Ela estava ali encharcada da cabeça aos pés, pingando água no chão de mármore da recepção. Quando ele a viu pela primeira vez, Roberto não fazia ideia que aquela mulher mudaria sua vida para sempre. Sueli Oliveira estava parada na chuva torrencial da Avenida Paulista, segurando a pasta de documentos contra o peito, como se fosse um escudo.
O céu cinzento despejava a água como se quisesse lavar toda a cidade e ela não tinha guarda-chuva, não tinha dinheiro para táxi, não tinha mais nada além daquela oportunidade que tinha conseguido depois de 4 meses desempregada. A entrevista na Corporação Montenegro era às 2 da tarde e já passavam 10 minutos.
Ela olhou para o prédio espelhado de 30 andares, que se erguia imponente na sua frente, com sua fachada moderna que refletia as nuvens carregadas. Era o tipo de lugar onde pessoas como ela normalmente só entravam para fazer limpeza. “Não posso desistir agora”, ela murmurou para si mesma, apertando o passo mesmo com os sapatos, fazendo barulho de esponja molhada a cada pisada.
A blusa verde, que tinha escolhido especialmente para a entrevista estava completamente encharcada, grudada no corpo de uma forma que a deixava constrangida. O cabelo escuro escorria a água pelo rosto, misturando com as lágrimas de frustração que ela tentava segurar. Quando empurrou a porta giratória do lobby, uma rajada de ar condicionado a atingiu como um tapa gelado.
Sueli parou por um momento, pingando água no piso de mármore italiano, e sentiu todos os olhares se voltarem para ela. A recepcionista loira, impecavelmente arrumada em seu blazer azul marinho, a encarou com uma mistura de horror e desdém. “Posso ajudá-la?”, a pergunta saiu em um tom que deixava claro que a última coisa que ela queria era ajudar. Tenho entrevista marcada com o Dr.
Roberto Montenegro, Sueli Oliveira. Ela tentou soar confiante, mas sua voz saiu um pouco trêmula. A recepcionista digitou algo no computador com uma lentidão deliberada, os olhos percorrendo suelida cabeça aos pés com desaprovação óbvia. Está 15 minutos atrasada e está molhada.

Eu sei que não estou apresentável, mas posso explicar, senhorita. Este é um ambiente corporativo sério. Talvez seja melhor remarcar quando puder se apresentar adequadamente. Sueli sentiu o coração despedaçar. Três meses de procura, dezenas de currículos enviados. Essa era sua primeira oportunidade real em uma empresa de verdade. E estava sendo dispensada antes mesmo de ter a chance de mostrar do que era capaz.
“Por favor”, ela disse. A voz quase um sussurro. Eu vim de Osasco, debaixo de chuva, porque esta vaga significa tudo para mim. Sei que minha aparência não está ideal, mas posso garantir que minha qualificação sim. No elevador panorâmico que descia do 30º andar, Roberto Montenegro ajustava a gravata italiana enquanto observava a movimentação na recepção lá embaixo.
Aos 35 anos, ele havia herdado o império empresarial do pai e transformado a Montenegro Corp numa das consultorias mais respeitadas do país. era acostumado a ter controle total sobre tudo ao seu redor, mas quando seus olhos pousaram na mulher encharcada, discutindo com sua recepcionista, algo mudou. Havia uma determinação na postura daquela mulher que o intrigou.
Ela estava claramente em desvantagem, mas não havia se curvado, não havia saído correndo. Roberto mudou de direção e, em vez de seguir para a garagem, desceu direto para o térrio. Quando as portas do elevador se abriram, ele ouviu os últimos fragmentos da conversa. Sinto muito, mas não posso permitir que suba nessas condições. A recepcionista estava dizendo.
Qual é o problema aqui? A voz de Roberto cortou o ambiente como uma lâmina, fazendo tanto a recepcionista quanto Sueli se virarem simultaneamente. Sueli levantou os olhos e encontrou o olhar mais intenso que já tinha visto na vida. Roberto Montenegro era ainda mais imponente pessoalmente do que nas fotos dos jornais de negócios.
Alto, ombros largos, terno perfeitamente cortado, cabelo escuro, penteado com precisão. Mas foram os olhos que a pegaram de surpresa. Não eram frios como ela esperava, eram curiosos. Dr. Montenegro. A recepcionista se endireitou imediatamente. Esta senhora chegou atrasada e molhada para uma entrevista. Estava explicando que seria melhor remarcar. Sueli Oliveira.
Roberto interrompeu, olhando diretamente para ela. Sim, senhor. Sueli tentou se endireitar, mesmo pingando água no chão. Roberto observou a situação por um momento que pareceu durar uma eternidade. Viu a pasta de documentos que ela segurava com tanta força que os nós dos dedos estavam brancos. Viu a determinação nos olhos dela, mesmo com a situação constrangedora.
viu algo que reconheceu. Fome de oportunidade. Carla, ele se dirigiu à recepcionista sem tirar os olhos de Sueli. Providencie uma toalha e veja se há algum blazer reserva no departamento de RH. Mas, senhor, agora o Tom não admitia a discussão. Roberto estendeu a mão para Sueli. Venha comigo.

Sueli hesitou por uma fração de segundo. Estava acontecendo rápido demais. Era generoso demais. Homens como Roberto Montenegro não costumavam dar segundas chances para pessoas como ela. “Obrigada”, ela disse, pegando a mão estendida dele. O toque foi elétrico. Roberto sentiu isso também. Foi apenas um aperto de mão, profissional, mas havia algo ali que nenhum dos dois esperava. No elevador, Roberto quebrou o silêncio. Veio de onde? Osasco.
Três ônibus e 40 minutos de chuva. e chegou 15 minutos atrasada. O último ônibus quebrou. Caminhei os 2 quetros finais. Roberto a estudou pelo reflexo no espelho do elevador. A blusa verde molhada marcava seu corpo de uma forma que ele tentou ignorar, mas não conseguiu ignorar a postura dela.
Mesmo ensopada, mesmo claramente fora do seu elemento, ela mantinha a cabeça erguida. Por que esta vaga? Porque preciso dela? A honestidade crua da resposta o surpreendeu. Estou desempregada há 4 meses. Tenho uma filha de 7 anos e contas para pagar, mas também porque estudei para isso. Administração pela PUC, especialização em gestão de projetos, inglês fluente. Sei que posso contribuir.
Tem experiência? 3 anos na Petrocorp, antes de fecharem a filial de São Paulo. Gerenciei a transição de 70 funcionários e mantive todos os projetos no prazo durante o processo. Roberto assentiu. Conhecia a Petrocorp, sabia que havia sido uma situação difícil. E por que não conseguiu outro emprego imediatamente? Sueli hesitou.
Era a pergunta que todos faziam e a resposta nunca soava boa. Mercado difícil. E algumas empresas ficaram com receio por causa da Petrocorp, como se a falência fosse culpa dos funcionários. O elevador parou no 20º andar. Roberto aguiou através de um corredor de vidro que dava vista para a cidade.
Mesmo molhada e constrangida, Sueli não conseguiu esconder a admiração pela vista espetacular. Nunca tinha visto São Paulo de tão alto”, ela admitiu. “A perspectiva muda tudo”, Roberto respondeu. E tinha a impressão de que não estava falando apenas sobre a vista.
Na antissala do escritório dele, Carla apareceu com uma toalha felpuda e um blazer azul marinho. “É o que tínhamos disponível, senhor.” “Perfeito, Sueli. Use o banheiro executivo ali para se secar. Quando estiver pronta, nos encontre sala de reuniões. Quando Sueli apareceu no banheiro, Carla se aproximou de Roberto com expressão preocupada.
Senhor, não acha que está sendo flexível demais? A empresa tem padrões. Os padrões da empresa são meus para definir. Roberto a interrompeu. E estou interessado em competência, não em quem teve sorte de não pegar chuva. 10 minutos depois, Sueli entrou na sala de reuniões transformada.
O blazer ficava um pouco largo, mas combinava perfeitamente com a blusa verde agora seca. Ela havia conseguido domar o cabelo em um coque improvisado e recuperado a compostura. Roberto se surpreendeu pensando que ela era bonita. Mais que bonita. Havia uma luz nos olhos dela que despertava sua curiosidade. “Melhor?”, ela perguntou com um sorriso pequeno. “Muito melhor. Agora me fale sobre o projeto Exodos na Petrocorp.
” A pergunta apegou de surpresa. O projeto Exodus havia sido confidencial, uma iniciativa complexa de reestruturação que poucos conheciam os detalhes. Se Roberto estava perguntando sobre isso, significava que ele havia feito o dever de casa sobre ela. Como o senhor soube sobre o Exodos? Tenho meus contatos e sei que foi você quem coordenou a migração de dados quando os sistemas colapsaram. Sueli se endireitou na cadeira.
Finalmente estava em território familiar. Foram três semanas sem dormir direito. Tínhamos que migrar 15 anos de dados históricos sem perder uma única informação, enquanto mantínhamos as operações funcionando. E conseguiram, conseguimos. Zero perda de dados, zero tempo de inatividade para os clientes. Foi o projeto mais desafiador da minha carreira. Roberto se inclinou para a frente, genuinamente interessado.
Durante 20 minutos, eles discutiram detalhes técnicos, soluções criativas, gestão de crise. Sueli falava com paixão sobre o trabalho, gesticulava ao explicar processos complexos e Roberto se viu completamente absorto. Era a primeira vez em anos que alguém falava com ele sobre trabalho sem bajulação ou segundas intenções.
Sueli não estava tentando impressioná-lo com jargões corporativos ou buzws, estava simplesmente compartilhando sua experiência com honestidade e competência. “Suele”, ele disse quando ela terminou de explicar um processo particularmente complexo. “Por que deveria contratá-la?”, a pergunta pegou ela desprevenida.
Depois de toda a conversa técnica, era uma pergunta surpreendentemente direta. “Porque o senhor não está contratando apenas uma funcionária?”, Ela disse após um momento de reflexão. Está contratando alguém que entende que cada projeto é uma oportunidade de fazer a diferença. Alguém que chega molhada na chuva, mas não desiste. Alguém que vai tratar esta empresa como se fosse sua própria.
Roberto ficou em silêncio por um longo momento, apenas observando ela. Havia algo em Sueli que despertava não apenas interesse profissional, mas algo mais profundo. Uma conexão que ele não sentia há muito tempo. A vaga é de gerente de projetos especiais”, ele disse finalmente. Salário inicial de 12.000, participação nos lucros, plano de saúde completo.
Interessada? Sueli piscou várias vezes, como se não tivesse certeza de que havia ouvido certo. 12.000 era o dobro do que ela ganhava na Petrocorp. Eu sim, muito interessada. Ótimo. Começa segunda-feira. Roberto se levantou e estendeu a mão novamente. Desta vez, o aperto durou um pouco mais que o necessário. “Obrigada”, Sueli, disse, a voz embargada de emoção.
“O senhor não vai se arrepender.” “Sei que não, Roberto” respondeu. E percebia que estava falando sobre muito mais que trabalho. Quando Sueli saiu do prédio, a chuva havia parado e o sol começava a aparecer entre as nuvens. Ela olhou para trás para o prédio espelhado da Montenegro Corp e sorriu.
Pela primeira vez em meses sentia esperança. No 30º andar, Roberto permaneceu na janela, observando ela atravessar a praça. Havia algo em Sueli Oliveira que havia desperto algo dentro dele que pensava estar morto. E pela primeira vez em muito tempo, estava ansioso para segunda-feira chegar. Segunda-feira, 7:30 da manhã.
Sueli estava no lobby da Montenegro Corp com 45 minutos de antecedência, vestindo seu melhor terno azul marinho e segurando uma pasta de couro que havia comprado no sábado com o último dinheiro que tinha. Desta vez não estava chovendo. Desta vez ela tinha controle da situação. A mesma recepcionista loira da semana anterior a cumprimentou com um sorriso forçado.
Bom dia, senrita Oliveira. O doutor Montenegro. à espera no 20º andar. Sueli a sentiu educadamente, mas percebeu o tom de desaprovação mal disfarçado. Era óbvio que a notícia da sua contratação havia se espalhado e nem todos estavam felizes com a decisão do patrão. No 20º andar, Roberto a esperava acompanhado de uma mulher elegante de meia idade, cabelos grisalhos presos em um coque impecável e óculos de grife.
Sueli, esta é Beatriz Campos, nossa diretora de recursos humanos. Ela vai orientá-la nos primeiros dias. Beatriz estendeu a mão com um sorriso profissional. Bem-vinda a Montenegro Corp. Tenho certeza de que será uma experiência interessante para todos nós. O tom da frase deixou Sueli alerta. Havia algo ali que não era apenas educação corporativa. Sua mesa fica na sala de projetos especiais.
Beatriz continuou guiando-a pelo corredor. Você trabalhará diretamente com a equipe que coordena os contratos mais complexos da empresa. Quando entraram na sala, cinco pessoas levantaram os olhos dos computadores simultaneamente, dois homens de terno, duas mulheres impecavelmente vestidas e um rapaz mais jovem que parecia estar fazendo um estágio. O silêncio foi constrangedor.
Pessoal, esta é Sueli Oliveira, nossa nova gerente de projetos especiais. Beatriz anunciou. Ela vem da Petrocorp e assumirá alguns dos casos mais desafiadores. Um dos homens, um moreno alto com óculos de armação moderna, se levantou. Fernando Carvalho, coordenador geral da equipe. O aperto de mão foi firme, mas o sorriso não chegou aos olhos.
Interessante contratação. Não tivemos participação no processo seletivo. O Dr. Montenegro fez questão de conduzir pessoalmente. Beatriz respondeu rapidamente. Sueli, sua mesa é aquela no canto. A mesa indicada era claramente a pior da sala. Ficava de costas para a janela, sem vista, espremida entre um arquivo e a impressora.
Mas Sueli não reclamou. Havia trabalhado em lugares piores. Alguma pergunta? Beatriz perguntou: “Gostaria de saber sobre os projetos atuais. Quanto mais rápido eu entender o contexto, mais rápido posso contribuir.” Fernando trocou um olhar com uma das mulheres. Claro, vamos começar devagar.
Que tal você revisar estes relatórios? Ele deixou cair uma pilha de documentos na mesa dela. São análises de mercado dos últimos seis meses. Nada muito complexo. Sueli foliou rapidamente os relatórios. eram análises básicas o tipo de trabalho que um estagiário faria. Estava claro que não queriam dar nada importante para ela fazer. “Perfeito”, ela disse com um sorriso.
“Vou analisar tudo e preparar um relatório consolidado com recomendações estratégicas.” Fernando piscou surpreso. Não era a reação que esperava. Durante a manhã, Sueli trabalhou em silêncio, ignorando os olhares curiosos e os sussurros dos colegas.
Ela sabia que estava sendo testada, que estavam esperando ela tropeçar, mas havia sobrevivido ao colapso da Petrocorp e criado uma filha sozinha. Aguentaria uns colegas de trabalho hostis. Na hora do almoço, ela ficou na mesa comendo um sanduíche que trouxera de casa enquanto terminava de ler os relatórios. foi quando percebeu algo interessante. Havia uma inconsistência nos dados de três clientes diferentes, uma discrepância sutil que aparecia apenas quando se comparava os relatórios lado a lado.
“Trabalhando durante o almoço?” A voz de Roberto a fez levantar a cabeça. “Doutor Montenegro, não ouvi o senhor chegar. Roberto, está bom. Somos colegas agora.” Ele puxou uma cadeira e se sentou ao lado dela. Como está sendo o primeiro dia? Sueli hesitou. Não queria parecer que estava reclamando, mas também não queria mentir. Interessante. Estou aprendendo sobre a dinâmica da equipe.
Roberto assentiu. Ele conhecia bem o Fernando e sabia exatamente o que estava acontecendo. E o que achou dos relatórios? Na verdade, encontrei algo curioso. Sueli pegou três relatórios e os espalhou na mesa. Olhe estes números de crescimento dos clientes Anderson, Silva em Associados e Moret Corp.
Roberto se inclinou para ver melhor e Sueli percebeu o perfume masculino dele, discreto, mas marcante. Os três relatórios mostram crescimento consistente nos últimos seis meses. Ela continuou. Mas quando cruzo com os dados de faturamento, há uma diferença de quase 20%. Ou os dados de crescimento estão inflados, ou estamos perdendo receita em algum lugar.
Roberto estudou os números por alguns minutos. Sueli estava certa. Era uma discrepância sutil que exigia análise cuidadosa para ser detectada, mas estava lá. Excelente observação ele disse. Há quanto tempo Fernando e a equipe trabalham com esses dados? Pelos carimbos. cerca de se meses. E você encontrou isso em 4 horas. Sueli deu de ombros.
Experiência em auditoria. Na Petrocorp, eu ficava responsável por identificar inconsistências antes que virassem problemas maiores. Roberto sorriu. Era exatamente por isso que a havia contratado. Pode preparar um relatório detalhado sobre essa discrepância? Quero apresentar na reunião de quinta-feira. Claro.
Vai precisar de acesso aos dados originais de faturamento. Vou providenciar. Roberto se levantou para ir embora, mas parou. Sueli, sei que não é fácil ser a nova numa equipe estabelecida, mas você está aqui porque tem competência para estar. Não deixe ninguém fazê-la esquecer disso. O resto da tarde passou mais tranquilo. Sueli mergulhou na análise dos dados, cruzando informações, criando planilhas, montando gráficos que ilustrassem claramente a discrepância que havia encontrado.
Era o tipo de trabalho que adorava, detalhado, analítico, que exigia raciocínio lógico. Às 5:30, quando a maioria das pessoas já estava arrumando as coisas para ir embora, Fernando se aproximou da mesa dela. Ainda trabalhando? O expediente acaba às 5, só terminando uma análise, mais 15 minutos. Fernando olhou para a tela do computador dela, tentando entender o que ela estava fazendo.
Isso não são os relatórios que dei para você revisar, são. Mas encontrei algumas inconsistências que merecem investigação mais profunda. Que inconsistências? O tom dele ficou defensivo. Sueli se virou na cadeira para encará-lo. Discrepâncias entre dados de crescimento e faturamento real. Nada grave, provavelmente apenas erro de digitação ou metodologia diferente. Esses relatórios foram aprovados pela diretoria.
São dados consolidados e confiáveis. Tenho certeza de que são. Só estou fazendo um trabalho mais minucioso. Fernando cruzou os braços. Sueli, você está aqui há um dia. Talvez seja melhor conhecer nossos processos antes de questionar trabalhos que levaram meses para serem concluídos. Você tem razão. Ela respondeu calmamente. Desculpe se pareceu que estava questionando.
Só estou tentando entender melhor nossos clientes. Fernando a sentiu satisfeito e se afastou. Mas Sueli continuou trabalhando. Havia prometido um relatório para Roberto e ia entregá-lo. Na quinta-feira de manhã, Roberto convocou uma reunião extraordinária da diretoria. Sueli foi chamada para apresentar suas descobertas.
Quando entrou na sala de reuniões principal, sentiu todas as conversas cessarem. A mesa era ocupada por oito pessoas: Roberto na cabeceira, Beatriz de RH, Fernando e sua equipe, dois diretores que ela não conhecia, e uma mulher elegante de cabelos loiros, que observou Sueli com um interesse especial. Pessoal, Sueli descobriu algo interessante nos relatórios de crescimento.
Roberto anunciou: “Sueli, pode nos mostrar o que encontrou?” Durante 15 minutos, Sueli apresentou sua análise, mostrou gráficos, tabelas comparativas, projeções de impacto financeiro. Explicou metodicamente como havia chegado às suas conclusões, mantendo o tom profissional, mesmo sentindo atenção crescente na sala.
Em resumo, ela concluiu, temos uma diferença de aproximadamente R$ 300.000 em receita prevista versus receita real nos últimos se meses. Recomendo a auditoria completa desses três clientes. O silêncio que se seguiu foi tenso. Fernando estava visivelmente irritado.
Uma das mulheres da equipe dele parecia constrangida e Beatriz tomava notas com expressão neutra. São acusações muito graves, Fernando disse finalmente. Está sugerindo que nossa equipe é incompetente? Absolutamente não. Sueli respondeu. Estou sugerindo que temos uma oportunidade de identificar e corrigir um problema antes que ele se torne maior. A mulher loira se manifestou pela primeira vez. Dr.
Montenegro, posso fazer algumas perguntas para a senorita Oliveira? Roberto assentiu. Sueli, esta é Dra. Patrícia Vasconcelos. Nossa auditora externa Senrita Oliveira, sua análise é impressionante, mas como tem certeza de que não é apenas diferença de metodologia entre relatórios? Por que cruzei com dados de pagamento real dos clientes? Sueli respondeu. Não é metodologia, é discrepância factual.
Patrícia sorriu. Muito bem, Roberto. Ela está certa. Já havíamos identificado essa inconsistência, mas ainda não tínhamos apresentado nossos achados. A sala ficou em silêncio absoluto. Fernando pareceu empalidecer. Ou seja, Roberto disse lentamente. Sueli em quatro dias identificou um problema que nossa auditoria levou meses para encontrar.
Exatamente, Patrícia confirmou. E as recomendações dela são precisas. Precisamos investigar esses três clientes imediatamente. Quando a reunião terminou, Sueli voltou para sua mesa com a sensação de que havia cruzado uma linha invisível. tinha provado sua competência, mas também havia constrangido pessoas que agora teriam que trabalhar com ela todos os dias.
Fernando passou por sua mesa sem cumprimentá-la. Uma das mulheres da equipe dele murmurou algo sobre querer aparecer quando passou, mas Roberto se aproximou com um sorriso genuíno. Excelente trabalho. Patrícia ficou impressionada. Obrigada. Espero não ter criado problemas desnecessários. Problemas desnecessários são aqueles que ignoramos até virarem crises.
Roberto disse. Você acabou de economizar R$ 300.000 para a empresa. Acho que merece mais que a mesa do canto. Na segunda-feira seguinte, Sueli encontrou sua mesa reorganizada. Agora ficava de frente para a janela, com vista para a cidade, e tinha um computador novo. Uma plaquinha dourada com seu nome estava posicionada na frente.
“Nova disposição”, Fernando comentou secamente quando chegou. Parece que sim, Sueli respondeu, mantendo o tom neutro, mas quando ligou o computador encontrou um e-mail de Roberto. Parabéns pelo excelente trabalho. Gostaria de discutir novos projetos com você. Pode almoçar comigo hoje? Sueli olhou ao redor da sala.
Fernando fingia estar concentrado na tela, mas ela sabia que ele estava prestando atenção. A dinâmica estava mudando e todos sabiam disso. Ela digitou a resposta: “Será um prazer”. E pela primeira vez, desde que começara a trabalhar ali, Sueli sorriu genuinamente. Estava começando a encontrar seu lugar. O restaurante Terraço estava no último andar do edifício comercial mais exclusivo da Faria Lima.
Sueli nunca tinha estado em um lugar tão elegante. Garçons de luvas brancas, talheres de prata, vista panorâmica da cidade. Era o tipo de ambiente onde pessoas como Roberto Montenegro almoçavam todos os dias e onde pessoas como ela só entravam para servir. “Nervosa?”, Roberto perguntou quando se sentaram à mesa reservada junto à janela. Um pouco.
Sueli admitiu, ajeitando o guardanapo no colo. Não estou acostumada com isso. Com almoços de trabalho. Com almoços de trabalho em restaurantes onde o prato mais barato custa mais que meu salário de um dia na Petrocorp. Roberto riu. E foi um som genuíno que aqueceu o peito de Sueli. Você tem uma honestidade refrescante. A maioria das pessoas fingiria que frequenta lugares assim todos os dias.
Não vejo sentido em fingir ser quem não sou”, ela disse, observando a cidade lá embaixo. “Minha filha sempre diz que mentira tem perna curta. Você tem uma filha?” Não era pergunta. E Roberto pareceu interessado de verdade. Isabela, 7 anos, inteligente como um chicote e teimosa como uma mula. Sueli sorriu ao falar da menina.
Está com minha vizinha agora. Dona Carmen cuida dela quando estou trabalhando. E o pai? A pergunta pegou Sueli desprevenida. Roberto percebeu imediatamente que havia tocado num ponto sensível. Desculpe, não devia ter perguntado. Não, tudo bem. Sueli respirou fundo. Ele saiu quando soube da gravidez. Disse que era muito jovem para responsabilidades. Eu tinha 23 anos na época.
Deve ter sido difícil. Foi, mas Isabela vale cada dificuldade. Sueli olhou diretamente para Roberto. E você, família? Roberto hesitou. Era a primeira vez em anos que alguém lhe fazia essa pergunta sem segundas intenções, sem estar calculando vantagens. Não, nunca me casei. Estive noivo por dois anos, mas terminou no ano passado.
Posso perguntar por quê? Ela queria se casar com o Roberto Montenegro, CEO da Montenegro Corp. Não comigo, Roberto, pessoa. Suelia sentiu com compreensão. Entendo. Deve ser difícil saber quando as pessoas gostam de você de verdade ou só do que você representa. Exato. Roberto a estudou com interesse crescente. Como você faz isso? O quê? Falar como se me conhecesse há anos.
A maioria das pessoas fica intimidada. Ou quer algo de mim ou tenta me impressionar. Talvez porque não tenho nada a perder. Sueli disse com um sorriso pequeno. Já perdi emprego, casa, dignidade. O que mais pode acontecer? O garçom se aproximou para anotar o pedido. Roberto pediu o salmão grelhado sem nem olhar o cardápio.
Sueli estudou as opções rapidamente, tentando demonstrar choque com os preços. O risoto de camarão, por favor.” Ela disse finalmente. Quando o garçom se afastou, Roberto se inclinou para a frente. “Sueli, quero falar sobre um projeto especial. Claro, temos um cliente potencial muito importante, Grupo Santander Internacional.
Querem contratar consultoria para reestruturação completa das operações na América Latina.” Sueli Piscou. O grupo Santander era uma das maiores corporações do continente. É um contrato de 20 milhões de reais por 3 anos. Roberto continuou. O maior da história da Montenegro Corp. Nossa, e eu quero que você lidere o projeto. Sueli quase derrubou o copo d’água.
Eu, Roberto, trabalho na empresa há duas semanas. e em duas semanas identificou um problema que nossa equipe veterana não viu em seis meses. Preciso de alguém com seu olhar analítico. Mas Fernando tem muito mais experiência. Fernando é competente, mas previsível. O Santander já trabalhou com dezenas de consultorias previsíveis. Querem algo diferente.
Sueli ficou em silêncio por um momento, processando a proposta. Era uma oportunidade incrível, mas também assustadora. Por que eu? Ela perguntou finalmente, porque você pensa diferente? Porque não tem vícios corporativos? Porque é brilhante? Roberto fez uma pausa.
E porque confio em você? O almoço chegou, mas nenhum dos dois estava prestando muita atenção na comida. A conversa fluía naturalmente entre trabalho e assuntos pessoais. Roberto contou sobre a pressão de dirigir uma empresa que o pai havia construído, sobre a solidão de não saber se as pessoas gostavam dele ou do seu dinheiro.
Sueli falou sobre as dificuldades de ser mãe solteira, sobre os sonhos que teve que adiar para sobreviver. “Você já quis fazer algo diferente?”, Sueli perguntou. “Além da empresa?” “Sempre quis escrever.” Roberto admitiu. Ficção, romances policiais. “Sério, Sueli?” sorriu. “Já escreveu alguma coisa?” “Tenho alguns rascunhos guardados, nada que prestasse.
“Como você sabe se nunca mostrou para ninguém?” Roberto a olhou com surpresa. Ninguém nunca perguntou isso. Talvez devesse tentar. A vida é curta demais para guardar sonhos na gaveta. “E sonhos guardados?”, Sueli hesitou. Sempre quis voltar a estudar, fazer mestrado, quem sabe doutorado, mas com Isabela e as contas, por que não agora? A empresa tem programa de bolsas de estudo. Roberto, eu acabei de chegar. Pense nisso.
Ele a interrompeu. Talentos como o seu merecem ser desenvolvidos. O almoço se estendeu por 2 horas. Quando finalmente saíram do restaurante, Sueli se sentia como se tivesse feito um amigo verdadeiro, mas também sentia algo mais, algo que a deixava nervosa. Na volta ao escritório, Roberto a acompanhou até o 20º andar, em vez de subir direto para o 30º.
Fernando observou os dois conversando na porta do elevador, a expressão cada vez mais sombria. “Suele”, Roberto disse antes de se despedir. “Preciso de uma resposta sobre o projeto Santander até sexta-feira. Vou pensar com carinho.” “Ótimo.” “Isso”, ele fez uma pausa. “Obrigado pelo almoço. Fazia tempo que não tinha uma conversa tão real.
” Quando Roberto desapareceu no elevador, Sueli voltou para sua mesa com um sorriso que não conseguia esconder, mas o sorriso morreu quando viu Fernando parado ao lado da sua cadeira. Almoço produtivo? Ele perguntou com um tom que não escondeu a irritação. Muito Suel respondeu ligando o computador. Imagino. Duas horas com o patrão.
Deve ter discutido assuntos muito importantes. Sueli se virou para encará-lo. Fernando, se tem algo a dizer, diga diretamente. Só acho interessante como você conseguiu a atenção do doutor Montenegro tão rapidamente. Trabalho aqui há 8 anos e nunca fui convidado para almoçar no terraço. Talvez porque você nunca salvou R$ 300.000 para a empresa. Ou talvez seja porque você usa métodos que vão além da competência profissional.
A insinuação foi como um tapa na cara. Sueli se levantou lentamente, controlando a raiva. Cuidado com o que insinua, Fernando. Posso ser nova aqui, mas não sou estúpida e definitivamente não sou o que você está sugerindo. Só estou dizendo que mulheres bonitas têm certas vantagens no mundo corporativo e homens inseguros têm certas desvantagens.
Sueli retrucou, principalmente quando passam mais tempo criticando os colegas que fazendo o próprio trabalho. Fernando ficou vermelho de raiva, mas antes que pudesse responder, Beatriz apareceu na sala. Sueli, posso falar com você? No escritório de Beatriz, Sueli tentou manter a calma enquanto a diretora de RH a observava com expressão neutra.
Preciso fazer algumas perguntas sobre seu almoço com Dr. Montenegro. Claro. É comum funcionários novos receberem esse tipo de atenção? Sueli franziu a testa. Não sei dizer. Sou funcionária nova. Entendo. Beatriz fez algumas anotações. Sueli, preciso ser direta. Algumas pessoas estão comentando sobre sua proximidade com Dr. Montenegro.
Que tipo de comentários? O tipo que pode prejudicar sua carreira e a reputação da empresa. Sueli sentiu o estômago apertar. Beatriz, minha relação com Roberto é estritamente profissional. Ele reconhece meu trabalho e quer desenvolver meu potencial. Não há nada além disso. Tenho certeza de que é verdade, mas percepções podem ser tão prejudiciais quanto a realidade.
O que está sugerindo? Que mantenha uma distância profissional adequada por bem de todos. Sueli saiu do escritório de Beatriz com um peso no peito. Sabia que Fernando havia plantado dúvidas sobre sua conduta e isso a deixava furiosa, mas também a deixava preocupada. Não podia negar que sentia algo por Roberto, além de respeito profissional.
Na quinta-feira, Roberto apareceu na mesa dela com um envelope. Convite para o jantar beneficente da empresa. Sábado que vem, todos os funcionários de gerência estão convidados. Sueli abriu o envelope. Era um evento no Copacabana Palace para arrecadar fundos para a educação infantil. É obrigatório? Não, mas seria bom você aparecer. Oportunidade de conhecer outros departamentos, clientes importantes.
Roberto, preciso falar com você sobre algo. Claro. Meu escritório, 10 minutos. No 30º andar, Sueli contou sobre a conversa com Beatriz, sobre os comentários, sobre a atenção crescente na equipe. Entendo, Roberto, disse quando ela terminou. E o que acha sobre isso? Acho que tenho que ser mais cuidadosa, manter distância profissional.
Roberto ficou em silêncio por um longo momento. E se eu disser que não quero manter distância? A pergunta pegou Sueli desprevenida. Roberto Sueli, sei que é complicado, sei que pode causar problemas, mas não consigo fingir que você é apenas mais uma funcionária. E eu não posso fingir que não sinto nada também, ela admitiu em voz baixa. Mas trabalho aqui, preciso deste emprego.
Eu sei. E jamais colocaria seu emprego em risco. Eles se olharam em silêncio, atenção palpável no ar. O que fazemos? Sueli perguntou finalmente. Por enquanto, mantemos as aparências. relação profissional no escritório. Mas Sueli, Roberto se aproximou. Você vai ao jantar sábado? Vou.
Então, teremos uma noite onde podemos ser apenas Roberto e Sueli, não patrão e funcionária. Quando Sueli chegou em casa naquela noite, Isabela correu para abraçá-la, como sempre fazia. Mamãe, você está diferente. Diferente como está sorrindo mais e seus olhos estão brilhando. Sueli abraçou a filha com força. A intuição infantil era assustadoramente precisa. Ela estava diferente.
Estava se apaixonando pelo homem que poderia destruir sua carreira se as coisas dessem errado, mas pela primeira vez em anos estava disposta a correr o risco. O vestido preto simples que Sueli tinha escolhido para o jantar beneficente custara metade do seu primeiro salário. Mas quando se olhou no espelho do banheiro do Copacabana Palace, soube que tinha valido a pena.
Era elegante, sem ser chamativo, sofisticado, sem ser pretencioso. Exatamente o que precisava para uma noite onde teria que navegar entre colegas de trabalho, clientes importantes e os próprios sentimentos confusos. “Você está linda, mamãe”, Isabela havia dito quando ela saiu de casa. “Parece uma princesa agora.
Parada no salão dourado do hotel mais famoso do Rio, Sueli se sentia mais como Cinderela, tentando não ser descoberta antes da meia-noite. O evento estava no auge. 200 pessoas da elite empresarial carioca circulavam entre mesas decoradas com orquídeas brancas, bebendo champanhe francês e discutindo negócios de milhões.
Sueli reconheceu alguns rostos de revistas de economia, políticos famosos, empresários que apareciam nos noticiários. Sueli. A voz de Roberto a fez se virar. Ele estava impressionante no smoking preto, mais bonito do que ela se permitia admitir. Que bom que veio. Obrigada pelo convite. Ela tentou manter o tom profissional, mas quando Roberto sorriu sentiu o coração acelerar. Venha.
Quero apresentá-la para algumas pessoas importantes. Durante a primeira hora, Roberto a guiou pelo salão, apresentando-a como nossa nova gerente de projetos especiais. responsável por salvar R$ 300.000 da empresa nas primeiras duas semanas, Sueli conversou com diretores de outras empresas, trocou cartões, discutiu projetos.
Era um mundo completamente novo para ela, mas descobriu que conseguia navegar bem pelas conversas corporativas. “Você está se saindo muito bem”, Roberto, murmurou quando ficaram sozinhos por um momento. “Estou tentando não fazer feio. Impossível! Você é a mulher mais interessante do salão.
Antes que Sueli pudesse responder, uma voz feminina os interrompeu. Roberto, que surpresa te ver aqui. Eles se viraram. Uma mulher alta, loira, elegante, se aproximava com um sorriso que não chegava aos olhos. vestia um vestido vermelho de grife que provavelmente custava mais que o carro de Sueli. Era exatamente o tipo de mulher que frequentava aqueles eventos desde criança.
Camila, Roberto disse, a voz ficando tensa. Não esperava te ver aqui. Papai patrocinou o evento. Você sabe como ele gosta de causas sociais. Camila olhou para Sueli com curiosidade mal disfarçada. E você deve ser a famosa funcionária nova. Li sobre você no relatório mensal da empresa Sueli Oliveira.
Ela se apresentou estendendo a mão. Camila Ferreira, ex-noiva do Roberto. O aperto de mão foi firme demais, o sorriso afiado demais. Sueli sentiu o estômago apertar. Aquela era a mulher que havia quase se casado com Roberto, a que queria o CEO em vez da pessoa. “Sueli está liderando o nosso maior projeto”, Roberto disse rapidamente. “O contrato com o Santander.
Que interessante”, Camila respondeu, mas estava claramente estudando Sueli. Roberto sempre foi bom em identificar talentos. A forma como ela disse talentos deixou claro que não estava falando apenas de competência profissional. Com licença, Sueli disse. Vou buscar uma água. Ela se afastou rapidamente, sentindo o rosto queimar. no bar, pediu água com gás e tentou se recompor.
Não tinha direito de sentir ciúme. Roberto era seu chefe, não namorado. E Camila era exatamente o tipo de mulher que deveria estar com ele. Rica, sofisticada, do mesmo mundo social. Primeira vez em eventos como este? A voz masculina a fez se virar. Um homem moreno, bem vestido, sorria para ela. Era bonito, mas havia algo no olhar que a deixou desconfortável. Sim”, ela respondeu educadamente.
“Fernando Carvalho me contou sobre você. Disse que é a nova promessa da Montenegro Corp.” Suel franziu a testa. Você conhece Fernando? Somos primos. E ele me contou algumas coisas interessantes sobre como você conseguiu chamar a atenção do Roberto tão rapidamente. A insinuação era clara. Isso sentiu a raiva subir.
Se tem algo a dizer, diga diretamente. Só estou admirando sua estratégia. Mulher inteligente, bonita, em situação vulnerável. Roberto sempre teve fraqueza por histórias de superação. “Você não me conhece”, Sueli disse, a voz baixa, mas firme. “E não sabe nada sobre minha relação profissional com Roberto.” “Relação profissional?” O homem riu.
“Querida, todo mundo aqui está vendo como vocês se olham. Não é nada profissional.” Sueli colocou o copo no balcão com força. Tenha uma boa noite. Ela se afastou, mas ouviu o homem dizer para alguém. Fernando estava certo. Ela é esperta. Quando voltou ao salão principal, encontrou Roberto e Camila conversando em tom baixo.
A linguagem corporal de ambos era tensa, como se estivessem discutindo algo importante. Não é da sua conta, Roberto estava dizendo. Claro que é da minha conta. Conheço você há 10 anos, Roberto. Sei quando está fazendo besteira. Minha vida pessoal não te diz mais respeito. Sua vida pessoal afeta a empresa e a empresa afeta minha família também. Sueli hesitou sem saber se deveria se aproximar ou dar privacidade.
A decisão foi tomada quando Camila a viu chegando. Ah, que bom que voltou, Camila disse com um sorriso falso. Estava contando para Roberto como é importante manter separação entre vida pessoal e prof. Camila Roberto começou, mas ela o interrompeu, principalmente quando há tanta diferença de posição social.
Ela continuou, olhando diretamente para Sueli. Camila, chega, Roberto, disse, a voz carregada de aviso. Estou só sendo realista, querido. Você sabe como esses relacionamentos terminam. Sempre há quem se machuca. Sueli sentiu todas as suas inseguranças virem à tona. Camila estava dizendo em voz alta tudo que ela já pensava sozinha. Era de mundos diferentes, não pertencia ali.
E cedo ou tarde, Roberto perceberia isso. Se me dão licença Sueli disse, forçando um sorriso. Preciso ir ao banheiro. No banheiro luxuoso do hotel, Suelice olhou no espelho e respirou fundo. Tinha duas opções: deixar as palavras de Camila a afetarem ou manter a dignidade e mostrar que não se intimidava.
Quando voltou, Roberto estava sozinho, procurando por ela com o olhar preocupado. “Onde está Camila?”, Sueli perguntou. “Foi embora?” “Sueli, sobre o que ela disse. Ela não disse nada que eu não soubesse.” Sueli manteve a voz calma. “Somos de mundos diferentes, Roberto. Isso é fato. Isso não importa.
Importa sim, para sua família, seus amigos, seus sócios e para mim também.” Roberto a puxou gentilmente para um canto mais reservado. Sueli, não deixe que ela plante dúvidas na sua cabeça. Não são dúvidas, são realidades. Sueli olhou ao redor do salão dourado. Olhe este lugar, estas pessoas. Este é seu mundo.
Eu sou uma mãe solteira de Osasco que trabalha na sua empresa. Você é muito mais que isso. Para você, talvez. Mas para o resto do mundo sou a funcionária que está se envolvendo com o chefe. O Roberto ficou em silêncio por um momento. E se for, e se estivermos nos envolvendo, isso muda alguma coisa? A pergunta pegou Sueli desprevenida.
Era a primeira vez que um deles admitia abertamente que havia algo acontecendo entre eles. “Muda tudo”, ela sussurrou. “Meu trabalho, minha reputação, minha tranquilidade e o que você quer fazer?” Sueli olhou nos olhos dele, viu a sinceridade, a vulnerabilidade. Era um homem poderoso se expondo, se colocando em risco por ela.
Não sei, ela admitiu. Só sei que tenho medo. De quê? De me apaixonar por você e descobrir que Camila estava certa. Roberto segurou o rosto dela com as duas mãos. Gesto íntimo demais para um evento público. Sueli. Camila estava errada sobre tudo, principalmente sobre você. Antes que ela pudesse responder, alguém bateu palmas no microfone.
O jantar ia começar e todos foram direcionados às mesas. Sueli e Roberto foram separados, sentados em mesas diferentes por protocolo social. Durante a ceia, Sueli tentou se concentrar nas conversas ao redor da mesa, mas seus olhos procuravam Roberto constantemente. Ele estava na mesa principal, conversando com empresários importantes, mas também olhava para ela com frequência.
Foi durante a sobremesa que Fernando se aproximou da mesa dela. Sueli, posso conversar com você um momento? Eles saíram para o terraço do hotel, onde a vista noturna do rio se estendia diante deles. “Bonita noite”, Fernando disse. “É, Fernando, se veio falar sobre Roberto, vim alertá-la.” A voz dele ficou séria.
Sobre o que está acontecendo aqui hoje à noite. Não entendi. Meu primo me contou sobre a conversa de vocês no bar e vi você com Camila. As pessoas estão falando, Sueli. Falando o quê? que você está usando, Roberto para subir na empresa, que o projeto Santander foi só uma desculpa para te promover.
Sueli sentiu o sangue gelar. Isso não é verdade. Eu sei que não é. Seu trabalho fala por si só, mas as pessoas não se importam com fatos quando tem uma boa fofoca. Por que está me contando isso? Fernando suspirou. Porque apesar das nossas diferenças, reconheço sua competência e não quero ver você se ferrar por causa de sentimentos.
Que sentimentos, Sueli, está escrito na sua cara que você está apaixonada por ele e na cara dele também. Sueli ficou em silêncio, sem saber o que responder. Meu conselho Fernando continuou. Defina logo o que vocês são, porque essa situação ambígua está prejudicando você mais que ele. Quando voltaram ao salão, a festa estava terminando. Roberto se aproximou imediatamente.
Tudo bem? Vi vocês no terraço. Tudo bem. Sueli mentiu. Roberto, preciso ir embora. Isabela está com a vizinha. Claro, deixo você em casa. Não precisa, insisto. No carro, durante o trajeto para Osasco, ficaram em silêncio a maior parte do tempo. Sueli olhava pela janela, perdida em pensamentos, enquanto Roberto dirigia concentrado no trânsito noturno.
“Sueli,” ele disse quando pararam no semáforo. “O que Fernando disse para você?” A verdade?” Ela se virou para olhá-lo. “Que as pessoas estão falando de nós, que minha reputação está sendo questionada, que preciso decidir o que quero e o que você quer.” Sueli respirou fundo.
“Era hora de ser honesta, mesmo que doesse. Quero você”, ela disse simplesmente, “mas não sei se posso pagar o preço.” Roberto parou o carro na frente do prédio simples onde ela morava. Era um contraste gritante com o mundo glamuroso que haviam deixado para trás.
Sueli, não vou mentir dizendo que será fácil, mas algumas coisas valem a pena lutar por elas. E se não valer? E se Camila estiver certa e você se cansar de mim quando a novidade passar? Roberto desligou o motor e se virou completamente para ela. Você quer saber o que Camila nunca entendeu? Que eu não estava procurando alguém do meu mundo. Estava procurando alguém que me fizesse querer ser uma pessoa melhor. Ele segurou a mão dela.
Você faz isso comigo, Sueli? me faz lembrar de quem eu realmente sou, além do dinheiro e do poder. Sueli sentiu os olhos se encherem de lágrimas. Roberto, pense no que disse Fernando. Defina o que você quer, porque eu já defini. Ele se inclinou e a beijou suavemente. Um beijo cheio de promessas e medos. Quando se separaram, Sueli sabia que não havia mais volta.
estava completamente apaixonada e isso mudaria tudo. A segunda-feira após o jantar beneficente chegou carregada de tensão. Sueli entrou no escritório sabendo que tudo havia mudado. O beijo no carro havia selado algo entre ela e Roberto, mas também havia aberto uma porta que não podia mais ser fechada.
Agora todos veriam, todos comentariam, todos julgariam. Fernando a cumprimentou com um aceno neutro quando passou por sua mesa. As outras pessoas da equipe mal olharam na direção dela. Era como se uma bolha invisível tivesse se formado ao redor de Sueli, separando-a de todos. Os sussurros cessavam quando ela se aproximava. As conversas morriam no ar como se ela fosse uma estranha.
Às 10 da manhã, Beatriz apareceu na sala com uma expressão que não prometia nada bom. Seus lábios estavam apertados em uma linha fina e ela segurava uma pasta de documentos com força excessiva. Sueli, preciso falar com você. Meu escritório, por favor. O trajeto até o departamento de RH nunca pareceu tão longo.
Sueli sabia que estava prestes a enfrentar consequências que havia tentado evitar, mas que se tornaram inevitáveis no momento em que permitiu que os sentimentos superassem o profissionalismo. Cada passo ecoava no corredor como um tambor funeral. “Sente-se”, Beatriz, disse fechando a porta com um clique definitivo.
“Precisamos conversar sobre sua situação na empresa.” “Minha situação, Suel? Não vamos fingir que não sabemos do que estou falando. Sua proximidade com o Dr. Montenegro está criando um ambiente desconfortável para outros funcionários. Que tipo de desconforto? O tipo que questiona se suas promoções e oportunidades são baseadas em mérito ou em outros fatores.
Sueli sentiu a raiva subir como lava quente, mas se controlou. Meu trabalho fala por si só, Beatriz. Salvei R$ 300.000 R$ 1.000 para a empresa. Identifiquei falhas que ninguém viu. Estou liderando o maior projeto da história da Montenegro Corp. E tudo isso aconteceu após você chamar a atenção pessoal do Dr. Montenegro. Aconteceu porque sou boa no que faço.
Beatriz suspirou tirando os óculos e massageando a ponte do nariz. Sueli, não estou questionando sua competência. Estou tentando proteger você e a empresa de uma situação que pode se tornar complicada legalmente. Legalmente? Relacionamentos entre superiores e subordinados podem gerar processos por favorecimento, assédio moral, ambiente de trabalho hostil. É uma área cinzenta que pode explodir nas nossas mãos.
Sueli ficou em silêncio, processando as implicações. Ela conhecia casos de outras empresas onde situações similares haviam terminado em escândalos, demissões, processos milionários. “O que está sugerindo?”, Ela perguntou finalmente, transferência para outro departamento. Mesma função, mesmo salário, mas sem subordinação direta ao Dr. Montenegro.
E se eu recusar? Beatriz hesitou, claramente desconfortável. Então vamos ter que considerar outras opções pelo bem de todos. A ameaça velada ficou no ar como uma nuvem pesada. Suelia entendeu perfeitamente. Aceitar a transferência ou arriscar perder o emprego. Preciso de tempo para pensar, claro, mas não muito tempo. A situação está se tornando insustentável. Quando Sueli voltou para sua mesa, encontrou Roberto a esperando.
Ele estava tenso, claramente preocupado, as mãos apoiadas na mesa dela enquanto observava a movimentação da sala. Beatriz me contou sobre a conversa”, ele disse em voz baixa. “Vamos resolver isso. Como?” “Reunião com a diretoria hoje à tarde. Vou esclarecer nossa situação e garantir que você seja tratada com justiça.” Roberto, não.
Suele segurou o braço dele, sentindo os músculos tensos sob o tecido da camisa. “Isso vai piorar as coisas. Vai parecer que está me protegendo, confirmando todas as suspeitas.” “Então, o que sugere?” Sueli olhou ao redor da sala, viu os olhares curiosos, os sussurros abafados, todos esperando para ver como aquela situação se resolveria, como o drama corporativo se desenrolaria.
Que eu prove meu valor de uma vez por todas, como o projeto Santander. Se eu conseguir fechá-lo, ninguém vai poder questionar minha competência. Roberto franziu a testa, preocupação genuína estampada no rosto. Sueli, o Santander é um contrato complexo. Eles são conhecidos por serem extremamente exigentes. Rejeitaram 14 propostas nos últimos do anos. Então é a oportunidade perfeita.
Se eu fracassar, vocês têm motivo para me demitir. Se eu conseguir, ninguém mais pode dizer que cheguei até aqui por outros motivos. É arriscado demais. Roberto, já estou correndo riscos. Pelo menos deixe que sejam pelos motivos certos. Naquela tarde, Sueli se trancou na sala de reuniões com pilhas de documentos sobre o grupo Santander.
Estudou histórico financeiro, estrutura organizacional, projetos anteriores, fracassos de outras consultorias. Era como montar um quebra-cabeças gigantesco, onde cada peça revelava mais sobre o desafio que enfrentaria. Trabalhou até tarde, pediu pizza que comeu distraída enquanto analisava planilhas. Continuou estudando dados até os olhos arderem.
Quando finalmente saiu do escritório, já passava da meia-noite e o prédio estava silencioso, como um mausoléu. Na terça-feira, mergulhou ainda mais fundo na pesquisa. Descobriu que o grupo Santander não era apenas exigente, era estratégico. Eles testavam consultorias não apenas com perguntas técnicas, mas com situações hipotéticas complexas que revelavam o verdadeiro pensamento estratégico dos profissionais.
Na quarta-feira, ela apresentou uma proposta preliminar para Roberto, que o deixou impressionado. Não era apenas uma reestruturação convencional, era um plano inovador que identificava oportunidades de crescimento que outras consultorias não haviam visto, transformando custos em investimentos, problemas em soluções. “Como pensou nisso?”, Roberto perguntou, estudando os gráficos e projeções que cobriam toda a mesa de reuniões. Experiência na Petrocorp.
Quando uma empresa está em crise, você aprende a ver soluções que não são óbvias. Aprende que às vezes o problema não é onde todo mundo está olhando. Isso é brilhante. Obrigada. Agora preciso que você me consiga uma reunião com eles. Sueli, normalmente isso levaria semanas de negociação, reuniões preliminares. Roberto, confia em mim. Roberto estudou o rosto dela por um longo momento.
Viu determinação, viu inteligência, viu a mulher que havia se apaixonado lutando pelo que acreditava. Vou ligar agora. Na sexta-feira, Sueli estava na sala de reuniões mais importante da Montenegro Corp, de frente para cinco executivos do grupo Santander. Eram homens sérios, ternos caros, relógios suíços, acostumados a lidar com milhões como se fossem centavos.
Haviam rejeitado dezenas de propostas similares e tinham fama de destruir consultorias inteiras com perguntas impossíveis. Senhorita Oliveira, o diretor presidente começou. Um homem calvo de 60 anos com olhos que pareciam raios. X. Temos 15 minutos. Nos impressione. Durante 15 minutos, Sueli falou com paixão sobre eficiência operacional, sinergia entre departamentos, otimização de custos, mas não falou apenas números frios.
falou sobre pessoas, sobre como mudanças estruturais afetam funcionários, sobre a importância de manter moral alta durante transições. Falou sobre crescimento sustentável em vez de cortes desesperados. Interessante”, disse um dos executivos quando ela terminou. “Um homem mais jovem que tomava notas constantemente. “A maioria das consultorias foca apenas em cortes.
Cortés são fáceis”, Sueli respondeu, olhando diretamente nos olhos dele. “Qualquer pessoa com uma calculadora pode dizer onde cortar gastos. Crescimento sustentável é o desafio real. E como garantir esse crescimento? investindo nas pessoas certas, nos processos certos, na cultura certa. Vocês não precisam de uma consultoria que diga onde cortar gastos.
Precisam de uma que diga onde investir para crescer. Os executivos trocaram olhares carregados de significado. Roberto, que havia ficado calado durante toda a apresentação, conforme combinado, observava com admiração crescente. Sueli estava brilhando, mostrando exatamente por ele havia se apaixonado, não apenas pela mulher, mas pela profissional excepcional.
Senhorita Oliveira, o presidente disse finalmente, removendo os óculos e limpando as lentes com cuidado deliberado. Nunca ouvimos uma proposta como esta. O coração de Sueli disparou. Não conseguia decifrar se era bom ou ruim. O silêncio na sala era denso como neblina. Em 15 anos de Grupo Santander, contratamos dezenas de consultorias. Todas prometiam cortar custos, reduzir despesas, enxugar operações.
Você é a primeira que promete fazer-nos crescer, porque acredito que vocês podem crescer. Tem estrutura, tem recursos, tem potencial. Só precisam de alguém que veja oportunidades onde outros vem problemas. Queremos ver sua proposta completa na segunda-feira. estará pronta e queremos que seja você pessoalmente a liderar o projeto se aprovado. Sueli sentiu o mundo girar.
Eu, você, não queremos uma empresa, queremos você. Quando os executivos saíram, Roberto se aproximou de Suelle com um sorriso que iluminava o rosto inteiro. Você conseguiu? Ainda não. Eles só querem ver a proposta completa. Sueli, em 15 anos de Montenegro Corp. Nunca vi alguém impressionar o pessoal do Santander na primeira reunião.
Eles são conhecidos por dispensar consultorias em 5 minutos. Sueli sorriu sentindo uma mistura de alívio e exaustão. Agora vem a parte difícil. Durante o fim de semana, Sueli trabalhou incansavelmente na proposta final. Roberto apareceu no sábado com café gourmet e sanduíches de salmão e acabou ficando para ajudar.
Trabalharam lado a lado, discutindo detalhes, refinando estratégias, construindo algo juntos que era maior que ambos. “Isabela está com sua vizinha?”, Roberto perguntou quando fizeram uma pausa. “Está. Dona Carmen adora cuidar dela nos fins de semana. Diz que a faz lembrar da neta que mora longe. Gostaria de conhecê-la.
” Sueli olhou para ele surpresa pela sinceridade no tom. Sério? Claro. Ela é parte importante da sua vida. Se queremos ter futuro juntos, preciso conhecer todas as partes importantes de você. Roberto, se você conhecer minha filha, isso torna tudo mais sério. Já é sério para mim, mais sério do que qualquer coisa que já senti na vida. Na segunda-feira, a proposta de 60 páginas estava impecável.
Suelia a apresentou para os executivos do Santander em uma reunião que durou 4 horas. Eles fizeram perguntas difíceis, questionaram projeções, testaram seu conhecimento em áreas específicas que ela nem sabia que dominava. “Como você lidaria com resistência interna durante a implementação?”, perguntou um dos executivos.
Com transparência e comunicação constante, mudança gera medo e medo gera resistência. Mas quando as pessoas entendem o porquê antes do como, a resistência se transforma em colaboração. E se os resultados não aparecerem no primeiro trimestre? Crescimento sustentável não acontece em três meses, mas progresso mensurável, sim.
Estabeleceria marcos pequenos e celebráveis para manter motivação alta enquanto trabalhamos direção aos objetivos maiores. Impressionante, o presidente disse no final, fechando a pasta com a proposta. Vamos analisar internamente e dar uma resposta em 48 horas. As 48 horas seguintes foram as mais longas da vida de Sueli. Ela tentou trabalhar normalmente, mas não conseguia se concentrar.
Fernando e a equipe a observavam com curiosidade, sabendo que algo importante estava acontecendo. Até Beatriz passou pela sala algumas vezes, fingindo verificar outras coisas, mas claramente interessada no resultado. Na quarta-feira à tarde, o telefone de Roberto tocou. Sueli estava na sala dele discutindo outro projeto quando a ligação chegou. Ela viu a expressão dele mudar, ficar séria, concentrada.
Ele fez algumas perguntas técnicas, anotou números, assentiu várias vezes. Entendo. Sim, vamos providenciar tudo. Obrigado pela confiança. Quando desligou, ficou em silêncio por um momento que pareceu eterno, olhando para o telefone como se não acreditasse no que havia ouvido. E então, Sueli perguntou o coração na garganta.
Roberto se levantou lentamente, caminhou até a janela, ficou de costas para ela, observando a cidade lá embaixo. O silêncio se estendeu até Sueli quase gritar de ansiedade. Então ele se virou com um sorriso imenso se espalhando pelo rosto. Parabéns, você acabou de fechar o maior contrato da história da Montenegro Corp.
Sueli ficou paralisada por alguns segundos, sem conseguir processar as palavras. Sério? R 20 milhões de reais por 3 anos. E eles querem você como líder exclusiva do projeto. A emoção explodiu como uma represa se rompendo. Sueli começou a chorar, a rir, a tremer tudo ao mesmo tempo. Roberto a abraçou, girando com ela no meio do escritório, enquanto ela soluçava de alívio e felicidade.
Desceram juntos para o 20º andar, onde Roberto fez o anúncio. A sala explodiu em aplausos. Fernando se levantou aplaudindo genuinamente pela primeira vez. As outras pessoas da equipe vieram cumprimentar Sueli com respeito real.
Beatriz apareceu correndo com champanhe que havia guardado para emergências especiais. 20 milhões de reais por 3 anos Roberto anunciou para todos. A voz carregada de orgulho. Graças ao trabalho excepcional da nossa nova sócia, Sueli Oliveira. Sócia”, Sueli sussurrou surpresa. “Depois de um contrato desses, você acha que ia continuar sendo funcionária?” Naquela noite, Roberto levou Sueli para jantar no mesmo restaurante onde haviam almoçado pela primeira vez, mas desta vez era diferente.
Não eram mais chefe e funcionária navegando em águas perigosas. Eram dois profissionais que haviam construído algo juntos. Duas pessoas que haviam encontrado amor no meio do caos corporativo. “Como se sente?”, Roberto, perguntou brindando com Champanhe e Dom Perrinhon. Aliviada, provada, feliz. Sueli sorriu sentindo lágrimas de gratidão nos olhos e apaixonada, mesmo sabendo que não será fácil, especialmente sabendo que não será fácil.
Roberto segurou a mão dela sobre a mesa, os dedos entrelaçados como suas vidas haviam se entrelaçado. Sueli, quero que saiba uma coisa. Independente do que acontecer entre nós, você conquistou seu lugar na empresa por mérito próprio. Ninguém mais pode questionar isso, nunca mais.
E o que vai acontecer entre nós? O que você quiser que aconteça? Sueli olhou nos olhos dele, viu sinceridade, viu amor, viu um futuro que finalmente parecia possível. “Quero conhecer seus pais”, ela disse sem hesitar. “Quero que você conheça Isabela. Quero que paremos de esconder o que sentimos e o julgamento das pessoas. Que se danem as pessoas.
Aprendi que a vida é curta demais para desperdiçar amor verdadeiro por medo do que outros vão pensar.” Roberto sorriu e levou a mão dela aos lábios. beijando os dedos com ternura. Então vamos parar de nos esconder. Seis meses depois, Sueli estava no escritório que agora dividia com Roberto como sócia da Montenegro em Oliveira Consultoria. O contrato Santander havia sido tão bem-sucedido que gerou outros oito contratos similares.
A empresa cresceu, ela foi promovida a sócia e finalmente ninguém questionava mais sua competência ou sua posição. Isabela adorava Roberto, que havia se revelado um padrasto carinhoso e presente. Ele a buscava na escola, ajudava com lição de casa, levava para tomar sorvete nos sábados.
Eles haviam se mudado para um apartamento maior, mais perto da escola da menina, com um quarto especial só para ela e uma área de estudos onde Sueli podia trabalhar em casa. “Mamãe!” Isabela disse uma noite durante o jantar. O Roberto vai ficar para sempre com a gente? Por que pergunta, amor? Porque gosto dele. E você fica mais feliz quando ele está aqui. Seus olhos brilham mais.
Sueli abraçou a filha, olhando pela janela da sala onde Roberto estava na varanda, falando ao telefone sobre trabalho. Ele gesticulava animadamente, completamente absorto, na conversa sobre o novo contrato com uma empresa americana, e ela sorriu ao perceber como o amava. Acho que sim, amor. Acho que ele vai ficar para sempre. E quando Roberto entrou na sala e a beijou, como fazia todas as noites ao chegar em casa, Sueli soube que tinha feito as escolhas certas.
que havia valido a pena chegar encharcada na chuva naquele dia, porque a chuva a havia levado até ali, até o amor, até a família, até o lugar onde sempre pertenceu. Fim da história. Beatriz hesitou. Então vamos ter que considerar outras opções. Pelo bem de todos. A ameaça velada ficou no ar como uma nuvem pesada. Sueli entendeu perfeitamente. Aceitar a transferência ou arriscar perder o emprego. Preciso de tempo para pensar.
Claro, mas não muito tempo. A situação está se tornando insustentável. Quando Sueli voltou para sua mesa, encontrou Roberto a esperando. Ele estava tenso, claramente preocupado. “Beatriz me contou sobre a conversa.” Ele disse em voz baixa. “Vamos resolver isso. Como? reunião com a diretoria hoje à tarde. Vou esclarecer nossa situação e garantir que você seja tratada com justiça. Roberto, não.
Sueli segurou o braço dele. Isso vai piorar as coisas. Vai parecer que está me protegendo, confirmando todas as suspeitas. Então, o que sugere? Sueli olhou ao redor da sala, viu os olhares curiosos, os sussurros abafados, todos esperando para ver como aquela situação se resolveria. Que eu prove meu valor de uma vez por todas.
Como o projeto Santander, se eu conseguir fechá-lo, ninguém vai poder questionar minha competência. Roberto franziu a testa. Sueli, o Santander é um contrato complexo. Eles são conhecidos por serem extremamente exigentes. Então é a oportunidade perfeita. Se eu fracassar, vocês têm motivo para me demitir.
Se eu conseguir, ninguém mais pode dizer que cheguei até aqui por outros motivos. É arriscado demais. Roberto, já estou correndo riscos. Pelo menos deixe que sejam pelos motivos certos. Naquela tarde, Sueli se trancou na sala de reuniões com pilhas de documentos sobre o grupo Santander. Estudou histórico financeiro, estrutura organizacional, projetos anteriores, fracassos de outras consultorias.
Trabalhou até tarde, pediu pizza, continuou analisando dados até os olhos arderem. Na quarta-feira, ela apresentou uma proposta preliminar para Roberto, que o deixou impressionado. Não era apenas uma reestruturação convencional, era um plano inovador que identificava oportunidades que outras consultorias não haviam visto.
“Como pensou nisso?”, Roberto perguntou, estudando os gráficos e projeções. Experiência na Petrocorp. Quando uma empresa está em crise, você aprende a ver soluções que não são óbvias. Isso é brilhante. Obrigada. Agora preciso que você me consiga uma reunião com eles, Sueli. Normalmente isso levaria semanas de negociação. Roberto, confia em mim.
Na sexta-feira, Sueli estava na sala de reuniões mais importante da Montenegro Corp, de frente para cinco executivos do grupo Santander. Eram homens sérios, acostumados a lidar com milhões, que haviam rejeitado dezenas de propostas similares. Senrita Oliveira, o diretor presidente começou. Temos 15 minutos. nos impressione. Durante 15 minutos, Sueli falou com paixão sobre eficiência operacional, sinergia entre departamentos, otimização de custos, mas não falou apenas números.
Falou sobre pessoas, sobre como mudanças estruturais afetam funcionários, sobre a importância de manter moral alta durante transições. Interessante, disse um dos executivos quando ela terminou. A maioria das consultorias foca apenas em cortes. Cortés são fáceis, Sueli respondeu. Crescimento sustentável é o desafio real.
E como garantir esse crescimento? Investindo nas pessoas certas, nos processos certos, na cultura certa. Vocês não precisam de uma consultoria que diga onde cortar gastos. Precisam de uma que diga onde investir para crescer. Os executivos trocaram olhares. Roberto, que havia ficado calado durante toda a apresentação, observava com admiração crescente: “Senrita Oliveira, o presidente disse finalmente: “Nunca ouvimos uma proposta como esta. O coração de Sueli disparou.
Não conseguia decifrar se era bom ou ruim. Em 15 anos de Grupo Santander, contratamos dezenas de consultorias. Todas prometiam cortar custos. Você é a primeira que promete fazer-nos crescer, porque acredito que vocês podem crescer. Queremos ver sua proposta completa na segunda-feira. Estará pronta.
Quando os executivos saíram, Roberto se aproximou de Sueli com um sorriso imenso. Você conseguiu? Ainda não. Eles só querem ver a proposta completa. Sueli, em 15 anos de Montenegro Corp, nunca vi alguém impressionar o pessoal do Santander na primeira reunião. Sueli sorriu, sentindo uma mistura de alívio e exaustão. Agora vem a parte difícil.
Durante o fim de semana, Sueli trabalhou incansavelmente na proposta final. Roberto apareceu no sábado com café e sanduíches e acabou ficando para ajudar. Trabalharam lado a lado, discutindo detalhes, refinando estratégias, construindo algo juntos. “Isabela está com sua vizinha?”, Roberto perguntou quando fizeram uma pausa. “Está. Dona Carmen adora cuidar dela nos fins de semana. Gostaria de conhecê-la”.
Sueli olhou para ele surpresa. Sério? Claro. Ela é parte importante da sua vida. Roberto, se você conhecer minha filha, isso torna tudo mais sério. Já é sério para mim. Na segunda-feira, a proposta de 40 páginas estava impecável. Suel apresentou para os executivos do Santander em uma reunião que durou 3 horas.
Eles fizeram perguntas difíceis, questionaram projeções, testaram seu conhecimento em áreas específicas. Impressionante, o presidente disse no final. Vamos analisar internamente e dar uma resposta em 48 horas. As 48 horas seguintes foram as mais longas da vida de Sueli. Ela tentou trabalhar normalmente, mas não conseguia se concentrar.
Fernando e a equipe a observavam com curiosidade, sabendo que algo importante estava acontecendo. Na quarta-feira à tarde, o telefone de Roberto tocou. Ele atendeu, conversou por alguns minutos. desligou com expressão neutra. E então, Sueli perguntou o coração na garganta. Roberto ficou sério por um momento que pareceu eterno. Então um sorriso imenso se espalhou pelo rosto dele.
Parabéns, você acabou de fechar o maior contrato da história da Montenegro Corp. A sala explodiu. Fernando se levantou aplaudindo. As outras pessoas da equipe vieram cumprimentar Sueli. Beatriz apareceu com champanhe que havia guardado para a ocasião. 20 milhões de reais por 3 anos Roberto anunciou para todos. Graças ao trabalho excepcional da nossa gerente de projetos especiais.
Naquela noite, Roberto levou Sueli para jantar no mesmo restaurante onde haviam almoçado pela primeira vez. Mas desta vez era diferente. Não eram mais chefe e funcionária navegando em águas perigosas. Eram dois profissionais que haviam construído algo juntos. Duas pessoas que haviam encontrado amor no meio do caos corporativo.
“Como se sente?”, Roberto, perguntou brindando com champanhe. Aliviada, provada, feliz. Suele sorriu e apaixonada. Mesmo sabendo que não será fácil, especialmente sabendo que não será fácil. Roberto segurou a mão dela sobre a mesa. Sueli, quero que saiba uma coisa.
Independente do que acontecer entre nós, você conquistou seu lugar na empresa por mérito próprio. Ninguém mais pode questionar isso. E o que vai acontecer entre nós? O que você quiser que aconteça? Sueli olhou nos olhos dele, viu sinceridade, viu amor, viu futuro. “Quero conhecer seus pais”, ela disse. “Quero que você conheça a Isabela. Quero que paremos de esconder o que sentimos e o julgamento das pessoas.
Que se danem as pessoas. Aprendi que a vida é curta demais para desperdiçar amor verdadeiro por medo do que outros vão pensar. Roberto sorriu e levou a mão dela aos lábios. Então vamos parar de nos esconder. Três meses depois, Sueli estava no escritório que agora dividia com Roberto como sócia da Montenegro Corp.
O contrato Santander havia sido tão bem-sucedido que gerou outros cinco contratos similares. A empresa cresceu, ela foi promovida e finalmente ninguém questionava mais sua competência. Isabela adorava Roberto, que havia se revelado um padrasto carinhoso e presente.
Eles haviam se mudado para um apartamento maior, mais perto da escola da menina, e construído uma família que nenhum dos dois esperava encontrar. “Mamãe!” Isabela disse uma noite: “O Roberto vai ficar para sempre com a gente?” Por que pergunta? Porque gosto dele e você fica mais feliz quando ele está aqui. Sueli abraçou a filha, olhando pela janela da sala onde Roberto estava na varanda, falando ao telefone sobre trabalho.
Ele gesticulava animadamente, completamente absorto, na conversa, e ela sorriu ao perceber como o amava. Acho que sim, amor. Acho que ele vai ficar para sempre. E quando Roberto entrou na sala e a beijou, como fazia todas as noites ao chegar em casa, Sueli soube que tinha feito as escolhas certas, que havia valido a pena chegar encharcada na chuva naquele dia, porque a chuva a havia levado até ali, até o amor, até a família, até o lugar onde sempre pertenceu. Oh.
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