Que imagina você guardar sua virgindade por 28 anos, esperando o homem perfeito, casar com ele num casamento dos sonhos, viajar para as Maldivas na lua de mel e na primeira noite, a noite que você esperou a vida inteira, encontrar seu marido transando com outra mulher na varanda do quarto.
Agora imagina que nessa mesma noite um desconhecido misterioso aparece e oferece a chance de destruir o homem que destruiu você. Essa história vai te deixar sem fôlego do começo ao fim. Mas antes de começar, me conta de onde você está assistindo esse vídeo. Comenta aqui embaixo sua cidade e seu estado. Quero saber de onde são as pessoas que acompanham essas histórias.
E se você ainda não é inscrito, aproveita agora, clica no botão de inscrever-se, ativa o sininho para não perder nenhuma narrativa e deixa o like, que isso ajuda demais o canal. Agora sim, vamos começar essa história que vai mexer com você de um jeito que você não espera. O espelho do quarto de hotel refletia uma mulher que Helena Martins mal reconhecia.
A Langerry branca de renda francesa abraçava seu corpo como uma segunda pele delicada e reveladora ao mesmo tempo. Seus dedos tremiam enquanto ajustava a alça fina sobre o ombro. E ela precisou respirar fundo três vezes antes de conseguir olhar para seu próprio reflexo sem desviar os olhos. 28 anos. Ela tinha 28 anos e aquela seria sua primeira vez.
O banheiro de mármore das Maldivas ainda estava embaçado pelo vapor do banho demorado que ela tomou, tentando acalmar os nervos. Lá fora, através da porta entreaberta, podia ver a suí presidencial que Bruno havia reservado para a lua de mel. Pétalas de rosa vermelha espalhada sobre os lençóis de seda, champanhe francês esperando no balde de gelo, velas aromáticas que perfumavam o ar com notas de baunilha e sândalo.
Tudo perfeito, tudo como ela havia sonhado desde os 15 anos, quando decidiu que sua primeira vez seria especial. Helena passou os dedos pelos cabelos castanhos que caíam em ondas suaves sobre seus ombros. Aplicou mais uma camada do brilho labial cor de pêssego, que Bruno adorava. Verificou se a maquiagem ainda estava intacta, os olhos amendoados levemente marcados, as maçãs do rosto com um tom rosado natural que não vinha de nenhum blush. “Você consegue”, sussurrou para si mesma.
Você esperou a vida inteira por isso e havia esperado mesmo. Enquanto suas amigas da faculdade colecionavam histórias de ficadas em festas e relacionamentos intensos que duravam semanas, Helena se manteve firme em sua decisão. Não por religião, embora sua avó materna fosse católica fervorosa, não por medo, embora as histórias de decepção que ouvia a fizessem questionar se valeria a pena.
Era algo mais profundo, uma certeza inexplicável de que sua primeira vez precisava significar algo. “Você é tão antiquada”, sua mãe Vera costumava dizer com aquele tom de desaprovação disfarçada de preocupação. “O mundo mudou, Helena. Os homens não valorizam mais essas coisas.” Mas Bruno valorizou. Bruno Carvalho apareceu na vida dela 4 anos antes numa exposição de arte contemporânea em Belo Horizonte.
Ela estava terminando a faculdade de arquitetura. Ele já era um empresário bem-sucedido no ramo imobiliário, 10 anos mais velho, com aquele charme maduro que a fazia se sentir protegida e desejada ao mesmo tempo. No primeiro encontro, ele a levou para jantar num restaurante italiano que exigia reserva com semanas de antecedência. No segundo, um show de jazz num clube exclusivo.
No terceiro, quando ela finalmente criou coragem para contar sobre sua decisão de esperar, Bruno segurou suas mãos sobre a mesa do café e disse as palavras que selaram seu destino. Você é especial, Helena, diferente de todas as mulheres que já conheci. Eu vou esperar o tempo que for necessário.
E esperou 4 anos de namoro, noivado de um ano. E nenhuma vez Bruno pressionou. Beijos apaixonados. Sim. Mãos que exploravam com cuidado, sempre parando quando ela pedia. Noites dormindo abraçados quando viajavam juntos, ele respeitando os limites que ela estabelecia. Ele é perfeito. Helena dizia para Camila, sua melhor amiga, desde o colégio. Nenhum homem é perfeito.
Camila respondia, sempre cética. Mas se você está feliz, eu estou feliz. Helena estava mais que feliz, estava radiante. O casamento realizado três dias antes foi tudo o que ela sempre sonhou e mais um pouco. 300 convidados na igreja matriz de sua cidade natal. Vestido de noiva importado da Itália, com uma cauda de 3 m que duas primas precisaram carregar durante a cerimônia.
Decoração impecável planejada por Tatiana Montenegro, a wedding planner mais requisitada de São Paulo, que transformou o salão de festas num jardim encantado com milhares de flores brancas suspensas do teto. O pai de Helena, Antônio Martins, chorou ao entregá-la no altar. Sua mãe, pela primeira vez em anos, pareceu genuinamente orgulhosa da filha.
E Bruno, Bruno a olhou como se ela fosse a única mulher no universo. “Eu te amo”, ele sussurrou quando o padre os declarou marido e mulher para sempre. Agora, três dias depois, na suí mais cara do resort exclusivo das Maldivas, Helena estava pronta para finalmente se entregar ao homem que amava.
Ela respirou fundo uma última vez, ajustou a Langerry e abriu a porta do banheiro. O quarto estava vazio. Helena franziu o senho. Bruno havia dito que estaria esperando por ela, que tinha preparado uma surpresa. Talvez estivesse na varanda admirando a vista do Oceano Índico. Sob a luz prateada da Lua cheia. Ela caminhou descalça sobre o piso frio de mármore, seus pés produzindo um som suave que se misturava com a brisa que entrava pela porta de vidro entreaberta.
A cortina de voale branco ondulava como um véu fantasmagórico, parcialmente bloqueando a visão do que havia além. Foi quando Helena ouviu. Primeiro pensou que fossem os sons do mar quebrando na praia, depois risadas abafadas e, então, inconfundivelmente gemidos.
Seu coração começou a bater mais rápido, um instinto primitivo de alerta que ela tentou ignorar. Devia ser de outro quarto, o vento carregando sons de algum casal vizinho celebrando sua própria lua de mel. Mas os sons vinham da varanda, da sua varanda. Helena afastou a cortina de voale com dedos que de repente pareciam não pertencer a ela. O que viu no segundo seguintes ficaria gravado em sua memória para sempre.
Cada detalhe capturado com a precisão cruel de uma fotografia de alta resolução. Bruno, seu marido, o homem que havia esperado por ela durante 4 anos, o homem que prometeu amá-la para sempre apenas 72 horas antes. Ele estava na espreguiçadeira da varanda completamente nu. E sobre ele, movendo-se num ritmo que não deixava dúvidas sobre o que estavam fazendo, estava Tatiana Montenegro.
Ao Edin Planner, a mulher que havia organizado cada detalhe do casamento dos sonhos de Helena, o mundo parou de girar. Helena não conseguia se mover, não conseguia respirar, não conseguia desviar o olhar, embora cada célula do seu corpo implorasse para que fechasse os olhos e fingisse que aquilo não era real.
Foi então que ouviu a voz de Bruno, rouca de prazer, dizendo palavras que a destruíram mais que a própria cena. Helena, ingênua demais. Virgem aos 28 anos acredita nisso. Que mulher ainda é virgem nessa idade? Ele riu aquela risada que Helena costumava achar encantadora e que agora soava como o som mais cruel do universo. Mas o pai dela tem conexões que preciso para expandir os negócios.
Foi um investimento de 4 anos, mas o negócio está fechado. Tatiana gemeu algo ininteligível, claramente sem interesse na conversa. Depois de hoje, vou precisar inventar desculpas para continuar nos encontrando. Bruno continuou. Talvez dizer que tenho reuniões de negócios em São Paulo. A idiota vai acreditar em qualquer coisa.
Helena não gritou, não chorou, não confrontou. Algo dentro dela, talvez seu coração, talvez sua capacidade de sentir, simplesmente desligou como um disjuntor que desarma quando a carga elétrica é alta demais. Com movimentos mecânicos que depois ela não conseguiria explicar como realizou, Helena voltou para dentro do quarto.
Vestiu a primeira roupa que encontrou, um vestido de verão amarelo que havia separado para o café da manhã seguinte. pegou sua bolsa, verificou se o passaporte estava lá dentro, guardou o celular, deixou a aliança de casamento sobre a cama, ao lado das pétalas de rosa, que agora apareciam manchas de sangue sobre os lençóis brancos. Ela passou pela recepção do hotel como um fantasma.
O recepcionista da noite perguntou se precisava de alguma coisa. Ela apenas balançou a cabeça e continuou andando. O aeroporto mais próximo ficava a 40 minutos de táxi aquático. Helena não se lembra da viagem, não se lembra de como conseguiu comprar uma passagem para o primeiro voo disponível, que ironicamente partia para São Paulo, não para Belo Horizonte.
Não se lembra de quantas horas ficou sentada no terminal de embarque, olhando para o nada. O que ela lembra é da dor. Uma dor que não tinha localização física, que parecia ocupar cada espaço vazio dentro dela, preenchendo cavidades que ela nem sabia que existiam. A dor de descobrir que os últimos 4 anos da sua vida foram uma mentira elaborada.
A dor de perceber que sua decisão de esperar, que ela achava tão especial, era motivo de piada para o homem que prometeu amá-la. a dor de ser chamada de negócio fechado pelo homem a quem ela planejava entregar não só seu corpo, mas toda sua vida. O sol estava nascendo sobre as Maldivas quando Helena finalmente encontrou forças para se levantar do banco do aeroporto.
Precisava de café ou de algo mais forte, qualquer coisa que a ajudasse a sobreviver às próximas horas até poder embarcar no avião e fugir daquele paraíso que se transformou em seu inferno pessoal. Foi assim que ela chegou ao bar do aeroporto às 6:30 da manhã, com olhos secos de tanto não chorar e um coração que parecia ter sido removido do peito com uma colher enferrujada. E foi assim que ela conheceu Renato Duarte.
Mas isso ela ainda não sabia que mudaria absolutamente tudo. O bar do aeroporto estava quase vazio àquela hora, apenas alguns passageiros sonolentos esperando voos de conexão, um casal de idosos japoneses compartilhando um prato de frutas tropicais e um homem sozinho no canto mais afastado do balcão. Helena nem notou o homem quando se sentou num dos banquetas altos.
Sua mente ainda estava presa na imagem de Bruno e Tatiana, repetindo a cena em lup como um filme de terror do qual ela não conseguia escapar. “Vodica”, ela disse para o Bartender, surpreendendo a si mesma. Helena raramente bebia e quando bebia escolhia vinho branco ou espumante, mas algo naquela manhã pedia por algo mais forte, mais capaz de anestesiar.
O bartender, um homem de meia idade com um bigode impressionante, ergueu uma sobrancelha, mas não fez perguntas. serviu a dose e a colocou na frente dela. Helena bebeu de um gole só. O líquido desceu, queimando sua garganta, deixando um rastro de fogo que finalmente a fez sentir alguma coisa além daquela dormência terrível.
Outra, ela pediu, foi quando o homem do canto se moveu. Helena percebeu sua presença apenas quando ele já estava sentando no banco ao lado dela, alto, ombros largos, sob uma camisa social azul marinho que parecia ter custado mais que o salário mensal de muita gente.
Cabelos escuros, cortados curtos, alguns fios grisalhos nas têmporas que sugeriam que ele estava em algum ponto entre os 30 e os 40. E os olhos, os olhos eram o que mais chamava a atenção, de um castanho tão escuro que quase parecia preto, com uma intensidade gelada que fez Helena instintivamente endireitar a postura. Não é comum ver alguém bebendo vodica pura às 6 da manhã”, ele disse.
A voz era grave, controlada, com um sotaque paulistano que ela reconheceu imediatamente. “Não é comum homens estranhos comentarem o que os outros bebem”, Helena respondeu, surpresa com a acidez em sua própria voz. O canto da boca dele se curvou ligeiramente. Não era bem um sorriso, mas uma demonstração de que ele havia apreciado a resposta afiada. Touché.
Ele fez um sinal para o Bartender. O que ela estiver bebendo, coloca na minha conta. Não precisa. Eu sei. Estou oferecendo mesmo assim. O Bartender serviu a segunda dose de Helena e um whisky para o desconhecido. Por um longo momento, nenhum dos dois disse nada.
Helena girava o copo entre os dedos, observando como a luz refletia no líquido transparente. “Você e a Helena Martins”, o homem disse de repente. Helena congelou. Um arrepio percorreu sua espinha. Mistura de medo e confusão. Como você sabe meu nome? Seu casamento foi notícia nas colunas sociais. Bruno Carvalho, o jovem prodígio do mercado imobiliário de São Paulo, finalmente se casando com a filha do juiz federal, mais respeitado de Minas Gerais. Ele tomou um gole do whisky.
As fotos eram muito bonitas. Você parecia feliz. Parecia? Helena repetiu. O tempo verbal passado pesando em sua língua como chumbo. O homem a estudou por um momento, aqueles olhos escuros parecendo enxergar através de todas as camadas de compostura que ela estava tentando manter. E agora está sozinha num bar de aeroporto nas Maldivas, bebendo vodica no café da manhã, três dias depois do casamento. Sem aliança.
Ele indicou a mão esquerda dela com um movimento sutil do queixo. Algo me diz que a lua de mel não está indo como planejado. Helena deveria ter se levantado e ido embora. Deveria ter ignorado aquele homem arrogante, que aparentemente sabia muito sobre ela sem que ela soubesse nada sobre ele.
Mas algo na maneira direta como ele falava, sem os rodeios e falsidades que ela havia experimentado nos últimos 4 anos, a fez ficar. Quem é você? Renato Duarte. O nome atingiu Helena como um soco no estômago. Renato Duarte. Ela conhecia esse nome. Bruno o mencionava ocasionalmente, sempre com um tom de desprezo mal disfarçado. Um fracassado que perdeu tudo porque não soube jogar o jogo. Um idiota que pensou que podia competir comigo.
Helena sabia a história, pelo menos a versão que Bruno contava. Três anos antes, Renato havia sido sócio de uma incorporadora promissora. Bruno conseguiu uma manobra empresarial que resultou em Renato perdendo sua participação na empresa. Houve também algo sobre uma noiva, mas Bruno sempre era vago sobre essa parte.
Você é o homem que Bruno destruiu. Renato completou a palavra saindo sem emoção aparente. É um jeito de colocar. Ele roubou minha empresa com contratos forjados, manipulou minha noiva até ela terminar comigo e me deixou sem nada além das roupas do corpo e uma dívida de R$ 2 milhões deais. Helena deveria ter sentido desconfiança.
Deveria ter questionado porque o homem que seu marido havia arruinado estava coincidentemente no mesmo aeroporto, na mesma manhã em que ela descobriu a traição. Mas naquele momento, olhando para Renato Duarte, tudo o que Helena conseguia pensar era que finalmente estava diante de alguém que entendia exatamente quem Bruno Carvalho realmente era. Por que está me contando isso? Renato girou o copo de whisky entre os dedos.
Porque sei exatamente o que ele é capaz de fazer e porque tenho uma boa ideia do que aconteceu para você estar aqui sozinha, bebendo como se o mundo tivesse acabado. Você não sabe nada sobre mim. Sei que você guardou sua virgindade para ele. Todo mundo no círculo social de Bruno sabia.
Ele transformou isso em piada em mais de um jantar de negócios quando você não estava presente. A voz de Renato permaneceu fria. Factual. Sei que ele nunca teve intenção de ser fiel a você. Tatiana Montenegro não é a primeira e não seria a última. Helena sentiu as lágrimas que havia segurado por horas finalmente ameaçarem escapar. Ela as engoliu junto com o resto da vodica.
Como você sabe sobre Tatiana? Eu faço meu dever de casa. Renato a encarou diretamente. E eu tenho uma proposta para você. O mundo pareceu ficar em câmera lenta. Helena podia ouvir seu próprio coração batendo nos ouvidos, os unido do ar condicionado do aeroporto, o murmúrio distante de anúncios de embarque.
Que tipo de proposta? Renato se inclinou ligeiramente para mais perto. Sua colônia tinha notas de cedro e algo cítrico que Helena não conseguiu identificar. “Casa comigo agora, antes que Bruno perceba que você sumiu.” Helena riu. Uma risada curta, amarga. borbulhando de algum lugar que ela não reconhecia. Você é louco, talvez, mas pense por um segundo.
Renato não desviou o olhar. Neste momento, Bruno provavelmente ainda está dormindo, satisfeito consigo mesmo depois da noite com a Wedding Planner. Quando acordar e descobrir que você sumiu, vai entrar em pânico. Não porque te ama, mas porque seu plano cuidadoso está desmoronando. Ele precisa do seu pai, das conexões da sua família. precisa do casamento para parecer respeitável. E casar com você muda o quê? Muda tudo.
Imagina a manchete. Noiva abandona lua de mel e casa com rival do marido. A humilhação pública vai destruí-lo. Todos os investidores, todos os parceiros de negócios, toda a alta sociedade paulistana vai ver Bruno Carvalho pelo que ele realmente é. Um homem incapaz de manter sequer uma esposa por três dias. Helena balançou a cabeça, tentando processar o absurdo daquela conversa.
E você ganha o que com isso? Vingança. A palavra saiu simples, direta, sem floreios. Trs anos atrás, Bruno destruiu minha vida, minha empresa, minha noiva, minha reputação. Eu reconstruí tudo, tijolo por tijolo. Tenho mais dinheiro agora do que tinha antes. Mas o que eu não tenho é justiça. E me usar para humilhá-lo é justiça.
Você não seria usada. Seria uma parceria. Renato tirou um cartão de visitas do bolso e o colocou sobre o balcão. Eu te ofereço um contrato, um casamento de um ano. Em público, seríamos o casal perfeito. Em privado, cada um seguiria sua vida. No final do prazo, você recebe um apartamento em São Paulo, R$ 500.000, e um divórcio limpo. Liberdade total para recomeçar. Helena olhou para o cartão.
Papel de alta gramatura letras em relevo dourado. Renato Duarte, CEO Duarte Investimentos. Isso é insano. Isso é uma oportunidade. Renato se levantou, deixando algumas notas de dólar sobre o balcão para pagar as bebidas. Seu voo para São Paulo sai em 3 horas. O consulado brasileiro nas Maldivas abre em duas. Se você decidir aceitar, me encontre lá.
Ele começou a se afastar, mas parou depois de alguns passos e virou-se para ela. Helena, sei que você não me conhece. Sei que tudo isso parece loucura, mas me responda uma coisa. Você quer passar o resto da vida sendo a esposa troféu de um homem que te chamou de negócio fechado ou quer mostrar para ele e para o mundo que você é muito mais do que ele jamais mereceu? Ele foi embora sem esperar resposta.
Helena ficou sozinha no bar, olhando para o cartão de visitas e para as perguntas impossíveis que sua vida havia se tornado em menos de 12 horas. Ela pensou em Bruno, na risada dele enquanto transava com outra mulher, nas palavras que a reduziram a um investimento, um meio para atingir um fim. Pensou em sua mãe, que sempre a criticou por ser antiquada demais, sonhadora demais, ingênua demais.
pensou em seu pai, que sem saber havia sido o verdadeiro alvo do casamento desde o início, e pensou em si mesma aos 28 anos, sentada num aeroporto do outro lado do mundo, com o coração em pedaços e uma decisão impossível nas mãos. O relógio do barcava 7:15 quando Helena terminou sua terceira dose de vodica, 7:45 quando pagou a conta e saiu do bar e 8:20 quando ela entrou no consulado brasileiro, encontrou Renato Duarte esperando na sala de espera e disse a palavra que mudaria sua vida para sempre. Aceito. O consulado brasileiro nas Maldivas ocupava um prédio modesto
numa rua secundária de Malé, a capital do arquipélago. Paredes brancas descascadas, ar condicionado que mal funcionava e uma funcionária de meia idade chamada Dona Marlene, que olhou para Helena e Renato como se fossem alienígenas que acabassem de pousar em sua mesa de trabalho. Deixa eu ver se entendi. Dona Marlene disse pela terceira vez, ajustando os óculos de armação vermelha.
Vocês querem se casar agora aqui, sem publicação de editais, sem testemunhas previamente registradas, sem nada do que a lei brasileira exige. É uma emergência, Renato disse, mantendo a voz calma, apesar da evidente frustração. Existem procedimentos para casamentos em circunstâncias especiais no exterior. Sei que existem. Trabalhei aqui por 22 anos.
Dona Marlene cruzou os braços. Mas emergência é quando alguém está morrendo ou fugindo de guerra. Dois brasileiros que se conheceram num bar de aeroporto não é exatamente o que o legislador tinha em mente. Helena sentiu o sangue subir para o rosto. A menção do bar lembrou-a de quão absurda era toda aquela situação.
Havia concordado em casar com um completo estranho, baseada em uma conversa de 15 minutos e três doses de vodica. Sua mãe estava certa. Ela era ingênua demais para esse mundo. Estava prestes a se desculpar e ir embora. Quando Renato puxou o envelope do bolso interno do palitó. Talvez isto ajude a acelerar o processo.
Dona Marlene abriu o envelope e Helena viu seus olhos se arregalarem por trás dos óculos. Isso é uma doação generosa para o fundo de assistência consular, Renato disse suavemente. Tenho certeza de que há muitos brasileiros em situação de vulnerabilidade que poderiam se beneficiar. O silêncio que se seguiu durou exatamente 12 segundos. Helena contou. Bem, dona Marlene disse finalmente, guardando o envelope na gaveta.
Considerando as circunstâncias especiais, acho que podemos encontrar uma solução. Vou precisar dos passaportes de vocês e de duas testemunhas. Renato se virou para Helena. Esperava que você me dissesse sim. Então tomei a liberdade de providenciar testemunhas. Ele fez um sinal e dois homens entraram pela porta do consulado.
Um era alto, negro, com dreads amarrados num coque no topo da cabeça e uma expressão que sugeria que estava se divertindo muito com toda a situação. O outro era mais baixo, careca, com um terno impecável que parecia completamente fora de lugar no calor tropical das Maldivas. Helena, estes são Daniel e Marcos, meus advogados e testemunhas ocasionais de decisões impulsivas.
Daniel, o dos Dreads, sorriu abertamente. Prazer, já testemunhei três casamentos do Renato. Esse é de longe o mais estranho. Três casamentos? Helena não conseguiu esconder o choque. Casamentos de negócios. Marcos esclareceu rapidamente. Renato organiza eventos corporativos, às vezes precisa de testemunhas de última hora para clientes internacionais.
Helena não tinha certeza se acreditava nisso, mas não era o momento para questionamentos. Dona Marlene já estava digitando furiosamente no computador, os dedos voando sobre o teclado, como se temesse que alguém fosse mudar de ideia a qualquer momento. Nome completo: Helena Cristina Martins. Ela respondeu automaticamente. Estado civil anterior, Helena hesitou.
Tecnicamente, ela ainda era casada com Bruno. O casamento havia sido realizado na igreja e no cartório em Belo Horizonte há apenas três dias. Casada, ela admitiu, sentindo o peso da palavra. Dona Marlene parou de digitar e olhou para ela por cima dos óculos. Querida, você não pode se casar se já é casada. Isso se chama bigamia. É crime.
O casamento foi realizado sob fraude. Renato interveio. Meu cliente não tinha ciência da verdadeira intenção do cônjuge. Há precedentes legais para anulação imediata em casos de erro essencial quanto à pessoa do cônjuge. Seu cliente Helena o encarou. Eu sou sua cliente agora. Figura de linguagem. Renato manteve a expressão neutra.
O ponto é que legalmente temos argumentos para considerar o primeiro casamento nulo desde o início. Marcos já está preparando a documentação para protocolar o pedido de anulação assim que voltarmos ao Brasil. Helena sentiu a cabeça girar. havia acordado naquela manhã como esposa de Bruno Carvalho e agora estava discutindo anulação e novo casamento num consulado minúsculo do outro lado do planeta, com homens que mal conhecia, tratando sua vida como uma questão de precedentes legais.
“Eu preciso de um minuto.” Ela se levantou e saiu para o corredor antes que qualquer um pudesse impedi-la. O ar lá fora estava úmido e pesado, típico do clima tropical, mas pelo menos era ar fresco, ou mais fresco que o ambiente sufocante da sala do consulado. Não demorou muito para Renato aparecer ao lado dela.
Está tendo dúvidas? Não era uma pergunta. Estou tentando entender o que estou fazendo. Helena respondeu. Ontem de manhã eu era uma noiva feliz. Agora estou prestes a cometer bigamia com um homem que acabei de conhecer. Tecnicamente não é bigamia.
Se o primeiro casamento for anulado retroativamente, isso deveria me fazer sentir melhor?” Renato se encostou na parede ao lado dela, as mãos nos bolsos da calça. Não, mas talvez isso ajude. Você pode desistir a qualquer momento. Agora, daqui a 5 minutos, depois que assinarmos os papéis, se você quiser ir embora, eu chamo um táxi.
Pago seu voo de volta para Belo Horizonte e fingimos que nada disso aconteceu. E por que você faria isso? Porque eu não sou Bruno. Pela primeira vez, Helena viu algo além da frieza nos olhos de Renato. Uma sombra de algo que poderia ser raiva ou talvez dor. Eu sei o que é ser usado como peça num jogo de outra pessoa.
Não vou fazer isso com você, mesmo que isso signifique perder minha chance de vingança. Helena o estudou em silêncio. Havia algo estranho naquela declaração, uma sinceridade que ela não esperava de um homem que estava propondo um casamento de conveniência. Por que você quer tanto se vingar dele? Renato desviou o olhar para a rua, onde uma moto passou buzinando alto demais.
Bruno não apenas roubou minha empresa, ele fez isso de propósito, sabendo que me destruiria. E depois, não satisfeito em me tirar tudo, ele se aproximou da minha noiva, convenceu-a de que eu era um fracassado, que nunca ofereceria nada a ela. Três meses depois que perdi tudo, ela terminou comigo.
Seis meses depois, vi fotos dela num evento de gala, no braço de Bruno. Ela e Bruno não sei se chegaram a ter um caso. E francamente, não me importo mais. O que me importa é que ele fez aquilo de propósito, não para ficar com ela, mas para me machucar, para mostrar que podia tomar qualquer coisa que eu valorizasse. Renato finalmente voltou a olhar para Helena. Você era mais uma coisa que ele achava que podia ter.
Uma esposa troféu para impressionar os investidores, com conexões para facilitar seus negócios. Ele nunca viu você como pessoa, apenas como mais uma conquista. As palavras doeram mais do que Helena esperava, principalmente porque confirmavam o que ela já sabia, mas tentava não aceitar.
Se eu casar com você, não vou ser outra conquista? Não, você vai ser uma parceira com contrato, regras claras e uma saída garantida quando quiser. Helena olhou para o céu tropical, tentando encontrar respostas nas nuvens brancas que passavam lentamente. Tudo bem, ela disse. Finalmente. Vamos fazer isso. De volta à sala do consulado, dona Marlene havia preparado todos os documentos.
O casamento civil foi rápido, burocrático e completamente desprovido de romance. Não houve músicas, nem flores, nem promessas de amor eterno. Apenas assinaturas em papel oficial, carimbos e um Podem se beijar murmurado por dona Marlene, que resultou num selinho tão breve que mal contou. Às 10:47 da manhã, Helena deixou de ser Helena Martins e passou a ser Helena Duarte.
E agora? Ela perguntou quando saíram do consulado, o certificado de casamento dobrado na bolsa junto com o passaporte. Agora, Renato disse, nós vamos para São Paulo e começamos a segunda parte do plano, que é fazer Bruno Carvalho desejar nunca ter ouvido falar em nenhum de nós dois. O sorriso que acompanhou aquela declaração foi a primeira coisa que fez Helena sentir algo além de dor desde a noite anterior, algo que, se ela fosse honesta consigo mesma, parecia perigosamente com esperança.
A cobertura de Renato Duarte ocupava os dois últimos andares de um edifício de luxo nos jardins, um dos bairros mais nobres de São Paulo. Helena passou os primeiros 10 minutos após chegar simplesmente parada na entrada, tentando processar a quantidade de espaço.
O apartamento de Bruno em São Paulo, onde ela deveria estar morando após a lua de mel, era impressionante, mas comparado a isso, parecia modesto. Pisos de mármore italiano que refletiam a luz do fim de tarde. Janelas do piso ao teto que ofereciam uma vista panorâmica da cidade, móveis de design que Helena reconheceu de revistas de arquitetura, cada peça custando provavelmente mais que um carro popular, uma escada em espiral que levava ao segundo andar, onde ficavam os quartos.
Fique à vontade”, Renato disse, colocando as malas dela no chão. Helena havia feito uma breve parada no resort nas Maldivas, para pegar seus pertences antes de pegarem o jato particular dele para o Brasil. Seu quarto é o segundo à esquerda no andar de cima. Tem closet e banheiro próprios.
O meu é no final do corredor, quartos separados. Helena repetiu, lembrando das regras do acordo que haviam discutido durante o voo. Como combinado, em público somos o casal perfeito. Em privado, você tem seu espaço e eu tenho o meu. Renato começou a subir as escadas. O jantar é às 8. Sandra, a cozinheira, prepara refeições incríveis.
Se tiver alguma restrição alimentar, me avise que eu informo a ela. Renato. Ele parou no meio da escada e se virou. Obrigada, Helena, disse, surpreendendo a si mesma com a sinceridade na própria voz. Sei que isso tudo é estranho e que provavelmente vou me arrepender, mas obrigada por me dar uma saída. Algo no olhar de Renato suavizou por uma fração de segundo.
Não me agradeça ainda. A parte difícil está apenas começando. Ele desapareceu no andar de cima e Helena ficou sozinha na vastidão daquela cobertura que agora era sua casa. As primeiras semanas foram um exercício em constrangimento mútuo. Helena descobriu que Renato era obsessivamente organizado.
Cada item no apartamento tinha seu lugar designado e ele notava imediatamente quando algo era movido. Acordava às 5 da manhã para correr na esteira do home do segundo andar, tomava café preto às 6:30 em ponto e saía para o escritório às 7:15, retornando apenas depois das 9 da noite. Os jantares eram silenciosos. Sandra, uma senhora baiana de 60 anos com mãos mágicas na cozinha, preparava pratos elaborados que Helena comia sem sentir o gosto.
Renato respondia mensagens no celular entre garfadas e a conversa quando existia era sobre logística doméstica. O decorador vem amanhã para o seu quarto. Se quiser mudar alguma coisa, pode escolher o que preferir. A assessoria de imprensa quer agendar uma sessão de fotos para o anúncio oficial do casamento.
Quarta-feira funciona para você? Marcos enviou os papéis da anulação do seu casamento anterior. Precisa assinar aqui, aqui e aqui. Era como morar com um colega de trabalho particularmente eficiente e completamente desinteressado em qualquer tipo de conexão pessoal. Helena tentou não se importar. Afinal, era exatamente isso que haviam combinado.
Nada de sentimentos, nada de intimidade, apenas uma parceria de conveniência com prazo de validade. Mas à noite, sozinha no quarto decorado com móveis que não havia escolhido, olhando para a cidade iluminada lá embaixo, ela sentia o peso daquela solidão apertar seu peito como um punho cerrado. O primeiro evento público aconteceu duas semanas depois do casamento.
Era um jantar de gala beneficente no Palácio dos Bandeirantes, organizado por uma fundação que apoiava projetos educacionais em comunidades carentes, 300 convidados, todos do topo da pirâmide social paulistana, que, é claro, Bruno Carvalho havia confirmado presença. Helena passou o dia inteiro no salão de beleza sendo maquiada, penteada e transformada numa versão de si mesma que mal reconhecia no espelho.
O vestido escolhido por uma personal stylist que Renato havia contratado era de um vermelho profundo que contrastava dramaticamente com sua pele clara e seus cabelos escuros, decote nas costas até a cintura, fenda na perna esquerda até a metade da coxa. Era o tipo de vestido que Helena nunca teria coragem de usar em circunstâncias normais, mas essas não eram circunstâncias normais.
Quando desceu as escadas da cobertura, Renato a esperava na sala, impecável num smoking preto que parecia ter sido feito sob medida para seu corpo. Por um momento, nenhum dos dois disse nada. Helena viu algo passar pelos olhos de Renato. Surpresa, talvez admiração, antes que ele recuperasse a compostura habitual. “Você está adequada”, ele disse. “Finalmente, adequada?”, Helena repetiu com uma risada seca.
Exatamente o elogio que toda mulher sonha em ouvir. Desculpe, não sou bom com essas coisas. Renato se aproximou e, para surpresa de Helena, pegou a mão dela. Você está linda. Bruno vai se arrepender de cada decisão que tomou quando vir você essa noite. O toque da mão dele era quente e firme.
Helena sentiu um arrepio subir pelo braço, que nada tinha a ver com o ar condicionado. “Pronta?” “Não,” ela admitiu. “Mas vamos mesmo assim. O jantar foi exatamente o inferno que Helena esperava, só que pior, Bruno a viu assim que ela entrou no salão, no braço de Renato. A expressão dele passou de choque para raiva, para algo que Helena só poderia descrever como puro ódio em questão de segundos. Ele estava acompanhado, não de Tatiana.
Helena soube depois que a Wedding Planner havia sido convenientemente enviada para supervisionar um casamento em Dubai, mas de uma mulher loira e magra demais que ela não reconheceu. A noite inteira foi uma dança de evitação e provocação. Helena e Renato circulavam pelo salão conversando com conhecidos e desconhecidos, sempre mantendo distância de Bruno.
Mas os olhares se cruzavam constantemente, carregados de uma tensão que fazia o ar ao redor deles parecer eletrificado. Foi perto das 11 da noite, quando Helena se afastou para ir ao banheiro, que Bruno finalmente a encurralou no corredor. “Você perdeu a cabeça!”, ele sebilou, bloqueando a passagem dela.
“Casar com Renato Duarte? Ele é um ninguém, um fracassado que eu destruí há três anos. Parece bem recuperado para um fracassado, Helena respondeu, surpreendendo a si mesma com a firmeza na própria voz. E pelo menos ele não me trata como um negócio fechado. Bruno empalideceu. Você ouviu? Ouvi tudo, cada palavra.
Helena deu um passo para mais perto dele, aproveitando a diferença de altura que o salto proporcionava. 4 anos, Bruno. 4 anos esperando pelo homem que achava que você era. Mas você nunca existiu, não é? Era tudo uma fraude. O respeito, a paciência, o amor, tudo mentira. Helena, eu posso explicar. Não me interessa sua explicação. Ela o contornou, continuando em direção ao banheiro. Nós terminamos e dessa vez é para sempre.
Isso não vai ficar assim. Bruno gritou atrás dela, alto demais para um corredor de um evento elegante. Você vai se arrepender, Helena. Você e seu novo maridinho vão se arrepender. Helena não olhou para trás, mas quando voltou para o salão e encontrou Renato esperando por ela perto da saída, algo tinha mudado.
Algo dentro dela que estivera adormecido por 4 anos, ou talvez pela vida inteira, finalmente começava a despertar. E quando Renato ofereceu o braço para ela e eles saíram juntos daquele jantar, Helena percebeu que pela primeira vez, desde que podia se lembrar, estava fazendo exatamente o que queria fazer.
O problema era que ela ainda não sabia exatamente o que queria, mas tinha a sensação de que estava prestes a descobrir. O Instagram explodiu no dia seguinte. Helena acordou com o celular vibrando sem parar na mesa de cabeceira. Quando finalmente reuniu coragem para olhar, encontrou centenas de notificações.
Fotos dela e Renato no jantar de gala estavam em todas as colunas sociais, blogs de fofoca e perfis de influenciadores que ela nem sabia que a seguiam. Noiva abandona a lua de mel e casa com o rival do marido. A história de vingança que está chocando a elite paulistana. Bruno Carvalho, humilhado, ex-esposa, aparece deslumbrante com novo marido em evento de gala. Helena Martins de esposa Troféu, a protagonista da própria história.
Os comentários eram uma mistura de apoio entusiástico, julgamento implacável e teorias conspiratórias cada vez mais absurdas. Alguns a chamavam de heroína, outros de interesseira. Alguns questionavam a sanidade de Renato, outros o celebravam como um romântico. A maioria simplesmente queria mais detalhes, mais drama, mais combustível para a fogueira da curiosidade alheia.
Helena estava terminando de ler pela décima vez um artigo particularmente maldoso quando ouviu batidas na porta do quarto. Entre Renato apareceu segurando duas xícaras de café. Vestia roupas de ginástica, camiseta cinza colada ao corpo, shorts pretos, tênis de corrida e parecia ter acabado de voltar do exercício matinal. Achei que você pudesse precisar disso. Ele entregou uma das xícaras para ela. Vi as notícias.
Todo mundo viu as notícias, aparentemente é o que queríamos. Renato se sentou na poltrona perto da janela, mantendo uma distância respeitável. A humilhação pública de Bruno está em andamento. As ações da empresa dele caíram 3% só essa manhã. Helena tomou um gole do café. Estava perfeito, forte, sem açúcar, exatamente como ela gostava quando ela havia mencionado isso. E agora? Agora mantemos a pressão.
Mais eventos, mais aparições, mais fotos de um casal delirante de felicidade. Renato cruzou as pernas, equilibrando a xícara sobre o joelho. A assessoria de imprensa quer organizar uma entrevista exclusiva para uma revista de celebridades. Nada muito profundo, apenas o básico.
Como nos conhecemos? Por que nos apaixonamos tão rapidamente nossos planos para o futuro? Vamos mentir, então. Vamos adaptar a verdade. Renato sorriu levemente e Helena percebeu que era a primeira vez que o via sorrir de verdade. Dizemos que nos conhecemos há mais tempo do que parece, que sempre houve uma conexão, mas o momento nunca era certo, que quando finalmente ficamos juntos, soubemos imediatamente que era para sempre. Ninguém vai acreditar nisso.
As pessoas acreditam no que querem acreditar e a maioria quer acreditar em uma história de amor épica, muito mais do que em um acordo de vingança entre dois estranhos. Helena colocou a xícara na mesa de cabeceira e se encolheu sob as cobertas. Posso te fazer uma pergunta? Pode.
Por que você está sendo tão gentil comigo? Renato franziu o senho. Gentil. O café. Bater antes de entrar. manter distância física até o jeito como você fala comigo, como se estivesse se esforçando para não não sei, para não me assustar. Helena o estudou, tentando decifrar aquele homem que era um enigma ambulante. Você poderia ter exigido muito mais desse acordo. Poderia estar me tratando como Bruno tratava, mas não está. Por um longo momento, Renato não respondeu.
Helena viu algo cruzar seu rosto, uma sombra de dor, talvez, ou de memória, antes que ele recuperasse a expressão neutra. “Minha mãe”, ele disse finalmente. “Meu pai abandonou a gente quando eu tinha 8 anos. Foi embora sem explicação, sem despedida. Um dia estava lá, no dia seguinte sumiu. Minha mãe trabalhou três empregos para nos sustentar, eu e minha irmã.
Limpava casas de manhã, trabalhava em restaurante de tarde e costurava uniformes de madrugada. Ele tomou um gole do café como se precisasse de um momento para se recompor. Ela me ensinou que as pessoas merecem ser tratadas com dignidade, independentemente das circunstâncias, que a dor nunca justifica causar mais dor e que a medida de um homem não é o quanto ele tem, mas como ele trata, quem não pode lhe oferecer nada.
Helena sentiu algo apertar em seu peito. Ela parece uma mulher incrível. É, trabalhou até os 65 anos para pagar minha faculdade e a da minha irmã. Hoje mora numa casa que eu comprei para ela em Santos, perto da praia. Passa os dias cuidando do jardim e cozinhando para os vizinhos. Vocês são próximos? muito.
O rosto de Renato suavizou de uma forma que Helena nunca tinha visto. Ela é provavelmente a única pessoa no mundo que consegue me fazer rir de verdade e a única que não tem medo de me dizer quando estou sendo um idiota. Helena sorriu apesar de si mesma. Ela sabe sobre sobre esse casamento, sobre o acordo. Não. E prefiro que continue assim. Renato se levantou, levando a xícara vazia consigo.
Não quero que ela pense que estou usando você. Ela não aprovaria. Mas você está me usando. Nós estamos nos usando mutuamente. Ele parou na porta, virando-se para ela. Mas isso não significa que preciso ser um cretino a respeito. Helena, eu sei que essa situação é bizarra. Sei que você está passando pelo momento mais difícil da sua vida e sei que eu sou um estranho que te ofereceu um acordo insano num bar de aeroporto às 6 da manhã.
Mas enquanto isso durar, vou te tratar com respeito, não porque faz parte do acordo, mas porque é o certo a fazer. Ele saiu, fechando a porta atrás de si com um clique suave. Helena ficou olhando para a porta fechada por um longo tempo, processando tudo o que ele havia dito. Algo estava mudando, algo que ela não esperava e não sabia nomear.
E quando finalmente se levantou para começar o dia, percebeu que estava sorrindo não muito. Apenas um curvamento leve dos lábios que desapareceu assim que ela percebeu. Mas era mais do que havia sorrido nos últimos 15 dias. E isso por si só era alguma coisa. O primeiro mês passou mais rápido do que Helena esperava.
Entre sessões de fotos para revistas, aparições em eventos e entrevistas cuidadosamente roteirizadas, ela mal teve tempo para processar tudo o que estava acontecendo. Sua vida havia se transformado numa performance constante, um papel que ela representava cada vez que saía de casa. A esposa apaixonada de Renato Duarte, a mulher que havia abandonado a lua de melor da sua vida. a protagonista de uma história de amor que ironicamente não tinha nada de amor ou tinha.
Helena começou a perceber pequenas coisas. O modo como Renato sempre puxava a cadeira para ela sentar nos restaurantes, a maneira como ele colocava a mão nas costas dela, sempre no mesmo ponto, logo acima da cintura, quando caminhavam juntos.
O jeito como ele escutava quando ela falava realmente escutava, sem interromper ou desviar o olhar para o celular. No início, ela assumiu que era tudo parte do show, a performance pública de um casal perfeito, mas então começou a notar que ele fazia as mesmas coisas quando estavam sozinhos. Perguntava sobre o dia dela durante os jantares.
Lembrava de detalhes que ela mencionava de passagem: O sabor de sorvete favorito, o filme que a fazia chorar toda vez, o nome da melhor amiga de infância. Deixava pequenos presentes no quarto dela, um livro que ela havia comentado querer ler, chocolates suíços que ela adorava, flores frescas toda segunda-feira. “Não precisa fazer isso”, ela disse numa noite quando encontrou uma edição rara de um livro de arquitetura brasileira sobre a cama.
“Não faz parte do acordo.” “Eu sei.” Renato respondeu simplesmente, “mas gostei de ver você feliz quando encontrou o vaso de orquídea semana passada. Achei que isso poderia ter o mesmo efeito. Helena não soube o que responder. Foi no segundo mês que ela conheceu dona Lúcia, a mãe de Renato. A visita não estava planejada.
Um domingo à tarde, Helena estava na varanda da cobertura, lendo um romance quando a campainha tocou. Renato havia saído para resolver algo no escritório. Mesmo aos domingos ele trabalhava e ela assumiu que era alguma entrega. abriu a porta e encontrou uma mulher pequena de cabelos grisalhos presos num coque, vestindo um vestido florido que parecia ter sido feito à mão.
Os olhos eram os mesmos de Renato, castanhos escuros, intensos, mas havia neles uma calidez que Helena nunca vira no filho. “Você deve ser Helena”, a mulher disse sorrindo. “Sou Lúcia, a mãe do Renato.” Helena congelou. pensou em todas as mentiras que teria que contar, em todas as perguntas que não poderia responder com honestidade. Não se preocupe, querida. Meu filho não sabe que eu vim.
Dona Lúcia entrou sem esperar convite, olhando ao redor com uma familiaridade que sugeria que ela conhecia bem aquele apartamento. Vim conhecer a mulher que finalmente conseguiu quebrar as defesas dele. Dona Lúcia, eu me chame de Lúcia ou de sogra, se preferir. A mulher se sentou no sofá da sala com a naturalidade de quem estava em casa.
Sei que meu filho não é fácil. Sei que ele provavelmente não contou nada sobre mim, sobre a família, sobre a infância. Ele é assim desde criança, guarda tudo por dentro, não deixa ninguém se aproximar de verdade. Na verdade, ele me contou algumas coisas. Helena se sentou na poltrona em frente a ela, ainda processando a situação.
Sobre como você criou ele e a irmã sozinha, sobre os três empregos. Algo brilhou nos olhos de dona Lúcia. Contou mesmo? Disse que a senhora é a pessoa mais incrível que ele conhece. Dona Lúcia ficou em silêncio por um momento, os olhos marejados. Esse menino ela murmurou balançando a cabeça. Nunca diz essas coisas para mim diretamente, mas me liga toda semana, pergunta se estou precisando de alguma coisa, aparece em Santos, sem avisar só para me ver cozinhar. Ela olhou diretamente para Helena. Ele é assim.
Demonstra amor com ações, não com palavras. Se você esperar que ele diga o que sente, vai esperar para sempre. Mas se prestar atenção no que ele faz, Helena pensou nos presentes, nos gestos. na atenção aos detalhes. “Ele é uma boa pessoa”, ela disse, surpresa ao perceber que acreditava genuinamente nisso. “É, mas foi muito machucado.” Dona Lúcia suspirou. Quando o pai foi embora, Renato tinha só 8 anos.
De uma hora para outra, virou o homem da casa. Cuidava da irmã menor enquanto eu trabalhava, fazia a comida, limpava a casa, não reclamava, não chorava, não pedia nada. simplesmente assumiu a responsabilidade. Isso explica muita coisa.
E depois, quando finalmente parecia que ele tinha encontrado alguém que ia ser feliz, dona Lúcia fez uma pausa. Bruno destruiu tudo, não só a empresa, mas também o relacionamento. A noiva do Renato, ela escolheu o dinheiro em vez da pessoa e meu filho se fechou ainda mais. Jurou que nunca mais ia deixar ninguém chegar perto o suficiente para machucá-lo. Helena sentiu um aperto no peito.
E aí apareceu você. Dona Lúcia continuou sorrindo. Ele me ligou de Maldivas para contar que tinha casado. Pela primeira vez em três anos ouvi alguma coisa diferente na voz dele. Não sei se é felicidade ainda, mas é esperança. Acho que ele voltou a ter esperança. Dona Lúcia, eu preciso ser honesta.
Helena começou não sabendo exatamente o que ia dizer, mas sentindo que precisava dizer algo. Não precisa. A mulher se levantou e foi até Helena, pegando suas mãos entre as dela. Não sei os detalhes do que aconteceu entre vocês. Não sei se foi amor à primeira vista ou algo mais complicado, mas sei reconhecer quando duas pessoas precisam uma da outra.
E vocês dois precisam. A senhora tem certeza? Tenho 59 anos de vida, querida. Já vi muita coisa. Dona Lúcia beijou a testa de Helena com uma ternura maternal que a fez querer chorar. Cuide do meu filho e deixe ele cuidar de você. É tudo o que peço.
Quando Renato voltou do escritório naquela noite, encontrou Helena na sala, olhando pela janela para as luzes da cidade. Aconteceu alguma coisa? Sua mãe esteve aqui. Renato parou no meio do movimento de tirar o palitó. Minha mãe veio me conhecer. disse que você não sabia. Helena se virou para ele. Ela é exatamente como você descreveu. Incrível. Por um longo momento, Renato não disse nada, apenas ficou ali parado, com uma expressão que Helena não conseguiu decifrar.
O que ela disse? Que eu devo cuidar de você e deixar você cuidar de mim. O silêncio que se seguiu estava carregado de algo que nenhum dos dois sabia nomear. Minha mãe sempre foi mais esperta que eu, Renato disse finalmente. Enxerga coisas que eu demoro anos para perceber. Que tipo de coisas? Ele a encarou. E Helena viu nos olhos dele algo que a fez prender a respiração.
Coisas importantes. Ele respondeu. Coisas que mudam tudo. Naquela noite, pela primeira vez desde que haviam se casado, Renato e Helena ficaram acordados, conversando até às 3 da manhã. Não sobre o acordo, não sobre Bruno, não sobre vingança, sobre eles, suas histórias, seus medos, seus sonhos abandonados e os que ainda usavam ter.
E quando finalmente foram dormir, cada um em seu quarto separado, ambos ficaram acordados ainda mais tempo, pensando em como tudo estava mudando e em como nenhum dos dois tinha certeza se isso era bom ou terrível. Precisamos de novas fotos para as redes sociais”, Renato anunciou numa quinta-feira à noite durante o jantar. “A assessoria de imprensa sugere um fim de semana em Búzios. Tenho uma casa lá.
” Helena quase engasgou com o vinho. “Búzios, nós dois?” É o que casais fazem. Viajam juntos. Ele manteve a expressão neutra, mas Helena começou a notar as pequenas pistas, a tensão quase imperceptível nos ombros, o modo como ele evitava olhar diretamente para ela. A casa tem quartos separados.
Não vai ser diferente de ficar aqui, exceto que seria completamente diferente. E ambos sabiam disso. Partiram na sexta-feira de manhã, num jato particular que Helena ainda não tinha se acostumado a usar. A casa de Búzios ficava numa área privada, com acesso direto a uma praia praticamente deserta. Era menor que a cobertura de São Paulo, mais aconchegante, com móveis de madeira e decoração, que lembrava uma casa de pescador elegantemente renovada.
“Minha mãe escolheu a decoração”, Renato explicou quando viu Helena observando os detalhes. Disse que eu precisava de um lugar que parecesse um lar, não um escritório. Ela estava certa. O primeiro dia foi dedicado às fotos. Um fotógrafo profissional passou horas os posicionando na praia, na varanda, na piscina.
Sorrisos forçados, poszes ensaiadas, beijos que não eram beijos de verdade, apenas lábios que se tocavam brevemente para as câmeras. Mas quando o fotógrafo foi embora, algo mudou. Talvez fosse o efeito do vinho que beberam no jantar. Talvez fosse a brisa do mar que entrava pelas janelas abertas.
Talvez fosse o fato de que, pela primeira vez em meses, estavam verdadeiramente sozinhos, sem empregados, sem assessores, sem expectativas. “Me conta uma coisa que você nunca contou para ninguém”, Helena pediu. Eles estavam na varanda, sentados em espreguiçadeiras, lado a lado, olhando para o mar escuro sob a lua cheia. Renato ficou em silêncio por tanto tempo que Helena achou que ele não ia responder.
“Eu chorei”, ele disse finalmente, “Quando Bruno destruiu tudo, quando minha noiva foi embora, fiquei três dias trancado no meu apartamento, sem comer, sem dormir, apenas chorando, como não chorava desde que meu pai abandonou a gente. Isso não é algo para se envergonhar, eu sei, mas nunca contei para ninguém, nem para minha mãe, nem para minha irmã.
Para o mundo, eu era o empresário de sucesso que teve um revés e se recuperou mais forte. Ninguém nunca soube o quanto eu estava quebrado por dentro. Helena sentiu vontade de tocá-lo, de segurar sua mão, mas algo a impediu. Por que está me contando agora? Renato finalmente virou o rosto para olhá-la. Porque você também está quebrada? E porque talvez duas pessoas quebradas possam se entender de uma forma que pessoas inteiras não conseguem.
O vinho tinha deixado Helena com os pensamentos mais lentos, as emoções mais expostas. Antes que pudesse se censurar, as palavras saíram. Eu tinha medo da primeira vez, por isso esperei tanto. Ela respirou fundo, sentindo o peso da confissão. Todo mundo achava que era por alguma razão nobre, algum princípio.
Mas a verdade é que eu tinha medo de não ser suficiente, de decepcionar, de ser rejeitada. E Bruno aproveitou esse medo. Ele fez parecer que estava me respeitando quando, na verdade, estava me usando. Transformou minha vulnerabilidade numa piada. Helena sentiu as lágrimas quentes escorrerem pelo rosto, mas não tentou escondê-las. 4 anos esperando pelo momento perfeito e no final era tudo mentira.
Renato se levantou da sua espreguiçadeira e se sentou na borda da de Helena. Devagar, dando a ela tempo para se afastar, se quisesse, ele pegou a mão dela. “Você não é uma piada”, ele disse. A voz baixa, mas intensa. “Você é corajosa, mais corajosa do que qualquer pessoa que eu conheço. Você teve o mundo jogado na sua cara e não se quebrou.
Levantou, tomou uma decisão impossível e reconstruiu sua vida em semanas. Eu não me sinto corajosa, me sinto perdida. Podemos estar perdidos juntos.” Ele apertou a mão dela. Pelo menos assim, nenhum de nós está sozinho. O que aconteceu depois poderia ser culpa do vinho, poderia ser o luar, poderia ser o acúmulo de semanas de tensão não resolvida.
Helena nunca soube quem se inclinou primeiro. Só soube que, de um momento para outro, seus lábios estavam nos de Renato. E aquele beijo não era para câmeras. Era fome, era desespero, era duas pessoas solitárias, finalmente admitindo que precisavam de algo além de um acordo comercial. Renato a puxou para mais perto, as mãos dele encontrando a cintura dela, e Helena sentiu seu corpo responder de uma forma que nunca havia respondido antes.
Não era medo, não era hesitação, era desejo puro e innegável. Eles se afastaram ofegantes, testas encostadas, respirações misturadas. Não podemos fazer isso, Renato disse, a voz rouca. O acordo, o acordo. Helena respondeu, surpreendendo a si mesma. Helena, ele segurou o rosto dela entre as mãos, forçando-a a olhar nos olhos dele. Se isso acontecer, não vai ser por vingança, não vai ser parte de nenhum plano.
Vai ser porque você quer, só você. Eu quero. Tem certeza? Você nunca. Eu sei o que nunca fiz. Ela colocou a mão sobre a dele e sei que não quero que minha primeira vez seja algo que eu fiz pelo motivo errado, com a pessoa errada. Mas isso aqui com você não parece errado. Parece como deveria ter sido desde o início. Os olhos de Renato escureceram com algo que fez o estômago de Helena se contrair.
Se a gente cruzar essa linha, não tem volta. Eu sei. E eu não sou perfeito. Sou fechado, workaholic, emocionalmente constipado. Vou te frustrar. Vou te decepcionar. Vou. Helena o calou com outro beijo. Dessa vez ninguém parou. O quarto tinha janelas abertas para o mar. Helena se lembrava desse detalhe com clareza absurda.
A brisa salgada entrando, as cortinas brancas ondulando, o som das ondas quebrando na praia como uma melodia de fundo para o que estava acontecendo. Renato a carregou para dentro sem pressa, como se tivesse em todo o tempo do mundo. A depositou na cama com uma delicadeza que contrastava com a intensidade nos olhos dele.
“Você pode parar quando quiser”, ele disse, ajoelhando-se ao lado da cama. A qualquer momento, por qualquer razão, só precisa dizer. Helena puxou-o pelo colarinho da camisa. Para de falar. Ele riu, um som baixo, rouco, que ela nunca tinha ouvido antes, e obedeceu. O que se seguiu foi completamente diferente de tudo o que Helena tinha imaginado.
Ela esperava desconforto, talvez vergonha, a ansiedade de não saber o que fazer ou como fazer. Mas Renato a guiou com uma paciência infinita, prestando atenção em cada reação, em cada respiração, em cada pequeno som ela fazia. Ele descobriu coisas sobre o corpo dela que ela mesma não conhecia.
Pontos sensíveis que a faziam tremer, toques que a faziam perder o fôlego. Beijou lugares que ela nem sabia que podiam ser beijados. E quando finalmente aconteceu, quando ela sentiu a dor breve, seguida por algo completamente diferente, os olhos dele não desviaram dos dela nem por um segundo. “Está bem?”, ele perguntou a voz tensa de contenção. “Sim”, ela conseguiu dizer.
“Continue, ele continuou. E Helena descobriu que todas as histórias sobre primeiras vezes serem decepcionantes eram mentira, pelo menos quando a pessoa certa estava envolvida. Depois, deitados lado a lado, a pele úmida de suor, as respirações ainda descompassadas, Helena sentiu algo que não sentia há muito tempo.
Paz, não felicidade ainda. Era cedo demais para isso, mas uma paz profunda, uma sensação de estar exatamente onde deveria estar, fazendo exatamente o que deveria fazer. “No que você está pensando?”, Renato perguntou, os dedos traçando padrões preguiçosos no braço dela. Em como eu desperdicei 4 anos com a pessoa errada. Não desperdiçou.
A experiência fez você ser quem é hoje. Filósofo às 3 da manhã, apenas honesto ele virou de lado para olhá-la. Helena, eu preciso te contar uma coisa. Havia algo na voz dele que fez o estômago dela afundar. O quê? Não, agora ele balançou a cabeça. Não quero estragar esse momento, mas em breve você precisa saber a verdade sobre como nos conhecemos. A verdade? Nos conhecemos no bar do aeroporto.
Sim, mas há mais coisas que eu deveria ter contado desde o início. Helena sentiu o medo começar a se infiltrar no calor pós êxtase. Renato, o que você está dizendo? Ele pegou a mão dela e a beijou, os lábios demorando nos nós dos dedos. Amanhã eu conto tudo amanhã, mas essa noite, essa noite quero só ficar aqui com você, fingindo que somos duas pessoas normais que se encontraram de um jeito normal e se apaixonaram de um jeito normal.
“Você está se apaixonando por mim?”, a pergunta saiu antes que Helena pudesse se censurar. Por um momento terrível, ela se arrependeu de ter perguntado. Mas então, Renato sorriu, aquele sorriso raro, genuíno, que transformava seu rosto inteiro e disse: “Acho que já me apaixonei, só ainda não tinha percebido.” Helena não respondeu com palavras, respondeu beijando-o novamente.
E dessa vez, quando fizeram amor, foi diferente. Não foi fome nem desespero, foi ternura, foi conexão. Foi duas pessoas descobrindo que em algum momento entre o acordo calculado e a vingança planejada haviam encontrado algo muito mais precioso, algo que nenhum dos dois esperava, algo que poderia mudar tudo ou destruir tudo, dependendo do que Renato tinha para contar. De volta a São Paulo, tudo estava diferente.
Não havia mais quartos separados, não havia mais jantares silenciosos. Helena e Renato dormiam juntos, acordavam juntos, construíam uma rotina que se parecia assustadoramente com um casamento de verdade. Ele ainda trabalhava demais, mas agora voltava para casa mais cedo quando podia.
Ela começou a procurar emprego na área de arquitetura depois de anos enterrando sua carreira para ser a noiva perfeita de Bruno. Eles cozinhavam juntos nos fins de semana, assistiam filmes abraçados no sofá, faziam planos para o futuro, como se tivessem certeza de que haveria um futuro. O acordo de um ano parecia uma piada distante, até que Helena encontrou os documentos. Aconteceu num final de tarde de quarta-feira. Renato estava em reunião.
Helena estava no escritório dele procurando um carregador de celular. A gaveta do arquivo estava destrancada, algo que ela nunca tinha visto, e a curiosidade venceu. O que ela encontrou destruiu tudo, e-mails impressos, relatórios de investigadores particulares, fotos de Bruno e Tatiana em diversos encontros ao longo dos anos, cronogramas detalhados do casamento de Helena e, mais perturbador, registros que mostravam que Renato tinha informantes no resorte das Maldivas. Ele sabia. Semanas antes do casamento,
Renato já sabia que Bruno estava tendo um caso com Tatiana. Sabia que a traição aconteceria na Lua de Mel. Sabia exatamente quando e onde Helena estaria quando descobrisse o encontro casual no bar do aeroporto. Não foi casual, foi planejado. Cada detalhe, cada palavra, cada momento perfeitamente orquestrado para manipulá-la em seu momento mais vulnerável.
Helena estava sentada no chão do escritório, cercada pelos documentos quando Renato chegou em casa. Helena, você está Ele parou na porta vendo os papéis espalhados. A cor sumiu do rosto dele. Helena, eu posso explicar? Explicar? A voz dela saiu como um sussurro envenenado. Explicar que você me manipulou, que tudo isso foi calculado desde o início, que você sabia da traição e não me avisou porque precisava de mim vulnerável e destruída para o seu plano funcionar. Não foi assim.
Não foi assim. Helena se levantou, os papéis caindo ao redor dela como confetes de uma celebração sádica. Você tinha informantes no hotel, Renato? informantes. Poderia ter me avisado. Poderia ter impedido que eu passasse pela humilhação mais devastadora da minha vida, mas não fez, porque precisava que acontecesse. Precisava de mim destruída.
Helena, por favor, me deixa explicar. Você me usou. As lágrimas corriam pelo rosto dela agora, quentes e imparáveis. Tanto quanto Bruno, de um jeito diferente, mas me usou da mesma forma. foi uma peça no seu tabuleiro de vingança. No começo, sim, Renato deu um passo em direção a ela, mas parou quando ela recuou. No começo era só vingança, mas tudo mudou.
O que sinto por você é real. Como vou saber o que é real? Como vou confiar em qualquer coisa que você diz quando toda a nossa história é baseada em manipulação? Porque eu estou te contando a verdade agora. Porque poderia ter escondido esses documentos e você nunca teria descoberto.
Você deixou a gaveta destrancada porque eu queria que você encontrasse. A voz de Renato subiu pela primeira vez. Porque há semanas eu tento reunir coragem para te contar e não consigo porque cada vez que olho para você, penso no que fiz e sinto nojo de mim mesmo. Helena balançou a cabeça, o mundo girando ao redor dela. Não dá mais. Helena, eu preciso ir embora.
Ela passou por ele, os ombros se tocando por uma fração de segundo. Não me siga. Ela pegou uma mala, jogou algumas roupas dentro sem nenhum cuidado, chamou um táxi. Renato ficou parado na porta do quarto, assistindo, sem tentar impedi-la. Para onde você vai? Para longe de você, Helena, eu te amo. Ela parou com a mão na maçaneta da porta da frente.
Você não sabe o que é amor, ela disse, sem se virar. Nenhum de vocês sabe. E foi embora. A casa da avó de Helena ficava numa cidadezinha no interior de Minas Gerais. Três horas de Belo Horizonte por estrada de terra. Era o tipo de lugar onde todo mundo conhecia todo mundo, onde os vizinhos apareciam sem avisar para tomar café, onde o tempo parecia passar mais devagar.
Dona Aparecida tinha 82 anos, artrite nas mãos que não a impedia de bordar, e uma sabedoria tranquila que vinha de ter sobrevivido a uma vida inteira de perdas e recomeços. “Então você fugiu”, ela disse na primeira noite quando Helena apareceu na porta dela sem avisar, com os olhos inchados e uma mala mal fechada. De novo, vó.
Eu não fugiu do casamento com o Bruno, agora fugiu do casamento com esse outro. Dona Aparecida indicou a cadeira de balanço ao lado da sua na varanda. Senta aqui, menina. Conta tudo desde o início. Helena contou tudo. Desde a traição nas Maldivas até a proposta no bar, o acordo, a mudança gradual nos sentimentos, búzios, os documentos, a descoberta.
Dona Aparecida ouviu sem interromper, balançando suavemente na cadeira, os olhos fixos nas estrelas que pontilhavam o céu escuro do interior. “E você está com raiva porque ele mentiu?”, ela disse quando Helena terminou. “Estou com raiva porque ele me manipulou”. “Hum, a velha parou de balançar.
E você, em algum momento pensou em por ele fez isso? por vingança contra o Bruno. Isso eu entendi. O que não entendi é porque você não está considerando o resto. Helena franziu o senho. Que resto? O resto da história, menina. Esse homem perdeu tudo por causa do Bruno, a empresa, a noiva, a dignidade. Passou três anos reconstruindo sozinho, com esse peso nas costas.
E quando finalmente teve a chance de acertar as contas, o que ele fez? Ofereceu a você uma saída. poderia ter te deixado no bar, destruída, esperando que você voltasse rastejando para o Bruno, mas não fez. Te ofereceu um acordo, proteção, dinheiro, liberdade, para me usar, para ter você perto. Dona Aparecida virou-se para ela. Não estou dizendo que o que ele fez foi certo. Mentira nunca é certa, mas estou dizendo que as pessoas são complicadas.
Fazemos coisas erradas pelos motivos errados. E às vezes no meio do caminho descobrimos que os motivos mudaram. Helena ficou em silêncio, processando. “Você o ama?”, a avó perguntou. Eu não sei. Sabe sim. Só não quer admitir porque está com medo. Medo de quê? De ser vulnerável de novo, de confiar e se decepcionar? De ter o coração partido outra vez? Dona Aparecida pegou a mão da neta.
Mas, minha querida, é isso que o amor faz. Nos coloca em risco, nos obriga a confiar em pessoas que podem nos machucar. é aterrorizante e maravilhoso ao mesmo tempo. E se ele me machucar de novo? E se não machucar? A velha sorriu. E se vocês construírem uma vida juntos? Com tudo de bom e de ruim que vem com isso? E se esse homem que errou tanto for exatamente a pessoa certa para você? Justamente porque também é imperfeito. Helena não tinha resposta. Passou três semanas na casa da avó. Três semanas sem celular.
havia deixado em São Paulo, sem notícias do mundo exterior, sem nada além do silêncio do interior e dos pensamentos que não paravam de girar. No 15º dia, percebeu que estava atrasada. No 18º, comprou um teste de farmácia na única drogaria da cidade. No 21º, olhando para as duas linhas no visor, sentiu o mundo mudar de eixo mais uma vez.
estava grávida de Renato e agora a decisão que tinha que tomar era muito maior do que qualquer coisa que já havia enfrentado. O telefone de dona Aparecida tocou às 7 da manhã do 22º dia. Helena estava na cozinha tentando comer algo sem vomitar. Os enjoos matinais haviam começado com força total quando ouviu a avó atender.
Pois não? Sim, ela está aqui. Quem gostaria de falar com ela? Uma pausa. Entendo. Um momento. Dona Aparecida apareceu na porta da cozinha com uma expressão preocupada. É para você, a mãe do Renato. Helena sentiu o sangue gelar. Dona Lúcia, ela diz que é urgente. Com as mãos tremendo, Helena pegou o telefone. Alô, Helena. Graças a Deus.
A voz de dona Lúcia estava tremida. Eu sei que você não quer falar com o meu filho. Eu sei que ele errou, mas preciso te contar uma coisa. Dona Lúcia, eu Bruno está preparando um golpe, um contrato armado que vai fazer o Renato perder metade da empresa. Tem a ver com alguns investimentos que fizeram juntos anos atrás. Antes de tudo desmoronar, Bruno encontrou uma brecha legal e vai usar.
Helena sentiu o estômago afundar ainda mais. Por que está me contando isso? Porque meu filho vai assinar. Ele não se importa mais. Diz que sem você nada importa. A voz de dona Lúcia falhou. Eu nunca vi ele assim, nem quando o pai foi embora, nem quando perdeu tudo pela primeira vez. Ele simplesmente desistiu.
Helena fechou os olhos à mão, inconscientemente indo para o ventre, onde uma vida estava começando. Quando vai ser a assinatura? Hoje, às 2as da tarde, no escritório do Bruno. Helena olhou para o relógio. Eram 7:15. São Paulo ficava a mais de 6 horas de viagem. Dona Lúcia, eu vou tentar chegar a tempo. Desligou antes que a outra pudesse responder.
Dona Aparecida já estava na porta da cozinha com as chaves do carro na mão. Eu dirijo até Belo Horizonte. De lá você pega um avião. Vó, eu nem sei se Eu sei. A velha entregou as chaves. Agora vai. Discute depois. Helena nunca tinha dirigido tão rápido na vida. Chegou ao aeroporto de Confin às 10:40.
O único voo para São Paulo saía às 11:15. Comprou a passagem com o cartão de crédito que Renato havia dado a ela. A ironia não passou despercebida e correu para o embarque. O voo durou 1 hora 15 minutos. pareceram uma eternidade. No táxi para o escritório de Bruno, Helena finalmente permitiu-se pensar no que estava fazendo.
Estava correndo para salvar o homem que a havia manipulado, o homem que havia mentido, o homem cujo filho ou filha crescia dentro dela naquele momento. A avó estava certa, as pessoas eram complicadas e talvez, só talvez, era exatamente isso que tornava o amor possível. Chegou ao prédio comercial de Bruno às 13:52, 8 minutos antes da assinatura. A recepcionista tentou impedi-la. Seguranças tentaram impedi-la.
Helena passou por todos como um furacão, subindo pelo elevador, correndo pelo corredor, até chegar à sala de reuniões, onde Bruno, Renato e uma dúzia de advogados estavam sentados ao redor de uma mesa de Mógno. Todos viraram para olhá-la quando ela abriu a porta. Não assina”, ela disse ofegante. Renato a encarou como se estivesse vendo um fantasma.
“Helena, o que você não assina esse contrato?” Bruno se levantou, um sorriso de satisfação no rosto. Tarde demais. Ele já decidiu. Não decidiu nada. Uma voz veio do corredor atrás de Helena, uma voz que ela reconheceu. Tatiana Montenegro entrou na sala segurando uma pasta de documentos e estava grávida, muito grávida. pelo menos seis ou sete meses.
Vim entregar isso, Tatiana disse, jogando a pasta sobre a mesa na frente de Bruno. Provas de todas as fraudes que você cometeu nos últimos 5 anos. Subornos, contratos falsos, contas offshore, tudo documentado. Bruno ficou branco. Tatiana, o que você me prometeu amor. A voz dela estava fria, controlada. Disse que ia deixar a Helena depois de conseguir o que precisava do pai dela.
Disse que íamos ficar juntos. E o que você fez? Me escondeu. Me mandou para Dubai quando ela apareceu com o Renato. Me tratou exatamente como tratou ela, como um negócio. O silêncio na sala era absoluto. Esse bebê é seu. Tatiana continuou a mão no ventre. E você não vai ter nada a ver com ele, porque eu me recuso a deixar meu filho ser criado por um homem como você.
Bruno parecia prestes a desmaiar. Os advogados começaram a murmurar entre si, claramente percebendo que haviam apostado no cavalo errado. Renato se levantou devagar. Helena, ela o olhou. Viu nos olhos dele tudo o que precisava ver. O arrependimento, o amor, a esperança frágil de quem não ousa acreditar em segundas chances. “Eu também estou grávida”, ela disse. O mundo parou. Renato ficou paralisado.
Bruno afundou na cadeira. Tatiana sorriu. O primeiro sorriso genuíno que Helena já a viu dar. Você é mais forte do que eu jamais fui. Tatiana disse para Helena. Cuida bem desse homem. Ele vale a pena. E saiu da sala, deixando para trás um rastro de destruição que Bruno nunca conseguiria reconstruir. Os dias seguintes foram um turbilhão.
Bruno foi investigado. As provas que Tatiana forneceu eram irrefutáveis. C anos de fraudes meticulosamente documentadas por uma mulher que aparentemente sabia que mais cedo ou mais tarde precisaria de um seguro. Ele não foi preso, mas a reputação foi destruída. Investidores abandonaram o barco, parceiros de negócios cancelaram contratos.
A empresa que ele havia construído à custa da destruição de outros começou a desmoronar. Helena soube de tudo isso pelos jornais. Ela e Renato estavam ocupados demais com conversas que deveriam ter tido meses antes. “Você sabia da traição e não me avisou”, ela disse numa dessas conversas, sentados na sala da cobertura. Isso me machucou mais do que qualquer coisa.
Eu sei e me arrependo todos os dias. Se você pudesse voltar no tempo, faria diferente. Renato hesitou. Honestamente, não sei. Se eu tivesse te avisado, você provavelmente teria confrontado o Bruno, descoberto a verdade e seguido com sua vida. Nunca nos conheceríamos de verdade. Isso é egoísta.
É completamente, ele segurou as mãos dela, mas também é honesto. E se vamos reconstruir isso, precisa ser com honestidade total, mesmo quando a honestidade é feia. Helena ficou em silêncio por um longo momento. “Eu te amo”, ela disse finalmente, “Mesmo sabendo de tudo, mesmo estando furiosa, mesmo sem saber se consigo confiar em você completamente ainda. Eu te amo.
Eu também te amo. Mais do que achei que fosse capaz de amar alguém, mas isso não é suficiente. Amor sem confiança é tortura. Então vamos construir a confiança.” Renato se ajoelhou na frente dela. Um dia de cada vez. Uma verdade de cada vez. Vou te provar que posso ser digno de você, mesmo que leve o resto da minha vida.
E o bebê? A mão de Renato foi instintivamente para o ventre, ainda plano dela. Esse bebê vai ter o que eu nunca tive. Um pai presente, uma família inteira. Que pais que se amam de verdade, não por acordo ou conveniência. Você quer casar comigo? Helena perguntou. De verdade dessa vez? Renato sorriu. Tecnicamente já somos casados.
Tecnicamente, mas podemos renovar os votos, fazer direito onde você quiser, quando você quiser, com 10 pessoas ou com 300. Ele beijou os nós dos dedos dela. Só quero passar o resto da vida ao seu lado. Então, temos um acordo. Sem contrato dessa vez, Helena riu. A primeira risada de verdade em semanas, sem contrato.
O segundo casamento de Helena e Renato aconteceu três meses depois, na casa de dona Lúcia em Santos. Não havia 300 convidados. Havia 22 pessoas que realmente importavam. A mãe e a irmã de Renato, a avó de Helena, Camila, a melhor amiga que finalmente perdoou Helena por ter sumido por semanas. alguns poucos amigos verdadeiros, e Daniel e Marcos, os advogados que haviam testemunhado o primeiro casamento e agora testemunhavam esse.
Helena usou um vestido simples, branco, de um estilista brasileiro que Renato havia encontrado. A barriga de 4 meses já era visível, uma curva suave que ela tocava inconscientemente a cada poucos minutos. A cerimônia foi no jardim que dona Lúcia havia cultivado por anos, entre rosezeiras e jasmins que perfumavam o ar do fim de tarde.
Não houve promessas grandiosas, não houve juramentos de amor eterno, houve verdade. Eu te prometo que vou errar, Renato disse, segurando as mãos de Helena. Vou ser teimoso. Vou trabalhar demais às vezes. Vou te frustrar de maneiras que ainda não consigo imaginar. Mas também prometo que vou tentar. Todos os dias vou acordar e escolher ser um homem melhor por você e pelo nosso bebê.
Vou construir uma vida com você, tijolo por tijolo, mesmo quando os tijolos parecerem pesados demais para carregar. Helena sentiu as lágrimas escorrerem pelo rosto, mas não tentou escondê-las. “Eu te prometo que vou ter medo”, ela respondeu. “Vou duvidar, vou questionar.
Vou precisar de garantias que às vezes você não vai poder me dar, mas também prometo que não vou fugir. Quando as coisas ficarem difíceis, vou ficar e lutar por nós, por essa família que estamos construindo, por tudo o que ainda vamos descobrir um sobre o outro. Dona Lúcia chorou abertamente. Dona Aparecida balançou a cabeça com aprovação. Camila tirou aproximadamente 500 fotos.
Quando disseram sim, dessa vez foi de verdade. E quando se beijaram, não foi para câmeras, nem para vingança. Foi simplesmente amor. O amor estranho, imperfeito, inesperado, que nasce quando duas pessoas quebradas decidem que preferem se reconstruir juntas do que sozinhas. A festa foi simples. Comida caseira preparada por dona Lúcia, música numa caixa de som Bluetooth, dança descalça na grama até tarde da noite.
Em algum momento, Renato puxou Helena para um canto do jardim, longe dos outros convidados. Tenho uma coisa para você. Outro presente? Você já me deu demais. Esse é diferente. Ele tirou um envelope do bolso do palitó. É a escritura de um terreno em Búzios, perto da casa. Achei que você poderia projetar a casa dos seus sonhos lá. Sua primeira obra como arquiteta. Helena abriu o envelope com mãos tremendo.
Renato, isso é é um investimento no seu futuro, na sua carreira, em tudo o que você deixou de lado por anos. Ele beijou a testa dela. Você é muito mais do que a esposa de alguém. É hora de o mundo descobrir isso. Helena o abraçou com força, o bebê entre eles como uma promessa de tudo o que estava por vir.
“Obrigada”, ela sussurrou. “Por tudo obrigada a você por me dar uma segunda chance. Tecnicamente foi uma terceira. A segunda foi quando aceitei o acordo no aeroporto. Renato Rio. Quem está contando? Eu. Sempre. Eles ficaram ali abraçados enquanto a festa continuava ao redor deles e a lua cheia iluminava o jardim de Santos.
E pela primeira vez desde que tudo começou, Helena sentiu que estava exatamente onde deveria estar. Dois anos depois, o escritório de arquitetura de Helena Duarte ocupava o 12º andar de um prédio comercial no Itaimbi, com vista para a Avenida Faria Lima. Não era o maior escritório da cidade, mas era seu. Cada linha de cada projeto carregava a sua assinatura, a sua visão, a sua alma. O sucesso veio mais rápido do que ela esperava.
A história dela. A noiva, que havia abandonado a lua de mel, casado com o rival do marido e transformado tragédia em triunfo, havia capturado a imaginação do público. Revistas de arquitetura queriam entrevistá-la. Clientes de alto perfil buscavam seus serviços. Prêmios começaram a se acumular na prateleira atrás da sua mesa, mas nada disso era o que importava quando ela voltava para casa. O apartamento ainda era a cobertura nos jardins, mas estava irreconhecível.
Dona Lúcia havia ajudado a redecorar. Esse lugar parecia um escritório, não um lar. E agora havia cores, texturas, fotografias emolduradas em cada parede e havia Marina. Marina Duarte tinha 11 meses, olhos escuros iguais aos do pai e um sorriso que conseguia iluminar qualquer ambiente.
Ela estava sentada no tapete da sala quando Helena chegou do trabalho brincando com blocos de montar sob o olhar atento de Renato. “Mamãe chegou”, Helena, anunciou, largando a bolsa no sofá e se ajoelhando para pegar a filha no colo. Marina soltou um gritinho de alegria e estendeu os bracinhos.
Renato se levantou, aproveitando para beijar Helena, enquanto a filha tentava pegar o brinco dela. Como foi o dia? Intenso. Fechei o contrato do novo hotel em Búzios. Sério? O rosto dele se iluminou. O projeto que você estava tentando há meses? Esse mesmo. A reunião foi às 4 da tarde. Às 4:37 eles assinaram. Isso é incrível. merece comemoração. Já estou comemorando.
Helena indicou a filha em seus braços e o homem ao seu lado. Isso aqui é toda a comemoração que eu preciso. Renato a abraçou por trás, envolvendo as duas pessoas mais importantes da sua vida. Ele ainda trabalhava demais. Às vezes ainda era fechado emocionalmente em certos assuntos.
Ainda fazia Helena querer arrancá-lo pelo cabelo quando discutiam sobre quem era responsável por ter deixado a porta da geladeira aberta. Mas ele também estava ali todos os dias presente. Havia aprendido a trabalhar menos, a delegar mais, a entender que uma empresa podia funcionar sem ele por algumas horas enquanto ele dava banho na filha ou ajudava a esposa a escolher tecidos para um projeto. Sua mãe ligou, ele disse, quer saber se vamos passar o Natal em Minas.
O que você acha? Acho que sua avó merece ver a bisneta abrir os presentes debaixo da árvore que ela fez questão de armar em agosto. Helena riu. Agosto? Ela disse que estava ansiosa. Vó é impossível. Vó é perfeita. Eles jantaram juntos, os três, numa rotina que havia se tornado o momento favorito do dia de Helena.
Marina fazia bagunça com a papinha. Renato contava histórias do escritório. Helena compartilhava as vitórias e frustrações dos projetos. era ordinário, mundano, completamente desprovido do drama que havia marcado o início daquela história e era exatamente perfeito por isso. Mais tarde, depois que Marina adormeceu e a casa ficou em silêncio, Helena e Renato ficaram na varanda, olhando para as luzes de São Paulo, que cintilavam lá embaixo.
“Você se arrepende?”, Helena perguntou como fazia de vez em quando. “De quê?” “De alguma coisa? Do jeito como tudo começou, das mentiras, do acordo. Renato pensou por um momento: “Eu me arrependo de ter machucado, de ter deixado você descobrir a verdade daquele jeito, de não ter tido coragem de ser honesto desde o início.” Ele virou-se para ela.
“Mas não me arrependo de terte conhecido, de ter-te escolhido, de ter construído isso com você, mesmo tendo começado como vingança. A vingança foi o que me trouxe até você, mas não foi o que me fez ficar. Ele pegou a mão dela. O que me fez ficar foi descobrir que existia uma pessoa no mundo que me fazia querer ser melhor. Não por ela, mas com ela.
Helena encostou a cabeça no ombro dele. Sabe o que é engraçado? O quê? Se alguém me contasse essa história, uma mulher que descobriu traição na lua de mel casou com um estranho por vingança e encontrou o amor verdadeiro no meio da loucura. Eu diria que é ficção demais, que essas coisas não acontecem na vida real. E agora? Agora eu sei que a vida real é muito mais estranha do que qualquer ficção.
Ela olhou para ele e muito mais bonita também. Ficaram ali em silêncio, assistindo a cidade adormecer duas pessoas que haviam se encontrado nas circunstâncias mais improváveis e construído algo extraordinário a partir de escombros. O que começou como uma traição devastadora se transformou em liberdade. O que começou como um acordo de vingança se transformou em parceria. verdadeira.
E o que começou como dois estranhos num bar de aeroporto às 6 da manhã se transformou na história de amor que nenhum deles esperava, mas que ambos mereciam. Helena fechou os olhos, sentindo a brisa noturna no rosto e o calor do homem ao seu lado. Estava em paz, finalmente, completamente, irrevogavelmente em paz.
E quando abriu os olhos novamente, o que viu não foi mais a dor do passado, nem a incerteza do futuro. Foi apenas o presente, o agora, o momento que era seu para viver. E isso ela descobriu era tudo o que realmente importava. M.
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