Saia da minha casa, velho. A voz de Guilherme cortou o ar da sala luxuosa, mais fria que o mármore sob seus pés. As malas de Osvaldo, simples e gastas, foram atiradas na calçada, e a porta de madeira maciça bateu com o estrondo final, selando o destino.
Esta é a dor da traição, a dor de ser descartado por aqueles que você mais ama, de se sentir um fardo, uma vergonha, justamente para o filho que você criou com tanto sacrifício. Quantas pessoas não se sentem assim, invisíveis aos olhos da própria família. Osvaldo, com suas roupas simples de criador de gado, seu chapéu surrado e suas mãos calejadas pelo trabalho, parecia um peixe fora d’água naquela mansão de luxo.
Ele era o passado que Guilherme queria apagar, até que a verdade, como sempre, decide aparecer. Guilherme acreditava ter tudo: a mansão, a empresa, a esposa bonita e a vida de luxo. Mal sabia ele que o velho que acabará de expulsar não era apenas seu pai. O velho era o bilionário silencioso, o verdadeiro dono de tudo. A mansão era de Osvaldo. A empresa que Guilherme presidia pertencia a Osvaldo.
Nesta história, você vai ver o que acontece quando a arrogância bate de frente com a verdadeira força. Você vai descobrir como esse pai, expulso e humilhado, vai dar a volta por cima e ensinar ao filho a lição mais dura de sua vida. Se você gosta de histórias de reviravolta e justiça, já deixa o seu gostei neste vídeo para me ajudar a trazer mais histórias assim.
E comente aqui embaixo seu nome e de qual cidade você está me assistindo para eu saber até onde essa história chegou. Eu leio todos os comentários e claro, se inscreva no canal e ativa o sininho, porque você não vai querer perder o final impressionante desta história. Agora, prepare seu coração. A história começa agora. A festa estava marcada para sábado à noite.

Não era uma festa qualquer, era o evento que Sabrina, a esposa de Guilherme, vinha planejando há meses. Seria sua grande afirmação social, a noite em que provaria a todos os seus novos amigos ricos que ela pertencia à aquele mundo. E naquela manhã de quinta-feira, o único obstáculo para sua noite perfeita estava sentado na varanda dos fundos, comendo um pedaço de pão com queijo. Osvaldo gostava daquela varanda.
dava para o imenso jardim, mas se ele olhasse bem, conseguia ver além dos muros altos para as colinas distantes que o lembravam de sua terra. Ele estava na cidade grande há se meses, desde que Guilherme insistiu que ele viesse morar na mansão. O senhor trabalhou demais. Pai, é hora de descansar no luxo que eu conquistei Guilherme dissera com um sorriso que não alcançava os olhos.
Na época, Osvaldo aceitou. Talvez fosse a saudade do filho, talvez fosse a esperança de que Guilherme, enfim, tivesse se tornado o homem que ele sempre quis que fosse. Mas o luxo era frio, a casa era grande demais, silenciosa demais, exceto quando Sabrina estava presente.
Ela entrou na varanda como um furacão, o celular pressionado contra a orelha. Eu não quero saber. O champanhe tem que ser daquela marca específica. O que você quer dizer com o não disponível? Ela gesticulava, andando de um lado para o outro, até que seus olhos pousaram em Osvaldo. Ele mastigava devagar, observando um pássaro no jardim.
Sabrina desligou o telefone abruptamente. Osvaldo, ela começou e ele não gostava de como ela dizia seu nome, sem o senhor que a idade e a posição de sogro mereciam. Você não pode ficar aqui. Osvaldo ergueu os olhos. Bom dia para você também, Sabrina. O sol está bonito hoje. Eu não estou brincando. Ela sebilou, aproximando-se. O perfume dela era forte, doce e enjoativo. É a festa.
Você não vai ficar aqui. Guilherme já deveria ter falado com você. Falado o quê? Eu gosto de festas, disse Osvaldo com simplicidade. Posso ajudar a assar uma carne se quiserem. Sabrina soltou uma risada que parecia um rosnado. Assar carne. Você acha que isso é um churrasco de fazenda? Pelo amor de Deus, Osvaldo, você vai nos embaraçar.
Você com essas suas roupas, esse seu jeito, você vai estragar tudo. O pão perdeu o gosto na boca de Osvaldo. Ele se levantou devagar, limpando as migalhas da calça de trabalho. Eu sou o pai do seu marido, menina. Tenha um pouco de respeito. Respeito. Ela cuspiu a palavra. Respeito se conquista. E você não fez nada para merecer o respeito deste círculo social.
Você é só um, um criador de gado, um caipira. Guilherme só te trouxe para cá por pena. A porta de vidro deslizou e Guilherme entrou na varanda. Ele estava de terno, pronto para ir à empresa. Viu o rosto vermelho da esposa e a postura rígida do pai. O que está acontecendo aqui?”, perguntou Guilherme, já parecendo cansado.
“Eu estou dizendo ao seu pai que ele não pode ficar para a festa de sábado”, disse Sabrina, cruzando os braços. “Ele vai nos fazer passar vergonha, Guilherme. A mulher do banqueiro vai estar aqui.” Guilherme olhou para o pai e Osvaldo viu a hesitação, a fraqueza. Viu o homem que ele criou escolher o brilho falso em vez do sangue. “Pai”, começou Guilherme, ajeitando a gravata. Sabrina tem razão.
Talvez, talvez fosse melhor o senhor tirar umas férias. Férias? Repetiu Osvaldo, a voz baixa. Férias de quê, meu filho? De ver você. Não, pai, não é isso. Guilherme tentou se explicar, mas Sabrina interrompeu. Claro que é isso. Olha para ele, Guilherme. Ele não se encaixa. Ele anda pela casa com botas sujas de terra. Ele fala com os empregados como se fossem amigos dele. Ele é um constrangimento.
Eu sou um constrangimento, Osvaldo perguntou, o coração começando a pesar como chumbo. Eu, que te dei tudo. Eu, que trabalhei de sol a sol para que você pudesse estudar na melhor escola, para que você não precisasse sujar suas mãos como eu sujei. E eu sou grato por isso, pai.
De verdade, disse Guilherme, mas as coisas mudaram. Eu tenho uma posição agora. Eu sou um presidente de empresa. Eu tenho uma imagem. E sinceramente a imagem de filho de criador de gado não ajuda nos negócios. Foi um golpe físico. Osvaldo sentiu o ar lhe faltar. A imagem, a empresa, posição. Eram essas as palavras que importavam agora. A empresa. Osvaldo sussurrou.
Você se acha mesmo presidente daquela empresa? Eu sou o presidente”, gritou Guilherme, a frustração de meses vindo à tona. “Eu dirijo tudo, eu tomo as decisões. O senhor nem entenderia o que eu faço.” O senhor parou no tempo, pai, com suas vacas e seu pasto. “Guilherme, já chega”, interrompeu Sabrina, impaciente. “A decisão está tomada. Ou ele vai, ou eu vou, e se eu for, levo metade de tudo que você acha que tem.
” Guilherme empalideceu. Ele olhou para Sabrina, depois para Osvaldo, o pai, que representava o passado, o trabalho duro, a simplicidade, a esposa que representava o futuro, o status, o luxo. A escolha para Guilherme era óbvia. “Pai, por favor, faça suas malas”, disse Guilherme, a voz agora fria, sem emoção.
“Não torne isso mais difícil”. Osvaldo olhou de um para o outro. Ele não viu seu filho ali. Viu um estranho, um boneco vestido por uma mulher ambiciosa. Ele assentiu lentamente. Eu não tenho muito que arrumar. Ele se virou e foi para o pequeno quarto nos fundos da mansão que lhe haviam designado.
Pegou sua mala de couro gasta, a mesma que usará em sua lua de mel com a falecida esposa de Osvaldo. Colocou dentro dela suas poucas peças de roupa, um livro antigo e o porta-retrato dela. Quando voltou à sala, Guilherme estava ao telefone, já resolvendo negócios, como se nada tivesse acontecido. Sabrina estava no sofá, lixando as unhas. Eu estou pronto disse Osvaldo. Guilherme nem olhou para cima. Ótimo.
Eu chamei um carro de aplicativo para o senhor. Ele te levará para a rodoviária. O senhor pode voltar para a fazenda. É lá o seu lugar. Um carro de aplicativo? Repetiu Osvaldo. Sim, disse Sabrina sem levantar os olhos. Não íamos gastar motorista com isso. Osvaldo caminhou até a porta. Ele parou com a mão na maçaneta.
Guilherme, ele disse, o que é agora, pai? Disse Guilherme, irritado. Você vai se arrepender disso? Guilherme finalmente olhou para ele e havia desprezo em seus olhos. Eu duvido muito. O Senhor é um peso morto, Pai, e eu estou finalmente me livrando dele. Foi então que a raiva de Sabrina transbordou. Ela se levantou e pegou as malas do velho.
Ele ainda está aqui. Saia. Saia da minha casa. Ela abriu a porta e atirou as malas na calçada. Saia daqui, velho. Osvaldo olhou para o filho. Guilherme apenas desviou o olhar, voltando-se para a janela como um covarde. Osvaldo saiu. Ele pegou suas malas do chão. A porta bateu atrás dele. O som foi final. Ele ficou parado na calçada daquela rua arborizada e rica. O carro de aplicativo parou na frente dele.
O motorista perguntou: “Rodoviária?” Osvaldo respirou fundo ar da manhã. Ele sentiu a dor no peito, uma dor aguda de traição, mas por baixo da dor, algo mais antigo e mais forte começou a despertar. Uma frieza, uma resolução. Ele olhou para a mansão. “A minha mansão”, ele pensou. Ele pegou o seu celular simples do bolso. Não era um smartphone moderno, mas fazia o que precisava.
Ele discou um número de sua memória. Vicente, ele disse, a voz firme, sem um traço de tremor. Sou eu, Osvaldo. Houve uma pausa do outro lado. Patrão, o senhor está bem? Não é hora da sua ligação semanal. Eu não estou bem, Vicente, mas vou ficar”, disse Osvaldo. Escute, o menino me expulsou de casa. Silêncio. Então, a voz de Vicente agora dura como aço.
O que o senhor quer que eu faça? Osvaldo olhou para o portão da mansão. Está na hora, Vicente. O teste acabou. Ele falhou. O que eu começo primeiro, patrão, os bancos, as ações, a casa. Comece com tudo disse Osvaldo, e seu olhar era o de um predador. Cancele os cartões, congele as contas e eu quero um aviso de despejo naquela mesa até o final do dia. O menino acha que é presidente.
Vamos mostrar a ele o que acontece quando o dono de verdade volta para casa. Sim, senhor. Para onde devo mandar o seu carro particular? Osvaldo olhou para o carro de aplicativo que ainda esperava. Não precisa, eu pego esse aqui, mas mude o destino. Me leve para o Eliporto. Eu vou para minha casa de verdade, a fazenda, onde o trabalho é honesto e o respeito é real.
Ele entrou no carro simples, deixando para trás a vida de luxo que ele mesmo havia construído e que agora ele mesmo iria desmantelar. A porta do carro bateu, um som muito menos impressionante que o da porta da mansão, mas infinitamente mais poderoso. A primeira peça do dominó havia caído. O trajeto até o eliporto foi silencioso.
Osvaldo observava a cidade passar pela janela, uma selva de pedra e vidro que ele aprenderá a dominar, mas que nunca aprenderá a amar. O motorista do aplicativo, um homem de meia idade, com olhos cansados, olhava para Osvaldo pelo retrovisor, talvez se perguntando que um homem com roupas tão simples e uma mala tão gasta fazia indo para o eliporto mais exclusivo da cidade.
Mas Osvaldo não se importava com o que pensavam dele. Na verdade, essa fora sua maior força por todos esses anos. Ninguém nunca olhava para Osvaldo e via o homem que ele realmente era. Eles viam o criador de gado, viam o Caipira, o homem da terra. E era exatamente isso que ele queria. Ao chegar, ele pagou o motorista com uma nota amassada, agradeceu e saiu.
O seguranças na entrada do eliporto, acostumados a limusines e carros importados, ergueram as sobrancelhas. Mas antes que pudessem barrá-lo, um homem alto, de terno escuro impecável, saiu de uma porta lateral. Era Vicente. Vicente era o oposto de Osvaldo em aparência. Onde Osvaldo era rústico, Vicente era urbano. Onde Osvaldo usava botas, Vicente usava sapatos italianos polidos.
Mas em seus corações eles eram feitos do mesmo material. Vicente era filho de um antigo peão da fazenda de Osvaldo, um menino brilhante que Osvaldo viu potencial e decidiu apadrinhar. Pagou seus estudos nas melhores escolas do mundo e Vicente, em troca, deu a Osvaldo sua lealdade absoluta e uma mente afiada para os negócios.
Para o mundo, Vicente era o presidente de uma das maiores e mais discretas holdings de investimento do país. Para Osvaldo, ele era seu braço direito, seu executor. Senr. Osvaldo disse Vicente, com uma reverência respeitosa, pegando as malas do chão. Eu sinto muito pelo que aconteceu. Não sinta, Vicente, disse Osvaldo enquanto caminhavam pelo angar em direção a um helicóptero elegante e escuro.
Foi um teste, o último teste, e Guilherme falhou de forma miserável. Eles subiram na aeronave. O interior era de couro creme e madeira escura, luxo discreto. Assim que as portas se fecharam, o barulho da cidade foi abafado. Osvaldo afivelou o cinto, um gesto automático. O helicóptero subiu suavemente e logo a mansão onde ele for humilhado era apenas um ponto branco em um bairro verde.
Ele sempre foi fraco, disse Vicente, olhando para seus papéis. Mas eu nunca pensei que ele seria cruel. Ele não foi cruel”, corrigiu Osvaldo, olhando para a paisagem. Ele foi covarde. A crueldade foi dela, da Sabrina. Ele foi apenas o instrumento. E isso é pior. Um homem cruel pode ter seus próprios motivos.
Um homem covarde apenas obedece ao medo e Guilherme tem medo de não ser importante. Bem, ele está prestes a descobrir o que é não ser nada”, disse Vicente sombrio. “Como o senhor pediu? A partir das 9 da manhã, todos os cartões de crédito corporativos e pessoais vinculados às nossas contas foram bloqueados.
O saldo da conta pessoal dele, que é inflado por um bônus que nós depositamos foi zerado para cobrir despesas operacionais pendentes. Bom, disse Osvaldo, o gerente do banco dele, que por acaso responde a mim, foi instruído a não atender suas ligações. O mesmo vale para os fornecedores. A empresa que Guilherme preside é, na verdade, uma subsidiária de fachada.
Ela só existe porque nós da holding principal compramos seus produtos e garantimos seus contratos. A partir de hoje, a Holding não tem mais interesse em seus serviços. Osvaldo sorriu, um sorriso fino, quase triste. Ele vai pensar que é o mercado, que é má sorte. Ele vai pensar isso por cerca de duas horas”, continuou Vicente, “Até que ele tente usar a autoridade dele. Os diretores que respondem a ele, na verdade, respondem a mim.
Eles receberão um comunicado esta tarde informando sobre uma mudança de gestão. Guilherme não terá mais acesso nem ao prédio.” “E a mansão?” Ah, a mansão”, disse Vicente, permitindo-se um pequeno sorriso. “Essa é a minha parte favorita. A mansão, como o senhor sabe, está no nome da Holding, como um ativo de investimento.
Guilherme e Sabrina moravam lá sob um contrato de comodato, um empréstimo gratuito de propriedade que exigia apenas uma cláusula, o respeito e o cuidado com o patriarca da família, o senhor. O helicóptero voava agora sobre vastos campos verdes, a paisagem mudando da cidade para o campo.
“Essa cláusula foi quebrada hoje, às 8:15 da manhã”, disse Vicente, checando o relógio. O aviso de despejo, por quebra de contrato foi protocolado. Eles têm 24 horas para desocupar o imóvel. Uma equipe de segurança, contratada por nós, estará lá amanhã de manhã para garantir uma transição pacífica e proteger os ativos. Proteja as coisas da minha falecida esposa disse Osvaldo, a voz embargando pela primeira vez.
Sabrina estava jogando tudo fora. Eu sei disse Vicente gentilmente. Já enviei uma equipe separada ao local sob o pretexto de avaliar a segurança para a festa. Eles já retiraram e guardaram todos os itens pessoais do senhor e da senora Helena. Estão a salvo. Osvaldo fechou os olhos, um alívio percorrendo seu corpo. O retrato de Helena, o seu piano, os seus livros estavam seguros.
A raiva deu lugar a uma exaustão profunda. “Por que eu fiz isso, Vicente?”, perguntou Osvaldo ao vento. “Por que eu dei a ele tanto fingindo dar tão pouco?” Vicente guardou seus papéis. Ele conhecia essa história. O senhor queria que ele aprendesse o valor do trabalho. O senhor construiu um império do nada.
O senhor é um criador de gado. O fato de o seu gado ser o mais premiado do mundo e de suas fazendas serem as mais tecnológicas não muda a essência. O Senhor queria que Guilherme visse o homem, não o dinheiro. E ele só viu caipira”, lamentou Osvaldo. Ele teve vergonha. Vergonha da terra, vergonha das botas sujas, vergonha da fonte de onde tudo veio.
O helicóptero começou a descer. Abaixo deles não era uma fazendinha humilde, era um complexo vasto, mas discreto. Havia um centro de pesquisa genética bovina, painéis solares que se estendiam por hectares e um sistema de irrigação que era uma maravilha da engenharia. E no centro de tudo, uma casa de fazenda, grande, mas simples, confortável, a verdadeira casa de Osvaldo.
Quando pousaram, os funcionários da fazenda, homens e mulheres que trabalhavam com Osvaldo há décadas, vieram cumprimentá-lo, não com a formalidade dos empregados da cidade, mas com o respeito caloroso de amigos. Patrão Osvaldo, que surpresa boa, chegou mais cedo disse um homem robusto chamado Damião, o capatis. Resolvi uns problemas na cidade. Damião! Disse Osvaldo descendo do helicóptero e sentindo o cheiro da terra. Ele respirou fundo.
Era o cheiro de casa. Como estão as minhas meninas? A estrela está prestes a parir e o novo sistema de rastreamento genético que o senhor pediu chegou. Ótimo, Vicente. Você cuida da cidade. Eu vou cuidar do campo. Mantenha-me informado, especialmente da reação dele. Será um prazer, patrão disse Vicente.
Ele apertou a mão de Osvaldo. Bem-vindo de volta ao lar. Enquanto Vicente subia de volta ao helicóptero para retornar à sua guerra urbana, Osvaldo tirou o palitó que usava na cidade, arregaçou as mangas e caminhou em direção ao celeiro. Ele tinha um parto para supervisionar.
Enquanto isso, a centenas de quilômetros dali, em uma sala de reuniões de luxo, Guilherme tentava, pela terceira vez passar seu cartão corporativo para pagar o café da reunião. “Não aprovado”, dizia a máquina. Ele riu nervoso. Que estranho. Deve ser um problema no sistema do banco. Sabrina, em outra parte da cidade estava em uma boutique exclusiva, com os braços cheios de vestidos para a festa de sábado.
Na caixa, o cartão dela, uma extensão do de Guilherme, foi recusado. E o segundo? E o terceiro? Isso é impossível. Ela gritou para a vendedora. Você sabe quem eu sou? A vendedora subitamente não parecia saber. E pela primeira vez, Sabrina sentiu um arrepio de medo. A festa de sábado estava começando a parecer muito, muito distante.
O castelo que ela construiu estava prestes a ruir e ela nem sequer tinha visto a marreta que o atingiria. Guilherme voltou para a empresa bufando. O constrangimento na cafeteria foi apenas o começo. Sua secretária, uma mulher eficiente chamada Clara, que estava na empresa muito antes de Guilherme assumir a presidência, o recebeu com uma expressão neutra. Senr.
Guilherme, o gerente do seu banco ligou. Ele pediu para o senhor retornar e a transportadora principal ligou. Disseram que os caminhões de hoje não sairão até que uma fatura antiga seja paga. Fatura antiga? Que absurdo. Guilherme jogou sua pasta de couro cara sobre a mesa de Mogno. Eu pago tudo em dia e diga ao gerente do banco que ele me ligue de novo.
Eu não tenho tempo para essas bobagens. Mande o financeiro resolver isso. Eu tentei, senhor, disse Clara, calmamente. Mas o acesso do nosso setor financeiro aos fundos de pagamento parece estar restrito. Eles não conseguem aprovar a transação. Restrito. Como assim? Restrito? Eu sou o presidente. Eu aprovo. Ele rosnou, ligando seu computador.
Ele digitou sua senha. Acesso negado. Ele tentou de novo. Acesso negado. Um suor frio começou a brotar em sua testa. Clara, chame o pessoal de ti agora. O sistema está com problemas. Sim, senhor. Ela se virou para sair e clara, ele chamou. Ligue para minha esposa. Diga a ela que meu cartão deve estar com algum problema para ela usar o dela. Ela já ligou, senhor, três vezes.
O dela também não está passando. Ela parecia chateada. Guilherme sentiu o pânico subir pela garganta, mas o engoliu com raiva. Bobagem. É um problema no sistema central. Deve ser um ataque. Resolva isso. Enquanto isso, Sabrina estava vivendo seu próprio pesadelo.
Ela teve que deixar os vestidos na loja, sofrendo o olhar de desprezo da vendedora, que minutos antes a tratava como realeza. Ela entrou em seu carro de luxo, um presente de Guilherme, e tentou ligar para ele. Caixa postal. Ela dirigiu para casa, furiosa, com Guilherme, com o banco, com a vendedora. Ela precisava organizar a festa. A lista de convidados era elite da cidade.
Como ela poderia organizar qualquer coisa sem dinheiro? Ela chegou à mansão e viu algo estranho. Havia uma van de uma empresa de segurança estacionada em frente. E na sala de estar, onde ela planejava o layout das mesas, dois homens de terno conversavam com a governanta Marta. O que está acontecendo aqui? Sabrina exigiu entrando. Senhora! Começou Marta parecendo assustada. Esses homens disseram que são da empresa de segurança da casa.
Exato! Disse um dos homens alto e com rosto impassível. Estamos aqui a pedido dos proprietários para avaliar os itens de valor antes de um evento.” Sabrina relaxou um pouco, mas ainda estava irritada. proprietários. Eu sou a proprietária e eu não pedi nenhuma avaliação. E que evento? A festa. Eu estou organizando a festa.
Entendemos, senhora disse o homem sem emoção. Estamos apenas seguindo ordens. Viemos verificar os itens da lista. Ele olhou para um tablet, especificamente o piano de caudda na sala de música e a coleção de livros antigos da biblioteca. Isso é ridículo”, disse Sabrina. “essas coisas velhas, eu ia mandar guardar tudo no depósito para a festa, especialmente aquele piano horrível da mãe falecida do Guilherme. Ocupa muito espaço.
” Os dois homens se entreolharam. O segundo homem falou: “A voz grave, o piano e os livros são os itens de maior prioridade. Vamos começar por eles. Marta, por favor, nos leve até lá.” “Esperem!”, gritou Sabrina. Eu não autorizei isso. Saiam da minha casa.
O primeiro homem olhou para ela e, pela primeira vez ela viu algo além de profissionalismo. Era a pena, senhora. Com todo respeito, esta casa não é sua e nós não estamos aqui a seu pedido. Estamos aqui a pedido da Holding, que é dona deste móvel. Agora, se nos der licença. Eles passaram por ela como se ela fosse invisível. Sabrina ficou paralisada. Esta casa não é sua. Que absurdo. Claro que era dela. Era de Guilherme.
Ela correu para o escritório da casa, onde Guilherme mantinha seus papéis. Ela começou a revirar gavetas. Ela não entendia de negócios, mas entendia de posses. Ela procurou pela escritura, encontrou contratos, extratos bancários antigos e nada. Nenhuma escritura em nome de Guilherme. Ela encontrou uma pasta grossa com o nome da Holding, a empresa que ela ouvia Vicente mencionar.
Ela sempre pensou que Vicente era um empregado graduado de Guilherme, mas ao foliar os papéis, ela via assinatura de Guilherme em tudo. Sim, mas sempre abaixo da assinatura de Vicente. Guilherme assinava como gerente regional. Vicente assinava como diretor presidente. A náusea atingiu.
De volta ao escritório na cidade, Guilherme finalmente conseguiu que o técnico de viesse a sua sala. O jovem parecia nervoso. Seno, senhor Guilherme, eu não sei o que dizer. Seu acesso foi revogado. Revogado por quem? Eu sou o presidente. Pela matriz, senhor, pela holding. A ordem veio de cima. do escritório do senhor Vicente. Guilherme congelou. Vicente, mas Vicente trabalha para mim. O técnico de Tingoliu em seco. Com todo respeito, senhor, acho que não.
O senhor Vicente é o CEO de todo grupo. A sua empresa é apenas uma divisão. Guilherme riu, mas o som foi oco. Isso é uma piada, uma piada de mau gosto. Meu pai, meu pai me deu esta empresa. Eu não sei sobre isso, senhor. Só sei que sua senha não funciona mais. E seu e-mail foi desativado. E eles pediram para eu recolher seu notebook. O mundo de Guilherme estava inclinando.
Ele olhou pela janela de vidro de seu escritório para o andar de operações abaixo. Todos pareciam estar trabalhando normalmente, mas quando ele olhou mais de perto, viu pequenos grupos coxixando. Eles estavam olhando para ele. Ele se levantou. Eu vou resolver isso. Vou falar com Vicente mesmo.
Onde ele está? O senhor Vicente não está neste prédio, senhor. Ele fica na sede, no centro. Ótimo. Guilherme pegou o palitó. Ele precisava de respostas. Ele saiu de sua sala ignorando os olhares. Clara, sua secretária, estava ao telefone, parecendo pálida. Quando ele passou por ela, ela desligou e disse: “Senhor Guilherme, um momento.
Não tenho tempo, Clara. É um oficial de justiça. Ele está aqui para para entregar um documento para o senhor.” Um homem de terno cinza barato, que estava esperando perto dos elevadores, aproximou-se. “Senhor Guilherme, eu tenho um documento para o senhor da parte da holding de investimentos.” Guilherme pegou o envelope. Ele o abriu ali mesmo no meio do corredor.
Seus olhos escanearam o jargão legal. Ele captou apenas algumas frases. Quebra de contrato de comodato. Referente ao imóvel situado em O endereço da Mansão. Desocupação imediata. Pra horas. Guilherme Rio. Era tão absurdo que só podia ser uma piada. Eles não podem fazer isso. Ele sussurrou. Senhor, disse o oficial de justiça, eles não podem me expulsar da minha própria casa.
Senhor, de acordo com este documento, a casa não é sua. E, aliás, a sua posição nesta empresa também foi encerrada, com efeito imediato. Um aviso de segurança está a caminho para acompanhá-lo para fora do prédio. O elevador se abriu e dois seguranças uniformizados que Guilherme nunca tinha visto antes saíram.
A ilusão de poder que Guilherme construiu ao seu redor evaporou-se instantaneamente. Ele não era um presidente. Ele não era um mestre do universo. Ele era um empregado e ele acabará de ser demitido. Ele olhou para o papel em sua mão, assinado eletronicamente. Vicente, onde está meu pai? Guilherme perguntou a voz trêmula, não de raiva, mas de um medo primordial. Onde está Osvaldo? O oficial de justiça deu de ombros.
Não sei de nenhum Osvaldo. Eu só entrego os papéis. Guilherme amassou o papel na mão. Ele passou pelo seguranças, empurrando-os. Ele precisava encontrar Vicente. Ele precisava encontrar seu pai. Ele precisava entender o que estava acontecendo. Ele correu para o estacionamento. Seu carro de luxo estava lá. Ele entrou e girou a chave. Nada.
A luz do painel piscou fracamente e morreu. Ele bateu no volante, o carro também, o carro da empresa. Ele saiu cambaleando. Seu mundo, sua vida inteira estava sendo desligado, peça por peça, por uma mão invisível. E ele estava começando a suspeitar que essa mão era calejada, cheirava a terra e pertencia ao velho que ele havia chamado de peso morto naquela mesma manhã.
Há centenas de quilômetros da confusão urbana, o ar cheirava capim molhado e terra. Osvaldo estava de joelhos no chão de feno de um celeiro impecavelmente limpo, iluminado por luzes quentes e equipado com tecnologia que a maioria das universidades de veterinária envejaria. Ao seu lado, um veterinário e dois assistentes trabalhavam em silêncio.
“Vamos lá, Estrela!” Osvaldo sussurrava para a vaca, uma espécie magnífica de pelagem castanha e olhos gentis. Ele acariciava o pescoço do animal que gemia baixo. Traga ele ao mundo. É um bom mundo aqui. O parto era complicado. A cria estava grande, mas Osvaldo não estava preocupado. Ele estava focado aqui, neste celeiro. Ele não era um bilionário disfarçado.
Ele era Osvaldo, o criador de gado, e ele era o melhor no que fazia. Para Guilherme, criador de gado, era um insulto, uma imagem de pobreza, de falta de sofisticação. O que Guilherme nunca entendeu e que Osvaldo nunca fez questão de explicar é que criar gado era sua arte e sua ciência. O império de Osvaldo não começou com ações ou imóveis, começou com uma única vaca herdada de seu pai. Mas Osvaldo tinha uma visão.
Ele não via apenas carne e leite. Ele via genética. Ele via o futuro. Enquanto seus vizinhos praticavam a pecuária tradicional, Osvaldo estudava. Ele importou livros, aprendeu sobre inseminação artificial, sobre cruzamento seletivo, sobre nutrição. Ele foi o primeiro em sua região a usar computadores para rastrear a linhagem de seus animais. Ele não vendia gado, ele vendia genética de ponta.
Seu rebanho se tornou a base para os melhores rebanhos do mundo. O semen de seus touros valia mais, peso por peso, do que ouro. E com o dinheiro ele comprou terras. Mas ele não comprou terras para especular. Ele comprou terras para preservar. Ele desenvolveu sistemas agrícolas sustentáveis, recuperou áreas degradadas. O dinheiro para Osvaldo era uma consequência do trabalho bem feito, não objetivo.
Eventualmente, o dinheiro se tornou tanto que ele precisou de ajuda para gerenciá-lo. Foi aí que Vicente entrou. A Holding foi criada para proteger o Império Agrícola. Eles investiram os lucros da fazenda em outras áreas: tecnologia, imóveis, energia limpa para diversificar. Mas a alma de tudo, o coração pulsante do império bilionário, sempre foi a fazenda. O gado está vindo”, anunciou o veterinário.
Com o último esforço, o bezerro nasceu. Era forte, saudável. Osvaldo foi o primeiro a limpá-lo. Suas mãos experientes verificando os membros. A respiração era um macho perfeito. Bem-vindo, rapazinho. Osvaldo sorriu, um sorriso genuíno de pura alegria que ele não dava meses na cidade. Ele se levantou, as costas doendo. Bom trabalho, doutor.
Bom trabalho, equipe. Ele saiu do celeiro, tirando as luvas. O sol estava se pondo, pintando céu de laranja e roxo. Ele caminhou até a varanda de sua casa e se sentou em sua cadeira de balanço de madeira. Damião, o capataz, trouxe-lhe uma xícara de café forte e sem açúcar. Macho, disse Osvaldo. É bom.
Precisamos de touros novos disse Damião, sentando-se ao lado dele. Eles não precisavam falar muito. Eram amigos há 40 anos. O menino Guilherme esteve aqui? perguntou Damião casualmente. Esteve na cidade, disse Osvaldo tomando um gole, mas não esteve aqui. Não, de verdade. Ele nunca gostou daqui. Tinha medo de sujar os sapatos caros. Damião cuspiu no chão.
Desde pequeno a senora Helena, que Deus a tenha, tentou. Ela trazia ele, mas ele só queria saber do computador. Helena, Osvaldo suspirou. A lembrança dela ainda era uma dor suave. Ela foi o amor de sua vida, uma professora da cidade pequena que viu gênio por trás das mãos sujas de graxa. Ela o apoiou, o ames construíram tudo juntos. Foi quem insistiu que Guilherme tivesse o melhor.
As melhores escolas, as melhores roupas. Ele não precisa sofrer o que sofremos, Osvaldo. Ela dizia. Talvez ela estivesse errada. Osvaldo disse baixinho. Talvez o sofrimento seja parte do aprendizado. Talvez se ele tivesse sujado mais os sapatos, não teria limpado os pés em mim hoje.
O que o senhor vai fazer, Osvaldo? De verdade? Eu queria que ele aprendesse o valor, o valor do trabalho, disse Osvaldo, olhando para suas mãos calejadas. Eu dei a ele uma empresa de fachada, uma vida de luxo, de mentira. Eu dei a ele um título de presidente. Eu queria ver o que ele faria com isso, se ele seria humilde, se ele seria grato, se ele em algum momento perguntaria: “Pai, como eu posso ajudar você? Como eu posso aprender o que o senhor sabe?” Ele balançou a cabeça, mas ele só queria o brilho. A esposa dele, Sabrina, piorou tudo. Ela o envenenou
com ambição vazia. “E agora?”, perguntou Damião. Agora eu tirei os brinquedos dele, tirei o dinheiro, a casa, o carro, o título. Eu deixei com nada, assim como eu comecei, com nada. Isso é cruel, Osvaldo. É justo, corrigiu Osvaldo. Cruel foi o que ele fez comigo. Justo é o que eu estou fazendo com ele. Agora vamos ver do que ele é feito.
Vamos ver se por baixo de toda aquela arrogância ainda existe algo do meu filho. Se ainda existe algo da Helena. O telefone de Osvaldo tocou. Era um toque simples. Ele atendeu Vicente. Patrão, a fase um está completa. Os cartões estão bloqueados. A empresa está trancada. A casa foi notificada. E a reação? Perguntou Osvaldo, olhando as estrelas começarem a aparecer. Pânico, exatamente como prevíamos.
Guilherme foi expulso do prédio da empresa. Sabrina está presa na mansão, provavelmente destruindo os móveis que ainda não são dela. A festa de sábado está, sem dúvida, cancelada. Bom, e ele, o Guilherme, onde ele está? Houvi uma pausa. Ele Ele foi visto pela última vez tentando pegar um táxi. Parece que ele não tinha dinheiro para pagar. O taxista o deixou na rua.
Osvaldo fechou os olhos. A imagem de seu filho, de terno caro, sendo deixado na rua, não lhe deu prazer. Deu-lhe uma dor profunda. Vicente, quero que você coloque uma equipe de vigilância discreta sobre ele. Eu não quero que ele se machuque. Eu quero que ele sofra consequência, não a violência da rua.
Apenas observe, não interfira, não importa o que, a menos que seja uma questão de vida ou morte. Entendido, patrão. E Sabrina, ela é esperta. Ela vai encontrar uma saída. Provavelmente ela vai abandoná-lo. O navio está afundando e os ratos são os primeiros a sair. Deixia ir. Ela nunca foi o problema principal. Ela foi apenas o sintoma. Sim, senhor.
O que mais? Agora esperamos, disse Osvaldo. Agora nós damos a ele a noite. Deixamos ele sentir o frio. Deixamos ele sentir a fome. Deixamos ele sentir o que é ser um peso morto. Amanhã veremos que tipo de homem ele se torna. Ele desligou. O silêncio da fazenda o envolveu. O cheiro do gado, o som dos grilos.
Este era o seu poder. Não os bilhões no banco, não os prédios na cidade, mas a terra, a realidade. Guilherme vivia em uma ilusão que Osvaldo havia construído para ele. E hoje Osvaldo havia desligado as luzes. A pergunta que restava era: Guilherme aprenderia a enxergar no escuro ou ele simplesmente tropeçaria e cairia para sempre? A noite caiu sobre a cidade como um cobertor pesado e sujo. Para Guilherme, era a noite mais longa de sua vida.
Depois de ser humilhado pelo taxista, ele andou. Ele não sabia para onde ir. Ele não podia ir para a empresa. Ele não podia, ou não queria, acreditar que não podia ir para casa. Seus pés, em sapatos caros, que agora pareciam instrumentos de tortura, doíam. Seu estômago roncava. Ele não almoçara e a reunião do café fora um desastre.
Ele estava com fome, cansado e, pela primeira vez na vida com medo. Ele parou em frente a um orelhão. Ele não tinha seu celular. A bateria havia morrido horas atrás e ele não tinha como carregá-la. Ele revirou os bolsos, encontrou algumas moedas. Ele ligou para o único número que sabia de cor, além do seu, o de Sabrina.
Ela atendeu no primeiro toque, a voz estridente de pânico. Guilherme, onde você está? O que está acontecendo? Sabrina, calma. Eu calma, calma. Tem dois seguranças na porta da nossa casa que não me deixam sair e não deixam ninguém entrar. Eles dizem que estamos sendo despejados. Eles dizem que a casa não é nossa.
O que você fez? A acusação o atingiu. O que eu fiz? Eu não fiz nada. Deve ser um erro. É o Vicente. É. É o meu pai. Ele deve estar por trás disso. Seu pai. Ela riu. Um som histérico. Seu pai. O caipira. O que ele poderia fazer? Ele não tem nem onde cair morto. Você o expulsou, lembra? Foi ideia sua. A mentira dela o chocou. Minha ideia? Foi você quem exigiu.
Você disse que ele era um constrangimento e você, como um idiota, obedeceu. Você é fraco, Guilherme. Eu sempre soube, mas eu pensei que você pelo menos era rico. Eu casei com um homem rico e agora eu descubro que você não passa de um, um gerente, um empregado. Sabrina, por favor! Ele implorou, a humilhação queimando em seu rosto enquanto um pedestre olhava com desprezo. Eu vou resolver.
Eu só preciso. Eu preciso de dinheiro. Você tem algum dinheiro aí? Dinheiro? As contas estão bloqueadas, Guilherme. Todas elas. O cartão da loja, o cartão do mercado, tudo. Eu estou presa aqui com a roupa do corpo e dois brutamontes na porta. Eu A voz dela mudou, ficando subitamente mais baixa. Calculista. Espere.
O oficial de justiça deixou os papéis. Eu estou lendo. Holding de investimentos. O presidente é Vicente. Eu sei. Eu vou. Eu vou encontrá-lo amanhã. Não seja idiota. Vicente não é o dono. Ele é um empregado. Assim como você. Ele só é um empregado melhor. Ela cuspiu. Quem é o dono da Holding, Guilherme? Pense Guilherme fechou os olhos. Ele nunca havia pensado nisso. Seu pai o colocou na empresa.
Seu pai conhecia Vicente. Seu pai, o criador de gado. Não ele sussurrou. Não pode ser. Meu Deus”, disse Sabrina, “a realização atingindo. É ele, é o velho, o velho que você expulsou. Ele é o dono de tudo, o bilionário era ele o tempo todo. E você o chamou de peso morto.” Guilherme teve que se apoiar no orelhão.
O mundo girava. Seu pai, seu pai humilde, de roupa simples, “O homem que ele tinha vergonha de apresentar aos amigos. Sabrina, ele disse, a voz quebrada, nós temos que pedir desculpas. Nós temos que encontrá-lo. Nós vamos implorar por perdão. Houve uma longa pausa no telefone. Então, a voz de Sabrina voltou, mas era diferente, fria, decidida.
Nós, ela disse: “Não, Guilherme, não existe nós.” Você entende o que você fez? Você não apenas perdeu o emprego, você perdeu o império e você me fez de boba junto com você. Sabrina, não diga isso. Eu te amo. Nós vamos superar isso. Superar? Eu não vou superar a pobreza, Guilherme. Eu não nasci para isso.
Eu não vou voltar a andar de ônibus. Eu parou. Tem um carro parando aqui. Um carro bonito. O motorista. Ele está falando com seguranças. Ele está vindo até a porta. Quem é Sabrina? Não abra. É o advogado da minha família, ela disse, a voz subitamente mais leve. Eu liguei para ele antes. Ele veio me buscar. Ele vai resolver minha situação.
Sua situação e a minha. Você que se vire. Guilherme, você fez sua escolha esta manhã quando decidiu ser o cachorrinho da sua esposa em vez de ser o filho do seu pai. Acontece que você apostou no cavalo errado. Adeus, Guilherme. A linha ficou muda. Ele ficou ali segurando o telefone mudo, enquanto o peso do que havia contedido esmagava.
Ele não tinha mais esposa, ele não tinha mais casa, ele não tinha mais emprego e o pior de tudo, ele não tinha mais pai. Ele havia trocado tudo isso por pelo quê? Pela aprovação de pessoas que ele nem gostava, por uma festa que nunca aconteceria. A arrogância que o sustentara por tantos anos se quebrou e o que restou foi um vazio aterrorizante. Ele era um fracassado.
Sabrina estava certa. Ele era fraco. Ele começou a andar novamente sem rumo. A noite ficou mais fria. Ele passou por restaurantes vendo pessoas comendo, rindo. Ele sentiu o cheiro da comida e seu estômago doeu de fome. Ele viu pessoas em situação de rua, enroladas em cobertores sujos, e percebeu, com horror gelado, que a única coisa que o separava deles era um terno caro. Ele finalmente parou em um parque.
Ele não aguentava mais andar. Ele se sentou em um banco frio de concreto. Ele, Guilherme, o presidente, estava prestes a passar a noite em um banco de praça. Ele colocou a cabeça entre as mãos. A humilhação era total, mas então algo mais profundo que a humilhação começou a surgir. Uma memória. Ele, pequeno na fazenda, ele tinha medo dos bois.
Seu pai o pegou no colo e o colocou nas costas de um bezerro manso. Não tenha medo, filho. Osvaldo dissera a voz gentil. Eles são grandes, mas são bons. Você só precisa respeitá-los. Respeite a terra e ela cuidará de você. Quando foi que ele se esqueceu disso? Quando foi que respeito se tornou vergonha? Ele olhou para as próprias mãos macias, sem calos.
As mãos de um homem que nunca havia produzido nada, apenas gerenciado o que os outros produziram, o que seu pai produziu. Uma nova determinação, nascida do desespero absoluto, começou a tomar forma. Ele não sabia o que faria. Ele não sabia como faria, mas ele sabia o que tinha que fazer. Ele não precisava de Sabrina.
Ele não precisava da mansão. Ele precisava encontrar seu pai. Não para pedir o dinheiro de volta, mas para pedir perdão, para perguntar como como ele aprendeu a ser forte, como ele aprendeu a construir. Ele tinha que voltar para o único lugar que seu pai sempre chamou de casa. Ele tinha que ir para a fazenda, mas como ele não tinha um centavo.
A fazenda ficava centenas de quilômetros. Ele olhou para o pulso, um relógio de luxo, um presente que ele deu a si mesmo quando foi nomeado presidente. Valia uma fortuna. Ele se levantou do banco. Ele sabia o que tinha que fazer. Seria o primeiro negócio de verdade que ele faria na vida.
Ele venderia o símbolo de sua falsa vida para comprar uma passagem de volta para a realidade. O castelo de cartas havia desmoronado. Agora era hora de ver se a fundação ainda existia. Guilherme passou a noite em um banco de praça, tremendo de frio e de medo. Ao amanhecer, ele era uma sombra do homem que fora. O terno estava amassado, a barba por fazer, os olhos vermelhos e fundos.
A fome era uma dor constante. Ele esperou até que as lojas de penhores abrissem. Ele entrou na primeira que viu, um lugar pequeno e escuro que cheirava poeira e desesperança. O homem atrás do balcão olhou com desdém, avaliando o terno caro e o rosto desesperado. “O que você quer?”, perguntou o homem. Guilherme tirou o relógio do pulso. “Eu quero vender isso.
” O homem pegou o relógio, colocou o monóculo e o examinou. “É uma boa réplica.” “Não é uma réplica,”, disse Guilherme, a raiva surgindo. “É original”. Custa mais que esta sua loja inteira? O homem riu. Claro que custa, garoto. E você o encontrou onde? Olha, eu te dou 500 por ele. É minha oferta final. Você parece que precisa do dinheiro.
Guilherme sabia que o relógio valia 50 vezes mais, mas ele também sabia que o homem estava certo. Ele precisava do dinheiro e ele não tinha tempo para negociar. “Eu preciso de 1000”, ele tentou. 600 feito. Ele saiu da loja com R$ 600 em notas amassadas. Era mais dinheiro do que ele tivera em toda sua vida que fosse realmente seu.
O resto sempre fora uma ilusão, um crédito fornecido por seu pai. Seu primeiro ato foi comprar uma garrafa de água e um pão com manteiga na padaria da esquina. Ele comeu na calçada, devorando a comida simples como se fosse um banquete. A comida lhe deu clareza. Ele foi até a rodoviária. O cheiro de diesel e de pessoas cansadas o atingiu. Ele nunca tinha estado ali.
Ele sempre viajara de avião ou em seu carro de luxo. Uma passagem para ele disse o nome da cidadezinha perto da fazenda de seu pai. A mulher no guichê mal olhou para ele. R$ 350. O ônibus sai em uma hora. Ele pagou. Sobraram pouco mais de R$ 200. Ele comprou uma mochila barata, algumas roupas de segunda mão e um bazar próximo, uma calça jeans, duas camisetas e um casaco simples e um par de tênis resistentes. Ele trocou de roupa no banheiro sujo da rodoviária.
Ao se olhar no espelho quebrado, ele quase não se reconheceu. O terno caro, símbolo de sua presidência, estava amassado no lixo. Ele agora parecia comum e estranhamente ele se sentiu um pouco mais leve. A viagem de ônibus durou 12 horas. 12 horas de desconforto, de estradas esburacadas, de passageiros roncando. Mas para Guilherme foi um tempo de reflexão.
Cada solavanco do ônibus parecia sacudir para fora dele a arrogância. Ele pensou em Sabrina. A traição dela foi rápida, brutal, mas ele podia culpá-la. Ele a atraíra com a promessa de uma vida que não era dele. Ela amava o status e ele o havia perdido. O amor, ele percebeu tarde demais. Não tinha nada a ver com aquilo. Ele pensou em seu pai. A imagem de Osvaldo, sendo expulso, com suas malas simples, voltou para ele.
A dignidade com que seu pai olhara. Você vai se arrepender disso. Uma profecia que se cumprirá em menos de 24 horas. E ele pensou na revelação. Seu pai era o dono de tudo, o bilionário. A palavra soava estranha. Seu pai, que usava as mesmas botas por 10 anos.
Seu pai, que preferia comer feijão com arroz na cozinha com os empregados do que no salão de jantar. Ele havia sido um tolo, um tolo cego. Ele não fora enganado apenas por seu pai, ele fora enganado por si mesmo. Ele queria acreditar que seu pai era um caipira. Porque se seu pai era apenas um caipira, então tudo que Guilherme tinha era mérito dele.
Era uma mentira confortável que ele contou a si mesmo por anos. O ônibus o deixou na rodoviária empoeirada da cidadezinha no meio da noite. Estava tudo fechado. A fazenda ficava a 30 km dali. Não havia táxis, não havia carros de aplicativo. Ele começou a andar. A estrada era de terra, escura. Os sons da noite no campo que ele sempre odiara.
Agora o cercavam, o coachar dos sapos, o zumbido dos insetos, o ivo distante de um animal. Ele estava com medo, mas continuou andando. Enquanto isso, na mansão, a manhã seguinte, a expulsão de Osvaldo foi de caos. Sabrina, após a partida de seu advogado, descobriu que sua situação era mais complexa.
O advogado da família dela, um homem pragmático, explicou a situação em termos claros. Sabrina, seu casamento foi em regime de comunhão parcial de bens. Você tem direito à metade do que Guilherme ganhou durante o casamento. Ótimo. Ela disse aliviada. Metade da empresa, metade da casa. Não disse o advogado pacientemente. Metade do que ele ganhou. E parece que ele não ganhou nada.
A casa não era dele, a empresa não era dele, os carros eram da empresa. O saldo bancário dele, bem, parece que ele estava, na verdade, devendo a Holding. Você tem direito à metade da dívida dele. O rosto de Sabrina perdeu a cor. O quê? E seus bens pessoais? As joias, as bolsas, as roupas de grife? São minhas? Ela gritou.
foram compradas com cartões corporativos ou com a conta de bônus, que agora foi provada ser um adiantamento, porque se foram, a holding pode reivindicar tudo de volta como pagamento da dívida. Sabrina percebeu que estava encurralada. Ela não era apenas pobre, ela estava endividada. O velho não estava apenas punindo Guilherme, estava punindo ela.
Foi quando um carro diferente parou em frente à mansão. Deste saiu Vicente. Ele entrou na casa ignorando Sabrina e foi direto para os seguranças. Relatório. Os itens da senora Helena estão seguros. A senora Sabrina está cooperativa por enquanto. Ótimo. Vicente se virou para ela. Sua frieza era mil vezes mais intimidante que a raiva de Guilherme.
Senhora Sabrina Vicente, ela disse tentando soar digna. Eu não sei que jogo vocês estão jogando, mas não é um jogo. Ele a cortou. É um acerto de contas. O Senr. Osvaldo foi paciente. Ele lhe deu todas as chances. Ele a acolheu e você o tratou como lixo. Eu eu não sabia. Isso é o pior de tudo. Você não sabia.
Você julgou o homem por suas roupas, não por seu caráter. Você viu um velho, não viu o fundador. Você viu um caipira, não viu o patrão. Ele andou pela sala pegando um vaso caro que ela havia comprado. Sabe quanto custou isso? E sabe quantos bezerros de alta genética o Senr.
Osvaldo teve que vender para pagar por esta coisa? Ele balançou a cabeça. Você e Guilherme sangraram a empresa com luxos desnecessários, pensando que era dinheiro infinito, mas era o dinheiro do trabalho dele. Vicente parou na frente dela. A mansão, o nome Guilherme ou Sabrina está na escritura? Não. O nome da Holding está. E quem controla Holding? Você. Ela acusou. Eu administro.
Mas quem é o dono? O único acionista? O homem que começou tudo com uma vaca e transformou em um império. O homem que vocês expulsaram. A revelação da propriedade foi completa. Não era apenas a casa, não era apenas a empresa, era tudo. O chão que ela pisava, o ar que ela respirava, tudo pertencia ao criador de gado. “O que? O que vocês querem de mim?”, ela perguntou, a voz um sussurro.
“Nada”, disse Vicente. “O senhor Osvaldo não se importa com você”. Ele se importa com o filho dele. Você, você é um dano colateral. Você pode pegar suas roupas pessoais, as que você trouxe para este casamento. Um carro a levará para onde você quiser, desde que seja para longe daqui.
Sabrina olhou ao redor, o castelo dela desmoronado. Ela pegou sua bolsa. E o Guilherme, onde ele está? Vicente deu um sorriso frio. Guilherme está onde precisa estar. Ele está tendo sua própria revelação e ao contrário de você, talvez ele tenha uma chance de aprender alguma coisa com isso. Ele abriu a porta para ela. A era de Sabrina havia acabado. O verdadeiro dono estava de volta ao comando, mesmo que à distância. Guilherme andou por horas.
A estrada de terra parecia não ter fim. O sol nasceu quente e impiedoso, cozinhando asfalto antes de ele chegar à terra. Seus tênis novos já estavam cobertos de poeira vermelha. Ele estava exausto, desidratado, mas continuou. Finalmente, no início da tarde, ele viu os portões. Não eram portões extravagantes como os da mansão.
Eram simples, de madeira robusta, com o nome da fazenda pintado à mão, desbotado pelo tempo. Ele parou, o coração batendo forte. Ele estava com medo. Medo de ser rejeitado de novo. Medo de que seu pai, ao vê-lo, o mandasse embora. E honestamente, ele não saberia o que fazer se isso acontecesse. Ele não tinha para onde ir.
Ele empurrou o portão que rangeu. Ele caminhou pela estrada de entrada. A fazenda estava silenciosa, exceto pelo mugido distante do gado. Ele viu a casa principal ao longe, a mesma casa onde ele passou algumas férias de infância, mas da qual ele tentava esquecer. Ele se aproximou da casa, mas foi desviado por um som.
O som de trabalho vinha do grande celeiro de pesquisa, o lugar que seu pai chamava de coração do mundo. Ele foi até lá, a porta estava aberta e lá dentro ele viu seu pai. Osvaldo não estava em um terno de bilionário. Ele estava com seu macacão de trabalho, manchado de gracha e terra. Ele estava debruçado sobre uma peça de maquinário, um trator ou algo assim, com Damião ao seu lado.
Eles estavam rindo de alguma piada. Guilherme parou na entrada, uma silhueta contra a luz do sol. A risada de Osvaldo morreu. Ele se virou lentamente. Seus olhos encontraram os de Guilherme. O silêncio se estendeu. Damião olhou de um para o outro. Sentindo atenção. Patrão disse Damião, deixo vocês a sós. Ele passou por Guilherme, dando-lhe um olhar duro.
Osvaldo não disse nada. Ele pegou um pano e limpou lentamente a gracha das mãos. Ele olhou para o filho, viu as roupas baratas, os tênis empoeirados, o rosto sujo e cansado. Viu o relógio desaparecido do pulso. Então, disse Osvaldo, a voz calma, o presidente veio visitar os caipiras. Guilherme sentiu como se tivesse levado um soco.
Ele merecia aquilo. Ele merecia muito mais. Pai, ele começou a voz rouca. Ele não sabia o que dizer. Eu você o quê? Disse Osvaldo aproximando-se. Ele não parecia zangado, parecia desapontado. Uma decepção tão profunda que era quase uma entidade física na sala.
Você veio pedir seu emprego de volta, sua casa? Seus cartões de crédito. Não, Guilherme disse rapidamente e ele se surpreendeu ao perceber que era verdade. Não, não. Osvaldo ergueu uma sobrancelha. Então, o que você quer? Porque, pelo que me lembro, a última vez que nos vimos, eu era um peso morto, um constrangimento. Você me expulsou, você e aquela sua esposa.
Ela me deixou, disse Guilherme baixinho, assim que o dinheiro acabou. Claro que deixou. Osvaldo bufou sem surpresa. Ela era uma parasita, mas ela só se agarrou a você porque você era um hospedeiro fraco. As palavras eram duras. Mas Guilherme não recuou. Ele as aceitou. Pai, eu eu sinto muito ele disse. E as lágrimas que ele segurava dois dias finalmente vieram. Elas queimaram seus olhos e traçaram caminhos limpos na poeira de seu rosto.
Eu sinto muito. Eu fui um tolo. Eu fui arrogante, cego. Eu eu tive vergonha do Senhor. Admitir isso em voz alta foi a coisa mais difícil que ele já fizera. Eu tive vergonha”, ele repetiu, soluçando agora, “do único homem que eu deveria admirar. Eu troquei o senhor por nada, por uma festa, por uma mulher que não valia um fio de cabelo seu, por uma imagem que nem era real.
” Osvaldo observou a expressão dura. Ele não o confortou. Ele o deixou sentir o peso de suas próprias palavras. “E agora?”, perguntou Osvaldo. Você vem aqui, chora, pede desculpas e espera que eu te dê tudo de volta. Espera que eu te chame de presidente de novo e te mande de volta para sua mansão. Não, Guilherme gritou, esfregando o rosto.
Eu não quero nada disso. Eu não quero a mansão. Eu não quero a empresa. Eu vi o que eu sou sem o senhor. Eu não sou nada. Um zero. Eu não sei fazer nada. Eu não sei construir nada. Eu só sei gastar. Ele olhou para as mãos do pai, as mãos calejadas, e olhou para as suas macias, inúteis. Eu quero aprender ele sussurrou.
Osvaldo encarou. Aprender o quê? A assinar cheques. Não. Aprender a trabalhar, aprender o que o Senhor sabe? Aprender sobre, sobre o gado, sobre a terra. Eu quero, eu quero ser como o senhor. O confronto que Guilherme esperava, os gritos, as acusações, não veio. Em vez disso, Osvaldo se virou e voltou para o maquinário.
Ele pegou uma chave de fenda. Você acha que é fácil? Osvaldo perguntou sem olhar para ele. Você acha que ser como eu é um hobby de fim de semana? Você odeia este lugar. Você tem nojo da terra? Eu sei, eu eu estava errado. Você não dura um dia disse Osvaldo. Me teste, Guilherme implorou.
Pai, por favor, me dê uma chance, não de voltar ao luxo, mas de de começar de novo, do zero, do jeito certo. Osvaldo ficou em silêncio por um longo tempo. O único som era o zumbido de uma mosca e o barulho distante do gado. Finalmente, ele se virou. Ele olhou Guilherme de cima a baixo. Ele não viu seu filho. Ele viu um homem quebrado e talvez, apenas talvez, um homem pronto para ser consertado. Osvaldo caminhou até um armário no canto e tirou um par de botas de borracha velhas e um macacão sujo.
Ele jogou no chão aos pés de Guilherme. O estábulo dos fundos precisa ser limpo. Está cheio de esterco até o teto. Guilherme olhou para o macacão sujo. O cheiro dele chegava até onde estava. O alojamento dos peões fica atrás da cozinha, continuou Osvaldo. A voz fria. A cama é dura, o chuveiro é frio.
O rancho é servido às 5 da manhã e às 6 da tarde. Se você perder, fica com fome. Guilherme olhou do macacão para o pai. O pagamento é o mínimo disse Osvaldo. E não há bônus. Não há cartões de crédito. Você vai ganhar por dia o que você gastava em um café na cidade. Ele se aproximou de Guilherme, ficando cara a cara com ele. Os olhos de Osvaldo eram de aço.
Eu não sou seu pai aqui ele disse a voz baixa e perigosa. Eu sou seu patrão. E você? Você não é meu filho. Você é o peão novo, o mais baixo na hierarquia. Você vai fazer o que Damião mandar. E se você reclamar uma vez? Se você hesitar uma vez, eu te coloco para fora daqui tão rápido quanto você me colocou para fora daquela mansão.
Entendido? Guilherme, com lágrimas nos olhos, mas com uma nova determinação, se abaixou e pegou o macacão. Ele pegou as botas. Elas eram pesadas, reais? Sim, senhor, disse Guilherme. Entendido, patrão. Bom, disse Osvaldo. Agora vá, você está fedendo a cidade e o esterco não vai se mover sozinho. Guilherme assentiu.
Ele se virou e saiu do celeiro, deixando seu pai sozinho com suas máquinas. O confronto havia acabado, não com abraço, não com perdão, mas com algo mais valioso. Uma chance. Osvaldo observou o filho ir. Quando teve certeza de que Guilherme não podia vê-lo, ele se apoiou na bancada. Suas pernas tremeram.
Ele fechou os olhos. Helena, ele sussurrou para a esposa falecida. Ele voltou, querida. O nosso menino voltou. Agora vamos ver se ele fica. Enquanto Guilherme começava sua nova e árdua vida, a notícia de sua queda se espalhou como fogo pela elite da cidade. A grande festa de Sabrina, que seria o evento do ano, foi cancelada abruptamente.
O motivo oficial, vazado pela própria Sabrina foi uma emergência familiar. Mas os boatos eram muito mais suculentos. Diziam que Guilherme estava falido, que ele era um impostor, que a empresa que ele presidia era uma farsa. Em menos de 48 horas, o nome que todos queriam ter em suas listas de convidados tornou-se veneno social. Sabrina foi arquiteta de muitas dessas histórias.
Para salvar a si mesma, ela precisava pintar Guilherme como o único vilão. Ela se mudou para o apartamento luxuoso de um amigo, um antigo rival de Guilherme, e começou a se retratar como a vítima. “Eu fui tão enganada quanto vocês”, ela dizia em jantares íntimos com lágrimas falsas nos olhos.
Eu pensei que ele era um homem de negócios, mas ele era apenas um parasita. Vivendo do nome do pai, eu só descobri a verdade tarde demais. O irônico era que ela estava quase certa, mas pelos motivos errados, ela nunca mencionou que o pai era, na verdade, o dono de tudo. Para o mundo, ela deixou a impressão de que Osvaldo era um velho fazendeiro que havia deserdado o filho por má administração.
Vicente, observando tudo da segurança de seu escritório na Holding, achou a performance de Sabrina fascinante. Ele não interferiu. Ela estava, sem saber, fazendo o trabalho deles. Ela estava destruindo completamente a antiga identidade de Guilherme. Não havia como ele voltar àquela vida, mesmo que quisesse. A porta estava trancada e a chave jogada fora.
Na fazenda, Guilherme não sabia de nada disso. Ele não tinha celular, não tinha acesso à internet, não tinha notícias do mundo exterior. O mundo dele havia se reduzido ao alojamento dos peões, ao refeitório e ao estábulo número trê. O primeiro dia foi um inferno. O cheiro do esterco era avaçalador. O trabalho era físico, brutal. Ele tinha que usar um carrinho de mão e uma pá.
Suas mãos macias ganharam bolhas na primeira hora. Ao meio-dia, as bolhas haviam estourado e ele trabalhava com as mãos em carne viva. Os outros peões observavam com uma mistura de curiosidade e desprezo. Eles sabiam quem ele era, o filho do patrão, o playboy da cidade, que havia caído em desgraça. Eles não lhe ofereceram ajuda, mas também não atormentaram.
Eles simplesmente o deixaram ser. Ao final do dia, ele mal conseguia ficar de pé. Cada músculo do seu corpo gritava. Ele foi para o alojamento, um quarto simples com quatro belixes. Ele tomou um banho frio que pareceu tirar lascas de sua pele, mas que também limpou o suor e o fedor. Ele foi ao refeitório.
A comida era simples. Arroz, feijão, um pedaço de carne cozida e salada. Para Guilherme, que só comeram um pão em dois dias, foi o melhor banquete de sua vida. Ele comeu vorase. Ninguém falou com ele. Ele se sentou sozinho em um canto.
Quando ele voltou para o beliche, ele não se importou com o colchão fino ou com o ronco do homem ao lado. Ele adormeceu antes mesmo de fechar os olhos. Às 4 da manhã, um sino tocou estridente acordar. Ele sentiu como se tivesse sido atropelado por um caminhão. Suas mãos latejavam, mas ele se levantou. Ele vestiu as roupas de trabalho, calçou as botas. No refeitório, antes do sol nascer, ele viu seu pai.
Osvaldo estava lá tomando café forte na mesma caneca de estanho que os outros peões. Ele estava conversando com Damião sobre o clima. Ele olhou para Guilherme. Apenas um olhar. Não havia raiva nem pena, apenas observação. Então ele se voltou para Damião. Guilherme pegou seu café e foi para o estábulo. A primeira semana foi uma tortura. Seu corpo resistiu.
Sua mente lhe dizia para desistir, para fugir. Para onde? Ele pensava. Ele não tinha para onde ir. No segundo dia, Damião veio vê-lo. O estábulo estava apenas um quarto limpo. “Você é lento”, disse Damião, sem rodeios. Nesse ritmo, o esterco novo vai cobrir o velho antes de você terminar. “Minhas mãos?” Guilherme começou a dizer. Damião agarrou a mão de Guilherme, olhou para as feridas abertas. É, dói.
Mas se você parar, elas infeccionam. E se infeccionarem, você não pode trabalhar. E se você não pode trabalhar, você não come. Damião foi até seu bolso e tirou um pequeno pote de uma pomada escura e de cheiro forte. Isso é cebo de carneiro. Vai arder, mas vai curar. Ele jogou o pote para Guilherme. E pegue estas luvas.
Elas são velhas, mas são melhores do que nada. Guilherme olhou para o capataz. Obrigado. Não me agradeça, Damião rosnou. Agradeça ao seu pai. Ele me ensinou a não desperdiçar um bom par de braços, mesmo que eles sejam fracos. Foi o primeiro ato de gentileza que Guilherme recebeu e veio na forma de uma ordem e de um pote de gordura mal cheirosa. Ele continuou.
Os dias se transformaram em semanas. A queda de Guilherme não foi apenas social ou financeira, foi física. A arrogância foi substituída pela exaustão, o orgulho foi substituído pela dor muscular. Ele terminou o estábulo. Damião então o mandou consertar cercas. Sob o sol escaldante, ele cavou buracos e esticou o arame farpado.
Suas mãos, que haviam sido curadas pelo cebo, agora se tornavam grossas, calejadas. Ele perdeu peso, a gordura da cidade sendo queimada, mas ele ganhou músculos que não sabia que tinha. Ele começou a acordar antes do sino. Ele começou a entender o ritmo da fazenda. Ele aprendeu a calar a boca e ouvir. Ele ouviu os outros peões, homens que ele antes veria como serviçais.
Ele ouviu suas histórias. Histórias de família, de seca, de colheita, de orgulho pelo trabalho. Ele ainda não falava com seu pai. Ele via Osvaldo à distância, sempre trabalhando, sempre observando. Mas Osvaldo nunca lhe dirigia a palavra. As únicas ordens vinham de Damião.
Uma noite, no refeitório, um dos peões mais jovens, chamado Ciro sentou-se à sua frente. Você era o presidente, né? Ciro perguntou curioso. Guilherme parou de comer. Ele esperava zombaria. Eu achava que era. E é verdade que você foi expulso da sua própria mansão pelo patrão? Guilherme suspirou. É, é verdade. Eu expulsei primeiro. Ciro assobeou.
Caramba, você é mais burro do que parece. Guilherme riu, uma risada curta e amarga. Eu estou começando a achar que sim. Bem, Ciro disse, dando de ombros. Pelo menos você sabe cavar um buraco decente agora. Eu vi a cerca que você consertou perto do riacho. Não ficou ruim. Era um elogio. O primeiro que ele recebia em semanas, significava mais para ele do que todos os parabéns, presidente que ele receberá em sua vida anterior. Obrigado, Ciro.
Ele terminou o jantar em silêncio. Naquela noite, em seu beliche, Guilherme percebeu que a queda havia terminado. Ele havia batido no fundo do poço e pela primeira vez ele não estava com medo. Ele estava de pé, em terra firme, a terra de seu pai. Passaram-se meses. O Guilherme que chegou à fazenda, desesperado e macio, não existia mais.
Em seu lugar estava um homem mais magro, sim, mas com os ombros mais largos. Sua pele, antes pálida, estava queimada pelo sol. Suas mãos eram ásperas como lixa, permanentemente manchadas pela terra. Ele falava pouco, mas observava muito. Ele havia passado por todos os trabalhos mais baixos da fazenda, dos estábulos à manutenção das cercas, da colheita de ração ao auxílio na marcação do gado. Ele aprendeu a acordar com o sol e a dormir com a lua.
Aprendeu a prever a chuva pelo cheiro do vento. Aprendeu o nome de cada peão e de suas famílias. Ele ainda não tinha uma conversa de verdade com Osvaldo. O pai observava. Às vezes, Guilherme sentia os olhos dele em suas costas enquanto trabalhava no campo, mas Osvaldo nunca se aproximava. A ordem ainda era clara. Ele era um peão. Osvaldo era o patrão. Mas o respeito dos outros homens, ele havia ganhado. Ele não reclamava.
Ele trabalhava mais do que qualquer um, como se tentasse pagar uma dívida invisível com seu próprio suor. Certa tarde, Damião chamou: “Guilherme, o patrão quer te ver na casa grande.” O estômago de Guilherme gelou. A casa grande. Ele não entrava lá desde que chegará. Ele limpou as mãos sujas na calça jeans, o coração batendo forte.
Seria agora? Seria mandado embora? ou pior, seria perdoado e ele não saberia como reagir. Ele bateu na porta dos fundos da cozinha, como qualquer funcionário faria. Entre, a voz de Osvaldo veio de dentro. Guilherme entrou. A casa era confortável, cheirava madeira e café. Era antítese da mansão fria da cidade.
Osvaldo estava em seu escritório, uma sala cheia de livros sobre genética, agronomia e filosofia. Sente-se”, disse Osvaldo, apontando para uma cadeira de couro gasta. Guilherme sentou-se na ponta, desconfortável em suas roupas de trabalho sujas. Osvaldo observou por um longo tempo em silêncio. “Damião me disse que você é bom com os números.” Guilherme ficou surpreso.
“O quê?” Ciro viu ajudando o pessoal do armazém. Você reorganizou o sistema de inventário deles em um pedaço de papel e agora eles estão economizando 30% em desperdício de ração. Guilherme deu de ombros. Era uma bagunça. As coisas estavam vencendo. Eu só organizei. Você usou o mesmo sistema que usava na sua na outra empresa.
É um sistema básico de controle de estoque, disse Guilherme. Eu não, eu não pensei que fosse um problema. Não é um problema, disse Osvaldo. É a primeira vez em seis meses que você usa sua cabeça em vez de apenas seus braços. Eu estava começando a achar que você tinha esquecido como eu não queria. Eu não queria ultrapassar meus limites, patrão. Osvaldo se recostou.
Você parece magro, mas forte. O trabalho do campo lhe fez bem. Sim, senhor. Você odeia o quê? O trabalho, a terra, o cheiro, você odeia. Guilherme pensou por um momento. Ele pensou na dor, no cansaço, na sujeira e pensou no nascer do sol sobre o pasto. Pensou na satisfação de consertar uma cerca quebrada.
Pensou no sabor da comida após um dia duro. No começo, eu odiava. Guilherme admitiu, eu odiava a cada segundo. Eu só fazia por medo, mas agora eu não odeio. Eu eu entendo. Entende o quê? Porque o Senhor faz isso? Porque o Senhor ama isso? Não é sobre o gado, é sobre criar algo, cuidar de algo, ver crescer. É real.
O que eu fazia na cidade não era real. Eram só números em uma tela. Aqui o trabalho, você pode tocar nele. Osvaldo assentiu lentamente um brilho de algo, orgulho em seus olhos. Eu recebi uma ligação esta manhã, disse Osvaldo, mudando de assunto. De Vicente. Guilherme endureceu. Vicente, o executor, a sua ex-esposa Sabrina, vai se casar. Isso atingiu Guilherme.
Ele não pensava nela meses. Ah, bom, bom para ela. Ela vai se casar com o banqueiro que vocês convidaram para a festa, aquele que ela estava tão preocupada em impressionar. Parece que ela conseguiu o que queria no final. Sim, disse Osvaldo. Mas Vicente também me disse outra coisa. A Holding está com problema.
Uma das nossas empresas de logística na Europa está passando por uma reestruturação. Os gerentes locais estão inflando os custos. É uma bagunça. Guilherme não entendeu porque seu pai estava lhe contando isso. Isso parece complicado. É, Vicente precisa de alguém de confiança para ir até lá. Alguém que entenda de números, de planilhas, de logística. Alguém que possa encontrar onde o dinheiro está vazando.
Alguém que possa viver de forma simples, sem chamar atenção e apenas fazer o trabalho. Osvaldo olhou diretamente para Guilherme. Eu disse a ele que eu tinha um homem aqui, um homem que é bom com números, que sabe o que é trabalhar duro e que não tem medo de sujar as mãos. O coração de Guilherme parou. Pai, o senhor não está. Não me chame de pai”, Osvaldo disse, mas sua voz era mais suave.
“Aqui sou seu patrão e estou lhe oferecendo um novo trabalho. Não é na fazenda, é em um escritório, mas não é a presidência. Você será um auditor júnior. Vai dividir um apartamento pequeno com outro funcionário. Vai ganhar um salário justo, mas sem luxos.” Eu eu não sei o que dizer. Diga sim ou não, o avião de Vicente sai amanhã.
Guilherme olhou para suas mãos calejadas. Ele havia voltado à terra. Ele havia aprendido a lição da humildade. E agora seu pai estava lhe oferecendo uma chance, não de voltar ao topo, mas de subir o primeiro degrau, o degrau de verdade. Mas e a fazenda? A fazenda sempre estará aqui, disse Osvaldo. É a fundação, mas o império é maior que isso, Guilherme.
Eu construí isso tudo para que fosse duradouro e eu preciso de pessoas em quem eu possa confiar. Eu tentei lhe dar o topo e você caiu. Agora estou lhe dando a base. Vamos ver se você consegue construir algo sobre ela. Guilherme se levantou. Ele olhou para o pai. Não o bilionário, não o caipira, mas o homem. O arquiteto de tudo.
Eu não vou decepcioná-lo”, disse Guilherme. A voz firme, sem arrogância, apenas um fato. Eu sei disse Osvaldo. Agora vá, você precisa tomar um banho. Você não pode entrar no avião de Vicente cheirando a esterco. Um pequeno sorriso se formou no canto da boca de Osvaldo. Guilherme sorriu de volta. Era o começo. Três anos se passaram.
O nome de Guilherme nunca mais foi ouvido nos círculos sociais da cidade. Para eles, ele havia desaparecido. Mas dentro do império silencioso de Osvaldo, o nome de Guilherme estava sendo sussurrado com um tipo diferente de respeito. Ele não foi para Europa e ficou em um escritório. Ele foi e em seis meses não apenas encontrou vazamento de dinheiro, mas reestruturou toda a operação logística, vivendo no mesmo armazém que os trabalhadores e aprendendo o processo do início ao fim. Ele não impôs, ele colaborou.
Ele usou o que aprendeu com Ciro Damião. Ouvi os homens que faziam trabalho. De lá, Vicente o mandou para a Ásia. Uma startup de tecnologia agrícola que a Holding havia investido estava falhando. Guilherme foi enviado não como executivo, mas como consultor.
Ele passou um ano dormindo em um colxonete no chão do laboratório, trabalhando lado a lado com os engenheiros. Ele transformou a empresa. Ele nunca pediu um aumento. Ele nunca pediu um carro de luxo. Ele nunca pediu uma casa maior. Ele vivia com o que ganhava e seu trabalho falava por si. Ele se comunicava com seu pai uma vez por semana. Não eram telefonemas longos, eram relatórios curtos, factuais.
E no final de cada ligação, Osvaldo perguntava: “Como está a Terra aí?” E Guilherme descrevia o solo, o clima. Eles haviam encontrado uma nova linguagem. Agora, Guilherme estava voltando para casa, não para a mansão. Essa havia sido vendida. Ela era uma lembrança de uma vida que não existia mais. Ele estava voltando para a fazenda. O helicóptero de Vicente pousou suavemente no mesmo local de antes.
Mas desta vez não foi Osvaldo quem desceu, foi Guilherme. Ele não era o rapaz de terno, nem o peão em farrapos. Era um homem vestido com simplicidade, mas com uma autoridade tranquila. Ele carregava sua própria mala. Osvaldo estava esperando na varanda, na sua cadeira de balanço.
Ele parecia mais velho, mais frágil. Guilherme subiu os degraus. “Pai”, ele disse, “Filho, Osvaldo respondeu. Eles se abraçaram. Um abraço forte que durou. Não havia necessidade de palavras. Vicente está esperando na sala de reuniões”, disse Osvaldo quando se separaram. Sala de reuniões? Sim, temos assuntos a discutir. No escritório de Osvaldo, Vicente estava em pé ao lado de uma mesa coberta de documentos.
“Guilherme”, disse Vicente com um sorriso genuíno. “Bom trabalho na Ásia. O conselho está impressionado. Obrigado, Vicente. Sente-se, disse Osvaldo, indicando a cadeira principal, a cadeira do patrão. Guilherme hesitou. Pai, essa é a sua cadeira. Eu estou cansado de sentar, Guilherme. Eu sou um criador de gado. Meu lugar é no campo. Mas você você provou que entende tanto da terra quanto das planilhas.
Você entende o porquê? Ponto. Osvaldo colocou a mão no ombro do filho. O império é seu, não por herança, mas por mérito. Eu não estou lhe dando nada. Você conquistou. Vicente empurrou um documento pela mesa. Isso nomeia você o novo CEO da Holding. O presidente de verdade, desta vez eu responderei a você e honestamente será uma honra. Guilherme olhou para os papéis e então olhou para o pai.
“Eu não quero”, disse ele. Osvaldo e Vicente se entreolharam chocados. “Eu não quero ser o CEO.” “Não sozinho,” esclareceu Guilherme. “Vicente, você é o melhor no que faz. O império precisa de você no comando da cidade. Mas, pai, o senhor disse que seu lugar é no campo e o meu também.” Guilherme sorriu.
Eu aceito a responsabilidade, mas eu não vou ficar em um escritório na cidade. Eu vou administrar tudo daqui da fazenda, onde o coração de tudo está. Ele olhou para Osvaldo. A menos, é claro, que o patrão precise de mim para limpar os estábulos. Osvaldo riu, uma risada longa, feliz, que não dava anos. Não acho que Damião não vai abrir mão de você.
Mas acho que posso ceder o meu escritório. Vicente sorriu. Uma sede dupla. A cidade e o campo, a fundação e o futuro. É perfeito. O legado está seguro. Mais tarde, ao pôr do sol, Osvaldo e Guilherme estavam lado a lado, olhando para o pasto, o mesmo pasto onde, anos atrás um bezerro chamado Estrela nascerá.
É bonito, não é? perguntou Osvaldo. Guilherme colocou o braço ao redor do ombro do pai, o velho que ele expulsara, o bilionário que era dono de tudo. Mas mais importante, o seu pai. É tudo, pai”, respondeu Guilherme. “É tudo”. Eles ficaram ali, dois criadores de gado, olhando para o seu império, um império construído não sobre dinheiro, mas sobre a terra, sobre o trabalho e, finalmente, sobre o respeito.
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