Você já se imaginou entrando em um elevador para a entrevista da sua vida e acordar nos braços do homem mais poderoso da empresa? Essa é a história inacreditável de Sofia, uma jovem da periferia de São Paulo que lutava para sobreviver até que o destino a colocou no caminho de Mateus, um se milionário que mudaria sua vida para sempre.
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Ela se levantou devagar, tomando cuidado para não acordar Gabriel, seu irmão de 16 anos, que dormia no sofá da sala. O rapaz havia crescido muito nos últimos meses e suas pernas já não cabiam mais no móvel surrado que herdaram da avó. No banheiro minúsculo, Sofia olhou seu reflexo no espelho rachado, 24 anos, cabelos castanhos ondulados que insistia em manter sempre presos. Olhos verdes que já haviam chorado demais nos últimos três anos.
Desde que perderam os pais naquele acidente na Marginal Tietê, ela se tornara mãe, pai, irmã e provedora. O peso dessas responsabilidades marcava seu rosto jovem com uma maturidade precoce. “Você consegue, Sofia”, murmurou para si mesma, aplicando o batom vermelho que guardava para ocasiões especiais.
“Esta é a sua chance, aerosul. Aviação, uma das maiores empresas de aviação do país, com sede na Vila Olímpia. A vaga de assistente administrativa não pagava uma fortuna, mas seria suficiente para tirar as contas do vermelho e garantir que Gabriel continuasse estudando. Na cozinha preparou um café fraco, era o que restava no pote, e comeu uma fatia de pão com margarina.
Gabriel apareceu na porta, esfregando os olhos. “Hoje é o grande dia?”, perguntou, a voz ainda rouca de sono. Sofia forçou um sorriso. É, torça por mim. Sempre torço. Gabriel se aproximou e a abraçou. Ele já era mais alto que ela e Sofia sentiu uma apontada no coração ao perceber como seu irmão crescera rápido demais. Você vai arrasar, mana. Eu sei.
Às 7 horas, Sofia estava na estação Cidade Tiradentes do Trem, usando seu único terno, uma peça azul marinho que comprara em uma liquidação dois anos antes. As mãos tremiam enquanto segurava a pasta com seus documentos e currículo. A viagem até a Vila Olímpia levou quase 2 horas. Sofia observava a cidade mudar gradualmente pela janela.
as casas simples da periferia, dando lugar aos prédios envidraçados do centro financeiro. Dois mundos completamente diferentes, separados por alguns quilômetros e uma distância social aparentemente intransponível. Quando desceu na estação, a imponência dos edifícios a intimidou. Arranha céus reluzentes refletiam o sol matinal e executivos bem vestidos caminhavam apressados pelas calçadas largas.
Sofia se sentiu como uma formiga perdida em uma floresta de gigantes. O prédio da Aero aviação era uma torre de vidro e aço de 30 andares. No ral de entrada, o mármore polido refletia a luz de enormes lustres de cristal. Sofia respirou fundo, ajeitou a postura e se dirigiu à recepção. “Bom dia.
Tenho entrevista marcada para as 10 horas com a recursos humanos”, disse tentando soar confiante. A recepcionista, uma mulher loira perfeitamente maquiada, a examinou de cima a baixo antes de responder. Nome: Sofia Silva. 22º andar. Elevador à direita. Sofia agradeceu e caminhou em direção aos elevadores, sentindo os olhos da recepcionista ainda sobre ela.
Suas mãos estavam suadas e o coração batia tão forte que tinha certeza de que todos podiam ouvi-lo. Entrou no elevador junto com outras pessoas. Um homem de terno impecável verificava e-mails no celular. Uma mulher de salto alto falava ao telefone sobre contratos milionários. Sofia se encostou na parede dos fundos.
tentando se fazer invisível. O elevador subia rapidamente, parando em vários andares. A cada parada, Sofia sentia suas pernas mais fracas. Havia saído de casa sem tomar café direito, nervosa demais para comer. 10º andar. 15º 20º. De repente, a tontura veio como uma onda.
As vozes ao seu redor se tornaram distantes. O mundo começou a girar. Sofia tentou se apoiar na parede, mas foi tarde demais. Tudo escureceu. A última coisa que lembrou foi de sentir braços fortes a amparando antes de desmaiar completamente, enquanto uma voz masculina grave gritava: “Alguém chame a emergência”. Quando Sofia abriu os olhos, estava deitada em um sofá de couro preto em uma sala elegante.
Seus sentidos retornaram gradualmente. O cheiro de café gourmet no ar, o som suave de música clássica, a sensação de uma manta macia sobre seus ombros. “Calma, não se levante ainda”, disse uma voz masculina suave. Sofia virou a cabeça e viu um homem ajoelhado ao lado do sofá, cerca de 30 e poucos anos, cabelos escuros, bem cortados, olhos castanhos, que transmitiam preocupação genuína. Usava um terno que custava mais que o aluguel de sua casa por seis meses.
“Eu, onde estou?”, murmurou, tentando se sentar no meu escritório. Você desmaiou no elevador. Ele se levantou e caminhou até uma mesa, voltando com um copo de água. Beba devagar. Sofia aceitou o copo, notando como suas mãos ainda tremiam. A sala era impressionante.
Enormes janelas com vista para o rio Pinheiros, estantes repletas de livros, quadros caros nas paredes. Uma mesa de Mógno ocupava o centro, coberta de papéis e dois monitores. Sinto muito, eu não. Isso nunca aconteceu antes. Mentiu com vergonha. O homem sentou-se na poltrona ao lado. Quando foi a última vez que você comeu alguma coisa? A pergunta apegou de surpresa pela intimidade. Eu tomei café da manhã. Mentira. O sorriso dele era gentil, mas perspicaz.
Seus sintomas são clássicos de hipoglicemia, baixo açúcar no sangue por falta de alimentação. Sofia baixou os olhos constrangida. Como explicar que não tinha dinheiro para uma refeição decente sem soar como uma pedinte? Você veio para a entrevista na Recursos Humanos, certo? Continuou ele consultando um tablet. Sofia Silva, 24 anos, formada em administração pela Unique Sul.
Como você sabe? Porque eu sou Mateus Santos, CEO da Aerossul e tenho acesso a todos os processos seletivos. Ele se inclinou para a frente, estudando-a com interesse. Conte-me sobre você. Sofia sentiu o mundo girar novamente, mas desta vez não era pela fome. Estava na presença do CEO. O homem mais poderoso da empresa. Eu, Senr.
Santos, sinto muito pelo inconveniente. Posso remarcar a entrevista? Eu a entrevista está acontecendo agora. Mateus cruzou as pernas, acomodando-se melhor. Por que quer trabalhar na Aeroul? A pergunta direta a desarmou. Sofia havia ensaiado uma resposta polida e profissional, mas algo nos olhos dele a fez querer ser honesta. Porque preciso.
Tenho um irmão de 16 anos para criar sozinha. Nossos pais morreram há três anos e desde então eu trabalho em qualquer coisa que apareça para manter nossa casa. Esta vaga representa estabilidade, a chance de Gabriel continuar estudando e sonhar com uma faculdade. Mateus assentiu, fazendo anotações mentais. E por que deveria contratá-la? Porque ninguém vai trabalhar mais duro que eu. Porque não tenho o luxo de ser medíocre.
Tenho uma família dependendo de mim. E por ela hesitou. então decidiu ir até o fim. Porque alguém que desmaia em um elevador por não ter dinheiro para almoçar, mas ainda assim aparece para a entrevista, é alguém que não desiste facilmente. O silêncio que se seguiu foi tenso. Mateus a observava como se tentasse decifrar um enigma.
Sofia preparou-se para ouvir uma recusa educada. Você está contratada. O quê? Sofia quase derrubou o copo d’água. Seu salário será de R$ 4.000 mensais, mais benefícios. Começará na segunda-feira como minha assistente pessoal. Mateus se levantou, caminhando até a janela. Minha última assistente não durou um mês.
Espero que você seja diferente. Sofia ficou em pé, ainda incrédula. Eu não entendo. Não fiz prova, não. Às vezes as melhores contratações não seguem protocolos. Ele se virou para ela e Sofia notou um brilho diferente em seus olhos. Além do mais, qualquer pessoa capaz de impressionar um CEO enquanto está desmaiada deve ter algum talento especial. Eu não entendo.
Quando você desmaiou, disse algumas coisas. Comentários sobre otimização de rotas, redução de custos operacionais, ideias que nossos consultores levaram meses para desenvolver. De onde tirou isso? Sofia corou. Eu li sobre a empresa, estudei suas operações. Sempre me interessei por aviação. Interessante.
Mateus voltou para a mesa e rabiscou algo em um papel. Aqui está o endereço do RH. Peça para falar com Sandra. Ela cuidará de toda a papelada. E Sofia? Sim. Não se esqueça de almoçar. Não posso ter minha assistente desmaiando no primeiro dia de trabalho. Quando Sofia saiu do escritório com o papel na mão, ainda não conseguia acreditar no que havia acontecido.
No elevador, olhou seu reflexo no espelho polido e viu uma mulher diferente. Pela primeira vez em três anos, havia esperança em seus olhos. Mas enquanto descia, uma pergunta martelava sua mente. Por que um CEO milionário se interessaria por uma desconhecida da periferia? A resposta viria mais cedo do que imaginava. Segunda-feira, 7 da manhã.
Sofia estava na frente do espelho do banheiro, tentando domar os cabelos rebeldes que insistiam em escapar do coque que fizera. havia conseguido um empréstimo pequeno com a vizinha para comprar uma blusa branca nova e uma saia preta, mais adequadas para trabalhar em um escritório.
Gabriel apareceu na porta, já uniformizado para a escola, nervosa, aterrorizada, admitiu Sofia, aplicando rímel com mãos trêmulas. Lembra quando você me ajudou na primeira apresentação na escola? Você disse que o medo era normal, mas que não podia me paralisar. Sofia sorriu. Seu irmão sempre soube encontrar as palavras certas. Obrigada, Gabi. Cuide-se hoje. Sim, sempre me cuido. Você que precisa brilhar no trabalho novo.
Às 8:15, Sofia estava no 29º andar da Aeroçul, parada em frente à sala do CEO. A secretária anterior havia deixado uma pasta com instruções básicas. Agenda do Senhor Santos. Procedimentos. Contatos importantes. Mateus chegou às 8:30, carregando uma xícara de café e uma expressão concentrada enquanto falava ao celular. Acenou para Sofia e gesticulou para que o seguisse até o escritório.
“Não aceito atrasos na entrega das turbinas. Temos uma reputação a manter”, dizia ao telefone. Terminou a ligação e se virou para Sofia. “Bom dia. Dormiu bem?” “Sim, obrigada. Bom dia, senhor Santos. Mateus. Formalidades excessivas atrasam o trabalho. Ele se sentou atrás da mesa, observando-a. Leu os procedimentos? Li tudo duas vezes. Ótimo. Primeira tarefa.
Preciso que reorganize minha agenda da próxima semana. Tenho reunião com investidores japoneses na quinta-feira e eles são extremamente pontuais. Qualquer atraso seria um desastre. Sofia pegou o tablet que ele ofereceu, estudando a agenda.
Vejo que você tem almoço marcado às 12 e a reunião às 14 horas no mesmo dia. Se o almoço se estender, pode haver conflito. Exato. Como resolveria isso? Sofia pensou rapidamente. Poderia marcar o almoço para 11:30 ou mudar a reunião para quarta-feira às 15 horas. Vi que você tem uma janela livre nesse horário. Mateus sorriu impressionado. Duas soluções práticas.
Vá com a segunda opção. Ele se recostou na cadeira. Agora me conte como uma jovem da cidade Tiradentes sabe tanto sobre gestão de tempo corporativo. Quando você não tem tempo nem dinheiro para erros, aprende a ser eficiente rapidamente. Toque. Mateus se levantou. Quer conhecer a empresa? Os próximos 40 minutos foram uma revelação.
Mateus mostrou cada departamento com orgulho evidente. A central de operações com enormes telas exibindo rotas aéreas em tempo real, o setor de engenharia, onde técnicos analisavam projetos de aeronaves, o departamento comercial fechando contratos milionários. Aerossul começou como um sonho do meu pai há 30 anos explicou Mateus enquanto caminhavam. Ele queria conectar o Brasil ao mundo. Hoje operamos em 15 países.
E agora você lidera tudo isso, observou Sofia. Às vezes me pergunto se estou à altura. A confissão surpreendeu Sofia pela vulnerabilidade. Meu pai era um visionário. Eu sou apenas um bom administrador tentando manter o legado vivo. Sofia parou de caminhar. Posso falar francamente? Mateus assentiu. Um bom administrador não contrata alguém.
baseado em uma conversa de 5 minutos. Um bom administrador não mostra pessoalmente cada departamento para uma assistente nova. Você não é apenas um administrador. Você se importa genuinamente com as pessoas e com a empresa. Isso é liderança. O sorriso que se formou no rosto de Mateus foi diferente de todos os anteriores. Mais caloroso, mais real. Obrigado, Sofia.
Há quanto tempo ninguém me dizia algo assim. Eles voltaram ao escritório em um silêncio confortável. Sofia organizou a mesa, respondeu e-mails, atendeu ligações. Cada tarefa era executada com precisão e Mateus não pôde deixar de notar sua eficiência natural. “Sofia!” Ele chamou por volta das 11 horas.
“Café? Claro, como o senhor, como você gosta?” Forte, sem açúcar. Sofia saiu e voltou rapidamente com uma xícara fumegante. Mateus experimentou e arqueou uma sobrancelha. Este não é o café da máquina, Sofia corou. Trouxe de casa. Café brasileiro de verdade. Pensei que talvez é o melhor café que tomei em anos. Mateus se recostou na cadeira, estudando-a com interesse renovado.
Você é cheia de surpresas, não é? Antes que Sofia pudesse responder, a porta se abriu bruscamente. Uma mulher alta, loira, vestindo um tailer caríssimo, entrou sem bater. Mateus, querido, precisamos conversar sobre A mulher parou ao ver Sofia. Quem é essa? Paloma. Esta é Sofia, minha nova assistente. Sofia. Paloma Ribeiro, nossa diretora de marketing. Paloma examinou Sofia de cima a baixo, com olhos gelados. Ah, sim.
Ouvi comentários. A menina que desmaiou no elevador. O tom desdenhoso fez Sofia se enrijecer, mas ela manteve a compostura. Prazer em conhecê-la. Claro. Paloma se virou para Mateus, ignorando Sofia completamente. Precisamos discutir a campanha para os voos internacionais. Meu escritório agora, na verdade, pode falar aqui.
Sofia precisa estar ciente dos projetos principais. O olhar que Paloma lançou para Sofia foi venenoso, como preferir. Durante os 20 minutos seguintes, Sofia observou a dinâmica entre eles. Paloma era claramente interessada em Mateus, além do âmbito profissional. Tocava seu braço desnecessariamente, inclinava-se mais próximo que o necessário, fazia comentários pessoais.
Mateus, por sua vez, mantinha distância profissional, mas tratava Paloma com cordialidade, que não demonstrara com outros funcionários. Quando Paloma saiu, Sofia sentiu um nó estranho no estômago. Não tinha direito de se sentir assim.
Mal conhecia Mateus, mas havia algo na forma como Paloma o olhava, que a incomodou profundamente. Sofia. Mateus chamou sua atenção. Algum problema? Não, nenhum. Posso perguntar há quanto tempo vocês trabalham juntos? 5 anos. Paloma é competente no que faz. Ele fez uma pausa. Por quê? Curiosidade profissional. É importante conhecer a dinâmica da equipe.
Mateus a estudou por um momento, como se soubesse que havia mais por trás da pergunta. Sofia. Sim. Obrigado pelo café e pelo que disse mais cedo, significou muito. Quando chegou em casa naquela noite, Sofia encontrou Gabriel fazendo lição na mesa da cozinha. Ele ergueu os olhos expectante. E então, como foi? Sofia se jogou no sofá, exausta, mas sorridente. Foi interessante. Só interessante, Gabi? Ela se virou para o irmão.
Acho que nossa vida está prestes a mudar. Mas nem Sofia, nem Gabriel podiam imaginar o quanto essa mudança seria mais complexa e dramática do que qualquer um deles ousaria sonhar. Três semanas se passaram como um turbilhão. Sofia havia se adaptado à rotina da Aerossul com uma facilidade que surpreendia até mesmo Mateus.
Seus dias começavam às 7 da manhã com a revisão da agenda dele e terminavam frequentemente às 7 da noite, quando finalizava relatórios e organizava documentos para o dia seguinte. O que mais a impressionava era como Mateus parecia valorizar suas opiniões. Durante reuniões, ele frequentemente perguntava sua perspectiva e Sofia descobriu que suas observações eram bem recebidas pelos diretores.
“Sofia tem razão sobre a rota São Paulo Bogotá”, disse Mateus durante uma reunião na quinta-feira. A análise dela sobre os horários de pico pode aumentar nossa ocupação em 20%. Sofia sentiu o peito se aquecer com o elogio, mas notou os olhares trocados entre alguns executivos, especialmente de Paloma, cuja expressão gelada transmitia claramente sua desaprovação. Após a reunião, Sofia estava organizando os documentos quando Fernando Oliveira, o vice-presidente, se aproximou.
Um homem de 50 anos, sempre impecavelmente vestido, mas com um sorriso que nunca alcançava os olhos. Impressionante apresentação hoje”, disse ele. O tom aparentemente amigável. “Para alguém tão nova na empresa. Obrigada, senora Oliveira. Procuro sempre me preparar bem. Claro, e deve ser gratificante ter um chefe que valoriza tanto suas contribuições.” O subentido era claro.
Sofia manteve a expressão neutra. Sr. Santos é um excelente profissional. Valoriza a competência independentemente de quem venha. Naturalmente. Fernando se inclinou ligeiramente para a frente. Só espero que você mantenha sempre a profissionalismo adequado.
Comentários maliciosos são inevitáveis em ambientes corporativos, especialmente quando certas pessoas recebem atenção especial muito rapidamente. A ameaça velada fez Sofia endurecer. Meu trabalho fala por si, Sr. Oliveira. Tenho certeza de que pessoas maduras conseguem separar competência de fofocas. Fernando sorriu, mas seus olhos permaneceram frios.
Claro, apenas um conselho amigável de alguém com mais experiência. Naquela tarde, Sofia preparou café, como sempre fazia. Havia se tornado um ritual. Ela trazia café brasileiro de casa, forte e aromático, muito diferente do café aguado da máquina da empresa. Mateus sempre comentava como aqueles 15 minutos com café eram os mais relaxantes de seu dia.
“Você está quieta hoje”, observou Mateus, aceitando a xícara fumegante. “Algum problema?” Sofia hesitou. Não queria criar conflitos, mas a conversa com Fernando a havia incomodado. “Posso fazer uma pergunta pessoal?” Claro, por me contratou de verdade? Mateus pousou a xícara estudando-a. Resposta honesta. Sofia assentiu. Porque quando você desmaiou naquele elevador, não estava apenas ali por desespero.
Você havia estudado nossa empresa, nossas rotas, nossas operações. Mesmo em estado de semiconsciência, suas observações eram mais precisas que análises de consultores, que pagamos milhares de reais por mês. Ele se recostou na cadeira, mas principalmente porque vi determinação. Você não estava pedindo favor, estava oferecendo valor.
E não tem nada a ver com pena. Pena? Mateus riu. Sofia, você reorganizou três anos de arquivos em duas semanas. Otimizou minha agenda de forma que ganho duas horas produtivas por dia e suas sugestões sobre rotas já geraram economia de meio milhão de reais este mês. Se isso é resultado de pena, preciso sentir pena de mais funcionários. Sofia sorriu, sentindo-se mais leve. Obrigada pela honestidade.
Sempre serei honesto com você”, disse Mateus. E havia algo em sua voz que fez Sofia olhá-lo mais atentamente. Na sexta-feira, Sofia chegou no escritório e encontrou uma pequena caixa em sua mesa. Dentro havia seis brigadeiros artesanais, cada um perfeitamente moldado e coberto de granulado belga. “De onde vieram?”, perguntou a Sandra, a secretária do RH, que se tornara sua amiga. Não faço ideia. Chegou com um bilhete. Sofia abriu o papel.
Obrigado pelo café brasileiro. Aqui está algo doce brasileiro em troca. M O coração de Sofia acelerou. Mateus havia feito brigadeiros para ela. A ideia de um CEO milionário em uma cozinha fazendo doces era tão incongruente que quase rio alto. Durante a manhã, ela não conseguiu se concentrar completamente.
Cada vez que olhava para Mateus, imagina suas mãos fazendo os pequenos doces. A imagem era estranhamente íntima. “Gostou dos brigadeiros?”, perguntou ele casualmente por volta do meio-dia. “Foram você que fez? Minha avó me ensinou quando criança. É uma das poucas coisas que sei fazer na cozinha. Mateus sorriu e Sofia notou como seus olhos brilhavam quando ele sorria de verdade.
Pensei que merecesse algo doce depois de todo o trabalho duro. Eles estavam perfeitos. Obrigada. De nada. E Sofia. Sim. Se alguém fizer comentários inadequados sobre nossa parceria de trabalho, quero que me conte imediatamente. A especificidade da observação surpreendeu Sofia. Aconteceu alguma coisa? Apenas quero que se sinta confortável aqui. Esta empresa deve ser um ambiente seguro para todos.
Naquela tarde, Sofia estava no elevador quando Paloma entrou no último segundo antes das portas se fecharem. ficaram sozinhas. Então disse Paloma, sem preâmbulos. Como está se adaptando? Muito bem, obrigada. É, eu percebi. Mateus parece muito atento às suas necessidades. Sofia manteve os olhos fixos nos números que mudavam no display. Ele é um ótimo chefe.
Claro que é. Mateus sempre foi generoso com pessoas que precisam de ajuda. O tom de Paloma era cuidadosamente neutro. Mas a implicação era clara. Com licença, nada demais, apenas observando que ele tem um coração mole para casos de caridade. Sofia se virou, finalmente encarando Paloma.
Se você tem algo específico para dizer, diga claramente. Estou apenas sendo amigável. Mateus é um homem generoso, mas também é herdeiro de um império. Pessoas como nós, Paloma fez uma pausa significativa. Precisamos entender nosso lugar. As portas se abriram no 15º andar, o andar de Paloma. Antes de sair, ela se virou uma última vez. Só um conselho.
Cuidado para não confundir gentileza profissional com interesse pessoal. Pode ser constrangedor para todos os envolvidos. Quando Sofia chegou em casa naquela noite, Gabriel imediatamente percebeu seu humor. Dia ruim? Dia confuso. Sofia se jogou no sofá. Gabi, você já sentiu que estava em um lugar onde não deveria estar? Todos os dias na escola. Gabriel riu.
Mas aí lembro que tenho tanto direito de estar lá quanto qualquer um. Por quê? Sofia olhou para seu irmão, tão jovem, mas às vezes tão sábio. Às vezes sinto que as pessoas pensam que não mereço estar nessa empresa. E você acha que merece? Eu trabalho duro, faço meu serviço bem feito, contribuo com ideias boas. Então você merece. Gabriel se sentou ao lado dela.
Mana, você criou um milagre quando nossos pais morreram. Você me manteve na escola, na nossa casa. Me deu amor e estabilidade quando tudo desabou. Se você conseguiu isso, consegue qualquer coisa. Na segunda-feira seguinte, Sofia chegou no escritório, determinada a não se deixar intimidar por comentários ou insinuações.
Preparou o café de Mateus, como sempre, mas desta vez levou também um dos brigadeiros que ele havia feito para ela na sexta-feira. “Guardei um para acompanhar o café”, disse colocando o doce no piris. Mateus sorriu, aquele sorriso que fazia seu estômago dar voltas. Pensando bem, podíamos fazer disso uma tradição.
Café brasileiro com brigadeiro caseiro. Seria uma tradição perigosa, posso viciar. E seria tão ruim assim? Os olhos de Mateus encontraram-os dela. E, por um momento, Sofia esqueceu completamente onde estava. O interfone tocou, quebrando o momento. Senhor Santos, sua mãe está aqui. Sofia viu a expressão de Mateus mudar instantaneamente.
Minha mãe, uma mulher elegante entrou no escritório sem esperar permissão, cerca de 60 anos, cabelos grisalhos perfeitamente arrumados, usando um conjunto que custava mais que o salário anual de Sofia. Carmen Santos era a definição de alta sociedade paulistana. Mateus, querido, precisamos conversar. Ela parou ao ver Sofia.
E quem seria esta? Mãe, esta é Sofia Silva, minha assistente. Sofia, minha mãe. Carmen Santos. Carmen examinou Sofia como se estivesse avaliando um objeto em um leilão. Prazer, Mateus. Podemos falar em particular? Sofia se levantou imediatamente. Vou buscar alguns documentos no arquivo. Não precisa sair, disse Mateus firmemente. Minha mãe pode falar na frente de você.
Carmen arqueou uma sobrancelha. Muito bem, Mateus. O jantar beneficente do próximo sábado. A família Ribeiro confirmou presença. Paloma estará lá. Mãe, ela é uma moça adorável, família tradicional, educação impecável. Seria uma ótima companhia. Sofia fingiu estudar papéis, mas não pôde deixar de notar a tensão que se instalou na sala.
Não estou interessado em companhia arranjada. Querido, você tem 37 anos. É hora de pensar seriamente em casamento, em dar continuidade ao nome da família. Quando eu quiser me casar, será com alguém que eu escolher. Carmen suspirou dramaticamente. Espero que escolha sabiamente. A posição social tem sua importância. Quando Carmen saiu, o escritório ficou em silêncio.
Sofia podia sentir a tensão emanando de Mateus. “Sinto muito que tenha ouvido isso”, disse ele finalmente. “Sua mãe se preocupa com você. Minha mãe se preocupa com o status social.” Mateus passou a mão pelos cabelos. “Sofia, posso perguntar uma coisa?” “Claro, se você pudesse escolher qualquer vida, qualquer caminho, o que escolheria?” A pergunta apegou de surpresa.
Nunca pensei nisso. Sempre vivi reagindo às circunstâncias, sabe? Desde que meus pais morreram, minha vida tem sido sobrevivência. Mas se pudesse sonhar livremente? Sofia pensou por um momento. Acho que gostaria de uma vida onde pudesse cuidar das pessoas que amo sem me preocupar se há dinheiro para o aluguel no final do mês.
Uma vida onde pudesse tomar decisões baseadas no que é certo, não no que é necessário. Mateus a sentiu lentamente. É um sonho bonito e realizável, talvez. Mas sonhos não pagam contas. Às vezes pagam. Mateus se levantou e caminhou até a janela. Sofia, você já pensou que talvez sua vida esteja mudando de formas que você ainda não percebeu? Antes que Sofia pudesse responder, o telefone tocou.
Era uma emergência. Problemas técnicos com um voo para Miami, passageiros retidos no aeroporto, imprensa querendo declarações. O momento se perdeu na correria do dia, mas as palavras de Mateus ecoaram na mente de Sofia pelo resto da tarde. Naquela noite, enquanto ajudava Gabriel com a lição de matemática, ela se pegou pensando no que Mateus havia perguntado.
Será que sua vida realmente estava mudando de formas que ela não percebia? A resposta viria em breve, de uma forma que ela jamais imaginaria. A ligação chegou numa quarta-feira, às 2as da tarde. Sofia estava revisando contratos quando seu celular tocou com o número da escola de Gabriel. Alô, Sofia Silva.
Aqui é da E, professor Antônio Alves Cruz. Seu irmão Gabriel passou mal durante a aula de educação física e foi levado para o hospital das clínicas. É melhor você vir imediatamente. O mundo de Sofia parou. O que aconteceu? Ele está bem? Ele desmaiou na quadra. Os médicos estão examinando. Venha o mais rápido possível. Sofia desligou com as mãos tremendo.
Mateus, que havia percebido a alteração em sua voz, se aproximou. O que foi, meu irmão? Ele está no hospital. Eu preciso. Vamos. Mateus já estava pegando as chaves do carro. Meu motorista nos leva. Não, você tem reuniões importantes. Não posso, Sofia. Mateus segurou seus ombros gentilmente. Família vem primeiro. Sempre. O trajeto até o Hospital das Clínicas foi um borrão de trânsito de São Paulo e ansiedade crescente.
Mateus segurava a mão de Sofia, transmitindo uma calma que ela não conseguia sentir. “Ele vai ficar bem”, murmurava Mateus. Gabriel é forte. Como você sabe? Você nem o conhece porque ele é seu irmão e você criou um rapaz corajoso. No hospital, Sofia correu para a recepção. Gabriel Silva, 16 anos, veio da escola.
Emergência terceiro andar, informou a recepcionista. No elevador, Sofia se lembrou ironicamente de outro elevador há algumas semanas, quando ela era quem precisara de socorro. Agora era Gabriel. Dr. Rodrigues, o médico plantonista, os recebeu com expressão séria. Você é a irmã? Sou.
Como ele está? Gabriel está estável, mas encontramos alguns problemas na medicação que ele vem tomando. Você sabia que ele tem diabetes tipo um? Sofia sentiu o chão sumir sob seus pés. Diabetes? Não, isso é impossível. Ele nunca. Os sintomas podem passar despercebidos por meses. Fadiga, sede excessiva, perda de peso. Você notou alguma coisa? Sofia pensou nos últimos meses.
Gabriel, sempre cansado, bebendo mais água, reclamando que não estava com fome. Ela havia atribuído tudo ao estresse da adolescência e à pressão escolar. Eu não sabia”, murmurou, sentindo-se a pior irmã do mundo. “Não se culpe, é comum não identificar os sinais iniciais.” Dr. Rodrigues consultou a prancheta. Ele precisará de acompanhamento constante, medicação diária, mudanças na dieta. É um tratamento caro, mas essencial.
“Quanto caro?”, a pergunta saiu automaticamente. Entre medicamentos, consultas e exames, cerca de R$. por mês. Sofia sentiu o mundo girar. Mesmo com seu novo salário, R$500 extras comprometeria completamente o orçamento familiar. Posso vê-lo? Claro. 4 312. Gabriel estava pálido na cama do hospital, conectado a soros e monitores. Quando viu Sofia, tentou sorrir.
Oi, mana. Desculpa pelo susto. Sofia segurou sua mão, tentando não chorar. Não se desculpe. Como você está se sentindo? Melhor, os médicos explicaram sobre a diabetes. É sério, né? Vamos cuidar de tudo disse Sofia, forçando confiança na voz. Você vai ficar bem e os custos? Ouvi o médico falando.
Não se preocupe com isso, eu resolvo. Mateus, que havia ficado discretamente no corredor, se aproximou da cama. Gabriel. O rapaz olhou curiosamente para o homem bem vestido. Você é Mateus Santos. Trabalho com sua irmã. Mateus estendeu a mão. Ouvi muito sobre você. Ah, o chefe da mana Gabriel apertou a mão dele.
Ela só fala bem do Senhor e ela só fala maravilhas sobre você. Diz que você é o melhor aluno da escola. Gabriel corou. Ela exagera. Tenho certeza que não. Mateus puxou uma cadeira. O que você quer estudar na faculdade? Engenharia aeronáutica. Sempre sonhei em projetar aviões. Gabriel olhou para Mateus com interesse renovado.
A Aerossul deve ter muitos engenheiros, né? Os melhores do país. E estamos sempre procurando talentos jovens. Sofia observava a interação entre os dois homens mais importantes de sua vida. Gabriel estava animado pela primeira vez em semanas, fazendo perguntas sobre aviação. Mateus respondia com paciência e genuíno interesse, tratando o adolescente como um adulto.
“Você gostaria de visitar a empresa quando estiver melhor”, ofereceu Mateus. “Posso mostrar o departamento de engenharia?” Os olhos de Gabriel brilharam. “Sério? Isso seria incrível, doutor. Rodrigues retornou com os resultados dos exames. Boas notícias, Gabriel pode ter alta amanhã, mas precisará iniciar o tratamento imediatamente. Sobre os custos, começou Sofia.
Já está resolvido, interrompeu Mateus calmamente. O quê? A Aerossul tem um plano de saúde excelente para familiares de funcionários. Gabriel será incluído automaticamente. Sofia o encarou. Incrédula. Mas eu trabalho há apenas um mês e tem sido a melhor funcionária que tivemos em anos. Considere um reconhecimento, Mateus, eu não posso aceitar isso. É muito Sofia.
Ele se virou para ela com expressão séria. Se você fosse minha irmã e eu estivesse doente, não gostaria que alguém ajudasse? A pergunta a desarmou completamente. Sofia sentiu lágrimas queimar em seus olhos. “Obrigada”, murmurou. “Não sei como agradecer. Não precisa agradecer. É o que fazemos por família.
A palavra família ecoou na mente de Sofia. Mateus havia dito família, não funcionários. Naquela noite, depois que Gabriel adormeceu sedado, Sofia e Mateus desceram para tomar café na lanchonete do hospital. “Por que está fazendo isso?”, perguntou Sofia diretamente. “Fazendo o quê? Você sabe o quê? o plano de saúde, ficar no hospital comigo, tratar Gabriel como se fosse, como se fosse importante para mim.
Mateus mexeu o café absentemente. Por que é? Mas por quê? Somos praticamente desconhecidos. Mateus ficou em silêncio por um longo momento. Posso contar uma coisa que nunca contei para ninguém? Sofia assentiu. Quando meu pai morreu há 5 anos, eu me senti completamente perdido. Tinha a empresa, dinheiro, sucesso, mas me senti vazio, como se nada que eu fizesse tivesse significado real. Ele olhou para ela até você aparecer.
Eu, Sofia, você trabalha com paixão, cuida do seu irmão com amor incondicional, luta todos os dias por algo maior que você mesma. Isso me lembrou do que realmente importa. Sofia sentiu seu coração acelerar. Mateus, eu sei que nossa situação é complicada. Eu sou seu chefe. Nossas vidas são muito diferentes. Mas eu preciso que saiba.
Você e Gabriel significam muito para mim, mais do que deveria, profissionalmente falando. O ar entre eles estava carregado de tensão. Sofia sabia que estava chegando a um ponto sem volta. O que você está dizendo? Mateus se inclinou para a frente, seus olhos fixos nos dela. Estou dizendo que você mudou minha vida e que não consigo mais imaginar minha vida sem você nela.
Antes que Sofia pudesse responder, seu celular tocou. Era uma enfermeira. Gabriel havia acordado e estava perguntando por ela. No elevador de volta ao quarto, o silêncio era pesado de palavras não ditas. Sofia sentia que estava na beira de um precipício emocional. Gabriel estava acordado, brincando com o tablet que Mateus havia trazido para ele.
“Como está se sentindo?”, perguntou Sofia. “Melhor. Emana?” “Sim, eu gosto dele”, disse Gabriel, olhando discretamente para Mateus. Ele é diferente. Trata você como se fosse especial. Gabriel, você merece alguém que te trate assim. Depois de tudo que fez por mim, você merece ser feliz.
Naquela noite, no táxi de volta para casa, Mateus havia insistido em pagar, Sofia olhava a cidade passar pela janela. As palavras dele ecoavam em sua mente: “Você mudou minha vida”. Quando chegou em casa, o silêncio da pequena casa apareceu opressor. Gabriel ainda estava no hospital.
Mateus havia voltado para seu mundo de luxo e ela estava sozinha com pensamentos confusos. Será que estava se apaixonando por seu chefe? Será que ele realmente sentia o que havia dito? Ou era apenas gratidão por seu trabalho? E, mais importante, o que aconteceria com sua vida cuidadosamente construída se ela permitisse que seus sentimentos falassem mais alto que a razão? A resposta viria mais cedo do que esperava e de uma forma que mudaria tudo entre eles para sempre. Gabriel recebeu alta na quinta-feira de manhã.
Mateus apareceu no hospital antes das 8 horas, carregando uma sacola com roupas novas para o rapaz e um kit de medicamentos já separado por doses diárias. “Você não precisava”, começou Sofia. “Precisava, sim.” Mateus sorriu. Gabriel é oficialmente meu estagiário não remunerado. Precisa estar bem vestido para visitar a empresa. Gabriel riu, experimentando a camisa social que Mateus havia trazido.
Fica bem em mim? Perfeito. Agora você parece um futuro engenheiro aeronáutico. No caminho de volta para casa, Gabriel bombardeou Mateus com perguntas sobre aviação. Sofia observava a interação dos dois pelo espelho retrovisor, sentindo uma mistura de gratidão e algo mais profundo que não ousava nomear. “Mateus”, disse Gabriel quando chegaram na cidade tiradentes. “Obrigado por tudo.
Não precisa agradecer. Cuide-se bem e foque nos estudos. Mateus desceu do carro para ajudar Gabriel e Sofia aproveitou o momento para observá-lo, interagindo com os vizinhos curiosos. Um CEO milionário na periferia de São Paulo era definitivamente uma visão incomum, mas Mateus cumprimentava todos com naturalidade. “Seu namorado é educado”, comentou dona Rosa, a vizinha idosa.
“Ele não é meu namorado, Sofia corrigiu rapidamente. É meu chefe.” “Ah, é?” Dona Rosa arqueou uma sobrancelha. “Pois olha como ele olha para você, menina. Esse homem está apaixonado. De volta ao escritório, a rotina parecia estranha após o drama dos últimos dois dias. Sofia tentava se concentrar nos relatórios, mas continuava revivendo a conversa na lanchonete do hospital. Sofia.
Mateus chamou por volta das 3 da tarde. Pode vir aqui. Ela entrou no escritório dele, notando que ele parecia nervoso. Coisa rara em Mateus Santos. Como Gabriel está se adaptando à medicação? Bem, ele já está brincando que é biônico com todos os aparelhos. Sofia sorriu. Obrigada novamente por tudo. Não precisa agradecer. Mateus se levantou caminhando até a janela. Sofia, sobre o que conversamos no hospital.
Não precisamos falar sobre isso. Se você se arrependeu. Não me arrependi. Ele se virou para ela. Me arrependo. É de não ter dito antes. O coração de Sofia acelerou. Mateus, deixa eu terminar. Ele respirou fundo. Sei que nossa situação é complicada. Eu sou seu chefe. Temos vidas muito diferentes. Minha família nunca entenderia.
Mas eu não consigo mais fingir que você é apenas minha funcionária. O que você está dizendo? Mateus caminhou até ela, parando a uma distância que fez Sofia sentir calor emanando de seu corpo. Estou dizendo que estou apaixonado por você, perdidamente, irreversivelmente apaixonado. Os olhos dele buscaram os dela. E preciso saber se você sente algo parecido ou se estou sendo um idiota.
Sofia sentiu as pernas bambearem. Mateus, eu pode ser honesta comigo. Se você não sente nada, eu entendo. Continuaremos trabalhando juntos profissionalmente e eu nunca mais tocarei no assunto. Você quer honestidade? Ele assentiu. Sofia respirou fundo. Estou aterrorizada porque também estou me apaixonando por você.
E isso é a coisa mais confusa e assustadora que já aconteceu comigo. O sorriso que se espalhou pelo rosto de Mateus foi como sol surgindo após uma tempestade assustadora. Por quê? Porque você é Mateus Santos. Você é dono de tudo isso. Sofia gesticulou ao redor. Eu sou Sofia Silva da cidade Tiradentes. Somos de mundos diferentes. Somos pessoas diferentes. Não, mundos diferentes. Mateus se aproximou mais.
Sofia, posso fazer algo que estou pensando há semanas? O quê? Posso te beijar? Em vez de responder, Sofia se inclinou para a frente. Quando os lábios dele se encontraram, foi como se todas as peças de um quebra-cabeça finalmente se encaixassem no lugar certo.
O beijo foi suave no início, hesitante, como se ambos não conseguissem acreditar que estava realmente acontecendo. Então, Mateus passou os braços ao redor da cintura de Sofia, puxando-a mais perto, e ela entrelaçou os dedos nos cabelos dele. Quando se separaram, ambos estavam sem fôlego. “Uau”, murmurou Sofia. “Ua! É uma boa definição.” Mateus sorriu, ainda segurando a próxima. “Sofia? Sim.
Não quero que isso seja um segredo. Não quero esconder o que sinto por você. Mas e a empresa? As pessoas vão falar que falem.” Mateus acariciou seu rosto. Não fiz nada de errado ao me apaixonar pela mulher mais incrível que já conheci. Sua mãe vai ter um infarto. Minha mãe vai ter que aceitar.
A determinação na voz dele era clara. Sofia, eu quero tentar. Quero ver onde isso pode nos levar. Você quer tentar? Sofia pensou em todas as complicações, em todos os obstáculos que enfrentariam. Depois pensou em como se sentiu nos braços dele, como Gabriel havia sorrido ao vê-los juntos, como Mateus a fazia sentir-se valorizada e especial. Sim”, disse “finalmente, “Eu quero tentar”.
O segundo beijo foi mais longo, mais intenso. Quando o interfone tocou, ambos se separaram como adolescentes pegos em flagrante. “Senhor Santos, a reunião das 5 horas”, a voz de Sandra su pelo interfone. “Reagende para amanhã”, respondeu Mateus, sem tirar os olhos de Sofia. Mas são os investidores do Japão. Sandra, reagende.
Naquela tarde eles saíram da empresa juntos pela primeira vez. Mateus levou Sofia para um café na Vila Madalena, longe do ambiente corporativo. “Como vamos fazer isso?”, perguntou Sofia, mexendo o cappuccino. “Um dia de cada vez. Vamos devagar, sem pressão.” Mateus segurou a mão dela sobre a mesa.
“Você está preocupada com alguma coisa específica?” Contudo, Sofia riu nervosamente, com o que as pessoas vão dizer, com sua família, com a diferença entre nossas vidas. Sofia, olha para mim. Quando ela ergueu os olhos, Mateus continuou. Minha vida mudou completamente desde que você entrou nela. Você me fez lembrar do que realmente importa.
Não vou deixar medo ou opinião dos outros estragarem isso. E se não der certo? E se der, Mateus sorriu. Você sempre pensa no pior cenário possível. É um mecanismo de defesa. Quando se espera o pior, as surpresas são sempre boas. Então, vou ter que te surpreender positivamente todos os dias. Quando Sofia chegou em casa naquela noite, Gabriel estava na cozinha preparando sua nova dieta para diabéticos. Oi, mana.
Como foi o dia? Sofia se sentou à mesa, ainda processando tudo que havia acontecido. Gabriel, posso perguntar uma coisa? Claro. O que você acha do Mateus? Gabriel parou de cortar verduras. Por que? Pergunta curiosidade. Ele é legal. Tratou você e a mim com respeito desde o primeiro dia. É inteligente e engraçado. E Gabriel fez uma pausa significativa.
Está obviamente apaixonado por você, Gabriel. Que foi? É óbvio. O cara ficou o dia inteiro no hospital, pagou meus remédios e olha para você como se fosse a oitava maravilha do mundo. Gabriel se sentou ao lado dela. A pergunta é: você gosta dele? Sofia suspirou muito. Então, qual é o problema? Somos muito diferentes, Gabi. Ele é rico, eu sou pobre.
Ele é seou eu sou assistente. A família dele nunca vai aceitar, mana. Gabriel interrompeu gentilmente. Lembra quando eu tinha medo de fazer a apresentação na escola? Porque era o único da nossa turma que não tinha pai para ajudar? Sofia assentiu. Você disse que eu não deveria me definir pelo que não tenho, mas pelo que sou.
que se as pessoas não conseguissem ver meu valor por causa da nossa situação, o problema era delas, não meu. Sofia sorriu. Quando você ficou tão sábio? Aprendi com a melhor professora. Gabriel segurou a mão dela. Você merece ser feliz. E se o Mateus te faz feliz, então eu aprovei. Naquela noite, Sofia deitou na cama, olhando para o teto, revivendo cada momento do dia. Senti ainda o gosto do beijo de Mateus, o cheiro de seu perfume, a segurança de seus braços.
Pela primeira vez em muito tempo, permitiu-se sonhar com um futuro diferente. Um futuro onde não precisava se preocupar constante com dinheiro, onde Gabriel poderia estudar na melhor universidade, onde ela poderia amar e ser amada sem medos. Mas no fundo de sua mente, uma voz sussurrava advertências.
Relacionamentos entre pessoas de classes sociais diferentes eram complicados. Havia obstáculos que o amor nem sempre conseguia superar. Sofia decidiu ignorar essa voz por enquanto. Queria viver o presente, sentir-se feliz, permitir-se acreditar que contos de fada poderiam acontecer na vida real. O que ela não sabia era que há poucos quilômetros dali, em um elegante apartamento nos jardins, duas pessoas planejavam obstáculos muito reais para sua felicidade recém descoberta. A segunda semana do relacionamento entre Sofia e Mateus passou como um sonho.
Eles almoçavam juntos, dividiam momentos íntimos no escritório quando não havia ninguém por perto. E Mateus havia levado Sofia para jantar em restaurantes que ela só conhecia de revistas. Na sexta-feira, Sofia estava organizando documentos quando Sandra apareceu com uma expressão preocupada.
Posso falar com você em particular? Elas saíram para o jardim interno da empresa, um espaço verde com bancos onde funcionários costumavam tomar café. “Sofia, preciso te avisar sobre algumas conversas que estão rolando. Que tipo de conversas?” Sandra olhou ao redor, certificando-se de que estavam sozinhas.
As pessoas estão comentando sobre você e o Senr. Santos. Não são comentários gentis. Sofia sentiu o estômago apertar. O que estão dizendo? que você conseguiu o emprego usando outros meios além da competência, que sua promoção de salário foi por motivos pessoais. Algumas pessoas estão dizendo que Sandra hesitou.
Fala, Sandra, que você se aproveitou da situação no elevador para seduzir o chefe. Sofia sentiu como se tivesse levado um soco no estômago. Quem está espalhando isso? Não sei ao certo, mas ontem ouvi Carla e Fernanda comentando no banheiro e o pessoal do financeiro também estava falando. Naquela tarde, Sofia sentia os olhares por onde passava. Conversas paravam quando ela se aproximava. Sussurros a seguiam pelos corredores.
A paranoia começou a crescer. Eram apenas impressões suas ou realmente todos estavam falando sobre ela? Durante a reunião das 4 horas, Sofia percebeu como Paloma a observava com desprezo mal disfarçado. Fernando Oliveira fazia comentários sutilmente maliciosos sobre favorecimentos e critérios subjetivos de promoção.
“Sofia, qual sua opinião sobre a expansão para a Argentina?”, perguntou Mateus durante a reunião. Antes que Sofia pudesse responder, Fernando interrompeu: “Talvez devêsemos ouvir primeiro os diretores com mais experiência em mercados internacionais. Sofia tem demonstrado excelente compreensão de análises de mercado”, disse Mateus firmemente.
“Claro”, murmurou Paloma. Sofia tem demonstrado muitas habilidades especiais ultimamente. O tom carregado de insinuações fez Sofia corar. Mateus lançou um olhar gelado para Paloma, mas o estrago estava feito. Após a reunião, Sofia estava em seu banheiro, tentando se recompor quando ouviu vozes conhecidas entrarem.
É constrangedor”, dizia Carla do departamento jurídico. “Uma menina da periferia achando que pode seduzir o CEO.” “Pelo menos ela é bonita,” respondeu Fernanda. “Imagina se fosse feia também. Vocês viram como o Mateus fica defendendo ela? É óbvio que estão transando. Coitada, acha que ele vai se casar com ela? Homens como Mateus Santos não se casam com empregadas.
Ele vai se divertir um tempo e depois voltar para alguém do nível dele. Sempre acontece assim. Sofia ficou no banheiro até elas saírem, tentando conter as lágrimas. Cada palavra havia sido como uma facada, principalmente porque ecoavam seus próprios medos secretos. Quando voltou para a mesa, Mateus a chamou em seu escritório. “Você está bem?”, parece chateada. Sofia hesitou.
Não queria soar paranoica, nem criar problemas. Só um pouco cansada. Mateus se aproximou tocando seu rosto gentilmente. Tem certeza? Você está estranha desde a reunião. Mateus, posso perguntar uma coisa? Sempre. Você já pensou no que as pessoas estão dizendo sobre nós? Que pessoas? Os funcionários. Eles acham que eu consegui meu emprego e minhas responsabilidades porque estamos juntos. Mateus suspirou.
Sofia, pessoas vão falar independentemente do que façamos. Você sabe que suas competências falam por si, mas e se elas tiverem razão? E se inconscientemente você realmente me favoreceu? Sofia, você está me questionando ou questionando a si mesma? Antes que Sofia pudesse responder, o interfone tocou. Senhor Santos, sua mãe está aqui e diz que é urgente. Carmen Santos entrou no escritório como um furacão elegante.
Hoje usava um conjunto Chanel e uma expressão de determinação que não aceitaria desculpas. Mateus, precisamos conversar agora. Mãe, Sofia, pode ficar. Não temos segredos. Carmen lançou um olhar glacial para Sofia. É exatamente sobre isso que preciso falar. Sofia se levantou. Vou deixar vocês conversarem. Não precisa sair, disse Mateus.
Preciso sim. Carmen rebateu. Isto é uma questão familiar. Quando Sofia saiu, pôde ouvir a voz alterada de Carmen através da porta. Mateus, que loucura é essa? Está se envolvendo com uma funcionária? Mãe, minha vida pessoal não. Sua vida pessoal afeta toda a família. Você é o herdeiro da Aerossul, representa nossa linhagem.
Não pode se rebaixar com qualquer Cuidado com o que vai dizer sobre Sofia. Mateus, seja realista. Ela é uma oportunista que viu uma chance de melhorar de vida. Homens como você são alvos fáceis para mulheres como ela. Como você pode dizer isso sem nem conhecê-la? Eu não preciso conhecê-la pessoalmente para entender o tipo. Jovem, bonita, de classe baixa, desesperada para subir na vida, é o mais antigo dos golpes. Mãe, chega.
Mateus, pelo amor de Deus, Paloma Ribeiro está interessada em você, uma moça da nossa classe, educada na Europa, família tradicional. Por que você desperdiçaria isso com uma com essa? Sofia ouviu passo se aproximando da porta e fingiu estar ocupada com papéis.
Quando Mateus abriu a porta, seu rosto estava tenso de raiva. “Sofia, podemos nos falar depois. Preciso terminar essa conversa.” Ela sentiu, mas pôde ver a dor em seus olhos. Uma hora depois, Carmen saiu do escritório com expressão satisfeita. Mateus permaneceu fechado em sua sala pelo resto da tarde. Às 6 horas, Sofia bateu na porta dele. Entre.
Mateus estava na janela contemplando o rio Pinheiros. Parecia cansado, mais velho. Quer conversar sobre isso? Minha mãe acha que você é uma oportunista interesseira. A honestidade brutal da declaração fez Sofia recuar como se tivesse sido esbofeteada. E você, o que você acha? Mateus se virou para ela. Eu acho que minha mãe nunca trabalhou um dia na vida e não entende o valor de uma mulher forte e independente.
Mas ela plantou a dúvida. Não plantou? Sofia, não seja ridícula. Não estou sendo ridícula. A frustração de Sofia explodiu. Estou sendo realista. Sua mãe disse tudo que todo mundo está pensando, que eu sou uma aproveitadora, que você é ingênuo, que isso nunca vai dar certo. E é isso que você acredita? Sofia ficou em silêncio, lutando contra as lágrimas.
Sofia, responda. Eu não sei mais o que acreditar, sussurrou. Talvez seja melhor voltarmos a ser apenas chefe e funcionária. É isso que você quer? Sofia olhou para Mateus, o homem por quem estava se apaixonando, que havia cuidado de Gabriel como um irmão, que a fazia sentir-se especial e valorizada.
Depois pensou nos comentários maldosos, no desprezo de Carmen, nas diferenças gritantes entre suas vidas. “Eu quero que isso funcione”, disse finalmente. “Mas talvez querer não seja suficiente.” Mateus se aproximou, segurando seus ombros. “Sofia, olha para mim. Eu me importo com você, com Gabriel. Isso não vai mudar por causa de comentários mesquinhos ou pressão da minha família.
E se eles estiverem certos? E se você acabar se cansando de mim? E se Mateus a silenciou com um beijo suave? Pare de criar problemas que não existem. Mas existem, Mateus. Sua mãe deixou isso muito claro. Minha mãe vai ter que aceitar minhas escolhas, assim como qualquer pessoa que trabalhe nesta empresa. Naquela noite, Sofia chegou em casa exausta emocionalmente.
Gabriel, que estava na cozinha estudando, imediatamente percebeu seu estado. O que aconteceu? Sofia se jogou na cadeira ao lado dele. As pessoas estão falando sobre mim e o Mateus, dizendo coisas horríveis. Que tipo de coisas, Sofia? repetiu alguns dos comentários que havia ouvido. Gabriel ficou visivelmente irritado. Que bando de invejosos.
E se eles estiverem certos, Gabi? E se eu realmente for apenas uma ilusão para ele? Gabriel fechou o livro e se virou completamente para ela. Mana, lembra quando você começou a trabalhar na lanchonete do Sr. João? As pessoas do bairro disseram que você não duraria uma semana porque era fininha demais para trabalho pesado. Lembro.
Você provou que estavam errados trabalhando mais duro que qualquer um. Quando conseguiu o emprego na loja da dona Maria, disseram que você seria demitida porque não sabia lidar com clientes difíceis. E eu aprendi. Exato. Você sempre provou que está errado quem subestima você. Por que seria diferente agora? Sofia sorriu pela primeira vez no dia.
Quando você ficou tão sábio, nasci sábio. Você que demorou para perceber. Mas naquela noite, sozinha no quarto, Sofia não conseguia afastar as dúvidas. As palavras de Carmen ecoavam em sua mente. É o mais antigo dos golpes. E se fosse verdade? E se inconscientemente ela realmente tivesse se aproveitado da situação? E se Mateus, no fundo, também pensasse isso no apartamento dele, nos jardins, Mateus também estava acordado olhando pela janela da sala.
A conversa com a mãe havia plantado sementes de dúvida que ele não queria admitir, não sobrefia, sobre isso ele tinha certeza, mas sobre sua capacidade de protegê-la das pressões que viriam, sobre sua habilidade de enfrentar a própria família, sobre se seria justo expor Sofia a um mundo que claramente não a queria.
Pela primeira vez desde que se conheceram, tanto Sofia quanto Mateus foram dormir, questionando se o amor seria realmente suficiente para superar todos os obstáculos que se erguiam entre eles. A resposta viria em breve, testada de formas que nenhum deles imaginava. “Preciso que você me acompanhe no Rio de Janeiro”, disse Mateus na manhã de segunda-feira, entrando no escritório com várias pastas debaixo do braço. Sofia ergueu os olhos dos relatórios.
Eu por quê? Reunião com potenciais investidores para a rota São Paulo Rio Expressa. Preciso de alguém que entenda nossas projeções e possa tomar notas detalhadas. Mateus se sentou em sua mesa. Além disso, você tem ideias interessantes sobre otimização de horários. Sofia hesitou. Depois dos eventos da semana anterior, os comentários maldosos, a conversa com Carmen, uma viagem sozinha com Mateus parecia combustível para mais fofocas. Não seria melhor levar Fernando ao Paloma? Eles têm mais experiência.
Sofia, você é minha assistente e uma das pessoas mais competentes desta empresa. Pare de questionar suas qualificações. Não estou questionando minhas qualificações. Estou pensando em como isso vai parecer para as outras pessoas. Mateus parou de organizar os papéis e a olhou diretamente.
Você quer saber como isso vai parecer? Vai parecer que o CEO está levando sua assistente mais competente para uma reunião importante. Ponto final. Mateus Sofia, não vamos deixar comentários mesquinhos de tarem como fazemos nosso trabalho. Esta é uma oportunidade profissional importante para você. Não desperdice por causa de medo. Ela suspirou.
Quando é a viagem? Quinta e sexta-feira. Voltamos sábado de manhã. Duas noites. Duas noites em quartos separados. Se é isso que está preocupando você. Tudo absolutamente profissional e transparente. Sofia a sentiu, embora uma parte dela se sentisse estranhamente desapontada, com a ênfase na separação. Na quinta-feira de manhã, eles pegaram um voo de 2 horas para o rio.
Sofia nunca havia viajado de avião antes e Mateus notou seu nervosismo durante a decolagem. “Primeira vez voando?”, perguntou ele, discretamente, segurando sua mão quando o avião ganhou altitude. É óbvio assim? Você está com os olhos fechados e as mãos crispadas no assento. Não é medo de voar, é surreal estar aqui. Há seis meses eu mal tinha dinheiro para o ônibus para o trabalho e agora estou voando para o rio em primeira classe para reuniões de negócios.
E como se sente? Sofia abriu os olhos e olhou pela janela pequena. São Paulo se estendia infinitamente abaixo deles, um mar de edifícios e avenidas, como se fosse um sonho de que posso acordar a qualquer momento. Não é um sonho, Sofia, é sua nova realidade. O hotel eram cinco estrelas em Copacabana, com vista direta para a praia. Sofia ficou parada no quarto por vários minutos, apenas olhando o mar.
As reuniões foram um sucesso. Sofia impressionou os investidores cariocas com suas análises precisas sobre horários de pico e otimização de rotas. Um dos investidores e Sr. Carvalho, chegou a comentar: “Mateus, sua assistente entende mais de aviação comercial que muitos diretores que conheci. Depois da última reunião de sexta-feira, Mateus sugeriu um passeio pelo rio antes do voo de volta.
É trabalho”, disse ele quando Sofia hesitou. Precisamos conhecer a cidade para entender melhor o mercado local. Eles visitaram o pão de açúcar, caminharam por Ipanema, tomaram caipirinha em uma barraca na praia. Sofia se permitiu relaxar pela primeira vez em semanas. “Obrigada”, disse ela enquanto caminhavam na areia ao final da tarde.
“Por quê?” “Por me trazer? Por confiar em mim profissionalmente? Por”, ela hesitou, “por me mostrar que posso ser mais do que eu pensava. Sofia, você sempre foi mais do que pensava. Só precisava de uma oportunidade para mostrar. Quando o sol começou a se pôr, pintando o céu de tons alaranjados, eles se sentaram em uma mesa de frente para o mar. Sofia nunca havia visto algo tão bonito.
Mateus, posso perguntar uma coisa pessoal? Sempre. Por que você nunca se casou? Quero dizer, você tem 37 anos. É bem-sucedido, bonito. Mateus sorriu. Obrigado pelo bonito. Quanto ao casamento, nunca encontrei alguém que me fizesse querer mudar minha vida. E agora, agora encontrei. O coração de Sofia acelerou. Mateus.
Sofia, sei que tudo está complicado em São Paulo. As pressões, os comentários, minha família. Mas aqui, longe de tudo isso, posso ser apenas eu mesmo. E quando sou eu mesmo, sei exatamente o que quero. O que você quer, você, Gabriel, uma vida onde possamos ser felizes sem precisar nos esconder ou nos justificar para ninguém.
Sofia sentiu lágrimas queimar em seus olhos. É um sonho lindo. Mas e a realidade? A realidade é que estamos aqui juntos e você acabou de conseguir um contrato de R milhões de reais para a empresa com suas ideias. A realidade é que você é incrível e qualquer pessoa que não consegue ver isso é cega.
Quando voltaram para o hotel, a tensão entre eles era quase tangível. No elevador ficaram em silêncio, mas Sofia podia sentir a proximidade de Mateus como eletricidade no ar. Sofia, disse ele quando chegaram ao andar deles. Sim, eu sei que disse que seria tudo profissional, mas você gostaria de jantar comigo? Não como chefe e funcionária, como Mateus e Sofia.
Sofia olhou nos olhos dele e viu vulnerabilidade, esperança e algo mais profundo que a fez esquecer completamente todas as preocupações. Sim, eu gostaria muito. O jantar foi em um restaurante pequeno e romântico em Santa Teresa, longe dos pontos turísticos. Eles conversaram sobre tudo: infância, sonhos, medos, planos para o futuro.
“Conte-me sobre seus pais”, pediu Mateus. Sofia sorriu com lágrimas nos olhos. Papai era mecânico, mamãe costureira, pessoas simples, mas que amavam com intensidade. Eles sempre disseram que o amor verdadeiro não tem preço nem classe social. Eles estariam orgulhosos de você. Às vezes me pergunto o que pensariam sobre nós.
O que você acha que pensariam? Mamãe diria que o importante é você me tratar bem e me fazer feliz. Papai, papai faria mil perguntas sobre suas intenções. Sofia riu. Ele era protetor. E eu passaria no teste dele? Sofia o estudou. A forma carinhosa como falava sobre Gabriel, como havia cuidado dela no hospital, como a tratava com respeito, mesmo quando ninguém estava olhando.
Passaria, definitivamente passaria. De volta ao hotel, eles caminharam lentamente pelo corredor, prolongando o momento. “Sofia”, disse Mateus, parando em frente ao quarto dela. “Sim, posso te beijar?” Como Mateus, não como seu chefe. Em resposta, Sofia se inclinou para a frente. O beijo foi diferente dos anteriores, mais lento, mais profundo, carregado de promessas e sentimentos que nenhum dos dois ousava verbalizar completamente.
Quando se separaram, ambos estavam sem fôlego. “Boa noite, Sofia”, murmurou Mateus contra seus lábios. “Boa noite, Mateus.” Naquela noite, Sofia ficou acordada, olhando o mar pela janela. Repassando cada momento do dia, pela primeira vez conseguiu imaginar um futuro com Mateus que não fosse apenas fantasia.
No quarto ao lado, Mateus também estava acordado pensando na mulher extraordinária por quem estava perdidamente apaixonado. Pela primeira vez em sua vida, ele sabia exatamente o que queria, passar o resto de seus dias fazendo Sofia feliz. O que nenhum dos dois sabia era que naquele exato momento em São Paulo, Fernando Oliveira estava em um bar elegante nos jardins, convencendo Paloma Ribeiro a participar de um plano que destruiria a felicidade recém encontrada deles.
“Paloma, você sabe que Mateus está cometendo um erro”, dizia Fernando. “Essa menina vai arruinar a reputação da empresa e da família. Alguém precisa abrir os olhos dele. E o que você propõe? que mostremos a ele quem Sofia Silva realmente é. Todos sabemos que mulheres como ela têm sempre um preço. Paloma bebeu seu vinho lentamente, considerando.
Ela havia amado Mateus por anos, esperando pacientemente que ele percebesse. Ver uma oportunista da periferia, conquistar o que ela nunca conseguira, era intolerável. Que tipo de prova você tem em mente? Fernando sorriu e havia algo cruel naquele sorriso. Deixe isso comigo, mas preciso de sua ajuda para tornar tudo convincente. Enquanto Sofia e Mateus sonhavam com um futuro juntos sob o céu estrelado do rio, as peças de sua destruição estavam sendo cuidadosamente posicionadas no tabuleiro.
O voo de volta para São Paulo no sábado de manhã foi diferente da ida. Sofia e Mateus conversavam com a intimidade de um casal. compartilhando sonhos e fazendo planos. A viagem ao rio havia solidificado o que ambos já sentiam. Estavam realmente apaixonados. “Gabriel vai querer saber todos os detalhes da viagem”, disse Sofia, folhando as fotos que haviam tirado no pão de açúcar.
“Podemos levá-lo ao Rio nas próximas férias escolares? Ele ficaria fascinado com o Museu de Ciências”, sugeriu Mateus. Você realmente pensa assim em nós três como uma família? Mateus segurou a mão dela. Sofia, eu penso em nós três como família desde o dia que conheci Gabriel no hospital. Quando chegaram em São Paulo, a realidade os atingiu como uma ducha fria.
No aeroporto, Sofia notou como as pessoas os observavam. Um CEO conhecido, acompanhado de uma jovem mulher atraía olhares e sussurros. “Não liga para eles”, murmurou Mateus. notando seu desconforto, mas Sofia já sentia o peso das aparências novamente. Na segunda-feira, a atmosfera na Aeroçul estava estranha. Sofia percebeu conversas que paravam quando ela passava, olhares que se desviavam rapidamente quando ela os encarava.
Durante a reunião das 10 horas, Fernando Oliveira estava particularmente atencioso. “Sofia, ouvi que a viagem ao Rio foi um sucesso”, disse ele com um sorriso que não chegava aos olhos. Os investidores ficaram muito interessados na rota expressa, respondeu Sofia profissionalmente. Claro, tenho certeza de que ficaram impressionados com sua apresentação.
Havia algo no tom de Fernando que incomodou Sofia, mas ela não conseguiu identificar exatamente o quê. Após a reunião, Paloma se aproximou de Sofia no corredor. Podemos conversar em particular? Elas foram para uma sala de reuniões vazia. Paloma fechou a porta atrás delas. Sofia, preciso te avisar sobre uma coisa.
O quê? Há rumores circulando sobre você e Mateus, especificamente sobre a viagem ao rio. Sofia sentiu o estômago apertar. Que tipo de rumores? Pessoas estão dizendo que vocês se hospedaram no mesmo quarto, que a viagem foi mais pessoal que profissional. Paloma fez uma pausa dramática. Algumas pessoas estão questionando se as reuniões realmente aconteceram.
Isso é ridículo? Temos toda a documentação, os contratos. “Eu sei que é ridículo”, disse Paloma com falsa compaixão. “Mas você sabe como são as pessoas, uma vez que começam a falar quem está espalhando essas mentiras? Não sei ao certo, mas Sofia, preciso te dizer uma coisa como amiga. Sofia duvidou da sinceridade, mas ouviu. Mateus é um homem maravilhoso, mas ele é ingênuo quando se trata de mulheres.
Ele não entende como suas ações podem ser interpretadas. O que você está tentando dizer? Estou dizendo que talvez você devesse ser mais cuidadosa, proteger a reputação dele e a sua. Naquela tarde, Sofia estava inquieta. Os comentários de Paloma, embora aparentemente bem intencionados, haviam plantado sementes de ansiedade.
Durante toda a semana seguinte, ela se sentiu observada, julgada. Na quinta-feira, Fernando pediu para vê-la em seu escritório. Sofia, sente-se. Preciso discutir uma questão delicada com você. Que questão? Fernando abriu uma pasta sobre a mesa. Chegou ao meu conhecimento que informações confidenciais sobre nossas negociações no Rio podem ter sido compartilhadas inadequadamente.
Como assim? Um dos nossos concorrentes, a Sky Brasil, parece ter informações muito específicas sobre nossa nova rota. Informações que só quem esteve nas reuniões do Rio poderia saber. Sofia sentiu um frio na espinha. Você está insinuando que eu não estou insinuando nada. Estou investigando uma possível vazamento de informações confidenciais.
Como você teve acesso a todos os documentos, eu nunca compartilharia informações da empresa. Como você pode sugerir isso, Sofia? Entendo que sua situação financeira era complicada. Às vezes, pessoas em circunstâncias difíceis fazem escolhas que normalmente não fariam. A acusação velada foi como um tapa na cara.
Você está me acusando de vender informações da empresa? Estou apenas investigando todas as possibilidades. Preciso que você assine este termo, se comprometendo a não compartilhar informações confidenciais com terceiros. Sofia leu o documento. Era basicamente uma confissão implícita de culpa, além de uma ameaça de demissão por justa causa, se qualquer informação vazasse novamente. Não vou assinar isso.
Não fiz nada errado. Fernando suspirou. Sofia, seja sensata. Assine o documento e isso fica entre nós. Se você se recusar, bem, terei que escalar a investigação para o Mateus. Escalei. Mateus me conhece. Ele sabe que eu nunca faria isso. Tem certeza? Mesmo com todas as complicações pessoais entre vocês? Naquela noite, Sofia chegou em casa visivelmente abalada. Gabriel imediatamente percebeu.
O que aconteceu? Sofia contou sobre a acusação de Fernando. Gabriel ficou indignado. Que desgraçado. É óbvio que é armação. Mas e se Mateus acreditar? E se ele pensar que realmente fiz isso? Mana? O Mateus te conhece. Ele sabe quem você é. Conhece mesmo, Gabi? Às vezes me pergunto se ele não está romantizando quem eu sou.
Se quando a realidade bater, ele não vai perceber que as pessoas estavam certas sobre mim. Que pessoas? Todos que dizem que sou uma oportunista, que me aproveitei da situação, que Sofia não conseguiu terminar a frase. Gabriel se sentou ao lado dela. Mana, você está deixando essas pessoas plantarem dúvidas na sua cabeça. Você não é nada do que elas dizem.
Mas e se for? E se inconscientemente eu realmente me aproveitei da situação, então explica para mim como alguém se aproveita desmaiando de fome em um elevador. Sofia sorriu fracamente. Quando você coloca assim, coloco assim porque é a verdade. Você conquistou tudo com trabalho duro e competência. Qualquer um que conheça você de verdade sabe disso.
Mas na sexta-feira, as dúvidas de Sofia aumentaram quando viu Mateus conversando seriamente com Fernando em seu escritório. A porta estava fechada, mas ela pôde ver pelos gestos que era uma conversa tensa. Quando Fernando saiu, passou por Sofia com um sorriso que ela só pode descrever como triunfante. Sofia. Mateus a chamou pelo interfone. Pode vir aqui.
O coração de Sofia disparou. Esta era a conversa que temia. Ela entrou no escritório tentando manter a calma. Sente-se, disse Mateus, sua voz estranhamente formal. Fernando me contou sobre certas preocupações relacionadas à nossa viagem ao Rio. Mateus, eu posso explicar? Você pode explicar por informações confidenciais sobre nossos negócios apareceram nas mãos de um concorrente? A pergunta direta foi como um soco no estômago.
Você acredita que eu fiz isso? Eu acredito que há informações que só você e eu sabíamos e agora elas estão com a Sky Brasil e você automaticamente assume que foi eu. Mateus passou a mão pelos cabelos, parecendo cansado. Sofia, eu não quero acreditar, mas os fatos, os fatos ou as insinuações do Fernando, Fernando trouxe evidências, Sofia, e-mails, documentos, coisas que sugerem que você pode ter sido influenciada.
Influenciada como ofereceram dinheiro a você. Muito dinheiro. Sofia ficou de pé furiosa. E você acredita nisso? Eu não sei mais em que acreditar. A frustração de Mateus explodiu. Sofia, nossa relação complicou tudo. Talvez Fernando esteja certo. Talvez eu tenha perdido a objetividade. Então é isso.
Você prefere acreditar em evidências plantadas do que em mim? Eu prefiro proteger a empresa que meu pai construiu. A resposta de Mateus ecoou no escritório como um tiro. Sofia sentiu como se tivesse sido fisicamente atingida. Entendo”, disse ela, sua voz perigosamente calma. “A empresa vem primeiro.” “Sempre veio, não é? Eu fui apenas uma distração temporária. Sofia, não é assim. Não.
Então, como é, Mateus? Porque da minha perspectiva, você acabou de escolher acreditar no Fernando. Em vez de em mim, acabou de me acusar de traição por dinheiro. Eu não te acusei de nada. Estou apenas tentando entender. Não, você já entendeu. E sua decisão está clara. Sofia se dirigiu para a porta, mas se virou antes de sair.
Sabe o que é mais triste, Mateus? Eu realmente acreditei que você me conhecia, que sabia quem eu era. Mas você é igual a todos os outros. Quando a pressão aparece, é muito mais fácil acreditar no pior sobre a garota pobre da periferia. Sofia, espera. Mas ela já havia saído, fechando a porta com força suficiente para fazer os quadros na parede tremerem.
No corredor, Sofia passou por Fernando, que a observava com satisfação mal disfarçada. “Lamento que tenha terminado assim”, disse ele, mas seu tom não transmitia nenhum pesar. Sofia parou e o encarou. “Você orquestrou tudo isso? Não orquestrou?” “Não sei do que está falando. Claro que sabe, mas saiba de uma coisa”. Fernando, a verdade sempre vem à tona. Sempre.
Às vezes, respondeu ele com um sorriso frio, mas geralmente tarde demais para fazer diferença. Sofia saiu da Aerosul naquela tarde, sabendo que sua vida havia mudado irreversivelmente. Não apenas o trabalho havia terminado, seu coração estava despedaçado.
No escritório, Mateus ficou parado na janela por uma hora, olhando a cidade se estender diante dele. Pela primeira vez desde que conhecera a Sofia, se sentiu completamente vazio. havia feito a escolha certa protegendo a empresa, porque então sentia como se tivesse perdido a coisa mais importante de sua vida. Sofia chegou em casa naquela sexta-feira como uma alma perdida. Gabriel estava na cozinha preparando seu lanche da tarde quando ela entrou e imediatamente percebeu que algo estava errado.
Mana, o que foi? Sofia se jogou no sofá, finalmente permitindo que as lágrimas que havia segurado o dia inteiro escapassem. Acabou, Gabi. Tudo acabou. Gabriel largou o que estava fazendo e se sentou ao lado dela. O que você quer dizer com Acabou? Entre soluços, Sofia contou toda a história. As acusações de Fernando, as evidências plantadas, a confrontação com Mateus.
Ele acredita que você realmente fez isso? A indignação na voz de Gabriel era palpável. No fundo, sim. Ele pode não querer admitir, mas quando teve que escolher entre acreditar em mim ou proteger a empresa, a escolha foi óbvia. Gabriel ficou em silêncio por um momento, processando. E agora? Agora eu procuro outro emprego. Volto à realidade. Sofia enxugou os olhos.
Foi bonito enquanto durou, mas sempre soube que era tempo demais para ser verdade. Mana, não fala assim. Você não fez nada errado. Não importa, Gabi. O que importa é que o Mateus não confia em mim e sem confiança não tem relacionamento. Naquele fim de semana, Sofia não saiu de casa. Ignorou as ligações de Mateus.
Foram 12 no sábado e 8 no domingo. Deletou as mensagens sem ler e tentou se convencer de que estava fazendo a coisa certa. Na segunda-feira, ela começou a procurar emprego. Sem referências da Aerossul. Ela havia saído antes de completar dois meses. Suas opções eram limitadas. Na terça-feira, Gabriel chegou da escola com uma expressão estranha.
Mana, aconteceu uma coisa hoje. Que coisa? O Mateus apareceu na escola. Sofia parou de foliar os anúncios de emprego. Ele foi na sua escola. Por quê? Ele queria falar comigo. Perguntou onde você estava, por que não atendia os telefonemas dele? E o que você disse? que você estava magoada, que não queria falar com ele. Sofia suspirou.
Gabi, se ele aparecer de novo, você não precisa falar com ele, tá? Não é problema seu. Mas, Mana, ele parecia genuinamente desesperado, como se tivesse percebido que cometeu um erro. Tarde demais para arrependimentos. Mas na quarta-feira, o próprio Mateus apareceu na porta da casa deles. Sofia estava lavando louça quando ouviu a campainha. Gabriel foi atender e voltou com uma expressão constrangida.
É o Mateus, quer falar com você. Diz que eu não estou, mana. Ele sabe que você está aqui. Viu você pela janela da cozinha. Sofia suspirou, enxugou as mãos e foi até a porta. Mateus estava parado no pequeno jardim, segurando um buquê de flores e parecendo completamente fora de lugar no ambiente simples da cidade Tiradentes.
Seu terno impecável contrastava drasticamente com as casas modestas da vizinhança. Sofia, por favor, preciso falar com você. Não temos nada para conversar, respondeu ela, mantendo a porta entreaberta. Temos sim. sobre o que aconteceu na empresa, sobre como você preferiu acreditar no Fernando em vez de em mim. Já conversamos sobre isso.
Mateus passou a mão pelos cabelos, um gesto que Sofia havia aprendido a reconhecer como sinal de nervosismo. Sofia, eu cometi um erro. Um erro terrível? Sim, cometeu e agora precisa viver com as consequências. Sofia começou a fechar a porta. Por favor. Mateus colocou a mão na porta, impedindo que ela a fechasse. Me dá 5 minutos. Só 5 minutos.
Dona Rosa, a vizinha idosa, havia saído para regar as plantas e observava a cena com curiosidade mal disfarçada. Sofia percebeu que estavam chamando atenção. “Cutos”, disse ela, abrindo a porta. Não, mais que isso. Mateus entrou na pequena sala, parecendo ainda mais deslocado dentro da casa simples.
Gabriel acenou timidamente do corredor e se retirou para o quarto, dando privacidade para eles. Belas flores comentou Sofia ironicamente, cruzando os braços. Acha que um buquê resolve tudo? Não, sei que não resolve. Mateus pousou as flores na mesa e se virou para ela. Sofia descobri a verdade sobre o vazamento de informações. O coração de Sofia acelerou, mas ela manteve a expressão neutra. Ah, é? E qual é a verdade? Fernando armou tudo.
Ele próprio vazou as informações para a Sky Brasil e plantou evidências contra você. Sofia sentiu uma mistura de alívio e raiva. Como descobriu? Paloma me contou. Aparentemente, Fernando a chantageou para participar do plano, mas ela não aguentou a culpa. Mateus se aproximou um passo. Sofia, eu peço perdão. De coração. Você pede perdão? A voz de Sofia subiu uma oitava.
Mateus, você me acusou de traição. Você duvidou do meu caráter, da minha integridade. Eu sei. Eu não. Sofia o interrompeu. Você não sabe. Você não faz ideia do que significou para mim. Eu confiava em você completamente. Contei coisas que nunca contei para ninguém. Me abri de um jeito que me deixava vulnerável.
E na primeira dificuldade você me abandonou. Mateus baixou a cabeça. Você tem razão. Não tenho justificativa. Não mesmo. E sabe o que é pior? Você provou que todas as pessoas que disseram que eu não era boa o suficiente para você estavam certas. Sofia, isso não é verdade.
É verdade, sim, porque se você realmente me conhecesse, se realmente acreditasse em mim, jamais teria duvidado. Nem por um segundo. O silêncio que se seguiu foi pesado. Mateus olhava para o chão, claramente lutando para encontrar as palavras certas. O que posso fazer para consertar isso?, perguntou finalmente. Nada, respondeu Sofia, e sua voz estava mais triste que raivosa agora.
Algumas coisas não têm conserto, Mateus. Confiança quebrada é como um vaso estilhaçado. Você pode colar os pedaços, mas as rachaduras sempre vão estar lá. Então é isso? Acabou. Sofia olhou para o homem por quem havia se apaixonado perdidamente. Mesmo ferida e desiludida, ainda sentia algo forte por ele, mas não era suficiente. É. Acabou.
Mateus assentiu lentamente. E seu emprego? Você precisa trabalhar. Não quero sua caridade. Nunca quis. Vou me virar sozinha como sempre fiz. Sofia não é caridade. Você é boa no que faz. Mateus, sai da minha casa, por favor. Ele hesitou por mais um momento. Depois caminhou em direção à porta. Antes de sair, se virou uma última vez.
Sofia. O quê? Eu te amo. Sei que você não acredita mais. Sei que estraguei tudo, mas eu realmente te amo. Sofia sentiu lágrimas queimar em seus olhos, mas manteve a voz firme. Às vezes, o amor não é suficiente. Depois que ele saiu, Sofia se trancou no banheiro e chorou até não ter mais lágrimas.
Gabriel bateu na porta várias vezes, mas ela pediu para ficar sozinha. Naquela noite no jantar, Gabriel tentou abordar o assunto delicadamente. Mana, você tem certeza de que está fazendo a coisa certa? Tenho. Por quê? É só que ele parecia realmente arrependido. E se descobriu a verdade sobre o Fernando, Gabriel, o problema não é ele ter descoberto a verdade, o problema é ele não ter acreditado em mim desde o início.
Sofia mexeu a comida no prato sem apetite. Relacionamento sem confiança não funciona. Mas as pessoas cometem erros, né? Até você já cometeu erros comigo. Sofia olhou para o irmão. Que tipo de erro? Lembra quando você achou que eu estava faltando aula porque encontrou aquele bilhete na minha mochila? Você me acusou sem nem deixar eu explicar que era sobre uma apresentação especial. Sofia se lembrou.
havia sido um malentendido bobo, mas ela realmente havia duvidado de Gabriel sem ouvir sua versão. Isso é diferente, Gabi. É porque da minha perspectiva você cometeu um erro baseado em evidência falsa. Percebeu o erro, pediu desculpas e seguimos em frente. A analogia do irmão a incomodou mais do que gostaria de admitir.
O que você está tentando dizer? Estou tentando dizer que talvez vha a pena pensar se o orgulho não está falando mais alto que o coração. Seis meses se passaram desde que Sofia saíra da Aerossul. Ela havia conseguido emprego em uma pequena empresa de contabilidade no centro de São Paulo, ganhando menos da metade do que recebia como assistente de Mateus. Mas era trabalho honesto.
Gabriel havia se adaptado bem ao tratamento da diabetes e estava no último ano do ensino médio estudando intensamente para o vestibular. Ele ainda mencionava Mateus ocasionalmente, perguntando se tinha notícias dele, mas ela sempre mudava de assunto. Era uma manhã de terça-feira quando Sandra, a antiga colega do RH, apareceu na empresa onde Sofia trabalhava.
Sandra? Sofia ficou surpresa ao vê-la na recepção. O que você está fazendo aqui? Preciso falar com você. É importante. Elas saíram para almoçar em uma lanchonete próxima. Sandra parecia nervosa, mexendo o café sem parar. Sofia, preciso te contar uma coisa sobre o que aconteceu na Aerosul. Sandra, isso já passou. Não quero mais saber.
Você precisa saber. É sobre o Mateus. Sofia suspirou. O que tem o Mateus? Ele não está bem. Desde que você saiu, ele mudou. Como assim mudou? Sandra hesitou. Ele demitiu o Fernando uma semana depois que você saiu. Mas não foi só isso. Ele ficou obsecado em provar sua inocência.
Passou meses investigando, contratou detetives particulares, processou a Sky Brasil. E daí, Sofia, ele descobriu que o Fernando estava planejando isso há meses, que a Paloma foi coagida a participar, que tudo foi uma armação elaborada para separá-los. Sofia sentiu um nó no estômago. Isso não muda nada. Não muda, Sofia.
O homem está destruído, não sai do escritório, não tem vida social, trabalha 20 horas por dia. A empresa está indo bem, mas ele ele está defininhando. Sandra, por que está me contando isso? Porque você ainda o ama e ele ainda ama você. Sofia baixou os olhos. Às vezes o amor não é suficiente. Bobagem. Amor verdadeiro é raro, Sofia. Jogar fora por orgulho é burrice.
Não é orgulho, é autopreservação. Sandra suspirou. Tudo bem, mas tem outra coisa que você precisa saber. O quê? Gabriel foi visitar o Mateus na empresa mês passado. Sofia quase derrubou o copo de suco. O quê? Como assim, Gabriel? Foi? Ele foi sozinho.
Disse que queria conversar com o Mateus sobre universidade, mas na verdade foi falar sobre você. Que direito ele tinha de o direito de um irmão que ama você e quer ver você feliz? Sandra se inclinou para frente. Sofia, seu irmão é um jovem sábio. Talvez devesse escutar o que ele tem a dizer. Naquela noite, Sofia confrontou Gabriel assim que chegou em casa.
Gabriel Santos Silva, que história é essa de você ir na Aerossul? Gabriel estava fazendo lição na mesa da cozinha e não pareceu surpreso com a pergunta. Ah, você descobriu? Claro que descobri. O que deu em você? Gabriel pousou a caneta e olhou para ela. Mana, você não está feliz há seis meses? Estou sim. Está não.
Você trabalha, volta para casa, assiste TV e vai dormir. Nos fins de semana, fica deitada no sofá lendo revista. Você não sai, não ri, não vive. Estou me recuperando. Está se punindo e punindo o Mateus também. Sofia se sentou pesadamente na cadeira. Gabriel, você não entende a situação. Entendo sim.
Vocês se amam, cometeram erros e agora estão sendo teimosos demais para se perdoarem. Eu não tenho nada para perdoar. Eu fui a vítima nessa história. Fui. Mas ser vítima não significa que você não pode escolher seguir em frente. Sofia ficou em silêncio, processando as palavras do irmão. O que vocês conversaram? perguntou. Finalmente, “Falamos sobre você, sobre como vocês eram felizes juntos, sobre como você mudou desde que saiu da empresa e o que ele disse, que cometeu o pior erro da vida dele, que se pudesse voltar no tempo, faria tudo diferente e que
respeitaria sua decisão de não querer mais nada com ele, mas que nunca deixaria de te amar”. Sofia sentiu lágrimas queimar em seus olhos. Gabriel, você não deveria ter feito isso. Devia sim, porque vocês dois são burros demais para perceberem que estão desperdiçando algo lindo por causa de orgulho.
Não é orgulho. Então, o que é medo? A pergunta atingiu Sofia como um soco. Medo de quê? Medo de confiar de novo? Medo de ser feliz? Medo de admitir que errar é humano e que amor verdadeiro sobrevive aos erros. Naquela noite, Sofia ficou acordada pensando nas palavras de Gabriel.
Será que ele tinha razão? Será que estava sendo teimosa demais? Ela pensou em Mateus, em como ele havia cuidado de Gabriel no hospital, em como a fazia rir, em como seus olhos brilhavam quando a olhava. Pensou no beijo deles no Rio de Janeiro, nas promessas sussurradas, nos sonhos compartilhados.
Depois pensou na dor que sentira quando ele duvidou dela, na sensação de traição, no vazio dos últimos seis meses, amor ou medo, perdão ou autopreservação. Por mais que tentasse, não conseguia chegar a uma resposta clara. Era sábado de manhã quando Sofia decidiu levar Gabriel para escolher roupas novas para a formatura do ensino médio. Eles estavam no shopping Ibirapuera, procurando um terno adequado ao orçamento apertado, quando Gabriel subitamente parou no meio do corredor. Mana, olha quem está ali.
Sofia seguiu o olhar de Gabriel e sentiu o chão sumir sob seus pés. Mateus estava saindo de uma loja acompanhado de uma mulher loira e elegante que ela não reconhecia. Eles conversavam animadamente e a mulher tocou o braço dele de forma íntima. “Vamos embora”, murmurou Sofia, tentando se esconder atrás de uma coluna, mas era tarde demais. Mateus a havia visto.
Seus olhos se encontraram por um momento, através da multidão de pessoas, e Sofia viu surpresa, dor e algo mais que não conseguiu identificar em seu olhar. Sofia. Mateus começou a caminhar em direção a eles, deixando a mulher loira para trás. “Gabriel, vamos”, disse Sofia urgentemente.
“Mana, não seja infantil, Gabriel”. Mas Mateus já havia chegado perto o suficiente para cumprimentar Gabriel. “Gabriel, como vai? Está mais alto.” “Oi, Mateus, estou bem. Que você?” Sofia notou como Mateus parecia diferente, mais magro, com olheiras evidentes, embora ainda mantivesse a postura elegante de sempre. “Eu estou bem.” Mateus
olhou para Sofia. “Oi, Sofia. Mateus.” Ela manteve o tom neutro, mas seu coração estava disparado. Um silêncio constrangedor se instalou. A mulher loira se aproximou claramente curiosa. “Mateus, quem são seus amigos?”, perguntou ela, sorrindo polidamente. Sofia sentiu uma pontada de algo que não queria nomear como ciúme. Ah, desculpe. Carolina, estes são Gabriel e Sofia.
Sofia, este é Carolina, minha namorada, completou Carolina, estendendo a mão para Sofia. Muito prazer. Sofia apertou a mão de Carolina mecanicamente, sentindo como se tivesse sido atingida por um raio. Namorada. Claro, seis meses era tempo suficiente para seguir em frente. Prazer, conseguiu murmurar.
Gabriel, percebendo atenção, tentou amenizar. Mateus, consegui passar na primeira fase da Poli. Vou fazer engenharia aeronáutica mesmo. Parabéns. Sabia que conseguiria. O sorriso de Mateus foi genuíno, mas Sofia notou como ele evitava olhar diretamente para ela. “Bom, nós temos que ir”, disse Sofia. abruptamente. Gabriel, vamos.
Sofia, espera disse Mateus. Podemos conversar um minuto? Não temos nada para conversar. Temos sim, por favor. Carolina franziu a testa claramente incomodada. Mateus, nosso almoço. Pode ir na frente. Eu alcanço você no restaurante em 5 minutos. Carolina hesitou, depois assentiu. Está bem, mas não demorem. Ela se afastou, lançando um olhar avaliador para Sofia.
Gabriel, pode nos dar um minuto?”, pediu Mateus. Gabriel olhou para Sofia, que assentiu relutantemente. “Vou ver aqueles tênis ali. Qualquer coisa me chamam.” Ele se afastou, mas Sofia sabia que estava observando de longe. “Você está bem?”, perguntou Mateus assim que ficaram sozinhos.
“Estou ótima, vivendo minha vida. Sofia, eu não precisa explicar nada. Você seguiu em frente. É natural.” Mateus passou a mão pelos cabelos. O gesto familiar que sempre a desarrava. Não é o que você está pensando. Não estou pensando nada. Sua vida não é mais problema meu. Carolina é é complicado. Mateus, você não me deve explicações.
Você está livre para namorar quem quiser. Você está com alguém? A pergunta saiu mais brusca que ele pretendida. Sofia olhou nos olhos dele. Por um momento, pensou em mentir, dizer que sim, que estava feliz com outro homem. Mas não conseguiu. Isso não importa. Importa para mim. Não deveria. Você tem namorada. Mateus ficou em silêncio por um momento.
Sofia, não passou um dia em que eu não pensasse em você. Não uma hora em que eu não me arrependesse do que fiz. Mateus, não faz isso. Preciso que saiba. Preciso que entenda que que o quê? que você sente minha falta, mas está com outra pessoa? Que se arrepende, mas seguiu em frente. A voz de Sofia subiu ligeiramente. Mateus, eu superei. Você deveria fazer o mesmo.
Você superou? A pergunta direta a desestabilizou. Superei. Então por que suas mãos estão tremendo? Sofia olhou para baixo e percebeu que ele estava certo. Rapidamente entrelaçou os dedos para esconder o tremor. Estou com pressa. Carolina está esperando você. Mateus deu um passo mais perto. Sofia, se eu pudesse voltar no tempo, mas não pode. E eu não posso mais confiar em você.
Então não importa o que sente ou deixa de sentir. E se eu provar que mudei, que aprendi? Sofia riu, mas não havia humor no som. Mateus, você tem uma namorada. Esta conversa é inadequada. Você tem razão. Mateus recuou. Desculpe. Não deveria ter. Não deveria. Sofia respirou fundo. Gabriel, vamos.
Quando se afastaram, Sofia pode sentir os olhos de Mateus sobre ela até desaparecerem na multidão. No táxi de volta para casa, Gabriel manteve silêncio por alguns minutos antes de comentar. Ele não parecia feliz. pareceu feliz o suficiente com a namorada. Mana, você viu como ele olhou para você? Como ficou quando te viu, Gabriel? Chega. O Mateus seguiu em frente. Eu segui em frente.
Ponto final. Se vocês dois seguiram em frente, porque ambos pareciam pessoas que acabaram de ver um fantasma? Sofia não respondeu. Não confiava na própria voz. Naquela noite, ela ficou acordada, repassando cada segundo encontro. A aparência abatida de Mateus, a forma como ele a olhava, como sua voz tremeu quando disse que pensava nela todos os dias.
E Carolina, bonita, elegante, claramente do mesmo mundo social de Mateus, tudo que Sofia nunca seria. Talvez fosse melhor assim. Talvez Mateus merecesse alguém que não trouxesse complicações para sua vida. Mas então por doía tanto? Na segunda-feira seguinte, ao encontro no shopping, Sofia estava no trabalho tentando se concentrar nos relatórios financeiros quando a recepcionista a chamou. Sofia, tem uma mulher aqui que quer falar com você.
diz que é sobre um assunto pessoal importante. Sofia desceu e encontrou Carolina, a namorada de Mateus, esperando na recepção da pequena empresa de contabilidade. Ela parecia deslocada no ambiente simples, com seu tier caro e bolsa de grife. “Podemos conversar em particular?”, perguntou Carolina, intrigada e ligeiramente nervosa, Sofia a levou para uma sala de reuniões vazia.
“O que você quer?”, perguntou Sofia diretamente. Carolina se sentou elegantemente, cruzando as pernas. Quero conversar sobre Mateus. Não tenho nada para falar sobre seu namorado. Ele não é meu namorado. Sofia piscou confusa. Como assim? Sábado vocês estavam Sábado foi nossa terceira saída e provavelmente a última. Carolina suspirou.
Sofia, preciso te contar algumas coisas que Mateus nunca contaria. Eu não quero ouvir. Você precisa ouvir pelo bem de vocês dois. Carolina se inclinou para a frente. Mateus me contratou. Te contratou? Como assim? Ele me contratou para ser sua acompanhante em eventos sociais. Não é nada romântico. É trabalho.
Sofia sentiu como se tivesse levado um soco. Trabalho. Mateus está sob pressão constante da família para se casar. A mãe dele não para de arranjar encontros, de apresentar candidatas adequadas. Então, ele me contratou para acompanhá-lo e manter as pessoas satisfeitas. Isso não faz sentido. Faz sim. Mateus está profundamente apaixonado por você.
Qualquer pessoa que passar 5 minutos com ele consegue ver isso, mas ele acredita que você nunca vai perdoá-lo. Então, está tentando seguir em frente de uma forma que não comprometa ninguém. Sofia ficou em silêncio, processando a informação. Por que está me contando isso? Carolina sorriu tristemente. Porque sou terapeuta especializada em relacionamentos e porque às vezes trabalho como acompanhante social para homens que precisam de uma presença feminina em eventos, mas não querem relacionamentos reais. Então vocês nunca nunca nada.
Ele me paga para acompanhá-lo ao teatro. Jantares de negócios, eventos familiares, é estritamente profissional. Carolina fez uma pausa. Sofia, você precisa saber de outras coisas também. Que coisas? Mateus não está bem. Ele trabalha obsessivamente, não tem vida social, não dorme direito. Está se punindo por ter perdido você.
Como você sabe disso? Porque ele falou sobre você durante todo o nosso encontro de sábado. Contou toda a história, o vazamento de informações, como foi manipulado pelo Fernando, como destruiu a coisa mais importante da vida dele por medo e insegurança. Sofia sentiu lágrimas queimar em seus olhos. Isso não muda o que aconteceu. Não muda.
Mas, Sofia, as pessoas cometem erros. Erros grandes, dolorosos, que ferem quem amamos. A questão é: esses erros definem para sempre quem somos? Mateus preferiu acreditar nas mentiras do Fernando. Mateus estava aterrorizado, apaixonado pela primeira vez na vida, vulnerável e alguém plantou evidências convincentes contra a pessoa que amava.
Ele reagiu com medo em vez de fé. E isso justifica? Não justifica, mas explica. Carolina se inclinou mais para a frente. Sofia. Você já cometeu algum erro que feriu alguém que ama? Sofia pensou em Gabriel, em todas as vezes que havia sido dura demais com ele, por medo de perdê-lo, por desespero de não dar conta de criá-lo sozinha. Já.
E como se sentiria se essa pessoa nunca te perdoasse, se ela jogasse fora todo o amor que vocês construíram por causa de um momento de fraqueza? Sofia baixou os olhos. Eu entenderia. Entenderia, mas não ficaria devastada? ficaria. Carolina assentiu. Sofia, Mateus me contou sobre Gabriel, sobre como vocês são família, contou sobre o hospital, sobre como você cuida do seu irmão com amor incondicional.
Você acredita no poder do perdão quando se trata de família? Família é diferente? É. Ou amor verdadeiro cria família? O silêncio que se seguiu foi longo. Sofia sentia sua resistência se desfazendo pedaço por pedaço. Carolina, por que está fazendo isso? Qual o seu interesse nisso? Meu interesse é profissional e pessoal.
Profissionalmente odeio ver pessoas jogarem fora relacionamentos que podem ser salvos pessoalmente. Conheci Mateus há três meses e nunca vi ninguém tão perdido de amor. E se eu tentasse de novo e ele me ferisse outra vez? E se você não tentasse e passasse o resto da vida se perguntando: “E se?” Naquela tarde, Sofia saiu do trabalho com a cabeça confusa.
Tudo que Carolina havia dito ecoava em sua mente. Mateus não estava com outra mulher. Ele estava sofrendo tanto quanto ela, mas ainda havia a questão da confiança. Seria possível reconstruir algo que havia sido tão profundamente abalado? Em casa, Gabriel imediatamente percebeu seu estado alterado. O que aconteceu hoje? Sofia contou sobre a visita de Carolina.
Gabriel ouviu tudo em silêncio. Então ele não tem namorada, disse Gabriel quando ela terminou. Não. E está sofrendo? Parece que sim. E você ainda está sofrendo? Sofia olhou para o irmão. Tão jovem, mas sempre tão perspicaz. Todos os dias, Gabi, todos os dias.
Então, por que vocês não param com essa bobagem e voltam a ficar juntos? Porque é complicado. Não é complicado. Vocês se amam. Ele cometeu um erro. Você pode perdoar ou não. Simples assim. Gabriel, você não entende. Entendo sim. Você está com medo de se machucar de novo, mas mana olha ao seu redor. Gabriel gesticulou para a casa pequena e simples. Você já passou por coisa muito pior que um coração partido e sobreviveu.
E se sobreviveu sendo abandonada, ferida, sozinha, não sobreviveria sendo amada, mesmo que imperfeita? As palavras de Gabriel atingiram Sofia como um raio. Ela havia sobrevivido à morte dos pais, à pobreza, a responsabilidade de criar um irmão adolescente. Havia construído uma vida nova do zero. Por que ter medo de reconstruir um amor? E se der errado de novo? E se der certo? Naquela noite, Sofia tomou uma decisão.
Era hora de parar de fugir do medo e enfrentar a possibilidade de ser feliz novamente. Mas primeiro precisava saber se Mateus realmente havia mudado, se realmente aprendera com o erro. Havia apenas uma forma de descobrir. Sofia passou a semana seguinte, planejando cuidadosamente o que faria. Na quinta-feira ligou para Sandra. Sandra, preciso de um favor. Qualquer coisa.
Quero saber se Mateus vai estar no escritório na sexta-feira à tarde. Vai. Por quê? Preciso falar com ele. Mas Sandra não conta para ninguém que liguei, tá? Nem para ele. Claro. Sofia, posso perguntar? Ainda não sei o que vou fazer, mas preciso tentar. Na sexta-feira, Sofia saiu do trabalho mais cedo e pegou o metrô até a vila Olímpia.
Parada em frente ao prédio da Aeroçul, sentiu uma mistura de nervosismo e determinação que não sentia há meses. O guarda da portaria a reconheceu. Dona Sofia, quanto tempo? Veio visitar o pessoal? Vim falar com o Senr. Santos. Ele está? Está sim. 29º andar, como sempre.
No elevador, o mesmo elevador onde tudo havia começado, Sofia respirou fundo. Não sabia exatamente o que diria, mas sabia que precisava dizer alguma coisa. A secretária atual de Mateus, uma mulher de meia idade que Sofia não conhecia, a recebeu educadamente. Ele está em reunião, mas deve sair em alguns minutos. Quer esperar? Sofia assentiu e se sentou na área de espera. Dali podia ver o escritório de Mateus através das paredes de vidro.
Ele estava numa videoconferência gesticulando enquanto falava. Parecia exatamente como ela se lembrava, exceto pelas olheiras e pela expressão mais séria. Quando a reunião terminou, Mateus saiu do escritório concentrado em alguns papéis. quando ergueu os olhos e a viu, parou completamente.
Sofia, oi posso falar com você? Mateus olhou ao redor, notando os olhares curiosos dos funcionários que passavam. Claro. Vamos para o meu escritório. Sofia entrou num ambiente familiar. Nada havia mudado. A mesma vista do rio Pinheiros, a mesma mesa de Mógno, os mesmos quadros na parede. “Quer sentar?”, ofereceu Mateus. Prefiro ficar de pé. Eles se olharam em silêncio por um momento.
Sofia tentava encontrar as palavras certas, enquanto Mateus claramente não sabia o que esperar. “Conversei com Carolina”, disse Sofia finalmente. Mateus fechou os olhos. “Ah, por que não me contou que ela não é sua namorada? Porque não faria diferença. Você deixou claro que não quer mais nada comigo. Deixei. Mas Sofia respirou fundo. Mateus, tenho pensado muito sobre nós, sobre o que aconteceu.
E e percebi que talvez eu tenha sido tão teimosa quanto você foi covarde. Mateus a olhou com surpresa. Como assim? Você cometeu um erro terrível quando duvidou de mim. me feriu profundamente, quebrou minha confiança. Sofia deu um passo em sua direção, mas quando descobriu a verdade, tentou se desculpar, tentou consertar e eu eu me recusei a ouvir. Sofia, você tinha todo o direito de estar magoada.
Tinha, mas também tenho o direito de escolher perdoar. O silêncio que se seguiu foi carregado de expectativa. E você escolhe? Perguntou Mateus. Sua voz quase um sussurro. Depende do quê? Sofia olhou nos olhos dele, os mesmos olhos castanhos que a haviam conquistado meses atrás, mas agora carregados de dor e esperança. De você conseguir me prometer uma coisa. Qualquer coisa.
Me promete que da próxima vez que surgir uma dificuldade, um problema, uma situação que teste nossa relação, você vai confiar em mim primeiro, que vai me dar o benefício da dúvida antes de acreditar em qualquer outra pessoa? Mateus se aproximou mais. Sofia, eu prometo. Com minha vida, prometo. Nunca mais vou duvidar de você.
E eu prometo tentar confiar de novo, tentar não deixar o medo do passado destruir nosso futuro. Isso significa que significa que quero tentar de novo, se você quiser. A resposta de Mateus foi se aproximar e tomá-la nos braços, girando-a no ar como se ela fosse feita de algo precioso e frágil. Eu quero, mais que tudo na vida. Eu quero. Quando ele a colocou no chão, seus rostos estavam próximos o suficiente para compartilhar o mesmo ar.
Sofia, eu te amo. Nunca parei de te amar. Eu também te amo, por isso doeu tanto. O beijo que se seguiu foi diferente de todos os anteriores. Não tinha apenas paixão, tinha perdão, esperança, a promessa de recomeços. Quando se separaram, Mateus segurou o rosto dela entre as mãos.
Como fazemos isso? Como recomeçamos? Um dia de cada vez, com paciência, honestidade e muita conversa. E Gabriel, como ele vai reagir? Sofia sorriu. Gabriel vai ficar feliz. Ele nunca parou de gostar de você. Na verdade, ele foi quem me fez perceber que estava sendo teimosa. Seu irmão é mais sábio que nós dois juntos. É mesmo? Mateus a puxou para mais perto.
Sofia, eu quero fazer as coisas direito desta vez. Quero conhecer melhor sua família, seus amigos, sua vida fora daqui. Quero que você conheça pessoas importantes para mim, pessoas que vão te amar tanto quanto eu amo. E sua mãe? Mateus suspirou. Minha mãe vai ter que aprender a me aceitar como sou. E se ela não conseguir aceitar a mulher que escolhi, o problema é dela, não nosso.
Não quero causar conflitos na sua família, Sofia. Você não causa conflitos. Você traz alegria, amor, propósito. Qualquer pessoa que não conseguir ver isso é que tem problema. Eles conversaram por mais uma hora, planejando como seria o recomeço. Iriam devagar, reconstruindo a confiança passo a passo.
Sofia voltaria a trabalhar na Aeroçul, mas em uma posição diferente, como diretora de desenvolvimento estratégico, cargo que havia conquistado por mérito próprio. Quando Sofia estava saindo, parou na porta do escritório. Mateus. Sim. Obrigada. Por quê? por não ter desistido de nós, por ter esperado. Eu esperaria para sempre.
Seis meses depois, Sofia estava em seu novo escritório na Aeroul, quando Gabriel apareceu para visitá-la. Ele estava no primeiro semestre de engenharia aeronáutica na poli e radiante de felicidade. Mana, como vai a preparação do casamento? Sofia sorriu olhando o anel de noivado em seu dedo.
Mateus havia pedido sua mão em casamento no mesmo restaurante do Rio de Janeiro, onde haviam jantado pela primeira vez. Está quase tudo pronto. Você tem certeza de que quer fazer o discurso na cerimônia? Tenho, tenho muita coisa para agradecer a vocês dois, a nós dois, a você por terme ensinado sobre amor incondicional e perdão, e ao Mateus por ter te ensinado que merece ser feliz.
Sofia abraçou o irmão, sentindo lágrimas de gratidão nos olhos. Gabriel, você sabe que nada disso teria sido possível sem você, né? Você que me fez perceber que estava sendo teimosa. Eu só disse o óbvio. Vocês que tiveram coragem de recomeçar. Mateus entrou no escritório nesse momento, carregando duas xícaras de café.
Café brasileiro para a mulher mais linda da empresa disse ele, beijando Sofia na testa. E oi, cunhado. Oi, cunhado. Gabriel sorriu. Já terminaram os preparativos para a lua de mel? Terminamos. Três semanas na Europa. Mateus se sentou na beira da mesa de Sofia. E você já decidiu sobre o estágio de férias? Decidi. Vou aceitar a proposta da Aerossul.
Quero trabalhar no departamento de projetos especiais. Excelente escolha. Você vai adorar. Sofia observa os dois homens mais importantes de sua vida, conversando animadamente sobre o futuro. Um ano antes, ela estava desmaiando de fome em um elevador. Agora estava planejando casamento com o homem que amava, vendo seu irmão realizar sonhos que pareciam impossíveis.
Às vezes, os finais felizes aconteciam na vida real. Sofia, disse Mateus, interrompendo seus pensamentos. Sim. Em que está pensando? em como a vida pode mudar completamente em pouco tempo, para melhor ou para pior. Sofia olhou para Mateus, depois para Gabriel, depois para o anel em seu dedo e a vista da cidade que um dia a intimidara e agora a acolhia, definitivamente para melhor.
Dois anos depois, Sofia estava na varanda de sua nova casa, um sobrado aconchegante no bairro da saúde, longe do luxo dos jardins, mas perto o suficiente do centro para ser prático, embalando os gêmeos que haviam nascido há três meses. Helena dormia tranquilamente em seus braços enquanto Thago cochilava no berço ao lado.
Gabriel, agora no terceiro ano de engenharia e estagiário fixo da Aerossul, estava na sala ajudando Mateus a montar um móvel para o quarto das crianças. Sofia, chamou Mateus da sala, você pode vir aqui um minuto? Ela colocou Helena no berço e foi ver o que eles queriam. Encontrou Mateus e Gabriel ao lado de um enorme quadro coberto por um pano.
O que é isso? Um presente”, disse Gabriel sorrindo misteriosamente. Mateus puxou o pano, revelando uma foto ampliada e emoldurada. Era a foto deles quatro na maternidade, no dia que os gêmeos nasceram. Sofia, cansada, mas radiante, segurava Helena, Mateus segurava Thaago.
Gabriel estava entre eles, sorrindo orgulhoso para lembrar do dia em que nossa família ficou completa disse Mateus. Sofia sentiu lágrimas nos olhos. Está lindo. Obrigada. Na verdade, disse Gabriel, tem uma coisa escrita atrás. Sofia virou o quadro. No verso em letra elegante estava escrito: “Às vezes os milagres começam com um desmaio em um elevador.
Às vezes o amor verdadeiro sobrevive a erros e orgulho. Às vezes, as famílias se formam das maneiras mais inesperadas. Esta é a história de como três pessoas se tornaram cinco e como o amor transformou impossibilidades em realidades. São Paulo, 2025. Quem escreveu isso? Perguntou Sofia. Eu, admitiu Mateus.
Achei que nossos filhos, quando crescerem deveriam saber como seus pais se conheceram. Sofia abraçou o marido, depois o irmão, sua família, sua vida, seu milagre cotidiano. Do lado de fora, São Paulo continuava sua correria infinita, milhões de pessoas vivendo seus dramas, sonhos e desilusões.
Mas ali naquela casa simples, mas cheia de amor, Sofia sabia que havia encontrado algo que nenhum dinheiro poderia comprar, a certeza de estar exatamente onde estar. Gabriel brincava com os sobrinhos no tapete da sala. Mateus organizava papéis para uma viagem de negócios. Os bebês dormiam pacificamente nos berços.
E Sofia observava tudo isso com um coração tão cheio de gratidão que às vezes doía de felicidade. Mateus, chamou ela suavemente. Sim, obrigada. Por quê? Dessa vez por quê? Por ter acreditado em nós quando nem eu acreditava mais. Mateus largou os papéis e se aproximou, envolvendo-a nos braços. Obrigado você por ter me ensinado que o amor verdadeiro vale qualquer luta.
E ali, abraçados no meio da tarde paulistana, com seus filhos dormindo e Gabriel cantarolando baixinho enquanto estudava, Sofia finalmente entendeu o que significava estar em casa. Não importava o endereço, o tamanho da casa ou o valor das coisas dentro dela. Casa era onde o coração encontrava paz.
Era onde o amor crescia mesmo nos momentos difíceis. Era onde o perdão curava feridas e onde os sonhos se tornavam realidade. E Sofia estava em casa. M.