Ele era só um viúvo, tentando criar seus gêmeos sozinho, mas quando flagrou sua empregada carregando os bebês enquanto trabalhava, descobriu um segredo que sua falecida esposa havia guardado. O som ecoava pela mansão como um grito de socorro que ninguém sabia decifrar.
Nicolas e Gael, os gêmeos que deveriam ser a alegria da casa, choravam a horas sem interrupção. Suas vozes pequenas se misturavam numa sinfonia de desespero que cortava o silêncio dos corredores elegantes como lâminas afiadas. Caio Almeida estava sentado no escritório, as mãos tremendo enquanto segurava mais uma xícara de café que havia esfriado sem que ele percebesse. Seus olhos vermelhos não conseguiam mais produzir lágrimas.

Havia chorado tanto nos últimos tempos que parecia ter secado por dentro. A cada grito dos bebês, sentia como se uma parte dele morresse um pouco mais. “Cara, o que eu faço?”, sussurrou para o vazio, olhando a foto da esposa que descansava sobre a mesa. O sorriso radiante dela na imagem contrastava cruelmente com a realidade sombria que a casa havia se tornado desde sua partida.
A porta se abriu suavemente e Lúcia, a governanta que cuidava da família há anos, entrou com o rosto marcado pela preocupação e pelo cansaço. “Senhor Caio, a enfermeira Patrícia acabou de sair. Disse que não consegue mais.” A voz dela falhou. É a quinta profissional que desiste em poucas semanas. Caio enterrou o rosto nas mãos.
Desde que Clara partiu durante o parto, trazendo ao mundo os dois meninos, nada mais fazia sentido. Os bebês choravam incessantemente, como se sentissem a ausência devastadora da mãe que nunca conheceram. Médicos, enfermeiras especializadas, consultores em sono infantil, todos haviam tentado e fracassado. Eles sabem, murmurou Caio.
Sabem que a mãe não está aqui. Senhor, não se culpe assim. Os bebês estão saudáveis. Os exames mostraram que não há nada errado fisicamente com eles. Mas Caio sabia que o problema não era físico. Era algo muito mais profundo, algo que nem os melhores especialistas conseguiam tocar.
Era a dor que os pequenos carregavam sem entender, a mesma dor que consumia o pai dia após dia. O choro se intensificou lá de cima e Caio fechou os olhos com força. Cada grito dos filhos era uma lembrança cruel de que Clara deveria estar ali embalando-os, cantando as canções de Ninar que ela havia escolhido durante a gravidez.
Em vez disso, ele estava sozinho, perdido numa paternidade que nunca imaginou enfrentar sem a mulher que amava. Lúcia, eu não sei mais o que fazer. Talvez, talvez eles estivessem melhor com outra família, uma que soubesse cuidar deles direito. Não diga isso. A governanta se aproximou, os olhos brilhando de indignação. Esses meninos são seus filhos, são o último presente que a senora Clara lhe deu. Ela jamais perdoaria se soubesse que está pensando assim.
Naquele momento, a campainha tocou. Lúcia franziu a testa. Não esperavam ninguém. E as visitas haviam se tornado raras desde que a casa se transformou numa zona de guerra contra o choro constante. “Vou ver quem é”, disse ela saindo rapidamente. Caio continuou no escritório, ouvindo os passos da governanta descendo à escada de mármore.
O choro dos gêmeos persistia, uma trilha sonora de angústia que havia se tornado a nova normalidade da mansão. Vozes chegaram até ele, Lúcia conversando com alguém na entrada. Uma voz feminina, suave, mas determinada, respondia às perguntas da governanta. Caio não conseguiu distinguir as palavras, mas havia algo naquela voz que chamou sua atenção.
Alguns minutos depois, Lúcia voltou acompanhada de uma mulher jovem. Ela entrou no escritório com passos confiantes, mas respeitosos. Seus olhos percorreram rapidamente o ambiente antes de se fixarem em Caio. Senor Almeida, esta é Angela Moura. Ela veio procurar trabalho como cuidadora.
Caio ergueu o olhar, pronto para dispensar mais uma candidata que fugiria assim que ouvisse o que a casa havia se tornado. Mas algo na postura de Ângela o fez hesitar. Ela não parecia intimidada pelo choro que ecoava pela casa. Na verdade, parecia familiarizada com aquele tipo de situação. Senhorita Ângela, vou ser honesto com a senhora. Esta casa se tornou um lugar impossível de se trabalhar.
Meus filhos choram sem parar e já tivemos cinco profissionais especializadas que desistiram. Não quero criar falsas expectativas. Angela ouviu em silêncio e quando Caio terminou, ela deu um pequeno sorriso que havia muito tempo não se via naquela casa. Senor Almeida, posso subir para conhecer os bebês? Pode, mas devo avisá-la que o som lá em cima é intenso. Entendo, mas gostaria muito de vê-los.
Caio se levantou, intrigado pela calma da mulher diante da situação que havia afugentado tantas outras. Subiram juntos à escada, o choro se tornando mais alto a cada degrau. Quando chegaram ao quarto dos gêmeos, o som era ensurdecedor. Nicolas estava no berço da direita, o rostinho vermelho de tanto chorar.
Gael, no berço da esquerda, se contorcia como se algo o incomodasse profundamente. Ambos pareciam inconsoláveis, presos numa angústia que nenhum adulto conseguia compreender ou aliviar. Caio esperava verângela recuar, como todas as outras haviam feito. Em vez disso, ela se aproximou dos berços lentamente, sem pressa, como se estivesse se apresentando aos bebês.
“Oi, pequenos”, disse ela suavemente, sua voz cortando através dos gritos. “Eu sei que vocês estão sofrendo. Eu sei que sentem falta de alguém muito especial.” Para surpresa de Caio, o choro diminuiu ligeiramente. Os bebês pareciam estar ouvindo como se reconhecessem algo na voz dela. Angela estendeu a mão e tocou delicadamente a testa de Nicolas.
O bebê se acalmou por alguns segundos, olhando para ela com curiosidade. Ela fez o mesmo com Gael, que também reagiu positivamente ao toque. Vocês estão com saudades da mamãe, não estão? continuou ela, a voz cheia de carinho. Ela deve ter sido uma pessoa muito especial para vocês a amarem tanto assim. Caio sentiu um nó na garganta. Ninguém havia falado sobre Clara dessa forma desde que ela partiu.
Todos tratavam sua morte como um assunto proibido, algo que não deveria ser mencionado perto das crianças. Angela começou a cantarolar uma melodia suave, algo que parecia vir do fundo da alma. Gradualmente, milagrosamente, o choro dos gêmeos foi diminuindo. Primeiro, Nicolas parou completamente, fixando os olhinhos nela.
Depois, Gael fez o mesmo, como se tivesse encontrado algo que procurava há muito tempo. Pela primeira vez em semanas, a casa ficou em silêncio. Caio ficou paralisado, observando a cena com incredulidade. Como era possível? enfermeiras especializadas, pediatras, consultores. Nenhum deles havia conseguido o que aquela mulher acabara de fazer em poucos minutos.
Como ele começou, mas Angela levantou a mão delicadamente, pedindo silêncio. Os bebês ainda estavam acordados, observando-a com atenção total. Ela continuou cantaro, movendo-se suavemente entre os berços. Nicolas estendeu a mãozinha para ela e Angela gentilmente segurou os dedinhos pequenos. Gael fez o mesmo e logo ela estava conectada aos dois bebês numa cena que parecia quase sagrada.
“Eles só precisavam saber que não foram esquecidos”, murmurou ela para Caio, sem tirar os olhos dos pequenos. “Que alguém reconhece a dor deles?” “Mas como a senhora sabia? Porque eu já passei por isso?”, respondeu ela simplesmente. “Já cuidei de bebês que perderam a mãe cedo demais. Eles sentem tudo, Senor Almeida.
Sentem a tristeza dos adultos, sentem quando não são verdadeiramente desejados, sentem quando carregam culpa que não é deles. As palavras atingiram Caio como um raio. Será que os bebês percebiam sua própria dor? Será que choravam não apenas pela ausência da mãe, mas também porque sentiam a culpa e o ressentimento que ele carregava? Ângela passou mais alguns minutos com os gêmeos, até que ambos adormeceram pacificamente. Era a primeira vez que dormiam sem exaustão total do choro.
Saíram do quarto em silêncio, descendo para o escritório. Caio estava visivelmente abalado, processando o que havia presenciado. “Senhorita Ângela”, disse ele quando se sentaram. “Preciso entender uma coisa. Como a senhora conseguiu fazer algo que profissionais especializados não conseguiram? Porque eu não vim aqui como profissional, Senor Almeida.
Vim como alguém que entende dor e bebês sentem quando alguém realmente se importa com eles. Não apenas cumpre um trabalho. A senhora tem experiência com situações assim? Angela hesitou por um momento, como se decidisse o quanto revelar. Tenho. Perdi minha mãe quando era muito jovem e ajudei a cuidar do meu irmão bebê. Depois trabalhei em casas onde havia crianças traumatizadas.
Aprendi que às vezes elas precisam de alguém que reconheça sua dor, não que tente ignorá-la. E a senhora aceitaria trabalhar aqui, mesmo sabendo da situação? Senr Almeida, posso ser honesta? Por favor, aqueles bebês não precisam de mais uma profissional.
Eles precisam de alguém que os ame de verdade, que esteja aqui não pelo dinheiro, mas porque genuinamente se importa com o bem-estar deles. Caio ficou em silêncio, absorvendo as palavras. Havia algo em Angela que era diferente de todas as outras pessoas que haviam passado por ali. Uma sinceridade, uma conexão real com os bebês que ele não havia visto antes.
A senhora estaria disposta a morar aqui? A situação exige cuidado constante. Estaria. Na verdade, acho que seria melhor assim. Crianças que passaram por trauma precisam de consistência, de saber que a pessoa não vai desaparecer. Então Caio respirou fundo, sentindo pela primeira vez em semanas uma pequena centelha de esperança. A senhora está contratada. Lúcia pode mostrar o quarto e podemos discutir os detalhes amanhã.
Angela sorriu, o primeiro sorriso genuíno que a casa havia há muito tempo. Obrigada, senora Almeida. Prometo que vou cuidar bem deles. Enquanto Lúcia levava a Ângela para conhecer a casa, Caio permaneceu no escritório, olhando novamente a foto de Clara. Pela primeira vez desde a morte da esposa, sentia que talvez houvesse uma luz no fim do túnel.
Talvez seus filhos pudessem ser felizes, afinal. Lá de cima vinha apenas silêncio, um silêncio que não era mais vazio e angustiante, mas sim pacífico e esperançoso. Caio não sabia ainda, mas aquele era apenas o primeiro de muitos milagres que Ângela traria para sua família. E também não imaginava as tempestades que viriam pela frente, nem as verdades devastadoras que seriam reveladas.
Mas naquele momento, pela primeira vez em muito tempo, a mansão conhecia a paz. O amanhecer trouxe algo que a mansão dos Almeida não conhecia há semanas. O som suave de bebês acordando sem choro, desesperado. Caio abriu os olhos no sofá do escritório, onde havia passado a noite. Não conseguia mais dormir no quarto que compartilhara com Clara. Por um momento, o silêncio o assustou.
levantou-se rapidamente, temendo que algo terrível tivesse acontecido. Mas quando chegou ao quarto dos gêmeos, encontrou uma cena que jamais esqueceria. Angela estava sentada numa poltrona entre os berços, cantarolando baixinho. Nicolas e Gael estavam acordados, mas tranquilos, observando-a com curiosidade infantil.
Não havia tensão no ar, não havia desespero, apenas paz. Bom dia, senor Almeida. disse ela suavemente, sem parar de embalar os bebês com a voz. Eles eles dormiram a noite toda?”, perguntou Caio, incrédulo. Dormiram, acordaram algumas vezes, mas se acalmaram rapidamente quando perceberam que eu estava aqui.
Caio se aproximou dos berços, observando os filhos com um misto de admiração e confusão. Era como se fossem bebês completamente diferentes dos que havia conhecido até então. Nicolas sorriu quando viu o pai, um sorriso pequeno, mas genuíno, que fez o coração de Caio apertar. Como é possível? Em semanas, ninguém conseguiu.
Eles precisavam sentir que eram desejados”, respondeu Angela, levantando-se para pegar Nicolas no colo. “Bebês percebem tudo, Senr. Almeida. Percebem quando são vistos como problema, quando são culpados por algo, quando não são genuinamente amados.” As palavras cortaram fundo no peito de Caio. Era verdade. Desde que Clara morreu, ele havia olhado para os filhos com uma mistura de dor e ressentimento.
Não intencionalmente, mas os bebês haviam se tornado uma lembrança constante da perda devastadora que havia sofrido. “Eu eu nunca quis que eles se sentissem assim”, murmurou ele. “Eu sei. A dor faz isso conosco, mas olhe para eles agora”. Caio observou Nicolas nos braços de Angela, depois Gael no berço.
Ambos pareciam livres, como se um peso invisível tivesse sido tirado de seus pequenos ombros. “Senor Almeida”, disse Angela hesitante. “Posso fazer uma sugestão?” “Claro. Que tal o senhor pegar Gael no colo? Ele está olhando para o senhor, quer atenção do pai.” Caio hesitou. Desde o nascimento dos gêmeos, evitava pegá-los no colo mais do que o necessário.
Cada vez que olhava para eles, via Clara no rosto deles. Lembrava-se do preço que ela havia pago para trazê-los ao mundo. Eu não sei se apenas tente por alguns minutos. Com movimentos cuidadosos, Caio pegou Gael nos braços. O bebê se aconchegou contra o peito do pai, suspirando contente.
Não havia choro, não havia tensão, apenas um filho nos braços do pai. “Ele é tão pequeno”, sussurrou Caio, tocando delicadamente o rostinho de Gael. “E precisa tanto do senhor?”, respondeu Angela. Ambos precisam. Naquele momento, Lúcia entrou no quarto carregando uma bandeja com café e frutas. Parou na porta, boca aberta ao ver a cena. Caio, segurando um dos filhos. Ângela com o outro e ambos os bebês completamente calmos.
“Meu Deus, eles estão normais”, murmurou a governanta. “Mais que normais”, disse Caio, surpreso com a própria emoção na voz. “Eles estão felizes.” Os dias seguintes trouxeram uma transformação que parecia impossível. A casa, antes dominada pelo som angustiante do choro constante, agora ecoava com risadas infantis e conversas suaves.
Angela havia se estabelecido numa rotina natural com os gêmeos, mas mais que isso, havia criado um ambiente onde eles se sentiam seguros e amados. Caio começou a participar mais dos cuidados diários. inicialmente relutante, descobriu que quanto mais tempo passava com Nicolas e Gael, mais conectado se sentia com eles.
A dor da perda de Clara ainda estava lá, mas começava a ser temperada por algo novo, o amor paterno, que havia sido bloqueado pela culpa. “Senhor Almeida, disse Angela enquanto davam banho nos bebês. Posso contar algo sobre a infância deles? O que quer dizer? Bebês que passam por trauma emocional precoce podem carregar essas marcas pela vida toda, mas também podem ser curados se receberem amor consistente e verdadeiro.
E a senhora acha que eles vão se lembrar dessa fase? Não conscientemente. Mas o que eles vão lembrar é como se sentiram. Se crescerem sabendo que são amados incondicionalmente, essa será a base emocional deles para sempre.
Caio observou os filhos brincando na água morna, suas risadas enchendo o banheiro de alegria. Era incrível pensar que essas mesmas crianças semanas atrás pareciam inconsoláveis. “Ângela”, disse ele usando o primeiro nome dela pela primeira vez. “Posso perguntar algo pessoal?” “Claro, porque decidiu trabalhar com crianças, especialmente em situações difíceis como esta?” Angela ficou quieta por um momento, concentrando-se em secar Nicolas com cuidado.
“Porque eu sei como é crescer sem mãe”, disse finalmente, “E sei como é sentir que ninguém realmente entende sua dor. Perdeu sua mãe cedo?” Perdi. E meu pai? Bem, ele nunca soube lidar com isso. Acabei criando meu irmão mais novo e aprendi que às vezes as crianças precisam de alguém que não apenas cuide delas, mas que realmente as veja. Como assim que as veja? que veja a pessoa que elas são, não apenas suas necessidades básicas, que reconheça seus medos, suas alegrias, suas personalidades únicas.
Caio percebeu que era exatamente isso que Ângela fazia com Nicolas e Gael. Ela não os tratava apenas como bebês que precisavam ser alimentados e trocados. Ela conversava com eles, respondia aos seus gestos, reconhecia suas diferentes personalidades, mesmo sendo tão pequenos.
Nicolas é mais observador”, disse ela, como se estivesse lendo os pensamentos de Caio. Ele estuda tudo antes de reagir. Gael é mais impulsivo, mais expressivo. Já são pessoas completas, só precisam de quem reconheça isso. Naquela noite, Caio jantou na sala de jantar pela primeira vez desde a morte de Clara.
Angela havia insistido que era importante manter rotinas familiares, criar um ambiente de normalidade para as crianças. A casa está tão diferente”, comentou Lúcia, servindo a sobremesa. “Parece que voltou a ter vida”. “É verdade”, concordou Caio. Eu havia esquecido como era viver sem aquela tensão constante. “Einos, como estão se adaptando? Estão incríveis.
Hoje Nicolas tentou imitar sons que Angela fazia e Gael riu quando fiz careta para ele. São coisas pequenas, mas não são pequenas”, interrompeu Lúcia. “São milagres! Esses bebês estavam sofrendo de verdade e agora estão florescendo. Caio assentiu pensativo. Havia algo em Angela que ia além da competência profissional.
Era como se ela tivesse uma conexão natural com crianças feridas, uma capacidade de curar que não podia ser ensinada. Alguns dias depois, enquanto Ângela dava mamadeira para os gêmeos na sala, Caio recebeu uma ligação inesperada. Alô, senor Almeida. Aqui é a D. Marcela Figueiredo do Instituto de Desenvolvimento Infantil. Gostaria de agendar uma visita para avaliar a situação dos seus filhos. Caio franziu a testa. Avaliação? Não entendo.
Meus filhos estão bem, senhor Almeida. Recebemos informações de que houve irregularidades no cuidado das crianças. Várias profissionais especializadas deixaram sua casa alegando condições inadequadas. É nosso deverificar o bem-estar dos menores. Mas isso foi antes. Agora temos uma cuidadora excelente e os bebês estão prosperando.
Mesmo assim é protocolo. Estarei aí amanhã pela manhã. A ligação terminou abruptamente, deixando Caio com uma sensação estranha no estômago, quem havia dado informações sobre sua família. E por que agora, justamente quando tudo estava indo bem? Ele contou para Ângela sobre a ligação e notou uma sombra passar pelo rosto dela. “Algum problema?”, perguntou ele.
“Não, imagina.” “É normal que haja acompanhamento em casos como este”, respondeu ela. Mas sua voz não soava completamente convincente. Naquela noite, Caio teve dificuldade para dormir. Havia algo na ligação da Dra. a Marcela, que o incomodava profundamente. O tom formal, quase acusatório e o timing perfeito, justamente quando sua família começava a se curar.
Na manhã seguinte, a Dra. Marcela chegou pontualmente. Era uma mulher de aparência impecável, carregando uma pasta de documentos e um ar de autoridade que imediatamente criou tensão na casa. Senor Almeida, obrigada por me receber. Sou a Dra.
Marcela Figueiredo, psicóloga especializada em desenvolvimento infantil e proteção de menores. Dout. Marcela, como expliquei ontem, meus filhos estão muito bem. Nossa atual cuidadora resolveu todos os problemas que tínhamos anteriormente. Sim, sobre isso. Onde está essa cuidadora? Está com os bebês no quarto. Vou chamá-la. Quando Ângela desceu com Nicolas e Gael nos braços, a Dra. Marcela a observou com uma intensidade perturbadora.
Os bebês, que haviam se acostumado a estranhos ficaram visivelmente desconfortáveis na presença da psicóloga. “Senhorita Ângela Moura”, respondeu ela educadamente. “Senhorita Ângela, gostaria de ver suas credenciais profissionais, diploma, certificações, referências de trabalhos anteriores.” Caio notou Angela ficar tensa.
“Doutora Marcela, Ângela foi contratada com base na competência demonstrada com meus filhos. Os resultados falam por si. Senhor Almeida, entendo sua satisfação, mas há protocolos a serem seguidos. Crianças em situação vulnerável precisam de cuidadores qualificados e licenciados. Situação vulnerável? Caio sentiu a irritação crescer. Meus filhos não estão em situação vulnerável. Estão sendo muito bem cuidados.
A doutora Marcela ignorou o protesto e se dirigiu diretamente a Ângela. Senhorita, preciso ver seus documentos profissionais agora. Eu não tenho formação universitária em pedagogia ou enfermagem”, admitiu Angela relutantemente. “mas tenho experiência prática e experiência prática não é suficiente para cuidar de crianças órfãs de mãe em estado de trauma.
” Cortou a Dra. Marcela sec. “Senor Almeida, preciso falar com o senhor em particular.” Ângela subiu com os bebês, claramente abalada. Caio acompanhou a psicóloga até o escritório, cada vez mais irritado com a situação. Senor Almeida, vou ser direta. Essa mulher não tem qualificação alguma para cuidar de seus filhos.
Mais que isso, existe o risco de ela estar criando vínculos disfuncionais com as crianças. Vínculos disfuncionais, Dra. Marcela. Pela primeira vez em semanas, meus filhos estão felizes, e isso é exatamente o problema. Bebês traumatizados não deveriam se apegar tão rapidamente a uma estranha. Isso sugere carência emocional sendo explorada de forma inadequada. Caio ficou boque aberto com a interpretação distorcida dos fatos.
A senhora está dizendo que meus filhos estarem felizes é um problema? Estou dizendo que a felicidade construída sobre bases inadequadas pode ser prejudicial a longo prazo. Essas crianças precisam de cuidado profissional, não de improviso emocional. E o que a senhora sugere? A Dra. Marcela abriu sua pasta e tirou alguns documentos.
Conheço uma instituição especializada que pode cuidar adequadamente de gêmeos órfã de mãe. Seria temporário apenas até encontrarmos cuidadores licenciados. instituição. A senhora está sugerindo que eu entregue meus filhos? Estou sugerindo que coloque o bem-estar deles acima de seus próprios sentimentos. A frase atingiu Caio como um tapa. Era exatamente o tipo de culpa que ele havia carregado desde a morte de Clara, a sensação de que não era capaz de cuidar adequadamente dos filhos. Eu preciso pensar. Claro, mas Senr.
Almeida, enquanto isso, recomendo fortemente que limite o contato dessa mulher com seus filhos. O vínculo já pode estar comprometido. Depois que a doutora Marcela saiu, Caio ficou sozinho no escritório, a mente em turbilhão. Será que estava sendo egoísta? Será que seu apego a Ângela estava impedindo-o de ver os riscos para os filhos? Lá de cima vinha o som de risadas.
Nicolas e Gael brincando com Angela. O som mais doce que a casa havia conhecido em semanas. Mas agora, pela primeira vez desde que Angela chegara, Caio começou a questionar se estava fazendo a coisa certa. A dúvida havia sido plantada e ela cresceria rapidamente, ameaçando destruir a felicidade que sua família havia finalmente encontrado. As palavras da Dra.
Marcela ecoavam na mente de Caio como um veneno lento. Durante dias, ele observou cada interação entre Angela e os Gêmeos, com olhos diferentes, procurando sinais dos vínculos disfuncionais que a psicóloga havia mencionado. “Será que ela está certa?”, murmurou para si mesmo, observando pela fresta da porta, enquanto Ângela dava banho em Nicolas e Gael.
Os bebês riam, chapinhavam na água completamente à vontade. Mas agora, em vez de ver alegria pura, Caio começou a questionar se aquela felicidade era saudável. A dúvida é um câncer silencioso que devora a confiança por dentro. E Caio, ainda fragilizado pela perda de Clara, era terreno fértil para que ela crescesse desenfreadamente. Senr. Almeida.
Lúcia apareceu atrás dele, sussurrando: “O senhor está bem? Faz dias que parece preocupado. Lúcia, você não acha estranho como os meninos se apegaram tão rapidamente à Angela? A governanta franziu a testa. Estranho, senhor. Eles estão felizes pela primeira vez desde que nasceram. Como isso pode ser estranho? A Dra.
Marcela disse que bebês traumatizados não deveriam se vincular tão facilmente que pode ser prejudicial. Senr. Caio. Lúcia se aproximou, baixando ainda mais a voz. Com todo respeito, essa doutora apareceu do nada, justamente quando tudo estava indo bem. Não acha suspeito? Antes que Caio pudesse responder, seu telefone tocou. Era a Dra. Marcela novamente.
Senr. Almeida, como estão as coisas por aí? Espero que tenha refletido sobre nossa conversa. Dout. Marcela, eu ainda estou observando a situação. Que bom. Aliás, consegui algumas informações sobre sua funcionária que talvez sejam relevantes. O estômago de Caio se contraiu. Que tipo de informações? Prefiro conversar pessoalmente.
Posso passar aí agora? É urgente. Meia hora depois, a Dra. Marcela estava novamente na sala, desta vez com uma pasta ainda mais volumosa. Seu sorriso frio não chegava aos olhos. Senr. Almeida, descobri algumas coisas perturbadoras sobre Angela Moura. O que descobriu? Ela omitiu informações importantes quando se apresentou aqui. Seu último emprego foi em uma casa onde, bem, houve acusações.
Caio sentiu o sangue gelar. Que tipo de acusações? Envolvimento emocional inadequado com as crianças que cuidava. A família anterior a demitiu por suspeita de que ela estava tentando substituir a figura materna. Isso é, isso é verdade? Tenho aqui o depoimento da família.
Dizem que ela criava dependência excessiva, que as crianças choravam quando ela saía, que ela incentivava esse apego de forma não profissional. As palavras atingiram Caio como golpes físicos. Era exatamente o que estava acontecendo com Nicolas e Gael. Eles ficavam visivelmente mais calmos na presença de Angela, buscavam seu colo constantemente. A mais, continuou a Dra. Marcela, tirando outros documentos da pasta. Ela trabalhou em uma creche que foi fechada por irregularidades.
Sempre há um padrão, senor Almeida. Mulheres sem formação adequada que se aproveitam da vulnerabilidade de crianças órfãs ou negligenciadas. Mas meus filhos não são negligenciados. Não intencionalmente, mas senhor, o senhor mesmo admitiu que estava tendo dificuldades para criar vínculos com eles. Angela se aproveitou dessa fragilidade.
Caio ficou em silêncio, processando as acusações. Tudo o que havia visto como milagroso nas últimas semanas começou a ganhar uma conotação sinistra sob a perspectiva da psicóloga. O que a senhora sugere que eu faça? Primeiro, limite imediatamente o acesso dela aos bebês. Segundo, considere seriamente a colocação temporária em uma instituição especializada, enquanto procuramos cuidadores licenciados. Mas se eu afastar Ângela agora, eles vão sofrer. Estão tão apegados? Exato.
E isso prova meu ponto. Esse apego é disfuncional, Senr. Almeida. Crianças saudáveis não deveriam ficar traumatizadas com a ausência temporária de uma cuidadora. A lógica perversa da Dra. Marcela era como um labirinto sem saída. Cada argumento parecia fazer sentido superficialmente, mas levava sempre à mesma conclusão, afastar Ângela dos bebês.
Naquela noite, Caio subiu ao quarto onde Ângela estava colocando os gêmeos para dormir. A cena era de ternura absoluta. Ela cantarolava baixinho enquanto Nicolas e Gael adormeciam pacificamente. “Ângela”, disse ele quando ela saiu do quarto. “Preciso conversar com você”. Claro, senhor Caio. Aconteceu alguma coisa? A Dra.
Marcela trouxe algumas informações sobre seus empregos anteriores. O rosto de Angela empalideceu instantaneamente. Que informações? Sobre acusações de envolvimento inadequado com crianças. Sobre criar dependência emocional. Angela ficou em silêncio por um longo momento, como se escolhesse cuidadosamente as palavras. Senhor Caio, posso explicar tudo, mas precisa me ouvir até o final. Estou ouvindo.
É verdade que fui demitida do meu último emprego, mas não pelos motivos que ela disse. Então, por quê? Angela respirou fundo, os olhos brilhando com lágrimas contidas, porque descobri que a mãe das crianças estava estava machucando elas. Tentei protegê-las, denunciei a situação. A família me demitiu e criou uma versão distorcida para se proteger.
E a creche que foi fechada foi fechada por problemas na direção, não por minha causa. Eu era apenas funcionária. Senr. Caio, essa mulher está distorcendo o meu passado para me prejudicar. Caio queria acreditar, mas as sementes da dúvida já haviam germinado. Angela, eu preciso pensar sobre tudo isso.
Por favor, não acredite nela sem verificar os fatos. Há algo de muito errado nessa situação toda. Como assim? Ela apareceu do nada, justamente quando tudo estava bem. Como soube da nossa família? Quem a informou sobre os problemas anteriores? Era uma pergunta pertinente que Caio não havia feito, mas naquele momento sua mente estava muito confusa para processar essa informação adequadamente. Na manhã seguinte, Caio tomou uma decisão que mudaria tudo.
Quando Angela desceu para preparar as mamadeiras, ele a interceptou na cozinha. Angela, acho melhor você tirar alguns dias de folga até eu conseguir esclarecer essa situação. O impacto das palavras foi devastador. Angela se apoiou na bancada da cozinha. O rosto perdendo toda a cor. Senr. Caio, por favor, não faça isso. Nicolas e Gael precisam de consistência.
Se eu desaparecer de repente, é temporário. Só até resolver essa questão das acusações. E quem vai cuidar deles enquanto isso? Lúcia pode dar conta por alguns dias. Senhor Caio, a voz de Angela tremeu. O senhor não entende. Eles vão regredir. Vão voltar ao estado anterior. Não pode fazer isso com eles.
Mas Caio já havia tomado a decisão, influenciado pela manipulação sutil da Dra. Marcela. É melhor assim para todos. Lá de cima veio o som de choro. Os gêmeos haviam acordado e estavam chamando por Ângela, como faziam todas as manhãs. “Pelo menos deixe eu me despedir deles”, pediu ela, lágrimas escorrendo pelo rosto. “Acho melhor não.
Vai ser mais difícil para ele se houver despedida formal.” A crueldade da decisão era evidente até para Caio, mas ele estava convencido de que estava protegendo os filhos. Ângela pegou suas poucas coisas e saiu pela porta dos fundos para evitar ser vista pelos bebês. O efeito foi imediato e devastador. Nicolas e Gael, que haviam acordado esperando o carinho matinal de Angela, encontraram apenas Lúcia.
Inicialmente confusos, logo se tornaram inconsoláveis. O choro que havia desaparecido completamente voltou com força total, como se todas as semanas de progresso tivessem sido apagadas em uma manhã. Onde está a Ângela?”, Lúcia perguntou desesperada, tentando acalmar os bebês. “Está de folga”, respondeu Caio, mas sua convicção já começava a vacilar diante do desespero dos filhos.
Durante três dias, a casa voltou ao inferno que havia sido antes da chegada de Angela. Nicolas e Gael choravam incessantemente, rejeitavam comida, não dormiam direito. Era como se tivessem perdido algo essencial para sua sobrevivência emocional. Senhor Caio, disse Lúcia no terceiro dia, exausta e desesperada. Eles vão ficar doentes se continuar assim. Não conseguem nem mamar direito.
Caio olhou para os filhos que havia tentado proteger e viu apenas sofrimento. Nicolas estava apático. Gael chorava tanto que ficou rouco. Nenhum dos dois dormia por mais de meia hora seguida. Talvez, talvez eu tenha cometido um erro”, murmurou ele. Naquela noite, impossibilitado de suportar mais o sofrimento dos filhos, Caio subiu ao sótam da casa para buscar algumas coisas de clara que havia guardado.
Talvez encontrasse algo que pudesse confortar os bebês, algum objeto com o cheiro da mãe. Abriu uma das caixas e encontrou roupas dela, perfumes, joias. No fundo da caixa, seus dedos tocaram algo inesperado, um envelope lacrado com seu nome escrito na letra inconfundível de Clara. Com as mãos tremendo, ele abriu o envelope. Dentro havia uma carta e uma foto.
A foto mostrava clara no hospital, sorrindo fraca, mas genuinamente, segurando a mão de uma mulher ao lado da cama. A mulher era Ângela. Com o coração disparado, Caio começou a ler a carta. Meu amor, se você está lendo isto, significa que não consegui ficar para ajudar a criar nossos filhos como sonhávamos. Sei que deve estar sofrendo terrivelmente e peço perdão por deixá-lo sozinho neste momento, mas preciso que saiba, você não está realmente sozinho. A mulher na foto é Ângela Moura.
Nos últimos dias no hospital, ela foi minha enfermeira, minha confidente, minha amiga. Quando soube que eu poderia não sobreviver, fiz um pedido a ela. Se algo acontecesse comigo, que encontrasse uma forma de cuidar dos nossos bebês. Caio, Ângela não é uma estranha que apareceu na nossa vida por acaso. Ela está aí porque eu pedi.
Porque nos últimos momentos de consciência que tive, sonhei que nossos filhos tivessem uma segunda mãe, que os amasse como eu os amaria. Confie nela, meu amor. Ela conhece meus sonhos para Nicolás e Gael. Sabe o que eu gostaria que eles se tornassem. Mais que isso, ela me prometeu que seria a mãe que eu não pude ser. Há mais uma coisa que precisa saber. Cuidado com a Dra. Marcela Figueiredo.
Elave aqui no hospital tentando conseguir informações sobre nossa família, fazendo perguntas estranhas sobre você e os bebês. Não confie nela. Seja feliz, meu amor. Permita-se amar novamente. Nossos filhos precisam de uma família completa. E se Ângela foi capaz de conquistar meu coração em tão pouco tempo, sei que conquistará o seu também. Para sempre sua clara.
Caio desabou no chão do sótam, a carta tremendo em suas mãos. Angela não era uma oportunista que havia se aproveitado da vulnerabilidade de sua família. Era a pessoa escolhida pela própria Clara para ser a mãe de seus filhos.
E ele havia a mandado embora baseado nas mentiras de uma mulher sobre quem Clara havia especificamente alertado. O choro dos gêmeos ecoava pela casa, um lamento que agora ele entendia completamente. Eles estavam de luto pela segunda mãe que haviam perdido, a mulher que Clara havia escolhido para amá-los. Caio se levantou com determinação férrea. Precisava consertar o erro devastador que havia cometido.
Precisava trazer Ângela de volta e descobrir quem realmente era a Dra. Marcela Figueiredo. Mas seria tarde demais? Conseguiria reparar o dano que havia causado a sua família? Lá embaixo, Nicolas e Gael continuavam chorando, e cada lágrima deles era uma acusação dolorosa contra o pai, que havia escolhido a suspeita em vez do amor.
A madrugada mal havia rompido quando Caio saiu de casa como um homem possuído. A carta de Clara estava dobrada no bolso da camisa, queimando contra seu peito como uma acusação dolorosa. Os gritos de Nicolas e Gael ainda ecoavam em seus ouvidos. Três dias de choro ininterrupto que haviam deixado os bebês exaustos e doentes.
“Como pude ser tão cego?”, murmurava enquanto dirigia pelas ruas desertas da cidade, procurando desesperadamente por Angela. Não tinha seu endereço, não sabia onde ela morava. havia mandado embora a mulher que Clara havia escolhido para ser mãe de seus filhos, sem nem mesmo saber onde encontrá-la novamente.
O primeiro lugar que visitou foi a agência de empregos onde ela havia se candidatado inicialmente. A recepcionista sonolenta no plantão da madrugada olhou para ele com desconfiança. Senhor, não posso fornecer dados pessoais de candidatos. É política da empresa. Por favor, é uma emergência. Meus filhos estão doentes. Ela é a única pessoa que pode ajudá-los.
Sinto muito, mas não posso. Caio tirou a carteira e colocou uma quantia generosa no balcão. Meus filhos podem morrer de desidratação se continuarem chorando assim. Por favor. A mulher hesitou, olhou ao redor para verificar se estavam sozinhos e finalmente anotou um endereço num papel. Rua das Flores, 247, apartamento 15. Mas se alguém perguntar, eu não disse nada.
Caio dirigiu como nunca havia dirigido, o coração batendo descompassado. Quando chegou ao prédio simples no bairro periférico, eram quase 5 da manhã. Subiu correndo os três lances de escada e bateu na porta do apartamento 15. Ninguém atendeu. Bateu novamente mais forte.
Angela, por favor, se estiver aí, preciso falar com você. Uma porta vizinha se abriu, revelando uma senhora idosa de camisola. Moço, que barulho é esse? A Ângela não está aí. Não está. Sabe onde ela foi? Saiu ontem de manhã com uma mala. Disse que ia viajar, que não sabia quando voltaria. O mundo desabou ao redor de Caio. Angela havia deixado a cidade.
Por sua culpa, por sua desconfiança estúpida, ele havia perdido a única pessoa capaz de salvar seus filhos. Por acaso ela disse para onde ia? Não disse não. Mas estava muito triste, chorando muito. Coitadinha. Caio desceu as escadas cambaleando, sentindo-se como se tivesse perdido Clara pela segunda vez.
Entrou no carro e ficou ali parado, sem saber o que fazer. Como encontraria Angela numa cidade de milhões de habitantes? Como explicaria para Nicolas e Gael que o pai havia mandado embora a única pessoa que eles amavam? O celular tocou. Era Lúcia. A voz desesperada. Senhor Caio, precisa voltar urgentemente. Os meninos estão muito mal, não conseguem nem engolir água. Acho que precisamos levar para o hospital.
Caio fechou os olhos, sentindo o peso esmagador da culpa. Seus filhos estavam literalmente adoecendo de tristeza e tudo por causa de sua decisão precipitada. “Estou voltando”, disse, fazendo o retorno nas ruas vazias. Quando chegou em casa, encontrou um cenário devastador. Nicolas estava apático no berço, os olhos vidrados, sem reagir a estímulos.
Gael chorava fracamente, uma voz rouca que mal saía de sua garganta pequena. Ambos haviam perdido o peso visivelmente em apenas três dias. Meu Deus!”, sussurrou Caio, pegando Nicolas no colo. O bebê mal reagiu ao toque do pai, como se tivesse desistido de buscar conforto. “Lúcia, prepare as coisas.
Vamos para o hospital Santa Rita agora.” No caminho para o hospital, Caio ligou para o pediatra particular da família. Doutor Roberto Mendes. Doutor, preciso que me encontre. Meus filhos estão em estado crítico. O que aconteceu, Caio? É. É uma longa história, mas eles não comem, não bebem água, choram há três dias sem parar, estão desidratados. Estarei lá em 20 minutos. Na emergência pediátrica, a movimentação foi intensa.
Enfermeiros correram para atender os gêmeos, que foram imediatamente conectados a soros para combater a desidratação. O Dr. Roberto chegou rapidamente e examinou as crianças com preocupação crescente. Caio, fisicamente não há nada de errado com eles. Os exames estão normais, mas o quadro é de depressão infantil severa.
Depressão em bebês? Sim, existe. Geralmente causada por perda súbita de figura de apego. Algo mudou drasticamente na rotina deles recentemente. Caio não conseguiu responder. Como explicar que havia mandado embora a mulher que seus filhos consideravam mãe baseado nas mentiras de uma psicóloga manipuladora? Doutor, conseguiu dizer finalmente.
Eles tiveram uma cuidadora que que se afastou alguns dias atrás. Ah, isso explica tudo. Bebês formam vínculos muito fortes. A perda súbita pode ser traumática. E o que fazer? Idealmente reconectar com a figura de apego. Sem isso, o médico hesitou. Sem isso, eles podem desenvolver problemas sérios de desenvolvimento emocional.
Caio ficou ao lado dos berços do hospital, observando os filhos conectados aos equipamentos médicos. A cada segundo que passava, sentia mais intensamente o peso de sua decisão desastrosa. Foi então que seu celular tocou. Era um número desconhecido. Alô, senhor Almeida. Aqui é a Dra. Marcela. Soube que seus filhos estão hospitalizados. Como soube? Caio perguntou estranhando.
Tenho contatos no meio médico. Como estão eles? Mal. Muito mal. A voz de Caio saiu carregada de dor. Que pena. Mas veja, isso só confirma o que eu disse sobre os vínculos disfuncionais. Se eles estivessem saudavelmente apegados, não sofreriam tanto com uma ausência temporária. Algo no tom dela fez Caio desconfiar.
Havia uma satisfação mal disfarçada em sua voz, como se estivesse contente com o sofrimento das crianças. Dout. Marcela, preciso perguntar uma coisa. Como a senhora ficou sabendo da situação da minha família inicialmente? Ora, já expliquei. Recebemos informações de que havia irregularidades. Informações de quem? Exatamente. Houve uma pausa do outro lado da linha.
Isso é confidencial, senor Almeida. E como soube que meus filhos estão no hospital agora? Eu tenho contatos, como disse. Que contatos? Quem a informou? Senr. Almeida, não entendo essa hostilidade. Estou tentando ajudar. Caio desligou o telefone, uma suspeita terrível crescendo em sua mente, tirou a carta de Clara do bolso e releu trecho sobre a Dra. Marcela.
Ela esteve aqui no hospital tentando conseguir informações sobre nossa família, fazendo perguntas estranhas sobre você e os bebês. Não confie nela. Como Clara havia conhecido essa mulher e por ela estava interessada na família Almeida desde antes mesmo do nascimento dos gêmeos. Caio saiu do quarto onde os bebês descansavam e foi até a recepção do hospital.
Por favor, preciso falar com alguém da administração. É sobre uma paciente que esteve aqui há alguns meses. Depois de muita insistência e usando sua influência como empresário conhecido na cidade, conseguiu acesso aos registros. Uma funcionária veterana o atendeu reservadamente. Senr. Almeida, sobre sua esposa Clara, lembro bem do caso. Uma tragédia.
Quero saber sobre uma psicóloga que pode ter estado aqui na época. Dra. Marcela Figueiredo. A mulher franziu a testa. Dout. Marcela. Sim, ela esteve aqui, mas não como profissional do hospital. Como assim? Ela se apresentava como pesquisadora. Dizia estar fazendo um estudo sobre vínculos familiares em casos de óbito materno. Fazia muitas perguntas sobre as famílias.
Que tipo de perguntas? Situação financeira? Se havia outros familiares, se os pais tinham condições de criar os filhos sozinhos. Achamos estranho na época. O sangue de Caio gelou. E vocês permitiram? Ela tinha credenciais aparentemente legítimas. Disse que estava autorizada pelo Conselho Regional de Psicologia. Podem verificar essas credenciais agora.
A funcionária fez algumas ligações e depois de uma hora voltou com uma expressão grave. Senor Almeida, há algo muito errado. O Conselho Regional nunca autorizou pesquisa alguma e mais, não existe registro de uma docutora. Marcela Figueiredo, licenciada para exercer psicologia no estado. A revelação atingiu Caio como um raio.
A mulher que havia destruído sua família, que havia separado seus filhos da pessoa que Clara havia escolhido para cuidar deles, era uma farça completa. Quem é ela então? Não sabemos, mas vamos verificar as câmeras de segurança da época. Talvez encontremos pistas. Enquanto aguardava, Caio voltou para o quarto dos bebês.
Nicolas estava dormindo exausto, mas Gael estava acordado, olhando fixamente para o teto com uma expressão que partia o coração. Era a mesma expressão vazia que tinha quando choravam sem parar antes da chegada de Ângela. “Meu filho”, sussurrou Caio, segurando a mãozinha de Gael. Papai cometeu um erro terrível, mas vou consertar isso, prometo.
Seu celular tocou novamente. Era a recepcionista do hospital. Senor Almeida, encontramos algo nas câmeras. A mulher que se apresentou como Dra. Marcela esteve aqui várias vezes, sempre perguntando especificamente sobre famílias vulneráveis. Temos imagens dela conversando com diferentes pessoas. Podem me mostrar? Nas imagens de segurança, Caio viu uma mulher que definitivamente era a Doranari, Marcela, mas algo em seu comportamento era diferente.
Ela se movia furtivamente, evitava as câmeras principais, conversava em cantos isolados. “A mais”, disse a recepcionista. Conseguimos o número da placa do carro dela. Nossa Segurança fez uma verificação na época e descobriu que o veículo estava registrado em nome de uma empresa de serviços sociais privada. Que tipo de empresa? Uma agência de adoção irregular que foi fechada pelo governo há do anos por práticas ilegais.
O quebra-cabeça começou a se formar na mente de Caio. A doutora Marcela não era uma psicóloga preocupada com o bem-estar de crianças. Era uma criminosa que identificava famílias vulneráveis para aplicar algum tipo de golpe. “Preciso ir à polícia”, disse ele. “Senor Almeida, há mais uma coisa.
Sua esposa Clara, ela desconfiou da mulher. Temos registro de que ela pediu especificamente para Ângela Moura, que era enfermeira aqui na época, ficar de olho e anotar tudo que a suposta doutora fazia. Ângela era enfermeira aqui, era uma das melhores. Pediu demissão logo após a morte de sua esposa. Disse que precisava cumprir uma promessa. Tudo se encaixou.
Ângela não havia aparecido na vida deles por acaso. Clara havia pedido a ela que cuidasse dos bebês e ela havia deixado o emprego no hospital para cumprir essa promessa e ele havia a mandado embora acreditando nas mentiras de uma criminosa. Caio saiu correndo do hospital, deixando os bebês aos cuidados do Dr. Roberto.
Tinha duas missões urgentes: encontrar Angela e desmascarar a falsa Dra. Marcela. Primeiro foi a delegacia. apresentou todas as evidências que havia coletado e prestou queixa formal contra a mulher que havia se apresentado falsamente como psicóloga. “Senor Almeida”, disse o delegado após ouvir toda a história. “Isso parece ser parte de um esquema maior. Vamos investigar imediatamente.
E como posso encontrar Ângela Moura? Ela é a única que pode salvar meus filhos. Vamos colocar um alerta nos pontos de saída da cidade. Se ela não viajou para muito longe, vamos encontrá-la. Duas horas depois, Caio recebeu a ligação que mudaria tudo. Senor Almeida, encontramos Angela Moura. Ela está numa pousada a 50 km da cidade.
Parece que não conseguiu ir embora, realmente. Caio pegou o endereço e saiu dirigindo como se sua vida dependesse disso. Na verdade, a vida emocional de seus filhos realmente dependia. A pousada era simples. Numa cidade pequena na região metropolitana. Caio encontrou Angela sentada sozinha no jardim, olhando para o nada com uma expressão devastada.
Angela ela se virou surpresa. Quando viu Caio, seus olhos se encheram de lágrimas. Senhor Caio, o que está fazendo aqui? Vim buscar você. Vim implorar seu perdão. Como encontrou? Isso não importa agora. Caio se ajoelhou diante dela, tirando a carta de clara do bolso. Você precisa ler isso. Angela pegou a carta com mãos trêmulas e leu em silêncio.
A cada linha, suas lágrimas caíam mais intensamente. Ela contou para você, murmurou. Contou. Contou que você era enfermeira no hospital, que ela pediu para você cuidar dos meninos, que a Dra. Marcela era suspeita. Eu queria contar, mas pensei que o senhor não acreditaria.
Pensei que acharia que eu estava inventando uma história para parecer especial. Angela, por favor, volte. Nicolas e Gael estão hospitalizados. Estão doentes de tristeza desde que você saiu. Hospitalizados. O rosto dela empalideceu. Desidratação, depressão infantil. O médico disse que precisam reconectar com a figura de apego urgentemente. Angela se levantou imediatamente. Vamos agora.
Na corrida de volta para o hospital, Caio contou tudo que havia descoberto sobre a falsa do Marcela. Angela o viu com crescente indignação. Eu sabia que havia algo errado nela. Clara me alertou especificamente sobre uma mulher que estava fazendo perguntas suspeitas. Por que não me contou? Tentei, lembra? Perguntei como ela soube da nossa família.
disse que era suspeito ela aparecer justamente quando tudo estava bem, mas o senhor já estava influenciado por ela. Caio se sentiu ainda pior. Angela havia tentado alertá-lo, mas ele estava tão envenenado pelas manipulações da criminosa que não havia escutado. Quando chegaram ao hospital, correram para o quarto onde Nicolas e Gael estavam. As crianças continuavam apáticas, conectadas aos soros.
Meus bebês”, sussurrou Angela, aproximando-se dos berços. A reação foi instantânea e milagrosa. Nicolas, que estava de olhos fechados, os abriu imediatamente ao ouvir a voz dela. Gael, que choramingava fracamente, parou e virou a cabeça na direção do som. “Olá, meus amores”, disse ela suavemente, tocando delicadamente os rostinhos deles. Mamãe Angela voltou. Desculpem a demora.
Pela primeira vez em três dias, ambos os bebês sorriram. O Dr. Roberto, que observava a cena, balançou a cabeça admirado. É extraordinário. A resposta deles é imediata. Nunca vi nada igual. Doutor, disse Caio. Eles vão ficar bem agora? Se ela ficar, sim. Mas, Senhor Almeida, eles não podem passar por isso novamente. A próxima separação poderia causar danos permanentes.
Caio olhou para Angela, que estava cantarolando baixinho, enquanto os bebês a observavam com adoração total. “Nunca mais”, disse ele, “nunca mais eles serão separados dela.” Mas enquanto a família se reunia novamente, a falsa Dra. Marcela ainda estava solta. E Caio sabia que ela não desistiria facilmente de seus planos sinistros. A guerra estava apenas começando.
Dois dias haviam-se passado desde o retorno de Angela ao hospital. Nicolas e Gael mostravam sinais impressionantes de recuperação. Voltaram a comer normalmente, dormiam tranquilos e sorriam sempre que viam a cuidadora. O doutor Roberto havia autorizado a alta médica, mas alertou que qualquer nova separação abrupta poderia causar danos irreversíveis.
É como se ela fosse a mãe biológica deles”, comentou uma enfermeira observando dar banho nos gêmeos no quarto do hospital. “A conexão é extraordinária. Caio observava a cena com uma mistura de gratidão e culpa que ainda o consumia. Como havia sido capaz de quase destruir aquela relação perfeita? Como Clara havia conseguido escolher tão acertadamente a pessoa ideal para cuidar de seus filhos. Senr.
Caio disse Angela suavemente, notando sua expressão pensativa. O senhor precisa parar de se culpar. O importante é que agora sabemos a verdade. Mas se eu não tivesse sido tão estúpido, se tivesse confiado em você desde o início, não funcionaria assim. O senhor estava sofrendo, vulnerável. Ela sabia exatamente como manipular essa situação. Era verdade.
A falsa do Marcela havia estudado a família minuciosamente. Sabia quais botões apertar para destruir a confiança entre Caio e Ângela. Mas o que ainda intrigava Caio era o objetivo final dela. Ângela disse ele. Pelo que descobrimos, aquela mulher fazia parte de um esquema de adoção irregular.
Mas o que ela queria exatamente com meus filhos? Angela hesitou antes de responder, como se soubesse algo que ainda não havia contado. “Senor Caio, posso ser honesta sobre algo que descobri no hospital?” “Claro.” Quando Clara estava internada, eu percebi que a mulher que se apresentava como doutora, Marcela fazia perguntas muito específicas sobre sua situação financeira.
Queria saber sobre seguros de vida, heranças, se havia outros familiares que poderiam contestar a guarda das crianças. Como assim? Ela não estava interessada apenas em separar as crianças de você. Estava avaliando se seria lucrativo conseguir a guarda delas. A revelação atingiu Caio como um raio. Ela queria Ela queria ficar com meus filhos.
Pior que isso, acredito que ela queria conseguir a guarda temporária através de órgãos oficiais, alegando que você era incapaz de cuidar deles e depois vendê-los para famílias ricas que não conseguem adotar legalmente. Meu Deus! Caio se sentou pesadamente numa cadeira. A dimensão do esquema criminoso era muito maior do que havia imaginado.
Por isso, ela insistia tanto na institucionalização temporária. Seria o primeiro passo para retirar as crianças de você permanentemente. Naquele momento, o celular de Caio tocou. Era o delegado que estava investigando o caso. Senor Almeida, temos novidades importantes. Pode vir à delegacia agora? O que descobriram? Preferível falar pessoalmente, mas posso adiantar a mulher que conhece como Dr.
Torã. Marcela é procurada em três estados diferentes por crimes similares. Uma hora depois, Caio estava na delegacia acompanhado de Angela, que havia insistido em ir junto. Os gêmeos ficaram no hospital sob cuidados de Lúcia, que havia se mudado temporariamente para um quarto anexo. “Senor Almeida”, disse o delegado Dr. Farias, abrindo uma pasta volumosa.
“Conhecemos agora a verdadeira identidade da criminosa. Ela se chama Marina Castilho. É criminosa manipuladora especializada em golpes contra famílias vulneráveis. Golpes como ela identifica famílias em situação de crise, morte de um dos pais, crianças órfãs, pais solteiros com dificuldades e se apresenta como profissional da área de saúde mental.
Ganha a confiança, depois destrói os vínculos familiares para conseguir acesso às crianças. Angângela se arrepiou. E depois, depois consegue a guarda temporária alegando incapacidade dos pais biológicos e vende as crianças para redes de adoção irregular. Já conseguimos provas de pelo menos oito casos nos últimos 5 anos. Oito crianças, murmurou Caio, horrorizado.
A boa notícia é que agora temos provas suficientes para aprendê-la. A má notícia é que ela ainda não desistiu de vocês. Como assim? O delegado mostrou algumas folhas impressas. Interceptamos comunicações dela. Marina acionou o Conselho Tutelar oficialmente, alegando que há irregularidades graves na guarda de Nicolas e Gael. Mas isso é mentira.
Temos laudos médicos comprovando que as crianças estão bem. Eu sei. Mas ela tem contatos dentro do sistema. Conseguiu que agentes do Conselho Tutelar fizessem uma visita surpresa à sua casa amanhã. E se eles levarem meus filhos? Aí que está o problema.
Se o conselho decidir pela retirada temporária das crianças, mesmo sendo baseada em informações falsas, será muito difícil reverter rapidamente. Angela se inclinou para a frente. Delegado, e se conseguíssemos provas irrefutáveis de que ela está mentindo, gravações, documentos, seria ideal. Mas como? Ela vai aparecer na casa amanhã, não vai? para acompanhar a visita do conselho.
Provavelmente sim. Ela sempre faz isso. Se apresenta como consultora independente para dar credibilidade às acusações. Caio entendeu o que Ângela estava sugerindo. Podemos gravar tudo, fazer com que ela se comprometa. É arriscado, alertou o delegado. Se ela desconfiar, pode acelerar o processo contra vocês. É um risco que temos que correr disse Caio determinado.
Não vou deixar que ela destrua minha família. O delegado assentiu. Vamos preparar equipamentos de gravação e teremos uma equipe de apoio próxima à casa, caso seja necessário intervir rapidamente. Na volta para casa, Caio e Angela planejaram cuidadosamente como lidar com a situação do dia seguinte. Era essencial que tudo parecesse normal quando o Conselho Tutelar chegasse, mas também precisavam estar preparados para desmascarar Marina definitivamente. Angela! Disse Caio enquanto dirigiam.
Quero que saiba uma coisa. Independente do que acontecer amanhã, você faz parte dessa família para sempre. Senhor Caio, não. Deixa eu terminar. Clara escolheu você. Nossos filhos amam você. E eu, ele hesitou. Eu também aprendi a confiar completamente em você. Mais que isso, Ângela o olhou com curiosidade.
Mais que isso, aprendi a admirar você, sua força, sua dedicação, seu amor genuíno pelos meninos. Clara tinha razão. Você é a mãe que eles precisavam. Lágrimas brotaram nos olhos de Ângela. Obrigada. Isso significa muito para mim. Quando tudo isso acabar, quando essa criminosa estiver presa, quero conversar com você sobre sobre nos tornarmos uma família de verdade. O silêncio que se seguiu foi carregado de emoção.
Angela entendeu perfeitamente o que Caio estava insinuando e o coração dela disparou. Senhor Caio, eu pense sobre isso. Não precisa responder agora, mas quero que saiba que meus sentimentos por você vão muito além da gratidão. Quando chegaram em casa, encontraram Lúcia ansiosa no R de entrada. Senhor Caio, aconteceu algo estranho aqui.
O que foi? Alguém esteve rondando a casa durante a tarde. Um carro escuro ficou parado na rua por mais de uma hora. Quando saí para verificar, foi embora rapidamente. Caio e Angela trocaram olhares preocupados. Marina estava intensificando a vigilância, preparando-se para o golpe final. Lúcia, amanhã você precisa ficar com os meninos no quarto o tempo todo. Não importa o que aconteça lá embaixo, não deixe ninguém subir.
Está bem, senhor, mas estou com medo. Eu também, admitiu Caio. Mas vamos acabar com isso de uma vez por todas. Naquela noite, Caio Ma conseguiu dormir. Ficou observando Nicolas e Gael em seus berços, pensando em como seria devastador perdê-los agora. Angela estava numa poltrona ao lado, também acordada, montando guarda.
“Você acha que vamos conseguir?”, perguntou ele baixinho. “Temos que conseguir. Esses meninos já sofreram demais. E se ela for mais esperta que imaginamos? E se o Conselho Tutelar acreditar nela, então lutaremos na justiça. Temos a carta de Clara, temos laudos médicos, temos as investigações da polícia.
Mas e se levarem os meninos? Enquanto isso? Eles podem não sobreviver a outra separação? Angela se levantou e se aproximou dele. Caio, olhe para mim. Era a primeira vez que ela o chamava pelo primeiro nome, sem formalidades. Não vamos deixar isso acontecer. Clara confiou em nós para proteger essas crianças e é isso que vamos fazer. Nós sim, nós somos uma família agora, lembra? Famílias se protegem. Caio segurou a mão dela, sentindo uma força que não sabia que ainda possuía. Você tem razão.
Vamos enfrentar isso juntos. O amanhecer trouxe uma tensão elétrica que permeava toda a casa. Caio conferiu os equipamentos de gravação que o delegado havia fornecido. Câmeras discretas, microfones ocultos, gravadores de backup. Tudo estava funcionando perfeitamente. Às 10 da manhã, a campainha tocou. Eles chegaram, disse Angela observando pela janela.
Dois agentes do Conselho Tutelar desceram de um carro oficial. Logo atrás, outro veículo parou. Dele saiu Marina Castilho, se apresentando como Dra. Marcela Figueiredo. Ela veio mesmo! Murmurou Caio. Está tão confiante que nem se esconde mais. Lembra do que combinamos? Aja naturalmente. Responda as perguntas com honestidade e deixe ela se expor.
Caio respirou fundo e foi abrir a porta, sabendo que os próximos minutos decidiriam o futuro de sua família. A guerra final estava prestes a começar. Bom dia, senor Almeida”, disse a agente do Conselho Tutelar, uma mulher séria de meia idade. Sou Helena Cardoso, assistente social responsável. Esta é minha colega Patrícia Santos.
Recebemos uma denúncia sobre irregularidades na guarda de seus filhos. “Bom dia”, respondeu Caio, controlando o nervosismo. “Podem entrar?” “Não entendo qual seria a irregularidade. Meus filhos estão bem cuidados.” Logo atrás das agentes, Marina Castilho se aproximou com um sorriso falso que não enganava mais ninguém. Senor Almeida, sou a Dra. Marcela Figueiredo, consultora independente que acompanha este caso.
Como estão as crianças? Caio a encarou com frieza, sabendo que cada palavra estava sendo gravada. Estão muito bem, doutora. Especialmente depois que descobrimos suas verdadeiras intenções. Marina manteve o sorriso, mas seus olhos brilharam. perigosamente. Não entendo a hostilidade, senhor. Estou aqui apenas para garantir o bem-estar das crianças.
A agente Helena abriu uma pasta. Senr Almeida, segundo a denúncia, houve várias trocas de cuidadores, situações de negligência e atualmente há uma pessoa sem qualificação adequada responsável pelos bebês. “Posso explicar tudo isso”, disse Caio. Houve sim dificuldades iniciais, mas foram completamente resolvidas. Angela é uma profissional excepcional.
“Onde estão as crianças agora?”, perguntou a agente Patrícia. “No quarto com nossa governanta e com Angela. Gostaria de vê-las”, disse Marina rapidamente. “Como consultora, preciso avaliar as condições.” “Claro, concordou Caio. Mas antes posso perguntar quem exatamente fez a denúncia?” Helena consultou os papéis.
A denúncia foi feita de forma anônima, mas complementada com o relatório técnico da Dra. Marcela, que acompanha o caso há algum tempo. Acompanha como Caio insistiu. Ela nunca foi contratada oficialmente por mim. Marina se apressou a responder. Fui contactada pela rede hospitalar devido às preocupações com o desenvolvimento das crianças.
Interessante, disse Caio, porque o hospital me informou que a senhora nunca teve autorização oficial para qualquer acompanhamento. Um silêncio tenso se instalou na sala. Marina mantinha o sorriso, mas claramente não esperava ser confrontada dessa forma. “Senor Almeida, disse Helena, podemos ver as crianças agora?” Subiram todos juntos. No quarto, Nicolas e Gael estavam brincando tranquilamente sobre os cuidados de Angela e Lúcia.
A cena era de perfeita harmonia familiar. “Como estão os pequenos?”, perguntou Helena, observando os bebês que sorriam e balbuciavam alegremente. Perfeitamente bem, respondeu Angela. Recuperaram-se completamente do período difícil que passaram. Que período difícil? Questionou a agente Patrícia. Marina se antecipou.
Houve episódios de choro excessivo, sinais de negligência emocional. Isso não é verdade”, interrompeu Angela firmemente. “Houve sim um período difícil, mas foi causado pela manipulação da própria senhora. Como ousa!” Marina começou, mas Caio a interrompeu. “Ângela tem razão e posso provar.” Caio desceu com todos para o escritório, onde tinha preparado evidências.
Colocou sobre a mesa os documentos que havia obtido da investigação policial. “Dra. Marcela disse ele ironicamente, ou prefere que a chame pelo nome verdadeiro Marina Castilho. O impacto foi devastador. Marina empalideceu instantaneamente e as agentes do Conselho Tutelar a olharam com surpresa. Não sei do que está falando ela tentou se recompor. Sei exatamente do que estou falando, continuou Caio, mostrando os documentos.
Marina Castilho, procurada em três estados por aplicação de golpes contra famílias vulneráveis. Falsa psicóloga que se especializa em separar crianças de seus pais para vendê-las em esquemas de adoção irregular. Helena pegou os documentos com expressão chocada. Isto é verdade? É, confirmou Caio. Ela infiltrou-se no hospital onde minha esposa estava internada, coletou informações sobre nossa família e montou este plano para conseguir a guarda de meus filhos.
Marina tentou se levantar para sair, mas Caio bloqueou a porta. “Onde pensa que vai? A polícia está a caminho. Isto é um absurdo”, gritou Marina, perdendo completamente a compostura. “Vocês não podem me prender? Tenho direitos.” “Quais direitos?”, perguntou Angela. os mesmos direitos que deu às outras oito famílias que destruiu.
A máscara havia caído completamente. Marina se virou para as agentes do Conselho Tutelar com desespero evidente. “Vocês não entendem? Esta mulher”, apontou para Angela. “Não tem qualificação alguma. Estas crianças estão em perigo.” Helena observou cuidadosamente Marina. Depois olhou para Nicolas e Gael no colo de Angela. Os bebês estavam calmos, claramente confortáveis e felizes.
“Senhora, disse Helena friamente, se realmente é quem estes documentos dizem que é, a única pessoa que representa perigo para estas crianças é você.” “Eu posso explicar tudo?” Marina gritou já em pânico total. “Sim, usei identidade falsa, mas era para proteger essas crianças. Elas estavam sendo negligenciadas.” “Negligenciadas como?”, perguntou Patrícia. O pai não conseguia cuidar delas. Choravam constantemente.
Várias babás desistiram. E a senhora estava onde durante tudo isso? Questionou Caio. Esperando a oportunidade perfeita para aplicar seu golpe. Marina se desesperou completamente. Vocês não entendem o esquema. Eu tinha compradores esperando. Família americana rica que pagaria muito bem por gêmeos saudáveis. O silêncio que se seguiu foi absoluto.
Marina havia acabado de confessar tudo. Acabou de admitir que planejava vender essas crianças? Perguntou Helena, incrédula. Percebendo o que havia dito, Marina tentou recuar. Não, não era venda, era colocação em família adequada. Colocação que envolvia pagamento, então era venda disse Caio. E tudo gravado. Naquele momento, a campainha tocou.
Era o delegado Farias com dois policiais. Marina Castilho, disse ele entrando no escritório. Está presa por falsificação de documentos, exercício ilegal de profissão, tentativa de sequestro e tráfico de menores. Isto é perseguição! Gritou Marina enquanto era algemada. Eu estava protegendo essas crianças. Protegendo.
A senhora confessou há pouco que tinha compradores esperando disse Patrícia do Conselho Tutelar. Enquanto Marina era levada pela polícia, ainda gritando incoerências sobre proteção infantil, as agentes do Conselho Tutelar se voltaram para Caio e Ângela. “Senor Almeida,” disse Helena, “peço desculpas por esta situação. Fomos enganadas pelas credenciais falsas dela.
Entendo que vocês estavam fazendo seu trabalho”, respondeu Caio. “O importante é que a verdade foi descoberta.” “E sobre a situação das crianças?”, Continuou Helena, observando Nicolas e Gael, que brincavam tranquilamente. É evidente que estão sendo muito bem cuidadas. A denúncia era completamente enfundada.
“E sobreângela?”, perguntou Caio. Helena observou a interação natural entre Angela e os bebês. Embora não tenha formação universitária específica, é óbvio que possui competência excepcional para o cuidado infantil. As crianças estão visivelmente felizes e saudáveis. Vamos oficializar isso no relatório”, acrescentou Patrícia. “Esta família não representa risco algum para as crianças.
Pelo contrário, é um exemplo de cuidado amoroso.” Depois que todos saíram, Caio, Ângela e as crianças ficaram sozinhos na sala. O silêncio era diferente agora. Não era mais tenso ou ameaçador, mas pacífico e esperançoso. “Aou”, disse Angela, embalando Nicolas, que havia adormecido em seus braços. Acabou. Concordou Caio, segurando Gael.
Marina vai presa. O caso está encerrado. Nossa família está segura. Nossa família, repetiu Angela suavemente. Gosto de como isso soa. Caio a olhou nos olhos. Angela, ontem eu comecei a dizer algo sobre nos tornarmos uma família de verdade. Lembro. Quero ser claro sobre meus sentimentos. Não é apenas gratidão. Não é apenas por causa das crianças.
Eu me apaixonei por você. Lágrimas brotaram nos olhos de Ângela. Caio, eu também me apaixonei por você, pelas crianças, por esta família que construímos juntos. Então casa comigo disse ele simplesmente. Seja oficialmente a mãe que Clara escolheu para Nicolas e Gael. Sim, ela respondeu sem hesitar. Mil vezes sim.
Naquele momento, como se entendessem a importância do que estava acontecendo, ambos, Nicolas e Gael acordaram. e sorriram para os pais, que finalmente haviam encontrado o caminho um para o outro. O pesadelo havia terminado, a família estava completa e em algum lugar Caio tinha certeza de que Clara estava sorrindo, vendo que seu último desejo havia se realizado.
Seus filhos teriam uma mãe amorosa e um pai presente, unidos numa família construída sobre amor verdadeiro e sacrifício. A casa que havia conhecido apenas dor e separação, agora ecoava com risadas, planos para o futuro e a promessa de dias felizes pela frente.
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