Imagine descobrir que sua vida inteira pode mudar com uma única proposta. Uma proposta que você nunca esperou receber. Uma história de amor que nasce do inesperado, onde dois corações se encontram através de um casamento arranjado, mas descobrem que o destino tinha planos muito maiores para eles. Esta é a história de Beatriz e Rafael.
E eu garanto que você nunca vai esquecer como o amor verdadeiro pode florescer nos lugares mais improváveis. Me conta aí nos comentários de onde você está assistindo esse vídeo, qual é a sua cidade. Eu amo saber de onde vocês são. E não esqueça de se inscrever no canal e deixar aquele like maroto para fortalecer nossa comunidade.
Agora vem comigo nessa montanha russa de emoções. O vapor do café matinal subia preguiçosamente da xícara de porcelana floral enquanto Beatriz foliava os livros de anatomia espalhados pela mesa da cozinha. Aos 24 anos, ela havia se acostumado com a rotina de estudar entre os afazeres da pequena pousada familiar em Ribeirão Preto.
O sol da manhã filtrava pelas cortinas de renda, pintando listras douradas sobre as páginas que descreviam o sistema cardiovascular humano. “Bia, querida, preciso conversar com você.” A voz de Conceição, sua madrasta, cortou o silêncio matinal com uma formalidade incomum. Beatriz ergueu os olhos castanhos, notando imediatamente a tensão nas feições normalmente serenas de Conceição.
A mulher de 50 e poucos anos segurava um envelope creme entre os dedos trêmulos, como se carregasse uma bomba prestes a explodir. O que aconteceu? É sobre a pousada. Beatriz fechou o livro sentindo o coração acelerar. Nos últimos meses, as contas haviam se acumulado e ela sabia que Conceição perdia o sono, pensando em como manter o negócio da família funcionando.
Conceição puxou uma cadeira e se sentou, o envelope ainda em suas mãos. Seus olhos azuis acinzentados evitavam o olhar da entiada, focando em um ponto inexistente sobre a mesa. Recebi uma proposta, uma proposta diferente. Sua voz saiu baixa, quase um sussurro. da família Santos, os proprietários da fazenda Vista Alegre.
O nome ecoou na mente de Beatriz como um sino distante. Todo mundo na região conhecia os Santos, uma das famílias mais influentes do agronegócio paulista, donos de milhares de hectares de café e uma fortuna construída ao longo de gerações. Que tipo de proposta? Beatriz perguntou, embora uma parte dela já presentiasse que não seria algo simples.
Conceição finalmente ergueu os olhos e Beatriz viu ali uma mistura de esperança e culpa que a fez estremecer. Eles estão procurando uma esposa para Rafael, o herdeiro da família, uma jovem de boa índole, estudiosa, que possa ser uma companheira adequada para ele.
As palavras saíram atropeladas, como se Conceição quisesse se livrar delas o mais rápido possível. O mundo pareceu inclinar ligeiramente ao redor de Beatriz. Ela piscou várias vezes, tentando processar o que havia escutado. “Uma esposa, Conceição, você está falando de”. Sua voz falhou, a garganta subitamente seca, um casamento arranjado. Conceição completou a frase que Beatriz não conseguia terminar.
Eu sei como isso soua, querida, eu sei. Mas escute as condições antes de dizer não. Beatriz se levantou abruptamente, a cadeira rangendo contra o piso de cerâmica. caminhou até a janela, observando o movimento tranquilo da rua, tentando acalmar o turbilhão em sua mente.
Eles ofereceram quitar todas as dívidas da pousada e ainda fazer melhorias na estrutura. Além disso, pagariam integralmente sua faculdade de enfermagem. Conceição fez uma pausa, deixando as palavras penetrarem e garantem que você teria liberdade para continuar seus estudos e trabalhar na área que escolher. Os dedos de Beatriz se fecharam sobre a cortina.
Ela pensou nas contas em atraso, nas noites em que ouvia Conceição chorando silenciosamente no quarto ao lado, na possibilidade de ter que trancar a faculdade no último ano. “Por que eu?”, a pergunta saiu rouca, carregada de incredulidade. Eles procuraram referências na região. Seu professor da faculdade, Dr. Henrique, os indicou.
Falou sobre sua dedicação, sua índole, “Como você trata os pacientes no estágio?” Conceição se aproximou, tocando delicadamente o ombro daada. Bia, eu jamais faria isso se não acreditasse que pode ser uma oportunidade. Beatriz se virou, estudando o rosto preocupado de Conceição.
Vi ali o reflexo dos últimos anos de luta, a mulher que a havia criado como filha após a morte de seu pai, que sacrificara seus próprios sonhos para manter a família unida. E se eu disser não? Então você diz não e procuramos outras soluções. Conceição sorriu com esforço, mas eles pediram apenas que você os encontre. Converse com Rafael, conheça a família. Se não houver afinidade alguma, não há compromisso.
O silêncio se estendeu entre elas, pesado como o ar antes de uma tempestade. Beatriz voltou à mesa, seus dedos traçando inconscientemente as capas dos livros médicos. Como ele é? A pergunta escapou antes que pudesse detê-la. Conceição suspirou, aliviada por perceber que Beatriz não havia rejeitado completamente a ideia. Rafael Santos tem 29 anos, é formado em engenharia agrônoma e administração. Pelos comentários que ouvi, é um rapaz sério, dedicado ao trabalho na fazenda.
Nunca foi casado. Ela fez uma pausa e pelo que me disseram também não está muito animado com a ideia de um casamento arranjado. Essa informação fez Beatriz erguer as sobrancelhas. Ao menos ela não seria a única reluctante nessa equação. Quando eles esperam uma resposta, o encontro está marcado para este sábado, se você aceitar, na fazenda deles. Conceição segurou as mãos da entiada.
Bia, eu só quero que você saiba que, independente da sua decisão, estou orgulhosa da mulher que você se tornou. Beatriz fechou os olhos, sentindo o peso das possibilidades se chocando em sua mente. Podia quase ouvir o coração batendo contra as costelas, como se quisesse escapar da gaiola torácica para tomar a decisão por conta própria. Quando abriu os olhos novamente, havia uma determinação nova em seu olhar.
Está bem, vou conhecê-lo. Conceição sorriu, mas Beatriz viu lágrimas se formando nos cantos de seus olhos. Você tem certeza? Não. Beatriz respondeu com honestidade brutal, mas algumas das melhores decisões que tomei na vida começaram com incerteza.
Enquanto Conceição a abraçava, Beatriz olhou pela janela em direção às montanhas distantes, onde sabia que a fazenda Vista Alegre se estendia como um pequeno reino. Em algum lugar, por trás daquelas colinas verdes, um homem chamado Rafael Santos provavelmente estava tendo uma conversa muito similar com sua própria família. A ironia não passou despercebida.
Dois estranhos, ambos relutantes, prestes a se encontrar numa dança orquestrada por outros. Mas talvez, talvez o destino tivesse planos que nenhum deles podia imaginar. O Fiat Páo azul marinho subia à estrada serpente que levava à fazenda Vista Alegre, sua pintura desbotada, contrastando com a exuberância da paisagem ao redor.
Beatriz apertava as mãos no colo, tentando controlar o tremor nervoso que havia se instalado em seus dedos desde que saíram de Ribeirão Preto. Respira, querida. Conceição mantinha os olhos na estrada, mas sua voz carregava uma ternura protetiva. É apenas uma conversa.
Uma conversa que pode mudar minha vida inteira”, Beatriz murmurou, observando as fileiras infinitas de cafeiros que se estendiam até onde a vista alcançava. Cada pé de café parecia perfeitamente alinhado, como soldados em formação, demonstrando um nível de organização que a intimidava. O vestido azul marinho que havia escolhido, discreto, mais elegante, de repente parecia inadequado. Conceição a havia aconselhado a se vestir de forma simples e natural.
Mas agora Beatriz se perguntava se deveria ter optado por algo mais formal, mais apropriado para conhecer uma das famílias mais ricas da região. Pare de se corroer por dentro. Conceição lançou-lhe um olhar de soslaio. Você é uma mulher inteligente, bondosa e determinada. Qualquer homem seria sortudo em ter você por perto. Um portão de ferro fundido apareceu à frente, ornamentado com desenhos de folhas de café que se entrelaçavam em padrões elegantes.
Um funcionário uniformizado se aproximou do carro, mas antes mesmo que Conceição pudesse falar, ele sorriu e acenou. Senhora Conceição, a família Santos está esperando. Por favor, sigam pela estrada principal até a casa sede. A estrada que se abriu diante delas era pavimentada e ladeada por palmeiras imperiais que criavam uma espécie de túnel verde. À direita e à esquerda.
Beatriz podia haver instalações modernas, galpões com telhas solares, estufas de vidro que brilhavam sob o sol da tarde e maquinário agrícola que parecia ter saído diretamente de uma revista de tecnologia. “Meu Deus!”, ela sussurrou, impressionada. É como uma cidade.
A casa sede surgiu ao final da Alameda como uma visão saída de um filme de época brasileiro. Era uma construção colonial ampla, pintada de branco com detalhes em madeira escura, cercada por jardins meticulosamente cuidados, onde rosas e jasmins competiam em beleza. Uma varanda extensa contornava toda a frente da casa com colunas de madeira que sustentavam um telhado de telhas vermelhas.
Conceição estacionou o carro em uma área pavimentada ao lado da casa, onde outros veículos, uma picap moderna, um sedã preto e um Jeep, já estavam posicionados. Bia! Conceição tocou seu braço. Ainda podemos ir embora se você quiser. Beatriz respirou fundo, observando o movimento discreto nas janelas da casa. Alguém havia notado sua chegada. Não, já chegamos até aqui. Ela abriu a porta do carro, sentindo o cheiro doce dos jasmins misturado ao aroma distante de café torrado.
Vamos conhecer essa família Santos. Os passos delas ecoaram no piso de pedra portuguesa que levava à varanda. Antes que pudessem tocar a campainha, a porta principal se abriu, revelando uma mulher elegante, de cerca de 60 anos, cabelos grisalhos presos em um coque baixo e olhos gentis que imediatamente colocaram Beatriz um pouco mais à vontade.
Conceição. A mulher abriu os braços. Que alegria vê-la novamente. E você deve ser Beatriz. Ela se voltou para a jovem com um sorriso genuíno. Sou dona Helena, mãe do Rafael. Sejam muito bem-vindas à nossa casa. Beatriz cumprimentou a senhora, notando que suas mãos eram calejadas, apesar da aparente delicadeza, mãos de alguém que não tinha medo do trabalho.
É um prazer conhecê-la, dona Helena. O prazer é nosso, querida. Venham. Vamos tomar um café e conversar um pouco antes de conhecer o Rafael. Ele está terminando alguns assuntos na propriedade, mas não deve demorar. O interior da casa era uma mistura harmoniosa entre tradição e modernidade.
Móveis de madeira maciça conviviam com tecnologia discreta e as paredes exibiam fotografias que contavam a história de gerações da família Santos trabalhando na Terra. Dona Helena as conduziu a uma sala ampla com grandes janelas que ofereciam vista para os jardins. Uma mesa de centro de madeira de demolição sustentava uma bandeja com café, pães de queijo ainda mornos e docesiros que fizeram o estômago de Beatriz roncar baixinho. Conte-me sobre seus estudos, querida.
Dona Helena serviu o café em xícaras de porcelana delicada. Helena me disse que você está cursando enfermagem. Sim, senhora. Estou no último ano. Beatriz aceitou a xícara, notando que suas mãos já não tremiam tanto. A atmosfera calorosa da casa e a genuína cordialidade de dona Helena estavam funcionando como um bálsamo para seus nervos.
Sempre sonhei em trabalhar na área da saúde. Que maravilhoso. Nós temos uma pequena clínica na fazenda para atender os funcionários e suas famílias. É algo bem simples, mas sempre precisamos de profissionais qualificados. Os olhos de dona Helena brilharam. Rafael tem planos de expandir esses serviços para a comunidade local. Era a primeira menção direta ao filho. E Beatriz sentiu uma apontada curiosa no peito.
Que tipo de homem se preocupava em expandir serviços de saúde para a comunidade? Como é? Como é o Rafael? A pergunta escapou antes que ela pudesse filtrá-la e Beatriz sentiu o rosto esquentar. Dona Helena sorriu como se estivesse esperando exatamente essa pergunta. Rafael é meu filho mais novo, mas sempre foi o mais responsável. Sua voz carregava o orgulho maternal.
Desde pequeno se interessava por cada aspecto da fazenda, sempre perguntando como podia melhorar, como podia inovar. Ele transformou nossa produção, introduziu métodos sustentáveis que aumentaram tanto a qualidade quanto a produtividade. “Ele parece muito dedicado”, Conceição comentou, trocando um olhar significativo com Beatriz, dedicado demais às vezes. Dona Helena suspirou. Tenho medo que ele esqueça de viver enquanto se concentra no trabalho.
É por isso que Ela hesitou, escolhendo as palavras cuidadosamente. É por isso que achamos que seria bom para ele conhecer uma moça especial. Beatriz estava prestes a responder quando o som de botas pesadas ecoou na varanda. Dona Helena se endireitou, um sorriso nervoso tomando conta de seu rosto. Esse deve ser ele chegando.
A porta da sala se abriu e Rafael Santos entrou, tirando um chapéu de palha e passando a mão pelos cabelos castanhos ligeiramente suados. Beatriz sentiu o ar fugir de seus pulmões por um momento. Ele era alto, provavelmente 1,85 m, com ombros largos que preenchiam bem uma camisa azul clara, já um pouco amarrotada pelo trabalho.
Seus olhos eram de um verde intenso, como as folhas jovens dos cafeiros. E quando ele olhou diretamente para ela, Beatriz sentiu como se fosse possível se afogar naquele mar esmeralda. Desculpem o atraso. Sua voz era grave, mas tinha uma suavidade que contrastava com sua aparência robusta. Tivemos um problema com o sistema de irrigação.
Rafael cumprimentou Conceição cordialmente, mas quando se voltou para Beatriz, ela notou uma hesitação em seus movimentos, como se ele também estivesse nervoso. “Você deve ser Beatriz.” Ele estendeu a mão e quando ela a apertou, notou que era firme, mas cuidadosa. Rafael, é, é um prazer conhecê-la. O prazer é meu ela respondeu, surpresa pela própria firmeza em sua voz.
Por um momento, ficaram apenas se olhando, como se ambos estivessem tentando decifrar um enigma no rosto do outro. Beatriz notou uma pequena cicatriz na sobrancelha direita dele e a forma como seus olhos pareciam sorrir, mesmo quando sua boca mantinha uma expressão séria.
Que tal se vocês dois dessem uma volta pelos jardins? Dona Helena sugeriu, quebrando o momento de silêncio que estava se estendendo. Rafael pode mostrar a você a propriedade, Beatriz. Rafael assentiu, ainda sem desviar o olhar de Beatriz. Gostaria de conhecer a fazenda? Sim”, ela respondeu, surpresa por descobrir que realmente queria. Gostaria muito. Enquanto se dirigiam para a porta, Beatriz ouviu dona Helena murmurar para a Conceição.
“Acho que eles vão se dar bem”. Mas enquanto seguia Rafael pelos jardins perfumados, Beatriz não conseguia decidir se aquela pontada em seu peito era ansiedade ou algo completamente diferente. A tarde dourada pintava a paisagem com tons quentes, enquanto Rafael e Beatriz caminhavam por uma trilha de pedra que serpenteava entre os jardins da casa sede.
O ar estava carregado com o perfume de jasmins e o aroma distante de café em processo de secagem. A fazenda existe há quatro gerações, Rafael explicava, suas mãos gesticulando suavemente enquanto falava. Meu tataravô comprou estas terras no final do século XIX, quando o café começou a se expandir pelo interior de São Paulo.
Beatriz observava não apenas o que ele mostrava, mas como ele se movia pela propriedade. Havia uma intimidade natural entre Rafael e cada centímetro daquele lugar. Ele cumprimentava funcionários pelo nome, parava para examinar plantas, ajustava uma mangueira que havia se deslocado. Era como se a fazenda fosse uma extensão dele mesmo.
“Você sempre soube que queria trabalhar aqui?”, ela perguntou, parando próxima a um pé de café carregado de frutos vermelhos. Rafael hesitou, suas mãos encontrando os bolsos da calça jeans. Na verdade, não. Sua resposta a surpreendeu. Quando era mais novo, queria ser veterinário. Sonhava em viajar pelo mundo, trabalhar com animais selvagens na África, coisas assim.
O que mudou? Ele se virou para ela e Beatriz viu uma sombra passar por seus olhos verdes. Meu pai ficou doente quando eu tinha 22 anos. Nada grave, mas o suficiente para que ele precisasse de ajuda com a fazenda. Rafael tocou delicadamente os frutos do cafeeiro ao lado deles.
Descobri que podia fazer a diferença aqui, que podia inovar, melhorar a vida das pessoas que trabalham conosco, criar projetos sustentáveis. Você nunca se arrependeu? Às vezes, a honestidade em sua voz a tocou. Mas aí olho para tudo que conseguimos construir, as famílias que dependem deste lugar, os projetos que desenvolvemos e percebo que encontrei meu propósito.
Eles continuaram andando, passando por estufas modernas, onde mudas de café cresciam em condições controladas. Rafael explicava os processos com uma paixão genuína que fazia seus olhos brilharem. “E você?”, ele perguntou de repente. “Sempre quis ser enfermeira?” Beatriz sorriu surpreendida por perceber que havia se esquecido completamente de estar nervosa. Desde os 12 anos.
Minha avó materna ficou doente e eu cuidei dela nos últimos anos de vida. Descobri que tinha jeito para isso, que me sentia útil ajudando as pessoas a se sentirem melhor. Deve ser uma profissão difícil. Lidar com dor, sofrimento. É difícil. Ela concordou. Mas também é a coisa mais gratificante que já fiz.
Quando você consegue aliviar o sofrimento de alguém ou simplesmente segurar a mão de uma pessoa que está com medo, é como se o mundo fizesse sentido novamente. Rafael parou de andar e se virou para olhá-la completamente. Havia algo em sua expressão que Beatriz não conseguia decifrar. Admiração, talvez misturada com algo mais profundo. “Isso é bonito”, ele disse simplesmente. O silêncio que se seguiu não foi desconfortável.
Era como se ambos estivessem processando algo importante, mas ainda não soubessem exatamente o quê. Rafael, Beatriz disse finalmente, decidindo abordar o elefante na sala. O que você achou desta situação toda, deste arranjo? Ele riu baixinho, passando a mão pelos cabelos. Honestamente, achei que seria terrível. Ele olhou para ela com um sorriso envergonhado.
Imaginei uma moça interesseira que veria apenas nossa situação financeira ou alguém completamente incompatível comigo. E agora? Rafael hesitou como se estivesse avaliando cuidadosamente suas palavras. Agora, acho que minha mãe pode ter razão. Ela sempre diz que as melhores coisas da vida chegam quando menos esperamos.
Beatriz sentiu o coração acelerar, mas antes que pudesse responder, Rafael continuou: “E você, o que está achando? Está sendo diferente do que imaginava.” Ela escolheu as palavras com cuidado. “Você não é nada como eu pensava que seria. Como você pensava que eu seria?” Arrogante, talvez. Alguém acostumado a ter tudo que quer, que veria esse casamento como mais uma transação comercial.
Beatriz corou ligeiramente. Desculpe, sei que parece horrível. Não parece horrível, parece honesto. E honestidade é raro hoje em dia. Rafael sorriu. Para ser justo, eu também tinha meus preconceitos. Eles chegaram a um mirante que oferecia vista panorâmica da propriedade.
O sol estava começando a se pôr, pintando o céu de laranjas e rosas, e as luzes da cidade de São Paulo cintilavam distantes no horizonte. “É lindo, Beatriz!” murmurou verdadeiramente impressionada. “Este é meu lugar favorito na fazenda”, Rafael confessou. “Quando preciso pensar, quando as coisas ficam complicadas, venho aqui. Deve ser reconfortante ter um lugar assim.” “É.
” Ele a observou contemplando a paisagem, notando como a luz dourada da tarde realçava os reflexos castanhos em seus cabelos. “Beatriz, posso fazer uma pergunta pessoal?” Ela se virou para ele, assentindo. Se não existisse toda essa situação familiar, pressão financeira, nada disso.
Você consideraria me conhecer? Sair comigo como duas pessoas normais que se conheceram por acaso? A pergunta apegou de surpresa. Beatriz estudou o rosto dele, vendo, além da aparente confiança, uma vulnerabilidade genuína. “Sim”, ela respondeu sem hesitar. “Definitivamente sim.” O sorriso que se espalhou pelo rosto de Rafael foi como o nascer do sol, lento, quente e impossível de ignorar.
Então, que tal fazermos isso? Esquecer por um momento, todas as expectativas, todas as pressões e apenas nos conhecer? Como seria isso? Bom, poderíamos começar com um jantar. Há um restaurante na cidade que faz a melhor comida caseira da região. Amanhã à noite, se você aceitar. Beatriz sentiu uma borboleta se agitar em seu estômago.
Pela primeira vez desde que ouvira sobre a proposta de casamento, ela estava genuinamente animada com algo. Aceito. Perfeito. Rafael estendeu a mão para ela. Agora, que tal voltarmos para casa? Tenho certeza de que nossas mães estão morrendo de curiosidade para saber como está indo nossa conversa. Quando Beatriz aceitou sua mão, sentindo a pele calosa, mais gentil contra a sua, ela percebeu que algo fundamental havia mudado.
O que começara como uma obrigação familiar estava se transformando em algo completamente inesperado. Enquanto desciam a trilha de volta à casa, suas mãos ainda entrelaçadas, Beatriz notou que Rafael cantarolava baixinho uma melodia que ela não reconhecia. Era suave, melancólica e estranhamente familiar, como se fosse uma música que ela sempre soubera, mas nunca tinha ouvido. “Que música é essa?”, ela perguntou. Rafael parou de cantar o lar, parecendo ligeiramente envergonhado.
“Ah, é algo que eu compus. Tenho o hábito de inventar melodias quando estou trabalhando. Você compõe música? É só um hobby.” Ele deu de ombros, mas Beatriz notou um rubor subindo por seu pescoço. “Pode cantar de novo? Por favor, por um momento, Rafael hesitou, então, timidamente, recomeçou a melodia, dessa vez cantarolando um pouco mais alto.
A música era simples, mas carregava uma beleza melancólica que fez algo se mexer no peito de Beatriz. Quando chegaram à varanda da casa, onde dona Helena e Conceição conversavam animadamente, Beatriz percebeu que não queria que aquele momento terminasse. “Como foi o passeio?”, Dona Helena perguntou, mas pelo sorriso em seu rosto era óbvio que ela já sabia a resposta. Foi esclarecedor. Rafael respondeu, trocando um olhar significativo com Beatriz.
Muito esclarecedor. Beatriz concordou. E enquanto se despediam com a promessa de se encontrarem no dia seguinte, Beatrice pegou cantar baixinho a melodia que Rafael havia criado. Era estranho como algumas canções conseguiam se infiltrar na alma sem pedir permissão.
Mas talvez, ela pensou, enquanto seguia para o carro com Conceição, algumas das melhores coisas da vida funcionassem exatamente assim. O restaurante Sabores da Roça era exatamente como Rafael havia prometido, aconchegante, com decoração rústica e o aroma de comida caseira que fazia qualquer pessoa se sentir em casa.
Mesas de madeira de demolição, luminárias de ferro forjado e plantas pendentes criavam uma atmosfera intimista, perfeita, para uma primeira conversa real. Beatriz havia escolhido um vestido verde musgo simples que realçava seus olhos castanhos. E quando Rafael a viu esperando na entrada do restaurante, ele precisou de um momento para recuperar a compostura. “Você está linda”, ele disse, oferecendo o braço para ela.
“Obrigada.” Beatriz sorriu notando que ele havia trocado as roupas de trabalho por uma camisa social azul clara e calça de sarja, que o faziam parecer mais jovem, menos formal que no dia anterior. O garçom os conduziu a uma mesa no canto, próxima a uma janela que oferecia vista para uma pequena praça iluminada.
Rafael puxou a cadeira para Beatriz, um gesto antiquado que a surpreendeu positivamente. “Então, ela disse depois que pediram a comida, me conte algo sobre você que suas mães não contariam”. Rafael riu, tomando um gole de água. Bom, eu tenho uma banda. Sério? Os olhos de Beatriz se arregalaram.
Que tipo de música? Rock nacional. Algumas autorais. Nada muito sério, apenas eu e alguns amigos da faculdade nos reunindo uma vez por mês para fazer barulho. Ele pareceu envergonhado. Minha mãe acha que é apenas uma fase que vou superar aos 30 anos. E vai superar? Espero que não. A música é é minha válvula de escape.
Quando estou compondo ou tocando, consigo processar as coisas de um jeito diferente. Beatriz se inclinou para a frente, genuinamente interessada. A música que você estava a cantarolando ontem era sua? Era. Rafael mexeu nervosamente no guardanapo. Na verdade, a compos depois que soube sobre este encontro nosso. Estava tentando imaginar como seria conhecer você e como era na música, quero dizer.
Ele a olhou diretamente nos olhos e Beatriz sentiu como se ele pudesse ver através dela. Esperançosa. A música era esperançosa. Antes que Beatriz pudesse responder, o garçom trouxe os pratos, frango caipira para ele, salmão grelhado para ela, acompanhados de legumes frescos e arroz com açafrão.
Agora você, Rafael, disse cortando o frango. Me conte algo que eu não saberia. Beatriz mastigou pensativamente. Eu tenho um projeto pessoal. Nas horas vagas da faculdade, visito abrigos e casas de repouso para fazer companhia aos idosos. Não é nada oficial. Apenas converso com eles, ouço suas histórias. Isso é incrível.
Como começou depois que minha avó morreu, percebi que muitas pessoas mais velhas se sentem invisíveis, esquecidas. Elas têm tantas histórias para contar, tanta sabedoria para compartilhar. Beatriz sorriu. Dona Albertina do Lar São Francisco foi enfermeira na Segunda Guerra. Dona Maria ensinou três gerações de crianças a ler. Senr.
João construiu pontes por todo o interior paulista. Rafael parou de comer completamente absorto em sua narrativa. Você está documentando essas histórias? Como assim? Gravando, escrevendo, preservando de alguma forma. São tesouros históricos vivos. Beatriz não havia pensado nisso antes. Seria uma ideia interessante. Mais que interessante, seria importante.
Rafael se inclinou para a frente. Você já pensou em transformar isso em algo maior? Um projeto social, talvez. Na verdade, Beatriz hesitou, então decidiu ser honesta. Eu tenho um sonho meio maluco. Queria abrir um centro de saúde comunitário que oferecesse não apenas cuidados médicos, mas também programas para idosos.
Atividades intergeracionais, preservação de memórias. Isso não é maluco, Beatriz. É visionário. A paixão na voz dele apegou de surpresa. Você acha? Acho que é exatamente o tipo de projeto que este país precisa. Cuidado humanizado, preservação cultural e integração comunitária.
Rafael parou, parecendo perceber o entusiasmo em sua própria voz. Desculpe, me empolguei. Não, eu gostei. É raro encontrar alguém que entende esse tipo de visão. Eles continuaram conversando durante toda a refeição, descobrindo pontos em comum surpreendentes. Ambos adoravam livros de Gabriel Garcia Marques. Preferiam café sem açúcar. Tinham medo de altura, mas adoravam a vista de lugares altos.
Posso confessar algo? Rafael disse quando estavam dividindo uma sobremesa de doce de leite com amendoim. Claro. Eu estava aterrorizado de conhecer você, não por sua causa, mas pela situação toda. A ideia de um casamento arranjado me assombrava há semanas.
E agora? Rafael sorriu, mas havia uma seriedade em seus olhos que fez o coração de Beatriz acelerar. Agora estou aterrorizado por motivos completamente diferentes. Por quê? porque estou começando a gostar muito de você e isso não estava no meu planejamento. A honestidade brutal da confissão deixou Beatriz sem palavras por um momento. Ela podia ver sua própria confusão refletida nos olhos verdes dele.
Rafael, eu sei que é loucura. Nos conhecemos há dois dias, mas há algo em você, Beatriz, que me faz querer ser uma pessoa melhor. Antes que ela pudesse responder, o celular de Rafael vibrou sobre a mesa. Ele olhou a tela e franziu o senho. Desculpe, é do capataz. Deve ser importante. Ele atendeu rapidamente.
Marcos, o que aconteceu? Beatriz observou a expressão dele mudar gradualmente de preocupação para alívio. Está bem. Obrigado por me avisar. Cuide para que ele descanse bastante. Rafael desligou e se virou para ela. Problema na fazenda. Um dos funcionários passou mal durante o turno da noite. Nada grave, mas tivemos que levá-lo ao hospital. Rafael suspirou.
Esse é um dos problemas de não termos serviços médicos adequados na região rural. Que tipo de mal-estar? Tonturas, desmaio. Acontece mais do que deveria. Beatriz franziu o senho, seu instinto médico despertando. Com que frequência? E sempre os mesmos sintomas. Você acha que pode ser algo específico? Não posso diagnosticar sem examinar, mas tonturas e desmaios em trabalhadores rurais podem indicar várias coisas: desidratação, exposição a produtos químicos, problemas cardíacos não detectados. Ela parou
percebendo que estava entrando em modo profissional. Desculpe, não queria. Não se desculpe. Rafael segurou a mão dela sobre a mesa. É exatamente essa dedicação que me impressiona em você. O toque de suas mãos enviou uma onda elétrica pelo braço de Beatriz. Era a segunda vez que se tocavam, mas desta vez parecia diferente, mais íntimo.
Rafael, posso fazer uma pergunta pessoal? Claro, porque você nunca se casou. Quero dizer, você tem quase 30 anos, é bonito, bem-sucedido. Ele riu baixinho, mas havia uma melancolia em sua expressão. A resposta honesta: nunca encontrei alguém que entendesse minha vida. A fazenda é muito exigente. Eu trabalho muitas horas, viajo bastante para congressos e feiras agropecuárias.
A maioria das mulheres que conheci achava que eu deveria escolher entre a fazenda e elas. E você sempre escolhia a fazenda? Sempre. Até agora. Nunca questionei essa escolha. Até agora, Rafael olhou diretamente nos olhos dela e Beatriz sentiu como se pudesse se perder naquele olhar verde até conhecer alguém que talvez pudesse entender que a fazenda não é apenas meu trabalho, é minha maneira de cuidar das pessoas, de fazer a diferença no mundo.
O silêncio que se seguiu foi carregado de possibilidades não ditas. Beatriz sentia como se estivesse no precipício de algo imenso e desconhecido. “Beatriz”, Rafael disse suavemente. “Eu sei que isto tudo é complicado, que há expectativas e pressões de nossas famílias, mas gostaria de continuar conhecendo você, independente de qualquer coisa, sem pressão, sem cronogramas, apenas vendo ade leva.
Eu também gostaria”, ela respondeu sem hesitar. Rafael sorriu e foi como se o sol tivesse nascido no meio da noite. Então vamos fazer isso do nosso jeito, no nosso tempo. Enquanto saíam do restaurante, caminhando lentamente em direção ao carro dele, Beatriz se pegou, pensando que talvez o destino tivesse um senso de humor peculiar, o que deveria ser uma obrigação, estava se transformando na possibilidade mais emocionante que já havia surgido em sua vida. Mas no fundo de sua mente, uma pequena voz sussurrava que as coisas
raramente eram tão simples quanto pareciam. E ela estava certa. Rafael estava guardando segredos que poderiam mudar tudo. Uma semana havia-se passado desde o jantar nos Sabores da Roça e Beatriz se encontrava novamente na fazenda Vista Alegre, desta vez para um almoço em família.
A convite de dona Helena, Conceição também estava presente, e as duas mulheres mais velhas pareciam estar se divertindo enormemente, observando a crescente proximidade entre os jovens. “A horta orgânica foi ideia do Rafael”, dona Helena explicava enquanto mostrava a Beatriz os canteiros perfeitamente organizados. Ele sempre diz que sustentabilidade começa no prato que levamos à mesa.
Beatriz admirava as fileiras de tomates, alfaces e ervas aromáticas quando notou Rafael se aproximando pelo camininho de pedras. Ele carregava uma pasta de couro e parecia ligeiramente agitado. Mãe, preciso resolver umas questões do escritório. Beatriz, você se importaria de me fazer companhia? Tenho algo que gostaria de mostrar a você. Dona Helena sorriu knowingly. Claro, queridos.
Conceição e eu ainda temos muito o que conversar sobre as flores do jardim. Rafael conduziu Beatriz por uma trilha que ela ainda não conhecia, passando por um pequeno lago artificial onde patos nadavam tranquilamente. O ambiente era sereno, mas ela percebia uma tensão incomum nele.
“Está tudo bem?”, Ela perguntou quando chegaram a um gazebo cercado por jasms. Na verdade, Rafael hesitou, colocando a pasta sobre uma mesinha de ferro fundido. Há algo que preciso contar a você, algo importante sobre mim. O tom sério em sua voz fez Beatriz sentir um frio no estômago. Ela se sentou no banco do gazebo, preparando-se mentalmente para qualquer revelação. Pode falar.
Rafael começou a andar de um lado para outro, claramente nervoso. Você se lembra do funcionário que passou mal na semana passada? O que desmaiou durante o trabalho? Sim, você disse que levaram ele ao hospital. É que Rafael parou de andar e a encarou. Não foi a primeira vez que algo assim acontece comigo na fazenda. Beatriz franziu o senho, não entendendo a conexão. Como assim? Eu disse comigo.
Porque? Porque às vezes eu também tenho episódios similares. O coração de Beatriz começou a bater mais rápido, seu instinto médico entrando em alerta. Que tipo de episódios? Rafael se sentou ao lado dela, mas manteve uma distância que não havia existido na semana anterior. Sonolência extrema, perda de controle muscular, às vezes desmaios.
Sua voz ficou mais baixa. Tenho narcolepsia. O silêncio que se seguiu foi interrompido apenas pelo som do vento nas folhas dos jasmins. Beatriz processava a informação, conectando pontos que agora faziam sentido. Há quanto tempo você sabe? Fui diagnosticado aos 25 anos, depois de alguns e incidentes constrangedores. Rafael riu amargamente.
Adormeci durante uma reunião importante com investidores. Minha família ficou mortificada. E como você controla? Você faz tratamento? Medicação, rotina de sono rigorosa. Evito situações de muito estresse. Ele a olhou de soslaio. Minha família prefere não comentar sobre o assunto. Beatriz sentiu uma onda de indignação.
Eles têm vergonha? Não vergonha exatamente, mas preocupação de que isso afete nossa reputação, nossos negócios. Um herdeiro que pode adormecer a qualquer momento não inspira confiança nos parceiros comerciais. Rafael, isso é uma condição médica, não uma falha de caráter. Eu sei disso, você sabe disso, mas o mundo dos negócios nem sempre é tão compreensivo.
Beatriz se virou completamente para ele, estudando seu rosto. Agora entendia a melancolia que às vezes via em seus olhos, a forma como ele sempre parecia estar se esforçando para provar algo. Por que está me contando isso? Rafael respirou fundo. Porque seria desonesto não contar. Se vamos, se há qualquer possibilidade de algo real entre nós, você precisa saber com quem está se envolvendo.
E você acha que isso mudaria alguma coisa? Não sei. Sua honestidade era brutal. Mudaria? Beatriz ficou em silêncio por um longo momento e Rafael interpretou isso como hesitação. Ele se levantou, pronto para se afastar, mas ela segurou seu braço. “Sente aqui”. Relutantemente ele obedeceu. Rafael, nos últimos anos cuidei de pessoas com Alzheimer, câncer, diabetes, depressão.
Vi famílias se destruindo porque não sabiam lidar com doenças. E sabe qual foi a diferença entre os casos que terminaram bem e os que terminaram mal? Ele balançou a cabeça. Comunicação, apoio, amor incondicional. Ela segurou as mãos dele. A narcolepsia é desafiadora, sim, mas é tratável, controlável. que você está fazendo tudo certo. Você tem certeza, porque uma vez isso me custou um relacionamento importante.
Ela disse que não podia lidar com a imprevisibilidade. Beatriz sentiu uma apontada de raiva pela mulher desconhecida. Então ela não te merecia. Rafael a olhou com uma mistura de surpresa e gratidão. Você tem certeza de que não é só compaixão profissional? Tenho certeza. Beatriz sorriu.
E posso provar? Como ela abriu a pasta que ele havia trazido. Você disse que tinha algo para me mostrar. O que é? Rafael hesitou, então retirou alguns papéis da pasta. É um projeto que estou desenvolvendo há meses, um centro de saúde rural completo, não apenas para emergências, mas para cuidados preventivos, programas comunitários, até mesmo preservação de histórias locais.
Beatriz examinou os documentos, reconhecendo plantas baixas, orçamentos e cronogramas detalhados. Rafael, isso é ah, isso é exatamente o que conversei com você sobre meu sonho. Eu sei, depois da nossa conversa no restaurante, não consegui parar de pensar nisso. Comecei a pesquisar, entrar em contato com especialistas. Ele apontou para uma sessão específica. Olha aqui.
Haveria uma ala específica para programas intergeracionais, exatamente como você descreveu. Beatriz sentia lágrimas se formando em seus olhos. Você fez isso por minha causa. Eu fiz isso porque você me fez perceber que eu podia usar os recursos da fazenda para algo maior que apenas produzir café. Rafael tocou gentilmente seu rosto.
Você me inspirou, Beatriz, e você ainda acha que eu me importaria com sua narcolepsia depois de ver isso? Rafael sorriu, mas ainda havia insegurança em seus olhos. Isso é muito? Estou indo rápido demais, talvez. Beatriz se inclinou mais perto dele. Mas às vezes as melhores coisas acontecem quando a gente se joga de cabeça. Então você você consideraria ser minha parceira neste projeto? Profissionalmente falando.
Profissionalmente? Ela riu. Rafael, depois de tudo que aconteceu entre nós nas últimas duas semanas, você ainda acha que isto é apenas profissional? Antes que ele pudesse responder, Beatriz notou seus olhos ficando pesados, reconheceu imediatamente os sinais. “Hei”, ela disse suavemente.
“Você está tendo um episódio? Talvez a emoção, o estresse de contar sobre a narcolepsia.” Sua voz estava ficando pastosa. Sem hesitar, Beatriz ajudou-o a se deitar no banco do gazebo, colocando um chuço feito com sua jaqueta sob sua cabeça. Quantos minutos geralmente dura? C 10 no máximo. Seus olhos se fecharam.
Beatriz ficou ali protegendo-o, observando sua respiração se tornar regular. Não havia constrangimento, nem pânico, apenas uma ternura protetiva que a surpreendeu com sua intensidade. Quando Rafael despertou 8 minutos depois, a primeira coisa que viu foi Beatriz sorrindo para ele. “Como você se sente?” “Mortificado?”, ele murmurou, tentando se sentar.
“Por quê?” “Por ter uma condição médica que você não pode controlar?” Ela ajudou-o a se endireitar. Rafael, se você acha que isso me assustaria, claramente não prestou atenção na mulher que está conhecendo. Ele a olhou com uma expressão que misturava incredulidade e algo muito parecido com Amor, como você pode ser tão perfeita? Eu não sou perfeita, Beatriz Riu. Sou teimosa.
Fico irritada quando não durmo bem. Tenho medo de barata e choro assistindo comerciais de telefone. E eu tenho narcolepsia. Sou obsecado por trabalho e canto no chuveiro, viu? Somos igualmente imperfeitos. Rafael segurou o rosto dela entre as mãos. Beatriz, eu estou me apaixonando por você. O coração dela parou por um momento. Eu também, ela sussurrou.
Quando ele a beijou, foi como se todas as peças de um quebra-cabeças que ela nem sabia que estava montando finalmente se encaixassem. O beijo foi suave, cuidadoso, carregado de promessas não ditas. Quando se separaram, ambos estavam sorrindo. Então, Rafael disse, indicando os papéis do projeto. Quer construir um futuro comigo? Tanto o profissional quanto o pessoal, especialmente o pessoal.
Beatriz olhou para os documentos, depois para o homem que acabara de se abrir completamente para ela, expondo suas vulnerabilidades mais profundas. “Sim”, ela disse sem hesitar, para ambos. Mas enquanto caminhavam de volta para a casa, mãos entrelaçadas, Beatriz não podia imaginar que suas famílias estavam guardando segredos próprios.
Segredos que logo viriam à tona e testariam tudo que eles estavam construindo juntos. O café da manhã na Casa de Conceição estava mais silencioso que o usual. Beatriz mexia distraídamente o açúcar na xícara, perdida em pensamentos sobre Rafael e tudo que havia acontecido entre eles na semana anterior. O beijo no gazebo havia mudado algo fundamental.
Não eram mais dois estranhos explorando um arranjo familiar, mas duas pessoas genuinamente apaixonadas descobrindo um ao outro. Você vai ficar aí sonhando acordada ou vai me contar o que está acontecendo? Conceição se sentou à mesa, carregando um envelope similar àquele que havia trazido a proposta inicial. Beatriz emergiu de seus devaneios. O que é isso? Uma carta de dona Helena. Chegou hoje cedo. Conceição estudou o rosto da entiada.
Pelo seu sorriso dos últimos dias, imagino que as coisas estão indo bem entre vocês. Estão indo? Beatriz procurou as palavras certas. Estão indo melhor que bem, Conceição. Eu acho que estou me apaixonando por ele. Apenas acho. O sorriso de Conceição era maternal. Querida, qualquer pessoa que olha para você vê que já não há mais dúvidas.
Beatriz abriu a carta esperando encontrar algum convite formal ou atualização sobre os arranjos familiares. Em vez disso, encontrou algo completamente inesperado. “O que diz?”, Conceição? Perguntou, notando a mudança na expressão de Beatriz. É estranho. Beatriz releuena está convidando a nós duas para um chá da tarde hoje, mas especifica que é para esclarecer alguns malentendidos e alinhar expectativas futuras.
Que tipo de mal entendidos? Não sei, mas o tom é diferente, mais formal que de costume. Conceição franziu o senho. Talvez seja apenas nervosismo. Afinal, se você e Rafael estão se aproximando realmente, as famílias precisam começar a discutir questões práticas. Mas Beatriz sentia que havia algo mais.
Nos últimos dias, Rafael havia parecido um pouco distante em algumas conversas telefônicas, como se estivesse preocupado com algo que não queria compartilhar. A sala de estar da Fazenda Vista Alegre estava diferente daquela que Beatriz havia conhecido nas visitas anteriores. Dona Helena os recebeu com cordialidade, mas havia uma formalidade em sua postura que não existia antes.
Ao lado dela estava um homem que Beatriz nunca havia visto, elegante, de cerca de 60 anos, com cabelos grisalhos e olhar penetrante. Beatriz, Conceição, obrigada por virem. Dona Helena gesticulou para que se sentassem. Gostaria de apresentar-lhes Dr. Marcos Vilela, nosso advogado da família. O estômago de Beatriz se contraiu.
Porque um advogado estaria presente em um simples chá da tarde? É um prazer conhecê-las”, Dr. Vilela disse, abrindo uma pasta em seu colo. “Dona Helena me pediu para estar presente para esclarecer alguns aspectos legais da situação.” “Aspectos legais?”, Conceição repetiu claramente tão confusa quanto Beatriz.
Dona Helena suspirou como se estivesse prestes a fazer algo que não gostava. Meninas, eu preciso ser honesta com vocês. Quando propusemos este arranjo, havia certas condições que não foram completamente esclarecidas. Beatriz sentiu como se o chão estivesse se movendo sob seus pés. Que tipo de condições? Dr. Vilela abriu a pasta e retirou alguns documentos.
A proposta de casamento incluía, como vocês sabem, o apoio financeiro para a pousada e a bolsa de estudos. No entanto, há cláusulas específicas relacionadas a resultados esperados. Resultados esperados? A voz de Beatriz saiu mais alta que pretendia. A família Santos tem interesse em assegurar a continuidade da linhagem familiar. Dr.
Vilela explicou com a neutralidade profissional de quem estava acostumado a discussões delicadas. O contrato estipula que o apoio financeiro continuará apenas se certas metas familiares forem atingidas dentro de prazos específicos. Conceição empalideceu. Vocês estão falando de filhos. Vocês estão colocando a maternidade da Beatriz como condição contratual. Não apenas isso, dona Helena disse, parecendo desconfortável.
Há também expectativas sobre o envolvimento de Beatriz nas atividades sociais da família, representação em eventos e certa descrição sobre questões pessoais relacionadas ao Rafael. O sangue de Beatriz fervia. Ela se levantou abruptamente. Questões pessoais? Vocês estão falando da narcolepsia dele? O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Dona Helena e Dr.
Vilela trocaram olhares significativos. Rafael contou a você sobre sua condição? Dona Helena perguntou. E havia uma nota de desaprovação em sua voz. Claro que contou. Nós estamos construindo um relacionamento baseado em honestidade. Beatriz Dr. Vilela se inclinou para a frente. Você precisa entender que a descrição sobre esse assunto é fundamental para os negócios da família.
A narcolepsia do Rafael não pode se tornar conhecimento público. Vocês estão me pedindo para mentir sobre a condição médica do homem que amo? Nós estamos pedindo para que você seja cuidadosa com informações sensíveis? Dona Helena corrigiu. Beatriz olhou ao redor da sala, reconhecendo finalmente a verdadeira natureza da situação.
Não era um casamento que estavam propondo, era um contrato de trabalho disfarçado de romance. “Onde está Rafael?”, Ela perguntou. Ele está em São Paulo resolvendo questões comerciais. Dona Helena respondeu: “Deve retornar amanhã. Ele sabe sobre esta reunião? O silêncio foi resposta suficiente. Conceição!” Beatriz se virou para a madrasta. Nós vamos embora agora, Beatriz, por favor. Dona Helena se levantou.
Não tome decisões precipitadas. Você e Rafael claramente se gostam. Essas são apenas formalidades necessárias para proteger ambas as famílias. Formalidades, Beatriz riu amargamente. Vocês estão tratando minha vida reprodutiva como uma commodity. Estão pedindo para eu esconder a condição médica de alguém que amo e estão fazendo isso pelas costas dele.
As condições são padrão para este tipo de arranjo, Dr. Vilela tentou explicar. Então, talvez seja hora de questionar que tipo de arranjo é este. Beatriz pegou a bolsa e se dirigiu para a porta, seguida por Conceição. Se você sair agora, dona Helena disse, sua voz carregando uma frieza que Beatriz nunca havia ouvido antes. Toda a proposta será cancelada. Não haverá segunda chance.
Beatriz parou na porta, sentindo lágrimas queimar em seus olhos. Dona Helena, a senhora criou um filho maravilhoso. Rafael é gentil, inteligente, apaixonado por ajudar outros. Ele merece alguém que o ame por quem ele é, não alguém que aceite esconder quem ele é. E você acha que o amor é suficiente para superar todas as dificuldades práticas? Eu acho que sem amor verdadeiro, nenhuma dificuldade prática vale a pena ser superada.
Conceição seguiu Beatriz até o carro, ambas em silêncio. Só quando estavam na estrada de volta para Ribeirão Preto, é que Conceição falou: “Você fez a coisa certa.” Fiz. Beatriz limpou as lágrimas do rosto. Acabei de destruir nossa única chance de salvar a pousada. Bia, querida, algumas coisas são mais importantes que dinheiro, como a dignidade, como o amor verdadeiro.
Beatriz olhou pela janela, observando as paisagens familiares passarem. Em algum lugar por trás daquelas colinas, Rafael provavelmente não fazia ideia de que sua família havia acabado de implodir qualquer chance de futuro que eles poderiam ter juntos. Conceição, você acha que ele sabia sobre os contratos, as cláusulas, conhecendo o Rafael que eu vi nessas últimas semanas? Não acho que ele ficaria tão revoltado quanto você.
Mas quando chegaram em casa, havia uma mensagem de Rafael no celular de Beatriz. Preciso conversar com você. É urgente. Algo aconteceu aqui em São Paulo que pode mudar tudo entre nós. Beatriz olhou para o telefone, seu coração se partindo um pouco mais. Talvez ele soubesse sim. Talvez tudo que ela havia acreditado sobre eles não passasse de uma ilusão cuidadosamente construída. Ela não retornou à ligação.
Algumas verdades eram dolorosas demais para serem enfrentadas no mesmo dia. Rafael dirigia pela estrada rural com uma urgência que fazia o motor de sua picap protestar. Havia voltado de São Paulo 3 horas antes do previsto, depois de descobrir por acaso sobre a reunião que sua mãe havia marcado com Beatriz. A informação chegara até ele através de Marcos, o capataz, que ouvira os empregados domésticos comentando sobre a visita do advogado da família.
Seu coração martelava no peito enquanto reconstruía mentalmente a cronologia dos eventos. A viagem para São Paulo havia sido uma armadilha. Sua mãe havia inventado reuniões urgentes para mantê-lo longe enquanto esclarecia questões com Beatriz. A descoberta o deixara nauseado. Quando chegou à casa de Conceição, era quase noite. As luzes estavam acesas na cozinha e ele podia ver duas silhuetas através das cortinas de renda.
Respirou fundo antes de bater na porta. Conceição atendeu e, pela expressão em seu rosto, Rafael soube imediatamente que seus piores temores se confirmavam. Ela não quer vê-lo, Conceição disse gentilmente, mas com firmeza. Conceição, por favor, eu preciso explicar. Explicar o que, Rafael, que você sabia dos contratos, das cláusulas sobre filhos, da exigência de sigilo sobre sua narcolepsia? A dor na voz da mulher mais velha fez Rafael se sentir fisicamente doente. Eu não sabia de nada disso.
Descobri há 3 horas quando voltei para casa e encontrei documentos espalhados na mesa do escritório. Ele passou a mão pelos cabelos desesperado. Minha mãe e o advogado estavam revisando estratégias de apresentação para vocês. Conceição o estudou por um longo momento. Entre, ela disse finalmente. Mas ela realmente não quer falar com você agora.
Rafael seguiu Conceição para a cozinha, onde Beatriz estava sentada à mesa, os olhos vermelhos de chorar. Quando ela ouviu, algo se quebrou em sua expressão. “Você sabia?”, ela disse sem ser uma pergunta. “Não, Beatriz. Eu juro por tudo que é sagrado que não sabia. Então, por que sua mãe faria isso? Por que criaria contratos sem você saber?” Rafael se sentou na cadeira em frente a ela, mantendo uma distância respeitosa. Porque ela tem medo.
Medo de quê? de que eu não seja capaz de encontrar alguém por conta própria, de que minha narcolepsia me torne inadequado para casamento. Sua voz se quebrou ligeiramente. Ela queria garantir que se você aceitasse me conhecer, haveria incentivos suficientes para que ficasse. Beatriz riu amargamente. Incentivos como se amor fosse uma transação comercial. Bia.
Rafael estendeu a mão sobre a mesa, mas ela a retirou. Você tem que acreditar em mim. Tudo que aconteceu entre nós, tudo que senti por você foi real. Os contratos, as cláusulas, eu não sabia de nada. Mas agora você sabe. E mesmo assim está aqui. Estou aqui porque estou apaixonado por você e porque quero que você saiba que rasguei todos aqueles documentos.
O silêncio que se seguiu foi interrompido apenas pelo tic-tacque do relógio de parede. Conceição discretamente se retirou da cozinha, deixando-os sozinhos. “Você rasguei os documentos?”, Beatriz perguntou finalmente. Cada página na frente da minha mãe e do Dr. Vilela. Rafael suspirou. Acabei de ter a maior briga da minha vida com minha família.
E agora? Agora eu quero recomeçar. Sem contratos, sem cláusulas, sem interferência de ninguém. Ele a olhou diretamente nos olhos. Beatriz, eu quero namorar você de verdade, como duas pessoas normais que se conheceram e se apaixonaram. E o apoio financeiro, a pousada da Conceição, minha faculdade, vamos encontrar outras maneiras.
Há programas de financiamento para pequenos negócios, bolsas de estudo para terminar a enfermagem. Pode ser mais difícil, pode demorar mais, mas será nosso esforço, nossa conquista. Beatriz o observou por um longo momento, procurando sinais de desonestidade em seu rosto. Tudo que encontrou foi vulnerabilidade crua e amor genuíno.
Rafael, como eu posso ter certeza de que você não mudará de ideia, de que sua família não encontrará outras maneiras de interferir? Porque estou me mudando? Como assim? Vou sair da casa principal da fazenda. Há uma casa menor na propriedade que era do meu avô. Vou reformá-la e morar lá. Vou manter meu trabalho na fazenda, mas com independência financeira e pessoal total.
Beatriz sentiu o coração acelerar. Você faria isso? Já estou fazendo. Conversei com meu pai hoje. Ele entende que preciso tomar minhas próprias decisões. Rafael hesitou. Há algo mais que preciso te contar. O que agora? O projeto do centro de saúde rural. Eu já consegui financiamento independente através de uma fundação que apoia projetos de impacto social. Não depende mais do dinheiro da família. Beatriz arregalou os olhos.
Você conseguiu financiamento? Consegui. E eles querem você como coordenadora do projeto, se você aceitar. Rafael sorriu timidamente. Vou te enviar todos os detalhes, todas as propostas. Você pode verificar tudo independentemente por você fez isso? Porque acredito no projeto, porque acredito em você e porque quero construir algo significativo ao seu lado, não por obrigação familiar, mas por escolha.
Beatriz sentiu lágrimas se formando novamente, mas desta vez eram lágrimas de alívio. Rafael, se ficarmos juntos, será complicado. Sua família provavelmente não vai aprovar. Deixa eu me preocupar com minha família. A pergunta é: você quer tentar recomeçar sem pressão, sem contratos apenas nós dois? Beatriz olhou ao redor da cozinha familiar, pensando em tudo que havia acontecido nas últimas semanas.
O casamento arranjado que a havia aterrorizado havia se tornado a possibilidade de um amor verdadeiro. E agora, quando esse amor estava sendo oferecido livre de condições, ela sentia medo de um tipo completamente diferente. “Eu tenho medo”, ela admitiu, “de quê? De que seja bom demais para ser verdade? De que algo dê errado, de me apaixonar completamente e depois descobrir que era apenas uma ilusão?” Rafael se levantou e contornou a mesa, ajoelhando-se ao lado da cadeira dela. Bia, olha para mim.
Ela obedeceu e encontrou aqueles olhos verdes que haviam se tornado tão familiares. Eu não posso prometer que será fácil. Minha narcolepsia às vezes complica as coisas. Minha família pode ser difícil. Nós dois somos pessoas independentes com sonhos grandes. Ele segurou as mãos dela. Mas posso prometer que tudo que sinto por você é real. E posso prometer que se você me der uma chance, vou lutar por nós todos os dias.
Beatriz estudou o rosto dele, a sinceridade em seus olhos, a vulnerabilidade em sua postura, a forma como suas mãos tremiam ligeiramente ao segurar as dela. Está bem, ela disse finalmente. Está bem. Vamos tentar. Vamos namorar de verdade, Rafael Santos. O sorriso que se espalhou pelo rosto dele foi como o nascer do sol.
Ele se inclinou e a beijou. Um beijo doce e cheio de promessas renovadas. Quando se separaram, Beatriz murmurou: “Mas da próxima vez que sua família tentar interferir em nossa vida, você me conta imediatamente. Prometido, total transparência daqui para a frente. E eu quero conhecer essa casa do seu avô.
Se vamos construir algo real, quero ver onde você pretende viver essa nova vida. Amanhã posso te buscar de manhã?” Pode. Conceição apareceu discretamente na porta da cozinha. sorrindo ao ver os dois jovens abraçados. Imagino que as coisas se resolveram. Se resolveram, Rafael confirmou. E Conceição, sobre a pousada, eu gostaria de investir, não como parte de um acordo familiar, mas como um negócio legítimo.
Você tem um lugar lindo aqui, com muito potencial. Rafael Conceição começou. Por favor, deixe-me fazer isso da maneira certa. Vou trazer uma proposta comercial séria, com contratos transparentes e termos justos, porque acredito no seu trabalho, não porque estou namorando sua entiada. Beatriz olhou entre Rafael e Conceição, sentindo algo se assentar em seu peito.
Pela primeira vez desde que tudo começara, ela sentia que estavam construindo algo baseado em escolhas reais, não em obrigações impostas. Então, ela disse pegando a mão de Rafael: “Vamos começar de novo? Vamos começar de novo. Ele concordou. E pela primeira vez em semanas, o futuro parecia cheio de possibilidades genuínas, em vez de expectativas alheias. A manhã estava cristalina quando Rafael buscou Beatriz para conhecer a casa, que seria seu novo lar.
O orvalho ainda beijava as folhas dos cafeiros, criando pequenos diamantes que brilhavam sob o sol nascente. Beatriz havia escolhido um vestido florido amarelo e trazia uma cesta com pães e café que ela mesma havia preparado. “Nervoso?”, ela perguntou, notando como Rafael tamborilava os dedos no volante. “Um pouco.
É a primeira vez que mostro a casa para alguém desde que decidi me mudar para lá”. Ele sorriu de lado. E é importante para mim que você goste. Por quê? Porque espero que você passe muito tempo lá. Se quiser, claro. O caminho serpenteava por uma parte da fazenda que Beatriz ainda não conhecia, mas selvagem e preservada.
Árvores centenárias formavam uma espécie de túnel verde e ela podia ouvir o som de um riacho correndo nas proximidades. Aqui Rafael disse, estacionando próximo a um portão de madeira pintado de azul. A casa do vovô Antônio. Beatriz desceu do carro e imediatamente se apaixonou pelo local. A casa era pequena, mas charmosa, com paredes de pedra e madeira, varanda ampla e um jardim que, embora precisasse de cuidados, tinha um ar selvagem e acolhedor. Era completamente diferente da imponência da casa principal. Esta tinha alma. Rafael é perfeita.
Ela suspirou, caminhando em direção à varanda. Você acha? Precisa de muitos reparos. Uma reforma completa, precisa de amor, que é diferente de reparos. Ele a observou explorar o espaço, notando como ela tocava delicadamente as flores selvagens que cresciam próximas aos degraus, como parava para ouvir o canto dos pássaros. Vem, quero mostrar o interior.
A casa tinha três quartos, uma sala ampla com lareira de pedra, cozinha espaçosa e um escritório que dava para o jardim dos fundos. estava, mas Beatriz conseguia visualizar perfeitamente como seria quando Rafael trouxesse vida para aqueles cômodos. O escritório seria perfeito para você trabalhar nos projetos do centro de saúde”, ele comentou, observando-a examinar a vista pela janela. E ali ela apontou para um canto da sala.
“Você poderia colocar seu violão, criar um espacinho para compor.” Rafael parou o que estava fazendo e a olhou com surpresa. “Como você sabe que toca o violão? Beatriz corou ligeiramente. Você falou sobre sua banda, lembra? E tenho visto calos específicos em seus dedos. Minha prima toca violão, reconheço as marcas, observadora, faz parte da profissão. Enfermeiros aprendem a anotar detalhes.
Eles se acomodaram na varanda com o café que Beatriz havia trazido, observando a paisagem tranquila ao redor da casa. Me conta sobre seu avô”, ela pediu. Vovô Antônio era o sonhador da família. Enquanto meu pai se concentrava nos negócios, ele ficava aqui experimentando técnicas de cultivo sustentável, observando pássaros, pintando aquarelas das paisagens. Rafael sorriu com carinho.
Minha família achava que ele era meio maluco, mas eu adorava passar tempo com ele. Como ele era? gentil, curioso, sempre fazendo perguntas sobre tudo. Ele dizia que a vida era uma grande experiência científica e que cada dia oferecia a chance de descobrir algo novo. Rafael fez uma pausa. Ele teria adorado você.
Por quê? Porque você tem a mesma curiosidade dele, a mesma vontade de cuidar das pessoas, de fazer diferença. Beatriz segurou a mão de Rafael, entrelaçando seus dedos. Quando você pretende se mudar para cá? nas próximas duas semanas. Já contratei uma equipe para os reparos básicos, eletricidade, encanamento, pintura. Ele hesitou. Beatriz, posso te fazer uma pergunta pessoal? Claro.
O que seus pais diriam sobre nós, sobre este relacionamento? Beatriz ficou em silêncio por um momento, observando as folhas dançarem na brisa. Meu pai morreu quando eu tinha 16 anos. Era um homem simples, trabalhava como mecânico, mas sempre dizia que o mais importante na vida era encontrar alguém que fizesse você querer ser uma pessoa melhor.
Ela sorriu tristemente. Acho que ele aprovaria você e sua mãe. Minha mãe é complicado. Ela se casou novamente quando eu tinha 18 anos e se mudou para o Rio Grande do Sul com o novo marido. Conversamos esporadicamente. Beatriz suspirou. Ela sempre foi muito focada em segurança financeira. Provavelmente adoraria a ideia de eu me casar com alguém da família Santos, mas não pela razão certa. Exatamente.
Para ela, amor é luxo, segurança é necessidade. Rafael apertou a mão dela. E para você? Para mim, amor e segurança andam juntos. Não é sobre dinheiro, é sobre confiança, sobre saber que a pessoa ao seu lado vai estar lá nos momentos difíceis. Como quando alguém tem um episódio de narcolepsia em um gazebo? Beatriz riu. Exatamente como isso.
Eles ficaram em silêncio confortável, observando a natureza ao redor. Rafael estava prestes a falar algo quando seu celular vibrou. Ele olhou a tela e franziu o senho. Problema? Beatriz perguntou. É da fazenda. Marcos dizendo que apareceu uma visita inesperada para mim. Que tipo de visita? Rafael leu a mensagem mais atentamente.
Uma moça chamada Camila diz que é urgente. Beatriz sentiu uma apontada estranha no estômago. Camila, quem é Camila? Rafael pareceu genuinamente confuso. Não faço ideia. O nome não me é familiar. Talvez seja sobre negócios. Talvez. Ele guardou o celular. Mas pode esperar. Hoje é nosso dia. Rafael. Se é urgente. Nada é mais urgente que isso? Ele disse, indicando o espaço entre eles.
Que nós Beatriz sorriu, mas a sensação estranha em seu estômago persistia. Alguma coisa sobre o nome Camila e a descrição urgente a incomodava, embora não soubesse explicar porquê. Você tem certeza? Posso esperar aqui enquanto você vai ver o que ela quer. Beatriz. Rafael se virou completamente para ela. Uma das coisas que mais amo em você é como você se preocupa com tudo e todos.
Mas hoje eu quero me concentrar apenas em nós, em planejar nosso futuro juntos. Nosso futuro juntos? Se você quiser. Sua voz ficou mais séria. Bia, eu sei que ainda é cedo, que nos conhecemos há poucas semanas, mas eu vejo um futuro com você. Vejo você nesta casa. Vejo nós trabalhando juntos no centro de saúde. Vejo vê o quê? Vejo uma família.
Não porque existe um contrato dizendo que devemos ter filhos, mas porque quero construir algo duradouro com você. O coração de Beatriz acelerou. Rafael, não precisa responder agora. Só queria que você soubesse que isto para mim não é casual. É sério? É para sempre, se você quiser. Antes que Beatriz pudesse responder, o celular de Rafael vibrou novamente. Desta vez, ele ignorou.
Atende, ela disse suavemente. Pode ser importante. Relutantemente, Rafael olhou a mensagem. Marcos diz que a moça está muito agitada. insiste que precisa falar comigo sobre nosso relacionamento anterior. Desta vez, foi Beatriz quem franziu o senho. Relacionamento anterior? Bia, eu juro que não sei quem é essa pessoa.
Talvez seja alguém que você conheceu e esqueceu, uma antiga colega de faculdade. Pode ser. Rafael se levantou. Vem comigo. Quero que você esteja lá quando eu conversar com ela para não haver mal entendidos. Beatriz hesitou.
Uma parte dela queria confiar completamente em Rafael, mas outra parte, a parte que havia aprendido a ser cautelosa, sussurrava que talvez houvesse mais nesta história. “Está bem”, ela disse. “Finalmente, “Vamos ver quem é esta Camila”. Mas enquanto voltavam para o carro, Beatriz não conseguia se livrar da sensação de que esta visita inesperada estava prestes a complicar tudo que eles estavam construindo. E ela estava certa.
A mulher que os esperava na varanda da casa principal era deslumbrante. Camila tinha cabelos loiros, longos e ondulados, olhos azuis impressionantes e um vestido vermelho que parecia ter saído diretamente de uma revista de moda. Ela se movimentava com a confiança de alguém acostumada a ser o centro das atenções.
Beatriz sentiu uma pontada de insegurança ao vê-la, especialmente quando notou a forma como Camila sorriu ao avistar Rafael. Rafael. Camila se aproximou com os braços abertos, mas ele manteve uma distância educada. Camila, certo, desculpe, mas não me lembro de onde nos conhecemos. A expressão de Camila vacilou por um momento, como se ela não esperasse essa reação.
Sério? Tá a festa de formatura do Carlos há dois anos. Passamos a noite inteira conversando sobre seus projetos sustentáveis na fazenda. Rafael franziu o senho, claramente fazendo um esforço para se lembrar. Carlos da agronomia, festa de formatura. Seu rosto se iluminou ligeiramente. Ah, sim. Você é a amiga que trabalha com marketing rural. Exato.
Camila sorriu triunfantemente, mas seu olhar se desviou para Beatriz com uma expressão que não era exatamente amigável. “E você deve ser? Beatriz”, Rafael disse, colocando um braço protetor ao redor da cintura dela. “Minha namorada.” “Namorada?” A surpresa na voz de Camila parecia genuína.
Mas Rafael, pensei que você tinha dito que não estava interessado em relacionamentos sérios. Beatriz sentiu o corpo de Rafael se tensionar ao lado dela. Camila, isso foi há dois anos. As pessoas mudam, as circunstâncias mudam. Claro, claro. Camila riu. Mas havia uma nota forçada em sua voz. É só que bom, depois daquela noite, eu meio que esperava que você entrasse em contato. Beatriz observava a interação com crescente desconforto.
Havia algo na dinâmica entre Rafael e Camila, que não parecia se encaixar com a versão que ele havia lhe contado. Camila! Rafael disse com firmeza. Desculpe se houve algum mal entendido, mas aquela foi apenas uma conversa amigável em uma festa. Nunca demos qualquer indicação de que Rafael, você me beijou. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor.
Beatriz sentiu como se o chão tivesse se aberto sob seus pés. Eu o quê? Rafael pareceu genuinamente chocado. No final da festa, você me beijou no jardim da casa do Carlos. Disse que eu era especial, que queria me conhecer melhor. Camila olhou diretamente para Beatriz. Desculpe, querida, mas achei que você deveria saber que o seu namorado tem histório.
Beatriz se afastou do braço de Rafael, seu mundo Tilting ligeiramente. Rafael, é verdade? Eu não me lembro. Sua voz saiu rouca. Camila, eu tinha bebido muito naquela festa. Se eu fiz alguma coisa, você não se lembra de me beijar? A voz de Camila estava carregada de mágoa. Foi um beijo lindo, Rafael, romântico. Você disse que eu era diferente de todas as outras. Beatriz sentia náusea subindo pela garganta.
Todas as inseguranças que havia tentado suprimir nas últimas semanas vieram à tona, como uma onda destruidora. Preciso de um momento”, ela murmurou, dirigindo-se para os jardins. “Bia, espera.” Rafael tentou segui-la, mas Camila tocou seu braço. “Rafael, podemos conversar? Em particular, há coisas que preciso te contar sobre aquela noite.
” Beatriz se virou, vendo a mão de Camila no braço de Rafael, a intimidade do gesto, a forma como ela olhava para ele. “Conversem à vontade”, ela disse, sua voz saindo mais fria do que pretendia. Parece que vocês têm muito o que esclarecer. Beatriz caminhou rapidamente para o Jardim das Rosas, tentando controlar a respiração. Tudo parecia estar desmoronando novamente. Primeiro os contratos secretos da família, agora uma ex-namorada misteriosa que Rafael havia esquecido de mencionar.
Ela se sentou em um banco próximo ao xafaris, tentando organizar os pensamentos. Rafael havia sido honesto sobre tudo mais. Sua narcolepsia, seus sonhos, suas dificuldades com a família, por esconderia um relacionamento anterior. Vozes elevadas chegaram até ela vindas da varanda. Embora não conseguisse distinguir as palavras, era óbvio que Rafael e Camila estavam tendo uma discussão intensa.
10 minutos depois, Rafael a encontrou no jardim. Seu rosto estava pálido e ele parecia perturbado. Beatriz, precisamos conversar. Sobre seu relacionamento com Camila. Não houve relacionamento com Camila. Rafael se sentou ao lado dela, mas manteve uma distância respeitosa. Pelo menos não da forma como ela está sugerindo.
Mas você a beijou? Aparentemente sim. Mas Bia, eu juro que não me lembro daquilo. Eu tinha bebido muito. Estava passando por um período difícil. Ele passou as mãos pelos cabelos. Isso não é desculpa, eu sei. Por que você estava passando por um período difícil? Rafael hesitou.
tinha acabado de receber o diagnóstico da narcolepsia. Estava confuso, revoltado, bebendo mais do que deveria. Beatriz o observou cuidadosamente. E o que Camila quis dizer com Há coisas que preciso te contar. Ela disse que tentou entrar em contato comigo várias vezes após aquela festa, ligações, mensagens, até mesmo apareceu na fazenda uma vez, mas eu estava evitando qualquer contato social.
Então, então você a ignorou completamente? Eu ignorei todo mundo completamente. Era um período muito escuro da minha vida. Beatriz se levantou e começou a andar pelo jardim. Rafael a seguindo a uma distância cautelosa. Rafael, você entende porque isso me incomoda? Claro que entendo e sinto muito. Deveria ter me lembrado. Deveria terte contado. Não é só sobre você não ter me contado.
É sobre como você tratou ela. Beatriz se virou para encará-lo. Se você realmente a beijou, se deu esperanças a ela e depois simplesmente desapareceu. Que tipo de homem isso faz de você? A pergunta o atingiu como um soco no estômago. Um homem que estava lidando muito mal com seus próprios problemas. Um homem que cometeu erros. Sua voz ficou mais baixa.
Um homem que não era maduro o suficiente para lidar com as consequências de suas ações. E agora? Você é maduro o suficiente agora? Rafael a olhou diretamente nos olhos. Espero que sim, porque a ideia de te magoar, mesmo sem intenção, me mata. Beatriz estudou seu rosto, procurando sinais de desonestidade.
Tudo que encontrou foi arrependimento genuíno e medo de perdê-la. O que você disse para Camila? Pedi desculpas. Expliquei sobre minha condição médica na época, sobre como estava lidando mal com tudo e deixei claro que estou comprometido com você. E ela aceitou? Rafael hesitou. Ela disse que entende, mas acho que ainda está magoada e tenho a impressão de que ela veio aqui esperando algo diferente.
Ela ainda está interessada em você. Pode ser. Mas isso não importa, Beatriz. A única mulher que me interessa é você. Beatriz ficou em silêncio por um longo momento, processando tudo. Uma parte dela queria fugir correndo, proteger-se de mais dor potencial, mas outra parte, a parte que havia visto Rafael cuidar de seus funcionários, que o observara abrir seu coração sobre suas vulnerabilidades, acreditava na sinceridade dele.
Rafael, se vamos continuar juntos, preciso que você seja completamente honesto comigo, sobretudo seu passado, seus medos, seus erros. Você você quer continuar? Quero, mas não posso lidar com mais surpresas. Não posso construir algo com alguém que esconde partes importantes de sua vida. Rafael se aproximou, mas não a tocou.
Então me pergunte qualquer coisa, tudo que você quiser saber sobre mim. Quantas mulheres você beijou e esqueceu apenas ela. E eu não esqueci por malícia, Bia. A narcolepsia afeta a memória, especialmente quando combinada com álcool. Você ainda bebe muito? Não. Aprendi que álcool e narcolepsia não se misturam. Bebo socialmente muito pouco e nunca quando estou estressado.
Há outras ex-namoradas que podem aparecer do nada? Não. Eu só tive dois relacionamentos sérios. Ambos terminaram amigavelmente e você já sabe sobre eles. Beatriz assentiu satisfeita com suas respostas por enquanto. Está bem. Mas, Rafael, se alguma coisa, qualquer coisa do seu passado aparecer novamente, você me conta imediatamente.
Combinado? Combinado. Ele estendeu a mão para ela. Podemos voltar a planejar nosso futuro? Beatriz olhou para a mão estendida, depois para o rosto esperançoso dele. “Podemos?”, ela disse, entrelaçando seus dedos. “Mas sem mais surpresas. Sem mais surpresas”, ele prometeu. Mas enquanto caminhavam de volta para a casa, nenhum dos dois podia imaginar que Camila estava observando da janela, um sorriso amargo no rosto e um plano se formando em sua mente, porque Camila não havia contado toda a verdade sobre por estava
ali e sua verdadeira agenda estava apenas começando a se desenrolar. Três dias haviam-se passado desde o encontro com Camila e embora Rafael e Beatriz tivessem conversado extensivamente sobre o incidente, uma tensão sutil persistia entre eles. Beatriz se esforçava para confiar completamente, mas pequenas dúvidas continuavam sussurrando em sua mente durante momentos de silêncio.
Rafael havia sugerido um encontro no gazebo, onde se beijaram pela primeira vez, esperando que o local trouxesse de volta a intimidade que parecia terse perdido. Ele chegou cedo, trazendo um violão e algumas partituras manuscritas, uma surpresa que vinha planejando há dias.
Quando Beatriz apareceu na trilha, vestindo um vestido azul claro que fazia seus olhos brilharem, Rafael sentiu o coração apertar. Ela estava linda como sempre, mas havia uma cautela em sua postura que não existia antes. “Trouxe música?”, ela perguntou, apontando para o violão. “Trouxe uma música para você.” Beatriz sentou ao lado dele, interessada, apesar de sua reserva. “Você compôs uma música para mim?” Compus.
Na verdade, comecei a compor no dia em que nos conhecemos, mas terminei na noite passada. Rafael ajustou o violão no colo, nervoso. “Posso tocar, por favor?”, Rafael respirou fundo e começou a dedilhar as cordas. A melodia era suave e melancólica, mas havia uma esperança crescente que permeava cada acorde.
Quando começou a cantar, sua voz grave encheu o espaço ao redor do gazebo. Você chegou como a chuva depois da seca. Trouxe vida onde eu só via vazio. Com seus olhos de tempestade e ternura acordou meu coração do frio. E eu, que nunca soube amar direito, aprendo contigo a cada dia como ser mais do que imaginei, como encontrar na escuridão a via. Beatriz sentiu lágrimas se formando em seus olhos.
A letra capturava perfeitamente a jornada emocional que haviam compartilhado, as dúvidas e esperanças que a atormentavam. Se você me der sua mão, prometo nunca mais soltar. Se você me der seu coração, prometo sempre cuidar. A última nota ecoou pelo jardim, misturando-se ao canto dos pássaros e ao sussurro do vento nas folhas. Rafael manteve os olhos fixos nas cordas do violão, nervoso demais para olhar diretamente para Beatriz.
“Rafael!” A voz dela saiu embargada de emoção. Quando ele finalmente ergueu os olhos, encontrou-a chorando silenciosamente, mas seu sorriso era radiante. “Foi a coisa mais linda que alguém já fez por mim.” Ela sussurrou. “Você gostou? Mesmo com minha voz meio desafinada, sua voz não está desafinada e mesmo que estivesse, não importaria.” Beatriz se aproximou dele. “A música é sobre nós.
É sobre como você mudou minha vida. Como me fez querer ser um homem melhor. Rafael colocou o violão de lado e segurou as mãos dela. Bia, sei que as coisas têm estado um pouco tensas entre nós desde que Camila apareceu. Rafael, deixe-me terminar, por favor. Ele respirou fundo. Eu entendo perfeitamente porque você ficou abalada.
Se fosse o contrário, se um ex aparecesse do nada e contasse histórias sobre você que eu não soubesse, eu também ficaria perturbado. Beatriz assentiu, tocada pela honestidade dele. Mas quero que você saiba algo. Ontem à noite fiquei acordado pensando em tudo que aconteceu entre nós desde o primeiro dia e percebi uma coisa importante.
O quê? Você é a primeira pessoa na minha vida com quem posso ser completamente eu mesmo, com anarcolepsia, com meus sonhos loucos, com meus medos, com tudo. Sua voz ficou mais intensa. Você não quer que eu seja perfeito, Bia. Você quer que eu seja real? É claro que quero. A perfeição é inediante.
Rafael riu baixinho. E é por isso que estou te dizendo algo que nunca contei para ninguém. Beatriz sentiu o coração acelerar. O quê? A razão pela qual não me lembro direito daquela noite com Camila não é apenas porque eu estava bebendo, é porque tive um episódio de narcolepsia grave durante a festa.
Como assim? Eu estava conversando com ela no jardim, me sentindo tonto por causa do álcool e do estresse. De repente, tudo ficou confuso. Acordei no carro do Carlos, com ele me levando para casa. Não me lembro de nada do que aconteceu entre a conversa inicial e acordar no carro. Beatriz franziu o senho, processando a informação.
Então, você não tem certeza se realmente a beijou? Não tenho certeza de nada do que aconteceu naquelas duas horas. Rafael passou a mão pelos cabelos. É por isso que não consegui te contar antes. Como vou explicar algo que eu mesmo não entendo, Rafael, por que você não me disse isso imediatamente quando Camila apareceu? Porque tinha vergonha. Porque odeio admitir que há períodos da minha vida que são apenas buracos negros.
Sua voz se quebrou ligeiramente. E porque tinha medo de que você percebesse que às vezes eu não tenho controle sobre o que acontece comigo. Beatriz sentiu o coração se partir um pouco. Ela se levantou e começou a andar pelo gazebo, tentando organizar os pensamentos.
Rafael, você entende que isso muda completamente a situação? Como assim? Se você teve um episódio de narcolepsia, então talvez Camila esteja interpretando erroneamente o que aconteceu. Talvez ela ache que vocês tiveram um momento romântico quando, na verdade você estava tendo um problema médico. Rafael não havia pensado nisso.
Você acha? Acho que precisamos conversar com ela novamente, esclarecer os fatos. Beatriz, ela já foi embora. Partiu ontem para São Paulo. Então vamos ligar para ela. Rafael hesitou. Você tem certeza? Não quero remexer mais nessa situação, Rafael. Se há uma chance de que todo esse mal entendido seja baseado em uma interpretação incorreta de um episódio médico seu, então precisamos esclarecer por ela e por nós.
A determinação na voz de Beatriz o impressionou. Ela não estava fugindo do problema, estava querendo resolvê-lo de frente. Está bem, vou ligar para ela agora. Rafael retirou o celular do bolso e discou o número que Camila havia deixado. A ligação foi atendida no terceiro toque. Rafael não esperava sua ligação.
Camila, desculpe incomodar, mas preciso esclarecer algumas coisas sobre aquela noite na festa do Carlos. Rafael ativou o vivoz para que Beatriz pudesse ouvir. Você se lembra exatamente do que aconteceu? Houve uma pausa do outro lado da linha. Claro que me lembro. Estávamos conversando no jardim.
Você disse que eu era especial, me beijou e depois ficou meio estranho. Estranho como você ficou confuso, começou a falar coisas que não faziam sentido. Pensei que fosse o álcool, mas pausa. Rafael, você estava bem naquela noite, porque depois do beijo você meio que desmaiou em pé. Foi muito esquisito. Beatriz e Rafael trocaram olhares significativos.
Camila, eu preciso te explicar algo que deveria ter explicado há dois anos. Rafael contou para Camila sobre sua narcolepsia, sobre como a condição afetava sua memória e comportamento, especialmente quando combinada com álcool e estress. O silêncio do outro lado da linha se estendeu por quase um minuto inteiro.
Rafael, você está dizendo que você tinha que estava doente naquela noite? Estava tendo um episódio médico. Sim. Meu Deus. A voz de Camila ficou pequena. Eu eu não sabia. Achei que você estava sendo romântico e depois mudou de ideia sobre mim. Camila, sinto muito. Deveria ter te explicado na época ou pelo menos tentado entrar em contato depois para esclarecer.
E eu que fiquei dois anos achando que você era um canalha que me deu esperanças e depois me ignorou completamente. Beatriz se sentiu mal pela mulher do outro lado da linha. Camila! Ela disse, aproximando-se do celular. Aqui é a Beatriz. Sinto muito por todo esse malentendido. Beatriz, olha, eu preciso pedir desculpas para você também. Vim aqui achando que Rafael tinha um histórico de ser irresponsável com os sentimentos das mulheres. Se eu soubesse sobre a condição médica dele, não se preocupe.
O importante é que agora todos entendemos o que realmente aconteceu. Houve outro momento de silêncio. Rafael, Camila disse finalmente. Você está bem agora com anarcolepsia, quero dizer. Estou bem. Faço tratamento. Tenho uma rotina controlada e tenho alguém especial que me ajuda a lidar com tudo. Que bom.
Vocês parecem felizes juntos. Somos Beatriz respondeu sorrindo para Rafael. Depois de se despedirem de Camila, Rafael desligou o telefone e se virou para Beatriz. Obrigado. Por quê? Por não fugir quando as coisas ficaram complicadas. por querer resolver o problema em vez de apenas evitá-lo. Rafael, relacionamentos sólidos são construídos enfrentando dificuldades juntos, não evitando-as.
Ele a puxou para um abraço, respirando o perfume suave de seus cabelos. Eu te amo, Beatriz. Era a primeira vez que ele dizia essas palavras. Beatriz sentiu como se seu coração fosse explodir de felicidade. Eu também te amo. Quando se beijaram desta vez, foi diferente de todos os beijos anteriores.
Era um beijo de duas pessoas que haviam enfrentado seu primeiro grande obstáculo juntas e saído mais fortes do outro lado. Agora, Rafael disse quando se separaram, podemos voltar a planejar nossa vida sem mais interrupções do passado? Podemos. Mas Rafael promete uma coisa. Qualquer coisa. Se algum dia você tiver dúvidas sobre algo, se não conseguir se lembrar de alguma coisa importante, você me conta imediatamente.
Não guarda para si mesmo, prometo. Total transparência daqui para a frente. Beatriz sorriu, finalmente sentindo que estavam no caminho certo. Então, sobre aquele centro de saúde rural, quando começamos? Amanhã, se você quiser, já tenho reunião marcada com os arquitetos. Sério? Sério? Nosso sonho vai virar realidade, Bia.
Enquanto voltavam para a casa de mãos dadas, ambos sentiam que haviam superado algo importante. Não sabiam que em sua teimosia, para resolver tudo perfeitamente, haviam aberto as portas para a revelação mais surpreendente de todas. Uma que estava prestes a mudar tudo que pensavam saber sobre suas próprias famílias. A reunião com os arquitetos na manhã seguinte estava sendo produtiva.
Rafael e Beatriz examinavam plantas baixas do futuro centro de saúde rural, fazendo ajustes e sugestões quando Marcos apareceu na porta do escritório com uma expressão preocupada. Rafael, desculpe interromper, mas tem uma situação que precisa da sua atenção. O que aconteceu? Dona Helena recebeu uma ligação complicada. Ela pediu para você ir até a casa principal imediatamente.
Rafael franziu o senho. Desde o episódio dos contratos, sua relação com a mãe estava tensa, embora respeitosa. Disse: “Do que se trata?” Não, mas ela parecia abalada. Rafael se virou para Beatriz. “Quer vir comigo? Você tem certeza? Talvez seja algo privado da família. Bia, você é parte da minha vida agora. Se é importante para mim, quero que você esteja por perto.
Eles encontraram dona Helena na sala de estar, visivelmente perturbada. Ela segurava um lenço de papel entre os dedos trêmulos e seus olhos estavam vermelhos. Mãe, o que aconteceu? Rafael, sente-se. Você também, Beatriz. O que vou contar? Vai ser difícil de processar.
Eles se acomodaram no sofá, Rafael automaticamente segurando a mão de Beatriz. A ligação era de Dr. Henrique da Faculdade de Enfermagem de Beatriz. Beatriz se endireitou surpresa. Dr. Henrique, por que ele ligaria para a senhora? Dona Helena evitou o olhar da jovem. Por porque ele é meu irmão. O silêncio que se seguiu foi completo. Beatriz sentia como se o mundo tivesse parado de girar.
Como assim, seu irmão? Rafael perguntou. Henrique Santos é meu irmão mais novo. Há 15 anos, ele se desentendeu com nosso pai sobre questões financeiras e decidiu seguir seu próprio caminho. Mudou o sobrenome para Silva, cortou relações com a família. Beatriz sentia a respiração ficando difícil. Então, então, Dr. Senrique, é seu tio avô, tecnicamente falando.
Dona Helena disse suavemente. E a mais? Mais. Rafael estava claramente lutando para processar a informação. Henrique me ligou porque porque ele sabia sobre o arranjo de casamento desde o início. Na verdade, foi ele quem sugeriu Beatriz para nossa família. A sala pareceu inclinar ao redor de Beatriz.
Ela se levantou abruptamente, caminhando em direção à janela. Vocês estão dizendo que meu professor, alguém em quem confio há três anos, armou este encontro entre mim e Rafael. Não, exatamente. Armou. Dona Helena tentou explicar quando soube que estávamos procurando uma jovem adequada para Rafael.
Ele mencionou você, disse que você era excepcional, que seria perfeita para nossa família. Mas por que ele faria isso? Por que não me disse que conhecia vocês? Dona Helena suspirou profundamente. Porque ele queria que você conhecesse Rafael por seus próprios méritos, não por obrigação familiar. E por quê? Ela hesitou, porque ele acredita que vocês são perfeitos.
um para o outro. Rafael se levantou e foi até Beatriz, tocando gentilmente seu ombro. Bia, isso muda alguma coisa entre nós? Ela se virou para ele, lágrimas brilhando em seus olhos. Não sei. Sinto como se toda a nossa história fosse manipulada, como se nada fosse real.
Tudo entre nós é real, Rafael disse com firmeza. Não importa como nos conhecemos, o que sinto por você é genuíno. Mas e se Dr. Henrique estiver manipulando meus sentimentos também? E se ele me contou coisas sobre você que me fizeram gostar de você? Dona Helena se aproximou cautelosamente. Beatriz, Henrique me disse que nunca mencionou Rafael para você antes do arranjo ser proposto.
Ele apenas observou suas qualidades e achou que vocês se complementariam. Isso não me faz sentir melhor. Sinto como se fosse um peão em um jogo que não entendo. Rafael segurou o rosto dela entre as mãos. Olha para mim. Você se lembra de como se sentiu quando me conheceu? da primeira conversa que tivemos, do primeiro beijo. Claro que me lembro.
Aqueles sentimentos eram seus ou doutor Henrique? Meus, ela admitiu relutantemente. E quando eu tive aquele episódio de narcolepsia no gazebo, quando você me cuidou sem hesitar, isso foi manipulação ou amor? Amor, ela sussurrou. Então não importa quem nos apresentou, Bia. O que construímos é nosso. Beatriz se afastou ainda processando tudo. Preciso conversar com ele, com o Dr. Henrique. Preciso entender porque ele fez isso.
Claro, dona Helena disse. Na verdade, ele está vindo para cá hoje à tarde. Quer muito conversar com vocês dois. Ele está vindo aqui? Sim. Disse que é hora de esclarecer tudo. Rafael observava Beatriz caminhar pela sala, vendo-a lutar com as revelações. “Há mais alguma coisa que devemos saber?”, Ele perguntou à mãe. Dona Helena, hesitou novamente.
Há uma conexão ainda mais profunda. Que tipo de conexão? Seu avô paterno, Beatriz. Seu verdadeiro avô? Não, o homem que sua avó se casou depois. Beatriz parou de andar. O que tem meu avô? Ele morreu antes de eu nascer. Ele não morreu. Dona Helena disse suavemente. Ele Ele é meu pai. Nosso pai. O silêncio desta vez foi absoluto.
Beatriz se apoiou na parede, sentindo as pernas fraquejarem. Vocês estão dizendo que que você e Rafael são primos distantes, que seu avô é também o avô dele. Rafael se sentou pesadamente no sofá, a informação o atingindo como um trem. Mãe, isso é como é possível? Seu avô teve um caso há muitos anos antes de se casar com sua avó. Resoltou numa filha, a mãe de Beatriz.
A menina foi criada pela família materna. Nunca soube quem era o pai verdadeiro. Beatriz sentia náusea subindo pela garganta. Então, tudo isso foi planejado pela família desde o início. Não planejado. Dona Helena se apressou em explicar. Descoberto. Quando Henrique mencionou seu nome, mandamos fazer uma investigação discreta sobre sua família.
Foi quando descobrimos a conexão e vocês acharam que estava tudo bem não me contar. Achamos que vocês deveriam se conhecer e se apaixonar primeiro. A conexão familiar é distante, não há problemas legais ou genéticos. Rafael se levantou e foi até Beatriz, que estava claramente em choque. Bia, respira. Isso não muda nada entre nós. Não muda nada. Ela o olhou com incredulidade.
Rafael, somos parentes. Toda a nossa família conspirou para nos juntar. Como isso não muda nada? Porque primos distantes se casam o tempo todo? Porque nosso sentimento é real. Porque? Porque vocês decidiram por mim? Beatriz explodiu. Todos vocês, Dr. Henrique. Sua família provavelmente até Conceição sabia. Conceição não sabe, dona Helena disse rapidamente.
Só descobrimos a conexão familiar depois que vocês já estavam se conhecendo. Beatriz caminhou em direção à porta. Preciso de ar. Preciso de tempo para processar tudo isso. Bia não vai embora. Rafael a alcançou na varanda. Vamos conversar sobre isso. Conversar sobre o que, Rafael? Sobre como nossas famílias nos manipularam.
Sobre como nada do que vivemos foi espontâneo. Sobre como o que sentimos um pelo outro é real, independente de como começou? Beatriz se virou para ele, lágrimas escorrendo pelo rosto. Como você pode ter tanta certeza? Porque quando olho para você, não vejo uma prima distante ou uma escolha da família.
Vejo a mulher que amo, que me conhece melhor que qualquer pessoa, que me faz querer ser melhor a cada dia. Rafael, case comigo. As palavras saíram antes que ele pudesse detê-las. Beatriz arregalou os olhos. O quê? Case comigo. Não por obrigação familiar, não por arranjos ou contratos. Case comigo porque me ama, como eu amo você. Rafael, você não pode estar falando sério. Não agora, não.
Depois de tudo que acabamos de descobrir. Estou falando sério, porque percebi uma coisa, Bia. Não importa como chegamos até aqui. O que importa é que chegamos e não quero perder você por causa dos jogos de outras pessoas. Beatriz o olhou por um longo momento, vendo amor genuíno e desespero em seus olhos verdes. “Preciso de tempo”, ela disse finalmente.
“Preciso conversar com o Dr. Fenrique, entender toda a verdade e preciso de tempo para processar tudo isso.” Quanto tempo? Não sei. Talvez dias, talvez semanas. Rafael assentiu, embora seu coração estivesse se partindo. Vou te dar o tempo que precisar, mas Bia, independente do que descobrirmos sobre nossas famílias, saiba que meu amor por você é a coisa mais real da minha vida.
Enquanto Beatriz se afastava pela alameda, Rafael permaneceu na varanda, observando-a partir. Dona Helena apareceu ao seu lado. Ela vai voltar, sua mãe disse suavemente. Como você pode ter certeza? Porque vocês foram feitos um para o outro e Amor verdadeiro sempre encontra um caminho. Mas enquanto observava o carro de Beatriz desaparecer entre as árvores, Rafael não conseguia se livrar da sensação de que desta vez talvez o amor não fosse suficiente para superar as complicações que suas famílias haviam criado. A casa de
Conceição nunca havia parecido tão pequena para Beatriz. Ela caminhava de um lado para outro na sala, relatando tudo que havia descoberto na fazenda Vista Alegre. Conceição a ouvia em silêncio, sua expressão mudando gradualmente de surpresa para preocupação e, finalmente, para algo que parecia culpa. Conceição, você sabia? Beatriz parou de andar e encarou a madrasta. Sobre Dr.
Henrique ser irmão de dona Helena, sobre a conexão familiar. Bia, sente-se, por favor. Responde a minha pergunta primeiro. Conceição suspirou profundamente. Eu não sabia sobre a conexão familiar, não. Isso é verdade. Mas eu sabia que Dr. Henrique conhecia a família Santos pessoalmente. Beatriz sentiu como se tivesse levado um soco no estômago.
E você não achou importante me contar isso, querida? Quando a proposta chegou, eu perguntei como eles souberam de você? Dr. Henrique me ligou e disse que havia recomendado você por ser uma aluna excepcional. Não mencionou parentesco, apenas que conhecia a família profissionalmente.
E você acreditou? Por que eu duvidaria? Henrique sempre foi um homem íntegro. Beatriz se jogou no sofá, se sentindo traída por todos ao seu redor. Então, todo mundo sabia de alguma coisa, menos eu. Bia, não é assim. É exatamente assim. Beatriz se levantou novamente. Vocês todos decidiram minha vida por mim, manipularam minhas escolhas.
Antes que Conceição pudesse responder, a campainha tocou pelo vidro da porta. Beatriz reconheceu a silhueta familiar de Dr. Henrique. Ele veio aqui, ela murmurou. Bia, você precisa ouvir o que ele tem a dizer. Não sei se quero ouvir mais mentiras. Mas quando Conceição abriu a porta, Dr.
Henrique entrou com uma expressão tão abatida que Beatriz sentiu sua raiva diminuir ligeiramente. O homem que sempre a havia inspirado com sua paixão pela medicina parecia ter envelhecido 10 anos em um dia. “Beatriz”, ele disse, sua voz carregada de pesar. “Sei que está furiosa comigo e tem todo o direito. Furious é pouco, Dr. Zenrique. Sinto como se minha vida inteira fosse uma mentira. Posso explicar? Pode tentar.
Dr. Henrique se sentou na poltrona em frente ao sofá e Beatriz notou que suas mãos tremiam ligeiramente. Primeiro quero que você saiba que tudo que ensinei a você sobre medicina, sobre cuidar de pessoas, sobre ser uma enfermeira excepcional, isso tudo é verdade. Você é a aluna mais talentosa que já tive.
Mas mas quando soube que minha família estava procurando uma esposa para Rafael, imediatamente pensei em você. Por quê? Dr. Henrique suspirou. Porque conheço Rafael desde que ele era criança. Sei do tipo de homem que ele se tornou, gentil, dedicado, com um coração imenso.
E porque vejo em você as mesmas qualidades, então você decidiu brincar de Cupido. Decidi dar uma oportunidade para duas pessoas especiais se conhecerem. Beatriz balançou a cabeça. Dr. Henrique, você não tinha o direito de tomar essa decisão por mim. Eu sei e sinto muito por isso. Ele se inclinou para a frente. Mas Beatriz, posso te fazer uma pergunta? Que pergunta? Você teria conhecido o Rafael de alguma outra forma? Alguém da sua situação financeira, estudante de enfermagem, filha de dono de pousada, você teria cruzado o caminho de um herdeiro de fazenda de café? A pergunta a apegou de
surpresa. Provavelmente não. Mas então eu apenas abri uma porta. O que vocês fizeram depois de atravessá-la foi escolha de vocês, mas você influenciou minhas decisões todas as vezes que falou sobre a importância de encontrar alguém que nos complete, sobre como o amor verdadeiro vale qualquer sacrifício.
Eu nunca falei sobre Rafael especificamente, nunca manipulei seus sentimentos em relação a ele. Beatriz parou para pensar. Era verdade. Dr. Henrique nunca havia mencionado Rafael diretamente até o dia da proposta. Mesmo assim, você deveria ter me contado sobre a conexão familiar. Sobre isso, doutor Henrique hesitou.
Preciso esclarecer algo importante. O que mais? A história sobre seu avô não está completa. Conceição se endireitou na cadeira. Como assim? É verdade que o pai de Helena é também o avô biológico de Beatriz, mas há uma parte da história que Helena não sabe. Beatriz sentiu o coração acelerar.
Que parte? Seu avô não abandonou sua avó materna. Ele nunca soube que tinha uma filha. O silêncio na sala era ensurdecedor. Como assim? Nunca soube. Conceição perguntou. A mãe de Beatriz foi resultado de uma noite entre dois jovens que se amavam, mas que pertenciam a famílias rivais.
Quando sua avó descobriu a gravidez, a família a mandou para longe e disse ao rapaz que ela havia se mudado e se casado com outro. Beatriz sentia as peças de um quebra-cabeças complexo se reorganizando em sua mente. Então, minha avó passou a vida inteira amando um homem que nunca soube que tinha uma filha com ela. E ele passou a vida inteira se perguntando o que havia acontecido com o grande amor de sua juventude. Dr.
Henrique, Conceição disse suavemente. Como você sabe de tudo isso? Porque eu estava lá. Era criança, mas me lembro das conversas sussurradas dos adultos falando sobre o escândalo. Anos depois, quando me tornei médico, ajudei minha mãe, a avó de Beatriz, nos últimos dias de vida. Foi quando ela me contou toda a verdade. Beatriz se levantou e caminhou até a janela, tentando processar tudo.
Então, minha avó amou o avô do Rafael a vida inteira? Sim, e ele também nunca se esqueceu dela. Helena me contou que até os últimos dias de vida ele ainda mencionava uma moça que conheceu na juventude e que nunca conseguiu esquecer. Isso é trágico e romântico ao mesmo tempo, Conceição murmurou. E é por isso, doutor Henrique continuou, que quando vi você e Rafael juntos na fazenda, quando percebi como vocês se olhavam, senti como se o destino estivesse corrigindo um erro do passado.
Beatriz se virou para ele. Você acha que Rafael e eu somos uma segunda chance para nossos avós? Acho que vocês são uma história própria, mas sim, há uma beleza poética em dois netos de pessoas que se amaram profundamente encontrarem o amor um no outro. Doutor Henrique, Beatriz disse devagar.
Eu entendo suas motivações agora, mas ainda acho que você deveria ter me contado tudo desde o início. Você está certa e peço perdão por isso. Ele se levantou. Mas Beatriz, posso te pedir algo? O quê? Não deixe os erros dos adultos ao seu redor destruírem algo bonito que você construiu. Rafael é um homem bom. Você é uma mulher excepcional. O que vocês têm é real, independente de como começou.
Beatriz ficou em silêncio por um longo momento. Preciso conversar com ele, com Rafael. Claro, ele está te esperando. Como você sabe? Dr. Henrique sorriu tristemente, porque é exatamente o que eu faria se estivesse perdendo a pessoa que amo. Depois que Dr. Henrique saiu, Beatriz se sentou novamente. Sua mente uma tempestade de emoções conflitantes.
“O que você vai fazer?”, Conceição perguntou gentilmente: “Vou voltar para a fazenda. Vou conversar com Rafael.” E depois Beatriz olhou para a madrasta, uma nova determinação brilhando em seus olhos. Depois vou decidir se nosso amor é forte o suficiente para superar todas essas complicações familiares. E você acha que é? Espero que sim, Conceição, porque descobri uma coisa hoje.
O quê? Que posso estar furiosa com nossas famílias? Posso me sentir manipulada e traía, mas quando penso em perder Rafael, é como se meu coração parasse de bater. Conceição sorriu. Então você já tem sua resposta. Tenho. Tem. Agora só precisa de coragem para agir conforme seu coração.
Beatriz olhou pela janela em direção às colinas, onde sabia que Rafael estava esperando, provavelmente se torturando mentalmente com a possibilidade de perdê-la. Era hora de descobrir se o amor verdadeiro era mesmo capaz de vencer todas as adversidades. A noite havia caído quando Beatriz chegou à fazenda Vista Alegre. Suas mãos tremiam levemente no volante enquanto estacionava próximo à casa do avô, onde sabia que encontraria Rafael.
As janelas estavam iluminadas e ela podia ver sua silhueta se movendo lentamente pela sala. Respirou fundo antes de bater na porta. Quando Rafael abriu, ela ficou chocada com sua aparência. Seus olhos estavam vermelhos, os cabelos despenteados e ele parecia não ter dormido nas últimas 24 horas. “Pia”, ele sussurrou como se não acreditasse que ela estava ali. “Podemos conversar?” “Claro, claro, entre.
” A casa estava diferente desde a última vez que ela a visitara. Rafael havia começado a mudança. Havia caixas espalhadas, móveis cobertos com lençóis e um violão apoiado contra a parede. Mas o que mais chamou sua atenção foram os papéis espalhados sobre a mesa da sala. “O que é isso?”, ela perguntou, aproximando-se.
“São, são todas as informações que consegui reunir sobre nossa situação familiar.” Rafael passou a mão pelos cabelos. Passei o dia inteiro tentando entender toda a cronologia, todas as conexões. Beatriz examinou os documentos, árvores genealógicas, cópias de certidões, anotações manuscritas e o que descobriu que nossa história familiar é ainda mais complicada do que imaginávamos. Como assim? Rafael apontou para uma série de documentos.
Lembra que, doutor? Henrique disse que nossos avós se amaram, mas foram separados por famílias rivais. Sim, a rivalidade era sobre terras. As famílias disputavam a posse das terras onde hoje fica a nossa fazenda. Beatriz sentiu uma pontada no estômago e e quando nosso avô se casou com minha avó anos depois, ele estava, na verdade, consolidando a posse dessas terras através do casamento.
Rafael, o que você está tentando dizer? Ele se virou para ela, agonia clara em seus olhos verdes. Estou dizendo que talvez nossa família tenha sido construída sobre a dor da sua família, que talvez toda a nossa riqueza tenha custado à felicidade dos seus ancestrais. Beatriz sentou pesadamente no sofá. Você acha que que isso faz diferença para nós? Não sei.
Rafael explodiu. Não sei mais de nada, Bia. Não sei se estamos destinados a ficar juntos ou se somos amaldiçoados a repetir os erros do passado. Rafael, e tem mais. Ele pegou outro documento. Descobri porque Dr. Henrique realmente cortou relações com nossa família. Por quê? Porque ele se apaixonou pela filha de um funcionário da fazenda quando era jovem. Meu avô o proibiu de se casar com ela.
Disse que seria um escândalo para a família. O que aconteceu com a moça? Ela se mudou para a cidade, se casou com outro homem. Dr. Henrique nunca se casou. Beatriz sentiu lágrimas se formando em seus olhos. Então ele passou a vida inteira sozinho por causa dos preconceitos da sua família.
E agora ele está tentando nos juntar porque vê em nós uma chance de reparar o que foi quebrado no passado. Rafael, olha para mim. Ele obedeceu e ela viu medo em seus olhos. Medo de perdê-la, medo de repetir os erros familiares, medo de que o amor não fosse suficiente. Você acha que nosso amor é real? Acho. Sei que é. E você acha que eu amo você pelo seu dinheiro, pela sua posição social? Não. Você me ama apesar dessas coisas.
Então, por que importa como nossas famílias se comportaram no passado? Rafael ficou em silêncio, processando a pergunta. Por que? Porque tenho medo de que estejamos condenados a repetir os mesmos padrões, que nossa felicidade seja construída sobre a infelicidade de outros. Beatriz se levantou e caminhou até ele.
Rafael, você se lembra do projeto do Centro de Saúde Rural? Claro. Para quem ele vai atender? para a comunidade local, funcionários da fazenda, famílias carentes da região. Exato. Você está usando os recursos da sua família para cuidar das pessoas que historicamente foram prejudicadas por ela. Não está perpetuando injustiças, está tentando corrigi-las.
Rafael a olhou com uma expressão de revelação crescente. Eu nunca pensei nisso dessa forma. E quanto a nós, você acha que nossa união seria sobre poder, dinheiro, status? Não seria sobre amor, parceria, construir algo significativo juntos. Então, como estaríamos repetindo os erros do passado? Rafael segurou o rosto dela entre as mãos. Bia, você tem razão.
Eu estava tão assombrado pelos fantasmas do passado que esqueci de olhar para o presente. Rafael, eu passei o dia inteiro furiosa com nossas famílias. Senti como se toda a nossa história fosse uma mentira. E agora? Agora percebo que não importa como começamos. O que importa é que escolhemos continuar todos os dias escolhemos ficar juntos, apoiar um ao outro, construir algo bonito, mesmo sabendo de toda a manipulação, de todos os segredos, especialmente sabendo disso, porque agora sabemos que podemos superar qualquer obstáculo juntos. Rafael a puxou para um abraço desesperado. Bia,
eu pensei que ia te perder. Você quase perdeu. Não vou mentir. Por um momento, considerei fugir de tudo isso. O que mudou sua opinião? Dr. Henrique me fez uma pergunta importante. Que pergunta? Ele perguntou se eu teria conhecido você de alguma outra forma e a resposta é não. E isso te incomoda? No início? Sim.
Mas depois percebi uma coisa. Ela se afastou para olhá-lo nos olhos. Talvez o destino tenha usado nossas famílias para nos aproximar. Talvez toda essa confusão, toda essa manipulação tenha sido apenas o universo, tentando corrigir uma injustiça antiga. Você acredita nisso? Acredito que nossos avós se amavam verdadeiramente e foram separados por preconceitos e ganância.
Acredito que Dr. Henrique perdeu o amor da vida dele pelos mesmos motivos e acredito que nós temos a chance de escrever um final diferente para essa história. Rafael sorriu e foi como se o sol nascesse no meio da noite. Então você aceita? Aceito o quê? Casar comigo de verdade desta vez. Não por arranjo familiar, não por pressão, mas porque escolhemos construir uma vida juntos.
Beatriz ficou em silêncio por um momento que pareceu uma eternidade. Rafael Santos, você está me pedindo em casamento em uma casa meio destruída, cercados de documentos familiares depois do dia mais confuso de nossas vidas. Estou sem anel, sem flores, sem nada romântico, com apenas meu amor e a promessa de que vou lutar por nós todos os dias.
Beatriz sorriu, lágrimas escorrendo pelo rosto. Então, sim, sim, eu aceito casar com você. O beijo que se seguiu foi diferente de todos os anteriores. Era um beijo de duas pessoas que haviam atravessado o fogo juntas e emergido mais fortes do outro lado. Quando se separaram, Rafael segurou as mãos dela.
Pia, promete uma coisa? O quê? Que vamos fazer as coisas do nosso jeito daqui paraa frente, sem interferência das famílias, sem pressões externas, apenas nós dois construindo nossa própria história. Prometo. Mas Rafael também promete uma coisa para mim.
Qualquer coisa que vamos usar nossa história, toda ela, incluindo as partes difíceis para ajudar outros casais que estão enfrentando pressões familiares. Como assim? O Centro de Saúde Rural pode ter um programa de aconselhamento familiar. Podemos ajudar pessoas que estão passando pelo mesmo que passamos. Rafael a olhou com admiração renovada. Como você consegue transformar nossa dor em algo que pode ajudar outros? Porque aprendi com uma pessoa muito sábia que o amor verdadeiro sempre encontra uma maneira de curar não apenas a nós mesmos, mas também ao mundo ao nosso redor? Quem te ensinou isso? Você, Rafael, você me ensinou isso. E enquanto
se abraçavam na casa, onde começariam sua nova vida juntos, cercados pelos fantasmas do passado, que finalmente haviam sido postos para descansar, Beatriz e Rafael sabiam que haviam superado o maior teste que o amor poderia enfrentar. Agora só restava viver felizes para sempre. Seis meses depois, a fazenda Vista Alegre estava irreconhecível.
O que antes era apenas uma propriedade rural havia se transformado em um centro vibrante de atividade comunitária. O centro de saúde rural estava em plena construção e já se podia ver como seria impressionante quando terminado. Beatriz chegou ao local da obra pela manhã, carregando uma pasta com os últimos ajustes do projeto.
Ela havia se formado em enfermagem três semanas antes, com uma cerimônia emocionante, onde Rafael Conceição, Dr. Henrique e até mesmo dona Helena estavam presentes para aplaudir. Como está nossa futura coordenadora? Rafael apareceu por trás dela, envolvendo-a com os braços sujos de tinta. Nossa futura coordenadora está revisando os planos da ala pediátrica.
Ela se virou nos braços dele. E você, como está nosso futuro diretor executivo? Ansioso para ver tudo funcionando, eles observaram juntos o movimento da construção. Operários trabalhavam com dedicação e Beatriz reconheceu vários rostos familiares, funcionários da fazenda, cujas famílias seriam beneficiadas pelo centro.
Marcos me disse que dona Albertina confirmou presença para a inauguração Rafael comentou. Sério? Que maravilha. Beatriz sorriu. A idosa do lar de repouso havia se tornado uma espécie de mascote do projeto, sempre oferecendo conselhos sobre como organizar atividades intergeracionais. E tem mais novidades. Que tipo de novidades? Rafael retirou um envelope do bolso da camisa. Aprovaram nossa solicitação para expandir o programa.
Vamos poder atender três cidades vizinhas. Beatriz arregalou os olhos. Rafael, isso é incrível. Quantas famílias isso vai beneficiar? quase 2000 pessoas. Ela o beijou impulsivamente, ainda segurando o envelope. Estou tão orgulhosa de nós. Eu também. E falando em orgulho, Rafael verificou o relógio. Sua mãe deve estar chegando.
Minha mãe? Beatriz ficou confusa. Ela não disse que vinha hoje, porque foi surpresa minha. Conversei com ela semana passada, contei sobre o casamento, sobre o projeto. Ela quis muito vir conhecer tudo pessoalmente. Beatriz sentiu lágrimas se formando em seus olhos.
A relação com a mãe havia sido sempre complicada, mas nas últimas semanas elas haviam se falado mais frequentemente. Rafael, você não precisava. Precisava. Sim. Quero que nossa família esteja completa quando nos casarmos. Nossa família, sua mãe Conceição, minha família. Dr. Henrique, todos que fazem parte da nossa história. Um carro familiar apareceu na estrada de acesso à fazenda.
Beatriz reconheceu imediatamente o Corolla Azul que sua mãe dirigia. Lá vem ela. Rafael disse. Quer que eu venha com você? Não, quero recebê-la sozinha primeiro, mas Rafael, obrigada por tudo. Beatriz caminhou em direção ao carro, sentindo uma mistura de nervosismo e expectativa.
Quando sua mãe desceu do veículo, ela ficou surpresa. A mulher parecia mais jovem, mais relaxada do que se lembrava. Mãe, Beatriz, minha filha, o abraço que trocaram foi genuíno, caloroso, de uma forma que não acontecia há anos. Deixe-me olhar para você”, a mãe disse, afastando-se. “Está radiante. O amor te faz bem, mãe. Senti sua falta. Eu também, querida.
E me desculpe por ter estado tão ausente. Sei que não fui a mãe que você merecia. Não precisamos falar sobre isso agora. Precisamos sim.” A mãe segurou suas mãos. Beatriz, quando soube sobre seu casamento, sobre tudo que você está construindo aqui, percebi que criei uma filha extraordinária, apesar dos meus erros.
Não por causa deles. Mãe, quero conhecer Rafael adequadamente desta vez. Quero conhecer Conceição, essa mulher maravilhosa que cuidou de você quando eu não pude e quero fazer parte da sua vida daqui para a frente, se você me deixar. Beatriz abraçou a mãe novamente, desta vez deixando as lágrimas fluírem livremente. Claro que quero. Sempre quis.
Rafael se aproximou discretamente, esperando o momento certo para se apresentar. Mãe, este é Rafael. Rafael. A mãe estendeu a mão, mas ele a surpreendeu com um abraço. Senora Rosa, é um prazer conhecê-la, finalmente. Beatriz fala muito sobre a senhora. Só coisas boas, espero. Apenas coisas cheias de amor. A resposta claramente tocou a mãe de Beatriz. Rafael, posso te fazer uma pergunta? Claro.
Você faz minha filha feliz? Tento todos os dias e ela me faz mais feliz do que imaginei ser possível. Então você tem minha bênção. Obrigado. Isso significa muito para nós. O resto do dia foi uma celebração improvisada. Conceição se juntou a eles para o almoço. Doutor Henrique apareceu com uma garrafa de champanhe e até mesmo dona Helena foi convidada para se juntar ao grupo.
Foi durante o almoço que Beatriz fez um anúncio que surpreendeu a todos. Tenho uma novidade para compartilhar com vocês. Que novidade? Rafael perguntou. Recebi uma ligação hoje de manhã. A Universidade de São Paulo quer fazer uma parceria conosco. Que tipo de parceria? Dr. Henrique se inclinou para a frente interessado.
Eles querem usar nosso centro como modelo para um programa nacional de saúde rural comunitária e querem que eu faça um mestrado em gestão de saúde pública enquanto coordeno o projeto. O silêncio que se seguiu foi de pura admiração. Bia, isso é incrível, Rafael disse finalmente, há mais. Eles também querem incluir Rafael no programa como especialista em sustentabilidade rural.
Nós dois juntos, juntos como sempre. Rafael se levantou e a puxou para um beijo que arrancou aplausos da mesa. Aceita? Ele perguntou. Nós aceitamos, ela corrigiu, sempre nós. Dois anos depois, o Centro de Saúde Rural estava funcionando em plena capacidade. Beatriz, agora com seu mestrado concluído, coordenava uma equipe de 15 profissionais de saúde.
Rafael havia expandido os programas de sustentabilidade para 10 fazendas da região. Mas nesta manhã específica de sábado, eles não estavam pensando em trabalho. estavam em pé no altar improvisado, que haviam montado no gazebo onde se beijaram pela primeira vez, cercados por todos que amavam. Conceição chorava discretamente na primeira fileira ao lado da mãe de Beatriz. Dr.
Henrique estava ali como padrinho improvisado de ambos. Dona Helena havia se reconciliado completamente com o casal e até mesmo Camila havia sido convidada. Ela e Letícia, irmã mais nova de Beatriz, haviam se tornado amigas improváveis e estavam namorando há se meses. Rafael Santos Beatriz disse, segurando as mãos dele.
Quando nos conhecemos, eu achei que estava aceitando um arranjo familiar. Não sabia que estava encontrando minha alma gêmea. Beatriz Silva. Rafael respondeu, sua voz embargada de emoção. Você me ensinou que o amor verdadeiro não é sobre encontrar alguém perfeito, mas sobre encontrar alguém que faz você querer ser a melhor versão de si mesmo. O juiz de paz sorriu.
Pelos poderes que me foram conferidos e testemunhando o amor óbvio entre vocês, eu os declaro marido e mulher. O beijo que se seguiu foi aplaudido não apenas pelos convidados, mas também pelos funcionários da fazenda, que haviam parado o trabalho para testemunhar o momento. Quando se separaram, Rafael sussurrou no ouvido de Beatriz: “Pronta para nossa próxima aventura, senora Santos.
Pronta para qualquer aventura, desde que seja ao seu lado.” Epílogo. 5 anos depois. A casa do avô estava irreconhecível, transformada em um lar cheio de vida. Beatriz balançava suavemente uma criança de dois anos no colo enquanto observava Rafael no jardim, ensinando um menino de 4 anos a plantar mudas de café.
“Mamãe, papai disse que quando eu crescer posso ajudar no centro de saúde.” A menina de 6 anos gritou correndo pela varanda. Ele disse isso mesmo, Maria. Beatriz sorriu. Sua filha mais velha havia herdado sua paixão por cuidar de pessoas. disse: “E que vou ser a melhor enfermeira do mundo.” Rafael se aproximou, carregando o filho mais novo, ambos sujos de terra.
“Como estão minhas meninas favoritas?” Perguntando sobre o futuro, Beatriz Riu. Maria quer ser enfermeira, João quer ser fazendeiro sustentável e Ana? Ela olhou para a criança de 2 anos. Ana ainda não decidiu. Tempo suficiente para decidir. Rafael se sentou ao lado dela na varanda, observando a paisagem que havia se tornado sua vida.
Os jardins onde suas crianças brincavam, o centro de saúde ao longe, onde trabalhavam juntos, as montanhas que testemunharam sua história de amor. Rafael, sim. Você se arrepende de alguma coisa? Ele pensou por um momento. Me arrependo de não ter sido honesto sobre algumas coisas desde o início. Me arrependo dos jogos que nossas famílias jogaram.
Mas me arrepender de ter conhecido você? Jamais. Mesmo que tenha sido através de um casamento arranjado, especialmente por ter sido através de um casamento arranjado, nos deu a chance de construir algo real sem as ilusões que às vezes acompanham paixões súbitas. Beatriz observou seus filhos brincando, pensando na jornada que os havia trazido até ali.
Sabe o que eu acho mais bonito na nossa história? O quê? Que conseguimos transformar as manipulações de outras pessoas em escolhas verdadeiras, que transformamos um arranjo familiar em amor verdadeiro e que estamos criando nossos filhos para fazerem suas próprias escolhas. Exatamente. O sol estava se pondo, pintando o céu de laranjas e rosas.
As crianças se reuniram ao redor deles na varanda e Rafael pegou o violão que sempre mantinha por perto. “Qual música hoje?”, ele perguntou. “A nossa!”, Maria, gritou. “Canta a música que você fez para a mamãe”. Rafael e Beatriz trocaram um olhar carinhoso. Mesmo depois de todos esses anos, aquela música ainda os emocionava. Enquanto Rafael cantava e as crianças tentavam acompanhar a melodia, Beatriz pensou em como a vida tinha um jeito curioso de nos dar exatamente o que precisamos, mesmo quando não sabemos que estamos procurando. O que começou como um casamento arranjado havia se
transformado na maior aventura de suas vidas, uma aventura de amor, crescimento, família e propósito. E mientras observava seu marido cantar para seus filhos sob o céu estrelado, Beatriz soube com certeza absoluta que algumas histórias de amor são tão poderosas que conseguem reescrever o destino.
O amor verdadeiro não é encontrado, é construído tijolo por tijolo, escolha por escolha, dia após dia, até que se torna uma fortaleza capaz de resistir a qualquer tempestade.
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