Imagine acordar sozinha na véspera de Natal, o silêncio do apartamento vazio ecoando como um grito. Ninguém para abraçar, ninguém para ligar. E então, em um momento de desespero absoluto, você grava um áudio chorando e envia para a pessoa errada, seu chefe, o CEO intimidador da empresa.

 O que aconteceria? Essa história vai te levar por uma montanha russa de emoções que você nunca vai esquecer. Mas antes me conta de onde você está assistindo. Comenta aí. E não esquece de se inscrever no canal e deixar aquele like para me ajudar a trazer mais histórias assim. O café transbordava pela terceira vez consecutiva, manchando o piso bege da Copa Empresarial.

 Jordania praguejou baixinho, olhando para a máquina italiana importada como se fosse um alienígena tecnológico. Três semanas, apenas três semanas trabalhando na Monteiro Global e ela ainda não havia dominado aquela maldita cafeteira de R$ 20.000. Problemas com a Julieta? A voz grave a fez congelar. Jordania girou lentamente e seus olhos encontraram a figura imponente de Vinícius Monteiro encostado no batente da porta.

 CEO, 32 anos, mandíbula quadrada, olhos cor de mel que pareciam ver através das pessoas, terno azul marinho que provavelmente custava mais que seu salário anual. Eu, senhor Monteiro, eu não sabia que o senhor estava São 3:15 da manhã, Jordania. Ele se aproximou com passos medidos, as mãos nos bolsos. Por que você ainda está aqui? Ela piscou surpresa.

 Ele sabia seu nome? Relatórios do trimestre. Preciso deixar tudo pronto para a reunião de amanhã. Vinícius parou ao lado dela, tão perto que Jordania sentiu o perfume amadeirado dele misturado com café. Ele estendeu a mão e ajustou dois botões na máquina com movimentos precisos.

 A Julieta começou a funcionar perfeitamente, liberando o café em um jato perfeito, duplo pressão, temperatura máxima”, lhe explicou sem olhar para ela. “É temperamental, como todas as italianas. Jordania tentou não notar como os dedos dele eram longos ou como a voz dele tinha uma rouquidão que não estava presente nas reuniões formais. “Obrigada, senhor Vinícius.

” Ele finalmente a encarou e algo no olhar dele fez o estômago dela revirar. “Quando estamos sozinhos a essa hora absurda, pode me chamar de Vinícius?” Ela assentiu, incapaz de formar palavras. Por um momento eterno, eles apenas se olharam. Jordania viu cansaço naqueles olhos dourados, solidão, algo quebrado por trás da fachada corporativa. Você deveria ir para casa.

Ele pegou a xícara dela e entregou. Seus dedos se tocaram brevemente e uma corrente elétrica percorreu o braço dela. Os relatórios podem esperar. E o senhor Vinícius, por que ainda está aqui? Um sorriso triste curvou os lábios dele, porque casa é só um lugar vazio esperando para me engolir.

 Antes que ela pudesse responder, ele já havia saído, deixando apenas o aroma de café e o eco daquela confissão perturbadora. Três dias depois, o elevador chacoalhou violentamente e parou entre o 12º e 13º andar. As luzes piscaram uma vez antes de se estabilizarem e uma voz mecânica anunciou: “Manutenção de emergência. Aguardem! Jordania apertou o botão de emergência freneticamente, o coração disparado.

 Ela odiava espaços pequenos, odiava estar presa. A respiração começou a acelerar, o pânico subindo pela garganta como Billy. Ei, ei, respira. A voz de Vinícius cortou o caos mental dela. Ela nem havia percebido que ele estava ali. Vinícius tirou o palitó e afrouchou a gravata, ajoelhando-se ao lado dela, que havia se encostado na parede, abraçando os joelhos. Olha para mim, Jordania.

 Ele segurou o rosto dela com gentileza, forçando-a a encará-lo. Inspira pelo nariz. Um, dois, três. Expira pela boca. Um, dois, três. Ela obedeceu, focando na voz dele, no calor das mãos dele em seu rosto. Gradualmente, o pânico retrocedeu. Melhor, ela a sentiu envergonhada. Desculpa, eu fico meio claustrofóbica. Não precisa se desculpar.

 Ele sentou ao lado dela no chão do elevador, completamente despreocupado com o terno de grife. Todos temos nossos demônios. Ficaram em silêncio por um momento. Jordania podia ouvir a respiração dele, sentir o calor do corpo dele irradiando. “Vai passar o Natal com a família?”, ela perguntou, tentando normalizar a situação absurda.

 A mandíbula dele se contraiu. “Com minha filha, Yasm, ela tem 4 anos. O resto da família é complicado. Yasmim. Nome bonito. Ela é meu mundo inteiro. A voz dele suavizou, os olhos distantes. Desde o divórcio é só nós dois contra tudo. Jordania não sabia o que dizer. Ver o ceou poderoso e intimidador falar com tanta ternura sobre a filha era humanizante.

 E você? Ele virou o rosto para ela, tão próximo que ela podia ver as finas linhas ao redor dos olhos dele. Vai voltar para onde é mesmo? Paraíba, mas não esse ano. Passagem muito cara e eu acabei de começar aqui. Ela forçou um sorriso. Vou passar sozinha mesmo. Netflix, vinho barato e pizza congelada. Algo sombrio atravessou o rosto dele. Ninguém deveria passar o Natal sozinho.

 Às vezes sozinho é melhor do que mal acompanhado. Isso é verdade. Ele concordou. Mas havia uma tristeza na voz dele que fez o coração dela se apertar. O elevador chacoalhou e voltou a funcionar. Eles se levantaram e, por um segundo, ficaram próximos demais, olhos nos olhos, o mundo reduzido àquele espaço de 2 m². As portas se abriram no 12º andar.

 Vinícius pegou o palitó e saiu, mas antes das portas fecharem, ele olhou para trás. Jordania? Sim. Se precisar de alguma coisa, qualquer coisa, minha linha direta está no sistema. Dois dias antes do Natal, Jordania entrou no escritório de Vinícius às 6 da tarde, carregando os relatórios finalizados.

 O ambiente estava vazio, apenas a luz do abajur, iluminando a mesa de mog no maciço. Ela colocou as pastas organizadas e estava prestes a sair quando algo chamou sua atenção. A foto na mesa, uma garotinha de caixinhos escuros rindo para a câmera usando um vestido de princesa rosa. Yasm. Jordania sorriu involuntariamente. A criança era linda, tinha os mesmos olhos expressivos do pai.

 Ela é perfeita, não é, Jordania? se virou bruscamente. Vinícius estava na porta, mas diferente. Havia uma vulnerabilidade exposta nele, como se a armadura corporativa tivesse sido removida. Ele entrou e parou ao lado dela, olhando para a foto. Ela é sim. Você tem muita sorte. Sorte. Ele riu sem humor. Minha ex-mulher nos abandonou quando Yasmin tinha do anos.

 disse que não tinha sido feita para ser mãe, que precisava de liberdade. Tenho que escolher entre ser pai presente e ser eficiente todos os dias. Meu próprio pai me chama de fraco por não ter arrumado outra esposa rapidamente. Então, sim, sou sortudo, sortudo de ter Yasminim, porque sem ela eu já teria desistido de tudo. A raiva e a dor na voz dele eram palpáveis.

Jordania fez algo impulsivo, tocou o braço dele levemente. Ela sabe que é amada. Qualquer um pode ver isso nessa foto. Você é um bom pai, Vinícius. Ele olhou para a mão dela em seu braço, depois para o rosto dela. Algo mudou no ar. A respiração dele ficou mais pesada. “Você sabe o que é pior do que estar sozinho?”, ele sussurrou, se aproximando um passo.

 “É estar cercado de pessoas e ainda se sentir invisível. é ter tudo e não ter nada ao mesmo tempo. Eu sei exatamente como é isso ela admitiu a voz falhando. Eu me sinto invisível desde que cheguei em São Paulo. Só mais uma garota do Nordeste tentando sobreviver na selva de pedra. Você não é invisível. Ele ergueu a mão, os dedos quase tocando o rosto dela, mas parando no último segundo. Eu te vejo, Jordania.

 Eu te vejo desde o primeiro dia. O coração dela martelava. Eles estavam tão próximos que ela sentia a respiração dele em seu rosto. Vinícius se inclinou, os olhos fixos nos lábios dela. A porta do escritório se abriu com estrondo. Senr. Monteiro, o conselho está na linha três.

 A secretária dele, Márcia, estava na porta, completamente alheia ao momento que havia interrompido. Vinícius recuou rapidamente, recompondo a postura. Obrigado, Márcia. Já tendo. Quando a secretária saiu, ele voltou a olhar para a Jordania. Eu não deveria. Eu sei, mas eu quero. Eu também. Ela admitiu tremendo. Vai para casa, Jordania. É véspera de Natal amanhã.

Aproveita esses dias. Ela assentiu e saiu. As pernas bambas, o coração em tumulto, mas quando chegou ao elevador, ele chamou mais uma vez. Jordania. Sim, feliz Natal. Havia um peso naquelas palavras simples, como se ele estivesse dizendo muito mais. Feliz Natal, Vinícius. 23 de dezembro, véspera da véspera.

 

 Já passava das 11 da noite, quando Jordania voltou ao escritório para buscar a bolsa que havia esquecido. O andar corporativo estava completamente vazio e escuro, apenas a luz de emergência iluminando o corredor. Ela pegou a bolsa na sua mesa e estava indo embora quando ouviu algo vindo do escritório de Vinícius. A porta estava entreaberta.

 Ela deveria ter ido embora, mas algo a puxou para a frente, empurrou a porta levemente e congelou. Vinícius estava sentado no chão, encostado na parede de vidro que dava vista para a cidade iluminada, uma garrafa de whisky ao lado, o palitó jogado de qualquer jeito na cadeira, gravata afrouxada, os primeiros botões da camisa abertos.

 Ele olhava para o nada e mesmo na penumbra Jordania viu a devastação em seu rosto. Vinícius. Ela entrou devagar, como se aproximando de um animal ferido. Ele ergueu os olhos e ela viu que estavam vermelhos. Ele havia chorado. Jordania. Ele passou a mão pelo cabelo tentando se recompor. Eu desculpa, você não deveria me ver assim. O que aconteceu? Ele riu amargamente.

 Yasmin vai passar o Natal com a mãe dela. Ela voltou do nada, dizendo que quer reconstruir laços. O juiz deferiu uma visita supervisionada. dois dias. Minha garotinha vai passar o Natal com uma mulher que a abandonou e eu vou ficar sozinho nessa mansão vazia, bebendo até esquecer que existo. Jordania sentou ao lado dele no chão, sem pensar nas consequências.

 Ela pegou o copo de whisky da mão dele e colocou de lado. Yasm sabe que você a ama. Dois dias não mudam anos de dedicação. E se ela não voltar? E se aquela mulher a convencer de que eu sou o problema? A voz dele quebrou. Eu não sobrevivo sem minha filha, Jordania. Ela é a única coisa que me mantém inteiro.

 Jordania segurou a mão dele, entrelaçando os dedos. Era íntimo demais. Cruzava todas as linhas profissionais, mas ela não se importou. Você é mais forte do que pensa. Yasmin vai voltar porque ela te ama. Crianças sempre sabem quem realmente se importa. Ele olhou para as mãos entrelaçadas deles, depois para o rosto dela.

 Por que você se importa? Eu sou seu chefe. Eu sou um desastre ambulante. Por que você está aqui? Porque eu sei como é estar quebrado e sozinho. Ela confessou lágrimas ardendo em seus próprios olhos. E porque desde aquele dia na máquina de café, eu não consigo parar de pensar em você. A confissão pairou entre eles como uma bomba prestes a explodir.

 Vinícius soltou a mão dela, se levantou cambaliante e foi até a janela. Você deveria ir embora, Jordania. Por quê? Porque eu estou à beira de fazer algo muito, muito errado. Ele apoiou a testa no vidro frio. E você merece melhor do que um homem quebrado que mal consegue manter a própria vida funcionando.

 Ela se levantou e caminhou até ele, colocando-se entre ele e a janela. E se eu quiser esse homem quebrado? E se eu já estiver apaixonada por ele? Os olhos dele se arregalaram. Jordania, me beija.” Ela pediu tremendo. “Por favor, só me beija.” Ele segurou o rosto dela com ambas as mãos, os olhos buscando-os dela como se procurasse certeza.

 E então, finalmente, ele a beijou. Foi devastador, desesperado. Um beijo de dois solitários encontrando porto seguro um no outro. As mãos dele foram para a cintura dela, puxando-a, e ela se agarrou aos ombros dele como se fosse se afogar sem esse contato. Quando se separaram ambos ofegantes, Vinícius encostou a testa na dela.

 Eu não deveria ter feito isso. Eu sou seu chefe. Eu posso arruinar sua carreira. Eu Eu não me importo. Mas eu me importo. Você tem 21 anos, uma vida inteira pela frente. Eu vou te destruir, Jordania. Tudo que eu toco, eu destruo. Ela beijou ele novamente, mais suave dessa vez. Então me deixa decidir o que eu quero arriscar. Ele a abraçou forte, enterrando o rosto no pescoço dela.

 Eu não posso te oferecer um final feliz. Minha família é um desastre. Minha vida é um caos. Eu mal consigo me manter de pé. Eu não estou pedindo um final feliz. Estou pedindo agora esse momento. Só isso. Eles ficaram assim por longos minutos. Dois corações feridos batendo juntos no escuro.

 Então, Vinícius recuou, recompondo-se com esforço visível. Vai para casa, Jordânia. Por favor, Vinícius, vai. Ele virou o rosto, não querendo encará-la. Antes que eu mude faça algo que a gente vai se arrepender. Com o coração partido, ela saiu, mas na porta olhou para trás uma última vez.

 Vinícius estava novamente sentado no chão, cabeça nas mãos, a imagem perfeita de um homem lutando contra si mesmo. Jordania não sabia ainda, mas essa seria a última vez que o veria antes de sua vida mudar para sempre. 24 de dezembro, véspera de Natal. O apartamento de Jordania era pequeno, apertado, mas era dela. Um kitete de 30 m quadrados na zona leste, mobília doada, janela com vista para o prédio vizinho.

 Ela pendurou três enfeites comprados no mercadinho e tentou fingir que aquilo era festivo. Eram 7 da noite. Do apartamento ao lado, vozes alegres e música natalina vazavam pelas paredes finas. Família reunida, risos, abraços, tudo que ela não tinha. Jordania abriu a geladeira, uma garrafa de vinho branco barato, restos de macarrão, iogurte vencido.

 Fechou com mais força do que necessário e pegou o celular. Quatro mensagens não lidas, todas do grupo da família no WhatsApp. Fotos da ceia sendo preparada na Paraíba, sua mãe reclamando que ela não estava lá, seus irmãos zoando. A saudade doeu como uma ferida aberta. Ela digitou uma resposta alegre, mentindo que estava bem, que tinha sido convidada para a casa de amigas. Mentira.

 Ana Vitória, sua única amiga real em São Paulo, havia viajado para o interior. Ela estava completamente sozinha. Às 9 da noite, já na terceira taça de vinho, Jordania sentiu as paredes do apartamento se fechando sobre ela. O silêncio era ensurdecedor. Nem o barulho da rua lá fora conseguia preencher o vazio.

 Pegou o celular novamente, abriu o WhatsApp, encontrou o nome de Ana Vitória e começou a gravar um áudio. “Vitória!” A voz dela saiu embargada, traída pelas lágrimas que começavam a cair. Eu sei que você tá com sua família e eu não queria incomodar, mas eu eu preciso falar com alguém. Eu não aguento mais, sabe? Um soluço escapou. Eu tô sozinha nessa merda de cidade.

 Minha família tá a milhares de quilômetros. Eu não tenho ninguém aqui. Ninguém liga se eu existo. Eu me sinto invisível, Vitória. Como se eu fosse um fantasma andando por São Paulo e ninguém me enxergasse. E o pior é que a voz dela quebrou completamente. O pior é que eu me apaixonei por alguém completamente inalcançável. Alguém que provavelmente nem lembra que eu existo agora, que não tô no escritório.

 Eu sou tão patética, tão, tão sozinha. Eu não aguento mais ser invisível. Eu queria que alguém me visse, que alguém ligasse, que eu importasse para alguém. Ela parou de gravar, as lágrimas escorrendo livremente agora. Não era um áudio bonito, era desespero puro, mas ela precisava desabafar ou ia explodir.

 Sem revisar, sem pensar, ela apertou enviar. 5 segundos depois, o sangue dela congelou. A mensagem não havia sido enviada para Vitória, melhor amiga, havia sido enviada para Vinícius Monteiro, CEO, Monteiro Global. Não, não, não, não. Jordânia gritou, o pânico a engolindo. Ela tentou apagar. Mensagem não poôde ser excluída. Destinatário já visualizou. Visualizado. Às 21:13.

 Ela jogou o celular no sofá como se queimasse e começou a andar de um lado para o outro, as mãos tremendo. Seu chefe, seu CEO, havia acabado de receber um áudio de 3 minutos dela chorando, desabafando sobre solidão, sobre se sentir invisível, sobre estar apaixonada por alguém inalcançável. Ele ia achar que ela era louca, maluca, assédio reverso. Ela seria demitida, processada.

Sua carreira estava acabada antes mesmo de começar. O celular vibrou. Ela olhou para a tela com terror. Vinícius Monteiro está digitando. As três bolinhas apareceram e desapareceram quatro vezes. Ela mal conseguia respirar. Finalmente a mensagem chegou. Endereço agora. Jordania releu cinco vezes sem entender.

 Ele estava pedindo seu endereço. Por quê? Para mandar seguranças buscarem ela para uma demissão formal. Com as mãos tremendo, ela digitou o endereço. A resposta dele veio em segundos. Não saia. Estou indo. Estou indo. Indo onde? Para o apartamento dela. Agora, às 9:20 da noite, de véspera de Natal.

 Jordania entrou em pânico produtivo, limpou o rosto às pressas, tentou arrumar o cabelo, jogou as garrafas vazias no lixo, arrumou os tapetes. O apartamento era minúsculo e humilde, mas pelo menos estaria apresentável quando ele chegasse para o quê? Gritar com ela? Demiti-la pessoalmente. Às 10:05, a campainha tocou. Jordania abriu a porta com as pernas bambas, preparada para o pior.

Vinícius Monteiro estava em seu corredor estreito e mal iluminado, mas não era o se de terno impecável. Era um homem em calça de moletom cinza, camiseta branca básica, jaqueta de couro preta. O cabelo estava bagunçado, como se ele tivesse passado as mãos nele mil vezes.

 No rosto, uma expressão que ela não conseguia decifrar. E nas mãos dele três sacolas de papel pardo de um restaurante italiano caríssimo dos jardins. Vinícius, eu posso explicar? Você já jantou? Ele perguntou a voz rouca. O o quê? Jantou, Jordania? Ele ergueu as sacolas. Porque eu trouxe comida suficiente para cinco pessoas e não pretendo comer sozinho? Ela piscou confusa.

 Você não veio me demitir? Algo duro e doloroso atravessou o rosto dele. Você gravou um áudio de três minutos chorando, dizendo que se sente invisível e sozinha na véspera de Natal. E você acha que eu vim te demitir? Ele balançou a cabeça, entrando sem ser convidado. Posso entrar? Ou você prefere me deixar aqui no corredor com 20 kg de comida italiana? Ainda em choque, Jordania fechou a porta atrás dele. Vinícius parou no meio do minúsculo apartamento, olhando ao redor.

 Ela viu o lugar pelos olhos dele, pequeno, simples, quase nu. Nada comparado com a mansão dele em Alpaville, que ela sabia que ele tinha. É apertado, mas é meu”, ela disse defensivamente. “É honesto.” Ele colocou as sacolas na bancada da cozinha americana. Muito mais honesto do que minha casa de 15 quartos, que ecoa como um túmulo.

 Ele começou a tirar potes da sacola, lasanha, risoto de fungue, antepasto, pão italiano, tiramissu, uma fortuna em comida. “Vinicius, o que você está fazendo aqui?” Ele finalmente parou e olhou para ela. Realmente olhou como se a estivesse vendo pela primeira vez. Eu ouvi seu áudio. Ele admitiu a voz baixa três vezes.

 E cada vez que você dizia que se sentia invisível, que ninguém ligava se você existia, eu sentia como se estivessem enfiando facas no meu peito. Porque eu sei exatamente como é isso, Jordania, e porque você não é invisível. Não para mim. As lágrimas voltaram aos olhos dela. Mas eu sou sua funcionária. Você é meu chefe. Isso é errado em todos os níveis, completamente inapropriado, potencialmente desastroso para nós dois.

Ele se aproximou, os olhos dourados fixos nos dela. Sim, é tudo isso. Mas quando você enviou aquele áudio, quando eu ouvi você chorando, dizendo que estava apaixonada por alguém inalcançável, eu não consegui fingir mais. Eu não consegui ficar naquela mansão vazia sozinho, sabendo que você estava aqui, também sozinha, também sofrendo. Então você veio. Então eu vim.

Ele sorriu, mas era um sorriso triste, porque ninguém deveria estar sozinho na noite de Natal, especialmente não você. Jordania deixou as lágrimas caírem livremente agora. Você me ouviu dizer que eu tava apaixonada por alguém inalcançável. Eu sei. Ele deu mais um passo.

 Eles estavam a centímetros um do outro agora. Mas e se eu dissesse que não sou tão inalcançável assim? E se eu dissesse que desde aquela noite no escritório, quando você me encontrou bêbado no chão, eu não consigo parar de pensar em você. E se eu dissesse que eu ouvi seu áudio e larguei tudo, peguei o carro e dirigi 40 minutos só para ter certeza de que você estava bem.

Vinícius, eu sei que isso é loucura. Eu sei que vai complicar tudo, mas essa noite, só por essa noite, podemos fingir que não somos chefe e funcionária. Podemos ser apenas Vinícius e Jordania, dois solitários tentando não passar o Natal sozinhos. Ela assentiu incapaz de falar.

 Ele secou as lágrimas dela com os polegares, o toque tão gentil que mais lágrimas vieram. Agora ele se afastou, voltando para a cozinha como se precisasse de distância para se controlar. Vamos comer antes que esfrie e você vai me contar porque uma garota linda, inteligente e trabalhadora como você está passando o Natal sozinha em São Paulo.

 E assim, na minúscula cozinha americana de Jordania, cercados por potes de comida italiana cara, eles começaram a conversa que mudaria ambas as vidas para sempre. A lasanha estava pela metade quando Vinícius começou a falar, não sobre trabalho, não sobre a empresa, mas sobre Yasmim. Ela tem essa mania de organizar os bichinhos de pelúcia por cor”, ele disse, um sorriso genuíno, suavizando as linhas duras do rosto.

 Acordei semana passada e encontrei 42 ursinhos organizados, do mais claro para o mais escuro na sala. Quando perguntei porê, ela disse que era importante para a ordem do universo. Jordania riu. A primeira risada genuína em semanas. 4 anos e já preocupada com a ordem do universo. Ela é assustadoramente inteligente. Às vezes eu olho para ela e vejo minha ex-mulher e fico com medo, com medo de que Yasmin a mesma incapacidade de amar, de ficar, de se comprometer. Ela não vai. Jordania disse com certeza, porque ela tem você.

Porque ela vê você todos os dias escolhendo ficar, escolhendo amar, escolhendo ser presente. Crianças aprendem pelo exemplo, não pela genética. Vinícius ficou quieto por um longo momento, apenas olhando para ela, como se ela tivesse dito algo profundo. Como você ficou tão sábia aos 21 anos? Crescer pobre te força a amadurecer rápido ela deu de ombros.

 Quando sua mãe tem que escolher entre pagar luz ou comprar comida, você aprende cedo que a vida não é um conto de fadas. Conta para mim”, ele pediu, se inclinando para a frente, “sobre sua família, sobre porque você veio para São Paulo sozinha, sobre tudo.” E ela contou, sobre crescer em uma cidade pequena da Paraíba, sobre ter quatro irmãos e ser a única terminar o ensino médio, sobre trabalhar desde os 14 para ajudar em casa, sobre o sonho de fazer faculdade, de ser alguém, de provar que ela era mais do que as pessoas esperavam dela. São Paulo, ele

perguntou. Foi minha grande aposta, ela admitiu. Juntei dinheiro durante 3 anos, paguei um curso online de administração, me candidatei para 50 vagas. A Monteiro Global foi a única que me chamou e quando recebi aquele e-mail de aprovação, eu chorei por 2 horas. Era a minha chance, sabe, de provar que eu valia algo. Você vale mais do que imagina. Vinícius disse com intensidade.

Eu li seu currículo, Jordania. Li suas respostas no processo seletivo. Você foi contratada porque você é brilhante, não por pena ou sorte. Você conquistou esse lugar. As palavras dele aqueceram algo frio dentro dela. Obrigada por dizer isso. Já passava da meia-noite quando a conversa derivou para territórios mais profundos.

 Vinícius falou sobre o divórcio, sobre como tinha sido devastador acordar um dia e descobrir que a mulher que ele amava havia simplesmente decidido que não queria aquela vida. Ela deixou uma carta. Ele contou a voz distante, dizendo que ser mãe a sufocava, que o casamento era uma prisão, que ela precisava se encontrar, como se Yasminim e eu fôssemos obstáculos no caminho da iluminação dela. Ela era idiota. Jordania disse sem rodeios.

 Qualquer mulher que abandona um homem como você e uma criança é simplesmente idiota. Ele riu. Um som rouco e genuíno. Um homem como eu? Você mal me conhece. Eu sei o suficiente. Ela segurou a mão dele sobre a mesa. Sei que você trabalha até às 3 da manhã para dar o melhor para sua filha.

 Sei que você apareceu na porta de uma funcionária júnior na véspera de Natal porque ela estava sozinha. Sei que você é gentil quando acha que ninguém está olhando. Isso me diz tudo que eu preciso saber. Os olhos dele escureceram. Ele virou a mão e entrelaçou os dedos nos dela. Jordania, você sabe que não podemos. Eu sei ela sussurrou.

 Mas por essa noite podemos fingir? Eles se levantaram simultaneamente, como se puxados por um fio invisível. Vinícius a puxou contra ele e Jordania sentiu cada centímetro do corpo dele colado ao dela. O coração dele batia descompassado sob a palma da mão dela. “Se a gente fizer isso?” Ele disse a voz rouca. “Não tem volta, Jordania. vai mudar tudo. Eu quero que mude. Ela ergueu o rosto.

 Eu quero você, Vinícius, completamente. O beijo foi explosivo, diferente daquele no escritório. Esse foi fome, desespero, necessidade. As mãos dele foram para a cintura dela, levantando-a, e ela enroscou as pernas ao redor dele. Ele a carregou até o sofá cama, depositando-a com cuidado. Vinícius se afastou por um segundo, respirando pesadamente. Última chance de mudar de ideia.

 Beija logo ela puxou ele pela camiseta. O que começou urgente foi se transformando em algo diferente. As mãos dele exploravam cada curva, mas com reverência, como se ela fosse preciosa. Ele beijava o pescoço dela, a clavícula, enquanto removia a blusa dela devagar, dando tempo para ela mudar de ideia.

 Mas quando as coisas foram progredindo, quando as roupas foram sendo removidas e a urgência voltou, Jordania sentiu o medo apertar sua garganta. O corpo dela enrijeceu. Vinícius percebeu imediatamente. Parou, afastando-se para olhar para ela. O que foi? Você está bem? As lágrimas voltaram aos olhos dela, mas dessa vez de vergonha. Eu preciso te contar algo. O que foi, amor? Aquele amor casual quebrou a última defesa dela.

 Eu nunca Eu sou virgem, Vinícius, e eu estou com medo. A expressão dele mudou por completo. Suavizou. Ele segurou o rosto dela com ambas as mãos, forçando-a a encará-lo. Olha para mim. Quando ela obedeceu, ele continuou. Obrigado por confiar em mim isso. Obrigado por ser honesta. Não há absolutamente nada para ter vergonha.

 Você não está decepcionado? A voz dela saiu pequena, vulnerável, decepcionado. Ele beijou a testa dela, depois o nariz, depois os lábios suavemente. Jordania, eu estou honrado. Honrado que você confie em mim, assim, que você me escolha para isso, mas eu preciso saber. Ele se afastou um pouco.

 Você quer isso de verdade? Porque se você quiser parar, a gente para. Sem julgamento, sem pressão. Vamos só ficar aqui abraçados e dormir. Está tudo bem. Ela olhou para aquele homem que tinha dirigido 40 minutos na véspera de Natal só porque ela estava sozinha, que trouxe comida cara e conversou com ela por horas, que havia realmente via quando o mundo inteiro a ignorava.

 “Eu não quero parar”, ela disse firme agora, limpando as próprias lágrimas. “Eu quero isso. Eu quero você completamente. Eu confio em você, Vinícius. Tem certeza absoluta?” “Sim.” Ela puxou ele para outro beijo, esse mais confiante. Só vai devagar. Vou no seu tempo. Ele prometeu contra os lábios dela. Completamente no seu tempo.

 Se doer, se você quiser parar, a gente para. Está bem? Está bem. E ele cumpriu a promessa. Vinícius foi incrivelmente gentil, paciente, atencioso. Cada movimento era sobre ela, sobre fazer aquilo especial, sobre garantir que ela se sentisse segura e desejada. Quando houve desconforto, ele parou, a acalmou com beijos e palavras suaves, esperou até ela estar pronta de novo.

 Jordania se entregou completamente, não apenas fisicamente, mas emocionalmente, naquele sofá cama apertado, nos braços daquele homem complicado e quebrado, ela se sentiu completa pela primeira vez na vida. Depois eles ficaram entrelaçados, cobertos apenas por um lençol fino, a cabeça dela no peito dele, ouvindo as batidas do coração dele se acalmarem. Os dedos dele desenhavam padrões preguiçosos nas costas dela.

 “Você está bem?”, ele perguntou pela décima vez, beijando o topo da cabeça dela. Ela ergueu o rosto, os olhos brilhando. “Eu estou mais do que bem. Eu estou completa.” Lágrimas de felicidade escorriam agora. Ela riu através delas. Sabe qual foi o meu melhor presente de Natal, Vinícius? O quê? Esse momento você ter me entregado a alguém que me fez sentir segura, desejada, vista.

 Esse foi o melhor presente que eu poderia ter recebido. Obrigada por me ver, Vinícius, por realmente me ver. Algo se quebrou dentro dele. Vinícius a abraçou mais forte, enterrando o rosto no cabelo dela, e ela sentiu lágrimas caírem. Você me deu o mesmo presente, Jordania”, ele confessou, a voz rouca de emoção.

 “Você me fez sentir humano de novo. Me fez lembrar que existe algo além da solidão, além dos negócios e das obrigações. Você me fez sentir vivo.” Eles adormeceram assim, entrelaçados, tendo selado um vínculo que transcendia o físico. Naquela noite de Natal, dois solitários haviam encontrado lar nos braços um do outro, mas nenhum dos dois sabia que aquela noite carregaria consequências que mudariam ambas as vidas para sempre e que a felicidade deles estava em uma contagem regressiva silenciosa. Os primeiros raios de sol do dia de Natal

entraram pela janela do apartamento. Jordânia acordou lentamente, consciente do calor de outro corpo ao lado dela. Por um segundo pensou ter sonhado tudo, mas não. Vinícius Monteiro estava ali dormindo em seu sofá cama, o braço ainda ao redor dela.

 No sono, ele parecia mais jovem, as linhas de preocupação suavizadas. Ela aproveitou o momento para realmente olhar para ele, as cílias escuras, a mandíbula coberta por barba por fazer, o peito subindo e descendo em respiração tranquila, como se sentisse o olhar dela. Ele abriu os olhos. O sorriso que apareceu foi genuíno, sem as defesas corporativas. Bom dia.

 A voz dele estava rouca do sono. Bom dia. Eles ficaram assim por um momento, apenas se olhando. O peso do que havia acontecido pairando entre eles. Arrependida? Ele perguntou vulnerável. Nem um pouco. Ela beijou o peito dele levemente. E você? Nunca. Ele a puxou mais perto. Mas a gente precisa conversar sobre o que acontece agora.

 Jordania sabia que ele estava certo. Eles haviam cruzado uma linha irreversível. CEO e assistente Júnior. A relação deles era explosiva em todos os sentidos possíveis. “O que você quer?”, ela perguntou. Vinícius passou a mão pelo cabelo, sentando-se. A luz do sol desenhava sombras no torço dele. “Eu quero você. Eu quero isso.” Ele gesticulou entre eles. “Mas eu também não quero arruinar sua carreira.

 Meu pai é o presidente do conselho. Há regras rígidas sobre relacionamentos no escritório. Se ele descobrir, então ele não descobre. Jordania também sentou, puxando o lençol para cobrir o corpo. A gente mantém segredo. No escritório somos profissionais. Fora dele, fora dele somos Vinícius e Jordania. Ele completou gostando da ideia.

 Mas isso é justo com você? Ter que esconder, fingir que não existe nada entre a gente é mais justo do que não ter você de jeito nenhum. Ele a puxou para um beijo longo e lento. Você é incrível, sabia? Me lembra disso sempre. Ela sorriu contra os lábios dele. Três semanas depois, janeiro chegou com o retorno ao trabalho.

 Jordania entrava pela porta principal às 8 horas, como todas as outras 150 pessoas que trabalhavam naquele andar. Vinícius chegava pelo elevador privativo às 7. Eles não se cumprimentavam, não trocavam olhares. para o mundo externo eram apenas CEO e funcionária. Mas três vezes por semana depois que o escritório esvaziava, Jordania ia até a cobertura de Vinícius em Pinheiros. Lá eles eram apenas eles. Jantavam, conversavam, faziam amor.

Vinícius cozinhava mal. Ela o zoava, eles riam. E aos sábados, Jordania conheceu o tesouro maior de Vinícius, Yasmim. A menina tinha sido tímida no começo, escondida atrás das pernas do pai, mas Jordania tinha paciência. Sentou no chão, perguntou sobre os ursinhos organizados por cor e, lentamente a garotinha se abriu.

 “Você é bonita”, Yasmin declarou com a honestidade brutal das crianças. “Pode ser minha amiga?” “Eu adoraria ser sua amiga.” Jordania respondeu, o coração derretendo. “Então vou te chamar de Jô”. Tá bom, Jô? Vinícius assistiu aquela cena. ado no batente da porta com uma expressão que Jordania não conseguiu decifrar. Mais tarde, quando Yasm dormiu, ele a abraçou forte.

 Você é perfeita com ela. Ela é incrível, Vinícius. Você fez um trabalho incrível. Ela te ama, ele confessou. E isso me apavora, porque se isso der errado, se a gente não funcionar, eu vou perder você e ela também. Então, a gente não deixa dar errado. Mas mesmo enquanto dizia isso, Jordania sentiu o medo. Medo de que aquela bolha perfeita estourasse.

Medo de que o mundo descobrisse, medo de que ela não fosse forte o suficiente para o que viria. No escritório, outros olhos observavam: Eduarda Ferreira, gerente de projetos, tinha 30 anos, MBA em duas universidades europeias e uma obsessão doentia por Vinícius Monteiro. Ela havia tentado de tudo.

 Flirte sutil, convites para drinks, até encontros casuais no elevador. Nada funcionava. Vinícius era cort, mas distante, até que Jordania apareceu. Eduarda notou as mudanças sutis. Como Vinícius sorria ao ver os relatórios entregues por Jordania. Como ele parava para conversar com ela na Copa. Como uma vez ela viu os dedos dele se tocarem rapidamente ao passar uma caneta.

 A fúria cresceu como ácido. Aquela garotinha do interior, sem qualificação real, sem background, havia conquistado a atenção do homem que Eduarda considerava seu por direito. “Eu vou descobrir o que ela tem.” Eduarda murmurou para si mesma, observando Jordania pelo vidro da sala. “E vou destruir.” Ela começou a investigar.

Redes sociais, amigos, background familiar. Cada informação foi catalogada, guardada, esperando o momento certo para ser usada. Mas a felicidade de Jordania e Vinícius era tão intensa que eles não perceberam a tempestade se formando. Em uma sexta-feira à noite, na mansão dele, eles estavam dançando na sala ao som de Bossa Nova. Yasm já dormia no andar de cima.

 Vinícius segurava a Jordania perto, os movimentos lentos e íntimos. Eu nunca fui feliz assim. Ele confessou contra o cabelo dela. Nunca. Nem quando casei, nem quando Yasmin nasceu. Essa felicidade é diferente. É completa. Eu também. Ela ergueu o rosto. Às vezes tenho medo de acordar e descobrir que foi tudo um sonho. Não é sonho. Eu sou muito real. Ele a beijou provando.

 E você é minha. Completamente minha. Sua. Ela concordou se perdendo no beijo. Eles subiram para o quarto dele e, pela 20ª vez desde o Natal se entregaram um ao outro. Mas dessa vez algo era diferente, uma urgência, uma intensidade maior, como se ambos sentissem que o tempo deles estava acabando.

 E enquanto eles faziam amor naquela noite, sem saber, os problemas que mudariam tudo já estavam em movimento, porque no dia seguinte chegaria o convite que nenhum dos dois poderia recusar. Jantar na casa dos pais de Vinícius. A família Monteiro estava prestes a conhecer Jordania e a guerra estava prestes a começar. A mansão dos Monteiros em Alphaaville era intimidadora, colonial moderna, três andares, jardins impecáveis.

 Jordania sentiu o estômago revirar quando Vinícius estacionou a Mercedes no caminho de pedras portuguesas. Eu não sei se consigo fazer isso, ela admitiu, olhando para o vestido azul marinho simples que ela havia comprado em uma loja de departamento. Nada comparado ao que provavelmente se usava ali dentro. Vinícius segurou a mão dela. Você é perfeita e eles vão ver isso.

 Seu pai já me odeia e nem me conhece. Meu pai odeia todo mundo que não seja ele mesmo. Vinícius tentou sorrir, mas havia tensão em sua mandíbula. Mas minha mãe vai te amar. Ela já me ligou três vezes hoje perguntando sobre você. A porta da mansão se abriu antes que pudessem bater.

 Uma mulher elegante de 50 e poucos anos, cabelos castanhos bem cuidados, olhos gentis, apareceu dona Sandra. Vinícius, meu filho. Ela o abraçou, depois voltou à atenção para a Jordania. E você deve ser a Jordania. Meu Deus, você é ainda mais bonita do que meu filho descreveu. Prazer, dona Sandra. Jordania estendeu a mão, mas foi puxada para um abraço caloroso. Nada de aperto de mão aqui, querida. Somos família.

 Família? A palavra aqueceu o peito de Jordania, mas a sensação durou apenas até eles entrarem na sala de estar. Fábio Monteiro estava de pé ao lado da lareira, um copo de whisky na mão, terno escuro mesmo em casa. Aos 54 anos, ele era uma versão mais velha e endurecida de Vinícius.

 Mas onde o filho tinha calor nos olhos, o pai tinha apenas cálculo frio. Pai. Vinícius cumprimentou formalmente. Essa é Jordania, minha assistente júnior. Fábio completou o desdém gotejando de cada sílaba. Sim, eu sei. Fiz questão de pesquisar. O silêncio que seguiu foi tenso. Jordania sentiu Vinícius enrijecer ao seu lado, mas ela forçou um sorriso. Prazer em conhecê-lo, Sr.

Monteiro. Tenho certeza. Fábio tomou um gole e os olhos a desse: “Deve ser um prazer enorme conhecer o homem que assina seu contra-cheque. Fábio.” Dona Sandra repreendeu. “Que jeito é esse de falar com uma convidada? Estou apenas sendo pragmático, Sandra.” Ele sorriu, mas era gelado.

 “Vamos jantar? Estou curioso para conhecer melhor a jovem que capturou a atenção do meu filho. O jantar foi um campo de batalha velado. Gabriel, o irmão mais novo de Vinícius, estava lá com a esposa Bruna. Eles foram educados, mas distantes.

 Dona Sandra tentava desesperadamente manter conversas leves, mas Fábio sabotava cada tentativa. Então, Jordania, Fábio cortou o salmão com precisão cirúrgica. Você é da Paraíba, correto? Deve ter sido difícil conseguir educação de qualidade por lá. Pai, Vinícius avisou. O que foi? É uma pergunta legítima. Fábio se defendeu, mas seus olhos permaneceram fixos em Jordania.

 Estou genuinamente curioso sobre seu background. Jordania respirou fundo. Não ia se deixar intimidar. Sim, senhor. A educação pública no Nordeste deixa a desejar, mas eu trabalhei desde os 14, paguei cursos online e me dediquei. Consegui uma vaga na Monteiro Global porque provei que sou capaz. Capaz? Fábio riu sem humor.

 Três semanas na empresa e você já está sentada na mesa da minha família. Impressionante escalada. Chega. Vinícius bateu a mão na mesa, fazendo todos pularem. Você não vai humilhá-la na minha frente. Humilhar? Eu estou apenas protegendo meu filho de uma óbvia interesseira. Que interesseira? Vinícius se levantou, o rosto vermelho. Você não sabe nada sobre ela.

 Nada? Eu sei o suficiente. Fábio também se levantou igualmente enfurecido. Si, que ela vem de família pobre, que trabalha há três semanas na empresa e que de repente está no seu apartamento conhecendo sua filha, sendo tratada como namorada oficial. Isso se chama oportunismo, Vinícius. Jordania sentiu as lágrimas arderem, mas se recusou a chorar ali.

 Dona Sandra tocou seu braço gentilmente, sussurrando um pedido de desculpas, mas Jordania mal ouviu. O sangue rugia em seus ouvidos. Sabe o que é mais triste? Vinícius disse a voz baixa, mas carregada de fúria, que você é tão amargo, tão vazio por dentro, que não consegue conceber que alguém possa amar seu filho por quem ele é, não pelo que ele tem. Amor? Fábio zombou.

Você conhece ela há quanto tempo? Dois meses. E já está falando de amor? Você está pensando com seu Não termine essa frase. Vinícius avisou perigosamente. Vocês dois parem. Dona Sandra implorou. É Natal, pelo amor de Deus. Mas os homens Monteiro não ouviam. Eles estavam frente à frente, décadas de ressentimento finalmente explodindo.

Você quer saber a verdade, pai? Sim, eu amo ela profundamente e não vou pedir sua bênção ou permissão. Não mais. Fábio apertou os olhos. Então você escolhe. Ela ou sua posição na empresa, ela ou seu lugar nessa família, ela ou o trust fund que garante o futuro de Yasmin. O silêncio que seguiu foi absoluto.

Jordania sentiu o chão desaparecer sob seus pés. “Você não pode estar falando sério.” Vinícius sussurrou pálido. “Estou mortalmente sério. Você termina com essa garota agora ou eu te deserdou, te tiro da presidência da empresa e você perde acesso ao trust fund que garante todos os confortos de Yasmin. Você escolhe ela ou sua filha.

” Jordania não aguentou mais. Levantou-se com pernas trêmulas. Eu preciso de ar. Ela praticamente correu para o jardim, as lágrimas finalmente caindo livremente. Encostou em uma árvore, soluçando, o corpo tremendo com a humilhação e a dor. Vinícius a alcançou dois minutos depois, também com lágrimas nos olhos.

 Jordania, me perdoa. Eu não sabia que ele ia. Ele está certo. Ela disse, a voz quebrada. Eu sou uma interesseira, uma aproveitadora. Eu Você não é nada disso. Vinícius assegurou pelos ombros. Você é a mulher mais genuína, mais pura que eu conheci. Você me salvou, Jordania. Me salvou da solidão, do vazio. Não deixa ele te convencer do contrário.

 Ela olhou para o rosto atormentado dele. Mas e se ele cumprir a ameaça? E se você perder tudo? Então eu recomeço do zero, se necessário, e Yasm, o futuro dela. Vinícius hesitou apenas um segundo, mas foi o suficiente. Jordania viu o medo nos olhos dele, o medo de não conseguir prover para a filha, de falhar como pai. Naquele momento, ela entendeu.

 Ela nunca poderia pedir que ele escolhesse entre ela e Yasmin. Não quando a escolha poderia prejudicar uma criança inocente. Vamos só, vamos só ir embora. Ele pediu. Vamos para minha casa. Esquece essa noite toda. Eles voltaram para a mansão dele em silêncio sepulcral, mas quando chegaram, a tensão entre eles havia se transformado em algo diferente. Urgência, necessidade.

 Sem palavras, eles se beijaram com um desespero, como se soubessem que aquilo era o começo do fim, como se tentassem se agarrar a algo que já estava escorregando entre os dedos. fizeram amor naquela noite com uma intensidade que assustou ambos. Era rebelião, era reivindicação, era uma declaração silenciosa de que não importava o que o mundo dissesse, naquele momento eles pertenciam um ao outro.

 Depois, entrelaçados na escuridão do quarto, Vinícius sussurrou: “Eu vou resolver isso. Vou encontrar um jeito, prometo.” “Eu sei”. Ela mentiu porque no fundo ela já sabia a verdade. Algumas batalhas não podiam ser vencidas e alguns amores, por mais intensos que fossem, não podiam sobreviver ao peso do mundo real.

 Mas nenhum dos dois sabia ainda que aquela noite, aquele ato de rebeldia e amor, havia concebido uma vida, um bebê que mudaria tudo, um bebê chamado Víor. Eduarda Ferreira bateu na porta do escritório de Fábio Monteiro às 7 da manhã. Ela havia pedido aquela reunião privada usando linguagem vaga sobre preocupações corporativas. Quando a porta se abriu, o patriarca da Monteiro Global a recebeu com ceticismo.

Senrita Ferreira, espero que tenha um bom motivo para me fazer vir ao escritório uma hora mais cedo. Tenho, senr Monteiro. Eduarda entrou com postura confiante, colocando uma pasta na mesa. Diz respeito ao seu filho e uma certa complicação que pode prejudicar a imagem da empresa. Os olhos de Fábio se estreitaram. Continue. Eduarda abriu a pasta, revelando fotos discretas.

Vinícius e Jordania entrando juntos no prédio dele. Vinícius segurando a porta do carro para ela. Nada explícito, mas comprometedor. Eu tenho motivos para acreditar que o CEO da nossa empresa está envolvido romanticamente com uma assistente júnior.

 Isso não apenas viola as políticas de relacionamento, mas também abre brechas para processos de assédio e favorecimento. Fábio estudou as fotos em silêncio. Eduarda viu o momento exato em que a raiva dele acendeu. E o que você quer em troca dessa informação? Apenas proteger a empresa, senhor. Eduarda sorriu docemente. E talvez, se eu pudesse auxiliar em uma investigação interna, uma promoção seria apropriada.

 gerente sênnior de auditoria, por exemplo, teria acesso aos sistemas necessários para verificar se houve favorecimento. Fábio se inclinou na cadeira, avaliando-a como um predador avalia presa. Então, lentamente sorriu. Considere-se promovida, senrita Ferreira, e não me decepcione. Duas semanas depois, Jordania tinha uma rotina.

 Todo dia, às 3 da tarde, ela ia à Copa buscar seu café. Deixava o computador logado porque sempre voltava em menos de 5 minutos. Eduarda havia cronometrado 17 vezes, sempre 3 horas, sempre 5 minutos. No 18º dia, Eduarda esperou. Quando Jordania se levantou e foi para a Copa, Eduarda agiu. Entrou na estação de trabalho de Jordania.

 O computador estava desbloqueado, o sistema financeiro aberto. Perfeito. Com movimentos precisos, Eduarda acessou o módulo de transferências internacionais. Alterou uma transferência legítima de 10 milhões de dólares, mudando a conta destino para uma conta fantasma nas ilhas CAN. Uma conta que ela mesma havia criado usando informações roubadas. Deixou a trilha perfeita.

 O log mostraria que a alteração foi feita do computador de Jordania, usando a senha dela. Incontestável. Mas Eduarda era meticulosa, uma fraude sem motivo seria suspeita. Ela precisava de um porquê. Contratou um investigador particular. Duas semanas depois, ele retornou com uma descoberta interessante. A família de Jordania tinha uma dívida hipotecária antiga na Paraíba. Não era urgente, mas com documentação forjada.

 Eduarda criou um aviso de execução falso, dívida de 300.000 prazo final em três dias. Pareceria que Jordania estava desesperada por dinheiro, o móbil perfeito plantou os documentos falsos em uma gaveta de Jordania. Depois esperou, não demorou. A auditoria de rotina mensal detectou a discrepância na transferência, 10 milhões desaparecidos.

A trilha levava direto para a Jordania. Fábio convocou uma reunião de emergência, Vinícius, os diretores, Eduarda como gerente snior de auditoria e, claro, Jordania. A jovem entrou confusa, sem entender porque estava sendo chamada à sala de reuniões executivas. “Senrita Silva, Fábio começou a voz cortante.

 Você tem algo a declarar sobre a transferência de 10 milhões de dólares realizada ontem às 15:07 do seu terminal? Jordania empalideceu. Transferência? Eu não fiz nenhuma transferência de 10 milhões. Meu nível de acesso nem permite, mas foi feita. Eduarda se levantou, projetando os logs na tela do seu computador com sua senha para uma conta nas ilhas Cman. Isso é impossível. Eu nunca Também encontramos isto em sua gaveta.

 Eduarda colocou o aviso de execução forjado na mesa. Parece que sua família tem problemas financeiros sérios. Pra vencendo em dois dias. 10 milhões resolveriam esse problema confortavelmente. Não. Jordania pegou o papel com mãos trêmulas. Ela olhou para Vinícius procurando apoio, mas o rosto dele estava pálido, chocado.

 Isso não é real. Minha família não tem dívida de 300.000. Alguém armou isso. Alguém? As evidências são incontestáveis. Fábio declarou. Os logs não mentem. Você está demitida por justa causa e estaremos entrando com processo criminal por fraude. Pai. Vinícius finalmente reagiu. Você não pode. Eu posso e vou, a menos que você queira ser investigado como cúmplice.

 Fábio olhou para o filho com frieza. Afinal, todo mundo aqui sabe sobre seu envolvimento com a senrita Silva. Seria fácil argumentar que você ajudou na fraude. Jordania sentiu o chão desaparecer. Era uma armação, uma armação perfeita. E não havia como provar sua inocência. Os logs eram reais. A senha era dela e aquele aviso forjado criava um móbil perfeito.

 Ela olhou para Vinícius e viu o conflito no rosto dele. Ele queria defendê-la, mas se o fizesse, seria destruído junto e Yasminim ficaria sem pai. Eu vou para casa. Jordania disse a voz estranhamente calma, e vocês vão ouvir do meu advogado. Ela saiu da sala com a cabeça erguida, mas por dentro estava despedaçada. Naquela noite, Vinícius apareceu no apartamento dela.

 Tinha documentos nas mãos, provas, logs, o aviso de execução. Jordania, eu preciso entender. Isso é real? Você estava desesperada. E você realmente acha que eu faria isso? Ela perguntou, as lágrimas finalmente caindo. Você me conhece, Vinícius. Você sabe quem eu sou. Eu sei, mas as provas foram plantadas. Ela gritou. Alguém me armou.

Alguém que quer me destruir. Mas quem e por Jordania pensou quem ganharia com sua queda? Quem tinha acesso? Quem, Eduarda, as promoções súbitas, o jeito que ela olhava para Vinícius, as perguntas aparentemente inocentes sobre Jordania nas últimas semanas. Eduarda ela sussurrou. Foi a Eduarda. Eduarda, a gerente de projetos.

 Vinícius balançou a cabeça. Jordânia, eu sei que você está procurando um bod expiatório, mas você não está me ouvindo. Ela gritou. Ela me armou. Ela forjou essas provas. Mas como? Como ela conseguiria sua senha? Como? Eu não sei. Mas eu sei que não fiz isso. Jordania desmoronou, soluçando. E você não acredita em mim. Depois de tudo, você não acredita.

 Vinícius pareceu dilacerado. Eu quero acreditar, Jordania. Mas meu pai vai chamar a polícia. Vai haver investigação. Se você for inocente, vai ser provado. E enquanto isso, eu vou ser presa. Vou ter minha vida destruída. Ela limpou as lágrimas com raiva. Você não entende. Seu pai não quer a verdade. Ele quer me destruir para te controlar. Então me ajuda. Me dá algo. Qualquer coisa que eu possa usar para eu não tenho nada.

 Ela gritou. Porque eu não fiz nada de errado. O silêncio entre eles foi devastador. Vinícius olhou para os documentos, depois para ela, e Jordania viu o momento em que ele decidiu. Ele não ia lutar por ela. Ele ia proteger a si mesmo e as mim. Eu vou precisar de alguns dias para revisar tudo ele disse a voz profissional distante.

 Enquanto isso, seria melhor você não voltar, não aparecer, ficar invisível de novo? Ela terminou amargamente. Jordania, sai! Ela disse, virando o rosto. Só sai, Vinícius, você já deixou claro que sua família e seu império são mais importantes do que a verdade. Não é assim. Sai. Ele saiu e quando a porta fechou, Jordania desabou no chão, o corpo sacudindo com soluços.

 Ela havia perdido tudo. Seu emprego, sua reputação, o homem que amava e a pior parte. Ele não acreditou nela. Depois de tudo que compartilharam, ele não acreditou. Mas a vida estava prestes a adicionar mais uma bomba, porque naquele momento, sem que ela soubesse, já havia uma vida crescendo dentro dela, um bebê, o filho de Vinícius.

 E quando ela descobrisse, a decisão que tomaria mudaria ambas as vidas para sempre. Dois dias depois, Jordania acordou sentindo náusea, correu para o banheiro e vomitou tudo que tinha no estômago. Quando terminou trêmula e suada, apoiou-se na pia e olhou seu reflexo. Estava pálida, com olheiras profundas.

 Havia perdido tudo em questão de dias. Seu trabalho, seu apartamento, não conseguiria pagar o aluguel sem emprego, sua dignidade. E pior, havia perdido Vinícius. A náusea voltou, ela vomitou de novo. Quando finalmente se recuperou, sentou no chão do banheiro, a mente processando. Náusea pela manhã, exaustão extrema.

 Ela não estava, não, não podia ser. Eles tinham sido cuidadosos, sempre usaram proteção. Sempre. A memória da noite após o jantar desastroso voltou. Eles estavam emocionalmente destruídos, desesperados um pelo outro. haviam feito amor com urgência, como rebelião contra o mundo. E naquela fúria, naquele desespero, não.

 Ela sussurrou: “Por favor, não, mas seu corpo já sabia a verdade. Jordania pegou dinheiro dos últimos 200 doares que tinha e foi até a farmácia. Comprou três testes de gravidez diferentes. Voltou para casa quase correndo. 5 minutos depois, ela estava segurando três testes positivos. Grávida. Ela estava grávida do filho de Vinícius Monteiro.

 A mesma Vinícius que não acreditou nela, que deixou o pai dele a acusar de fraude, que escolheu proteger seu império ao invés de lutar por ela. Jordania abraçou os joelhos, o pânico tomando conta. O que ela faria? Como criaria um bebê sozinha, sem emprego, sem família por perto? E, mais importante, ela deveria contar para Vinícius. A resposta veio rápida e devastadora. Não.

 Se ela contasse, Fábio Monteiro usaria o bebê como arma, exigiria testes de paternidade, acusaria ela de usar gravidez para estorquir dinheiro, tornaria tudo em um circo público que destruiria não apenas ela, mas o bebê antes mesmo de nascer. E Yasm, a pequena Yasm, que a chamava de Jô, e organizava ursinhos por cor.

 Como ficaria a garotinha no meio dessa guerra? Jordania tomou a decisão mais difícil de sua vida. Ela desapareceria completamente, criaria o bebê sozinha, longe dos Monteiros, longe do caos. Mas primeiro ela precisava afastar Vinícius definitivamente, fazê-lo acreditar que ela estava desistindo, fazê-lo parar de procurar. Naquela noite, Vinícius bateu a porta dela. Jordania respirou fundo antes de abrir.

 Quando viu o rosto atormentado dele, quase desmoronou, mas se manteve firme. Jordania, eu passei dois dias investigando. Eu eu desisto. Ela o cortou. A voz fria. Vinícius parou confuso. O quê? Eu desisto, Vinícius, dessa vida, dessa guerra, de tudo. Ela forçou as palavras, cada uma doendo, como vidro cortando garganta. Eu não sou forte o suficiente para isso. Do que você está falando? Seu pai estava certo.

Ela olhou para baixo, não aguentando ver os olhos dele. Eu não pertenço a esse mundo. Eu tentei. Eu realmente tentei, mas eu não tenho o que é necessário para lutar contra sua família, contra as regras corporativas, contra tudo. Você não está falando sério. Ele entrou, fechando a porta. Você é a pessoa mais forte que eu conheço.

 Você não desiste assim. Mas eu estou desistindo. Ela finalmente o encarou, deixando a covardia fingida aparecer nos olhos. Eu tenho medo, Vinícius. Medo do que seu pai pode fazer. Medo de processos de prisão, de ter minha vida destruída. E por quê? Por um romance de dois meses. Não vale a pena. Ela viu o exato momento em que as palavras dele atingiram. A dor que atravessou o rosto dele foi devastadora.

 “Um romance de dois meses?”, Ele sussurrou incrédulo. É isso que fomos para você? Apenas um romance? Sim. A mentira quase a engasgou. Foi bom enquanto durou, mas eu não vou destruir minha vida por isso. Você está mentindo. Ele se aproximou, segurando o rosto dela. Eu vejo nos seus olhos. Você está mentindo. Jordania se afastou do toque dele. Acredita no que quiser. Mas acabou, Vinícius.

 E eu vou embora de São Paulo, voltar para a Paraíba, começar de novo longe de tudo isso. Não. Ele balançou a cabeça veemente. Não, você não vai. A gente resolve isso juntos. Eu vou encontrar provas. Vou descobrir quem te armou. Para! Ela gritou, as lágrimas finalmente escapando. Só para. Está bem? Eu não aguento mais. Eu não quero sua ajuda. Eu não quero esse vida.

 Eu só quero ir embora. O silêncio que seguiu foi mortal. Vinícius a olhou como se ela fosse uma estranha, como se acabasse de descobrir que todo o romance havia sido baseado em mentiras. Está bem. Ele finalmente disse a voz quebrada. Se é isso que você quer, eu não vou te segurar.

 Ele caminhou até a porta, mas parou com a mão na maçaneta. Jordania. Sim, eu vou te dar uma coisa, mesmo que você não queira, mesmo que tenha desistido de mim. Ele tirou um envelope do bolso e colocou na mesa. Tem dinheiro aí? suficiente para você recomeçar onde quer que vá. Não é caridade, é a voz dele falhou.

 É porque mesmo que tenha sido apenas um romance de dois meses para você, foi tudo para mim e eu não vou deixar você passar necessidade. Ele saiu antes que ela pudesse responder. A porta fechou com um clique suave. Jordania esperou até ouvir os passos dele desaparecerem no corredor. Então desmoronou. caiu de joelhos, soluçando com uma dor tão profunda que parecia física. Ela havia cortado a única corda que a mantinha conectada à felicidade.

Havia destruído o amor dele propositalmente e tudo para proteger um bebê que ele nem sabia que existia. No dia seguinte, Jordania enviou um e-mail de demissão formal, vendeu tudo que tinha, pegou o envelope que Vinícius havia deixado, tinha R$ 50.000, R. Ela chorou por uma hora inteira e foi morar com Ana Vitória em um quartinho alugado na zona oeste.

 Cortou o contato com todos, bloqueou números, desativou redes sociais, desapareceu. E, enquanto os dias viravam semanas e as semanas viravam meses, sua barriga crescia. Uma vida pequena e inocente se desenvolvendo, alheia ao caos que sua existência havia causado. Jordania falava com o bebê todas as noites. Vai ser só você e eu, pequeno. Seu pai é um homem bom, mas nós não podemos estar perto dele agora.

 Talvez um dia, talvez quando você crescer, eu te conte sobre ele, sobre como ele me salvou na véspera de Natal, sobre como ele foi meu primeiro amor, meu único amor. Ela acariciava a barriga, lágrimas escorrendo. Mas por agora você é meu segredo, meu tesouro escondido e eu vou te proteger. Custe o que custar. Três meses depois do desaparecimento, Vinícius ainda procurava, contratou investigadores, ligou para todos os contatos que ele tinha em comum com ela, verificou hospitais, abrigos, nada.

Jordania havia desaparecido como fumaça e, enquanto ele a procurava desesperadamente, sem saber que estava procurando não apenas pela mulher que amava, mas também pelo filho que ele nem sabia que tinha, Jordania dava a luz sozinha em um hospital público da zona oeste. Vittor Monteiro Silva nasceu de parto normal às 7 da manhã de um sábado chuvoso, pesando 3,2 g, chorando forte, saudável.

 Quando a enfermeira colocou o bebê nos braços dela, Jordania olhou para aquele rostinho perfeito e viu Vinícius. Os mesmos olhos dourados, a mesma linha do nariz, a mesma serenidade até dormindo. “Oi, Vittor”, ela sussurrou, beijando a testa do bebê. “Oi, meu amor. Mamãe te ama tanto, tanto.” E naquele quarto de hospital pequeno e lotado, segurando seu filho nos braços, Jordania chorou. Chorou pela felicidade que poderia ter sido.

 Chorou pelo homem que amava e que nunca saberia da existência daquele bebê perfeito. Chorou pela vida que eles nunca teriam juntos. Mas, mais forte do que a tristeza, estava a determinação. Ela protegeria Víor, daria amor suficiente por dois pais. Seria forte, porque agora ela não estava mais sozinha. Ela tinha um motivo para continuar, um pequeno milagre de olhos dourados que provava que, mesmo nas piores circunstâncias, algo belo podia surgir. Seu filho, seu Vítor.

 7 meses depois do desaparecimento, Vinícius Monteiro estava sentado em seu escritório, rodeado por relatórios que não conseguia ler. O mesmo escritório, onde havia passado a primeira noite falando com Jordania. O mesmo escritório onde haviam quase se beijado antes da secretária interromper. 7 meses, 209 dias desde que ela havia desaparecido. Ele sabia porque contava cada maldito dia.

 Senhor Monteiro. Márcia entrou com mais uma pilha de documentos. As projeções trimestrais precisam da sua assinatura. Ele assinou sem ler. Havia se tornado um autômo. Trabalho mecânico, reuniões no piloto automático, decisões tomadas sem realmente pensar. Yasmin notou. A garotinha, agora com 5 anos, perguntava constantemente pela Jô.

 Quando Jô volta, papai. Jô tá com raiva da gente? Eu fiz alguma coisa errada? Cada pergunta era uma faca no peito dele. Papai está triste porque perdeu uma amiga ele tentava explicar. Mas não foi culpa sua, princesa. Nunca foi.

 Mas como explicar para uma criança que ele havia deixado a mulher que amava ser destruída, que não lutou forte o suficiente, que acreditou em provas forjadas ao invés de acreditar nela? A culpa o corroía vivo? Enquanto isso, no apartamento de dona Sandra, a matriarca dos Monteiros estava em sua sala de chá, mas não bebia chá. Em vez disso, estudava documentos espalhados na mesa de centro. documentos que seu investigador particular havia trazido.

 Ela nunca acreditou que Jordania fosse culpada. Aquela garota tinha olhos honestos. E, mais importante, ela havia visto a forma como Vinícius olhava para ela. Seu filho estava verdadeiramente apaixonado pela primeira vez na vida. E então, Jordania simplesmente desapareceu e Vinícius morreu por dentro. Sandra não podia deixar isso assim. contratou um dos melhores investigadores de São Paulo.

 Encontre tudo, toda inconsistência, toda brecha. Alguém armou aquela garota e eu quero saber quem. Levou tempo, três meses de investigação discreta. Mas finalmente as peças se encaixaram. Dona Sandra, o investigador colocou fotos na mesa. Eduarda Ferreira, gerente sénior de auditoria, promovida suspeita e repentinamente duas semanas antes da descoberta da fraude.

 Sandra estudou as fotos. Uma mulher de 30 anos, bonita, ambiciosa. Continue, ela tem histórico de obsessão pelo seu filho. Aí meios de outros funcionários comentando sobre o comportamento dela. Flirt persistente, encontros casuais frequentes. E então Jordania aparece e ela fica com ciúmes. Sandra completou. Exatamente. Cavamos mais fundo. Encontramos isto.

 Ele colocou registros bancários na mesa, uma conta fantasma nas ilhas Cayman, criada seis semanas antes da fraude. E adivinha de quem é a conta? Múltiplos depósitos rastreiam de volta para empresas de fachada registradas no nome de parentes de Eduarda. Sandra sentiu a raiva ferver. Ela criou a conta, plantou a fraude e culpou Jordania.

 Mais do que isso, ele abriu seu laptop. Temos filmagens de segurança que foram acidentalmente apagadas dos servidores oficiais, mas eu tenho contatos. Olhe isto. A gravação mostrava claramente Eduarda entrando na estação de trabalho de Jordania às 15:2, mexendo no computador, saindo às 15:6, exatamente quando Jordania estava na Copa.

 Deus do céu! Sandra sussurrou. Essa mulher destruiu uma inocente por ciúmes. Tem mais. O aviso de execução hipotecária forjado. Verifiquei diretamente com o cartório da Paraíba. A família Silva não tem dívidas registradas. Sandra fechou os olhos, a raiva e o alívio batalhando dentro dela.

 Jordania era inocente, completamente inocente, e havia sido destruída por uma sociopata vingativa e por seu próprio marido. Fábio, ele sabia disso. Estava envolvido. Investigue meu marido também, ela ordenou a voz gelada. Eu quero saber se ele estava ciente ou se foi manipulado. Uma semana depois, o investigador voltou com mais bombas.

Fábio não criou o plano, mas ele sabia. Eduarda procurou ele três semanas antes da fraude. Ofereceu informações sobre o relacionamento do seu filho em troca de apoio interno. Ele a promoveu deliberadamente para dar-lhe acesso aos sistemas. Sandra sentiu o casamento de 30 anos rachar sob seus pés.

 Fábio não apenas permitiu que uma inocente fosse destruída, ele participou ativamente. Era hora de guerra, a reunião da vingança. Sandra marcou uma reunião de emergência. Vinícius, Fábio, os diretores e Eduarda. Quando todos estavam sentados, Sandra entrou com seu investigador e uma caixa de evidências.

 Vocês vão assistir calados”, ela anunciou, conectando o laptop ao projetor. Por 45 minutos, ela apresentou tudo. As gravações de Eduarda na mesa de Jordania, os registros bancários, o aviso de execução forjado, a conta fantasma, tudo. A sala ficou em silêncio sepulcral. Vinícius estava branco como papel, os punhos cerrados com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos. Eduarda tentou defender-se.

Isso é ridículo. Essas provas foram claramente cala a boca. Vinícius se levantou. A voz uma explosão de fúria contida. Você destruiu a vida de uma pessoa inocente. Você usou recursos da empresa para forjar provas. Você cometeu fraude real enquanto acusava outra pessoa de fraude. Eu eu posso explicar. Explicar? Ele deu a volta na mesa e dois seguranças tiveram que segurá-lo.

 Você destruiu a mulher que eu amava. Por quê? Porque ela recebeu atenção que você achava que merecia. Eduarda desmoronou, chorando. Eu te amava. Eu trabalhei anos nessa empresa, me dediquei. E então ela aparece. E em três semanas você estava olhando para ela do jeito que nunca olhou para mim. Não era justo.

 Justo, justo. Vinícius riu sem humor. Você está demitida por justa causa e vai responder criminalmente por fraude, falsificação de documentos e qualquer outra acusação que meus advogados conseguirem encontrar. Ele se virou para Fábio. E você, Vinícius? Fábio tentou. Não, você não vai falar. Você sabia. Você participou ativamente da destruição de uma inocente só para me controlar.

 Você está fora do conselho, fora da empresa, fora da minha vida. Eu sou seu pai. Você é um estranho. Vinícius disse com frieza mortal. E a partir de agora não tenho pai. Tenho apenas inimigos que por acaso compartilham meu sangue. Sandra tocou o ombro do filho. Vinícius, há algo mais importante agora.

 O quê? Encontrar Jordania. Provar para ela que você descobriu a verdade, trazê-la de volta. A esperança acendeu nos olhos dele pela primeira vez em meses. Você acha que ela vai me perdoar? Só há um jeito de descobrir. A busca intensificada. Com Eduarda exposta e Fábio neutralizado, Vinícius mobilizou todos os recursos imagináveis.

 Investigadores em cada cidade brasileira, alertas em sistemas hospitalares, checagem de CPF em todo o registro público. Meses se passaram, nada. Era como se Jordania tivesse simplesmente deixado de existir. Até que em um dia chuvoso de setembro, sete meses após o nascimento de Víor, o investigador ligou: “Senr Monteiro, eu encontrei algo.” O coração de Vinícius parou. “O quê?” “Cadastro em clínica pré-natal, zona oeste de São Paulo.

Nome: Jordania Silva. Data de última visita: Três semanas atrás. Pré-natal. A mente de Vinícius processou lentamente. Pré-natal significava me dê o endereço ele ordenou já pegando as chaves do carro. Agora o prédio era humilde, cinco andares, pintura descascando, portão de ferro enferrujado, tão diferente da mansão em Alpaville que parecia outro planeta. Vinícius estacionou o Porsche na rua estreita, recebendo olhares curiosos dos moradores.

 Ele não se importou. Sua mente estava focada em apenas uma coisa. Apartamento 304. Subiu as escadas 2 degraus de cada vez. Seu coração batia tão forte que parecia que ia explodir. 7 meses, 209 dias desde que a vira pela última vez. Quando chegou ao terceiro andar, parou em frente à porta 304.

 Podia ouvir sons vindos de dentro, uma TV ligada e então um choro de bebê. Vinícius congelou. Bebê. Havia um bebê ali dentro e Jordania havia estado em clínica pré-natal. A matemática era simples e devastadora. 7 meses desde que desapareceu, 9 meses de gestação. O bebê teria o choro continuou e então uma voz suave, musical, aquela voz que habitava seus sonhos todas as noites.

Vittor, está tudo bem? Mamãe está aqui. Vamos ficar bem, Vittor. Ela havia dado ao bebê um nome. Com mãos tremendo, Vinícius bateu na porta. O choro parou abruptamente. Passos se aproximaram. A porta se abriu uma fração e lá estava ela, Jordania, mais magra, com olheiras profundas, o cabelo preso em um coque bagunçado, vestindo uma camiseta simples manchada de leite e calça de moletom, tão diferente da jovem profissional de meses atrás.

 Mas ainda assim a mulher mais bonita que ele já vira. Quando ela ouviu, todo o sangue drenou de seu rosto. “Vinicius, como você me encontrou?”, ela perguntou o pânico evidente. Jordania, ele tentou encontrar palavras, mas elas falharam. Ela tentou fechar a porta, mas ele colocou o pé, impedindo. Por favor, só só me dá 5 minutos, por favor.

 Você precisa ir embora agora. Eu sei de tudo”, ele disse rapidamente. “Sei que foi Eduarda. Sei que ela te armou. Sei sobre a conta fantasma, sobre as provas forjadas, sobre tudo. Minha mãe descobriu. Eduarda foi demitida e vai responder criminalmente. Eu te falhei, Jordania. Eu não acreditei em você quando deveria ter acreditado.

 E me perdoa, por favor, me perdoa, mas eu Ele Ele parou porque havia notado o choro do bebê recomeçando atrás dela. Tem um bebê aí, ele disse, a voz quebrando. Jordania fechou os olhos. A mentira estava na ponta da língua. Ela podia dizer que era filho de outra pessoa, que estava apenas ajudando uma amiga que, mas ela estava cansada de mentir. Abre a porta, Jordania. Vinícius pediu suavemente: “Por favor”.

 Com um suspiro derrotado, ela abriu. O apartamento era ainda menor que o outro. Um único cômodo com uma cortina dividindo a área de dormir, móveis doados, um berço improvisado no canto e, no berço um bebê chorando. Um bebê que mesmo aos s meses já tinha cabelo escuro e olhos.

 Vinícius caminhou até o berço como hipnotizado, olhou para baixo e seu mundo inteiro parou. O bebê tinha seus olhos, seus exatos olhos dourados, a mesma linha do nariz, a mesma curva da bochecha. Jordania, ele sussurrou, as lágrimas começando a cair. Ele é meu. Ela estava chorando agora, não conseguindo mais esconder. Sim, por você não me contou? Sua voz quebrou completamente.

 Por que você me escondeu, meu filho? Porque seu pai iria usá-lo como arma. Ela gritou de volta. Porque você não acreditou em mim? Porque eu estava sendo acusada de fraude. Porque eu não tinha como provar minha inocência. Porque tudo que seu pai tocava virava guerra. E eu não ia deixar meu bebê, nosso bebê, ser usado como peça de barganha. Vinícius pegou o bebê do berço com mãos trêmulas.

 Víor parou de chorar imediatamente, olhando curioso para aquele homem estranho. “Oi, Víor.” Vinícius sussurrou. as lágrimas molhando o rosto do bebê. Oi, meu filho. Sou eu. Sou seu pai e me perdoa por não estar aqui desde o começo. Me perdoa. Me perdoa. Ele desabou no chão, segurando o bebê contra o peito, soluçando descontroladamente. Todos aqueles meses de busca, de dor, de culpa, finalmente explodindo.

 Jordania também estava chorando, sentada no chão ao lado dele. “Jordania, me olha”, ele pediu através das lágrimas. Quando ela ergueu os olhos vermelhos, ele continuou: “Eu sei que te falhei. Sei que não acreditei em você quando deveria ter acreditado sem questionar. Sei que deixei meu pai te destruir.

 Sei que não merece seu perdão. Mas por favor, por favor, não me tira, meu filho. Não me tira de novo. Eu vou compensar. Vou passar o resto da vida compensando, mas não me tira ele. Vinícius, ela tocou o rosto dele. Eu nunca ia te tirar dele, mas você precisa entender porque eu fiz o que fiz. Seu pai, meu pai está fora da minha vida para sempre.

 Ele não é mais parte do conselho, não tem mais controle sobre nada. E ele nunca, nunca vai chegar perto de você ou de Víor. Eu garanto isso. Vittor, alheio ao drama dos adultos, estava fascinado pelo rosto molhado de Vinícius. Estendeu uma mãozinha gordinha e tocou o queixo do pai. Papa. Vinícius desmoronou de novo. Sim, pequeno. Papa. Eu sou o seu papa. Eles ficaram assim por longos minutos.

Três pessoas no chão de um apartamento minúsculo na zona oeste, uma família improvável, construída sobre mentiras, traições e uma noite de Natal que mudou tudo. Finalmente, Vinícius olhou ao redor do apartamento, viu as contas atrasadas na mesa, o leite em pó quase acabando, as fraldas contadas. “Você está passando necessidade?”, não era pergunta. Estamos sobrevivendo. Ela disse com orgulho.

 Não, vocês estão sofrendo. Ele se levantou, ainda segurando Víor. Vou te dar duas opções de ordania. A primeira, eu seto transferências mensais, encontro um apartamento decente para vocês. Garanto que Víor tenha tudo que precisa e eu visito quando você permitir. E a segunda, ele a encarou intensamente. A segunda é: Você vem para casa comigo. Você, Vittor, tudo.

 A gente tenta reconstruir o que perdemos. A gente se torna a família que deveríamos ter sido desde o começo. Eu não estou pedindo que me perdoe imediatamente. Eu sei que vou ter que conquistar sua confiança de novo. Mas me dá essa chance, por favor. Me deixa ser pai para meu filho. E se você deixar, me deixa te amar do jeito que deveria ter te amado desde o início.

Jordania olhou para aquele homem segurando seu bebê. viu o desespero, o arrependimento, mas também viu o amor, amor real, profundo do tipo que ela havia sentido naquela noite de Natal, quando ele apareceu em sua porta comida italiana e palavras gentis. Você vai ter que ser muito paciente comigo. Ela finalmente disse: “Se eu estou quebrada, Vinícius, o que seu pai fez, o que eu passei, me quebrou, então a gente se conserta juntos.” Ele estendeu a mão livre. Quebrados, mas juntos.

 Ela olhou para a mão dele, depois para Víor, que sorria alegremente nos braços do pai, depois de volta para Vinícius e pegou a mão dele juntos. Ela concordou. Naquela noite, Vinícius empacotou os poucos pertences dela, pagou os últimos meses de aluguel antecipadamente. A proprietiária chorou de alívio e levou Jordania e Vittor para casa, não para a mansão de Alpaville, para um apartamento novo em Pinheiros. Três quartos.

 Bem iluminado, seguro, um recomeço limpo. Quando Yasmin conheceu Vittor, foi amor instantâneo. Ele é meu irmãozinho de verdade, posso ajudar a cuidar dele. E pela primeira vez em s meses, vendo Yasmim beijar a testa de Vittor, vendo Vinícius montar o berço com cuidado, vendo a vida que poderia ter sido finalmente se materializando, Jordania permitiu-se acreditar que talvez, apenas talvez, finais felizes fossem possíveis, mesmo para garotas do interior, que cometeram o erro de se apaixonar por seoss complicados, mesmo para histórias

que começaram com áudios enviados errados e noites de Natal. solitárias mesmo para eles. Os primeiros dias foram estranhos. Jordania havia passado meses sozinha, criando Vítor em solidão, lutando contra o mundo. Ter Vinícius de volta, ter ajuda, ter apoio, era simultaneamente um alívio e aterrorizante.

 Ela acordava no meio da noite em pânico, achando que tudo era um sonho, que acordaria de volta naquele quartinho apertado, sozinha, sem esperança. Mas não. Vinícius estava sempre lá. Se Vítor chorava às 3 da manhã, era Vinícius que levantava primeiro. Volta a dormir, eu cuido dele. Se as fraldas acabavam, Vinícius já tinha comprado quatro pacotes reserva.

 Se Jordânia tinha um dia difícil, ele chegava em casa com jantar pronto e palavras suaves. Ele não pressionava a intimidade física, não exigia que ela voltasse a ser sua namorada imediatamente. Ele respeitava o espaço dela, dava tempo para ela se curar, mas as pequenas coisas, essas ele não escondia. O jeito que ele olhava para ela quando achava que ela não percebia, o sorriso involuntário quando ela ria de algo bobo, o toque suave no ombro dela ao passar.

 E Jordania sentia, ela sentia o amor dele paciente e constante, esperando ela estar pronta. Duas semanas após o reencontro, Yasminim estava na escola. Vittor dormia. Jordania estava na sala tentando ler um livro. Quando Vinícius chegou do trabalho, ele parou na porta apenas observando. Ela estava encaracolada no sofá, à luz do sol da tarde iluminando o cabelo dela, tão linda que doía olhar.

 Você vai ficar aí só olhando ou vai sentar? Ela perguntou sem levantar os olhos do livro. Ele riu, se aproximando. Você me pegou. Você não é muito sutil. Vinícius sentou ao lado dela, mantendo uma distância respeitosa. Posso perguntar uma coisa? Pode. Você me odeia pelo que aconteceu? Jordania finalmente baixou o livro, olhando para ele. Não, eu nunca te odiei, Vinícius.

Eu fiquei magoada, sim, decepcionada que você não lutou por mim na hora, mas eu entendia. Seu pai te colocou em uma posição impossível e Yasmin estava em jogo. “Eu não te culpo por proteger sua filha, mas eu deveria ter protegido você também”, ele disse com veemência.

 Deveria ter investigado antes de deixar aquilo escalar. Deveria ter confiado em você precisar de provas. Sim. Ela concordou, honesta. Deveria. E isso machucou muito. Mas eu também te escondi um filho. Então não sou exatamente inocente nessa bagunça toda. Você escondeu ele porque tinha medo. Medo justificado. Eles ficaram em silêncio por um momento. Então Jordania fez a pergunta que a atormentava.

 E agora? O que somos? Vinícius segurou a mão dela cuidadosamente. Somos o que você quiser que sejamos. Se você só quer copaternidade sem romance, eu aceito. Se você quiser tentar de novo, devagar, no seu tempo, eu estou aqui. Se você quiser que eu apenas seja pai para Vittor e nada mais, eu entendo. Você define os termos Jordania.

 Você está no controle agora. Ela entrelaçou os dedos nos dele. Eu quero tentar. Ela admitiu baixinho. Devagar, muito devagar, porque eu ainda tenho medo. Medo de ser deixada de novo, de ser traída de novo. Mas eu eu ainda te amo, Vinícius. Mesmo depois de tudo, eu nunca parei. Os olhos dele brilharam com lágrimas não derramadas.

 Eu te amo também. Nunca parei, nem por um segundo. O beijo foi suave, tentativo. Nada como aqueles beijos desesperados de meses atrás. Era um beijo de promessa, de recomeço, de esperança. Quando se separaram, Vinícius encostou a testa na dela. Eu vou fazer valer a pena, Jordania. Vou te conquistar de novo, todo dia, se necessário. Eu vou te cobrar isso. Ela sorriu. O primeiro sorriso genuíno em meses.

 As semanas viraram meses. Vinícius realmente fez questão de conquistá-la novamente. Flores apareciam sem motivo. Bilhetes carinhosos escondidos na bolsa dela, jantares românticos em casa depois que as crianças dormiam. Ele levava a Jordania para conhecer São Paulo de verdade. Museus, parques, restaurantes, lugares que ela nunca havia tido tempo ou dinheiro para visitar.

 “Eu quero que você ame essa cidade”, ele explicou enquanto caminhavam no Ibirapuera. “Porque eu quero que você fique para sempre. Eu não pretendo ir a lugar nenhum, mas a verdadeira cura veio nas pequenas coisas, na forma como Vinícius era com Víor. Ele era um pai presente, dedicado, acordava para mamadeiras noturnas, trocava fraldas sem reclamar, passava horas no chão brincando com blocos de montar. E com Yasm, ele incluía a Jordania em cada decisão.

 Você é importante para ela. Sua opinião importa. A garotinha havia se tornado apegada à Jordania novamente. Chamava ela de mamãe Jô agora. E Jordania sentia o coração derreter cada vez. Você não se importa que ela me chame assim? Jordânia perguntou a Vinícius uma noite.

 Me importar? Jordania, eu oro para que um dia você aceite esse título oficialmente. Ela piscou confusa. O que você quer dizer? Vinícius respirou fundo. Eu sei que é cedo. Eu sei que ainda estamos nos curando, mas eu quero que você saiba. Minha intenção é casar com você. Não agora, não apressado, mas eventualmente quando você estiver pronta, quando confiar em mim completamente de novo.

 Vinícius, você não precisa responder agora. Ele tocou o rosto dela suavemente. Só quero que saiba que esse é o destino que eu vejo. Você, eu, Vittor, Yasminim. Uma família de verdade, papéis oficiais, promessas oficiais, tudo. Jordânia sentiu as lágrimas escorrerem. Lágrimas boas dessa vez. Eu quero isso também. Muito. Então é um plano. Ele a beijou docemente.

 Um plano para o futuro. Seis meses após o reencontro, Jordania recebeu uma ligação de dona Sandra. Querida, preciso falar com você. pode vir tomar chá comigo hoje à tarde. Nervosa, Jordania foi. Ela ainda não havia interagido muito com a mãe de Vinícius. havia vergonha do que tinha acontecido, mesmo sabendo que não era culpa dela.

 Dona Sandra a recebeu com um abraço apertado. Finalmente podemos conversar direito. O chá foi servido. Elas conversaram sobre amenidades por alguns minutos antes de Sandra ir direto ao ponto. Jordania, eu quero te pedir perdão em nome da família Monteiro, pelo que meu marido fez, pelo que você passou por ter que esconder uma gravidez e criar meu neto sozinha por meses. Você não merecia nada disso.

Jordania sentiu um nó na garganta. Não foi sua culpa, dona Sandra, mas eu deveria ter percebido mais cedo. Deveria ter investigado imediatamente. E não fiz. Deixei uma injustiça acontecer sob meu teto. Ela segurou as mãos de Jordânia. Mas eu quero que saiba, você sempre será bem-vinda nessa família.

 Você é a mãe do meu neto, a mulher que meu filho ama, e para mim você já é minha nora. Obrigada. Jordania sussurrou. Isso significa muito. Dona Sandra sorriu. E entre nós, quando aquele filho meu finalmente juntar coragem para te pedir em casamento, você vai aceitar, certo? Jordania riu através das lágrimas. Sim, sim, eu vou. Enquanto isso, em outro lugar da cidade, Fábio Monteiro sentou-se sozinho em seu escritório em casa, divorciado, exilado do conselho da empresa que ajudou a construir, estrangeiro na vida do filho.

 Ele havia perdido tudo por orgulho, por controle, por uma necessidade doentia de mandar na vida de Vinícius. Pegou o telefone mil vezes querendo ligar, pedir desculpas, implorar por uma chance, mas sabia que havia cruzado uma linha irreversível. havia destruído uma inocente, havia usado uma criança como arma, havia escolhido poder sobre família e agora pagava o preço, solidão absoluta.

 A única coisa que o consolava era que Yasm e Víor teriam algo que ele nunca deu a Vinícius, uma família unida, baseada em amor, não em controle, talvez de alguma forma distorcida, seu fracasso como pai e patriarca permitiria que seu filho fosse melhor. Era um consolo frio, mas era tudo que lhe restava. Dezembro chegou novamente, um ano desde aquela noite mágica e caótica que mudou tudo.

Um ano desde que Jordania enviou aquele áudio por engano. Um ano desde que Vinícius apareceu em sua porta com comida italiana e esperança. Vinícius planejava algo especial, não apenas uma celebração do Natal, mas uma celebração de recomeços, de sobrevivência, de amor que resistiu ao impossível.

 O que você está tramando? Jordania perguntou enquanto o via fazer ligações misteriosas. Nada. Ele sorriu inocentemente, apenas planejando um Natal normal. Ela não acreditava nele nem um pouco. Véspera de Natal. Vinícius tinha decorado o apartamento completamente. Árvore enorme, luzes por toda parte, música natalina suave tocando. Yasm agora com 6 anos estava estasiada e Víor, com um ano e tr meses estava fascinado com as luzes coloridas.

Linda! Ele apontava, rindo. Sim, bebê, muito linda. Jordania o abraçava, o coração transbordando. Quando a noite chegou, depois de jantar e assistir filmes natalinos com as crianças, depois de Yasm e Vítor finalmente dormirem, Vinícius pegou a mão de Jordania. Vem comigo. Eu tenho uma coisa para te mostrar. Ele a levou até a varanda do apartamento. Havia preparado tudo.

Velas, uma mesa pequena com dois lugares, uma garrafa de vinho, o mesmo vinho barato que ela tinha naquela noite de Natal. “Vinicius”, ela sussurrou emocionada. “Há exatamente um ano você estava sozinha em um apartamento minúsculo, se sentindo invisível”. Ele começou segurando as mãos dela e você gravou um áudio para sua amiga desabafando sobre solidão e vazio. E por engano, enviou para mim.

 Como eu poderia esquecer? Ela riu através das lágrimas que já começavam. Aquele áudio mudou minha vida. Ele continuou. Porque naquele momento eu percebi que você também estava quebrada, que você também se sentia invisível e que eu não podia deixar você passar o Natal sozinha. Então dirigi até seu apartamento com comida cara demais e esperança demais.

 E mudou tudo. Mudou tudo. Ele concordou. Aquela noite você me deu o maior presente que alguém já me deu. Você se entregou, confiou em mim, me viu como humano e não como se. E mesmo sem saber, você me deu outro presente. Vittor Jordania estava chorando abertamente agora. Esses últimos meses foram uma provação. Vinícius continuou. Eu te perdi, encontrei, perdi de novo e encontrei de novo.

 Foram os piores e melhores meses da minha vida. E eu aprendi uma coisa muito importante. Eu não quero viver mais um dia sem você. Oficialmente na minha vida. Ele se ajoelhou, tirando uma pequena caixa de veludo do bolso. Jordania Silva, você começou como uma funcionária júnior que batia na máquina de café.

 Se tornou a mulher que salvou um CEO solitário na véspera de Natal, se tornou a mãe do meu filho, a figura materna da minha filha e o amor da minha vida. Você é forte quando eu sou fraco. Você é luz quando tudo está escuro. Você é tudo que eu não sabia que precisava. Ele abriu a caixa, revelando um anel simples, mas lindo, um diamante solitário em ouro branco.

 Então eu te pergunto, você aceita se casar comigo? Aceita oficialmente ser parte dessa família bagunçada, mas cheia de amor? Aceita me dar a honra de passar o resto da minha vida te conquistando todos os dias?” Jordania mal conseguia ver através das lágrimas. Seu coração estava tão cheio que parecia impossível caber no peito. “Sim”, ela sussurrou.

“Depois, mais alto.” “Sim, mil vezes, sim.” Vinícius deslizou o anel no dedo dela e a puxou para um beijo profundo. Quando se separaram, ambos estavam chorando e rindo ao mesmo tempo. “Eu te amo tanto”, ele disse. “Tanto que assusta eu também.” Ela tocou o rosto dele e eu perdoo, completamente.

 Nós vamos começar de novo, sem fantasmas do passado, sem mágoas, só nós e nosso futuro. Eles ficaram na varanda até tarde, conversando, sonhando, planejando. Falaram sobre casamento simples. Jordania não queria luxo exagerado. Sobre dar irmãos para Víor. Ela ria dizendo que um bebê era suficiente por enquanto.

 sobre voltar a estudar, Vinícius já havia pago a faculdade dela como presente de noivado. Quando finalmente foram para a cama, Vinícius a puxou contra ele. Feliz Natal, futura senhora Monteiro. Feliz Natal, futuro marido. E pela primeira vez em um ano, ambos dormiram em paz completa, sem pesadelos, sem medos, apenas esperança e amor. Na manhã de Natal, Yasmin acordou primeiro correndo para o quarto dos pais.

 Mamãe Jó, papai, o Papai Noel veio. Ela parou subitamente ao ver o anel na mão de Jordania. O que é isso? Por que você tem um anel novo? Vinícius e Jordania se olharam e sorriram. Yasm, vem cá. Vinícius a puxou para a cama. Como você se sentiria se a mamãe Jô se tornasse oficialmente sua mamãe? Se ela casasse com o papai? Os olhos de Yasminim se arregalaram. Então, de repente ela gritou tão alto que Víor acordou chorando no quarto ao lado.

Vocês vão casar de verdade? Eu vou ter uma mamãe de verdade. Ela pulava na cama. Sim, princesa, de verdade. Yasmin abraçou Jordania com força. Eu te amo, mamãe Jô. Eu te amo tanto. Eu também te amo, meu amor. Jordania sussurrou, o coração derretendo. Vítor, já acordado e confuso, foi pego por Vinícius.

 Você vai ter uma mamãe e um papai oficiais também, pequenininho. Amanhã foi caótica e perfeita. Presentes abertos, café da manhã especial, risadas. Dona Sandra chegou às 11, havia sido informada do pedido e chorou de felicidade. Gabriel e Bruna vieram também trazendo boas-vindas genuínas.

 Bem-vinda à família, Gabriel disse à Jordania. E desculpa por ter duvidado de você no começo. Está perdoado. Ela sorriu. À tarde, quando todos haviam ido embora, Vinícius encontrou Jordania na varanda, olhando a cidade. O que você está pensando? Em como a vida é estranha? Ela respondeu. Há um ano eu estava sozinha, sem família, sem perspectivas, achando que ia passar o Natal mais triste da minha vida. E então eu cometi um erro bobo. Enviou um áudio para a pessoa errada.

Ele completou e esse erro se tornou a melhor coisa que já aconteceu comigo. Me deu você, me deu Vittor, me deu Yasminim, me deu uma família. Vinícius a abraçou por trás. Não foi erro, foi destino. O universo sabia que a gente precisava um do outro, então deu uma ajudazinha. Destino ou áudio errado, tanto faz. Ela virou para encará-lo. O resultado é que eu sou a mulher mais sortuda do mundo.

 Na verdade, sou eu o sortudo. Vamos aceitar que ambos somos sortudos e pronto. Ele riu, beijando-a. Trato feito. E enquanto o sol se punha em São Paulo, pintando o céu de laranja e rosa, Jordania e Vinícius ficaram abraçados, sabendo que haviam superado tempestades que destruiriam a maioria dos casais.

 Mas eles não eram a maioria, eram sobreviventes, lutadores, e, acima de tudo, eram duas almas que encontraram uma na outra quando mais precisavam. Era uma história imperfeita, mas era deles e era tudo. Os meses seguintes foram de planejamento de casamento, mas também de um último desafio inesperado. Carolina Ribeiro, a ex-mulher de Vinícius, reapareceu.

 Ela havia deixado Yasminim anos atrás, alegando que ser mãe a sufocava. Mas agora, ao descobrir que Vinícius estava noivo, que havia outra mulher assumindo seu lugar na vida de Yasmim, ela decidiu lutar pela custódia. É absurdo. Vinícius estava furioso, andando de um lado para o outro do escritório dos advogados. Ela abandonou nossa filha, não ligou em três anos e agora quer aparecer e brincar de mãe.

 O advogado suspirou. Infelizmente, senores Monteiro, ela tem direito legal de solicitar revisão de guarda. Principalmente agora que há uma nova figura materna na vida da criança. Ela pode argumentar que a garota precisa da mãe biológica. Jordania sentiu o pânico. E se perdessem, Yasmim? E se a menina fosse forçada a viver com uma mulher que não a queria realmente? Tem que haver algo que possamos fazer, ela disse.

 Ah, o advogado se inclinou. Podemos apresentar evidências de abandono, mostrar que senorita Silva tem sido figura materna constante e deixar Yasmim falar com o juiz sobre o que ela quer. O processo foi agoniante. Semanas de depoimentos e investigações, psicólogos entrevistando Yasm. A menina estava confusa, assustada.

 Ela mal lembrava da mãe biológica. Carolina tentou manipular. Levou brinquedos caros, prometeu viagens, tentou comprar o afeto da filha, mas Yasm não era boba. Na noite após a primeira visita com Carolina, ela chorou nos braços de Jordania. Ela não me conhece, mamãe Jô. Ela nem sabe que eu gosto de organizar meus ursinhos por cor.

 Ela não sabe que eu tenho medo do escuro. Ela não é minha mãe. Você é minha mãe. Jordania segurou a garotinha, o coração partido. Eu sei, meu amor. Eu sei. E vamos resolver isso, prometo. Na audiência final, o juiz pediu para falar com Yasmin em particular. A menina com apenas 6 anos entrou na sala com uma coragem impressionante.

 Minutos depois, ela saiu e o juiz tinha decidido. Dado o tempo de ausência da requerente, dado que a criança tem vínculo forte e saudável com a atual figura materna, e dado que a própria criança expressou preferência clara, a guarda permanece com o pai e visitas da mãe biológica ficam condicionadas ao desejo da criança. Caso encerrado. Carolina explodiu.

 Isso é injusto. Ela é minha filha. O juiz bateu o martelo. Ela é uma criança que merece estabilidade. Audiência encerrada. Do lado de fora do tribunal, Yasmin correu para a Jordania. A gente ganhou. Eu não vou ter que ir morar com ela? Você ganhou, meu amor. Você fica com a gente. A garotinha abraçou Jordania e Vinícius ao mesmo tempo. Eu te escolho, mamãe Jô.

Sempre vou te escolher. que naquele momento Jordania percebeu. Ela não era apenas uma figura materna, ela era mãe de duas crianças lindas e perfeitas. E essa família, construída sobre escombros e dor, era inquebravelmente forte. Seis meses após o noivado, em junho, chegou o grande dia. Jordania havia insistido em algo pequeno e íntimo. Apenas família próxima e amigos reais.

 Nada de pompa exagerada. A cerimônia foi em um jardim em Campos do Jordão. Flores silvestres, luz natural, simplicidade elegante. Yasmin era a da minha, orgulhosa em seu vestido lilás. Vittor, agora com um ano e meio, era o pagém mais desastrado do mundo, jogando pétalas para todos os lados e rindo. Dona Sandra estava na primeira fileira chorando de felicidade.

Gabriel e Bruna também. Ana Vitória, a melhor amiga que recebeu aquele áudio fatídico, era a madrinha. E quando Jordania apareceu no final do corredor, no vestido simples de renda branca, segurando um buquê de margaridas, Vinícius esqueceu como respirar. Ela estava linda, não pela maquiagem ou pelo vestido, mas pelo brilho nos olhos, a felicidade pura irradiando dela.

 A cerimônia foi emocionante. Os votos, escritos por eles mesmos, fizeram todos chorarem. Jordania, Vinícius começou, a voz embargada. Você apareceu na minha vida como um acidente, um áudio enviado errado e transformou minha existência vazia em algo cheio de significado.

 Você me ensinou que amor não é controle, é confiança. É escolher todos os dias estar ao lado de alguém. Eu prometo te escolher todos os dias. Prometo ser seu porto seguro. Prometo que você nunca mais vai se sentir invisível. Porque eu sempre vou te ver, Vinícius. Jordania limpou as lágrimas antes de continuar.

 Você me ensinou que eu mereço ser amada, que minha origem não define meu valor, que erros podem se transformar em milagres. Eu prometo te amar nos dias fáceis e nos difíceis. Prometo ser sua parceira, sua confidente, sua maior apoiadora. E prometo que vamos construir uma família tão cheia de amor que nossas crianças nunca vão duvidar do valor delas.

 Se alguém tiver objeção a essa união, fale agora ou cálic-se para sempre. O celebrante declarou: “Silêncio absoluto, apenas o vento nas árvores.” Então, pelo poder que me foi conferido, eu os declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva. O beijo foi ovacionado. Yasm gritou: “Meus pais estão casados!” E Vittor, sem entender nada, aplaudiu, porque todo mundo estava aplaudindo na festa, discursos emocionados.

 Ana Vitória contou sobre aquele áudio. Eu nunca vou esquecer de ouvir minha melhor amiga chorando naquela noite. Mas olha só onde aquele momento de desespero levou ela para os braços do homem que a ama mais que tudo. Então, gente, a lição é: às vezes enviar mensagem errada pode ser exatamente certo.

 Dona Sandra falou sobre como Jordania trouxe vida de volta aos olhos de Vinícius. Eu vi meu filho morrer por dentro após o divórcio. Ele era uma casca vazia. Até que essa moça apareceu e lembrou ele que viver significa sentir. Bem-vinda à família, minha filha.

 Gabriel contou sobre como era discrente no início, mas então eu vi a forma como ela trata Yasmim, a forma como ela enfrenta problemas e percebi Vinícius encontrou sua verdadeira parceira. Quando Vinícius pegou o microfone, o salão inteiro silenciou. Eu podia falar sobre como conheci Jordania, sobre os desafios que enfrentamos. sobre tudo o que superamos. Mas vou resumir em uma coisa só. Ela é meu milagre de Natal.

 Apareceu quando eu mais precisava, me salvou sem nem saber e hoje, oficialmente ela se tornou minha família. Jordania Monteiro. Ele brindou. Você é a melhor coisa que já aconteceu comigo. A noite foi mágica. Primeira dança emocionada, bolo lindo. Yasm e Vittor dançando desengonçados no meio da pista.

 E quando finalmente ficaram sozinhos já de madrugada, Vinícius carregou Jordania estilo noiva, atravessando a porta, fazendo-a rir. Bem-vinda ao clã Monteiro, Senhora Monteiro. Feliz em estar aqui, Sr. Monteiro. E enquanto o amanhecer chegava, marcando o início de suas vidas como marido e mulher, ambos sabiam. haviam sobrevivido ao impossível, haviam transformado tragédia em triunfo, haviam construído algo real e sólido sobre as ruínas de dor e traição, e agora, finalmente, podiam começar a escrever o capítulo mais importante de todos, o resto de suas vidas, juntos, dezembro, novamente, 3 anos desde aquela noite

fatídica. A mansão em Alphaville, eles haviam se mudado para algo maior quando Jordania engravidou do terceiro filho, estava decorada magnificamente. Yasm, agora com 8 anos, havia insistido em ajudar em cada detalhe. Vittor, com 3 anos e meio, corria pela casa gritando Natal, Natal, sem realmente entender porquê, mas feliz mesmo assim.

 E no sofá da sala, Jordania, agora com 25 anos, segurava a barriga de sete meses de gravidez. Uma menina dessa vez. Eles já haviam decidido. Helena. Vinícius entrou na sala carregando uma bandeja com chocolate quente e marshmallows. Médico disse para você descansar, senhora grávida insistente. Médico não é meu chefe. Ela pegou a caneca com um sorriso. Além disso, estou só sentada.

Ele se sentou ao lado dela, colocando a mão na barriga. Helena chutou imediatamente. “Essa aqui vai ser braba”, ele previu. Igual à mãe. Yasmin apareceu pulando no sofá entre eles. Mamãe Jô, podemos fazer biscoitos depois? Claro, meu amor. Podemos fazer aqueles com formato de boneco de neve que você adora. Yasm se aconchegou contra a Jordania.

 Esse era o momento favorito dela do dia. A família toda junta, sem pressas, apenas sendo mãe? Yasmin perguntou de repente. Sim, querida. Você era triste antes de conhecer papai. A pergunta pegou Jordania desprevenida. Vinícius também parou, querendo ouvir. Jordania pensou cuidadosamente na resposta. Eu não era triste, Yasm.

 Eu era solitária, é diferente. Eu tinha sonhos e metas, mas não tinha com quem compartilhar. Não tinha família por perto. E então, em uma noite de Natal, eu fiz algo muito bobo. O quê? Enviei uma mensagem para a pessoa errada.

 Jordania olhou para Vinícius, que sorria, e essa pessoa apareceu na minha porta com comida italiana e mudou minha vida inteira. Papai sempre diz que vocês se conheceram no Natal. Sim. E sabe por o Natal é tão especial para nós? Porque foi quando percebemos que mesmo nos momentos mais solitários, o amor pode aparecer de onde menos esperamos. Víor apareceu correndo, subindo no colo do pai. Papa, história, qual história, campeão? Natal. Vinícius riu. De novo. Já contei três vezes hoje.

Mais. E então Vinícius recontou a história de como conheceu a mãe deles, a história do áudio errado, da véspera de Natal, de como o amor deles superou tudo. Yasm já conhecia a história de cor. Víor fingia entender, mas ambos amavam ouvir, porque era a história deles, a história de como a família deles nasceu.

 Mais tarde, após as crianças dormirem, Jordania e Vinícius estavam na cama. Ela aninhada contra ele como sempre. “Você é feliz?” Ele perguntou de repente. Imensamente. Ela ergueu o rosto. Por que a pergunta? Porque às vezes eu olho para nossa vida e parece surreal tudo que passamos, tudo que superamos e agora estamos aqui casados, três filhos e uma a caminho. Uma família de verdade. Parece sonho.

 É real. Ela tocou o rosto dele. Muito real. E sabe o que é mais impressionante? Depois de tudo, a armação, a separação, o medo, a dor. Nós escolhemos ficar, escolhemos lutar, escolhemos acreditar que amor pode conquistar tudo. E conquistou e conquistou. Ela concordou. Vinícius a puxou para um beijo longo e apaixonado.

 Quando se separaram, ele murmurou: “Obrigado por aquele áudio errado, Jordania riu. Obrigado por ter aparecido na minha porta. Eu sempre vou aparecer. Não importa onde você estiver, não importa que desafios apareçam, eu sempre vou te encontrar. Eu sei”, ela sussurrou. “E eu sempre vou te esperar”. No dia de Natal, a casa estava caótica. Yasmin gritava de alegria com os presentes. Vittor jogava papel de embrulho para todo lado.

 Dona Sandra estava lá, acompanhada de Gabriel, Bruna e seus três filhos. Ana Vitória tinha vindo de avião só para passar o dia com eles. A mesa estava farta, risadas ecoavam, música tocava, amor preenchia cada canto. E em um momento de relativa calma, Jordania saiu para a varanda apenas para respirar e absorver tudo.

 Vinícius a encontrou lá, fugindo do caos, apenas apreciando. Ela se aconchegou contra ele. Três anos atrás, eu estava sozinha em um apartamento minúsculo, chorando, porque achava que ninguém me via. E agora? Agora olha onde estou. Casa linda, família linda, amor verdadeiro. É quase impossível de acreditar. Acredita. Ele beijou o topo da cabeça dela.

 Você merece cada segundo dessa felicidade. Nós merecemos. Sim. Ele concordou. Nós merecemos. Eles ficaram assim, olhando o jardim, ouvindo as risadas vindas de dentro da casa. Uma família imperfeita, construída sobre segundas chances e amor, que se recusou a morrer. “Vinicius?” Jordania chamou suavemente. “Sim, amor.

 Se você pudesse voltar no tempo, mudar algo na nossa história, você mudaria?” Ele pensou por um longo momento sobre a dor, sobre a separação, sobre os meses sozinho, procurando desesperadamente por ela, sobre quase perder tudo. Não. Ele finalmente respondeu: “Não mudaria nada, porque cada desafio, cada dor, cada lágrima nos trouxe aqui. E aqui é exatamente onde quero estar. Eu também não mudaria nada.” Ela concordou.

 Até o sofrimento valeu a pena para chegar aqui. E enquanto o sol se punha em mais um Natal, pintando o céu de cores impossíveis, Jordania e Vinícius Monteiro permaneceram abraçados. Eles haviam começado com um áudio errado em uma noite de desespero. Haviam construído um império sobre escombros e segundas chances. Haviam provado que amor verdadeiro não é perfeito. É resiliente. Não é fácil.

 é lutado, não é mágica, é escolha diária. E, acima de tudo, haviam aprendido a lição mais importante. Às vezes, as melhores coisas da vida vem dos erros mais improváveis. Às vezes, estar quebrado é necessário para ser reconstruído mais forte.

 E às vezes um simples áudio enviado para a pessoa errada pode ser exatamente o início certo. O romance que começou com uma mensagem desesperada na noite mais solitária do ano, que se consumou em uma entrega virginal de confiança absoluta, que sobreviveu a traições, separações e dor inimaginável, havia se transformado em uma família inquebrantável, um amor inabalável e um futuro promissor.

 que no final não importa como a história começa, importa que ela seja escrita com amor verdadeiro até o fim.