Ela pagou R$ 3 pelo café de um homem simples que não tinha dinheiro no bolso, sem saber que ele era milionário e estava testando seu coração. Era segunda-feira de manhã e o café da manhã estava lotado como sempre. Letícia estava atrás do balcão há 2 horas, atendendo a fila que não parava de crescer.
Pessoas com pressa, pedidos complicados, gente mal humorada que nem olhava na cara dela. Mais um dia igual aos outros na vida de quem ganhava salário mínimo servindo café para quem tinha pressa de chegar nos empregos dos sonhos. Ela estava limpando uma xícara quando o homem se aproximou do balcão. Jeans desbotado, camiseta simples, tênis gasto com touca na cabeça.
Nada que chamasse atenção. Mais um na multidão de trabalhadores que passavam por ali todos os dias. Bom dia”, ele disse, sorrindo de um jeito que chegava aos olhos. “Um café pequeno, por favor.” “Com açúcar?”, Letícia perguntou já pegando o copo. “Sim, obrigado.” Ela preparou o café e colocou no balcão. R$ 3.
O homem levou a mão ao bolso da calça, depois ao outro bolso, depois ao bolso de trás. A expressão no rosto dele mudou gradualmente de tranquilidade para constrangimento. “Ah, não”, ele murmurou, mexendo em todos os bolsos novamente. “Desculpa, moça, parece que esqueci a carteira em casa.” A fila atrás dele começou a ficar impaciente. Letícia ouviu alguns suspiros altos.
Uma mulher de Taer verificando o relógio com irritação óbvia. Era o tipo de situação que acontecia pelo menos uma vez por semana no café. E normalmente ela apenas pedia para a pessoa voltar depois, mas havia algo no jeito envergonhado daquele homem que mexeu com ela.
Talvez fosse o fato de ele não estar inventando desculpas elaboradas ou tentando negociar. Apenas estava genuinamente sem graça por ter esquecido a carteira. Tudo bem, Letícia disse, empurrando o café na direção dele. Pode levar assim mesmo? Não, não posso aceitar. Você vai ter que pagar do seu próprio bolso. É só um café. Não vai me deixar pobre. Mentira.
R$ 3 eram R$ 3 quando você ganhava R$ 900 por mês. Mas Letícia havia crescido com a mãe, sempre dizendo que ajudar o próximo é o que torna a gente humano de verdade. Muito obrigado mesmo, o homem disse pegando o café. Como posso retribuir? Não precisa retribuir nada. Pelo menos me deixa saber seu nome. Sou Jefferson. Jefferson Silva. Letícia.

Ela respondeu, já se virando para atender o próximo cliente da fila, mas Jefferson não saiu imediatamente. Ficou ali do lado do balcão, tomando o café, observando ela trabalhar, não de forma estranha ou invasiva, mas como se estivesse genuinamente interessado em como ela fazia seu trabalho. “Você trabalha há muito tempo?”, Ele perguntou quando teve uma pausa entre clientes.
“Seis meses,” Letícia respondeu, organizando os copos no balcão. “Gosta do trabalho?”, a pergunta apegou de surpresa. Ninguém nunca perguntava se ela gostava do trabalho. As pessoas pediam café, pagavam e iam embora. “Ela praticamente invisível.” “É trabalho”, ela disse com um meio sorriso. “Paga as contas.” Jefferson assentiu como se entendesse perfeitamente.
Trabalho honesto vale mais que muito emprego de escritório por aí. Outro cliente se aproximou e Letícia voltou a se concentrar no atendimento. Quando terminou de preparar o pedido, Jefferson ainda estava lá. Desculpa estar atrapalhando seu trabalho, ele disse. É que faz tempo que não converso com alguém tão real.
Real? A maioria das pessoas que eu conheço, sei lá, parecem estar sempre representando algum papel. Você não. Você é genuína. Letícia sentiu o rosto esquentar um pouco. Você diz isso para todas as atendentes que pagam seu café? Jefferson riu. Uma gargalhada honesta que fez algumas pessoas olharem. Não costumo esquecer a carteira. Na verdade, hoje foi exceção.
Que coincidência boa. Então, é, foi mesmo. Ele hesitou por um momento. Letícia, posso fazer uma pergunta que pode parecer estranha? Pode tentar. Que horas você sai do trabalho? Letícia ficou imediatamente alerta. Era aí que a maioria dos homens mostrava suas verdadeiras intenções. Por quê? Porque está começando a chover lá fora. Você vai sair daqui molhada e eu gostaria de retribuir o favor oferecendo uma carona.
Letícia olhou pela vitrine e viu que ele estava certo. Estava começando a garoa e a previsão era de chuva forte para a tarde. Ela morava longe, precisaria pegar dois ônibus e não tinha guarda-chuva. “Eu não te conheço”, ela disse cuidadosa. “Tem razão, foi mal. Não quis parecer inconveniente. Jefferson tomou o último gole do café.

só queria retribuir a gentileza de alguma forma. Ele terminou de tomar o café e acenou para ela. Obrigado novamente pelo café, Letícia. Tenha um bom dia. Jefferson estava quase na porta quando Letícia tomou uma decisão impulsiva. Jefferson. Ele se virou. Eu saio às 5. Se a chuva estiver forte e você realmente quiser retribuir o favor. O sorriso dele iluminou o rosto inteiro. Estarei aqui às 5 em ponto.
O resto do dia passou devagar para Letícia. Ela se pegou, olhando para a porta várias vezes, se perguntando se Jefferson realmente voltaria. Quando 5 horas chegaram e a chuva estava caindo pesada lá fora, ela tinha quase certeza de que ele não apareceria. Então viu um Civic preto estacionando na frente do café. Jefferson saiu correndo na chuva e entrou ofegante.
“Desculpa o atraso”, ele disse, passando a mão pelo cabelo molhado. Trânsito estava terrível com essa chuva. Letícia terminou de limpar o balcão e pegou a bolsa. “Você realmente veio. Prometi que viria.” Jefferson segurou a porta para ela. “Onde você mora?” No carro, Letícia observou Jefferson dirigindo. Ele era cuidadoso no trânsito, não ficava xingando outros motoristas.
perguntou se a temperatura estava boa, se a música estava incomodando. Detalhes pequenos que mostravam consideração. “O que você faz da vida?”, ela perguntou quando pararam no sinal. “Trabalho com carros”, Jefferson respondeu. “E você? Além do café, faz outra coisa?” “Estudo administração à noite. Faltam dois semestres para me formar. Administração é uma boa área, sempre tem demanda.” “Epero que sim. Minha mãe fez muito sacrifício para eu conseguir estudar.
Não posso decepcionar ela. Jefferson olhou de relance para Letícia. Aposto que ela tem muito orgulho de você. Trabalhar e estudar ao mesmo tempo não é fácil. É puxado, mas vale a pena. Pelo menos espero que valha. Eles continuaram conversando até chegarem no prédio onde Letícia morava.
Era um lugar simples, mas bem conservado, num bairro de classe média baixa. “Obrigada pela carona,” Letícia disse já com a mão na maçaneta. “Obrigado eu pelo café da manhã”. Jefferson hesitou. “Letícia, posso fazer mais uma pergunta que pode parecer estranha?” Já perguntou uma hoje e deu certo. Ela sorriu.
“Você tomaria café comigo amanhã antes do seu trabalho começar? Dessa vez eu pago. Letícia estudou o rosto dele. Jefferson parecia nervoso esperando a resposta, como adolescente convidando alguém para o primeiro encontro. Você vai esquecer a carteira de novo? Ela brincou. Não, amanhã vou lembrar. Então, topo. Que horas? Que horas você prefere? 7:30.
Assim dá tempo de conversar antes de eu começar a trabalhar. Perfeito. Até amanhã, então. Letícia subiu as escadas do prédio com um sorriso que não conseguia controlar. Fazia muito tempo que não se sentia assim, com aquela sensação gostosa de expectativa. Jefferson era diferente dos homens que ela conhecia. Simples, trabalhador, respeitoso. Não fazia ideia de que acabara de despertar o interesse do homem mais rico da cidade.
Jefferson ficou no carro. observando até ver uma luz se acender no terceiro andar. Era a primeira vez em anos que alguém foi gentil com ele sem saber quem ele era. Alguém que pagou R$ 3 do próprio bolso para ajudar um estranho sem esperar nada em troca. Ele dirigiu até o centro da cidade, mas em vez de ir para casa, parou na frente de um prédio de vidro de 20 andares. O porteiro, uniformizado, o cumprimentou respeitosamente.
Boa noite, senor Jefferson. Trabalhou até tarde hoje? Resolvi umas coisas pessoais, Carlos. Boa noite. No elevador, Jefferson pensou em Letícia, na forma como ela sorriu quando ele perguntou sobre seus estudos, no orgulho na voz dela quando falou da mãe, na generosidade de pagar o café de um estranho, mesmo ganhando salário mínimo.
As portas do elevador se abriram direto na sua sala presidencial. A placa na mesa dizia: Jefferson Silva, diretor presidente Silva Construções. Pela janela ele podia ver a cidade inteira se estendendo lá embaixo, pontuada pelas luzes dos prédios que sua empresa havia construído.
Em 5 anos tinha erguido um império. A Silva Construções era responsável pelos maiores empreendimentos da região. Ele tinha mais dinheiro do que conseguiria gastar em várias vidas, mas também tinha algo que o dinheiro não comprava. solidão, mulheres que se interessavam pelo seu patrimônio, amigos interesseiros, funcionários que concordavam com tudo por medo de perder o emprego.
Hoje havia conhecido Letícia, uma mulher que trabalha duro para pagar os estudos, que fez um sacrifício financeiro para ajudar um estranho, que tratou ele como uma pessoa normal, que não fez uma única pergunta sobre o que ele fazia da vida ou quanto ganhava. Jefferson pegou o telefone e ligou para sua secretária.
Cláudia, cancela meus compromissos de amanhã de manhã até às 9. Mas, senor Jefferson, o senhor tem reunião com os investidores japoneses. Transfere para a tarde. E Cláudia, se alguém perguntar onde estou amanhã de manhã, diga que estou na oficina. Tecnicamente não era mentira. Jefferson realmente mantinha uma pequena oficina mecânica, um hobby dos tempos de adolescente que se recusava a abandonar.
Era seu refúgio quando o mundo corporativo ficava pesado demais. Amanhã voltaria a ser apenas Jefferson Silva, o cara que trabalha com carros, pelo menos por mais algumas horas. Na manhã seguinte, Letícia chegou ao café 15 minutos mais cedo. Não conseguia admitir nem para si mesma. Mas estava ansiosa para ver Jefferson novamente.
Tinha passado a noite pensando na conversa que tiveram no carro, na forma gentil como ele dirigia, no interesse genuíno que demonstrou pelos estudos dela. Às 7:30 em ponto, Jefferson apareceu na porta. Dessa vez estava com uma camisa social simples, mas bem passada, o cabelo arrumado, um sorriso que fez o coração de Letícia acelerar sem ela entender porquê. Bom dia”, ele disse, se aproximando do balcão.
“Posso pedir dois cafés? Um para mim e um para a atendente mais gentil da cidade?” Letícia riu, sentindo o rosto esquentar. Muito engraçadinho. Que tal eu preparar seu café? E você espera eu fazer uma pausa? Perfeito. Ela preparou dois cafés com leite e saiu de trás do balcão.
Seu supervisor não chegava antes das 8, então tinha uns 20 minutos livres. “Vamos sentar lá fora,”? Jefferson sugeriu. Tenho umas mesinhas na calçada. Era uma manhã bonita, sol fraco, mas agradável. Eles se sentaram numa mesinha de metal pintado de azul. Jefferson cuidadosamente colocando o café dela na frente. “Dormiu bem?”, ele perguntou. “Dormi sim.
E você também?” Jefferson mexeu o açúcar no café, parecendo um pouco nervoso. “Letícia, posso fazer uma pergunta pessoal?” “Depende do quão pessoal. E por que você trabalha no café? Quero dizer, você estuda a administração, é inteligente, poderia conseguir um estágio numa empresa. Letícia suspirou. Era uma pergunta que ela fazia para si mesma todos os dias. Tentei alguns estágios, mas a maioria não paga nada ou paga muito pouco.
Preciso trabalhar para me sustentar e ajudar minha mãe. O café pelo menos me dá um salário fixo. Entendo. E sua mãe? Ela mora no interior, tem uma aposentadoria pequena. Meu pai morreu quando eu tinha 15 anos, deixou algumas dívidas. Ela fez de tudo para me dar educação, para eu ter uma chance melhor na vida. Jefferson a observou com atenção. Havia algo na forma como Letícia falava sobre a família que o tocava profundamente.
Amor genuíno, gratidão verdadeira. Não era como as pessoas que ele conhecia, sempre reclamando de pais que não compravam carros do ano ou não pagavam viagens para a Europa. Sua mãe deve ter muito orgulho de você. Espero que sim. Às vezes me sinto culpada por ainda não ter conseguido algo melhor, sabe? Ela sacrificou tanto. Você está trabalhando e estudando ao mesmo tempo.
Isso já é muito. E quando se formar, vai poder retribuir tudo que ela fez. É o que mais quero na vida. Eles continuaram conversando até Letícia precisar voltar ao trabalho. Jefferson ficou mais alguns minutos tomando café e observando ela a atender os clientes. Tinha uma eficiência natural, um sorriso genuíno para todo mundo, mesmo para os maleducados que tratavam ela como se fosse invisível.
“Preciso ir”, ele disse quando ela teve outro momento livre. “Trabalho me espera. Claro. Obrigada pelo café. Posso voltar amanhã na mesma hora? Letícia sentiu aquela sensação gostosa de expectativa novamente. Pode sim. A partir desse dia, Jefferson passou a aparecer no café todas as manhãs às 7:30. Sempre pedia dois cafés. Sempre esperava ela fazer uma pausa para conversarem.
Letícia começou a esperar por esses momentos como a melhor parte do seu dia. “O que você faz exatamente trabalhando com carros?”, ela perguntou numa quinta-feira. Depois de quase duas semanas se encontrando diariamente, Jefferson hesitou por uma fração de segundo. Concerto, manutenção, essas coisas. Trabalho numa oficina ali perto do centro. Gosta do trabalho? Gosto sim.
Trabalhar com as mãos, resolver problemas, ver o resultado do esforço é satisfatório. Letícia sorriu. Deve ser bom ter um trabalho que você realmente gosta. Eu ainda estou descobrindo o que quero fazer da vida. Tem algum sonho específico? Algo que você faria se pudesse escolher qualquer coisa? A pergunta apegou de surpresa.
Ninguém nunca perguntava sobre seus sonhos. As pessoas viam uma atendente de café e assumiam que ela não tinha ambições além daquilo. “Tenho sim”, ela disse devagar. “Gostaria de ter minha própria empresa um dia. Consultoria administrativa para pequenos negócios. Ajudar pessoas que têm talento e ideias, mas não sabem a parte burocrática.
Jefferson se inclinou para a frente, genuinamente interessado. Que tipo de consultoria? Organização financeira, planejamento estratégico, questões legais básicas? Tem muita gente que abre negócio sem saber nada de administração e acaba quebrando por falta de organização, não por falta de competência na área principal. É um sonho lindo e muito necessário. É só sonho mesmo. Letícia deu de ombros.
Para abrir uma empresa precisa de capital inicial, precisa de experiência prática que eu não tenho, precisa de contatos. Tudo isso se consegue com tempo e persistência. Fala fácil quem tem estabilidade. Ela brincou, mas havia uma pontada de tristeza na voz. Jefferson ficou sério.
Letícia, posso te fazer uma proposta? Que proposta? Eu conheço alguns donos de pequenos negócios, clientes da oficina onde trabalho. Alguns reclamam exatamente dos problemas que você mencionou. Que tal se eu te apresentasse para eles? Você poderia começar fazendo alguns trabalhos freelance, ganhando experiência? Letícia o encarou surpresa.
Você faria isso por mim? Claro. Por que não faria? Porque mal me conhece há duas semanas. Por que se arriscaria recomendando meu trabalho? Jefferson segurou o olhar dela. Porque nessas duas semanas conversei mais com você do que converso com qualquer pessoa em meses. Sei que tipo de pessoa você é, Letícia. Honesta, trabalhadora, inteligente.
Qualquer empresa seria sortuda em ter você. O coração de Letícia acelerou com as palavras dele. Jefferson, isso seria incrível. Mas e se eu decepcionar seus conhecidos? E se não souber fazer o trabalho direito, você vai saber. E se tiver dúvidas, aprende. É assim que todo mundo começa. Não sei como agradecer. Não precisa agradecer.
É o mínimo que posso fazer por alguém que paga café para estranhos esquecidos. Letícia riu, mas estava emocionada. Pela primeira vez em muito tempo, sentia que alguém realmente acreditava nela. Via potencial onde ela só via limitações. Tem uma coisa que preciso te perguntar. Ela disse depois de um momento.
O quê? Por que você faz isso? Por que se importa tanto em me ajudar? Jefferson mexeu no café, evitando o olhar dela. Por quê? Porque faz tempo que não conheço alguém como você, alguém verdadeiro. A maioria das pessoas que conheço, ele parou como se tivesse percebido que estava falando demais. A maioria das pessoas que você conhece o quê? Nada. É bobagem.
Jefferson, pode falar. é que a maioria das pessoas que conheço só se preocupa com dinheiro, status, aparências. Você não, você se preocupa com coisas que realmente importam, família, sonhos, fazer o bem. Letícia ficou tocada com as palavras. Você também é assim, do contrário, não estaria aqui todo dia. Não estaria se oferecendo para me ajudar.
Às vezes eu me sinto como se estivesse vivendo duas vidas diferentes, Jefferson disse baixinho. Uma no trabalho, onde tenho que ser uma pessoa, e outra aqui com você, onde posso ser quem realmente sou. Como assim? Jefferson pareceu perceber que estava revelando mais do que pretendia. Deixa para lá, é complicado, Jefferson. Olha a hora. Ele disse, levantando rapidamente. Preciso ir trabalhar. Te vejo amanhã.
Claro, mas até amanhã, Letícia. Ele saiu apressado, deixando ela confusa e preocupada. Havia algo na pressa dele, na forma como evitou continuar a conversa que não batia. Era como se ele estivesse escondendo alguma coisa. Naquela noite na faculdade, Letícia não conseguiu se concentrar na aula. ficou pensando na conversa com Jefferson, na forma estranha como ele havia reagido quando o assunto chegou perto do trabalho dele e também na oferta de ajuda que ele tinha feito. Seria real? Ele realmente conhecia pessoas que poderiam lhe dar
uma oportunidade ou estava apenas sendo gentil, fazendo promessas que não poderia cumprir? Na manhã seguinte, Jefferson chegou no horário de sempre, mas parecia diferente, mais distante, menos espontâneo nas conversas. Tudo bem? Letícia perguntou quando se sentaram na mesinha de sempre. Tudo sim. Por quê? Você parece, sei lá, estranho hoje. Só cansado. Foi uma semana puxada.
Eles conversaram sobre assuntos gerais, mas Letícia sentia que Jefferson estava evitando tópicos mais pessoais. Não mencionou a oferta de apresentá-la para seus conhecidos. Não perguntou sobre os sonhos dela, como costumava fazer. Jefferson ela disse quando ele se levantou para ir embora sobre ontem aquela conversa sobre me apresentar para pessoas que você conhece.
Ah, isso ele evitou o olhar dela. Deixa eu ver melhor, tá? Talvez não seja tão simples quanto eu pensei. O coração de Letícia afundou. Claro, sem problema. Mas havia problema. Ela tinha passado a noite inteira sonhando com a possibilidade, imaginando como seria fazer o trabalho que realmente queria.
E agora Jefferson estava recuando, como se tivesse percebido que havia prometido demais. “Te vejo amanhã?”, ele perguntou, já se afastando. “Te vejo.” Letícia o observou sair, uma sensação estranha crescendo no peito. Havia algo sobre Jefferson que não batia. A forma como falava sobre o trabalho, sempre vago, sempre mudando de assunto.
Os horários flexíveis que permitiam ele aparecer no café toda manhã, a roupa sempre limpa e bem cuidada para alguém que supostamente trabalhava numa oficina. E agora a promessa quebrada. Ela decidiu que era a hora de descobrir quem Jefferson realmente era. Letícia decidiu investigar Jefferson numa quinta-feira. Ele havia faltado no café nos últimos dois dias sem avisar e ela estava preocupada e irritada ao mesmo tempo.
Preocupada porque talvez tivesse acontecido algo com ele, irritada porque estava se acostumando com a companhia dele e agora se sentia deixada para trás. Depois do trabalho, em vez de ir direto para a faculdade, ela pegou o ônibus para o centro da cidade. Jefferson tinha dito que trabalhava numa oficina perto do centro, então não deveria ser difícil encontrá-lo.
Ela passou por cinco oficinas mecânicas numa região de três quarteirões. Em todas perguntou por Jefferson Silva, descreveu a aparência dele, mas ninguém conhecia. Numa das últimas, o mecânico riu quando ela mencionou o carro bem conservado. Moça, mecânico que se preza não anda de carro novo. A gente conserta ferro velho dos outros, não tem dinheiro para comprar 0 km.
Letícia saiu de lá com o coração disparado. Se Jefferson não era mecânico, o que ele era? Por que mentira para ela? As peças começaram a se encaixar de uma forma que ela não gostava nada. Os horários flexíveis, a roupa sempre impecável, o carro bem cuidado, a oferta de ajuda que depois foi retirada, talvez fosse algum rico entediado que se divertia fingindo ser trabalhador para se aproximar de mulheres.
Talvez toda aquela história de admirar sua honestidade fosse mentira. Talvez ele estivesse rindo dela pelas costas. Na sexta-feira, Jefferson apareceu no café como se nada tivesse acontecido. Sorriso no rosto, pedindo dois cafés como sempre. Mas Letícia não estava mais com humor para fingir que estava tudo normal.
“Onde você estava?”, ela perguntou quando ele se aproximou do balcão. “Tive uns problemas no trabalho. Precisei viajar para resolver.” Jefferson parecia genuinamente sem graça. “Desculpa não ter avisado. Não sabia que você ficaria preocupada. Eu não fiquei preocupada. Letícia mentiu. Só achei estranho sumir sem falar nada. Tem razão. Na próxima vez eu aviso. Eles se sentaram na mesinha de sempre, mas a conversa estava forçada, artificial.
Letícia observava Jefferson cuidadosamente, procurando por pistas sobre quem ele realmente era. “Como foi a viagem?”, ela perguntou. “Chata, reuniões, papelada, essas coisas.” Jefferson bebericou o café. Nada muito interessante. Reuniões numa oficina mecânica. Jefferson pausou por uma fração de segundo.
Com fornecedores, peças, equipamentos, a resposta soou ensaiada, artificial. Letícia decidiu testar ele. Jefferson, posso te perguntar uma coisa? Claro. Ontem eu estava passando pelo centro e resolvi te procurar. Queria te convidar para almoçar, já que você tinha me ajudado tanto. Ela observou o rosto dele cuidadosamente.
Passei em várias oficinas, mas ninguém conhece Jefferson Silva. O rosto de Jefferson empalideceu. Ele abriu e fechou a boca algumas vezes, claramente procurando uma explicação. Eu, talvez você não tenha ido nas oficinas certas. Fui em cinco oficinas numa região de três quarteirões. Você disse que trabalhava perto do centro. É que a oficina fica numa rua mais escondida. Jefferson.
A voz de Letícia saiu fria como gelo. Para de mentir para mim. Ele baixou os olhos para o café, os ombros se curvando como se tivesse levado um soco. Quem você é de verdade? Letícia continuou. Porque mecânico você não é. Jefferson ficou em silêncio por quase um minuto. Quando levantou os olhos, havia uma mistura de culpa e resignação neles.
“Você tem direito de estar brava”, ele disse baixinho. “Mas me deixa explicar antes de você decidir me odiar para sempre?” “Explicar o quê? Como você se divertiu me fazendo de idiota? Como riu de mim pelas costas enquanto eu contava meus problemas de pobre? Não é nada disso.” “Então, o que é? Me conta logo quem você é”. Porque não aguento mais mentira.
Jefferson olhou ao redor. O café estava cheio, mas felizmente eles estavam numa mesa mais afastada. Mesmo assim não era lugar para aquela conversa. Meu nome é Jefferson Silva. Isso é verdade. E eu realmente trabalho com carros, só que não como mecânico. Ele pausou, respirando fundo. Eu sou dono de uma empresa, Silva Construções.
O nome atingiu Letícia como um tapa na cara. Silva Construções era a maior construtora da região, responsável por praticamente todos os prédios novos da cidade. Ela havia visto o nome em outdoors, em placas de obras, nos jornais. O dono dessa empresa não era um mecânico, era um milionário. “Você está brincando comigo?”, ela sussurrou.
Jefferson tirou a carteira do bolso, procurou um cartão de visita e entregou para ela. Jefferson Silva, diretor presidente. Letícia pegou o cartão com mãos trêmulas. Era real. Papel de qualidade, logotipo em relevo, endereço no centro da cidade. O homem na frente dela não era um trabalhador honesto como ela pensava. era um dos homens mais ricos da cidade. “Eu não entendo”. A voz dela saiu mais fraca que um sussurro.
Porque mentiu? Porque fingiu ser outra pessoa? Porque quando você me conheceu, eu pude ser apenas Jefferson. Não o dono da Silva Construções. Não o cara que todo mundo quer alguma coisa. Não o homem que as mulheres só procuram pelo dinheiro. Ele se inclinou para a frente, os olhos suplicantes.
Você foi gentil comigo pelo que eu sou. Não pelo que eu tenho, mas você não é nada do que eu pensei. Você mentiu sobre tudo. Letícia sentia as lágrimas queimando nos olhos. Sobre o trabalho, sobre a vida, sobre quem você é. Não menti sobre o que importa. Não menti sobre gostar de você.
Sobre querer te conhecer melhor, sobre achar você especial. Letícia se levantou bruscamente, a cadeira raspando no chão. Algumas pessoas olharam na direção deles. Não posso fazer isso. Não posso ficar aqui ouvindo isso. Letícia, por favor. Por favor, nada. Você me fez de idiota por quase um mês. Me deixou falar sobre meus problemas, sobre ganhar salário mínimo, sobre precisar trabalhar para estudar, enquanto você é milionário. As lágrimas começaram a descer pelo rosto dela.
Como pode fazer isso comigo? Porque eu queria que você me conhecesse de verdade. Conhecer você de verdade? Você não mostrou nada verdadeiro. Tudo foi mentira. Letícia pegou a bolsa tremendo de raiva e humilhação. Você se divertiu muito, né? Vendo a pobrezinha se preocupar com R$ 3 de café. Nunca foi sobre isso. Não quero mais ouvir.
Ela se virou para sair, mas parou e olhou para trás. Sabe o que é pior, Jefferson? Eu realmente gostava de você. Gostava de quem eu pensava que você era, mas essa pessoa nunca existiu. Letícia saiu correndo do café, deixando Jefferson ali sozinho. Ela passou pelo banheiro, trancou a porta e desabou em lágrimas. Não apenas lágrimas de raiva, mas de vergonha profunda.
Como tinha sido tão ingênua? Como não percebeu os sinais? Claro que as mãos dele eram macias demais para um mecânico. Claro que tinha horários flexíveis demais. Claro que conhecia pessoas que poderiam lhe dar oportunidades de trabalho. Ele era rico, poderoso, tinha conexões e ela era apenas a atendente do café que ele achou interessante por alguns dias. Provavelmente uma distração, um entretenimento diferente da rotina dele.
Letícia se olhou no espelho do banheiro, os olhos vermelhos, o rosto manchado de lágrimas. “Idiota”, ela murmurou para si mesma. idiota completa. Quando saiu do banheiro, teve que voltar ao trabalho, atender clientes, sorrir, fingir que estava tudo bem, mas seu supervisor notou que algo estava errado.
“Letícia, você está pálida. Aconteceu alguma coisa?” “Estou bem, seu Marcos, só um pouco cansada. Que tal sair mais cedo hoje? Fernanda, pode cobrir seu turno.” Letícia aceitou. Não aguentava ficar ali no lugar onde Jefferson aparecia todos os dias. não aguentava fingir normalidade quando se sentia completamente destruída.
Em casa, ela se jogou na cama e chorou até não ter mais lágrimas. Depois ficou olhando para o teto, tentando processar o que tinha acontecido. Jefferson era rico, muito rico, e por algum motivo, tinha decidido brincar de ser pobre para se aproximar dela. Por quê? O que um milionário poderia querer com uma atendente de café? Talvez fosse fetiche. Talvez ele se divertisse seduzindo mulheres da classe trabalhadora. Talvez fosse aposta com os amigos ricos dele.
O telefone tocou. Era um número que ela não conhecia. Alô, Letícia. É o Jefferson. Por favor, não desligue. Ela quase desligou imediatamente, mas algo na voz dele a fez hesitar. O que você quer? Quero explicar de verdade, desta vez, sem mentiras. Já ouvi suas explicações. Você ouviu o começo. Deixa eu terminar. Me dá essa chance.
Letícia ficou em silêncio, dividida entre a curiosidade e a raiva. Onde você conseguiu meu número? Ela perguntou finalmente, no cadastro do café. Sei que foi invasão de privacidade, mas eu precisava falar com você. Mais uma mentira. Então você disse que era só Jefferson Silva, cara comum, mas pode mexer em cadastros de funcionários quando quer.
Letícia, sabe o que me deixa mais brava? Não é nem você ter mentido sobre ser rico, é você ter me tratado como experiência social, como se eu fosse um animal no zoológico que você queria observar. Nunca foi assim, não? Então, como foi? A raiva dela explodiu. Me explica como um milionário resolve fingir ser mecânico para conversar com uma atendente de café todos os dias? Que parte disso não é sobre você se sentir superior? Jefferson ficou em silêncio por tanto tempo que ela pensou que ele tinha desligado. “Você tem razão de estar brava”, ele disse finalmente. “Você tem razão sobre
tudo. Eu menti, eu invadi sua privacidade. Eu tratei você como como um escape da minha vida real. A honestidade brutal dele apegou de surpresa, mas nunca foi sobre me sentir superior. Foi sobre me sentir humano.” A voz dele estava embargada. Letícia, há 5 anos que toda pessoa que se aproxima de mim quer alguma coisa.
Dinheiro, favores, oportunidades. Até minha família só me procura quando precisa de alguma coisa. E isso te dá o direito de mentir para mim? Não. Não me dá. Foi egoísmo puro. Jefferson pausou. Mas você foi a primeira pessoa em anos que foi gentil comigo, sem saber quem eu era, que pagou meu café porque era a coisa certa a fazer, que falou comigo porque queria conversar, não porque queria alguma coisa.
Letícia sentiu as lágrimas voltarem. Então, quando você descobriu que eu gostava de você, decidiu continuar a farça para ver até onde conseguia me enganar? Não. Quando descobri que você gostava de mim, entrei em pânico, porque eu também estava gostando de você muito. E sabia que quando você descobrisse a verdade ia me odiar. Estava certo. Estava e mereço.
Eles ficaram em silêncio novamente. Letícia podia ouvir a respiração dele do outro lado da linha. Podia sentir a emoção real na voz dele. Mas isso não mudava o fato de que ele havia mentido para ela durante semanas. Jefferson, eu não posso fazer isso. Não posso confiar em você depois do que aconteceu. Eu sei.
Só só queria que você soubesse que os sentimentos eram reais. Tudo mais foi mentira, mas o que eu sinto por você é verdade. Como posso acreditar nisso quando tudo mais foi falso? Não pode. E eu entendo. Jefferson suspirou pesadamente. Letícia, vou deixar você em paz. Não vou mais aparecer no café. Não vou mais ligar.
Mas quero que saiba que conhecer você foi a melhor coisa que aconteceu comigo em anos e que sinto muito, muito mesmo. A linha ficou muda. Jefferson havia desligado. Letícia ficou segurando o telefone, sentindo um vazio estranho no peito. Parte dela queria acreditar que ele estava sendo sincero, que realmente se importava com ela. Mas como confiar em alguém que havia construído toda uma personagem falsa? Como saber se os sentimentos eram reais quando tudo mais foi mentira? Três semanas se passaram desde que Letícia descobriu quem Jefferson realmente era.
Três semanas de manhãs vazias, sem a expectativa de vê-lo aparecer no café. Três semanas tentando convencer a si mesma de que estava melhor sem ele, mas não estava. Por mais que tentasse odiar Jefferson pela mentira, não conseguia esquecer os momentos genuínos que haviam compartilhado, a forma como ele ouvia quando ela falava sobre os sonhos, o interesse real nos estudos dela, a gentileza que parecia vir do coração, não da carteira.
Será que aquilo tudo tinha sido fingimento? Será que um homem conseguia representar tão bem por tanto tempo? Numa quinta-feira de manhã, enquanto preparava café para os clientes habituais, Letícia ouviu uma voz familiar atrás dela. Com licença. Ela se virou e viu uma mulher elegante, uns 50 anos, bem vestida, mas não exibida.
Tinha algo familiar no rosto, mas Letícia não conseguia identificar o quê. Você é Letícia Mendes? A mulher perguntou. Sou sim. Posso ajudá-la? Meu nome é Helena Silva. Sou mãe do Jefferson. O coração de Letícia parou por um segundo. Eu, como posso ajudá-la? Gostaria de conversar com você, se possível, sobre meu filho. Letícia olhou ao redor.
O café estava relativamente vazio. Seu supervisor estava no escritório. Posso fazer uma pausa de 15 minutos? Podemos sentar ali. Elas se dirigiram para a mesinha onde Jefferson e Letícia costumavam conversar. Helena pediu um café e ficou observando Letícia por um momento antes de falar. Ele não sabe que estou aqui, Helena disse.
Na verdade, proibi ele de me procurar depois que soube o que aconteceu. Senora Helena, eu não. Deixa eu falar primeiro, por favor. Helena mexeu o açúcar no café. Jefferson me contou tudo sobre as mentiras, sobre ter fingido ser mecânico, sobre como você descobriu a verdade. Letícia assentiu sem saber o que dizer.
Também me contou sobre como você foi gentil com ele quando ele estava sem dinheiro, como vocês conversavam todos os dias, como você o fazia sentir normal. Senhora, eu prefiro não falar sobre isso. Letícia, posso te contar uma história sobre meu filho? Helena não esperou resposta. Jefferson foi criado numa família pobre. O pai dele era pedreiro, eu era faxineira.
Quando ele tinha 16 anos, o pai morreu num acidente de trabalho. Jefferson teve que assumir o sustento da casa. Letícia se surpreendeu. Não era a história que esperava ouvir. Ele trabalhava de dia e estudava de noite. Aos 18, conseguiu um emprego numa construtora pequena. Trabalhava 16 horas por dia. Aprendia tudo que podia.
Helena sorriu com orgulho. Em 5 anos, ele comprou a empresa que estava falindo e transformou numa das maiores do estado. É uma história impressionante, mas não entendo porque está me contando isso. Porque quero que você entenda de onde ele veio. Jefferson não nasceu rico. Ele construiu tudo que tem com trabalho.
Helena se inclinou para a frente, mas no caminho perdeu algo importante. Perdeu a capacidade de confiar nas pessoas. Como assim? Quando o dinheiro apareceu, as pessoas mudaram. Amigos que ele tinha desde criança começaram a pedir favores. Mulheres que nem olhavam para ele quando era pobre de repente se interessaram.
Até alguns parentes distantes apareceram querendo ajuda. Letícia começou a entender aonde Helena queria chegar. Nos últimos 5 anos, meu filho não teve uma única amizade verdadeira. Cada pessoa que se aproxima dele quer alguma coisa. Helena suspirou até que conheceu você. Mas ele mentiu para mim desde o primeiro dia. Mentiu porque estava com medo.
Medo de que você fosse como todas as outras. Helena segurou a mão de Letícia por cima da mesa. Querida, você foi a primeira pessoa em anos que foi gentil com ele sem saber quem ele era, que conversou com ele porque queria conversar, não porque queria alguma coisa. Letícia sentiu os olhos se encherem de lágrimas.
Mas como posso confiar nele depois das mentiras? Porque as únicas mentiras que ele contou foram sobre dinheiro e trabalho. Tudo mais foi verdade. O interesse nos seus estudos, a admiração pelos seus sonhos, a forma como ele se sentia bem do seu lado. Isso tudo foi real. Como a senhora pode ter certeza? Helena sorriu.
Porque conheço meu filho há 32 anos e nunca jamais ouvi falar de alguém como ele fala de você. Ele está completamente apaixonado, Letícia, e está sofrendo muito. Ele está sofrendo. Letícia não conseguiu esconder a surpresa. Não come direito há três semanas, não dorme bem. Trabalha 16 horas por dia para tentar esquecer, mas não consegue. Helena pausou.
Ontem ele me pediu para procurar você para explicar o lado dele da história. Eu recusei. Por quê? porque disse que se ele quisesse seu perdão, teria que conquistar sozinho. Mas hoje, vendo como ele está destruído, mudei de ideia. Helena segurou firme a mão de Letícia. Não estou pedindo para você perdoar ele. Estou pedindo para você pelo menos escutar.
Letícia limpou as lágrimas que começaram a descer. Eu não sei se consigo. Posso te fazer uma pergunta pessoal? Pode. Você sente falta dele? A pergunta acertou em cheio. Letícia havia passado as últimas três semanas tentando negar exatamente isso. Sinto, ela admitiu baixinho. Sinto muito.
Então, talvez valha a pena tentar, pelo menos para ter certeza dos seus sentimentos. Helena se levantou, deixou o dinheiro do café na mesa. Ele vai estar hoje à noite na oficina que mantém como hobby. Rua das Flores, 347. Das 8 às 10, ele sempre fica lá. Trabalhando em carros antigos. É o único lugar onde consegue relaxar. Por que está me contando isso? Porque meu filho merece uma chance de explicar e você merece ouvir a verdade completa antes de decidir desistir dele.
Helena se afastou, mas voltou depois de alguns passos. Letícia, posso dar um conselho de mãe? Claro, às vezes as pessoas mentem não para machucar, mas para proteger algo que valorizam muito. Jefferson mentiu porque tinha medo de perder você. Não justifica, mas explica. Naquela noite, Letícia ficou andando na frente do prédio da faculdade por uma hora, dividida entre ir para casa ou seguir o endereço que Helena havia dado. Parte dela queria esquecer Jefferson de vez, seguir em frente.
Outra parte precisava de respostas. Às 8:30, ela estava parada na frente da rua das flores. 347. Era uma oficina pequena, nada parecida com uma empresa milionária. Pela janela podia ver Jefferson debruçado sobre o motor de um Fusca antigo. Usava uma camiseta velha e jeans sujo de graxa. Pela primeira vez, parecia realmente o mecânico que havia fingido ser.
Letícia respirou fundo e entrou. O barulho da porta fez Jefferson levantar a cabeça. Quando a viu, o rosto dele passou por várias expressões. Surpresa, esperança, medo. Letícia. Ele limpou as mãos num pano claramente nervoso. Você veio. Sua mãe me procurou hoje. Jefferson fechou os olhos. Eu disse para ela não fazer isso. Ainda bem que ela não te ouviu. Eles ficaram se olhando por um momento.
Jefferson parecia ter emagrecido. Havia olheiras escuras sobre os olhos. Era óbvio que ele realmente estava sofrendo. “Você quer se sentar?”, ele perguntou, apontando para duas cadeiras de plástico. “Posso fazer um café?” Tudo bem. Enquanto Jefferson preparava o café numa cafeteira elétrica pequena, Letícia observou a oficina.
Era um espaço simples, funcional, cheio de ferramentas bem cuidadas e carros antigos em diferentes estágios de restauração. Havia fotos nas paredes. Jefferson criança com um homem que devia ser o pai, Helena Jovem, algumas conquistas de trabalho. Este lugar é real, ela disse quando ele entregou o café. É o único lugar real que eu tenho. Jefferson se sentou na outra cadeira.
Comprei quando a empresa começou a crescer, quando tudo ficou complicado demais. Sua mãe me contou sobre sua infância, sobre seu pai. Jefferson assentiu. Ela contou tudo? Contou que você veio de família pobre, que construiu tudo sozinho. É verdade. Cada tijolo daquela empresa foi colocado com suor e lágrimas. Ele suspirou, mas no processo perdi algumas coisas importantes.
Como o quê? como a capacidade de confiar nas pessoas, como a possibilidade de ter relacionamentos normais. Jefferson olhou diretamente nos olhos dela, como a coragem de ser vulnerável. Letícia sentiu o coração apertar. Jefferson, por que mentiu para mim? Porque tinha medo. Medo de que você fosse como todas as outras.
Medo de que quando soubesse quem eu era, só visse o dinheiro. Ele pausou. e medo de perder a única pessoa que me fazia sentir humano de novo. Mas você perdeu mesmo assim? Eu sei e foi culpa minha. Jefferson se inclinou paraa frente. Letícia, posso te contar algo que nunca contei para ninguém? O quê? Nos últimos 5 anos, toda vez que conhecia uma mulher, ela descobria quem eu era em questão de dias.
E a partir desse momento, a relação mudava completamente. Elas começavam a falar de restaurantes caros, viagens, joias, paravam de perguntar como eu estava e começavam a perguntar o que eu podia dar para elas. Letícia assentiu, começando a entender. Com você foi diferente. Você pagou meu café quando nem me conhecia.
Conversava comigo sobre sonhos, sobre família, sobre coisas que realmente importam. Pela primeira vez em anos, eu podia ser apenas Jefferson. Não o milionário, não o empresário, apenas eu. Mas Jefferson, eu não sou como essas outras mulheres. Se você tivesse me contado a verdade desde o início, você teria reagido diferente? A pergunta apegou de surpresa. Letícia pensou honestamente sobre isso.
Se Jefferson tivesse se apresentado como dono de uma construtora milionária no primeiro dia, ela teria reagido da mesma forma. teria sido tão natural, tão espontânea? Não sei. Ela admitiu, talvez eu ficasse intimidada. Era exatamente isso que eu tinha medo. Não queria que você me visse como inalcançável. Queria que me visse como igual. Mas somos iguais, Jefferson.
Só porque você tem dinheiro não significa que você é melhor que eu. Eu sei disso, mas a maioria das pessoas não sabe. Para a maioria das pessoas, dinheiro muda tudo. Eles ficaram em silêncio por um momento, tomando o café. Letícia. Jefferson disse finalmente, posso te pedir uma coisa? O quê? Deixa eu te mostrar quem eu realmente sou. Não o mecânico que finge ser.
Não, o empresário que tenho que ser no trabalho, o Jefferson verdadeiro, aquele que você conheceu nesses momentos quando conversávamos no café. Como? Me dá uma segunda chance. Deixa eu provar que os sentimentos eram reais, que a conexão que tivemos era verdadeira. Letícia olhou para ele, vendo a vulnerabilidade nos olhos dele. Era arriscado.
Ele havia mentido uma vez. podia mentir novamente, mas havia algo na sinceridade da voz dele, na forma como estava exposto ali na frente dela, que a fazia querer acreditar. Jefferson, se eu der essa segunda chance, precisa ser diferente. Nada de mentiras, nada de fingimentos, verdade absoluta, sobretudo, prometo. E preciso conhecer sua vida real.
Não quero ficar escondida numa oficina. Se vamos tentar isso, tem que ser de verdade. Jefferson sorriu pela primeira vez desde que ela chegou. Significa que você vai tentar. Letícia respirou fundo. Vou tentar. Mas Jefferson. Sim. Se você mentir para mim mais uma vez, é o fim. Para sempre. Não vou mentir nunca mais. Capítulo 5. O final Redentor.
Seis meses depois da conversa na oficina, Letícia estava parada na frente de um prédio comercial no centro da cidade, segurando as chaves da sua própria empresa. Mendes, consultoria administrativa, estava escrito em letras douradas na porta de vidro. Era pequena, apenas duas salas, mas era dela.
Jefferson apareceu atrás dela, carregando uma caixa de documentos. Onde quer que eu coloque isso? Na sala dos fundos. Letícia respondeu, ainda não acreditando que aquilo era real. Os últimos meses tinham sido uma montanha russa emocional. Reconstruir a confiança com Jefferson não foi fácil. Ele cumpriu a promessa de total honestidade, mas Letícia demorou para acreditar completamente.
Cada vez que ele chegava atrasado de uma reunião, ela se perguntava se era trabalho mesmo ou se havia outras mulheres. Cada vez que o telefone dele tocava, ela ficava tensa. Jefferson foi paciente com a insegurança dela. Começou a incluí-la na vida real dele gradualmente. Primeiro foram jantares simples em restaurantes próximos ao café onde ela trabalhava.
Depois ela conheceu o apartamento dele, simples, mas elegante, sem ostentação. Em seguida, Jefferson a levou para conhecer a empresa. É muito intimidante, Letícia havia dito quando entraram no prédio da Silva Construções pela primeira vez. É só trabalho, Jefferson respondeu. O que me define não é isso aqui.
Ele apresentou Letícia para os funcionários como a mulher mais importante da minha vida, sem se importar com os olhares de surpresa. Alguns sabiam que Jefferson nunca havia levado ninguém para conhecer a empresa. Eles devem estar pensando que sou interesseira. Letícia sussurrou quando passaram pela recepção. Deixa eles pensarem o que quiser. Quem importa somos nós. O ponto de virada na relação aconteceu numa terça-feira, três meses depois de se reconciliarem.
Jefferson havia prometido buscá-la na faculdade, mas não apareceu. Letícia esperou por duas horas. Ligou várias vezes, mas o telefone estava fora de área. Todas as inseguranças voltaram de uma vez. Ele havia se cansado dela, havia encontrado alguém mais interessante. As promessas de honestidade eram mentiras.
Letícia chegou em casa destruída emocionalmente, pronta para terminar tudo de vez. Quando abriu a porta do apartamento, encontrou Jefferson desmaiado no sofá com febre alta. Jefferson. Ela correu até ele, tocou a testa dele, estava queimando. Ele abriu os olhos com dificuldade. Letícia, desculpa. Tentei ligar.
Para de falar. Vamos para o hospital. Jefferson estava com uma infecção forte que o derrubou por três dias. Letícia ficou no hospital cuidando dele, vendo como ele ficava vulnerável quando doente, como chamava por ela quando estava com febre. “Por que você está aqui?”, ele perguntou numa madrugada quando a febre havia baixado.
“Como assim? Por quê? Você podia ter ido embora. Quando eu não apareci na faculdade, você podia ter pensado que eu estava mentindo de novo e ter terminado tudo. Letícia segurou a mão dele. A diferença é que agora eu te conheço de verdade. Sei que você não faria isso sem um motivo grave. Como pode ter certeza? Porque nos últimos três meses você me provou todo dia que mudou. não com palavras, mas com ações.
Foi naquele momento que Letícia percebeu que havia realmente perdoado Jefferson, que confiava nele de novo, que o amava não apesar dos erros que ele cometeu, mas incluindo eles. Duas semanas depois, Jefferson fez a proposta que mudou a vida de Letícia para sempre.
“Lembra do seu sonho de ter uma consultoria administrativa?”, ele perguntou durante um café da manhã. Lembro. Por quê? Que tal transformar em realidade? Letícia riu. Jefferson, a gente já conversou sobre isso. Eu não posso aceitar dinheiro seu. Não estou oferecendo dinheiro de graça. Estou oferecendo uma sociedade. Como assim? Jefferson se inclinou para a frente animado.
A Silva Construções tem contato com centenas de pequenas empresas, fornecedores, prestadores de serviço, comerciantes locais. Muitos têm exatamente os problemas que você quer resolver. Que tal se você abrisse uma consultoria e eu indicasse clientes para você? Mas eu não tenho capital inicial. Eu financio os primeiros se meses: aluguel, equipamentos, divulgação.
Você paga de volta quando a empresa estiver lucrando. Se não der certo, considera como presente de namoro. Letícia ficou em silêncio, processando a proposta. É diferente de aceitar dinheiro emprestado. Jefferson continuou. É uma parceria de negócios. Eu ganho porque tenho uma consultora para indicar aos meus parceiros.
Você ganha porque realiza seu sonho. E se não dar certo? Se eu não conseguir pagar de volta, aí você me deve alguns jantares e a gente segue em frente. Letícia aceitou a proposta depois de muito pensar. Não porque queria o dinheiro de Jefferson, mas porque viu que ele estava oferecendo a oportunidade que ela sempre sonhou ter. Agora, se meses depois, estava na porta da própria empresa.
Nos primeiros três meses, havia conseguido 15 clientes fixos. No quarto mês, teve que contratar uma assistente. No quinto, já estava com lista de espera. “Não acredito que consegui”, ela murmurou, passando os dedos pelas letras douradas na porta. Eu sempre soube que conseguiria, Jefferson disse, voltando da sala dos fundos. A única pessoa que duvidava era você mesma.
Letícia se virou para ele, os olhos brilhando de emoção. Jefferson, eu consegui pagar o empréstimo todo no mês passado. Eu sei, recebi o depósito. Ele sorriu orgulhoso. Também vi que você doou o mesmo valor para um fundo de bolsas de estudo. Como você soube? Conheço você, Letícia.
Sabia que a primeira coisa que faria quando tivesse condições seria ajudar outras pessoas como sua mãe te ajudou. Era verdade. No mês anterior, quando viu que a empresa estava realmente lucrando, Letícia havia criado um pequeno fundo para ajudar jovens de baixa renda a pagarem a faculdade. Era pouco dinheiro ainda, mas suficiente para cobrir as mensalidades de três estudantes. Sua mãe ligou ontem.
Jefferson disse arrumando alguns papéis na mesa da recepção. Está vindo para a inauguração? Está sim. Ela não para de chorar de orgulho ao telefone. Letícia riu, mas seus próprios olhos estavam marejados. Disse que meu pai ficaria muito feliz se estivesse aqui. Tenho certeza de que ficaria.
Eles trabalharam juntos, organizando o espaço para a pequena festa de inauguração que Jefferson havia insistido em organizar. Não seria nada grande, apenas alguns amigos, a família de Letícia, alguns clientes e funcionários da Silva Construções. Jefferson, Letícia disse quando estavam pendurando uma placa na parede. Posso te perguntar uma coisa? Claro. Por que você fez tudo isso? E não me venha com a desculpa de parceria de negócios. Você podia ter arranjado uma consultora experiente, se quisesse.
Jefferson parou o que estava fazendo e olhou para ela. Porque você merecia a chance que nunca teve. Porque vi seu potencial desde o primeiro dia que conversamos. E porque ele hesitou? Porque o quê? Porque queria que você soubesse que eu acredito em você. Não no que você pode fazer por mim, mas no que você pode fazer pelo mundo. Letícia sentiu o coração acelerar. Jefferson.
Letícia, tem outra coisa que quero te falar. Antes que ela pudesse responder, Jefferson se ajoelhou no chão da sala comercial, tirando uma pequena caixa do bolso. Letícia cobriu a boca com as mãos, sem acreditar no que estava vendo. Letícia Mendes, você mudou minha vida desde o dia que pagou o meu café sem me conhecer.
me ensinou que existem pessoas genuínas no mundo, que é possível amar e ser amado de verdade. A voz dele tremeu ligeiramente. Quer se casar comigo? Letícia olhou para Jefferson ajoelhado ali no meio da empresa que eles haviam construído juntos e viu não o milionário que ele era, mas o homem que havia se tornado.
Alguém que a apoiava sem querer controlá-la, que acreditava nos sonhos dela tanto quanto nos próprios, que havia aprendido a ser vulnerável novamente. “Sim”, ela sussurrou depois mais alto. “Sim, eu quero.” Jefferson colocou o anel no dedo dela. simples, elegante, nada exagerado, e se levantou para beijá-la. Era um beijo que carregava toda a jornada que haviam percorrido juntos.
As mentiras, o perdão, a reconstrução da confiança, o amor verdadeiro que havia nascido no meio do caos. “Tem mais uma coisa,” Jefferson disse quando se separaram, “Mas não aguento mais surpresas hoje.” Ele riu e entregou para ela um envelope lacrado. “Abre!” Letícia abriu o envelope e tirou um documento oficial. Era a escritura de transferência da empresa.
A Mendes, consultoria administrativa, estava sendo transferida inteiramente para o nome dela, sem nenhuma participação de Jefferson. Eu não entendo. A empresa é sua, Letícia. sempre foi. Você que construiu, você que fez dar certo, você que conquistou os clientes. Eu só ajudei com o dinheiro inicial que você já pagou de volta. Mas Jefferson, você podia ficar como sócio. Não quero ser sócio.
Quero ser seu marido. Quero que você tenha algo que é completamente seu, que ninguém pode dizer que você conseguiu por ser mulher de empresário rico. Letícia começou a chorar. Não lágrimas de tristeza, mas de uma gratidão tão profunda que não conseguia expressar em palavras. Jefferson havia não apenas acreditado nela, mas dado a ela todas as ferramentas necessárias para provar para si mesma do que era capaz.
“Obrigada”, ela conseguiu dizer entre as lágrimas. “Por tudo, obrigado eu, por me dar uma segunda chance, por me ensinar que ainda existem pessoas boas no mundo. A festa de inauguração foi pequena, mas perfeita. Helena chorou quando viu como Jefferson olhava para Letícia. A mãe de Letícia não parava de repetir que nunca havia visto a filha tão feliz.
Os clientes da consultoria fizeram questão de contar para todo mundo como Letícia havia salvado os negócios deles. “Para Jefferson e Letícia”, disse seu Marcos, o supervisor do café, que havia se tornado um amigo querido, que nos provaram que às vezes as melhores histórias começam com um simples gesto de gentileza.
Seis meses depois, Letícia e Jefferson se casaram numa cerimônia simples, no mesmo café onde se conheceram. A dona do estabelecimento fez questão de fechar para clientes normais e receber apenas a família e amigos íntimos do casal. “É aqui que tudo começou”, Letícia disse para Jefferson enquanto esperavam o padre chegar. “Na verdade, tudo começou no seu coração.
” Jefferson respondeu: “No momento que você decidiu ser gentil com um estranho e no seu, quando decidiu ser honesto comigo de verdade, eles trocaram votos simples, mas profundos. Jefferson prometeu nunca mais mentir, nunca mais tentar ser quem não era. Letícia prometeu nunca mais deixar o medo impedir ela de amar completamente.
Vocês dois nos ensinaram algo importante, disse Helena durante o discurso de madrinha, que não importa quanto dinheiro você tem ou deixa de ter, o que importa é ter um coração generoso e a coragem de ser vulnerável com quem você ama. Hoje, três anos depois do casamento, Letícia administra uma das consultorias mais respeitadas da região.
Tem 15 funcionários e uma lista de espera de 6 meses. O fundo de bolsas de estudo que criou já ajudou mais de 50 jovens a se formarem. Jefferson continua tocando a Silva Construções, mas mudou a forma como trabalha. implementou programas sociais na empresa, criou um projeto de habitação popular, passou a contratar muito mais mulheres para cargos de liderança.
“Você me fez querer ser uma pessoa melhor”, ele disse para Letícia numa manhã, quando estavam tomando café na cozinha da casa que compraram juntos. “Você sempre foi uma pessoa boa, Jefferson. Só estava escondido debaixo de tanto medo. E você me ajudou a encontrar coragem para ser quem realmente sou. Eles ainda vão ao café da manhã toda sexta-feira. Sentam na mesma mesinha onde costumavam conversar quando se conheceram.
Às vezes, Letícia olha para Jefferson bebericando café e se lembra da primeira vez que o viu, constrangido por ter esquecido a carteira. Nunca imaginou que R$ 3 gastos num gesto de gentileza pudessem mudar duas vidas para sempre. Que uma mentira pudesse levar a uma verdade tão profunda, que o amor verdadeiro pudesse nascer no lugar mais improvável. No que está pensando? Jefferson pergunta sempre que a pega perdida em pensamentos.
Em como a vida é engraçada, ela responde, em como às vezes a melhor coisa que pode acontecer para a gente disfarça de tragédia. Você se refere ao dia que descobriu que eu estava mentindo? Me refiro ao dia que você esqueceu a carteira. Letícia sorri. Se você tivesse dinheiro naquela manhã, talvez nunca tivéssemos conversado.
Jefferson pega a mão dela por cima da mesa, brinca com a aliança de casamento. Então, obrigado ao universo por me fazer esquecer a carteira e obrigada ao universo por me dar coragem de pagar o café de um estranho. Do lado de fora do café, a cidade continua acordando. Pessoas com pressa, problemas para resolver, sonhos para perseguir.
E no meio de toda essa correria, duas pessoas que aprenderam que às vezes a coisa mais simples, como pagar o café de alguém que precisa, pode ser o início de algo extraordinário. Ja.
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