Antes de começarmos, me conta de onde você está assistindo esse vídeo. Deixa aqui nos comentários sua cidade e não esquece de se inscrever no canal e deixar aquele like para fortalecer. Isso me ajuda demais a continuar trazendo histórias incríveis para vocês. Agora prepare-se para uma montanha russa de emoções.
O apartamento cheirava alecrim e alho assado. Ana passava o avental pelas mãos suadas enquanto verificava o temporizador do forno pela quinta vez em 10 minutos. O frango recheado estava quase pronto, dourado na medida certa, exatamente como José gostava. Na mesinha da sala, duas taças de cristal reluziam sob a luz suave das velas aromáticas que ela havia espalhado estrategicamente pelo ambiente. 5 anos.
Meia década de namoro de planos sussurrados no escuro, de promessas de uma vida inteira juntos. Ana sorriu ao olhar para a pequena caixa azul escondida na gaveta da cômoda. Dentro dela, um par de abotoaduras de prata que ela havia economizado durante meses para comprar. José sempre comentava sobre aquelas abotaduras quando passavam em frente à joalheria do shopping.
O relógio da parede marcava 20 15. José estava 15 minutos atrasado, mas isso não era incomum. O trabalho como gerente financeiro sempre exigia horas extras, especialmente no fim do mês. Ana pegou o celular e enviou uma mensagem rápida. Amor, tá chegando? O jantar tá quase pronto. Os minutos se arrastaram. Ana apagou o forno e cobriu a travessa com papel alumínio para manter o calor.
Verificou o telefone novamente. Nada. Às 20:47, finalmente ouviu a chave girando na fechadura. José, ela chamou, caminhando em direção à porta com um sorriso animado. O que ela viu a fez parar no meio da sala. José entrou cambaleando ligeiramente, o rosto pálido como cera, gotas de suores escorrendo pelas têmporas, apesar do ar condicionado ligado.
A gravata estava torta, os olhos vermelhos e vidrados. Ele tremia visivelmente. Amor, o que aconteceu? Você tá bem? Ana correu até ele, as mãos tocando seu rosto gelado. José desviou o olhar, incapaz de encontrar os olhos dela. Sua mandíbula estava tensa, os lábios pressionados em uma linha fina. Ele respirava pela boca, rápido demais, como se tivesse corrido uma maratona.
Eu a voz saiu rouca, quebrada. Preciso resolver uma coisa. Uma emergência no trabalho. Emergência? Mas amor, hoje é nosso aniversário de namoro. Ana segurou as mãos dele que estavam geladas e trêmulas. Preparei aquele frango que você adora. Comprei vinho. Eu sei, eu sei. José praticamente gritou, fazendo Ana dar um passo para trás, assustada.
Ele nunca havia gritado com ela antes. Imediatamente seu rosto se contorceu em arrependimento. Desculpa, Ana. Desculpa mesmo. É que é uma situação muito séria. Tem documentos que precisam ser revisados até meia-noite ou a empresa perde um contrato milionário. Ana estudou o rosto dele. Havia algo estranho nos olhos de José. Uma sombra que ela nunca tinha visto antes.
Um frio percorreu sua espinha. uma intuição feminina sussurrando que algo estava terrivelmente errado. “Quanto tempo você vai demorar?”, ela perguntou, a voz suave, mas carregada de preocupação. Duas, talvez 3 horas, no máximo. José já estava recuando em direção à porta, evitando o olhar dela. Prometo que volto logo, tá? A gente comemora depois.
Antes que Ana pudesse responder, ele já havia saído, batendo a porta com mais força do que o necessário. O som ecoou pelo apartamento silencioso como um tiro. Ana ficou parada no meio da sala, cercada pelas velas perfumadas, pelas taças vazias, pelo jantar esfriando.
Algo dentro dela se partiu naquele momento, não completamente, mas o suficiente para criar uma rachadura invisível que logo se transformaria em um abismo. Ela não sabia ainda, mas aquela seria a última noite em que acreditaria em José, seis meses antes. A música eletrônica pulsava pelas paredes do subsolo, um ritmo hipnótico que fazia o coração bater no compasso errado.
José desceu os degraus de mármore negro, as luzes vermelhas e azuis dançando nas paredes como cobras luminosas. O cheiro de cigarro importado e o whisky caro preenchia o ar denso. O cassino imperial não existia oficialmente. Não havia placas, não havia endereço público, não havia registros. Apenas aqueles com convites especiais conheciam a porta discreta no beco atrás do prédio comercial no centro da cidade.
E José tinha sido descoberto pelo olheiro de Víor se meses atrás, quando apostou alto demais em um poker online. Tudo começou de forma inocente. Uma aposta aqui, um jogo ali. José sempre foi bom com números, afinal. Gero, de uma empresa respeitável, ele entendia de probabilidades, de riscos calculados. ou pelo menos era o que pensava. A primeira noite ele ganhou R$ 15.000 na roleta.
A sensação foi elétrica, orgásmica, melhor do que qualquer coisa que já havia experimentado. O sangue fervia nas veias, a adrenalina transformava o mundo em cores mais vívidas. Ele se sentiu invencível. Na segunda noite perdeu 10.000. Faz parte do jogo, pensou. Na terceira ganhou 20. E assim começou o ciclo vicioso.
Agora, seis meses depois, José estava no buraco mais fundo que um homem poderia cavar para si mesmo. As economias para o casamento com Ana, R$ 150.000 guardados durante anos, tinham evaporado em cinco semanas de apostas insanas. Mas não parou por aí. José começou a pegar empréstimos, a aceitar crédito do próprio cassino com juros astronômicos. José é meu amigo.
A voz de Bruno, um dos seguranças de Víctor, o arrancou das memórias dolorosas. Bruno era um homem imenso, com cicatrizes visíveis no pescoço e mãos do tamanho de paz. O chefe quer falar com você. Escritório agora. O estômago de José despencou. Ele sabia o que isso significava.
As mãos começaram a tremer enquanto seguia Bruno através do cassino, passando pelas mesas de Blackjack, pelas roletas, pelos grupos de homens e mulheres ricamente vestidos, que pareciam não ter preocupação alguma no mundo. O escritório de Victor ocupava todo o mesanino do subsolo. Paredes de vidro permitiam que ele observasse cada canto do cassino como um deus olhando para suas criaturas. José foi empurrado gentilmente através da porta de Mogno.
Víctor Sampaio estava sentado atrás de uma mesa de ônix negro, dedos entrelaçados sob o queixo. Aos 45 anos, era um homem bonito, de forma perigosa, cabelos grisalhos perfeitamente penteados, olhos cord de âmbar que pareciam ver através das pessoas, mandíbula forte marcada por uma barba cuidadosamente aparada.
usava um terno cinza escuro que custava mais do que José ganhava em seis meses. “Senta, José!” A voz era calma, quase gentil, o que, de alguma forma era mais aterrorizante do que se ele estivesse gritando. José obedeceu, suas pernas bambeando. O couro da poltrona suspirou sob seu peso.
“Sabe por te chamei aqui?”, Victor perguntou, inclinando a cabeça levemente. “Eu Eu preciso de mais uma semana. Só mais uma semana e eu consigo 3 milhões de reais. Vctor interrompeu, sua voz cortando o ar como uma lâmina. Essa é sua dívida atual, com os juros acumulados. Tr milhões. O número pairou no ar como uma sentença de morte. José sentiu a Billy subir pela garganta. 3 milhões.
Como ele tinha deixado chegar a esse ponto? Eu vou pagar, eu juro. Só preciso de tempo. Tempo? Vittor riu, mas não havia humor no som. José, você não tem tempo. E, sinceramente, duvido que tenha o dinheiro também. Vou pegar mais empréstimos. Vou vender meu carro. Vou. Seu carro vale R$ 50.000 no máximo. Vittor abriu uma pasta sobre a mesa.
Já investiguei sua vida financeira completa. Você não tem nada que chegue perto de pagar sua dívida. O silêncio que se seguiu foi sufocante. José podia ouvir seu próprio coração batendo descompassado. Bruno e outro segurança Miguel fecharam a porta e ficaram parados como estátuas de cada lado dela. Então, o que vai acontecer comigo? José sussurrou, lágrimas queimando seus olhos.
Víctor se levantou lentamente, caminhou até a janela e observou o cassino lá embaixo. As luzes coloridas refletiam em seu rosto, criando sombras dramáticas. Normalmente, ele começou voz baixa e controlada, “quando alguém me deve dinheiro que não pode pagar, eu tomo medidas desagradáveis. Você entende o que quero dizer?” José assentiu fracamente, enxugando as lágrimas com as costas da mão.
“Mas você sabe, José?” Vittor se virou, os olhos de Ambar fixos nele. Eu tenho um fraco por dar segundas chances, principalmente para pessoas que eu vejo potencial de criatividade na quitação de dívidas. Um lampejo de esperança asendeu no peito de José, perigoso e desesperado. “Qualquer coisa, eu faço qualquer coisa.
” Víctor sorriu e, pela primeira vez, José percebeu que havia algo predatório naquele sorriso. Qualquer coisa, que interessante. Me diz uma coisa, José. Vctor voltou para trás da mesa, abrindo um laptop. Você é casado? Sou. Sou noivo. Bem, não oficialmente ainda, mas vamos casar. Ah, sim. Ana Carolina Ferreira, 28 anos, professora de literatura na Universidade Federal.
Victor virou a tela do laptop, mostrando o perfil do Instagram de Ana. Fotos dela sorrindo em frente a uma sala de aula em um café na praia com José. José sentiu o sangue gelar nas veias. Como você? Eu sei tudo sobre você, José. Tudo? Victor passou pelos stories de Ana com interesse clínico.
Ela é muito bonita e pelo que vejo aqui, vocês se amam muito. Por favor. José se levantou da cadeira as pernas bambas. Não envolva ela nisso, por favor. Senta. A ordem foi suave, mas inegociável. José obedeceu imediatamente. Estou apenas te conhecendo melhor. Afinal, você disse que faria qualquer coisa. O silêncio voltou a cair sobre a sala, pesado como chumbo.
José observava Víctor estudar as fotos de Ana, cada segundo parecendo uma eternidade. Finalmente, Víor fechou o laptop e se recostou na cadeira, dedos tamborilando lentamente sobre a mesa de ônix. “Tenho uma proposta para você, José, uma última chance de se livrar dessa dívida de uma vez por todas. Que tipo de proposta?” A voz de José era um fio fraco de esperança.
Vctor sorriu novamente e José soube com absoluta certeza que estava prestes a fazer um pacto com o diabo. O ar- condicionado do escritório zumbia baixinho, mas José estava encharcado de suor. Suas mãos tremiam visivelmente sobre os braços da poltrona de couro, os nós dos dedos brancos de tanta tensão.

Victor o observava com a paciência de um predador, que sabe que sua presa não tem para onde correr. Uma última partida de pôker. Victor anunciou finalmente, abrindo uma gaveta e tirando um baralho novo ainda lacrado. Você contra mim. Uma única mão. José piscou confuso. Uma mão. Mas como isso resolve uma dívida de 3 milhões? Deixa eu terminar.
Víctor abriu o baralho com movimentos precisos, as cartas deslizando entre seus dedos com familiaridade de quem já tinha feito aquilo milhares de vezes. Se você ganhar, toda sua dívida é perdoada. 3 milhões apagados. Você sai daqui livre e nunca mais precisa voltar. O coração de José disparou. Era bom demais para ser verdade.
E E se eu perder? Vittor parou de embaralhar as cartas e fixou seus olhos de âmbaro em José. O sorriso que se formou em seus lábios não alcançou seus olhos. Se você perder, ele fez uma pausa deliberada. Ana, passa uma noite comigo. O mundo de José parou de girar. Por um momento, ele teve certeza de que tinha ouvido errado, que seu cérebro havia processado as palavras de forma incorreta, mas a expressão de Víctor era clara, expectante, totalmente séria.
Você Você Você Você tá brincando, né? José se levantou da cadeira cambaleando. Isso é loucura. Eu nunca brinco com negócios, José. Vittor continuou embaralhando as cartas com calma sobrenatural. Você disse que faria qualquer coisa. Eu estou oferecendo uma chance de 50% de se livrar de toda sua dívida. Quantas pessoas no seu lugar teriam essa oportunidade? Mas você tá falando da minha noiva.
Ela não é um objeto. Não é algo que eu possa apostar. Vctor se levantou lentamente, apoiando as mãos sobre a mesa. Claro que não é um objeto, é uma escolha. Sua escolha. Ele caminhou até um bar no canto da sala e serviu dois copos de whisky. Bruno Miguel, por favor, de-nos alguns minutos. Os dois seguranças saíram silenciosamente, fechando a porta.
Vctor ofereceu um copo a José, que o pegou com mãos trêmulas, e bebeu tudo de uma vez, sentindo o líquido queimar sua garganta. Olha, continuou, a voz assumindo um tom quase amigável. Eu entendo seu choque, mas vamos ser pragmáticos aqui. Você tem uma dívida impagável.
Se não aceitar minha proposta, você sabe o que acontece, né? Não apenas com você, mas sua família também. Seus pais na casa humilde em Minas Gerais, sua irmã com os dois filhos pequenos. Não. José interrompeu. O pânico tomando conta. Não envolve minha família. Então aceite a proposta. Vctor voltou para trás da mesa, as cartas esperando. Uma única mão. Você é bom em pôker, José. Eu te vi jogar. Você tem chances reais de ganhar.
José afundou novamente na cadeira, a cabeça girando. 3 milhões. Ele nunca conseguiria pagar. E se Victor realmente fosse atrás de sua família? E se a voz de José saiu rouca. E se eu aceitar e perder? O que exatamente você espera que aconteça? Vctor se sentou pegando as cartas. Simples.
Ana vem até aqui, passa uma noite e depois fica livre para voltar para sua vida. Ninguém mais saberá. A dívida será quitada e você nunca mais me verá. Uma noite. José repetiu a palavra suando obscena em sua boca. Eu não sou um monstro, José. Não vou machucá-la. Não vai ser nada forçado. Apenas uma noite. Vittor começou a distribuir as cartas viradas para baixo. E quem sabe você ganha. Aí nada disso importa.
A mente de José entrou em um turbilhão de pensamentos. As chances eram de 50%. Ele era bom em póker, muito bom. Tinha ganhado torneios na faculdade, tinha anos de experiência. Podia fazer isso. Podia ganhar e salvar tanto a si mesmo quanto Ana de todo esse pesadelo. Preciso, preciso de uma garantia.
José ouviu sua própria voz dizer como se pertencesse a outra pessoa. Um contrato, algo que garanta que se eu ganhar, a dívida realmente acaba. Vctor sorriu amplamente. Claro. Eu admiro homens que pensam em termos legais. Ele pressionou um botão na mesa e Bruno voltou carregando uma pasta. Preparei os documentos anteriormente. Como eu disse, eu tinha fé que chegaríamos a um acordo.
José pegou os papéis com mãos trêmulas. Era um contrato formal, repleto de linguagem jurídica, mas os termos eram claros. Uma partida de Pôquer Texas Holden, uma única mão. Se José vencesse, toda a sua dívida seria perdoada imediatamente. Se perdesse, Ana Carolina Ferreira passaria uma noite completa, 20 às 8, nas dependências do cassino imperial, após o qual a dívida seria considerada quitada e José nunca mais seria contatado.
“Não posso assinar isso,” José disse, mas sua voz não tinha convicção. Então não assine. Vittor pegou o telefone de volta. Bruno, chama a equipe de cobrança. Temos um devedor inadimplente. Espera. José gritou, o pânico explodindo em seu peito. Imagens de sua mãe, de sua irmã, dos sobrinhos de Ana, todos sofrendo por causa de suas escolhas estúpidas, inundaram sua mente. Espera.
Ele olhou para as cartas viradas para baixo na mesa. Duas cartas simples. 50% de chance. Ele podia ganhar. Ele ia ganhar. Ana nunca precisaria saber que isso havia acontecido. Com a mão tremendo tanto que quase não conseguiu segurar a caneta, José assinou o contrato.
Victor pegou o documento, verificou a assinatura e colocou na gaveta. Então, com um sorriso que não revelava nada, empurrou duas cartas para José. Que o jogo comece. José pegou as cartas com dedos gelados. O som do papel roçando foi absurdamente alto no silêncio tenso do escritório. Ele as virou lentamente, sentindo cada batimento do coração ecoar em seus ouvidos. Rei de copas e 10 de copas.
Não era uma mão ruim, na verdade era decente. Cartas altas do mesmo naipe. Possibilidade de flush, possibilidade de straight. José sentiu um lampejo de esperança atravessar seu peito. Ele conseguia ler rostos. era sua especialidade. E Victor, Víctor estava impassível demais. Isso geralmente significava uma mão fraca.
Nervoso? Victor perguntou pegando suas próprias cartas sem pressa. Só quero terminar logo com isso. José respondeu, tentando soar confiante. Vctor virou as três primeiras cartas comunitárias, o flop. Quatro de ouros, sete de paus, 10 de espadas. José tinha um par de 10, um par alto, respirável.
Ele observou Víctor, procurando por qualquer sinal, qualquer microexpressão que revelasse a força de sua mão. Nada. O homem era uma estátua. Interessante, Vctor, murmurou tamborilando os dedos na mesa. A quarta carta foi revelada. O turn as de copas. O coração de José acelerou. Ele tinha quatro cartas para o flush. Apenas mais uma carta de copas no river. e ele teria um flush imbatível. As chances eram boas, realmente boas.
Victor se inclinou para a frente ligeiramente, os olhos fixos nas cartas comunitárias. Pela primeira vez, José viu uma arruga se formar entre suas sobrancelhas. Era tensão. Preocupação. Você tá suando, José. Víctor observou casualmente. É o ar condicionado. Tá frio. Claro. Vctor sorriu de lado. José não conseguia tirar os olhos das cartas. Só mais uma de copas.
Apenas uma, ele calculou mentalmente. Restavam nove cartas de copas no baralho, menos as duas em sua mão, menos o as já revelado. Seis cartas de copas ainda poderiam vir. de aproximadamente 46 cartas restantes. Seis eram cartas vencedoras para ele, não eram oddios ruins. Victor pegou a carta do topo do baralho, pausando dramaticamente.
José segurou a respiração, cada músculo do corpo tenso como corda de violino prestes a estourar. “O River, Víctor anunciou virando a carta lentamente. Sete de espadas. O mundo de José desmoronou. Não veio a carta de copas. Ele tinha apenas um par de ideias com um as de copas que não formava nada útil, uma mão medíocre na melhor das hipóteses. Mas Víctor poderia estar blefando.
Tinha que estar blefando. Mostra, José disse a voz saindo estrangulada. Victor colocou suas cartas sobre a mesa com movimentos lentos e deliberados. as de ouros, as de espadas, trinca de ases. José olhou fixamente para as cartas, seu cérebro se recusando a processar o que estava vendo. Trinca.
Vittor tinha uma maldita trinca de ases, uma das mãos mais fortes do póker. Ele tinha perdido. Perdido, Ana. Não. A palavra saiu como um gemido. Não, não, não. José empurrou a cadeira para trás violentamente, ficando de pé, as mãos entrelaçadas na cabeça. A sala girou ao seu redor. Ele foi até a parede e socou com força, uma, duas, três vezes, ignorando a dor explosiva nos nós dos dedos. Eu não posso, não posso fazer isso com ela.
Lágrimas escorriam livremente por seu rosto agora. Por favor, Víctor, por favor, dá outra chance. Outra partida. Eu imploro. Vctor recolheu as cartas calmamente, colocando-as de volta na caixa. O jogo acabou, José. Um acordo foi feito. Um contrato foi assinado. o contrato. José gritou, virando-se. Você não pode fazer isso. É
ilegal. É. É exatamente o que você concordou. Víctor interrompeu. Sua voz ainda calma, mas com um fio de aço embaixo. E eu sugiro que você se acalme antes que eu perca a paciência. Bruno e Miguel entraram novamente na sala, como se tivessem estado esperando do lado de fora por esse momento exato. Suas presenças maciças pareceram sugar o oxigênio do ambiente.
José a desabou no chão, soluçando descontroladamente. 5 anos com Ana, 5 anos de amor, de planos, de promessas. E ele tinha acabado de jogá-la fora em uma mão de cartas. Quando? Ele conseguiu perguntar entre soluços. Amanhã à noite, 8 horas. Víctor se levantou, contornando à mesa. Meus homens irão buscá-la no endereço que temos em arquivo. Você pode estar presente ou não durante a busca.
Sua escolha. Como? Como eu vou explicar para ela? Vctor se agachou ao lado de José, colocando uma mão em seu ombro. O toque era quase gentil, o que, de alguma forma tornava tudo mais grotesco. Essa, meu amigo, é sua responsabilidade. Mas se eu posso dar um conselho, conte a verdade. A verdade tem uma maneira de libertar as pessoas. Ele se levantou.
Bruno, Miguel, levem o Senhor José para casa. Ele precisa de uma noite de descanso antes do grande dia de amanhã. José foi praticamente carregado para fora do escritório, pelos corredores do cassino, até o estacionamento frio e escuro. Eles o colocaram no banco de trás de um carro preto com vidros fumet.
Durante todo o trajeto até seu apartamento, José olhou fixamente para o vazio, lágrimas silenciosas escorrendo por seu rosto. Quando chegou em casa, às 23:30, Ana estava dormindo no sofá, uma vela derretida completamente na mesinha, o jantar frio ainda na travessa. Ela havia esperado por ele.
José se ajoelhou ao lado dela, observando seu rosto sereno no sono. Seus cabelos castanhos caíam como uma cascata sobre o braço do sofá. Seus lábios ligeiramente entreabertos, as pálpebras tremulando em algum sonho que ele nunca saberia. “Me perdoa”, ele sussurrou sua voz quebrando. “Me perdoa pelo que eu fiz”.
Mas Ana continuou dormindo, alheia ao fato de que sua vida estava prestes a ser destroçada. Ana acordou com a sensação de algo errado pairando no ar. O sol já estava alto, invadindo o apartamento através das cortinas entreabatas. Ela estava no sofá, uma manta jogada sobre ela. José devia ter- a colocado durante a noite.
O jantar de aniversário ainda estava na mesa, entocado, as velas completamente derretidas. Ela se levantou devagar, o corpo do posição desconfortável. Foi até o quarto e encontrou José sentado na beirada da cama, ainda com a roupa do dia anterior amarfanhada e suada. Ele estava curvado para a frente, cotovelos apoiados nos joelhos, rosto enterrado nas mãos. José. Ana chamou suavemente.
Amor, você dormiu aí? Ele se virou lentamente e Ana quase recuou com o choque. Os olhos dele estavam inchados e vermelhos. Profundas olheiras escuras marcavam seu rosto e havia um hematoma roxo nos nós dos dedos da mão direita. Meu Deus, o que aconteceu com você? Ela correu até ele tocando seu rosto.
Você tá doente? Tá com febre? Hana? A voz dele saiu rouca, quebrada. A gente precisa conversar. Algo no tom dele fez o estômago de Ana se revirar. Ela conhecia aquele tom. Era o tom de más notícias, de confissões, de fim. “Tá”, ela disse devagar, sentando-se ao lado dele na cama. “Pode falar.” José respirou fundo várias vezes, como se estivesse se preparando para mergulhar em águas profundas. Suas mãos tremiam visivelmente.
Eu eu não estava no trabalho ontem. Ana ficou em silêncio esperando. Eu tô com problemas, Ana. Problemas sérios. Lágrimas começaram a escorrer por seu rosto e eu estraguei tudo. Estraguei nossa vida toda. Que tipo de problemas? A voz de Ana era cuidadosa, controlada, mas seu coração já estava disparando.
E então José contou tudo sobre o cassino clandestino, sobre os seis meses de apostas, sobre as R$ 150.000 das economias do casamento que ele havia perdido, sobre os empréstimos, os juros, a dívida de 3 milhões que ele nunca poderia pagar. Ana ouvia em choque crescente, seu rosto ficando progressivamente mais pálido.
Quando José terminou essa parte, ela se levantou da cama, cambaleando. Você perdeu nosso dinheiro? Sua voz era um sussurro incrédulo. Todo o nosso dinheiro? Eu sei. Eu sei que eu ferrei com tudo. José também se levantou, estendendo as mãos para ela. Mas eu fui burro, Ana. Eu fui viciado, doente. Eu não tava pensando direito. Seis meses. Ana gritou de repente, fazendo José dar um passo para trás. Você me mentiu por seis meses.
Eu perguntava sobre o casamento, sobre os planos e você me garantia que estava tudo bem. Eu sei. Eu e 3 milhões. Ana riu, mas era um som histérico, sem humor. R milhões deais? Como, José, como você conseguiu dever tanto dinheiro? Foi acumulando. Os juros são absurdos. Eu continuei tentando recuperar. Ana virou-se andando em círculos pelo quarto, as mãos na cabeça.
José observava lágrimas escorrendo sem parar. “Tá bom”, Ana disse, finalmente virando-se para ele. “Tá bom, a gente resolve isso. A gente vende o carro, vende os móveis, pega empréstimo no banco, convence esses caras a aceitar um plano de pagamento. Não vai dar. Como assim não vai dar? A gente tenta, Ana!” José a interrompeu, a voz quebrando completamente. Tem mais. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor.
Ana ficou imóvel, seus olhos fixos em José esperando. E então ele contou sobre a proposta de Víctor, sobre a partida de Pôker, sobre o contrato, sobre como ele havia apostado ela, apostado sua noiva, como se ela fosse um objeto, uma moeda de troca, sobre como ele havia perdido. Ana sentiu suas pernas cederem.
Ela desabou no chão, as costas contra a parede, olhando fixamente para o nada. O mundo havia se tornado silencioso, como se alguém tivesse desligado o som. Ela via a boca de José se movendo, viu ele cair de joelhos na frente dela, viu as lágrimas, mas não ouvia nada além de um zumbido agudo em seus ouvidos. Me perdoa, Ana, por favor, me perdoa. Eu não tive escolha.
Eles iam machucar minha família, iam machucar você. Eu pensei que ia ganhar. Eu tinha certeza. A voz dele voltou gradualmente, como se alguém estivesse aumentando o volume lentamente. “Você me apostou”, Ana disse, e sua voz soava estranhamente calma, distante.
“Você me apostou em um jogo de cartas, Ana? Você me apostou!” O grito rasgou sua garganta, anos de amor e confiança, se despedaçando em um único momento. “Eu não sou uma coisa. Eu não sou um objeto que você pode usar para pagar suas dívidas. Eu sei, eu sei disso. Não, você não sabe. Ana se levantou, empurrando-o para longe quando ele tentou tocá-la. Se você soubesse, nunca teria feito isso.
Nunca teria assinado esse contrato maldito. Eu tava desesperado. E você acha que isso justifica? As lágrimas finalmente vieram quentes e raivosas, escorrendo por seu rosto. Você me vendeu, José. me vendeu para um estranho. José enterrou o rosto nas mãos, soluçando. Quando? Ana, perguntou, limpando o rosto com as costas da mão. Quando eles vêm me buscar, hoje à noite, 8 horas.
Ana olhou para o relógio na parede. Eram 10 da manhã, 10 horas. Ela tinha 10 horas até que sua vida mudasse para sempre. “Sai”, ela disse a voz morta. “Ana, por favor, sai daqui.” Ela pegou um travesseiro e atirou nele. “Sai! Sai, sai. José recuou em direção à porta, tropeçando em seus próprios pés. A gente pode resolver isso.
Podemos fugir, ir para outro estado. Eles vão atrás de você e da sua família. Você disse isso. Ana se virou para a parede, incapaz de olhar para ele. Você fez isso. Você causou isso. Agora vive com as consequências. Ana, se você não sair agora, eu chamo a polícia e conto tudo sobre o cassino, sobre a dívida, sobre esse contrato doento.
Ela olhou por cima do ombro, seus olhos frios como gelo. Escolhe. José ficou parado por mais alguns segundos, então virou-se e saiu, fechando a porta suavemente atrás de si. Ana desabou no chão novamente, abraçando os joelhos contra o peito.
Ela chorou até não ter mais lágrimas, até sua garganta estar em carne viva, até o sol começar a se pôr pela janela. Às 19:45, ela se levantou, tomou um banho longo e quente, vestiu uma calça jeans simples e uma blusa branca, prendeu os cabelos em um rabo de cavalo, não se maquiou. Às 19:59 bateram na porta. Ana respirou fundo, endireitou os ombros e abriu a porta, pronta para enfrentar seu destino. Dois homens imensos estavam na porta. Bruno e Miguel, Ana descobriria depois.
Ambos usavam ternos pretos perfeitamente cortados, óculos escuros, apesar da noite que caía e expressões neutras que não revelavam nada. “Senrita Ana Carolina Ferreira?” Bruno perguntou. Sua voz surpreendentemente educada para alguém do tamanho dele. “Sim”, Ana respondeu, mantendo a cabeça erguida. Ela não choraria, não mostraria fraqueza. Por favor, venha conosco.
O Senr. Sampaio está esperando. Eles aguiaram até um carro preto com vidros fumet estacionado em frente ao prédio. Miguel abriu a porta traseira para ela. Ana entrou observando o interior luxuoso, couro macio, luzes ledes suaves, uma garrafa de água mineral e taças de cristal em um compartimento lateral. A viagem foi silenciosa.
Ana olhava pela janela vendo a cidade passar em um borrão de luzes. Eles saíram do bairro residencial, atravessaram o centro, entraram em uma área mais antiga da cidade, onde prédios comerciais altos dominavam as ruas estreitas. O carro parou em um beco atrás de um edifício de escritórios aparentemente comum.
Bruno saiu primeiro, verificou os arredores, então abriu a porta para Ana. Ela saiu, suas pernas surpreendentemente firmes, considerando o terror que sentia. Uma porta de metal discreta se abriu, revelando uma escadaria de mármore negro, iluminada por luzes vermelhas e azuis. O som de música eletrônica pulsava pelas paredes. Ana desceu os degraus, flanqueada pelos dois homens.
O cassino se revelou aos poucos. Primeiro o cheiro, tabaco caro, perfumes importados, whisky envelhecido. Depois a visão, dezenas de mesas de jogos, roletas girando, pessoas ricamente vestidas rindo e apostando quantias que Ana não ganharia em anos de trabalho. Mulheres em vestidos de gala, homens em smokings, garçons circulando com bandejas de champanhe.
Era um mundo completamente diferente, escondido sob a superfície da cidade normal. O mundo onde pessoas apostavam casas, carros, futuros inteiros em uma única jogada de dados. Ana sentiu náusea subir por sua garganta. Por aqui, Bruno a guiou através do cassino. Pessoas olhavam para ela com curiosidade.
Ela devia parecer deslocada com sua roupa simples em meio a tanto luxo. Eles subiram uma escada de metal até um mesanino envidraçado. Bruno bateu na porta de Mog. duas vezes aguardou uma resposta inaudível de dentro, então a abriu. “Senhorita Ferreira”, ele anunciou. Ana entrou e a porta se fechou atrás dela com um clique suave.
O escritório era enorme, com paredes de vidro que permitiam uma visão panorâmica de todo o cassino lá embaixo, móveis de couro preto e madeira escura, uma mesa de ônix que parecia custar mais que o apartamento de Ana, obras de arte nas paredes que ela tinha certeza de serem originais. E no centro de tudo, de costas para ela, olhando pela janela para a cidade noturna lá fora, estava ele, Víctor Sampaio.
Mesmo de costas, ele emanava uma presença que preenchia a sala. Ombros largos sob um terno cinza perfeitamente ajustado, cabelos grisalhos penteados para trás, postura ereta e confiante. Ana ficou parada esperando. Segundos se transformaram em minutos. A música do cassino era abafada aqui, apenas um pulso distante. Ela podia ouvir sua própria respiração, o tic-tacó antigo em algum lugar. Finalmente, Víctor se virou.
Ana sentiu o ar escapar de seus pulmões. Ele era bonito, não era a palavra certa, impressionante. Aos 45 anos, Victor tinha o tipo de beleza que vinha com poder e confiança. Olhos ambar que pareciam ver através das pessoas uma mandíbula forte marcada por uma barba perfeitamente aparada, lábios que sugeriam tanto crueldade quanto charme.
Ele a estudou em silêncio por um longo momento, aqueles olhos de Ambar percorrendo seu rosto, seu corpo, não de maneira laciva, mas analítica, como se estivesse tentando resolver um quebra-cabeça. “Ana Carolina Ferreira”, ele disse finalmente, e sua voz era profunda, controlada, com um leve sotaque carioca. “Obrigado por vir”.
Ana quase riu da absurdidade da afirmação, como se ela tivesse tido escolha. “Senta, por favor.” Víctor gesticulou para uma poltrona de couro em frente à sua mesa. “Prefiro ficar em pé”, Ana respondeu, surpreendendo a si mesma com a firmeza em sua voz. Um sorriso leve tocou os lábios de Víctor. “Respeito, diversão, era impossível dizer.
Como preferir?” Ele caminhou até um bar no canto e pegou uma garrafa. Champanhe é um dom. Perrinhon 95. Não bebo água, então? Não quero nada de você, além de que isso termine logo. Vctor pausou. A garrafa ainda na mão, então a colocou de volta com cuidado. Ele se virou para encará-la completamente, encostando-se no bar, braços cruzados. Você está com raiva. Nossa, que observação brilhante.
A voz de Ana pingava sarcasmo. Será que tem a ver com o fato de que foi apostada em um jogo de cartas por um homem que eu amava ou com o fato de que agora estou aqui para Ela fez uma pausa engolindo a Billy para cumprir uma dívida que eu nem sabia que existia. Victor não respondeu imediatamente. Ele apenas a observava, aqueles olhos perturbadores fixos nela.
José me contou sobre você”, ele disse “finalmente, professora universitária, literatura brasileira, cresceu em família religiosa, nunca bebeu, nunca fumou, nunca para Ana”. Interrompeu as mãos fechadas em punhos ao lado do corpo. “Não fala sobre minha vida como se me conhecesse. Você tem razão. Desculpa.” A resposta apegou de surpresa. Isso foi invasivo da minha parte.
Silêncio voltou a cair sobre eles. Ana forçou-se a olhar nos olhos dele, a não demonstrar o medo que sentia retorcendo suas entranhas. Então ela disse, odiando como sua voz tremeu. Como isso funciona? Você tem um quarto aqui? É aqui que Ana Víctor a interrompeu gentilmente, empurrando-se para longe do bar. Antes de continuarmos, eu preciso te perguntar algumas coisas.
Você se importa? Ela piscou, confusa com a solicitação. Perguntar o quê? Vittor caminhou até a mesa e sentou-se na beirada, uma postura mais casual do que Ana esperava. Me conta sobre sua vida, seus planos, seus sonhos. Ana o encarou completamente perdida. Por quê? Por quê? Vittor disse: “Aqueles olhos ambar nunca deixando-os dela. Eu preciso saber com quem estou lidando.
E algo me diz que há muito mais em você do que José jamais percebeu.” E pela primeira vez, desde que entrou naquele escritório, Ana sentiu algo além de medo, curiosidade. Hann ficou em silêncio por um longo momento, estudando o homem à sua frente. Vctor permaneceu sentado na beirada da mesa, paciente, como se tivesse todo o tempo do mundo.
Não havia lacívia em seus olhos, nem a fome predatória que ela havia esperado, apenas curiosidade genuína. “Por que você se importa?”, Ana perguntou finalmente, sua voz carregada de desconfiança. “Com meus planos, meus sonhos, isso não deveria importar para o que vai acontecer aqui.” Victor suspirou, passando uma mão pelos cabelos grisalhos. “Talvez não devesse, mas importa para mim”.
Ele se levantou, caminhando até a janela novamente. Sabe, eu construí este império do nada. Aprendi a ler pessoas. É minha maior habilidade. E quando olho para você, vejo alguém extraordinário que foi traída da pior forma possível. Que poético, Ana, respondeu, amargura tingindo cada palavra. O homem que vai se aproveitar de mim reconhece que eu fui traída.
Víctor se virou bruscamente, algo brilhando em seus olhos. Raiva. ofensa. Eu nunca me aproveito de ninguém contra sua vontade, Ana. Nunca. Mas eu tô aqui por causa de um contrato que eu nunca assinei. Você está. E isso é. Victor pausou procurando a palavra certa. Complicado. Mas antes de qualquer coisa, eu quero te conhecer, te entender. Isso é tão difícil de aceitar.
Ana soltou uma risada sem humor, mas algo nela cedeu. Talvez fosse a exaustão emocional das últimas 24 horas. Talvez fosse a forma como Vctor falava, sem o desespero patético de José, sem mentiras, apenas uma honestidade brutal. Tá bom, ela disse, cruzando os braços. O que você quer saber? Victor gesticulou para as poltronas. Por favor, senta.
Não precisa ficar aí de pé o tempo todo. Ana hesitou, então caminhou até a poltrona e sentou-se rigidamente na beirada. Victor pegou uma garrafa de água mineral, serviu dois copos e ofereceu um a ela. Dessa vez, Ana aceitou, percebendo que sua garganta estava seca. Me conta sobre seu trabalho, Victor disse, sentando-se na poltrona em frente a ela, mantendo uma distância respeitosa.
Literatura brasileira, o que te atraiu para essa área? Ana bebeu um gole de água, organizando seus pensamentos. Minha avó, ela começou surpresa por estar realmente respondendo. Ela me criou depois que meus pais morreram em um acidente de carro quando eu tinha 7 anos. Ela era professora primária, aposentada e lia para mim todas as noites. Machado de Assis, Clarice Lispector, Guimarães Rosa.
Ela dizia que os livros eram portas para mundos infinitos. Um sorriso genuíno tocou os lábios de Víctor. Sua avó era uma mulher sábia e ela ainda está. Morreu há 3 anos. Câncer. A dor ainda era fresca, uma ferida que nunca cicatrizaria completamente. Sinto muito. Foi depois disso que conheci José. Ana continuou sem saber porque estava compartilhando isso.
Ele parecia tão estável, tão confiável. Depois de perder tanta gente, eu queria algo sólido, algo que não fosse me abandonar. E ele te abandonou da pior forma possível. Ana assentiu, lágrimas ameaçando transbordar, mas ela assegurou. 5 anos. 5 anos planejando um futuro juntos. E descobrir que durante os últimos seis meses ele estava vivendo uma vida completamente diferente que eu nem sabia que existia. Victor se inclinou para a frente, cotovelos nos joelhos.
José é fraco. Não no sentido físico, mas onde importa. No caráter. Homens fracos fazem escolhas covardes quando estão desesperados. E você? Ana o encarou diretamente. Você é forte. É isso que faz você melhor do que ele? Aceitar um acordo doentio como esse? A pergunta pairou no arre. Victor não desviou o olhar. Não ele disse finalmente.
Eu não sou melhor. Eu construí um império em cima de vícios alheios, de fraquezas humanas. Eu facilitei a destruição de famílias, de vidas. Eu sou Ele pausou algo parecido com autorreflexão cruzando seu rosto. Eu sou um monstro de um tipo diferente. A honestidade brutal da confissão surpreendeu Ana.
Ela esperava negação, justificativas, mas não isso. Então, por que continua? Ela perguntou. Vctor se recostou na poltrona, seus olhos vagando pela sala antes de voltar para ela. Porque é tudo que eu sei fazer e porque por muito tempo eu não me importei com nada, com ninguém. Eu estava morto por dentro. Estava. Estava. Victor a encarou intensamente.
Até aproximadamente 15 minutos atrás, quando você entrou por aquela porta. O coração de Ana acelerou. Havia algo na forma como ele disse isso, uma vulnerabilidade que não combinava com o homem poderoso que comandava um império do crime. “Você mencionou que é virgem?” Vittor disse de repente. E Ana sentiu seu rosto esquentar. Por escolha religiosa.
Isso não é da sua conta. Ela respondeu defensivamente. É. Se estamos supostamente prestes a passar uma noite juntos. Víctor se levantou, caminhando até um arquivo e puxando uma gaveta. Ele retirou o contrato que José havia assinado. Mas antes de continuarmos, eu preciso te contar algo. Ana observou enquanto ele levava o contrato até a mesa, colocando-o entre eles.
As folhas brancas com a assinatura desesperada de José pareciam brilhar sob a luz do escritório. Quando José veio até mim, desesperado, patético, implorando por uma chance, eu vi uma oportunidade. Eu vi fotos suas no Instagram dele e pensei. Victor pausou, parecendo escolher as palavras cuidadosamente.
Pensei que seria um acordo de negócios como qualquer outro, que você seria apenas mais uma mulher bonita, talvez interessada no dinheiro, talvez disposta a fechar os olhos para a situação em troca de algum benefício. Ana sentiu raiva fervendo em seu peito. E então, e então você entrou por aquela porta. Victor continuou, seus olhos fixos nela e eu vi seus olhos. Vi raiva, sim, mas também dignidade, força.
Você não veio aqui como uma vítima chorosa. Você veio aqui ereta, pronta para enfrentar o que quer que acontecesse. E quando você começou a falar sobre sua vida, sobre sua avó, sobre literatura, eu percebi que José te apostou sem nunca realmente te conhecer. E eu Ele pegou o contrato com ambas as mãos. Eu não posso fazer isso.
E então, diante dos olhos incrédulos de Ana, Víctor rasgou o contrato ao meio uma vez, duas vezes, três vezes, até que fossem apenas pedaços de papel caindo sobre a mesa como neve. Ana ficou paralisada, incapaz de processar o que estava vendo. “O que o que você acabou de fazer?”, ela sussurrou. Victor jogou os pedaços na lixeira ao lado da mesa. “Te libertei. Você não me deve nada.
A dívida de José? Bem, isso é problema dele agora. Mas você está livre para ir. Eu não entendo. Ana se levantou, as pernas bambas. Por quê? Por que você faria isso? Vctor caminhou até ela, parando a uma distância respeitosa. Quando falou, sua voz era baixa, quase vulnerá. Porque pela primeira vez em 5 anos, desde que minha esposa morreu, eu senti algo olhando para você, ouvindo você falar, eu me senti vivo novamente.
E eu não posso, eu não vou destruir algo tão raro apenas para satisfazer um acordo de negócios. As lágrimas que Ana havia segurado a noite toda finalmente caíram, mas dessa vez não eram de medo ou desespero, eram de alívio, confusão e algo mais que ela não conseguia nomear. Sua esposa? Ela perguntou através das lágrimas.
Beatriz morreu há 5 anos em um acidente de carro. Estava vindo me encontrar quando Victor desviou o olhar, dor antiga atravessando seu rosto. Desde então, eu me tornei isso, um homem vazio construindo um império vazio. Ana não sabia o que dizer. Esse homem, esse criminoso que havia acordado essa manhã esperando que ela cumprisse um acordo obsceno, havia acabado de se revelar como algo completamente diferente.
“Eu posso ir embora?”, ela perguntou, mal acreditando nas palavras. “Pode. Bruno te levará para casa.” Victor caminhou até a porta, então pausou, virando-se para ela uma última vez. “Ana, eu sei que não tenho direito de pedir nada, mas posso te fazer uma pergunta antes de você ir?” Pode. O que você vai fazer agora com José com sua vida? Ana enxugou as lágrimas, endireitando os ombros.
Terminar com ele. Reconstruir minha vida do zero, se necessário. Eu não sei como, mas vou encontrar um jeito. Víctor assentiu lentamente, algo parecido com admiração em seus olhos. Eu não tenho dúvidas disso. Ele abriu a porta. Bruno, leve a senorita Ferreira para casa, por favor. Ana caminhou em direção à porta, mas quando passou por Vctor, ela pausou.
“Obrigada”, ela disse suavemente, “por não ser o monstro que você poderia ter sido.” Victor sorriu, mas era um sorriso triste. “Boa sorte, Ana Carolina. Tenho certeza de que você vai fazer coisas extraordinárias.” E então ela saiu, deixando Víctor sozinho em seu império de vidro e sombras, sentindo-se mais vazio do que nunca.
O carro preto deslizava pelas ruas da cidade, mas Ana mal via a paisagem passando. Sua mente girava em um turbilhão de emoções contraditórias. Alívio, estava livre, confusão. Por que Víctor havia feito aquilo? E algo mais? Algo que ela não queria examinar muito de perto, uma conexão inesperada com um homem que deveria ter sido seu pesadelo.
Bruno a deixou em frente ao prédio e esperou até que ela entrasse com segurança antes de ir embora. Ana subiu as escadas lentamente, cada degrau parecendo mais pesado que o anterior. Quando chegou ao apartamento, encontrou José sentado no chão do corredor, encostado na parede ao lado da porta.
Ele se levantou imediatamente quando a viu, o rosto ainda inchado de tanto chorar. Ana, graças a Deus, eu tava tão preocupado. Eu Sai da frente, ela disse, sua voz gelada, tentando passar por ele para chegar à porta. O que aconteceu lá? Ele, ele te machucou. José tentou tocar seu braço, mas Ana se afastou como se ele fosse venenoso. Não me toca.
Nunca mais me toca. Ela abriu a porta e entrou, José a seguindo como um cachorro abandonado. Ana, por favor, a gente precisa conversar sobre isso. Eu sei que eu errei, eu sei que fui horrível, mas a gente pode Ele rasgou o contrato. Ana o interrompeu, virando-se para encará-lo. Vctor rasgou o contrato e me mandou embora. Eu não te devo nada.
Ele não me deve nada. Acabou. José piscou, processando a informação. Ele rasgou. Por quê? Porque diferente de você, Ana praticamente cuspiu as palavras. Ele tem uma consciência porque ele percebeu que eu não sou um objeto que pode ser negociado. Um lampejo de esperança iluminou o rosto de José. Então, tá tudo bem.
A gente pode seguir em frente, superar isso. Ana o encarou incrédula. Seguir em frente? Você realmente acha que tem um seguir em frente depois do que você fez? Foi um erro, um momento de desespero, mas eu nunca deixei de te amar. Amor? Ana gritou toda a raiva das últimas 24 horas explodindo.
Você acha que amor é apostar a pessoa amada em um jogo de cartas? É mentir por seis meses sobre um vício que destruiu nosso futuro? é me colocar em uma situação onde eu teria que Ela não conseguiu terminar a frase, as palavras se engasgando em sua garganta. José tentou se aproximar, mas Ana levantou uma mão, parando-o. Eu quero que você pegue suas coisas e saia, Ana. Agora, José, eu não vou repetir.
José ficou parado por um momento, então começou a reunir seus pertences com movimentos lentos, derrotados, roupas, alguns livros, seu laptop. Ana observa em silêncio, braços cruzados, guardando cada detalhe para nunca esquecer como era a sensação de ter seu coração partido por alguém que prometeu protegê-lo. Quando ele terminou, parou na porta uma última vez.
Eu te amo, Ana. Sempre vou te amar. Então, talvez você devesse ter pensado nisso antes de me vender. José saiu e Ana trancou a porta atrás dele. Ela deslizou até o chão, encostando a cabeça na madeira. e finalmente permitiu que o trauma de tudo o que havia acontecido a atingisse em cheio.
Ela chorou até dormir ali mesmo, encolhida contra a porta. Três dias depois, Ana estava em sua aula, explicando a Hora da Estrela de Clarisspector para uma turma de 20 alunos quando seu telefone vibrou. Ela ignorou, continuando a discussão sobre Macabeia e a busca por identidade. Durante o intervalo, verificou o telefone. Uma mensagem de um número desconhecido.
Senrita Ferreira, aqui é Bruno do Cassino. O Sr. Sampaio gostaria de conversar com a senhora. Ele pede que ligue quando puder. Não é nada urgente. Apenas uma proposta que ele acha que pode te interessar. Ana olhou fixamente para a mensagem. Parte dela queria deletá-la e nunca mais pensar em Víctor Sampaio ou no Cassino ou em toda aquela noite horrível.
Mas outra parte, uma parte curiosa e confusa, queria saber o que ele tinha a dizer. Ela esperou até voltar para casa à noite para ligar. O telefone tocou duas vezes antes que a voz familiar atendesse. Ana, Vctor, disse, e ela podia ouvir o sorriso em sua voz. Obrigado por ligar. Bruno disse que você tinha uma proposta direto ao ponto. Eu gosto disso. Ele pausou. Eu sei sobre sua situação financeira.
Ana sentiu raiva subindo. Você não tem direito de investigar minha vida. Eu sei e me desculpo, mas quando José mostrou suas fotos, eu fiz uma pesquisa básica. Eu sei que você trabalha na Universidade Federal, o que significa que seu salário é modesto.
Eu sei que José não apenas perdeu as economias do casamento, mas também deixou algumas contas em atraso no apartamento de vocês. Contas que agora são sua responsabilidade. Ana fechou os olhos. Era verdade. Ela havia recebido avisos de cobrança nos últimos dias. José havia deixado três meses de condomínio sem pagar, além de contas de luz e água acumuladas.
O que você quer, Víctor? Quero te ajudar sem compromissos, sem obrigações, pura e simplesmente porque posso e porque você merece. Eu não aceito caridade. Não é caridade, é investimento em educação. Vittor continuou antes que ela pudesse interromper. Você mencionou que queria fazer mestrado, certo? que seu sonho era pesquisar a obra de Clariss Lispector mais profundamente.
Ana havia mencionado isso casualmente durante a conversa deles. Como ele se lembrava? Sim, mas eu quero pagar seu mestrado. Mensalidade completa, materiais, tudo. E também tenho um apartamento vazio no bairro Jardins, que é apenas um investimento. Ninguém mora lá. Você pode usar até se estabelecer. Victor, eu não posso aceitar isso. Por que não? Porque vem de mim.
Por que você acha que tem segundas intenções? Sua voz era gentil, compreensiva. Eu juro para você, Ana, não tenho expectativa de nada em troca. Você me tocou de uma forma que não sentia há anos. Me deixou sentir algo além de vazio. Isso não tem preço. Deixa eu fazer isso, por favor. Ana sentou-se no sofá à cabeça girando. Eu não sei. Pensa. Não precisa decidir agora, mas a oferta está na mesa.
Um recomeço, sem dívidas com o passado. Eles se despediram e Ana ficou olhando para o telefone por um longo tempo. Parte dela gritava que aceitar seria errado. Seria se colocar em débito com um homem perigoso. Mas outra parte via a verdade dolorosa. Ela realmente precisava da ajuda e Victor era a única pessoa oferecendo.
Levou mais duas semanas para ela finalmente ligar de volta e dizer sim. O apartamento 703 no edifício Horizonte era tudo que Ana poderia ter sonhado e mais, dois quartos, sala espaçosa com janelas do chão ao teto que davam vista para o parque, cozinha moderna, banheiro com banheira de hidromassagem. Era mobiliado com gostosante, mas não ostensivo, sofás confortáveis em tons neutros, mesa de jantar para quatro pessoas, quadros abstratos nas paredes.
Vittor a encontrou na portaria para entregar as chaves pessoalmente. Ele usava jeans escuros e uma camisa branca simples. A primeira vez que Ana o via em roupas casuais. De alguma forma, isso o tornava mais humano, menos intimidador. É demais. Ana disse enquanto subiram no elevador, “Esse lugar deve custar. Não se preocupe com isso.” Victor interrompeu gentilmente. Como eu disse, é um investimento que estava vazio mesmo.
Você está fazendo um favor, mantendo o lugar habitado? Eles entraram no apartamento e Ana caminhou lentamente pela sala, tocando os móveis como se não pudesse acreditar que eram reais. “Eu não sei como agradecer”, ela disse finalmente, virando-se para ele. Victor estava encostado no batente da porta.
Mãos nos bolsos, um leve sorriso em seus lábios. Não precisa agradecer, só seja feliz aqui. É o suficiente. Eles estabeleceram regras naquele dia. Víctor as propôs e Ana concordou. Ele não apareceria sem avisar primeiro. Ela não tinha obrigação de vê-lo se não quisesse, e tudo relacionado ao apartamento e mestrado seria tratado de forma profissional, através de Bruno como intermediário. Mas aconteceu algo engraçado nas semanas seguintes.
Vctor ligava ocasionalmente para verificar se tudo estava bem com o apartamento. As ligações começavam sobre detalhes práticos. A água quente estava funcionando, o ar condicionado precisava de manutenção, mas inevitavelmente se transformavam em conversas longas sobre livros, filosofia, vida. Ana descobriu que Victor era surpreendentemente bem lido.
Ele havia estudado administração na FGV, mas seu verdadeiro amor era história e literatura. Eles debatiam sobre Machado de Assis, sobre as camadas de ironia em Dom Casmurro, sobre se Capitu realmente traiu Bentinho. Ela traiu, sem dúvida. Vctor insistiu durante uma ligação três semanas depois de Ana ter se mudado. “Você tá lendo com os olhos do narrador?” Ana contraargumentou, rindo. Bentinho é a definição de narrador não confiável.
Ele está contando uma história anos depois, colorida por ciúmes e ressentimento, mas os sinais estão todos lá. Os sinais que ele escolhe nos mostrar. É genial como Machado faz isso. Deixa você nunca saber a verdade absoluta. Victor riu um som rico e genuíno que fez Ana sorrir sem perceber. Você ia ser uma professora incrível. Aliás, já é. Obrigada.
Ana se acomodou no sofá novo, segurando uma caneca de chá. Sabe, essas conversas são inesperadas. Inesperadas como inesperadas considerando como nos conhecemos. Considerando o que você faz. Ana mordeu o lábio, hesitando. Não me entenda mal. Não estou julgando. Mas você se pergunta como alguém que aprecia a literatura pode comandar um cassino clandestino? Basicamente sim.
Vctor ficou em silêncio por um momento. Ana podia ouvi-lo respirando do outro lado da linha. Quando Beatriz morreu, ele começou finalmente. Eu me tornei alguém que não me reconhecia. A dor era tão grande que eu precisei matá-la. E ao fazer isso, matei tudo. Paixões, empatia, humanidade. O cassino era apenas números, estratégia, poder. Não requeria que eu sentisse nada.
E agora? Agora? Agora você me fez lembrar que existe outra forma de viver, que ainda há partes de mim que não morreram junto com ela. O coração de Ana acelerou. Havia uma intimidade crescendo entre eles que ela não sabia como processar. Víctor, eu não sei se isso é uma boa ideia. O quê? Sermos amigos, conversarmos. Amigos, Ana repetiu.
Homens que comandam cassinos clandestinos e professoras universitárias são amigos? Por que não? Os melhores amigos são os que vem de mundos completamente diferentes. Eles expandem nossas perspectivas. Ana não conseguia discutir com essa lógica. As semanas se transformaram em meses. Vctor começou a aparecer pessoalmente de vez em quando, sempre ligando antes, sempre respeitoso.
Eles jantavam juntos no apartamento. Ele trazia comida de restaurantes caros. Ela insistia em cozinhar. Às vezes conversavam por horas sobre tudo e nada. Han aprendeu sobre a infância de Víctor no subúrbio do Rio, sobre como ele construiu seu caminho do nada até se tornar um dos homens mais poderosos da cidade.
Ele aprendeu sobre os medos dela, sobre a solidão que sentia desde a morte de sua avó, sobre como José havia parecido uma resposta fácil para esse vazio, mas ele não era. Ana admitiu uma noite, enquanto dividiam uma garrafa de vinho. Ela estava bebendo agora de vez em quando. Eu estava tão focada em ter alguém que não percebi que estava com a pessoa errada.
“Você acha que existe a pessoa certa?”, Vittor perguntou, seus olhos ar refletindo a luz suave da sala. “Eu quero acreditar que sim.” Ana segurou o olhar dele. “E você?” “Eu tive a pessoa certa.” Beatriz era perfeita. “E quando você perde alguém assim, você acha que nunca vai sentir aquilo de novo.” Mas Ana pressionou, sentindo que havia mais. Victor colocou seu copo de vinho na mesa e se inclinou para a frente, cotovelos nos joelhos.
Mas então você conhece alguém que faz você questionar tudo que pensava saber sobre si mesmo? Ele a encarou intensamente. Alguém que faz você sentir coisas que jurou que estavam mortas. O ar entre eles ficou carregado, elétrico. Ana sentiu seu coração batendo tão forte que tinha certeza que ele poderia ouvi-lo.
Víctor, ela começou, mas não sabia como terminar a frase. Ele se levantou de repente, quebrando o momento. Tá tarde. Eu deveria ir. Ana também se levantou, caminhando com ele até a porta. Quando ele parou no umbral, virando-se para ela uma última vez, Ana viu algo em seus olhos que fez seu estômago revirar.
Desejo sim, mas também medo, vulnerabilidade. Boa noite, Ana. Boa noite, Víctor. Ele saiu e Ana encostou-se na porta fechada, percebendo com um choque de clareza que estava começando a sentir algo por ele, algo perigoso, algo impossível de ignorar. Era uma terça-feira comum quando tudo desmoronou novamente.
Ana estava revisando a dissertação de um aluno quando seu telefone tocou. O número era desconhecido, mas ela atendeu mesmo assim. Ana Carolina Ferreira, uma voz masculina, fria, profissional. Sim, quem é? Aqui é Marco Antônio, síndico do edifício Parque Central, onde você mora oficialmente.
Estou ligando para informar que você tem 72 horas para desocupar o imóvel. Ana sentiu o sangue gelar. Como assim desocupar? Eu pago o aluguel em dia. O problema não é o aluguel atual, senhora. é que o seu noivo, José Henrique Costa, acumulou três meses de condomínio não pagos antes de desaparecer.
Quando tentamos entrar em contato com ele, descobrimos que ele fugiu da cidade, deixando também com a Giotas. Como o contrato de aluguel está no nome dos dois, a responsabilidade cai sobre você. Mas eu não moro mais lá. Eu saí há dois meses. Seu nome ainda está no contrato, senhora. Ou você paga os valores em atraso e se responsabiliza pelo apartamento, ou o desocupa que possamos repassar a outro inquilino. Ana fez os cálculos rapidamente na cabeça.
Tr meses de condomínio, mais as contas que José havia deixado, pelo menos R$ 8.000. Dinheiro que ela não tinha. Quanto tempo eu tenho? 72 horas. Sinto muito, senhora. A ligação terminou. Ana ficou olhando para o telefone, sentindo-se como se o chão tivesse desaparecido sob seus pés. Novamente, José havia conseguido destruir sua vida novamente. Mesmo estando longe.
Ela poderia ligar para Víctor? Ela sabia que poderia. Ele provavelmente resolveria o problema com uma ligação. Mas a ideia de pedir mais ajuda, de ficar ainda mais em débito, fazia seu estômago revirar. Durante os três dias seguintes, Ana tentou tudo. Pediu adiantamento do salário. Negado, tentou pegar empréstimo no banco.
Negado por falta de garantias, ligou para amigas. Ninguém tinha aquela quantia disponível. No terceiro dia, ela foi até o antigo apartamento. Estava pior do que ela imaginava. A porta havia sido arrombada, provavelmente pelos agiotas, procurando por José. Móveis revirados, gavetas esvaziadas. o colchão rasgado.
Eles haviam levado tudo de valor, a TV, o notebook de José, até alguns dos livros mais caros de Ana que ela havia deixado para trás. Ela se sentou no meio da destruição e chorou. Tudo estava perdido. 5 anos de sua vida, todas suas economias, até seus livros. José havia levado tudo. Naquela noite, com as mãos tremendo, ela ligou para Víctor.
Ana, ele atendeu no primeiro toque. Tudo bem. Você parece não. Ela interrompeu a voz embargada. Não tá tudo bem. Eu preciso da sua ajuda. Ela contou tudo sobre a ligação, sobre o apartamento destruído, sobre como ela estava oficialmente sem nada além da gentileza de um homem que mal conhecia. Vctor chegou ao edifício Horizonte menos de uma hora depois.
Ana abriu a porta com os olhos vermelhos e inchados. Sem dizer nada, Víctor a puxou para um abraço. Foi a primeira vez que eles se tocaram, além de apertos de mão educados. E a Ana, exausta emocionalmente, se permitiu derreter naquele abraço, sentindo o calor dele, o cheiro suave de perfume caro misturado com algo essencialmente masculino.
“Eu vou resolver”, Víctor disse contra seus cabelos. “Vou mandar meus advogados cuidarem do contrato. Você não vai perder nada. Eu já perdi tudo”, Ana murmurou contra o peito dele. Víctor a afastou gentilmente, segurando seu rosto entre as mãos e forçando-a a olhar nos olhos dele. “Não, você não perdeu você e enquanto você tiver isso, pode reconstruir tudo.
Por que você tá fazendo isso?”, Ana perguntou, lágrimas escorrendo. “Por que você se importa tanto comigo?” Victor limpou suas lágrimas com os polegares, seus olhos ambar intensos e vulneráveis. Porque você me fez querer viver de novo, Ana. Pela primeira vez em 5 anos, eu acordo e sinto algo além de vazio. Eu penso em você e sorrio.
Eu espero por nossas conversas como um garoto esperando o Natal. Você é Ele parou parecendo procurar as palavras certas. Você é luz em um mundo que se tornou completamente escuro para mim. Ana sentiu algo se partir e se reorganizar dentro dela. Todos os muros que havia construído, todas as resistências desmoronaram naquele momento. “Eu sinto algo por você também”, ela admitiu em um sussurro.
“E isso me apavora?” “Por quê?” “Porque não faz sentido. Porque você é você e eu sou eu. Porque começamos da pior forma possível? Porque tenho medo de que seja só gratidão, só desespero, só?” Vítor a silenciou, colocando um dedo sobre seus lábios. E se não for nada disso? E se for real? Como pode ser real? Porque eu sinto isso aqui. Vittor pegou a mão dela e colocou sobre seu coração.
Ana podia sentir batendo forte e acelerado. Porque eu não consigo parar de pensar em você? Porque pela primeira vez desde Beatriz eu posso imaginar um futuro que não seja apenas existir. Han olhou para aquele homem poderoso, perigoso, impossível e viu apenas um ser humano vulnerável que estava tão assustado quanto ela.
“Eu não sei se consigo fazer isso”, ela disse honestamente. “Você assusta? Seu mundo me assusta. Então não fazemos nada. Continuamos como estamos, amigos. Nada mais.” Victor deixou sua mão cair. Mas, Ana, eu preciso que você saiba que eu vou esperar pelo tempo que você precisar. E se você nunca sentir que pode estar comigo, eu vou aceitar. Mas eu vou continuar te apoiando, te ajudando, porque você merece.
Era o discurso mais honesto, mais vulnerável que Ana já havia ouvido. E naquele momento, ela tomou uma decisão. “Vamos devagar”, ela disse. “Muito devagar. E se em qualquer momento eu sentir que é errado, que não vai funcionar, você pode sair sem perguntas, sem represalhas, sem nada. O apartamento continua seu, o mestrado continua sendo pago.
Você tem minha palavra. Hana assentiu e pela primeira vez em meses ela se permitiu acreditar que talvez, apenas talvez, algo bom poderia sair de toda essa tragédia. Os três meses seguintes foram uma dança delicada entre dois corações danificados, aprendendo a confiar novamente. Vctor cumpriu sua palavra sobre ir devagar.
Seus encontros eram planejados, respeitosos, sempre dando a Ana a opção de recusar sem consequências. Eles jantavam juntos duas vezes por semana, às vezes em restaurantes discretos onde Víctor era conhecido, mas respeitado o suficiente para que ninguém os incomodasse. Outras vezes, no apartamento, onde Ana descobriu que Víctor era um cozinheiro surpreendentemente bom. Aprendi com Beatriz.
Ele explicou uma noite enquanto preparava um risoto perfeito. Ela insistia que um homem que não sabe cozinhar é um homem que não sabe se cuidar. Ela era sábia. Ana comentou, observando-o trabalhar com movimentos precisos e confiantes. Era Vctor provou o risoto, ajustou o tempero. Você a teria amado.
Vocês são parecidas em muitos aspectos, fortes, independentes, recusando-se a ser definidas pelos homens em suas vidas. Exceto que eu deixei José me definir”, Ana disse amargamente. Víctor desligou o fogo e se virou para ela. Não. Você amou José, o que é diferente. Você construiu uma vida com ele baseada em confiança. Ele quebrou essa confiança. Isso não te faz fraca, faz ele indigno.
Ana se levantou, caminhando até a janela. A cidade brilhava lá embaixo. Milhões de luzes representando milhões de vidas, cada uma com suas próprias tragédias e triunfos. Você sempre sabe o que dizer”, ela murmurou. “Não sempre.” Victor veio ficar ao lado dela, mantendo uma distância respeitosa. Mas com você as palavras certas parecem vir naturalmente. Ana virou-se para olhá-lo.
Ele estava lindamente imperfeito na luz suave da cozinha. Uma sombra de barba aparecendo, cabelos levemente bagunçados de tanto passar a mão, os olhos ambar suaves e vulneráveis, de uma forma que ela sabia que poucos eram privilegiados o suficiente para ver. “Eu quero te beijar”, ela disse de repente, surpreendendo a si mesma com a honestidade brutal.
Victor ficou completamente imóvel, apenas seus olhos se alargando levemente. “Ana, mas eu não sei se é pelos motivos certos.” Ela continuou rapidamente. Não sei se é porque realmente sinto algo ou se é só gratidão ou solidão ou então não me beija. Vctor deu um passo para trás e Ana viu o custo desse movimento em sua expressão. Não enquanto você não tiver certeza.
Quando você me beijar, eu quero que seja porque não consegue evitar, porque me deseja de verdade, não por gratidão ou obrigação. E se eu nunca tiver certeza, então seremos os melhores amigos que existem. Víctor sorriu, mas havia tristeza nos cantos de sua boca. E eu vou guardar esses meses como os melhores da minha vida pós-beatriz. Eles não se beijaram naquela noite, mas algo mudou. Uma barreira invisível havia sido reconhecida.
E com esse reconhecimento começou a se dissolver lentamente. As aulas de Ana no mestrado começaram e ela se jogou nos estudos com paixão renovada. Sua dissertação sobre a paixão segundo GH de Clarice Lispector estava tomando forma, explorando temas de transformação e autodescoberta que ressoavam profundamente com sua própria jornada.
Victor aparecia às vezes na universidade para buscá-la depois das aulas. Os colegas de Ana começaram a comentar sobre aquele homem misterioso e bonito. Ela nunca explicou quem ele era e ele nunca pareceu se importar com a curiosidade alheia. Uma tarde, enquanto caminhavam pelo campus, Víctor fez uma pergunta que pegou Ana de surpresa.
Você perdoou José? Ana considerou a questão cuidadosamente. Não sei se perdoar é a palavra certa. Eu entendi, talvez entendi que ele é um homem fraco que fez escolhas terríveis quando estava desesperado. Isso não justifica o que ele fez, mas me permite seguir em frente sem carregar raiva. Isso é muito mais maduro do que ele merece, talvez. Mas a raiva só envenenaria eu, não ele.
Vctor parou de caminhar, virando-se para encará-la completamente. Como você ficou tão sábia sendo tão jovem? Ana riu. 28 não é tão jovem, Víctor, para mim é. Ele sorriu. Eu tenho 45, 17 anos de diferença. Às vezes eu me pergunto se se o quê, se eu não sou velho demais para você, se você não merece alguém da sua idade sem toda a bagagem que eu carrego.
Ana estendeu a mão e pegou a dele, entrelaçando seus dedos. Foi a primeira vez que ela iniciou o contato físico, além de abraços casuais. Maturidade não é sobre idade, Víctor. É sobre experiências, crescimento, autoconhecimento. E por esse padrão você é perfeito.
Víctor olhou para as mãos deles entrelaçadas e Ana viu uma emoção atravessar seu rosto que ela não conseguiu identificar. “Vamos para casa”, ele disse suavemente. E Ana percebeu que em algum momento, ao longo daqueles três meses, o apartamento tinha se tornado casa para ambos. Naquela noite, eles assistiram a um filme antigo juntos no sofá, Casa Blanca. Victor insistiu que era impossível apreciar cinema sem conhecer os clássicos.
No meio do filme, a cabeça de Ana deslizou naturalmente para o ombro dele. Victor ficou completamente imóvel por um momento, então relaxou o seu braço vindo gentilmente ao redor dela. Isso é OK? Ele sussurrou. Isso é mais do que OK”, Ana respondeu. Eles ficaram assim até o fim do filme e quando Ana finalmente levantou a cabeça para olhá-lo, encontrou Víctor já olhando para ela, seus olhos ambar cheios de ternura.
“Eu tô começando a ter certeza”, ela disse suavemente. “Sobre você?” “Sobre nós. Tem certeza?” “Sem pressa, Ana? Tenho certeza de que quero descobrir onde isso pode levar.” Ela tocou o rosto dele, dedos traçando a linha de sua mandíbula e eu tô começando a acreditar que não é gratidão, é algo real.
Victor cobriu a mão dela com a sua, pressionando-a contra seu rosto. Eu posso esperar o tempo que você precisar. Eu sei. E é por isso que eu não quero mais esperar. E dessa vez, quando ela se inclinou, ele encontrou ela no meio do caminho. O beijo foi suave, tentativo, uma pergunta e resposta ao mesmo tempo.
Os lábios de Víctor eram quentes, gentis, se movendo contra os dela com uma ternura que fez lágrimas brotarem em seus olhos fechados. Quando se separaram, ambos estavam respirando com dificuldade. Victor apoiou a testa na dela, olhos fechados. “Trs meses!”, ele sussurrou. Três meses sonhando com isso. Valeu a pena mais do que você pode imaginar.
Eles se beijaram novamente e então outra vez, cada beijo mais confiante que o anterior, até que estavam deitados no sofá, corpos entrelaçados explorando esse novo território com o cuidado de dois sobreviventes que finalmente encontraram terreno seguro. Mas quando as mãos de Víctor começaram a vagar sob sua blusa, Ana gentilmente as parou.
Ainda não, ela disse um pouco sem fôlego. Sem problema. Vctor imediatamente recuou, colocando distância entre eles. Quando você estiver pronta, se estiver pronta, eu vou estar só. Não, agora eu entendo. E pelo jeito que ele disse, Ana soube que ele realmente entendia.
Eles continuaram à noite em abraços inocentes, conversando sobre tudo e nada, construindo a fundação do que ambos esperavam secretamente que durasse para sempre. Os meses seguintes foram os mais felizes da vida de Ana desde a morte de sua avó. O relacionamento com Víctor floresceu de forma natural, crescendo e se aprofundando como uma planta bem cuidada.
Eles estabeleceram rotinas, café da manhã juntos aos domingos, onde Víctor fazia panquecas que conseguiam ser leves e douradas, perfeitas. Noites de sexta-feira eram para educação cultural. Víctor insistia em expor Ana ao que ele chamava de Os Pilares da civilização, ópera, jazz, cinema clássico.
Ana retribuía arrastando-o para saraus de poesia na universidade e peças de teatro experimentais. “Eu não entendi nada do que acabou de acontecer”, Victor admitiu depois de uma performance particularmente abstrata de Samuel Becket. É esse o ponto”, Anna riu, entrelaçando seu braço no dele enquanto saíam do teatro. Becket trata sobre a ausência de significado, sobre o absurdo da existência.
Então, passei duas horas assistindo algo propositalmente sem sentido. Exatamente. Vittor sacudiu a cabeça, mas estava sorrindo. Você tá me transformando em um intelectual pretencioso e você tá me transformando em uma snobes caros. Ana apertou seu braço. Acho que estamos bem. Mas havia momentos sérios também. Uma noite, três meses no relacionamento deles, Ana perguntou a pergunta que vinha evitando.
Vctor, o que você faz exatamente no cassino? Eu sei sobre os jogos, mas tem mais, não tem? Eles estavam na cama, não fazendo amor. Ana ainda não estava pronta para aquele passo, mas deitados juntos, ela usando uma de suas camisetas, a cabeça apoiada em seu peito, ouvindo as batidas firmes de seu coração.
Víctor ficou tenso sob ela. Você realmente quer saber? Quero. Se vamos estar juntos de verdade, eu preciso conhecer todas as partes de você. Vittor respirou fundo, seus dedos brincando com os cabelos dela. O cassino é apenas a fachada. A maior parte do dinheiro vem de lavagem para outras organizações.
Eu não faço o trabalho sujo, não tráfico, não armas, nada disso, mas recebo o dinheiro deles e o transformo em investimentos legítimos, imóveis, negócios, ações. Sou um facilitador. Ana processou a informação em silêncio. Você sabe que é ilegal. Sei que põe você em perigo. Sei disso também. E você nunca pensou em parar? Victor se moveu para que pudesse olhar nos olhos dela.
Antes de você? Não. Por quê? Para quê? Mas agora ele tocou o rosto dela gentilmente. Agora eu tenho um motivo. Pela primeira vez eu quero um futuro que não seja apenas sobreviver até o próximo dia. Então, pare. Não é tão simples, Ana. Pessoas como eu não simplesmente saem. tem protocolos, acordos, pessoas que precisam ser gerenciadas. Então, gerencie.
Ana se sentou, encarando-o seriamente. Porque eu não posso construir uma vida com alguém que pode ser preso ou morto a qualquer momento. Vctor também se sentou pegando as mãos dela. Me dá um ano. Um ano para desmembrar tudo, transferir operações, me retirar de forma segura. Posso fazer isso? Um ano. Ana concordou. Mas Víctor, você tem que prometer. Nada de enrolação, nada de só mais um negócio.
Um ano e você sai completamente. Eu prometo. Ele beijou os nós dos dedos dela. Por você, eu faço qualquer coisa. Naquela noite, pela primeira vez, Ana considerou seriamente o futuro. Um futuro com Víctor, casamento, talvez, filhos, possivelmente uma vida normal depois que ele se afastasse do mundo criminoso.
Era assustador o quanto ela queria isso. Natal chegou e com ele, uma surpresa. Víctor a levou para o Rio de Janeiro, onde ele tinha uma cobertura com vista para a praia de Ipanema. Três dias de pura felicidade, caminhadas na areia, jantares em restaurantes escondidos que apenas locais conheciam, noites enrolados um no outro na varanda, ouvindo o som das ondas. Na véspera de Natal, Vittor preparou um jantar especial.
A mesa da varanda estava impecavelmente posta, velas criando alos dourados de luz, uma vista espetacular do oceano ao fundo. “Você tá muito arrumado”, Ana comentou descendo as escadas em um vestido azul que ele havia comprado para ela. “Isso é só um jantar ou tem algo mais?” Vctor, impecável em um terno azul marinho, sorriu nervosamente. Nervosamente.
Ana nunca o tinha visto nervoso antes. “Senta”, ele disse, puxando a cadeira para ela. O jantar foi perfeito. Camarões grelhados, risoto de limão siciliano, uma sobremesa de mousse de maracujá. Eles conversaram, riram, o vinho fluiu. Ana estava bebendo mais confortavelmente agora. Pequenas quantidades que a deixavam relaxada, mas nunca embriagada.
Depois da sobremesa, Victor se levantou e estendeu a mão. Dança comigo? Ele colocou uma música suave, Nat King Cole, unforgettable. E eles se moveram devagar pela varanda, o luar banhando-os em prata. Ana, Victor disse contra seus cabelos. Esses últimos meses foram os mais felizes da minha vida.
Você me trouxe de volta à vida quando eu tinha certeza de que estava morto por dentro, Víctor, deixa eu terminar. Ele a afastou ligeiramente, olhando em seus olhos. Eu sei que é cedo. Eu sei que temos apenas alguns meses juntos, mas quando você encontra a pessoa certa, você sabe. E eu sei. Ele se ajoelhou e o coração de Ana parou.
Eu não tô te pedindo em casamento, ele disse rapidamente, vendo o pânico em seus olhos. Ainda não. Isso seria precipitado, mas eu tô te pedindo uma promessa. Ele tirou uma pequena caixa do bolso. Dentro havia um anel delicado. Não anel de noivado tradicional com diamante enorme, mas uma banda de ouro com pequenos safiras azuis encrustadas.
uma promessa de que você vai me dar essa chance, de que vamos descobrir juntos se isso pode ser para sempre, de que daqui um ano, quando eu sair completamente dessa vida e for apenas um homem normal, você vai considerar ser minha esposa. Lágrimas escorriam livremente pelo rosto de Ana agora. Um anel de promessa. Um anel de promessa, sem pressão, sem obrigações. Apenas esperança.
Posso ter isso? Posso ter você? Ana se ajoelhou na frente dele, tomando o rosto dele entre as mãos. Víctor Sampaio, você não precisa de um anel para ter minha promessa. Você já tem. Ela beijou-o profundamente. Você teve desde o momento que rasgou aquele contrato e me deixou ir.
Victor colocou o anel em seu dedo, se encaixou perfeitamente e então a puxou para seus braços, beijando-a como se ela fosse ar e ele estivesse se afogando. Eles fizeram amor naquela noite pela primeira vez. Não era apenas sexo, era comunhão. Victor foi incrivelmente gentil, verificando a cada momento se ela estava bem, se queria continuar.
Quando ele finalmente se uniu a ela, foi como duas almas se encontrando, duas metades quebradas se tornando inteiras. Depois, deitados, entrelaçados nos lençóis bagunçados, Víctor beijou sua testa. Sem arrependimentos, nenhum único. Ana traçou círculos preguiçosos em seu peito. Foi perfeito. Você é perfeito. Longe disso, mas com você eu quero ser.
Eles dormiram assim, corpos entrelaçados. O som do oceano, ninando-os, dois corações danificados, finalmente encontrando paz um no outro. Seis meses se passaram desde aquela noite mágica no Rio. Ana terminou o primeiro ano de seu mestrado com notas exemplares. Sua dissertação estava tomando forma belamente e Víctor estava metodicamente desmembrando seu império criminoso.
Mas o passado tem uma forma de te alcançar quando você menos espera. Era uma tarde de sábado quando José reapareceu. Han estava no mercado comprando ingredientes para o jantar quando o viu no corredor dos vinhos. Ele estava magro demais, com olheiras profundas, roupas amarrotadas. Quando seus olhos se encontraram, José congelou. “Ana”, ele disse a voz rouca.
“José?” Ana manteve sua voz neutra, continuando a empurrar o carrinho. Ele correu para alcançá-la, bloqueando seu caminho. “Por favor, só um minuto. Eu sei que não mereço, mas você tem razão. Você não merece.” Hana tentou passar por ele. “Eu tô doente, Ana.” As palavras apararam. Câncer. Estágio três.
Os médicos dão seis meses, talvez um ano, se eu fizer tratamento. Ana sentiu seu estômago afundar. Não importava o que ele havia feito, não importava a dor. Ouvir essas palavras sobre alguém que ela amou por 5 anos era devastador. Eu sinto muito ela disse sinceramente. Eu voltei para fazer tratamento aqui. Não tenho mais ninguém.
Minha família me deserdou depois que, bem depois de tudo, lágrimas escorriam por seu rosto. Eu sei que não tenho direito de pedir, mas eu preciso do seu perdão antes de morrer. Eu preciso saber que você não me odeia. Ana olhou para aquele homem quebrado e viu não o monstro que a havia traído, mas um ser humano falível que fez escolhas terríveis e agora estava pagando o preço final.
Eu não te odeio, José. Ela tocou seu braço gentilmente. Eu te perdoo. Espero que você encontre paz. Você parece feliz. Ele observou limpando os olhos. Tem um brilho que nunca vi quando estávamos juntos. Eu sou feliz. Finalmente. É o Víctor. Vocês ficaram juntos? Ana poderia ter mentido, mas não havia razão para isso. Sim. E antes que pergunte, não. Não começou como você tá pensando.
Ele me respeitou quando você não o fez. José assentiu lentamente, aceitando a verdade. Ele é um homem de sorte. Cuida dela”, ele disse, olhando por cima do ombro de Ana para onde Víctor havia acabado de entrar no mercado. Víctor caminhou até eles, seus olhos avaliando a situação imediatamente. Ele colocou uma mão protetora nas costas de Ana. “Está tudo bem aqui?” “Está”, Ana respondeu.
José estava apenas indo embora. José olhou para Víctor por um longo momento, então estendeu a mão. Cuida dela, ela merece tudo de bom nesse mundo. Vctor apertou a mão dele, sua expressão ilegível. Eu sei. E eu vou. José se virou e saiu, seus ombros curvados, um homem derrotado pela vida. Naquela noite, Ana estava quieta, pensativa.
Víctor a deixou processar, mas quando ela finalmente falou, ele estava lá para ouvir. Ele tá morrendo ela disse simplesmente, Câncer. E eu não senti raiva, só tristeza. É estranho, não é humano. Vctor a puxou para seus braços. Você amou ele uma vez. É natural se importar com o que acontece com ele.
Mas depois de tudo que ele fez, amor não desliga como um interruptor. Ana, você pode parar de amar alguém romanticamente, mas ainda se importar com eles como ser humano. Ana olhou para esse homem incrível que entendia tantas complexidades do coração humano. Como você ficou tão sábio? Perdi alguém que amei. Aprendi que a vida é muito curta para carregar raiva.
Eles ficaram em silêncio por um momento. Então Vctor falou: “Eu preciso te contar algo sobre o processo de saída.” Ana se endireitou preocupação cruzando seu rosto. Algo está errado? Não errado, mas complicado. Vctor passou as mãos pelos cabelos, um sinal de nervosismo. Para sair completamente, eu preciso entregar o cassino para alguém. Já encontrei um comprador.
Negociações estão em andamento, mas há uma reunião final daqui a duas semanas com todos os meus parceiros de negócio. É protocolo. Eu preciso garantir a eles que a transição será suave. Isso é perigoso? Pode ser. Essas pessoas não gostam de mudanças. Victor pegou as mãos dela, mas eu vou ter segurança. Vou estar em um local neutro e vou seguir todos os protocolos. Vai ficar bem. Você promete? Eu prometo.
Ele beijou sua testa. Em duas semanas começo minha nova vida. Uma vida limpa com você. Com nossa vida juntos. Ana corrigiu. Nossa vida. Vittor concordou sorrindo. Mas enquanto eles se abraçavam, nenhum dos dois viu a sombra que os observava da rua. Uma sombra que tinha planos diferentes para o futuro de Víctor.
Um ano depois, Ana estava na frente de um auditório cheio, vestindo um terno simples, mas elegante, o cabelo preso em um coque baixo. Sua dissertação, metamorfos do eu, autodescoberta na obra de Clarice Lispector, havia sido defendida com louvor. Na primeira fila, Vittor assistia com orgulho palpável em seus olhos. Ele estava diferente agora, mais leve de alguma forma.
A tensão constante que costumava carregar nos ombros havia desaparecido. Ao lado dele, Bruno, que havia se tornado amigo deles depois que Víctor saiu do mundo criminoso, aplaudia entusiasticamente. A reunião final aquela duas semanas que Ana tinha temido havia sido surpreendentemente tranquila.
Victor havia transferido o cassino, liquidado seus ativos ilícitos e investido tudo em negócios legítimos. Agora ele era um empresário respeitável, dono de uma cadeia de hotéis boutique e investidor em startups de tecnologia. Depois da defesa, eles foram para um restaurante íntimo celebrar. O anel de promessa de Ana havia sido substituído por um anel de noivado três meses atrás em uma proposta simples, mas perfeita, na varanda do apartamento, o apartamento que era deles agora oficialmente pra brilhante futura docutora Ana Ferreira. Vctor brindou. Futura Ana Sampaio.
Ela corrigiu com um sorriso. Eles estavam planejando se casar no final do ano. Uma cerimônia pequena na praia, apenas amigos íntimos e a irmã de Víctor do Rio. No meio do jantar, o celular de Ana vibrou. Ela verificou e seu rosto ficou sério. “José morreu”, ela disse suavemente. “ontem à noite no hospital. A irmã dele mandou mensagem.
Víctor cobriu a mão dela com a sua. Como você se sente? Ana pensou por um momento triste, mas em paz. Eu perdoei ele. Espero que ele tenha encontrado paz também. Você quer ir ao funeral? Não. Eu disse a Deus quando o encontrei no mercado. Foi o suficiente. Ela apertou a mão de Víctor. Eu escolho olhar pra frente agora, pro nosso futuro.
Falando em futuro, Vctor disse um sorriso brincando em seus lábios. Eu tenho uma surpresa. Ele colocou uma pasta sobre a mesa. Canas abriu e encontrou documentos de propriedade para uma casa, não um apartamento, mas uma casa real, com jardim, três quartos, escritório, em um bairro tranquilo fora da cidade.
Víctor, eu sei que você sempre quis uma casa com jardim, onde você poderia ter um cachorro, talvez plantar rosas, como sua avó costumava fazer. Ele estava obviamente nervoso. Eu comprei. Se você gostar, claro. Se não gostar, a gente vende e encontra outra. Ana se levantou, contornou a mesa e beijou-o profundamente, não se importando com os outros clientes do restaurante. É perfeita. Você é perfeito. Longe disso, mas eu tento por você.
Seis meses depois, no dia do casamento, Ana estava no quarto de hóspedes da casa, a irmã de Víctor ajustando o vel simples em seus cabelos. O vestido era de renda branca, simples, mas elegante, exatamente o que ela queria. Ele realmente te ama, você sabe, Maria, a irmã de Victor, disse: “Eu nunca tinha visto meu irmão assim desde Beatriz. Você o trouxe de volta. Ele me salvou também.
” Ana respondeu, observando seu reflexo, de formas que ele nem imagina. A cerimônia foi na praia ao pôr do sol, apenas 20 pessoas presentes. Quando Vctor se virou para vê-la caminhando pela areia descalça, Ana viu lágrimas em seus olhos. Os votos foram simples, mas profundos. Ana, Victor disse, segurando suas mãos.
Você entrou na minha vida da forma mais impossível. Eu estava perdido na escuridão e você foi a luz que me encontrou. Prometo amar você, respeitar você e honrar você todos os dias da minha vida. Você me fez acreditar em segundas chances. Victor, Ana respondeu, sua voz clara e firme.
Você me mostrou que força verdadeira é saber quando ser gentil, que poder verdadeiro é escolher ser vulnerável. Você me respeitou quando outros não o fizeram, me apoiou quando eu não tinha nada e me amou quando eu achei que nunca seria amada assim. Prometo construir uma vida linda com você. Quando o oficiante disse pode beijar a noiva Víctor a pegou nos braços e a girou, ambos rindo como crianças, o sol poente pintando tudo em tons de dourado e rosa.
A recepção foi em casa, no jardim que Ana já havia começado a cultivar. Luzes de cordas penduradas nas árvores, uma mesa longa decorada com flores silvestres, música suave tocando. No final da noite, quando todos haviam ido embora, Ana e Vctor ficaram sentados no balanço do jardim, observando as estrelas. “Você é feliz?”, Vctor perguntou, beijando seu cabelo.
Mais do que jamais imaginei ser possível. Ana se aconchegou contra ele. “Quem diria que algo tão bonito poderia surgir de algo tão horrível? A vida tem um jeito engraçado de funcionar assim, Víctor. Hum, obrigada por não ser o homem que você poderia ter sido naquela noite, por escolher ser melhor.
Víctor a abraçou mais forte. Obrigado por me fazer querer ser melhor. Eles ficaram assim por horas. Dois sobreviventes que encontraram abrigo um no outro. Dois corações quebrados que se curaram juntos. Duas almas que aprenderam que às vezes o amor vem dos lugares mais inesperados.
E no jardim da casa que construíram juntos, cercados pelo cheiro de rosas que Ana tinha plantado em memória de sua avó, eles finalmente encontraram o que ambos procuravam a vida toda. Um lar, não apenas um lugar, mas uma pessoa. Um no outro eles eram completos. Ana Sampaio, porque ela havia mudado seu nome com orgulho, olhou para o anel em seu dedo, para o homem ao seu lado, e sussurrou para o universo uma gratidão silenciosa por segundas chances, por perdão, por amor encontrado nas ruínas de corações partidos. E quando ela olhou nos olhos de Víctor, viu refletido lá o mesmo sentimento que
carregava em seu próprio coração. Finalmente, estamos em casa. M.
News
End of content
No more pages to load






