E se eu te dissesse que uma simples confeiteira do interior teve sua vida completamente transformada em uma noite de Natal? Uma mulher que carregava um trauma profundo, que nunca havia sido tocada por nenhum homem, encontrou alguém disposto a esperar o tempo que fosse necessário.
Mas não foi qualquer pessoa, foi um bilionário acostumado a conseguir tudo o que quer com um simples estalar de dedos. O que aconteceu naquela noite mudou ambos para sempre. Essa história vai te fazer acreditar que o verdadeiro amor ainda existe. Me conta nos comentários de onde você está assistindo esse vídeo. Quero saber se essa história está chegando longe.
E não esquece, se inscreve no canal e deixa aquele like para eu saber que você quer mais histórias emocionantes como essa. Agora, prepare seu coração, porque essa jornada vai te fazer rir, chorar e acreditar no amor verdadeiro. A neve caía mansamente sobre Gramado naquela véspera de Natal. cobrindo os telhados coloniais com um manto branco que parecia saído de um filme natalino.
Maite observava os flocos através da janela embaçada da cozinha da pousada Vila dos Pinheiros, suas mãos cobertas de farinha enquanto finalizava os últimos detalhes da ceia mais importante da noite. 24 anos era a idade que tinha, mas às vezes se sentia muito mais velha. Seus olhos castanhos, que já foram cheios de sonhos, agora carregavam uma cautela que vinha de lições aprendidas da forma mais dolorosa.
O avental branco contrastava com sua pele morena, herança da mãe que partira cedo demais, deixando-a aos cuidados da avó Lourdes. Maitê. A voz estridente da gerente Silvana cortou seus pensamentos como uma faca. O hóspede do chalé 7 que era a ceia servida às oito em ponto e ele foi muito específico. Quer que você leve pessoalmente. Maitê sentiu um aperto no estômago.
O chalé sete era o mais isolado da pousada, reservado apenas para hóspedes vips que buscavam privacidade absoluta. E o homem que estava hospedado lá nas últimas duas semanas era um mistério que alimentava fofocas entre todos os funcionários. Bernardo Castelli. O nome estava na lista de Shequin, mas era tudo que sabiam sobre ele.
Nunca pedia serviço de quarto, nunca aparecia no café da manhã, nunca interagia com outros hóspedes, apenas caminhava sozinho pela trilha do bosque todas as manhãs ao amanhecer, usando roupas escuras que faziam sua figura alta e imponente parecer ainda mais enigmática. “Por que eu,”, Maitê perguntou, tentando controlar o tremor na voz.
Silvana revirou os olhos com aquela expressão de superioridade que usava sempre que podia diminuir alguém, porque ele pediu a confeiteira responsável. E querendo ou não, você é boa no que faz. O elogio veio carregado de veneno. Só não demore. Tenho certeza que um homem como ele tem coisas mais importantes para fazer do que conversar com funcionários.
Maitê assentiu em silêncio, voltando sua atenção para a bandeja de prata que preparara com esmero. Chester assado com farofa de frutas secas, arroz agrega, tender glaceado com abacaxi, rabanada de Natal com calda de vinho tinto e sua especialidade, um panetone artesanal recheado com doce de leite e nozes. Tudo perfeito, tudo impecável.
Eram 7:45 quando finalmente colocou a última tampa sobre os pratos aquecidos, ajeitou os cabelos castanhos presos em um coque baixo, verificou se o uniforme estava limpo e respirou fundo. Por que estava tão nervosa? Era apenas mais uma entrega, mais um hóspede, mas algo no ar daquela noite parecia diferente. O caminho até o chalé sete serpenteava por entre cobertos de neve.
Suas botas faziam um som abafado contra o chão branco e ela podia ver sua própria respiração formando pequenas nuvens no ar gelado. As luzes de Natal espalhadas pelos jardins da pousada criavam um ambiente mágico, quase irreal. Quando finalmente chegou à porta de madeira maciça do chalé, Maite hesitou. Suas mãos suavam dentro das luvas térmicas que seguravam a bandeja e seu coração batia descompassado.
Você está sendo ridícula. repreendeu-se mentalmente. É só entregar a comida e ir embora. Tocou a campainha. A porta se abriu quase imediatamente, como se ele estivesse esperando do outro lado. E Maité precisou de toda sua força de vontade para não deixar a bandeja cair.
Bernardo Castelli era diferente de qualquer homem que já tinha visto. Alto devia ter mais de 1,85 m, com ombros largos que preenchiam perfeitamente o suéter de lã cor de carvão que usava. Mas não era sua altura ou porte físico que a deixaram sem ar. Eram seus olhos, azuis como o céu de inverno, mas carregando uma profundidade que parecia guardar mil histórias não contadas.
Havia algo naquele olhar que a desarmo completamente, uma vulnerabilidade oculta sob camadas de compostura e elegância. Seu cabelo negro estava levemente despenteado, como se ele tivesse passado as mãos por entre os fios repetidamente, e uma barba, por fazer de alguns dias, dava-lhe um ar menos corporativo e mais humano. “Você deve ser Maitê”, Aeve, aveludada, com um sotaque paulistano suavizado por anos de educação refinada, a confeiteira responsável por me fazer ganhar 3 kg nas últimas duas semanas.
Ela piscou, surpresa pela abordagem informal. Esperava algo mais frio, mais distante. Não esperava o pequeno sorriso que brincava no canto dos lábios dele. Eu sim, trouxe sua ceia de Natal, Senr. Castel. Apenas, Bernardo, por favor. Ele se afastou da porta, abrindo espaço para que ela entrasse. Senr. Castell me faz sentir como se meu pai estivesse na sala.
O interior do chalé era exatamente como ela imaginava, que seria o refúgio de um homem rico, sofisticado, mas acolhedor. Uma lareira de pedra creptava no centro da sala, lançando sombras dançantes nas paredes de madeira. Havia livros espalhados sobre a mesa de centro, uma garrafa de vinho meio vazia e uma única taça.
Nenhuma decoração de Natal além de uma pequena árvore artificial no canto, sem enfeites. Pode colocar ali na mesa. Bernardo indicou a mesa de jantar junto à janela panorâmica que dava vista para as montanhas iluminadas pela lua. “Obrigado por preparar tudo com tanto cuidado. Dá para ver que você coloca amor no que faz”. Maitê sentiu suas bochechas corarem. Ninguém nunca havia elogiado seu trabalho daquela forma tão genuína.
É meu trabalho”, murmurou, começando a desarrumar os pratos com mãos trêmulas. “Não.” A voz dele veio mais próxima e ela percebeu que ele estava parado ao seu lado, observando cada movimento. Trabalho é o que se faz por obrigação. O que você faz é arte. Cada sobremesa que provei tinha uma alma.
E essa? Ele apontou para o panetone ainda coberto. Essa é a peça de resistência, não é? Ela apenas assentiu, sem conseguir confiar na própria voz. Um silêncio constrangedor pairou no ar enquanto ela terminava de organizar tudo. Quando estava prestes a se despedir e fugir daquele chalé e daqueles olhos azuis que pareciam enxergar através dela, Bernardo falou: “Você vai passar o Natal sozinha, não vai?” A pergunta a pegou completamente desprevenida.
Maite o encarou, procurando por deboche ou pena em seu rosto, mas encontrou apenas uma sincera curiosidade e talvez um reflexo de sua própria solidão. Eu, como você, já ouvi você conversando com uma das camareiras mais cedo. Ele admitiu, passando a mão pelos cabelos, em um gesto que parecia nervoso. Não foi proposital, mas as paredes desse lugar não são exatamente a prova de som.
Você disse que sua avó está no interior e que você teria que trabalhar até tarde. Maitê sentiu as defesas se erguendo automaticamente. Não gostava que as pessoas soubessem de sua vida. Não gostava de parecer digna de pena. Estou acostumada. Não é grande coisa. Para mim também não costuma ser. Bernardo pegou a segunda taça de cristal que estava sobre o aparador e a encheu com o vinho.
Mas hoje, hoje eu preferiria companhia. Você aceita compartilhar essa ceia comigo? O mundo de Maitê parou. Ela olhou para ele, para a mesa farta, para a lareira acolhedora e depois para a porta que levava de volta à sua pequena vida segura e solitária.
Todas as vozes em sua cabeça gritavam para recusar, para sair dali, para não se colocar em uma situação vulnerável com um homem que ela não conhecia. Mas havia algo nos olhos dele, uma solidão tão profunda quanto a sua, uma humanidade que rasgava todas as suas defesas cuidadosamente construídas. “Eu não deveria”, começou, mas sua própria voz soava fraca até para si mesma. “Não deveria ou não quer?”, Bernardo perguntou suavemente, estendendo a taça na direção dela.
“Porque se não quiser, eu entendo perfeitamente, mas se é apenas o deveria que está te impedindo?” Bem, é Natal. Todo mundo merece companhia no Natal. Maitê olhou para a taça de vinho, para a mão masculina que assegurava com delicadeza, e então para aqueles olhos azuis que pareciam enxergar partes dela que nem ela mesma conhecia.
E pela primeira vez em oito anos, desde aquele dia terrível em que aprendeu que nem todos os homens eram confiáveis, Maitê tomou uma decisão baseada não medo, mas em algo muito mais perigoso. Esperança. Está bem, sussurrou, aceitando a taça. Mas só por algumas horas, o sorriso que iluminou o rosto de Bernardo foi como o sol nascendo após uma longa noite de inverno.
E Maitê não fazia ideia de que aquelas algumas horas mudariam sua vida para sempre. Mas o que nenhum dos dois sabia era que a tempestade que se aproximava não seria apenas de neve. O vinho era bom, suave, aveludado, com notas de frutas vermelhas que aqueciam a garganta de Maitê enquanto descia. Ela não costumava beber. Na verdade, aquela era apenas a terceira vez que provava vinho na vida.
Mas havia algo na atmosfera daquele chalé naquela noite que tornava tudo diferente. Bernardo era um anfitrião surpreendentemente atencioso. Serviu-a com gestos gentis, nunca permitindo que ela se sentisse como uma funcionária, prestando um favor, mas sim como uma convidada genuína.
puxou a cadeira para ela sentar, esperou que ela se servisse primeiro e quando finalmente começaram a comer, seus elogios à comida foram sinceros e específicos. “Esse tender está perfeito”, ele comentou, saboreando cada garfada. “Como você conseguiu esse equilíbrio entre doce e salgado? É quase impossível”. Maitê sentiu o orgulho florescer em seu peito, substituindo gradualmente o nervosismo inicial.
É uma receita da minha avó. Ela usa melado de cana e um toque de mostarda de João. O segredo está em glaciar três vezes durante o cozimento, sempre em temperaturas diferentes. Sua avó deve ser uma mulher sábia. É. Um sorriso genuíno curvou os lábios de Maitê pela primeira vez. Lourdes é a mulher mais forte que conheço.
Me criou sozinha desde os 12 anos quando perdi minha mãe. Ela percebeu tarde demais o quanto havia revelado. Suas bochechas coraram e ela rapidamente tomou outro gole de vinho, desejando poder sugar as palavras de volta, porque estava se abrindo com um estranho. Mas Bernardo não fez perguntas invasivas, apenas a sentiu com compreensão.
E havia algo em seus olhos que dizia que ele entendia a dor da perda de uma forma muito pessoal. Minha mãe também se foi cedo”, ele disse suavemente, girando o vinho em sua taça. “Eu tinha 15 anos.” “Câncer, sinto muito. Eu também sinto pela sua perda. O silêncio que se seguiu não foi desconfortável. Era o tipo de silêncio que existe entre duas pessoas, que reconhecem a dor da outra, que sabem que algumas feridas nunca cicatrizam completamente, apenas aprendem a coexistir com a vida.
A conversa fluiu mais facilmente depois disso. Maitê descobriu que Bernardo, apesar de toda sua riqueza e sucesso, era surpreendentemente humilde. Ele falava sobre seu trabalho, algo relacionado à tecnologia e inovação, mas sem aquela arrogância que ela esperava de alguém tão bem-sucedido. Raia facilmente, fazia perguntas genuínas sobre a vida dela em Gramado e ouvia cada resposta como se realmente importasse.
Por que você passa o Natal sozinho? Maitê perguntou quando já estavam na segunda taça de vinho, sentindo-se corajosa o suficiente para inverter as perguntas. Um homem como você deve ter, sei lá, dezenas de convites para festas, jantares. Bernardo olhou para a lareira, as chamas refletindo em seus olhos azuis de uma forma que os fazia parecer ainda mais profundos.
justamente por isso, respondeu com uma honestidade que a surpreendeu. Quando você tem dinheiro, Maitê, descobre rapidamente que todo mundo quer um pedaço de você. As festas, os jantares, os amigos, na maioria das vezes não passam de networking disfarçado, negócios, contatos, oportunidades. Ninguém realmente se importa com, ele fez uma pausa, como se procurasse as palavras certas, com a pessoa por trás da conta bancária. Isso deve ser muito solitário. É.
Ele a encarou com uma intensidade que fez o coração dela pular uma batida. Por isso venho para cá todo Natal há 5 anos, sozinho, longe de tudo e todos, apenas existindo, sem máscaras, sem performances. Maite entendeu perfeitamente, não pelos mesmos motivos, mas entendia o que era construir paredes ao redor do coração, o que era preferir a solidão a possibilidade de ser ferida novamente. Foi quando começou a nevar mais forte.
Inicialmente foram apenas alguns flocos mais volumosos batendo contra a janela, mas em questão de minutos a neve se transformou em uma verdadeira tempestade. O vento uivava ao redor do chalé, sacudindo as janelas e fazendo a estrutura de madeira gemer sob a pressão. Céus! Paité se levantou correndo até a janela. Lá fora, a visibilidade era praticamente zero.
Uma cortina branca e densa cobria tudo, e ela nem conseguia distinguir onde terminava o jardim e começava a trilha. “Eu preciso voltar para a pousada principal.” Bernardo se juntou a ela na janela, sua expressão ficando séria. Isso não é seguro. A trilha tem pelo menos 15 minutos de caminhada em condições normais. Com essa tempestade, você pode se perder em segundos.
Mas eu não posso ficar aqui. O pânico começou a subir pela garganta de Maitê, não pelo perigo da tempestade em si, mas pela ideia de ficar presa ali, sozinha com um homem que ela mal conhecia. Seus velhos medos começaram a despertar como feras adormecidas. Eu preciso, ei, ei, calma.
Bernardo colocou as mãos suavemente nos ombros dela, virando-a para encará-lo. Seus olhos estavam firmes, mas gentis. Respira fundo comigo. Você está segura aqui. Eu prometo. Mas Maitê não conseguia controlar a respiração acelerada. Memórias que tinha enterrado há anos começaram a emergir. Um homem mais velho, promessas sussurradas, mãos que avançaram mesmo quando ela disse não.
O terror de estar presa sem ninguém para ouvi-la gritar. Maitê, olha para mim. A voz de Bernardo cortou através do pânico. Você está tendo um ataque de ansiedade. Preciso que você respire comigo. Está bem? Inspira. Conta até quatro. Expira. Ela focou naqueles olhos azuis, na voz calma e firme, e gradualmente sua respiração começou a se normalizar.
Bernardo não a tocava além das mãos nos ombros dela, mantendo uma distância respeitosa, e havia algo em sua postura, completamente aberta, nada ameaçadora, que ajudou a acalmar os démons internos de Maitê. Quando finalmente ela conseguiu respirar normalmente, Bernardo a guiou de volta para o sofá perto da lareira, mantendo sempre aquela distância segura. Me desculpe, Maitê sussurrou, sentindo as lágrimas ameaçarem cair. Eu não queria.
Você não precisa se desculpar por nada. Bernardo sentou-se na poltrona em frente, nunca no mesmo sofá, respeitando seu espaço. Mas eu preciso que você saiba de algo muito importante. Você está completamente segura aqui. Tem um quarto de hóspedes ali que é todo seu. Porta com tranca por dentro.
Você pode trancar a porta e nem precisar me ver até a tempestade passar. Se isso te fizer sentir melhor. Maitê olhou para ele, procurando por qualquer sinal de falsidade, qualquer indício daquele tipo de interesse predatório que aprendeu a identificar. Mas tudo que viu foi sinceridade genuína e preocupação real com seu bem-estar.
Por que você está sendo tão gentil? Bernardo sorriu com tristeza. Porque alguém claramente não foi gentil com você no passado, e eu seria um monstro se aproveitasse dessa situação. As lágrimas finalmente caíram. Não de medo, mas de um alívio tão intenso que doía.
Há quanto tempo não se sentia verdadeiramente segura perto de um homem? Eu limpou as lágrimas com as costas da mão. Você não tem que saber disso. Mas quando eu tinha 16 anos, um homem mais velho fingiu se importar comigo, disse todas as coisas certas. fez todas as promessas certas. E quando eu finalmente confiei nele, ele ele tentou, não precisou terminar. A mandíbula de Bernardo se apertou e seus olhos brilharam com uma raiva contida, mas não direcionada a ela.
Era raiva por ela. Não dela. Não posso mudar o que aconteceu com você. Ele disse com voz tensa de emoção contida. Mas posso prometer que enquanto estiver sob este teto comigo, você decide tudo. Cada conversa, cada espaço, cada momento. E se em algum ponto você quiser que eu me afaste, eu me afasto. Sem perguntas, sem julgamentos.
Maite a sentiu, sentindo algo dentro dela começar a se curar. Apenas um pouquinho, mas era um começo. Obrigada, sussurrou. A tempestade continuou ivando lá fora por horas, mas dentro do chalé, ao lado da lareira crepitante, algo inesperado aconteceu. Eles voltaram a conversar, dessa vez, mais profundamente, mais honestamente. Bernardo contou sobre a pressão de assumir o império tecnológico do pai aos 22 anos, sobre a solidão de nunca saber se as pessoas gostam de você ou do seu dinheiro, sobre como construiu paredes tão altas que agora nem ele mesmo
conseguia derrubá-las. Mait falou sobre seus sonhos de abrir sua própria confeitaria um dia, sobre como se sentia presa entre o medo de arriscar e o desejo de algo mais, sobre como a confeitaria era a única parte de sua vida, onde se sentia verdadeiramente livre e no controle. Quando o relógio marcou 2as da manhã, a tempestade ainda não havia dado trégua.
Bernardo mostrou a Maitê o quarto de hóspedes, impecavelmente arrumado, com roupa de cama de qualidade hoteleira e uma janela com vista para a floresta branqueada pela neve. Tem roupas limpas ali na gaveta. Ele apontou para a cômoda. São minhas, então vão ficar grandes, mas é melhor do que dormir com uniforme. O banheiro tem toalhas novas e amenitis.
Qualquer coisa, qualquer coisa mesmo. Meu quarto é ali ao lado. É só bater na parede. Bernardo Maitê o chamou quando ele estava saindo do quarto. Sim, obrigada por esta noite, por tudo. Ele sorriu e foi o sorriso mais bonito que ela já vira. Boa noite, Maitê. E feliz Natal.
Quando a porta se fechou e Maitê ouviu o clique tranquilizador da tranca. Ela se permitiu finalmente processar tudo que havia acontecido. Havia saído da pousada esperando apenas entregar uma ceia e voltar para sua vida. Mas de alguma forma, naquela noite de tempestade, encontrou algo que não sabia estar procurando, alguém que havia verdadeiramente via.
enquanto se deitava na cama confortável, vestindo uma camisa de Bernardo que cheirava a colônia cara e algo intangível que era só dele, Maitê sorriu pela primeira vez em muito tempo. Lá fora, a tempestade rugia, mas dentro do seu coração, pela primeira vez em 8 anos, havia uma pequena brasa de esperança começando a brilhar.
E aquela brasa estava prestes a se transformar em algo muito maior do que qualquer um deles poderia imaginar. A manhã de Natal amanheceu com um silêncio surreal. Maité acordou desorientada, levando alguns segundos para lembrar onde estava. A luz do sol refletindo na neve criava um brilho quase ofuscante que invadia o quarto através das cortinas semiabertas.
Ela se sentou na cama, ainda vestindo a camisa de Bernardo, que lhe servia como um vestido, e observou pela janela um mundo completamente transformado. A tempestade havia passado, deixando para trás um cenário de conto de fadas. Os pinheiros estavam tão carregados de neve que seus galhos curvavam-se graciosamente em direção ao chão. O céu estava de um azul límpido, cristalino, sem uma única nuvem.
E o silêncio era tão absoluto que ela conseguia ouvir o próprio coração batendo. O cheiro de café fresco invadiu suas narinas, fazendo seu estômago roncar. Depois de se arrumar o melhor que pôde, lavou o rosto, prendeu os cabelos em um rabo de cavalo frouxo e vestiu novamente o uniforme que estava surpreendentemente limpo e passado sobre uma cadeira.
Maitê saiu do quarto, encontrou Bernardo na cozinha preparando o café da manhã. Ele usava uma cal cinza e tinha o cabelo ainda úmido do banho. Estava descalço e havia algo tão íntimo e doméstico naquela cena que Maitê sentiu seu coração falhar uma batida. Bom dia. Ele sorriu ao vê-la. E, meu Deus, aquele sorriso deveria ser ilegal. Espero que tenha dormido bem.
Preparei café, mas aviso que minhas habilidades culinárias são vergonhosamente limitadas se comparadas às suas. Maitê riu, sentindo a tensão dos últimos dias se dissolver. Bom dia. Dormi surpreendentemente bem, na verdade.
Eles tomaram café juntos, desta vez sob a luz suave da manhã, que tornava tudo menos intenso, menos carregado de emoção. Era fácil estar com ele, Maitê percebeu. Fácil de uma forma que nunca havia sido com ninguém. Não havia necessidade de preencher cada silêncio. Não havia pressão para ser algo além do que realmente era. “A trilha deve estar intransitável por algumas horas”, Bernardo comentou, olhando pela janela. “Os funcionários da pousada provavelmente vão limpar até o fim da manhã.
Você se importa de ficar mais um pouco?” O coração de Maitê disparou. Ela deveria dizer não. Deveria inventar uma desculpa, criar distância, proteger-se? Mas quando olhou para aqueles olhos azuis, tudo que conseguiu foi assentir. Eu adoraria. Passaram a manhã de uma forma surpreendentemente simples.
Bernardo tinha uma coleção impressionante de vin antigos e colocou música clássica para tocar em volume baixo enquanto conversavam. Ele lhe mostrou os livros que estava lendo, uma mistura eclética de filosofia, ficção científica e poesia. Maitê, por sua vez, folhou um livro de poemas gaúchos que pertencera à mãe dele, sentindo a conexão com algo sagrado e pessoal. O amor não se pede, não se compra, não se rouba.
O amor é dado ou não é amor, leu em voz alta, suas dedos traçando as palavras escritas à mão na margem do livro. Minha mãe marcou esse trecho.” Bernardo disse suavemente, sentado ao seu lado no sofá, mas respeitando o espaço entre eles. Ela costumava dizer que essa era a única verdade absoluta sobre o amor. Ela tinha razão.
Foi então naquele momento de vulnerabilidade compartilhada, que algo mudou no ar. Bernardo olhou para Maitê com uma intensidade que fez cada nervo do corpo dela despertar. “Posso fazer uma pergunta muito pessoal?”, Ele perguntou hesitante. Você pode não responder se não quiser. Maitê engoliu em seco, mas assentiu. Por que uma mulher incrível, inteligente e linda como você está passando o Natal sozinha? Não há ninguém em sua vida? A pergunta que ela sabia que viria eventualmente, a pergunta que sempre vinha. Maitê fechou o livro suavemente, devolvendo-o às mãos de
Bernardo, e levantou-se do sofá. caminhou até a janela, abraçando o próprio corpo em um gesto defensivo involuntário. “Porque eu tenho medo?” A voz dela saiu fraca, mas firme. Muito medo. Bernardo não disse nada, apenas esperou. E aquele silêncio paciente, aquela ausência de pressão, foi o que deu a Maitê a coragem de continuar.
Depois daquele homem, depois do que ele tentou fazer, eu nunca mais consegui confiar. Cada vez que alguém demonstrava interesse, eu via aquele dia de novo, as promessas, as mentiras, as mãos dele me agarrando enquanto eu chorava e pedia para parar. As lágrimas começaram a cair, mas ela não as limpou. Eu tinha 16 anos, Bernardo. 16. E ele tinha 32.
Maitê? Não. Ela se virou para encará-lo e havia uma bravura feroz em seus olhos molhados. Você precisa saber. precisa entender porque eu sou assim. Aquele dia destruiu algo em mim. Minha avó me levou à terapia, fez tudo certo, me apoiou de todas as formas possíveis, mas algumas coisas simplesmente não se consertam completamente, sabe? Bernardo estava de pé agora, mas mantinha a distância, seus punhos cerrados ao lado do corpo, como se estivesse lutando contra o impulso de abraçá-la. Você não está quebrada, Maitê”, ele disse com uma convicção que
cortou através de anos de autodepreciação. “Você sobreviveu. Você continuou vivendo, trabalhando, criando coisas lindas com suas mãos. Isso não é estar quebrada, isso é força. Mas eu nunca”, as palavras travaram em sua garganta. Dizer em voz alta era expor a vulnerabilidade mais profunda que possuía. Eu nunca fui tocada depois daquele dia, nem sequer um beijo.
Eu eu tenho 24 anos e ainda sou As palavras morreram em seus lábios. A compreensão atravessou o rosto de Bernardo como um raio virgem. Recompletou suavemente, sem julgamento, apenas entendimento. Maite assentiu sentindo as bochechas queimarem de vergonha e exposição.
Todo mundo acha que é porque sou religiosa ou porque estou esperando o casamento ou sei lá qual motivo romântico. Mas a verdade é que eu simplesmente não consigo. Cada vez que alguém chega perto demais, toco demais, eu volto para aquele dia e eu congelo. É como se meu corpo se desligasse, como se eu estivesse presa em gelo. O silêncio que se seguiu foi carregado de emoção.
Maitê podia ver a mandíbula de Bernardo trabalhando, seus olhos brilhando com algo intenso que ela não conseguia nomear. “Maitê, olha para mim”, ele pediu suavemente. Ela o fez, encontrando aqueles olhos azuis que pareciam capazes de enxergar através de todas as suas defesas. Eu preciso que você entenda algo muito importante. Bernardo deu um passo em sua direção, depois parou, esperando permissão silenciosa.
Quando ela não recuou, ele deu mais um passo e depois outro, até estar parado bem na frente dela. O que aconteceu com você não foi culpa sua. Você não pediu por aquilo. Você não mereceu aquilo. E você não tem que se sentir envergonhada por ser exatamente quem você é. Mas eu sou estragada. Não. A palavra saiu com tamanha firmeza. que Maitê se calou imediatamente.
Você não é estragada. Você é uma mulher incrível que passou por algo traumático e está fazendo o melhor que pode. E se eu tiver alguma coisa a dizer sobre isso? Ele ergueu as mãos lentamente, telegrafando cada movimento, dando a ela tempo para recuar, se quisesse. Quando seus dedos finalmente tocaram gentilmente as bochechas dela, limpando as lágrimas, foi com uma ternura que fez o coração de Maitê se partir e se reconstruir ao mesmo tempo.
Você só será tocada quando estiver pronta no seu tempo, no seu ritmo, sem pressão, sem expectativas. E se esse dia nunca chegar comigo, tudo bem também. Como você pode dizer isso? Maitê sussurrou, sentindo-se completamente exposta e protegida ao mesmo tempo. Nós mal nos conhecemos. Por que você seria tão paciente? Bernardo completou seu polegar, traçando suavemente a curva da bochecha dela.
Porque nos últimos dois dias eu conversei mais honestamente com você do que conversei com qualquer pessoa nos últimos 5 anos. Porque quando você riasse mais claro. Porque quando você fala sobre confeitaria, seus olhos brilham de uma forma que me faz querer ver você falar sobre tudo que te apaixona. As palavras dele eram como bálsamo sobre feridas antigas.
Maitê sentiu algo dentro dela começar a ceder. Muros que havia construído tão cuidadosamente começando a rachar. Eu tenho medo admitiu em um sussurro. Medo de que você perceba que eu sou bagagem demais. Medo de que você me veja como projeto de caridade. Medo de que de que eu só te queira por uma coisa. Ele terminou a frase que ela não conseguiu completar.
Quando ela assentiu fracamente, Bernardo afastou as mãos do rosto dela, mas capturou suas mãos entre as suas. Então, vou fazer uma promessa para você agora, Maitê. Uma promessa que você pode me cobrar todos os dias se precisar. Eu não vou tocar você. Além do que você permitir. Não vou pressionar você além do que você estiver confortável.
E se tudo que tivermos for conversas ao lado da lareira e passeios pela neve, isso será mais do que suficiente para mim. Por quê? A pergunta saiu como um gemido. Por que você faria isso? Bernardo sorriu e havia tanta ternura naquele sorriso que Maitê sentiu seu coração se render completamente. Porque você, Maitê, vale a espera, não importa quanto tempo seja. E ali, naquela manhã de Natal, com a neve brilhando lá fora e a lareira crepitando suavemente, algo mágico aconteceu. Maitê chorou.
Chorou como não chorava desde aquele dia terrível 8 anos atrás. Mas desta vez não eram lágrimas de dor ou trauma. eram lágrimas de alívio, de libertação, de esperança. E quando Bernardo gentilmente a puxou para um abraço, um abraço casto, protetor, nada ameaçador, ela se permitiu derreter contra seu peito. Pela primeira vez em quase uma década, permitiu-se segurada por um homem sem sentir terror.
E foi libertador. “Obrigada”, ela sussurrou contra o suéter dele, sentindo o batimento cardíaco forte e constante sob sua bochecha. Obrigada por me ver, por me ouvir, por esperar sempre, Maitê. Ele respondeu, seus lábios roçando no topo da cabeça dela, em um gesto que era mais promessa do que qualquer outra coisa. Sempre.
E naquele abraço, naquela promessa sussurrada, começava uma história que nenhum dos dois estava preparado para viver. A trilha finalmente foi limpa pouco depois do meio-dia. O sol de inverno brilhava forte sobre gramado, derretendo parte da neve. e criando pequenos riachos cristalinos ao longo dos caminhos. Era hora de Maitê voltar para a realidade.
Ela estava terminando de arrumar suas poucas coisas que basicamente consistiam em seu uniforme e sua dignidade recém-restaurada quando ouviu a voz de Bernardo vindo da sala. Maitê, pode vir aqui um segundo? Ela encontrou-o de pé ao lado da árvore de Natal artificial sem enfeites, segurando algo embrulhado em um lenço de seda.
“Antes de você ir?” Ele começou e havia uma vulnerabilidade em sua voz que ela não havia ouvido antes. “Eu tenho algo para você. Bernardo, você não precisa. Eu sei que não preciso, mas eu quero.” Ele estendeu o pacote para ela. Feliz Natal, Maitê. Com mãos trêmulas, ela aceitou o presente. Não era uma caixa de joias, cara? ou um envelope com dinheiro, como parte dela temia que fosse. Era algo embrulhado com cuidado pessoal. Quando abriu, seu coração parou.
Era o livro de poesias gaúchas, o livro que pertencera à mãe dele, o livro com anotações escritas à mão nas margens, palavras de uma mulher que partira cedo demais, deixando para trás apenas memórias e amor. “Bernardo, eu não posso aceitar isso”, Maitê disse imediatamente, tentando devolver o livro. Esse livro pertenceu à sua mãe. É muito valioso, muito pessoal. Exatamente.
Ele fechou suavemente as mãos dela ao redor do livro. impedindo que devolvesse. Minha mãe costumava dizer que as coisas mais preciosas não devem ficar guardadas, devem ser compartilhadas com pessoas que sabem apreciá-las. E você? Seus olhos brilhavam com emoção contida.
Você viu esse livro por 5 minutos e já entendeu sua essência? Já sentiu o que ela sentia quando escreveu aquelas notas. Ela ia querer que você o tivesse, mas além disso, um pequeno sorriso brincou nos lábios dele. É a desculpa perfeita para nos vermos de novo. Vou precisar que você me empreste de volta de vez em quando para matar a saudade.
Maitê olhou para ele, para o livro em suas mãos e sentiu lágrimas ameaçarem cair novamente. Ninguém nunca havia lhe dado algo tão significativo, tão carregado de confiança e afeição genuína. Obrigada. foi tudo que conseguiu sussurrar. Eu vou cuidar dele como se fosse meu maior tesouro. Eu sei que vai.
Bernardo tocou gentilmente seu rosto, um gesto que já estava se tornando familiar e reconfortante. E Maitê, sobre nos vermos de novo, eu não quero que isso termine aqui. Essas últimas horas foram foram as melhores que passei em muito tempo. O coração dela disparou. Você volta para São Paulo amanhã, não é? Esse era o plano, ele admitiu, mas eu estava pensando, e se eu cancelasse minha viagem? Se ficasse aqui em Gramado até depois do ano novo? Maite piscou certa de que havia entendido errado.
Você o quê? Olha, eu sei que isso parece loucura. Bernardo passou a mão pelos cabelos em um gesto nervoso que ela estava começando a achar adorável. Acabamos de nos conhecer e você tem todo o direito de achar que sou um maluco obsecado, mas eu não consigo simplesmente ir embora e nunca mais te ver.
Não, quando sinto que que isso ele gesticulou entre os dois, que isso pode ser algo real. Bernardo, não precisa responder agora. Ele se apressou em dizer: “Não vou pressionar você. Se você quiser que eu vá embora, eu vou. Se você quiser espaço, eu te dou espaço. Mas se, e é um grande ser, você estiver disposta a me dar uma chance, uma chance de te conhecer de verdade no seu tempo, seguindo suas regras, eu vou ficar.
Maite olhou para aqueles olhos azuis sinceros, para aquele homem que havia virado seu mundo de cabeça para baixo em menos de 24 horas. Toda a lógica gritava para recusar, para se proteger, para não mergulhar de cabeça em algo tão intenso, tão rápido.
Mas seu coração, aquele coração ferido que havia se escondido por tanto tempo, sussurrava algo diferente. “Eu eu gostaria disso.” Ela finalmente admitiu, sentindo uma mistura aterrorizante de empolgação e terror, de te ver de novo, de te conhecer melhor. Mas devagar, Bernardo, muito devagar. O sorriso que iluminou o rosto dele foi como o sol atravessando nuvens.
Devagar, ele concordou, pegando sua mão e entrelaçando seus dedos. No seu ritmo, sempre no seu ritmo. Eles caminharam de mãos dadas pela trilha de volta à pousada principal. A neve derretia ao redor deles, criando uma sinfonia de pingos e pequenos córregos. Quando chegaram à entrada da cozinha, Bernardo parou.
Então, quando posso te ver de novo? Maitê pensou por um momento, seu coração ainda acelerado, mas agora de antecipação em vez de medo. Amanhã termino meu turno às 5. Podemos, não sei, tomar um chocolate quente no centro. Chocolate quente no centro? Bernardo repetiu como se estivesse memorizando as coordenadas do tesouro mais precioso. É um encontro.
Um encontro, Maitê confirmou, sentindo suas bochechas corarem. Ele se inclinou lentamente, dando a ela tempo de se afastar, se quisesse. Quando ela não o fez, ele plantou um beijo suave em sua testa, casto, respeitoso, mas carregado de promessas não ditas. Até amanhã, Maitê. Até amanhã, Bernardo. Enquanto observava ele caminhar de volta pela trilha, sua figura alta e elegante se destacando contra a neve, Maitê apertou o livro contra o peito e sorriu.
Um sorriso verdadeiro, genuíno, que vinha de um lugar profundo dentro dela, que há muito tempo estava adormecido. Quando entrou na cozinha, foi imediatamente assaltada por Silvana. Então, a gerente perguntou com aquele tom ácido característico. Passou a noite com o hóspede VIP? Espero que tenha sido profissional, mas pela primeira vez em oito anos, Maitê não se sentiu diminuída ou envergonhada pelas insinuações maldosas.
Em vez disso, sorriu completamente profissional, respondeu com uma confiança nova. Agora, se me der licença, preciso começar a preparar os petiscos para o almoço. Enquanto trabalhava, suas mãos moldando massa e criando pequenas obras de arte comestíveis, Maitê percebeu algo fundamental. pela primeira vez em muito tempo, estava animada para o futuro, não aterrorizada, não resignada, mas genuinamente animada.
E tudo por causa de um homem que prometeu esperar, um homem que viu suas cicatrizes e escolheu ficar, um homem que lhe deu o presente mais valioso que alguém poderia dar, tempo e paciência. Mas o que Mait ainda não sabia era que o mundo de Bernardo era muito mais complicado do que ela imaginava e que manter essa promessa seria testado de formas que nenhum deles esperava. Os dias seguintes se desenrolaram como um sonho que Maitê tinha medo de acordar.
Verdadeiro as suas palavras. Bernardo aparecia todos os dias na confeitaria da pousada, sempre com uma desculpa diferente para precisar provar suas criações mais recentes. Esse brigadeiro de pistache é investigação científica ou você só quer me ver engordar? Ele perguntou no terceiro dia, já no quarto docinho, que experimentava com evidente prazer.
Maitê riu, secando as mãos no avental, enquanto observava ele saborear cada pedaço com uma concentração quase cômica. Considere sua contribuição para o aperfeiçoamento da gastronomia brasileira. Que sacrifício nobre estou fazendo?” Bernardo fingiu um suspiro dramático, mas seus olhos brilhavam com diversão genuína. A rotina deles se estabeleceu de forma natural, orgânica.
Bernardo respeitava o horário de trabalho de Maitê, nunca a distraindo quando ela estava ocupada com encomendas importantes. Mas sempre que ela tinha uma pausa, lá estava ele com um café fresco ou um comentário bem humorado que a fazia esquecer o cansaço. Quando seu turno terminava, exploravam gramado juntos. Bernardo, apesar de ter visitado a cidade por 5 anos consecutivos, nunca havia realmente conhecido seus encantos.
Sempre se isolara no chalé. evitando multidões e interações. Mas com Maitê tudo era diferente. Ela o levou ao lago negro, onde caminharam pela trilha de pedras, cercada de árvores que pareciam guardiões silenciosos. O ar estava perfumado com pinho e terra úmida, e a luz do fim de tarde criava reflexos dourados na superfície espelhada da água. Minha avó me trouxe aqui pela primeira vez quando eu tinha 7 anos.
Maitê compartilhou, seus olhos distantes na lembrança. Eu achei que era o lugar mais mágico do mundo. Ainda acho. Bernardo observava ela com uma intensidade que fazia seu coração acelerar. Posso segurar sua mão? A pergunta feita sempre, nunca presumida, fazia Maitê se sentir simultaneamente protegida e valorizada.
Ela estendeu a mão e, quando os dedos longos e quentes dele envolveram os seus, sentiu uma onda de calor que não tinha nada a ver com temperatura. sempre ela respondeu, e a palavra carregava mais significado do que apenas aquele momento.
Visitaram a rua coberta, onde Mait insistiu em comprar chocolate artesanal, porque não se pode vir a Gramado e não comer chocolate caseiro. Bernardo tentou pagar, mas ela foi mais rápida, estendendo suas próprias notas com um sorriso desafiador. “Eu te convido dessa vez”, ela disse e havia orgulho em sua voz. Você pode ter mais zeros na conta bancária, mas meu dinheiro vale tanto quanto o seu. Bernardo não discutiu.
Em vez disso, aceitou com uma reverência exagerada que a fez gargalhar. Madame, agradeço pela generosidade. Jantaram em pequenas tratorias locais, lugares que Maitê conhecia desde criança, longe dos restaurantes turísticos caros. Bernardo parecia fascinado por tudo, a comida simples, mas deliciosa, as conversas descontraídas com donos de estabelecimentos que conheciam Maitê desde sempre, a autenticidade de uma vida que não girava em torno de aparências ou status.
Você é diferente aqui. Maitê comentou uma noite enquanto dividia uma sequência de fondu em um restaurante aconchegante com vista para as luzes da cidade. Mais leve. Bernardo sorriu, mergulhando um pedaço de pão no queijo derretido. É porque aqui eu sou só Bernardo. Não o se não o herdeiro do Império Castel. Não o homem que move milhões com uma assinatura, só eu.
E quem é você, Bernardo? Maitê perguntou suavemente, seus olhos procurando-os dele através das velas que iluminavam a mesa. Quando tira todas as etiquetas e expectativas, ele ficou em silêncio por um longo momento, considerando a pergunta com a seriedade que merecia. Honestamente, eu ainda estou descobrindo, admitiu finalmente.
Passei tanto tempo sendo quem meu pai precisava que fosse, quem a empresa precisava que fosse, quem o conselho esperava que fosse, que esqueci de descobrir quem eu queria ser. Mas aqui com você, seus dedos encontraram os dela sobre a mesa. Pela primeira vez sinto que posso descobrir. O coração de Maitê se apertou com a vulnerabilidade crua em suas palavras. E quem você quer ser? Alguém real?” Bernardo respondeu sem hesitar.
Alguém que importa não pelo dinheiro que tem, mas pelo homem que é. “Alguém que merece?” Ele fez uma pausa, seus olhos fixos nos dela. “Alguém que merece você”. As bochechas de Maitê coraram violentamente. Você já merece, Bernardo. Mas ela havia a dúvida em seus olhos, o mesmo medo que ela carregava, dois corações feridos, duas almas que aprenderam a se proteger, tentando encontrar coragem para se arriscar novamente. Os dias se transformaram em uma semana.
E, naquela semana, algo mágico aconteceu. Maitê começou a se curar. Pequenas coisas que antes a aterrorizavam se tornavam mais fáceis. Quando Bernardo passou o braço ao redor de seus ombros durante um passeio noturno, porque ela estava tremendo de frio, ela não congelou.
Quando ele sugeriu assistirem ao pôr do sol sentados próximos em um banco do parque, ela não sentiu necessidade de manter distância física. Cada toque era telegrafado, cada aproximação era consentida. E gradualmente, seu corpo começou a entender que nem todo homem era uma ameaça, que este homem específico era seguro. Os funcionários da pousada naturalmente começaram a fofocar.
“Olha só a Maitê com o milionário”, sussurrava a recepcionista Laura para a camareira Ana, enquanto elas observavam Bernardo esperando Maitê terminar o turno. Quem diria que nossa confeiteirinha tímida ia fisgar um peixe tão grande? Isso não vai durar. Silvana, a gerente adicionou com veneno mal disfarçado. Homens como ele não ficam com garotas como ela. É só diversão de férias.
Quando janeiro chegar, ele vai voltar para o mundo dele e esquecer que ela existe. Maite ouvia tudo do outro lado da porta da cozinha e as palavras cravavam como facas, porque parte dela, aquela parte assustada e insegura, acreditava que Silvana pudesse estar certa. Mas então Bernardo aparecia com aquele sorriso que era só dela.
Segurava sua mão como se fosse a coisa mais preciosa do mundo e todas as dúvidas se dissipavam, pelo menos temporariamente. Uma tarde ele a surpreendeu, aparecendo com equipamento de escalada. Você disse que sempre quis escalar aquela formação rochosa no morro do elefante, mas nunca teve coragem”, ele explicou, seus olhos brilhando com entusiasmo.
“Então contratei um instrutor. Vamos fazer isso juntos. Você está maluco?” Mait riu, mas seu coração estava disparado. “Eu vou morrer de medo lá em cima.” “Não vai.” Bernardo tomou suas mãos. “Sério agora, porque eu vou estar bem ao seu lado. E se você quiser descer a qualquer momento, descemos.
Sem julgamento, sem decepção. Mas Maitê, ele acariciou gentilmente seu rosto. Você passou os últimos oito anos deixando o medo te impedir de viver. Que tal tentarmos algo diferente juntos? E ela foi com as pernas tremendo e o coração na garganta, Maitê escalou aquela rocha. Várias vezes pensou em desistir, em ceder ao terror que ameaçava paralisá-la, mas sempre que olhava para o lado, lá estava Bernardo, encorajando-a com palavras suaves e aquele sorriso confiante.
Quando finalmente chegaram ao topo e ela viu o gramado se estendendo abaixo dela como uma miniatura perfeita, Maitê começou a chorar, não de medo, mas de pura alegria libertadora. “Eu consegui.” Ela sussurrou incrédula. Eu realmente consegui. Você sempre foi capaz”, Bernardo disse, envolvendo-a em um abraço por trás, seu queixo repousando em seu ombro enquanto admiravam a vista juntos. Só precisava de alguém para te lembrar disso.
E naquele momento, no topo daquela montanha, com o vento bagunçando seus cabelos e o sol aquecendo suas faces, Maitê percebeu algo aterrorizante e maravilhoso ao mesmo tempo. Ela estava se apaixonando profunda, irrevogavelmente, terrivelmente se apaixonando por Bernardo Castelli, e aquilo a apavorava mais do que qualquer altura jamais poderia.
Mas o que ela não sabia era que o medo real estava apenas começando. A véspera de Ano Novo chegou em volta em uma névoa de expectativa e nervosismo. Gramado estava em festa, as ruas decoradas com milhares de luzes, música ecoando de cada esquina, turistas e locais se misturando em uma celebração que transcendia diferenças.
Maite havia conseguido a noite de folga, um pequeno milagre, considerando que era uma das datas mais movimentadas do ano para a pousada. Ela se arrumou com cuidado no pequeno apartamento que dividia com duas colegas de trabalho, escolhendo um vestido simples de malha azul marinho, que realçava suas curvas discretas e combinava com seus olhos castanhos. “Está linda”, comentou sua colega de quarto, Jéssica, observando-a aplicar uma leve maquiagem.
Esse homem tem muita sorte, você acha?” Maitê perguntou suas mãos tremendo levemente enquanto aplicava o rímel. As pessoas estão falando tanto, dizendo que isso não vai dar em nada. As pessoas são invejosas. Jéssica cortou, gentil, mas firme. Maitê, eu te conheço há três anos. Nunca, nunca mesmo. Te vi brilhar da forma como você está brilhando agora.
Seja lá o que esse homem está fazendo, está te fazendo bem e é isso que importa. As palavras aqueceram o coração de Maitê, dando-lhe a coragem que precisava. Bernardo a buscou pontualmente às 8. Estava devastadoramente atraente em calças escuras e um casaco de lã que acentuava seus ombros largos. Mas foi o buquê de flores silvestres em suas mãos que fez o coração dela derreter.
Não são rosas importadas? Porque achei que você ia preferir algo mais você. Ele explicou, estendendo as flores. Colhi na trilha perto do chalé esta tarde. Maité aceitou o buquê, inalando o perfume delicado de lavanda e margaridas campestres. Era perfeito. Exatamente o tipo de presente que ela valorizaria mais do que qualquer joia. Cara, são lindas, Bernardo.
Obrigada. Ele a levou não para um dos eventos grandiosos que aconteciam nos hotéis de luxo, mas para o lago negro, onde a prefeitura havia organizado uma festa comunitária com música ao vivo e fogos de artifício. Era perfeito, especial, mas não intimidador, festivo, mas íntimo.
Caminharam ao redor do lago, agora iluminado por lanternas flutuantes que criavam reflexos mágicos na água escura. A música ao vivo, uma banda tocando clássicos brasileiros, criava uma atmosfera nostálgica e romântica. “Dança comigo?” Bernardo estendeu a mão quando a banda começou a tocar uma versão suave de “Como é grande o meu amor por você”. Maitê hesitou.
Dançar significava proximidade física, significava ser segurada, significava vulnerabilidade. Mas quando olhou para aqueles olhos azuis, viu apenas ternura e paciência. “Está bem. Ela sussurrou, colocando sua mão na dele. Bernardo a guiou para a área improvisada de dança com uma graça natural.
Sua mão na cintura dela era firme, mas respeitosa, mantendo uma distância apropriada. Eles se moviam no ritmo da música e Maitê gradualmente permitiu-se relaxar contra ele. “Você dança bem”, ela comentou surpresa. Aulas de salão obrigatórias na adolescência. Ele admitiu com um sorriso. Meu pai acreditava que todo empresário deveria saber dançar para eventos corporativos.
Foi uma das poucas lições dele que não detestei. Conte-me sobre ele. Maité pediu suavemente. Seu pai, você nunca fala muito sobre ele. O rosto de Bernardo se ensombreu levemente, mas ele não desviou o olhar. Meu pai era complicado, brilhante nos negócios, impiedoso quando necessário, respeitado e temido em igual medida.
Ele amava minha mãe intensamente e quando ela morreu, parte dele morreu com ela. Ele se enterrou no trabalho e eu eu me tornei uma extensão da empresa, o herdeiro perfeito, o sucessor ideal. Ele me moldou para assumir seu império antes mesmo deeridade para votar. Isso deve ter sido muito pesado para uma criança. Foi. Bernardo admitiu suas mãos apertando levemente a cintura dela, mas eu não sabia que existia outra opção.
Quando ele morreu há 3 anos, assumi tudo: a empresa, as responsabilidades, o legado. E percebi que estava vivendo a vida dele, não a minha. É por isso que você vem para Gramado sozinho? Maitê perguntou, começando a entender. Para escapar dessa vida, era ele corrigiu suavemente. Mas este ano, este ano vinha encontrar algo que não sabia estar procurando.
Seus olhos se encontraram e o arreceu eletrificar. Maitê sentiu seu coração acelerar, uma mistura de desejo e medo corçando por suas veias. A banda começou a tocar garota de Ipanema e mais casais se juntaram à dança. O lago estava cada vez mais cheio, conforme a meia-noite se aproximava, mas para Maitê só existia Bernardo. Conversaram sobre tudo e nada enquanto dançavam.
Ele contou histórias engraçadas sobre reuniões corporativas desastrosas e ela compartilhou memórias da infância com a avó. riram juntos e aquele riso compartilhado era mais íntimo do que qualquer toque físico. Quando faltavam 5 minutos para a meia noite, Bernardo a guiou para um ponto mais afastado da multidão, perto das árvores que cercavam o lago.
Dali eles tinham uma vista perfeita do céu, onde os fogos seriam lançados. “Maitê”, ele começou. E havia uma seriedade em sua voz que fez ela prestar atenção total. “Ess dias com você foram os melhores da minha vida. E eu sei que estamos indo devagar, respeitando seu tempo. E eu estou completamente de acordo com isso. Mas preciso que você saiba. Eu não estou só passando tempo com você.
Eu estou, Ele procurou pelas palavras certas. Estou me apaixonando por você. E se isso te assusta, tudo bem. Podemos continuar devagar. Mas eu não queria entrar no ano novo sem que você soubesse. O coração de Maitê batia tão forte que ela tinha certeza de que ele podia ouvi-lo. Bernardo, você não precisa dizer nada agora. Ele se apressou.
Só queria que você soubesse onde eu estou. A contagem regressiva começou. Ao redor deles, centenas de vozes gritavam números. 10 o 8. Maitê olhou para aquele homem que havia virado o seu mundo de cabeça para baixo em apenas uma semana. Aquele homem que a via, que a ouvia, que esperava. Aquele homem que estava se apaixonando por ela, não apesar de suas cicatrizes, mas incluindo elas. Sete, seis, cinco.
E ela percebeu que não podia mais mentir para si mesma. Não podia mais fingir que não sentia o que claramente sentia. “Quro tr Eu também estou me apaixonando por você”, ela sussurrou e as palavras saíram como uma confissão e uma libertação. Um. Feliz ano novo. Os fogos explodiram no céu, pintando a noite com cores vibrantes, mas Bernardo só tinha olhos para ela. “Posso te beijar?”, ele perguntou suavemente, sua mão acariciando gentilmente seu rosto.
Maitê sentiu o medo tentar se infiltrar, tentou trazer memórias antigas e dolorosas, mas pela primeira vez ela lutou contra ele, porque este homem não era aquele homem. Este momento não era aquele momento. Sim. Ela sussurrou. Por favor. Bernardo se inclinou lentamente, dando a ela tempo para mudar de ideia.
Quando seus lábios finalmente tocaram os dela, foi como se o mundo inteiro parasse. O beijo foi doce, suave, respeitoso, nada exigente ou dominador. Seus lábios se moviam contra os dela, com uma ternura que fez lágrimas surgirem em seus olhos. Era o primeiro beijo de sua vida que era dado com amor, não tomado com força. Quando se separaram, ambos estavam ofegantes e emocionados. “Feliz ano novo, Maitê!” Bernardo sussurrou contra seus lábios.
“Feliz ano novo, Bernardo! Eles assistiram o resto do show de fogos abraçados e pela primeira vez na vida, Maite não sentiu medo de ser tocada. sentiu-seura, amada, completa, mas uma pequena voz no fundo de sua mente sussurrava preocupações que ela tentava ignorar.
E quando janeiro chegar? E quando ele tiver que voltar para São Paulo? E quando a realidade dele e a sua colidirem? Maite afastou os pensamentos, escolhendo viver aquele momento perfeito. Mas no fundo ela sabia que não podia viver em uma bolha para sempre. A realidade estava prestes a bater a porta e seria muito mais dura do que qualquer um deles imaginava.
Janeiro chegou com o peso inevitável da realidade. O dia que Maitê temia finalmente amanheceu. Bernardo precisava voltar a São Paulo. Eles estavam sentados no mesmo chalé onde tudo havia começado, a lareira crepitando suavemente enquanto a primeira semana do novo ano chegava ao fim. Bernardo segurava as mãos dela entre as suas. seus polegares traçando círculos reconfortantes em sua pele.
“Eu tenho reuniões na segunda-feira que não posso cancelar”, ele explicou. E havia genuína frustração em sua voz. São com investidores internacionais que marcaram há meses. Se eu não aparecer, posso comprometer negócios que afetam centenas de funcionários. Maite assentiu lutando contra o nó que se formava em sua garganta.
Ela sabia que esse dia viria, sabia que a bolha mágica que haviam criado eventualmente estouraria, mas saber tornava mais fácil. “Eu entendo”, ela disse. “E sua voz sou mais firme do que esperava. Você tem responsabilidades. Eu sempre soube que isso era temporário. Não. Bernardo apertou suas mãos com mais força. Não é temporário, Maitê. Não para mim. Eu vou voltar todo o fim de semana.
São apenas 5 horas de carro ou uma hora de voo, se eu realmente precisar. Vou sair de São Paulo na sexta à noite e voltar domingo à noite. Podemos fazer isso funcionar. Ela queria acreditar. Deus, como queria acreditar? Mas anos de decepção e a voz venenosa de Silvana ecoando em sua cabeça tornavam difícil.
Bernardo, você tem uma vida inteira em São Paulo, negócios, compromissos sociais, um mundo que eu nem consigo imaginar. Como isso vai funcionar quando você perceber que que o quê? Ele a interrompeu, virando-a para encará-lo diretamente. Quando eu perceber que você vale mais do que qualquer reunião corporativa, quando eu perceber que uma noite conversando com você é melhor do que qualquer gala beneficente, cheia de gente falsa? Eu já percebi isso, Maitê.
A questão é: você acredita em mim?” As palavras dela travaram. Por que, honestamente? Ela não sabia se acreditava, não por culpa dele, mas pelas próprias inseguranças que carregava. “Eu quero acreditar”, sussurrou finalmente. “Mas estou com tanto medo, Bernardo.” Ele a puxou para um abraço, seus lábios pressionados contra o topo da cabeça dela.
“Eu sei e não vou mentir dizendo que será fácil. A distância é difícil, mas Maitê, se isso for real, e eu sei que é, vamos encontrar um jeito. Quando ele partiu na manhã seguinte, Maitê sentiu como se um pedaço dela fosse arrancado. Ela o observou entrar no carro executivo que o buscou, elegante em seu terno de negócios, que era tão diferente das roupas casuais que usava em Gramado.
Naquele momento, ele parecia menos o Bernardo que conhecia e mais o CEO bilionário que o mundo via. e isso a aterrorizava. Os primeiros dias foram difíceis, mas gerenciáveis. Bernardo ligava todas as noites, mensagens constantes durante o dia, sempre que tinha uma pausa.
Ele compartilhava detalhes de suas reuniões, pedia conselhos sobre decisões e, genuinamente, parecia interessado em cada detalhe do dia dela. “Como foi a encomenda do aniversário?”, ele perguntou numa quarta-feira à noite, sua voz chegando meio abafada pela conexão. “Perfeita.” A cliente ficou emocionada com o bolo de três andares. Maitê respondia, sentindo o orgulho aquecer seu peito. Tirei fotos para te mostrar.
Manda para mim. Quero mostrar para todo mundo aqui no escritório o talento da minha namorada. Minha namorada. As palavras faziam seu coração disparar toda vez. Na sexta-feira, conforme prometido, Bernardo voltou. Chegou exausto, mas radiante, puxando-a para um abraço assim que a viu. Nunca uma semana pareceu tão longa. lhe murmurou contra seu cabelo. E por um fim de semana perfeito, tudo voltou a ser magia.
Eles exploraram novas trilhas, jantaram em seu restaurante favorito, assistiram ao pôr do sol do mirante da igreja matriz. Maitê quase conseguiu esquecer suas preocupações, mas então segunda-feira chegou novamente e o ciclo recomeçou. Segunda semana, terceira semana. Foi na quarta semana que tudo começou a desmoronar.
Mait estava no intervalo do trabalho, escrolando distraídamente seu celular, quando uma notificação chamou sua atenção. Era uma conta de fofocas da alta sociedade paulistana que ela havia começado a seguir sem que Bernardo soubesse uma tentativa masoquista de entender o mundo dele. E lá estava uma foto de Bernardo em um evento de gala. Ele estava impecável em smoking, cercado por homens poderosos e mulheres deslumbrantes, investidos que provavelmente custavam mais do que o salário anual de Maitê. Mas não era ele que chamava a atenção na foto.
Era a mulher ao seu lado, alta, loira, com um vestido vermelho que parecia pintado em seu corpo perfeito. Ela ria de algo que Bernardo aparentemente havia dito, sua mão repousando casualmente em seu braço. A legenda da foto dizia: “Bernardo Castelli” e a modelo Fabiana Duarte no baile de gala beneficente do hospital Sírio libanês. O casal estava radiante.
O casal. As palavras martelaram na cabeça de Maitê como uma sentença de morte. Ela sabia racionalmente que era provavelmente apenas fofoca sensacionalista. Sabia que Bernardo tinha que comparecer a eventos como esses por causa de seus negócios.
Mas ver aquela foto, ver ele naquele mundo tão distante do dela, cercado por mulheres que eram tudo que ela não era, as velhas inseguranças voltaram com força total. Silvana, como se tivesse um radar para vulnerabilidade, escolheu aquele momento para passar pelo refeitório. Ah, Maitê. Vi as fotos do seu namoradinho no evento de ontem. Sua voz era melosa, falsamente simpática. Ele estava tão bem acompanhado. Fabiana Duarte é linda, não é? Acho que eles namoraram há alguns anos.
Ou ainda namoram. Sabe como é? Essas fofocas da alta sociedade são confusas. Cada palavra era uma punhalada cuidadosamente colocada. Bernardo estava lá a trabalho, Maite disse, tentando soar confiante. Claro, claro. Silvana concordou com um sorriso que não chegava aos olhos. Mas você tem que entender, querida.
Homens como ele, eles têm obrigações sociais. Precisam de acompanhantes que saibam como se comportar nesses ambientes, que conheçam as pessoas certas, usem as roupas certas. É simplesmente prático. Maitê sentiu a náusea subir. Com licença. Ela murmurou, levantando-se abruptamente e saindo do refeitório antes que Silvana pudesse ver as lágrimas que ameaçavam cair.
Trancada no banheiro, Maitê olhou novamente para a foto. Estudou cada detalhe. o terno impecável de Bernardo, o ambiente luxuoso, as pessoas importantes. E então olhou para seu próprio reflexo no espelho, uniforme simples de confeiteira, cabelos presos em um coque prático, sem maquiagem, porque trabalhava em uma cozinha.
Eles eram de mundos diferentes, completamente irremediavelmente diferentes. E pela primeira vez, Maite começou a questionar se amor era realmente suficiente para atravessar esse abismo. Quando Bernardo ligou naquela noite, ela deixou ir para a caixa postal e quando ele tentou novamente, ela respondeu com uma mensagem curta: “Cansada, vamos conversar amanhã.
” Mas amanhã ela também estava distante. E no dia seguinte, e no seguinte, Bernardo percebia. É claro que percebia. Suas mensagens se tornaram mais frequentes, mais preocupadas. Maitê, está tudo bem? Você parece distante. Fiz algo errado. Por favor, me conte. Amor, estou preocupado. Liga para mim. Mas Maité estava paralisada pelo medo.
Medo de confrontá-lo e descobrir que suas piores suspeitas eram verdadeiras. medo de que ele eventualmente percebesse que ela não era suficiente para o mundo dele, medo de que Silvana estivesse certa. Na sexta-feira, quando Bernardo chegou a Gramado, como sempre, Maitê estava diferente, fria, distante, construindo paredes que ele havia trabalhado tanto para derrubar, e ele não entendia porquê, o que era para ser um encontro romântico estava prestes a se transformar na maior briga que já tiveram e possivelmente na última.
Bernardo esperava por Maitê na entrada da pousada, como fazia toda sexta-feira. Mas desta vez, quando ela finalmente apareceu, havia algo diferente em seus olhos, uma frieza que ele não havia visto desde a primeira noite, quando ela ainda o via como um estranho ameaçador. “Oi!”, ela cumprimentou sem emoção, sem se aproximar para o abraço que se tornou ritual. “Oi, Bernardo”, repetiu confuso.
“Você está bem? Suas mensagens esta semana foram tão Estou cansada, só isso. Maite o interrompeu, começando a caminhar em direção ao centro, sem esperar por ele. Bernardo a seguiu, sentindo a distância entre eles crescer com cada passo. Eles jantaram em silêncio tenso em seu restaurante favorito, mas a comida tinha gosto de cinzas.
Todas as tentativas dele de iniciar conversas eram recebidas com respostas monossilábicas. Maitê, por favor. Ele finalmente disse, colocando seu garfo de lado. Eu sei que algo está errado. Você está diferente desde terça-feira. O que aconteceu? Ela o encarou e havia uma dureza em seus olhos que cortou como vidro. Vi as fotos do evento. Você e Fabiana Duarte. Vocês faziam um casal muito bonito. A compreensão atravessou o rosto de Bernardo como um raio.
Ma aquilo foi apenas apenas o quê? Ela o interrompeu. Sua voz subindo involuntariamente. Outros clientes começaram a olhar. Apenas trabalho, apenas aparências. Você nem mencionou que ia para um evento desses, nem mencionou que estaria com sua ex-namorada. Eis de 4 anos atrás, Bernardo se defendeu, mantendo a voz baixa com esforço.
Fabiana estava lá porque a empresa dela patrocina o hospital. Eu estava lá porque minha empresa também patrocina. Foi coincidência, Maitê. E eu não mencionei porque foi apenas mais um daqueles eventos corporativos chatos que preciso comparecer. Claro, Mait riu sem humor, porque eventos com modelos lindas em vestidos caros são tão chatos? Enquanto isso, eu estava aqui com uniforme sujo de farinha, me sentindo completamente ridícula por achar que isso que nós poderíamos realmente funcionar.
Bernardo estendeu a mão para tocar a dela, mas ela a afastou. Não faça isso. Ele pediu e havia dor real em sua voz. Não se diminua por causa de inseguranças. Você sabe quem eu escolho. Você sabe que eu não sei de nada. Maitê explodiu, lágrimas finalmente transbordando. Eu não sei como é seu mundo, Bernardo. Não conheço as pessoas que você conhece. Não frequento os lugares que você frequenta.
Sou apenas uma confeiteira do interior que foi idiota o suficiente para acreditar que um conto de fadas poderia ser real. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Ao redor deles, outros comensais fingiam não estar prestando atenção, mas era óbvio que estavam. Bernardo jogou algumas notas na mesa, muito mais do que o valor da conta, e pegou a mão de Maitê firmemente. Vamos conversar em particular agora.
Ele praticamente a arrastou para fora do restaurante, caminhando rapidamente pelas ruas de Gramado até chegarem ao lago negro, agora silencioso e deserto na noite fria de janeiro. A lua cheia refletia na água negra como prata derretida. Agora me escuta. Bernardo virou-a para encará-lo, suas mãos firmes, mas gentis, em seus ombros.
Escuta de verdade, Maitê, porque estou farto de você decidir sozinha como essa história vai terminar. Bernardo, não é minha vez. Sua voz estava tensa de emoção contida. Você quer saber sobre meu mundo? Quer saber como é? É solitário? É falso. É cheio de pessoas que sorriem na sua cara enquanto calculam como te usar. É eventos onde preciso sorrir e fingir que me importo com causas que sei que metade daqueles milionários está usando apenas para lavagem de imagem.
é reuniões intermináveis, discutindo lucros e prejuízos enquanto esqueço por comecei isso tudo. Ele parou para respirar, seus olhos azuis brilhando com intensidade sob a luz da lua e então venho para cá e encontro você. E pela primeira vez em anos, eu me lembro. Me lembro de como é rir de verdade. Me lembro de como é conversar com alguém que se importa com quem eu sou, não com o que eu tenho.
Me lembro de como é simplesmente viver. Mas por quanto tempo? Maitê sussurrou, as lágrimas caindo livremente agora. Por quanto tempo até você se cansar de viajar toda semana? Por quanto tempo até perceber que eu não consigo te dar o que mulheres como Fabiana podem? Eu não sei usar vestidos de grife, não sei falar sobre arte contemporânea ou investimentos internacionais.
Sou só eu, Bernardo, e no final isso não vai ser suficiente. Bernardo a puxou com força para seus braços, uma mão na nuca dela, forçando-a a encará-lo. Você está certa. Você não consegue me dar o que Fabiana ou qualquer outra mulher daquele mundo pode. Sabe por quê? Porque elas me dariam mais do mesmo, mais aparências, mais superficialidade, mais solidão embalada em vestidos caros.
Mas você, você me dá verdade, me dá risadas genuínas e conversas reais. Me dá um motivo para acordar na sexta-feira. Me dá algo que o dinheiro não pode comprar. Um lar. As palavras atingiram Maitê como uma onda, derrubando suas defesas cuidadosamente erguidas. Eu tenho tanto medo ela confessou, seu rosto enterrado no peito dele.
Medo de não ser suficiente. Medo de que você perceba que merece mais. medo de me entregar completamente e ser destruída quando você partir. Então pare de ter medo sozinha. Bernardo murmurou contra seu cabelo. Tenha medo comigo. Construa isso comigo. Mas não me afaste porque está tentando se proteger de uma dor que pode nem acontecer.
Porque saiba disso, Maitê. A única forma de você me perder é se você me empurrar para longe. Eles ficaram ali parados por longos minutos, simplesmente se segurando enquanto a lua testemunhava silenciosamente. O coração de Maitê gradualmente desacelerou, sincronizando-se com o dele. “Sinto muito.
” Ela finalmente disse, por ter duvidado de você, por ter deixado minhas inseguranças falarem mais alto. E eu sinto muito por não ter percebido o quanto isso estava te afetando. Bernardo afastou-a suavemente para poder olhar em seus olhos. Vou fazer um trato com você a partir de agora, sem mais silêncios. Se algo te incomoda, você me conta e eu faço o mesmo.
Nada de guardar, nada de presumir. Conversamos sempre. Trato. Maite sentiu um pequeno sorriso finalmente aparecendo. Trato. Ele sorriu também limpando as lágrimas. estantes de seu rosto com os polegares e sobre Fabiana e qualquer outra mulher daquele mundo. Eu não as escolho. Eu escolho você toda vez, sem hesitação.
Eu escolho você e vou continuar escolhendo você até que você acredite que é digna de ser escolhida. Desta vez, quando ele se inclinou para beijá-la, Maite o encontrou no meio do caminho. O beijo foi diferente dos anteriores, mais urgente, mais desesperado, carregado com o alívio de uma briga resolvida e o medo de quase perder um ao outro. Quando finalmente se separaram, ambos estavam sem fôlego.
“Vem para o chalé”, Bernardo perguntou suavemente. “Só para conversar, prometo, mas não quero te deixar ainda. Maitê deveria dizer não. Já era tarde. Ela tinha trabalho no dia seguinte e ficar sozinha com ele num chalé isolado era jogar com fogo. Mas ela também não queria que a noite terminasse. Está bem”, ela concordou.
Mas só para conversar, eles caminharam de mãos dadas de volta ao chalé e desta vez a conversa fluía livremente. Bernardo contou sobre as pressões que enfrentava no trabalho, sobre como estava considerando delegar mais responsabilidades para ter mais tempo para ela. Maité falou sobre seu sonho de abrir a própria confeitaria, mas também seus medos de falhar.
“E se eu não for boa o suficiente?”, Ela perguntou encolhida no sofá ao lado dele, a lareira crepitando suavemente. E se eu abrir uma confeitaria e ninguém vier? Impossível. Bernardo disse com convicção. Seus doces são arte comestível. Mas Maitê, se você realmente quer fazer isso, eu posso ajudar. Não com dinheiro. Ele se apressou quando viu ela começar a protestar. Com conhecimento. Tenho contatos que podem te ajudar com plano de negócios, marketing, estratégia.
Você coloca o talento e a paixão. Eu te conecto com as pessoas certas. Parceria igual. Maitê considerou a oferta. Parte dela queria recusar orgulhosamente, mas a parte pragmática reconhecia que seria tol desperdiçar recursos valiosos por puro orgulho. Parceria igual. Ela finalmente concordou.
Isso significa que se você me ajudar com negócios, eu te ensino a cozinhar. Porque se você vai continuar vindo para cá todo fim de semana, precisa pelo menos saber fazer um ovo mexido decente. Bernardo Rio, o som rico e genuíno. Trato feito. Eles conversaram pela madrugada, reconstruindo pontes e fortalecendo fundações.
E quando Maite finalmente foi embora às 3 da manhã, insistindo que precisava de pelo menos algumas horas de sono, eles estavam mais fortes do que antes da briga. Mas havia algo que Maitê não contou a ele, algo que descobriu naquela manhã antes do trabalho. Silvana havia se demitido e recomendado alguém para seu lugar, alguém de São Paulo, alguém do mundo corporativo de Bernardo.
E Maitê tinha um pressentimento terrível de que a tempestade que acabavam de superar era apenas a calmaria antes de algo muito pior, porque o universo tem um jeito cruel de testar exatamente aquilo que mais tememos. Passou-se uma semana desde a reconciliação no Lago Negro, uma semana de conversas mais honestas, de mensagens mais frequentes, de Bernardo compartilhando detalhes de seu dia que antes omitia.
Maitê sentia-se mais segura, mais confiante no relacionamento até aquela terça-feira. A nova gerente da pousada havia chegado no dia anterior. Camila Rodrigues, 32 anos, formada em administração hoteleira pela melhor universidade de São Paulo. Elegante, articulada, com um currículo impressionante.
Maite deveria estar feliz por ter uma chefe profissional depois de anos lidando com a amargura de Silvana. Mas havia algo estranho. Camila conhecia Bernardo. Então você é a famosa Maitê. Camila disse com um sorriso que não chegava aos olhos quando se apresentou na cozinha. Bernardo me falou sobre você. O estômago de Maitê afundou. Vocês se conhecem? Ah, sim. Trabalhamos juntos por três anos na Castell Technologies.
Eu era diretora de relações humanas antes de decidir mudar de área. Camila se serviu de um café completamente à vontade. Bernardo é um chefe incrível, exigente, mas justo e muito, muito dedicado ao trabalho. Havia algo na forma como ela dizia dedicado, que soava íntima. Durante toda aquela semana, Camila encontrou desculpas para mencionar Bernardo, pequenos comentários sobre o passado deles, histórias sobre eventos corporativos, referências a piadas internas que Maité não entendia.
Ah, aquela vez que Bernardo quase perdeu o voo para Tóquio por causa da reunião extra, Camila riu para outra funcionária, mas seus olhos estavam fixos em Maitê. Eu tive que literalmente arrastá-lo para o aeroporto. Ele é tão workaholic que esquece de viver.
Cada comentário era uma estocada sutil, um lembrete de que Camila conhecia Bernardo de uma forma que Maitê nunca conheceria. O Bernardo do mundo corporativo, o Bernardo CEO, o Bernardo que existia longe de Gramado. Maitê tentou ignorar, tentou focar no trabalho, nas mensagens carinhosas que Bernardo mandava, nas ligações noturnas, onde ele compartilhava detalhes de seu dia. Mas as sementes da dúvida, uma vez plantadas, são difíceis de erradicar.
Na quinta-feira à noite, Maitê estava finalizando uma encomenda quando ouviu vozes conhecidas na recepção. Curiosa, espiou pela porta da cozinha e congelou. Bernardo estava lá na quinta-feira, um dia antes do esperado, e ele não estava sozinho. Camila estava com ele, rindo de algo que ele havia dito, sua mão tocando levemente seu braço em um gesto que parecia ensaiado em sua naturalidade.
Tão bom te ver novamente, Bernardo Camila estava dizendo. Quando soube que você era o hóspede VIP que vinha todo fim de semana, fiquei tão feliz. Temos tanto para colocar em dia. É bom te ver também, Camila. Bernardo respondia educadamente, mas havia algo em sua postura, um leve recuo, uma distância educada que Maitê teria percebido se não estivesse cega pelo ciúme súbito que a consumiu, porque tudo que ela via era.
Ele veio um dia mais cedo e não me avisou, mas está aqui conversando confortavelmente com Camila. Maitê voltou para a cozinha antes que pudessem vê-la, seu coração batendo descompassado. Mãos tremendo, ela continuou a decorar o bolo, mas as flores de açúcar saíam tortas, imperfeitas. 15 minutos depois, Bernardo apareceu na cozinha com aquele sorriso que normalmente derretia seu coração.
“Surpresa!”, ele disse, abrindo os braços. Consegui reorganizar minhas reuniões para ter mais tempo com você este fim de semana, mas Maitê não se moveu para abraçá-lo. Continuou focada no bolo, suas mãos trabalhando mecanicamente. “Que bom”, ela disse friamente. “Deveria ter avisado. Estou ocupada.” Bernardo deixou os braços caírem, com fusão atravessando seu rosto.
“Maitê, o que? Por que não me contou que conhecia Camila?” Ela o interrompeu, finalmente o encarando. Que trabalhavam juntos. Compreensão lenta atravessou seus olhos. Porque não achei relevante? Trabalhamos juntos há anos. Sim, mas há anos? Ma repetiu cada palavra carregada de acusação. Anos trabalhando juntos, construindo uma história juntos.
E você não achou relevante me contar que sua ex-colega é agora minha chefe? Camila mencionou que estava se mudando para Gramado quando pediu uma recomendação de gerente para a pousada, mas não fazia ideia que ela viria trabalhar especificamente aqui. Bernardo se defendeu. E por que isso importaria? Ela é apenas uma ex-colega de trabalho. Apenas.
Mait riu sem humor, largando o saco de confeitar com força. Ela passou a semana inteira me lembrando de como conhece você, de todas as histórias que vocês compartilham, de todo o mundo que vocês têm em comum. e que eu nunca vou ter isso de novo. A frustração começou a colorir a voz de Bernardo. Maitê, nós já conversamos sobre isso. Eu escolhi você.
Você diz isso. Maitê estava gritando agora. Todas as inseguranças da semana finalmente explodindo, mas então aparece aqui com ela, rindo confortável. E eu percebo que vocês têm uma conexão que eu nunca vou entender. Ela sabe como é seu mundo, Bernardo. Ela pertence lá. Eu não. Pare de decidir onde você pertence ou não. Bernardo gritou de volta. Sua paciência finalmente se rompendo.
Pare de usar suas inseguranças como desculpa para me afastar. Minhas inseguranças? As lágrimas começaram a cair, mas agora eram de raiva, não de tristeza. Minhas inseguranças são porque você vive uma vida dupla. Aqui você é uma pessoa, mas em São Paulo você é outra. E eu nunca sei qual é o real. Os dois são reais. Bernardo passou as mãos pelos cabelos em frustração. Eu sou um CEO, sim.
Tenho responsabilidades. Um negócio para administrar, um legado para manter, mas também sou o homem que ama você. Porque isso tem que ser uma contradição? Porque eventualmente você vai ter que escolher? Mait gritou. E quando isso acontecer, quando você realmente tiver que decidir entre seu império e eu, nós dois sabemos qual vai ser a escolha.
O silêncio que se seguiu foi Deffanin. Bernardo a olhava como se ela o tivesse esfaqueado. Você realmente acredita nisso? Sua voz estava baixa agora, perigosamente calma. Depois de tudo que passamos, tudo que construímos, você realmente acha que eu escolheria o dinheiro ao invés de você? Maitê queria dizer não.
Queria pegar as palavras de volta, mas o medo, aquele medo antigo e familiar, tinha controle total. Agora eu acho que você ainda não teve que realmente escolher. E quando tiver Sim, acho que você vai perceber que eu não valho tudo que teria que sacrificar. Bernardo deu um passo para trás, como se tivesse sido empurrado fisicamente.
“Uau”, ele disse finalmente, e havia uma dor tão profunda em sua voz que partiu o coração de Maitê. Então, nada do que fiz importa. Todas as viagens, todas as promessas, toda a paciência, nada disso prova nada para você, Bernardo? Não. Ele levantou a mão interrompendo-a. Você sabe qual é o problema, Maitê? Não sou eu. Não é a distância. Não é meu dinheiro.
Não é Camila ou Fabiana ou qualquer outra mulher. É você. Você não consegue acreditar que é digna de ser amada. Então está sabotando isso antes que eu inevitavelmente te machuque. As palavras eram verdadeiras e cortavam como vidro. Mas aqui está a realidade. Eu não posso fazer isso sozinho. Cada palavra era pontuada, enfatizada.
Não posso lutar por nós dois. Não posso te convencer de que você é suficiente se você não acredita nisso. Não posso construir um relacionamento quando você está constantemente esperando que ele desmorone. Então, o que você está dizendo? Maitê perguntou, seu coração se estilhaçando. Bernardo olhou para ela por um longo momento, seus olhos azuis nadando emoções conflitantes.
Estou dizendo que preciso que você decida. Ou você confia em mim e nós construímos isso juntos com todos os desafios que virão. Ou você continua vivendo com medo e eu paro de lutar contra esse medo. Você está me dando um ultimato. Estou te dando uma escolha. Ele corrigiu, sua voz quebrando. Porque eu te amo, Maitê.
Amo você de uma forma que me assusta, mas não posso amar por nós dois. E com essas palavras, Bernardo saiu da cozinha. Maite ouviu seus passos se afastando, ouviu a porta da frente se fechando, ouviu o silêncio ensurdecedor que ele deixou para trás e então ela desmoronou, deslizou pela parede da cozinha até estar sentada no chão frio, soluçando tão violentamente que mal conseguia respirar, porque ele estava certo, sobretudo, e ela acabara de destruir a melhor coisa que já havia acontecido em sua vida por puro medo de perdê-la. Duas semanas passaram 14 dias de silêncio
absoluto. Nenhuma ligação, nenhuma mensagem, nenhum sinal de Bernardo. Maité estava destruída, funcionava no automático. Acordava, ia para o trabalho, voltava para casa, deitava e encarava o teto por horas antes de cair em um sono agitado. Repetia. Suas criações na confeitaria, normalmente cheias de amor e cuidado, saíam mecânicas, sem alma.
Os clientes não reclamavam porque ainda eram tecnicamente perfeitas, mas faltava aquele algo especial que sempre tiveram. “Você precisa ligar para ele.” Jéssica disse uma noite, sentando-se na cama de Maitê com dois potes de sorvete. “Maitê, você está definhando. Ele me deu uma escolha.” Maitê murmurou, sua voz rouca de tanto chorar. “E eu escolhi o medo.
Por que ele iria me querer de volta? Porque ele te ama, sua idiota teimosa?” Jéssica exclamou com a franqueza que apenas as verdadeiras amigas têm. Aquele homem viajou 5 horas toda semana só para te ver. Cancelou reuniões, reorganizou sua vida inteira e você jogou isso na cara dele. Eu sei Mait gritou, as lágrimas fluindo novamente. Eu sei o que fiz.
Eu estraguei tudo porque sou uma covarde que não consegue acreditar que alguém pode realmente me amar. Então concerte. Jéssica disse simplesmente: “Liga para ele. Vai até São Paulo, se for necessário, mas conserta antes que seja tarde demais”. Mas Maitê não conseguia. A vergonha, o medo, a certeza de que já havia estragado tudo irreparavelmente a paralisavam completamente até que aquela ligação chegou.
Era uma quinta-feira à noite, quase meia-noite, quando o telefone de Maitê tocou, número desconhecido. Normalmente ela ignoraria, mas algo a fez atender. Alô, Maitê? A voz era familiar, mais distante. Sou eu, prima Rosa, dá Três Forquilhas. O coração de Maitê apertou. Rosa só ligaria-se. Sua avó está no hospital. Rosa disse rapidamente, cada palavra uma punhalada. Ela teve um AVC esta tarde.
Está sendo transferida para Porto Alegre agora. É sério, Maitê? O mundo parou. Vovó Lourdes, a mulher que a criou, que a amou incondicionalmente, que foi sua âncora em cada tempestade, estava em perigo. “Eu vou para lá agora”, Maitê disse, já se levantando, procurando por roupas com mãos tremendo. “O hospital é o moinhos de vento.
Eles disseram que a cirurgia será de madrugada. Maitê desligou e entrou em modo de pânico funcional. Ligou para um táxi, jogou algumas roupas em uma mochila, avisou Camila por mensagem que não poderia trabalhar no dia seguinte. A viagem de Gramado para Porto Alegre normalmente levava 2 horas. Cada minuto parecia uma eternidade. Chegando ao hospital às 3 da manhã, Maitê correu para a recepção.
Lourdes Maria Silva, ela disse ofegante. Ela foi transferida de três forquilhas, teve um AVC. Sexto andar. Ala cirúrgica. A recepcionista disse gentilmente, percebendo o desespero. Maitê subiu as escadas correndo. Não podia esperar o elevador. Quando chegou ao sexto andar, encontrou prima Rosa e outros parentes da avó na sala de espera.
Como ela está? Maitê perguntou imediatamente. Está na cirurgia há uma hora. Rosa explicou, abraçando-a. O médico disse que há risco, mas ela é forte. vai conseguir. Maitê desmoronou em uma cadeira, enterrando o rosto nas mãos. Isso era demais. Perder Bernardo, agora potencialmente perder a avó era simplesmente demais. “Preciso de um café”, ela murmurou, levantando-se.
Alguém quer? Quando chegou a máquina de café no corredor, suas mãos tremiam tanto que mal conseguia colocar as moedas. As lágrimas caíam livremente agora, sem constrangimento ou contenção. Estava tão focada em não desmoronar completamente que não ouviu os passos se aproximando.
Maitê, aquela voz, aquela voz que tinha ouvido em sonhos toda a noite nas últimas duas semanas. Ela se virou lentamente, certa de que estava alucinando, mas não estava. Bernardo estava ali em carne e osso, com roupas amarrotadas, barba por fazer de dias, olhos vermelhos de cansaço e a expressão em seu rosto quando a viu.
“Como você? Por que você está aqui?” Aitê perguntou sua voz falhando. Rosa me ligou. Ele disse simplesmente, dando um passo em direção a ela. Ela tinha meu número do último jantar familiar que participei. Disse que você precisaria de alguém. Mas São Paulo, você deixei tudo. Bernardo a interrompeu dando mais um passo. Estava em uma reunião quando ela ligou. Saí no meio, peguei o carro e dirigi 3 horas.
Porque você precisa de mim e quando você precisa de mim, nada mais importa. Maité começou a soluçar violentamente todas as emoções das últimas semanas. A perda, o arrependimento, o medo e agora esse alívio avaçalador explodiram de uma vez. Bernardo fechou a distância e a puxou para seus braços, forte, firme, como uma âncora em uma tempestade. Eu sinto muito. Maitê chorou contra seu peito.
Sinto muito por tudo que disse, por ter duvidado de você, por ter sido tão covarde. Sh. Ele a interrompeu suavemente, seus lábios pressionados contra o topo da cabeça dela. Agora não. Agora estamos aqui por sua avó. O resto, o resto conversamos depois. E então ele apenas assegurou.
Não exigiu explicações, não cobrou desculpas, não fez isso sobre eles, apenas esteve ali sólido e presente, exatamente quando ela mais precisava. Eles voltaram para a sala de espera juntos. Prima Rosa piscou para Maitê com um sorriso conhecedor quando viu Bernardo, mas não disse nada. A cirurgia levou mais quatro horas.
4 horas de Bernardo sentado ao lado de Maitê, segurando sua mão, trazendo café, fazendo pequenas conversas com os parentes quando necessário, sendo exatamente o que ela precisava. Quando o médico finalmente saiu, todos se levantaram de um salto. “A cirurgia foi um sucesso”, ele disse. E Mait quase desmoronou de alívio. Conseguimos remover o coágulo e minimizar os danos.
Ela vai precisar de fisioterapia intensiva, mas com tempo e cuidado. Esperamos uma recuperação significativa. Maitê chorou novamente, mas desta vez de alegria pura e desgastante. Ela vai ficar bem. Bernardo sussurrou contra seu cabelo. Sua avó é uma lutadora, igual a você.
Mais tarde, quando finalmente permitiram visitas, e Maitê pode ver a avó, pálida, mas viva, respirando com ajuda de aparelhos, mas lá presente, ela segurou a mão frágil da mulher que a criou e fez uma promessa silenciosa: “Não mais fugir. Não mais deixar o medo controlar sua vida. Não mais desperdiçar o amor verdadeiro quando ele estava bem na sua frente. Quando saiu do quarto, Bernardo estava esperando no corredor. Eles se olharam por um longo momento. Obrigada.
Maê disse finalmente por vir, por ficar, por tudo, sempre. Bernardo respondeu simplesmente. Podemos conversar? Ela perguntou hesitante. De verdade dessa vez? Ele assentiu e eles encontraram uma sala de espera vazia no fim do corredor. E finalmente, finalmente, Maite estava pronta para lutar pelo amor dela.
A sala de espera estava silenciosa, apenas o zumbido distante dos aparelhos hospitalares e o tic-tac relógio na parede, quebrando o silêncio. Aite e Bernardo sentaram-se em cadeiras de plástico desconfortáveis, mas nenhum dos dois parecia notar o desconforto físico diante do peso emocional do momento. Maitê olhou para as próprias mãos, torcendo-as nervosamente no colo. Por onde começar? Como pedir perdão por ter destruído algo tão precioso por puro medo? Eu conversei com minha avó há duas semanas.
Ela começou, sua voz baixa, mas firme. Antes dela ter o AVC. Contei tudo sobre você, sobre nós, sobre como eu havia estragado tudo. Bernardo permaneceu em silêncio, apenas ouvindo. Seus olhos azuis estavam fixos nela, mas havia uma guarda neles que não existia antes, uma proteção contra mais dor.
“Sabe o que ela me disse?” Maitê continuou, as lágrimas começando a cair novamente. Ela disse: “Minha filha, o amor verdadeiro não é sobre merecimento, é sobre escolha. E aquele homem te escolheu todos os dias. A pergunta é: você vai escolher ele de volta ou deixar o medo vencer?” Um músculo trabalhou na mandíbula de Bernardo, mas ele não disse nada. E eu percebi que ela estava certa.
Você me escolheu, Bernardo, todos os dias, todas as semanas, em cada decisão. Mas eu eu estava tão presa no passado, tão convencida de que seria abandonada eventualmente, que acabei criando exatamente o cenário que mais temia. Eu te afastei antes que você pudesse me deixar, Maitê, não, por favor, deixa eu terminar. Ela o interrompeu, finalmente erguendo os olhos para encará-lo. Preciso que você entenda.
Quando aquele homem me machucou aos 16 anos, ele não só destruiu minha inocência, ele destruiu minha capacidade de confiar, de acreditar que alguém poderia me querer pelo que eu sou, não pelo que pode tirar de mim. E eu carreguei isso por 8 anos, como se fosse uma identidade, não apenas uma ferida.
Bernardo se inclinou para a frente, apoiando os cotovelos nos joelhos, mas ainda mantendo distância física. Mas então você apareceu. Maitê continuou um pequeno sorriso triste brincando em seus lábios. Esse homem lindo, bem-sucedido, gentil, que não só respeitava meus limites, mas os celebrava, que esperava quando todos os outros teriam desistido. E pela primeira vez em quase uma década, eu comecei a curar. Você estava curando.
Bernardo disse suavemente a primeira coisa que falou desde que sentaram. Eu via isso em cada sorriso, em cada vez que você me deixava um pouco mais perto, em cada momento de vulnerabilidade que você compartilhava, você estava ficando mais forte. Eu estava. Maitê concordou, mas então o medo voltou.
Aquela voz na minha cabeça dizendo que era bom demais para ser verdade, que eventualmente você perceberia que eu não valia o esforço, que seu mundo e o meu eram incompatíveis. E quando Camila apareceu, quando vi aquelas fotos dos eventos, todas as minhas inseguranças explodiram de uma vez. Mas eu te expliquei sobre Camila. Havia frustração na voz de Bernardo agora, a dor vazando através de suas defesas. Te mostrei que ela não significava nada além de uma colega de trabalho.
Por que não foi suficiente? Porque eu não estava ouvindo você. Maitê admitiu lágrimas caindo livremente. Estava ouvindo aquela voz venenosa na minha cabeça, dizendo que eu não era suficiente e escolhi acreditar nela ao invés de acreditar em você. E por isso, por isso eu sinto muito. Do fundo do meu coração, Bernardo, eu sinto muito. O silêncio que se seguiu foi carregado.
Bernardo passou as mãos pelo rosto e quando as afastou, Maite viu que seus olhos também estavam úmidos. Você sabe o que foi mais difícil?”, ele finalmente disse, sua voz rouca de emoção. Não foi você duvidar de mim, foi você duvidar de si mesma. Foi assistir você se diminuir constantemente, se comparar com mulheres que não chegam aos seus pés, se convencer de que não merecia ser amada, porque Maitê, ele finalmente a encarou e a vulnerabilidade crua em seus olhos cortou como vidro. Você é a pessoa mais incrível que já conheci. E não por ser perfeita, mas por ser real, por ter
sobrevivido ao inferno e ainda assim ter gentileza no coração por criar arte com as mãos e amor com cada respiração, por ser você. Maitê soluçou cobrindo o rosto com as mãos. Mas eu estraguei tudo. Te afastei quando você mais precisava que eu confiasse. Como você pode me perdoar? Bernardo se moveu então, deixando sua cadeira para ajoelhar-se na frente dela, gentilmente puxando suas mãos do rosto para segurar entre as suas.
“Porque eu te amo”, ele disse simplesmente, “e o amor verdadeiro não desiste na primeira tempestade”. Mas Maitê, eu preciso que você entenda algo muito importante. Ela a sentiu prendendo a respiração. Eu posso te amar, te apoiar, te escolher todos os dias pelo resto da vida, mas não posso fazer o trabalho de você acreditar que é digna desse amor.
Isso, isso é algo que só você pode fazer e até que você faça, vamos continuar voltando a esse lugar. Você vai continuar sabotando cada vez que suas inseguranças gritarem mais alto que minha voz. As palavras eram verdadeiras e Maitê sabia disso. “Você tem razão”, ela admitiu. “E eu não sei se consigo prometer que nunca mais vou ter medo, que nunca mais vou duvidar, mas posso prometer que vou lutar contra isso, que vou fazer terapia, trabalhar nas minhas feridas, aprender a me ver da forma que você me vê, porque você”, sua voz quebrou. Você
merece alguém que lute por nós com a mesma intensidade que você luta. E eu quero ser essa pessoa. Bernardo estudou seu rosto por um longo momento, procurando por sinceridade, por determinação real, e deve ter encontrado o que procurava, porque lentamente ele assentiu. “Está bem”, ele disse finalmente.
“Mas com condições, qualquer coisa. Primeiro você volta para a terapia regularmente, não apenas quando as coisas ficarem difíceis. Ele ergueu um dedo, contando. Segundo, quando você sentir as inseguranças voltando, você me conta. Não guarda, não deixa fermentar até explodir. Conversamos imediatamente. Terceiro, ele fez uma pausa e havia algo intenso em seus olhos.
Você me deixa entrar completamente, não só nas partes bonitas, mas nas partes feias também, nas dúvidas, nos medos, nas cicatrizes, tudo. Maitê assentiu veemente. Sim, há tudo, eu prometo. E quarto. Bernardo continuou, uma pequena centelha de humor finalmente aparecendo.
Você me apresenta oficialmente para sua avó quando ela acordar, porque se vamos fazer isso direito, quero a bênção dela. Maitê riu através das lágrimas, jogando-se nos braços dele. Desta vez, Bernardo a segurou apertado, enterrando o rosto em seu cabelo. “Eu te amo tanto”, ela sussurrou contra seu peito. “Te amo de uma forma que me assusta. E eu sei que não vou ser fácil, que vou ter dias ruins, que vou precisar de paciência e eu vou estar aqui.
” Bernardo a interrompeu, afastando-a o suficiente para olhar em seus olhos. nos dias bons e nos dias ruins, quando você estiver forte e quando estiver quebrando, porque é isso que parceiros fazem. Eles ficam. Ele se inclinou lentamente, telegrafando a intenção, dando a ela a escolha.
Quando seus lábios finalmente se encontraram, foi como voltar para casa depois de uma longa jornada. O beijo era doce, mas urgente, cheio de alívio e promessas renovadas. Quando se separaram, ambos estavam sorrindo através das lágrimas. Então, o que fazemos agora? Maitê perguntou. Agora? Bernardo se levantou, puxando-a consigo.
Agora vamos tomar um café decente, porque o café do hospital é terrível. Depois voltamos para ficar com sua avó quando ela acordar e depois depois reconstruímos juntos no nosso ritmo. Mas juntos, juntos. Maitê repetiu e a palavra nunca pareceu tão bonita. Eles voltaram para o quarto da avó de mãos dadas.
Lourdes ainda estava dormindo, mas havia cor em suas bochechas e seu peito subia e descia em um ritmo constante. As máquinas ao seu redor bipavam regularmente, um som reconfortante que sinalizava a vida. “Ela vai adorar você”, Maitê disse suavemente, observando a avó. “Quando acordar, vai fazer um milhão de perguntas invasivas e, provavelmente, vai te mostrar fotos minhas de bebê”.
Bernardo riu baixinho. Mal posso esperar. Eles passaram o resto do dia no hospital. Prima Rosa e outros parentes foram embora aos poucos, mas Bernardo ficou. Trouxe comida decente de um restaurante próximo. Insistiu que Maitê comesse mesmo quando ela dizia não ter fome e simplesmente esteve presente de todas as formas que importavam.
Quando o Crepúsculo pintou o céu de rosa e laranja através da janela do hospital, Lourdes finalmente abriu os olhos. Vovó. Maitê pulou da cadeira correndo para o lado da cama. Você está acordada? Como se sente? Lordes olhou ao redor, desorientada por um momento antes de focar em Maitê. Sua mão, ainda fraca, encontrou-a da neta. Minha menina.
Sua voz estava rouca, mas presente. Então seus olhos deslizaram para Bernardo, parado respeitosamente no fundo do quarto. E quem é esse moço bonito? Maite riu através das lágrimas. Vovó, esse é Bernardo, o homem que te contei, o homem que eu amo.
Lourdes estudou Bernardo com aqueles olhos aguçados, que a idade não havia diminuído. Então, com grande esforço, ela levantou sua mão livre, fazendo sinal para que ele se aproximasse. Bernardo obedeceu, caminhando até o lado oposto da cama. Lourdes pegou sua mão, apertando com surpreendente força para alguém que acabara de sair de uma cirurgia cerebral.
Você cuida da minha menina? Ela perguntou cada palavra claramente, custando esforço. Com minha vida. Bernardo respondeu sem hesitação. Ela é o que há de mais precioso para mim. Lourdes a sentiu lentamente satisfeita. Então seus olhos voltaram para Maitê. Esse esse você segura ela disse. E havia humor em seus olhos cansados.
Não deixa o medo vencer. Não vou, vovó. Maitê prometeu, apertando a mão da avó. Nunca mais. Naquela noite, com sua avó estável e se recuperando, com Bernardo ao seu lado e o futuro finalmente parecendo possível, Maitê permitiu-se acreditar em algo que havia parecido impossível por tanto tempo.
Ela permitiu-se acreditar em finais felizes, mas o verdadeiro teste ainda estava por vir. Três semanas se passaram desde o dia do AVC de Lourdes. A recuperação da idosa estava progredindo melhor do que os médicos esperavam. Sua fala já estava quase totalmente restaurada e ela começava fisioterapia intensiva.
Maitê dividia seu tempo entre o hospital e o trabalho, e Bernardo, Bernardo estava lá através de tudo. Ele havia tomado uma decisão drástica. Delegou grande parte das operações diárias da empresa para seu vice-presidente, mantendo apenas reuniões estratégicas essenciais que podia fazer por videoconferência. Isso significava que ele podia ficar em Porto Alegre durante a semana, próximo ao hospital, próximo a Maitê.
“Você não precisa fazer isso, Maitê”. Disse uma noite enquanto jantavam no quarto de hotel que Bernardo aluara perto do hospital. “Sua empresa está funcionando perfeitamente.” Ele a interrompeu, servindo-lhe mais vinho. “Sabe o que descobri? Quando você contrata pessoas competentes e confia nelas, elas fazem um trabalho excepcional.
Eu estava microgerenciando por medo de perder controle, quando na verdade soltar as rédeas um pouco tornou tudo mais eficiente. “E você não sente falta?”, Maitê perguntou genuinamente curiosa. “Do poder, do controle total?”, Bernardo considerou a pergunta cuidadosamente. “Tinto falta da sensação de estar construindo algo, mas percebi que estava construindo a coisa errada. Estava construindo um império vazio quando poderia estar construindo uma vida.
Seus olhos encontraram os dela. Contigo. O coração de Maitê se apertou. Fiel à minha promessa ela começou hesitante. Quando você fala assim, uma parte de mim fica aterrorizada. Aterrorizada de que você esteja sacrificando demais, que eventualmente vai se arrepender. Ei, Bernardo cobriu sua mão com a dele. Obrigado por me contar. E agora deixa eu te dizer porque isso não é sacrifício.
Sacrifício é quando você abre mão de algo que ama por algo que quer menos. Mas eu não estou abrindo mão de nada que amo. Estou repriorizando. A empresa vai estar lá, os negócios vão estar lá, mas este momento, esta fase da recuperação de sua avó, este tempo contigo, isso é insubstituível. Maitê piscou as lágrimas de volta.
verdadeira para sua promessa, ela estava sendo honesta sobre suas inseguranças e verdadeiro a dele. Bernardo estava respondendo com paciência e compreensão. Eu te amo ela disse simplesmente, eu também te amo. Ele respondeu beijando seus dedos. E na verdade preciso te contar uma coisa. O tom dele fez Maitê prestar atenção.
O quê? Tem um jantar daqui a duas semanas em Porto Alegre. É um evento beneficente para a expansão do hospital onde sua avó está sendo tratada. Bernardo explicou. Minha empresa é um dos principais patrocinadores, então preciso estar lá. E eu eu gostaria que você fosse comigo oficialmente como minha namorada. O estômago de Maitê apertou um evento com o mundo dele.
Exatamente o tipo de situação que suas inseguranças adoravam. Bernardo, eu não sei se antes de recusar me escuta. Ele pediu. Eu sei que é assustador. Sei que vai ter gente do meu mundo lá. Gente que vai te julgar. Gente que vai fazer comentários maldosos. Mas, Maitê, se vamos realmente fazer isso, construir uma vida juntos, eventualmente você vai ter que conhecer esse lado da minha vida.
E eu quero que seja nos meus termos com você ao meu lado, mostrando para todos que você é a mulher que escolhi. Maitê sentiu o pânico começar a subir, mas em vez de deixá-lo controlar, ela respirou fundo. Lembrou-se das palavras da avó. Lembrou-se de sua promessa de lutar contra o medo. Está bem, ela disse.
E sua voz tremeu apenas um pouco. Eu vou. O sorriso que iluminou o rosto de Bernardo valeu cada grama de terror que ela sentia. Sério? Sério? Maitê confirmou, forçando-se a sorrir. Mas você vai ter que me ajudar, porque eu não faço a menor ideia do que vestir, como me comportar. Você vai vestir o que te fizer sentir linda e confortável. Bernardo disse firmemente.
E vai se comportar exatamente como você é. Porque você, Maitê, não precisa fingir ser ninguém além de si mesma. E qualquer pessoa que tenha problema com isso pode ir para o inferno. Ela riu, parte do nervosismo se dissipando. Você vai mesmo comigo? Ele perguntou como se não conseguisse acreditar. Vou. Maitê segurou seu rosto entre as mãos. Porque você está certo.
Se vamos fazer isso, preciso parar de evitar partes da sua vida. E por quê? Porque eu confio em você de verdade dessa vez. O beijo que ele lhe deu foi profundo, urgente, cheio de alívio e gratidão. As duas semanas seguintes foram um turbilhão. A avó de Maitê continuava melhorando, agora capaz de caminhar curtas distâncias com ajuda de um andador.
Bernardo contratou os melhores fisioterapeutas e garantiu que ela teria todo o suporte necessário, não apenas durante a recuperação hospitalar, mas depois quando voltasse para casa. Você não precisa fazer tudo isso. Pité protestou quando ele mencionou que havia arranjado para que uma enfermeira particular acompanhasse Lourdes em casa por três meses. Eu sei que não preciso Bernardo respondeu, mas quero.
Sua avó é importante para você, o que a torna importante para mim. Lourdes, por sua parte, adorava Bernardo. Durante as visitas diárias, ela extraía histórias dele, fazia perguntas sobre suas intenções. Quando vai pedir minha neta em casamento, moço? Foi uma que fez ambos corarem e compartilhava histórias embaraçosas da infância de Maitê com evidente prazer.
Quanto ao vestido para o evento, Maitê inicialmente entrou em pânico. Bernardo sugeriu uma personal shopper, mas ela recusou. Isso parecia muito comprado. Em vez disso, Jéssica a acompanhou a uma boutique em Porto Alegre, que vendia vestidos elegantes, mas acessíveis. Depois de provar pelo menos 20 vestidos, Maite encontrou o vestido.
Era de um azul petróleo profundo que realçava sua pele morena e fazia seus olhos castanhos brilharem. Não era o vestido mais caro da loja, mas quando ela se olhou no espelho pela primeira vez, se viu como Bernardo havia. Linda, elegante, suficiente. Esse é o vestido. Jéssica disse com convicção. Bernardo vai ter um infarto quando te ver. Na noite do evento, enquanto se arrumava no hotel, Maitê sentiu os nervos ameaçarem tomar conta.
Suas mãos tremiam enquanto aplicava a maquiagem, suave, mas presente, realçando suas características naturais, ao invés de escondê-las. Quando finalmente abriu a porta para Bernardo, a expressão em seu rosto disse tudo. Você está Ele procurou por palavras, seus olhos percorrendo cada centímetro dela com admiração reverente, absolutamente deslumbrante.
Maite corou suavizando o vestido nervosamente. Não está demais ou pouco? Eu não sei se Bernardo a interrompeu com um beijo suave. Você está perfeita. Ele disse com convicção, mais linda do que qualquer mulher naquele evento poderia ser, porque você é real. O evento era no salão nobre de um hotel Cinco Estrelas em Porto Alegre.
Quando eles chegaram, de mãos dadas, Maitê sentiu todos os olhos se virarem para eles, ou mais especificamente para ela. Ela podia praticamente ouvir os pensamentos. Quem é ela? Onde ele a encontrou? Ela não parece ser do nosso círculo. Mas então sentiu a mão de Bernardo apertar a sua. Ouviu ele sussurrar. Eu estou aqui. Você está segura. E ela respirou. A noite foi surpreendentemente agradável.
Bernardo a apresentava a todos como Maitê, minha namorada, com tanto orgulho na voz que era impossível não se sentir valorizada. Algumas pessoas eram frias, outras curiosas, mas muitas eram genuinamente gentis. Então você é a razão pela qual Bernardo está sorrindo de novo”, disse um dos sócios dele, um homem mais velho chamado Ricardo.
“Bem-vinda à loucura que é nosso mundo corporativo. Espero que ele a trate melhor do que trata a nós.” Maite riu, relaxando gradualmente. O momento decisivo veio durante o jantar. Bernardo foi chamado ao palco para fazer um discurso sobre a importância da filantropia corporativa e o papel das empresas em apoiar a saúde pública. Ele falou articuladamente sobre números, investimentos e impacto social.
Mas então, no final de seu discurso, ele fez algo inesperado. “Antes de terminar, gostaria de falar sobre algo pessoal.” Bernardo disse, seus olhos procurando Maitê na audiência. Há alguns meses, eu estava vivendo uma vida que parecia bem-sucedida no papel, mas era vazia na realidade.
Focado apenas em lucros e expansão, esqueci o que realmente importava. E então conheci alguém que me lembrou de que o verdadeiro sucesso não se mede em números, mas em conexões, em amor, em momentos que tiram o fôlego, não pelo seu glamor, mas pela sua autenticidade. A sala estava em silêncio absoluto. Maitê sentiu lágrimas picar em seus olhos.
Esta noite estou aqui com a mulher mais incrível que já conheci. Bernardo continuou apontando para ela. Maitê, você me ensinou que vulnerabilidade não é fraqueza, que paciência é amor em ação, que algumas coisas valem infinitamente mais do que qualquer lucro trimestral. Então, este discurso esta noite, este investimento no hospital, tudo isso é por você.
Porque se não fosse pela sua avó ser atendida naquele hospital, eu nunca teria entendido a importância real do que fazemos. As lágrimas caíam livremente. Agora ao redor dela, Maitê podia ver pessoas limpando os próprios olhos, outros sorrindo. Quando Bernardo desceu do palco, ele veio direto para ela, ignorando todos os outros que queriam cumprimentá-lo. “Você acabou de me declarar para 300 pessoas.
” Maitê sussurrou, rindo e chorando ao mesmo tempo. “Sim”, ele confirmou, limpando suas lágrimas com os polegares. “Algum problema?” Nenhum, ela respondeu. Nenhum mesmo. Mais tarde, naquela noite, quando já estavam de volta ao quarto do hotel, sapatos chutados para longe e gravata de Bernardo afrouxada, eles se deitaram na cama, simplesmente olhando um para o outro. “Você foi incrível hoje”, Bernardo disse suavemente.
“Sabe disso?” Eu estava apavorada. “Eu sei, mas você foi mesmo assim. Isso é coragem”. Maitê traçou o contorno do rosto dele com os dedos. memorizando cada detalhe. “Bernardo, eu quero te dizer algo importante.” “O quê?” Ela respirou fundo, reunindo coragem. “Estou pronta”, ela disse simplesmente. Ele piscou confuso. Pronta para você.
Maitê esclareceu, suas bochechas corando, mas sua voz firme, completamente. Eu te amo. Confio em você e não quero mais viver com medo. Quero quero ser sua de todas as formas. A compreensão atravessou o rosto de Bernardo, seguida por uma mistura de desejo e preocupação. “Maitê, você tem certeza? Não precisa. Eu sei que não preciso.
Ela o interrompeu, mas eu quero. Pela primeira vez na minha vida, eu realmente quero. E naquela noite, sob as luzes suaves de Porto Alegre, Maitê finalmente se entregou completamente, não por pressão, não por obrigação, mas por amor. E foi tudo que ela sempre sonhou que poderia ser. Maitê acordou com a luz suave da manhã, filtrando pelas cortinas.
Por um momento desorientada, ela não reconheceu onde estava. Então sentiu o braço forte ao redor de sua cintura, o calor do corpo masculino contra suas costas e tudo voltou. A noite anterior, seu rosto esquentou com as memórias, não de vergonha, mas de uma mistura de timidez e satisfação profunda. Bernardo havia sido tudo que ela poderia ter esperado e mais, paciente, gentil, atencioso.
Cada toque foi perguntado, cada movimento guiado pelo consentimento dela. E quando finalmente aconteceu, quando ela finalmente se entregou completamente, não houve dor ou medo, apenas amor. Bom dia. A voz sonolenta de Bernardo murmurou contra seu pescoço, seus lábios plantando beijos suaves em sua pele.
Maité se virou para encará-lo, encontrando aqueles olhos azuis ainda embaçados de sono, mas cheios de ternura. “Bom dia, como você está se sentindo?”, ele perguntou. E havia uma vulnerabilidade genuína na pergunta, como se a resposta dela realmente importasse mais do que qualquer outra coisa no mundo. “Eu estou feliz”, Maitê respondeu honestamente, traçando o contorno de sua mandíbula. “Pela primeira vez em muito tempo, estou verdadeiramente feliz.
O sorriso que iluminou o rosto dele era radiante. Eu também.” Ele a puxou mais perto, enterrando o rosto em seu cabelo. Deus, Maitê, eu te amo tanto, você nem faz ideia. Eles ficaram assim por um longo tempo, simplesmente se segurando, apreciando a intimidade do momento. Não havia necessidade de preencher o silêncio com palavras. Suas presenças falavam volumes.
Eventualmente, a fome os forçou a levantar. Pediram café da manhã no quarto. Uma extravagância que Maitê normalmente recusaria, mas desta vez aceitou com prazer. Comeram na cama, compartilhando comida e risadas, e Maitê se permitiu simplesmente existir naquele momento perfeito. Preciso te contar algo.
Bernardo disse enquanto serviam o segundo copo de café. Algo que venho pensando há semanas. O tom sério fez Maitê prestar atenção. Estou pensando em mudar a sede da empresa de São Paulo para Porto Alegre, ele disse, observando sua reação cuidadosamente. Maitê quase deixou o copo cair. O quê, Bernardo? Você não pode fazer isso. A empresa está estabelecida em São Paulo há décadas.
Todos seus contatos estão lá e tecnologia permite que eu trabalhe de qualquer lugar. Ele a interrompeu. Maitê, São Paulo não é meu lar, nunca foi, realmente. Era apenas onde a empresa estava. Mas você, você está aqui. Sua avó está aqui. E eu percebi que prefiro construir uma vida onde as pessoas que amo estão do que manter uma empresa em uma cidade que não significa nada para mim. Mas isso é muito grande.
Maitê protestou, embora seu coração estivesse acelerando com esperança. E se der errado, e se você se arrepender, não vou me arrepender. Bernardo disse com convicção. E não estou fazendo isso impulsivamente. Já conversei com meus advogados, contadores, com Ricardo. É totalmente viável.
Porto Alegre tem uma cena tecnológica crescente, incentivos fiscais para empresas que se realocam. E francamente, a qualidade de vida aqui é muito melhor. Bernardo Maitê não sabia o que dizer. A magnitude do que ele estava oferecendo a deixava sem palavras. Não precisa responder agora. Ele se apressou. Só queria que você soubesse que estou comprometido com isso, com você, com nós.
E se isso significa reconfigurar minha vida inteira, então é isso que vou fazer. Maite o puxou para um beijo profundo, derramando toda a gratidão e amor que palavras não conseguiam expressar. As semanas seguintes foram de ajustes e crescimento.
A avó de Maitê recebeu alta do hospital e foi transferida para uma casa de repouso temporária em Gramado, onde continuaria fisioterapia intensiva. Bernardo havia arranjado tudo, os melhores profissionais, equipamentos de ponta e estava pagando por tudo, apesar dos protestos de Maitê. Deixa eu fazer isso”, ele insistiu. “Não como caridade, mas como família, porque sua avó é minha família agora também”. Maitê voltou a trabalhar na pousada, mas as coisas eram diferentes agora.
Camila, percebendo que havia perdido qualquer chance com Bernardo, se é que algum dia teve, tornou-se profissional e educada, não amigável, mas não mais venenosa. E Bernardo? Bernardo estava dividindo seu tempo entre São Paulo e Porto Alegre, mas gradualmente passando mais tempo no Sul. Ele alugou um apartamento em Porto Alegre, elegante, mas não ostensivo, e começou a integrar Maitê em mais aspectos de sua vida.
Um sábado, dois meses depois daquela noite no hotel, Bernardo apareceu com uma proposta inusitada. “Vem comigo”, ele disse, seus olhos brilhando com entusiasmo. “Para onde?” É surpresa. Eles pegaram o carro e dirigiram por cerca de 40 minutos até chegarem a um terreno à venda nos arredores de Gramado. Era um espaço amplo, com vista para as montanhas, cercado por pinheiros.
“O que você acha?”, Bernardo perguntou, observando a explorar o terreno. “É lindo.” Pité respondeu honestamente. “Mas por aqui? Por que estava pensando? E se construíssemos algo aqui?” Não, uma casa, pelo menos não inicialmente, mas ele fez uma pausa nervoso. E se construíssemos sua confeitaria? Maite o encarou, certa de que havia entendido errado.
Minha o quê? Sua confeitaria. Bernardo repetiu pegando suas mãos. Você tem falado sobre esse sonho por meses e este terreno é perfeito, perto de Gramado para pegar o movimento turístico, mas isolado o suficiente para ter charme. Podemos projetar do zero, construir exatamente como você sempre sonhou. E Maitê, eu quero investir nisso, não como caridade, mas como sócio investidor.
Você coloca o talento e a visão. Eu coloco o capital inicial e a expertise em negócios. 50 em tudo. Lágrimas começaram a cair antes mesmo que Maitê pudesse processar completamente. Você Você faria isso por mim? Não por você? Bernardo corrigiu gentilmente. Com você. Há uma diferença. Quero construir algo contigo, Maitê.
Não apenas um relacionamento, mas uma vida, um futuro. E se parte desse futuro é te ver realizar seu sonho, então nada me faria mais feliz. Maite o beijou ali mesmo no meio do terreno vazio, que um dia seria o espaço dos seus sonhos. E pela primeira vez ela permitiu se visualizar completamente uma confeitaria aconchegante, com paredes de madeira e grandes janelas, onde ela criaria arte comestível e compartilharia sua paixão com o mundo.
“Sim”, ela disse quando finalmente se separaram. “Sim, vamos fazer isso juntos. Os meses que se seguiram foram intensos. Bernardo oficialmente começou a transição da empresa para Porto Alegre, um processo lento, mas constante. Maitê começou a trabalhar com arquitetos no projeto da confeitaria e a empolgação era palpável em cada reunião. Ela também, fiel à sua promessa, voltou para a terapia.
Era difícil reviver traumas, trabalhar através de inseguranças profundamente enraizadas, aprender novos padrões de pensamento. Mas ela se dedicou com determinação férrea e gradualmente as sessões começaram a fazer diferença. “Você está diferente”, Bernardo comentou uma noite enquanto jantavam no apartamento dele. “Mais leve, me sinto diferente”, Mait admitiu.
A terapia está me ajudando a entender que meu valor não depende de validação externa, que eu sempre fui suficiente. Só não conseguia ver isso. Estou tão orgulhoso de você, ele disse, seus olhos brilhando com emoção. Do trabalho que está fazendo, da coragem que demonstra todos os dias. Não foi tudo perfeito, é claro.
Houve dias ruins, momentos em que as inseguranças voltavam com força. Uma vez Maitê viu outra foto de Bernardo em um evento social e sentiu aquela velha pontada de inadequação, mas desta vez, em vez de guardar para si, ela o chamou imediatamente. “Vi a foto e estou tendo sentimentos”, ela disse honestamente. E eles conversaram, honestamente, abertamente, sem acusações ou defensivas. e no final saíram mais fortes.
Foi assim durante quase um ano, um ano de crescimento, de construção, de aprendizado mútuo, a confeitaria começou a tomar forma, paredes subindo, equipamentos sendo instalados, o sonho se tornando realidade tangível e, através de tudo, Bernardo estava lá, não como salvador ou projeto de caridade, mas como parceiro igual, comemorando vitórias, apoiando em derrotas, construindo junto.
A avó Lourdes completou sua recuperação e voltou para casa em três forquilhas, mas agora visitava Gramado frequentemente para acompanhar o progresso da confeitaria de sua neta. “Esse homem é especial.” Ela disse para Maitê durante uma dessas visitas. “Segura ele, minha menina, segura ele forte. Vou segurar, vovó.” Maitê prometeu: “Para sempre”. E o para sempre estava mais próximo do que ela imaginava.
Era véspera de Natal novamente, um ano exato desde aquela noite que mudou tudo. Um ano desde que Maitê entregou uma ceia de Natal a um estranho misterioso e acabou entregando também seu coração. A confeitaria, batizada de Doce Lourdes em homenagem à avó, tinha acabado de abrir suas portas há duas semanas e já era um sucesso estrondoso.
As criações de Maitê eram procuradas não apenas por turistas, mas por pessoas que viajavam de Porto Alegre. especialmente para provar seus doces. Tinha até sido destacada em uma revista de gastronomia regional, mas hoje a confeitaria estava fechada porque hoje era especial.
Bernardo havia insistido em passar a véspera de Natal, exatamente onde tudo começou, no chalé sete da Pousada Vila dos Pinheiros. Sério mesmo? Maitê havia ido quando ele sugeriu. Que cafona! Absolutamente cafona. Ele concordou sem vergonha e perfeitamente apropriado. Então ali estava ela, usando um vestido vermelho simples, mas elegante, caminhando pela trilha familiar até o chalé, onde um ano atrás ela tinha tanto medo.
Bernardo a esperava na porta, devastadoramente atraente em um suéter de lã preta e calças escuras, mas havia algo em seus olhos. Nervosismo, antecipação, que fez o coração dela acelerar. Bem-vinda”, ele disse, abrindo a porta com uma reverência exagerada. O chalé estava transformado. Velas iluminavam cada superfície. Pétalas de rosas criavam um caminho até a lareira.
E uma árvore de Natal, desta vez completamente decorada, brilhava no canto. A mesma mesa onde compartilharam aquela primeira ceia estava posta para dois, mas desta vez com comida preparada por Bernardo. “Você cozinhou?”, Maitê? perguntou surpresa e tocada. “Tentei”, ele admitiu com um sorriso tímido. “Não vai ser tão bom quanto o seu, mas coloquei amor em cada prato, que é o que você sempre diz que faz a diferença, certo?” Lágrimas já ameaçavam cair ees nem tinham começado a jantar ainda.
A refeição foi deliciosa, não perfeita tecnicamente, mas cheia de esforço e carinho. Eles conversaram sobre o ano que passou, sobre como cada um havia mudado, sobre os desafios superados e vitórias celebradas. “Lembra quando você me disse que nunca tinha sido tocada?”, Bernardo perguntou quando já estavam na sobremesa.
Um cheese cake que ele admitiu ter comprado porque algumas coisas estão além das minhas habilidades. Como eu poderia esquecer? Maite respondeu, suas bochechas corando com a memória. Eu fiz uma promessa naquela noite. Disse que você só seria tocada quando estivesse pronta no seu tempo. Ele pegou sua mão através da mesa.
E você sabe o que descobri? Valeu a pena cada segundo de espera, porque quando você finalmente se entregou, não foi por pressão ou obrigação, foi por amor. E isso, isso tornou tudo infinitamente mais especial. Bernardo Maitê não conseguia formar palavras através da emoção. Mas tem outra coisa que eu quero te perguntar. Ele continuou e agora havia um tremor em sua voz. Outra forma de toque que eu gostaria de pedir permissão.
Ele se levantou da mesa e o coração de Maitê parou quando ele se ajoelhou ao lado dela. Maitê. Bernardo começou suas mãos tremendo levemente enquanto tiravam uma pequena caixa de veludo do bolso. Há exatamente um ano, você entrou neste chalé carregando mais do que uma bandeja de comida.
Você trazia cicatrizes, medos, um coração que havia sido quebrado e cuidadosamente reconstruído. E de alguma forma, de alguma forma miraculosa, você me deixou entrar. As lágrimas caíam livremente agora. E neste ano você me ensinou o que realmente significa amor. Não o amor dos filmes ou dos livros, mas o amor real. Aquele que requer paciência, comunicação, trabalho diário.
Aquele que cresce através de desafios, ao invés de desmoronar. Aquele que escolhe todos os dias ficar e lutar. Ele abriu a caixa, revelando um anel simples, mas lindo, uma esmeralda cercada por pequenos diamantes. Então, eu estou te pedindo, Maite Silva.
Se você me deixaria tocar sua vida de mais uma forma, como seu marido, como seu parceiro, como a pessoa que vai escolher você todos os dias pelo resto da vida. Ele fez uma pausa, seus olhos azuis nadando em lágrimas não derramadas. Você quer se casar comigo? Maite estava soluçando agora, incapaz de formar palavras. Então ela simplesmente a sentiu veementemente, rindo e chorando ao mesmo tempo.
“É um sim”, Bernardo? Perguntou precisando ouvir as palavras. Sim. Ela finalmente conseguiu falar. Sim, sim, mil vezes, sim. Bernardo deslizou o anel em seu dedo com mãos tremendo e então a puxou para seus braços, girando-a pela sala enquanto ambos riam e choravam. “Eu te amo tanto”, ele murmurou contra seu cabelo. “tanto que às vezes me assusta.
Eu também te amo.” Maitê respondeu, segurando seu rosto entre suas mãos. Você foi o melhor presente que eu poderia ter recebido, não só naquele Natal, mas todos os dias desde então. Eles se beijaram ali sob as luzes suaves das velas e da árvore de Natal, selando uma promessa que ambos pretendiam manter por toda a vida. Epílogo.
Seis meses depois, o casamento aconteceu em um lindo dia de junho, em uma cerimônia intimista nos jardins da pousada, onde tudo começou. Apenas familiares próximos e amigos queridos, 70 pessoas que realmente importavam, não centenas de rostos sem significado. Maitê usava um vestido simples de renda branca, carregando um buquê de flores silvestres.
Lourdes estava na primeira fila, lágrimas de felicidade escorrendo por seu rosto recuperado. Do outro lado, Ricardo representava a família de Bernardo. O pai dele havia falecido, mas seu legado de amor pela mãe vivia através do filho.
Quando Bernardo viu Maitê caminhando em direção a ele pelo corredor de pétalas, ele não conseguiu conter as lágrimas e, pela primeira vez na vida, não se importou em ser vulnerável na frente de todos. Você está linda”, ele sussurrou quando ela chegou ao altar. “E você está chorando?”, ela provocou suavemente, limpando suas lágrimas. “Sou um homem apaixonado pela mulher mais incrível do mundo.” Ele respondeu sem vergonha: “Ten o direito de chorar.
” Os votos foram pessoais, escritos por eles mesmos. Bernardo prometeu paciência eterna e amor incondicional. Maitê prometeu coragem diária e confiança constante. Ambos prometeram escolher um ao outro. todos os dias, em cada circunstância. Quando o padre finalmente disse: “Pode beijar a noiva”, Bernardo a mergulhou em um beijo cinematográfico que arrancou aplausos e assovios da pequena multidão.
A recepção foi na própria Doce Lourdes, a confeitaria que representava os sonhos realizados de Maitê. Ela havia preparado pessoalmente o bolo de casamento, cinco andares de arte comestível, que era muito bonito para comer, mas delicioso demais para resistir.
Durante a festa, enquanto dançavam sua primeira dança como marido e mulher ao som de “Como é grande o meu amor por você”, Bernardo sussurrou algo em seu ouvido. “Tenho outra surpresa para você”. “out outra?” Mait Rio, você já me deu um casamento perfeito, uma confeitaria, uma vida que eu nunca sonhei ser possível. Confere o bolso do seu vestido. Ele instruiu com um sorriso misterioso.
Confusa, Maitê enfiou a mão no pequeno bolso escondido do vestido que nem sabia que existia. Seus dedos tocaram papel. Ela tirou, abrindo para revelar um resultado de exame. Seu coração parou. Você está Nós estamos três meses. Bernardo confirmou. Seu sorriso agora de orelha a orelha. Descobri há duas semanas quando você comentou sobre estar enjoada. Fiz você fazer o exame enquanto dormia.
Você roubou o meu xixi? Maitê exclamou, rindo e chorando simultaneamente. Por uma boa causa. Ele se defendeu. E agora? Agora vamos ter um bebê, Maitê. Você, eu e uma pequena vida que criamos juntos. Maite o beijou ali mesmo no meio da pista de dança, enquanto suas famílias e amigos aplaudiam sem entender completamente o porquê, mas celebrando a felicidade óbvia do casal. Natal seguinte.
Mait estava em pé ao lado da árvore de Natal em sua nova casa, uma construção linda nos arredores de Gramado, que ela e Bernardo projetaram juntos, segurando sua barriga de se meses. A confeitaria estava prosperando. A empresa de Bernardo estava estabelecida em Porto Alegre. A avó Lourdes morava em uma casa confortável que eles compraram para ela a 5 minutos de distância.
Tudo estava encaixado. Bernardo apareceu atrás dela, envolvendo-a em seus braços. suas mãos repousando protetoramente sobre a barriga onde seu filho crescia. “No que está pensando?”, ele perguntou suavemente. “Que há dois anos eu estava sozinha, assustada, convencida de que nunca seria tocada por amor verdadeiro.” Maitê respondeu, cobrindo as mãos dele com as suas: “E agora? Agora tenho tudo.
Um marido que me ama, um bebê a caminho, um sonho realizado, uma família. Tudo porque um dia na véspera de Natal eu tive coragem de aceitar um convite para jantar. Sabe o que eu penso? Bernardo a virou nos braços dele para encará-la.
Penso que aquela noite, quando você sussurrou Nunca fui tocada, não estava apenas falando sobre toque físico, estava falando sobre nunca ter sido verdadeiramente vista, ouvida, valorizada. E o verdadeiro presente que dei não foi respeitar seus limites físicos. Isso deveria ser o básico. O verdadeiro presente foi te mostrar que você sempre foi digna de amor. Maitê segurou o rosto dele entre suas mãos, seus olhos brilhando com lágrimas de felicidade pura.
E sabe qual foi o melhor presente que você me deu? Ela perguntou: “Qual? Você tocou minha alma antes de tocar meu corpo. E isso, isso fez toda a diferença. Eles se beijaram sob a árvore de Natal, dois anos depois daquela primeira noite, com um futuro inteiro brilhando na frente deles, provando que às vezes os maiores presentes não vêm embrulhados em papel bonito.
Eles vêm disfarçados de estranhos misteriosos em chalés isolados, esperando pacientemente até que corações feridos encontrem coragem para se abrir novamente. E quando finalmente se abrem, a recompensa é um amor que vale cada lágrima, cada medo superado, cada momento de vulnerabilidade. Um amor que não apenas toca o corpo, mas transforma a alma. M.