como se realmente a visse, fez as palavras pousarem em seu coração machucado, como um bálsamo. A orquestra começou a tocar. Lohan observou, ouvindo música ao longe.
Dança comigo? Isadora hesitou. Era inapropriado. Ela estava casada. Mesmo que o casamento fosse uma farsa, ainda havia regras, limites. Mas então pensou em Rodrigo. Provavelmente nem tinha notado sua ausência. Provavelmente estava em alguma conversa de negócios. Provavelmente não se importava onde ela estava ou com quem. “Por que não?”, ela disse, levantando.
Loran a puxou gentilmente para um abraço de dança, uma mão em sua cintura, a outra segurando sua mão, e eles começaram a se mover ao som da música distante ali na beira do lago, iluminado pela lua. Era apenas uma dança, mas para Isadora significava algo mais. Significava ser vista, ser apreciada, ser tratada como alguém que importava.
E para Rodrigo, que naquele exato momento estava procurando desesperadamente por ela, encontrá-los ali seria o momento que mudaria tudo. Rodrigo estava procurando por Isadora há 20 minutos. Ela não estava no salão principal, não estava perto da pista de dança, não estava em nenhum dos jardins próximos. começou a sentir algo estranho no peito.
Preocupação. Ele mal reconhecia a emoção. Perdeu sua esposa, primo. Um primo distante riu, dando um tapa nas costas de Rodrigo. Ela foi vista indo para o lado do lago com um cara alto cabelo claro. Francês, parece. O peito de Rodrigo apertou. Francês. Devia ser Lorant, o investidor amigo de Fernando. Ele o tinha cumprimentado brevemente mais cedo. Parecia amigável demais, falava demais. sorria demais.
“Não é nada”, Rodrigo disse a si mesmo enquanto caminhava na direção do lago, provavelmente só mostrando o lugar para ela. Mas cada passo que dava, o aperto no peito aumentava. Ele chegou à clareira do lago e parou morto em seus passos. Ali, sob a luz da lua, Isadora dançava, mas não estava sozinha. Lorant segurava próximo. Respeitosamente, Rodrigo notou com uma parte racional de sua mente, mas definitivamente próximo.
Ela estava rindo de algo que ele disse, a cabeça inclinada para trás, olhos brilhando de uma maneira que Rodrigo nunca tinha visto. Ela estava radiante, viva, feliz. Algo primitivo e feroz rugiu dentro dele. Ciúme, puro, irracional, consumidor. Ele nunca tinha sentido ciúmes antes, nunca permitiu que qualquer pessoa tivesse controle suficiente sobre suas emoções para fazê-lo sentir isso.
Mas vendo Isadora, sua esposa, nos braços de outro homem, sorrindo para ele da maneira que nunca sorriu para Rodrigo, foi como se algo dentro dele explodisse. Antes que pudesse pensar, Rodrigo estava cruzando a clareira em passadas longas e furiosas. Loran o viu primeiro, seus olhos se arregalando ligeiramente, mas Isadora tinha os olhos fechados, perdida na música e no momento. Isadora. A voz de Rodrigo era baixa, perigosa.
Isadora abriu os olhos e o sorriso morreu em seus lábios quando o viu. Rodrigo, nós estávamos apenas dançando. Eu vejo. Cada palavra era cortante como vidro. Ele olhou para Loran. Obrigado por entreter minha esposa. Estou certo que você tem outros convidados com quem conversar. Era uma dismissal, educada, mas definitivamente uma dismissal.
Lohan olhou entre Rodrigo e Isadora, parecendo medir a situação. “Isadora?”, ele perguntou suavemente, deixando a decisão com ela. “Fique.” Uma parte dela quis gritar. Fique, porque com você eu me sinto vista. Com você existo. Mas Rodrigo era seu marido, e ela podia ver algo em seus olhos que nunca tinha visto antes. Alguma emoção forte e incontrolável que fazia seu coração bater mais rápido. “Está tudo bem, Loran? Obrigada pela companhia.
Loran a sentiu, apertou sua mão brevemente. Foi um prazer conhecê-la, Isadora. De verdade. Ele olhou para Rodrigo. Cuide dela. Foi uma instrução, não uma sugestão. E então ele se foi, deixando Rodrigo e Isadora sozinhos na margem do lago. O silêncio era ensurdecedor. Isadora podia ouvir seu próprio coração batendo, o som da música distante, o farfalhar das folhas com o vento.
O que você pensa que está fazendo? Rodrigo finalmente perguntou. Sua voz ainda controlada, mas com uma corrente de raiva abaixo da superfície. Isadora ergueu o queixo, recusando-se a ser intimidada. Eu estava conversando, dançando, coisas que pessoas fazem em festas com um homem que claramente está interessado em você.
E se está, o que isso importa para você? A pergunta saiu mais afiada do que ela pretendia. Rodrigo deu um passo em sua direção e Isadora deu um passo para trás, suas costas encontrando o tronco de uma árvore. “O que importa?” Rodrigo repetiu. Incrédulo. “Você é minha esposa, Isadora. Esposa!” Ela soltou uma risada sem humor. Esposa, eu sou um nome em um contrato, Rodrigo. Você deixou isso muito claro.
Então não venha agir como um marido possessivo agora só porque outro homem teve a decência de me tratar como um ser humano. Eu trato você bem. Você me ignora. Ela praticamente gritou. Meses de frustração finalmente explodindo. Você mal sabe minha cor favorita, Rodrigo. Não sabe o que eu gosto de comer, o que eu leio, o que me faz feliz ou triste.
Você não sabe nada sobre mim, porque nunca se importou o suficiente para perguntar. Eu sei mais do que você pensa. Então me diga. Isadora o desafiou, lágrimas escorrendo por seu rosto. Me diga uma coisa, uma única coisa pessoal sobre mim que você descobriu nesses cinco meses. Rodrigo abriu a boca, então fechou.
Sua mente estava em branco, não pior que branco, cheia de informações que ele tinha pesquisado em uma noite de insônia semanas atrás, mas nada que ele tivesse descoberto através de conversa real, de conexão verdadeira com ela. O silêncio era a resposta que Isadora esperava e temia. “Exatamente”, ela sussurrou, enxugando as lágrimas.
“Lauran me conhece há uma hora e já sabe mais sobre mim do que você em cinco meses. Ele perguntou sobre meus sonhos. minhas paixões. Ele ouviu quando eu falei. Ele me fez sentir como se eu importasse. Você importa? Não, para você. As palavras explodiram dela. Eu vivo na sua casa como um fantasma, Rodrigo. Janto sozinha todas as noites. Durmo em uma cama gigante que parece um deserto de solidão.
Acordo todas as manhãs esperando que talvez hoje seja o dia que você me veja, que você se lembre que eu existo, que você tente, nem que seja um pouquinho me conhecer. Mas você nunca tenta e eu estou cansada, tão cansada de não existir para você. Rodrigo a olhou, realmente olhou, e pela primeira vez viu não apenas a mulher linda no vestido azul, mas a dor crua em seus olhos, o jeito que ela tremia, não de frio, mas de emoção contida, o quebramento em sua voz. Eu fiz isso. Ele percebeu com uma claridade dolorosa. Eu quebrei essa
mulher forte e linda e transformei ela nisso. Alguém que se sente invisível. Isadora. Ele estendeu a mão, mas ela se afastou. Não, você não tem o direito de me tocar agora. Durante meses, você evitou até mesmo estar na mesma sala que eu. Não tenho o direito de aparecer de repente possessivo e ciumento porque outro homem teve a decência de me tratar bem. Ele não tem o direito de te tocar.
Você é minha. Não sou sua. Isadora o interrompeu. Você não pode me ignorar por 5 meses e então agir como se fosse dono de mim. Não funciona assim, Rodrigo. Ou eu sou sua esposa, de verdade, com tudo que isso implica, ou sou apenas um acordo de negócios. Mas você não pode ter os dois. Não pode me tratar como nada e então ficar bravo quando alguém me trata como algo.
As palavras eram como socos, cada uma acertando exatamente onde doía. Eu sei que não tenho sido. Rodrigo procurou as palavras certas. O melhor marido. Você não foi nenhum tipo de marido. Isadora respirou fundo, tentando se acalmar. Mira, estou cansada. Cansada de brigar, cansada de chorar, cansada de me sentir assim. Vou voltar para a festa, vamos sorrir para as fotos, vamos fingir que somos o casal perfeito.
E então amanhã voltamos para nossas vidas separadas, como sempre foi, como sempre vai ser. Ela começou a passar por ele, mas Rodrigo a agarrou pelo braço. Não com força, apenas o suficiente para pará-la. E se eu não quiser que seja sempre assim? Isadora parou. Seu coração fez algo estranho em seu peito, um salto de esperança que ela tentou desesperadamente suprimir.
O que você está dizendo? Rodrigo a puxou de volta, suas mãos agora em seus ombros, forçando-a a olhar para ele. Estou dizendo que você está certa, sobretudo. Eu fui um babaca egoísta que te tratou terrivelmente. Estou dizendo que ver você nos braços dele vendo você sorrir daquele jeito. Algo em mim simplesmente explodiu. Estou dizendo que eu não sei o que estou fazendo, mas sei que não quero continuar assim. Não quero que você seja infeliz.
Não quero que um estranho conheça minha esposa melhor do que eu. Isadora o encarou, procurando por sinceridade em seus olhos. E estava lá, crua, assustada, mas real. Por que agora? Ela perguntou suavemente. Por que demorou você me ver nos braços de outro homem para perceber? Rodrigo não tinha uma boa resposta, porque a verdade era feia. Ele só percebeu o valor dela quando pensou que poderia perdê-la. “Não sei”, ele admitiu. “ma importa.
Eu estou percebendo agora. Estou te vendo agora. E amanhã, na semana que vem, quando voltarmos para a rotina, Isadora balançou a cabeça. Você vai voltar a me ignorar assim que a novidade passar, assim que não tiver outros homens prestando atenção em mim para te fazer sentir ameaçado. Não. Rodrigo se aproximou, sua testa quase encostando na dela. Não, Isadora, eu prometo.
Me dá uma chance, uma chance real de fazer isso direito. Isadora queria acreditar. Deus, como ela queria, mas meses de rejeição tinham construído muros ao redor de seu coração. Suas promessas não significam muito para mim, Rodrigo. Você prometeu em alegria e tristeza, em saúde e doença, e olha onde estamos. A acusação doeu porque era verdade.
Então o que eu preciso fazer? Rodrigo perguntou e havia desespero em sua voz. Me diz, me diz o que preciso fazer para consertar isso? Isadora o olhou. Realmente olhou. viu a confusão em seus olhos, a vulnerabilidade que ele raramente mostrava, e percebeu que, apesar de tudo, uma parte dela ainda se importava, ainda queria que ele tentasse, mas outra parte, a parte machucada na parte cansada, queria construir mais muros, se proteger de mais dor.
“Eu não sei”, ela sussurrou finalmente. “Não sei se o que está quebrado entre nós pode ser consertado.” E naquele momento, sob a lua cheia, ao som distante da festa, dois corações quebrados se encontraram. Um percebendo tarde demais o valor do que tinha, o outro cansado demais para ter esperança. E a pergunta pairava no ar entre eles.
Era tarde demais? Rodrigo não soltou Isadora. Seus dedos ainda pressionavam gentilmente seus ombros, como se tivesse medo que ela desapareceria se a deixasse ir. “Olha para mim”, ele pediu sua voz rouca. Isadora, por favor. Ela ergueu os olhos. Aqueles olhos cor de mel que tinham perdido tanto brilho nos últimos meses. Estou olhando. Eu sei que estraguei tudo.
Sei que Rodrigo parou frustrado consigo mesmo. Ele era eloquente em salas de reunião, convincente ao fechar negócios de milhões, mas ali, tentando expressar emoções que nem sabia que tinha, as palavras pareciam inadequadas. Você me assusta. Isadora piscou surpresa. Eu o quê? Você me assusta. Rodrigo repetiu sua voz caindo para um sussurro.
Do momento que te vi assinando aquele contrato, com lágrimas nos olhos, mas o queixo erguido, tão forte e tão quebrada ao mesmo tempo. Eu soube. Soube que você tinha o poder de me machucar de uma maneira que ninguém mais conseguiu. Rodrigo, não. Deixa eu terminar. Suas mãos deslizaram dos ombros dela para seus braços. Seu toque quase irreverente.
Amanda, minha ex, ela me usou. Fingiu sentimentos, fingiu me amar. Tudo para ter acesso ao meu dinheiro e conexões. Quando descobri, jurei que nunca mais deixaria ninguém me machucar assim. Construí muros, mantive distância de todos e então você apareceu. Lágrimas queimavam nos olhos de Isadora enquanto ela ouvia. Nosso casamento devia ser seguro.
Um acordo de negócios, sem emoções, sem vulnerabilidade, sem chance de me machucar. Mas você, ele soltou uma risada amarga. Você é gentil com Helena. Você trouxe vida para aquela mansão fria. Você dança como se corpo fosse poesia. E cada dia, sem nem tentar, você foi quebrando aqueles muros que construí. E isso me aterroriza.
Isadora enxugou uma lágrima que escapou. Então você me afastou. Eu tentei, mas não funcionou. Rodrigo tocou seu rosto gentilmente, como se ela fosse algo precioso e frágil. Porque você já está aqui? Ele colocou a mão dela sobre seu coração e ver você nos braços dele, vendo você sorrir para ele, percebi que proteger meu coração significava perder você.
E isso, isso me assusta ainda mais. O silêncio que se seguiu era carregado. Isadora podia sentir o coração dele batendo sob sua palma, rápido, irregular, como o dela. “Você me machucou”, ela sussurrou. “Tanto, Rodrigo. Teve noites que eu que eu pensei: “O quê?” Ele pressionou quando ela parou.
“Me diz, teve noites que pensei que seria mais fácil não acordar”, ela confessou, sua voz quebrada. A solidão era tão grande, tão consumidora, eu me sentia invisível na própria vida, como se eu não importasse para ninguém, especialmente para o único homem que deveria, que eu esperava. Horror cruzou o rosto de Rodrigo. Ele a puxou contra seu peito, abraçando-a com força. Deus adora. Eu sinto muito, tanto se eu soubesse. Mas você não sabia.
Ela disse contra seu peito. Porque você não perguntou, não olhou? Estou olhando agora. Ele a afastou apenas o suficiente para ver seu rosto. E vou continuar olhando todos os dias. Se você me deixar. Isadora queria acreditar, mas o medo de mais dor a paralisa. Como eu sei que é real, que não é apenas ciúmes passageiro.
Rodrigo não tinha resposta imediata, porque como ele poderia provar algo que estava começando a entender? Você não sabe. Ele admitiu. Não ainda. Mas me dá tempo. Me deixa provar. Antes que Isadora pudesse responder, vozes se aproximaram. Outros convidados caminhando na direção do lago.
Rodrigo imediatamente se afastou dela, criando distância apropriada, mas suas mãos seguraram- dela, recusando-se a soltá-la completamente. “Vamos voltar”, Isadora disse suavemente. “As pessoas vão começar a falar. Que falem.” Ela olhou para ele surpresa. O Rodrigo que ela conhecia estava sempre preocupado com aparências, com o que as pessoas pensavam. A festa está acabando de qualquer jeito. Ele continuou.
Melissa e Fernando vão cortar o bolo em breve. Ele hesitou. Dance comigo? O quê? Uma dança comigo, como casais de verdade fazem. Sua voz estava vulnerável de uma maneira que ela nunca tinha ouvido. Por favor. Isadora sabia que deveria recusar. deveria manter distância, proteger seu coração, mas uma parte dela, a parte que ainda tinha esperança, ainda acreditava em finais felizes, assentiu uma dança.
Eles voltaram para a festa de mãos dadas. Os convidados os notaram imediatamente, o CEO, geralmente Frio, e sua bela esposa, finalmente parecendo um casal de verdade. A música havia mudado para algo lento, romântico. Rodrigo levou Isadora para o centro da pista de dança, puxando-a para seus braços com uma gentileza que a surpreendeu. Era diferente de dançar com L.
Com Loran tinha sido confortável, seguro. Com Rodrigo era intenso, elétrico. Cada lugar onde seus corpos se tocavam parecia queimar. Você está linda esta noite, Rodrigo murmurou perto de seu ouvido. Eu deveria ter dito isso antes. Quando você saiu do carro, você tirou meu fôlego e fiquei só olhando como um idiota. Isadora sentiu calor subir em suas bochechas. Obrigada.
Eles dançaram em silêncio por alguns momentos, se movendo em sincronia surpreendente. “Sua cor favorita é lilás”, Rodrigo disse de repente. Isadora o olhou surpresa. “Como você? Porque você sempre escolhe coisas nessa cor quando pode. O roupão que vi pendurado no seu banheiro, as flores que comprou para o seu quarto, a capa do livro que está lendo.” Ele a girou suavemente.
Você toma café com duas colheres de açúcar. Seu livro favorito é A insustentável leveza do ser. Você odeia acordar cedo, mas força porque quer aproveitar o dia. Rodrigo. Lágrimas se formaram novamente nos olhos dela. Você adora a arte moderna, especialmente Tarcila do Amaral. Seu prato favorito é risoto com fung porcini.
Você dançou balé quando adolescente e era incrível. ganhava prêmios, tinha futuro, mas desistiu para entrar na faculdade de administração. Ele a olhou profundamente. E você se sacrificou novamente pela sua família quando concordou em se casar comigo. Isadora estava chorando abertamente agora, sem se importar com as pessoas ao redor.
Você sabia? Pesquisei uma noite, ele admitiu semanas atrás depois de te ver dançando. Queria entender quem você era, mas foi covarde. Preferia aprender sobre você pelo Google ao invés de simplesmente perguntar, conversar, te conhecer de verdade. Por que está me dizendo isso agora? Porque você merece saber que eu presto atenção.
Talvez não da maneira certa, talvez tarde demais, mas eu vejo vocês agora e quero continuar vendo. Quero saber as coisas que Google não pode me dizer. Quero saber como você gosta do café, o que te faz rir com o que você sonha quando acha que ninguém está ouvindo.
A música terminou, mas eles continuaram ali presos no olhar um do outro, o mundo desaparecendo ao redor. Senhor e senhora, convidados. A voz de Fernando ecoou no microfone. É hora do bolo. A multidão se moveu em direção ao salão principal. Rodrigo e Isadora ficaram onde estavam. Vem comigo, Rodrigo sussurrou. Vamos para casa conversar de verdade desta vez e a festa. Melissa vai entender. Ele tocou seu rosto. Mas se você quiser ficar, ficamos. Eu não vou pressionar não mais.
Isadora olhou para o salão, as luzes, a celebração, as pessoas felizes, e então olhou para Rodrigo, seu marido, que finalmente, bu, finalmente parecia vê-la. “Vamos para casa”, ela disse. A viagem de volta foi diferente da ida. Eles ainda não falavam muito, mas agora era um silêncio confortável, não tenso.
Rodrigo segurava a mão dela no banco de trás, seu polegar traçando círculos em sua palma. Quando chegaram na mansão, eram quase meia-noite. Helena tinha deixado luzes acesas, um bilhete na cozinha, sanduíches na geladeira, caso tenham fome. Boa noite, senhor e senhora. Está com fome? Rodrigo perguntou um pouco. Eles foram para a cozinha. Rodrigo ainda em smoking. Isadora ainda no vestido azul.
Ele pegou os sanduíches que Helena havia preparado, duas garrafas de água. Eles se sentaram na ilha da cozinha, lado a lado. “Me conta sobre sua semana”, Rodrigo disse, mordendo o sanduíche. Isadora o olhou de soslaio. Serio, completamente. Quero saber o que você fez enquanto eu estava em São Paulo na semana passada. Era tão normal, tão casal. Isadora não sabia como reagir.
Tive aulas de dança segunda, quarta e sexta. Ela começou exitante. Visitei uma galeria nova no sábado. Estavam mostrando artistas contemporâneos brasileiros. Comecei a ler um novo livro sobre curadoria. Você quer trabalhar com isso? Curadoria? Talvez. Sempre amei arte, mas nunca tive coragem de de realmente perseguir.
Ela tomou um gole de água, sabe como é? expectativas da família, caminho seguro, tudo isso. Mas você quer? Sim, então faz. Rodrigo disse simplesmente: “Abre uma galeria, trabalha em uma, faz o que te faz feliz. Não é tão simples, mas por que não? Você tem recursos agora, tem tempo, tem paixão.” Ele a encarou.
Que outra razão você precisa? Isadora sentiu algo se soltar em seu peito. Quando foi a última vez que alguém a encorajou a perseguir seus sonhos ao invés de ser prática? E você? Ela perguntou. Fala de você. Do real. Você não o CEO em revistas de negócios. Rodrigo hesitou. Vulnerabilidade não era seu forte, mas ele tinha prometido tentar.
“Eu faço”, ele confessou. Isadora arregalou os olhos. “O quê? A empresa, a Almeida Holdings, foi a vida toda me preparando para assumir, cumprindo expectativas, construindo um império. Mas eu odeio cada reunião, cada negócio, cada viagem é só vazio. Então, por que continua? Porque é o que os Almeida fazem. É quem se espera que eu seja. Ele soltou uma risada amarga.
Irônico, não é? Você sacrificou seus sonhos pela família. Eu vivo uma vida inteira sacrificada pelas expectativas da família. Somos mais parecidos do que pensei. Isadora colocou a mão sobre a dele. Se você pudesse fazer qualquer coisa, o que seria? Rodrigo pensou. Quando foi a última vez que alguém perguntou o que ele queria? Arrquitetura. Ele disse finalmente.
Sempre amei construções, design, transformar espaços, mas não era prático. Não era o que a Almeida faziam. Nunca é tarde”, Isadora disse suavemente. Eles se olharam, dois prisioneiros de expectativas e contratos começando a vislumbrar possibilidades. “Fica comigo esta noite”, Rodrigo pediu de repente. “Não, não dessa maneira.
” Ele esclareceu rapidamente, vendo sua expressão. “Apenas durma no meu quarto” ou eu no seu. Não quero acordar sem você perto. Isadora sabia que deveria ir devagar, mas 5co meses de solidão pesavam. Meu quarto, ela disse, tem mais plantas, é menos frio. Rodrigo sorriu, um sorriso genuíno que transformou seu rosto inteiro.
E naquela noite, pela primeira vez desde o casamento, nenhum dos dois dormiu sozinho, apenas abraçados, conversando até o amanhecer, lentamente começando a construir pontes sobre o abismo que tinham criado. Rodrigo acordou com o sol batendo em seu rosto. Por um momento estava desorientado. Aquele não era seu quarto. As paredes eram de um bege quente, não o cinza frio que escolhera para sua suí.
Havia plantas por todo lado, o cheiro suave de lírios no ar, fotos em portaretratos, e então sentiu o peso suave em seu peito. Isadora estava dormindo, a cabeça apoiada sobre seu coração, um braço jogado sobre sua cintura.
Eles tinham adormecido conversando, ainda vestidos com as roupas da festa, sobre as cobertas em vez de sob elas. Ele ficou completamente imóvel, com medo de acordá-la. À luz do dia podia ver coisas que nunca tinha reparado. Pequenas sardas em seu nariz, a curva delicada de suas pálpebras, como seus cílios eram longos mesmo sem maquiagem. Ela parecia mais jovem, dormindo, mais leve, como se o peso da tristeza tivesse sido temporariamente suspenso.
“Ela é lindas”, ele pensou, não pela primeira vez, mas agora com um entendimento mais profundo. Não apenas fisicamente linda, mas linda em sua força, em sua vulnerabilidade, na maneira que ela tinha sobrevivido há 5 meses de negligência e ainda encontrava coragem para dançar, para sonhar, para esperar.
Seu telefone vibrou no bolso do palitó, provavelmente e-mails, reuniões, o mundo corporativo exigindo atenção como sempre. Mas pela primeira vez em anos, Rodrigo ignorou aquele momento. Isadora dormindo em seus braços a manhã tranquila. A sensação de paz que não sentia há tanto tempo era mais importante do que qualquer negócio. Isadora se mexeu, fazendo um pequeno somolento.
Seus olhos se abriram devagar, ainda embaçados de sono. Por um segundo, ela pareceu confusa. Então, a memória da noite anterior voltou. Ela se afastou rapidamente, constrangida. “Desculpa, eu não queria.” “Não se desculpa.” Rodrigo disse suavemente, sentando-se também. “Foi, foi bom. Acordar assim. Isadora puxou os joelhos contra o peito, abraçando-os. Seu cabelo estava despenteado, maquiagem borrada.
Ela nunca pareceu mais real. Que horas são? Rodrigo verificou o relógio. Quase 9. Dormia até tarde. Ele geralmente acordava às 5 no academia às 6, escritório às 7. Mas hoje, hoje ele não queria ir a lugar nenhum. Você deve estar com fome”, Isadora disse já levantando. “Eu posso preparar café, Isadora”. Rodrigo pegou sua mão, puxando-a de volta para sentar. Eu preparo o café.
Você preparou na última vez, lembra? Quando eu fui um idiota e recusei. Ela piscou surpresa. Você não precisa. Eu quero. Ele se levantou, estendendo a mão para ela. Vem, vamos cozinhar juntos. A cozinha estava banhada em luz solar. Helena ainda não tinha chegado. Era domingo, seu dia de folga. A casa estava quieta, apenas deles dois. Rodrigo não era um cozinheiro experiente.
Sua vida tinha sido construída em torno de trabalho, não de habilidades domésticas, mas ele sabia o básico e estava determinado a tentar. Ovos ele ofereceu, abrindo a geladeira. Mexidos estão bom”, Isadora disse, observando-o com uma mistura de diversão e descrença. Ver Rodrigo Almeida seou bilionário em um smoking amarrotado preparando café da manhã era surreal.
Ele bateu os ovos com mais força do que necessário, temperou com sal e pimenta. Isadora torrou o pão, preparou o suco de laranja. Eles se moviam ao redor da cozinha em uma dança estranhamente coordenada, passando um pelo outro. alcançando utensílios, sorrindo pequenos sorrisos quando seus olhos se encontravam. “Aqui”, Rodrigo disse, servindo os ovos em dois pratos. “Provavelmente não estão tão bons quanto Helena faz”.
Isadora pegou uma garfada, mastigou pensativamente. “Estão perfeitos”. Eles se sentaram à mesa. Não a grande mesa de jantar formal, mas a mesinha menor perto da janela que Isadora preferia. O sol aquecia seus rostos, pássaros cantavam lá fora. Sobre ontem, Rodrigo começou mexendo o café. Sobre tudo que falei.
Você se arrepende? Isadora perguntou, tentando manter a voz neutra, mas ele podia ouvir o medo subjacente. Não, de jeito nenhum. Ele colocou a xícara de lado, olhando-a diretamente. Mas entendo que palavras são fáceis, promessas são baratas. Eu preciso provar que é real. Como? Não sei ainda, mas quero tentar de verdade desta vez. Ele hesitou. Então, terapia. Terapia de casal.
Acho que acho que precisamos de ajuda para navegar isso, para consertar o que está quebrado. Isadora não esperava aquilo. Rodrigo estava sugerindo terapia. O homem que considerava emoções uma fraqueza. Você faria isso? Faria qualquer coisa. Ele disse simplesmente, se significa uma chance real de fazer isso funcionar. Lágrimas picaram os olhos dela.
Eu também quero tentar, mas tenho medo, Rodrigo. Medo de acreditar, de me abrir, só para você voltar a me ignorar quando a novidade passar. Entendo. E não posso prometer perfeição. Vou estragar as coisas. Vou cometer erros, mas prometo tentar todos os dias escolher você, ver você. Ele pegou sua mão sobre a mesa. “E se você precisar de espaço, de tempo, de qualquer coisa”, me diz, “sem jogos, sem adivinhar, apenas honestidade.” Ok?
Isadora apertou a mão dele. Ok. Eles terminaram o café em um silêncio confortável. Depois, Rodrigo limpou a cozinha, insistindo quando Isadora tentou ajudar enquanto ela organizava a mesa. “Tenho uma ideia”, Rodrigo disse de repente. “Para hoje o quê?” Um encontro, um encontro de verdade. Ele secou as mãos, virou-se para encará-la.
Nós nos casamos sem namoro, sem conhecer um ao outro. Que tal começarmos de novo? Corretamente desta vez? Isadora sentiu algo flutuar em seu peito. Esperança, talvez, ou o começo dela. Um encontro? Sim, eu te busco ao meio-dia. Vista algo confortável. E ele sorriu tímido, de uma maneira que ela nunca tinha visto. Mantenha a mente aberta.
Às 11:30, Isadora estava em seu quarto tentando decidir o que vestir. “Algo confortável”, Rodrigo tinha dito. Ela escolheu jeans, uma blusa branca simples, tênis. Prendeu o cabelo em um rabo de cavalo, maquiagem leve. Quando desceu ao meio-dia, Rodrigo a esperava. Ele também tinha trocado para jeans e uma camisa polo, dirigindo um carro diferente.
Não o Porsche luxuoso, mas um SUV mais casual. “Pronta?”, Ele perguntou, abrindo a porta do passageiro para ela. Para onde estamos indo? É surpresa. Eles dirigiram por cerca de 40 minutos, deixando a cidade para trás. Isadora ficou cada vez mais curiosa conforme Rodrigo navegava por estradas secundárias, eventualmente parando em frente a uma escola de arte.
“O que? Vem”, ele disse, um sorriso brincando em seus lábios. A escola estava fechada. Era domingo, mas Rodrigo tinha chaves. Ele a guiou por corredores cheios de obras de arte feitas por alunos até chegarem a um estúdio amplo, com teto de vidro, luz natural inundando o espaço. No centro do estúdio havia duas telas grandes, tintas de todas as cores, pincéis aventais. “Pensei que poderíamos pintar,” Rodrigo explicou juntos.
Você falou que ama a arte e eu, bem, não sei pintar nada, mas pensei que seria divertido tentar. Isadora ficou sem palavras. Como você conseguiu acesso? O dono é parceiro de negócios. Liguei hoje de manhã, expliquei que queria impressionar minha esposa. Ele pareceu envergonhado. Ele achou romântico ou louco, possivelmente ambos.
Isadora sorriu, um sorriso real, grande, que iluminou seu rosto inteiro. É perfeito. Eles vestiram os aventais, escolheram cores. Rodrigo não estava brincando. Ele realmente não sabia pintar. Suas tentativas de criar algo reconhecível resultaram em formas abstratas que os fizeram rir. Isso é suposto ser um quê? Isadora perguntou, tentando rir de uma mancha verde e roxa.
Uma árvore, obviamente. Rodrigo fingiu estar ofendido. Você não tem apreciação artística. Eu tenho muita apreciação artística. É por isso que posso dizer com confiança que isso não é uma árvore. Eles brincaram, riram, pintaram. Isadora criou algo lindo, uma paisagem abstrata, em tons de azul e dourado, que capturava a sensação de movimento e luz.
Rodrigo ficou fascinado vendo-a trabalhar, completamente absorta, língua entre os dentes em concentração. “Você devia fazer isso profissionalmente”, ele disse quando ela deu um passo para trás para avaliar a obra. É apenas um hobby, não é? Um talento, uma paixão. Ele veio ficar ao lado dela.
Você ilumina quando pinta, da mesma forma que quando dança. Você deveria fazer mais do que ama. Isadora olhou para ele, algo mudando em seu peito. Ele estava realmente prestando atenção, realmente vendo ela. “Obrigada”, ela sussurrou. Eles ficaram ali por horas pintando, conversando, compartilhando histórias.
Rodrigo contou sobre a infância, o pai controlador, as expectativas esmagadoras. Isadora falou sobre seus sonhos de ser dançarina. Como foi difícil desistir, o peso de sempre colocar a família primeiro. Eu invejo você, Rodrigo admitiu em um momento. Sua capacidade de sonhar, de ainda ter esperança depois de tudo. Eu me tornei tão cínico, tão fechado.
Você pode mudar. Isadora disse suavemente: “Se quiser, quero”. Ele pegou a mão dela manchada de tinta azul com você. Quero aprender a sentir novamente, a viver, não apenas existir. Quando finalmente saíram do estúdio, o solva se pondo. Eles pararam em um restaurante pequeno no caminho de volta.
Não um lugar sofisticado, mas uma lanchonete de estrada com hambúrgueres e batatas fritas. Não é exatamente cinco estrelas”, Rodrigo disse meio se desculpando. “É perfeito”, Isadora insistiu. E era, eles sentaram em uma cabine de canto, comeram com as mãos, riram de piadas bobas. Quando voltaram para casa, era quase meia-noite.
Rodrigo estacionou, mas nenhum dos dois se moveu para sair do carro. Obrigada, Isadora disse, por hoje foi o melhor dia que tive em muito tempo. Para mim também. Rodrigo se virou para encará-la. Posso perguntar algo? Claro. Posso te beijar de verdade desta vez. Não para aparências ou porque alguém está olhando. Apenas porque eu quero. O coração de Isadora disparou.
Ela sabia que deveria ir devagar, mas aquele dia tinha mudado algo. Tinha plantado uma semente de esperança que ela pensou que estivesse morta. Sim. Rodrigo se inclinou, dando-lhe tempo para mudar de ideia, mas ela não mudou. Seus lábios se encontraram suave, primeiro tentativo, como dois estranhos aprendendo a linguagem um do outro. E então, mais profundo, o mundo desapareceu.
Não havia mansão, não havia contrato, não havia meses de dor, apenas dois corações que, contra todas as probabilidades, estavam começando a encontrar um ritmo comum. Quando se separaram, ambos estavam sem fôlego. “Uau!”, Rodrigo murmurou. “Y Isadora concordou, tocando seus lábios com os dedos.
Uau! E naquela noite, enquanto se despediam em suas respectivas portas de quarto, ainda dando passos lentos, ainda tentando reconstruir confiança, ambos sabiam que algo tinha mudado. Talvez ainda não fosse amor, mas era o começo de algo real. E às vezes o começo é o mais importante. A semana seguinte foi diferente. Não perfeitamente mudada. Mudanças reais levam tempo, mas diferente o suficiente para Isadora sentir o contraste.
Rodrigo começou a tomar café da manhã com ela. Não todos os dias. Ele ainda tinha reuniões matinais, viagens ocasionais, mais três, às vezes quatro vezes por semana. Ele estave lá sentado com ela à mesinha perto da janela, conversando sobre o dia que tinham pela frente, fazendo pequenos planos.
Tem um verniçagem quinta-feira, Isadora mencionou em uma manhã mordendo torrada. Nova galeria abrindo no centro. Júlia, vai comigo, quer que eu vá junto?”, Rodrigo perguntou e sua voz era genuína, não obrigação. Isadora piscou surpresa. “Você você iria? Se você quer que eu vá, claro, posso cancelar a reunião das 7? Cancelar uma reunião por ela. Semanas atrás, a ideia seria impossível.
Agora eu adoraria”, ela disse, um sorriso pequeno curvando seus lábios. Mas apesar dos progressos, ainda havia momentos difíceis. Hábitos formados ao longo de cinco meses não desapareciam da noite para o dia. Como na quarta-feira, quando Rodrigo cancelou o jantar de última hora, uma emergência corporativa real, desta vez não uma desculpa.
Mas Isadora sentiu a velha dor se infiltrando, o medo de voltar aos padrões antigos. Ela comeu sozinha, tentando não deixar a tristeza tomar conta, mas quando subiu para o quarto, encontrou um bilhete sob sua porta. Isadora, desculpa pelo jantar. Sei que prometi estar lá. Vou compensar amanhã. Podemos fazer aquele risoto que você ama. Vou tentar não queimar a cozinha. R.
Pequenas coisas, pequenos gestos, mas para alguém que tinha passado meses sem nada, eram tudo. A terapia de casal começou na sexta-feira. Rodrigo agendou com a Dra. Beatriz Mendes, uma terapeuta especializada em relacionamentos e trauma. Eles se sentaram no consultório. Paredes pintadas em tons suaves, poltronas confortáveis, caixa de lenços estrategicamente posicionada. Isadora estava nervosa, suas mãos tremendo levemente.
Rodrigo, ao seu lado, parecia calmo por fora, mas ela podia ver a tensão em seus ombros. Bem-vindos, Dra. Beatriz disse seu sorriso acolhedor. Ela devia ter cerca de 50 anos, cabelos prateados, olhos gentis, mas penetrantes. Por que não começam me contando o que os trouxe aqui? Rodrigo e Isadora trocaram olhares. Nosso casamento começou de maneira não convencional. Rodrigo disse finalmente.
Foi um arranjo de negócios e eu eu não lidei bem com isso. Tratei Isadora de forma que me envergonho e agora estamos tentando consertar. Isadora. Dra. Beatriz se virou para ela. Como você descreveria a situação? Isadora respirou fundo. Eu me senti invisível.
Por ces vivi na mesma casa que meu marido e me senti completamente sozinha. Foi, foi a época mais escura da minha vida. E o que mudou? A terapeuta perguntou. Outro homem prestou atenção nela. Rodrigo respondeu, sua voz carregada de culpa, e eu percebi que estava perdendo algo precioso que nem sabia que tinha. Dout. Beatriz fez anotações, assentiu pensativamente. Vejo.
E vocês agora querem transformar esse arranjo de negócios em um relacionamento real? Sim. Ambos responderam em uníssono. A sessão continuou. Perguntas sobre suas histórias individuais, padrões de comunicação ou falta dela, expectativas para o futuro, foi desconfortável expor tanto para uma estranha, mas também foi libertador. No final da hora, Dra. Beatriz fechou seu caderno e olhou para os dois.
Vocês têm muito trabalho pela frente. A fundação do relacionamento de vocês é rachada, construída em obrigação, não escolha. Mas ela sorriu. Vocês também têm algo importante. Vocês querem consertar. Ambos estão aqui, dispostos a ser vulneráveis, a tentar. Isso é mais do que muitos casais têm. Então, há esperança? Isadora perguntou sua voz pequena. Sempre há esperança.
Dra. Beatriz disse gentilmente, mas vão precisar se comprometer. Terapia não é mágica, é trabalho. É escolher todos os dias ser honesto, ser presente, ser generoso com o outro. Estamos prontos? Rodrigo disse pegando a mão de Isadora. Quando saíram do consultório, o sol estava se pondo.
Rodrigo não soltou a mão dela enquanto caminhavam para o carro. “Como você está se sentindo?”, ele perguntou. estranha, exposta, mas também esperançosa. Isadora apertou a mão dele. E você, assustado, ele admitiu, mas determinado. O verniçagem na quinta-feira foi revelador. Rodrigo apareceu pontualmente às 7, terno trocado por jeans e uma camisa social, casual, mas elegante. Isadora o viu entrar e sentiu borboletas em seu estômago. Ele veio. Ele realmente veio.
Júlia os cumprimentou com um sorriso, sabendo. Então, este é o famoso marido, devo dizer, Isa, ele é menos terrível em pessoa. Rodrigo piscou, surpreso com a franqueza. Isadora riu constrangida. Júlia não tem filtro. Desculpa. Não. Rodrigo disse, estendendo a mão para Júlia. Ela está certa.
Eu fui terrível, mas estou tentando ser menos terrível agora. Júlia o estudou, então aceitou o aperto de mão. Vou te dar o benefício da dúvida, mas magoei minha amiga de novo e eu conheço pessoas. Rodrigo soltou uma risada genuína, algo que Isadora estava começando a ouvir mais. Anotado, a galeria era pequena, mas curada com gosto. Arte moderna brasileira, pinturas, esculturas, instalações.
Isadora foi de peça em peça, explicando as técnicas, o contexto, compartilhando suas interpretações. Rodrigo o ouvia fascinado, não apenas pela arte, mas pela forma que ela falava sobre isso. Seus olhos brilhavam, suas mãos gesticulavam animadamente. Você devia realmente fazer isso”, ele disse quando estavam sozinhos em frente a uma tela particularmente impressionante.
Curadoria. Abrir sua própria galeria é um sonho grande. Sonhos grandes são os únicos que valem a pena. Rodrigo a puxou para perto, seu braço ao redor de sua cintura. E eu vou te apoiar financeiramente, logisticamente, emocionalmente, o que você precisar. Isadora o olhou, procurando por sinais de que ele estava apenas sendo educado, mas seus olhos eram sérios, sinceros.
Você fala sério completamente. Ele beijou sua testa suavemente. Quero ver você voar, Isadora. Não apenas sobreviver, mas prosperar, fazer as coisas que ama. Lágrimas picaram seus olhos. Obrigada. O momento de ruptura veio no sábado à noite. Eles tinham passado o dia juntos, almoço em um restaurante que Isadora adorava.
Caminhada em um parque, tarde preguiçosa, lendo em companã silenciosa. Estava sendo maravilhoso, fácil, como Isadora sempre imaginou que casamento deveria ser. Mas à noite, quando estavam assistindo um filme na sala de estar, o telefone de Rodrigo tocou. Ele olhou para a tela e franziu a testa. Desculpa, preciso atender. É Hong Kong.
Isadora assentiu, tentando não sentir a velha decepção. É trabalho, é legítimo. Mas 20 minutos se passaram, depois 30. Ela podia ouvi-lo no escritório falando em inglês fluente, discutindo números, estratégias. A TV continuava ligada, mas ela não estava mais prestando atenção. Isso é como sempre foi. Uma voz sussurrou em sua mente.
Trabalho sempre vem primeiro. Você sempre será secundária. Quando Rodrigo finalmente voltou, quase uma hora tinha passado. O filme tinha acabado. Isadora estava enrolada em uma bola no sofá, abraçando um travesseiro. “Desculpa”, ele disse, sentando ao lado dela. “Emergência com Não.” Isadora o interrompeu. Sua voz trêmula. Não faz isso. Fazer o quê? Me dar desculpas.
Explicar por trabalho é mais importante. Eu entendo. Eu sempre entendo. Mas ela o encarou, lágrimas escorrendo. Está acontecendo de novo, Rodrigo. Você está escorregando de volta aos velhos padrões. E eu eu não aguento isso de novo. Rodrigo ficou pálido. Isadora não foi. Era realmente uma emergência. Sempre
é. Sempre. tem algo mais importante, mais urgente. E eu fico aqui esperando, sempre esperando pelas migalhas de atenção que você pode me dar. Sua voz subiu, meses de dor, finalmente derramando. Eu estou tentando acreditar que mudou, mas como posso quando você ainda prioriza tudo menos eu? Isso não é justo. Não é justo. Isadora se levantou, o travesseiro caindo no chão.
Sabe o que não é justo? passar meses chorando sozinha, se sentindo tão invisível que eu desejava não existir. Sabe o que não é justo? Começar a ter esperança, começar a acreditar que talvez, talvez você realmente me veja só para você voltar a me ignorar na primeira oportunidade. Eu não estava te ignorando.
Era uma ligação de trabalho e eu sempre vou perder para o trabalho, não vou? sempre vou ser a segunda opção. A esposa que espera, a mulher que você lembra quando é conveniente. Rodrigo se levantou também, frustra, acumulando. Você está sendo irracional. Eu não posso simplesmente ignorar responsabilidades. Não estou pedindo para ignorar. Estou pedindo para me priorizar de vez em quando. Estou pedindo para para o quê? Rodrigo pressionou.
Me diz o que mais você quer que eu faça. Eu estou tentando, Isadora. Estou fazendo mais do que nunca fiz em qualquer relacionamento, mas nada é suficiente para você. A acusação pairou no ar. Isadora parou como se tivesse levado um tapa. Nada é suficiente. Ela repetiu lentamente. Então soltou uma risada amarga. Você está certo. Nada é suficiente.
Porque você deu tão pouco por tanto tempo que agora quando dá migalhas espera que eu seja grata. Não são migalhas. São sim. Ela estava chorando abertamente agora. Você dá 10% do que um marido deveria dar e espera que eu pule de alegria. Você aparece em um verniçagem e quer crédito por ser decente.
Você toma café da manhã comigo três vezes por semana e espera um troféu. Então, o que você quer de mim? Rodrigo gritou. Sua própria frustração finalmente explodindo. Dizer adeus ao trabalho, abrir mão de tudo que construí, fingir que responsabilidades não existem? Não, eu quero que você me ame. As palavras saíram antes que ela pudesse impedi-las.
Eu quero que você me ame como se eu importasse, como se não fosse um peso, uma obrigação. Eu quero acordar e não ter medo de que você vai desaparecer de novo. Eu quero. Eu quero. Sua voz quebrou. Ela desabou no sofá, soluços sacudindo seu corpo. Eu só queria ser amada. E com aquelas palavras, algo dentro de Rodrigo quebrou.
Ele se ajoelhou em frente a ela, pegando suas mãos mesmo quando ela tentou afastá-las. “Isadora, olha para mim, por favor”. Ela ergueu os olhos vermelhos, inchados, desolados. “Eu amo você.” Ela balançou a cabeça. “Não, você não.” “Eu amo você.” Ele repetiu, sua voz firme. “Eu sei que fui péssimo em mostrar.
Eu sei que dei cada razão possível para você duvidar, mas eu amo você. Me apaixonei sem perceber nos seus sorrisos hesitantes no café da manhã, na forma que você dança quando pensa que ninguém está olhando, na sua gentileza com Helena, na sua paixão por arte, na sua força mesmo quando estava destruída. Rod, não, deixa eu terminar, por favor. Ele tocou seu rosto gentilmente. Eu amo você e sinto muito.
Sinto muito por cada lágrima, cada noite sozinha, cada momento que te fiz sentir menos do que extraordinária. Sinto muito por ser tão estúpido, tão fechado, tão assustado de sentir que quase perdi a melhor coisa que já me aconteceu. Isadora soluçou, New Lágrimas correndo, mas diferentes agora. E você está certa. Eu preciso fazer melhor. Não é suficiente aparecer de vez em quando e esperar crédito.
Você merece um parceiro, não um marido parttime. Merece alguém que escolhe você sempre, não apenas quando é conveniente. Eu não sei se consigo confiar nisso. Isadora sussurrou. Não, depois de tudo entendo. E vou passar o tempo que for necessário provando, não com palavras, mas com ações. Vou errar de novo. Sei disso, mas vou continuar tentando.
Porque você vale a pena. Porque este casamento vale a pena. Ele pressionou a testa contra a dela. Porque eu te amo, Isadora, de verdade. Ela o abraçou, agarrando sua camisa, chorando em seu ombro todas as lágrimas que havia segurado, toda a dor, todo o medo. E Rodrigo assegurou, deixando suas próprias lágrimas silenciosas caírem, percebendo pela primeira vez o peso completo do dano que tinha causado.
Amor não era suficiente, eles sabiam disso agora, mas era um começo. E às vezes reconhecer o problema é o primeiro passo para curá-lo. Eles ficaram ali por horas no chão da sala de estar, abraçados, conversando entre lágrimas e confissões. Quando o relógio bateu 2as da manhã, ambos estavam exaustos, vulneráveis de uma forma que nunca tinham sido.
“Eu preciso de tempo”, Isadora disse finalmente. Sua voz rouca de tanto chorar. para processar tudo isso, para para descobrir se posso realmente confiar nisso. O pânico cruzou o rosto de Rodrigo. Você vai embora? Não, permanentemente, talvez. Ela respirou fundo. Júlia ofereceu o apartamento dela algumas vezes. Disse que sempre posso ficar se precisar de espaço.
Acho que acho que preciso desse espaço agora, só por uma semana, para pensar sem você aqui me influenciando. Cada palavra era uma punhalada no coração de Rodrigo, mas ele forçou a si mesmo a a sentir. Quanto tempo você precisa? Uma semana, sete dias. Isadora tocou seu rosto. Não é desistir, Rodrigo.
É só eu preciso estar sozinha com meus pensamentos, descobrir o que eu realmente quero, sem estar presa em expectativas ou medo ou ou em você olhando para mim daquele jeito. Que jeito? Como se eu fosse quebrável, preciosa. Como se você tivesse medo que eu vá desaparecer. Ela sorriu tristemente. É difícil pensar claramente quando você me olha assim.
Rodrigo queria argumentar. queria implorar para ela ficar prometer que seria diferente, mas ele tinha passado cinco meses tomando decisões por ela, controlando a narrativa deles, se ele realmente a amava, precisava deixá-la escolher. Ok, ele disse a palavra custando tudo.
Uma semana, mas Isadora, eu vou te esperar por quanto tempo for necessário. No domingo de manhã, Rodrigo ajudou Isadora a fazer uma mala, assistir suas roupas, seus livros, seus pertences sendo colocados em uma bolsa. Era tortura. Cada item era uma lembrança de que ela estava saindo, de que ele tinha falhado tanto que ela precisava de distância dele.
“Não esquece sua escultura”, ele disse, apontando para uma pequena peça de cerâmica que ela tinha feito em uma aula. Isadora a pegou, embrulhou cuidadosamente. “Obrigada.” Quando tudo estava pronto, eles ficaram no hall, um silêncio pesado entre eles. “Eu posso te levar?” Paulo já está esperando. Isadora o interrompeu gentilmente. Vai ser mais fácil assim.
Mais fácil para quem? Rodrigo pensou, mas não disse em voz alta. Liga se precisar de qualquer coisa. Ele disse, “Ou se só se só quiser conversar a qualquer hora. Vou ligar.” Ela hesitou. Então se aproximou, ficou na ponta dos pés e beijou sua bochecha. Cuida de você, ok? E então ela se foi. Rodrigo ficou na porta, assistindo o carro desaparecer pela estrada, sentindo como se uma parte dele estivesse sendo arrancada. Helena apareceu atrás dele, colocando uma mão gentil em seu ombro.
Ela vai voltar, Sr. Rodrigo, como você sabe? Porque ela te ama. Qualquer idiota consegue ver isso. Helena apertou seu ombro. Mas ela precisa saber que você mudou de verdade, não apenas por enquanto. E se ela decidir que não vale a pena, então você a deixa ir e aprende com seus erros para a próxima. Helena o virou para encará-la. Mas não seja covarde agora. Ela te deu uma semana.
Use esse tempo. Prove que vale a pena voltar. O apartamento de Júlia era pequeno, mas aconchegante, completamente diferente da mansão fria dos Almeida. Isadora deixou sua mala no quarto de hóspedes e desabou no sofá. Chá, Júlia ofereceu, já indo para a cozinha sem esperar resposta. Obrigada por me deixar ficar.
Para isso que servem amigas? Júlia voltou com duas canecas fumegantes, sentando ao lado de Isadora. Então, quer falar sobre isso ou prefere distração? Não sei por onde começar. pelo começo geralmente funciona. E Isadora contou tudo, os últimos dias, as tentativas de Rodrigo, a briga, a confissão de amor. Júlia ouviu em silêncio, apenas a sentindo ocasionalmente. Ele disse que te ama. Júlia resumiu quando Isadora terminou.
Disse: “E você acredita?” Isadora ficou quieta por um longo momento. “Acho que sim. Acho que ele realmente sente algo, mas não sei se é suficiente. Não sei se amor sem mudança real significa alguma coisa. Essa é uma pergunta muito madura. Júlia tomou um gole de chá. Muita gente confunde amor com compatibilidade.
Você pode amar alguém e ainda não conseguir viver com essa pessoa. É o que tenho medo que seja. Que ele me ame, mas não consiga mudar o suficiente. Que eu sempre venha em segundo lugar depois do trabalho. O que você quer, Isa? Se pudesse ter qualquer coisa, como seria?” Isadora fechou os olhos imaginando. Queria acordar e não ter medo.
Queria jantares juntos, não ocasionalmente, mas regularmente. Queria conversar sobre nossos dias, nossos sonhos. Queria ser parceiros. Não, apenas duas pessoas dividindo um endereço. Ela abriu os olhos. Queria me sentir escolhida. Isso é muito razoável. Mas será que é possível com alguém como Rodrigo? Não sei. Só vocês dois podem descobrir isso.
Júlia colocou a caneca de lado. Mas sei o seguinte, você merece ter seus pedidos atendidos. Não são demandas absurdas. É o básico de um relacionamento. Enquanto isso, na mansão, Rodrigo estava tendo sua própria crise. Ele cancelou todos os compromissos da semana, algo impensável meses atrás.
Sua assistente quase teve um ataque quando ele instruiu. Não me passe nenhuma reunião, a não ser que o escritório esteja literalmente pegando fogo. Ele passou o domingo caminhando pela casa vazia, vendo-a com novos olhos, lírios brancos que Isadora tinha colocado por todo lado, livros dela na biblioteca, uma manta que ela gostava de usar enquanto lia no sofá, evidências de que ela tinha tentado fazer daquela casa um lar e ele tinha ignorado tudo.
Na segunda-feira, Rodrigo fez algo que não fazia há anos. Foi a uma livraria. Comprou livros sobre relacionamentos, comunicação, mudança comportamental. Passou à tarde lendo, fazendo anotações, sublinhando passagens. Amor é uma escolha que fazemos todos os dias. Não um sentimento passivo, mas uma decisão ativa de priorizar, honrar e nutrir o parceiro. Ele tinha falhado nisso espetacularmente. Na terça, ele ligou para a Dra.
a Beatriz e agendou uma sessão individual. “Quero entender por assim”, ele disse a ela. “Porque é tão difícil me abrir ser vulnerável.” Eles passaram a hora explorando sua infância. Um pai emocionalmente ausente que valorizava sucesso acima de tudo. Uma mãe que amava, mas raramente estava presente, construindo sua própria carreira.
E depois Amanda, a traição, a forma que tinha solidificado suas defesas. “Você aprendeu que emoções são perigosas, Dra. A Beatriz explicou que se abrir significa se machucar. Então, construiu muros que agora esses muros estão te protegendo de dor, mas também de amor. Como eu derrubo os muros? Tijolo por tijolo, escolha por escolha, momento vulnerável por momento vulnerável. Ela se inclinou para a frente. E Rodrigo, você vai se machucar.
Em relacionamentos reais, vulnerabilidade significa risco, mas também significa conexão, intimidade, amor verdadeiro. Você tem que decidir se vale a pena. Na quarta-feira, Rodrigo fez algo ainda mais radical, visitou o pai. Carlos Almeida era um homem de 70 anos, ainda imponente, ainda intimidador.
Eles se encontraram no escritório dele porque, mesmo aposentado, Carlos mantinha um escritório. Rodrigo, que surpresa! Carlos não se levantou para cumprimentar o filho. Problema com a empresa? Não, pai. Vim falar sobre outra coisa. Carlos ergueu as sobrancelhas. Então fale. Rodrigo respirou fundo. Você já amou a mãe? A pergunta pegou o homem mais velho de surpresa. Que tipo de pergunta é essa? Uma legítima.
Vocês tiveram um casamento arranjado também. Como nós dois transformamos isso em algo real? Ou não transformaram? Carlos ficou quieto por um longo momento. Quando falou, sua voz estava mais suave do que Rodrigo já tinha ouvido. Eu amei sua mãe. Amo, mas fui um marido terrível por muitos anos. Trabalho sempre veio primeiro.
Assim como você, coloquei negócios acima de família e quase a perdi por isso. O quê? Eu não sabia. Por que saberia? Você era criança, mas houve um ano. Você tinha talvez seis em que sua mãe foi embora. Ficou com a irmã dela por três meses. Disse que não aguentava mais ser invisível. Carlos olhou pela janela, perdido em memórias. Foi o pior período da minha vida. A casa vazia? Você perguntando pela mãe todo dia.
Percebi que tinha construído um império, mas perdido uma família. O que você fez? Implorei. Mudei de verdade, desta vez não apenas promessas vazias. Comecei a sair do escritório às 6. Jantares em família se tornaram sagrados. Eu ainda trabalhava muito, mas aprendi a balancear, a fazer ela se sentir escolhida.
Carlos finalmente olhou para o filho. Por que está perguntando isso? Porque estou cometendo os mesmos erros e posso perder Isadora. Pela primeira vez que Rodrigo se lembrava, seu pai sorriu com algo que parecia orgulho. O fato de você reconhecer isso já é mais do que eu fiz na sua idade, a esperança para você ainda. Na quinta-feira, Rodrigo pegou o telefone e ligou para Isadora. Ela atendeu no terceiro toque. Oi. Oi.
Apenas ouvir sua voz fez o peito dele apertar. Como você está? Bem, pensando muito, Júlia está sendo ótima. Uma pausa. E você, vivo, trabalhando em mim mesmo, lendo, fazendo terapia, tentando entender tudo. Ele hesitou. Você faz falta. A casa parece errada sem você, Rodrigo. Não, não estou tentando te pressionar.
Só queria que você soubesse que você faz falta, que eu finalmente entendo o que você sentiu todos esses meses. Silêncio do outro lado, então suavemente. Obrigada por dizer isso. Eles conversaram por mais alguns minutos. Superficialidades principalmente, mas também algo mais profundo. Uma conexão que estava começando a se formar.
Quando desligaram, ambos se sentiram um pouco mais esperançosos. Na sexta-feira, último dia da semana, Rodrigo fez uma decisão. Ele ligou para sua assistente. Quero que você procure um CEO, alguém que pode assumir operações do dia a dia. Senhor, vou me afastar um pouco. Ainda serei CEO. Ainda tomarei decisões principais. Mas não posso mais trabalhar 18 horas por dia.
Preciso de uma vida fora do escritório. Sua assistente ficou em choque silencioso por um momento. Entendido, senhor. Vou começar a procura imediatamente. Depois ele ligou para um arquiteto que conhecia. Aquele curso de especialização que você mencionou, o de arquitetura sustentável, ainda está aceitando inscrições para o semestre que vem? Sim. Por quê? Porque eu quero fazer. trabalho meio período, estudo meio período.
Quero quero perseguir algo que realmente me interessa. Mudanças grandes, assustadoras, mas necessárias. No sábado, o sétimo dia, Rodrigo acordou não sabendo se Isadora voltaria. Ele tinha enviado uma mensagem simples na noite anterior. Amanhã completa uma semana. Não importa o que você decidir, vou respeitar, mas saiba que te amo e vou te esperar sempre. R.
Ele passou a manhã nervoso, incapaz de comer, de se concentrar. O telefone tocou ao meio-dia. Era Helena da cozinha. Senr. Rodrigo, a senora Isadora está na porta. O coração dele parou. Ele desceu as escadas correndo, quase tropeçando. Isadora estava ali, mala na mão, olhos vermelhos, como se tivesse chorado recentemente, mas estava sorrindo.
Um sorriso pequeno, mas real. “Oi”, ela disse. “Você voltou? Eu voltei. Ela entrou, deixou a mala no chão, mas com condições, qualquer coisa. Jantares juntos, pelo menos cinco vezes por semana, sem telefones de trabalho na mesa. Feito, terapia de casal, toda semana, sem exceções, obviamente.
E você precisa seguir com suas mudanças, queoo, aulas de arquitetura, tudo. Porque eu preciso saber que você está fazendo isso por você, não apenas por mim. Já comecei o processo. Entrevistas começam na segunda. Isadora o estudou, procurando sinais de hesitação. Não encontrou nenhum. Por que eu deveria acreditar que vai ser diferente desta vez? Rodrigo se aproximou, pegou suas mãos.
Porque eu finalmente entendi, não é só sobre te amar, é sobre te escolher todos os dias, em cada decisão pequena, se atender o telefone ou conversar com você, se trabalhar até tarde ou voltar para casa, se priorizar uma reunião ou priorizar nós. E eu escolho você, Isad Dora, sempre. Lágrimas escorreram pelo rosto dela. Promete? Prometo.
E quando eu falhar, porque vou falhar às vezes, prometo me desculpar, aprender e tentar de novo. Prometo nunca mais te fazer sentir invisível. Isadora o abraçou, finalmente permitindo-se acreditar, permitindo-se ter esperança de que talvez, apenas talvez eles pudessem realmente fazer aquilo funcionar. “Ok!”, ela sussurrou contra seu peito.
“Vamos tentar, de verdade, desta vez”. E naquele abraço eles não sabiam ainda, mas estavam plantando sementes. Sementes que com cuidado e dedicação constante cresceriam em algo bonito, algo real. Os próximos meses foram de reconstrução. Não foi fácil. Mudança real nunca é.
Houve tropeços, discussões, momentos de frustração, mas também houve crescimento. Rodrigo cumpriu suas promessas. contratou Marina Santos como CO, uma mulher competente de 40 anos que tinha estado na empresa por 10 anos e conhecia as operações melhor que ninguém. Ele delegou algo que sempre foi difícil para um controlador como ele. No início, foi agonizante sair do escritório às 6, quando havia e-mailos não respondidos, não verificar o telefone durante o jantar, confiar que outros pudessem lidar com problemas sem ele. Mas aos poucos ficou mais fácil e
ele descobriu algo surpreendente. A empresa não desmoronou. Na verdade, com Marina lidando com operações e Rodrigo focando em estratégia de alto nível, as coisas melhoraram. “Você parece mais leve”, Melissa comentou em um almoço familiar. “Mas humano, Rodrigo Riu era tão robótico assim antes?” “Meio que sim.
” Sua irmã sorriu, “Mas gosto dessa versão melhor. Isadora é boa para você. Ela era Deus, ela era.” Os jantares se tornaram sagrados. Cinco noites por semana sem falta, eles se sentavam juntos, às vezes na sala de jantar formal, mais frequentemente na cozinha aconchegante. Conversavam sobre tudo: trabalho, sonhos, medos, planos.
“Me conta sobre sua reunião com o investidor”, Isadora pedia genuinamente interessada. E Rodrigo compartilhava não apenas os números e estratégias, mas como se sentiu, o que o deixou animado ou frustrado, vulnerabilidade em pequenas doses, construindo confiança. “E o curso de curadoria?”, Rodrigo perguntava de volta.
Isadora brilhava ao falar sobre arte, sobre as técnicas que estava aprendendo, os artistas que estava descobrindo. Rodrigo amava vê-la assim, animada, apaixonada, viva. “Estou pensando em fazer um estágio”, ela confessou uma noite na galeria contemporânea. “Não pagam muito, mas a experiência seria incrível. Faça”, Rodrigo disse imediatamente. “Sem dúvida. Faça.” A terapia continuou.
Algumas sessões eram difíceis. cavando em feridas antigas, confrontando padrões prejudiciais, mas outras eram reveladores. “Vocês percebem quanto progrediram?” Dra. Beatriz disse em uma sessão três meses depois que Isadora voltou. “Olhem para onde começaram e onde estão agora. Ainda tem muito trabalho, Isadora disse, sempre cautelosa em ser muito otimista.
Claro, mas celebrem as vitórias pequenas. Rodrigo está saindo do escritório no horário. Isadora está perseguindo seus sonhos. Vocês estão conversando, realmente conversando. Não subestimem essas conquistas. Rodrigo pegou a mão de Isadora, entrelaçando seus dedos. Ela está certa. Nós estamos fazendo isso. As aulas de arquitetura começaram em agosto. Rodrigo estava nervoso.
Ele não era estudante há mais de uma década, mas descobriu que amava. amava o desafio de aprender algo novo, a criatividade do design, a ideia de construir espaços que impactariam vidas. Olha isso. Ele mostrou a Isadora seus sketes uma noite, animado como uma criança. É um centro comunitário que projetei para o projeto final. Tem espaço de dança, galeria de arte, biblioteca. Está incrível.
Isadora estudou os desenhos impressionada. Você tem talento real para isso, acha? Com certeza você deveria considerar fazer isso mais, talvez até mudar completamente de carreira eventualmente. A ideia era radical, assustadora, mas também emocionante. Não foram apenas grandes gestos, foram as pequenas coisas que reconstruíram a confiança.
Rodrigo aprendendo a fazer o risoto que Isadora amava, praticando até ficar perfeito. adora assistindo a jogos de futebol com ele, mesmo não sendo fã, porque via como ele se animava. Eles começando um ritual de cafés da manhã aos domingos, preguiçosos, longos, cheios de risadas, Rodrigo lembrando de comprar lírios brancos toda semana, Isadora fazendo o café dele exatamente como ele gostava, com uma colher e meia de açúcar, pequenos gestos dizendo: “Eu te vejo, eu me importo, você importa”.
Eles começaram a dormir no mesmo quarto, não imediatamente, mas gradualmente. Primeiro, Rodrigo ficava até ela adormecer, depois ia para seu próprio quarto. Depois ele dormia no sofá do quarto dela. Eventualmente eles se encontraram dividindo a cama, acordando entrelaçados. “Bom dia,” Rodrigo murmurava beijando sua testa.
“Bom dia,” Isadora respondia sonolenta e feliz. Esses momentos simples significavam tudo. Isadora começou o estágio na galeria contemporânea em setembro. Ela estava radiante, trabalhando com arte todos os dias, aprendendo com curadores experientes, começando a desenvolver seu próprio estilo e visão.
“Eles me ofereceram uma posição permanente”, ela anunciou seis semanas depois, praticamente pulando de emoção. “Como assistente curadora. Isadora, isso é incrível.” Rodrigo a pegou no colo, girando-a. Estou tão orgulhoso de você. É assustador. É um comprometimento real, sabe? Não é mais um hobby ou um estágio. Você vai ser incrível. Você já é incrível. Ele a colocou no chão, segurando seu rosto.
E vou estar aqui te apoiando em cada passo. Naquela noite, eles celebraram champanhe barato, porque Isadora insistiu, dizendo que champanhe caro era desperdício em celebrações pequenas, pizza entregue, dançando descalços na sala ao som de música que Isadora amava. Eu te amo”, ela disse de repente, parando de dançar para olhar nos olhos dele.
Era a primeira vez que ela dizia: “Meses de reconstruir confiança”. E finalmente ela estava pronta para dizer as palavras. O coração de Rodrigo parou. “O quê? Eu te amo, Rodrigo. Você trabalhou tão duro para mudar, para nos dar uma chance. E eu eu me apaixonei pelo homem que você está se tornando, pelo homem que você sempre foi por baixo das defesas”.
Rodrigo sentiu lágrimas queimando. Eu te amo também. Deus adora. Eu te amo tanto. Eles se beijaram. Suave primeiro, depois mais profundo. Um beijo que prometia futuros, que curava passados, que celebrava o presente imperfeito, mais real deles. Nem tudo foi perfeito. Houve recaídas.
Como a vez que Rodrigo ficou no escritório até meia-noite três dias seguidos por causa de uma crise de fusão. Isadora sentiu os velhos medos voltando, a sensação de estar sendo deixada de lado novamente. “Você prometeu?”, ela disse na terceira noite. Voz tremendo. Prometeu que seria diferente. “Eu sei, eu sei, mas foi uma emergência real, Isa. A fusão toda poderia ter desmoronado. Sempre vai ter uma emergência.
sempre vai ter algo mais importante. Eles brigaram, não gritando desta vez, mas com palavras cuidadosas e feridas abertas. Eventualmente, Rodrigo percebeu que ela estava certa. Ele tinha caído em velhos padrões. “Você está certa”, ele admitiu. “Eu deixei o trabalho tomar controle de novo e sinto muito, de verdade.
Como eu sei que não vai acontecer de novo? Você não sabe. Tudo que posso fazer é prometer tentar melhor e dar a você permissão para me chamar quando eu estiver escorregando para ser meu sistema de alerta. Ele pegou suas mãos. Eu preciso de você para me lembrar do que importa quando eu esqueço. Foi honestidade crua, imperfeita, mas real.
E aos poucos eles aprenderam a navegar esses momentos, a comunicar quando precisavam de atenção, quando estavam se sentindo negligenciados. a ajustar e recalibrar constantemente. Em novembro, eles renovaram seus votos. Não foi o grande evento que o casamento original deveria ter sido. Foi íntimo, apenas família próxima, e alguns amigos, incluindo Júlia, que chorou mais que a noiva, na mesma capela onde tinham se casado um ano antes. Mas desta vez foi diferente.
Foi escolha, não obrigação. Isadora usava um vestido simples de renda branca, flores naturais no cabelo. Rodrigo estava em um terno azul marinho, nervoso como um adolescente no primeiro encontro. Isadora. Ele começou quando chegou a hora dos votos pessoais, sua voz quebrando de emoção.
Quando nos casamos há um ano, eu estava aqui fisicamente mais ausente em tudo mais que importava. Eu via este casamento como uma transação, uma obrigação, e quase perdi você por causa da minha estupidez. Lágrimas já escorriam pelo rosto dela, mas você me deu uma segunda chance e depois uma terceira e quarta e tantas outras que perdi a conta.
Você me ensinou que amor não é um sentimento passivo, é uma escolha ativa que fazemos todos os dias. É escolher ficar quando é difícil. É escolher perdoar quando foi machucado. É escolher acreditar mesmo quando assustado. Ele limpou suas próprias lágrimas, rindo fracamente. Então, hoje eu escolho você, não por obrigação ou contrato, mas porque você é a melhor pessoa que conheço.
Porque você me faz querer ser melhor. Porque com você aprendi o que significa realmente viver, não apenas existir. Ele pegou suas mãos. Eu me casei com você por conveniência, Isadora. Mas hoje eu escolho você por amor e vou continuar escolhendo você todos os dias para o resto da minha vida. Isadora estava chorando completamente agora. Quando chegou sua vez, ela mal conseguiu falar.
Rodrigo ela começou. Voz trêmula. Quando nos casamos, eu achei que estava sacrificando minha felicidade pelo bem da família. Achei que passaria a vida toda invisível, não amada, apenas tolerada. Rodrigo apertou suas mãos, sua própria visão embaçada por lágrimas. Mas você me provou errada. Não imediatamente. Deus sabe que levou tempo.
Risadas gentis da pequena multidão. Mas você acordou. Você viu o dano que causou e escolheu consertar. E isso. Isso levou mais coragem do que eu imaginava. Ela tocou seu rosto suavemente. Você não é perfeito. Nós não somos perfeitos. Você ainda trabalha demais. Às vezes eu ainda fico insegura. Nós ainda brigamos, ainda erramos, mas a diferença agora é que tentamos, conversamos, escolhemos um ao outro, mesmo quando é difícil. Suas lágrimas caíram mais rápido.
Então, hoje eu também escolho você, não o CEO bilionário ou o sobrenome prestigioso, apenas você. O homem que aprende a cozinhar risoto porque sabe que é meu favorito. O homem que compra lírios brancos toda semana. O homem que está corajoso o suficiente para ser vulnerável, para mudar, para amar de verdade. Ela sorriu através das lágrimas. Valeu a pena esperar você acordar, Rodrigo.
Valeu cada lágrima, cada momento difícil, porque agora temos algo real e eu não trocaria isso por nada. Quando se beijaram, não havia nada de formal ou casto. Era um beijo cheio de promessas, de amor ganho duramente, de futuros construídos tijolo por tijolo. E todos que testemunharam sabiam: este não era o fim de uma história, era o começo.
Dezembro chegou com suas festas e calor de fim de ano brasileiro. Rodrigo e Isadora tinham estado casados, verdadeiramente casados, de corações entrelaçados, por um mês desde a renovação de votos. E a vida estava boa, não perfeita, mas genuinamente boa. Temos que falar sobre o Natal.
Isadora disse numa manhã de domingo tomando café na cama, um novo ritual deles. Sua mãe quer fazer uma festa na casa dela. Meus pais querem que passemos o dia com eles. E eu meio que prometi ao Helena que estaríamos aqui para o jantar especial dela, Rodrigo Rio, puxando-a mais perto. Problemas de gente normal, famílias brigando por atenção. É estressante, é lindo. Ele beijou seu cabelo.
Significa que temos pessoas que se importam, que querem passar tempo conosco. Eles eventualmente decidiram dividir o dia. Almoço com os pais de Isadora, tarde com a mãe de Rodrigo, noite em casa com Helena, preparando sua ceia especial. Exaustivo, mas justo. O verdadeiro teste veio algumas semanas antes do Natal.
Loran Dio Bois voltou ao Brasil para negócios e inevitavelmente cruzou com Rodrigo e Isadora em um evento corporativo. Rodrigo, Isadora. Loran cumprimentou com seu sorriso encantador, beijando as bochechas de Isadora no estilo francês. Que alegria ver vocês dois. Rodrigo sentiu um aperto familiar, ciúme, mas diferente de antes. Antes era a possessividade primitiva, misturada com medo de perder algo que ele não tinha valorizado.
Agora era apenas um lembrete. Lohan era o catalisador, o homem que tinha tratado Isadora com a gentileza que ela merecia quando Rodrigo estava falhando miseravelmente. Ele não era uma ameaça, era um professor acidental que tinha mostrado a Rodrigo o que ele estava perdendo. “Lohan”, Rodrigo disse, estendendo a mão para um aperto firme, mais amigável.
“Como estão os negócios?” Eles conversaram por alguns minutos. Loran estava investindo em uma startup brasileira, ficaria por algumas semanas. Ele e Isadora falaram sobre arte. Aparentemente ele tinha comprado uma peça de um artista que ela recomendara. Você estava absolutamente certa sobre ele, Loran disse animadamente, a obra é magnífica. Você tem um olho incrível.
Isadora corou de prazer. Obrigada. Quando Loran se desculpou para falar com outros convidados, Rodrigo puxou Isadora para perto. “Você está bem?”, ela perguntou vendo algo em seu rosto. “Sim, só pensando em como as coisas mudaram.” Ele a virou para encará-lo um ano atrás. Ver você falando com ele me deixou louco de ciúmes.
Agora eu só sinto gratidão, gratidão, por ele ter te tratado bem quando eu não tratei, por ter sido o choque que eu precisava para acordar, por ter mostrado que você merecia mais do que eu estava dando. Rodrigo tocou seu rosto gentilmente. Ele é um bom homem. E eu sou grato que cruzou seu caminho, porque sem aquele momento no lago, eu poderia nunca ter percebido o que estava perdendo.
Isadora sentiu lágrimas picarem. Você realmente mudou? Estou tentando todos os dias. Mas nem tudo era sobre o passado. O presente tinha seus próprios desafios, como a decisão de Isadora alguns dias depois de propor algo grande. Quero abrir minha própria galeria”, ela anunciou durante o jantar, nervosa, mas determinada.
Rodrigo baixou o garfo, prestando atenção total. Me conta mais. Tenho trabalhado na contemporânea por meses e é incrível, mas tenho ideias, visões de como uma galeria poderia ser focando em artistas brasileiros emergentes, dando espaço para vozes que são frequentemente ignoradas. Suas palavras começaram a sair mais rápido, animação crescendo.
E sei que é arriscado e vai precisar de investimento e pode falhar completamente. Vamos fazer isso, Rodrigo disse simplesmente. Isadora parou. Boca aberta. O quê? Sua galeria. Vamos fazer acontecer. Temos o capital. Você tem a visão e a paixão. Fala comigo sobre números, localização, cronograma. Vamos construir isso.
Rodrigo, você nem ouviu meu plano de negócios ainda. Então me apresenta amanhã. Vou escutar cada palavra. Ele pegou sua mão sobre a mesa, mas já sei que vai funcionar, porque é seu sonho e eu acredito em você. Lágrimas escorreram pelo rosto de Isadora. Porque você é tão, tão o quê? Maravilhoso, apoiador, tão diferente de um ano atrás.
Porque você me ensinou como amar de verdade e parte de amar alguém é querer vê-los voar. Ele se levantou se ajoelhando ao lado de sua cadeira. Então voa, Isadora. Abre sua galeria, muda o mundo da arte brasileira e eu vou estar aqui te aplaudindo cada passo do caminho.
Ela o beijou, sentindo como se seu coração fosse explodir de felicidade. Os meses seguintes foram um turbilhão de preparações. Encontraram um espaço perfeito, um armazém reformado no bairro artístico da cidade, com tetos altos, luz natural abundante, caráter e história. contrataram arquitetos. Rodrigo participou do projeto aplicando o que estava aprendendo em suas aulas.
Designers construíram o espaço dos sonhos de Isadora. Ela era meticulosa, perfeccionista, escolhendo cada detalhe desde a iluminação até a cor das paredes, Branco Neve, para não competir com as obras. Rodrigo a observava trabalhar com admiração, vendo a líder e visionária que ela sempre foi, apenas esperando pela chance de brilhar.
“O que você acha?”, ela perguntava constantemente insegura. “Acho que é perfeito. Acho que você é um gênio. Acho que mal posso esperar para ver isso aberto.” A inauguração foi marcada para março, exatamente um ano e meio depois do casamento original deles. A simetria não passou despercebida. Desposa invisível para dona de galeria, Júlia comentou, ajudando com os preparativos.
Que transformação! Não sei se posso levar o crédito”, Isadora disse, organizando o catálogo da exposição de abertura. Foi Rodrigo quem possibilitou isso. Não, foi você. Júlia tocou seu ombro. Você sobreviveu. Você não desistiu de si mesma mesmo quando foi tratada como se não importasse. Você construiu uma vida, perseguiu sonhos.
Rodrigo te apoiou financeiramente, sim, mas a coragem, a visão, a paixão, isso é todo seu, Isa. A noite de inauguração da Galeria Almeida. Isadora tinha insistido em usar o nome de casada, porque agora significa algo bom para mim. Foi mágica. Mais de 200 pessoas compareceram. Críticos de arte, colecionadores, artistas, amigos, família.
As paredes exibiam obras de 15 artistas brasileiros emergentes, cada um selecionado cuidadosamente por Isadora. Havia diversidade em estilos, backgrounds, mensagens. Ah, isto é para todos os artistas que foram ignorados, Isadora disse em seu discurso de abertura. Sua voz apenas ligeiramente trêmula. Para todos que foram ditos que suas vozes não importavam, que suas visões não eram comercialmente viáveis, este espaço é para vocês, para nós. Os aplausos foram ensurdecedores.
Rodrigo, na primeira fila, aplaudia mais alto que todos, orgulho explodindo em seu peito. Depois, quando os convidados circulavam admirando as obras bebendo champanhe, Rodrigo encontrou Isadora parada sozinha em um canto, observando tudo com expressão de maravilha. Você fez isso?”, ele disse, vindo por trás, envolvendo-a em seus braços. “Nós fizemos.
” “Não, você fez. Esta é sua visão, seu trabalho duro, sua paixão. Eu apenas dei suporte financeiro. Você é quem fez a mágica acontecer.” Isadora se virou em seus braços, olhando para ele com tanto amor, que Rodrigo sentiu seu coração apertar. “Obrigada por acreditar em mim, por me apoiar, por me dar espaço para voar.
Sempre eles se beijaram ali no meio da galeria que ela tinha construído, rodeados por arte e sonhos realizados. Naquela noite, em casa, exaustos, mais felizes, eles caíram na cama entrelaçados. “Rodrigo!” Isadora murmurou sonolenta. “Hum, eu sou feliz, genuinamente, profundamente feliz”. Ele a puxou mais perto, beijando sua testa. Eu também, meu amor. Eu também.
E pela primeira vez em suas vidas, ambos sabiam que estavam exatamente onde deveriam estar, com a pessoa que escolheram, construindo uma vida que realmente importava. Um ano depois da inauguração da galeria, 2 anos e meio depois do casamento original, Rodrigo acordou cedo em um sábado de manhã. Isadora ainda dormia ao lado dele, cabelos espalhados pelo travesseiro, uma mão descansando sobre o peito dele mesmo no sono.
Ele ficou ali por um momento, apenas observando como tinha chegado tão longe. 2 anos e meio atrás, ele teria achado impossível que pudesse sentir assim: paz profunda, contentamento genuíno, amor que não assustava mais, mas sim o fazia sentir completo. A galeria de Isadora estava prosperando.
Ela tinha se tornado uma figura respeitada no mundo da arte brasileira, conhecida por seu olho aguçado para talento emergente e sua dedicação em dar voz aos marginalizados. Três artistas que ela exibiu no primeiro ano já tinham ganhado prêmios nacionais. Rodrigo tinha se formado em seu curso de arquitetura e começado a pegar projetos pequenos, na verdade trabalhando como arquiteto em meio período, ainda seou, mas com Marina, lidando com muito das operações do dia a dia. Ele estava mais feliz do que jamais imaginou possível. E
o casamento deles, o casamento deles era real, imperfeito, mas real. Eles ainda discutiam ocasionalmente sobre dinheiro, sobre tempo, sobre pequenas irritações que casais têm, mas agora eles conversavam, trabalhavam juntos, se desculpavam quando erravam. O telefone de Rodrigo vibrou, um lembrete. Ele sorriu. Hoje era o dia.
Isa ele sussurrou, beijando seu ombro gentilmente. Acorda, amor. Ela fez um som de protesto, se enrolando mais nas cobertas. Cedo demais. Tenho uma surpresa para você. Isso a fez abrir um olho. Que tipo de surpresa? O tipo que requer você se vestir e vir comigo, roupa confortável e confiar em mim. Curiosidade venceu o sono. 30 minutos depois, eles estavam no carro.
Rodrigo dirigindo para fora da cidade. “Vai me dar uma pista?”, Isadora perguntou, tentando ficar muito ansiosa. “Paciência é uma virtude. Virtude é super estimada.” Rodrigo riu, pegando sua mão e beijando seus dedos. Só mais 20 minutos. Eles dirigiram por estradas rurais que se tornavam cada vez mais bonitas.
Colinas verdes, árvores frondosas, um rio cintilante ao lado da estrada. Eventualmente Rodrigo virou por um caminho de terra que levava a uma propriedade, não era enorme, talvez 5 hactares, mas era deslumbrante, uma casa de campo charmosa, jardins selvagens, árvores antigas, uma vista para o vale abaixo. Onde estamos? Isadora perguntou saindo do carro. Nosso novo retiro de fim de semana.
Se você gostar, Rodrigo veio ficar ao lado dela. Comprei no mês passado. Estava esperando ser reformada antes de te mostrar. Você comprou uma casa? Uma casa de campo? Um lugar para fugirmos quando a cidade fica muito barulhenta. Um lugar apenas nosso. Ele a guiou pelo terreno, mostrando cada canto.
O jardim perfeito para as plantas que ela amava, o estúdio grande com luz natural onde ela poderia pintar, o escritório onde ele poderia trabalhar em projetos de arquitetura. Rodrigo, é é perfeito. Tem mais. Ele a levou para dentro da casa, através de quartos aconchegantes e salas cheias de potencial, até chegarem ao que seria um quarto de bebê. Isadora parou. Respiração presa. Eu sei que nunca conversamos sobre isso direito.
Rodrigo começou nervoso de repente. Sobre filhos, sobre expandir nossa família. E se você não quer, tudo bem. Eu sou feliz apenas nós dois. Mas eu pensei, talvez um dia, se você quiser, este poderia ser um bom lugar para começar. Isadora estava chorando. Lágrimas felizes desta vez.
Você quer ter filhos comigo? Quero tudo com você. Filhos, se você quiser ou não, se preferir, apenas uma vida inteira aqui na cidade, viajando pelo mundo. Não importa onde ou como, apenas que seja junto. Ela o beijou duro e profundo, derramando todo o seu amor no beijo. “Eu quero”, ela sussurrou quando se separaram.
“Filhos, família, tudo com você”. Eles passaram o dia explorando a propriedade, fazendo planos. À tarde, piquenicaram perto do rio, deitados na grama, observando nuvens. Nunca imaginei que pudesse ser assim, Isadora disse sonhadoramente. Tão feliz, tão completa. Nem eu. Rodrigo se virou de lado, apoiando a cabeça na mão, olhando para ela.
Lembra daquele primeiro dia quando assinamos o contrato? Como eu poderia esquecer? Pior dia da minha vida. O meu também. Bem, um dos piores. Teve muitos depois, quando fui um idiota completo. Ele tocou seu rosto. Mas olha onde chegamos. De dois estranhos em um casamento de negócios. Para isto, para amor verdadeiro. Para amor verdadeiro. Ele concordou.
É família e parceria e um futuro que mal posso esperar para viver. Isadora se sentou, puxando os joelhos contra o peito. Às vezes ainda tenho pesadelos, sabe? Acordo e tenho medo que foi tudo um sonho, que vou descer para o café e você vai ter voltado a me ignorar. Hei! Rodrigo sentou também, puxando-a para seus braços.
Olha para mim. Isso é real. Eu te amo, Isadora. Não perfeitamente, não sem falhas, mas verdadeiramente. E nada, nenhum trabalho, nenhuma reunião, nenhuma responsabilidade vai mudar isso. Promete? Prometo. Para sempre. Meses depois, em uma noite quente de verão, Rodrigo e Isadora organizaram um jantar na mansão, agora transformada em um lar real, cheio de vida e amor.
Estavam todos lá, Melissa e Fernando, que agora estavam esperando seu primeiro filho, a mãe de Rodrigo, os pais de Isadora, Júlia e outros amigos próximos. Helena tinha preparado um banquete e a mesa estava linda, decorada com lírios brancos e velas. Um brinde, Rodrigo disse, levantando-se no meio da refeição, copo de vinho na mão, a família, a amigos e a segundas chances, e a não desistir, mesmo quando parece impossível. Isadora adicionou também se levantando.
Tenho uma razão para este jantar. Rodrigo continuou pegando a mão de Isadora, além de apenas reunir as pessoas que amamos. Isadora sorriu, olhos brilhando. Juntos eles disseram: “Estamos esperando um bebê”. O barulho foi ensurdecedor, gritos de alegria, palmas, lágrimas felizes. A mãe de Isadora pulou para abraçá-la. A mãe de Rodrigo limpava lágrimas discretamente.
Melissa estava praticamente gritando de emoção. “Quando vocês descobriram?” Júlia perguntou, abraçando ambos. “Há duas semanas, Isadora respondeu radiante. Queríamos ter certeza antes de contar. Vou ser tia.” Melissa anunciou desnecessariamente, já planejando festas de bebê e compras de roupinhas em sua cabeça.
Mais tarde, quando os convidados tinham ido embora e a casa estava quieta novamente, Rodrigo e Isadora ficaram na varanda observando as estrelas. “Assustado?”, Ela perguntou apoiada em seu peito. Apavorado, ele admitiu, mas também emocionado. Mal posso esperar para conhecer nosso filho, para ser pai, para construir uma família com você.
Você vai ser um pai incrível, você acha? Sei disso, porque você aprendeu a coisa mais importante, estar presente, escolher as pessoas que ama sobretudo mais. Nosso filho vai saber que é amado, que importa, que é visto, porque você sabe o que acontece quando alguém não se sente assim.
Rodrigo a virou para encará-lo, segurando seu rosto com ambas as mãos. Me casei com você por obrigação, Isadora. Um contrato frio, uma transação de negócios. Mas agora, agora eu escolho você todos os dias, não porque preciso, mas porque não consigo imaginar uma vida sem você. Você me ensinou a amar, a sentir, a ser humano novamente e vou passar o resto da minha vida te mostrando o quanto você significa para mim.
Você já mostra todos os dias, em cada pequeno gesto, cada escolha que faz, cada vez que escolhe nós sobre trabalho. Ela sorriu através das lágrimas. Valeu a pena, Rodrigo. Cada lágrima, cada noite sozinha, cada momento de dor, porque me trouxe aqui para este momento com você. Eles se beijaram sob as estrelas, dois corações que começaram quebrados, mas que aprenderam lentamente e dolorosamente a se curar juntos. Epílogo. 5 anos depois.
A Galeria Almeida estava celebrando seu quinto aniversário. Paredes cheias de arte extraordinária, uma multidão animada, música suave tocando. Isadora circulava pela galeria, radiante em um vestido vermelho, conversando com artistas e colecionadores. Rodrigo a observava de longe, um sorriso bobo em seu rosto. Aos seus pés uma menininha de três anos com cachos castanhos e olhos como a mãe desenhava em um caderno.
Papai, olha. É você”, ela anunciou, mostrando um desenho que era principalmente rabiscos, mas que teoricamente representava Rodrigo. “Está lindo, Sofia. Você é uma artista como a mamãe.” Rodrigo pegou a filha no colo, beijando sua bochecha. “Eu sou artista. Um menino de 18 meses apareceu, mãos cobertas de giz de cera, orgulhoso de sua própria obra de arte na parede, que Helena gentilmente não mencionou que teria que limpar depois.
Miguel, não pode desenhar na parede”, Rodrigo disse, tentando soar firme, mas falhando miseravelmente. O menino era sua cópia exata, impossível de repreender seriamente. Isadora veio resgatar a situação, pegando Miguel e limpando suas mãos com lenços umedecidos que magicamente sempre tinha na bolsa. Vocês dois são terríveis”, ela disse aos filhos, mas estava sorrindo.
“Que tal se fossem brincar com a vovó Helena por alguns minutos enquanto mamãe e papai trabalham? Sorvete depois.” Sofia negociou esperta como sempre. “Sorvete depois?” Isadora concordou. Helena apareceu pegando as duas crianças com a prática de quem tinha ajudado a criá-las. “Vem, pequenos. Vamos encontrar algo mais apropriado para desenhar do que paredes caras.
” Quando ficaram sozinhos, Rodrigo puxou Isadora para perto, beijando sua têmpora. 5 anos ele murmurou. Sua galeria está prosperando. Você é uma das curadoras mais respeitadas do país e ainda arranja tempo para ser uma mãe incrível e esposa perfeita. Nada de perfeito. Isadora corrigiu. Apenas real e feliz. Feliz é suficiente. Feliz é tudo. Eles observaram a galeria cheia de vida, arte.
possibilidades, um contraste tão gritante com onde começaram. “Você se arrepende?”, Rodrigo perguntou de repente. “De tudo que passou? A dor, a solidão, os primeiros meses terríveis?” Isadora pensou por um longo momento. Não, por me trouxe aqui? Porque sem aquela dor não teríamos aprendido a valorizar o que temos. Não teríamos lutado tão duro para construir algo real.
O sofrimento nos ensinou a não tomar um ao outro como garantido. Filosofia profunda, Senora Almeida. Aprendi com o melhor. Ela se virou em seus braços, colocando as mãos em seu peito. Obrigada. Por quê? Por acordar, por ver, por escolher mudar, mesmo quando era difícil, por me dar a família que sempre sonhei, mas achei que nunca teria.
Obrigado você por não desistir de mim, por ter paciência, por me ensinar que vulnerabilidade não é fraqueza. Ele beijou sua testa gentilmente. Você salvou minha vida, Isadora, de todas as formas que importam. Do outro lado da galeria, Sofia gritou, não de dor, mas de alegria, correndo para mostrar a mãe um novo desenho. Miguel seguia atrás cambaleando em pernas ainda incertas. Helena ria, tentando acompanhar ambos.
Devemos ir, Isadora disse, mas não se moveu dos braços de Rodrigo. Mais um minuto, ele assegurou mais apertado. Só quero lembrar este momento. Nossa galeria, nossos filhos, nossa vida, tudo que construímos juntos é bonito, não é? É perfeito. E era não perfeito sem falhas.
Eles ainda discutiam sobre quem esqueceu de comprar leite ou quem tinha deixado brinquedos espalhados. Rodrigo ainda ocasionalmente trabalhava tarde demais e Isadora ainda às vezes se sentia insegura, mas era perfeito, imperfeito, perfeitamente deles. Papai, mamãe, sorvete, prometeram. Sofia estava de volta, puxando as mãos de ambos.
Rodrigo e Isadora riram, permitindo serem arrastados por sua filha determinada. Enquanto caminhavam para fora da galeria, uma família completa e feliz, Rodrigo olhou para trás uma última vez. Dois anos e meio atrás, ele tinha entrado naquela capela relutantemente, casando com uma estranha purgação, construindo muros para proteger seu coração.
O casamento deles começou como uma mentira, mas tornou-se a verdade mais real que qualquer um deles já conheceu. E enquanto Sofia tagarelava sobre sabores de sorvete e Miguel balbuciava tentando acompanhar, Rodrigo e Isadora trocaram um olhar. aquele olhar que apenas casais que sobreviveram tempestades podem compartilhar. Um olhar que dizia: “Nós conseguimos.
Nós escolhemos um ao outro e continuaremos escolhendo todos os dias para sempre. O amor não é encontrado em momentos perfeitos, mas em escolhas imperfeitas, feitas com corações sinceros. Hoje ele caminhava com seu coração escancarado, vulnerável e vivo, ao lado da mulher que tinha transformado obrigação em escolha, contrato em amor, casa em lar.
E às vezes o maior romance não é aquele que começa com paixão, mas aquele que aprende, tijolo por tijolo, a construir algo real onde antes só havia ruínas. M.
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