Uma jornalista, um guarda-costas, segredos que podem destruir tudo quando a verdade se torna uma arma mortal. Até onde você iria para proteger quem ama? Esta é uma história de coragem, paixão e redenção que vai mexer com suas emoções do primeiro ao último segundo.

 Ei, você que está assistindo, me conta aí nos comentários de onde você está assistindo esse vídeo. Quero conhecer vocês. E já aproveita para se inscrever no canal e deixar aquele like maroto, porque essa história vai te prender do início ao fim. Agora vem comigo nessa jornada inesquecível.

 O café ainda fumegava na mesa quando Juliana Santos sentiu o primeiro arrepio percorrer sua espinha. Não era o ar condicionado da redação do jornal Verdade Paulista. Era algo mais primitivo, uma intuição que aprendeu a não ignorar após 5 anos como jornalista investigativa. Seus dedos deslizaram pela tela do smartphone, revisando pela décima vez a matéria que havia publicado três dias antes.

 MED Brasil farmacêutica. Testes ilegais em comunidades carentes revelam esquema de corrupção milionário. O texto de oito páginas detalhou como a empresa utilizava moradores de favelas como cobaias humanas, falsificando consentimentos e subornando fiscais da Anvisa. Juliana, você deveria ter cuidado”, murmurou Carlos Mendonça, seu editor chefe, aproximando-se da mesa com uma expressão sombria. Recebi três ligações esta manhã.

 Duas delas de advogados da MED Brasil, uma de alguém que não se identificou. Os olhos castanhos de Juliana se estreitaram. Aos 27 anos, ela havia enfrentado ameaças antes, mas algo na voz de Carlos soava diferente. O que a ligação anônima disse? Digam a jornalista que algumas verdades custam caro demais. Carlos engoliu em seco. Juliana, talvez seja a hora de você tirar umas férias. Ela riu. Um som seco e determinado. Férias.

 Estou no rastro da maior corrupção farmacêutica da década. Eles estão com medo, Carlos. Quando os poderosos ameaçam, é sinal de que acertamos no alvo. A tarde de setembro em São Paulo era típica. O sol lutava para atravessar a poluição enquanto Juliana caminhava pela rua Augusta rumo ao estacionamento. Suas botas faziam um ritmo constante no asfalto, mas ela não conseguia afastar a sensação de estar sendo observada.

 Foi quando ouviu o motor, um Corolla preto, vidros escuros, sem placa dianteira, acelerando direto em sua direção. O tempo pareceu desacelerar. Os olhos de Juliana se arregalaram quando percebeu que não era um acidente. O carro vinha diretamente para ela. Seus músculos travaram por uma fração de segundo crucial. O motor rugiu mais alto. Será que Juliana conseguirá escapar dessa emboscada mortal? E quem está por trás dessa tentativa de silenciá-la para sempre? O impacto veio de lado.

 Juliana sentiu um corpo forte colidir contra o seu, braços musculosos a envolvendo enquanto ambos rolavam pelo chão. O Corolla passouos unindo a poucos centímetros, o vento deslocado bagunçando seus cabelos castanhos. Quando finalmente parou de rolar, ela se encontrou pressionada contra o peito de um homem. Olhos azuis intensos a observavam com uma mistura de alívio e fúria controlada.

 Cabelos castanhos despenteados, uma cicatriz pequena na testa, músculos tensos sob a camisa social preta. “Você está machucada?” A voz era grave, com um sotaque carioca sutil. Juliana tentou processar o que havia acontecido, joelhos arranhados, coração disparado, mas viva. “Eu? Quem é você?” O homem se levantou com movimentos precisos, estendendo a mão para ajudá-la.

 Rafael Silva, seu editor me contratou há uma semana. Carlos, ele não me disse nada sobre porque sabia que você ia recusar. Rafael escaneou a rua com olhar profissional. Juliana Santos, 27 anos, formada pela USP, cinco prêmios de jornalismo investigativo, mora sozinha na Vila Madalena.

 Tem o péssimo hábito de ignorar ameaças e achar que pode cuidar de si mesma. A indignação substituiu o choque. Juliana se levantou limpando a sujeira da calça jeans. Escuta aqui, Rafael Silva. Eu não pedi proteção, não preciso de babá e definitivamente não vou aceitar ser vigiada por um estranho que acabou de salvar sua vida. Ele apontou para as marcas de pneu no asfalto. Eles voltam, Juliana, e na próxima vez eu posso não estar por perto.

 A realidade do que quase aconteceu a atingiu como um soco no estômago. Suas pernas vacilaram ligeiramente. Rafael notou imediatamente, segurando seu braço com firmeza. Você precisa sair de São Paulo agora. Sair? Estou no meio da investigação mais importante da minha carreira. Não vou me esconder como uma covarde porque alguns executivos ficaram nervosos.

 Alguns executivos? Rafael riu amargamente. Juliana, você não tem ideia do que está enfrentando. A MED Brasil não brinca em serviço. Eles têm conexões que vão muito além de laboratórios e hospitais. Os olhos castanhos dela faiscaram. Então me explique se você vai ser meu protetor”, ela fez aspas no ar. “Pelo menos seja honesto comigo.

” Rafael hesitou como se pesasse suas palavras cuidadosamente. Três jornalistas investigaram a MED Brasil nos últimos dois anos. Um mudou de profissão, outro se mudou para o exterior. O terceiro, digamos que decidiu que outras pautas eram mais interessantes. Você é a primeira a realmente incomodá-los. E isso deveria me assustar? Deveria fazer você entender que ou aceita minha proteção, ou em uma semana você vai estar achando que fotografia de casamento é uma carreira fascinante. Juliana estudou o rosto dele. Havia algo

nos olhos azuis de Rafael. Uma dureza que vinha de experiência real com perigo, mas também uma sinceridade que a fez hesitar. Onde você quer me levar? para um lugar seguro, longe da cidade, onde posso protegê-la adequadamente enquanto você decide o que fazer com sua investigação.

 Por quanto tempo? O tempo necessário. Juliana respirou fundo, olhando ao redor da rua movimentada, onde quase morreu. Pessoas passavam apressadas, alheias ao drama que acabara de acontecer. Tenho condições. Rafael arqueou uma sobrancelha. Não vou parar a investigação. Preciso do meu laptop, meus arquivos.

 acesso à internet e você vai me explicar exatamente quem é por Carlos confia em você. Combinado? Mas minhas regras prevalecem quando se trata de segurança. E quais são suas regras? Rafael a encarou intensamente. Regra número um: você faz o que eu disser quando eu disser. Sua vida pode depender disso. Como Juliana reagirá às regras rígidas de Rafael? E que segredos ele esconde sobre seu passado e suas verdadeiras motivações? A viagem para Campos do Jordão durou três horas tensas.

 Rafael dirigia o SUV Preto com precisão militar, verificando constantemente os retrovisores, enquanto Juliana alternava entre admirar a paisagem serrana e estudar seu misterioso protetor. Você era militar? Não foi uma pergunta. ex-esército brasileiro, 8 anos de serviço. A resposta veio sem ele tirar os olhos da estrada e virou guardacostas.

 Por quê? Porque algumas habilidades são difíceis de usar em empregos convencionais. A casa apareceu após uma curva íngreme, aninhada entre aalucárias centenárias. Arquitetura moderna com amplas janelas de vidro, estrutura de madeira e pedra, terraços que ofereciam vista panorâmica do vale. Era isolada, elegante e Juliana notou com certo desconforto, completamente cercada por mata fechada.

 De quem é esta casa? Cliente meu, empresário paranoico que investiu pesado em segurança. Rafael estacionou próximo à entrada principal. Sistema de alarme militar. Gerador próprio. Suprimentos para duas semanas. Se alguém tentar chegar aqui, vamos saber com meia hora de antecedência. Juliana saiu do carro respirando o ar puro da montanha. Era inegavelmente belo, mas a sensação de isolamento a fez estremecer.

 O interior da casa era ainda mais impressionante. Lareira de pedra, móveis modernos, uma biblioteca bem equipada e, ela notou imediatamente barras de ferro discretas nas janelas. Seu quarto. Rafael indicou uma suí ampla no segundo andar, com vista para as montanhas, banheiro privativo, internet cabeada, mais segura que Wi-Fi. Suas coisas estão na mala.

 Minhas coisas? Quando você, Passei no seu apartamento enquanto você conversava com seu editor. Três minutos profissional e discreto. A indignação de Juliana explodiu. Você invadiu minha casa, mexeu nas minhas coisas pessoais sem permissão. Salvei sua vida duas vezes hoje, se contarmos o fato de você estar viva e em segurança agora. A voz dele permaneceu calma, mas havia uma tensão crescente.

 “Juliana, você pode ficar irritada comigo ou pode ficar viva. No momento não dá para ter os dois”. Ela abriu a mala e encontrou suas roupas cuidadosamente dobradas, produtos de higiene e seu coração se aqueceu ligeiramente, a foto emoldurada de seus pais. “Como você soube que isso era importante?” Rafael hesitou na porta. Estava na mesinha de cabeceira.

 Pensei que pessoas importantes devem ter vindo com você. Havia algo vulnerável na forma como ele disse isso, uma humanidade que contradia sua máscara profissional. Eles morreram em um acidente de carro quando eu tinha 16 anos. Juliana tocou o vidro da moldura. Esta investigação da MED Brasil é sobre pessoas como eles. Gente comum que confia no sistema e acaba sendo explorada. O silêncio se estendeu entre eles. Jantar em uma hora.

 Cozinha no térrio. Rafael se virou para sair, mas parou. E Juliana, as portas ficam trancadas à noite, por segurança. Trancadas como em Trancadas como em você não pode sair sem mim. Desculpa, mas é assim que funciona. A porta se fechou com um clique suave, mas definitivo. Juliana se sentou na cama, abraçando a foto dos pais.

 Pela primeira vez em anos, se sentia completamente fora de controle. Não era apenas o perigo, era a forma como Rafael assumira comando de sua vida com tanta naturalidade. E o mais perturbador, como parte dela se sentia segura com isso. Abriu o laptop e começou a revisar seus arquivos sobre a MED Brasil.

 Centenas de documentos, depoimentos, evidências, tudo que havia custado meses para reunir. Um ruído lá fora a fez congelar, passos ou apenas o vento nas árvores. Correu até a janela, mas apenas escuridão a cumprimentou. A mata densa parecia ainda mais ameaçadora na penumbra. Uma batida suave na porta a fez pular.

 “Juliana, jantar está pronto?” A voz de Rafael soou diferente, menos autoritária, quase gentil. Já vou descer. E Juliana, houve uma pausa. Sei que isso é difícil para você, mas juro que vou protegê-la, mesmo que você me odeie por isso. Os passos se afastaram, deixando Juliana sozinha, com a crescente percepção de que Rafael Silva era muito mais complexo do que aparentava.

 Que segredos a casa nas montanhas guarda? E por que Juliana está começando a questionar se Rafael é realmente apenas um protetor ou algo muito mais perigoso? O jantar foi uma dança silenciosa de tensões não ditas. Rafael havia preparado uma refeição simples, mas saborosa. Salmão grelhado, legumes no vapor, vinho tinto que ela suspeitou ser caro. Muito caro para um guarda-costas comum.

 Você cozinha bem? comentou Juliana, tentando quebrar o gelo que se formara entre eles. Aprende-se coisas úteis quando se mora sozinho por muito tempo. Mora sozinho por escolha ou circunstância. Rafael levantou os olhos do prato e, por um momento, ela vislumbrou algo parecido com melancolia, as duas coisas. Após o jantar, ele fez uma ronda pela casa, verificando alarmes, trancas, janelas, movimentos precisos. Olhar atento estava claramente em seu elemento.

 Juliana o observou da sala de estar, curioso, apesar de si mesma. Quantos anos você fez isso? O quê? Proteção pessoal? Viver em alerta constante. Rafael parou o que estava fazendo e a encarou. Tempo demais. Ele se aproximou, parando a uma distância respeitosa. Juliana, sei que está se sentindo presa, mas precisa entender que lá fora há pessoas que querem machucá-la, gente que não vai hesitar. E dentro desta casa, ela gesticulou ao redor.

 O que tem aqui que não deveria me preocupar? Eu? A resposta foi dita com tal seriedade que Juliana sentiu um arrepio. Por que deveria me preocupar com você? Rafael se aproximou mais um passo. Havia algo de predatório em seus movimentos, mas também protetor. Porque sou treinado para matar, Juliana? Porque quando vejo ameaças, meu instinto é eliminá-las.

 Porque às vezes, durante a madrugada acordo achando que ainda estou em combate. O coração dela acelerou, mas não de medo. Era algo mais complicado. Por que está me contando isso? para que entenda que as trancas não são apenas para mantê-la dentro, são para manter as coisas que me assombram do lado de fora. Eles ficaram em silêncio, o fogo na lareira creptando suavemente.

 Juliana estudou o rosto de Rafael, a linha tensa da mandíbula, a cicatriz quase imperceptível na testa, a forma como ele mantinha os ombros sempre ligeiramente contraídos, pronto para a ação. O que aconteceu com você no exército? Coisas que não se contam para jornalistas curiosas em noites tranquilas, mas você quer contar. Ela o desafiou. Posso ver em seus olhos? Rafael riu baixinho. Um som sem humor. Você é perigosa. Sou jornalista.

 É meu trabalho enxergar além das máscaras. E se não gostar do que encontrar por trás da minha? Juliana se levantou, reduzindo ainda mais a distância entre eles. Então, pelo menos saberei com quem estou dividindo esta prisão dourada. Por um momento, os olhos azuis de Rafael se suavizaram, como se ela tivesse tocado em algo profundo e cuidadosamente guardado. Mas então ele se afastou, a máscara profissional voltando ao lugar.

É melhor você descansar. Amanhã vamos estabelecer uma rotina. Que tipo de rotina? Exercícios. Treino de autodefesa básica, revisão dos protocolos de segurança. Se vai ficar aqui por um tempo, precisa estar preparada para qualquer situação. Treino de autodefesa. Rafael, sou jornalista, não soldado. Agora é uma jornalista com inimigos poderosos. Há diferença. Ele se dirigiu às escadas, mas ela o chamou. Rafael.

Sim, obrigada por salvar minha vida hoje, por me trazer para um lugar seguro. Sei que não demonstrei gratidão antes, mas obrigada. Ele ficou parado por um longo momento de costas para ela. Apenas tome cuidado com quem você confia, Juliana. Até comigo. Por que diz isso? Porque às vezes as pessoas que deveriam nos proteger são as que mais nos machucam.

 As palavras ficaram suspensas no ar quando Rafael subiu as escadas. Juliana permaneceu na sala, olhando para as chamas, dançando na lareira, com a crescente sensação de que sua vida havia mudado para sempre e que Rafael Silva guardava segredos que poderiam tanto salvá-la quanto destruí-la. Lá fora, o vento gemeu entre as árvores e ela não pôde evitar a sensação de que alguém ou algo a observava das sombras.

 Que traumas assombram o passado militar de Rafael? E por que ele parece tão relutante em confiar em si mesmo? Quanto em proteger Juliana. O terceiro dia na casa começou com o céu carregado de nuvens escuras. Juliana acordou com o som de trovões distantes ecoando pelas montanhas. Prenúncio da tempestade típica da região serrana. Rafael bateu na porta às 7 em ponto. Treinamento em 15 minutos.

 Vista roupas confortáveis. Que treinamento. Autodefesa. Falei ontem. Juliana resmungou, mas obedeceu. Encontrou Rafael na academia improvisada no porão. Tatames, sacos de pancada, equipamentos diversos. Ele vestia uma camiseta preta que destacava músculos definidos e algumas cicatrizes que ela não havia notado antes.

 Primeiro, movimentos básicos. Ele demonstrou posições de defesa, ataques simples como quebrar uma chave de braço. O objetivo não é vencer uma luta, é criar oportunidade para escapar. As mãos dele guiaram as dela, corrigindo posturas, ajustando movimentos.

 Juliana tentou se concentrar nas instruções, mas estava cada vez mais consciente da proximidade física, do cheiro da pele dele, da forma como seus olhos azuis se intensificavam quando ele se concentrava. “Concentre-se”, murmurou Rafael, notando sua distração. “Sua vida pode depender disso. Estou me concentrando.” Não está. Está pensando em outras coisas. Ela corou.

 Como você sabe no que estou pensando? Porque eu também estou pensando nas mesmas coisas. A admissão os pegou desprevenidos. Por um momento, ficaram parados, olhando um para o outro. A tensão sexual palpável no ar. Um trovão especialmente forte os fez pular, quebrando o momento. Tempestade chegando. Rafael se afastou rapidamente. Vamos continuar outro dia.

À tarde, a chuva começou com intensidade. Pingos grossos golpearam as janelas enquanto Juliana trabalhava em seus arquivos da MED Brasil. Estava revisando depoimentos de ex-funcionários quando as luzes piscaram. Rafael! Gritou! Ele apareceu instantaneamente como se estivesse esperando pelo problema.

 Gerador de backup vai entrar em funcionamento em três, dois, um. As luzes voltaram, mas fracas e instáveis. Isso é normal em tempestades fortes, sim, mas vou verificar. Rafael saiu pela porta dos fundos, voltando 20 minutos depois, completamente encharcado e com uma expressão sombria. Problema? Alguém mexeu no gerador.

 O sangue de Juliana gelou. Mexeu como? Sabotagem profissional. Ele trancou a porta com força. Vamos perder energia em algumas horas. Preciso verificar todo o perímetro. Eles sabem onde estamos. Sabem agora. A energia morreu completamente às 9 da noite. A casa mergulhou em escuridão total, apenas iluminada pelos relâmpagos intermitentes. Rafael apareceu na sala com um rifle e lanternas.

 Subimos agora, Rafael. O que está acontecendo? Estão testando nossas defesas. Primeira fase. Cortar energia, forçar-nos a usar lanternas, identificar nossa posição. Segunda fase, um som de vidro quebrado veio da cozinha. Rafael empurrou Juliana a escada acima. Sala do pânico. Terceira porta à direita. Senha 4729.

 Tranque-se lá dentro e não saia até eu bater três vezes. Pausa duas vezes. Pausa uma vez. E você? Vou cuidar dos visitantes. Juliana correu pelo corredor escuro, encontrou a sala blindada e digitou a senha com dedos trêmulos. Era um ambiente pequeno, mas bem equipado. Monitores de segurança, telefone satelital, suprimentos básicos.

 Nas telas conseguiu ver figuras escuras se movendo ao redor da casa. Três homens, talvez quatro, armados e vestidos de preto. Onde estava Rafael? Um dos monitores mostrou o movimento na cozinha. Uma figura solitária se movia com precisão letal. Rafael, ela assistiu fascinada e aterrorizada, enquanto ele desarma vá o primeiro intruso com movimentos que pareciam uma dança mortal, mas eram muitos. O som de luta se espalhou pela casa.

 Móveis quebrados, vidros despedaçados, gritos abafados. Juliana apertou as mãos contra a boca, tentando não gritar. Então, silêncio total. Minutos se arrastaram como horas. Ela olhou fixamente para os monitores, procurando por qualquer sinal de Rafael. Três batidas na porta. Pausa. Duas batidas. Pausa. Uma batida.

 Juliana abriu a porta com mãos trêmulas e se deparou com o Rafael. Camisa rasgada, corte no braço esquerdo, olhos selvagens e ainda em modo de combate. “Estão mortos”, sussurrou. “Estão indispostos.” Ele cambaleou ligeiramente. Perdemos muito sangue. Quero dizer, eu perdi um pouco de sangue. Juliana notou que ele estava mais ferido do que admitia.

Preciso cuidar desses cortes. Não é nada, Rafael. Ela tocou o rosto dele com gentileza. Me deixe cuidar de você. Por um momento, a máscara dele desmoronou completamente. Exaustão, dor e algo mais vulnerável brilharam em seus olhos. Tudo bem, murmurou. Tudo bem.

 Como esta noite de violência mudará a relação entre Juliana e Rafael. E quem são os homens que encontraram seu esconderijo aparentemente seguro? Juliana guiou Rafael até seu quarto, onde a luz da lua fornecia iluminação suficiente. Ele se sentou na borda da cama enquanto ela procurava o kit de primeiros socorros que havia anotado no banheiro. “Tire a camisa”, ordenou, assumindo um tom profissional para mascarar sua preocupação. Rafael hesitou.

 Juliana, eu posso? Tire a camisa, Rafael. Quando ele obedeceu, ela engoliu em seco. O corpo dele era um mapa de cicatrizes, algumas antigas e desbotadas, outras mais recentes, mas foi o corte profundo no braço esquerdo que a fez se concentrar. Isso precisa de pontos. Não temos como ir a um hospital agora, então vai ter que confiar em mim.

 Ela limpou o ferimento com cuidado, consciente de cada vez que ele se encolhia com a dor. Suas mãos trabalhavam com precisão, mas sua mente estava em turbulência. “Como você aprendeu isso?”, perguntou Rafael, observando-a a fazer os pontos improvisados. Meu pai era médico, sempre quis que eu seguisse a medicina, mas eu preferi as palavras, à cirurgias.

 Ela fez uma pausa. Ainda bem que ele me ensinou o básico. Seus pais ficariam orgulhosos de você, mesmo arriscando minha vida por uma matéria, especialmente por isso. Rafael a encarou intensamente. Eles criaram uma filha que luta por justiça, não importa o custo pessoal. Juliana terminou os pontos e aplicou bandagem.

 Quando levantou os olhos, Rafael a observava com uma expressão que ela não conseguiu decifrar. Juliana, sim, preciso te contar algo sobre estou realmente aqui. Ela parou, as mãos ainda em seu braço. O que quer dizer? Rafael suspirou profundamente. Carlos não me contratou apenas para protegê-la. Ele é meu cunhado. Seu cunhado era casado com minha irmã mais nova, Marina. Ela morreu há 3 anos. Câncer. Carlos ficou devastado, mas mantivemos contato.

Quando soube que você estava em perigo, me ligou pessoalmente. Juliana processou a informação. Por que não me contou isso antes? Porque queria que você confiasse no profissional, não no homem com envolvimento emocional na situação. E agora? Por que está me contando agora? Rafael levantou a mão livre e tocou o rosto dela com gentileza, porque depois do que aconteceu esta noite, percebi que posso morrer tentando protegê-la.

 E se isso acontecer, não quero morrer como um estranho. A intensidade em seus olhos era avaçaladora. Juliana sentiu seu coração disparar. Rafael, sei que não deveria. Sei que complica tudo, mas Juliana, você me fascina. Sua coragem, sua determinação, a forma como se recusa a se dobrar, mesmo quando deveria ter medo. Eu tenho medo admitiu ela.

 Tenho muito medo de mim, do que sinto por você. A confissão ficou suspensa entre eles. Rafael se inclinou ligeiramente e Juliana não se afastou. Isso é loucura, murmurou ela completamente. Você é meu protetor. Sou. E eu sou sua responsabilidade. É. E mesmo assim, mesmo assim. O beijo foi inevitável. Gentil no início, depois mais intenso, conforme semanas de tensão, se dissolveram em pura necessidade.

 As mãos dele se emaranharam em seus cabelos, enquanto ela explorava cicatrizes em seu peito. Quando finalmente se separaram, ambos respiravam pesadamente. “Isto muda tudo”, disse Juliana. “Ou não muda nada.” Rafael apoiou a testa na dela. “Ainda vou protegê-la com minha vida”. A diferença é que agora tenho uma razão ainda mais poderosa para fazê-lo.

 Lá fora, o vento uivou entre as árvores, mas dentro do quarto iluminado pela lua, Juliana sentiu-se mais segura do que havia se sentido em anos. Rafael: “Sim, o que aconteceu esta noite? Quantas vezes você teve que fazer isso?” A pergunta trouxe de volta a sombra em seus olhos.

 Quantas vezes suficientes para saber que não quero fazer de novo, mas farei, Juliana, sempre que for necessário para mantê-la segura. Ela se aninhou contra o peito dele, ouvindo as batidas regulares de seu coração. Ficamos assim até amanhecer. Ficamos assim pelo tempo que você quiser. Mas ambos sabiam que o amanhecer traria novas ameaças e que o que havia começado entre eles tornara tudo infinitamente mais complicado e perigoso.

 Como esta nova intimidade afetará a capacidade de Rafael proteger Juliana? E quem foram os homens que atacaram durante a tempestade e quando voltarão? Juliana acordou envolvida nos braços de Rafael, o sol da manhã filtrando pelas cortinas. Por um momento, permitiu-se simplesmente sentir a segurança de estar protegida, o calor do corpo dele, a respiração regular contra seu pescoço. Então, a realidade a atingiu como um balde de água fria.

 Ela havia dormido com seu protetor. Cruzara uma linha que não deveria ter cruzado, comprometera seu julgamento profissional e, possivelmente, colocar a ambos em perigo ainda maior. Rafael despertou quando ela tentou se afastar. Bom dia”, murmurou, a voz rouca de sono. “Precisamos conversar.

” Ele notou imediatamente a mudança em seu tom, sentando-se na cama. “O que foi ontem à noite?” “Foi um erro”, cortou Juliana, levantando-se rapidamente. “Um erro que não pode se repetir.” Rafael a observou por um momento antes de responder. Por quê? Porque você está aqui para me proteger, não para se envolver comigo romanticamente, porque preciso manter a cabeça fria para continuar minha investigação, porque isso complica tudo de maneiras que nenhum de nós pode se dar ao luxo. E se eu disser que vale a pena a complicação? Juliana parou, olhando-o por cima do ombro. Então eu

diria que você não está pensando como um profissional. Rafael se levantou, aproximando-se devagar. Tem razão. Não estou pensando como um profissional. Estou pensando como um homem que se importa com uma mulher extraordinária. Rafael, pare. Por quê? Porque a verdade é inconveniente.

 Porque a verdade pode nos matar. A explosão de Juliana os surpreendeu. Ela respirou fundo, tentando recuperar o controle. Ontem à noite, homens armados invadiram esta casa. Você teve que lutar por nossas vidas. E no meio de tudo isso, nós nós nos deixamos levar pela emoção do momento. Não foi apenas emoção do momento, Juliana.

 Como pode ter certeza? Rafael se aproximou mais, forçando-a a encará-lo, porque já senti emoção do momento antes. E isto, isto é diferente. Por um instante, a determinação de Juliana vacilou. Havia uma sinceridade bruta em seus olhos que a fazia querer acreditar, mas então um ruído lá fora a trouxe de volta à realidade. “Alguém está chegando”, sussurrou.

 Rafael imediatamente entrou em modo profissional, pegando sua arma. Quarto blindado. Agora, Rafael, agora, Juliana. Ela obedeceu. Mas pela primeira vez desde que se conheceram, não foi apenas medo que a motivou, foi a preocupação com ele. Do quarto blindado, Juliana observou pelos monitores um carro se aproximando.

 Um Civic azul, apenas uma pessoa visível. O visitante saiu do carro devagar, mãos visíveis, postura não ameaçadora. Era Carlos. 20 minutos depois, Juliana desceu para encontrar seu editor, conversando intensamente com Rafael na sala de estar. Ambos pararam de falar quando ela apareceu.

 Carlos, como você? Rastreamento GPS no carro do Rafael, explicou seu editor, que parecia ter envelhecido anos nos últimos dias. Juliana, precisamos conversar sobre Carlos e Rafael trocaram um olhar sobre o fato de que sua investigação da MED Brasil foi muito mais longe do que imaginávamos. E sobre o que isso significa para todos nós? Carlos abriu uma pasta espalhando documentos na mesa.

Recebi isso esta manhã. Fotos de você e Rafael chegando aqui. Fotos da casa. E isto? Ele entregou uma carta. Juliana leu, sentindo o sangue drenar de seu rosto. A jornalista tem 48 horas para publicar uma retratação completa de sua matéria sobre a MED Brasil, alegando informações incorretas e se desculpando publicamente pela reportagem irresponsável.

 Caso contrário, descobriremos que nem guarita costas experientes são capazes de proteger quem se mete onde não deve. Há pessoas que sabem onde vocês estão e desta vez não seremos tão gentis quanto na última visita. A última visita? Rafael franziu o senho. Eles estão se referindo ao ataque de ontem. Que ataque? Carlos pareceu confuso. Rafael e Juliana se entreolharam. Carlos, ontem à noite três homens invadiram esta casa. Houve luta.

Eles foram neutralizados. Neutralizados como? deixados inconscientes e amarrados no celeiro. Por quê, Carlos empalideceu? Porque encontrei três homens esta manhã na estrada, a 2 km daqui. Eles estavam feridos, mas conscientes e muito irritados. A realização atingiu todos simultaneamente.

 Eles escaparam, murmurou Juliana, e agora sabem exatamente o quão perigoso Rafael pode ser, completou Carlos. Rafael se levantou, começando a andar pela sala. Mudamos de local imediatamente. Para onde? Perguntou Carlos. Juliana, eles têm recursos, conexões, dinheiro. Não há lugar onde vocês possam se esconder indefinidamente.

 Então, o que você está sugerindo? Carlos respirou fundo. Que Juliana publique a retratação. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Jamais, disse Juliana finalmente. Juliana, seja razoável. Seja razoável, Carlos. Esta investigação expôs crimes contra pessoas inocentes. Famílias inteiras foram usadas como cobaias. Crianças foram expostas a drogas experimentais sem o consentimento dos pais.

 E você quer que eu me retrate? Quero que você viva. Para quê? Para passar o resto da vida sabendo que me curvei a criminosos, que abandonei todas as pessoas que confiaram em mim para contar suas histórias? Rafael observa a discussão. Seu rosto uma máscara de tensão. Há uma terceira opção disse finalmente. Ambos se viraram para ele. Qual atacamos primeiro? Que plano perigoso Rafael tem em mente? E Juliana será capaz de tomar uma decisão que pode determinar não apenas seu futuro, mas também sua vida. Atacar primeiro. Carlos pareceu incrédulo. Rafael, eles têm uma

organização inteira, recursos ilimitados. Você está sugerindo que dois fugitivos declarem guerra a uma corporação multinacional? Rafael se apoiou na mesa, espalhando os documentos. Não dois fugitivos, Carlos. Uma jornalista investigativa com evidências explosivas e um ex-militar com skills específicos. A diferença.

Juliana estudou o rosto dele. O que você tem em mente? Sua investigação focou na Mé Brasil, certo? Mas você mencionou subornos a fiscais da Anvisa. Esquemas de aprovação acelerada, testes fraudulentos. Isso sugere uma rede maior. Sim, mas não consegui mapear completamente as conexões.

 E se pudéssemos? E se em vez de se esconder você publicasse uma investigação ainda maior? Algo tão devastador que eles não poderiam simplesmente fazer você desaparecer sem chamar ainda mais atenção? Carlos balançou a cabeça. Isso é suicídio. Vocês estariam cutucando um vespeiro ainda maior ou criariam uma situação onde silenciar Juliana seria mais perigoso para eles do que deixá-la viva retrucou Rafael.

 Juliana se levantou caminhando até a janela. A manhã estava clara, mas ela podia sentir a tempestade se aproximando literalmente e metaforicamente. E como faríamos isso? Não temos acesso aos escritórios da Méd Brasil, aos arquivos internos, às comunicações confidenciais, mas sabemos quem tem. Ela se virou. Quem? Rafael respirou fundo. Dr. Amanda Ferreira.

 O nome ecoou na sala. Juliana se lembrava, uma ex-executiva da MED Brasil que havia tentado denunciar os esquemas internamente e foi demitida por reestruturação. “Ela nunca quis falar comigo”, disse Juliana. Tentei contato seis vezes. Sua assessoria sempre dizia que ela não estava disponível para entrevistas, porque ela estava com medo.

 Mas agora que você já publicou a primeira matéria, que já provou ser corajosa o suficiente para enfrentar as consequências, talvez ela reconsidere. Carlos se intrometeu. E onde vocês encontrariam esta mulher? Ela provavelmente está tão escondida quanto vocês deveriam estar. Rafael sorriu, um sorriso que não chegou aos olhos. Deixa isso comigo.

 Duas horas depois, Juliana se viu no banco de passageiro do SUV de Rafael, viajando por estradas secundárias em direção ao interior. Ele havia feito algumas ligações, usado algumas conexões que se recusou a explicar e conseguira não apenas localizar Amanda Ferreira, mas marcar um encontro. “Como você soube onde ela estava?”, perguntou Juliana. Quando você trabalha com proteção, desenvolve uma rede de contatos.

 Gente que sabe encontrar pessoas, gente que sabe esconder pessoas. E você confia nessa rede? Rafael hesitou. Confio até certo ponto. Mas, Juliana, preciso que saiba. O que estamos fazendo agora é muito mais perigoso que se esconder. Estamos saindo da defensiva para a ofensiva. Está tentando me fazer desistir? Estou tentando ter certeza de que você entende completamente o que está escolhendo.

Juliana olhou pela janela, observando a paisagem rural passar. Minha vida toda, desde que meus pais morreram, me perguntei qual seria meu propósito. Por que sobrevivi quando eles não sobreviveram? Talvez seja para isso, para este momento, para expor uma corporação criminosa, para usar minha voz por pessoas que não têm voz, para fazer com que suas histórias import.

 Rafael estendeu a mão e tocou-a dela brevemente. Então vamos fazer com que valha a pena. A casa onde Amanda Ferreira se escondia ficava em uma cidadezinha do interior, aninhada entre plantações de café. Uma construção simples, muito diferente do que se esperaria de uma ex-executiva de uma multinacional. Amanda os recebeu na porta.

 Uma mulher de cerca de 50 anos, cabelos grisalhos, olhos cansados, mas inteligentes. Havia uma dignidade em sua postura que nem meses de medo haviam conseguido quebrar. “Senora Santos”, disse ela, estendendo a mão. “li sua matéria corajosa, tola, mas corajosa. Dra. Ferreira, obrigada por aceitarnos ver. Não me agradeça ainda.

 Dependendo do que vocês querem, posso estar assinando nossa sentença de morte.” Elas se sentaram na varanda casa, Rafael permanecendo de pé, vigiando os arredores. “O que posso lhe dizer que já não publicou?”, perguntou Amanda. “Quero saber sobre a rede, sobre quem mais está envolvido além da MED Brasil.

 Sua matéria mencionou corrupção na Anvisa, mas acho que vai muito além disso.” Amanda riu amargamente. Muito além. Juliana, a Med Brasil não é uma empresa farmacêutica que se corrompeu. É parte de um sistema de corrupção que acontece usar medicamentos como fachada. Explique.

 Eles têm contratos com o SUS, certo? Fornecimento de medicamentos para hospitais públicos, programas de saúde comunitária. Mas metade dos remédios que faturam nunca são entregues. A outra metade, bem, você já descobriu sobre os testes ilegais. Juliana sentia sua adrenalina aumentando. Tem evidências disso? Amanda se levantou, foi até dentro da casa e voltou com um pen drive.

 5 anos de e-mail, contratos, planilhas, gravações de reuniões, tudo que consegui salvar antes de ser demitida. Juliana pegou o pen drive com mãos trêmulas. Por que não levou isso à polícia? Porque metade dos nomes nestes arquivos são de delegados, promotores e juízes. A outra metade são políticos de vários partidos. Meu Deus! Exato.” Amanda olhou diretamente para Juliana.

 “Agora me diga, ainda quer publicar esta história? Com evidências tão explosivas em mãos, Juliana terá coragem de seguir em frente? E que consequências devastadoras essa decisão trará para todos os envolvidos?” De volta à casa nas montanhas, Juliana passou a madrugada inteira devorando os arquivos do pen drive. Cada documento que abria revelava uma camada mais profunda de corrupção.

 Rafael permanecia próximo, trazendo café e observando sua expressão mudar de choque para a indignação e, finalmente, para a determinação férrea. “Juliana, você precisa dormir”, disse ele às 4 da manhã. Não posso parar, Rafael. Olhe isto. Ela virou a tela do laptop para ele.

 Contratos de 50 milhões dees para fornecimento de insulina para diabéticos carentes. Sabe quantos frascos foram efetivamente entregues? Me diga. Nenhum. Zero. O dinheiro foi desviado. As pessoas continuaram sem medicamento e todos os envolvidos emitiram certidões de entrega regularizadas. Rafael estudou os documentos.

 Quantas pessoas morreram por falta desses medicamentos? Não sabemos ao certo, mas os relatórios internos da própria Méd Brasil estimam entre 200 e 300 mortes diretamente relacionadas. E isso é apenas um dos contratos. O silêncio pesou entre eles. Você sabe que não pode publicar isso sozinha, disse Rafael finalmente. Por quê? Porque isso vai além de jornalismo investigativo. Isso é munição para derrubar governos inteiros.

 Juliana, alguns dos nomes nesses arquivos eu os reconheço. De onde? Rafael hesitou. Da minha época no exército. Algumas operações especiais que prefiro não detalhar. Juliana fechou o laptop e o encarou. Rafael, preciso saber quem você realmente é. Não posso tomar decisões que podem afetar milhões de pessoas sem saber completamente em quem estou confiando. Ele se levantou, caminhando até a janela. Meu nome completo é Rafael Silva Costa.

 Servi 8 anos no exército, últimos três em operações especiais. Participei de missões na fronteira amazônica, combatendo tráfico de drogas e exploração ilegal de madeira. Continue. Em 2018, nossa unidade recebeu uma missão para proteger um ativista ambiental que estava denunciando esquemas de grilagem de terra e desmatamento ilegal. Wagner Silva. Juliana notou como a voz dele ficou mais tensa.

 O que aconteceu? Wagner tinha informações que poderiam desarticular uma rede de corrupção envolvendo políticos, empresários e militares, documentos, gravações, provas irrefutáveis. Nossa missão era mantê-lo vivo até que ele pudesse entregar essas informações ao Ministério Público. E vocês falharam? Rafael se virou e Juliana viu dor real em seus olhos. Fomos traídos.

 Alguém dentro da própria operação vazou nossa localização. Atacaram nossa base no meio da madrugada. Wagner morreu. Wagner conseguiu escapar, mas sua esposa Isabel estava conosco para proteção adicional. Ela não conseguiu sair a tempo. Juliana sentiu o coração apertar. Rafael tinha um filha, Maria, 6 anos. Colocamos ela no programa de proteção a testemunhas.

Wagner entregou todas as informações que tinha em troca da segurança da filha. E o que aconteceu com as informações? Rafael riu amargamente. Perdidas durante o processo, arquivadas, esquecidas. Três meses depois, Wagner foi encontrado morto em sua casa. Aparente suicídio. Mas você não acredita nisso.

 Sei que não foi suicídio. Assim como sei que o mesmo sistema que falhou em proteger Wagner e sua família é o mesmo que está ameaçando você agora. Juliana processou as informações. Por isso você saiu do exército. Saí porque percebi que às vezes você está lutando pelo lado errado sem nem saber.

 Saí porque não conseguia mais olhar no espelho, sabendo que havia falhado em proteger uma família inocente. E Maria, o que aconteceu com ela? A expressão de Rafael se endureceu. Até onde sei, ainda está no programa de proteção, mas depois do que vimos nesses arquivos, não tenho certeza de que o programa seja confiável. Juliana se levantou e caminhou até ele.

 Rafael, olhe para mim. Quando ele obedeceu, ela viu não apenas dor, mas também determinação. Você não falhou com a família do Wagner. Você foi traído por um sistema corrupto. A diferença, Juliana e agora tem a chance de fazer a diferença, de usar tudo que aprendeu, toda sua experiência para proteger não apenas uma pessoa, mas potencialmente milhares, publicando essa investigação, publicando a verdade, toda ela. Rafael ficou em silêncio por um longo momento.

Se fizermos isso, não há volta. Eles vão usar todos os recursos para nos parar. E desta vez não serão apenas alguns capangas, será guerra total. Então que seja guerra. Ele a encarou intensamente. Você tem certeza absoluta disso? Tenho certeza de que prefiro morrer lutando por justiça do que viver me escondendo de criminosos. Rafael assentiu lentamente. Então preciso fazer uma ligação.

 Para quem? Para alguém que pode nos ajudar a tornar esta guerra um pouco mais justa. Enquanto Rafael descava um número em seu celular, Juliana voltou ao laptop. Havia mais arquivos para revisar, mais evidências para organizar. E, pela primeira vez desde que tudo começou, ela sentia que estava no caminho certo, mesmo que esse caminho pudesse levá-los à destruição.

 Quem é o misterioso contato de Rafael e como eles poderão enfrentar uma conspiração tão poderosa sem se tornarem apenas mais duas vítimas do sistema? A ligação de Rafael durou quase uma hora. Ele conversou em tons baixos, saindo para a varanda sempre que Juliana tentava escutar. Quando finalmente voltou, sua expressão era uma mistura de esperança e apreensão. Temos ajuda, anunciou. Que tipo de ajuda, Dra.

 Patrícia Almeida, promotora federal especializada em crimes organizados. Era ela quem deveria ter recebido as informações do Wagner há 3 anos. Juliana arqueou as sobrancelhas. A promotora que perdeu os documentos? Não, ela nunca recebeu os documentos.

 Descobriu anos depois que foram interceptados antes mesmo de chegarem ao Ministério Público Federal. Desde então tem investigado por conta própria. E você confia nela? Ela salvou minha vida duas vezes quando eu ainda estava no exército. Se existe alguém íntegro neste sistema todo é Patrícia. Três horas depois, uma mulher de aproximadamente 40 anos batia à porta da casa, cabelos pretos presos em um coque severo, terno escuro, porte que comandava respeito imediato, mas foram seus olhos que mais impressionaram Juliana, inteligentes, determinados e completamente sem medo.

“Senora Santos?” Patrícia estendeu a mão. Li sua matéria sobre a MED Brasil. Trabalho excepcional. Dra. Almeida, obrigada por vir. Patrícia se sentou à mesa onde Juliana havia espalhado os documentos de Amanda Ferreira. Rafael me contou sobre os novos arquivos. Posso ver? Durante as próximas duas horas, Patrícia revisou metodicamente cada documento, fazendo anotações, cruzando referências, construindo um quadro que até mesmo Juliana não havia percebido completamente.

 “Isto não é apenas corrupção”, disse finalmente a promotora. é uma organização criminosa sofisticada, usando empresas farmacêuticas como fachada para um esquema de lavagem de dinheiro de proporções inimagináveis. “Como assim?”, perguntou Juliana. Patrícia apontou para uma série de transferências bancárias. Veja, AED Brasil recebe contratos públicos bilionários, não entrega os medicamentos, mas emite todas as certidões de regularidade.

 O dinheiro desviado é então investido em empresas fantasma, que por coincidência são fornecedoras da própria MED Brasil. Um ciclo fechado”, murmurou Rafael. Exato. E o mais brilhante, como são medicamentos para populações carentes, ninguém tem poder político para questionar. Se alguém reclama, é facilmente silenciado como alguém que quer impedir ajuda aos pobres. Juliana sentiu uma onda de raiva.

 Quantas pessoas morreram para sustentar este esquema baseado nestes documentos? Conservadoramente, estimo entre 2 e 3.000 mortes nos últimos 5 anos. Diabéticos sem insulina, hipertensos sem medicação, crianças sem vacinas básicas. O silêncio na sala era pesado. “O que podemos fazer?”, perguntou Juliana. Patrícia se recostou na cadeira legalmente muito pouco.

 A maioria dos envolvidos têm foro privilegiado, conexões poderosas, recursos infinitos para se defender. Um processo tradicional levaria anos e provavelmente terminaria em nada e ilegalmente. Patrícia sorriu. Um sorriso sem humor. Aí é que vocês entram. Juliana, se conseguir publicar uma investigação completa com todos esses documentos, causará um escândalo público tão grande que será politicamente impossível abafar. Mas isso tornará ela um alvo ainda maior”, interveio Rafael.

 “Sim, mas também a tornará intocável. Imagine, uma jornalista que expõe o maior escândalo de corrupção da década é assassinada pouco depois da publicação. Isso geraria tanta repercussão internacional que seria o fim de todos os envolvidos. Juliana ponderou. É uma estratégia arriscada. É a única estratégia que temos. Rafael se levantou e começou a caminhar pela sala.

Patrícia, você pode garantir proteção legal para Juliana depois da publicação? Posso garantir que qualquer tentativa de silenciá-la será investigada com todo o rigor e tenho contatos na mídia internacional que podem dar visibilidade global à história. E quanto tempo precisamos para preparar tudo adequadamente? Uma semana, talvez duas.

Não temos duas semanas, disse Juliana. A ameaça deles falava em 48 horas para a retratação. Patrícia checou o relógio que foi à 18 horas. Sobram 30 horas. Rafael parou de andar. Então fazemos em 30 horas. Rafael, isso é impossível. Não é impossível. É apenas muito, muito difícil. Ele olhou para as duas mulheres.

 Patrícia, você consegue preparar a parte legal em 30 horas? Com minha equipe trabalhando sem parar. Sim, Juliana, você consegue escrever a matéria mais importante de sua carreira em 30 horas. Juliana olhou para os documentos espalhados na mesa, depois para Patrícia, finalmente para Rafael. Consigo, mas precisarei que vocês dois confiem completamente em mim. Como assim? Perguntou Patrícia.

 Porque vou incluir tudo. A história do Wagner, a traição na operação militar, os nomes específicos de todos os envolvidos, independente de quão poderosos sejam, esta matéria vai abalar o país inteiro. Patrícia e Rafael se entreolharam. Juliana, disse Patrícia cuidadosamente. Você entende que isso pode destruir sua carreira e possivelmente sua vida? Entendo que pode salvar milhares de vidas inocentes. Para mim é uma escolha fácil.

 Rafael se aproximou e segurou as mãos dela. Então fazemos juntos os três juntos concordou Patrícia. Enquanto começavam a planejar as próximas 30 horas cruciais, nenhum deles notou o pequeno drone que observava a casa de uma distância segura entre as árvores.

 Com apenas 30 horas para expor a maior conspiração de corrupção da história do país, conseguirão eles executar seu plano arriscado antes que os inimigos descubram onde estão. A casa transformou-se em um centro de operações. Patrícia instalou equipamentos de comunicação criptografada. Rafael reforçou a segurança e criou rotas de fuga alternativas, enquanto Juliana começou a escrever a matéria mais importante de sua vida. “Precisamos dividir responsabilidades”, disse Patrícia espalhando um mapa na mesa.

 “Juliana, você foca na escrita. Rafael, segurança e logística. Eu coordeno a parte legal e as publicações simultâneas.” “Publicações simultâneas?”, perguntou Juliana. Esta história não pode sair apenas no Verdade Paulista. Precisa ser publicada simultaneamente em pelo menos cinco veículos diferentes, incluindo mídia internacional.

 Assim mesmo que tentem calar um jornal, os outros continuam com a história. Juliana sentiu uma mistura de excitação e terror. Você já tem esses contatos? Tenho. The Guardian é o país Lemonde, além da folha e o globo aqui no Brasil. Todos já manifestaram interesse preliminar. Rafael interrompeu. Temos um problema. Elas se viraram para ele. O quê? Movimento suspeito na estrada de acesso.

 Pelo menos dois carros nas últimas 2 horas, sempre o mesmo padrão. Passam devagar, param por alguns minutos a 1 km daqui, seguem em frente. Reconhecimento! Disse Patrícia imediatamente. Quanto tempo temos? Perguntou Juliana. até o anoitecer, no máximo. Eles vão atacar no escuro quando tem vantagem tática. Patrícia checou o relógio.

 14:30 4 horas. Juliana, você consegue terminar a matéria neste tempo? Tenho que conseguir. Os dedos de Juliana voaram sobre o teclado. Cada parágrafo revelava mais uma camada da conspiração. Os contratos fraudulentos, os medicamentos nunca entregues, as mortes que poderiam ter sido evitadas, os políticos envolvidos, os militares corrompidos, a traição que custou a vida de Isabel Silva. Rafael apareceu ao seu lado com um prato de comida. Você precisa comer.

Não tenho tempo, Juliana. Você precisa de energia para terminar isso. Come. Ela obedeceu mecanicamente, os olhos nunca deixando a tela. Rafael, me conta mais detalhes sobre a operação do Wagner. Preciso de especificidade para dar credibilidade à história. Ele hesitou. Alguns detalhes são classificados. Não mais. Não depois de hoje.

 Rafael respirou fundo e começou a relatar detalhes que ele havia guardado por anos, nomes, datas, locais, protocolos violados, ordens que vieram de escalões superiores. Patrícia, enquanto isso, coordenava com seus contatos internacionais, preparando documentos legais e garantindo que, no momento da publicação haveria proteção jurídica imediata.

 Às 17 horas, Rafael voltou de uma ronda pelo perímetro com notícias piores. Eles não estão mais se escondendo. Contei pelo menos oito homens em posições estratégicas ao redor da propriedade. Temos rotas de fuga? Perguntou Patrícia. Uma trilha pela mata que leva a uma estrada secundária a 3 km, mas é arriscada no escuro. Juliana salvou o arquivo e se virou. Quanto tempo precisam para coordenar um ataque total? Uma hora, talvez duas.

 Eles estão esperando escurecer completamente, então temos uma hora para terminar tudo. Os próximos 60 minutos foram frenéticos. Juliana revisou e finalizou a matéria. Patrícia coordenou com os editores internacionais. Rafael preparou equipamentos de emergência. Às 18:45, com o sol pondo atrás das montanhas, Juliana bateu a última tecla. Terminei.

Patrícia pegou o pen drive com a matéria finalizada. São 47 páginas. Juliana, isso é devastador. Vai derrubar pelo menos dois ministros e uma dúzia de deputados. Pode enviar em três, 2, 1. Enviado. No mesmo momento, as luzes da casa se apagaram. Eles cortaram a energia, disse Rafael calmamente.

 Temos 5 minutos antes que venham verificar se ainda estamos aqui. A matéria foi enviada? Perguntou Juliana, guardando rapidamente seus equipamentos para todos os veículos. Publicação simultânea às 20. Horário de Brasília. Rafael entregou mochilas para as duas. Rota de fuga. Agora eles saíram pela porta dos fundos, mergulhando na escuridão da mata.

 Atrás deles, luzes de lanternas cortavam à noite. Os atacantes haviam chegado. Caminharam em silêncio pela trilha íngreme, guiados apenas pela lanterna vermelha de Rafael. Calhos arranhavam seus rostos, pedras soltas ameaçavam torcer seus tornozelos. “Quanto falta?”, sussurrou Juliana após 20 minutos de caminhada. “2 km”, respondeu Rafael.

 “Foi quando ouviram os gritos atrás deles. Eles descobriram que fugimos”, disse Patrícia. “Podem nos alcançar? Se conhecerem a trilha.” “Sim.” O som de botas pesadas ecuou pela mata, cada vez mais próximo. Rafael parou abruptamente. Há uma bifurcação à frente. Patrícia, você leva Juliana pela trilha principal até a estrada. Eu vou pela trilha falsa atraí-los para longe de vocês.

 Não disse Juliana imediatamente. Não vamos nos separar. Juliana, sua matéria foi publicada. A missão está cumprida. Agora o importante é mantê-la viva para dar entrevistas, depoimentos. da mídia, Rafael. Ele segurou o rosto dela com as duas mãos. Preciso que confie em mim uma última vez.

 Última vez? Você fala como se ele a beijou. Um beijo desesperado, cheio de coisas não ditas. Te amo, Juliana Santos, e por isso não posso deixar que nada aconteça com você. Antes que ela pudesse responder, Rafael desapareceu na escuridão pela trilha secundária, fazendo ruído suficiente para atrair os perseguidores. Patrícia puxou Juliana pelo braço.

 Vamos, não podemos desperdiçar o sacrifício dele. Com lágrimas nos olhos, Juliana seguiu Patrícia pela trilha principal, enquanto os sons de perseguição se afastavam na direção que Rafael havia tomado. Rafael conseguirá escapar dos perseguidores e mesmo com a matéria publicada, Juliana estará realmente segura ou esta é apenas o início de uma batalha ainda maior? São Paulo, 22:15.

Nos escritórios do Verdade Paulista, Carlos Mendonça observava as telas de todos os computadores da redação. A matéria de Juliana estava sendo publicada simultaneamente em cinco idiomas, em dezenas de veículos ao redor do mundo. Seu telefone tocou incessantemente, jornalistas, políticos, advogados, todos querendo comentários, esclarecimentos, retratações.

 Carlos a voz de Juliana chegou através da linha criptografada. Conseguiu. Conseguimos, Juliana. A história está no ar. Guardian Folha é o país. Todos publicaram simultaneamente. As redes sociais estão pegando fogo. Do outro lado da linha, em um posto rodoviário a 200 km de Campos do Jordão, Juliana sentiu uma mistura de alívio e terror. E Rafael, alguma notícia? Nada ainda.

 Mas Juliana, você precisa vir para São Paulo. A Polícia Federal quer sua proteção oficial e temos pelo menos 15 pedidos de entrevistas internacionais. Patrícia pegou o telefone. Carlos, aqui a Dra. Patrícia Almeida. Operação Verdade está em andamento. Juliana estará sob proteção do Ministério Público Federal até segunda ordem.

 Enquanto Patrícia coordenava os próximos passos, Juliana não conseguia parar de pensar em Rafael. Havia-se passado quatro horas desde que ele desaparecera na mata e não tinham notícias. Patrícia, precisamos procurá-lo. Juliana, minha equipe já está fazendo isso, mas agora você é a pessoa mais importante desta operação. Se algo acontecer com você, nada vai acontecer comigo se ele estiver morto. Patrícia tocou o ombro dela gentilmente. Rafael sabia os riscos.

 Ele fez uma escolha para protegê-la. Não deixe essa escolha ser em vão. Três dias depois, Brasília vivia uma crise política sem precedentes. A matéria de Juliana havia detonado uma série de investigações, prisões e renúncias que abalavam as estruturas do poder.

 Juliana estava hospedada em um hotel seguro da capital federal, dando entrevistas em sequência para veículos nacionais e internacionais. Cada aparição aumentava a pressão sobre os envolvidos no escândalo da MED Brasil. Senora Santos, disse o entrevistador da CNN Internacional, suas revelações levaram à prisão de 17 pessoas, incluindo dois ex-ministros.

 Como se sente sendo responsável por expor o que muitos chamam de maior esquema de corrupção da história do Brasil? Juliana olhou diretamente para a câmera. Me sinto responsável pelas famílias que perderam entes queridos, porque medicamentos que deveriam salvá-los foram desviados para enriquecer criminosos. Me sinto responsável por dar voz a quem não tinha voz. Há rumores de que você tinha ajuda de um ex-militar. Pode comentar. O coração de Juliana se apertou.

 Posso dizer que pessoas corajosas arriscaram suas vidas para que a verdade viesse à tona. Algumas pagaram um preço muito alto por isso. Após a entrevista, Patrícia a encontrou no lobby do hotel. Novidades sobre Rafael? Patrícia hesitou. Encontraram vestígios de luta na mata, sangue, equipamentos danificados, mais nenhum corpo. Isso é bom ou ruim? Não sei, Juliana. Sinceramente, não sei.

 Na quarta noite, após a publicação, Juliana estava em seu quarto quando recebeu uma ligação de número desconhecido. Alô, Juliana. A voz estava fraca, distorcida, mas inconfundível. Rafael, meu Deus, onde você está? Hospital público em Taubaté. Não posso falar muito, mas a matéria funcionou. Eles recuaram. Juliana começou a chorar.

 Você está bem? Vou ficar. Alguns pontos, algumas contusões, nada que comprometa minha beleza natural. Ela riu entre as lágrimas. Seu idiota. Pensei que tinha te perdido. Não se livra de mim tão fácil, Rafael. A história repercutiu mundialmente. 17 pessoas presas. Três ministros renunciaram. O presidente prometeu uma reforma completa no sistema de saúde.

 E você, como está se sentindo? Juliana olhou pela janela do hotel, vendo Brasília iluminada na noite, como uma jornalista que finalmente fez a diferença, mas principalmente como uma mulher com saudades do homem que ama. Silêncio do outro lado da linha. Juliana? Sim. Quando sair daqui, quando tudo isso se acalmar, você gostaria de jantar comigo? Sem ameaças de morte.

 sem investigações, sem correria, apenas nós dois. Adoraria, mas tem uma condição. Qual? Você cozinha? Rafael Rio. Um som genuíno, livre do peso que carregava há anos. Fechado. Duas semanas depois, a Time Magazine dedicou sua capa à jornalista brasileira que abalou um governo.

 A foto mostrava Juliana em frente ao Congresso Nacional, séria e determinada. Mas a foto que ela guardou com mais carinho foi uma bem mais simples. Ela e Rafael na cozinha da casa nas montanhas, preparando o primeiro jantar sem medo que compartilharam em meses. Como essa experiência transformará para sempre a vida de Juliana e Rafael? E que futuro os espera depois de sobreviverem à conspiração mais perigosa de suas vidas? Seis meses depois da publicação da matéria que abalou o Brasil, Juliana acordou em sua nova casa, um sobrado aconchegante em uma rua tranquila de Vila Madalena.

Rafael dormia ao seu lado, a respiração regular e serena que ela havia aprendido a associar com segurança. O prêmio Pulitzer de jornalismo internacional chegara na semana anterior, mas não era a estatueta dourada em sua mesa que a fazia sorrir todas as manhãs. Era a certeza de que centenas de pessoas haviam recebido medicamentos que antes eram desviados, que famílias não precisariam mais enterrar entes queridos por negligência criminosa. Mas o preço da verdade havia sido alto.

 Juliana se levantou cuidadosamente e caminhou até a cozinha, onde encontrou uma carta que chegara no dia anterior. O remetente a fez hesitar. Maria Silva Costa abriu o envelope com mãos ligeiramente trêmulas. Cara senora Santos, meu nome é Maria Silva.

 A senhora pode não me conhecer, mas conheceu meu pai, Wagner Silva, através de sua investigação. Tenho 21 anos agora e finalmente consegui sair do programa de proteção a Testemunhas. Li sua matéria sobre a MED Brasil e sobre o que aconteceu com minha família. Pela primeira vez em 12 anos, alguém contou a verdade sobre a morte da minha mãe e do meu pai.

 Queria agradecer, não apenas por expor os criminosos, mas por dar dignidade à memória deles, por mostrar que eles não morreram em vão. Estou estudando jornalismo na USP agora. Inspirada na senhora, quero usar minha voz para contar histórias que importam. Se um dia quiser me conhecer pessoalmente, adoraria conversar. O senhor Rafael tem meu contato com admiração e gratidão. Maria Silva Costa.

 PS: Meu pai sempre dizia que a verdade é como sementes. Quando plantadas em solo fértil, sempre florescem. A senhora plantou muitas sementes importantes. Juliana limpou as lágrimas que não percebeu que haviam começado a cair. Notícias boas ou ruins. Rafael apareceu na cozinha, cabelos despenteados, vestindo apenas uma camiseta velha do exército. Ela lhe entregou a carta.

 Ele leu em silêncio e ela viu suas próprias emoções refletidas no rosto dele. Ela quer estudar jornalismo. Por sua causa, Juliana, você inspirou a filha do homem que não consegui proteger. Juliana se aproximou e abraçou Rafael. Você protegeu, sim. Protegeu a memória dele, protegeu a verdade sobre o que aconteceu e, no final, protegeu muito mais gente do que imaginava.

 O telefone tocou, interrompendo o momento. Patrícia, Juliana, ligue a televisão. Canal da notícia. Elas correram para a sala. Na tela, uma âncora anunciava: “Firmado pela Polícia Federal. O último membro da organização criminosa conhecida como Cartel da Saúde, foi preso esta manhã em São Paulo.

 Com esta prisão, todas as 47 pessoas envolvidas no esquema revelado pela jornalista Juliana Santos estão agora sob custódia ou já foram julgadas. Rafael segurou a mão de Juliana. Acabou. Realmente acabou. Mas no fundo do estômago de Juliana havia uma sensação estranha, não de medo. Ela havia aprendido a diferença. Era algo mais como vazio. Por meses, sua vida havia sido definida pela investigação, pelo perigo, pela luta por justiça.

 Agora que tudo havia terminado, o que vinha depois? Rafael, posso fazer uma pergunta? Sempre. Você sente saudade do perigo, da adrenalina, da sensação de estar lutando por algo maior que nós mesmos? Ele considerou a pergunta cuidadosamente. Sinto saudade da clareza.

 Quando estávamos fugindo, quando estávamos investigando, tudo era muito claro. Nós contra eles, certo versus errado. Agora as coisas são mais complicadas. Complicadas como complicadas como decidir se quero voltar a trabalhar com proteção pessoal ou tentar algo completamente diferente. Complicadas como descobrir quem sou quando não estou em modo de sobrevivência. Juliana se aninhou contra ele no sofá.

 E se descobríssemos juntos, como assim? Patrícia me ofereceu uma posição como consultora em investigações do Ministério Público. Seria uma oportunidade de continuar fazendo jornalismo investigativo, mas com apoio oficial, recursos apropriados, segurança garantida. Rafael ficou interessado. E você quer aceitar? Só se você aceitar também. Ela disse que precisa de alguém com experiência em segurança e operações especiais.

 Você está me propondo que sejamos parceiros profissa além de pessoais? Estou propondo que continuemos mudando o mundo, só que desta vez com salários decentes e sem risco de morte. Rafael Riu. Quando você coloca desta forma, a campainha tocou. Juliana foi atender e encontrou um entregador com um envelope elegante. Dentro um convite gravado em papel caro.

 O conselho editorial da revista Time convida a senhora Juliana Santos para receber pessoalmente o título de personalidade do ano em cerimônia a ser realizada em Nova York. Rafael leu por cima do ombro dela. Nova York, hein, Fancy? Vem comigo. Como seu namorado, seu guarda-costas ou seu futuro parceiro profissional.

 Juliana sorriu como meu melhor amigo, meu amor, e o homem que me ensinou que às vezes a coragem significa não apenas enfrentar o perigo, mas também aceitar a felicidade quando ela chega. Rafael a beijou suavemente. Então vamos para Nova York. Mas depois voltamos e aceitamos a proposta da Patrícia. Por quê? Porque ainda há muitas verdades para descobrir, muitas pessoas para proteger, muitas histórias que precisam ser contadas.

 Juliana olhou ao redor de sua sala de estar pacífica, pensando na jornada que os trouxe até ali. Da tentativa de atropelamento na rua Augusta até aquele momento de tranquilidade doméstica, tudo havia mudado, mas, principalmente, ela havia mudado. Não era mais apenas uma jornalista tentando fazer a diferença sozinha.

 Era parte de uma equipe, parte de algo maior, parte de uma missão que não terminaria enquanto houvesse injustiça no mundo. E pela primeira vez em sua vida, essa responsabilidade não parecia um fardo, parecia um privilégio. Como a cerimônia em Nova York mudará a perspectiva de Juliana sobre seu futuro? E que nova aventura aguarda o casal quando retornarem ao Brasil para começar sua parceria oficial com o Ministério Público. Nova York, seis meses depois.

 O flash das câmeras era cegante, mas Juliana havia aprendido a navegar por esse tipo de atenção. No palco do Lincoln Center, segurando o troféu de personalidade do ano da Time Magazine, ela olhou para a plateia repleta de jornalistas, diplomatas e ativistas de direitos humanos de todo o mundo. Quando comecei a investigar a Méd Brasil, disse ao microfone, não imaginava que estava desenterrando uma conspiração que afetaria a vida de milhões de pessoas, mas aprendi algo fundamental.

 A verdade não pertence a quem a descobre, ela pertence a quem mais precisa dela. Na primeira fileira, Rafael aplaudia com um sorriso orgulhoso. Ao lado dele, Patrícia havia voado especialmente de Brasília para a cerimônia. “Este prêmio não é meu”, continuou Juliana. pertence a cada pessoa que teve coragem de dar um depoimento, a cada fonte que arriscou sua segurança para que a verdade viesse à tona, e, especialmente a duas pessoas que me ensinaram que proteger os outros às vezes significa se colocar em perigo. Após a cerimônia no elegante hotel onde estavam hospedados, Juliana e Rafael

brindaram com champanhe na varanda com vista para Manhattan. Então, como se sente sendo namorada de uma personalidade do ano? Brincou Juliana. Como se sente sendo namorada de um ex-militar que está pensando seriamente em cursar direito para trabalhar melhor com questões de justiça social? Juliana quase derrubou a taça. Sério, Patrícia me convenceu.

 Disse que minha experiência prática com segurança e operações, combinada com o conhecimento jurídico, seria útil para casos complexos do Ministério Público. Rafael Silva Costa, advogado e investigador. Juliana sorriu, tem um bom som. E Juliana Santos, consultora especial para investigações jornalísticas do MPF. Também soa bem. Eles ficaram em silêncio confortável.

 observando as luzes da cidade. “Você sabe”, disse Rafael finalmente. “Há um ano eu estava completamente perdido, ex-militar sem rumo, carregando culpa por mortes que não consegui prevenir, fazendo trabalhos que não me realizavam. E agora, agora sei exatamente quem sou e o que quero fazer pelo resto da vida.

” Juliana se virou para encará-lo, que é proteger pessoas como você, pessoas corajosas o suficiente para lutar por justiça, mesmo quando é perigoso, pessoas que usam suas habilidades para dar voz a quem não tem. E pessoalmente, Rafael se ajoelhou na varanda. O coração de Juliana parou. Ele tirou uma pequena caixa do bolso. Juliana Santos, você mudou completamente minha vida.

 me fez lembrar que existem causas pelas quais vale a pena lutar, pessoas pelas quais vale a pena viver. Quer passar o resto da vida investigando corrupção e fazendo a diferença no mundo comigo? O anel era simples, elegante, com uma pequena esmeralda, a pedra favorita dela, algo que ele havia observado e lembrado.

 Rafael, sei que é loucura. Sei que nossa vida nunca será comum. Provavelmente sempre haverá perigos, investigações complicadas, pessoas tentando nos parar. Juliana o interrompeu com um beijo. “Sim”, disse quando se separaram. Sim, para tudo. Para a loucura, para os perigos, para as investigações, para passar a vida fazendo a diferença ao seu lado. Dois anos depois, Brasília.

 O escritório do Ministério Público Federal estava movimentado. Juliana revisava documentos sobre uma nova investigação, desta vez envolvendo uma empresa de construção que desviava verbas de obras de escolas públicas. Rafael, agora no segundo ano de direito, coordenava a segurança da operação.

 Patrícia entrou na sala com uma expressão séria. Temos um problema e uma oportunidade. Conta, disse Juliana. Lembram da Maria Silva, a filha do Wagner? Claro, como está ela? Formou-se em jornalismo no ano passado e acabou de descobrir algo que pode ser ainda maior que o caso da MED Brasil. Rafael se aproximou.

 Que tipo de coisa? Um esquema internacional de tráfico de órgãos envolvendo hospitais privados de luxo e transplantes ilegais. Maria estava investigando para seu trabalho de conclusão. Stumbled into something massive. Juliana sentiu a familiar onda de adrenalina investigativa. Onde ela está agora, escondida e com medo. Precisa de proteção profissional e de alguém experiente para ajudá-la a dar continuidade à investigação.

 Juliana e Rafael se entreolharam. Sem palavras. Ambos sabiam o que o outro estava pensando. Patrícia, disse Juliana, me manda o endereço dela. Vocês têm certeza? Esta pode ser ainda mais perigosa que a investigação da MED Brasil. Rafael ajustou o colete à prova de balas, que havia se tornado parte de seu uniforme diário.

 Algumas coisas nunca mudam, Patrícia. Há pessoas que precisam de proteção, verdades que precisam ser contadas, justiça que precisa ser feita. E nós somos bons no que fazemos, completou Juliana, pegando sua mochila com equipamentos de gravação. Uma hora depois, eles dirigiam pelas ruas de Brasília rumo ao endereço que Patrícia havia fornecido.

 Rafael no volante, Juliana no banco do passageiro, revisando os arquivos preliminares que Maria havia conseguido reunir. “Sabe o que mais me impressiona?”, disse Rafael. “O quê? Como nossa vida encontrou seu ritmo? Perigo e tranquilidade, investigação e momentos normais, salvar o mundo e comer pipoca no sofá assistindo filme.

 Juliana sorriu tocando a aliança de casamento que usava há seis meses. É uma vida boa, a melhor que já tive. O GPS indicou que haviam chegado ao destino, um prédio residencial simples, discreto. Rafael estacionou e checou os arredores automaticamente. Um hábito que nunca perderia. Pronta para mais uma aventura, Sra. Silva Costa. Juliana verificou seu equipamento de gravação. Sempre pronta, Sr.

 Silva Costa. Eles subiram as escadas lado a lado, prontos para conhecer Maria e começar uma nova investigação que eles sabiam mudaria novamente suas vidas e potencialmente salvaria muitas outras. Porque algumas pessoas nascem para viver vidas tranquilas e previsíveis, e outras nascem para descobrir verdades que o mundo precisa conhecer.

 Não importa o preço, Juliana e Rafael definitivamente pertenciam ao segundo grupo e não trocariam isso por nada.