Você já imaginou ser forçado a casar com alguém que mal conhece? Essa história vai te fazer acreditar que até os corações mais frios podem derreter. Mas antes, me conta de onde você está assistindo esse vídeo. Comenta aí sua cidade. E se você quer mais histórias emocionantes como essa, se inscreve no canal e deixa aquele like moon para fortalecer.
A noite caía sobre São Paulo como um manto pesado de luzes e promessas vazias. No trieso andar de um prédio em Moema, Marina Silva ajustava nervosamente a saia do uniforme azul marinho enquanto esperava na antesala do escritório de Roberto Andrade.
Seus dedos tremiam e ela entrelaçava as mãos para disfarçar a ansiedade que corria em suas veias como eletricidade descontrolada. Ao seu lado, seus pais, Carlos e Rosa Silva, mantinham uma postura rígida, os rostos marcados por 20 anos de trabalho dedicado à família Andrade. Carlos segurava o boné entre as mãos calejadas, girando-o em círculos lentos. Rosa mordia o lábio inferior, um hábito que Marina herdara.
Podem entrar”, anunciou a secretária, abrindo as portas duplas de Mogno. O escritório de Roberto Andrade era uma declaração de poder. Paredes de vidro com vista panorâmica para a cidade iluminada, móveis de couro italiano, quadros que custavam mais do que Marina ganharia em toda sua vida.
O empresário estava sentado atrás de uma mesa imponente, os dedos entrelaçados sobre a superfície polida. Seu rosto, marcado por rugas de preocupação e comando, exibia uma expressão grave. “Sentem-se”, ordenou, apontando para as cadeiras à frente da mesa. Marina sentou-se na ponta da cadeira, como se pronta para fugir a qualquer momento.
Seus olhos castanhos, grandes e expressivos, observavam cada detalhe do ambiente enquanto seu coração martelava contra as costelas. Roberto suspirou pesadamente, passando a mão pelos cabelos grisalhos. Vocês sabem porque os chamei aqui? Não era uma pergunta, era uma afirmação carregada de peso e expectativa. Carlos pigarriou. Senr.
Andrade, com todo respeito, quando o senhor mencionou essa proposta, eu pensei que estava brincando. Eu nunca brinco com negócios, Carlos, especialmente quando envolvem o futuro da minha família e da empresa. Roberto se levantou. Caminhando até a janela. A cidade piscava lá embaixo, alheia ao drama que se desenrolava naquele escritório. Lucas está destruindo tudo que construir. Toda semana é uma nova manchete, um novo escândalo.
Bebidas, festas, mulheres. Ele está se afogando em sua própria irresponsabilidade. Marina engoliu em seco. Lucas Andrade. O nome ecoava em sua mente como uma melodia proibida. Ela o conhecia desde os 15 anos, quando seus pais começaram a trabalhar na mansão da família. Lembrava-se perfeitamente do primeiro dia em que o viu.
Cabelos escuros despenteados, olhos azuis que pareciam guardar tempestades, um sorriso arrogante que fazia o coração dela disparar, mesmo sabendo que ele nunca a anotaria. Durante 5 anos, Marina construiu um amor silencioso, observando-o de longe, como quem admira uma obra de arte em um museu. Bela, inatingível, distante. Quantas noites ela passou imaginando como seria ser notada por ele.
Quantas vezes seu coração acelerou quando ele passava por ela nos corredores da mansão, sempre apressado, sempre com pressa para viver sua vida de excessos. Marina. A voz de Roberto a trouxe de volta à realidade cruel. O empresário agora estava de frente para ela. Seus olhos penetrantes fixos nos dela. Você é uma moça de bem, estudiosa, responsável, criada com valores, exatamente o oposto do que meu filho se tornou. Senr. Andrade. Rosa interveio. A voz trêmula. Nossa filha tem apenas 20 anos.
Ela está na faculdade, tem sonhos, planos. E eu vou realizar todos esses sonhos. cortou Roberto, voltando para sua cadeira. Ele abriu uma gaveta e tirou uma pasta de documentos. Se Marina aceitar se casar com Lucas, vocês receberão uma casa própria, quitada no bairro que escolherem. A faculdade de Marina será paga integralmente, incluindo mestrado, se ela quiser. Além disso, um fundo de garantia de R$ 500.
000 R será depositado em nome dela. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Marina sentiu o sangue gelar em suas veias. Casa-se com Lucas. O Lucas que mal sabia de sua existência. O Lucas, que toda semana saía nas colunas sociais, abraçado com uma modelo diferente. “O senhor está pedindo que nossa filha se venda”, Carlos disse, a voz carregada de uma dor profunda.
“Estou oferecendo uma oportunidade.” Roberto rebateu, o tom frio como aço. “Uma oportunidade de mudar o destino de vocês três. Vocês vão trabalhar até quando, Carlos?” Rosa, seus corpos já dão sinais de cansaço. E Marina, vai trabalhar em dois empregos enquanto estuda, assim como faz agora? Vai viver em um apartamento alugado a vida toda? Cada palavra era uma lâmina afiada, cortando as ilusões que eles tentavam manter. Por que ela? Rosa perguntou, lágrimas brilhando em seus olhos.
Por que nossa Marina? Roberto suspirou. E, pela primeira vez uma centelha de humanidade apareceu em seus olhos. Porque eu a vejo cuidando da minha casa há 5 anos, porque eu sei que ela é pura, honesta, trabalhadora, porque preciso de alguém que possa mostrar ao Lucas que existe outro jeito de viver. Alguém que não esteja interessada no dinheiro dele, no status, nas festas. Alguém real.
Marina finalmente encontrou sua voz, embora saísse trêmula e fraca. E o Lucas? Ele sabe disso. Um sorriso amargo cruzou o rosto de Roberto. Lucas vai saber amanhã e ele vai aceitar porque caso contrário será deserdado completamente, sem dinheiro, sem apartamento, sem cartões de crédito, nada.
Isso é uma prisão! Marina sussurrou, sentindo lágrimas queimarem seus olhos. Para nós dois é uma salvação. Roberto corrigiu, sua voz suavizando levemente para todos vocês e especialmente para meu filho, antes que ele se destrua completamente. Carlos e Rosa se entreolharam, uma conversa silenciosa acontecendo entre eles.
20 anos de casamento criavam esse tipo de comunicação muda, onde gestos e olhares diziam mais que palavras. Rosa finalmente se virou para a filha, segurando suas mãos. Marina, minha filha, nós nunca vamos te obrigar a fazer isso. A escolha é sua e somente sua. Marina olhou para as mãos entrelaçadas com as de sua mãe.
Mãos que trabalharam incansavelmente, que lavaram, cozinharam, limparam por 20 anos, mãos que mereciam descanso. Ela olhou para seu pai, vendo as costas curvadas pelo peso de carregar móveis, fazer reparos, cuidar do jardim imenso da mansão do Zandrade. E então, em um canto escondido de seu coração, admitiu a verdade que a queimava por dentro. Ela amava Lucas Andrade.
Amava há 5 anos em silêncio, sem esperança, sem reciprocidade. Amava cada falha dele, cada erro, cada escândalo, porque via além da máscara do Playboy inconsequente. Via a dor em seus olhos quando pensava que ninguém estava olhando. Via a solidão que ele tentava preencher com festas e bebidas. E agora o destino oferecia uma chance distorcida, sim, forçada, sim, mas uma chance de estar perto dele, de talvez, apenas talvez mostrar-lhe que ele podia ser mais do que as manchetes de revista.
“Eu aceito”, Marina disse, sua voz mais firme do que ela se sentia. Mas com uma condição, Roberto arqueou uma sobrancelha surpreendido. Se em algum momento eu perceber que isso está nos destruindo, que não há salvação possível, eu quero a liberdade de partir com o divórcio sem complicações.
Roberto estudou-a por um longo momento, como se vendo pela primeira vez a jovem tímida que limpava sua casa. Havia algo diferente em seus olhos agora. determinação, coragem e uma tristeza antiga que ele reconhecia de suas próprias batalhas. “Acordo feito”, ele disse, estendendo a mão. Marina apertou-a, sentindo que acabara de assinar um pacto com consequências que ainda não conseguia imaginar.
Do lado de fora da janela, São Paulo continuava pulsando, indiferente ao destino que acabara de ser selado. Em algum lugar dessa cidade gigante, Lucas Andrade bebia em uma balada, alheio ao fato de que sua vida estava prestes a mudar para sempre. E no coração de Marina, uma mistura de medo e esperança travava uma batalha silenciosa, enquanto ela se perguntava se havia acabado de fazer a escolha mais corajosa ou mais tola de sua vida.
O som estrondoso de música eletrônica vazava pelas paredes do apartamento luxuoso em Itaim Bibi. Garrafas vazias decoravam cada superfície. Corpos se moviam em uma dança caótica. E no centro de tudo estava Lucas Andrade, recostado em um sofá de couro branco que custara mais do que um carro popular, um copo de whisky na mão e uma loira cujo nome ele não lembrava, grudada em seu ombro.
Você é incrível, Lucas. Ela ronronava em seu ouvido a voz pastosa de álcool. Ele deu um sorriso que não chegou aos olhos. Claro que sou. Seu celular vibrou pela décima vez na última hora. Todos chamados do pai. Lucas ignorou novamente, virando o conteúdo do copo em um único gole.
A queimação do álcool descendo pela garganta era familiar, confortável, como um velho amigo que nunca o julgava. “Ei, Andrade!”, gritou um dos seus amigos, ou eram conhecidos. Lucas havia parado de distinguir há muito tempo. “Verdade que você perdeu 50.000 na aposta de ontem?” “60.” Lucas corrigiu com um sorriso torto, enchendo o copo novamente.
Mas quem está contando? Risos ecoaram ao redor, risos vazios, sem real alegria, apenas o som de pessoas fingindo se divertir enquanto suas vidas deslizavam para o caos. O celular vibrou novamente. Dessa vez era uma mensagem. Venha para casa agora. Não é um pedido, é uma ordem. Pai. Lucas riu amargamente. Ordem. Como se ele fosse um soldado, não um homem de 28 anos.
como se tivesse escolhido nascer com o sobrenome Andrade, com todas as expectativas e cobranças que vinham embaladas nele. “Preciso ir”, ele murmurou, empurrando a loira gentilmente. “Agora a festa está só começando.” “A festa está sempre só começando”, ele disse, pegando as chaves do carro.
“Você não vai dirigir, vai?”, perguntou outro amigo ou ex-amigo, “Ou quem quer que fosse. Por que não, cara? Você bebeu quase uma garrafa.” Lucas deu de ombros, mas algo no tom preocupado do rapaz o fez pausar. Ele chamou um Uber ao invés disso, não por responsabilidade, mas porque uma prisão por dirigir embriagado seria manchete.
E ele estava cansado de manchetes. A viagem até a mansão dos Andrade em Alto de Pinheiros foi um borrão de luzes e pensamentos turvos. Lucas recostou a cabeça no vidro frio do carro, sentindo a cidade passar.
São Paulo de madrugada tinha uma beleza melancólica, todos aqueles milhões de pessoas, cada uma com seus próprios dramas, seus próprios demônios. E ele, qual era seu drama? Nascer rico, ter tudo que dinheiro podia comprar? Que tipo de problema era esse? Mas no fundo, em um lugar que ele se recusava a visitar sóbrio, Lucas sabia. O problema não era o dinheiro, era o vazio. Era acordar todo dia e não saber quem ele era além do sobrenome.
Era olhar no espelho e ver um estranho que ele não respeitava. O carro parou em frente aos portões imponentes da mansão. Lucas pagou o motorista e cambaleou até a entrada. A casa estava silenciosa, muito diferente do caos que ele acabara de deixar. Silenciosa e julgadora, como uma testemunha muda de todos os seus fracassos.
Ele encontrou o pai na biblioteca, sentado em sua poltrona de couro, um copo de conhaque ao lado, a bebida elegante dos bemsucedidos, não o whisky desesperado dos perdidos. “Você está bêbado”, Roberto disse, sem olhar para o filho. Observador como sempre. Pai, sente-se. Prefiro ficar de pé. Lucas cruzou os braços, a postura defensiva de alguém pronto para uma briga.
Roberto finalmente olhou para ele e Lucas quase recuou com a intensidade do olhar. Não era raiva, era decepção. E de alguma forma isso doía mais. Estou cansado, Lucas, Roberto disse a voz pesada. Cansado de ver seu rosto nas revistas de fofoca, cansado de receber ligações de advogados para resolver suas bagunças.
Cansado de ter vergonha quando alguém menciona meu sobrenome e associa imediatamente aos seus escândalos. Então me deserde e acabou. Lucas retrucou o tom mais ácido do que pretendia. Resolve o problema de todo mundo. Não vou deserdá-lo. Vou salvá-lo. Algo no tom fez Lucas pausar. Ele conhecia aquele tom. Era o tom que o pai usava quando fechava negócios impossíveis, quando tomava decisões que mudavam destinos.
O que você fez? Lucas perguntou devagar, a embriaguez repentinamente evaporando em alerta. Roberto se levantou. caminhando até a janela. Você vai se casar em três semanas. O silêncio que se seguiu foi tão absoluto que Lucas podia ouvir seu próprio coração batendo. Então ele riu. Riu alto, uma gargalhada sem humor. Engraçadinho, pai. Muito bom.
Casamento, como se alguém fosse querer Marina Silva. Lucas parou de rir. Marina, a filha dos Carlos e Rosa, a menina que fica na mansão ajudando a mesma. Você está de brincadeira. Mas ao olhar para o rosto pétrio do pai, Lucas percebeu que não havia brincadeira alguma. Você está louco. Você enlouqueceu de vez.
Estou são o suficiente para ver que você está se matando e eu não vou ficar sentado assistindo. Lucas sentiu a raiva explodir em seu peito como um vulcão. Você não pode fazer isso. Não pode simplesmente decidir com quem eu vou casar. Isso não é século XIX. Posso e vou, Roberto disse com uma calma mortal. Ou você aceita ou está cortado de tudo, sem mesada, sem apartamentos, sem cartões, sem carro, nada.
Você vai viver com o que pode construir por conta própria. Ótimo. Lucas gritou, gesticulando descontroladamente. Ficar livre de você e de todo esse circo? Assino embaixo. Tem certeza? Roberto se virou encarando o filho. Porque os 50.000 que você deve ao Marcelo pelo jogo de pôker vão ter que ser pagos com seu salário do McDonald’s e o apartamento de Itaim.
Vai ter que devolver as festas, as bebidas caras, as viagens. Acabou. Lucas abriu a boca para responder, mas as palavras morreram em sua garganta. A realidade das dívidas que acumulara, do estilo de vida que levava, tudo isso o atingiu como um soco no estômago. Por que ela? Ele perguntou. A voz repentinamente cansada. Por que a Marina? Roberto suspirou e por um momento Lucas viu um lampejo de algo paternal em seus olhos. Porque ela é tudo que você precisa. Ela é real, Lucas, genuína.
Não está interessada em seu dinheiro ou seu sobrenome. Ela vai te mostrar que existe outra forma de viver. Isso é insano. Lucas murmurou, passando as mãos pelos cabelos. Isso vai arruinar a vida dela também ou salvar vocês dois. Lucas caiu pesadamente em uma cadeira. A cabeça entre as mãos. Marina Silva. Ele mal conseguia visualizar seu rosto.
Lembrava-se vagamente de uma garota tímida, sempre de cabeça baixa, sempre trabalhando em silêncio. Bonita, talvez. Ele nunca prestara atenção suficiente para notar. E agora ela seria sua esposa. E se eu recusasse? Ele perguntou, embora já soubesse a resposta. Então você está sozinho completamente. Lucas fechou os olhos. Parte dele queria gritar, quebrar algo, provar que não era uma marionete.
Mas a outra parte, a parte fraca, a parte que ele desprezava, estava apavorada com a ideia de realmente ficar sozinho, sem a rede de segurança do dinheiro do pai, sem a fachada de sucesso que o sobrenome proporcionava. Ela aceitou? Ele perguntou finalmente. Sim. Por quê? Isso você terá que perguntar a ela. Lucas abriu os olhos, olhando para o pai.
Quando é o casamento? Três semanas, sábado, 2as da tarde, na capela privada do clube. Pequeno, então, apenas família e amigos próximos. Não quero transformar isso em um circo midiático. Lucas riu amargamente. Tarde demais. Quando a notícia vazar, vai estar em todas as revistas. Herdeiro Playboy forçado a casar com empregada. Os tabloides vão adorar. Então, sugiro que você comece a controlar sua narrativa e sua vida.
Lucas se levantou, cambaleando levemente. A exaustão emocional era pior que a embriaguez. Posso ir? Roberto assentiu. Uma última coisa, Lucas. O quê? Seja decente com ela. Marina não pediu por isso mais do que você. Ela é uma pessoa boa e não merece pagar pelos seus erros. Lucas não respondeu. Ele apenas saiu da biblioteca, subiu as escadas até seu antigo quarto na mansão e desabou na cama. Mas o sono não veio.
Em vez disso, ele ficou olhando para o teto, pensando em como sua vida havia se tornado uma novela barata. E em algum lugar dessa mesma cidade, Marina provavelmente estava fazendo o mesmo, olhando para o teto, se perguntando em que momento tudo saiu do controle. Três semanas. Em três semanas, ele seria um homem casado com uma garota que mal conhecia, uma garota que provavelmente o odiava tanto quanto ele odiava a situação.
E no fundo, enterrado sob camadas de raiva e ressentimento, uma pequena voz sussurrava: “Talvez você mereça isso. Talvez essa seja a sua punição por todas as pessoas que você machucou, todas as chances que desperdiçou”. Lucas fechou os olhos, deixando a escuridão finalmente levá-lo, sem saber que Marina, do outro lado da cidade estava acordada com pensamentos igualmente turbulentos, apenas com uma diferença crucial.
Enquanto ele afundava em ressentimento, ela lutava entre o medo e uma esperança teimosa que se recusava a morrer. Os 21 dias que antecederam o casamento foram uma eternidade comprimida em um pesadelo surreal. Marina se encontrava em uma boutique caríssima na Oscar Freire, cercada por espelhos que multiplicavam sua imagem.
Uma garota assustada em um vestido de noiva que custava mais do que seus pais ganhavam em um ano. “Está perfeito”, declarou a consultora, uma mulher de meia idade com um penteado impecável e um sorriso profissional. “A senhora está linda?” Marina olhou para seu reflexo. O vestido era realmente lindo, renda francesa, delicado, elegante, mas ela não conseguia se reconhecer naquela imagem. Aquela não era ela.
Aquela era uma boneca sendo vestida para uma fantasia cara. Marina Rosa estava sentada em um sofá de veludo, as mãos entrelaçadas no colo. Seus olhos estavam vermelhos. Ela vinha chorando em segredo nos últimos dias. Você tem certeza disso, minha filha? Ainda dá tempo de voltar atrás. Marina desceu do pedestal, segurando a barra do vestido para não tropeçar.
Ela se sentou ao lado da mãe e, por um momento, foram apenas duas mulheres assustadas tentando navegar em águas desconhecidas. “Eu tenho que fazer isso, mãe”, Marina disse, embora sua voz tremesse. “Vocês trabalharam a vida inteira, merecem descansar, ter uma casa própria e eu eu quero acreditar que isso pode funcionar.
Mas e você, Marina? e seus sonhos e o amor. Marina sorriu tristemente. Eu amo ele, mãe. Sempre amei. Eu sei que isso é loucura. Eu sei que ele não me ama de volta, mas e se essa for minha única chance de pelo menos estar perto dele, de talvez, quem sabe ele me ver de verdade, Rosa pegou o rosto da filha entre as mãos.
Minha menina sonhadora, você sempre foi assim, enxergando beleza onde outros veem apenas ruínas. Eu oro para que Lucas Andrade mereça esse seu coração puro. Naquele mesmo momento, do outro lado da cidade, Lucas estava em uma situação igualmente desconfortável.
Seu irmão mais velho, Ricardo, estava com ele em uma loja de ternos, observando enquanto o alfaiate ajustava as medidas. Então, Ricardo disse, um sorriso irônico no rosto. Vai mesmo fazer isso? Casar com a menina? Não tenho escolha. Lucas resmungou. sempre tem escolha, mano. Você está escolhendo o dinheiro do papai ao invés da sua liberdade. Lucas fuzilou o irmão com o olhar.
Ricardo sempre foi o filho perfeito, formado em administração, trabalhando na empresa desde os 22 anos, casado com uma mulher da sociedade, dois filhos exemplares, tudo que Lucas não era e nunca seria fácil para você dizer. Você sempre fez tudo certinho, sempre foi o queridinho do pai e você sempre foi o rebelde.
Ricardo se levantou, aproximando-se do irmão. Mas sabe o que eu acho? Que você está cansado, Lucas. Cansado de ser o palhaço da família, de ser a decepção ambulante. Talvez esse casamento seja a desculpa que você estava esperando para mudar. Você não me conhece. Eu te conheço melhor do que você mesmo. Eu lembro do Lucas de 15 anos, que queria ser arquiteto que desenhava prédios incríveis.
Onde foi parar aquele garoto? Lucas apertou os punhos. Aquele garoto percebeu que não importa o que ele quisesse, importa o que o pai quer. E o pai queria que eu fosse você. Então, por que tentar? Ricardo suspirou. Essa é sua chance, mano, de começar de novo. A Marina, eu a vi algumas vezes na mansão. Ela parece uma boa pessoa. Não a destrua porque você está destruindo a si mesmo.
Conselho de irmão ou ordem do pai? Nenhum, nem outro. É uma súplica de alguém que não quer te ver acabar em uma sarjeta. Os dias se arrastavam. Marina continuava indo às aulas na faculdade, mas sua mente estava sempre distante. Suas amigas perceberam a mudança. Marina, você está estranha. disse Júlia, sua melhor amiga, durante um intervalo. Aconteceu alguma coisa? Marina mordeu o lábio, debatendo se devia contar.
Eu vou me casar. O silêncio que se seguiu foi interrompido apenas pelo som de um copo de suco caindo no chão. O quê? Júlia, gritou, fazendo várias cabeças se virarem. Como assim vai se casar? Desde quando você tem namorado? É complicado. Complicado, Marina. Você nunca nem beijou alguém e agora vai se casar.
O que está acontecendo? Marina sentiu as lágrimas queimar em seus olhos. Ela contou tudo: o acordo, a pressão, seus sentimentos secretos por Lucas. Júlia ouviu tudo em silêncio crescente. Isso é medieval, ela disse. Finalmente, você não pode se vender assim. Eu não estou me vendendo. Estou ir fazendo uma escolha por minha família e por mim. Marina, ele vai te machucar.
Playboys como ele não mudam da noite para o dia. Talvez não, mas eu preciso tentar. Lucas, por sua vez, estava tendo conversas igualmente difíceis. Seus amigos de balada riam da situação, fazendo piadas cruéis sobre domar o selvagem, mas suas risadas soavam ocas. E Lucas percebeu, não pela primeira vez, que aquelas pessoas não eram realmente seus amigos.
Uma semana antes do casamento, Roberto organizou um jantar para as duas famílias se conhecerem melhor. A tensão na sala de jantar da mansão era palpável. Marina estava sentada ao lado de sua mãe, usando um vestido simples azul marinho que Rosa havia comprado especialmente para a ocasião. Ela mantinha os olhos no prato, sentindo o peso dos olhares sobre ela.
Lucas chegou atrasado, cheirando a perfume caro e com os olhos ligeiramente vidrados. Ele havia bebido antes de vir. Ele se sentou do outro lado da mesa, lançando um olhar rápido para Marina antes de desviar. Foi a primeira vez que ele realmente a olhou e Marina sentiu seu coração disparar. Mesmo claramente desconfortável e levemente embriagado, Lucas era devastadoramente bonito, mas era a tristeza em seus olhos azuis que a atingiu. Uma tristeza profunda, antiga, como de alguém perdido há muito tempo.
Então, Roberto começou tentando quebrar o gelo. Marina, sua mãe me disse que você estuda pedagogia. Como estão os estudos? Marina limpou a garganta. Bem, senhor. Estou no terceiro ano. Ela é a melhor da turma. Rosa adicionou orgulhosamente. Sempre foi uma menina estudiosa. Que admirável, comentou Ricardo com sinceridade genuína.
O país precisa de mais educadores dedicados. Lucas soltou um riso sarcástico. Que reunião adorável. Todos fingindo que isso não é o absurdo que é. Lucas, Roberto alertou o tom perigoso. O quê? Vamos ser honestos. Estamos todos aqui fingindo que isso é um jantar familiar normal, quando na verdade é um encontro forçado entre um fracasso e uma garota que está sendo comprada. Marina sentiu como se tivesse levado um tapa.
As palavras de Lucas eram cruéis, mas a dor em sua voz era real. Ela finalmente encontrou coragem para olhá-lo diretamente. “Eu não estou sendo comprada”, ela disse, sua voz suave, mas firme. “Estou fazendo uma escolha, assim como você”. Lucas a encarou surpreso que ela tivesse respondido. Por um momento, seus olhos se encontraram e algo passou entre eles.
Um reconhecimento de que ambos eram vítimas e cúmplices ao mesmo tempo. “Uma escolha?”, ele disse, o tom mais suave agora, quase curioso. “Você realmente acha que tem escolha?” Sim”, Marina, respondeu, embora suas mãos tremessem sob a mesa, “Porque posso escolher como vou lidar com isso, com raiva e amargura ou com esperança e tentativa?” Lucas estudou-a por um longo momento.
Havia algo diferente nessa garota tímida, uma força quieta que ele não esperava. O jantar continuou em silêncio desconfortável, mas algo havia mudado. Lucas começou a prestar atenção em Marina, a forma como ela gentilmente ajudava sua mãe, como agradecia educadamente aos empregados, como seus olhos se iluminavam levemente quando Ricardo perguntou sobre seu trabalho de conclusão de curso sobre educação inclusiva.
Ela era genuína, real, tão diferente das mulheres que ele costumava frequentar. Quando o jantar terminou e as famílias se despediam, Lucas encontrou Marina sozinha no corredor. Ela estava olhando para um quadro na parede, uma pintura abstrata que ele nunca havia realmente notado antes. “É bonito, não é?”, ela disse suavemente, sem olhar para ele. Caótico, mas bonito.
Lucas se aproximou, olhando para a pintura. Sempre achei que era apenas uma bagunça cara. Às vezes, a bagunça tem sua própria beleza. É só uma questão de perspectiva. Ele a olhou de lado. Ela era menor do que ele lembrava, delicada, com cabelos castanhos longos que caíam em ondas suaves. Seus olhos eram do tipo que guardavam segredos e sonhos.
Por que você aceitou? Ele perguntou de repente. De verdade? Não me venha com aquela história de ajudar sua família. Por que você realmente aceitou? Marina finalmente olhou para ele e Lucas viu lágrimas brilhando em seus olhos, embora ela não as deixasse cair.
Porque às vezes a gente precisa acreditar em algo impossível, porque eu prefiro tentar e falhar do que nunca tentar. E porque ela hesitou, mas então continuou: “Porque eu quero acreditar que você é mais do que aquilo que as revistas dizem.” Lucas ficou sem palavras. Ninguém nunca havia dito algo assim para ele. Ninguém nunca havia visto além da máscara.
Você não me conhece”, ele disse, mas havia menos convicção em sua voz. “Não, Marina concordou, mas gostaria de conhecer, se você me deixar”. Ela se afastou então, deixando Lucas sozinho no corredor, olhando para a pintura caótica que de repente parecia fazer um pouco mais de sentido. E pela primeira vez desde que seu pai anunciou o casamento, Lucas sentiu algo além de raiva e ressentimento. Sentiu curiosidade.
O sábado amanheceu com um céu azul impecável sobre São Paulo, como se a natureza estivesse zombando da tempestade que acontecia no coração de Marina. Ela acordou às 5 da manhã, incapaz de dormir mais, o vestido de noiva pendurado na porta do armário, como um fantasma branco a observando. Rosa entrou no quarto com uma bandeja de café da manhã. Você precisa comer alguma coisa, minha filha. Não consigo, mãe.
Marina estava sentada na cama, abraçando os joelhos. Meu estômago está embrulhado. Nervos de noiva. Rosa tentou sorrir, mas havia tristeza em seus olhos. É normal. Normal. Marina soltou uma risada sem humor. Nada disso é normal, mãe. Eu vou me casar com um homem que mal me olha, que está sendo forçado a isso tanto quanto eu. Rosa sentou-se ao lado da filha, passando o braço em volta de seus ombros.
Você ainda pode desistir. Eu e seu pai vamos entender. Nós vamos sobreviver, encontrar outro caminho. Marina balançou a cabeça lentamente. Não posso fazer isso com vocês. Não depois de tudo que sacrificaram por mim. Ela olhou para a mãe, os olhos brilhando. E uma parte de mim, por mais idiota que seja, ainda tem esperança.
Ainda acredita que algo bom pode sair disso. Do outro lado da cidade, Lucas estava tendo uma manhã igualmente turbulenta. Ele havia acordado com uma ressaca terrível, cortesia da despedida de solteiro que seus amigos haviam insistido em fazer na noite anterior. Seu apartamento estava destruído, garrafas e resquícios de festa espalhados por todo lado. Ele se olhou no espelho do banheiro e não gostou do que viu.
Olhos vermelhos, rosto pálido, uma sombra do homem que poderia ter sido. Aos 28 anos, parecia carregar 40 de desgaste. “É isso”, ele murmurou para o reflexo. Última chance de fugir. Pega o passaporte e sai do país. Começa de novo em qualquer lugar. Mas mesmo enquanto pensava isso, sabia que não faria, porque Lucas Andrade, por mais que odiasse admitir, era um covarde, covarde demais para enfrentar a vida sem a rede de segurança do dinheiro do pai, covarde demais para realmente arriscar tudo. Ricardo apareceu no apartamento às 9, imaculado em seu
terno, pronto para servir como padrinho. Jesus, Lucas, você parece que foi atropelado por um caminhão. Sinto que fui. Bem, vamos te colocar apresentável. Você tem um casamento em 5 horas. Não me lembre Andrade, a capela privada do clube estava sendo preparada. Flores brancas, rosas e lírios decoravam o altar.
Havia apenas 50 lugares, todos reservados para a família próxima e alguns amigos selecionados. Roberto havia mantido sua promessa de não transformar aquilo em um espetáculo midiático, embora alguns fotógrafos já estivessem do lado de fora dos portões farejando a história.
Marina chegou ao clube ao meio-dia, acompanhada por sua mãe e Júlia, que concordara em ser sua madrinha, apesar de suas objeções ao casamento. “Você está linda”, Júlia disse enquanto ajudava Marina a se vestir no quarto nupscial. E era verdade. O vestido caía perfeitamente, o vel delicado emoldurava seu rosto. A maquiagem suave realçava seus olhos castanhos. Marina parecia uma princesa de conto de fadas.
Mas contos de fadas não costumam ter princesas aterrorizadas. Eu não sei se consigo fazer isso Marina sussurrou, suas mãos tremendo enquanto segurava o buquê de rosas brancas. Então não faça. Júlia respondeu. Sério, Marina? A gente sai pela porta dos fundos agora. Eu te levo para onde você quiser. Por um momento, Marina considerou.
Seria tão fácil apenas fugir, desaparecer, deixar toda aquela loucura para trás. Mas então ela pensou em seu pai, trabalhando por 20 anos sem reclamar. Pensou em sua mãe, cujas costas doíam de tanto lavar e passar. pensou na oportunidade de finalmente ter segurança, de continuar estudando sem trabalhar 16 horas por dia.
E se fosse completamente honesta consigo mesma, pensou em Lucas, em seus olhos azuis tristes, na forma como ele havia olhado no corredor, com uma mistura de confusão e curiosidade. “Não”, ela disse “Finalmente. “Eu vou fazer isso.” Lucas chegou à Capela 15 minutos antes da hora marcada, o que foi considerado um milagre por todos os presentes. Ele estava impecável em seu terno preto, cabelos arrumados, semblante sério.
Mas seus amigos próximos, os poucos reais que tinha, podiam ver a tensão em sua mandíbula, a forma como seus olhos procuravam compulsivamente pela saída. Roberto se aproximou do filho. Última chance de fazer a coisa certa. Achei que casar fosse a coisa certa, segundo você. É, mas apenas se você entrar nessa capela com a intenção de realmente tentar.
Se for apenas cumprir tabela, estamos perdendo o tempo de todos. Lucas olhou para o pai, realmente o olhou e viu algo que não esperava. Preocupação genuína, não apenas com a empresa ou o sobrenome, mas com ele, com o filho que estava claramente sofrendo. “Eu vou tentar”, Lucas disse. E foi a primeira promessa honesta que fazia em anos.
A música começou, os convidados se levantaram e então Marina apareceu, seu braço entrelaçado ao de Carlos caminhando lentamente pelo corredor. Lucas sentiu algo apertar em seu peito. Ela estava, ele não tinha palavras. Bela não parecia suficiente. Ela parecia frágil e forte ao mesmo tempo, assustada, mas determinada. Seus olhos encontraram os dele e Lucas viu lágrimas brilhando, mas também uma coragem que ele não tinha certeza que possuía.
Carlos entregou a mão da filha para Lucas e o olhar que o homem mais velho deu foi claro: “Cuidea ou responda a mim.” Lucas segurou a mão de Marina. Ela estava gelada, tremendo levemente. Sem pensar, ele apertou gentilmente um gesto pequeno de conforto, encorajamento. Ele não sabia ao certo.
Marina olhou para ele surpresa e Lucas viu uma faísca de algo esperança em seus olhos. O padre começou a cerimônia. As palavras tradicionais sobre amor, compromisso, para melhor ou pior. Lucas se perguntou se o padre sabia quão irônicas essas palavras eram naquele contexto. Se alguém tem alguma objeção a esta união, que fale agora ou se cale para sempre. O silêncio foi absoluto. Lucas meio que esperou que alguém se levantasse.
Talvez a própria Marina, tendo um momento de sanidade, mas ninguém se moveu. Lucas Henrique Andrade, você aceita Marina Clara Silva como sua legítima esposa para amá-la e respeitá-la na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte o separe? Lucas olhou para Marina. Ela o encarava com aqueles olhos imensos, vulnerável e exposta.
Ele pensou em todas as mulheres que havia conhecido, todas as festas vazias, todos os amanheceres solitários e pensou: “Talvez, apenas talvez, essa seja a minha chance de ser alguém melhor.” “Eu aceito.” Ele disse sua voz mais firme do que esperava. Marina Clara Silva, você aceita Lucas Henrique Andrade como seu legítimo esposo para amá-lo e respeitá-lo na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte o separe? Uma lágrima escorreu pelo rosto de Marina, mas sua voz não tremeu.
Eu aceito declaro vocês, marido e mulher, pode beijar a noiva. O momento pareceu se estender infinitamente. Lucas se inclinou e Marina fechou os olhos. Foi um beijo casto, rápido, mais um cumprimento de protocolo do que qualquer demonstração de afeto. Mas quando suas bocas se tocaram, Marina sentiu eletricidade percorrer todo seu corpo.
Era seu primeiro beijo, não como havia imaginado em seus sonhos de adolescente, mas mesmo assim era com ele. Sempre foi ele em seus sonhos. Lucas se afastou rapidamente, como se houvesse sido queimado. Ele não esperava sentir alguma coisa, mas sentiu um breve momento de conexão que o assustou mais do que todo o resto.
Os convidados aplaudiram, música encheu a capela e Lucas e Marina caminharam pelo corredor como marido e mulher, duas pessoas essencialmente estranhas, agora legalmente unidas. A recepção foi na área de eventos do clube. Jantar elegante, discursos cuidadosamente preparados, tudo perfeito e vazio.
Marina mal tocou na comida, respondendo educadamente aos cumprimentos dos convidados enquanto sua mente estava em outro lugar. Lucas bebeu não muito, mas o suficiente para embotar as bordas da realidade. Ele observou Marina de longe, a forma como ela sorria educadamente, como suas mãos nunca paravam de se mover nervosamente, como ela olhava para ele ocasionalmente, como se verificando se ele ainda estava lá. Durante a valça dos noivos, Lucas a puxou para a pista de dança.
Ela estava rígida em seus braços, claramente desconfortável. “Relaxa”, ele murmurou. É só uma dança, é só um casamento”, ela respondeu. E havia um toque de sarcasmo em sua voz que o surpreendeu. Lucas quase sorriu. “Touchê!” Eles dançaram em silêncio por um momento, movendo-se mecanicamente ao som da música.
Então, Marina falou, sua voz tão baixa, que Lucas teve que se inclinar para ouvir. “Eu sei que você não queria isso. Eu sei que você me odeia por fazer parte disso. Eu não te odeio, não.” Lucas suspirou. Eu odeio a situação. Odeio ser manipulado. Odeio que minha vida esteja fora do meu controle. Mas você, você é apenas uma pessoa tentando sobreviver igual a mim.
Marina olhou para ele e Lucas viu surpresa genuína em seus olhos, como se ela não esperasse que ele a visse como um ser humano. “Obrigada”, ela sussurrou. “Por isso, a música terminou, a noite avançou e finalmente, inevitavelmente chegou a hora de irem embora. Roberto havia providenciado uma suí nupscial em um hotel cinco estrelas próximo.
Um carro os esperava para levá-los. Marina segurou o buquê com força suficiente para amassar as pétalas, seu coração batendo tão rápido que ela tinha certeza que todos podiam ouvi-lo. Essa era a parte que a aterrorizava a noite de Núcias. Ela era virgem, completamente inexperiente. E Lucas, Lucas provavelmente havia estado com centenas de mulheres belas, experientes, confiantes, como ela, tímida e assustada, poderia sequer começar a compará-las. No carro, o silêncio era opressivo.
Lucas olhava pela janela, os pensamentos claramente distantes. Marina olhava para suas mãos, o anel de casamento ainda estranho em seu dedo. Quando chegaram ao hotel, a suí era absurdamente luxuosa. Pétalas de rosas no chão, champanhe gelo, luzes suaves, uma scenografia romântica para um casamento, que era tudo menos isso.
Marina ficou parada no meio da sala, incapaz de se mover. Incapaz de respirar adequadamente, Lucas foi direto para o bar, servindo-se de whisky. Ele virou o copo de uma vez, a queimação familiar descendo por sua garganta. “Você quer?”, ele ofereceu a Marina. “Eu não bebo.” “Claro que não.” Ele serviu outro copo para si mesmo.
Marina o observou, vendo a tensão em seus ombros, a forma como sua mandíbula estava apertada. Ele estava bebendo para ter coragem ou para esquecer? Lucas, ela começou sua voz trêmula. Eu eu nunca eu sei. Ele interrompeu sem olhar para ela. Eu sei que você é virgem. Meu pai me disse. O silêncio que se seguiu foi carregado de mil possibilidades não ditas.
Lucas finalmente se virou para ela e havia algo em seus olhos. Uma mistura de cansaço, resignação e algo mais suave. Quase gentileza. Relaxa”, ele disse, sua voz surpreendentemente suave. “Eu não vou fazer nada.” Marina piscou confusa. “O quê? Você não precisa ter medo. Eu não vou te tocar.” Ele apontou para o sofá. “Eu vou dormir ali. Você fica com a cama.
Mas é nossa noite de núpcias que foi forçada sobre nós dois.” Lucas completou. Olha, eu posso ser muitas coisas ruins, um bêbado, um irresponsável, um fracasso, mas eu não sou o tipo de cara que força uma mulher assustada apenas porque temos um papel assinado. Lágrimas encheram os olhos de Marina, mas dessa vez eram de alívio. Obrigada, ela sussurrou.
Lucas deu de ombros, tentando parecer indiferente, embora algo em seu peito se apertasse ao ver o medo genuíno nos olhos dela. “Não precisa me agradecer por fazer o mínimo decente.” Marina foi para o banheiro trocar-se. Quando saiu, vestindo um pijama simples, ela não havia comprado langerry, graças a Deus, Lucas já estava deitado no sofá, de costas para o quarto.
Ela se deitou na cama enorme, o vestido de noiva pendurado no armário como uma lembrança fantasmagórica do dia surreal que haviam vivido. “Lucas”, ela chamou na escuridão. “Hum, você acha que você acha que um dia isso pode funcionar? De verdade?” Houve um longo silêncio, então tão baixo que Marina quase não ouviu, Lucas respondeu: “Eu não sei, mas por alguma razão maluca, uma parte de mim quer descobrir.” Marina fechou os olhos.
aquela pequena centelha de esperança em seu peito, se recusando a apagar. Do outro lado da sala, Lucas ficou acordado por horas, ouvindo a respiração de Marina se tornar lenta e profunda enquanto ela finalmente dormia. E ele se perguntou quando havia se tornado o tipo de pessoa que casava com uma garota assustada e não tinha nem a decência de fazer aquilo funcionar.
Talvez, apenas talvez, fosse hora de começar a mudar de verdade. Marina acordou desorientada, levando alguns segundos para lembrar onde estava e porê. A suí do hotel estava banhada pela luz suave da manhã e ela estava sozinha na cama kings por um momento de pânico, pensou que Lucas havia fugido durante a noite, mas então ouviu o barulho do chuveiro no banheiro.
Ela se sentou, abraçando os joelhos, ainda processando a surrealidade da situação. era casada legalmente, oficialmente casada com Lucas Andrade e ainda virgem, o que parecia impossível, considerando todas as histórias que ela ouvira sobre noites de Núciassias, mas Lucas havia mantido sua palavra. Dormiu no sofá, não a tocou, respeitou seu medo.
O chuveiro parou. Minutos depois, Lucas saiu do banheiro com uma toalha amarrada na cintura, o cabelo molhado pingando. Marina rapidamente desviou o olhar, sentindo suas bochechas queimarem. “Bom dia”, ele disse, o tom neutro, como se estivessem em uma reunião de negócios e não na manhã seguinte ao casamento. “Bom dia, Marina”, respondeu para o cobertor.
Serviço de quarto ou você quer descer para o café? Serviço de quarto, se não for incômodo. Lucas pegou o telefone, pedindo um café da manhã abundante, sem perguntar o que ela queria. Quando desligou, ele a olhou com uma expressão indecifrável. Nós precisamos conversar sobre como isso vai funcionar.
Marina assentiu, puxando o cobertor até o queixo como uma barreira inadequada. Lucas se vestiu rapidamente e sentou-se na poltrona próxima à janela, mantendo distância física entre eles. Meu pai providenciou um apartamento para nós. Três quartos em Moema, de frente para o parque. Vamos nos mudar hoje à tarde. Três quartos. Um para mim, um para você e um escritório. Ou o que você quiser fazer com ele.
Ele passou a mão pelos cabelos. Olha, eu sei que isso é estranho para todos, mas vamos ter que estabelecer algumas regras de convivência. Marina finalmente olhou diretamente para ele. Lucas estava sério, os olhos azuis fixos nos dela, com uma intensidade que fazia seu coração acelerar. Que tipo de regras? Primeira privacidade.
Você tem seu quarto, eu tenho o meu. Ninguém entra sem permissão. Marina a sentiu aliviada. Segunda liberdade. Você vai continuar sua faculdade, sua vida. Eu vou tentar consertar a minha. Não somos prisioneiros um do outro. E em público?”, Marina, perguntou sua voz pequena. “Seu pai vai esperar que ajamos como como um casal de verdade.
” Lucas suspirou pesadamente. Em público fingimos. Jantares de família, eventos da empresa, essas coisas. Mas em casa, cada um na sua, ok? E terceira regra, ele hesitou. E pela primeira vez Marina viu incerteza em seus olhos. Honestidade, se isso não estiver funcionando, se você quiser sair, você me diz. Direto, sem joguinhos.
O mesmo vale para você? Sim. O café da manhã chegou e eles comeram em um silêncio desconfortável. Dois estranhos tentando descobrir como navegar naquela nova realidade. O apartamento em Moema era deslumbrante. 15º andar, janelas do chão ao teto, decoração moderna e elegante. Marina caminhou pelos cômodos em choque silencioso. Era maior do que qualquer lugar onde ela jamais havia morado.
Seu quarto, Lucas disse, abrindo uma porta. O quarto era espaçoso, com uma cama queen size, closet embutido, banheiro privativo e uma sacada pequena com vista para o parque. Havia caixas já ali, suas roupas e pertences que sua mãe havia empacotado. “Has é lindo”, Marina sussurrou. “O meu é do outro lado do apartamento”, Lucas indicou.
“Cozinha está equipada, mas tem interfone para pedir comida se você não quiser cozinhar. Televisão a cabo em todos os cômodos. Internet é boa. A senha está colada no roteador. Era tudo tão prático, tão destituído de emoção, como se ele estivesse mostrando um imóvel para um possível inquilino, não apresentando um lar para sua nova esposa. Lucas Marina chamou quando ele estava saindo.
Obrigada por tudo isso, por ser gentil. Ele parou na porta sem se virar. Não sou gentil, Marina. Estou apenas tentando não ser completamente um babaca. e então saiu, deixando-a sozinha. Marina se sentou na cama, olhando ao redor de seu novo quarto, e se permitiu chorar pela primeira vez desde a proposta de Roberto.
Chorou pela sua inocência perdida, não fisicamente, mas emocionalmente. Chorou pelos sonhos de um casamento por amor. Chorou porque, por mais bonito que fosse aquele apartamento, era uma gaiola dourada. Mas então ela limpou as lágrimas, endireitou os ombros e começou a desempacotar. Se ia viver ali, podia ao menos fazer parecer um lar. Os primeiros dias foram uma dança estranha de evitação e educação forçada.
Marina acordava cedo, preparava café, ia para a faculdade. Lucas dormia até tarde. Acordava com ressaca a maioria dos dias, saía para resolver coisas que geralmente significava bares e clubes, e voltava de madrugada. Eles mal se viam. quando se cruzavam, era sempre educado, distante. Bom dia, boa noite. Você comeu? Sim, obrigada.
Como dois fantasmas habitando o mesmo espaço, Marina tentava se manter ocupada. estudava obsessivamente, ajudava sua mãe na nova casa que Roberto havia comprado para o Silva, uma casa adorável em um bairro tranquilo, evitava pensar sobre a solidão que crescia em seu peito. Júlia vinha visitá-la ocasionalmente, os olhos sempre escaneando o apartamento em busca de sinais de abuso ou desespero.
“Como você está? De verdade?”, ela perguntou em uma dessas visitas, sentadas na sala enquanto Marina preparava chá. Estou sobrevivendo. Marina respondeu honestamente. Ele te machuca? Não, Deus não. Lucas mal fala comigo. É como se fôssemos colegas de apartamento que mal se conhecem. Isso não é um casamento, Marina. Eu sei.
Marina suspirou mexendo o chá distraídamente. Mas também não é o pesadelo que eu temia. Ele me respeita, me dá espaço. Talvez isso seja o melhor que podemos ter. Mas à noite, quando estava sozinha em seu quarto enorme, Marina não conseguia evitar o sentimento de perda, não apenas pela virgindade entocada ou pelo casamento não consumado, mas pela conexão humana.
Ela se casara esperando pelo menos ter companhia, mas estava mais sozinha do que nunca. Lucas, por sua vez, mergulhou de volta em sua vida antiga com uma intensidade quase desesperada. Festas todas as noites, bebidas até perder a consciência. qualquer coisa para não pensar na garota tímida esperando em casa, porque pensar nela significaria confrontar a verdade, que ele estava com medo.
Medo de tentar e falhar, medo de deixar alguém entrar e ser rejeitado, medo de que se realmente conhecesse Marina, ele poderia gostar dela e isso seria mais aterrorizante do que qualquer coisa. Então ele fugia, sempre fugindo. A primeira crise veio três semanas após o casamento. Marina estava estudando na sala quando ouviu barulho na porta.
Era 3 da manhã. Lucas entrou cambaleando, claramente muito bêbado, segurando-se nas paredes para não cair. “Hei”, ele murmurou ao vê-la, a fala arrastada. Ainda acordada? “Tenho prova amanhã”, Marina respondeu, fechando o livro. “Você está bem?” Nunca estive melhor. Ele gargalhou um som alegria. Estou casado.
Tenho um apartamento lindo, uma esposa linda que nem sequer consigo olhar nos olhos. Tudo perfeito. Marina se levantou, aproximando-se cautelosamente. O cheiro de álcool e perfume feminino emanava dele. E ela sentiu algo apertar em seu peito. Não se ciúme, não ainda. Mas uma dor profunda. “Você precisa dormir”, ela disse suavemente. “Preciso?” Lucas a encarou e ela viu tanta dor em seus olhos que quase recuou. Você sabe o que eu preciso, Marina.
Eu preciso voltar no tempo. Preciso nunca ter nascido um Andrade. Preciso ser alguém que você pudesse realmente querer, não alguém que você foi forçada a aceitar. Lucas, não. Ele levantou a mão, afastando-se dela. Não fja que se importa. Você não me conhece. E se conhecesse, não gostaria do que veria. Ele cambaleou em direção ao seu quarto, mas tropeçou. Marina o segurou pelo braço antes que caísse.
“Vem”, ela disse, guiando-o para o sofá. “Fica aqui. Não vai conseguir chegar ao seu quarto assim.” Ela o ajudou a se deitar, tirou seus sapatos, cobriu-o com um cobertor. Lucas já estava meio inconsciente, murmurando palavras ininteligíveis.
Marina ficou ali por um momento, olhando para ele no sono, ou quase. Ele parecia diferente, mais jovem, mais vulnerável. As linhas de amargura em seu rosto suavizavam e ela podia quase ver o garoto que ele fora antes de todas as feridas e decepções. “Eu queria poder te ajudar”, ela sussurrou, embora soubesse que ele não podia ouvi-la. “Queria poder te mostrar que você vale mais do que acha”. Ela voltou para seus livros, mas não conseguiu se concentrar.
E quando finalmente foi dormir, foi com o coração pesado e a pergunta queimando em sua mente: “Quanto tempo mais conseguiriam viver naquela mentira? Quanto tempo! Até que um deles quebrasse completamente! Marina acordou no sábado seguinte com um calafrio percorrendo seu corpo. Sua garganta estava em chamas.
A cabeça latejava como se alguém estivesse martelando seu crânio por dentro, e cada movimento parecia requerer um esforço hercúlio. Ela tentou se levantar para ir ao banheiro, mas suas pernas fraquejaram e ela caiu de volta na cama com um gemido. “Droga!”, ela murmurou, a voz rouca e fraca. Conseguiu arrastar-se até o banheiro, olhou-se no espelho e assustou-se com a própria aparência.
Rosto pálido, olhos vidrados, lábios rachados, definitivamente estava com febre. Ela voltou para a cama, puxando o cobertor até o queixo, tremendo incontrolavelmente. Pegou o celular e mandou mensagem para sua mãe, avisando que estava doente. Rosa respondeu imediatamente, oferecendo-se para ir até lá, mas Marina recusou. Não queria preocupar os pais, era só uma gripe.
Ia passar, as horas se arrastaram. Marina derivava entre o sono febril e a consciência turva. Em algum momento, ouviu a porta da frente abrir e fechar, Lucas chegando de mais uma noite fora. Ela esperou que ele fosse direto para o quarto dele, como sempre fazia, mas então ouviu passos no corredor, uma batida suave em sua porta. Marina.
A voz de Lucas incomumente hesitante. Você está aí? Ela tentou responder, mas só conseguiu torcir violentamente. A porta se abriu e Lucas entrou, parando abruptamente ao vê-la. Seus olhos se arregalaram com preocupação genuína. “Caralho”, ele sussurrou, aproximando-se rapidamente. “Você está péssima.
Obrigada pela sinceridade”, Marina conseguiu dizer entre. Lucas colocou a mão em sua testa e Marina estremeceu com o toque. Era a primeira vez que ele a tocava desde o casamento, além do aperto de mão cerimonial. Você está fervendo. Quanto tempo está assim? Desde ontem à noite. E não me chamou? Havia algo em sua voz? Raiva, preocupação? Marina não conseguia processar direito.
Você estava fora e não é sua obrigação. Eu sou seu marido. Lucas interrompeu e pela primeira vez ele disse aquela palavra como se realmente significasse algo. Mesmo que seja um casamento de merda, isso ainda conta alguma coisa. Ele saiu do quarto antes que Marina pudesse responder. Ela o ouviu fuçando pela cozinha, abrindo armários, conversando no telefone.
Minutos depois, ele voltou com um copo d’água e dois comprimidos. Antitérmico e anti-inflamatório”, ele disse, ajudando-a a se sentar. Toma. Marina obedeceu. Suas mãos tremendo tanto que Lucas precisou segurar o copo para ela. A água fresca desceu por sua garganta, irritada como um bálsamo. “Quando foi a última vez que você comeu?”, ele perguntou. “Não lembro.
” Lucas passou a mão pelos cabelos, claramente frustrado, não com ela, mas com a situação. “Ok, você fica aqui. Eu vou vou dar um jeito nisso.” Ele saiu novamente e Marina ouviu mais movimento na cozinha. Cheiro de comida começou a se espalhar pelo apartamento. Ela estava tão confusa. Lucas cozinhando, o mesmo Lucas, que sempre pedia delivery ou comia fora. 20 minutos depois, ele voltou com uma bandeja.
Havia uma tigela fumegante de sopa de galinha, torradas, suco de laranja e mais água. “Não é nada chique”, ele disse, parecendo quase envergonhado. “Mas é comida”. Marina olhou para ele então para a bandeja e sentiu lágrimas queimar em seus olhos, não pela sopa, mas pelo gesto, pela primeira demonstração real de que ele havia como pessoa, não apenas como obrigação. “Obrigada”, ela sussurrou.
Lucas ajudou-a a se sentar melhor, empilhando travesseiros atrás de suas costas. Então, pegou a colher e encheu com sopa. “Abre a boca! Eu posso, Marina, você mal consegue segurar um copo. Deixa eu ajudar. E ele a alimentou colherada por colherada, com uma paciência que ela não sabia que ele possuía.
Entre as colheradas, ele conversava coisas bobas e histórias de quando era criança, qualquer coisa para distraí-la do desconforto. Quando eu tinha 8 anos, peguei catapora. Fiquei uma semana de cama coçando até quase arrancar a pele, ele contou um meio sorriso em seus lábios. Minha mãe ficou comigo todo dia. Ela lia histórias, fazia desenhos comigo, inventava jogos bobos só para me fazer esquecer da coceira. Sua mãe parece ter sido especial, Marina disse suavemente.
O sorriso de Lucas morreu. Era morreu quando eu tinha 16. Câncer. Sinto muito. É, eu também. Ele ofereceu outra colherada. Depois que ela foi, tudo ficou diferente. Meu pai se jogou no trabalho. Ricardo se tornou o filho perfeito para compensar. E eu virei o filho problema. Marina percebeu que era a primeira vez que Lucas falava abertamente sobre si mesmo com ela.
A primeira rachadura na armadura que ele usava constantemente. “Você não é um problema”, ela disse, embora sua voz estivesse fraca. Lucas riu sem humor. “Você é muito gentil, Marina. Gentil demais. Quando ela terminou de comer, Lucas recolheu a bandeja. Você precisa dormir. Vou deixar água e remédio aqui na mesinha. Toma de seis em seis horas.
Você vai sair? Ela perguntou, tentando parecer decepcionada. Lucas hesitou na porta. Não vou ficar caso você precise de alguma coisa. E ele ficou. Durante todo o dia, Lucas permaneceu no apartamento. Marina acordava ocasionalmente, sempre encontrando ele ali. Às vezes sentado na poltrona do canto, lendo algo no celular, às vezes apenas olhando pela janela.
Quando ela se mexia, ele imediatamente perguntava se ela precisava de algo. À noite, ele trouxe mais sopa, mais remédio, mais água. E quando Marina teve um acesso particularmente violento de tosse, ele se sentou na beira da cama, esfregando suas costas em círculos lentos até que ela se acalmasse. “Desculpa”, ela sussurrou, envergonhada. “Pelo quê?” “Por ser um incômodo”.
Lucas a olhou com uma expressão estranha. “Você não é um incômodo, Marina. Você está doente. Isso, isso acontece. Você não precisava ficar. Eu sei. Ele continuou esfregando suas costas, mas eu quis. Naquela noite, Marina dormiu melhor do que havia dormido em semanas. E quando acordou de madrugada, febril e confusa, ela encontrou Lucas adormecido na poltrona ao lado da cama, claramente desconfortável, mas ali mesmo assim, vigiando, cuidando, e algo no coração de Marina se aqueceu.
Não a febre, mas algo diferente, mais profundo. Esperança. Marina levou quatro dias para se recuperar completamente. Durante esse tempo, Lucas foi atencioso de uma forma que a deixou simultaneamente comovida e confusa. Ele fazia sopa, buscava remédios na farmácia, até alugou filmes para assistirem juntos enquanto ela se recuperava.
Mas assim que ela melhorou, Lucas voltou aos poucos à sua antiga rotina. Não completamente. Ele ainda saía menos, bebia menos e sempre perguntava se ela precisava de algo antes de sair. Mas a distância voltou. aquela parede invisível entre eles. Até que duas semanas depois tudo mudou novamente. Marina estava na faculdade quando recebeu uma ligação de Ricardo. Marina? É o Ricardo, cunhado do Lucas. Oi, Ricardo.
Tudo bem? Olha, eu não sei se devo te contar isso, mas acho que você tem direito de saber. Lucas está com problemas sérios. O coração de Marina afundou. Que tipo de problemas? Problemas de dinheiro. Ele fez apostas altas em um jogo de póker online e perdeu muito. Meu pai cortou o acesso dele a todas as contas. Lucas está bem, está desesperado. Marina agradeceu e desligou sua mente girando.
Ela saiu mais cedo da faculdade e foi direto para casa. Encontrou Lucas na sala, a cabeça entre as mãos, cercado por papéis e extratos bancários. Lucas, Ele levantou a cabeça bruscamente, os olhos vermelhos. Ele estivera chorando. Lucas Andrade, o Playboy impassível chorando. O que você está fazendo aqui? Ele perguntou a voz rouca. Moro aqui. Ela respondeu gentilmente, aproximando-se.
O que aconteceu? Nada. Nada que você precise se preocupar. Ricardo me ligou. Lucas soltou uma risada amarga. Claro que ligou. Meu irmão perfeito, sempre salvando o irmão idiota. Marina se sentou ao lado dele, observando os papéis. Valores altos, dívidas, contas vencidas. Quanto você deve? 80.000. Ele passou as mãos pelos cabelos. R$ 80.
000 que eu não tenho. Meu pai cortou tudo. Disse que eu preciso aprender a lidar com as consequências dos meus atos. E você vai? Lucas a olhou como se ela tivesse dito algo absurdo. Vou o quê? Pagar com que dinheiro, Marina? Eu não tenho nada. Tudo o que tenho vem do meu pai.
E agora que ele fechou a torneira, eu estou estou Marina mordeu o lábio, pensando. Então ela se levantou e foi até seu quarto. Voltou minutos depois com seu talão de cheques, a conta que Roberto havia aberto para ela como parte do acordo. “Aqui”, ela disse, estendendo um cheque preenchido. Lucas olhou para o papel, então para ela. Incrédulo. O que é isso? R$ 15.
000? É tudo que tenho na conta neste mês. Não é suficiente para pagar tudo, mas é um começo. Você está maluca? Lucas se levantou bruscamente. Eu não vou aceitar seu dinheiro. Por que não? Porque é seu. Você ganhou esse dinheiro. É parte do seu acordo. Marina deu de ombros. E você é meu marido.
Estamos juntos nisso, não estamos? Você cuidou de mim quando eu estava doente. Deixa eu te ajudar agora. Lucas olhou para ela como se a visse pela primeira vez. genuinamente a visse. Não a garota tímida que limpava a casa de seu pai. Não a obrigação forçada, mas Marina, a pessoa que estava oferecendo o pouco que tinha para ajudá-lo. Por quê? Ele perguntou, a voz quebrando.
Por que você faria isso por mim? Eu não fiz nada para merecer. Marina se aproximou, segurando o rosto dele entre as mãos, em um gesto surpreendentemente íntimo. Porque todo mundo merece uma segunda chance, Lucas. Todo mundo merece alguém que acredite neles. Lágrimas rolaram pelo rosto dele.
Lágrimas reais, honestas, e Marina as limpou gentilmente com os polegares. “Eu não sei como te pagar de volta”, ele sussurrou. “Não precisa, só tenta, ok? Tenta ser a pessoa que eu sei que você pode ser”. Lucas a puxou para um abraço. O primeiro abraço real desde que se casaram.
Ele a segurou com força, como se ela fosse a única coisa sólida em um mundo desabando. E Marina retribuiu, sentindo o corpo dele tremer com soluços silenciosos. “Eu sinto muito”, ele murmurou contra seu cabelo. “Por tudo, por ser um marido horrível, por te arrastar para essa bagunça, por X!” Marina o interrompeu. Não precisa se desculpar. Só precisa tentar fazer diferente daqui para frente.
Eles ficaram assim por um longo tempo, abraçados no meio da sala, dois náufragos encontrando âncora um no outro. Quando finalmente se separaram, Lucas limpou o rosto envergonhado. Eu vou devolver esse dinheiro, juro. Vou arrumar um jeito. Eu confio em você. E pela primeira vez em muito tempo, alguém realmente confiava em Lucas Andrade.
Naquela noite, eles jantaram juntos pela primeira vez desde o casamento. Lucas pediu pizza, nada sofisticado, e eles comeram sentados no chão da sala, conversando sobre coisas triviais. Marina contou sobre sua faculdade, sobre seus sonhos de abrir uma escola para crianças especiais.
Lucas compartilhou histórias de quando quis ser arquiteto antes de desistir de todos os sonhos. Por que você desistiu? Marina perguntou. Lucas suspirou. Porque meu pai queria que eu trabalhasse na construtora, administração, negócios, essas coisas. Arquitetura era hobby, não carreira séria. E se você tentasse novamente? Não é tarde demais. Tenho 28 anos, Marina.
Seria recomeçar do zero. Melhor recomeçar do zero do que ficar parado no lugar errado. Lucas a olhou, um sorriso pequeno curvando seus lábios. Quando você ficou tão sábia, sempre fui. Você só não estava prestando atenção. Ele riu. Uma risada genuína, sem amargura ou sarcasmo. E Marina percebeu que adorava aquele som.
Quando a noite terminou e cada um foi para seu quarto, havia algo diferente no ar. Uma mudança sutil, como as primeiras cores do amanhecer antes do sol nascer completamente. Algo estava começando entre eles, algo real, assustador, mas também cheio de possibilidades. E pela primeira vez desde o casamento, ambos foram dormir com um sorriso nos lábios. A mudança em Lucas não foi instantânea nem dramática.
foi gradual, quase imperceptível no início, como gelo derretendo sob o sol fraco do inverno. Ele começou a acordar mais cedo, a beber menos, a passar mais tempo em casa. Algumas noites, ele e Marina assistiam filmes juntos, compartilhando pipoca e comentários sobre as cenas. Ele começou a perguntar sobre o dia dela, realmente ouvindo as respostas.
E Marina, por sua vez, começou a se abrir mais, compartilhando suas esperanças. medos e sonhos. Era quase como amizade, quase como um relacionamento real. Até que uma noite, três semanas depois do incidente do dinheiro, o passado de Lucas veio bater a porta. Literalmente, Marina estava estudando quando tocou a campainha. Lucas estava no chuveiro, então ela atendeu.
Do outro lado estava uma mulher deslumbrante, cabelos loiros platinados caindo em ondas perfeitas, vestido vermelho que abraçava cada curva, saltos altíssimos e uma confiança que emanava dela como perfume caro. “Olá”, ela disse, os olhos escaneando Marina de cima a baixo, com um misto de curiosidade e desdém disfarçado.
“Você deve ser a famosa esposa, Isabela Moreira. Prazer. Marina reconheceu o nome imediatamente. Isabela era modelo, influenciadora e, mais importante, era a ex-namorada de Lucas, ou melhor, uma das muitas, mas a mais recente e publicamente conhecida. Prazer. Marina, respondeu, mantendo a compostura, apesar do nervosismo.
Posso ajudar? Na verdade, vim ver o Lucas. Ele está está tomando banho. Ah, perfeito. Posso esperar então? Isabela não esperou resposta, já entrando no apartamento com a familiaridade de quem já estivera ali antes. Ela se jogou no sofá, cruzando as pernas de forma calculadamente sedutora. Então você é a sortuda que fisgou Lucas Andrade. Impressionante.
Fisgou não é bem a palavra que eu usaria. Marina disse, mantendo-se de pé desconfortável. Não, mas vocês se casaram tão rapidamente? Todo mundo está comentando. Isabela sorriu, mas havia algo afiado por trás daquele sorriso. Você deve ter algo especial. Afinal, Lucas nunca foi do tipo de se prender.
Antes que Marina pudesse responder, Lucas saiu do corredor, ainda secando o cabelo com uma toalha. Ele parou ao ver Isabela, sua expressão endurecendo imediatamente. O que você está fazendo aqui, Isa? Que recepção, querido. Isabela ronronou. levantando-se em um movimento fluido. Vim ver como você está. Faz semanas que você não aparece em nenhuma festa. Não atende minhas ligações. Fiquei preocupada. Não precisa ficar. Estou bem. Bem.
Isabela se aproximou dele, seus dedos traçando o braço de Lucas, casado e domesticado. Isso não parece o Lucas que eu conheço. Lucas se afastou do toque dela, lançando um olhar para Marina, que estava parada perto da cozinha, claramente desconfortável. As pessoas mudam, Isa. Mudam? Ela riu. Um som melodioso e zombeteiro.
Lucas, você está brincando comigo? Lembra de Barcelona? de como você disse que nunca seria do tipo que se casa e tem família. Eu era diferente em Barcelona. Isso foi há dois meses. Marina sentiu seu coração apertar. Dois meses. Apenas dois meses antes do casamento forçado, Lucas estava em Barcelona com essa mulher deslumbrante, fazendo promessas de liberdade eterna. Isa, você precisa ir. Lucas disse, o tom firme, mas cansado.
Preciso. Ou você está com medo de que eu lembre você? de quem você realmente é. Isabela se virou para Marina, os olhos brilhando com malícia. Você sabe sobre Barcelona, querida? Sobre as outras cidades, sobre todas as vezes que Lucas disse que jamais se casaria? Chega. Lucas elevou a voz a algo que Marina nunca o havia visto fazer. Você não tem direito de vir aqui e fazer isso.
Fazer o quê? Falar a verdade? Isabela cruzou os braços. ou está com medo de que sua esposinha descubra que você é incapaz de fidelidade, de compromisso real. Marina sentiu as lágrimas queimar em seus olhos, mas se recusou a deixá-las cair. Não ia dar a essa mulher a satisfação de vê-la quebrar.
Eu acho melhor você ir”, Marina”, disse, sua voz surpreendentemente firme, antes que isso fique ainda mais desagradável, Isabela a olhou com surpresa, claramente não esperando que a garota tímida respondesse. Então ela riu. “Você tem garra? Eu dou isso a você. Mas Garra não vai segurar um homem como Lucas.
Ele vai se cansar da brincadinha de casinha e voltar para o mundo real, para mulheres que realmente sabem o que ele precisa. Sai agora. Lucas estava ao lado de Marina agora, sua mão encontrando-a dela em um gesto protetor. E não volte. Isabela os olhou por um longo momento. Então pegou sua bolsa com um movimento dramático. Sua perda, querido. Quando você cansar de brincar de bom moço, você sabe onde me encontrar.
Ela saiu, deixando um rastro de perfume caro e tensão no ar. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Lucas ainda segurava a mão de Marina. Mas ela gentilmente se soltou. “Desculpa”, ele disse. “Ela não tinha direito. Era verdade.” Marina o interrompeu, virando-se para encará-lo. “Barcelona, as promessas de nunca se casar.
” Lucas passou a mão pelos cabelos, um gesto que Marina já reconhecia como sinal de desconforto. Era, mas eu era diferente. Então, Marina, eu estava vivendo sua verdadeira vida antes de ser forçado a essa farça comigo. Não é assim. Não é? Marina sentiu a raiva, uma emoção rara para ela borbulhar em seu peito. Então, como é, Lucas? Porque dessa onde estou, parece que eu sou apenas um obstáculo temporário na vida que você realmente quer viver. Você não entende. Então me explica.
Marina elevou a voz pela primeira vez desde que se conheceram. Me explica porque nos últimos dias eu comecei a acreditar que isso poderia funcionar, que você realmente estava tentando. E então sua ex aparece. E me lembra que eu sou só eu sou só uma obrigação. Você não é uma obrigação, não.
Então, o que eu sou, Lucas? Sua esposa, sua amiga, sua colega de apartamento, porque eu não sei mais. Lucas tentou se aproximar, mas Marina recuou. Lágrimas finalmente escorriam pelo seu rosto e ela odiava isso. Odiava mostrar fraqueza. “Marina, por favor, eu preciso de ar”, ela disse, pegando a bolsa. Eu vou. Vou para a casa da minha mãe esta noite. Não vai. Marina, espera.
Mas ela já estava saindo pela porta, deixando Lucas sozinho no apartamento. O eco das palavras de Isabela e a dor nos olhos de Marina girando em sua mente. Ele se deixou cair no sofá, a cabeça entre as mãos. Isabela tinha razão sobre uma coisa. Ele era incapaz de compromisso real, ou pelo menos sempre fora. Mas algo mudara.
E ele só percebeu a dimensão dessa mudança quando Marina saiu pela porta e ele sentiu como se algo vital tivesse sido arrancado dele. Ele pegou o telefone digitando e apagando mensagens uma dúzia de vezes. Finalmente mandou apenas uma. Sinto muito. Por tudo. Você não merecia isso. A resposta de Marina veio 20 minutos depois. Eu sei, mas você merece uma chance de descobrir quem você realmente quer ser, com ou sem mim.
E Lucas percebeu com uma clareza dolorosa que, pela primeira vez em sua vida, ele sabia exatamente quem queria ser. Queria ser o homem que merecia Marina Silva. A questão era: era tarde demais para se tornar esse homem? Marina passou três dias na casa dos pais. Três dias de sua mãe perguntando o que aconteceu, de seu pai oferecendo silenciosamente resolver as coisas com aquele garoto, de Júlia, sugerindo que ela pedisse o divórcio imediatamente.
Mas Marina não queria divórcio. Ela queria, ela nem sabia o que queria. Clareza, talvez honestidade, saber se Lucas realmente estava mudando ou se era apenas uma performance temporária. No terceiro dia tarde da noite, Marina estava deitada em sua antiga cama quando recebeu uma mensagem de Ricardo. Você precisa vir agora. Lucas está não está bem. Seu coração disparou.
Ela chamou um Uber imediatamente, nem se importando que eram 11 da noite. Durante toda a viagem de volta ao apartamento, sua mente correu com possibilidades terríveis. Quando chegou, encontrou Ricardo na porta, o rosto tenso de preocupação. Ele está dentro. Tentei tirá-lo de lá, mas ele não quer sair do apartamento, do banheiro. Ele se trancou lá faz horas.
Marina sentiu o medo gelar seu sangue. Ele Ele fez alguma coisa? Não, Deus não. Ele está só quebrando, completamente quebrando. E a única pessoa que ele está pedindo é você. Marina não esperou mais explicações. Correu para dentro, indo direto ao banheiro. A porta estava trancada, mas ela podia ouvir sons do outro lado.
Respiração pesada, soluços abafados. Lucas, ela bateu suavemente. Sou eu, Marina. Silêncio. Então, uma voz rouca, destruída. Você voltou? Sim, pode abrir a porta, por favor. Não quero que você me veja assim. Ver como quebrado, patético, tudo que eu sempre fui, mas fingi a não ser.
Marina encostou a testa na porta, as próprias lágrimas ameaçando cair. Lucas, por favor, abre a porta. Deixa eu entrar. Por quê? Por que você se importa? Eu não faço nada além de te machucar. Porque eu escolho me importar. Mesmo quando dói, mesmo quando seria mais fácil não se importar. Eu escolho você, Lucas. Todos os dias eu escolho acreditar em você. Houve um longo silêncio.
Então, o clique da fechadura sendo aberta. Marina empurrou a porta devagar. Lucas estava sentado no chão do box do chuveiro, ainda vestido, os joelhos puxados para o peito. Seu rosto estava vermelho e inchado de tanto chorar, os olhos vidrados. Havia algumas garrafas vazias de cerveja espalhadas. Ele havia bebido, mas não estava bêbado, apenas destroçado emocionalmente.
Marina se abaixou ao lado dele, não ligando para o chão molhado. “O que aconteceu?”, ela perguntou suavemente. “Eu fui em uma festa.” Ele começou a voz trêmula. “Depois que você saiu, Isabela estava lá. Todos os meus velhos amigos estavam lá. a bebida, a música, tudo igual, como se nada tivesse mudado. E e eu percebi que eu odeio aquilo.
Odeio aquelas pessoas, aquela vida, odeio quem eu era quando estava ali. Ele olhou para ela e Marina viu dor crua em seus olhos. Isabela me ofereceu tudo de volta, a velha vida, sem complicações, sem responsabilidades. E eu disse: “Não, você disse não?” disse, porque a única coisa que eu queria era voltar para casa para você, para essa vida estranha e assustadora que a gente está tentando construir.
Ele soltou uma risada amarga, mas então eu pensei, quem eu estou enganando? Você merece alguém que sempre soube quem queria ser. Não alguém que está apenas descobrindo com 28 anos que passou a vida toda sendo um merda. Marina pegou o rosto dele entre as mãos, forçando-o a olhá-la. Ouve o que eu vou te dizer, Lucas Andrade. Eu não quero alguém perfeito.
Eu não quero alguém que sempre soube o que fazer. Eu quero você, baguncado, confuso, tentando. Porque é mais corajoso mudar do que sempre ter sido certo. Você realmente acredita nisso? Eu acredito em você. Lucas a puxou para um abraço desesperado, afundando o rosto em seu pescoço. E Marina sentiu suas lágrimas molhar em sua pele.
Ela o segurou com força, deixando-o quebrar em seus braços, deixando-o finalmente liberar toda a dor e frustração que carregava. “Eu não quero ser aquele cara mais”, ele sussurrou contra seu cabelo. “Não quero ser o Lucas das festas, das bebidas, dos escândalos. Quero ser alguém que você se orgulhe de estar junto. Então seja, mas não por mim, Lucas, por você.
Eles ficaram assim por um longo tempo, envoltos um no outro, no chão molhado do banheiro. Ricardo eventualmente foi embora silenciosamente, percebendo que eles precisavam daquele momento. Quando Lucas finalmente se acalmou, Marina o ajudou a se levantar, a trocar de roupa, a beber água. Ela o guiou até a sala, onde se sentaram no sofá, um espaço pequeno, mas significativo entre eles.
“Eu quero tentar de verdade”, Lucas disse, seus dedos nervosos mexendo na barra da camisa. “Não apenas fingir em público. Quero realmente construir algo com você. Mas eu preciso que você saiba, eu não sei como fazer isso. Nunca tive um relacionamento de verdade, nunca me importei o suficiente para tentar. E agora se importa? Sim.
” Ele finalmente olhou para ela e havia uma vulnerabilidade crua em seus olhos que fez o coração de Marina apertar mais do que pensei ser capaz. Marina puxou as pernas para o peito, considerando suas próximas palavras cuidadosamente. OK, então vamos tentar de verdade, mas com uma condição. Qual? Honestidade total. Sem mentiras, sem omissões, sem fugir quando ficar difícil. Se você está se sentindo perdido, você me conta.
Se você está com vontade de voltar para a velha vida, você me conta. Se está com medo, você me conta. Lidamos com isso juntos. E se eu te magoar de novo? Então você se desculpa. Nós conversamos e tentamos fazer melhor na próxima vez. Não é sobre nunca errar, Lucas. É sobre querer consertar quando erramos.
Lucas estendeu a mão e Marina a pegou. Seus dedos se entrelaçaram. um gesto simples, mas profundo. “Obrigado”, ele disse, “por não desistir de mim. Obrigada por me dar um motivo para não desistir.” Naquela noite, Marina dormiu em sua cama e Lucas na dele, mas algo fundamental havia mudado.
Pela primeira vez desde o casamento, eles não eram mais dois estranhos forçados a conviver. Eram duas pessoas escolhendo ativamente tentar construir algo juntos. E na manhã seguinte, quando Marina acordou e encontrou Lucas já na cozinha preparando café da manhã ou tentando, havia farinha por todos os lados e o que parecia ser panquecas carbonizadas na frigideira, ela sorriu.
Você está cozinhando? Tentando? Ele corrigiu parecendo envergonhado. É uma droga, mas você disse que queria esforço, então estou me esforçando. Marina se aproximou, pegando a espátula dele. Deixa eu te ajudar. E assim, lado a lado, eles fizeram panquecas, algumas queimadas, outras cruas, mas algumas perfeitas. E quando se sentaram para comer, dividindo a bagunça que criaram juntos, ambos sentiram algo crescer entre eles.
Não era amor ainda, não completamente, mas era o começo de algo que poderia se tornar amor se eles cuidassem disso, se nutrissem isso, se escolhessem um ao outro todos os dias. E pela primeira vez, ambos acreditaram que poderiam. Os dias que se seguiram foram diferentes. Lucas parou de sair completamente.
Ele acordava cedo, não tão cedo quanto Marina, mas um progresso considerável para alguém que costumava dormir até meio-dia. Começou a acompanhá-la no café da manhã, depois a levá-la para a faculdade quando possível. Mas o mais significativo, Lucas procurou um psicólogo. Marina descobriu acidentalmente quando viu uma notificação de consulta no celular dele.
“Você está fazendo terapia?”, ela perguntou sem julgamento, apenas curiosidade. Lucas pareceu envergonhado. Achei que precisava. Se vou mudar de verdade, preciso entender porque fui tão autodestruitivo por tanto tempo. Marina sentiu orgulho inundar seu peito. Isso é, isso é muito corajoso, Lucas.
É assustador para caralho”, ele admitiu com um meio sorriso. “Mas acho que se tem uma coisa que aprendi é que coragem não é não ter medo, é ter medo e fazer assim mesmo.” Eles começaram a ter noites de conversa. Sentavam na sala com chá ou café, sem televisão, sem celulares, apenas conversando sobre tudo e nada.
Marina contava sobre suas aulas, seus alunos no estágio, seus sonhos de criar metodologias inclusivas de ensino. Lucas falava sobre seus desenhos antigos de arquitetura, sobre como sentia falta de criar algo com as mãos. “Por que você não volta a desenhar?”, Marina perguntou uma dessas noites. “Faz tanto tempo, não sei se ainda consigo.
Tenta, qual o pior que pode acontecer?” No dia seguinte, Marina chegou em casa e encontrou Lucas na mesa de jantar, cercado por papéis, lápis e réguas. Ele estava tão concentrado que nem a ouviu entrar. Isso é, Lucas levantou a cabeça corando levemente. Uma casa não é nada demais, só rabiscos. Marina se aproximou, observando o desenho.
Era detalhado, pensado, com anotações nas margens sobre materiais sustentáveis e aproveitamento de luz natural. Lucas, isso está incrível. Está uma bagunça. Está vivo. Está cheio de possibilidades. Ela tocou seu ombro suavemente. Você é talentoso. Sempre foi. Só precisava lembrar disso. Lucas olhou para ela e havia algo novo em seus olhos. Não apenas gratidão, mas algo mais quente, mais profundo.
Como você faz isso? Fazer o quê? Me fazer acreditar que posso ser melhor. Eu só vejo o que sempre esteve lá. Você que se recusava a ver. Três semanas depois do incidente com Isabela, Roberto pediu que Lucas e Marina fossem jantar na mansão. Era o primeiro encontro familiar desde o casamento. E Marina estava nervosa. Vai ficar tudo bem.
Lucas assegurou segurando sua mão enquanto dirigiam. Esse gesto, segurar a mão dela, havia se tornado natural entre eles. Pequenos toques, abraços ocasionais, proximidade física que não tinha intenção sexual. Apenas conforto. O jantar começou tenso. Roberto observava Lucas com aquele olhar analítico de empresário, procurando por sinais de falha.
Ricardo e sua esposa Camila, mantinham uma conversa educada, mas superficial. Foi quando Roberto finalmente falou: “Então, Lucas, ouvi dizer que você tem ido às consultas com o Dr. Mendes. Lucas pausou o garfo no ar. Como você sabe disso? Sou seu pai. É meu trabalho saber. É invasão de privacidade, é preocupação. Roberto suspirou e pela primeira vez parecia genuinamente cansado, não apenas autoritário.
Estou orgulhoso de você por procurar ajuda. Não é fácil admitir que precisamos. Lucas ficou claramente chocado, orgulhoso. Quando foi a última vez que seu pai dissera estar orgulhoso dele? Obrigado ele conseguiu dizer. E tenho uma proposta. Roberto continuou. Quero que você volte para a empresa, mas não como antes. Você vai começar de baixo.
Vai aprender cada departamento, desde o chão da obra até a administração. Se provar seu valor, pode subir por mérito próprio. Sem regalias, sem tratamento especial por ser filho. Sem regalias. Você será apenas mais um funcionário. O sobrenome não vai te salvar se você errar. Marina viu a mandíbula de Lucas apertar, mas então ele assentiu. OK, eu aceito. Começa segunda-feira, 7 da manhã.
Depois do jantar, quando estavam saindo, Ricardo puxou Lucas de lado. Você está diferente, mano. Mas presente. Estou tentando. A Marina está fazendo bem para você. Cuida dela porque mulheres assim são raras. Eu sei. Lucas disse, olhando para Marina, que conversava com Rosa na saída. Acredita em mim? Eu sei.
Na segunda-feira, Lucas começou a trabalhar. Marina acordou às 5 da manhã para preparar o café dele, fazer um lanche para levar. Lucas desceu de terno e gravata, mas havia nervosismo em seus olhos. “Você consegue”, Marina disse, ajeitando a gravata dele. “Vai ser difícil, mas você consegue. E se eu estragar tudo? Então você aprende e tenta de novo, mas você não vai estragar. Eu confio em você”.
Ele a puxou para um abraço rápido, inalando o perfume suave dela, lavanda e algo doce. Obrigado por tudo. O primeiro dia foi brutal. Lucas passou 8 horas carregando materiais, tirando medidas, fazendo o trabalho pesado que ele sempre desprezara. Voltou para casa exausto, suado, com os músculos doendo.
Marina o encontrou desabando no sofá, ainda de uniforme de obra. Sobreviveu mal. Como pessoas fazem isso todo dia, com necessidade, com força de vontade. Ela se sentou ao lado dele. Quer que eu faça um banho quente para você? Você não precisa, eu sei, mas eu quero. Enquanto a banheira enchia, a Marina preparou um jantar simples.
Lucas saiu do banho, vestido em um moletom confortável, o cabelo ainda úmido. Isso cheira bem, ele disse, sentando-se à mesa. É só macarrão com molho. Nada especial. É especial porque você fez. Marina sorriu servindo os dois. Eles comeram em silêncio confortável. O tipo de silêncio que só existe entre pessoas que estão aprendendo a ser confortáveis uma com a outra.
Marina Lucas disse depois que terminaram de comer. Eu queria te agradecer, não apenas por hoje, mas por não desistir de mim quando seria mais fácil. Lucas, não deixa eu terminar. Ele pegou a mão dela sobre a mesa. Eu sei que esse casamento começou de forma errada, forçado, transacional, mas você transformou em algo real, algo que vale a pena lutar por. Não fui só eu.
Você escolheu mudar, escolheu tentar. Eu escolhi por você, porque você merecia mais do que o homem que eu era. E a cada dia eu quero ser mais merecedor de estar ao seu lado. Marina sentiu lágrimas queimar em seus olhos, mas eram lágrimas boas, de alegria, de esperança realizada.
Você sabe que eu sempre te amei, né? Foi a primeira vez que ela disse em voz alta. Lucas ficou imóvel. O quê? Desde os 15 anos, quando comecei a trabalhar com meus pais na sua casa, eu te vi e eu soube. Era paixão de adolescente. Eu sei. Bobagem de menina que lia muito romance. Ela riu através das lágrimas, mas mesmo assim era real. Para mim sempre foi você.
Lucas apertou a mão dela, seus próprios olhos brilhando. Eu não sei se mereço esse amor, mas eu prometo que vou passar o resto da nossa vida tentando merecer. Você já merece, Lucas. Só precisava perceber isso. Eles ficaram assim, mãos entrelaçadas sobre a mesa, olhares conectados e algo passou entre eles. Não apenas conexão ou amizade, mas o início de algo mais profundo, algo que poderia finalmente ser chamado de amor verdadeiro.
Mas amor verdadeiro é testado, desafiado, provado pelo fogo da vida real. E o maior teste deles ainda estava por vir. Dois meses haviam-se passado desde que Lucas começara a trabalhar na construtora. Ele acordava às 5:30 todas as manhãs. Voltava às 6 da tarde, exausto, mas satisfeito.
Sua pele estava mais bronzeada do trabalho ao ar livre, seus músculos mais definidos do esforço físico, mas a mudança mais significativa era em seus olhos. Havia propósito ali, não apenas vazio. Roberto havia notado. Em uma reunião semanal de supervisores, ele elogiou publicamente o trabalho de Lucas, sem mencionar que era seu filho. O novo rapaz Andrade tem mostrado dedicação exemplar.
Aprendam com ele. Lucas contou isso para Marina naquela noite, ainda sem acreditar. Ele me elogiou na frente de todo mundo. Porque você merece, Marina disse simplesmente, servindo o jantar que haviam preparado juntos. Eles agora cozinhavam em parceria, uma dança doméstica que se tornara ritual querido.
Junho trouxe o aniversário de Marina, 21 anos. Ela não mencionou nada, mas Lucas descobriu através de Rosa. Ele planejou algo simples, mas significativo. No sábado de manhã, ele acordou Marina cedo. Veste algo confortável. Vamos sair. Sair para onde? Surpresa. Marina, vestida em jeans e blusas simples, seguiu Lucas até o carro.
Eles dirigiram por quase uma hora até chegarem a um sítio nos arredores de São Paulo. O lugar era tranquilo, rodeado de verde, com um lago pequeno cintilando sob o sol da manhã. “O que é aqui?”, Marina perguntou maravilhada. “Lembra que você mencionou que sempre quis fazer um piquenique de verdade, com natureza e tudo mais?” Lucas abriu o porta-malas, revelando uma cesta de piquenique.
“Então, feliz aniversário.” Marina sentiu as lágrimas encherem seus olhos. Você lembrou? Eu lembro de tudo que você me conta. Eles estenderam uma manta sob uma árvore grande, a sombra dançando sobre eles enquanto desempacotavam sanduíches, frutas, suco e até um pequeno bolo que Lucas havia tentado fazer ligeiramente torto, mas feito com amor.
“Esse lugar é lindo”, Marina disse, deitando-se na manta e olhando para o céu através das folhas. “Como você encontrou?”, pesquisei. Queria algo especial, algo que fosse só nosso. Lucas deitou ao lado dela, seus braços quase se tocando. Você merece momentos especiais, Marina. Merece ser celebrada. Marina virou a cabeça para olhá-lo.
Lucas já estava olhando para ela e havia algo em sua expressão, ternura, admiração, algo mais profundo que fazia o coração dela acelerar. “Lucas”, ela sussurrou. “Você sabe que não precisa me conquistar, né? Nós já somos casados. Eu sei. Ele respondeu também sussurrando, como se falando mais alto pudesse quebrar o momento. Mas eu quero te conquistar. Quero fazer as coisas do jeito certo, mesmo que seja atrasado. Quero te namorar, Marina.
Oficialmente namorar? Sim. Quero te levar em deites. Quero segurar sua mão em público. Não porque temos que fingir, mas porque eu quero. Quero te conhecer não como minha esposa, mas como a pessoa que eu estou me apaixonando. O ar saiu dos pulmões de Marina. Você está se apaixonando? Lucas se apoiou em um cotovelo, olhando diretamente para ela.
Estou completamente e é assustador para caramba, porque eu nunca senti isso antes, mas também é a melhor coisa que já me aconteceu. Marina se sentou e Lucas fez o mesmo. Eles ficaram frente à frente, os joelhos quase se tocando, o mundo inteiro parecendo desacelerar ao redor deles. “Eu já te disse que sempre te amei”, Marina começou. Sua voz trêmula com emoção, mas era um amor distante, de longe, de alguém que eu idealizava, mas não conhecia de verdade. E agora? Agora eu te conheço.
Conheço como você tenta fazer panquecas e sempre queima. Conheço como você franze a testa quando está concentrado desenhando. Conheço como você liga para sua terapeuta nos dias difíceis ao invés de beber. E eu te amo mais agora. O Lucas real, não a fantasia Marina. Lucas pegou o rosto dela entre as mãos, seus polegares acariciando suas bochechas.
Posso te beijar de verdade? Dessa vez não por obrigação ao protocolo, mas porque eu quero. Porque eu preciso. Sim. Ela sussurrou, fechando os olhos. Lucas se inclinou devagar, dando-lhe tempo de recuar, se quisesse, mas Marina não recuou. Quando seus lábios finalmente se encontraram, foi completamente diferente do beijo rápido do casamento.
Esse beijo era lento, exploratório, cheio de promessa. Marina sentiu eletricidade percorrer todo o seu corpo quando Lucas aprofundou o beijo, uma de suas mãos descendo para sua nuca. Ela respondeu timidamente no início. Era ainda primeiro beijo real, mas Lucas foi paciente, guiando-a gentilmente. Quando finalmente se separaram, ambos estavam sem fôlego.
“Au!” Marina sussurrou, seus dedos tocando seus próprios lábios em admiração. Lucas sorriu, um sorriso genuíno, completo, que transformou seu rosto inteiro. “Ua mal!” descreve. Eles passaram o resto do dia ali conversando, rindo, beijando ocasionalmente como adolescentes, descobrindo o romance pela primeira vez. Lucas contou sobre seus planos de eventualmente voltar a estudar arquitetura.
Marina compartilhou sua ideia de criar um centro educacional inclusivo. A gente podia fazer isso juntos, Lucas sugeriu. Você com a metodologia educacional, eu desenhando o espaço, uma escola feita para ser inclusiva desde a concepção arquitetônica. Você faria isso, Marina? Eu faria qualquer coisa com você. Por você.
Quando o sol começou a se pôr, pintando o céu de laranjas e rosas, eles empacotaram suas coisas. Lucas segurou Marina por trás, ambos observando as cores se transformarem. “Obrigada”, ela disse, apoiando a cabeça em seu peito. “Pelo melhor aniversário da minha vida. É só o começo. Prometo te dar aniversários incríveis pelos próximos 50 anos.” “50 anos, no mínimo.” Ele a girou para encará-lo.
“Porque eu quero isso, Marina. Não apenas porque somos casados legalmente, mas porque eu escolho você. Todos os dias eu escolho você. Eu também escolho você, Lucas, sempre. Eles dirigiram de volta para o apartamento de mãos dadas, um silêncio confortável entre eles. Mas quando chegaram em casa, havia uma tensão diferente no ar, não desconfortável, mas carregada de possibilidade.
Na sala, Lucas puxou Marina para um abraço. Você sabe que eu te respeito, né? Não vou pressionar você para nada que você não esteja pronta. Eu sei ela sussurrou. E eu te amo por isso. Mas também quero que saiba que quando você estiver pronta, se você estiver pronta, eu quero que seja especial.
Quero que você se sinta amada, segura, valorizada. Marina olhou para ele vendo a sinceridade em seus olhos azuis. Eu já me sinto tudo isso. Eles se beijaram novamente ali na sala fracamente iluminada. E Marina sentiu que finalmente, finalmente eles estavam construindo algo real, algo que valia todos os momentos difíceis, todas as lágrimas, toda a incerteza.
Aquela noite cada um ainda foi para seu quarto, mas havia uma promessa no ar. Uma promessa de que em breve, quando o tempo estivesse certo, quando ambos estivessem prontos, eles tomariam o próximo passo juntos. E pela primeira vez desde o casamento forçado, aquele próximo passo não parecia assustador, parecia inevitável, natural, certo? As semanas que se seguiram ao aniversário de Marina foram as mais felizes que ambos já haviam experimentado.
Eles eram de fato, um casal de verdade. Agora, não apenas no papel, mas na essência. Jantares juntos todas as noites, filmes abraçados no sofá, conversas até tarde sobre sonhos e medos. Lucas levava Marina para dates reais, cinema, restaurantes, até uma exposição de arte que ela mencionou querer ver.
Marina estava no último ano da faculdade trabalhando em seu TCC sobre educação inclusiva. Lucas frequentemente ficava acordado com ela enquanto estudava, desenhando seus próprios projetos na mesma mesa, uma companhia silenciosa, mas significativa. Roberto convidou-os para o baile anual da construtora, um evento pomposo, onde todos os funcionários de alto escalão e clientes importantes se reuniam.
Era em um hotel cinco estrelas, trage de gala, o tipo de evento que antes Lucas odiava. Você tem que ir, Marina perguntou quando Lucas mencionou. Nós temos que ir. Você é minha esposa e eu, ele a puxou para mais perto. Eu quero te mostrar para o mundo. Quero que todos vejam a mulher incrível que está ao meu lado. Marina ficou nervosa.
Eu nunca fui a um evento desses. Não sei como agir, o que dizer. Você age sendo você mesma. É tudo que você precisa. Roberto insistiu em pagar um vestido para Marina. Ela tentou recusar, mas Lucas a convenceu. Deixa meu pai fazer isso. É a forma dele de mostrar que te aceita, te valoriza. O vestido escolhido era deslumbrante, azul marinho, elegante, mas não ostensivo, realçando perfeitamente as curvas delicadas de Marina.
Quando ela saiu do quarto na noite do baile, Lucas literalmente esqueceu de respirar. Você está, eu não tenho palavras. Ele disse, aproximando-se dela. Ele estava impecável em smoking preto, cabelos arrumados. E Marina pensou que nunca ouvira tão bonito. “Muito?”, ela perguntou insegura. Perfeita. “Você está absolutamente perfeita. O baile era tudo que Marina imaginou e mais.
O salão era luxuoso, decorado com lustres de cristal e arranjos florais elaborados. Pessoas elegantes circulavam com taças de champanhe, conversas educadas. mascarando jogos de poder e política corporativa. Lucas manteve Marina ao seu lado o tempo todo, apresentando-a com orgulho. Essa é Marina, minha esposa. Marina notou os olhares surpresos, alguns admirados, outros com inveja mal disfarçada. Afinal, ela era apenas a filha dos funcionários, que havia se casado com o herdeiro Andrade.
Roberto fez um discurso sobre o crescimento da empresa, mencionando dedicação de funcionários exemplares e olhando significativamente para Lucas. Marina sentiu Lucas apertar sua mão, emocionado pelo reconhecimento público. A noite estava indo bem, até que Marina escusou-se para ir ao banheiro. Quando estava voltando, ouviu vozes em um corredor adjacente. Reconheceu uma delas imediatamente. Isabela.
Obviamente não vai durar, Isabela estava dizendo. Lucas está brincando de casinha, mas ele vai cansar. Homens como ele sempre voltam para o que realmente querem. Você tem tanta certeza assim? Era outra voz feminina curiosa. Querida, eu conheço Lucas há anos.
Ele está tentando provar algo para o pai dele, mas a garota é comum, sem sofisticação, sem o mundo que Lucas conhece. Quanto tempo você acha que ele vai aguentar fingir estar satisfeito com jantares caseiros e noites tranquilas? Marina sentiu como se tivesse levado um soco no estômago. Parte dela queria confrontar Isabela, mas a outra parte, a parte insegura que sempre questionou se era suficiente, se perguntou se havia verdade naquelas palavras.
Ela voltou para o salão, forçando um sorriso. Lucas imediatamente notou algo errado. Ei, você está bem? Sim, só muita gente. Está um pouco abafado. Quer ir para a varanda tomar um ar? Marina assentiu, permitindo que ele a guiasse para fora. A varanda do hotel oferecia uma vista deslumbrante de São Paulo, iluminada. A brisa fresca da noite trouxe algum alívio.
“Ok, o que realmente aconteceu?”, Lucas perguntou, virando Marina para encará-lo. “Você saiu bem e voltou diferente.” Marina hesitou, mas lembrou da promessa deles. Honestidade total. Eu ouvi a Isabela falando sobre nós.
Ela disse que você está brincando de casinha, que vai cansar de mim, porque eu sou comum, sem sofisticação. Lucas fechou os olhos, respirando fundo. Quando os abriu, havia fúria neles, mas não direcionada à Marina. Onde ela está, Lucas? Não, não, Marina. Isso já foi longe demais. Ela não tem direito de te fazer sentir menos do que você é.
Antes que Marina pudesse detê-lo, Lucas marchou de volta para o salão. Ele procurou até encontrar Isabela, rodeada por um grupo de pessoas. “Isabela”, ele disse, o tom cortante suficiente para fazer várias cabeças se virarem. “Preciso falar com você agora, Lucas, querido, que surpresa! Do lado de fora agora?” Isabela, percebendo que não havia negociação, o seguiu. Marina os acompanhou, seu coração batendo acelerado.
Na varanda agora mais privada, Lucas encarou Isabela com uma intensidade que a fez recuar. Você vai parar agora. Vai parar de espalhar veneno sobre minha esposa. Vai parar de aparecer na minha vida. Vai parar de agir como se tivesse algum direito sobre mim. Lucas, eu só estava Não me interrompa.
Sua voz era gelada, controlada, mas com uma raiva fervendo sob a superfície. Você não me conhece não mais. A pessoa que você conheceu era uma versão patética de mim que eu enterrei. Marina não é comum. Ela é extraordinária. Ela vê valor onde ninguém mais via. Ela teve fé em mim quando eu não tinha fé em mim mesmo. E se você não consegue ver o quanto ela é especial, o problema está em você, não nela. Isabela pareceu chocada.
Você realmente se apaixonou por ela? Eu realmente me apaixonei por ela”, Lucas confirmou sem hesitação. “E se você se importa mesmo comigo de alguma forma, você vai respeitar isso e deixar a gente em paz”. Isabela olhou entre Lucas e Marina, finalmente parecendo entender que havia perdido de verdade.
“Boa sorte vocês”, ela disse. E pela primeira vez soou genuína ao invés de sarcástica. Então ela saiu deixando-os sozinhos. Lucas imediatamente se virou para Marina, pegando suas mãos. Escuta, não importa o que qualquer pessoa diga, não importa quantas Isabelas apareçam tentando plantar dúvidas, eu escolho você, não por obrigação, não por conveniência, mas porque você é tudo que eu não sabia que precisava. Você é meu lar, Marina.
Lágrimas escorriam pelo rosto de Marina. Eu tenho medo às vezes medo de que você perceba que pode ter mais melhor, mais do que amor verdadeiro, melhor do que alguém que me conhece de verdade e ainda assim escolhe ficar. Impossível. Ele limpou suas lágrimas com os polegares. Você é meu mais meu melhor, meu tudo. Marina o puxou para um beijo apaixonado, não ligando para quem pudesse vê-los. Quando se separaram, ambos estavam sorrindo.
“Vamos para casa.” Lucas sugeriu. Eu cansei de festas chiques. Quero ir para casa com você. Vamos. Na viagem de volta, Marina descansou a cabeça no ombro de Lucas, seu coração mais leve. Mas havia uma pergunta queimando em sua mente, uma que ela vinha considerando há semanas.
Quando chegaram ao apartamento, Marina foi para seu quarto enquanto Lucas guardava as chaves do carro. Ela ficou parada em frente ao espelho, olhando para si mesma no vestido elegante, e tomou uma decisão. Era hora. Ela estava pronta. Ela não queria mais quartos separados, vidas separadas, corações guardados. Queria tudo com Lucas, a vulnerabilidade completa, a intimidade total, a conexão que haviam estado construindo, mas ainda não concretizaram fisicamente.
Com as mãos tremendo levemente, Marina caminhou até o quarto de Lucas. A porta estava entreaberta e ela podia vê-lo tirando a gravata, os primeiros botões da camisa abertos. Ela bateu suavemente e Lucas se virou. “Hei”, ele disse com um sorriso. “Precisando de alguma coisa?” Marina entrou, fechando a porta atrás de si.
O coração dela batia tão forte que tinha certeza que ele podia ouvir. “Marina, eu estou pronta”, ela disse simplesmente. “Estou pronta para sermos marido e mulher de verdade, em todos os sentidos”. Lucas ficou imóvel, processando suas palavras. “Você tem certeza? Não precisa ser agora. Podemos esperar quanto você precisar. Eu tenho certeza. Eu te amo, Lucas, e eu quero isso. Quero você completamente.
E naquele momento, com aquelas palavras simples, mas profundas, tudo mudou novamente entre eles. Mas o que nenhum dos dois sabia era que, enquanto escolhiam um ao outro, enquanto preparavam-se para dar o passo final em sua jornada, uma tempestade estava se formando no horizonte. Uma tempestade que testaria não apenas seu amor, mas sua própria capacidade de permanecerem juntos quando o mundo tentasse separá-los.
Lucas permaneceu parado, os olhos fixos em Marina, como se tentasse gravar cada detalhe daquele momento na memória. Ela estava ali no batente da porta de seu quarto, vestida ainda com aquele vestido azul deslumbrante, os olhos brilhando com determinação e vulnerabilidade entrelaçadas. Marina, ele começou a voz rouca de emoção.
Eu preciso que você tenha absoluta certeza, porque uma vez que fizermos isso, uma vez que cruzarmos essa linha, não há volta. E eu não quero que você se arrependa depois. Marina caminhou em direção a ele, cada passo deliberado, até ficar a poucos centímetros de distância. Ela colocou a mão sobre o coração dele, sentindo as batidas aceleradas sob a palma. Meu arrependimento seria não fazer isso”, ela disse suavemente.
“Seria deixar o medo me roubar esse momento. Eu passei anos sonhando com você de longe, Lucas. Agora você está aqui. Agora nós somos isso que construímos juntos e eu não quero mais esperar.” Lucas cobriu a mão dela com a sua. Eu quero que seja perfeito para você. Você é virgem? Eu sei. Ela completou com um sorriso tímido.
E estou assustada, mas também estou pronta. Porque é você? Porque eu confio em você mais do que confio em qualquer pessoa. Lucas a puxou gentilmente para mais perto, seus lábios encontrando a testa dela em um beijo reverente. Eu prometo ser gentil. Prometo ir devagar. E se em qualquer momento você quiser parar, eu sei, eu te digo. Ela olhou para cima, encontrando aqueles olhos azuis que a fascinavam há tanto tempo.
Lucas, me faz sua esposa de verdade, em todos os sentidos. Ele a beijou, então, um beijo lento, profundo, cheio de promessas não ditas. Suas mãos foram para o zíper do vestido dela, movendo-se devagar, dando-lhe tempo para recuar, se quisesse. Mas Marina não recuou. Ela ajudou, deixando o vestido deslizar até o chão, ficando apenas em sua langerie simples e delicada.
Lucas a olhou com uma admiração que a fez corar. “Você é linda”, ele sussurrou. “Perfeita! “Sua vez”, ela disse, embora suas mãos tremessem enquanto desabotuava a camisa dele, Lucas ajudou e logo ambos estavam ali expostos, não apenas fisicamente, mas emocionalmente. Era a vulnerabilidade em sua forma mais pura. Ele a guiou até a cama.
deitando-a gentilmente, seu corpo cobrindo-o dela, mas sem colocar peso nenhum. “Se doer muito, você me para. OK?” “Ok.” Ela sussurrou, puxando-o para outro beijo. O que se seguiu foi lento, cuidadoso, cheio de sussurros de amor e reasseguramento. Lucas foi paciente, como prometeu, guiando Marina através de cada momento, parando quando ela tensionava, esperando quando ela precisava se acostumar.
ouvidor, inevitável, mas suportável. E Marina segurou os ombros de Lucas, suas unhas marcando levemente sua pele, mas também havia conexão, intimidade, a sensação de finalmente serem completos juntos. “Eu te amo”, Lucas sussurrou quando finalmente estavam unidos completamente, seus olhos fixos nos dela. “Eu te amo tanto, Marina.
” Eu também te amo”, ela respondeu, lágrimas de alegria e alívio escorrendo pelo seu rosto. E naquela noite, sob o céu estrelado de São Paulo, Lucas e Marina finalmente consumaram seu casamento, não por obrigação ou pressão, mas por amor genuíno, por escolha mútua, por conexão profunda. Depois eles ficaram entrelaçados, corações ainda acelerados, respirações gradualmente se acalmando.
Você está bem? Lucas perguntou pela décima vez, afastando cabelos suados do rosto dela. Estou mais do que bem. Marina sorriu, aninhando-se em seu peito. Estou completa, finalmente. Lucas assegurou com força, beijando seu cabelo. Obrigado por confiar em mim, por me dar essa dádiva. Obrigada você por ter esperado até eu estar pronta, por ter tornado isso especial.
Eles ficaram acordados por horas. Conversando em sussurros, compartilhando segredos, sonhando sobre o futuro. Marina contou sobre seu sonho de ter filhos um dia, duas crianças, talvez três. Lucas admitiu que antes nunca pensara em paternidade, mas agora a ideia de ter uma família com ela o enchia de alegria.
“Vamos fazer direito”, ele disse: “Não agora, claro, mas quando estivermos estáveis, quando você terminar a faculdade, quando eu tiver algo próprio para oferecer”. Vamos ter nossa família. Nossa família? Marina repetiu, amando o som dessas palavras. Eventualmente, ambos caíram em sono profundo, ainda abraçados, ainda conectados de todas as formas possíveis. Marina acordou com luz do sol, invadindo o quarto.
O quarto de Lucas ela percebeu com um sorriso. Ela estava coberta pelo lençol e Lucas dormia ao seu lado, um braço ainda protetoramente ao redor de sua cintura. Ela o observou dormir, amando a paz em seu rosto. Esse homem que foram estranho, depois um fardo, depois um amigo e agora? Agora era seu marido de verdade, seu parceiro, seu amor.
Lucas começou a despertar, os olhos azuis se abrindo lentamente. Quando focaram em Marina, um sorriso preguiçoso curvou seus lábios. “Bom dia, esposa. Bom dia, marido. Como você se sente?” Dolorida ela admitiu com um risinho envergonhado, mas feliz, muito feliz. Lucas a puxou para mais perto, beijando-a suavemente. Eu também, mais feliz do que jamais pensei ser possível.
Eles ficaram na cama conversando, rindo, simplesmente curtindo a presença um do outro. Marina traçava desenhos preguiçosos no peito de Lucas enquanto ele brincava com seus cabelos. Então, Lucas disse depois de um tempo sobre aqueles quartos separados. Acho que não precisamos mais deles. Concordo. Ele sorriu. Vamos oficialmente compartilhar esse quarto, fazer dele nosso.
Eu adoraria. Mais tarde, naquele dia, eles moveram as coisas de Marina para o quarto dele, agora deles. Roupas se misturando no armário, produtos de beleza dela invadindo o banheiro, livros dela nas prateleiras dele. Era simbolicamente significativo não apenas compartilhar um espaço, mas verdadeiramente fundir suas vidas.
À noite, Lucas preparou um jantar especial ou tentou. Marina o encontrou na cozinha cercado por panelas, seguindo uma receita no celular com concentração intensa. “Precisa de ajuda?”, ela ofereceu, rindo da bagunça. “Sim, por favor. Isso de cozinhar é mais difícil do que parece”. Juntos, eles prepararam um jantar simples, mas delicioso. E quando se sentaram para comer, Lucas levantou sua taça de suco.
Ele havia parado de beber álcool completamente. “Um brinde”, ele disse. “A mulher que me salvou de mim mesmo, a mulher que me mostrou que eu podia ser mais, a mulher que eu vou amar pelo resto da minha vida.” Marina bateu sua taça contra a dele. Lágrimas de felicidade nos olhos. “Um brinde ao homem que escolheu mudar. Ao homem que me mostrou que o amor verdadeiro vale à espera.
Ao homem que é meu melhor amigo e meu amor. Eles beberam selando aquele momento, aquela promessa. E naquela noite, quando foram dormir em seu quarto agora compartilhado, entrelaçados um no outro, ambos sentiram que haviam chegado a um lugar que nunca pensaram alcançar. Haviam encontrado lar um no outro. Mas o destino tem uma forma cruel de testar exatamente quando somos mais felizes.
Que uma tempestade estava se formando, prestes a desafiar tudo que Lucas e Marina haviam construído, uma tempestade que viria da última pessoa que esperavam. Dois anos se passaram desde aquela noite transformadora, dois anos de crescimento, desafios e amor profundo que apenas se aprofundou com o tempo. Marina havia se formado em pedagogia com honras.
seu trabalho de conclusão de curso sobre educação inclusiva, ganhando reconhecimento até nacional. Ela agora trabalhava em uma escola especializada enquanto planejava, lentamente, mas com determinação, abrir seu próprio centro educacional. Lucas, por sua vez, havia impressionado tanto na construtora que Roberto o promovera a supervisor. Mas, mais importante, ele voltara a estudar.
estava cursando a arquitetura, finalmente perseguindo o sonho que abandonara anos atrás. Era exaustivo trabalhar durante o dia e estudar à noite, mas ele nunca fora tão feliz. E Marina estava sempre ali estudando ao lado dele nas noites longas, fazendo café quando ele lutava para manter os olhos abertos, comemorando cada prova passada, cada projeto aprovado. O apartamento em Moema agora realmente parecia um lar.
Fotos deles juntos decoravam as paredes. Viagens que fizeram, momentos cotidianos, sorrisos genuínos. O quarto compartilhado era uma bagunça organizada de livros dela e desenhos dele. A cozinha via experimentos culinários regulares, alguns bem-sucedidos, outros desastrosos, mas sempre feitos juntos.
Roberto e Rosa haviam se tornado próximos, duas famílias unidas, não por obrigação, mas por genuíno afeto. Jantares de domingo na casa dos pais de Marina eram rituais sagrados com Lucas ajudando Carlos no jardim e Marina cozinhando com Rosa. A transformação de Lucas era completa. Ele não era mais o playboy irresponsável das manchetes.
Era um homem dedicado ao trabalho, aos estudos, mas principalmente a sua esposa. Aqueles que o conheciam antes mal o reconheciam. Você se tornou chato. Ricardo brincou em um almoço de família, mas havia orgulho genuíno em seus olhos. Mas é o tipo bom de chato, o tipo pai de família. Pai de família. Essas palavras ecoaram em Lucas enquanto dirigia para casa naquela tarde.
Ele e Marina haviam conversado sobre ter filhos, mas sempre colocando no futuro, quando estivermos mais estáveis, quando eu terminar a faculdade, quando abrirmos o centro educacional. Mas talvez, ele pensou, o momento certo fosse agora. Ele parou no caminho de casa, entrando em uma joalia. Tecnicamente, Marina já tinha um anel de casamento, parte do conjunto que Roberto providenciara para o casamento arranjado.
Mas Lucas queria dar-lhe algo diferente, algo escolhido por ele, com amor, não obrigação. O vendedor mostrou várias opções, mas Lucas soube assim que viu. Um anel delicado com uma safira azul, a cor favorita de Marina, cercada por pequenos diamantes. Simples, elegante, perfeito. É para minha esposa Lucas explicou. Quero dar-lhe algo que simbolize o que realmente somos, não o que fomos forçados a ser.
O vendedor sorriu, compreendendo. É um presente de aniversário. É um presente de eu escolho você todos os dias. Quando Lucas chegou em casa, Marina estava na cozinha preparando o jantar. Ela usava uma camiseta velha dele e shorts, os cabelos presos em um coque bagunçado e Lucas pensou que nunca a vira mais bonita. Hei”, ela disse, iluminando-se ao vê-lo.
“Você está atrasado. Tudo bem no trabalho?” “Tudo perfeito.” Ele respondeu, aproximando-se e envolvendo-a pela cintura por trás. “Na verdade, mais do que perfeito.” Marina se virou em seus braços, percebendo algo diferente. “O que você aprontou? Por que acha que aprontei? Você tem aquele sorriso, o sorriso de quando está tramando algo.
Lucas riu, beijando-a rapidamente. OK, me descobriu. Eu tenho uma coisa para você. Ele tirou a pequena caixa de veludo do bolso e Marina o fegou. Lucas, espera, deixa eu falar. Ele abriu a caixa revelando o anel. Marina, eu sei que já somos casados.
Eu sei que já temos anéis, mas esses anéis foram dados em um dia que nenhum de nós realmente escolheu. Foram símbolos de obrigação. Lágrimas já enchiam os olhos de Marina. Esse anel é diferente. Esse anel eu escolhi porque eu escolho você. Não porque meu pai mandou, não porque havia um acordo, mas porque você é a melhor coisa que já me aconteceu. Porque eu te amo mais a cada dia que passa. Porque quando penso no futuro, você está em cada imagem.
Ele tirou o anel da caixa, segurando-o entre eles. Marina Clara Silva Andrade quer recasar comigo? Não legalmente, mas no que importa de verdade. Quer renovar nossos votos, mas dessa vez por amor real. Marina estava chorando abertamente agora, soluços de alegria sacudindo seu corpo. Sim, sim. Mil vezes sim. Lucas deslizou o anel em seu dedo.
Um ajuste perfeito, como eles dois haviam se tornado um para o outro. Então a puxou para um beijo profundo, apaixonado, cheio de promessas de todos os amanhãs que teriam juntos. “Eu te amo tanto”, Marina sussurrou contra seus lábios. “Tanto que às vezes dói. Eu sei. Sinto o mesmo. Naquela noite, após o jantar, enquanto estavam deitados na cama, Marina colocou a cabeça no peito de Lucas, ouvindo as batidas fortes de seu coração. “Lucas”, ela disse suavemente. “Eu preciso te contar uma coisa. Pode falar.
Eu estava esperando o momento certo, mas acho que depois de hoje, acho que é agora. Ela respirou fundo, nervosa, mas emocionada. Estou grávida. Seis semanas. Lucas ficou completamente imóvel. Por um momento, Marina teve medo de que fosse demais, muito cedo, mas então ele a virou para encará-lo e havia lágrimas em seus olhos.
“Sério, você está? Estamos, vamos ter um bebê.” Ela confirmou. sorrindo através das próprias lágrimas. Lucas a puxou para um abraço esmagador, soluços de pura alegria sacudindo seu corpo. Vamos ser pais. Eu vou ser pai. Um pai de verdade, não como o meu foi. Você vai ser um pai incrível, Marina assegurou. Porque você sabe o que é sentir falta de algo.
Vai dar ao nosso filho tudo que você não teve. Eles ficaram acordados por horas, fazendo planos, nomes. Rodrigo para menino, Sofia para menina. Como seria o quarto do bebê? Como ajustariam suas rotinas? Seus medos, suas esperanças, seus sonhos? Vamos estar bem? Marina perguntou em um momento de vulnerabilidade. Vamos conseguir fazer isso? Nós sobrevivemos a um casamento forçado e transformamos em amor verdadeiro. Lucas lembrou a ela.
Se conseguimos isso, conseguimos qualquer coisa. Juntos. Seis meses depois, a renovação de votos foi pequena, íntima, apenas família e amigos mais próximos na mesma capela onde haviam se casado da primeira vez. Mas desta vez tudo era diferente.
Marina estava com cinco meses de gravidez, uma barriga pequena, mas visível sob o vestido simples branco que escolheu. Lucas não usava smoke informal, apenas um terno claro, casual. Mas quando eles ficaram frente à frente no altar, não havia nada de casual nos olhares que trocaram. “Eu, Lucas, escolho você, Marina”, ele disse, voz firme, mas emocionada. Não porque alguém me disse, não porque havia um acordo, mas porque meu coração não conhece outra direção senão em sua direção. Você me salvou quando eu estava me afogando.
Me mostrou que eu podia ser mais. E hoje, na frente de todos que amamos, eu prometo passar o resto da minha vida sendo digno desse amor. Marina limpou as lágrimas, respirando fundo antes de falar. Eu, Marina, escolho você, Lucas, como escolhi naquele primeiro dia assustador.
Mas agora eu te escolho conhecendo exatamente quem você é, conhecendo seus medos, suas lutas, suas forças. Você transformou algo que começou como obrigação em algo sagrado. E eu prometo passar o resto da minha vida te lembrando do homem incrível que você é. Não havia padre desta vez, apenas Ricardo conduzindo a cerimônia. E quando ele disse podem se beijar, Lucas e Marina se uniram em um beijo que recebeu aplausos e alguns assubios emocionados. Na pequena celebração depois, Roberto puxou Lucas de lado.
Estou orgulhoso de você, filho”, ele disse. E, pela primeira vez em anos, abraçou Lucas de verdade. Sua mãe estaria orgulhosa também. Obrigado, pai, por tudo. Sei que você fez o que fez porque se importava, fiz porque te amo e porque via potencial em você que você se recusava a ver.
Roberto olhou para Marina, que conversava animadamente com Rosa e Júlia, rindo alto de algo. Ela é especial, cuida bem dela e do meu neto. Sempre epílogo, dois anos depois. A manhã de sábado era caótica na casa nova que Lucas e Marina haviam comprado em um bairro tranquilo de São Paulo, uma casa com jardim, três quartos, espaço para crescer.
Lucas estava na cozinha tentando fazer panquecas enquanto segurava Sofia, sua filha de um ano e meio, no quadril. A menina tinha os olhos azuis do pai e os cabelos escuros da mãe e já mostrava sinais de ser tão teimosa quanto ambos. Não, Sofia, você não pode comer a massa crua”, ele disse, afastando a mão pequena dela da tigela. “Mas é gostoso, papai. Vai ser mais gostoso quando cozinhar. Confia no papai.
” Marina entrou na cozinha, ainda de pijama, rindo da cena. “Precisa de ajuda?” “Sempre preciso da sua ajuda.” Lucas admitiu com um sorriso. Em tudo. Juntos, eles terminaram as panquecas. Sofia insistiu em ajudar, o que resultou em mais bagunça, mas também em muito riso.
Depois do café da manhã, enquanto Sofia brincava na sala, Lucas puxou Marina para a varanda dos fundos. O jardim estava florido. Ele estava aprendendo jardinagem com Carlos, encontrando paz no trabalho com a terra. “Feliz?”, ele perguntou, envolvendo-a por trás, beijando seu pescoço. “Mais do que alguma vez sonhei ser possível?”, Ela respondeu, relaxando em seus braços. Você. Eu olho para nossa vida. Essa casa, nossa filha, você.
E mal consigo acreditar. Às vezes acordo achando que é um sonho. É real. Nós somos reais. Lucas a virou para encará-lo. Sabe o que pensei hoje de manhã? Pensei sobre aquele dia, três anos atrás, quando você aceitou a proposta do meu pai. Pensei em como eu te odiei por isso, como achava que minha vida estava acabada.
E agora? Agora eu sei que minha vida estava apenas começando. Você não foi minha prisão, Marina. Você foi minha libertação. Marina tocou o rosto dele gentilmente. Nós libertamos um ao outro. Eu também estava presa em medo, em insegurança, em sonhos que não ousava perseguir. Você me deu coragem. Nós nos demos coragem. Ele corrigiu. De dentro da casa ouviram Sofia gritar.
Mamãe, papai, vem ver. Eles riram voltando para dentro. Sofia havia construído uma torre precária de blocos e estava radiante de orgulho. “Olha, eu fiz sozinha. Está linda, amor”, Marina disse, abaixando-se para abraçar a filha. “Você é tão esperta.
” Lucas observou as duas pessoas que eram seu mundo inteiro, sua esposa e sua filha, e sentiu gratidão inundar cada célula de seu corpo. Trs anos atrás, ele era um homem perdido, afogando-se em autodestruição. Hoje, ele era um marido dedicado, um pai presente, um estudante determinado, um profissional respeitado. Marina tinha razão desde o início. Ele sempre teve o potencial de ser mais.
Só precisava de alguém que acreditasse nele o suficiente para fazê-lo acreditar em si mesmo. E ela fez mais do que isso. Ela o amou através da mudança, através do crescimento doloroso, através de cada tropeço e vitória. Naquela noite, depois de colocar Sofia para dormir, Lucas e Marina se deitaram em sua cama, entrelaçados como sempre ficavam. Marina, Lucas sussurrou na escuridão. Obrigado.
Por quê? por ter dito sim, por ter acreditado, por ter ficado, por ter me amado quando eu nem sabia como me amar. Obrigada você por ter escolhido mudar, por ter lutado, por ter se tornado o homem que sempre soube que poderia ser. Eu te amo”, ele disse, como dizia todos os dias, múltiplas vezes, nunca cansando de dizer ou ouvir.
“Eu te amo”, ela respondeu, o coração transbordando. E ali, naquela casa que construíram juntos, com sua filha dormindo no quarto ao lado e uma vida inteira de possibilidades à frente, Lucas e Marina finalmente descansaram na certeza de que o amor, o amor verdadeiro, escolhido, lutado, sempre vence, porque no final não importa como começa, importa como você escolhe continuar.
E eles escolheram um ao outro todos os dias, contra todas as probabilidades.
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