Imagine descobrir que para herdar tudo que seu avô deixou, você precisa se casar com um completo estranho em menos de um ano. Parece impossível. Sofia Santos viveu exatamente isso em Salvador. E o que aconteceu depois vai te deixar sem fôlego. Aliás, me conta nos comentários de onde você está assistindo. Quero saber qual cidade está acompanhando essa história incrível.
E se você está curtindo, já deixa aquele like e se inscreve no canal para não perder nenhum capítulo dessa saga emocionante. Agora sim, vamos à história. O sol da tarde banhava as janelas do escritório de advocacia no centro de Salvador, criando reflexos dourados nas paredes forradas de madeira.
Sofia Santos sentia as mãos tremendo enquanto segurava os óculos que pertenceram ao avô Roberto. Aos 22 anos, ela nunca imaginou que estaria ali, ouvindo as últimas palavras de seu único parente próximo, sendo lidas em voz alta por um homem de terno cinza. “Para minha querida neta Sofia Santos,” continuou o advogado, ajustando os próprios óculos. Deixo minha residência na rua das flores, bem como o fundo educacional depositado no Banco do Brasil, sob as seguintes condições. Sofia respirou fundo. Condições.
Que condições o avô poderia ter imposto? Ele sempre fora um homem simples, que trabalhara a vida inteira como funcionário público para garantir que ela pudesse estudar direito na Universidade Federal. A herdeira deverá contrair matrimônio com um homem de reputação e ilibada, preferencialmente do meio jurídico, antes de completar 23 anos de idade.
Caso esta condição não seja cumprida, todos os bens serão doados à Casa de Amparo, São Vicente de Paulo. O mundo parou. Sofia sentiu o sangue gelar nas veias, como se o ar condicionado tivesse sido ligado no máximo. Suas mãos tremeram tanto que os óculos quase escorregaram de seus dedos.
“Isso, isso não pode estar certo”, murmurou ela com a voz embargada. “Meu avô jamais faria uma coisa dessas. Ele me criou para ser independente para nunca depender de homem nenhum.” O advogado pigarreou claramente constrangido. Há mais, senhorita Sofia. O testamento nomeia o desembargador Rafael Almeida como seu tutor legal e executor testamentário.
Segundo consta aqui, ele foi orientado pelo Sr. Roberto sobre todos os detalhes desta situação. Sofia se levantou bruscamente da cadeira de couro, fazendo ranger. Seus olhos castanhos faiscaram de uma mistura de raiva e desespero. Como o homem que a amara incondicionalmente, que lhe ensinara que uma mulher deveria conquistar o mundo com as próprias mãos, podia ter feito algo tão medieval.
“Onde está esse tal desembargador?”, perguntou ela, a voz saindo mais controlada do que sentia por dentro. Ele a espera em sua residência amanhã às 15 horas. “Aqui está o endereço”, disse o advogador, estendendo um cartão elegante com letras douradas. Mansão Almeida Vitória.
Sofia pegou o cartão como se fosse um pedaço de carvão em brasa. Vitória, o bairro mais nobre de Salvador, onde moravam os poderosos, os magistrados, os políticos. Um mundo completamente diferente do seu pequeno apartamento na federação, perto da universidade. Saindo do escritório, ela caminhou pelas ruas do Pelourinho sem destino certo, o testamento dobrado na bolsa pesando como uma pedra.
As casas coloniais coloridas, que normalmente a enchiam de orgulho por sua cidade, agora pareciam zombar dela. Turistas tiravam fotos sorridentes enquanto sua vida desmoronava. “Um ano”, pensou ela, parando em frente à igreja do Rosário dos Pretos.
“Tenho menos de um ano para encontrar um marido ou perder tudo pelo que o vovô trabalhou a vida inteira. Mas a pergunta que mais a atormentava não era como encontraria um marido? Era porque Roberto Santos, o homem mais gentil e progressista que conhecera, havia criado essa armadilha impossível. E quem era esse Rafael Almeida, que aparentemente sabia de tudo? A mansão no bairro da Vitória se erguia imponente atrás de portões de ferro forjado, com jardins que pareciam saídos de uma revista de decoração.
Sofia ajeitou o cabelo cacheado uma última vez antes de tocar a campainha, tentando parecer mais confiante do que se sentia. Seu vestido azul marinho, o mais formal que possuía, de repente parecia inadequado diante de tanta elegância. Uma mulher de cerca de 60 anos, com avental impecável e sorriso maternal, abriu a porta. A senhorita deve ser Sofia.
Eu sou dona Conceição, governanta da casa. O Dr. Rafael a está esperando na biblioteca. Seguindo pelos corredores adornados com quadros de arte baiana, Sofia sentiu-se cada vez menor. O cheiro de jasmim vindo do jardim interno misturava-se ao aroma de madeira encerada e livros antigos. Seus passos ecoavam no piso de mármore português. Dona Conceição parou diante de duas portas de mogno entalhado. Dr.
Rafael, anunciou ela batendo levemente. A senhorita Sofia chegou. Entre, veio uma voz grave do interior. Sofia respirou fundo e empurrou a porta. A biblioteca era ainda mais imponente do que imaginara. Estantes do chão ao teto, repletas de volumes, encadernados em couro, uma mesa de jacarandá no centro e atrás dela um homem que a fez parar de respirar por um instante. Rafael Almeida era exatamente o oposto do que esperara.
alto, ombros largos, cabelos escuros, com algumas fios prateados nas têmporas, ele tinha o tipo de presença que dominava qualquer ambiente. Seus olhos castanhos a estudaram com a intensidade de quem estava acostumado a julgar pessoas. Devia ter por volta de 40 anos e o terno escuro de corte perfeito realçava sua postura impecável.
Senhorita Sofia”, disse ele, levantando-se e gesticulando para a cadeira à frente da mesa. “Por favor, sente-se.” Ela obedeceu, cruzando as pernas e mantendo a postura ereta que aprendera nas aulas de etiqueta da universidade. “Desembargador Almeida, imagino que tenha muitas perguntas”, disse ele, voltando a se sentar.
Sua voz era controlada, quase fria, mas havia algo nos seus olhos que sugeria profundidade. Seu avô me escreveu uma carta explicando seus motivos. Gostaria de lê-la? Antes disso, Sofia o interrompeu. Gostaria de entender sua participação em tudo isso. Por que aceitou ser meu tutor? O que meu avô ofereceu em troca? Rafael arqueou uma sobrancelha e Sofia teve a impressão de que ele não estava acostumado a ser questionado tão diretamente. Nada foi oferecido, Senrita Sofia.
Roberto Santos foi meu mentor há 18 anos, quando eu ainda era um jovem promotor perdido no sistema. Ele me ensinou que a justiça verdadeira vai além das leis escritas. Ela notou como sua voz se suavizou ao falar do avô, como se uma porta secreta tivesse se entreaberto por um momento. “Seu avô previu que a senhora se recusaria a depender de qualquer homem por princípio”, continuou ele, “E que eu jamais me aproveitaria da situação.
Segundo suas palavras, éramos duas almas feridas que poderiam encontrar cura mútua.” “Almas feridas?”, Sofia franziu o senho. Ele nunca me disse que o senhor tinha feridas. Como disse, tenho a carta dele. Quer lê-la? Sofia assentiu e Rafael abriu uma gaveta, retirando um envelope amarelado. Com mãos cuidadosas, ele extraiu duas folhas de papel timbrado e as entregou a ela.
“Minha querida Sofia”, começava a carta com a caligrafia familiar do avô. “Se está lendo isto, significa que não estou mais ao seu lado para protegê-la. Perdoe-me pelo que parecerá uma traição aos valores que tentei lhe ensinar, mas às vezes o amor exige decisões difíceis. Conheço você melhor do que conhece a si mesma.
Sei que rejeitará qualquer ajuda financeira que eu deixe por orgulho e independência, mas também sei que sem essa ajuda terá que abandonar os estudos para trabalhar e não posso permitir que seus sonhos morram comigo. Quanto ao Rafael, ele é um homem bom que construiu muralhas ao redor do coração para se proteger.
Vocês dois merecem aprender que nem todo o amor termina em abandono. Sofia sentiu os olhos se encherem de lágrimas. Como o avô conseguira enxergar tão claramente suas fraquezas? Ele propõe um casamento de conveniência, disse Rafael, observando-a com atenção. Apenas no papel. A senhora manteria sua liberdade, eu manteria minha privacidade e ambos cumpriríamos a vontade de Roberto.
E o senhor concordaria com isso? Rafael hesitou por um momento que pareceu eterno. Para honrar a memória de um homem que mudou minha vida. Sim. Sofia dobrou a carta cuidadosamente, tentando processar tudo. Casa, educação, sonhos, tudo dependia de uma decisão impossível. Casar com um estranho ou perder tudo pelo que o avô trabalhara.
Preciso de tempo para pensar, disse ela, levantando-se naturalmente. Mas lembre-se, seu aniversário de 23 anos é em 10 meses. Sofia se dirigiu à porta, mas parou na soleira. desembargador, por que realmente aceitou? Um homem como o senhor não precisa de complicações na vida.
Rafael ficou em silêncio por tanto tempo que ela pensou que não responderia. Finalmente, sua voz saiu quase como um sussurro. Talvez seu avô estivesse certo sobre as almas feridas. Três semanas se passaram como um borrão de pensamentos contraditórios. Sofia tentava se concentrar nas aulas de direito civil, mas as palavras do professor sobre contratos matrimoniais pareciam ecoar com ironia cruel em seus ouvidos.
Seus colegas notaram sua distração, especialmente Marcelo Silva, que sempre arranjava uma desculpa para se sentar ao seu lado. “Sofia, você tem andado estranha”, disse ele depois da aula, caminhando com ela pelos corredores da Faculdade de Direito da UFBA. “Quer conversar, Marcelo? era bonito de uma forma jovem e despreocupada, com seu sorriso fácil e cabelos sempre bagunçados.
Aos 24 anos, já estiava em um escritório renomado e não fazia segredo de seu interesse por ela. Em outras circunstâncias, Sofia talvez tivesse considerado dar uma chance ao relacionamento. “É só estresse dos estudos”, mentiu ela, ajeitando os livros contra o peito.
“Que tal saírmos para jantar hoje? Conheço um lugar novo na Barra. Vista para o mar, ambiente romântico. Sofia parou de caminhar. Romance, a palavra que se tornara um conceito abstrato em sua vida desde que descobrira o testamento. Como explicar que talvez tivesse que se casar com um homem que mal conhecia? Marcelo, eu não posso não agora.
Ele franziu o senho, claramente decepcionado, mas assentiu. Tudo bem, mas se precisar de alguma coisa, qualquer coisa, é só me procurar. Naquela noite, Sofia sentou-se na pequena varanda de seu apartamento na federação, observando as luzes da cidade se acenderem gradualmente. Salvador era linda ao entardecer, com seu casario colonial se estendendo até a Bahia.
Mas mesmo a beleza familiar da cidade não conseguia acalmar a tempestade em seu coração. Seu celular tocou. O nome que apareceu na tela a surpreendeu. Rafael Almeida. Alô, senrita Sofia. Espero não estar incomodando. A voz dele soava diferente pelo telefone, mais próxima, quase íntima.
Gostaria de convidá-la para jantar amanhã. Creio que temos detalhes práticos a discutir. Detalhes práticos. Caso decida aceitar a proposta, há questões legais a serem resolvidas. Contratos prénupciais, organização das finanças, definição de limites. A palavra limites fez Sofia sentir um arrepio estranho. Onde? Restaurante Amado na Marina da Vitória. Às 8 horas.
Depois que ele desligou, Sofia ficou parada por longos minutos, o telefone ainda na mão. A formalidade dele deveria tranquilizá-la, mas havia algo em sua voz que sugeria profundezas ocultas. Na manhã seguinte, ela passou horas escolhendo o que vestir. Optou finalmente por um vestido preto, simples, elegante, sem ser provocativo.
Chegou ao restaurante 5 minutos atrasada, deliberadamente. Rafael já estava esperando, sentado em uma mesa com vista para a Marina. Ele se levantou quando a viu se aproximar, puxando a cadeira para ela com uma cortesia antiga e elegante. “Obrigada”, murmurou Sofia, sentando-se. “Pediu uma garrafa do vinho branco da casa”, disse ele, voltando ao seu lugar. “Espero que aprove.
” A conversa começou tensa, carregada de formalidades. Eles discutiram questões práticas. Sofia manteria seu apartamento, mas moraria na mansão por questões de aparência social. teriam quartos separados. Ela continuaria na universidade. Não haveria expectativas conjugais. Expectativas conjugais? Sofia repetiu, erguendo uma sobrancelha.
O senhor tem uma forma interessante de se exprezar. Pela primeira vez, ela viu um sorriso genuíno cruzar o rosto dele. 17 anos na magistratura me deixaram viciado em precisão legal. E o que o fez escolher o direito? Rafael tomou um gole do vinho, parecendo considerar a resposta: “Justiça, ou pelo menos a ilusão de que poderia fazê-la acontecer”.
Ilusão? Descobri que há uma diferença enorme entre lei e justiça, senrita Sofia. A lei são regras escritas em papel. A justiça, ele hesitou. A justiça é algo muito mais raro e precioso. Havia uma tristeza em suas palavras que fez Sofia se inclinar para a frente. E o Senhor ainda acredita nela. Na justiça. Quero acreditar, ele disse. E seus olhos encontraram os dela através da mesa.
Seu avô dizia que a esperança é um músculo que precisa ser exercitado todos os dias. Por um momento, o restaurante, os outros fregueses, toda a situação estranha desapareceu. Havia apenas um homem e uma mulher se conhecendo através de palavras cuidadosas e olhares furtivos. “Sofia”, ele disse de repente, usando seu nome sem formalidades, pela primeira vez.
“Posso perguntar, por que está considerando aceitar?”, a pergunta apegou desprevenida pela honestidade. “Por quê?”, ela disse devagar. Talvez o vovô soubesse de algo que nós não sabemos. E por ela hesitou. Não tenho muita escolha, não é mesmo? Rafael assentiu gravemente.
E eu aceito porque devo muito a Roberto Santos e porque ele também hesitou. Talvez seja a hora de exercitar esse músculo da esperança. Quando se despediram na porta do restaurante, Rafael segurou a mão dela por um momento a mais do que necessário. “Se decidir aceitar”, disse ele, “prometo que será respeitada em todos os aspectos. Este casamento será apenas no papel.
” Mas quando Sofia chegou em casa naquela noite, não conseguiu parar de pensar no calor da mão dele sobre a sua e na forma como seus olhos se iluminaram quando ela mencionou justiça. Apenas no papel, repetiu para si mesma, porque isso soa mais como uma ameaça do que uma promessa? O cartório do primeiro ofício de Salvador estava silencioso na manhã de sexta-feira, com apenas o rumor distante do trânsito da cidade, penetrando pelas janelas coloniais.
Sofia ajeitou o vestido creme que comprara especificamente para a ocasião. Simples, elegante, mas longe de ser um vestido de noiva tradicional. Afinal, aquilo não era um casamento tradicional. Rafael estava parado ao lado do tabelião, impecável em seu terno azul marinho. Quando ela entrou no cartório, ele se virou e, por um momento, seus olhos se encontraram através do ambiente formal e frio.
Havia algo em seu olhar que ela não conseguiu decifrar. Alívio, apreensão, arrependimento. “Bom dia, Sofia”, disse ele, usando apenas seu nome, como havia começado a fazer nas últimas semanas de preparativos. Bom dia, Rafael. Dona Conceição estava sentada em uma das cadeiras de madeira escura, servindo como testemunha. Ela ofereceu a Sofia um sorriso encorajador e um pequeno buquê de flores brancas para dar um toque de alegria à cerimônia”, sussurrou ela.
O tabelião, um homem de meia idade, com óculos grossos, limpiou a garganta. Bem, se todos estão prontos, podemos começar. A cerimônia foi exatamente como Sofia esperara, mecânica, formal. desprovida de qualquer romantismo. As palavras solenes ecoaram no ambiente de mármore e madeira como um eco de todas as outras cerimônias que haviam acontecido naquele local ao longo dos anos.
Rafael Almeida Santos aceita Sofia Santos como sua esposa para amá-la e respeitá-la na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte o separe. Aceito. A voz dele saiu firme, mas Sofia notou como suas mãos estavam ligeiramente cerradas ao lado do corpo. Sofia Santos aceita Rafael Almeida Santos como seu esposo para amá-lo e respeitá-lo na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte o separe.
Sofia hesitou por uma fração de segundo. Amar. A palavra parecia estranha naquele contexto, uma promessa vazia em um contrato de conveniência. Aceito. Declaro-os marido e mulher. Não houve beijo. Rafael apenas segurou sua mão por um momento, apertando-a suavemente antes de se afastar para assinar os documentos. 20 minutos depois, eles estavam na calçada ensolarada da rua Chile, oficialmente casados. A vida continuava ao redor deles.
Vendedores ambulantes, pedestres apressados, o rumor constante da cidade, como se nada de extraordinário tivesse acontecido. Bem, disse Rafael, ajeitando os punhos da camisa. Agora somos marido e mulher. Agora somos marido e mulher, Sofia repetiu, e as palavras soaram estranhas em sua boca. Dona Conceição se aproximou, ainda segurando o pequeno buquê.
Que Deus os abençoe”, disse ela, beijando as bochechas de Sofia com carinho genuíno. “A casa está toda preparada para recebê-la, minha querida.” A casa Sofia engoliu em seco. A partir daquele momento, a mansão na Vitória seria oficialmente seu lar. O trajeto até lá foi silencioso. Rafael dirigia com a mesma precisão com que parecia fazer tudo na vida.
E Sofia observou pela janela as ruas familiares de Salvador passando. Eles subiram à ladeira em direção à Vitória, deixando para trás o centro comercial e adentrando o bairro residencial, onde as casas se tornavam progressivamente maiores e mais elegantes. Quando chegaram à mansão, dona Conceição já os esperava na porta principal. “Preparei o quarto da frente para a senora Sofia”, disse ela, conduzindo-os pelo hall de entrada.
Tem vista para o jardim e banheiro privativo. Pensei que seria mais confortável. Sofia percebeu o tato na escolha das palavras da governanta. Mais confortável significava longe do quarto do Rafael. O quarto era lindo, amplo, com móveis de jacarandá, cortinas de linho branco e uma grande janela que dava para o jardim interno.
Sofia pousou sua pequena mala sobre a cama de casal e se virou para encontrar Rafael parado na soleira da porta. “Espero que seja adequado”, disse ele. “Se precisar de alguma coisa, está perfeito. Obrigada.” Um silêncio constrangedor se instalou entre eles. Eram marido e mulher, mas ainda eram estranhos.
Dormiriam na mesma casa, mas em quartos separados. Dividiriam um nome, mas não uma vida. Bem, Rafael pigarreou. Tenho alguns processos para revisar. Jantar será servido às 8, se quiser se juntar a mim. Claro. Ele assentiu formalmente e se afastou, deixando Sofia sozinha em seu novo quarto. Ela se sentou na beira da cama e olhou ao redor.
As paredes eram decoradas com aquarelas de paisagens baianas e uma pequena estante continha livros clássicos de literatura brasileira. Era um quarto elegante, confortável, mas não era dela. Nada ali era dela, exceto por um anel de ouro simples no dedo. Pegou o celular e digitou uma mensagem para Marcelo. Não poderei mais aceitar seus convites para jantar. Situação complicada de explicar, mas espero que compreenda.
A resposta veio quase imediatamente. Sofia, o que está acontecendo? Posso ajudar? Ela olhou para o anel novamente e digitou: “Obrigada, mas está tudo bem. Cuide-se”. Então desligou o telefone. Lá fora, podia ouvir Rafael falando ao telefone em algum lugar da casa, sua voz grave e profissional ecoando pelos corredores.
Dona Conceição mexia panelas na cozinha, os sons domésticos familiares contrastando com a formalidade da situação. Sofia se levantou e foi até a janela. O jardim era exuberante, com palmeiras imperiais e plantas tropicais que criavam um pequeno oasis no coração da cidade. Ao longe, podia ver um pedaço da baía de todos os santos brilhando sob o sol da tarde.
Duas almas feridas que poderiam encontrar cura mútua. Lembrou-se das palavras do avô. Mas como duas pessoas que mal se conheciam, poderiam curar qualquer coisa. A vida na mansão Almeida seguia uma rotina precisa, como um relógio suíço. Sofia descobriu isso em sua primeira semana como esposa oficial de Rafael.
Ele acordava às 6 da manhã, tomava café sozinho na varanda enquanto lia os jornais. saía para o fórum às 7:30 e retornava invariavelmente às 6 da tarde. Jantavam juntos todas as noites, uma cortesia formal que ambos respeitavam, mas que se sentia mais como uma obrigação social do que um momento de intimidade.
conversavam sobre assuntos neutros, os estudos dela na universidade, casos interessantes, mas não confidenciais, que ele julgava, comentários sobre a política nacional, nunca sobre eles. “Como foram as aulas hoje?”, perguntou ele em uma quarta-feira, cortando metodicamente o peixe grelhado que dona Conceição havia preparado.
“Tivemos uma aula interessante sobre direito de família”, Sofia respondeu e imediatamente se arrependeu da escolha do tópico. Professor Castro falou sobre a evolução do casamento na legislação brasileira. Rafael ergueu os olhos do prato. E qual foi sua conclusão? que o casamento moderno deveria ser baseado em parceria e respeito mútuo, não em obrigações legais arcaicas. As palavras saíram com mais intensidade do que ela pretendia. “Uma visão interessante”, ele disse cuidadosamente, e muito romântica.
“O senhor não acredita em romance?” Rafael pousou o garfo e a encarou diretamente. Acredito em compatibilidade, respeito e objetivos comuns. O romance. Ele hesitou. O romance é uma construção poética que raramente sobrevive à realidade. Sofia sentiu algo se contrair no peito. Que visão triste da vida. Prática ele corrigiu. Não triste. Prática.
Depois do jantar, ele se recolhia para o escritório, onde ficava até tarde trabalhando ou lendo. Sofia podia ver a luz sob a porta quando passava pelo corredor a caminho de seu quarto. Às vezes, ouvia o som baixo de música clássica vazando pelas paredes. Foi dona Conceição quem começou a preencher o vazio de informações sobre seu novo marido. “O Dr.
Rafael sempre foi assim”, disse ela uma manhã enquanto elas tomavam café na cozinha ensolarada, desde que o conheço há 15 anos. Trabalha demais, fala pouco, mas tem um coração do tamanho do mundo. Como assim? Ah, minha querida. Dona Conceição sorriu mexendo açúcar no café.
Ele financia os estudos de três crianças carentes, sabia? E toda sexta-feira santa vai ao orfanato São José distribuir presentes. Nunca fala sobre isso, mas eu sei porque organizo as compras. Sofia ficou surpresa. Aquele homem formal e distante tinha um lado caritativo secreto e ele já foi casado. Dona Conceição fez uma careta. Namorou uma moça há uns 10 anos.
Advogada bonita, família influente, mas ela queria mais do que ele podia dar. Mas como? Ah, você sabe como são algumas mulheres da sociedade, querendo festas, viagens, exibição. O Dr. Rafael é um homem simples no fundo, apesar de toda essa elegância. Ele gosta de ler, de música, de ficar em casa. A moça achou que ia mudá-lo. Dona Conceição balançou a cabeça.
Ninguém muda um homem que não quer ser mudado. Naquela tarde, Sofia estava estudando na biblioteca quando ouviu Rafael chegar mais cedo do que o usual. Ela havia se acostumado a usar aquele espaço durante o dia, cercada pelos livros antigos e pela luz natural que entrava pelas janelas altas. Ele apareceu na porta ainda vestindo a toga preta por cima do terno.
“Desculpe”, disse ele. “Não sabia que estava aqui. Posso?” “Claro, a casa é sua.” Sofia fechou o livro de direito civil e começou a recolher suas coisas. “Não precisa sair. A biblioteca é grande o suficiente para dois”. Ele se dirigiu a uma das estantes e pegou um volume encadernado em couro. Sofia não conseguiu deixar de notar que suas mãos eram bonitas, longas, elegantes, com dedos de pianista.
Havia algo quase sensual na forma delicada como ele manuseava os livros. Castro Alves? Ela perguntou lendo o nome na lombada. Rafael pareceu surpreso que ela tivesse notado. Você conhece a obra dele? Espumas flutuantes. Li na escola. Sofia se inclinou para a frente, curiosa. Não imaginei que fosse fã de poesia romântica.
Por um momento, algo se modificou no rosto de Rafael, como se uma máscara tivesse escorregado ligeiramente. Castro Alves não era apenas romântico, era revolucionário. O navio negreiro é um dos textos mais poderosos sobre justiça social já escritos em português. Verdade. Se estamos em pleno mar, doldo no espaço brinca o luar de dourada borboleta. Sofia citou de memória.
Rafael a olhou com uma expressão que ela nunca havia visto antes. Surpresa, interesse, algo que poderia ter sido admiração. Você tem boa memória para coisas que me emocionam. As palavras saíram antes que ela pudesse censurá-las e um silêncio constrangedor se instalou.
Rafael abriu o livro, mas Sofia percebeu que ele não estava realmente lendo. “Sofia”, disse ele de repente. “Você está confortável aqui? Se há alguma coisa que precisa, algo que gostaria de mudar?” A pergunta era prática, mas havia uma hesitação em sua voz que sugeria preocupação genuína. “Estou bem, dona Conceição tem sido muito gentil e o quarto é perfeito.” Ótimo. Ele fechou o livro.
Bem, vou deixá-la estudar em paz. Mas quando chegou à porta, ele se virou. Sofia. Sim. Se algum dia quiser conversar sobre qualquer coisa, não precisa se sentir como uma hóspede aqui. Esta é sua casa agora também. Depois que ele saiu, Sofia ficou olhando para a porta fechada por longos minutos.
Havia sido uma oferta simples, mas carregada de significado. Pela primeira vez desde o casamento, Rafael havia se mostrado como algo mais do que um anfitrião cortês. Naquela noite, durante o jantar, ela decidiu testar as águas. Rafael, disse ela, usando seu nome sem o tratamento formal. Posso fazer uma pergunta pessoal? Ele ergueu os olhos, claramente surpreso pela mudança de Tom.
Pode? Porque nunca se casou antes? Quer dizer, antes desta situação, Rafael pousou o garfo e ficou em silêncio por tanto tempo que Sofia achou que ele não responderia. “Nunca encontrei alguém que me fizesse querer mudar minha vida”, disse ele finalmente. “E nunca quis apenas arranjar alguém para preencher um vazio. E agora? Agora ele a encarou diretamente.
Estou tentando descobrir se é possível construir algo real a partir de algo artificial. O coração de Sofia acelerou. Era a primeira vez que ele admitia que aquele casamento poderia ser mais do que um contrato de papel. E você? Perguntou ele. Já esteve apaixonada? Sofia sentiu o rosto esquentar.
Achei que sim, algumas vezes, mas agora percebo que eram apenas infatuações. Paixonetas de adolescente. Como sabe a diferença? A pergunta apegou desprevenida. Por quê? Ela disse devagar. Nenhum daqueles sentimentos me fez querer ser uma pessoa melhor. Era só desejo de ser desejada. Rafael a sentiu como se entendesse perfeitamente. E agora, o que quer desta vida? Sofia olhou ao redor da sala de jantar elegante, depois voltou os olhos para ele.
Honestamente, ainda estou descobrindo. Pelo menos você está sendo honesta. A maioria das pessoas prefere fingir que sabe de tudo. Aquela noite, quando Sofia passou pelo corredor a caminho do quarto, a luz do escritório de Rafael ainda estava acesa, mas dessa vez ela parou diante da porta, ouvindo o som baixo de uma música que não conseguiu identificar.
Sem saber exatamente porquê, ela bateu levemente na porta. Entre, veio a voz dele do interior. Rafael estava sentado atrás da mesa, ainda de camisa social, mas sem a gravata. Os primeiros botões estavam abertos e Sofia teve uma visão rápida da base do pescoço masculino antes de desviar os olhos.
“Desculpe incomodar”, disse ela. “Só queria boa noite.” Ele sorriu, um sorriso pequeno, mas genuíno. “Boa noite, Sofia.” Quando ela se virou para sair, ouviu sua voz atrás de si. Sofia. Sim. Obrigado por tentar. Sei que esta situação não é fácil para você.
Sofia se virou de volta e, pela primeira vez desde que se conheceram, teve a impressão de estar vendo o homem real por trás da fachada formal. “Não é fácil para nenhum de nós”, disse ela suavemente. “Mas talvez, talvez possamos descobrir juntos como fazer funcionar”. O primeiro sinal de que algo estava mudando aconteceu em uma manhã de quinta-feira, três semanas após o casamento.
Sofia acordou com dor de cabeça e náusea, resultado de uma noite mal dormida, estudando para uma prova importante de processo civil. Quando desceu para o café da manhã, encontrou Rafael ainda na varanda, lendo o jornal, como sempre. “Bom dia”, murmurou ela, dirigindo-se diretamente para a cafeteira. Rafael ergueu os olhos do jornal e franziu o senho. Você está bem? Parece pálida, só cansada. Estudei até tarde.
Ele dobrou o jornal e a observou com atenção. Talvez devesse descansar hoje. Faltar uma aula não vai prejudicar suas notas. Sofia parou com a xícara a meio caminho da boca. Era a primeira vez que ele demonstrava preocupação com seu bem-estar, além das cortesias básicas. Estou bem, obrigada”, disse ela mais bruscamente do que pretendia.
Rafael a sentiu, mas continuou a observá-la durante o café da manhã. Quando se levantou para ir trabalhar, hesitou ao lado da cadeira dela. “Sofia”, disse ele. “Se não se sentir bem, dona Conceição tem o número do meu celular. Posso voltar a qualquer momento. Era uma oferta simples, mas o tom de sua voz era diferente, mais próximo, quase carinhoso. “Obrigada”, ela disse. E dessa vez o agradecimento foi sincero.
Naquele mesmo dia, quando Sofia voltou da universidade, encontrou uma pequena surpresa em seu quarto. Um buquê de antúrios vermelhos, flores típicas da Baia, em um vaso de cristal sobre a cômoda. Dona Conceição apareceu na porta com um sorriso misterioso. “De onde vieram?”, perguntou Sofia. O Dr.
Rafael disse que viu no Floricultura da Vitória e achou que alegrariam o quarto, respondeu a governanta. Disse que lembrou que você comentou gostar de flores tropicais. Sofia ficou surpresa. Ela havia mencionado isso quando? Então se lembrou na primeira semana, durante um jantar havia comentado sobre as plantas do jardim. Ele estava prestando atenção. As mudanças continuaram sutis, mas constantes.
Rafael começou a chegar em casa mais cedo algumas noites. Suas conversas durante o jantar se tornaram menos formais e mais naturais. Ele perguntava sobre suas aulas com interesse genuíno e ela começou a perguntar sobre o trabalho dele. “Hoje juljei um caso interessante”, disse ele em uma sexta-feira. Uma disputa familiar por herança me lembrou de nossa situação.
Como assim? Um testamento com condições estranhas. O patriarca deixou a fazenda para os filhos, mas apenas se trabalhassem juntos por 5 anos sem brigas. Sofia riu. E conseguiram? Estão tentando. Às vezes as pessoas descobrem que t mais em comum do que imaginavam quando são forçadas a conviver. O olhar que ele lhe dirigiu era carregado de significado e Sofia sentiu o coração acelerar.
Foi naquela mesma noite que aconteceu o segundo sinal de mudança. Sofia estava na biblioteca, como havia se tornado seu hábito quando Rafael entrou carregando dois copos de vinho. “Pensei que talvez gostasse de um pouco de vinho do Porto”, disse ele, oferecendo-lhe um dos copos. Para acompanhar a leitura. “Obrigada.” Ela fechou o livro Machado de Assis. Desta vez não um manual jurídico.
Rafael se sentou na poltrona ao lado da sua, algo que nunca havia feito antes. Sempre mantinha distância física respeitosa. “Dom Casmurro?”, perguntou ele, notando o livro. “Estou relendo. Sempre me fascinou a questão da dúvida. Capitu traiu ou não traiu Bentinho? Machado nunca nos dá a resposta definitiva. E qual sua teoria? Sofia tomou um gole do vinho, sentindo o líquido doce esquentar sua garganta.
Acho que não importa se ela traiu ou não. O que importa é que Bentinho era incapaz de confiar. O ciúme o destruiu independentemente da verdade. Rafael assentiu lentamente. Confiança é uma coisa frágil, uma vez quebrada, mas também pode ser construída. Sofia o interrompeu suavemente, aos poucos, com pequenos gestos, pequenas honestidades.
Eles se entreolharam por um momento que pareceu se estender além do normal. Rafael foi o primeiro a desviar o olhar. Sofia, disse ele, posso fazer uma confissão? O coração dela disparou. Claro. Quando seu avô primeiro me procurou com essa proposta, minha reação inicial foi pensar que ele havia enlouquecido. Rafael girou o copo de vinho entre as mãos. Casamento arranjado no século XX parecia medieval.
E o que o fez mudar de ideia? Ele disse algo que me marcou. Disse que às vezes duas pessoas precisam ser empurradas para o mesmo espaço para descobrirem que se complementam. Sofia sentiu um arrepio percorrer sua espinha. E você acha que nos complementamos? Rafael a encarou diretamente. Estou começando a achar que seu avô sabia de coisas que nós ainda não sabemos sobre nós mesmos.
A tensão no ar era palpável. Sofia sentiu como se estivesse à beira de um precipício, pronta para pular, mas sem saber se haveria chão do outro lado. Rafael, disse ela suavemente. Você tem me surpreendido. Como assim? Quando nos conhecemos, pensei que fosse apenas frio, distante, mas você não é. É. Ele hesitou por um longo momento. Aprendi a ser cuidadoso com as pessoas, Sofia.
Aprendi que é mais seguro manter distância. E agora? Agora estou descobrindo que segurança pode ser super estimada. Eles terminaram o vinho conversando sobre livros, música, viagens que gostariam de fazer. Sofia descobriu que Rafael tinha um senso de humor seco e inteligente, que adorava Jazz e que sonhava em conhecer Portugal para ver de onde vinham seus bisavós.
Quando se levantaram para ir dormir, ele a acompanhou até a porta do quarto dela, algo que também nunca havia feito. “Boa noite, Sofia”, disse ele, e sua voz saiu mais rouca do que o normal. “Boa noite!” Mas nenhum dos dois se moveu. Ficaram parados na soleira da porta, muito próximos, Sofia com a mão na maçaneta e Rafael a poucos centímetros de distância. Por um momento, Sofia achou que ele fosse beijá-la.
Havia algo em seus olhos, uma intensidade que fez seu coração disparar. Ela se inclinou ligeiramente para a frente, quase sem perceber. Mas Rafael recuou um passo. “Durma bem”, disse ele e se afastou pelo corredor em direção ao seu próprio quarto. Sofia entrou no quarto com as pernas tremendo, encostou-se na porta fechada, tentando controlar a respiração.
O que estava acontecendo com ela? E mais importante, o que estava acontecendo com Rafael, porque pela primeira vez desde o casamento, ela havia desejado, realmente desejado, que ele a beijasse. E pela expressão em seus olhos, ela tinha a impressão de que ele também havia desejado. Duas semanas depois da noite do vinho na biblioteca, Rafael fez uma proposta inusitada durante o jantar.
Há um evento beneficente da Associação dos Magistrados da Bahia no sábado”, disse ele, cortando cuidadosamente o salmão grelhado. “Gostaria que me acompanhasse quase engasgou com o vinho. Você quer que eu vá com você a um evento social?” “Como minha esposa?” Ele esclareceu, “mas havia uma tensão em sua voz que sugeria que a ideia o deixava tão nervoso quanto a ela.
Será no Palácio dos Esportes, evento formal. Black Tie. Rafael, ela hesitou. Você tem certeza? Quer dizer, todas essas pessoas importantes e eu sou apenas uma estudante. Você é minha esposa? Ele a interrompeu. E havia uma firmeza em sua voz que a surpreendeu. E uma estudante de direito brilhante que pode conversar sobre qualquer assunto com qualquer pessoa naquela sala.
O coração de Sofia se acelerou com o elogio, mas o nervosismo permaneceu. “Eu não tenho nada adequado para vestir.” “Isso tem solução”, disse Rafael. E pela primeira vez desde que se conheceram, ela viu um sorriso genuíno iluminar seu rosto. “Conheço uma excelente loja na Barra”. No sábado de manhã, Sofia se encontrou em uma boutique elegante, sendo atendida por uma vendedora que claramente conhecia Rafael pessoalmente. “O Dr.
Rafael tem muito bom gosto”, murmurou a mulher, ajudando Sofia a experimentar um vestido azul royal que realçava seus olhos. “Este ficou perfeito na senhora.” O vestido era deslumbrante, de corte clássico, mas moderno, com decote elegante, sem ser ousado. Quando Sofia se olhou no espelho, quase não se reconheceu. “Está decidido”, disse Rafael quando ela saiu do provador.
O olhar que ele lhe dirigiu fez suas bochechas corarem. Está deslumbrante. Eles passaram a tarde em uma cabeleireira onde Sofia fez um penteado sofisticado que deixava alguns cachos soltos e moldurando seu rosto. Rafael havia desaparecido por algumas horas, retornando no final da tarde com uma pequena caixa de veludo.
“Estes pertenceram à minha mãe”, disse ele, abrindo a caixa para revelar um conjunto de brincos e colar de esmeraldas delicadas. Pensei que combinaria com o vestido. Sofia ficou sem palavras. As joias eram lindas, mas o gesto de compartilhar algo tão pessoal era ainda mais tocante. Rafael, eu não posso. São muito valiosas. Por favor, disse ele suavemente.
Minha mãe adoraria saber que estão sendo usadas por alguém tão bonita. Quando chegaram ao Palácio dos Esportes, Sofia se sentiu como uma princesa em um conto de fadas. O salão estava decorado com flores tropicais e luzes suaves, e as pessoas mais influentes de Salvador circulavam com taças de champanhe na mão. Rafael a apresentou a todos como minha esposa Sofia, e ela pôde ver a surpresa nos rostos de algumas pessoas.
Claramente, muitos não sabiam que o desembargador solteiro mais cobiçado da cidade havia se casado. “Rafael!”, exclamou uma mulher elegante de meia idade, aproximando-se deles. Que surpresa deliciosa! E esta deve ser a famosa esposa misteriosa. Sofia, esta é Dra. Márcia Oliveira, presidente da OAB Bahia. Márcia, minha esposa Sofia. Um prazer conhecê-la, querida disse Márcia.
Mas Sofia percebeu o olhar avaliativo que a mulher lhe dirigiu. E como vocês se conheceram? Através de um amigo em comum. Rafael respondeu suavemente, pousando a mão nas costas de Sofia de forma protetora. A conversa continuou animada com Sofia, descobrindo que conseguia acompanhar as discussões sobre direito e política melhor do que esperava.
Seus anos de estudos na universidade haviam-lhe dado uma base sólida e sua inteligência natural fez o resto. Foi quando eles estavam próximos ao bar que a situação se complicou. Meu Deus, Rafael Almeida, casado”, disse uma voz feminina atrás deles. “Nunca pensei que veria este dia.” Eles se viraram para encontrar uma mulher loira e impecavelmente vestida, acompanhada de um homem mais velho de terno caro.
“Fabiana, Rafael cumprimentou friamente. Como vai?” “Ótima, querido. Este é meu marido, Dr. Alberto Mendes.” Ela se virou para Sofia com um sorriso que não chegava aos olhos. E você deve ser a jovenzinha que conseguiu laçar o solteiro mais difícil de Salvador.
Sofia sentiu Rafael se tensionar ao lado dela, mas manteve o sorriso. Sofia Santos, um prazer, Santos. Que interessante. Você é de família conhecida? A pergunta estava carregada de intenção e Sofia percebeu que estava sendo testada. Minha família não é da alta sociedade. Se é isso que está perguntando”, disse ela com calma. “Sou estudante de direito na federal”.
“Ah, que democrático”, disse Fabiana com um sorrisinho. Rafael sempre teve tendências sociais interessantes. “Fabiana,” voz de Rafael saiu gelada. “Cuide suas próprias tendências.” Mas a mulher não havia terminado. Sabe, querida, disse ela, dirigindo-se a Sofia. Rafael é conhecido como o homem mais frio da magistratura baiana. Espero que tenha muita paciência para derreter todo esse gelo.
Sofia sentiu a raiva borbulhar em seu peito, não pela ofensa dirigida a ela, mas pelo jeito cruel como a mulher estava falando de Rafael. Sabe, Fabiana”, disse Sofia, sua voz saindo calma, mas firme. “Na minha experiência, os homens mais verdadeiramente fortes são aqueles que protegem sua calidez em vez de desperdiçá-la com qualquer um.
É uma qualidade que eu admiro profundamente em meu marido.” A mulher empalideceu, claramente não esperando uma resposta tão direta. Rafael olhou para Sofia com uma expressão de surpresa e algo que parecia muito com admiração. “Bem”, disse Fabiana, recuperando a compostura. “Que interessante! Alberto, vamos encontrar os Ferreira?” Depois que o casal se afastou, Rafael se virou para Sofia.
“Obrigado”, disse ele simplesmente. “Por quê?” por me defender. Você não precisava fazer isso. Sofia o encarou diretamente. Ela estava sendo cruel e estava errada. Você não é frio, Rafael. Você é cuidadoso. Há uma diferença enorme. A música começou a tocar, uma valsa suave, e Rafael estendeu a mão para ela. Gostaria de dançar? Eles se moveram para a pista de dança e Sofia descobriu que Rafael dançava tão bem quanto fazia tudo na vida, com elegância e precisão.
Mas quando ele a puxou para mais perto, ela sentiu algo diferente na tensão de seus músculos, na forma como seus dedos se fecharam ao redor de sua mão. “Sofia”, disse ele, sua voz baixa perto do ouvido dela. “Posso confessar algo?” Claro, esta é a primeira vez em anos que me sinto orgulhoso de ter alguém ao meu lado. O coração de Sofia disparou. Rafael, você brilhou esta noite.
Conversou com diplomatas, impressionou advogados, defendeu seu marido com uma elegância que me deixou. Sem palavras. Eles dançaram em silêncio por alguns momentos e Sofia podia sentir os olhos de Rafael sobre ela, uma intensidade que fazia sua pele formigar. Sofia, disse ele de repente. Preciso lhe dizer algo.
O quê? Mas antes que ele pudesse responder, a música parou e outros casais começaram a se afastar da pista. O momento se quebrou e Rafael pareceu recuar fisicamente e emocionalmente. “Nada importante”, disse ele. “Mas Sofia percebeu atenção em sua mandíbula. O resto da noite passou em um borrão de conversas educadas e sorrisos sociais, mas Sofia não conseguia parar de pensar no momento na pista de dança, na intensidade no olhar de Rafael, no que ele havia estado prestes a dizer.
Quando chegaram em casa, dona Conceição já havia se retirado para seus aposentos. A mansão estava silenciosa e cheia de sombras. Obrigado por esta noite”, disse Rafael quando chegaram ao topo da escada. “Você foi perfeita. Obrigada por me levar e pelas joias e pelo vestido.
” Eles pararam em frente à porta do quarto de Sofia, como haviam se tornado hábito, mas desta vez a tensão entre eles era quase palpável. “Rafael”, disse Sofia suavemente. “O que você ia me dizer durante a dança?” Ele ficou em silêncio por tanto tempo que ela achou que ele não responderia. Finalmente, sua voz saiu como um sussurro.
Que estou começando a esquecer que este casamento deveria ser apenas de conveniência. Os olhos de Sofia se arregalaram. E isso és a ruim? Rafael a encarou com uma intensidade que fez seu coração parar. Honestamente, estou com medo de descobrir. Sofia acordou na segunda-feira seguinte ao evento social, sentindo-se como se tivesse sido atropelada por um caminhão.
Dor de cabeça, febre, corpo dolorido, todos os sintomas de uma gripe forte que havia começado a circular na universidade. Tentou se levantar para ir às aulas, mas uma onda de tontura a fez voltar para a cama. Dona Conceição apareceu na porta do quarto às 8 horas, como sempre fazia para perguntar o que Sofia queria no café da manhã. “Meu Deus, menina!”, exclamou ela ao ver o estado de Sofia.
“Você está com uma cara terrível, só uma gripe”, Sofia, murmurou, puxando o cobertor até o queixo. “Vou melhorar. Nada disso. Vou chamar o Dr. Rafael.” Não. Sofia protestou fracamente. Ele já saiu para o trabalho. Não vou perturbá-lo por causa de uma gripe simples.
Mas dona Conceição já havia desaparecido pelo corredor e Sofia a ouviu falando ao telefone na cozinha. 20 minutos depois, ouviu o som familiar do carro de Rafael na entrada da garagem, passos rápidos na escada. E então Rafael apareceu na porta do quarto, ainda vestindo o terno que havia colocado para ir trabalhar. Sua gravata estava frouxa e ele parecia genuinamente preocupado.
“Como está se sentindo?”, perguntou ele, aproximando-se da cama. “Terrível”, Sofia admitiu, sem forças para fingir. “Mas você não precisava voltar, é só uma gripe”. Rafael se sentou na beira da cama e, para a surpresa de Sofia, colocou a mão em sua testa para verificar a temperatura. O toque era suave, quase carinhoso. Você está com muita febre. Vou chamar Dr. Mendonça.
Rafael, não precisa. Sofia, disse ele firmemente. Você é minha responsabilidade agora e é minha esposa. Vou cuidar de você. A palavra esposa saída da boca dele com tanta certeza, fez o coração de Sofia acelerar, mesmo em seu estado febril. Dr. Mendonça, o médico da família, confirmou que era uma gripe forte e prescreveu repouso, muito líquido e medicamentos para a febre.
Rafael ouviu atentamente todas as instruções, anotando-as em um pequeno caderno, como se fosse um caso legal, complexo. “Vou ficar em casa hoje”, anunciou ele depois que o médico saiu. “Não pode fazer isso. Você tem audiências, compromissos que podem ser remarcados”. Rafael afrouchou a gravata completamente e a tirou.
“Dona Conceição, pode preparar um chá de gengibre com mel e talvez uma sopa leve para o almoço? O dia passou em um borrão de cuidados atentos. Rafael checava sua temperatura a cada duas horas. Trazia medicamentos nos horários exatos, ajustava travesseiros, abria e fechava cortinas conforme Sofia se sentia melhor ou pior com a luz. Ele trabalhou no laptop ao lado da cama dela, atendendo apenas chamadas urgentes, e sempre em voz baixa para não perturbá-la.
“Por que está fazendo isso?”, perguntou Sofia à tarde, quando se sentia ligeiramente melhor. Rafael ergueu os olhos do computador fazendo o quê? Cuidando de mim assim. Quer dizer, nosso casamento é de conveniência, lembra? Você não precisa, Sofia. Ele fechou o laptop e a encarou diretamente. Conveniência ou não, você não deixa de ser uma pessoa importante para mim, e pessoas importantes para mim não ficam doentes sozinhas. Importante para ele.
As palavras ecoaram na mente de Sofia enquanto ela voltava a adormecer. Quando acordou novamente, era noite. A febre havia baixado um pouco, mas ela ainda se sentia fraca. A luz do abajur acesa e Rafael estava sentado na poltrona ao lado da cama, lendo um processo com óculos de leitura que ela nunca havia visto antes.
Que horas são? Perguntou ela com voz rouca. Quase meia-noite, respondeu ele, tirando os óculos. Como está se sentindo? Melhor. Mas, Rafael, você deveria ir dormir. Não pode ficar acordado cuidando de mim. Posso e vou”, disse ele simplesmente. “A febre costuma subir de madrugada. Vou eu ficar aqui para monitorar”. Sofia se sentou na cama com alguma dificuldade.
“Você vai passar a noite acordado?” “Se necessário.” A dedicação dele a deixou sem palavras. “Por quê?”, perguntou ela em um sussurro. Rafael ficou em silêncio por um longo momento, os olhos fixos nela. Quando finalmente falou, sua voz saiu mais baixa do que o normal. Porque a ideia de algo acontecer com você é inaceitável para mim. O coração de Sofia parou por um momento.
Rafael, quando dona Conceição me ligou esta manhã dizendo que você estava doente, continuou ele. Senti um medo que não esperava sentir. Um medo que me fez perceber. O quê? Perguntou ela quando ele hesitou. Que este casamento parou de ser de conveniência há semanas, pelo menos para mim. A confissão pairou no ar entre eles, carregada de significado.
Sofia estendeu a mão e Rafael a pegou imediatamente, entrelaçando seus dedos. “Para mim também”, admitiu ela em um sussurro. Rafael levou a mão dela aos lábios e a beijou suavemente, um gesto tão terno que fez os olhos de Sofia se encherem de lágrimas. Descanse”, disse ele. “Eu vou ficar aqui.
” Sofia adormeceu com a mão ainda entrelaçada a de Rafael. E durante toda a noite, cada vez que acordava brevemente, ele estava lá. às vezes cochilando na poltrona, às vezes lendo, mas sempre presente. Na manhã seguinte, a febre havia passado quase completamente. Sofia se sentia fraca, mas muito melhor.
Rafael estava dormindo na poltrona, ainda vestindo a camisa social amarrotada do dia anterior, os cabelos despenteados. Ela o observou dormir, notando como parecia mais jovem e menos guardado no sono. As linhas de tensão ao redor dos olhos haviam se suavizado e havia algo quase vulnerável em sua posição relaxada.
Este homem passou a noite inteira cuidando de mim”, pensou ela, sentindo uma onda de carinho e gratidão. Rafael acordou como se tivesse sentido que estava sendo observado. Seus olhos encontraram os de Sofia imediatamente. “Como está se sentindo?” Foram suas primeiras palavras. “Muito melhor. Obrigada por por tudo.” Ele se levantou da poltrona, esticando os músculos tensos.
Vou pedir para dona Conceição preparar um café da manhã leve. Você precisa se alimentar, Rafael. Ela o chamou quando ele chegou à porta. O que você disse ontem à noite, você quis dizer? Ele se virou e a expressão em seus olhos era mais aberta e honesta do que ela já havia visto. “Cada palavra”, disse ele, “e quando estiver totalmente recuperada, gostaria muito de conversar sobre isso.
” Depois que ele saiu, Sofia se recostou nos travesseiros, o coração acelerado por motivos que não tinham nada a ver com febre. As muralhas ao redor do coração de Rafael estavam finalmente começando a ruir e as dela também. Sofia levou uma semana para se recuperar completamente da gripe e durante esse tempo algo fundamental mudou na dinâmica entre ela e Rafael.
Os cuidados atentos que ele demonstrara haviam criado uma intimidade nova, uma proximidade que nenhum dos dois conseguia ignorar. Eles ainda mantinham quartos separados, ainda jantavam com conversas educadas, mas havia uma tensão diferente no ar, não desconfortável, mas carregada de possibilidades não exploradas. Rafael voltara ao trabalho, mas agora chegava em casa mais cedo e sempre perguntava sobre o dia dela com um interesse que ia além da cortesia.
Sofia notou que ele tocava nela mais frequentemente, uma mão no ombro ao passar, dedos que se demoravam quando entregava algo, olhares que duravam mais do que o necessário. A conversa que ele prometera, porém, não acontecia. Sempre havia algo, um processo urgente, uma reunião importante, um evento social que adiava o momento.
Foi numa quinta-feira chuvosa de junho, com o inverno baiano se fazendo sentir através das janelas da mansão, que tudo finalmente explodiu. Sofia estava na biblioteca, como se tornara seu hábito, estudando o direito constitucional. A chuva tamborilava nas vidraças, criando uma atmosfera aconchegante. Ela havia acendido a lareira, um luxo que ainda a surpreendia, e o ambiente estava aquecido e acolhedor.
Rafael chegou em casa às 8 da noite, mais tarde do que usual. Sofia o ouviu conversando com dona Conceição na cozinha, sua voz soando cansada. 20 minutos depois, ele apareceu na biblioteca carregando duas taças e uma garrafa de whisky. Mente se eu me juntar a você?”, perguntou ele. Sofia notou imediatamente que havia algo diferente em Rafael.
Ele havia afrouxado a gravata, os cabelos estavam ligeiramente despenteados e havia uma tensão em seus ombros que sugeria um dia particularmente difícil. “Claro”, disse ela, fechando o livro. Dia difícil. Rafael serviu o whisky nas duas taças e lhe ofereceu uma. Julguei um caso de divórcio hoje.
Casal casado há 25 anos, dois filhos, patrimônio considerável. Ele tomou um gole generoso. A esposa descobriu que ele tinha uma amante há 10 anos. Sofia aceitou a taça, mas não bebeu imediatamente. E você ficou afetado pelo caso? Mais do que deveria. Rafael se sentou na poltrona em frente à Adela, em vez de manter a distância usual.
O homem alegava que nunca amou a esposa, que o casamento havia sido por conveniência familiar, que ela sempre soubera que não havia amor real entre eles. Sofia sentiu um arrepio. E a esposa disse que passou 25 anos acreditando que ele eventualmente aprenderia a amá-la, que se contentou com migalhas de afeto, porque tinha esperança de que um dia ele interrompeu a frase e tomou outro gole de whisky.
Um dia o quê? que ele percebesse que ela o amava o suficiente pelos dois. O silêncio que se instalou foi carregado de significados não ditos. Sofia sabia que ele não estava apenas falando sobre o caso que julgara. “E o que você decidiu?”, perguntou ela suavemente. “Divórcio compartilha a igualitária dos bens, mas ele parou, girando a taça entre as mãos. Fiquei pensando na futilidade de tudo.
25 anos de fingimento de ambos os lados. Talvez não fosse fingimento para ela. Rafael a encarou diretamente. Não, para ela era real e isso torna tudo ainda mais trágico. Sofia tomou um gole do whisky, sentindo o líquido queimar sua garganta. Rafael, por que está me contando isso? Ele ficou em silêncio por tanto tempo que ela achou que ele não responderia.
Quando finalmente falou, sua voz saiu quase como um sussurro. Porque tenho medo de estar fazendo a mesma coisa com você. O coração de Sofia disparou. Como assim? Quando aceitei este casamento, pensei que conseguiria manter distância emocional, que seria apenas um arranjo prático. Ele se levantou e foi até a janela, observando a chuva.
Mas não consegui, Sofia, e agora me vejo na posição terrível de de quê? Ele se virou para encará-la, e a expressão em seus olhos era de pura angústia, de estar me apaixonando por uma mulher que me aceitou apenas por necessidade. Sofia sentiu como se o chão tivesse desaparecido sob seus pés.
Rafael, eu sei que este casamento foi sua única opção, continuou ele rapidamente, como se precisasse dizer tudo antes de perder a coragem. Sei que se pudesse escolher, provavelmente estaria com alguém da sua idade, alguém que pudesse lhe oferecer romance e paixão, não apenas estabilidade financeira e respeito mútuo.
Sofia se levantou da poltrona, o coração batendo tão forte que ela tinha certeza de que ele podia ouvi-lo. “Você acha que eu estou aqui apenas por necessidade? Não está?” A pergunta saiu carregada de dor e Sofia percebeu que Rafael havia criado uma narrativa em sua própria mente, onde ele era o vilão que aproveitou-se da situação dela. “Rafael”, disse ela, aproximando-se devagar. “Posso lhe fazer uma pergunta?” Ele a sentiu tenso.
Se eu tivesse outras opções, se tivesse recebido a herança sem condições, se pudesse escolher qualquer vida que quisesse, você acredita que ainda estaria aqui? Honestly, não sei. Espero que sim, mas eu sei. Sofia o interrompeu, parando a poucos passos dele. E a resposta é sim. Eu estaria aqui, Rafael. Talvez não como esposa inicialmente, mas estaria.
Porque o que sinto por você não tem nada a ver com testamentos ou heranças. Os olhos de Rafael se arregalaram. Sofia, você quer saber quando comecei a me apaixonar por você? continuou ela, a coragem crescendo com cada palavra. Foi quando vi você lendo Castro Alves na biblioteca, quando percebi que havia paixão e poesia escondidas por trás de toda essa formalidade. Rafael deu um passo em direção a ela.
Você se apaixonou por mim? Estou apaixonada por você”, corrigiu ela. “Pela forma como cuida das pessoas que ama sem fazer alarde, pelo jeito como seus olhos se iluminam quando fala sobre justiça, pela delicadeza com que me tratou desde o primeiro dia, mesmo quando este casamento era apenas um contrato de papel.
” As mãos de Rafael tremiam quando ele as ergueu para tocar o rosto de Sofia. “Você não pode imaginar”, disse ele com voz rouca. “Quanto tempo passei querendo ouvir essas palavras? Por que não disse nada? Porque tinha medo de estar me iludindo? Porque ele hesitou? Porque as únicas duas mulheres que amei na vida me abandonaram quando mais precisei delas. Sofia franziu o senho. Duas.
Minha mãe e uma mulher com quem estava envolvido há 10 anos. “Conte-me”, disse ela suavemente. Rafael suspirou profundamente. “Minha mãe me deixou em um internato quando eu tinha 8 anos.” disse que voltaria a me buscar, mas nunca voltou. E Laura? Laura disse que me amava, mas quando descobriu que eu não era o homem socialmente ambicioso que ela esperava, que preferia ficar em casa lendo-a a frequentar festas toda semana, ela encontrou alguém mais adequado às aspirações dela. O coração de Sofia se partiu pelas feridas que ele carregava. Rafael, aprendi que amar é
entregar o poder de te destruir a outra pessoa”, disse ele amargamente. “E jurei que nunca mais faria isso. E agora?” Ele a encarou com uma intensidade que fez suas pernas fraquejarem. Agora descobri que é tarde demais para essa resolução. Você já tem esse poder sobre mim, Sofia, e é assustador e maravilhoso ao mesmo tempo.
Sofia ergueu as mãos para tocar o rosto dele, sentindo a barba por fazer sob seus dedos. Nem todas as pessoas são como sua mãe ou como Laura. Algumas pessoas ficam. E você? Perguntou ele, cobrindo as mãos dela com as suas. Você fica? Eu fico”, disse ela firmemente. “Não porque preciso, mas porque quero. Porque te amo, Rafael.
Te amo tanto que dói respirar quando você não está por perto.” Foi como se uma represa tivesse se rompido. Rafael a puxou para seus braços com uma urgência desesperada, segurando-a como se ela fosse desaparecer a qualquer momento. “Sofia”, murmurou ele contra seus cabelos. Eu te amo. Te amo tanto que tenho medo do que sou capaz de fazer para te manter.
Eles ficaram abraçados no meio da biblioteca, a chuva continuando a cair do lado de fora, a lareira creptando suavemente e, finalmente, finalmente, todas as barreiras entre eles haviam caído. Três noites se passaram desde a confissão na biblioteca, e ambos pareciam estar navegando em território desconhecido. Suas conversas durante as refeições haviam adquirido uma intimidade nova, carregadas de olhares significativos e sorrisos que falavam de segredos compartilhados.
Rafael tocava nela com mais frequência. Uma mão no ombro ao passar, dedos que se demoravam quando entregava algo, braços que ocasionalmente se envolviam ao redor de sua cintura, em gestos aparentemente casuais, mas que deixavam Sofia com o coração acelerado. Mas eles ainda dormiam em quartos separados.
Na terceira noite, Sofia estava deitada em sua cama, olhando para o teto, incapaz de adormecer. Era quase meia-noite e ela podia ver uma linha de luz sob a porta do quarto de Rafael através do corredor. Ele também estava acordado. Uma coragem que não sabia possuir tomou conta dela. Levantou-se da cama, vestindo apenas uma camisola de cetim azul claro que havia comprado semanas atrás, mas nunca tivera coragem de usar.
Era elegante, sem ser vulgar, mas definitivamente mais reveladora do que qualquer coisa que Rafael já a havia visto vestir. Caminhou pelo corredor com passos silenciosos e parou diante da porta dele. Por um momento, quase perdeu a coragem, mas então se lembrou das palavras que haviam trocado, da dor nos olhos dele ao falar sobre abandono, da forma como assegurava, como se ela fosse preciosa. Bateu suavemente na porta.
Entre, veio a voz dele do interior, surpresa. Sofia empurrou a porta devagar. Rafael estava sentado na cama, encostado na cabeceira, lendo um livro. Usava apenas uma camiseta branca e calças de pijama de seda escura. Quando a viu na soleira da porta, o livro escorregou de suas mãos. Sofia, disse ele, a voz rouca.
O quê? Está tudo bem? Não consigo dormir, disse ela simplesmente. E você também não? Aparentemente, Rafael a observou de cima a baixo e Sofia viu o exato momento em que ele registrou o que ela estava vestindo. Seus olhos se escureceram e ela notou como suas mãos se fecharam nos lençóis. Sofia, disse ele cuidadosamente. Você sabe o que está fazendo? Estou indo até o quarto do meu marido porque quero estar com ele”, respondeu ela, surpreendendo-se com sua própria audácia.
“Estou fazendo algo errado?” Rafael fechou os olhos por um momento, como se estivesse lutando consigo mesmo. Você tem certeza? Porque se entrar aqui, se vier até esta cama, eu não sei se conseguirei manter o controle que tenho mantido. Em resposta, Sofia entrou no quarto e fechou a porta atrás de si. O som da fechadura ecoou como um tiro no silêncio.
“Eu não quero que mantenha o controle”, disse ela, aproximando-se devagar da cama. Já perdemos tanto tempo sendo cuidadosos um com o outro. Rafael se levantou da cama em um movimento fluido e ela percebeu como era imponente quando de pé, como seus ombros largos preenchiam o espaço. Ele se aproximou dela até que ficaram a poucos centímetros de distância. Sofia! Murmurou ele, erguendo as mãos para tocar seu rosto.
Se fizermos isso, não há volta. Você entende isso? Eu não quero volta”, sussurrou ela. “Quero ir em frente com você”. Foi como se as últimas barreiras entre eles tivessem desaparecido. Rafael a beijou com uma paixão contida que explodiu como fogo através do corpo de Sofia. Era diferente de qualquer beijo que já recebera, urgente, mas ao mesmo tempo reverente, como se ela fosse ao mesmo tempo desejo e adoração.
Suas mãos se entrelaçaram nos cabelos dela e Sofia sentiu seus joelhos fraquejarem com a intensidade da sensação. Quando finalmente se separaram para respirar, os olhos de Rafael estavam quase pretos de desejo. “Você é tão linda”, murmurou ele, suas mãos traçando o contorno do rosto dela. Desde a primeira vez que te vi, pensei que era a mulher mais linda que já tinha visto.
Rafael, deixe-me adorá-la, pediu ele contra seus lábios. Deixe-me mostrar o quanto te amo. O que aconteceu nas horas seguintes foi uma revelação de ternura e paixão que Sofia nunca havia imaginado ser possível. Rafael a tratou como se ela fosse feita de cristal e fogo ao mesmo tempo, tocando-a com uma reverência que a fez sentir-se como uma deusa, beijando-a com uma paixão que incendiou cada fibra do seu ser.
Quando ele descobriu que era sua primeira vez, parou completamente. “Sofia”, disse ele, os olhos arregalados. “Você deveria ter me dito por quê?”, perguntou ela, as bochechas coradas. Isso muda alguma coisa? Muda tudo”, disse ele suavemente. “Significa que posso ser o primeiro a te mostrar como é ser amada verdadeiramente.
” A noite se transformou em uma descoberta mútua de corpos e almas. Rafael era um amante atento e generoso, mais preocupado com o prazer dela do que com o próprio. Cada toque era uma oração silenciosa, cada beijo uma promessa não dita. Quando finalmente se entregaram completamente um ao outro, foi com uma intensidade emocional que deixou ambos em lágrimas.
Não era apenas física, era a união de duas pessoas que haviam encontrado seu lugar no mundo, nos braços um do outro. Depois eles ficaram entrelaçados na cama. Sofia, aninhada no peito de Rafael, ouvindo o som constante de seu coração. “Não posso acreditar que você estava aqui o tempo todo”, murmurou ela contra sua pele.
“Aqui onde? Esperando por mim, sendo exatamente o homem de quem eu precisava, mesmo quando eu não sabia que precisava dele.” Rafael beijou o topo de sua cabeça. “Seu avô sabia”, disse ele suavemente. “Ele sabia que nós nos complementaríamos. Como ele pode ter certeza? Porque ele nos conhecia melhor do que nós mesmos.
Ele sabia que você precisava de alguém que te amasse sem tentar te mudar. E sabia que eu precisava de alguém que me amasse, apesar de todas as minhas defesas. Sofia se ergueu ligeiramente para olhar para ele. Seus cabelos estavam bagunçados. havia uma sombra de barba em seu queixo e ele nunca havia parecido mais bonito. “Eu te amo”, disse ela simplesmente.
“Eu te amo mais do que achei que fosse possível amar alguém”, respondeu ele, puxando-a para outro beijo. Eles fizeram amor novamente, dessa vez com menos urgência e mais exploração, aprendendo os segredos do corpo um do outro, descobrindo o que os fazia suspirar, gemer, se perder completamente na sensação. Quando finalmente adormeceram, era quase amanhecer e estavam tão entrelaçados que era difícil dizer onde um terminava e o outro começava.
Sofia acordou primeiro, ainda nos braços de Rafael, observando a luz dourada do nascer do sol filtrar pelas cortinas. Ele estava dormindo profundamente, um braço ao redor da cintura dela, o rosto relaxado e jovem no sono. “Meu marido”, pensou ela. E pela primeira vez a palavra se sentia completamente real. Sofia acordou sozinha.
A cama ao lado dela estava fria, como se Rafael tivesse saído há horas. Por um momento, ela ficou desorientada, não reconhecendo o quarto. Então, se lembrou que não estava em seu próprio quarto, mas no dele. As memórias da noite anterior voltaram como uma onda de calor. As mãos de Rafael em sua pele, os sussurros de amor, a forma como ele a havia feito se sentir como se fosse a única mulher no mundo.
Ela sorriu, esticando-se nos lençóis que ainda carregavam o perfume dele. Mas algo estava errado. Rafael acordava às 6 todas as manhãs. Eram apenas 5:40, segundo o relógio na mesa de cabeceira. Por que havia saído da cama tão cedo, especialmente depois da noite que haviam compartilhado? Sofia se levantou, envolveu-se em um roupão de seda que encontrou no armário dele, muito grande para ela, mas que carregava o perfume familiar, e foi procurá-lo.
Encontrou-o na cozinha, já vestido com terno e gravata. tomando café preto em pé ao lado da bancada. Quando ela entrou, ele ergueu os olhos e a expressão que viu neles a fez parar no lugar. Frieza. a mesma frieza formal dos primeiros dias do casamento. “Bom dia”, disse ela hesitante. “Bom dia”, respondeu ele, mas não se moveu em direção a ela, não sorriu, não demonstrou qualquer vestígio do homem apaixonado da noite anterior.
“Você saiu cedo da cama”, tentou ela, aproximando-se devagar. Rafael terminou o café de um gole e pousou a xícara na bancada com mais força do que necessário. Tenho uma audiência importante hoje. Preciso chegar cedo ao fórum. A voz dele era profissional distante, como se ela fosse uma colega de trabalho, não a mulher que havia gemido seu nome algumas horas antes. Rafael, disse Sofia suavemente.
Está tudo bem? Ele finalmente a olhou diretamente e o que ela viu em seus olhos a fez sentir como se tivesse levado um soco no estômago. Arrependimento. Sofia, disse ele, a voz controlada demais, sobre ontem à noite. O que tem ontem à noite? Foi um erro. As palavras saíram como uma bofetada. Sofia sentiu o sangue gelar nas veias.
Um erro não deveria ter acontecido. Eu perdi o controle. E você? Ele hesitou, passando a mão pelos cabelos. Você é jovem, inexperiente. Aproveitei-me da situação. Sofia não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Aproveitou-se, Rafael. Eu fui ao seu quarto. Eu fiz a escolha. Uma escolha baseada em que? Gratidão, obrigação, marital. Ele balançou a cabeça. Não importa.
O que importa é que não pode se repetir. Por que não? Perguntou ela, a voz saindo mais alta do que pretendia. Por que não pode se repetir quando ambos admitimos que nos amamos? Rafael pegou a pasta e as chaves do carro, evitando olhar para ela. Porque amor não é suficiente, Sofia. Você descobrirá isso com o tempo. Não acredito que está dizendo isso, explodiu Sofia.
Não acredito que está fugindo de novo. Finalmente, Rafael parou e a encarou, e a dor em seus olhos era innegável. Não estou fugindo. Estou sendo realista. Realista sobre o quê? Sobre o fato de que somos pessoas muito diferentes, com idades diferentes, experiências diferentes. Sobre o fato de que você merece alguém que possa lhe dar uma vida normal, romântica. Não.
Um homem emocionalmente imaturo que só sabe se esconder atrás do trabalho. Sofia sentiu lágrimas de raiva e frustração queimar em seus olhos. E não acredita que eu sou inteligente o suficiente para decidir o que mereço? Acredito que você é inteligente o suficiente para perceber que cometeu um erro quando tiver tempo para pensar com clareza.
Bem, disse Sofia, a voz tremendo de emoção contida. Deixe-me ser muito clara com você, Rafael Almeida. Se sair por essa porta agora, se escolher o medo em vez de lutar pelo que temos, não haverá uma segunda chance. Não vou ficar correndo atrás de um homem que prefere se esconder do que enfrentar a possibilidade de ser feliz. Rafael hesitou na porta da cozinha, a mão na maçaneta.
Por um momento, Sofia pensou que ele voltaria, que perceberia a insanidade do que estava fazendo. Em vez disso, ele abriu a porta. Talvez seja melhor assim”, disse ele sem se virar, “para nós dois”. E saiu, deixando Sofia sozinha na cozinha, vestindo seu roupão, com o coração despedaçado aos seus pés. Dona Conceição encontrou-a ali uma hora depois, ainda parada no mesmo lugar, as lágrimas secas no rosto.
“Meu Deus, menina, o que aconteceu?”, exclamou a governanta correndo para abraçá-la. “Ele fugiu”, disse Sofia com voz vazia. Depois de tudo que conversamos, depois de tudo, ele fugiu, o Dr. Rafael. Mas por quê? Porque tem medo, disse Sofia amargamente. Tem medo de ser feliz? Tem medo de que eu o abandone? Então, decidiu me abandonar primeiro. Dona Conceição suspirou profundamente.
Ah, minha querida, homens podem ser tão tolos às vezes. Não, desta vez, disse Sofia, endireitando os ombros. Desta vez não vou atrás dele. Não vou implorar para ser amada. Se ele não consegue ver o que está jogando fora, problema dele. E o que vai fazer? Sofia olhou ao redor da cozinha, da casa que havia se tornado seu lar, do homem que havia se tornado sua vida.
“Vou sair daqui”, disse ela com uma determinação que não sabia possuir. “Vou para a casa de uma amiga até decidir o que fazer. Não posso continuar vivendo como uma hóspede na vida de alguém que não me quer de verdade. Sofia, não faça isso. Ele voltará aos sentidos. Se voltar”, disse Sofia firmemente, “será porque decidiu lutar por mim, não porque eu tornei as coisas fáceis para ele.
Eu mereço alguém que me escolha todos os dias, dona Conceição, não alguém que me trata como um erro a ser corrigido.” Duas horas depois, Sofia havia arrumado uma mala com seus pertences essenciais e pedido um táxi. Dona Conceição chorava na porta, implorando para ela reconsiderar. Deixe um recado para ele”, disse Sofia subindo no táxi.
“Diga que se ele mudar de ideia sabe onde me encontrar, mas não vou esperar para sempre”. Enquanto o táxi descia a ladeira em direção ao centro da cidade, Sofia não olhou para trás. Se Rafael queria uma guerra entre o medo e o amor, ele teria que escolher um lado e ela não estaria lá para tornar a escolha mais fácil para ele.
Sofia passou os três dias seguintes no apartamento de sua amiga Juliana na Barra. tentando se convencer de que havia feito a coisa certa. O apartamento ficava no 20º andar de um edifício com vista para o mar e ela passou horas na varanda observando as ondas, tentando organizar seus pensamentos. Juliana, sua colega de faculdade, havia ficado chocada quando Sofia apareceu na porta com uma mala, os olhos vermelhos de tanto chorar.
Deixa eu entender, disse Juliana na primeira noite, servindo vinho barato em duas canecas, a louça mais elegante que possuía. Você se casou com o desembargador mais cobiçado de Salvador, se apaixonou de verdade por ele, transaram pela primeira vez e na manhã seguinte ele disse que foi um erro. Resumindo, sim, ele é gay? Não. Sofia riu, apesar de tudo. Definitivamente não é gay, então é burro.
Desculpa, Sofia, mas não tem outra explicação. Nos dias que se seguiram, Sofia tentou manter a rotina normal e as aulas, estudava, fingia que sua vida não havia implodido, mas era impossível se concentrar. Cada vez que o celular tocava, seu coração disparava, esperando que fosse Rafael. Nunca era. Dona Conceição ligava todos os dias.
Como ele está? Sofia acabava sempre perguntando, apesar de si mesma. Terrível”, respondia a governanta honestamente. “Não come, não dorme direito, trabalha até mais tarde. Ontem o encontrei parado na porta do quarto da senhora, apenas olhando. Ele perguntou por mim todos os dias, mas quando digo que você está bem, ele apenas assente e muda de assunto.
Orgulhoso demais para admitir que cometeu um erro”, murmurou Sofia. ou com medo demais, corrigiu dona Conceição. Minha querida, aquele homem ama você mais do que a própria vida. Está apenas perdido. Então ele precisa se encontrar sozinho. Era meio da tarde da quarta-feira, quando Sofia estava voltando da universidade, que recebeu uma ligação de um número desconhecido. Alô, Sofia Santos.
A voz era feminina, oficial. Sim. Aqui é do Hospital das Clínicas. A senhora está listada como contato de emergência de Rafael Almeida Santos. Ele deu entrada aqui a cerca de uma hora. O mundo parou. Sofia sentiu as pernas fraquejarem e teve que se apoiar em uma parede. Urceu? Aparentemente desmaiou durante uma audiência. Estamos fazendo exames, mas parece ser exaustão.
Você poderia vir até aqui? Sofia nem se lembrou de como chegou ao hospital. Uma coisa estava clara. Rafael havia listado ela como contato de emergência. Não, dona Conceição, não, algum parente distante. Ela encontrou-o no quarto 237 dormindo. Parecia ter emagrecido 10 kg nos três dias desde que se separaram.
Havia círculos escuros sob seus olhos e, mesmo dormindo, sua expressão era tensa, preocupada. Doutor Mendonça, o mesmo médico que a havia atendido durante a gripe, estava checando os gráficos ao pé da cama. “Como ele está?”, perguntou Sofia em voz baixa. “Fisicamente?” Exaustão, desidratação leve, pressão alta pelo estresse, nada que um pouco de descanso não resolva.
O médico a encarou por cima dos óculos. Emocionalmente, essa não é minha área de especialidade. Posso ficar com ele? Claro. Na verdade, talvez sua presença o ajude a descansar de verdade. Sofia puxou uma cadeira para junto da cama e se sentou. Sem pensar, estendeu a mão e tocou-a de Rafael.
Mesmo dormindo, seus dedos se fecharam ao redor dos dela automaticamente. Ela estava ali há uma hora quando ele acordou. Seus olhos encontraram os dela imediatamente e, por um momento, a expressão que cruzou seu rosto foi de alívio puro. Sofia! Murmurou ele, a voz rouca. Oi! Disse ela suavemente. Você como soube que eu estava aqui? O hospital me ligou. Aparentemente sou seu contato de emergência.
Rafael fechou os olhos como se estivesse envergonhado. Desculpa por isso. Não sabia que eles ligariam. Porque eu sou seu contato de emergência, Rafael. Ele abriu os olhos e a encarou. Porque não há mais ninguém, disse ele simplesmente. Não há mais ninguém importante na minha vida além de você. Sofia sentiu o coração apertar.
Rafael, eu sei que não tenho direito de pedir nada depois do que fiz, continuou ele, tentando se sentar na cama. Mas quando você saiu, quando dona Conceição me disse que você havia ido embora, o que você sentiu? Terror puro. A voz dele saiu como um sussurro. Terror de que eu havia perdido a única coisa boa que já me aconteceu por causa do meu medo idiota. Sofia ficou em silêncio.
Parte dela querendo consolá-lo. Parte dela ainda ferida demais para isso. Por que chamou nossa noite de erro? perguntou ela. Finalmente. Rafael passou a mão livre pelo rosto. Porque quando acordei e te vi dormindo tão linda, tão perfeita nos meus braços, o medo tomou conta de mim. Medo de que você fosse acordar e se arrepender.
Medo de que você percebesse que merece muito mais do que um homem de 41 anos com um coração ferido e decidiu se arrepender por mim. Decidi me proteger antes que você me destruísse”, admitiu ele, “Como covarde.” Sofia se levantou da cadeira e foi até a janela, observando o movimento do hospital lá embaixo.
“Sabe o que mais me machuca, Rafael? O quê? Que depois de tudo que conversamos sobre confiança, sobre as pessoas que nos abandonaram, você não confiou em mim. Não acreditou que eu pudesse te amar exatamente como você é. Sofia, por favor.” Ela se virou para encará-lo. Passei três dias me perguntando se estava sendo dramática demais, se deveria voltar, engolir meu orgulho, aceitar as migalhas de afeto que você quisesse me dar. E chegou a alguma conclusão? Sim.
Concluí que eu mereço ser amada sem medo, sem reservas, sem desculpas. E se você não pode me dar isso, então é melhor que terminemos este casamento agora, antes que nos machuquemos ainda mais. O silêncio que se instalou foi carregado de dor e possibilidades. Rafael a observou por um longo momento e Sofia viu quando algo mudou em seus olhos. Uma resolução, uma decisão sendo tomada.
“Você está certa”, disse ele finalmente. Sofia sentiu o coração parar. “Estou? está certa sobre merecer ser amada sem medo. E eu sou o maior covarde do mundo por ter quase jogado fora a única chance de felicidade real que já tive. Ele tentou se levantar da cama, mas Sofia se aproximou rapidamente.
Não se levante, você ainda está fraco, Sofia, disse ele, pegando sua mão e levando-a aos lábios. Eu sou um idiota. Um idiota apaixonado e aterrorizado, mas ainda assim um idiota. Ela não conseguiu evitar um pequeno sorriso. Continue. Você tem razão sobre tudo. Sobre confiança, sobre merecimento, sobre ser amada completamente.
E se me der mais uma chance, uma única chance mais, prometo que vou lutar pelos meus medos em vez de fugir deles. Como? Fazendo terapia, se necessário, conversando com você sobre meus medos, em vez de tomar decisões unilaterais. Lembrando todos os dias que você me escolheu, que continua me escolhendo, mesmo quando eu não mereço. Sofia estudou seu rosto, procurando por sinais da sinceridade que precisava ver.
E se o medo voltar? Quando o medo voltar? Corrigiu ele. Porque vai voltar? Prometo que vou conversar com você sobre ele. Prometo que não vou mais tomar decisões sobre nosso relacionamento baseado no que minha mãe ou Laura fizeram. Prometo que vou te tratar como a mulher inteligente e corajosa que você é, capaz de fazer suas próprias escolhas.
Sofia sentiu as lágrimas queimar em seus olhos. Rafael, eu te amo disse ele com uma intensidade que a fez tremer. Te amo mais do que achei que fosse possível amar alguém e não quero mais desperdiçar um único dia fingindo o contrário. Eu também te amo! sussurrou ela. Mas não posso passar pela mesma coisa de novo. Não posso acordar e descobrir que você fugiu porque teve medo.
Não vai acontecer, disse ele firmemente. E se você me deixar, vou passar o resto da minha vida provando isso. Sofia se inclinou e o beijou. Um beijo suave, cheio de perdão e promessas. Quando se separaram, ambos tinham lágrimas nos olhos. “Uma condição”, disse ela. “Qualquer uma. Quero que mude para o meu quarto quando sairmos daqui. Rafael sorriu.
O primeiro sorriso genuíno que ela via em dias. Eu não tenho mais um quarto, Sofia. A partir de agora temos um quarto. Nosso quarto. Um mês se passou desde a reconciliação no hospital e Sofia podia dizer honestamente que eram os dias mais felizes de sua vida. Rafael havia cumprido todas as suas promessas. Estava fazendo terapia duas vezes por semana.
conversava com ela sobre seus medos quando eles surgiam, e, mais importante, havia se mudado definitivamente para o quarto, que antes era só dela, agora era realmente deles. A mudança não havia sido apenas física. Rafael parecia mais leve, mais aberto, como se tivesse finalmente se dado permissão para ser feliz.
Ele sorria mais, tocava nela com mais frequência, falava sobre planos futuros sem a hesitação cautelosa que sempre demonstrara. “Doutor Silva disse algo interessante hoje”, comentou ele durante o jantar numa quinta-feira. Dr. Silva era seu terapeuta e Sofia ficou surpresa que Rafael mencionasse as sessões tão abertamente.
Nos primeiros dias, ele fora muito reservado sobre o assunto. O que ele disse? que às vezes precisamos quebrar completamente para nos recriar de forma mais saudável. Rafael tomou um gole de vinho, disse que meu desmaio no tribunal foi meu corpo me forçando a parar de fugir. Sofia sorriu. Seu corpo é mais inteligente que você. Aparentemente ele riu e o som encheu seu coração de alegria.
Ele também sugeriu algo mais. O quê? Rafael hesitou por um momento e Sofia reconheceu o padrão. Ele estava prestes a compartilhar algo que o deixava vulnerável em vez de simplesmente fugir como fazia antes. Ele sugeriu que fizéssemos uma cerimônia de renovação de votos. Sofia quase engasgou com o vinho. Sério? Não pelos motivos religiosos ou legais.
Rafael se apressou em esclarecer. Mas por quê? Nosso primeiro casamento foi baseado em medo e necessidade. Ele achou que uma nova cerimônia baseada em amor e escolha poderia ser simbólica. Sofia pousou o garfo, o coração acelerado. E você, o que acha? Acho que gostaria muito de me casar com você de novo, desta vez pelos motivos certos.
A ideia era ao mesmo tempo, assustadora e emocionante. Como seria? Como você quiser”, disse Rafael, estendendo a mão para tocar a dela. Grande, pequena, só nós dois, com toda Salvador presente. “O que você quiser, Sofia.” Ela entrelaçou seus dedos nos dele. “Quero algo pequeno, íntimo, apenas as pessoas que realmente amamos.
Dona Conceição ficaria devastada se não fosse convidada.” Sofia riu. Obviamente dona Conceição seria a madrinha de honra. Eles passaram as semanas seguintes planejando uma pequena cerimônia no Jardim da Mansão. Sofia convidou alguns poucos amigos da universidade, incluindo Juliana, que havia se tornado uma confidente próxima durante os dias difíceis na Barra. Rafael convidou o Dr.
Mendonça e sua esposa, alguns colegas próximos do tribunal, e Dr. Silva, que havia se tornado mais conselheiro que apenas terapeuta. “Há uma coisa que quero fazer diferente desta vez”, disse Rafael numa manhã, três dias antes da cerimônia. “O quê?” “Quero escrever meus próprios votos.” Sofia sorriu. Eu também.
Na manhã da cerimônia, Sofia acordou cedo e encontrou Rafael já levantado, parado na janela, observando os preparativos no jardim. Dona Conceição havia se superado. Havia flores por toda parte, cadeiras brancas arranjadas em um pequeno círculo ao redor de um altar improvisado sob a mangueira mais antiga do jardim. Nervoso? Perguntou Sofia, abraçando-o por trás.
Animado! Corrigiu ele, cobrindo as mãos dela com as suas. Pela primeira vez na minha vida, estou completamente animado sobre o futuro. A cerimônia aconteceu ao pôr do sol, com a luz dourada de Salvador filtrando através das folhas da mangueira. O celebrante, um amigo padre de Rafael, havia concordado em fazer uma cerimônia mais pessoal e menos formal.
Quando chegou o momento dos votos, Rafael foi primeiro. Sofia, começou ele, sua voz clara e firme. Quando nos casamos da primeira vez, eu prometi te honrar e respeitar. Hoje prometo muito mais. Prometo te escolher todos os dias, mesmo quando o medo sussurrar que é mais seguro me afastar. Prometo confiar no seu amor, mesmo quando minha própria história me disser que as pessoas sempre vão embora.
Prometo ser vulnerável com você, porque descobri que a coragem não é a ausência do medo, mas amar apesar dele. Sofia sentiu as lágrimas correrem livremente pelo rosto. Prometo te apoiar em todos os seus sonhos, celebrar todas as suas vitórias e te segurar em todos os momentos difíceis.
Prometo que nossa casa será sempre um lugar seguro para você ser exatamente quem é. E prometo amar não apenas a mulher que você é hoje, mas também a mulher em quem está se tornando. Agora era a vez de Sofia e ela respirou fundo antes de começar. Rafael, disse ela, olhando diretamente em seus olhos. Você me ensinou que o amor verdadeiro não é perfeito, é corajoso, não é fácil, é comprometido.
E hoje eu me comprometo com todas as partes de você, suas forças e suas vulnerabilidades, suas certezas e seus medos. Prometo ser sua parceira em tudo, não apenas sua esposa. Prometo desafiá-lo quando você tentar fugir, consolá-lo quando o mundo for difícil demais e celebrar com você todos os pequenos milagres da vida cotidiana. Prometo que nosso amor será um lugar seguro para ambos crescermos.
quando trocaram alianças desta vez alianças que haviam escolhido juntos gravadas com uma frase de Castro Alves: “O amor é a eterna luz que fuge.” Ambos estavam sorrindo através das lágrimas. “Declaro vocês marido e mulher”, disse o padre com um sorriso. “Novamente.
O beijo que trocaram foi diferente do primeiro na cerimônia civil meses atrás. Este estava carregado de promessas cumpridas, de amor conquistado, de um futuro construído conscientemente. A festa que se seguiu foi pequena, mas alegre. Dona Conceição serviu um jantar especial no jardim, com pratos típicos baianos e um bolo de três andares que ela havia feito secretamente. Dr.
Silva fez um brinde emocionante sobre segundas chances. Juliana chorou mais que a própria noiva e Dr. Mendonça contou histórias embaraçosas sobre Rafael jovem. Quando finalmente todos foram embora e eles ficaram sozinhos no jardim sob as estrelas de Salvador, Rafael puxou Sofia para seus braços.
“Como está se sentindo, Senora Santos Almeida?”, perguntou ele. “Senora Santos Almeida?”, riu ela. “Desde quando?” Desde que decidi que quero que nossos nomes estejam unidos em tudo. Se você quiser, claro. Sofia se inclinou para beijá-lo. Eu quero. Quero tudo com você. Eles dançaram ali no jardim, sem música, além do som distante da cidade e das ondas da Baia.
Era perfeito de uma forma que Sofia nunca havia imaginado possível. Não perfeito sem problemas, mas perfeito por ser real, construído, escolhido. Sofia, murmurou Rafael contra seus cabelos. Obrigado por não ter desistido de mim. Obrigada por ter encontrado coragem para lutar pelos seus medos. Pelos nossos medos, corrigiu ele. A partir de agora, enfrentamos tudo juntos.
Seis meses depois, Sofia estava parada em frente ao espelho do que agora chamavam de nosso quarto, ajeitando a toga preta sobre o vestido azul marinho. Era dia de sua formatura na faculdade de direito da UFBA e ela mal conseguia acreditar que aquele momento havia finalmente chegado.
“Nervosa?”, perguntou Rafael, aparecendo atrás dela no espelho. Ele usava um terno cinza claro. Havia aprendido que não precisava usar preto para todas as ocasiões e segurava um pequeno buquê de flores tropicais. Um pouco admitiu ela. É estranho pensar que esta fase acabou. Esta fase acabou, concordou ele, beijando seu pescoço suavemente. Mas a próxima está apenas começando.
Na cerimônia, Rafael estava na primeira fila. e Sofia podia vê-lo da plataforma onde estava sentada com os outros formando-os. Ele sorria como se fosse o homem mais orgulhoso do mundo. E quando chamaram seu nome para receber o diploma, ela ouviu sua voz acima de todas as outras, gritando: “Essa é minha esposa”.
Mais tarde, na festa que dona Conceição havia insistido em organizar no Jardim da Mansão, Sofia circulava entre os convidados, recebendo parabéns. Marcelo estava lá. Eles haviam mantido uma amizade respeitosa depois que ela explicara sua situação junto com vários colegas de turma e professores. Então, disse Juliana, aproximando-se com duas taças de champanhe.
Qual é o próximo passo? Mestrado, concurso público. Na verdade, Sofia sorriu, recebi uma proposta da Defensoria Pública do Estado. Vou trabalhar com direito de família e questões sociais. Perfeito para você. E Rafael está orgulhoso? Sofia olhou para onde seu marido estava conversando com Dr. Mendonça e Dr. Silva.
Mais que orgulhoso, ele diz que sempre soube que eu mudaria o mundo. E vai mesmo? Vou tentar. Aos poucos, um caso de cada vez. Mais tarde naquela noite, depois que todos os convidados haviam ido embora, Sofia e Rafael estavam na biblioteca, que havia se tornado seu refúgio favorito, compartilhando uma última taça de vinho e conversando sobre o dia.
“Há uma coisa que não te contei”, disse Rafael de repente. Sofia ergueu uma sobrancelha. Eles haviam prometido um ao outro completa honestidade e Rafael raramente guardava segredos. Agora o quê? Recebi uma proposta para me candidatar a desembargador do Tribunal de Justiça Federal. Os olhos de Sofia se arregalaram. Era uma promoção enormes, o tipo de reconhecimento que poucos magistrados recebiam.
Rafael, isso é incrível. Por que não me contou antes? Porque não sei se vou aceitar. Por que não? Rafael se levantou e foi até a estante, pegando o mesmo volume de Castro Alves, que estava lendo no dia em que se conheceram. realmente, porque significaria menos tempo em casa, mais viagens, mais pressão política.
E descobri que nada disso vale a pena se não posso compartilhar minha vida com você completamente. Sofia se aproximou dele. Você não pode rejeitar uma oportunidade dessas por minha causa. Não é por sua causa, disse ele pegando suas mãos. É por nossa causa, por nós. Passei 40 anos perseguindo reconhecimento profissional, pensando que isso me faria feliz.
Agora sei que a felicidade está aqui nesta casa com você. E se aceitasse? Mas nos organizássemos para que funcione? Você faria isso, Rafael? Sofia o encarou seriamente. Apoio você em qualquer decisão que tome, desde que a tome pelos motivos certos. Se quer aceitar porque é uma oportunidade de fazer mais justiça social, aceite.
Se está rejeitando por medo de que nossa vida mude, talvez devêsemos conversar mais sobre isso. Rafael sorriu. Como você consegue sempre saber exatamente o que dizer? Prática brincou ela. Seis meses morando com você me deram muito treino em lidar com homens teimosos e brilhantes. Eles conversaram por mais uma hora, pesando pros e contras.
discutindo como poderiam adaptar suas vidas se ele aceitasse a promoção. No final, decidiram que Rafael deveria aceitar. Era uma oportunidade de impactar positivamente o sistema judiciário de uma forma que sempre sonhara. “Há mais uma coisa”, disse Sofia quando estavam se preparando para ir dormir. “Mais segredos?”, brincou Rafael. Não exatamente um segredo, mas uma possibilidade.
Algo no tom de sua voz fez Rafael parar o que estava fazendo e prestar total atenção. Que tipo de possibilidade? Sofia respirou fundo. Estou atrasada. Atrasada para quê? Então a compreensão atingiu Rafael como um raio atrasada como em como em duas semanas de atraso, como em enjoo matinal há três dias. Como pode ser que estejamos esperando um bebê? Rafael ficou completamente imóvel por um momento que pareceu eterno.
Então, lentamente um sorriso começou a se formar em seu rosto. Não apenas um sorriso, mas uma expressão de alegria pura e incrédula. Um bebê?”, sussurrou ele. “Talvez. Não fiz o teste ainda. Estava esperando, esperando o momento certo para te contar.
” Rafael a pegou nos braços e a girou no ar, ambos rindo como adolescentes. “Sofia! Um bebê. Nosso bebê? Calma!”, riu ela quando ele a colocou no chão. “Ainda não temos certeza. Mas você sente que é verdade?” Sofia pousou a mão no ventre ainda plano. Sinto, não sei como, mas sinto. Meu Deus, disse Rafael, ajoelhando-se diante dela e beijando sua barriga por cima da camisola. Oi, pequeno sussurrou.
Se você está aí, quero que saiba que já é o bebê mais amado mundo. Sofia sentiu as lágrimas correrem pelo rosto. Você está feliz? Feliz. Rafael se levantou e a encarou com uma intensidade que fez seu coração acelerar. Sofia, estou mais feliz do que achei que fosse possível estar.
A ideia de criar uma criança com você, de ver nosso amor se transformar numa pequena pessoa, é como um milagre. Vai ser um bom pai”, disse ela suavemente. “Vou tentar. E se cometer erros, você vai me ajudar a consertá-los? Sempre.” Na manhã seguinte, eles confirmaram o que já sabiam no coração. Sofia estava grávida de seis semanas. Dr. Mendonça, que havia se tornado um amigo da família além de médico, fez questão de atendê-los pessoalmente.
“Parabéns”, disse ele, mostrando-lhes a ultronografia. Vejam só, tem um pequeno coração batendo ali. Rafael segurou a mão de Sofia tão forte que ela achou que ele fosse quebrá-la, mas quando olhou para ele, viu que estava chorando. “É real”, murmurou ele. “É realmente real!” Três meses depois, Sofia estava de pé na varanda da mansão, observando Rafael no jardim. Ele estava plantando uma mangueira nova para o nosso filho brincar à sombra dela”, havia explicado.
Sua barriga já estava ligeiramente arredondada e ela usava um dos vestidos soltos que haviam se tornado sua nova preferência. Dona Conceição apareceu ao lado dela carregando duas xícaras de chá de gengibre. “Como está se sentindo hoje, minha querida?” “Bem, os enjousos finalmente passaram. Sofia aceitou o chá gratefully.
Dona Conceição, posso lhe fazer uma pergunta? Claro. A senhora acha que o vovô sabia? Que sabia que tudo funcionaria assim. A governanta sorriu o tipo de sorriso cheio de sabedoria que vem com décadas de observar a vida acontecer. Minha querida, seu avô Roberto era um homem muito sábio.
Ele viu duas pessoas feridas que podiam curar uma a outra e criou uma situação onde vocês seriam forçados a descobrir isso. Mas como ele podia ter certeza? Ele não podia, disse dona Conceição simplesmente, mas apostou no amor. E às vezes apostar no amor é tudo que podemos fazer. Sofia assentiu, observando Rafael se levantar e limpar a terra das mãos. Quando ele a viu na varanda, acenou e sorriu.
Aquele sorriso que agora era só dela, cheio de amor e promessas cumpridas. Quer saber de uma coisa, dona Conceição? O quê? Acho que vou escrever uma carta para nosso bebê para explicar como os pais dele se apaixonaram, como superaram seus medos, como aprenderam que às vezes as melhores coisas da vida começam disfarçadas de obrigações. Que ideia linda.
E vou terminar a carta dizendo que o amor verdadeiro não é encontrar alguém perfeito, mas encontrar alguém imperfeito e escolher construir algo perfeito junto com eles. Rafael chegou à varanda naquele momento, suado e sorrindo, terra ainda grudada na camisa. Ele se inclinou para beijar Sofia, uma mão instintivamente indo para sua barriga.
“Como estão meus dois amores hoje?” “Perfeitos”, disse Sofia. E pela primeira vez em sua vida, quis dizer isso literalmente. Não perfeitos sem problemas, não perfeitos sem medos ou dúvidas, mas perfeitos porque eram reais, escolhidos, construídos com amor e coragem. “Te amo”, disse Rafael, como havia se tornado seu hábito dizer várias vezes ao dia.
“Te amo também”, respondeu ela. E as palavras nunca haviam soado tão verdadeiras. Ali na varanda da mansão na Vitória, com o sol de Salvador aquecendo seus rostos e o futuro se estendendo à frente deles, cheio de promessas, Sofia finalmente entendeu o que seu avô Roberto havia visto quando criou aquela cláusula impossível no testamento.
Ele havia visto que às vezes o amor precisa de um empurrãozinho para encontrar seu caminho e que as melhores histórias de amor são aquelas onde duas pessoas escolhem todos os dias. serem corajosas o suficiente para se amarem completamente. O amor verdadeiro, descobriu ela, não era um conto de fadas, era uma construção diária feita de pequenas escolhas corajosas e grandes perdões mútuos.
Era encontrar alguém disposto a crescer junto com você, apesar de todos os medos e imperfeições. E olhando para Rafael, vendo o amor em seus olhos enquanto ele falava suavemente com o bebê em sua barriga, Sofia soube que havia encontrado exatamente isso. Co?
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