A chuva caía fina sobre Alfa Vil, desenhando linhas irregulares no para-brisa do carro parado, o motor desligado, as mãos ainda no volante. Caio Moreira não piscava. Na tela do celular, apoiado no painel, o vídeo estava pausado num frame imperfeito, dois berços brancos, um choro cortado no meio e o rosto de Renata, rígido, tenso, inclinado para baixo.
Um segundo antes do grito, Caio não apertou o play de novo. Não precisava. O som ainda ecoava dentro dele, como se tivesse ficado preso no peito. Foi ali, naquele silêncio pesado depois do choro, que algo se quebrou. Não foi raiva, não foi ódio, foi a certeza fria de que algumas verdades não podem ser desvidas. Ele fechou os olhos por um instante, o cheiro de couro molhado do banco, o leve aroma metálico da chuva, o tique nervoso do dedo batendo no volante.
Tudo parecia excessivamente nítido, como se o mundo tivesse aumentado o volume justo naquele momento. Caio Moreira tinha 40 anos. 11 meses antes, o cheiro era outro: antiséptico, plástico, esperança. O quarto do Hospital Albert Einstein estava iluminado demais. As luzes brancas refletiam no chão, nas paredes, nos olhos cansados de Helena. Ela suava, mas sorria.
Um sorriso frágil, quase infantil, que Caio ainda conseguia ver com nitidez se fechasse os olhos. Eles estão chegando, o amor”, ela sussurrou, apertando a mão dele. Miguel nasceu primeiro, pequeno, vermelho, protestando contra o mundo. Depois, Luna, mais silenciosa, os olhos fechados, como se ainda não tivesse decidido ficar. Foram 15 minutos perfeitos.
15 minutos em que Caio acreditou que a vida finalmente tinha entrado nos eixos. Depois, tudo correu rápido demais. médicos falando alto, uma palavra que ele nunca tinha ouvido antes, máquinas apitando. E então, silêncio. Helena nunca saiu daquela sala. Caio saiu com dois bebês nos braços e um vazio que nenhum dinheiro do mundo conseguiria preencher.
Os primeiros meses foram uma mistura confusa de noite sem dormir e dias que pareciam borrados. Mamadeiras às 3 da manhã. Reuniões encurtadas, planilhas abertas enquanto um bebê chorava no colo. Ele aprendia tudo no improviso. Aprendeu a reconhecer o choro de fome, o choro de sono, o choro que pedia apenas colo. Aprendeu que amor também pode ser exaustão. E, acima de tudo, aprendeu a ter medo.
Medo de falhar, medo de perder mais alguém, medo de não ser suficiente. Foi nesse espaço frágil que Renata Azevedo entrou na vida dele. O encontro aconteceu num evento beneficente, numa noite quente em São Paulo. Renata era exatamente o tipo de mulher que parecia pertencer àquele ambiente. Vestido impecável, sorriso treinado, palavras bem colocadas.
“Eu admiro homens que assumem os filhos”, ela disse, olhando diretamente para ele. “Não é comum.” Caio se sentiu visto, não desejado, não admirado pelo sucesso. Visto. Renata sabia ouvir, sabia tocar o braço no momento certo, sabia fazer silêncio parecer compreensão e sobretudo sabia dizer que amava crianças.
Caio queria acreditar, não porque estivesse apaixonado, não ainda, mas porque os gêmeos precisavam de algo que ele não conseguia ser sozinho. Uma presença, uma suavidade, uma figura que lembrasse casa. Quando Renata começou a passar mais tempo na mansão, tudo parecia funcionar na superfície. Quem não fazia barulho era Ana Clara, vinda do interior de Minas. 28 anos, passos leves, voz baixa.
Ela não fazia discurso sobre maternidade, não tirava fotos, não pedia atenção. Ela apenas estava. Miguel parava de chorar quando Ana o pegava no colo. Luna relaxava os ombros pequenos quando sentia a mão dela nas costas. Caio notava, mas não pensava sobre isso. Assumia que era competência profissional, rotina.
até começar a notar outras coisas. Renata nunca pegava os bebês se não fosse necessário. Chamava Ana quase imediatamente. Quando o choro interrompia uma ligação, fechava a porta. É fase, dizia com um sorriso que não chegava aos olhos. Caio engolia à dúvida. Até aquela tarde, ele chegou mais cedo do que o previsto.
Entrou pela lateral da casa, tentando fazer barulho. Ouviu a voz de Renata antes de vê-la. diferente, impaciente. Não, agora ainda não. Uma pausa. Preciso de mais tempo. Caio ficou parado, invisível, atrás da parede. O coração começou a bater mais rápido. Esses bebês choram o tempo todo.
Ela continuou sem perceber. Mas eu sei fingir, né? As fotos ficam lindas. O chão pareceu ceder alguns centímetros. Caio saiu sem ser visto, entrou no carro, dirigiu sem saber para onde. Naquela noite não discutiu, não confrontou, não perguntou nada. Ele decidiu observar. Agora, no carro parado sob a chuva, Caio respirou fundo, desbloqueou o celular, reproduziu o vídeo mais uma vez.
Renata inclinava o corpo sobre os berços. Os gêmeos choravam. Chega! A voz dela cortava o ar. O vídeo terminou. Caio desligou a tela. Quando entrou em casa, tudo estava silencioso demais. Ana passava pelo corredor com Luna adormecida no colo. Miguel dormia no quarto, abraçado a um ursinho gasto. Eles já dormiram? Caio perguntou baixo. Dormiram? Ana respondeu.
Foi um dia cansativo para eles. Ela fez menção de ir embora, mas Caio percebeu algo. Na mesa da cozinha, ao lado de uma mamadeira vazia, havia um guardanapo de pano dobrado com cuidado, manchado, usado para enxugar lágrimas. Caio tocou o tecido com os dedos. Era um detalhe pequeno, quase invisível, mas pela primeira vez em meses, ele sentiu um aviso claro atravessar o peito. Nem todo silêncio é paz.
Às vezes é só o começo da verdade. O hotel era pequeno, discreto, daqueles que ninguém repara. Luz amarelada no corredor, carpete gasto, um cheiro constante de café velho misturado com produto de limpeza. Caio Moreira deixou a mala fechada no canto do quarto. Não pretendia desfazer nada. Abriu o notebook, depois o tablet, por fim o celular.
Três telas acesas, três ângulos diferentes da própria casa. Era estranho observar a própria vida à distância, como se ele tivesse saído do corpo e agora assistisse a uma versão silenciosa de si mesmo. Eram 8 da manhã quando Renata apareceu na câmera da cozinha. Usava um conjunto de yoga claro, cabelo preso de qualquer jeito, ainda assim impecável.
preparou um café demorado, mexendo o celular com uma mão enquanto segurava a xícara com a outra. Nenhum olhar para a escada, nenhuma pressa. O choro começou fraco, depois ganhou o corpo. Miguel e Luna estavam acordados. Caio sentiu o reflexo imediato no peito, aquele impulso de levantar, atravessar a cidade, pegar os filhos no colo, mas ficou parado, mãos cruzadas, mandíbula tensa. Renata suspirou alto.
Ana chamou sem levantar a voz, mas com impaciência suficiente para atravessar a casa. Ana Clara entrou na cozinha poucos segundos depois, uniforme, simples, cabelo preso num coque baixo, ainda um pouco úmido do banho. “Bom dia, Renata”, disse com educação. Renata não respondeu. Apontou com o queixo para o andar de cima. Eles estão chorando, só isso. Ana subiu os degraus quase correndo.
A câmera do quarto dos gêmeos captou tudo. Miguel estava em pé no berço, segurando as grades com força. O rosto vermelho, os olhos molhados. Luna chorava sentada, os bracinhos estendidos para o vazio. Meus amores, a voz de Ana saiu baixa, diferente de qualquer outra voz naquela casa. Eu tô aqui. Ela pegou Luna primeiro, beijou a testa pequena, encostou o rosto no dela, depois Miguel, equilibrando os dois com um cuidado que só quem repete aquele gesto todos os dias aprende.
O choro diminuiu, não de uma vez, mas como se alguém tivesse abaixado o volume do mundo. Caio sentiu a garganta apertar. Ele já tinha visto aquilo antes, mas nunca tinha realmente enxergado. As horas seguintes passaram em cenas curtas, quase rotineiras e ainda assim devastadoras. Ana trocando fraldas enquanto cantava baixinho.
Ana sentada no chão, empilhando bloquinhos que caíam em segundos, arrancando risadas pequenas. Ana limpando a boca de Luna com um pano de algodão devagar, sem pressa. Renata aparecia e desaparecia. Às vezes entrava num ambiente só para tirar uma foto rápida. Às vezes fechava a porta. Eles estão numa fase difícil, disse numa ligação de vídeo rindo. Bebês são assim. Caio observava tudo em silêncio. O contraste era cruel.
Não havia gritos o tempo todo. Não havia violência explícita. Havia algo pior. Indiferença. Perto das 11 da manhã, Ana colocou os gêmeos nas cadeiras altas da cozinha. Preparava o almoço com movimentos calmos, já conhecendo o tempo de cada um. Renata desceu as escadas com um vestido justo e salto alto, claramente pronta para sair. “Vou ao shopping”, anunciou. “Volto mais tarde.
” “Eles precisam comer agora,” Ana disse com cuidado. É o horário deles. Renata parou, virou o rosto devagar. “Quem está no comando aqui sou eu”, respondeu fria. “Leva eles paraa sala de brinquedos. Não quero barulho. Ana ficou imóvel por um segundo, só um. Depois obedeceu.
Na tela, Caio viu algo que nunca tinha percebido antes. As mãos de Ana tremiam levemente enquanto ela pegava os dois bebês. “Não se preocupem”, ela sussurrou para eles, como se estivesse pedindo desculpas. “A gente dá um jeito.” Renata saiu sem olhar para trás. O portão se fechou. O silêncio ficou.
À tarde, Ana cuidou dos gêmeos sozinha, deu banho, secou com toalhas quentes, sentou na poltrona do quarto enquanto eles dormiam, sem pegar o celular, sem se levantar. A câmera captou o rosto dela, cansado, mas atento, como se estivesse em vigília. Quando Miguel acordou assustado, Ana levantou no mesmo segundo, pegou no colo, balançou. sussurrou. Tá tudo bem. Foi só um sonho. Caio sentiu algo diferente.
Não era mais só indignação, era vergonha. Vergonha por não ter visto antes, por ter confundido a aparência com cuidado. O segundo dia começou pior. O choro veio cedo, mais alto, mais desesperado. Ana ainda não tinha chegado. 5 minutos. 10. Renata apareceu na câmera do quarto com o rosto fechado, cabelo bagunçado, claramente irritada.
“Pelo amor de Deus”, gritou. Os gêmeos se assustaram, o choro aumentou. “Cala a boca”, Renata disse, apontando o dedo para Miguel, como se ele pudesse entender. Caio se levantou da cadeira, andou pelo quarto do hotel, voltou. Renata pegou o celular, ligou para Ana. Onde você está? gritou. Se não chegar em 10 minutos, está demitida.
Ana respondeu aflita, explicando o atraso, pedindo que desse o leite que já estava pronto. Renata desligou e saiu do quarto. Deixou os bebês chorando sozinhos. Caio levou a mão à boca. 15 minutos. 15 minutos em que ninguém veio. Quando Ana chegou, entrou correndo, nem tirou o casaco. “Me perdoem”, dizia, chorando junto com eles, enquanto preparava as mamadeiras com mãos trêmulas. “Eu prometo que nunca mais vou deixar vocês assim.
” Caio sentiu os olhos queimarem. Não chorou, mas algo dentro dele caiu de vez. À noite, Renata saiu novamente, voltou mais tarde, rindo, com sacolas nas mãos. Cena linda disse. Vendo Ana com os gêmeos prontos para dormir. Tira uma foto. Ana obedeceu. Mas quando Renata saiu do quarto, ela ficou, sentou na beira do berço, cantou baixinho. A mesma melodia simples, sempre a mesma.
Quando terminou, ajustou as mantas com cuidado e apagou a luz principal, deixando apenas o abajur aceso. Na câmera, Caio viu Ana pegar um guardanapo de pano dobrado com esmero e limpar as lágrimas que ainda escorriam pelo rosto de Luna. Depois, ela colocou o pano no bolso do avental, como quem guarda algo importante. Caio fechou o notebook devagar.
Naquele instante, ele entendeu algo que mudava tudo. O amor verdadeiro não se anuncia. Ele aparece exatamente quando ninguém está olhando. A noite caiu sobre Alfavil sem aviso. O céu estava pesado, baixo, como se a própria cidade estivesse segurando a respiração. No quarto do hotel, Caio Moreira não se sentava mais. Andava de um lado para o outro. Voltava para as telas.
parava, respirava fundo. A casa aparecia ali dividida em retângulos silenciosos. Sala, cozinha, corredor, quarto das crianças. Tudo parecia normal demais. Até que o interfone tocou. Renata apareceu na câmera da entrada principal, ajeitando o cabelo, um sorriso rápido no rosto.
Abriu a porta antes mesmo que o porteiro se afastasse completamente. O homem entrou. Lucas, o motorista, o mesmo que buscava Caio no aeroporto, o mesmo que conhecia os horários da casa, as ausências, os silêncios. Caio parou, não piscou. Renata não disse nada começo, apenas se aproximou, rindo baixo, e o beijou como quem não precisava mais fingir.
Lucas respondeu com naturalidade, como se aquele gesto já fosse antigo. Cinco dias inteiros, ele disse entrando. Sem o patrão, Renata riu. Uma risada solta, diferente daquela que usava perto das crianças. Finalmente paz, respondeu, fechando a porta com o pé. Na tela, a casa que Caio conhecia se transformava em outra coisa.
Eles foram para a sala, sentaram no sofá de couro claro. Renata abriu uma garrafa de vinho da adega particular de Caio, uma das que ele guardava para ocasiões especiais. Lucas serviu as taças sem cuidado. Quando você casar com ele disse encostando-se nela. Isso tudo vai ser nosso. Renata sorriu. Um sorriso frio. É só questão de tempo. Lá em cima, no quarto dos gêmeos, Miguel começou a chorar. Depois, Luna.
O som atravessou a casa, chegou até a sala. Renata fez uma careta. Eles não param nunca. Não se levantou. Caio sentiu o estômago revirar. Minutos depois, Renata subiu as escadas, cambaleando levemente, a taça ainda na mão. Entrou no quarto das crianças com passos pesados. “Chega”, disse sem gritar. “Ninguém quer ouvir isso agora.” Miguel soluçava. Luna estendia os braços.
Renata fechou a porta com força. O clique seco ecoou no quarto do hotel. Caio levou a mão ao rosto. Naquele instante não havia mais dúvida, nem conflito interno, nem esperança. Só uma certeza clara, incômoda, definitiva. Aquela casa estava sendo usada, mas não estava sendo cuidada e casa nenhumamente. Ele agiu em silêncio, ligou para o advogado, depois para um investigador particular.
Não explicou demais, não dramatizou. Preciso de tudo documentado hoje”, desligou. A última ligação foi para Ana Clara. Já passava das 11. Ela atendeu no terceiro toque, a voz preocupada: “Senhor Caio, aconteceu alguma coisa com as crianças? Só ouvir aquela pergunta já dizia tudo.” “Ana”, ele disse com a voz baixa.
“Preciso que você chegue amanhã às 6 da manhã. Confia em mim. Do outro lado da linha, nenhum questionamento. Estarei aí. Caio desligou. Na tela, Renata e Lucas ainda riam, brindavam, planejavam. A casa absorvia tudo em silêncio. O amanhecer chegou cinza. Ana entrou pela porta lateral, como sempre. Parou por um segundo ao ver a sala desarrumada.
Taças almofadas fora do lugar, cheiro de vinho no ar. Ela não disse nada, pegou o celular, fotografou, depois limpou tudo com cuidado, como quem apaga rastros para proteger alguém que ama. Subiu para o quarto das crianças. Miguel e Luna estavam acordados, fraldas sujas, olhos inchados. Quando a viram, estenderam os braços ao mesmo tempo.
Ó, meus amores Ana sussurrou a voz embargada. Ela os pegou no colo, um de cada vez, beijando as testas, pedindo desculpas como se fosse responsável por tudo. Renata só apareceu horas depois, de ressaca, sem olhar para ninguém. Caio observava tudo de dentro do carro estacionado na rua lateral da mansão.
Esperou Renata sair, enganada por uma ligação falsa. Esperou 5 minutos, então entrou. O jardim estava úmido da chuva da noite anterior. Ana estava sentada no chão sobre uma manta com os gêmeos brincando à frente. Quando Caio apareceu, ela se levantou num sobressalto. Senhor Caio, eu pensei que ele não deixou que ela terminasse.
Abaixou-se, pegou Miguel e Luna no colo ao mesmo tempo, como não fazia havia dias. Respirou fundo. Eu vi tudo, Ana. Ela empalideceu as câmeras. Ele continuou. Eu nunca viajei. O silêncio caiu entre eles. Eu devia ter falado. Ana disse com lágrimas nos olhos. Mas eu tinha medo. Ela me ameaçava. Caio a sentiu. Eu sei. Ele a olhou de um jeito diferente, não como empregada, não como ajuda, como alguém que tinha segurado aquela casa em pé quando ele não estava.
Preciso que você fique, disse, não como funcionária, como parte da família. Ana não respondeu. Miguel estendeu os braços para ela. Caio o entregou sem hesitar. Foi ali que Renata ligou. O telefone vibrou no bolso. Onde você está? Ela gritou quando ele atendeu. Não existe escritório nenhum. Eu sei. Caio respondeu calmo.
Volta para casa. Renata chegou furiosa. Encontrou advogados, seguranças, silêncio. Caio mostrou os vídeos um por um. Ela tentou negar, depois acusar, depois implorar, até que explodiu. Eles não são meus filhos gritou. São um problema seu. A frase caiu como vidro no chão.
Caio não respondeu na hora, apenas olhou para Ana, que segurava a Luna no colo, protegendo-a instintivamente. “Suas coisas estão na porta”, disse por fim. Renata saiu gritando. A porta se fechou. O som ecoou pela casa inteira. Caio ficou parado por um momento, depois se virou. A casa estava silenciosa de um jeito diferente agora. Não vazio. Silenciosa como depois de uma tempestade, quando tudo ainda está de pé, mas nada será como antes.
A casa ficou em silêncio depois que o portão se fechou. Não era o silêncio tenso de antes, era outro, mais largo, como se o ar tivesse aprendido a respirar de novo. Caio Moreira ficou alguns segundos parado no meio da sala, sem saber exatamente para onde ir. As luzes estavam acesas, mas algo tinha mudado na forma como iluminavam o espaço. O eco dos passos era menor, o coração também.
Do andar de cima veio um som baixo, quase tímido, um balbucio. Depois uma risadinha curta. Caio subiu as escadas devagar. No quarto das crianças, Ana Clara estava sentada no chão, encostada na cama baixa. Miguel engatinhava até uma pilha de blocos coloridos. Luna tentava ficar em pé, apoiada na perna dela, concentrada como se estivesse resolvendo um problema sério demais para alguém tão pequeno.
Ana levantou o olhar quando percebeu Caio na porta. Não sorriu, não falou nada, apenas esperou. Caio se aproximou e sentou no chão também. Não tocou em ninguém no começo. Ficou ali observando como quem assiste a uma cena que não quer interromper. Eles estão mais calmos. Ele disse por fim. Estão Ana respondeu. Criança sente quando o ambiente muda. Caio a sentiu. Sentia isso também.
Os dias seguintes não tiveram grandes discursos nem decisões anunciadas. Não houve promessa solene, nem gesto grandioso. A vida simplesmente aconteceu. Caio passou a acordar mais cedo. Ana passou a dormir na casa, num quarto simples, que ele fez questão de preparar com cuidado. Os gêmeos passaram a ter uma rotina que não dependia de humor ou aparência.
Pela primeira vez desde a morte de Helena, Caio percebeu que não estava apenas sobrevivendo, estava presente. Ele observava Ana em detalhes pequenos, no jeito como ela cortava a fruta em pedaços quase idênticos, na forma como a baixava para falar com os gêmeos, sempre na altura dos olhos, no cuidado silencioso de arrumar os brinquedos antes de apagar a luz, como se a ordem ajudasse o dia seguinte a começar melhor.
Não havia encenação, não havia plateia, era só constância. Uma noite, depois de colocar Miguel e Luna para dormir, eles se encontraram na cozinha. A casa cheirava a pão quente. Ana tinha assado algo simples, sem perguntar se podia. Caio serviu café para os dois. Ficaram em silêncio por alguns segundos. Eu pensei que amor fosse outra coisa.
Caio disse, olhando para a xícara, que tivesse a ver com intensidade, com promessa, com alguém que preenchesse o espaço que ficou vazio. Ana não respondeu de imediato. Amor, para mim, ela disse por fim. sempre foi acordar cansada e ainda assim levantar, mesmo quando ninguém está vendo. Caio levantou o olhar.
Naquele momento, ele entendeu que não tinha se enganado apenas sobre Renata, tinha se enganado sobre si mesmo. O tempo passou sem pressa. Miguel começou a dar os primeiros passos, segurando na mão de Ana. Luna passou a rir alto quando Caio chegava do trabalho. A casa ganhou marcas novas, dedos na parede, brinquedos esquecidos no corredor, roupas pequenas no varal.
Não era perfeição, era verdade. Uma tarde, enquanto brincavam no jardim, Caio percebeu algo simples e definitivo. Não sentia mais medo de ficar sozinho, não porque não estivesse, mas porque já não estava. Ele se aproximou de Ana enquanto ela observava os gêmeos brincando na grama.
“Eu não quero te prender aqui por gratidão”, disse com cuidado, nem confundir cuidado com obrigação. Ana continuou olhando para a frente. “Eu fico porque eu escolhi ficar”, respondeu todos os dias. As palavras não precisaram de mais nada. Meses depois, numa manhã clara, Caio abriu a janela do quarto das crianças. A luz entrou suave, espalhando-se pelo chão. Miguel ainda dormia, abraçado ao ursinho gasto.
Luna se mexeu, abriu os olhos e sorriu ao vê-lo. “Bom dia”, ele sussurrou. Do corredor veio o som de passos leves. Ana apareceu na porta, com o cabelo preso às pressas, vestindo uma camiseta larga. Eles se olharam sem pressa, sem promessa. Miguel acordou, estendeu os braços para Ana, ela o pegou no colo. Caio pegou Luna e pela primeira vez em muito tempo, ele sentiu algo diferente da felicidade e da dor. Sentiu equilíbrio.
Naquele dia, Caio entendeu o que nunca tinha aprendido nos livros, nem nas reuniões, nem nos contratos. Família não é um título, não é um papel, não é algo que se anuncia. Família é o que se constrói quando alguém fica, mesmo quando seria mais fácil ir embora. Quando a noite caiu, Ana apagou a luz principal do quarto.
Deixou apenas o abajur aceso, do jeito que as crianças gostavam. Ajustou a manta de Luna, ajeitou o travesseiro de Miguel. Caio ficou na porta observando. Antes de sair, Ana pegou um guardanapo de pano dobrado com cuidado e limpou uma gota de leite que tinha escorrido no queixo de Miguel.
Depois dobrou o pano de novo e o colocou na cômoda. Caio fechou a porta devagar. No corredor silencioso, ele respirou fundo. Não era o fim de uma história, era o começo de uma escolha. E naquela casa, pela primeira vez em muito tempo, alguém estava escolhendo ficar todos os dias.
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