Imagine estar no altar, prestes a dizer sim, quando a pessoa que você ama confessa na frente de todos que ama outra pessoa, sua melhor amiga. Foi exatamente isso que aconteceu com Raíça. Mas o que veio depois dessa humilhação transformou sua vida de uma forma que ela nunca imaginou.
Antes de começarmos essa história incrível, me conta de onde você está assistindo esse vídeo. Deixa aqui nos comentários. E se você gosta de histórias emocionantes que vão te fazer sentir todas as emoções possíveis, deixa aquele like e se inscreve no canal para não perder nenhuma narrativa. Agora, prepara o coração, porque essa história vai mexer com você do começo ao fim.
A luz filtrada pelos vitrais da Catedral da Sé desenhava mosaicos coloridos sobre o tapete vermelho. Raíça Oliveira segurava o buquê de rosas brancas com tanta força que seus dedos estavam brancos. Aos 22 anos, ela havia sonhado com aquele momento desde adolescente, o vestido de renda francesa, que sua mãe economizou dois anos para comprar, as flores escolhidas a dedo, os 300 convidados que enchiam os bancos da catedral centenária no coração de São Paulo.
Felipe Costa a esperava no altar, impecável em seu smoking preto, ou pelo menos era isso que deveria acontecer. “Está tudo perfeito, filha”, sussurrou seu pai. apertando seu braço enquanto a música começava. A marcha nupsal ecuou pelas paredes seculares e Raíça deu o primeiro passo. Cada passo parecia uma eternidade.
Ela podia sentir os olhares de todos sobre si, os celulares discretamente posicionados para capturar o momento. Sorriu mesmo com as borboletas enlouquecidas em seu estômago. Felipe era tudo o que ela conhecia desde os 16 anos. 6 anos juntos. 6 anos construindo planos. sonhos, uma vida inteira traçada em conversas noturnas e promessas sussurradas. Mas quando chegou a 3 m do altar, Felipe ergueu a mão.
“Espera”, disse ele, e sua voz soou estranhamente alta no silêncio reverente da igreja. Raíça congelou, seu pai também. Um murmúrio confuso percorreu os bancos. Eu eu não posso fazer isso. Felipe continuou e seus olhos não encontravam os dela. Em vez disso, procuravam alguém entre os convidados.
Raíça, eu sinto muito, mas eu não posso me casar com você quando estou apaixonado por outra pessoa. O buquê escorregou dos dedos de Raíça e caiu no chão com um baque surdo que pareceu ressoar em todo o seu corpo. As flores brancas se espalharam pelo tapete vermelho como destroços de um naufrágio. O quê? Ela sussurrou, mas sua voz sumiu no crescente burburinho de choque que tomava conta da catedral. “Júlia”, Felipe disse e apontou.
Júlia, por favor, se levanta. Entre os convidados do lado da noiva, uma mulher de cabelos castanhos e vestido azul marinho se levantou lentamente. Júlia Mendes, a melhor amiga de Raíça desde o ensino médio, a pessoa que a ajudou a escolher o vestido, que organizou seu chá de panela, que segurou sua mão durante todos os momentos difíceis dos últimos 7 anos.
“Me desculpa, Ri”, Júlia disse, e suas palavras eram quase inaudíveis em meio ao caos. A gente não planejou isso, simplesmente aconteceu. O mundo de Raíça desabou, não devagar, não gentilmente. Foi instantâneo e brutal, como um prédio implodindo sobre suas próprias fundações. Seus joelhos fraquejaram e só o braço de seu pai a manteve de pé.
Os flashes começaram, dezenas de celulares agora apontados abertamente para ela, capturando cada segundo de sua humilhação. Ela podia imaginar as manchetes, as postagens nas redes sociais, os comentários cruéis, a noiva abandonada no altar. Foi escândalo do ano. Raíça, eu realmente sinto muito. Felipe deu um passo à frente, estendendo a mão como se pudesse consertar o que acabara de destruir. “Você merece alguém que te ame de verdade e eu não.
” A voz cortou o ar como uma lâmina afiada. Todos se viraram. Um homem havia se levantado na última fileira, alto, de ombros largos sob um terno cinza perfeitamente cortado. Ele caminhou pelo corredor central com uma autoridade que fez o burburinho diminuir. Raça o reconheceu vagamente. Gustavo Almeida Campos, um dos empresários mais poderosos de São Paulo, alguém que ela tinha visto algumas vezes em fotos de revistas de negócios. “O que você está fazendo aqui?”, Felipe perguntou confuso.
Gustavo o ignorou completamente. Em vez disso, parou ao lado de Raíça, tirou seu palitó e colocou sobre os ombros trêmulos dela, com um gesto de proteção tão natural que pareceu coreografado. “Senrita Oliveira”, ele disse baixinho, e seus olhos escuros encontraram os dela. “Havia algo neles? Compreensão, talvez. Compaixão. Me permite acompanhá-la até a saída?” Raíça não conseguia falar.
Não conseguia pensar, apenas a sentiu muda, em estado de choque. “O que está acontecendo?” Felipe começou, mas Gustavo finalmente olhou para ele e o olhar foi tão gelado que Felipe recuou instintivamente. “Você já fez o suficiente”, Gustavo disse. Sua voz baixa, mas carregada de uma autoridade inquestionável. Fique onde está.
Com o braço oferecido, ele guiou Raíça de volta pelo corredor. O pai dela parecia perdido, sem saber se devia segui-los ou confrontar Felipe. Os convidados apenas observavam, paralisados pelo drama que se desenrolava. Quando saíram da catedral para o sol escaldante da tarde paulistana, Raíça finalmente conseguiu respirar, mas com o ar veio a dor, uma dor tão aguda e devastadora, que ela dobrou-se sobre si mesma, soluçando.
“Respira”, Gustavo disse gentilmente, ainda segurando seu braço. “Só respira”. Um Mercedes-Benz preto esperava na frente da escadaria. O motorista abriu a porta traseira imediatamente. Eu não, eu não te conheço, Raíça conseguiu dizer entre soluços. Eu sei, Gustavo respondeu, mas você precisa sair daqui agora e eu posso te ajudar.
Algo na calma dele, na certeza inabalável de sua voz, fez Raíça entrar no carro. Enquanto se afastavam da Catedral da Sé, ela virou-se para olhar pela janela traseira. podia ver os convidados começando a sair. Felipe parado na escadaria com as mãos na cabeça. Júlia ao seu lado tentando tocá-lo. A vida que ela havia planejado meticulosamente estava desmoronando na distância.
E enquanto o carro deslizava pelas ruas movimentadas do centro de São Paulo em direção ao desconhecido, Raça Oliveira não tinha ideia de que aquele era apenas o começo de uma jornada que transformaria completamente quem ela era. A mansão no Jardim Europa era tudo o que Raíça esperava de uma residência pertencente a um dos homens mais ricos de São Paulo. E nada como ela imaginava ao mesmo tempo. Sim, havia o portão imponente de ferro forjado.
O jardim meticulosamente cuidado com palmeiras imperiais e jabuticabeiras centenárias, a fachada neoclássica com suas colunas de mármore. Mas quando Gustavo a guiou para dentro, a decoração era surpreendentemente acolhedora. Dona Maria, ele chamou assim, que cruzaram o rall de entrada com seu piso de mármore travertino. Uma mulher de cerca de 55 anos, cabelos grisalhos presos em um coque impecável e um sorriso gentil no rosto, apareceu de um corredor lateral.
Seus olhos imediatamente se encheram de preocupação ao ver Raíça, ainda no vestido de noiva amassado, maquiagem borrada pelas lágrimas, o palitó de Gustavo caindo de seus ombros. Meu Deus do céu, ela murmurou. Senr. Gustavo, o que aconteceu? Depois eu explico. Por favor, prepare o quarto de hóspedes do segundo andar e ajude a senrita Oliveira com o que ela precisar.
Dona Maria assentiu e se aproximou de Raíça, com a delicadeza de quem lidava com algo muito frágil. “Vem, querida, vamos te deixar mais confortável.” Raíça permitiu-se ser guiada à escada acima, ainda em choque demais para questionar, para resistir, para fazer qualquer coisa, além de colocar um pé na frente do outro.
O quarto era espaçoso e luminoso, com janelas amplas que davam para o jardim. Dona Maria a ajudou a tirar o vestido, aquele vestido maldito que deveria ter sido a peça central do dia mais feliz de sua vida e trouxe um roupão macio. “Toma um banho, filha”, ela disse gentilmente. “Gua quente ajuda.” Raíça ficou sob o chuveiro até a água esfriar, deixando as lágrimas se misturarem com os jatos, lavando a maquiagem que Júlia a ajudara a aplicar naquela manhã.
Júlia, Felipe, as duas pessoas em quem ela mais confiava no mundo. Como ela não percebeu, quantas vezes eles se encontraram às suas costas, quantas mentiras foram ditas. Quando finalmente saiu do banheiro, encontrou roupas limpas sobre a cama, uma calça de moletom e uma camiseta simples, provavelmente pertencentes a Gustavo, mas confortáveis.
Vestiu-se mecanicamente, uma batida suave na porta. Posso entrar? A voz de Gustavo pode? Ela respondeu surpresa com sua própria voz soava distante e morta. Ele entrou carregando uma bandeja com chá e biscoitos. Havia trocado o terno por roupas casuais, jeans e uma camisa de botão azul clara com as mangas dobradas.
De alguma forma, isso o fazia parecer mais humano, menos o empresário imponente e mais apenas um homem. “Como está se sentindo?”, perguntou, colocando a bandeja na mesinha de café ao lado da poltrona. perto da janela. Honestamente, eu não sei o que estou sentindo. Raíça respondeu, sentando-se na beira da cama. Nada disso parece real.
E eu não entendo porque você por você fez aquilo? Por me trouxe para sua casa. Gustavo se sentou na poltrona, seus olhos escuros estudando-a com uma intensidade que deveria ser desconfortável, mas de alguma forma não era. “Porque eu já vi isso acontecer antes”, ele disse finalmente. “E daquela vez? Eu não fiz nada. Não pude fazer nada. O que você quer dizer?” Ele suspirou, passando a mão pelo cabelo escuro.
Minha irmã, Letícia, há 10 anos ela passou por algo parecido. Foi humilhada publicamente pelo noivo em uma festa da alta sociedade. Eu estava em Nova York a negócios quando voltei. Era tarde demais. Ela sofreu um acidente na rodovia dos Bandeirantes, voltando para casa naquela noite. Não sobreviveu. O silêncio que se seguiu era pesado, carregado de uma dor antiga que ainda pulsava fresca.
Sinto muito, raíça sussurrou. Eu também, Gustavo disse, todos os dias. E quando vi você hoje naquela catedral, vi minha irmã, a mesma expressão de choque, a mesma devastação, e pensei: “Não, de novo. Não vou deixar outra pessoa sofrer sozinha quando posso fazer algo”. Raíça sentiu lágrimas novas formando em seus olhos. Não sei como te agradecer, mas eu não posso ficar aqui.
Eu não te conheço. Você não me conhece, então vamos nos conhecer. Ele interrompeu suavemente. Raíça, posso fazer uma proposta? Ela piscou confusa. Que tipo de proposta? Gustavo se inclinou para a frente, apoiando os cotovelos nos joelhos, suas mãos entrelaçadas. Fique aqui três meses. Seja minha acompanhante em eventos sociais, galas beneficentes, inaugurações, jantares de negócios.
A elite paulistana precisa ver que você não foi destruída pelo que aconteceu hoje, que você seguiu em frente e francamente sua presença me ajudaria a afastar certas expectativas sociais sobre minha vida pessoal. “Você quer que eu seja sua namorada de fachada?”, ela perguntou incrédula, acompanhante, sem obrigações íntimas. Você teria seu próprio quarto total privacidade.
Em troca, te dou hospedagem e apoio financeiro para recomeçar sua vida e acesso aos meus recursos, contatos, conexões. O que quiser fazer depois desses três meses, eu te ajudo a alcançar. Raíça o estudou. Era absurdo, completamente absurdo. Mas também havia uma lógica estranha nisso. Ela não tinha para onde ir. Morava com Felipe no apartamento dele. Não tinha emprego.
Havia largado seu trabalho no café da Paulista dois meses atrás para se dedicar aos preparativos do casamento. Sua família era humilde, não poderia pagar um recomeço. E a ideia de enfrentar o mundo lá fora, de ver a pena nos olhos das pessoas, as fofocas, os vídeos viralizando na internet era insuportável.
Por que você faria isso por uma completa estranha? Ela perguntou. Porque minha irmã não teve ninguém, ele disse simplesmente. E porque acredito em dar segundas chances para mim também, uma chance de fazer o que não pude fazer por Letícia. Raíça olhou pela janela, para o jardim banhado pela luz dourada do final da tarde. Lá fora, sua vida anterior estava despedaçada.
Aqui dentro, um estranho oferecia uma tábua de salvação. “Três meses”, ela disse devagar. “E depois eu sou livre para ir?” completamente livre, sem amarras, sem obrigações. Você terá minha ajuda para o que quiser fazer, voltar a estudar, abrir um negócio, viajar, o que você quiser. Ela respirou fundo. Era loucura. Mas qual era a alternativa? Tudo bem, ela disse.
Aceito. Gustavo sorriu. O primeiro sorriso verdadeiro que ela via naquele rosto sério e estendeu a mão. Então, temos um acordo, senhorita Oliveira. Raíça apertou sua mão e algo passou entre eles. Uma centelha de compreensão, de respeito mútuo, de possibilidade. Nenhum deles poderia imaginar como aquele acordo simples mudaria tudo. Os primeiros dias foram uma névoa.
Raíça passava horas no quarto alternando entre chorar e encarar o teto, seu celular desligado para evitar as dezenas de mensagens e ligações. Dona Maria subia com bandejas de comida que ela mal tocava, sentando-se às vezes na beira da cama para fazer companhia silenciosa. Foi na manhã do quarto dia que Gustavo bateu na porta e entrou sem esperar resposta.
“Levanta”, ele disse, sua voz firme, mas não cruel. Raíça o olhou do monte de travesseiros onde estava enrolada. “Não estou com vontade. Não perguntei se você estava com vontade. Temos nosso primeiro evento em cinco dias. Uma gala beneficente no hotel Unique. Precisamos te preparar. Eu não posso ela sussurrou. Não posso enfrentar aquelas pessoas. Gustavo se aproximou e sentou na beira da cama.
E havia algo diferente em seus olhos, um misto de compreensão e determinação. Raíça, você pode ficar aqui se escondendo, deixando que o que Felipe e Júlia fizeram defina o resto da sua vida. Ou pode se levantar, se recompor e mostrar a eles e a você mesma que você é muito mais forte do que imagina. Ele fez uma pausa. Minha irmã escolheu o primeiro caminho e eu perdi ela. Não quero ver você escolher o mesmo.
As palavras foram um choque de realidade, duras, talvez, mas necessárias. Não sei se consigo ser forte, ela admitiu. Ninguém sabe até tentar. E você não vai fazer isso sozinha. Eu estarei ao seu lado em cada passo. Algo naquela promessa, na certeza inabalável com que ele a pronunciou, fez Raíça a sentir. Tudo bem, o que preciso fazer? O sorriso que iluminou o rosto de Gustavo foi como ver o sol nascer.
Primeiro um banho, depois café da manhã adequado e então vamos começar sua transformação. Nas horas seguintes, a mansão se transformou em um redemoinho de atividade. Uma personal stylist chegou com malas cheias de roupas de estilistas brasileiros e internacionais.
Uma maquiadora e cabeleireira montaram um verdadeiro salão improvisado em um dos quartos. Uma personal trainer apareceu para avaliar um programa de exercícios. Isso é demais. Raíça protestou quando uma mulher elegante começou a medir suas proporções para roupas sob medida. É necessário, Gustavo, respondeu, observando de uma poltrona com um copo de whisky.
Se você vai entrar no meu mundo, precisa parecer que pertence a ele, não por vaidade, mas por respeito próprio. As pessoas julgam aparências primeiro. Vamos usar isso a nosso favor. Durante a semana seguinte, Raça foi polida como uma joia bruta. Aprendeu a caminhar com saltos de 12 cm vacilar. Estudou a arte de conversação superficial, como desviar de perguntas pessoais, como fazer as pessoas se sentirem importantes.
Como sorrir educadamente quando queria sair correndo. Postura. Gustavo a corrigia durante os jantares de treino que faziam todas as noites. Ombros para trás, cabeça erguida. Você não é uma vítima, é uma mulher poderosa que simplesmente não tolerou ser desrespeitada. Mas eu fui desrespeitada. Ela retrucou.
Foi que agora você vai mostrar que aquilo não te quebrou, que te tornou mais forte. Dona Maria tornou-se uma presença constante e reconfortante, trazendo chá quando a ansiedade de Raíça aumentava, contando histórias sobre Gustavo quando criança, aos poucos humanizando aquele homem que às vezes parecia feito de mármore. “Ele parece duro”, dona Maria disse uma noite, escovando o cabelo de Raíça antes de dormir, como uma mãe faria, mas tem um coração maior do que qualquer um que eu conheço.
A morte de dona Letícia quase o destruiu. Ele se fechou por anos, mas desde que você chegou aqui, eu vejo algo diferente nele. Uma centelha. Ele está apenas tentando me ajudar por causa dela, Raíça disse. Talvez tenha começado assim. Dona Maria concordou.
Mas presta atenção em como ele olha para você quando pensa que ninguém está vendo. Não é compaixão o que eu vejo. Raíça não sabia o que fazer com essa informação. Então aguardou em um canto de sua mente. Na noite antes da gala, Gustavo pediu que ela descesse até a biblioteca. Era um cômodo magnífico, com estantes de mogno do chão ao teto, uma lareira de mármore e janelas amplas que davam para o jardim iluminado.
“Queria te mostrar algo”, ele disse, entregando-lhe uma caixa de veludo azul marinho. Dentro um colar de pérolas, não ostensivo, mas elegante, clássico. “Pertenceu à minha mãe”, ele explicou, “E antes dela a minha avó. Letícia deveria tê-lo recebido, mas enfim. Acho que ela gostaria que você o usasse amanhã. Gustavo, eu não posso aceitar isso. É uma herança de família. Por favor, ele disse.
E havia algo vulnerável em sua voz. Me deixa fazer isso. É importante para mim. Raíça segurou a caixa contra o peito. Está bem, mas vou cuidar dele como se fosse o tesouro mais precioso do mundo. Eu sei que vai, ele disse suavemente. Naquela noite, Raíça mal conseguiu dormir. Amanhã seria o teste. Amanhã ela enfrentaria a elite paulistana, possivelmente até Felipe e Júlia.
Amanhã ela descobriria se tinha mesmo a força que Gustavo acreditava que ela tinha. E pela primeira vez a catedral, ela sentiu uma centelha de algo parecido com esperança. O Hotel Unique era uma obra prima arquitetônica, uma estrutura curva em tom de cobre que parecia uma arca gigante pousada no coração dos jardins.
Quando o Mercedes de Gustavo parou na entrada, Raíça sentiu seu estômago revirar. Respira”, Gustavo disse baixinho, colocando a mão sobre a dela. “Você está linda e eu estou aqui.” Ela respirou fundo, olhando-se rapidamente no espelhinho. O vestido era uma obra prima, um tomara que caia preto de Alexandre Herschovic, elegante, sem ser chamativo.
O colar de pérolas repousava contra sua clavícula. Seu cabelo estava preso em um coque sofisticado, com alguns fios soltos e moldurando seu rosto. A maquiagem realçava seus olhos verdes sem exageros. “Pronta?”, ele perguntou. “Não”, ela admitiu, “mas vamos mesmo assim.” O motorista abriu a porta e Gustavo saiu primeiro, estendendo a mão para ajudá-la.
No momento em que seus pés tocaram o tapete vermelho, os flashes começaram. Fotógrafos da imprensa social estavam posicionados estrategicamente, capturando cada momento. Senr. Almeida Campos, quem é sua acompanhante? É verdade que vocês estão namorando? Senhorita? Pode olhar aqui. Gustavo passou o braço pela cintura de Raíça, guiando-a firmemente em direção à entrada. Ignora! Ele murmurou em seu ouvido. Não devemos nada a eles.
O salão do evento era deslumbrante. Lustres de cristal bacarrá pendiam do teto altíssimo. Mesas redondas cobertas com toalhas de linho branco e arranjos de rosas e orquídeas ocupavam o espaço. Garçons circulavam com bandejas de champanhe e canapés. E em todos os lugares à elite de São Paulo. Empresários em smokings impecáveis, mulheres em vestidos de alta costura, joias que valiam mais que o PIB de pequenos países. Raíça sentiu todos os olhares se voltarem para eles quando entraram. É ela. O sussurro correu como
fogo. A noiva abandonada com Gustavo Almeida Campos. Como? Ela trabalha rápido essa menina. Os comentários eram baixos, mas não baixos o suficiente. Raça sentiu suas bochechas corarem, o impulso de correr quase incontrolável. Cabeça erguida Gustavo disse firmemente, guiando-a até o bar.
Eles estão testando você. Não deixa que vejam fraqueza. Ele pediu dois drinks e a virou de frente para o salão, seu corpo formando um escudo sutil entre ela e os olhares curiosos. Teresa, ele chamou, acenando para uma mulher alta de cabelos loiros, que se aproximava com um sorriso caloroso. Gustavo querido. Ela os beijou no rosto. E quem é essa criatura deslumbrante? Teresa Fonseca.
Esta é Raíça Oliveira. Raíça Teresa é uma velha amiga da família e uma das mulheres mais espetacularmente sinceras que você vai conhecer. Teresa Rio, um som musical e genuíno. Ele está dizendo que eu falo demais e não tenho filtro. Ela pegou a mão de Raíça. Querida, eu vi o que aconteceu e quero que saiba que aquele homem é um idiota e você está infinitamente melhor sem ele.
A sinceridade bruta fez Raíça sorrir pela primeira vez. Obrigada. Agora me contem tudo. Como vocês dois, Teresa, Gustavo a interrompeu com um olhar significativo. Raíça não está aqui para ser interrogada. Claro, claro. Perdão, é que o pessoal está morrendo de curiosidade. Gustavo Almeida Campos, o homem mais inacessível de São Paulo, finalmente aparece com alguém em um evento.
As apostas já estão rolando. Que deixem apostar, ele disse simplesmente. A noite prosseguiu com Gustavo, guiando Raíça de grupo em grupo, apresentando-a a empresários, artistas, políticos. Ele nunca a deixava sozinha, sempre mantendo uma mão na parte inferior de suas costas ou segurando seu cotovelo.
Era um gesto de proteção, mas também de posse, uma mensagem clara para todos de que ela estava sob sua proteção. E então Raíça os viu. Felipe e Júlia entraram no salão de mãos dadas. Felipe parecia desconfortável em seu smoking alugado, muito diferente da elegância natural de Gustavo.
Júlia usava um vestido vermelho chamativo, que de alguma forma parecia excessivo demais para a ocasião. O mundo de Raíça pareceu parar. “Quer ir embora?”, Gustavo perguntou baixinho, notando imediatamente sua rigidez. “Não”, ela disse surpresa com a firmeza em sua própria voz. Não vou fugir deles. Então não fuja, mas também não precisa enfrentá-los se não quiser.
Mas o destino, ou talvez a inevitabilidade social colocou frente à frente quando todos se dirigiram para as mesas para o jantar. Felipe e Júlia estavam sentados duas mesas à frente da deles. Durante a refeição, Raça conseguiu sentir os olhos de Júlia sobre ela várias vezes. Gustavo manteve uma conversa leve e fácil com os outros convidados à mesa, incluindo-a naturalmente nas discussões, fazendo-a aparecer perfeitamente à vontade naquele mundo.
Foi depois da sobremesa, quando as pessoas começaram a circular novamente, que Júlia se aproximou. Ri”, ela disse, sua voz hesitante. “Podemos conversar?” Raíça se virou lentamente. Gustavo estava a poucos passos conversando com um empresário, mas ela podia sentir sua atenção dividida, pronta para intervir a qualquer momento. “Não há nada para conversar, Júlia. Por favor, me deixa explicar. A gente não quis que acontecesse.
Foi só que Felipe e eu, A gente se conectou de uma forma que vocês se conectaram.” Raíça repetiu, sua voz estranhamente calma. Vocês se conectaram às minhas costas. Por quanto tempo, Júlia? Meses. Desde quando? Júlia piscou surpresa com a frieza. Alguns meses. Mas a gente lutou contra isso. Eu juro. A gente não queria te machucar.
Mas machucaram. Raissa, disse, na frente de 300 pessoas, da minha família, do mundo inteiro, porque agora está na internet para sempre. Ela deu um passo mais perto. E sabe o que é mais engraçado? Eu teria entendido se você tivesse vindo até mim, se tivesse sido honesta, mas vocês me fizeram de idiota. Me deixaram planejar um casamento enquanto riam de mim pelas costas. Não foi assim. Foi exatamente assim.
Uma voz grave interrompeu. Gustavo havia se aproximado e sua presença era como uma tempestade contida. E agora você vem aqui na tentativa patética de aliviar sua culpa, sem se importar que cada segundo desta conversa está reabrindo feridas. Gustavo, Raíça tocou seu braço suavemente. Está tudo bem, eu posso lidar com isso. Ele olhou para ela e algo passou entre eles.
Respeito, confiança. Raíça se virou para Júlia uma última vez. Espero que vocês sejam felizes juntos, de verdade, mas também espero nunca mais ter que vê-los novamente. E com isso, ela se virou e se afastou, Gustavo ao seu lado. Quando chegaram à varanda externa, com a vista deslumbrante da cidade iluminada abaixo deles, Raça percebeu que suas mãos estavam tremendo, mas não de medo, de raiva, de liberação.
“Você foi incrível lá dentro”, Gustavo disse. Não me senti incrível. Me senti como se estivesse desmoronando. Mas não desmoronou. Você se manteve forte, digna, mostrou a ela exatamente quem você é. E aposto que metade das pessoas naquele salão agora está pensando que Felipe é o maior idiota de São Paulo. Raíça Rio.
Um som quebrado, mas genuíno. Talvez. Definitivamente”, ele corrigiu. E quando ela olhou para ele, viu algo novo em seus olhos, algo que a fez esquecer de respirar. Mas antes que pudesse identificar o que era, ele desviou o olhar. “Vamos para casa”, ele disse. “Você merece descansar e celebrar, porque passou no primeiro teste com louvor.
” Enquanto deixavam o hotel, Raíça sentiu algo mudando dentro dela. Pela primeira vez desde a catedral, ela não se sentia como uma vítima, sentia-se como uma sobrevivente. E isso era apenas o começo. Os dias seguintes a gala foram mais leves. Raíça acordava cedo para caminhar no jardim com dona Maria, que lhe ensinava os nomes das plantas, e contava histórias sobre a família Almeida Campos.
Gustavo trabalhava na maior parte do tempo, desaparecendo em seu escritório no segundo andar ou indo até o prédio espelhado da empresa na Faria Lima, mas jantava com ela todas as noites. Foi durante um desses jantares, duas semanas após sua chegada, que Raça finalmente reuniu coragem para fazer a pergunta que a intrigava.
“Por que você nunca se casou?”, ela perguntou enquanto cortava o risoto de fungue porcini que dona Maria havia preparado. Gustavo pausou. seu garfo no ar. E, por um momento ela pensou que ele não responderia. O jantar era servido na sala menor da mansão, mais íntima, com uma mesa de madeira escura que comportava confortavelmente seis pessoas, mas estava posta apenas para dois.
Velas tremulavam entre eles, criando sombras dançantes nas paredes cobertas por arte contemporânea brasileira. Nunca encontrei alguém que fizesse sentido”, ele disse “Finalmente, “Isso é muito vago. Você tem 34 anos. Certamente houve alguém em algum momento.” Ele sorriu levemente. “Houve, algumas mulheres, relacionamentos que duraram meses, alguns até um ano, mas sempre havia algo faltando.
” O quê? conexão verdadeira, talvez a sensação de que a pessoa me via, não apenas meu sobrenome ou minha conta bancária. Ele tomou um gole de vinho. Após perder Letícia e meus pais, eu meio que fechei essa parte de mim. Focou no trabalho, nas responsabilidades. Era mais fácil assim, mais seguro, você quer dizer. Ele a olhou com surpresa. Você é muito perspicaz.
Reconheço a dor quando a vejo, mesmo quando está bem escondida atrás de ternos caros e mansões. Raíça inclinou a cabeça. Você me contou sobre Letícia, mas não sobre como ela era. Quem ela era? O rosto de Gustavo se suavizou e pela primeira vez ela viu a vulnerabilidade real por trás da máscara de empresário. Ela era luz pura, três anos mais nova que eu, sempre sorrindo, sempre vendo o melhor nas pessoas. Estudava psicologia porque queria ajudar pessoas. Tinha esse jeito de fazer qualquer um se sentir especial.
E o noivo dela, Marcelo Tavares, filho de um empresário do setor imobiliário. Nossos pais eram amigos. Parecia o Mete perfeito no papel. Sua voz endureceu, mas ele era controlador, ciumento. Queria que Letícia desistisse da faculdade, que ficasse em casa sendo a esposa perfeita. Ela começou a mudar, a se fechar.
Eu vi, mas pensei que ela estava apenas nervosa com o casamento. E então, então veio a festa de noivado, uma gala no clube ípico com metade de São Paulo presente. Marcelo bebeu demais e começou a acusá-la de flertarem com um colega da faculdade. Na frente de todos, ele diz que ela era uma desesperada, que ninguém mais a quereria. rasgou os papéis do noivado e saiu. Raíça segurou a respiração.
Letícia ficou paralisada, assim como você na catedral, todo mundo tirando fotos, rindo, comentando. Eu estava em Nova York fechando um negócio. Quando soube, peguei o primeiro voo de volta, mas sua voz falhou. Ela não esperou. Pegou o carro e saiu dirigindo na chuva. perdeu o controle na Bandeirantes.
Os investigadores disseram que ela estava indo a quase 180 km/h. Gustavo Raíça estendeu a mão através da mesa, tocando a dele. Não foi sua culpa. Não ele perguntou amargamente. Eu vi os sinais. Vi que ela não estava bem, mas estava tão focado nos negócios em provar que podia administrar o império que meus pais deixaram, que não dei a ela a atenção que precisava. Você era jovem, carregando o peso de uma empresa inteira nas costas.
Tinha 24 anos, velho o suficiente para ter feito diferente. Ele virou a mão, entrelaçando seus dedos. Depois disso, jurei nunca mais ignorar quando visse alguém em perigo. Daí a Fundação Beneficente, os programas de apoio psicológico, tudo isso, mas nunca foi suficiente. Nunca trouxe ela de volta.
ficaram sentados em silêncio por longos minutos, mãos entrelaçadas sobre a mesa, as velas derretendo lentamente. “Obrigada por me contar isso”, Raíça disse finalmente. “Obrigado por perguntar, por ouvir”, ele apertou sua mão. “Você sabe, você me lembra ela em alguns aspectos. A mesma força sob a fragilidade aparente. A mesma recusa em aceitar menos do que merece. Não me sinto forte, mas é mais do que imagina.
Ele soltou sua mão e se levantou. Venha, quero te mostrar algo. Intrigada, Raíça o seguiu pelo corredor até uma porta que ela nunca havia visto aberta. Ele a destrancou e acendeu as luzes, revelando um estúdio de pintura. Telas cobriam as paredes, todas assinadas com um L delicado no canto inferior direito. Letícia pintava nas horas vagas.
Dizia que era terapêutico. Gustavo caminhou até uma tela maior, uma paisagem abstrata em tons de azul e dourado. Esta era a minha favorita. Ela a pintou na última vez que fomos à praia em Ubatuba, duas semanas antes da festa. Raíça estudou a pintura. Havia algo de tumultuado nela, ondas que pareciam estar decidindo entre se acalmar ou virar tempestade.
É linda? Ela sussurrou. Ela era e eu falhei com ela. Gustavo se virou para a Raíça e seus olhos estavam brilhando. Mas não vou falhar com você. Prometo isso. A intensidade daquele momento era quase insuportável. Raíça queria dizer algo, fazer algo, mas as palavras fugiram. em vez disso, simplesmente assentiu.
Quando finalmente voltaram à sala, a atmosfera entre eles havia mudado. Algo mais profundo havia se estabelecido. Uma compreensão, uma intimidade nascida de vulnerabilidades compartilhadas. Raíça, Gustavo disse antes de se retirarem para seus quartos. Amanhã preciso ir ao escritório cedo, mas à noite temos o jantar no fazano. É importante. O governador estará lá. Vou estar pronta. Ela prometeu. Ele sorriu. Eu sei.
Mas naquela noite, enquanto Raíça deitava em sua cama, não conseguia parar de pensar na dor nos olhos de Gustavo ao falar sobre Letícia, sobre como ele carregava aquele peso há uma década, sobre como estava tentando salvar Raíça, da mesma forma que não pôde salvar sua irmã. e sobre como em algum lugar ao longo dessas semanas ela havia parado de ver apenas o empresário rico e começado a ver o homem quebrado, tentando se consertar através da bondade.
Era perigoso, ela sabia, confundir gratidão com algo mais. Mas quando fechou os olhos, foi o rosto de Gustavo que viu e, pela primeira vez em semanas adormeceu sorrindo. O mês seguinte passou em um turbilhão de eventos, inaugurações de galerias na Vila Madalena. onde Raça aprendeu a discutir arte contemporânea com vocabulário que não sabia que possuía.
Jantares beneficentes no MASP, onde empresários discutiam fusões entre garfadas de caviar. finais de semana no Clube Ípico de Santo Amaro, onde ela descobriu que, apesar de nunca ter andado a cavalo antes, tinha um talento natural para isso. Gustavo estava ao seu lado em cada evento, uma presença constante e reconfortante.
E com cada aparição pública, a especulação da mídia social crescia. Eram o casal do momento, o empresário bilionário e a jovem misteriosa que havia conquistado seu coração aparentemente impenetrável. O que ninguém sabia era que, apesar de toda a intimidade pública, em casa, eles mantinham uma distância cuidadosa, quartos separados, toques apenas quando necessário para as aparências, conversas que, embora cada vez mais profundas, paravam sempre antes de cruzar alguma linha invisível até aquela quinta-feira de tempestade. Raíça estava na biblioteca enrolada em uma manta no sofá
de couro perto da lareira, lendo 100 anos de solidão, um exemplar antigo com anotações nas margens que Gustavo disse pertencer à sua mãe. A chuva batia violentamente nas janelas enquanto relâmpagos iluminavam o céu de São Paulo. Ainda acordada, ela ergueu os olhos. Gustavo estava na porta vestindo apenas uma calça de pijama e uma camiseta branca.
Seu cabelo estava despenteado, como se tivesse estado deitado, mas não conseguisse dormir. A tempestade, ela explicou. Sempre gostei de dias assim. Me fazem sentir segura. Esquisito. Eu sei. Não é esquisito. Ele entrou, servindo-se de um conhaque do bar. Posso sentar? É sua casa. Ele sorriu levemente e se acomodou na poltrona de frente para ela. Sabe, às vezes eu esqueço disso, que é minha casa. Parece mais nossa.
Ultimamente, Raíça sentiu seu coração pular. Nossa, você deu vida a este lugar, dona Maria não para de dizer. Ass flores que você pediu para plantar no jardim, os livros que tem deixado espalhados pelos cômodos, a música que ouve de manhã enquanto toma café. Ele girou o líquido âmbar em seu copo. Tudo isso me faz perceber como esta casa era morta antes.
Era apenas silenciosa. Ela disse: “Não morta, não era morta. Eu estava morto.” Ele encontrou seus olhos e então você chegou naquele vestido de noiva ridículo, completamente despedaçada, e de alguma forma me trouxe de volta à vida também. O ar entre eles pareceu eletrificar-se, carregado como a tempestade lá fora. Gustavo, eu sei. Ele a interrompeu. Temos um acordo.
Três meses sem complicações. Estou respeitando isso. Então, por que parece que a cada dia fica mais difícil respeitar? A pergunta saiu antes que ela pudesse censurá-la, nua e honesta. Gustavo pausou o copo a meio caminho dos lábios. Para você também? Ele perguntou baixinho. Para mim também. Ela admitiu.
Ele colocou o copo sobre a mesa e se levantou, caminhando até a janela, observando a chuva. Raíça podia ver atenção em seus ombros, a luta interna acontecendo naquele momento. “Quando eu fiz aquela proposta na catedral, estava sendo egoísta”, ele disse finalmente. Estava tentando salvar você para salvar a mim mesmo, para consertar o que não pude consertar com Letícia.
Mas em algum momento você deixou de ser um projeto de redenção e começou a ser você. Raíça se levantou deixando a manta cair e se aproximou dele. E isso é ruim? É complicado. Você está vulnerável. acabou de sair de um relacionamento devastador. A última coisa que deveria fazer é se envolver com outro homem, especialmente um que está te ajudando.
O desequilíbrio de poder, as emoções confusas, seria errado. Errado? Ela repetiu, parando atrás dele. Então, por que quando você me olha não parece errado? Por que quando sua mão toca a minha, mesmo que por acidente, meu coração dispara? Por que sonho com você noites e acordo me sentindo culpada por desejar algo que não deveria? Ele se virou e a vulnerabilidade em seus olhos era de cortar o coração. Porque isso é real, Raíça, e o que é real assusta.
Eu passei 10 anos me protegendo, mantendo distância, não deixando ninguém se aproximar de verdade. E você, você derrubou todas essas paredes sem nem tentar. Então deixa acontecer, ela sussurrou. Para de lutar contra. E se eu te machucar? E se isso for apenas gratidão da sua parte? E se quando os três meses acabarem você perceber que não é amor, apenas alívio de ter alguém te salvando? Você acha que não pensei nisso? Ela perguntou.
Todos os dias me questiono. Mas sabe o que percebi? Não é você quem está me salvando, Gustavo. Sou eu mesma. Você apenas me deu o espaço e as ferramentas para fazer isso, e o que sinto por você não tem nada a ver com gratidão. Um relâmpago iluminou o céu, seguido de um trovão que fez as janelas vibrarem.
Na luz momentânea, Raíça viu a resolução de Gustavo quebrar. Raíça, se cruzarmos essa linha, então cruzamos”, ela disse, e fechou a distância entre eles. O beijo foi inevitável, como a tempestade lá fora. Gustavo a puxou para seus braços, suas mãos nos cabelos dela e Raíça sentiu anos de dor e solidão derretendo.
Não era gentil, era desesperado, faminto, carregado de semanas de tensão reprimida. Quando finalmente se separaram, ambos estavam sem fôlego. “Deus”, Gustavo murmurou, apoiando a testa na dela. “Eu tentei tanto não fazer isso.” “Eu sei. Eu também.” Raíça sorriu, mas acho que algumas coisas são inevitáveis. Raíça, escuta, se fizermos isso, se deixarmos isso ser real, não pode ser apenas físico. Não para mim.
Eu preciso saber que você quer isso tanto quanto eu, que não é confusão ou gratidão, ou Ela o beijou novamente, mais suave desta vez, mas não menos intenso. Para de pensar tanto, eu quero isso. Quero você de verdade. Ele assegurou como se ela fosse desaparecer. Então temos que fazer direito, sem pressa, sem pressão.
Vamos deixar isso se desenvolver naturalmente. Combinado, ela concordou. Ficaram ali abraçados, ouvindo a tempestade, até que Raíça começou a bocejar. “Vem”, Gustavo disse, guiando-a para fora da biblioteca. Quando chegaram ao corredor dos quartos, ele a beijou na testa. “Dorme bem, você também.
” Mas quando se separaram, Raíça sentiu uma certa tristeza. Gustavo notou imediatamente. O que foi? Nada. É só que não quero dormir sozinha esta noite. Ele sorriu um sorriso genuíno e caloroso que transformou completamente seu rosto. Quem disse que vai? Vem. Ele a levou para seu quarto. Uma suí espaçosa que ela nunca havia visto antes.
A cama era enorme, mas Gustavo a puxou para debaixo das cobertas, envolvendo-a em seus braços. Só dormir”, ele disse por enquanto. “Mas juntos, juntos?”, Ela concordou, aconchegando-se contra seu peito, ouvindo as batidas firmes de seu coração. E, pela primeira vez em meses, ambos dormiram profundamente, embalados pela tempestade e pela certeza de que, apesar de todos os riscos, o que estava crescendo entre eles valia cada segundo de incerteza, mas nenhum deles podia imaginar que a verdadeira tempestade ainda estava por vir. O convite veio duas semanas após aquela noite na tempestade. Gustavo entrou na sala de
café da manhã, onde Raíça tomava seu cappuccino matinal, acenando um envelope creme. “Feira do livro de Paris”, ele anunciou. “Salão do livre, uma semana inteira quero que você venha comigo.” Raíça quase derrubou a xícara. Paris, Gustavo, eu nunca saí do Brasil, então está na hora. Ele se sentou ao lado dela, seus olhos brilhando com entusiasmo. Vai ser perfeito.
Tenho reuniões com alguns editores franceses sobre expandir os negócios para publicações. E você, bem, sempre quis trabalhar com literatura, não? Como você sabe disso? Ele pegou sua mão. Dona Maria pode ter mencionado algo sobre os rascunhos de contos que você deixa espalhados pelo seu quarto. E talvez eu tenha dado uma espiada.
Você é talentosa, Raíça, merece ser vista. As lágrimas vieram aos olhos dela. Felipe nunca se interessou por sua escrita, sempre dizendo que era passatempo bobo e que ela deveria focar em coisas práticas. Você leu meus contos? Li. E são brilhantes. Por isso, organizei para você se encontrar com alguns editores enquanto estivermos lá.
Nada de compromisso, apenas conversas, mas nunca se sabe. Raíça não conseguiu segurar as lágrimas. Por que você faz tanto por mim? Gustavo limpou uma lágrima de seu rosto com o polegar. Porque você merece e porque ele hesitou? Porque estou completamente apaixonado por você. E homens apaixonados fazem coisas loucas, como organizar viagens para Paris. O coração de Raíça praticamente explodiu.
Era a primeira vez que ele dizia abertamente: “Eu também te amo”, ela sussurrou. O beijo foi doce e cheio de promessas. Quando se separaram, Gustavo sorriu. Então é um sim para Paris, é um sim para tudo. A semana seguinte foi um turbilhão de preparativos.
Dona Maria ajudou Raíça a escolher um guarda-roupa apropriado para Paris em novembro. Gustavo cuidou dos detalhes. O voo em primeira classe, a suí no Hotel Lebristol, os agendamentos com editores. Quando finalmente embarcaram no voo da Air France, Raíça se sentia em um sonho. A cabine de primeira classe era luxuosa, além de qualquer coisa que ela imaginara. Gustavo pediu champanhe para celebrar. Ao recomeço, ele brindou.
Ao recomeço, ela ecuou. O voo de 11 horas passou em uma névoa de conversas. Filmes assistidos juntos e sonecas entrelaçados. Quando o avião começou a descer sobre Paris, com a torre Eifel visível pela janela no nascer do sol, Raíça sentiu que estava entrando em uma nova vida. O hotel era magnífico, todo dourado e aveludado, com vista para o jardim das tulheras.
A suí tinha uma sala, quarto espaçoso com cama kingsize, banheiro de mármore e uma varanda de onde se via Paris despertar. É muito. Raíça sussurrou, girando no meio da sala. Você merece muito mais, Gustavo disse, abraçando-a por trás. Descansa um pouco. Tenho uma reunião à tarde, mas amanhã é todo seu. Feira do livro e depois um jantar especial. Os dias em Paris foram mágicos.
A feira era imensa, com estes de países do mundo todo, autores famosos dando palestras, O cheiro de livros novos misturado ao aroma de crepes e café. Gustavo a apresentou a editores franceses e brasileiros, tradutores, agentes literários. Todos ficaram impressionados com suas ideias e seus contos. “Você tem talento real?”, Um editor da Galimard disse em francês quebrado, misturado com português: “Continue escrevendo, tem potencial para algo grande.” À noite, Gustavo a levava para jantares românticos em bistros escondidos,
passeios pelo cena iluminado, visitas à torre Aifel, brilhando como diamante contra o céu noturno. Eles andavam de mãos dadas por Montmartre, visitaram livrarias antigas no Cartier Latan, tomaram chocolate quente no Angelina. Foi na tarde do quarto dia, enquanto exploravam uma galeria de arte em Saint-Germain de Pré, que Raíça viu Júlia.
Ela estava de braços dados com um homem loiro, bem vestido, rindo de algo que ele dizia. Usava roupas claramente caras, muito diferentes do estilo que tinha em São Paulo. Quando seus olhos encontraram os de Raíça, o sorriso congelou em seu rosto. “Hai”, ela disse, soltando o braço do homem. Júlia Raíça respondeu mantendo a calma. Gustavo imediatamente se posicionou ao seu lado, sua presença protetora.
O que você está fazendo em Paris? Júlia perguntou claramente desconfortável. Poderia perguntar o mesmo. Eu este é Pierre. Ela indicou o homem loiro, que parecia confuso com atenção. Meu noivo, nos mudamos para Paris há dois meses. E Felipe? Raíça perguntou e percebeu com surpresa que não sentia dor ao dizer o nome. Júlia desviou o olhar. Não deu certo. Ele Ele me deixou por outra.
Uma mulher com mais estátua social, ele disse. Houve um momento de silêncio carregado. Então Raíça fez algo que surpreendeu até a si mesma. Rio. Karma, ela disse simplesmente, espero que seja feliz com Pierre e Júlia, de verdade, porque descobri que às vezes as piores coisas que nos acontecem nos levam exatamente para onde precisávamos estar.
Ela pegou a mão de Gustavo e se afastou, deixando Júlia parada ali, boca e aberta. “Você está bem?”, Gustavo perguntou quando saíram da galeria. Estou mais do que bem”, Raíça respondeu. E era verdade. Ver Júlia não trouxera raiva ou dor. Trouxera paz. A paz de saber que havia seguido em frente. Verdadeiramente. Amo você, Gustavo disse, parando no meio da calçada para beijá-la.
pedestres franceses desviando deles com sorrisos tolerantes. “Também amo você”, ela respondeu. Na última noite em Paris, Gustavo a levou para um jantar no Julis Verne, o restaurante no segundo andar da torre Eifel. A vista era de tirar o fôlego, Paris brilhando como um mar de estrelas ao redor deles. “Raiça”, ele disse após o prato principal pegando sua mão. “Tem algo que preciso te dar.
” Ele deslizou um envelope pelo table. Abre com mãos trêmulas. Ela abriu. Dentro havia uma carta oficial. Quando leu, as lágrimas começaram imediatamente. Era uma carta de aceitação da Universidade Sorbone, mestrado em literatura comparada, bolsa integral, início no próximo semestre.
Como? Encontrei sua aplicação incompleta entre suas coisas. Você abandonou no meio quando Felipe pediu para você desistir, lembra? Finalizei em seu nome, dei as recomendações necessárias e eles te aceitaram, Raissa, porque você é brilhante. Ela estava chorando abertamente agora. Mas significa significa que você tem uma escolha, ele disse gentilmente. Pode aceitar e passar um ano aqui perseguindo seus sonhos.
Vou te apoiar em tudo. Ou pode recusar. A escolha é completamente sua e nós vamos fazer funcionar de alguma forma. Se você me quiser, vamos encontrar um jeito. Raíça olhou para a carta, depois para o homem à sua frente, depois para Paris brilhando lá embaixo. Seis meses atrás, seus sonhos foram despedaçados em uma catedral.
Agora eles estavam sendo reconstruídos, maiores e mais belos do que nunca. Preciso pensar. Ela disse finalmente. Claro, tem tempo. Gustavo beijou sua mão. Seja qual for sua decisão, vou estar aqui. Mas enquanto voltavam para o hotel naquela noite, Raíça sabia que a escolha mais difícil de sua vida estava apenas começando, e desta vez não havia resposta fácil.
Os dias após o retorno de Paris foram estranhos. A carta da Sorbone ficava sobre a escrivaninha no quarto de Raíça, um lembrete constante da decisão que ela precisava tomar. Gustavo mantinha a distância respeitosa, nunca pressionando, mas ela podia sentir a tensão crescendo entre eles, como uma corda esticada. “Você está diferente”, dona Maria comentou uma manhã, encontrando Raíça, olhando pela janela do jardim em vez de tomar café, desde que voltaram de Paris. “Estou confusa, dona Maria.” A mulher mais velha se sentou ao seu lado sobre a Sorbone.
“Como você sabe?” Senr. Gustavo me contou. Ele está orgulhoso, sabe? e aterrorizado ao mesmo tempo. Aterrorizado de te perder, mas ele jamais pediria para você recusar. Não é o tipo de homem que ele é. Raíça sentiu o peso no peito aumentar. E se eu não sei o que eu quero? Durante anos vivi para Felipe. Fiz tudo que ele queria.
Desisti da Sorbone porque ele pediu e agora tenho medo de estar fazendo a mesma coisa. Mas você não está. Dona Maria disse firmemente: “Com Felipe, você desistiu dos seus sonhos para fazer o que ele queria. Com Gustavo, ele está te oferecendo seus sonhos de volta. A diferença é enorme, filha. Mas e se eu escolher ficar e nos ressentirmos disso depois? E se eu escolher ir e perdermos o que construímos? Essa é uma escolha que só você pode fazer.
Mas vou te dizer uma coisa: Amor verdadeiro não te faz escolher entre ele e seus sonhos. Amor verdadeiro encontra um jeito de abraçar ambos. As palavras ficaram com raíça o dia todo. À noite, Gustavo chegou mais cedo do escritório, o que era incomum. Ele parecia cansado, a gravata afrouxada e os cabelos ligeiramente despenteados. “Precisamos conversar”, ele disse.
E havia uma seriedade em sua voz que a assustou. Foram para a biblioteca, onde a lareira creptava suavemente. Gustavo serviu-se de um whisky, seus movimentos tensos. Eu não posso mais fazer isso”, ele disse finalmente. O coração de Raíça gelou. Fazer o quê? Fingir que está tudo bem quando você está claramente sofrendo com essa decisão. E é minha culpa.
Eu te coloquei nessa posição impossível. Gustavo, não me deixa terminar. Ele a interrompeu ainda de costas para ela. Eu te amo, Raíça. Te amo de uma forma que não sabia ser possível. Você trouxe luz de volta à minha vida, me fez sentir vivo novamente, mas, exatamente por te amar tanto, não posso ser a razão pela qual você desiste dos seus sonhos.
Não, de novo. O que você está dizendo? Ele finalmente se virou e seus olhos estavam vermelhos. Estou dizendo que você deveria aceitar a Sorbone, ir para Paris, viver sua vida sem o peso de um relacionamento te segurando. Você está terminando comigo? Ela perguntou incrédula. É, estou te libertando. A raiva brotou nela, quente e súbita.
E se eu não quiser ser libertada? E se eu quiser construir uma vida aqui contigo? Como posso saber que não é medo falando? Que não é porque se sente segura aqui comigo? Raissa, você tem 22 anos, tem o mundo inteiro pela frente, não pode amarrar sua vida à minha agora. Então é isso? Ela disse, levantando-se: “Você decide sozinho o que é melhor para mim.
” Assim como Felipe fazia, ele se encolheu como se tivesse sido golpeado. Não é a mesma coisa. Não, porque parece exatamente a mesma coisa. Um homem decidindo meu futuro sem me consultar de verdade. Eu só quero o melhor para você. E você acha que você não é o melhor para mim? Ela gritou, lágrimas escorrendo agora. Você acha que Paris sem você seria melhor do que São Paulo contigo? Você não está me protegendo, Gustavo.
Está se protegendo com medo de se permitir ser feliz porque tem medo de perder de novo, como perdeu Letícia. O silêncio que seguiu era ensurdecedor. Gustavo a encarava, o conflito claro em seu rosto. “Talvez você esteja certa”, ele disse baixinho.
“Talvez eu seja um covarde, mas prefiro ser um covarde do que a razão pela qual você olha para trás em 10 anos e se arrepende. Você não entende”, Raíça disse, sua voz quebrando. “A única coisa da qual vou me arrepender é se deixar você empurrar para longe quando tudo que eu quero é ficar.” Raíça, não. Você já disse o que tinha que dizer, agora me escuta. Ela limpou as lágrimas, forçando-se a permanecer forte.
Eu amei Felipe por se anos. Achei que ele era minha pessoa, mas em seis meses com você aprendi o que amor verdadeiro realmente é. Não é sobre controle ou sacrifício, é sobre crescer juntos. É sobre apoiar os sonhos um do outro, não acabar com eles. Eu sei. Então para de tentar me empurrar para longe ela gritou. Se você quer terminar, termina.
Mas não faz isso fingindo que é pelo meu bem. Faz porque você não me ama o suficiente para lutar por nós. Faz porque você é muito covarde para arriscar se machucar de novo. As palavras saíram mais duras do que ela pretendia, mas eram verdade. E Gustavo sabia disso. Ela podia ver em seus olhos. Você está certa. Ele disse finalmente sua voz rouca.
Eu estou com medo, aterrorizado, de te perder, de te segurar, de fazer a escolha errada e acabar te machucando. Mas sabe o que me aterroriza mais? A ideia de você dizer sim para ficar agora e me odiar por isso em 5 anos. Eu não vou te odiar. Você não sabe disso. Nenhum de nós sabe. Raíça respirou fundo, forçando-se a acalmar. Quando falou novamente, sua voz era mais suave, mas não menos firme. Você tem razão. Não sabemos.
Ninguém nunca sabe com certeza sobre o futuro. Mas sabe o que eu sei? Sei que te amo. Sei que o que sinto por você não é gratidão ou dependência ou qualquer outra coisa que você acha que é. É amor real, profundo, assustador. E sei que se deixar você me empurrar para longe agora, vou me arrepender pelo resto da vida. E a Sorbone, pode esperar um ano, posso adiar. Eles me disseram que é possível.
E nesse ano posso trabalhar na minha escrita aqui, posso explorar o que quero fazer e posso fazer isso com você ao meu lado, não apesar de você. Gustavo a estudou por um longo momento. Você tem certeza? Porque se ficarmos juntos, Raíça, não é só por enquanto. É para valer. Eu não faço as coisas pela metade. Eu também não. Não mais.
Ele cruzou o espaço entre eles em três passos longos, puxando-a para seus braços com uma força quase desesperada. Me perdoa”, ele murmurou contra seus cabelos por ser um idiota, por ter medo, por quase estragar tudo. “Me perdoa por gritar”, ela respondeu, aconchegando-se contra seu peito.
“E por te comparar com Felipe, você nunca seria como ele.” Eles ficaram assim por longos minutos, apenas se segurando, o mundo lá fora desaparecendo. “Então é isso?”, ela finalmente perguntou. “Vamos fazer funcionar?” “Vamos fazer mais do que funcionar.” Ele prometeu: “Vamos fazer brilhar.” E quando ele a beijou, Raça soube com certeza absoluta que havia feito a escolha certa, não porque era fácil, mas porque era verdadeira.
Paris poderia esperar, os sonhos poderiam se adaptar, mas o amor, o amor verdadeiro que ela encontrara nas cinzas de sua humilhação, esse não esperava por ninguém, e ela não tinha intenção de deixá-lo escapar. As semanas que se seguiram trouxeram uma leveza nova ao relacionamento. Com a decisão tomada, Raça adiaria a Sorbone por um ano e exploraria oportunidades em São Paulo. Ambos pareciam respirar mais facilmente, permitindo que a relação se desenvolvesse sem a nuvem da incerteza pairando sobre eles. Gustavo surpreendeu Raíça em uma manhã de sábado, acordando-a com café e croaçãs. “Via
rume-se”, ele disse com um sorriso misterioso. “Tenho uma surpresa.” Uma hora depois, estavam no carro dirigindo pelas ruas de São Paulo. Raíça tentava adivinhar para onde iam, mas Gustavo apenas sorria enigmático. Finalmente pararam em frente a um prédio elegante na Vila Madalena, todo janelas amplas e tijolos expostos. “O que é este lugar?”, ela perguntou enquanto ele aguiava para dentro. “Você vai ver”.
subiram até o terceiro andar, onde Gustavo abriu uma porta revelando um espaço amplo e luminoso. Estava vazio, mas tinha piso de madeira polido, paredes brancas, uma pequena cozinha equipada e janelas que davam para as árvores da rua. “Um apartamento?”, Ela perguntou confusa. Seu escritório. Ele corrigiu.
Se quiser, um lugar só seu para escrever, criar, trabalhar, longe da mansão, longe de mim quando precisar de espaço. Completamente seu. Raíça ficou sem palavras. Gustavo, isso é demais. Não é. Você precisa de um espaço próprio, independente. Não quero que se sinta presa ou dependente de mim. Quero que tenha liberdade para crescer. Ela caminhou pelo espaço tocando as paredes, imaginando uma escrivaninha perto da janela, estantes de livros, talvez um sofá confortável. Era perfeito. Tem uma condição, Gustavo disse.
Qual? Que você não há de Paris para sempre. Um ano aqui trabalhando na sua escrita, desenvolvendo um portfólio. E então, se a Sorbone ainda fizer sentido, você vai e eu vou te visitar a cada duas semanas. Ou melhor ainda. Ele sorriu. Talvez abra um escritório da empresa em Paris. Sempre quis expandir para a Europa. Raíça começou a chorar, mas eram lágrimas de felicidade. Como você é assim? Tão perfeito? Não sou perfeito.
Sou apenas um homem profundamente apaixonado, tentando não estragar tudo de novo. Ela o beijou ali no meio do espaço vazio, que em breve seria seu santuário criativo. Aceito com uma condição minha. Qual? Que você pare de achar que vai estragar tudo. Você não vai. Nós não vamos.
Nos meses seguintes, a vida assumiu um ritmo novo e excitante. Raíça passou suas manhãs no apartamento da Vila Madalena escrevendo. As palavras fluíam de uma forma que nunca tinham antes. Histórias sobre recomeços e segundas chances sobre encontrar força na vulnerabilidade. À tarde, ela frequentava workshops literários, fazia networking com outros escritores, construía conexões na cena cultural paulistana. Gustavo a introduziu a Teresa Fonseca.
que acabou sendo não apenas socialite, mas também editora de uma revista literária emergente. Seus contos são excelentes, Teresa disse após ler algumas peças. Quero publicar três deles na próxima edição. Pago, obviamente, não muito, mas é um começo. Sério, Raíça? Mal podia acreditar. Completamente sério.
Você tem talento, Raíça, e o que é melhor tem uma voz autêntica. Não está tentando ser ninguém além de você mesma. A primeira publicação saiu em março. Ver seu nome impresso, suas palavras compartilhadas com o mundo, foi uma sensação que Raíça nunca esqueceria. Gustavo organizou um jantar de celebração na mansão, convidando escritores, editores e artistas. Foi uma noite mágica.
Estou tão orgulhoso de você, ele sussurrou quando dançavam na sala. Música suave tocando, convidados conversando ao redor. Nada disso seria possível sem você. Não ele a corrigiu gentilmente. Tudo isso é possível por causa de você. Eu apenas te dei um empurrão. O talento, a dedicação, a coragem, isso é todo seu.
Foi em abril que dona Maria parou Raíça no jardim uma manhã. Preciso te contar algo”, ela disse, suas mãos nervosas, “Sobre o senor Gustavo e a senorita Letícia.” Raíça sentou-se ao seu lado no banco sob a jabuticabeira. O que é? O acidente de Letícia? Não foi só um acidente. Ela deixou uma carta.
Gustavo nunca mostrou a ninguém, mas eu a encontrei anos atrás quando estava organizando as coisas dele. O que ela dizia? Que ela não culpava ninguém, que o acidente aconteceu porque ela estava dirigindo rápido demais, distraída. Mas não porque queria se machucar. Ela dizia que estava indo para a casa de uma amiga que planejava recomeçar.
Mas Gustavo, ele nunca se permitiu acreditar nisso. Carrega a culpa como se ela tivesse como se não tivesse sido acidente. As peças se encaixaram para a raíça, a culpa excessiva, o medo de perder alguém de novo, a necessidade de salvar. Por que está me contando isso agora? Porque ele precisa deixar isso ir.
E você é a única pessoa que pode ajudá-lo a fazer isso. Ele te ama de uma forma que nunca vi, mas o fantasma de Letícia ainda paira sobre ele. E até que ele faça paz com aquilo, sempre haverá uma sombra. Naquela noite, Raíça confrontou o Gustavo. Dona Maria me contou sobre a carta de Letícia. Ele congelou o garfo parando no ar. Ela não tinha direito.
Ela tinha todo o direito porque está te vendo sofrer há 10 anos desnecessariamente. Gustavo, Letícia não te culpava. Ela sabia que o acidente foi só isso. Um acidente. Você precisa parar de carregar uma culpa que nem mesmo ela te atribuiu. Você não entende? Ele disse, sua voz rouca. Eu era o irmão mais velho. Era meu trabalho protegê-la. E você fez.
Você a amou, apoiou, tentou estar lá. Mas você não pode controlar tudo, Gustavo. Não podia, então, não pode agora. A vida acontece, tragédias acontecem. E não é sua culpa. Como você sabe? Porque conheço você e sei que se você pudesse ter salvado ela, teria. Mas não havia o que salvar. Ela estava indo começar de novo quando o acidente aconteceu. Estava buscando ajuda. Você não falhou com ela.
As lágrimas finalmente caíram e Gustavo chorou pela primeira vez. Desde que Raíça o conhecera. Ela o segurou enquanto 10 anos de dor e culpa finalmente eram liberados. “Me perdoa, Letícia”, ele sussurrou. “Me perdoa por não ter sido suficiente. Você sempre foi suficiente”, Raíça disse suavemente. “Ela sabe disso. Onde quer que esteja, ela sabe. Aquela noite marcou uma mudança.
Gustavo parecia mais leve nos dias seguintes, como se um peso tivesse sido tirado de seus ombros. E pela primeira vez ele falava sobre Letícia com mais sorrisos do que lágrimas, relembrando momentos felizes em vez de focar apenas no fim trágico.
“Obrigado”, ele disse uma manhã enquanto tomava um café no jardim, “por me ajudar a deixar ir, por me lembrar que viver não é trair a memória dela, é honrá-la.” Raça completou exatamente e enquanto o sol brilhava sobre o jardim, onde jabuticabas amadureciam e rosas floresciam, ambos souberam que haviam cruzado mais uma barreira juntos, mais fortes.
Por isso, o futuro, sempre tão assustador, começava a parecer não apenas possível, mas brilhante. Outubro chegou trazendo a primavera paulistana em sua plenitude e com ela o evento mais importante do ano para Gustavo, a gala beneficente anual do Instituto Cultural Almeida Campos no teatro municipal.
Era uma tradição que seus pais haviam começado décadas atrás e que ele mantinha religiosamente como forma de honrar seu legado. “Este ano vai ser diferente”, ele disse à Raíça enquanto revisam os detalhes uma semana antes. Estavam na biblioteca, papéis espalhados pela mesa de centro, planos e listas sendo verificados. Diferente como seus olhos brilharam com algo que ela não conseguiu identificar. Você vai ver.
Os preparativos tomaram conta da mansão. O vestido de raiça foi escolhido pessoalmente por Gustavo. Um creation de Valentino em tom champanhe, delicado e elegante, sem ser ostensivo. Quando ela o experimentou, viu suas próprias lágrimas refletidas nos olhos dele. “Você está perfeita”, ele sussurrou. “É só um vestido?” “Não é você. E você seria perfeita em qualquer coisa.
Mas esse vestido, ele faz justiça a você. A noite da gala chegou com o teatro municipal, iluminado como um palácio. Raíça e Gustavo chegaram juntos e desta vez não havia dúvidas ou hesitação nos sorrisos que trocaram com os fotógrafos. Eles eram um casal estabelecido agora, aceitos pela elite paulistana, admirados por muitos.
O interior do teatro era de tirar o fôlego. O salão nobre estava decorado com arranjos de orquídeas brancas e douradas. Mesas redondas ocupavam o espaço, cada uma com centros de mesa elaborados. No palco, uma orquestra tocava música clássica. E circulando pelo espaço, a nata da sociedade paulistana, políticos, empresários, artistas, celebridades.
Raíça Teresa surgiu com um vestido turquesa deslumbrante. Querida, você está radiante. O amor lhe cai bem. Obrigada, Teresa. E Gustavo. Teresa se virou para ele com um sorriso conhecedor. Tenho ouvido rumores interessantes sobre anúncios especiais esta noite. Gustavo apenas sorriu enigmaticamente. Vai ter que esperar, como todos os outros.
A noite prosseguiu com o jantar de gala, leilão beneficente de obras de arte, apresentações musicais. Raíça encontrou-se conversando facilmente com pessoas que meses atrás a intimidariam. Sua confiança nova e genuína. Foi após a sobremesa que Gustavo subiu ao palco. O burburinho diminuiu imediatamente todos os olhos voltados para ele.
Ele estava impecável em smoking preto, mas foi a expressão em seu rosto que capturou a atenção de Raíça, determinação misturada com algo que parecia vulnerabilidade. Boa noite a todos. Sua voz ressoou pelo salão. Como sabem, esta gala é realizada anualmente em memória de meus pais e minha irmã Letícia para apoiar causas culturais e educacionais em São Paulo.
Este ano estou feliz em anunciar uma nova iniciativa. Ele fez uma pausa e seu olhar encontrou o de Raíça. O Instituto Cultural Almeida Campos está lançando uma nova divisão editorial dedicada especificamente a novos talentos literários brasileiros. Vamos fornecer bolsas, mentorias e oportunidades de publicação para escritores emergentes que, de outra forma, não teriam acesso ao mercado editorial.
Aplausos ecoaram pelo salão. Raíça sentiu lágrimas começando a formar. Ele nunca tinha mencionado isso. Esta iniciativa, Gustavo, continuou, nasceu da inspiração de alguém muito especial. Alguém que me ensinou que segundas chances não são apenas possíveis, são essenciais, que mostrou que de nossas maiores dores podem surgir nossas maiores forças.
Ele desceu do palco e caminhou diretamente até a mesa de Raíça, estendendo a mão. Confusa, mas confiante, ela a pegou e se deixou ser guiada até o palco. Os murmúrios se espalharam pelo salão. “Raíça Oliveira”, ele disse agora falando diretamente para ela. Embora o microfone captasse cada palavra para todos. Quando te conhecia há sete meses, você estava no momento mais baixo de sua vida. Mas mesmo então, eu vi algo extraordinário em você.
Uma força que você mesma não sabia que possuía, uma luz que recusava a se apagar. Raíça estava chorando abertamente agora, sem se importar que centenas de pessoas estavam assistindo. Nos meses desde então, te vi florescer. Vi você reconquistar sua dignidade, descobrir seu talento, construir uma nova vida. E em cada passo desse caminho, você também me transformou, me ensinou a viver de novo, a amar de novo, a acreditar em futuros que eu pensava serem impossíveis.
Ele lentamente se ajoelhou e um suspiro coletivo percorreu o salão. De seu bolso tirou uma pequena caixa de veludo. Então, aqui na frente de todos esses testemunhos, quero te fazer uma pergunta. Raíça Oliveira, você aceita se casar comigo? Não para salvar você, porque você não precisa ser salva.
Não porque eu posso oferecer coisas materiais, porque você já provou que pode construir tudo por si mesma, mas porque te amo, porque não consigo imaginar um dia da minha vida sem você. Porque você é meu parceiro, minha igual minha casa. Raíça mal conseguia ver através das lágrimas, mas quando ele abriu a caixa revelando um anel de diamante brasileiro, elegante, discreto, perfeito, ela não hesitou. “Espera”, ela disse.
E antes que ele pudesse reagir, ela também se ajoelhou. O salão inteiro prendeu a respiração. “Se vamos fazer isso, fazemos como iguais”. Ela pegou as mãos dele, ambos ajoelhados no palco do Teatro Municipal. Gustavo Almeida Campos. Sim. Mil vezes, sim, mas não porque você me salvou naquela catedral, porque você me viu.
Você viu além da mulher quebrada e acreditou na pessoa que eu poderia me tornar. Me deu espaço para crescer, apoio para sonhar e amor para curar. Você é meu parceiro, meu igual minha casa. Então, sim, vou casar com você. A explosão de aplausos foi ensurdecedora. Gustavo deslizou o anel em seu dedo com mãos trêmulas.
Então a puxou para seus pés e a beijou enquanto todo o salão se levantava em ovação. Quando finalmente se separaram, ambos estavam rindo e chorando ao mesmo tempo. “Você me surpreendeu”, ele disse, ajoelhando também. “Bem, alguém tinha que deixar claro que não é um conto de fadas onde o príncipe salva a princesa.
É uma parceria igualitária. Eu não quereria de outra forma. O resto da noite passou em uma névoa de congratulações, abraços, champanhe. Teresa estava chorando abertamente. Dona Maria, sentada em uma mesa reservada para funcionários próximos, acenava orgulhosamente. Até alguns dos empresários mais sérios tinham olhos marejados.
Mas no meio de todo o caos e celebração, Raíça teve um momento de clareza. Ela olhou ao redor do teatro magnífico para as pessoas que haviam testemunhado tanto sua maior humilhação quanto sua maior alegria e percebeu algo profundo. S meses atrás, ela estava em uma catedral diferente, vestindo um vestido de noiva diferente, prestes a cometer um erro que não sabia que era um erro, e então seu mundo desmoronou.
Mas daquelas ruínas, algo novo e belo havia surgido. Não porque Gustavo a salvou, mas porque ela se permitiu ser salva, se permitiu reconstruir, se permitiu amar de novo, confiar de novo, sonhar de novo. E agora, olhando para o homem ao seu lado, o homem que ela amava, não por gratidão, mas por escolha, não por dependência, mas por parceria, ela soube que cada lágrima, cada dor, cada momento de desespero havia valido a pena, porque a levaram exatamente para onde ela precisava estar.
“No que está pensando?”, Gustavo perguntou, notando seu olhar distante, “que às vezes o melhor dia da sua vida começa com o pior dia da sua vida”. Ele sorriu compreendendo perfeitamente. E que bom que nosso pior dia nos levou ao melhor futuro possível. Ao melhor futuro possível. Ela ecoou e selaram a promessa com um beijo que parecia o início de tudo. Os meses após o noivado foram um turbilhão feliz.
A notícia se espalhou rapidamente, não apenas pelos círculos sociais de São Paulo, mas também pela mídia. A história de Raça era conhecida. Os vídeos da catedral nunca foram completamente apagados da internet. Então, quando surgiu que ela havia se noivado com Gustavo Almeida Campos, as pessoas se dividiram. “É um conto de fadas moderno, alguns diziam.
Ela se aproveitou da situação dele, outros murmuravam. Raíça aprendeu a ignorar tanto o excesso de romantização quanto as críticas cruéis. O que importava era a verdade que ela e Gustavo compartilhavam, não a narrativa que outros criavam.
Foi em dezembro durante o café da manhã no jardim sob a sombra da jabuticabeira que Gustavo trouxe à tona um assunto que vinham evitando. “Paris”, ele disse simplesmente. Raíça pausou sua xícara de café no ar. “O que sobre Paris?” “Asorbon, você adiou por um ano, mas o prazo para responder sobre o próximo semestre está chegando. Precisamos decidir. O nó familiar no estômago de Raíça voltou. Eu sei.
Tenho pensado nisso e e não sei, Gustavo, parte de mim ainda quer ir. A experiência acadêmica, a imersão cultural, tudo isso. Mas outra parte, ela olhou ao redor da mansão, do jardim que havia ajudado a redesenhar, do espaço que se tornara verdadeiramente seu lar. Outra parte construiu uma vida aqui com você, com minha escrita, com as conexões que fiz. Gustavo pegou sua mão através da mesa.
Então vou te propor algo e quero que realmente pense antes de responder. O quê? Casa comigo em janeiro. Uma cerimônia pequena, íntima, só pessoas que importam. E em fevereiro vamos juntos para Paris. Eu abro o escritório europeu da empresa que estava planejando há anos. Você frequenta a Sorbon.
Vivemos lá por um ano, talvez dois. E depois decidimos o que fazer. Voltar para São Paulo, ficar em Paris, dividir tempo entre os dois. Mas fazemos juntos. Raíça sentiu lágrimas começando. Você faria isso? Mudaria toda a sua vida para Paris? Raíça, você é minha vida agora. E além disso, não é mudar toda a minha vida, é expandir.
A empresa está forte. Tenho executivos excelentes aqui. Posso gerenciar remotamente e viajar quando necessário. E seria bom para os negócios ter presença europeia. Mas sua casa, dona Maria, tudo aqui vai estar aqui quando voltarmos. E dona Maria já disse que está considerando se aposentar no interior com a irmã. Podemos manter a casa ter cuidadores.
Não é um adeus, Raça, é um até logo. E se não der certo? E se descobrirmos que não funcionamos morando juntos em outro país? Ele sorriu. Então voltamos e tentamos outra coisa, mas não vamos saber se não tentarmos.
E eu não quero que você olhe para trás daqui a 10 anos e se pergunte e se Raíça levantou-se e foi até ele, sentando-se em seu colocando conforto. Ele a envolveu em seus braços, beijando o topo de sua cabeça. Tenho medo ela admitiu. Eu também, mas prefiro ter medo juntos do que seguro e sozinho. Quando você ficou tão sábio? Desde que conheci uma mulher que me ensinou que coragem não é a ausência de medo, mas a escolha de agir apesar dele.
Duas semanas depois, Raíça finalmente respondeu a Sorbone. Sim, ela aceitava. Começaria em fevereiro. A reação foi mista. Teresa ficou emocionada. Uma aventura parisiense. Vou visitá-los constantemente. Dona Maria chorou, mas de alegria. Vocês merecem explorar o mundo juntos. Os preparativos do casamento começaram imediatamente.
Contra todas as expectativas, não seria uma grande cerimônia social. Raíça foi firme nisso. Não quero uma produção, ela disse. Não quero que seja sobre quem está lá ou quem não está. Quero que seja sobre nós. Então decidiram uma cerimônia na capela privativa da mansão, com apenas 20 convidados, amigos próximos, alguns colegas de trabalho essenciais de Gustavo e a família de Raíça.
Seria simples, íntimo, verdadeiro. “Seu pai vai te levar até o altar?”, Gustavo perguntou uma noite. Raíça ficou quieta por um momento. Não sei. Ele tem sido distante. Acho que ainda está tentando entender tudo que aconteceu. De Felipe para você tão rápido. Quer que eu fale com ele? Não. Preciso fazer isso sozinha.
A conversa com seu pai aconteceu em um café na Paulista, território neutro. Ele parecia mais velho do que Raíça lembrava. Cabelos mais grisalhos, ombros mais curvados. Pai. Ela começou. Eu sei que tudo aconteceu muito rápido e sei que você provavelmente está preocupado pensando que estou pulando de um relacionamento para outro sem pensar.
É o que parece, filha, ele disse, mas sua voz era gentil, não acusatória. Mas não é, Felipe. Eu amava quem eu pensava que ele era, não quem ele realmente era. Com Gustavo é diferente. Eu o vejo completamente. Suas falhas, seus medos, suas inseguranças. E ele me vê da mesma forma. E ainda assim escolhemos estar juntos. Ele é um bom homem, o melhor que conheço.
Me apoia sem me controlar, me encoraja a crescer, me ama sem me sufocar. Seu pai suspirou mexendo seu café. Quando você estava no chão daquela catedral quebrada, eu me senti o pior pai do mundo, porque não pude proteger você daquilo. E então esse homem apareceu do nada e te levou embora. E eu eu não sabia se estava perdendo minha filha ou se ela estava sendo salva. Você não me perdeu, pai, e ele não me salvou.
Eu me salvei. Ele apenas me deu espaço para fazer isso. Então, você realmente o ama? Não é gratidão? Realmente o amo com tudo que sou. Seu pai finalmente sorriu, os olhos marejados. Então, sim, vou te levar até o altar e dessa vez vou te entregar para o homem certo. O dia do casamento amanheceu com o sol de janeiro brilhando sobre São Paulo.
A capela da mansão foi decorada com flores simples, rosas brancas e jabuticabas do próprio jardim. Não havia fotógrafos profissionais, apenas um amigo de Teresa que se ofereceu para capturar momentos discretamente. Raíça usava um vestido simples, mas elegante, seda branca, com renda delicada, sem calda, sem vé extravagante.
Nos cabelos, flores naturais, no pescoço, o colar de pérolas de Gustavo, seu algo emprestado, tornado permanente. Pronta? Seu pai perguntou na porta da capela. Mais do que nunca. Quando as portas se abriram e ela viu Gustavo no pequeno altar, lágrimas já escorrendo por seu rosto, Raíça soube com absoluta certeza que estava fazendo a escolha certa. A cerimônia foi curta, íntima.
Os votos foram escritos por eles mesmos. Raíça, Gustavo disse, sua voz embargada. Prometo te apoiar em cada sonho, te segurar em cada queda, te celebrar em cada vitória. Prometo ser seu parceiro, não seu salvador. Seu amor, não seu carcereiro. Sua casa onde quer que estejamos. Gustavo Raíça respondeu: “Prometo te ver sempre, não o empresário, não o sobrenome, mas o homem. Prometo crescer com você, não apesar de você.
Prometo honrar sua dor passada, construindo alegria futura. Prometo ser sua parceira em tudo igualmente. Quando o celebrante disse pode beijar a noiva, o beijo foi acompanhado de aplausos emocionados dos poucos presentes. Não havia necessidade de grandiosidade. Tudo que importava estava naquela sala. A recepção foi um almoço no jardim, música ao vivo de um quarteto de cordas, conversas genuínas e risadas verdadeiras.
Era tão diferente do que o casamento frustrado com Felipe teria sido, mas perfeito justamente por isso. Feliz? Gustavo perguntou enquanto dançavam sua primeira dança como casal casado. Mais do que imaginei ser possível. Então estou fazendo certo. Estamos fazendo certo. Juntos. E enquanto dançavam sob o sol de janeiro, Raíça soube que sua história não era sobre ser resgatada, era sobre renascimento, resiliência e a coragem de amar de novo após ter seu coração despedaçado.
Era sobre encontrar não um salvador, mas um parceiro, não uma muleta, mas um companheiro de jornada. E era perfeita justamente porque era real. Janeiro foi um mês de preparativos frenéticos. A mansão tão cheia de vida nos últimos meses precisava ser preparada para uma ausência prolongada. Dona Maria supervisionava tudo com eficiência militar, mas Raíça podia ver a emoção escondida por trás de sua fachada prática.
“Você vai sentir saudade?”, Raíça perguntou uma tarde enquanto ajudava a governanta a catalogar itens para armazenamento. Terrivelmente, dona Maria admitiu, limpando os olhos discretamente. Mas vocês precisam viver suas vidas, não ficar presos aqui por causa de uma velha sentimental. Você não é velha e definitivamente não é apenas sentimental.
Você foi, você é família, dona Maria. A mulher mais velha finalmente deixou as lágrimas caírem. E vocês são os filhos que nunca tive. Cuidar do senor Gustavo desde que ele era adolescente, vê-lo finalmente feliz de verdade. E você, querida, te ver florescer de uma menina quebrada em uma mulher forte. Não há aposentadoria que vale a isso. Então, não se aposente.
Fique aqui, cuide da casa e quando voltarmos? Não, filha. Minha irmã precisa de mim no interior e vocês dois precisam começar essa nova fase sem fantasmas do passado rondando. A casa vai estar aqui. Eu vou estar aqui no meu coração, mas é hora de eu deixar ir também. Raíça abraçou dona Maria, ambas chorando livremente agora.
Você salvou minha vida, sabe? Naquele primeiro dia, quando tudo estava despedaçado. Você me tratou com tanta gentileza. Você salvou a sua própria vida. Eu apenas dei chá e ombro amigo e foi exatamente o que eu precisava. A despedida do apartamento da Vila Madalena foi igualmente emocional. Raíça olhou ao redor do espaço onde havia escrito suas primeiras histórias publicadas, onde havia descoberto sua voz como escritora.
“Vai sentir falta?”, Gustavo perguntou encostado no batente da porta. “Sim, mas também estou animada. Paris vai ter novos cafés, novas bibliotecas, novos cantos inspiradores e quando voltarmos ele vai estar aqui. Seu santuário. Teresa organizou uma despedida surpresa. Um jantar íntimo com os amigos que Raíça havia feito no último ano. Escritores, artistas, editores, todos reunidos em um restaurante escondido em Pinheiros.
Para Raíça, Teresa brindou, que nos mostrou que recomeços não são apenas possíveis, são poderosos, que vá conquistar Paris como conquistou São Paulo, com talento, graça e aquela coragem quieta que move montanhas. E para Gustavo, outro convidado adicionou, que finalmente entendeu que abrir o coração não é fraqueza, mas a maior força de todas.
Os brindes continuaram, cada um mais emocionado que o anterior. Quando a noite terminou, Raíça tinha o coração cheio e os olhos vermelhos de tanto chorar e rir. A última semana foi dedicada à família de Raíça. Seus pais, inicialmente tão preocupados com a rapidez de tudo, haviam se aquecido com Gustavo nos meses seguintes.
Sua mãe o adorava, sempre comentando sobre como ele cuidava bem da nossa menina sem sufocá-la. Vai ligar?”, sua mãe perguntou na noite anterior ao voo. “Toda semana, prometo. E vocês podem visitar quando quiserem.” “Paris”, seu pai disse sonhadoramente. Nunca imaginei que minha filha moraria em Paris. É só temporário, pai. Um ano, talvez dois.
Ainda assim, minha menina escrevendo em Paris. Ele sorriu orgulho claro em seus olhos. Sua avó adoraria isso. Ela sempre disse que você tinha estrelas nos olhos. E eu sempre disse que eram sonhos demais. Raíça riu. Olha só como as coisas mudam. Por que você deixou mudar? Porque foi corajosa quando seria mais fácil se render.
Na última manhã em São Paulo, Raíça acordou cedo e desceu até o jardim. O sol estava nascendo sobre as árvores, jogando luz dourada sobre tudo. Ela caminhou até a jabutica onde tantas conversas importantes haviam acontecido, onde havia tomado decisões que mudaram sua vida. Gustavo a encontrou ali minutos depois. Não conseguiu dormir.
Queria memorizar tudo, as cores, os cheiros, a sensação. Ele a envolveu por trás, apoiando o queixo no topo de sua cabeça. Vai estar aqui quando voltarmos. Eu sei, mas não vou estar à mesma quando voltarmos. Paris vai me mudar. Não as partes importantes. Apenas vai adicionar camadas.
Ficaram assim por longos minutos observando São Paulo acordar, a cidade que havia testemunhado tanto: humilhação e redenção, desespero e esperança, fim e recomeço. “Pronta”, ele finalmente perguntou. para Paris, para o futuro, para o desconhecido, para tudo. Ela se virou em seus braços, olhando nos olhos do homem que havia mudado sua vida, simplesmente acreditando que ela podia mudar a própria.
Com você, sempre pronta. O aeroporto internacional de Guarulhos estava lotado naquela tarde de fevereiro. Teresa, alguns amigos próximos e os pais de Raíça vieram se despedir. Havia abraços, lágrimas, promessas de visitas e vídeochamadas. “Cuida dela”, a mãe de Raíça disse a Gustavo. “Ela não precisa ser cuidada.
” Ele respondeu gentilmente, “mas vou estar ao lado dela em cada passo, prometo. E você?” Seu pai disse à Raíça, cuida dele também, mesmo os fortes precisam de apoio às vezes. Vou cuidar. Somos uma equipe agora. Quando finalmente passaram pela segurança e acenaram um último adeus, Raíça sentiu uma mistura de emoções. Tristeza pela despedida, ansiedade pelo desconhecido, mas, acima de tudo, empolgação.
No portão de embarque, enquanto esperavam o voo ser chamado, Gustavo pegou sua mão sem arrependimentos? Nenhum. E você? Como poderia ter arrependimentos quando tenho você?” Ela riu, apoiando a cabeça em seu ombro. romântico, apenas honesto. Quando finalmente embarcaram e o avião decolou, Raíça olhou pela janela enquanto São Paulo desaparecia abaixo deles, a cidade que havia sido o palco de seu maior colapso e seu maior triunfo.
Mas agora, com Gustavo ao seu lado, dedos entrelaçados, ela olhava não para trás, mas para a frente, para Paris, para a Sorbone, para novas histórias esperando serem escritas. E enquanto o avião subia acima das nuvens, Raíça soube que não estava deixando sua vida para trás. Estava expandindo-a, não estava fugindo, estava voando.
E às vezes voar é exatamente o que precisamos fazer para descobrir o quão alto podemos realmente ir. Os primeiros meses em Paris foram uma montanha russa de emoções. O apartamento que Gustavo havia alugado no Marais era charmoso. Janelas francesas que davam para ruas de paralelepípedos, tetos altos com vigas expostas, uma pequena varanda onde tomavam café todas as manhãs.
Mas a adaptação foi mais difícil do que Raíça Imaginou. A Sorbone era magnífica, mas intimidante. Seus colegas eram brilhantes, a maioria vindos de famílias acadêmicas, fluentes em três ou quatro idiomas. Raissa, com seu francês imperfeito e sua origem humilde, se sentia constantemente como uma impostora.
Não pertenço aqui”, ela disse a Gustavo em uma noite particularmente difícil, após uma aula onde mal conseguiu acompanhar a discussão complexa sobre teoria literária pós-moderna. “Você pertence onde escolhe pertencer?”, ele respondeu, segurando seu rosto. “E você escolheu estar aqui. Então, faça valer a pena. Não para provar nada para eles, mas para você mesma.” Os negócios de Gustavo também traziam desafios.
Estabelecer o escritório europeu era mais complicado que previsto. Questões legais, diferenças culturais, barreiras linguísticas. Ele passava longos dias em reuniões, voltava exausto e, pela primeira vez desde que se conheceram, a tensão começou a aparecer. Você está distante. Raíça confrontou-o uma noite. Estou estressado. Desculpa.
Não é sobre você, mas afeta a gente, a nós. Eu sei. É só que pensei que seria mais fácil, mas cada dia parece uma batalha e estou começando a questionar se fizemos a escolha certa. As palavras a atingiram como um soco. Você quer voltar? Não, não é isso. É só que me sinto dividido entre aqui e lá, entre manter os negócios no Brasil e construir algo novo aqui.
E me preocupo que você esteja sofrendo por causa das minhas decisões. Não foi só sua decisão, foi nossa, mas você está lutando na Sorbone. Vejo você se esforçando tanto, voltando frustrada, e eu me pergunto se não devia ter te incentivado a ficar em São Paulo, onde você estava florescendo. Para, ela disse firmemente. Para de decidir por mim o que eu deveria ou não ter feito.
Sim, está difícil. Sim, alguns dias eu questiono tudo, mas outras vezes, outras vezes eu amo as aulas quando finalmente entendo algo complexo, as conversas com professores, a sensação de estar crescendo, mesmo que doa. Mas e sobre nós? Estamos descobrindo como ser casados longe de todo o suporte que tínhamos.
É difícil, mas vale a pena ou não vale? A pergunta ficou suspensa no ar. Gustavo a olhou por um longo momento e ela viu o medo em seus olhos. Medo de estar falhando, medo de ter arruinado tudo, medo de perdê-la. Vale! Ele disse finalmente sua voz rouca. Claro que vale. Desculpa. Estou só com medo de novo de não ser suficiente de te decepcionar. Você não vai me decepcionar a menos que desista de nós. Nunca.
Nunca vou desistir de nós. O momento marcou uma virada. Depois daquela conversa honesta e dolorosa, começaram a se comunicar melhor. Gustavo aprendeu a compartilhar seus estresses em vez de internalizá-los. Raça aprendeu a pedir ajuda quando precisava e lentamente, peça por peça, construíram uma vida em Paris.
Foi em maio, quro meses após chegarem, que tudo mudou. Raíça estava na biblioteca da Sorbone, estudando para suas provas finais quando seu celular tocou. Era Teresa e sua voz estava estranha. Raíça, querida, preciso te contar algo. O que aconteceu? É sobre Felipe. O nome que ela não ouvia há meses fez seu estômago revirar. O que sobre ele? Ele está na mídia dando entrevistas, dizendo que dizendo que vocês nunca realmente terminaram, que você se aproveitou de Gustavo enquanto ainda estava comprometida emocionalmente com ele, que o casamento de vocês foi por interesse. Raíça sentiu o mundo
girar. O quê? Ele está fazendo um circo, Rai, dizendo que você e Gustavo se conheceram antes da catedral que foi tudo planejado. Está tentando vender uma narrativa onde ele é a vítima e você é a vilã oportunista. Isso é insano. Eu sei. E a maioria das pessoas não está acreditando, mas a história está ganhando tração nas redes sociais. Você precisa ver com Gustavo o que fazer.
Quando Raíça chegou em casa, Gustavo já estava lá. Laptop aberto, rosto pálido. Você viu? Ela disse. Vi e já coloquei nossos advogados nisso. Vamos processar por difamação. Mas por que ele está fazendo isso? Gustavo virou o laptop para ela mostrar um artigo. Por que está falido, a empresa dele faliu. Ele perdeu tudo.
Que aparentemente decidiu que ganhar dinheiro vendendo mentiras sobre nós era a solução. Raíça leu as manchetes, as acusações ridículas, as fontes anônimas que Felipe havia plantado. Dizia que ela havia se casado com Gustavo só pelo dinheiro, que havia planejado a humilhação na catedral para conseguir um marido mais rico, que Gustavo era um idiota apaixonado sendo manipulado. “Precisamos responder”, ela disse.
“Os advogados dizem para ignorarmos que responder só dá mais atenção, mas ele está destruindo nossa reputação. Está dizendo que nosso amor é falso e quem importa vai saber que não é”. Raíça, pessoas que nos conhecem sabem a verdade. O resto, o resto não importa. Importa para mim.
Depois de tudo que passamos, de como construímos isso juntos, ele não tem direito de revirar tudo de novo. Gustavo se levantou e a envolveu em seus braços. Você tem razão. Ele não tem. Mas não vamos deixar que isso nos destrua. Não vamos dar a ele esse poder. A controvérsia durou semanas. Houve momentos terríveis. Pessoas reconhecendo Raíça na rua e fazendo comentários. Professores da Sorbone olhando-a com suspeita.
Amigos em São Paulo entrando em contato com fusos. Mas também houve momentos de solidariedade. Teresa publicou um artigo poderoso defendendo-os. Colegas da universidade que haviam chegado a conhecer Raíça fizeram uma petição apoiando-a e dona Maria do interior de São Paulo deu uma entrevista devastadora, explicando exatamente como Raíça havia chegado à mansão, quebrada e precisando de ajuda, não calculista e manipuladora.
Foi durante o auge da controvérsia que Raíça tomou uma decisão. “Vou escrever sobre isso”, ela disse a Gustavo. “O quê?” Vou escrever minha versão, não para as redes sociais ou para a mídia, mas como literatura, um conto ou talvez uma novela sobre uma mulher que é humilhada publicamente e como ela se reconstrói.
Sobre amor verdadeiro versus amor tóxico, sobre força e vulnerabilidade. Raíça, você não precisa expor. Não estou expondo. Estou transformando. Dor em arte, trauma em narrativa. Isso é o que escritores fazem. E assim ela fez. Durante as semanas seguintes, enquanto os advogados lidavam com a batalha legal, Raíça escreveu: “Derramou tudo no papel, a humilhação na catedral, o resgate inesperado, a jornada de cura, o amor que floresceu de uma forma tão improvável. Ela mudou nomes, alterou detalhes, ficcionalizou elementos, mas a
essência emocional era pura e verdadeira. Quando finalmente mostrou o manuscrito a Gustavo, ele leu em uma sentada, lágrimas escorrendo silenciosamente por seu rosto. “É perfeito”, ele disse. “É nós, é você. É real de uma forma que dele nunca poderia ser, porque ele nunca te conheceu de verdade.
Acha que devo publicar? Acho que você deve fazer o que seu coração mandar, mas se publicar vai ser um sucesso, porque as pessoas reconhecem verdade quando a veem.” O manuscrito foi para Teresa, que o passou para um editor francês amigo. Três semanas depois, Raíça tinha uma oferta de publicação e três meses após isso, o livro estava nas prateleiras, em francês primeiro, depois traduzido para o português.
Renascimento foi o título que escolheram e tornou-se um fenômeno, não porque era sobre escândalo ou fofoca, mas porque era sobre a jornada universal de se encontrar após ser despedaçado, sobre a coragem de amar de novo, sobre a força que vem da vulnerabilidade. As vendas de Felipe das histórias falsas murcharam em comparação e eventualmente ele desapareceu da mídia, insignificante e esquecido.
Mas renascimento permaneceu tocando corações ao redor do mundo. E Raíça descobriu que às vezes a melhor vingança não é responder com raiva, é responder com arte. Dezembro chegou trazendo neve a Paris, a primeira que Raíça via na vida. Ela ficou na varanda do apartamento, embrulhada em um cobertor grosso, assistindo os flocos brancos caírem suavemente sobre as ruas do Marais, enquanto Gustavo preparava chocolate quente na cozinha.
Renascimento havia sido publicado há três meses e estava em todas as listas de mais vendidos. Convites para palestras, entrevistas e eventos literários chegavam diariamente. A Sorbon, inicialmente cética, agora a celebrava como uma de suas estrelas emergentes. E o escândalo com Felipe, esquecido, enterrado sob o peso de uma história real de superação.
Aqui, Gustavo entregou-lhe a caneca fumegante, sentando-se ao seu lado com a própria. No que está pensando? Em como há exatamente um ano eu estava na mansão em São Paulo, aterrorizada com a ideia de vir para Paris e agora? Agora não consigo imaginar estar em outro lugar sem arrependimentos.
Então, como poderia ter? Meu livro está sendo publicado em 12 países. Terminei meu primeiro ano na Sorbone com distinção. E tenho você nessa ordem. Ele brincou obviamente ela provocou de volta, mas o beijou para suavizar as palavras. Falando inteira a mim, Gustavo disse, um sorriso misterioso aparecendo. Tenho uma proposta. Outra? A última me trouxe para uma catedral dramática e um acordo de três meses. Esta é diferente, prometo.
Ele pegou a mão dela. E se ficarmos? Ficarmos onde? Em Paris? Sim. Não para sempre necessariamente, mas mais tempo. O escritório europeu está florescendo. Além das minhas expectativas. Você está claramente prosperando aqui e eu eu me sinto mais livre aqui do que me senti em anos, menos preso pelos fantasmas.
Sabe, Raíça considerou. Paris havia se tornado lar de uma forma que ela não antecipou. Os cafés onde escrevia, as bibliotecas onde estudava, as ruas onde caminhavam de mãos dadas aos domingos. Mas havia também São Paulo, a mansão, os amigos, a família. É sobre dividir tempo, ela sugeriu.
Seis meses aqui, se meses lá, ou talvez um ano aqui e depois reavaliar. Funcionaria para você, funcionaria para nós, e isso é o que importa. Gustavo a puxou mais perto. Sabe, quando te vi naquela catedral, pensei que estava te salvando, mas acho que no fim você salvou a mim, me tirou da prisão que construí ao redor do meu coração, me ensinou a viver de novo. A gente se salvou mutuamente.
Raíça corrigiu. Essa é a coisa linda sobre parceria real. Não é sobre um salvando o outro, é sobre crescerem juntos. ficaram em silêncio confortável por um momento, observando a neve cair. Teresa ligou hoje. Gustavo disse casualmente: “Quer que voltemos para São Paulo em janeiro para um evento”.
Que tipo de evento? Lançamento oficial da divisão editorial do Instituto. Lembra da iniciativa que anunciei na gala? Ela está pronta para começar oficialmente. E Teresa acha que você deveria ser a primeira escritora residente. Raíça se virou para encará-lo chocada. O quê? Escritora residente? Seis meses trabalhando com novos talentos, orientando, ensinando, usando sua experiência para ajudar outros a encontrarem suas vozes, seria baseado em São Paulo.
Então, teríamos que voltar por um tempo, mas depois podíamos retornar para cá. Gustavo, isso é, eu não sei o que dizer. Diz sim. Diz que vai aceitar usar sua história, sua força, para inspirar outros. Porque se alguém pode mostrar as pessoas que é possível reconstruir após trauma, é você. As lágrimas vieram. Lágrimas de gratidão, alegria, realização. Sim, claro que sim.
Então está decidido janeiro em São Paulo, seis meses trabalhando no instituto. Depois voltamos para Paris e vamos continuar construindo essa vida incrível juntos. Juntos? Ela ecoou. A véspera de Ano Novo chegou com uma festa íntima no apartamento. Alguns amigos que haviam feito em Paris, colegas da Sorbone, parceiros de negócios de Gustavo.
A varanda estava iluminada com luzinhas, champanhe gelava na cozinha, música francesa suave tocava ao fundo. À meia-noite, enquanto fogos explodiam sobre a torre Eifel visível ao longe, Gustavo puxou Raíça para uma dança lenta. “Feliz ano novo!”, ele sussurrou. Feliz ano novo”, ela respondeu. Ao o primeiro de muitos juntos. Ao primeiro de muitos ele concordou.
E enquanto dançavam rodeados por amigos, a cidade mais romântica do mundo brilhando ao redor deles, Raíça pensou na jornada que a havia trazido até ali, da catedral, onde tudo desmoronou a mansão onde foi reconstruída, de São Paulo a Paris e de volta novamente, de uma mulher quebrada a uma escritora publicada, de vítima a sobrevivente, a vitoriosa. Mas mais do que tudo isso, pensou sobre amor, sobre como o amor verdadeiro não te diminui, mas te expande. Não te limita, mas te liberta.
Não te salva, mas te dá forças para salvar a si mesma. Felipe havia tentado moldá-la em algo conveniente. Gustavo a amou exatamente como ela era e encorajou-a a se tornar ainda mais. E essa ela percebeu era toda a diferença. No que está pensando? Gustavo perguntou, notando seu olhar distante: “Em como a vida é estranha e linda, em como o pior dia da minha vida me levou ao melhor futuro possível.
Em como estou grata por cada lágrima que derramei, porque cada uma me tornou mais forte.” “Você é a pessoa mais forte que conheço”, ele disse. “E você é a mais gentil”, ela respondeu. Então acho que nos complementamos perfeitamente. Perfeitamente, ela concordou. E quando os fogos começaram a diminuir e a cidade lentamente se acalmou para o primeiro dia do novo ano, Raíça Oliveira Almeida Campos, escritora, estudante, sobrevivente, amada, soube com absoluta certeza que sua história não era sobre um homem salvando-a de outro, era sobre uma mulher encontrando-se a si mesma nas
ruínas do que pensou que seria sua vida. e descobrindo que às vezes o que parece o fim é apenas o começo do capítulo mais extraordinário, um capítulo que ela mesma escreveria com suas próprias mãos e seu próprio coração, e seria uma obra prima. M.