Você venderia seu coração por um preço? Já aceitaria casar com um estranho para salvar quem ama? Esta é a história de Ester, uma enfermeira que fez exatamente isso e descobriu que alguns acordos custam muito mais do que dinheiro. Uma história de paixão, traição, recomeços e um amor tão intenso que desafia todas as regras. Antes de começarmos, me conta de onde você está assistindo.
Comenta aí embaixo. E se você curte histórias que mexem com o coração, se inscreve no canal e deixa aquele like para eu saber que você quer mais conteúdo assim. Agora respira fundo, porque essa história vai te fazer sentir tudo. O envelope vermelho tremia nas mãos de Esther Silva, enquanto ela olhava para o carimbo judicial que parecia gritar contra o papel branco. Última notificação. Pra 7 dias.
Sentada na cama estreita do quarto de empregada da mansão cavalcante, aos 28 anos, a enfermeira sentia o peso do mundo, esmagando seus ombros. A lâmpada fraca piscava no teto, como se até a eletricidade compadecesse de sua miséria. Lá fora, através da pequena janela, as luzes do bairro Moinhos de Vento brilhavam como estrelas distantes, um universo de luxo ao qual ela nunca pertenceria, R$ 95.000.
O número dançava em sua mente como uma sentença de morte. quatro meses, apenas quatro meses desde que o câncer levou seu pai, deixando não apenas um vazio no coração, mas uma montanha de dívidas que ameaçava soterrar o que restava de sua família. Ester fechou os olhos e a lembrança veio nítida como um pesadelo.
Sua mãe Joana desabando no corredor da casa em cidade baixa. A mão no peito, o rosto pálido como papel, arritmia cardíaca severa, diagnosticaram. Mais remédios caros, mais contas que não podiam pagar. Vocês têm uma semana para desocupar o imóvel. A voz fria do oficial de justiça ecoava em sua memória.
A casa será leiloada para quitar parte da dívida. Um soluço escapou de sua garganta e ela pressionou a mão contra a boca para abafar o som. Não podia desmoronar. Não agora. Sua mãe dependia dela. Tudo dependia dela. Foi então que a porta se abriu sem aviso. Ester ergueu o olhar, as lágrimas ainda molhando seu rosto, e encontrou os olhos castanhos mais penetrantes que já vira.
Doutor Abrão Cavalcante estava parado no batente, impecável mesmo às 11 da noite, com sua camisa social branca, com as mangas dobradas até os cotovelos, revelando antebraços definidos. Aos 37 anos, ele tinha a beleza cruel de uma escultura grega, mandíbula marcada, nariz reto, cabelos castanhoescuros, perfeitamente penteados para trás, mas eram os olhos que perturbavam, intensos, calculistas, capazes de dissecar uma pessoa com um único olhar.
“Não bati”, ele disse a voz grave reverberando no pequeno espaço. Não era um pedido de desculpas, era uma constatação. limpou rapidamente o rosto, endireitando a postura na cama. “Doutor Cavalcante, precisa de algo? Sua mãe está bem?” “Minha mãe está dormindo. Vim falar com você”. Ele entrou no quarto sem pedir permissão, fechando a porta atrás de si.
O espaço minúsculo pareceu encolher ainda mais com sua presença imponente de 1,88 m. “Vi que recebeu outra notificação. O sangue de Ester gelou. Como senhor? Tenho olhos e ouvidos. Ele se aproximou, pegando o envelope de suas mãos antes que ela pudesse protestar. Seus dedos longos deslizaram pelo papel enquanto ele lia com expressão neutra. 95.000. Interessante.
A humilhação queimou na garganta de Ester como Billy. Com todo respeito, isso não é da sua conta. Passou a ser no momento em que você começou a trabalhar para minha família. Ele devolveu o envelope, mas não se afastou. Em vez disso, sentou-se na única cadeira do quarto, cruzando as pernas com elegância casual, que vinha de uma vida inteira de privilégio.
“Quanto tempo tem?” “Uma semana”, ela admitiu, odiando como sua voz saiu fraca. “Mas vou resolver. Sempre resolvo. Resolve.” Um canto da boca dele se ergueu em algo que não chegava a ser um sorriso. Como? Seu salário aqui, mesmo sendo quatro vezes o do hospital público, não cobre nem os juros mensais dessa dívida.
Ester serrou os punhos sobre o cobertor fino. Por que está fazendo isso? Veio me humilhar, me lembrar do meu lugar? Não. A resposta veio rápida, cortante. Abrão se inclinou para a frente, os cotovelos nos joelhos, o olhar fixo nela com uma intensidade que fez seu coração disparar. Vim fazer uma proposta.
Proposta? Ela deu uma risada sem humor. Que tipo de proposta um homem como o senhor faria para alguém como eu no meio da noite? O tipo que pode mudar sua vida? Ele pausou e pela primeira vez Ester viu algo diferente em seus olhos.
Uma hesitação quase imperceptível, como se ele estivesse prestes a atravessar uma linha que não tinha volta. Quero que se case comigo. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Ester piscou uma, duas, três vezes, esperando acordar desse delírio. Desculpe, eu. O quê? As palavras saíram embaralhadas. Casamento, você e eu. Abrão falou como se estivesse discutindo um procedimento cirúrgico. 8 meses. Depois disso, divórcio amigável e cada um segue seu caminho. Isso é loucura.
Ester levantou-se da cama, colocando distância entre eles. Seu coração batia tão forte que ela podia ouvi-lo nos ouvidos. O senhor não me conhece. Eu não o conheço. Por que diabos? Seu sobrenome, ele a interrompeu, levantando-se também. No espaço confinado, ficaram a poucos centímetros de distância. Ester teve que inclinar a cabeça para trás para encará-lo.
Silva, você é uma Silva. Sua bisavó foi uma das fundadoras do Hospital Beneficência Gaúcha há quase um século. E daí ela franziu a testa confusa. Existe uma cláusula no Estatuto do Hospital. Qualquer descendente Silva que se case tem direito a um assento permanente no conselho administrativo.
Seus olhos nunca deixaram os dela e esse assento tem poder de veto sobre qualquer venda ou fusão. A compreensão atingiu Ester como um soco no estômago. Você quer comprar o hospital? Minha família quer. Há um conglomerado internacional interessado, mas não podem fechar o negócio sem neutralizar essa cláusula. Ele inclinou a cabeça, estudando-a como um cientista analisa uma cobaia.
Se você se casar comigo, terá o assento e votará a favor da venda. Então, eu sou o quê? Uma ferramenta? O meio para um fim? Você é a solução para o problema de ambos. Abraão deu um passo à frente, invadindo ainda mais seu espaço pessoal. O perfume masculino dele, algo caro, almiscarado, envolveu Ster uma rede. Eu pago suas dívidas, todas elas.
Compro uma casa confortável para sua mãe. Garantia vitalícia de assistência médica de primeira linha. E quando tudo acabar, você recebe uma compensação financeira que garantirá seu futuro. As pernas de Ester fraquejaram. Era tentador demais, perverso demais. E o que você ganha além do negócio? Uma esposa apresentável, alguém que não complique as coisas com expectativas românticas”, ele falou com frieza clínica.
“Alguém que entenda que é uma transação de negócios, não um conto de fadas”. Ester sentiu algo se rasgar dentro dela. Você está me pedindo para me prostituir. Estou te oferecendo uma oportunidade. A voz dele baixou. Ficou mais suave, quase perigosa. Você pode aceitar e salvar sua família, ou pode recusar por orgulho e assistir sua mãe perder a casa, a saúde, talvez a vida. Era manipulação pura.
Ela sabia disso, mas quando olhou para o envelope vermelho sobre a cama, para os números que a assombravam todas as noites, para o futuro sombrio que a esperava, quartos separados, ela ouviu sua própria voz dizer distante, como se pertencesse a outra pessoa, sem intimidade, é apenas um papel. Algo passou pelos olhos de Abraão, um lampejo que ela não conseguiu decifrar. Se é isso que você quer.
E depois dos oito meses, nunca mais nos vemos. Nunca mais. Ele confirmou. Ester estendeu a mão tremendo. Então temos um acordo, Dr. Cavalcante. Ele pegou sua mão e o toque foi como um choque elétrico. Seus dedos longos envolveram os dela com firmeza possessiva. Abrão. Se vamos nos casar, pode me chamar pelo nome Abrão. Ela repetiu. E o nome pareceu estranho em sua língua.
Íntimo demais para o que eram. ou melhor, para o que seriam? Dois estranhos amarrados por um contrato tão frio quanto seus olhos. Ele ainda segurava sua mão quando falou: “Amanhã meu advogado preparará os documentos. Em quatro semanas estaremos casados. Tão rápido? Não temos tempo a perder.” Ele finalmente a soltou, dirigindo-se à porta, mas parou no batente, virando-se para trás.
A luz do corredor criava sombras em seu rosto, tornando-o ainda mais indecifrável. Uma última coisa, Ester. Sim. Não se apaixone por mim. Não terminará bem para você. E com isso ele saiu, deixando-a sozinha no quarto escuro com um acordo que mudaria sua vida para sempre. Ester caiu de volta na cama, o coração martelando, a mente girando.
Acabara de vender sua alma ou acabara de fazer a única escolha possível. Lá fora, o relógio da mansão bateu meia-noite e Ester Silva não sabia que aquele tic-taque marcava não apenas uma nova hora, mas o início de uma história que a destruiria e reconstruiria de formas que ela nunca poderia imaginar. Quatro semanas.
Foi tudo que levou para transformar Estter Silva de enfermeira sobrecarregada em noiva do Dr. Abrão Cavalcante, pelo menos aos olhos do mundo. Sentada na cadeira estofada do salão de beleza mais caro de Porto Alegre, Ester mal reconhecia a mulher no espelho. Seus cabelos castanhos, antes sempre presos num coque prático, agora caíam em ondas sedosas pelos ombros, cortados por um profissional que custava mais que seu salário mensal inteiro.
A manicure trabalhava em suas unhas roídas, transformando-as em superfícies lisas e polidas. Postura querida. A voz afiada de Margarete Saldanha cortou seus pensamentos. A consultora de etiqueta contratada por Sebastião Cavalcante, pai de Abrão e patriarca da família, circulava ao redor dela como um abutre elegante. Coluna ereta, ombros para trás. Você vai se casar com um cavalcante, não é uma camponesa.
Ester corrigiu automaticamente a postura, sentindo os músculos das costas protestar. Três semanas de treinamento intensivo a haviam moldado em algo irreconhecível. Aulas de etiqueta, de como andar, falar, comer, sorrir, como se comportar em jantares de gala, como conversar sobre nada com pessoas que tinham tudo.
Melhor, Margarette acenou com aprovação fria. Agora vamos revisar. Quando o garçom servir vinho, o que você faz? Aceito um pouco, seguro a taça pela aste, nunca pelo bojo e bebo pequenos goles. Ester recitou mecanicamente: “E se alguém perguntar sobre o casamento, digo que foi amor à primeira vista que Abraão me conquistou com sua dedicação à medicina e seu coração generoso.” As palavras saíam amargas.
Generoso, o homem que a comprou como se compra gado. Excelente. Você está aprendendo. Margarete consultou seu iPad. Amanhã será o último teste, jantar com Sebastião Cavalcante. Se passar, ele aprovará o casamento publicamente. Ester engoliu em seco. Conhecer a Sebastião apenas uma vez, brevemente.
O homem era uma versão mais velha e ainda mais intimidadora de Abrão, autoimponente, com olhos que pareciam calcular o valor de uma pessoa em segundos. Quando Margarete finalmente se foi, Estter fechou os olhos, tentando encontrar algum resquício da mulher que era um mês atrás, mas ela parecia ter sido apagada, substituída por esta versão polida e falsa.
“Está cansada?” A voz grave a assustou. Ster abriu os olhos e encontrou Abraão parado na entrada do salão particular. Ela não ouvia há três dias, desde a última aparição pública, onde ele assegurou pela cintura para fotos o toque tão impessoal quanto um aperto de mão. Hoje ele vestia um terno grafite que certamente custava mais que um carro popular.
O corte impecável destacava seus ombros largos e cintura estreita, mas foi seu rosto que a surpreendeu. Havia algo diferente em sua expressão, algo quase humano. Exausta seria mais apropriado. Ela respondeu, não se importando mais em manter a fachada quando estavam sozinhos. Ele dispensou as profissionais com um gesto e subitamente ficaram a sós. Abrão se aproximou, seus passos silenciosos no carpete espesso, parou ao lado da cadeira dela, estudando seu reflexo no espelho. Margarete está sendo dura demais com você. Não era uma pergunta.
Ela está fazendo o trabalho pelo qual foi contratada. Me transformar em algo que eu não sou. Você não precisa se transformar. As palavras saíram baixas, quase inaudíveis. Ester girou na cadeira para encará-lo diretamente. Não? Então, por que todo esse circo, as aulas, as roupas caras me ensinando a falar corretamente? Ela fez aspas no ar.
Abraão passou a mão pelo cabelo, desalinhando os fios, o primeiro gesto humano que ela via dele. Meu pai tem expectativas. A sociedade de Porto Alegre é impiedosa com quem não se encaixa nos padrões. E você também tem essas expectativas? Ele a olhou por um longo momento e Ester viu um conflito passar por seus olhos castanhos.
Eu te escolhi sabendo exatamente quem você era. Uma enfermeira dedicada, uma filha que sacrificaria qualquer coisa pela mãe, uma mulher forte o suficiente para sobreviver ao que a vida jogou nela. Ele se inclinou, ficando na altura dela.
Essa mulher me interessa muito mais que qualquer versão polida que Margarete está tentando criar. O coração de Esther acelerou traiçoeiramente. Não podia deixar que palavras bonitas a enganassem. Isso era negócio, nada mais. Bonito discurso ela disse, forçando frieza na voz. Mas não muda o fato de que estou sendo moldada para se encaixar no seu mundo. No mundo do meu pai. Ele corrigiu a diferença.
Antes que ela pudesse responder, Abrão tirou uma caixinha de veludo azul do bolso interno do palete. Abriu-a revelando um anel de noivado que roubou o ar dos pulmões de Ester. O diamante central era enorme, facilmente 3 quilates, cercado por diamantes menores em ouro branco que brilhavam como estrelas capturadas. Era o tipo de joia que ela só via em revistas. Isso é é demais. Ela murmurou.
É esperado. Abraão pegou sua mão esquerda. Dessa vez seu toque era mais suave, quase cuidadoso. Todos estarão observando. O anel precisa ser adequado. Ele deslizou o anel em seu dedo anelar, e o peso da joia era quase tão pesado quanto o peso do que aquilo representava. Uma mentira brilhante e cara. Perfeito ele disse.
Mas não estava olhando para o anel, estava olhando para ela. Ester puxou a mão de volta. Rápido demais para ser natural. Quando é o jantar com seu pai? Amanhã à noite, às 8, Abrão endireitou-se e a máscara fria voltou ao lugar, vista algo elegante, mas discreto. Meu pai aprecia mulheres que sabem o próprio lugar. E qual é o meu lugar? Ela não conseguiu segurar a acidez na voz.
Ao meu lado, a resposta veio tão rápida e intensa que a surpreendeu pelo menos por oito meses. Ele saiu antes que ela pudesse processar as palavras, deixando apenas o perfume almiscarado e o peso do anel como prova de que não estava sonhando. Ster olhou para o reflexo no espelho.
A mulher que a encarava tinha cabelos perfeitos, maquiagem impecável e um anel de diamantes que valia mais que sua vida inteira. Mas seus olhos, seus olhos ainda carregavam a verdade. Ela estava se vendendo pedaço por pedaço. E o mais assustador era que estava começando a se perguntar se o preço no final seria muito mais alto do que imaginou. No dia seguinte, enquanto se arrumava para o jantar com Sebastião Cavalcante, Estter recebeu uma ligação da mãe.
Joana estava animada. As dívidas haviam sido pagas misteriosamente e uma empresa de mudanças chegaria na próxima semana para levá-las a uma casa nova, totalmente mobiliada. É um milagre, filha. Deus está cuidando de nós. Ester desligou o telefone com lágrimas escorrendo pelo rosto. Não era Deus, era Abrão, cumprindo sua parte do acordo.
E de alguma forma isso a fazia sentir ainda pior. O restaurante Bagatel ocupava o último andar de um edifício histórico no centro de Porto Alegre, com janelas panorâmicas que ofereciam vista deslumbrante para o rio Guaíba. Ao pôr do sol. Ester entrou de mãos dadas com Abrão, usando um vestido tubinho azul marinho que Margarete havia escolhido. Elegante, discreto, sufocante.
O salto alto Lubutã cravejado de cristais, que custava mais que 3 meses do seu antigo salário, a fazia andar com cuidado estudado. Cada passo era uma lembrança de quão fora do lugar ela estava. Respire”, Abraão! Murmurou em seu ouvido, a mão nas suas costas, num gesto que pareceria carinhoso para qualquer observador.
“Ele é só um homem, um homem que pode destruir tudo com uma palavra.” Ester pensou, mas acenou com a cabeça. Sebastião Cavalcante os esperava numa mesa privativa, isolada das demais por divisórias de vidro fosco. Aos 68 anos, o patriarca da família mantinha a postura militar, coluna ereta, ombros quadrados, expressão severa talhada em granito.
Os cabelos grisalhos estavam perfeitamente penteados, e o terno italiano provavelmente custava mais que o carro que Ester nunca poderia comprar. Pontualidade, boa qualidade”, ele disse em vez de cumprimento, consultando o Rolex dourado no pulso. “Sentem-se, não era um convite, era uma ordem. Abraão puxou a cadeira para Estter, um gesto cavalheiresco que ela sabia ser pura performance.
Ela se sentou com a postura perfeita que Margarete havia martelado em sua cabeça. Coluna ereta, mãos no colo, pernas cruzadas nos tornozelos, nunca nos joelhos. Então você é a enfermeira”, Sebastião disse, os olhos azul aço dissecando como um bisturi. A Silva? Sim, senhor, Estter Silva. Ela manteve a voz firme, recusando-se a demonstrar medo. Sobrenome útil.
Ele tomou um gole do vinho tinto, saboreando. Abrão me contou sobre sua situação financeira. A humilhação queimou nas bochechas dela, mas Estter manteve a expressão neutra. Situações difíceis criam decisões difíceis. Hum. Sebastião se recostou na cadeira, entrelaçando os dedos. Pelo menos você é honesta sobre suas intenções. Não tenta romantizar um acordo de negócios. Pai, Abraão começou tom de aviso na voz.
Deixe-me falar, menino. Sebastião não tirou os olhos de Ester. Você sabe porque aceitei esse casamento ridiculamente apressado? Porque beneficia seus interesses comerciais. Ela respondeu sem rodeios. Um fantasma de sorriso passou pelos lábios finos dele.
Vejo que Margarete não conseguiu adestrar completamente sua língua afiada. Interessante. Ele pausou enquanto o garçom serviu o primeiro prato, uma entrada de carpátio com lascas de parmesão. Mas você está parcialmente correta. O hospital Beneficência é uma aquisição estratégica crucial. Sua existência como minha nora elimina o único obstáculo legal. E a outra razão? Ester perguntou, pegando o garfo correto automaticamente.
Margarete ficaria orgulhosa. Meu filho precisa de uma esposa. Aos 37 anos, sua solteirice começava a gerar especulações inconvenientes. Sebastião mastigou um pedaço de carne com precisão mecânica. Você resolve esse problema também. Ester sentiu Abrão tensionar ao seu lado, mas ele não disse nada. Apenas cortava a comida com movimentos controlados, o maxilar travado.
“Entendo que há expectativas”, ela disse cuidadosamente, “mas gostaria de esclarecer que é um casamento de conveniência, temporário, sem envolvimento emocional real. Sim, meu filho me informou dos termos.” Sebastião limpou a boca com o guardanapo de linho. Perfeito. Menos complicações quando o divórcio inevitável acontecer.
A frieza casual com que ele falava sobre o fim do casamento, antes mesmo que começasse, deixou Esther enjoada, mas era exatamente o que ela havia concordado, não era? Então, por que doía ouvir isso? No entanto, Sebastião continuou, sua voz ganhando uma borda afiada. Enquanto carregarem o nome Cavalcante juntos, espero que mantenham as aparências impecáveis. Nada de escândalos, nada de deslizes públicos, nada que manche a reputação que construí ao longo de décadas. Compreendo, senhor? Você compreende? Ele se inclinou para a frente predatório.
Compreende que se por acaso decidir tornar este arranjo inconveniente, há mecanismos legais que garantirão que você perca cada centavo que recebeu, que sua mãe perca a casa, que seu futuro seja destruído tão completamente que você implorará para voltar a ser uma enfermeira anônima. O sangue de Ester gelou, mas ela manteve o olhar firme no dele. Compreendo perfeitamente, senhor cavalcante.
Sou muitas coisas, mas não sou uma quebradora de acordos. Algo passou pelos olhos dele. Respeito relutante, talvez. Veremos. O resto do jantar transcorreu em tensão sufocante. Eles discutiram os detalhes do casamento. Seria na igreja matriz com 500 convidados transmitido ao vivo para a imprensa social de Porto Alegre.
Ester era mencionada como se não estivesse presente. Seus gostos e opiniões irrelevantes. Quando finalmente saíram do restaurante, já passava das 11 da noite. A brisa fria vinda do Guaíba trouxe alívio para o rosto quente de Ester. Ela respirou fundo, tentando controlar a raiva que fervilhava em seu peito.
Abrão a guiou até o carro, um Mercedes preto com interior de couro que cheirava a dinheiro novo. Assim que as portas se fecharam, isolando-os do mundo, Estter explodiu. Seu pai é um monstro. Sim. Abrão concordou simplesmente ligando o motor. Ele falou de mim como se eu fosse gado, uma posse, um problema a ser gerenciado. Ele fala de todo mundo assim.
Abrão manobrou o carro para fora do estacionamento com movimentos precisos, inclusive de mim. Ester o olhou, realmente olhou. Pela primeira vez em dias. Havia uma rigidez em seus ombros. uma tensão na mandíbula que não estava lá antes. As luzes da rua dançavam em seu perfil angular, criando sombras que o faziam parecer mais velho. Cansado. “Por que você o deixa tratar você assim?”, ela perguntou mais suave.
“Porque ele é meu pai. Porque construiu um império que um dia será meu. Porque?” Ele parou no sinal vermelho, os dedos tamb orilando no volante. Porque é mais fácil obedecer que lutar. Isso não é viver, é sobreviver. Bem-vinda ao meu mundo, Ester. Ele a olhou e pela primeira vez ela viu uma vulnerabilidade crua em seus olhos.
Você acha que foi a única comprada? Eu fui comprado há 37 anos. Minha vida, minha carreira, cada decisão que tomo, tudo planejado, controlado, manipulado por aquele homem. A raiva de Ester se dissolveu em algo mais complexo. Compreensão, talvez. Pena. Então, somos dois prisioneiros. Temporariamente, o semáforo ficou verde e Abrão acelerou. O meses depois você é livre. E você? Ela queria perguntar.
Você algum dia será livre? Mas não perguntou porque sabia a resposta e era assustadora demais para contemplar. Quando chegaram à cobertura, Estter foi direto para seu quarto de hóspedes. Mas antes de fechar a porta, a voz de Abrão a deteve. Caster. Ela se virou, encontrando-o parado no corredor, as mãos nos bolsos, a gravata já afrouxada.
Ele parecia cansado, humano. “Você se saiu bem hoje?”, ele disse. “Meu pai raramente respeita alguém, mas você o impressionou. Não quero impressioná-lo. Quero sobreviver a isso. Então, somos iguais nisso também.” Um quase sorriso tocou seus lábios. Boa noite, futura esposa. Boa noite, futuro ex-marido. Esther fechou a porta e se apoiou contra ela, o coração batendo descompassado.
Começou a perceber algo perturbador. Abrão cavalcante não era o vilão frio e calculista que imaginara. Ele era apenas um homem preso numa gaiola dourada, fazendo o melhor possível para respirar. E de alguma forma isso o tornava infinitamente mais perigoso, porque ficava difícil odiar alguém quando você começava a entendê-lo.
A igreja matriz estava irreconhecível, transformada num cenário de conto de fadas que custara mais que Ester ganharia em 10 anos. Orquídeas brancas importadas da Holanda cascateavam dos arranjos florais. Velas cintilavam em castiçais de prata e tecido de seda ivor cobria cada centímetro disponível. No pequeno salão anexo reservado para a noiva, Estter olhava seu reflexo sem reconhecer a mulher que a encarava de volta.
O vestido de alta costura, criado especificamente para ela pela estilista Letícia Manzan, era uma obra prima de renda francesa e milhares de cristais Swarovski, que capturavam a luz como gotas de orvalho. O corpete abraçava sua cintura antes de se abrir numa saia volumosa, digna de princesa. Seu cabelo estava preso num coque baixo sofisticado, com mechas soltas e moldurando seu rosto.
A maquiagem, aplicada por um profissional que viajou de São Paulo especialmente para isso, destacava seus olhos castanhos e realçava seus lábios num tom nude e rosado. Ela estava linda, estava irreconhecível, estava morta por dentro. “Minha filha!”, a voz embargada de Joana atirou dos pensamentos. Sua mãe, vestindo um conjunto lilás elegante, tinha lágrimas escorrendo pelo rosto.
Você parece uma princesa. Ester forçou um sorriso que não chegou aos olhos. Obrigada, mãe. Eu sabia. Joana segurou suas mãos, cuidadosa, para não amassar as luvas de renda. Sempre soube que um dia você encontraria seu príncipe encantado. Dr. Abrão é tão distinto, tão educado.
E a forma como ele olha para você. Cada palavra era uma facada. Ester queria gritar a verdade. Isso é uma farsa. Ele me comprou. Estou me vendendo para salvar você. Mas não podia. Nunca poderia. Sua mãe morreria de desgosto se soubesse. Ele é especial. Ester conseguiu dizer. A mentira amarga na língua. 5 minutos. A organizadora do evento anunciou aparecendo na porta. Joana beijou sua testa delicadamente.
Vou me sentar. Aproveite cada segundo, minha querida. Esse é seu dia? Não é meu dia, Estter pensou enquanto ficava sozinha. É o dia dele, de Sebastião, do acordo que assinei com sangue. A música começou. A tradicional marcha nupscial tocada num órgão centenário que ecoava pelas paredes de pedra. As portas duplas se abriram e Ester começou a caminhar.
500 pessoas se levantaram em uníssono, virando-se para observá-la. Ela reconheceu alguns rostos. políticos, empresários, celebridades locais, todos ali para testemunhar uma mentira linda. Mas então, seus olhos encontraram Abrão no altar e tudo mais desapareceu. Ele vestia um smoking preto feito sob medida, que se ajustava perfeitamente ao seu corpo atlético.
Os cabelos estavam penteados para trás, destacando a estrutura angular de seu rosto, mas foram seus olhos que aprenderam. Aqueles olhos castanhos intensos estavam fixos nela com uma expressão que ela não conseguiu decifrar. Não era a frieza habitual, era algo diferente, algo que fez seu coração acelerar traiçoeiramente.
Ela forçou as pernas a continuarem movendo, um passo de cada vez. Enquanto a música enchia o espaço sagrado, o véu longo arrastava atrás dela como uma nuvem. Quando finalmente alcançou o altar, Abraão estendeu a mão. Ester a pegou. e o toque enviou uma corrente elétrica pelo seu braço. Ele apertou levemente seus dedos, um gesto minúsculo que ninguém mais notaria, mas que pareceu dizer: “Você consegue, estamos juntos nisso.
” O padre começou a cerimônia com palavras sobre amor eterno, compromisso sagrado, união de almas. Cada palavra era uma farça cruel. Abrão Cavalcante, o padre se voltou para o noivo. Você aceita Estter Silva como sua legítima esposa para amá-la e respeitá-la na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte o separe? Abraão não hesitou. Sim, aceito. Mas quando seus olhos encontraram os dela, Estter jurou ver algo passar por eles. Um lampejo de arrependimento.
Dúvida. Estter Silva. O padre se voltou para ela agora e de repente o vestido parecia pequeno demais, o ar insuficiente. Você aceita Abraão Cavalcante como seu legítimo esposo para amá-lo e respeitá-lo na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte os separe? Diga não. Uma voz gritou em sua cabeça.
Fuja enquanto pode. Mas então pensou em sua mãe, finalmente saudável e segura, nas dívidas pagas, no futuro garantido. “Sim, aceito”, ela sussurrou. “As alianças, por favor.” Abrão pegou a aliança de ouro branco com diamantes, combinando com o anel de noivado que já pesava em seu dedo. Ele segurou sua mão esquerda e, pela segunda vez naquele dia, seus olhos se encontraram numa comunicação silenciosa.
“Com esta aliança, eu te desposo”, ele disse, deslizando o anel em seu dedo. Sua voz era baixa apenas para ela. “Perdão”, Estter piscou confusa. “Perdão pelo quê? Mas então era sua vez.” Ela pegou a aliança dele, mais grossa, mais simples, e segurou sua mão grande e quente. “Com esta aliança eu te desposo”, ela repetiu, colocando o anel, e, num impulso que não compreendeu, sussurrou de volta: “Aceito?” “Aceito o quê? Ela não sabia.
O acordo, a farça ou algo mais profundo, mais perigoso? Pelo poder conferido, eu os declaro marido e mulher.” O padre sorriu. Pode beijar a noiva. O mundo pareceu diminuir para apenas eles dois. Abrão se aproximou devagar, dando-lhe tempo para recuar, se quisesse. Mas Estter ficou parada, o coração na garganta, enquanto ele inclinava a cabeça. O beijo deveria ser casto, protocolar para as fotos.
Mas quando os lábios dele tocaram os dela, macios, quentes, ligeiramente trêmulos, algo mudou. Por um momento infinitesimal, ele aprofundou o beijo, sua mão subindo para acariciar sua bochecha, o polegar roçando levemente seu maxilar. Foi apenas 2 segundos, talvez três, mas foi tempo suficiente para Ester sentir seu mundo inclinar perigosamente. Quando se separaram, os olhos dele brilhavam com algo indefinido.
E os dela, os dela estavam perigosamente próximos de lágrimas. A igreja explodiu em aplausos. Música festiva encheu o ar. Eles se viraram para a multidão, como senhor, que hora cavalcante, sorrindo para as câmeras enquanto por dentro ambos tremiam. A recepção no palácio Piratini, conseguida através das conexões políticas de Sebastião, era ainda mais extravagante.
Champanhe francês fluía livremente, uma orquestra ao vivo tocava e a comida preparada pelo chefe mais renomado do sul do país era servida em porcelana fina. Ester sorriu até seus músculos faciais doerem. Cumprimentou pessoas cujos nomes esquecia segundos depois. Pousou para fotos ao lado de Abraão, sua mão sempre na cintura dela, possessiva, protetora, falsa.
Durante a valça dos noivos, enquanto rodopiavam sob lustres de cristal centenários, Abrão a puxou mais perto, suas bocas a centímetros de distância. “Você está linda”, ele murmurou apenas para ela ouvir sobre a música. Obrigada. Ster manteve o sorriso colado, mas sua voz estava gelada. Você paga bem o suficiente para garantir isso. Ela sentiu os músculos dele tensionarem sob o smoking.
Ster, quantas dessas pessoas sabem a verdade? Ela o interrompeu, balançando mecanicamente ao ritmo da música. Que essa noite inteira é uma farça elaborada? que daqui a oito ito meses estaremos assinando papéis de divórcio. Quatro pessoas: eu, você, meu pai e nosso advogado. Então, somos bons atores, os melhores.
Ele concordou, mas havia algo triste em sua voz. A música terminou para aplausos entusiásticos. Eles se separaram e Esther sentiu o frio imediato da ausência do toque dele. O restante da noite passou num borrão de brindes forçados, danças obrigatórias e sorrisos dolorosos. Quando finalmente às 3 da madrugada puderam fugir para a noite de Núciassias, Estter estava exausta até os ossos.
O carro os levou de volta à cobertura em silêncio tenso. Quando entraram, a realidade os atingiu. Eram casados agora legalmente, oficialmente. “Você deve estar cansada”, Abrão disse afrouxando a gravata. “Vá dormir, amanhã é um novo dia. Amanhã é o primeiro dia da nossa mentira oficial.
Ester respondeu amarga: “Não precisa ser assim.” Ele deu um passo em sua direção, mas parou quando ela recuou. “Estu hoje quando te vi descendo o corredor?” Não. Ela levantou a mão, cortando suas palavras. “Não faça isso. Não me dê falsas esperanças, falsas emoções. Isso é negócio. Você mesmo deixou claro desde o início.
E se eu estivesse errado?” O sussurro mal penetrou o espaço entre eles, mas Estter o ouviu e foi aterrador. “Boa noite, Abrão”, ela disse firmemente, virando-se para seu quarto. Boa noite, esposa. A palavra esposa a seguiu até o quarto e a assombrou enquanto tirava o vestido de conto de fadas, limpava a maquiagem de princesa e deitava na cama, ainda usando apenas a lerry branca de renda que ninguém veria, porque não havia noite de núpcias, não havia romance, apenas um acordo de negócio selado com um beijo de mentira.
Mas por que então seus lábios ainda formigavam com a memória daquele toque? Por que seu coração ainda acelerava ao lembrar daquele olhar? Por que, droga? Tudo dentro dela gritava que havia cometido o erro mais perigoso da vida. Não ao aceitar casar com Abrão cavalcante, mas ao começar a desejar que fosse real. Na suí principal, Abrão estava sentado na beirada da cama kingsiz, a cabeça entre as mãos.
O smoking estava abandonado numa cadeira. Aliança pesava em seu dedo como uma corrente de chumbo. Ele se casara por negócios, por conveniência, por obrigação. Então, por que diabos quando beijou Ester hoje, sentiu como se estivesse finalmente chegando em casa? Três semanas. Foi quanto tempo levou para Ester perceber que ser senhora cavalcante era ser invisível.
Sentada na varanda da cobertura com vista para o Guaíba, ela tomava café sozinha, como fazia todas as manhãs. O relógio marcava 9:30 e Abraão já estava há horas no hospital. Ele saía antes do amanhecer e voltava depois que ela dormia. Comunicavam-se por mensagens curtas. Evento beneficente quinta às 20is. Vista algo formal, vermelho. Jantar com investidores sábado. Sorria muito, fale pouco.
Comprometimento cancelado, trabalhando até tarde. A vida de casados que nunca tiveram. Ester olhou para o anel pesado em seu dedo. Em público eram o casal perfeito. Ele atencioso, ela radiante. Abrão a tocava com familiaridade estudada. Mão nas costas, beijo no cabelo, dedos entrelaçados. E toda vez o toque era clínico, frio, planejado para as câmeras.
Em casa eram estranhos educados dividindo um espaço. Ele no quarto máster imenso, ela no quarto de hóspedes decorado impessoalmente. Dois prisioneiros em jaulas separadas dentro da mesma prisão dourada. “Bom dia, senhora Cavalcante”, a voz de Silvia, a governanta, atirou dos pensamentos. A mulher de 50 anos carregava uma bandeja com croassãs frescos e café. O Sr.
Cavalcante ligou, pediu que eu lembrasse sobre o evento de hoje à noite. Claro. Obrigada, Silvia. A governanta hesitou. Algo incomum. Posso falar francamente, senhora? Ester gesticulou para a cadeira ao lado. Por favor. Silvia se sentou na beirada, desconfortável. Trabalho para a família Cavalcante há 20 anos. Cuidei do Dr.
Abrão desde que ele era adolescente. Ela pausou, escolhendo as palavras. Nunca o vi tão perdido. Perdido? Ester franziu a testa. Ele parece bastante no controle de tudo. Ah, sim. Sempre teve que parecer no controle. O Senr. Sebastião nunca permitiu fraqueza. Silvia suspirou.
Mas ultimamente, às vezes o ouço andando pelo apartamento de madrugada, fica parado na frente da porta do seu quarto, apenas parado ali por 20, 30 minutos. e então volta para o próprio quarto. O coração de Ester falhou uma batida. Isso não faz sentido, não. Silvia estudou com olhos gentis. Senhora, posso estar ultrapassando limites, mas o que quer que exista entre vocês dois é mais complicado do que aparenta. Antes que Ester pudesse responder, seu telefone tocou.
Era Larissa Mendes, a melhor amiga de Abraão, que ela conhecera brevemente no casamento. Oi, Esther. Aqui é Larissa. Podemos almoçar hoje? Preciso conversar com você. O restaurante no bairro Moinhos de Vento era charmoso e discreto. Larissa já estava numa mesa quando Ester chegou.
Uma mulher de 36 anos, cabelos escuros, curtos, olhos inteligentes que pareciam ver através das pessoas. “Obrigada por vir”, Larissa disse depois que pediram. “Sei que devemos parecer estranhas uma para a outra.” Um pouco. Ester admitiu. Conheço Abrão desde que éramos residentes, 15 anos de amizade. Larissa tomou um gole do vinho branco.
E em todo esse tempo nunca nunca o vihar para alguém da forma como olha para você. Ester quase riu. Tenho certeza que está enganada. Estou. Larissa se inclinou para a frente. No seu casamento, enquanto você dançava com seu tio, ele não tirou os olhos de você nem por um segundo.
Quando aquele empresário fez um comentário inadequado sobre seu vestido, vi Abrão apertar o copo de whisky com tanta força que quase quebrou. Isso é apenas possessividade territorial. Sou sua propriedade agora. Não. Larissa balançou a cabeça. Conheço possessividade. Isso era ciúme. Ciúme real, visal, do tipo que você só sente quando importa de verdade. Estter mexeu na salada sem apetite.
Você está romantizando uma transação de negócios. Sou enfermeira h tempo suficiente para reconhecer quando alguém está doente. Larissa segurou seu pulso suavemente. E Abraão está doente, Ester. Doente de não admitir o que sente. Doente de seguir sempre as ordens do pai. Doente de viver numa gaiola que ele mesmo construiu.
Por que está me contando isso? Porque você também está doente. Larissa a soltou recostando-se. Vi isso nos seus olhos no casamento. Você não o ama ainda. Mas poderia. facilmente, e isso te apavora. As palavras acertaram tão próximo da verdade que Ester teve que desviar o olhar. Nosso acordo tem data de término.
Acordos podem ser renegociados. Termos podem mudar. Larissa sorriu tristemente. A questão é, vocês dois são corajosos o suficiente para admitir que talvez queiram mudar os termos. O evento beneficente daquela noite era no Iart Club de Porto Alegre. Pulseiras de R$ 400 por pessoa, com toda a receita indo para pesquisa cardíaca pediátrica.
Ester vestia um vestido vermelho justo, conforme instruído. Decote elegante, mas não vulgar, fenda na coxa esquerda, tecido que abraçava cada curva. Quando saiu do quarto, encontrou Abrão esperando na sala. Ele vestia smoking novamente, mas dessa vez não havia gravata.
Os dois primeiros botões da camisa estavam abertos, revelando a base do pescoço. Os olhos dele a percorreram lentamente, dos saltos altíssimos até o cabelo ondulado solto nos ombros, e algo escureceu naquele olhar castanho. Sua mandíbula travou visivelmente. “Está linda”, ele disse. Voz rouca. “Obrigada.” Eter pegou a clutch dourada. “Vamos.” No carro, a tensão era palpável. Abrão dirigia com movimentos bruscos as mãos apertadas no volante.
Ester o observou pelo canto do olho, a rigidez nos ombros, a veia pulsando no pescoço, a forma como mordia levemente o lábio inferior. “Aconteceu algo?”, ela finalmente perguntou. “Por que pergunta? Porque está apertando esse volante como se quisesse estrangulá-lo.” Ele soltou uma risada sem humor. “É apenas esse vestido.
Você escolheu este vestido? Eu sei. E agora me arrependo mortalmente. Ele a olhou rapidamente antes de voltar os olhos para a estrada. Porque todos os homens naquele evento vão olhar para você e eu vou ter que sorrir e fingir que não me importo. O coração de Ester pulou. Por que se importaria? Sou apenas sua esposa no papel. É.
A pergunta saiu baixa, perigosa. Então, por que droga? Eu passei as últimas três semanas dormindo 3 horas por noite, porque fico imaginando como seria se Ele cortou abruptamente a frase, como se percebesse que estava dizendo demais. Se o quê? Ester sussurrou, mas Abraão não respondeu, apenas apertou o volante mais forte e acelerou.
O Yat Club estava deslumbrante. Lustres de cristal, orquestra ao vivo, as pessoas mais influentes de Porto Alegre circulando com taças de champanhe. Abrão e Ester entraram juntos. E imediatamente foram cercados por admiradores, conhecidos, oportunistas. E Larissa estava certa. Os homens olhavam e continuavam olhando.
Ester podia sentir Abrão tensionar a cada olhar lacivo, a cada comentário velado, a cada sorriso sedutor direcionado a ela. Sua mão em suas costas ficava cada vez mais possessiva, os dedos pressionando sua pele através do tecido fino do vestido. Durante o jantar, sentaram numa mesa com empresários e suas esposas.
O homem à esquerda de Ester, um produtor de vinhos da Serra Gaúcha, era particularmente insistente. E me diga, senhora cavalcante, ele se inclinou muito próximo, seu hálito cheirando a vinho caro. Como uma mulher tão jovem e encantadora, acabou casada com alguém tão sério quanto o Dr. Abrão. Estter sentiu Abrão congelar ao seu lado. Meu marido é fascinante de formas que pessoas superficiais nunca entenderiam.
Ela respondeu docemente, colocando a mão sobre a de Abrão na mesa. Foi um gesto simples, de lealdade, de parceria, mas o efeito em Abrão foi imediato. Seus dedos se entrelaçaram-nos dela, apertando com gratidão, com algo mais profundo. Quando a dança começou, ele a puxou para a pista sem perguntar.
A música era lenta, sensual. Abraão a trouxe para seus braços, uma mão na sua cintura, a outra segurando sua mão contra o peito dele. Estavam tão próximos que ela sentia o calor irradiando do corpo dele. Cheirava o perfume almiscarado que já estava começando a associar com segurança. “Obrigado”, ele murmurou contra seu cabelo. “Por me defender? Sou sua esposa. É meu papel.
” As palavras saíram automáticas, mas soaram ocas mesmo para ela. “É apenas um papel?” Ele a girou. trazendo-a de volta ainda mais perto. Agora o peito dela estava pressionado contra o dele, as pernas deles entrelaçadas na dança.
Porque não parece apenas um papel quando você olha para mim assim? Como assim? Estter sussurrou hipnotizada pela intensidade em seus olhos, como se também estivesse tentando desesperadamente não sentir o que está sentindo. A música terminou, mas eles não se separaram imediatamente. Ficaram ali congelados no meio da pista. Olhos travados, respirações sincronizadas. Abrão. Ela começou, mas foi interrompida.
Doutor Cavalcante, uma mulher alta, loira, deslumbrante, em vestido dourado, se aproximou. Que coincidência maravilhosa a expressão de Abrão se fechou instantaneamente. Patrícia. E Ester soube, pelo tom gelado da voz dele, pelo jeito que seus músculos tensionaram, pela forma como suas mãos largaram ela como se queimasse.
Essa mulher significava problema e seu instinto, que nunca falhava, gritava que a noite estava prestes a mudar tudo. Patrícia Drumond era o tipo de mulher que comandava a tensão sem esforço, alta, loira, platinada com ondas perfeitas, pele bronzeada impecável, vestido dourado que custava facilmente cinco dígitos, mas eram seus olhos azul gelo que perturbavam calculistas, predatórios, famintos.
Abrão, ela praticamente ronronou seu nome, ignorando completamente Ester. Faz quanto tempo? Dois anos. Três. Abraão corrigiu a voz sem emoção, mas Estter viu sua mandíbula travar, os ombros endurecerem. Patrícia, esta é minha esposa, Estter. Finalmente, aqueles olhos azuis se voltaram para Ester, varrendo-a da cabeça aos pés, num julgamento silencioso.
Assim, a enfermeira ouve falar. O tom era doce, mas venenoso. Que história de conto de fadas. Cinderela se casando com o príncipe. Ester sorriu, recusando-se a demonstrar que as farpas acertaram. Cai você, Patrícia Drumon, ex-noiva do seu marido. Ela estendeu a mão com unhas perfeitamente manicuradas.
Passamos seis anos juntos antes que ele bem decidisse que eu não era adequada para os planos dele. A palavra ex-noiva atingiu Estter como um soco. Abrão nunca mencionara o relacionamento anterior. Nunca. Patrícia. Não é o momento”, Abraão disse baixo perigosamente. “Não”, ela inclinou a cabeça, ondas loiras dançando. “Pensei que seria importante sua nova esposa saber sobre mim.
Afinal, fomos tão próximos, tão íntimos?” A ênfase, na última palavra, era deliberada, provocativa. “Desculpe-nos.” Abrão segurou o braço de Ester, tentando guiá-la para longe, mas Patrícia deu um passo, bloqueando a saída. Na verdade, Abraão, meu pai quer falar com você sobre o hospital Beneficência. Vocês sabem, ele é um dos principais investidores.
Ela sorriu afiada como uma lâmina. Talvez possamos jantar nós três, para discutir negócios. Ester sentiu Abrão tensionar ao seu lado. Vou checar minha agenda. Faça isso. Patrícia acenou delicadamente antes de se afastar, deixando um rastro de perfume caro e tensão cortante. Assim que ficaram sozinhos, Estter se soltou do toque dele. Ex-noiva, 6 anos.
E você nunca achou relevante mencionar? Não era relevante. Abrão respondeu, mas não conseguiu encontrar seus olhos. Como não é relevante? Você passou se anos com essa mulher, estará aqui? Não. Ele olhou ao redor, ciente dos olhares curiosos. Vamos embora. Podemos conversar em casa. Não quero ir para casa.
Quero respostas agora. Mas Abraão já estava puxando-a pela mão, atravessando o salão em direção à saída. No carro, o silêncio era explosivo. Ester podia sentir a raiva fervilhando em seu peito, misturada com algo mais confuso. Ciúmes, traição, mágoa. Por que mágoa? Uma voz sussurrou em sua mente. Você não tem direito de estar magoada. Ele não é seu de verdade. Nunca foi. Mas isso não mudava o fato de que doía.
Doía saber que ele compartilhou seis anos da vida com aquela mulher. Doía imaginar ele tocando Patrícia da forma como tocava Estter em público. Doía droga e ela odiava que doesse. Quando chegaram à cobertura, Estter foi direto para seu quarto, mas Abraão a seguiu, entrando antes que ela pudesse trancar a porta. “Saia!”, ela ordenou, virando-se para encará-lo. “Não antes de explicar. Ele fechou a porta encostando-se nela.
Patrícia e eu. Foi um relacionamento arranjado pelos nossos pais. Ela vem de uma família tradicional do agronegócio. Meu pai achava que seria uma união estratégica. Estratégica como nosso casamento. Não. A palavra saiu firme. Patrícia e eu nunca foi real. Era conveniente, confortável, mas não era não era o quê. Ele passou a mão pelo cabelo, desalinhando os fios cuidadosamente penteados. Não era vivo.
Com ela eu apenas existia. Cumpria papéis, jogava o jogo que meu pai queria e comigo? Ester cruzou os braços, protegendo-se. Também está apenas jogando um jogo com você. Ele deu um passo em direção a ela, depois outro, até estar tão perto que ela teve que inclinar a cabeça para trás para encará-lo. Com você, eu esqueço que é um jogo. O coração dela pulou.
Não diga isso. Por que não? É verdade. Ele levantou a mão, hesitando a centímetros de seu rosto. Posso? Ester deveria dizer não. Deveria manter distância, mas em vez disso encontrou-se acenando levemente. Abraão acariciou sua bochecha com o polegar, o toque tão gentil que contrastava violentamente com a intensidade em seus olhos. “Você me assusta”, ele confessou voz roukaa.
Me assusta o quanto você importa. O quanto eu penso em você, o quanto eu quero. Quero o quê? O sussurro de Ester mal era audível. Isso. E então ele a beijou, mas não era como o beijo casto da igreja. Este era faminto, desesperado, real. Suas mãos agarraram sua cintura, puxando-a contra ele, enquanto a boca dele explorava a dela com uma urgência que roubou seu fôlego. Estter deveria empurrá-lo.
Deveria lembrar dos termos do acordo, das linhas que prometeram não cruzar. Mas em vez disso, suas mãos subiram pelo peito dele, sentindo os músculos tensos sob a camisa. até entrelaçarem atrás do pescoço dele. O beijo aprofundou, girou, consumiu. Abrão a ergueu sem esforço e suas pernas instintivamente envolveram a cintura dele.
Ele apensou contra a parede, a mão deslizando pela fenda do vestido, tocando a pele nua da coxa dela. Um gemido escapou de Ester quando ele mordeu levemente seu lábio inferior, a sensação enviando ondas de choque por todo o seu corpo. “Diga para eu parar.” Abrão sussurrou rouco contra sua boca, mas suas mãos continuavam explorando, subindo, descobrindo.
“Por favor, me diga para parar, porque se você não disser eu não vou conseguir. Crash!” Um trovão explodiu lá fora, seguido pelo apagar súbito de todas as luzes. A tempestade que se formava durante a noite finalmente havia chegado e com ela uma queda de energia que mergulhou a cobertura na escuridão total.
Ester e Abrão se separaram abruptamente, respirações descompassadas ecoando no espaço escuro. A realidade do que quase aconteceu caiu sobre eles como água fria. “Eu, Ster” deslizou de volta para o chão, ajeitando o vestido com mãos trêmulas. “Preciso, preciso ficar sozinha, Ster, por favor.” Sua voz quebrou. “Só? Vá!” Ela não precisava ver para saber que ele ficou parado ali por longos momentos.
A respiração pesada, o conflito palpável no silêncio, mas finalmente ouviu seus passos se afastando, a porta se fechando suavemente. Ester deslizou pela parede até sentar no chão, abraçando os joelhos contra o peito. Seu coração ainda batia descompassado, seus lábios ainda formigavam, seu corpo inteiro ainda vibrava com o desejo que quase a consumiu.
Lá fora, a tempestade rugia, mas a tempestade real estava dentro dela. Uma batalha entre razão e emoção, entre o acordo que fez e o que seu coração estava começando a querer. E Ester não sabia qual lado venceria. Só sabia que estava perigosamente perto de cruzar uma linha que, uma vez atravessada, destruiria tudo, ou talvez já tivesse cruzado. E agora era tarde demais para voltar.
No quarto ao lado, Abrão socava a parede com força suficiente para rachar os nós dos dedos. Sangue manchava o papel de parede caro, mas ele mal sentia a dor física. Era a dor emocional que o massacrava. Idiota! Ele sussurrou para si mesmo. Maldito idiota. Ele prometera não complicar, prometera manter distância. Prometera que seria apenas negócios.
Mas então Ester Silva entrou em sua vida com seus olhos castanhos desafiadores, sua força silenciosa, sua beleza que não vinha de salões caros, mas de algo autêntico dentro dela. E agora ele estava completamente irrevogavelmente porque estava se apaixonando pela própria esposa e isso não estava no contrato. A semana seguinte, ao quase beijo, foi um exercício de tortura meticulosamente orquestrada.
Abrão e Ester voltaram à rotina de estranhos educados, mas agora com uma tensão elétrica vibrando entre eles, como um fio desencapado, perigoso ao menor toque. Na manhã de quinta-feira, Estter entrou na cozinha para café e encontrou Abrão ainda ali inusitadamente. Ele estava sentado à ilha central, ainda em roupas de academia, cabelo úmido de suor, lendo algo no tablet, músculos definidos visíveis através da camiseta regata que grudava no torzo. Ela congelou no batente e ele ergueu o olhar.
Por três segundos que pareceram eternos, apenas se fitaram. “Bom dia”, ele disse finalmente, a voz cuidadosamente neutra. “Bom dia!” Ester se forçou a se mover, servindo café com mãos que tremiam imperceptivelmente. Sem cirurgias hoje. Cancelei as da manhã. Ele voltou ao tablet, mas a rigidez em seus ombros denunciava que estava tão consciente dela quanto ela dele. Preciso de um favor. Que tipo de favor? Jantar.
Hoje com Patrícia e o pai dela, as palavras saíram rápidas, quase defensivas. É sobre os investimentos no hospital puramente profissional. O nome de Patrícia ainda provocava uma pontada no peito de Ester. Por que precisa que eu vá? Porque ele finalmente olhou para ela diretamente. Porque não quero ir sozinho. Porque Patrícia tem histórico de interpretar mal situações.
Porque você é minha esposa e isso significa algo mesmo que apenas para aparências. Apenas para aparências. As palavras deveriam reconfortá-la, lembrar dos termos do acordo. Em vez disso, arderam. Tudo bem, ela disse. Que horas? 7. Use algo neutro, discreto.
Claro, porque não podemos ter sua ex-noiva se sentindo ameaçada pela enfermeira comprada. A acidez escapou antes que ela pudesse filtrar. Abrão se levantou bruscamente, a cadeira raspando no chão. Em dois passos estava na frente dela, invadindo seu espaço pessoal. Nunca, nunca se refira a si mesma assim novamente, porque não é o que sou. Não. Ele segurou seu rosto com ambas as mãos, forçando-a a encará-lo. Seus olhos castanhos queimavam com intensidade.
Você a Ester Silva. Uma enfermeira brilhante, uma filha dedicada, uma mulher forte que sobreviveu ao inferno e ainda consegue rir. Você é tudo menos o que acabou de dizer. O coração dela martelava contra as costelas. E por que você se importa com me vejo? A mandíbula dele travou. Por um momento, pareceu prestes a dizer algo, algo importante, algo perigoso, mas então soltou-a, dando um passo atrás, porque ninguém deveria carregar esse peso.
Ele pegou sua toalha e garrafa d’água. Estarei pronto às 6:45. E saiu, deixando Estter tremendo, não de frio, mas de algo que se recusava a nomear. O restaurante era italiano, elegante, sem ser ostensivo, com iluminação suave e música de piano ao vivo. Ester vestia um vestido midi preto e simples, cabelo preso num rabo de cavalo baixo, maquiagem mínima, neutro, discreto, invisível.
Patrícia, claro, era o oposto, vestido branco justo, que parecia pintado em sua silhueta. Decote generoso, cabelo loiro caindo em cascata. Seu pai, Ricardo Drumon, era um homem robusto de 60 e poucos anos, com o ar de quem estava acostumado a conseguir o que queria. Dr. Cavalcante, que prazer. Ricardo apertou a mão de Abraão com vigor. E esta deve ser sua encantadora esposa, Ster. Correto.
Correto, Sr. Drumond. Ster sorriu educadamente enquanto ele beijava sua mão de forma cavalheiresca, antiquada. Por favor, me chame de Ricardo. Ele puxou uma cadeira para ela coincidentemente ao lado de Patrícia. Patrícia não para de falar sobre vocês dois. Que romance relâmpago. Quando você sabe, você sabe.
Abraão respondeu suavemente, sua mão encontrando a de Ester sobre a mesa. O toque era para as aparências. Ela sabia. Então, por que mandava ondas de calor por seu braço? O jantar começou civilizado. Ricardo dominava a conversa, discutindo mercado financeiro, investimentos em saúde, a expansão do grupo cavalcante.
Abrão participava profissionalmente, demonstrando o porquê de ser respeitado não apenas como cirurgião, mas como empresário. Ester permanecia quieta, comendo delicadamente, sorrindo nos momentos apropriados, invisível, até que Patrícia decidiu mudar isso. Querida. A ex-noiva se voltou para ela com sorriso afiado. Abrão me contou que vocês se conheceram quando você cuidava da mãe dele.
Que sorte a sua, não estar no lugar certo na hora certa. A mesa ficou tensa. Ricardo franziu o senho. Abrão largou o garfo com força controlada. Sorte. Ester repetiu lentamente. Não é a palavra que eu usaria. Trabalho duro, dedicação e estar genuinamente presente para alguém que precisa de cuidados. Essas são as palavras corretas. Claro, claro.
Patrícia agitou a mão elegantemente. Mas convenhamos, é uma melhora significativa de vida para você. Da enfermagem comum para ser uma cavalcante. Patrícia. A voz de Abraão era gelo. Cuidado. O quê? Estou apenas fazendo observações. Ela tomou um gole do vinho branco. Aliás, Estter, você sabia que Abraão e eu já havíamos discutido o casamento? Ele até tinha o anel escolhido, ametista cercada de diamantes, minha pedra favorita.
Mas então ela suspirou dramaticamente. Ele simplesmente terminou sem explicação. Apenas disse que eu não era adequada para o futuro dele. Isso foi há três anos. Abrão disse entre dentes cerrados. Deixa para lá. Mas é curioso, não é? Patrícia continuou ignorando-o completamente.
Os olhos azuis fixos em Ester eram como lasers gelados, três anos sem namoros, sem interesses românticos e, de repente, um casamento relâmpago com uma enfermeira que cuida da mãe dele. Faz você pensar quais seriam as verdadeiras motivações. O silêncio que se seguiu era ensurdecedor. Ricardo parecia desconfortável. Abraão estava pálido de raiva e Ester, Estter estava cansada de fingir.
“Você quer saber as verdadeiras motivações?”, ela perguntou calmamente, largando o guardanapo sobre a mesa. “Vou te contar. Ele me escolheu porque eu não tenho ilusões românticas sobre quem ele é, porque trabalho duro e não espero que a vida me dê nada de graça.
Porque quando ele olha para mim, não vê apenas um sobrenome útil ou uma aparência adequada, vê alguém real. Ela se levantou, mantendo a dignidade. Mas você não conseguiria entender isso. Poderia, porque para você, relacionamentos sempre foram sobre o que você podia ganhar, qual status, qual vantagem, qual benefício? Ester pegou a bolsa. Com licença, perdiu o apetite e saiu do restaurante com a cabeça erguida, deixando três pessoas chocadas para trás.
Ester estava na calçada, tentando chamar um Uber com mãos trêmulas. Quando Abraão a alcançou, ele agarrou seu braço, girando-a para encará-lo. Por que diabos você fez isso? Ele exigiu. Mas seus olhos seus olhos brilhavam com algo que parecia admiração. Porque estou cansada? Ela explodiu.
Cansada de ser diminuída, de ser questionada, de fingir que não dói quando aquela mulher insinua que sou uma oportunista. Você não é. Eu sei que sou. As palavras saíram cruas, doloridas. Eu aceitei me casar com você. por dinheiro, Abrão. Como isso não me torna uma oportunista? Como isso não me torna exatamente o que Patrícia está insinuando? Porque circunstâncias não definem caráter.
Ele a puxou mais perto, suas mãos nos ombros dela. Você fez uma escolha impossível numa situação impossível. Isso não te torna menos, te torna humana. E se ela descobrir a verdade sobre nosso acordo sobre os oito meses, então descobrirá. Ele deslizou as mãos dos ombros para seu rosto, acariciando suas bochechas com os polegares. E sabe de uma coisa? Eu não me importo.
Porque essa mulher ali dentro, ele gesticulou para o restaurante, ela não significa nada para mim. Nunca significou. Foi um arranjo conveniente que terminei. Porque? Por o quê? Porque percebi que eu nunca amaria ela, nunca sentiria por ela o que meu coração era capaz de sentir. Seus olhos perfuraram-os dela, e isso era injusto com ambos. O coração de Ester disparou.
Abraão, me deixa te levar para casa, por favor. Ela acenou, incapaz de falar. No carro, nenhum dos dois disse nada. Mas quando Abrão estacionou na garagem da cobertura e desligou o motor, ficaram sentados na escuridão, o silêncio pesado entre eles. “Sinto muito”, ele disse finalmente, “Por te expor a isso, por não proteger você de Patrícia.
Não preciso de proteção, preciso de respeito. Você tem?” Ele se virou no banco para encará-la. “Você sempre teve desde o primeiro dia, não parece?” Ester riu sem humor. Pareceu que você me comprou, me possuiu. E se eu disser que o maior erro que cometi foi estruturar isso como transação? Ele estendeu a mão hesitante, até que seus dedos roçaram os dela. Porque você nunca foi apenas negócio para mim, Estter.
Desde que te vi naquele quarto pequeno chorando sobre dívidas, com o fogo nos olhos, mesmo na pior situação. Você foi mais. Não diga isso ela sussurrou, mas não puxou a mão. Por que não? Porque torna tudo mais difícil, porque eu preciso poder sair daqui em alguns meses com meu coração inteiro. E se você continuar dizendo essas coisas, olhando para mim assim, eu Sua voz falhou.
Você o quê? Ster olhou nos olhos dele, aqueles olhos castanhos que já não eram mais frios, mas queimavam com algo intenso e assustador. “Eu vou me apaixonar por você”, ela confessou num sussurro quebrado. “E vai destruir quando eu tiver que ir embora”. Abraão não disse nada, apenas apertou a mão dela, entrelaçando seus dedos, e ficaram assim dois prisioneiros em jaulas separadas, tocando-se através das barras, sabendo que era perigoso, mas incapazes de parar. E ambos perceberam naquela noite que a rachadura no gelo entre eles já havia se tornado uma
fenda. E era apenas questão de tempo, até que tudo desmoronasse, levando-os junto, afogados em sentimentos que nunca deveriam ter existido. O celular de Ester tocou às 6:23 de uma manhã de quarta-feira, três dias após o desastroso jantar com Patrícia. O número era do Hospital Beneficência Gaúcha. “Senhora Cavalcante?” A voz era tensa. Precisa vir imediatamente. Dr. Abrão.
Houve um acidente. O mundo desmoronou. Ester nem se lembra de se vestir, de pegar um táxi, de correr pelos corredores do hospital. Apenas lembra de Larissa a agarrando quando chegou os olhos da amiga vermelhos de chorar. O que aconteceu? Ester mal conseguia respirar. Onde ele está? Cirurgia de emergência. Ele estava operando uma válvula mitral complexa quando Larissa engoliu seco.
Ele teve um infarto, Estter, um infarto fulminante. O chão oscilou. Não, não, não, não. A equipe conseguiu reanimá-lo, mas Larissa assegurou pelos ombros. Está grave. Há danos no músculo cardíaco. Ele pode precisar de um transplante. Ironia cruel. Ester pensou num canto distante de sua mente. O cardiologista brilhante.
destruído pelo próprio coração. As horas seguintes, foram um borrão de médicos falando termos técnicos, máquinas apitando, pessoas indo e vindo. Sebastião Cavalcantes chegou. Pela primeira vez Ester o viu emocional, o rosto pálido, as mãos tremendo, enquanto seguravam um cigarro que não poderia acender.
“Meu filho”, foi tudo que ele disse repetidamente. “Meu filho!” E dona Beatriz, ainda frágil do AVC, mas insistindo em vir, chorando silenciosamente na cadeira de rodas. Mas foi Ester quem permaneceu. Horas se tornaram um dia inteiro. Ela não comeu, não bebeu, não se moveu da sala de espera do CTI, apenas esperou.
rezou, negociou com Deus, com o universo, com qualquer força que estivesse ouvindo. “Me leve no lugar dele”, ela implorou silenciosamente. “Por favor, ele tem tanto ainda para fazer, para viver. Me leve.” Foi então que percebeu a verdade devastadora. Estava completamente, irrevogavelmente, desesperadamente apaixonada por Abrão Cavalcante.
Quando finalmente permitiram visitas, Estter entrou no quarto do CTI com pernas bambas. E nada, nada a preparou para ver Abraão daquele jeito. O homem sempre tão impecável, tão controlado, tão invencível. Estava pálido como os lençóis, conectado a uma infinidade de máquinas. Fios e tubos saíam do peito, dos braços.
O monitor cardíaco aptava num ritmo irregular que fazia o estômago de Ester revirar. Ela se aproximou da cama em câmera lenta, como se movimentos bruscos pudessem quebrar o que já estava quebrado. Sua mão encontrou a dele, tão fria, tão sem vida comparada ao calor que conhecia. “Arão”, ela sussurrou, a voz rachada. “Sou eu, Ster! “Pode me ouvir?” “Nada, apenas o bip bip bip das máquinas.
Você precisa acordar.” Lágrimas escorriam livremente agora, caindo sobre a mão dele. Tem que acordar. Por quê? Porque eu nunca te disse, nunca te falei que cada dia acordando naquela cobertura, mesmo em quartos separados, era melhor que qualquer dia antes de te conhecer.
Que quando você sorri aquele sorriso raro, genuíno, meu coração para que eu engasgou com um soluço. Que eu te amo, seu idiota. Te amo tanto que dói. E então, milagrosamente os dedos dele apertaram os dela levemente, quase imperceptivelmente, mas apertaram. Os olhos dele se abriram. Só uma fresta. Mas abriram e focaram nela. Ester. A voz era um sussurro rouco, dolorido. Estou aqui. Ela segurou a mão dele com as duas, beijando os nós dos dedos.
Não vou a lugar nenhum, vi. Morte. Cada palavra era um esforço, tudo escuro. Mas ouvi você. Sua voz me trouxe de volta. Então, continua ouvindo? Ela implorou. Continua ouvindo e continua lutando, porque eu preciso de você. Preciso que você fique. Um fantasma de sorriso tocou seus lábios pálidos. Amor, complicado.
Ela riu entre as lágrimas. Muito, muito complicado. Mas não me importo. Eu também te amo. As palavras saíram quebradas, mas verdadeiras. Desculpe demorar para dizer. Você tem o resto da vida para dizer. Ester beijou sua testa suavemente. Apenas, por favor, que seja uma vida longa.
Ele fechou os olhos novamente, mas dessa vez não era a inconsciência da morte, era apenas cansaço. E sua mão permaneceu entrelaçada na dela. Uma promessa silenciosa de que lutaria, de que ficaria três semanas. Foi quanto tempo Abraão permaneceu no hospital? Primeiro no CTI, depois num quarto privativo, sempre com Estter ao seu lado. Ela praticamente vivia ali dormindo numa poltrona desconfortável, ajudando com procedimentos que os enfermeiros permitiam, segurando sua mão durante os momentos de dor.
A recuperação era lenta, frustrante. Abrão, acostumado a ter controle total sobre seu corpo, sua vida, agora dependia de outros para as tarefas mais básicas e odiava cada segundo. Não preciso de ajuda para tomar banho”, ele resmungou numa tarde quando Estter chegou com toalhas limpas. “Claro que não. Você pode muito bem desmaiar no chuveiro e rachar a cabeça.
” Ela respondeu com o sarcasmo afetuoso que desenvolveram. Perde tempo, cavalcante. Enfermeira mod está ativado. Você é minha esposa, não minha enfermeira. Sou ambas. Agora levanta essa bunda teimosa da cama. Apesar das reclamações, Estter via algo novo em seus olhos. vulnerabilidade. O homem que sempre fora invencível agora encarava sua própria mortalidade e isso o mudava.
Durante o banho, que ela auxiliou profissionalmente, embora seu coração acelerasse ao tocar a pele dele, Abrão falou quando estava do outro lado. Começou enquanto ela lavava suas costas com cuidado, evitando os curativos. Vi minha vida não como um filme, mas como uma lista de arrependimentos. Arrependimentos? Estter passou a esponja suavemente pelos ombros dele.
Coisas não ditas, riscos não tomados, viver sempre para agradar meu pai, seguir o caminho correto, nunca fazer nada apenas porque eu queria. Ele virou a cabeça, encontrando os olhos dela. E o maior arrependimento era não terte dito todos os dias desde que nos casamos que você era a melhor coisa que já me aconteceu. Ester sentiu lágrimas picarem.
Você está me dizendo agora. Não é suficiente. Desperdicei meses sendo frio, distante, fingindo que você não importava quando cada fibra do meu ser gritava o contrário. Ele pegou a mão dela, entrelaçando os dedos molhados. Ester, quando sair daqui, tudo vai mudar, eu prometo. Como assim mudar? Vou dizer ao meu pai que acabou. Não vou mais ser controlado por ele.
Não vou casar você pela metade, escondendo o que sinto porque é conveniente. Seus olhos queimavam com determinação. Vou te cortejar de verdade, te namorar, te fazer sentir como deveria ter feito desde o início. Mas o acordo, o acordo. As palavras eram cruas, desesperadas. Rasga o maldito acordo. Eu te quero sem termos, sem condições, sem data de validade, apenas você comigo.
Real, Steru segurar as lágrimas. E se eu já te quiser, sem precisar de corte de romance elaborado, então somos dois idiotas que demoraram tempo demais para admitir o óbvio. Ele a puxou mais perto, água do chuveiro espirrando em ambos. Te amo, Ester Silva Cavalcante, completamente sem reservas.
Também te amo. Ela beijou-o suavemente, cuidadosamente, consciente de que ele ainda estava frágil, tanto que assusta. Então, vamos ter medo juntos. Mas a felicidade recém-escoberta estava prestes a ser testada. No dia em que Abraão recebeu alta, voltando finalmente para a cobertura, Estter encontrou um envelope na porta.
Dentro, impressões de conversas, mensagens entre Abraão e Sebastião de 14 meses atrás. A Silva mais nova, Ster, 28 anos, enfermeira, dívidas de 95k, perfeita para nossos propósitos. Tem certeza que ela aceitará? Com a mãe doente e penhora da casa? Ela não tem escolha. É vulnerável, manipulável. O sangue de Esther gelou. Cada linha era uma punhalada.
Não era apenas o acordo, era premeditação. Abraão a escolhera especificamente porque estava desesperada, porque seria fácil de manipular. Ela ouviu a porta se abrir. Abraão, chegando com Larissa, que o ajudara no trajeto, rapidamente escondeu as impressões na bolsa. Lar doce, lar. Abrão suspirou, claramente exausto, só da viagem, mas sorriu ao vê-la. Oi, amor.
Amor, a palavra que antes aquecia, agora queimava. Oi. Ela forçou um sorriso. Como foi o trajeto? Cansativo, mas vale a pena estar em casa. Ele se aproximou, beijando sua testa. Especialmente se casa significa você. Ester queria confrontá-lo ali mesmo, mas ele acabara de sair do hospital. Estava fraco, vulnerável. Seria cruel. Mas ele foi cruel comigo. Uma voz sussurrou.
me investigou, me escolheu como gado. “Você deveria descansar”, ela disse, afastando-se sutilmente. “Está pálido, só se você descansar comigo.” Ele segurou sua mão. “Dormi sozinho tempo demais naquele hospital. Abraão, você precisa de espaço ar. Não pode ficar em espaço confinado. Preciso de você.” Ele a puxou gentilmente.
“Por favor, como poderia recusar quando ele olhava assim, frágil, necessitado, humano, facilmente?” A voz amarga respondeu: “Porque tudo foi mentira desde o início. Naquela noite, deitados na cama kingsise do quarto dele, pela primeira vez compartilhando realmente o espaço, Abrão dormia profundamente, medicado, o braço em volta dela. Ester ficou acordada, olhando para o teto, as impressões queimando em sua mente.
14 meses atrás, antes do pai dela morrer, antes da doença da mãe piorar, ele já estava planejando. Uma lágrima escorreu pela têmpora. Quantas vezes ele dissera que se apaixonou depois, que não esperava sentir o que sentia, quanto disso era verdade, quanto era manipulação continuada. Ela se soltou cuidadosamente dos braços dele, pegou as impressões e foi para a varanda.
O ar frio da madrugada mordia sua pele através da camisola fina. Seu telefone tocou. Número desconhecido. Alô, recebeu meu presente? A voz de Patrícia era doce como veneno. Achei que você deveria saber a verdade sobre seu conto de fadas. Como você conseguiu essas mensagens? Tenho minhas fontes. Sebastião não é tão cuidadoso quanto pensa com seus dispositivos. Ela pausou.
Ester, você parece ser inteligente, então por que está se iludindo? Você foi uma peça de xadrez desde o início e agora que o hospital está quase vendido, qual é sua utilidade real? Abrão me ama. As palavras saíram fracas, como se ela tentasse convencer a si mesma. Será? Ou ele apenas aprendeu que uma esposa satisfeita é mais fácil de manipular que uma esposa ressentida? Patrícia riu suavemente.
Querida, quando o divórcio chegar e vai chegar, você vai perceber que foi usada do início ao fim. E o pior, parte de você sempre soube, apenas escolheu ignorar. A ligação cortou. Ester olhou para as impressões novamente, então para a aliança em seu dedo, o peso dela de repente insuportável. Ela estava certa. Tudo, cada beijo, cada declaração, cada momento que pareceu genuíno, seria apenas Abraão sendo um manipulador melhor que imaginara? Ou Patrícia estava plantando sementes de dúvida, exatamente porque via que o que Abraão e Ester tinham era real. Esther não sabia e essa
incerteza estava devorando-a viva. Lá dentro, Abraão acordou, sentindo o espaço vazio ao seu lado. Levantou-se com dificuldade, seguindo até a varanda, onde encontrou Estter abraçada aos próprios joelhos, lágrimas no rosto. Amor, ele se agachou ao lado dela, ignorando a dor no peito.
O que aconteceu? E quando ela o olhou, com olhos cheios de dor, dúvida, traição, ele soube que algo terrível estava prestes a destruí-los. “Quando você planejou?” A voz de Esther era gelada, controlada, mais assustadora que gritos. “Quando exatamente você decidiu que eu seria sua vítima perfeita?” Abrão congelou, ainda agachado ao lado dela na varanda. “Do que você está falando?” Ela jogou as impressões no colo dele.
“Isso conversas com seu pai. 14 meses atrás, me investigando, me catalogando como vulnerável e manipulável. Quanto disso foi real, Abraão? Qualquer coisa. Ele pegou os papéis com mãos trêmulas, lendo, e ela viu. Viu o exato momento em que a culpa esmagou seu rosto, porque não havia surpresa, não havia negação, havia apenas reconhecimento. “Ester, eu posso explicar?” Explica.
Ela se levantou, colocando distância entre eles. Explica como você me espionou por mais de um ano, como planejou cada detalhe de me aprisionar nesse casamento. Como cada palavra doce nos últimos dias, foi apenas manipulação melhor elaborada. Não foi manipulação. Ele se levantou também cambaleando um pouco, ainda fraco do infarto. Sim, eu planejei o casamento.
Sim, eu te investiguei, mas tudo que senti depois foi real. Como posso acreditar nisso? Como posso acreditar em qualquer coisa que sai da sua boca? Ela apontou para os papéis. Manipulável. Você me chamou de manipulável. Era a linguagem do meu pai, o que ele queria ouvir. Abrão passou as mãos pelo cabelo desesperado.
Estérel estava preso há anos tentando encontrar uma forma de conseguir o hospital sem sacrificar, sem sacrificar alguém inocente. Quando seu nome surgiu, pensei que poderia ser um acordo limpo, benéfico para ambos. Benéfico? Ela riu sem humor. Você me comprou. Me transformou numa prostituta, cara. Não. Ele deu um passo em sua direção, mas ela recuou. A rejeição física o atingiu visivelmente.
Você não é, você nunca foi isso. Você era uma solução para um problema impossível. Uma solução? Que romântico! Lágrimas queimavam em seus olhos, mas ela se recusava a deixá-las cair. Não mais. Todas aquelas conversas no hospital, você dizendo que mudaria, que seríamos reais. Foi só mais mentira? Não foi mentira. A voz dele quebrou.
Ester, quando eu quase morri, quando vi minha vida passando, percebi que desperdicei tudo por medo. Medo de decepcionar meu pai, de não ser perfeito, de sentir algo genuíno. Mas você, ele deu outro passo. E dessa vez ela não recuou. Você me fez querer sentir, querer viver, querer ser mais que uma máquina cumprindo expectativas. Bonitas palavras.
Ela cruzou os braços, protegendo-se. Mas as palavras são fáceis, ações, como me investigar, me escolher como alvo, mentir por omissão. Essas falam mais alto. Então, o que você quer? Ele abriu os braços vulnerável. Quer que eu me ajoelhe? Que implore perdão? Eu faço isso. Farei qualquer coisa. Quero a verdade. Ester o encarou diretamente, sem filtros, sem proteção.
Se você me ama, se realmente me ama, prove. Me conta tudo. Cada mentira, cada manipulação, cada momento em que me usou. O silêncio que se seguiu foi pesado como chumbo. Finalmente, Abraão acenou. Tudo bem. Você merece toda a verdade. Ele se sentou pesadamente numa cadeira, o rosto pálido, em parte da doença, em parte da dor emocional.
Há 5 anos, meu pai começou a planejar a aquisição do Hospital Beneficência, mas havia a cláusula silva. Precisávamos neutralizar isso. Ele pausou respirando com dificuldade. Ester percebeu que ele estava se esforçando demais, mas não interveio. Ele pediu verdade. Teria verdade. Inicialmente, o plano era eu me casar com alguma Silva, qualquer uma.
Investigamos todas as descendentes. A maioria era casada ou muito velha ou não se encaixava. Ele olhou para ela. Então seu nome surgiu jovem, solteira, bonita, com histórico de cuidar de pessoas. Parecia perfeita. Perfeita para ser manipulada. Sim. A admissão custou visivelmente. Não vou mentir. Quando planejamos, você era apenas um nome num papel, uma estratégia.
E quando isso mudou ou mudou, no momento em que te vi, as palavras saíram firmes, honestas. Eu esperava encontrar alguém menor, menos, alguém que aceitaria tudo passivamente. Mas você, um sorriso triste tocou seus lábios. Você estava chorando, mas havia fogo em seus olhos.
Desafiou cada expectativa que eu tinha e, pela primeira vez em anos, senti algo além de vazio. Isso não justifica o que você fez. Não, não justifica. Nada justifica. Ele respirou fundo, fazendo uma careta de dor. Mas precisa saber. O contrato original tinha cláusulas muito piores. Meu pai queria incluir provisões sobre intimidade física, sobre aparições públicas diárias, sobre controle total da sua vida. Ester sentiu náusea. E você? Lutei.
Cada cláusula que removi, cada pequena liberdade que consegui incluir foi uma batalha. Porque mesmo então quando você era apenas um nome, eu não conseguia não conseguia te ver como objeto. Ele a encarou. Sebastião queria um contrato de 5 anos. Eu negociei para 8 meses. Ele queria que você morasse numa casa separada. Eu insisti que ficasse na cobertura. Ele queria. Chega.
Ester levantou a mão. Sua cabeça girava. Não consigo. Preciso pensar. Ester, não me toque. Ela se afastou quando ele estendeu a mão. Preciso ficar sozinha. Você deveria estar deitado mesmo, recuperando. Não vou conseguir descansar sem saber se nós Sua voz era pequena, quebrada. Eu não sei, Abrão, a honestidade crua. Não sei se consigo perdoar isso.
Não sei se consigo olhar para você e não ver manipulação. Não sei se o que sinto é real ou apenas. Síndrome de Estocolmo sofisticada. Ela entrou, deixando-o sozinho na varanda e quando fechou a porta do quarto de hóspedes, voltando para a jaula que ocupara nos primeiros meses, foi como voltar no tempo.
Mas agora o gelo não era apenas entre eles, estava dentro dela. Os dias seguintes foram tortura silenciosa. Abrão tentava conversar, mas Estter respondia em monossílabos. Ele tentava tocar, mas ela se esquivava. Ele tentava explicar, mas ela já não queria ouvir. E o pior, ela via a dor nele. Via como sua rejeição o machucava fisicamente, o coração ainda frágil, sofrendo não apenas com batimentos irregulares, mas com cada olhar frio dela. Parte dela queria ceder.
Queria acreditar que pessoas mudavam, que amor podia superar manipulação inicial, que fins justificavam meios, mas a parte racional gritava. Uma vez manipulador, sempre manipulador. Foi Larissa quem finalmente interveio. “Vocês dois são idiotas”, ela declarou invadindo a cobertura numa tarde.
Encontrou Estter na cozinha, Abrão na sala, dois estranhos dividindo o espaço novamente. “Larissa, não é hora.” Abrão começou. “Cala a boca!”, Ela se virou para Ester. Você quarto. Agora, então para Abraão. Você também. Vamos ter uma intervenção. Sentados na sala, um de cada lado. Larissa entre eles como mediadora. A tensão era cortante. OK. Larissa começou. Abraão. Você fodeu gigantemente. Concordamos nisso? Sim.
Ele admitiu miserável. Ótimo. E Ester, você está justificadamente furiosa e magoada, correto? Sim. Perfeito. Agora que estabelecemos o óbvio, Larissa olhou entre os dois. Vou fazer uma pergunta e quero honestidade brutal. Abrão. Sem aquela semana no hospital sem o susto de morte, você teria continuado com a farça de casamento.
Teria deixado Esther ir ao final dos ito meses? Abraão fechou os olhos. Quando os abriu, havia lágrimas. Não, Deus me ajude, mas não. Eu já estava já estava me apaixonando. Não sabia como mudar os termos, como admitir, mas a ideia de ela sair da minha vida, ele balançou a cabeça. Era insuportável. Mas você não teria admitido sem quase morrer. Provavelmente não. Sou covarde demais.
Larissa se virou para Ester. E você, se não tivesse descoberto aquelas mensagens, se continuasse acreditando na versão editada da história, você ficaria com ele depois dos 8 meses? Ester hesitou. A verdade era complexa, dolorosa. Eu sim, eu estava estou apaixonada por ele. Mesmo sabendo que começou como transação, eu me convenci que evoluiu para algo real.
E agora? Agora não sei o que é real. Sua voz quebrou. Não sei se quando ele diz te amo é porque ama ou porque é uma manipulação melhor que teremos quartos separados. Não confio nos meus próprios sentimentos porque foram construídos sobre mentiras. Então, deixa eu te fazer outra pergunta. Larissa se inclinou quando ele estava naquela cama de hospital, conectado nas máquinas, possivelmente morrendo. O que você sentiu? Lágrimas começaram a cair.
Terror. Terror absoluto de perdê-lo. Isso era mentira? Esse terror não era. Era a coisa mais real que já senti. E você, Abraão, quando acordou e viu Ester ali, depois de dias cuidando de você, te dizendo que te amava? Foi manipulação? Foi salvação? Ele sussurrou. Foi a única razão que lutei para voltar.
Larissa suspirou. Olhem, não sou terapeuta. Sou apenas uma amiga que está assistindo duas pessoas que claramente se amam se destruírem por orgulho e medo. Ela se levantou. Vocês precisam decidir. O passado é mais importante que o futuro. O como vocês começaram importa mais que quem vocês podem ser. Ela foi até a porta, mas parou. Uma última coisa, Estter.
Você disse que não confia nos próprios sentimentos porque foram construídos sobre mentiras. Mas e se eu te disser que conheço Abraão há 15 anos, metade da vida dele adulta, e nunca, nem uma única vez o vi genuinamente se importar com alguém? Até você. Você acha que ele é tão bom ator assim? Ou talvez apenas talvez você quebrou aquele homem de pedra e encontrou um ser humano embaixo e saiu, deixando o silêncio mais alto que palavras.
Ester e Abrão ficaram ali, separados por três metros de espaço, mais anos luz de confiança quebrada. E ambos se perguntaram: “Era possível reconstruir o que foi feito em pedaços? Ou alguns quebrados eram permanentes? Duas semanas de silêncio gelado transformaram a cobertura num mausoléu de esperanças mortas. Ester dormia no quarto de hóspedes, Abrão no quarto master. Comunicavam-se por bilhetes deixados na geladeira.
Consulta cardiologista 15 hors. Pode me levar? Sim. Evento beneficente. Sábado. Precisamos ir. Compromisso com Sebastião. Sem escolha. Eram educados, frios, estranhos e ambos morriam por dentro. Na noite do evento beneficente, uma gala no Country Club para arrecadar fundos para pesquisa cardíaca pediátrica, Estter vestiu um vestido azul petróleo que Abrão nunca vira antes.
Ela comprara com próprio dinheiro, recusando-se a usar qualquer coisa que ele pagasse. “Tudo tem preço”, ela pensara amargamente. “E eu já me vendi o suficiente.” Quando saiu do quarto, encontrou Abrão esperando. Ele vestia smoking novamente.
E Deus, por que tinha que ser tão devastadoramente bonito? Cabelos perfeitamente penteados, mandíbula barbeada impecável, mas eram seus olhos que a atingiram. Olhos tristes, vazios, mortos. Está linda ele disse automaticamente. Obrigada. No carro, o silêncio era insuportável. Abrão dirigia com mãos rígidas no volante, a respiração cuidadosa, ainda recuperando, mas escondendo a dor, como sempre fizera.
Como está se sentindo? Ster finalmente perguntou o instinto de enfermeira superando a raiva fisicamente. Bem, mentira óbvia. Médico disse que estou progredindo. Você está pálido e vi você fazer careta ao subir no carro. Estou bem, Estter. A voz era cansada. Você não precisa mais cuidar de mim. O acordo não exige isso. A frieza das palavras a atingiu como tapa. Claro. Perdão por me importar.
Você se importa? Ele a olhou rapidamente antes de voltar os olhos para a estrada. Porque tem sido difícil perceber nas últimas semanas. Você tem coragem de me cobrar frieza? Você que me comprou me investigou como produto no mercado. Eu sei o que fiz. Pela primeira vez em dias havia emoção em sua voz.
Raiva, frustração, dor, droga. Eu sei. E carrego essa culpa todos os malditos dias. Mas eu mudei, Ester. A pessoa que fez aquilo morreu naquela mesa de cirurgia. A pessoa que acordou, tudo que ela quer é uma chance de te amar direito. Como posso saber que é verdade? Como posso confiar em qualquer coisa que você diz? Não pode.
Ele socou o volante, fazendo-a pular. Ok? Você não pode confiar. Não é algo que se garante, é algo que se constrói. E sim, eu destruí a base, mas estou implorando pela chance de reconstruir. Sterou-se para a janela, escondendo as lágrimas que ameaçavam. Não sei se sou forte o suficiente para isso. Você é a pessoa mais forte que conheço.
Sua voz voltou a ser suave. sobreviveu a perder seu pai, a quase perder sua mãe, a se casar com um estranho por desespero. Se alguém tem força para isso, é você. E se não quiser, ela sussurrou. E se estiver cansada de ser forte? Ele não respondeu, porque não havia resposta. O evento estava lotado.
A elite de Porto Alegre, reunida em roupas caras e joias deslumbrantes. Ester e Abrão circulavam como o casal perfeito, sorrindo para câmeras. cumprimentando conhecidos. Mas qualquer um que olhasse de perto veria a verdade, a falta de toque casual, a forma como nunca estavam realmente juntos, como dois ímãs de mesma polaridade, forçados à proximidade.
Foi durante um discurso o diretor do hospital, agradecendo aos doadores que aconteceu. Abrão, em pé ao lado de Ester, de repente pressionou a mão no peito. Seu rosto ficou lívido. Suor brotou em sua testa. Abrão. Ester sussurrou alarmada. Estou bem, mas ele não estava. Ele cambaleou, segurando-se na mesa. Instinto assumiu. Ester o agarrou, suportando parte do peso dele. Precisamos sair agora. Não, cena.
a cena. Você está tendo uma crise. Ela acenou discretamente para Larissa, que estava próxima. Juntas guiaram Abrão para fora do salão para um quarto privativo que a organização providenciou rapidamente. “Chame uma ambulância.” Estter ordenou a um funcionário enquanto afrouxava a gravata de Abrão, abrindo os botões da camisa.
Seus dedos encontraram o pulso dele, acelerado, irregular. “Abrão, olha para mim. Foca na minha voz. Dói!” Ele ofgava. Peito queimando. “Eu sei, amor. Eu sei, mas você vai ficar bem.” As palavras saíram automáticas e só depois ela percebeu. Tinha chamado ele de amor pela primeira vez em semanas.
Enquanto esperavam a ambulância, Estter segurou a mão dele, acariciando seu cabelo suado, sussurrando palavras reconfortantes, e ele segurava de volta como se ela fosse sua única âncora à vida. “Desculpe”, ele sussurrou entre respirações difíceis por tudo. “Desculpe.” “Sh, não fala, guarda energia. Preciso, preciso te dizer.
Lágrimas escorriam pelos cantos dos olhos dele. Se eu, se não sobreviver dessa vez, você vai sobreviver. Você vai ficar bem. Mas se não, ele apertou sua mão com a força que ainda tinha. Você foi a melhor coisa. Melhor coisa que já me aconteceu. Não me arrependo. Nem um segundo. Sei de ter te conhecido. Abraão. Para. Ela estava chorando agora também.
Não fala como se estivesse se despedindo. Preciso que saiba tudo que senti. Tudo foi real, mais real que qualquer coisa na minha vida. A ambulância chegou. Paramédicos invadiram, conectando equipamentos, fazendo perguntas. Ester se viu empurrada para o lado, assistindo enquanto levavam Abrão. “Posso ir com ele?”, ela perguntou desesperada. Família imediata apenas.
Eu sou eu sou a esposa dele. O paramédico hesitou, então acenou. Venha, mas fique fora do caminho. Na ambulância, sirenes cortando a noite, Ester segurava a mão de Abrão enquanto médicos trabalhavam, e todas as semanas de raiva, de mágoa, de distância derreteram, porque no fim, diante da possibilidade de perder ele, nada mais importava, nem manipulação inicial, nem mentiras, nem orgulho, apenas amor, amor imperfeito, complicado, nascido em circunstâncias erradas. Mas amor, mesmo assim. E no hospital, enquanto Abrão era
levado para a emergência, Estter desabou numa cadeira tremendo e percebeu algo devastador. Ela já o havia perdoado. Talvez sempre soubesse que perdoaria. A questão era: “Seria tarde demais?” Era a arritmia severa agravada por estresse.
Não outro infarto, graças a Deus, mas sério o suficiente para exigir internação e ajuste medicamentoso urgente. Abrão ficou no hospital por quatro dias e Ester nunca saiu do lado dele. Na segunda noite, quando ele finalmente acordou de um sono induzido por medicação, a encontrou adormecida na poltrona desconfortável do quarto, usando suas roupas do evento, maquiagem borrada por lágrimas secas.
Ester, ele chamou suavemente. Ela acordou com um sobressalto, desorientada. Quando focou nele, o alívio inundou seu rosto. Você acordou. Como se sente? Como se um caminhão tivesse me atropelado, mas vivo. Ele olhou ao redor. Você ficou aqui a noite toda? Todas as noites? Ela se aproximou da cama. Alguém precisa garantir que você não seja teimo com os médicos. Um sorriso fraco tocou seus lábios. Obrigado.
Silêncio confortável preencheu o espaço. Diferente do silêncio tenso das últimas semanas, este era pacífico, como se uma decisão tivesse sido tomada sem palavras. Ester Abraão começou pegando sua mão cuidadosamente. Preciso te dizer algo e você não vai gostar. Ela tencionou. O quê? Quando estava ali na ambulância, achando que poderia morrer, pensei em muitas coisas.
Ele respirou fundo e percebi que eu estava sendo egoísta novamente. Não entendo. Você estava certa. Sobretudo. Ele apertou sua mão. Eu te manipulei desde o início e mesmo agora, mesmo me desculpando, ainda estou pedindo que você ignore tudo isso, que me perdoe, porque mudei. Lágrimas brilhavam em seus olhos. Mas não é justo.
Nada disso é justo com você, Abraão. Onde você quer chegar, quero te dar uma escolha. Ele soltou sua mão pegando um envelope da mesa de cabeceira, claramente preparado antes da crise. Papéis do divórcio já assinados da minha parte.
Tudo que fiz para você, dívidas pagas, casa da sua mãe, o fundo que estabeleci para seu futuro, tudo fica seu. Sem contestação, sem condições. Ester sentiu o mundo inclinar. Você está Você está me deixando ir? Estou te dando liberdade. Lágrimas escorriam. Agora, a coisa que deveria ter dado desde o início, você pode assinar esses papéis e sair daqui sem me dever nada.
Ou, ele hesitou, ou pode rasgar esses papéis e ficar, não por obrigação, não por dívida, mas porque escolhe, porque quer? Por está fazendo isso? Porque te amo. E amor verdadeiro não prende, liberta. Ele enxugou as próprias lágrimas. Então, a escolha é sua, Estter, sem pressão, sem manipulação, sem data de término artificial, apenas você decidindo o que quer.
Estter pegou o envelope com mãos trêmulas. Podia sentir os papéis lá dentro, sua liberdade, sua saída. E se eu assinar? Se eu for embora, então eu vou aprender a viver com isso. Vou te desejar felicidade cada dia da sua vida e vou carregar você no coração até meu último suspiro. Mais lágrimas. Mas pelo menos você terá escolhido.
E isso isso significa tudo. Ela olhou para o envelope, depois para ele, para o homem que a comprou, mas também salvou, que manipulou, mas também amou, que errou, mas estava tentando acertar. Lentamente, deliberadamente, Estter rasgou o envelope ao meio e ao meio novamente e novamente, até que não passassem de confete branco no chão. “Eu escolho ficar”, ela sussurrou.
“Não porque me sinto obrigada, não porque preciso de dinheiro, mas porque sua voz quebrou. Porque eu te amo, mesmo com todos os erros, todas as mentiras, todo o começo errado. Eu te amo, Estter.” Ele tentou se sentar, mas ela o impediu gentilmente. Mas preciso que entenda algo. Ela se sentou na beirada da cama, pegando as mãos dele. Confiança não volta num dia.
Vou ter dias ruins quando vou duvidar, quando vou questionar cada gesto, cada palavra. E você vai ter que aguentar isso. Vou aguentar. Ele beijou seus dedos. Vou aguentar tudo. Vou provar todos os dias que escolheu certo. E eu vou tentar perdoar. Não hoje, talvez nem amanhã, mas vou tentar. Ela limpou as lágrimas dele com o polegar. Porque o que temos é uma bagunça, é imperfeito, é todo errado no papel, mas é nosso ele completou. É nosso ela concordou.
E quando se beijaram, finalmente, após semanas de gelo, foi como respirar depois de se afogar. Desesperado, necessitado, real. Naquela noite depois que Abraão adormeceu novamente, Ester saiu para o corredor para tomar ar. encontrou o Sebastião ali parado como uma estátua cinza. “Senhor Cavalcante”, ela cumprimentou surpresa.
“Senhora Cavalcante, ele a estudou com aqueles olhos calculistas. Vim ver, meu filho. Ele está dormindo, mas pode entrar. Claro. Sebastião não se moveu. Vi o que você fez com os papéis?” Ela tensionou. Esquecera que o confete branco estava visível. estava ouvindo. Estava verificando se meu filho ainda estava vivo.
Ele cruzou os braços e presenciei sua decisão. Se veio me convencer a sair, pode economizar o fôlego. Não vim convencê-la. Algo mudou em sua expressão. Não suavidade. Sebastião era incapaz disso, mas algo próximo de respeito. Vim dizer que talvez eu tenha errado sobre você. Ester piscou chocada. Desculpe, achei que seria apenas mais uma oportunista, mais uma mulher atrás do nome Cavalcante, da conta bancária. Ele pausou.
Mas você você rasgou um divórcio que te daria tudo sem obrigações. Escolheu ficar com um homem com coração quebrado, literal e metaforicamente, sabendo que seria difícil. Ele quase sorriu. Isso é estupidez ou amor genuíno. Ainda não decidi qual. Talvez ambos. Ela respondeu honestamente. Talvez. Ele se virou para ir, mas parou. Cuide do meu filho, senhora cavalcante.
Ele nunca foi muito bom em cuidar de si mesmo. Vou cuidar. E, senhor cavalcante? Sim. Ele precisa de um pai, não de um general. Se realmente se importa, dê a ele espaço para respirar. Por um longo momento, Sebastião a encarou, então, surpreendentemente a cenou. Trabalharei nisso.
E foi embora, deixando Estter atordoada. Não era um pedido de desculpas. Sebastião provavelmente era incapaz disso, mas era reconhecimento. E às vezes isso era suficiente. Nasuno, quando Ester voltou para o quarto, Abraão estava acordado. Ele vira tudo pelo reflexo na janela. Você impressionou meu pai, ele disse. Não é fácil. Apenas falei a verdade.
Ela se deitou ao lado dele na cama. estreita do hospital, cuidadosa com os fios e tubos. Está ficando meio rotineiro isso de quase perder você. Prometo parar de quase morrer. Apreciaria isso. Ela colocou a cabeça em seu peito, ouvindo o batimento cardíaco irregular, mas persistente.
Preciso que você fique por muitos, muitos anos. Vou ficar. Ele beijou o topo da cabeça dela, prometo. E ali, naquela cama de hospital, dois pedaços quebrados começaram a se colar. Não perfeitamente, mas de uma forma que talvez fosse até mais bonita por mostrar as rachaduras, porque as rachaduras contavam uma história de sobrevivência, de perdão, de amor que se recusava a desistir. Três meses após a segunda crise cardíaca de Abraão, a vida começava a encontrar um novo ritmo.
Ele voltara ao trabalho, não como cirurgião, proibido por recomendação médica, mas como chefe do Departamento de Pesquisa Cardiovascular. Ester se inscrevera num programa de especialização em cardiologia. Jantavam juntos todas as noites, conversavam, realmente conversavam sem máscaras. A confiança voltava em fragmentos minúsculos.
Cada promessa cumprida, cada verdade compartilhada, cada momento de vulnerabilidade, mas ainda dormiam em quartos separados, porque Ester precisava daquele espaço física e emocionalmente para processar, para curar. Abraão respeitava, não pressionava, esperava. Até que tudo mudou numa sexta-feira chuvosa de abril.
Ester voltou da faculdade mais cedo, encharcada pela tempestade súbita. Entrou na cobertura, chamando por Abrão. Ele dissera que faria home office hoje. Silêncio. Tá, Abrão. Ela foi até o escritório dele vazio. Quarto vazio. Foi então que ouviu um som abafado vindo do banheiro master como um soluço. Ela correu abrindo a porta sem bater e encontrou Abraão sentado no chão do box, água fria do chuveiro caindo sobre ele, ainda vestido com camisa e calças sociais. Ele chorava.
Soluços profundos, quebrados, que sacudiam todo o seu corpo. Abrão. Ester entrou no box sem hesitar, ajoelhando-se ao lado dele, a água ensopando sua roupa também. O que aconteceu? Está sentindo dor? Ele levantou o rosto, olhos vermelhos, rosto destroçado por emoção crua. Eu não consigo. Não consigo mais. Não consegue o quê? Fala comigo. Fingir.
A palavra saiu num grito agonizante. Fingir que estou bem. Fingir que não morro cada noite dormindo sozinho, sabendo que você está a metros de distância, mas poderia estar há anos luz. Fingir que não me despedaça quando você me toca casualmente e depois recua, como se lembrasse que não deveria querer tocar em mim. Ester congelou, chocada pela torrente de emoção.
Eu aguento ele continuou. Palavras saindo entrecortadas entre soluços. Aguento porque mereço, porque fui eu que estraguei tudo. Mas Deus Estter, eu te amo tanto que dói fisicamente e sei que você me ama também. Vejo nos seus olhos, mas você não. Você não consegue se entregar completamente porque ainda tem medo que eu te machuque de novo, Abraão.
E a parte pior, ele a encarou com um desespero cru. é que você está certa em ter medo, porque eu sempre fui um manipulador, sempre controlei tudo. Como você pode confiar que eu mudei quando nem eu tenho certeza de que mudei? Como você sabe que cada coisa que faço não é só outra jogada mais sofisticada? Estter sentiu lágrimas misturarem com a água do chuveiro.
Você mudou como você sabe? Ele agarrou seus ombros não agressivamente, mas desesperadamente. Como? Me diz, porque eu preciso saber. Preciso de um sinal, uma prova, algo que mostre que não estou apenas me enganando, enganando você, enganando todos. Por quê? Esther colocou as mãos no rosto dele, forçando-o a encará-la. Porque o Abrão, de seis meses atrás nunca teria se quebrado assim, nunca teria mostrado fraqueza, vulnerabilidade, medo.
Ele manteria a máscara impecável mesmo sozinho num chuveiro frio. E se for só outra máscara mais convincente? Não é. Ela limpou suas lágrimas com os polegares, sabendo que era inútil sob a água corrente. Máscaras não quebram assim. Máscaras não choram de verdade. E você? Ela sorriu através das próprias lágrimas.
Você está completamente, devastadoramente vulnerável. E isso é aterrorizante, mas também é lindo. Éer, ele puxou-a para um abraço apertado, rosto enterrado em seu pescoço. Não aguento mais viver assim. Não aguento mais a distância. Se você não consegue me perdoar completamente, se nunca mais vai conseguir confiar em mim totalmente. Me diz agora.
Me deixa ir, porque essa morte lenta está me matando de verdade. Ela o segurou com força, sentindo soluços sacudirem o corpo dele. E algo dentro dela, a última parede protetora, o último resquício de medo ruiu. “Eu te perdoo”, ela sussurrou contra seu cabelo molhado. “Não porque você merece, não porque suficiente tempo passou, mas porque carregar essa raiva está me matando também. Ele se afastou apenas o suficiente para vê-la.
Você perdoa? Sim, mais lágrimas. E confio em você. Não porque tenho certeza que nunca vai errar de novo. Você é humano, vai errar, mas confio que quando errar, vai admitir, vai lutar, vai escolher nós acima do orgulho. Sempre. Ele prometeu fervorosamente. Sempre vou escolher nós. Então para de me tratar como se eu fosse quebrar. Ela o beijou, suave, gentil.
Para de andar em ovos, com medo de me assustar. Eu não sou frágil. E se às vezes eu recuo, não é porque não te quero, é só reflexo. Mas estou trabalhando nisso. Eu também vou trabalhar, ele segurou seu rosto com ambas as mãos em ser digno da sua confiança todos os dias. Você já é, ela assegurou apenas sendo você, o verdadeiro você, o que chora no chuveiro, o que tem medo, o que se preocupa que não é bom o suficiente. Esse você é quem eu amo.
Eles ficaram ali abraçados sob água fria, até começarem a tremer, não só de frio, mas de alívio, como se uma tempestade emocional de meses finalmente tivesse passado. Quando finalmente saíram, Estter fechou a água e pegou toalhas. Começou a secar Abrão com cuidado maternal, cabelo, rosto, pescoço. Ele apenas a observava com expressão reverente. “Fica comigo”, ele pediu suavemente. “Hoje é à noite. Não para.
Não precisa ser nada físico. Apenas dorme ao meu lado, como você fez no hospital, por favor”. Esther não hesitou. Sim. Naquela noite, pela primeira vez desde a grande briga, Estter entrou no quarto master. A cama Kings que sempre parecera intimidadora, agora parecia convidativa.
Deitaram juntos, Abramão a puxando para ser a concha pequena, braços em volta dela protetoramente. Seus lábios encontraram a nuca dela, beijando suavemente. “Obrigado”, ele murmurou, “Por ficar, por escolher ficar”. Obrigada, você, ela respondeu, entrelaçando os dedos nos dele sobre seu coração, por finalmente parar de ser perfeito, por se quebrar, porque só coisas quebradas podem ser verdadeiramente remontadas em algo mais forte.
Somos uma bagunça, não somos? A bagunça mais linda que já vi. Eles adormeceram assim, entrelaçados, vulneráveis, inteiros na quebra. E pela primeira vez em meses, ambos dormiram completamente, sem pesadelos, sem insônias, apenas paz. Porque às vezes o clímax não é um grande evento externo, é interno.
É quando todas as paredes caem, quando toda a verdade, feia, bonita, assustadora, é finalmente exposta. E quando duas pessoas olham para essa verdade nua e decidem, sim, mesmo assim, por causa disso. Apesar disso, nós escolhemos isso. O amanhecer chegou suave, luz dourada filtrando pelas cortinas e pintando a cama onde Ester e Abrão ainda dormiam entrelaçados. Ela acordou primeiro, virando-se cuidadosamente para observá-lo.
Sem a máscara de controle sempre presente, Abrão, no sono parecia mais jovem, vulnerável. Os cílios escuros faziam sombra nas bochechas, os lábios levemente entreabertos, uma mecha de cabelo desalinhada, tão diferente do homem impecável que conhecera.
Esse homem, ela pensou, esse homem imperfeito, quebrado, que chora no chuveiro e tem medo de não ser suficiente, é quem eu amo. Como se sentindo seu olhar, Abraão abriu os olhos, e o sorriso que iluminou seu rosto quando focou nela foi absolutamente devastador em sua beleza simples. “Bom dia”, ele disse. Voz rouca de sono. “Bom dia, você ficou?” Não era pergunta, mas havia maravilhamento na constatação.
“Onde mais eu estaria?” Ele a puxou mais perto, beijando sua testa. Então nariz, então lábios. Gentil, reverente. Não quero sair dessa cama nunca. Ester riu. Eventualmente vamos precisar de banheiro e comida. Detalhes. Mas ele se sentou, fazendo careta ao esticar os músculos. A cirurgia cardíaca deixara cicatrizes físicas e emocionais, que sempre estariam lá. Café. Sempre.
Enquanto preparavam o café juntos na cozinha, dançando ao redor um do outro com familiaridade nova, mais confortável, o telefone de Abrão tocou. Sebastião, pai. Abrão atendeu, colocando no viva voz enquanto mexia ovos. Tudo bem? Preciso falar com vocês dois. Hoje é sobre o hospital. Ester e Abrão trocaram olhares. Que horas? Ela perguntou. Meio-dia. Meu escritório.
E desligou sem despedidas. Sebastião nunca mudaria completamente. E ao meio-dia, sentados no escritório intimidador do patriarca cavalcante no topo da torre corporativa, Estter segurava a mão de Abraão, já não mais escondendo, já não mais fingindo. Sebastião observou o gesto, algo indecifável passando por seu rosto.
Então empurrou uma pasta de documentos pela mesa, o hospital beneficência. Ele começou sem preâmbulos. A venda caiu. Como assim caiu? Abrão franziu a testa pegando os papéis. O conglomerado internacional desistiu. Problemas regulatórios, questões políticas. Sebastião se recostou na cadeira de couro, o que significa que todo esse arranjo foi para nada. Silêncio pesado preencheu a sala.
Entendo Abraão disse finalmente fechando a pasta. Sua mão apertou-a de Ester. Então o casamento não serviu seu propósito comercial. Correto. Sebastião estudou ambos com olhos afiados. O que levanta a questão: vocês dois vão continuar com essa farça ou finalmente vão admitir que é hora de seguir em frente? Ester esperava sentir pânico, mas em vez disso sentiu algo próximo de humor, farça.
Ela repetiu, senhor cavalcante, com todo respeito, o que temos há muito deixou de ser farsa. Ah, sim. O ceticismo era óbvio, mesmo sabendo que começou como pura manipulação, especialmente porque começou assim, Abraão se levantou, puxando Estter com ele. Pai, aprendi algo nesses meses. Fins justificam meios, mas às vezes os meios errados levam a destinos inesperadamente certos.
Filosofia barata, talvez. Abrão sorriu, mas é minha filosofia e minha vida. Então vou ser claro, Stera, não porque você planejou, não porque foi estratégico, mas porque eu escolhi e ela me escolheu de volta. E isso ele olhou para ela. Amor evidente em cada linha de seu rosto.
A isso vale mais que qualquer hospital, qualquer negócio, qualquer aprovação sua. Ester sentiu o orgulho explodir em seu peito. Esse era o homem que ela ajudou a libertar da gaiola dourada, das expectativas esmagadoras. do pai controlador. Sebastião ficou em silêncio por longo momento. Então, surpreendentemente, seu rosto se suavizou.
Apenas uma fração, mais perceptível. “Entendo.” Ele abriu uma gaveta retirando outro documento. “Então vocês não vão precisar disso.” “O que é?”, Estter perguntou. Anulação pré-assinada. Preparei quando a venda caiu, assumindo que ambos queriam sair desse compromisso inconveniente. Ele empurrou através da mesa, mas parece que assumi errado.
Abraão pegou o documento, leu rapidamente e então, sem hesitar, rasgou-o ao meio, como Ester fizera com os papéis de divórcio meses atrás. Não precisamos. Ele jogou os pedaços na lixeira. Porque não vamos a lugar nenhum? Teimosos ambos. Mas havia algo parecendo respeito na voz de Sebastião. Muito bem. Se vão insistir em continuar casados, pelo menos façam direito.
Como assim? Ester perguntou. Um casamento real. Cerimônia de verdade não aquele circo que financiei. Ele fez um gesto vago. Pequena, íntima, com pessoas que realmente importam, sem câmeras, sem política, apenas vocês dois. Abraão piscou claramente chocado. Você está sugerindo que nos casemos de novo? Estou sugerindo que vocês já são casados.
Sempre foram aparentemente, mesmo quando fingiram não ser. Mas talvez valha renovar os votos com significado real dessa vez. Sebastião os encarou. E para constar, não estou pedindo permissão. Já reservei a capela, contratei o celebrante. Sábado às 5. Compareçam ou não. Escolha de vocês. E com isso os dispensou. No elevador. Descendo, Ester e Abrão ficaram em silêncio, atordoado.
Seu pai acabou de organizar nosso recasamento, ela finalmente disse. Aparentemente, Abraão riu, genuíno, livre. E sabe de uma coisa? Acho que é a forma mais próxima de pedido de desculpas que ele consegue dar. Aceitamos então ele a girou para encará-lo mãos em sua cintura. Depende.
Você quer se casar comigo de novo? De verdade dessa vez? Ester fingiu pensar. Hum, vejamos. Você é teimoso, controlador, às vezes. Vem com um pai complicado. Tem histórico médico de fazer meu coração parar de preocupação. Horrível. Eu sei, mas ela colocou as mãos em seu rosto. Você também é gentil quando pensa que ninguém está olhando. Me faz rir mesmo quando estou triste.
Luta pelos nossos sentimentos, mesmo quando é difícil. E me ama de um jeito que faz tudo valer a pena. Então, sim, Abrão Cavalcante, vou me casar com você de novo e de novo. Quantas vezes for necessário até você acreditar que não vou a lugar nenhum. O beijo que ele lhe deu ali no elevador descendo foi perfeito.
Não porque foi suave ou controlado, mas porque foi desesperado, aliviado, feliz, real. Sábado, o recasamento. A capela que Sebastião escolheu era pequena, histórica, escondida num vilarejo pitoresco a uma hora de Porto Alegre. Apenas 20 pessoas compareceram. Joana chorando de felicidade, dona Beatriz em cadeira de rodas, mais sorrindo, Larissa, alguns colegas próximos, e Sebastião, sentado sozinho no último banco, observando com expressão indecifrável.
Ester vestia um vestido simples cor champanhe, cabelo solto em ondas naturais, flores silvestres entrelaçadas, nada de vé, nada de cristais, Swarovsk, apenas ela. Abrão vestia terno cinza claro, sem gravata, o primeiro botão aberto, cabelo levemente desalinhado pelo vento. Apenas ele, quando se encontraram no pequeno altar, sem música elaborada, sem marcha nupsal, foi como se o resto do mundo desaparecesse.
O celebrante, um padre velho e gentil, sorriu. Bem-vindos, meus filhos. Entendo que este não é seu primeiro casamento? Não, Abraão respondeu, mas é o primeiro de verdade. Então, façamos especial. O padre os abençoou. Abrão, você preparou votos? Abrão acenou, virando-se completamente para Ester, segurando ambas as mãos dela. Respirou fundo.
Estter, quando nos conhecemos, eu estava morto por dentro. Funcionava, respirava, existia, mas não vivia. Você me assustava porque fazia eu sentir. E sentir dói, é inconveniente, é perigoso. Lágrimas brilhavam em seus olhos. Mas você me ensinou que dor significa estar vivo, que amar genuinamente significa arriscar genuinamente, que imperfeição é mais bonita que perfeição vazia. Ele limpou uma lágrima do próprio rosto. Eu te prometo, vou errar.
Vou às vezes voltar a ser controlador. Vou ter dias ruins onde escorrego para velhos padrões. Mas prometo que vou reconhecer quando errar. Vou pedir desculpas. Vou lutar, porque você vale cada luta, cada esforço, cada momento de vulnerabilidade. Sua voz ficou mais firme. Prometo te amar, não apesar dos seus defeitos, mas incluindo eles.
Prometo que vamos envelhecer juntos, se meu coração quebrado aguentar e que cada dia vou te escolher de novo. E no fim dos meus dias, quando olhar para trás, quero que você seja a melhor coisa que fiz nessa vida imperfeita. Ester chorava abertamente agora. Meu turno. O padre acenou sorrindo. Abrão. Ela começou voz trêmula. Quando você me propôs da primeira vez, eu te odiei.
Odiei sua arrogância, sua frieza, o jeito como você reduziu minha vida a uma transação. Mas mesmo odiando, ela riu entre lágrimas. Mesmo odiando algo em mim, reconheceu algo em você. Duas almas quebradas, olhando uma para a outra e pensando, “Talvez não precise estar sozinho nessa.” Ela apertou as mãos dele. “Prometo ser paciente quando seus medos te fizerem recuar.
Prometo te lembrar todos os dias que você é suficiente, não pelo que conquista, não por quem você impressiona, mas simplesmente por ser você. Prometo não fugir quando as coisas ficarem difíceis.” E droga, elas vão ficar difíceis porque somos ambos teimosos e complicados. Risadas suaves ecoaram pela capela. Mas prometo lutar, ficar, amar você nos dias em que é fácil e especialmente nos dias em que é quase impossível.
Porque amor não é sobre perfeição, é sobre escolher alguém todas as manhãs e dizer: “Sim, você, ainda você, sempre, você. As alianças, o padre pediu. Larissa trouxe simples bandas de ouro gravadas por dentro com suas iniciais e a data de hoje. Não o casamento falso, mas este, o real, deslizaram nos dedos um do outro. Olhos travados, sorrisos molhados de lágrimas.
Pelo poder investido em mim e, mais importante, pelo poder do amor verdadeiro que testemunhei aqui hoje, eu os declaro marido e mulher. O padre sorriu amplamente novamente, mas de verdade dessa vez pode beijar sua esposa, meu filho. E Abraão a beijou, não para câmeras, não para aparências, apenas porque ela era dela e ela era dele.
E finalmente, finalmente nada ficava entre eles. Os convidados aplaudiram, Joana soluçava, dona Beatriz limpava lágrimas discretamente. E no último banco, Sebastião Cavalcante, o homem de pedra que nunca mostrava a emoção, passou rapidamente a mão pelos olhos, apenas uma vez, mas foi suficiente.
Epílogo, um ano depois, a varanda da cobertura estava decorada com pisca-pisca simples, uma mesinha com vinho e queijos. Ester e Abrão estavam deitados numa rede dupla que ele instalara, observando as estrelas sobre o Guaíba. Difícil acreditar que faz quase dois anos que nos conhecemos”, Estter murmurou, cabeça em seu peito, ouvindo o batimento cardíaco estável, graças a medicações, mudanças de estilo de vida e muito amor. Dois anos desde que fiz a proposta mais idiota da história da humanidade.
Ele concordou, dedos brincando com o cabelo dela. Segunda proposta mais idiota. A primeira foi genuína. Ele riu beijando sua testa. Justo. Silêncio confortável. Então Estter disse: “Sabe o que percebi? Hum, que eu não me lembro mais de como era antes de você. Minha vida antes disso parece embaçada, como se eu apenas existisse em tons de cinza até você explodir em technicolor, poético.
” Ele a apertou mais perto e perigosamente codependente. Um pouco. Ela riu. Mas estou trabalhando nisso na terapia. Ambos começaram terapia. individual e de casal, porque perceberam que amor não curava tudo magicamente, exigia trabalho, ferramentas, espaço seguro para processar traumas e padrões.
Falando nisso, Abraão disse casualmente: “Casual demais. Lembra quando conversamos sobre o futuro, sobre o que queríamos?” “Sim”. Ester se apoiou no cotovelo, olhando-o suspeitosamente. Por que você está com aquela cara? Que cara? A cara de quem está planejando algo. Ele sorriu. Travesso lindo. Talvez eu esteja. Abrão. Fechei negócio com o hospital beneficência. Ele segurou as mãos dela. Não a compra.
Eles ainda são independentes. Mas parceria, vamos modernizar, expandir, mantendo a essência comunitária. Isso é maravilhoso. E preciso de uma diretora para o programa novo de cardiologia pediátrica. Pensava em alguém brilhante e dedicado, que entende tanto o lado clínico quanto o humano. Seus olhos brilhavam. Conhece alguém assim? Est arregalou os olhos.
Você está me oferecendo uma diretoria baseado puramente em mérito. Larissa avaliou seu trabalho. Você é excepcional. Além disso, trabalhar juntos significa mais tempo juntos. E ele a puxou para sentar em seu colo. Pensei que poderíamos comprar aquela casa em torres, usá-la nos finais de semana, começar a planejar. Talvez uma família. O coração dela pulou.
Uma família? Apenas se você quiser, sem pressão. Podemos ter cachorro, se preferir. Ele estava nervoso, adorável em sua ansiedade. Mas eu eu quero construir uma vida real com você. Não apenas existir no mesmo espaço, realmente viver. Lágrimas, felizes dessa vez, borraram a visão dela. Sim. Sim. Para qual parte? Todas. Ela o beijou profundamente. Sim, para trabalhar juntos. Sim, para a casa em Torres. Sim, para começar uma família.
Sim, para tudo. O sorriso que iluminou o rosto dele era pura alegria. Te amo, Ester Silva Cavalcante. Amo você também, Abrão Cavalcante. Meu marido, meu parceiro, meu melhor erro, que se transformou na melhor escolha. Tr anos depois. Cena final. A casa em Torres era perfeita, não grande, não ostensiva, mas aconchegante, vista para o mar, jardim, onde flores silvestres cresciam selvagens, uma rede na varanda.
E agora vozes infantis enchiam o ar. Ester observava da janela da cozinha enquanto Abrão corria na praia com seus gêmeos de um ano e meio, um menino e uma menina com cabelos escuros, olhos que misturavam os dois. Ele os carregava um em cada braço, girando enquanto eles gritavam de alegria. O homem que conhecera, frio, controlado, aprisionado, não existia mais.
Em seu lugar estava este, pai dedicado, marido amoroso, humano completamente. Penny for your thoughts? Joana apareceu ao lado, saudável graças a tratamentos regulares. Pensava em como a vida é estranha. Esther respondeu: “Como às vezes os piores começos levam aos melhores finais.
Você se arrepende de como tudo começou?” Ester pensou honestamente: “Não, porque cada erro, cada dor, cada momento quebrado nos trouxe aqui e aqui.” Ela olhou para Abraão, tropicando na areia, rindo, enquanto as crianças o atacavam. Aqui é perfeito. Naquela noite, depois que as crianças dormiram, Ester e Abrão se deitaram na rede da varanda. Ritual deles, momento sagrado.
“Cansado?”, Ela perguntou, traçando as cicatrizes em seu peito. Lembretes físicos de quão perto estiveram de perder tudo. Exausto, feliz, completo. Ele capturou sua mão beijando os dedos. Sabe o que percebi hoje? Diga que se pudesse voltar no tempo, fazer tudo de novo, eu faria cada escolha errada da mesma forma, mesmo as manipulações.
Não, ele ficou sério. Essas eu mudaria se pudesse. Mas aceitar aquele acordo do meu pai, investigar descendente Silva, até fazer aquela proposta horrível, ele a olhou profundamente. Porque tudo me trouxe a você. E você vale cada erro, cada culpa, cada momento de dor. Romântico ela provocou, mas estava sorrindo. Verdade.
Ele a beijou suavemente. Obrigado, Ester, por não desistir de mim, por ver além do monstro que eu parecia ser, por achar o homem que eu poderia me tornar. Obrigada a você por lutar, por mudar, por me amar tão intensamente que às vezes assusta. Sempre vou te amar assim. Promessa solene até meu último suspiro. E se existir algo depois, vou te procurar lá também.
Eles dormiram assim, entrelaçados sob as estrelas, o som das ondas os embalando, duas almas que quase se perderam, mas encontraram o caminho de volta uma para a outra. Undun. Reflexão final. No final, amor verdadeiro não é sobre inícios perfeitos ou relacionamentos sem conflitos. é sobre duas pessoas imperfeitas que decidem dia após dia, momento após momento, escolher uma a outra.
É sobre perdoar quando parece impossível, confiar quando dói, lutar quando é mais fácil desistir. É sobre aprender que manipulação inicial não precisa definir um relacionamento se ambos escolhem reescrever a história juntos. É sobre aceitar que alguns dos melhores amores nascem das cinzas dos piores erros.
Que rachaduras contam histórias, que cicatrizes são lindas quando representam cura. Abrão e Ester aprenderam que casamento não é contratos com data de validade, é compromisso renovado todas as manhãs. É olhar para o parceiro, com todos os defeitos, todos os erros passados e dizer: “Ainda você, sempre você”.
Porque no fim, quando tudo desmorona, quando ilusões caem, quando máscaras quebram, o que resta é verdade nua. E se dois corações feridos podem olhar para essa verdade e ainda escolher ficar, isso não é fraqueza. é a coisa mais corajosa do mundo. É amor real, imperfeito, indestrutível amor. O amor verdadeiro não é encontrado, é construído tijolo por tijolo, erro por erro, perdão por perdão. E quando você olha para trás para a estrutura torta que ergueram juntos, percebe que é mais bonita que qualquer castelo perfeito, porque é dela, porque sobreviveu à tempestades, porque vocês dois seguraram as mãos e se recusaram a soltar, mesmo quando tudo dizia para desistirem.
Então, segurem, sempre segurem, porque o amor que vale a pena é o que exige luta. E vocês, guerreiros feridos, ganharam cada centímetro dessa felicidade. Guardem-na, protejam-na e vivam cada segundo como o presente precioso que é. M.
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