Finja que é minha esposa”, sussurrou o milionário para a faxineira. E essa atitude mudou suas vidas para sempre. O sol da manhã entrava pelas janelas amplas do Hotel Imperial, um dos estabelecimentos mais luxuosos da Avenida Paulista. Clant empurrava seu carrinho de limpeza pelo corredor do 12º andar, os pés já cansados, mesmo sendo apenas 9:15 da manhã, 6 anos.
seis anos trabalhando ali, limpando quartos, trocando lençóis, garantindo que cada detalhe estivesse perfeito para hóspedes, que raramente olhavam em seus olhos. Ela ajeitou o coque mal feito nos cabelos crespos, suspirou fundo e bateu na porta do quarto. 1247, três batidas educadas, como ensinavam no treinamento.
Serviço de limpeza! anunciou, esperando a resposta padrão de pode entrar ou o silêncio que indicava quarto vazio. Silêncio Clusa deslizou o cartão mestre na fechadura eletrônica e entrou já mentalmente organizando a sequência: banheiro, cama, superfícies, aspirar, rotina.
Sempre a mesma rotina que pagava suas contas e enviava R$ 400 todo mês para sua mãe no interior da Bahia. O quarto estava impecável demais para alguém que havia dormido ali. A cama nem sequer estava desfeita completamente, apenas uma leve marca no edredon branco. Clanziu a testa. Hóspedes estranhos não eram novidade, mas algo naquele quarto a deixava inquieta.
20 minutos depois, enquanto passava o pano na bancada de mármore do banheiro, ouviu passos apressados no corredor, passos de salto alto, batendo com urgência contra o piso de madeira. Clusa não deu importância, não era problema dela, até que a porta se escancarou. Onde está? A voz era aguda, histérica, carregada de acusação.
Clusa virou-se tão rápido que derrubou o frasco de produto de limpeza. Uma mulher loira, provavelmente na faixa dos 40 anos, vestindo um terno branco que custava mais que 3 meses de salário de Clusa, apontava o dedo para ela como se fosse uma arma. Onde está o que, senhora? Clusa sentiu o coração acelerar. Minha pulseira.
A pulseira de diamantes que estava na mesinha de cabeceira. A mulher entrou no quarto, os olhos azuis brilhando de fúria. Você roubou. Eu sei que foi você. Eu? Eu não. As palavras morreram na garganta de Clusa. Como se defende uma acusação assim? Como se prova algo que não se fez? Não minta para mim. A mulher avançou e Clou instintivamente, batendo as costas na parede fria do banheiro.
Você foi a única que entrou aqui. A única? Minha pulseira vale R$ 40.000. 40.000? O número ecoou no quarto como um tiro. R$ 40.000. Clusa ganhava R$ 1.400 por mês. Senhora, eu juro, eu não peguei nada. Eu nunca A voz de Clusa tremeu, mas ela forçou-se a manter contato visual. Não era culpada. Não era gerência.
A mulher girou nos calcanhares e marchou para o corredor, sua voz ecoando pelo andar inteiro. Gerência, quero o gerente agora. Clusa saiu do quarto com as pernas bambas. Outros hóspedes começavam a abrir suas portas, rostos curiosos observando o escândalo. Maria, outra camareira, passou correndo, sussurrando um meu Deus Clado de pena e medo. O elevador apitou, as portas se abriram e o Sr.
Ferreira, gerente do hotel, surgiu com o rosto já vermelho de tensão. Atrás dele, dois seguranças. O que está acontecendo aqui? Ele exigiu, mas seus olhos foram direto para a Clusa, já julgando, já condenando. Essa funcionária roubou minha pulseira. A mulher loira apontou para a Clusa, como se apontasse para uma criminosa de cartaz de procurados. Pulseira de diamantes, R$ 40.000.
Euijo que chamem a polícia agora. Tenhora, por favor, vamos conversar com calma”, começou o senhor Ferreira, mas seu tom era apaziguador apenas para a hóspede. Quando olhou para a Clusa, havia apenas frieza. “Você vai comigo agora.” “Mas eu não fiz nada”. A voz de Clusa finalmente saiu, alta demais, desesperada demais.
“Eu não roubei nada. Eu trabalho aqui há 6 anos. Seis anos planejando o roubo perfeito”, cuspiu a mulher loira. Gente como você é sempre assim, fingem ser honestas, mas na primeira oportunidade, gente como eu, Clentiu algo queimar dentro do peito. Não era só raiva, era humilhação.
Era o peso de todos os olhares ao redor, todos pensando a mesma coisa. Camareira pobre. Claro que roubou. Chega. O Sr. Ferreira levantou a mão. Senhora, vou resolver isso imediatamente. Cla, vai comigo para a sala de segurança. Vamos revistar sua bolsa, seu armário e se não acharmos nada, ela escondeu em algum lugar, insistiu a mulher. Ou já passou para algum comparsa. Chamem a polícia. Foi então que Clusa percebeu.
Não importava se achassem ou não a pulseira. Não importava se ela fosse inocente. Aquele momento, aquela acusação pública, aquela humilhação diante de dezenas de pessoas, isso nunca seria apagado. Mesmo se provasse sua inocência, sempre haveria dúvida, sempre haveria sussurros. Seus olhos arderam. Não, não ia chorar. Não ali não na frente deles.
Vamos, disse o senhor Ferreira, fazendo sinal para os seguranças. Agora, Clusa deu um passo em direção ao elevador, sentindo o chão desaparecer sob. Era o fim. Seis anos de trabalho honesto, destruídos em minutos. E então uma voz cortou o caos. Minha esposa não roubou nada. O saguão inteiro congelou.
Clusa virou-se sem entender de onde vinha aquela voz grave, calma, mas carregada de autoridade absoluta. Um homem alto, provavelmente beirando seus 40 anos, vestindo um terno azul marinho que claramente era feito sob medida, caminhava em direção ao grupo. Cabelos escuros com alguns fios prateados nas têmporas, postura ereta, olhos que pareciam ver através das pessoas. “Quem é você?”, perguntou a mulher loira, confusa.
O homem parou ao lado de Clusa, tão perto que ela podia sentir o perfume caro dele, algo amadeirado e sofisticado. Ele a olhou por um segundo e naquele olhar havia algo que Clu decifrar. Então ele voltou seu olhar para o gerente. Roberto Almeida disse ele simplesmente e o senhor Ferreira empalideceu. E essa mulher, Clusa Santos, é minha esposa.
Clap piscou uma vez, duas vezes. Esposa, ela nunca tinha visto aquele homem na vida. O que diabos estava acontecendo? O silêncio que se seguiu foi tão denso que Clusa podia ouvir seu próprio coração batendo descompassado. O homem, Roberto Almeida, ele havia dito, permanecia ao seu lado com uma tranquilidade perturbadora, como se acabasse de comentar sobre o clima, não de declarar algo completamente absurdo.
“Sua esposa,” loira, gaguejou, olhando de Roberto para Clusa e de volta para Roberto. “Mas ela é, ela está vestida de de camareira.” completou Roberto, sua voz ainda calma, mas com uma camada de gelo. Minha esposa trabalha como camareira. Isso é um problema para a senhora? O senor Ferreira limpou a garganta claramente tentando reorganizar os pensamentos. Senor Almeida, eu não sabia que Bem, isso muda as coisas, mas a pulseira da senora Monteiro ainda está desaparecida e E vocês já revisaram adequadamente o quarto? Roberto interrompeu arqueando uma sobrancelha. ou preferiram pular direto para a acusação pública e
humilhação da minha esposa. Claneceu imóvel, processando. Aquele homem estava mentindo descaradamente. Mas por quê? E mais importante, por que estava fazendo isso por ela? A mulher loira, senora Monteiro, cruzou os braços. Eu revistei o quarto inteiro. A pulseira não está lá. A senhora revistou, repetiu Roberto, o tom carregado de ceticismo.
Olhou atrás dos móveis, embaixo da cama, no banheiro dentro do gabinete da pia, ou apenas decidiu que culpar uma trabalhadora honesta era mais fácil que assumir sua própria desorganização. As bochechas de Senora Monteiro ficaram vermelhas. Como ousa, senr Almeida? O Senr. Ferreira interveio rapidamente, suando visivelmente. Precisamos resolver isso de forma apropriada.
Se o senhor pudesse acompanhar sua esposa até a sala de segurança? Não disse Roberto. A palavra caiu como concreto. Ninguém vai revistar minha esposa como se ela fosse uma criminosa. Vocês vão revistar aquele quarto adequadamente com ela e comigo presentes. E quando encontrarem a pulseira exatamente onde a senhora Monteiro esqueceu. Vocês vão se desculpar publicamente.
E se não encontrarmos? desafiou Senora Monteiro. Roberto a encarou e Clu a mulher recuar meio passo, inconscientemente. “Se não encontrarem”, disse ele lentamente. “Eu pessoalmente arco com o custo da pulseira. R$ 40.000, não é? Faço uma transferência agora mesmo.” Ele deslizou a mão no bolso interno do palitó e tirou um celular.
“Mas encontrarem, e tenho certeza absoluta que vão encontrar, espero que a senhora tenha a decência de se desculpar tão publicamente quanto acusou. Senora Monteiro abriu a boca, fechou, abriu novamente. Eu eu não preciso ouvir isso de Todos subindo! Ordenou Roberto sua paciência claramente esgotada. Agora, senhor Ferreira, presumo que não queira que eu ligue para o meu advogado.
Difamação é crime caso tenha esquecido. O gerente engoliu em seco. Claro que não, senhor Almeida. Vamos, vamos subir e resolver isso adequadamente. O grupo se moveu em direção ao elevador. Clentiu a mão de Roberto tocar levemente suas costas, guiando-a. O toque era gentil, quase protetor.
Ela olhou para ele de relance, mas o homem mantinha os olhos fixos à frente. Dentro do elevador, o silêncio era claustrofóbico. Clia sentir os olhares dos seguranças, da senora Monteiro, do senhor Ferreira, todos tentando entender. Ela mesma não entendia nada. Quando as portas se abriram no 12º andar, o corredor havia se enchido de gente, outros funcionários, hóspedes curiosos, todos querendo assistir ao desfecho do drama.
“Com licença”, disse Roberto, abrindo caminho sem cerimônia. O quarto 1247 estava exatamente como Clusa havia deixado. Porta aberta, carrinho de limpeza no corredor, produtos espalhados onde ela os largara quando a acusação começou. Muito bem. Roberto entrou e fez um gesto abrangente.
Onde exatamente estava a pulseira, Senora Monteiro? A mulher apontou para a mesinha de cabeceira. Ali eu deixei ali quando fui tomar banho de manhã e a senhora saiu do quarto quando? Por volta das 8:30. E voltou quando? Agora há pouco. Por volta das 9:30. Roberto assentiu e se virou para Clusa. E você começou a limpar o quarto quando? Clusa teve que limpar a garganta duas vezes antes de conseguir falar. 9:15.
Eu bati na porta, usei o cartão mestre e entrei. O quarto estava vazio. Então Roberto voltou-se para a senora Monteiro. Houve uma janela de 45 minutos onde qualquer pessoa poderia ter entrado neste quarto. Correto? Eu tranquei a porta, protestou a mulher. Está certa disso? Roberto caminhou até a porta e apontou para a fechadura eletrônica.
Essas portas trancam automaticamente quando fechadas, mas apenas se você usar o cartão de dentro. ou virar o trinco manualmente. A senhora fez isso? Senora Monteiro hesitou e naquela hesitação, Clusa viu a primeira rachadura na certeza dela. Eu acho que sim. Acha, repetiu Roberto. Certo. Então não temos certeza.
E já que não temos certeza, que tal procurarmos adequadamente antes de destruir a reputação de alguém? Ele começou a caminhar pelo quarto, os olhos examinando cada centímetro. parou ao lado da mesinha de cabeceira, agachou-se e olhou por baixo. “Nada aqui”, murmurou, moveu-se para o outro lado da cama, repetiu o processo. “Nada aqui também.” Caminhou até a janela, verificou o parapeito, entrou no banheiro.
Clusa o seguiu com os olhos, fascinada pela meticulosidade dele, como se fosse um detetive em um filme. “Senhor Ferreira.” Roberto chamou do banheiro. Quando foi a última vez que os móveis deste quarto foram movidos para limpeza profunda? O gerente gaguejou. Nós fazemos limpeza profunda mensalmente. Então, há um mês que ninguém olha atrás desta penteadeira.
Roberto estava agachado ao lado da penteadeira branca ornamentada que ficava entre a janela e o banheiro. Ele estendeu a mão por trás do móvel, o braço desaparecendo até quase o cotovelo, e quando o retirou, segurava uma pulseira de diamantes que brilhava sob a luz artificial do quarto. O choque foi instantâneo e coletivo. Senora Monteiro levou a mão à boca. O Senr. Ferreira fechou os olhos brevemente, como se pedisse forças divinas.
Os seguranças trocaram olhares desconfortáveis. Clentiu as pernas fraquejarem. Ali estava a pulseira, a maldita pulseira que quase destruiu sua vida. Acredito”, disse Roberto, levantando-se e segurando a joia à luz, examinando-a. “Que isso seja seu, senhora Monteiro.” A mulher pegou a pulseira com mãos trêmulas, verificando as pedras como se precisasse ter certeza de que era realmente a dela. “Sim, sim, é minha.
Mas mas como como ela foi parar ali?” Roberto terminou a frase por ela. Imagino que a senhora a tenha colocado na mesinha. Talvez ela tenha caído, rolado, ficado presa contra a parede e quando alguém, provavelmente outro funcionário em outra limpeza, moveu ligeiramente o móvel para passar o pano, a pulseira caiu para trás.
Não é difícil de entender. O que é difícil de entender é como a senhora pode acusar publicamente uma funcionária exemplar de roubo sem ao menos ter procurado adequadamente. O silêncio que seguiu foi ensurdecedor. Eu senora Monteiro olhou para a Clusa, mas não conseguiu manter o contato visual. Eu pensei já.
A senhora pensou errado. Cortou Roberto sem um pingo de simpatia na voz. E agora creio que uma desculpa pública seja o mínimo apropriado, mas senora Monteiro apenas apertou a pulseira contra o peito e saiu do quarto sem dizer palavra, seus saltos ecoando no corredor como uma retirada apressada.
Roberto virou-se para o senor Ferreira. Presumo que não haja mais necessidade de revistar minha esposa ou seu armário. Não, senhor, claro que não. Isso foi um mal entendido terrível. Eu peço desculpas, Sr. Almeida. E a senora Clusa disse Roberto, o nome dela é Clusa Santos. Sugiro que você memorize, já que ela trabalha aqui há 6 anos, e sugiro também que você providencie uma retratação formal por escrito, informando todos os funcionários que presenciaram esta humilhação de que Clusa é completamente inocente.
Se não fizer isso, meu advogado entrará em contato. Sim, senhor. Sim. será feito imediatamente. Ótimo. Roberto finalmente olhou para a Clusa e pela primeira vez ela viu seus olhos de perto. Eram castanhos, quase mel sobre aquela luz e havia algo neles que ela não conseguia nomear. Gentileza, tristeza? Vamos, querida. Acho que já foi drama suficiente por um dia.
E com isso, ele ofereceu o braço para ela como um cavalheiro de outro século. Clou para o braço estendido, para o rosto dele, de volta para o braço. Seu cérebro gritava perguntas, mas sua mão se moveu automaticamente, segurando o braço dele. Eles saíram do quarto juntos, passando pelo corredor, onde funcionários e hóspedes ainda observavam com olhos arregalados.
Entraram no elevador, as portas se fecharam e foi só quando estavam completamente sozinhos, descendo em silêncio, que Clusa finalmente conseguiu falar. Por que você fez isso? Roberto não olhou para ela imediatamente. Observou os números descendo no painel digital. 10 9 8 por quê? disse ele baixinho. Há 10 anos, alguém deveria ter feito o mesmo pela minha mãe.
As portas se abriram no térrio. Roberto saiu primeiro e Clicou congelada por um segundo, processando aquelas palavras. E então ele se virou esperando. “Vem”, disse ele com um meio sorriso triste. “Acho que você e eu precisamos conversar”. Clusa seguiu Roberto Almeida como se estivesse em trans. Atravessaram o saguão do hotel sob olhares curiosos.
Passaram pelas portas de vidro giratórias e foram envolvidos pelo caos típico de uma segunda-feira na Avenida Paulista. Carros buzinando, pedestres correndo, vendedores ambulantes oferecendo água e guarda-chuvas, mesmo sem previsão de chuva. O contraste era surreal. 10 minutos atrás, Clusa estava sendo acusada de roubo.
Agora caminhava ao lado de um homem interno de R$ 5000, que havia mentido descaradamente, chamando-a de esposa. “Tem alguma preferência de café?”, Roberto? Perguntou como se fosse a coisa mais natural do mundo. Clusa parou de andar. “Espera, para!” Ela levou a mão à testa, sentindo uma dor de cabeça pulsar.
Você não pode simplesmente aparecer do nada, me chamar de esposa, salvar minha vida e agora me convidar para tomar café como se fôssemos velhos amigos. Roberto virou-se para ela, enfiando as mãos nos bolsos. Um carro passou por eles acelerando. Um ônibus parou no ponto à esquerda com um rangido. A cidade continuava, indiferente ao turbilhão interno de Clusa. “Você está certa”, concordou ele.
“Foi invasivo da minha parte, mas se eu tivesse parado para pedir permissão para explicar, aquela mulher já teria te humilhado ainda mais. Às vezes é preciso agir antes de pensar”. Clusa cruzou os braços, sentindo o uniforme de camareira subitamente pequeno demais, inadequado demais.
Ali estava ela, no meio da paulista, vestida para trabalhar, sendo convidada para café por um homem que claramente pertencia a outro mundo. “Quem é você?”, perguntou ela de verdade. Roberto Almeida, 42 anos, dono da Almeida em construtora. Nasci e cresci aqui em São Paulo, no Tatuapé. Sou formado em engenharia civil pela USP. Ele recitou os fatos com a mesma neutralidade de quem lê um currículo. E antes que pergunte: “Não, não sou casado, nunca fui, não tenho esposa.
” Então por que porque ele a interrompeu suavemente. Há 10 anos, minha mãe, que trabalhava como diarista nos jardins, foi acusada exatamente da mesma forma. Uma patroa disse que ela havia roubado um anel de ouro, chamou a polícia, armou um escândalo na frente de todos os vizinhos do condomínio.
Minha mãe foi revistada, humilhada, tratada como criminosa. Clentiu algo apertar em seu peito e o anel. Três dias depois, Roberto sorriu, mas não havia humor ali, apenas amargura. A patroa encontrou o anel numa gaveta que ela mesma havia esquecido de revisar. As desculpas foram privadas. A humilhação foi pública. Minha mãe nunca se recuperou.
Ela carregou aquela vergonha, aquela dor, até o dia em que morreu de câncer, há 5 anos. O barulho da cidade subitamente pareceu distante. Clou para aquele homem, rico, poderoso, bem-sucedido, e viu algo que não esperava ver. Dor antiga, nunca curada. “Sinto muito”, disse ela e percebeu que as palavras eram insuficientes. “Eu também.” Roberto respirou fundo, como se estivesse guardando a emoção de volta.
Quando vi você naquele saguão sendo acusada, sendo olhada daquela forma, eu vi minha mãe, vi a dona Conceição, uma mulher que trabalhou a vida inteira com honestidade, sendo tratada como lixo porque alguém rico perdeu uma joia. Não pude deixar acontecer de novo. Não, quando eu tinha o poder de mudar. Clusa não sabia o que dizer. As palavras pareciam pequenas demais para o momento.
“Café”, Roberto disse novamente, apontando para uma padaria chique alguns metros adiante. “Por favor, deixa eu ao menos explicar direito, que aí se você quiser nunca mais me ver na vida, eu entendo perfeitamente.” Clusa olhou para a padaria, com suas mesas de madeira clara na calçada, seus guarda-çóis brancos, seu cardápio provavelmente caríssimo.
olhou para Roberto, para seu uniforme amassado, para a vida que havia quase desmoronado 20 minutos atrás, e assentiu. A padaria era o tipo de lugar onde Clunia por conta própria. Não porque não pudesse, tecnicamente ela tinha dinheiro para um café e um pão de queijo, mas porque lugares assim tinham um jeito de fazer pessoas como ela se sentirem observadas, julgadas.
Mas com Roberto ao lado, os funcionários só demonstraram cordialidade. Ele pediu dois expressos e um prato de pães de queijo recém assados. Sentaram-se numa mesa próxima à janela, onde podiam ver a movimentação da avenida. “Você não precisa voltar para o hotel hoje”, disse Roberto mexendo açúcar no café.
Eu ligo para o senor Ferreira e não Clompeu. Eu volto. Eu preciso voltar. Se eu não voltar agora, vão pensar que tenho algo a esconder ou que fui demitida. Eu volto, termino meu turno e mostro que não fiz nada de errado. Roberto a estudou por um momento, então assentiu lentamente. Você é forte. Eu sou pobre, corrigiu Clusa tomando um gole do café. Gente pobre não tem escolha, a não ser ser forte. A vida não dá opção.
Minha mãe costumava dizer a mesma coisa. Roberto sorriu e dessa vez havia calor na expressão. Dona Conceição Santos Almeida. Ela me criou sozinha depois que meu pai nos abandonou quando eu tinha 3 anos. Trabalhou em limpeza o dia inteiro, fazia faxina em escritórios à noite. Tudo para que eu pudesse estudar em escola particular com bolsa, para que eu pudesse fazer faculdade.
Ela ficaria orgulhosa de você, disse Clusa suavemente. Eu gostaria de pensar que sim. Roberto olhou para a xícara de café como se procurasse respostas ali. Eu construí tudo que tenho pensando nela. A construtora, o dinheiro, o sucesso, tudo para que ela pudesse parar de trabalhar, para que pudesse descansar.
Mas quando finalmente consegui, quando finalmente tinha condições de dar tudo para ela, o câncer veio e foi rápido demais. Clusa viu a dor atravessar o rosto dele. Reconheceu era a mesma dor que via em seu próprio reflexo quando pensava em sua mãe lá na Bahia, envelhecendo longe dela. “Por que você estava no hotel?”, perguntou Clusa, mudando de assunto antes que a tristeza os engolisse. “Você não parece ser hóspede?” “Não sou.
Sou investidor minoritário.” Roberto pegou um pão de queijo, partiu ao meio. Minha empresa fez a reforma do hotel há 3 anos. Como parte do acordo, aceitei uma pequena participação. Vou lá às vezes para reuniões ou para verificar se estão mantendo a qualidade das obras.
Estava saindo de uma reunião quando ouvi os gritos e decidiu mentir, me chamar de esposa. Decidiu foi a palavra certa. Roberto a encarou. Foi instintivo e calculado ao mesmo tempo. Instintivo porque vi você sendo destruída e precisava parar. calculado porque sabia que se eu dissesse que você era minha esposa, eles teriam que te tratar com um mínimo de respeito.
O poder do status, infelizmente, ainda significa algo neste país. Clusa sabia que ele estava certo. Se Roberto tivesse chegado e apenas dito: “Não acusas”, talvez o gerente tivesse ouvido. Mas provavelmente não. Provavelmente Clusa teria sido revistada, humilhada, possivelmente demitida, mesmo sem provas.
Mas chamá-la de esposa, isso mudava tudo, porque esposas de homens ricos não eram funcionárias descartáveis, eram pessoas com poder por associação. Era triste e verdadeiro. “Obrigada”, disse Clusa. “Finalmente, “Eu ainda estou processando tudo, mas obrigada. Você salvou meu emprego, minha reputação, minha vida. Talvez não me agradeça ainda. Roberto tomou o resto do café num gole.
Porque agora temos um problema prático. Qual? O hotel inteiro acha que somos casados. E o Sr. Ferreira com certeza vai verificar. Vai descobrir que não há registro de casamento e aí a mentira desmorona. E quando desmoronar eles vão pensar que fui eu quem mentiu. Clometou sentindo o estômago afundar.
vão achar que eu que eu te seduzi ou te manipulei de alguma forma ou que estamos em algum esquema juntos. Exatamente. Roberto suspirou. Desculpa, eu não pensei nisso quando disse. Eu só Você tentou ajudar. Clurou a xícara de café com as duas mãos, sentindo o calor, e ajudou. Mas você está certo. Quando descobrirem, podemos dizer que somos namorados, sugeriu Roberto.
Sei que eu me exaltei e chamei você de esposa por impulso, mas que estamos em um relacionamento sério. Isso explicaria a minha reação sem criar um escândalo de mentira total. Clou. E você acha que vão acreditar? Um empresário rico namorando uma camareira. Por que não? Roberto arqueou uma sobrancelha. É tão impossível assim para o mundo? Sim. Clusa deu uma risada sem humor.
Você sabe como é. Homens ricos não namoram mulheres como eu. Não publicamente. Talvez tenham casos escondidos. Talvez usem mulheres pobres como sei lá, entretenimento temporário. Mas relacionamento sério assumido. Isso não acontece. Acontece sim. A voz de Roberto ficou mais firme. E vai acontecer com a gente se você topar. Clap piscou.
Você está falando sério? Estou. Roberto se inclinou para a frente. Olha, eu sei que parece loucura. Nós nos conhecemos há menos de uma hora. Mas pense comigo. Se formos vistos juntos nas próximas semanas, se eu for te buscar no trabalho, se formos a alguns lugares públicos, as pessoas vão acreditar naturalmente.
E aí, quando a mentira inicial for descoberta, já haverá uma base de verdade, um relacionamento real. Mas não seria um relacionamento real. Clusa sentiu a cabeça girar. Seria teatro no começo, concordou Roberto. Mas quem sabe, talvez se torne real, ou talvez não, mas pelo menos protege você de qualquer retaliação do hotel. E ele hesitou. E seria bom ter companhia.
Faz 5 anos que moro sozinho naquele apartamento grande demais, trabalhando demais, vivendo pouco. Talvez isso seja bom para nós dois. Clusa deveria ter dito não. Toda a fibra racional no seu corpo gritava que aquilo era insanidade. Fingir um namoro com um estranho rico apenas para manter uma mentira era roteiro de novela, não vida real.
Mas então ela pensou em voltar para aquele hotel, em enfrentar os olhares dos colegas, as fofocas, as desconfianças. pensou em eventualmente a verdade vir à tona e todos acharem que ela era uma oportunista que se aproveitou de Roberto.
Pensou em mais uma vez ser julgada, mais uma vez ser vista como menos por causa de sua classe social e pensou que talvez apenas talvez ter alguém ao seu lado, mesmo que só por teatro, fosse melhor que enfrentar tudo sozinha. “Ok”, disse ela e quase não acreditou na própria voz. “Vamos fazer isso, mas com regras.” Roberto sorriu e era um sorriso genuíno. Claro, quais primeiro, sem mentiras entre nós. Se isso vai ser fingimento para o mundo, ao menos sejamos honestos um com o outro. Segundo, eu não quero seu dinheiro.
Não sou seu projeto de caridade. Continuo trabalhando, pagando minhas contas, vivendo minha vida. Terceiro, quando isso acabar e vai acabar em algum momento, a gente termina como adultos, sem drama. Combinado, Roberto? estendeu a mão por sobre a mesa. Combinado, Cloue firme, selando um acordo que provavelmente era a coisa mais louca que já havia feito na vida.
E quando seus olhos se encontraram, Clentiu algo estranho. Uma faísca, uma conexão ou apenas medo do desconhecido. Ela não sabia, mas estava prestes a descobrir. Voltar ao hotel foi mais difícil do que Clusa imaginara. Ela e Roberto haviam ficado na padaria por quase uma hora. acertando detalhes do relacionamento deles, trocando números de telefone, combinando que ele a buscaria no fim do expediente às 17 horas.
Tudo muito civilizado, muito planejado, mas nada a preparou para os olhares quando passou pela porta de funcionários. Às 11:30, o burburinho cessou instantaneamente. Maria, que estava pegando água no bebedouro, a encarou com os olhos arregalados. Seu Carlos, segurança do turno da manhã, deu um assovio baixo e Joana, a supervisora de limpeza, surgiu da sala de materiais como um míssil teleguiado. Clant.
Joana cruzou os braços, seus 40 e poucos anos marcados por rugas de cansaço e desconfiança. Na minha sala agora. Clusa respirou fundo e seguiu Joana até a pequena sala que cheirava a produtos de limpeza e papel velho. A porta se fechou com um clique definitivo. Senta. Joana apontou para a cadeira gasta de frente à sua mesa. Clentou, as mãos suando.
Olha, Joana, sobre o que aconteceu. Você está namorando Roberto Almeida. Não era pergunta, era afirmação carregada de incredulidade. Estou, disse Clusa, forçando firmeza na voz. A primeira mentira pública. Que estranho como a palavra saía fácil quando necessária. Joana soltou uma risada curta, sem humor. Roberto Almeida, o empresário, dono de construtora.
Ela se inclinou sobre a mesa. E você, uma camareira, espera que eu acredite que vocês dois, acredite ou não, é a verdade. Clanteve o olhar firme. E não vejo, porque nossa vida pessoal seria assunto do hotel. Vira assunto quando ele te chama de esposa no meio do saguão. Joana levantou a voz. Metade dos hóspedes viram. O gerente viu.

Agora todo mundo está falando, falando que você armou aquela cena toda para o quê? Clusa sentiu raiva subir na garganta. Para chamar atenção, para conseguir alguma coisa, eu estava sendo acusada de roubo, Joana. Roubo, uma coisa que eu nunca faria. E Roberto me defendeu porque ela parou. Não podia dizer porque ele viu a mãe dele passar pelo mesmo. Era pessoal demais, verdadeiro demais.
Porque ele me conhece, terminou simplesmente e sabe o tipo de pessoa que eu sou. Joana a estudou por um longo momento. Há quanto tempo vocês estão juntos? Alguns meses. A mentira veio mais fácil agora. Mantivemos privado porque, bem, pelas óbvias razões, diferença social, medo de julgamento, fofoca.
Mas hoje, quando viu aquilo acontecendo, ele não conseguiu ficar calado alguns meses. Joana repetiu claramente, processando. E ele te chamou de esposa. Foi impulso do momento. Clu de ombros, tentando parecer natural. Ele ficou tão irritado que se exaltou. Já conversamos sobre isso, mas silêncio. Então, Joana suspirou, esfregando o rosto com as mãos.
Olha, Clusa, eu não sei se acredito completamente nessa história, mas a verdade é que o Sr. Ferreira está apavorado. Ele mandou e-mail para todos os supervisores dizendo que você foi inocentada, que houve um lamentável mal entendido e que qualquer funcionário que espalhar fofoca sobre o ocorrido será advertido. Tradução: O hotel não quer problema com Roberto Almeida. Clusa assentiu lentamente.
Poder era tudo sobre poder que Roberto tinha enquanto ela não. Então posso voltar ao trabalho? Pode. Mas Clusa? Joana olhou com algo que parecia pena misturada com inveja. Cuidado. Homens como ele não ficam com mulheres como nós. Não de verdade. Não para sempre. As palavras doeram mais do que Clusa esperava. Talvez ela se levantou. Ou talvez você esteja subestimando o que mulheres como nós merecem.
E saiu da sala antes que Joana pudesse responder. O resto do dia passou em câmera lenta e velocidade máxima. Simultaneamente, Climpou quartos no piloto automático, as mãos executando tarefas que já faziam há 6 anos enquanto sua mente girava em círculos. Toda vez que cruzava com outro funcionário, sentia os olhares, os coxichos.
Alguns lhe deram sorrisos de apoio, outros olhares de inveja mal disfarçada, e alguns, como Joana havia previsto, de pura desconfiança. Maria a puxou para um canto quando estavam sozinhas no corredor do oitavo andar. “É verdade?”, sussurrou, os olhos brilhando de curiosidade.
“Você e o Roberto Almeida?” É, disse Clusa, repetindo a mentira até que começasse a suar como verdade. Meu Deus, Clusa. Maria a abraçou apertado demais. Você conseguiu. Você realmente conseguiu sair da pobreza. É tipo Cinderela. Clusa se afastou desconfortável. Não é assim, Maria. Não é conto de fadas. É só relacionamento normal. Normal? Maria riu. Amiga, não tem nada de normal nisso. Você está namorando um milionário.
Você vai poder parar de trabalhar, vai morar numa mansão, vai ter motorista e eu não vou parar de trabalhar. A voz de Clusa saiu mais dura que pretendia. E não estou com ele por dinheiro. Claro que não. Maria levantou as mãos defensiva. Desculpa, eu só É surreal, sabe? A gente trabalha junto há anos e de repente você é a namorada de um empresário rico. É como se você tivesse ganhado na loteria.
Clondeu porque como explicar que não se sentia sortuda, que se sentia como uma fraude, uma impostora, alguém vivendo uma mentira que a qualquer momento poderia explodir. Às 16:45, Cruz estava trocando de roupa no vestiário quando seu celular vibrou. Uma mensagem de um número desconhecido que ela agora reconhecia como sendo de Roberto. Estou te esperando na entrada de funcionários. Sem pressa.
Clou para si mesma no espelho embaçado do vestiário. Jeans desbotado, camiseta branca simples, tênis velho, cabelo preso num rabo de cavalo desalinhado. Nenhuma maquiagem. Era assim que ela era. Era assim que sempre seria. E Roberto, um homem de ternos sob medida e relógios que provavelmente custavam mais que um carro, estava lá fora esperando por ela.
Ela pegou a bolsa surrada, respirou fundo e saiu. Roberto estava apoiado na parede ao lado da porta de funcionários, mexendo no celular. Havia trocado o terno formal por algo mais casual. Calça jeans escura, camisa cinza com as mangas dobradas até os cotovelos, sapatos de couro marrom. Ainda assim, parecia saído de uma revista. Ainda assim, parecia pertencer a outro universo.
Quando a viu, ele guardou o celular e sorriu. Como foi o resto do dia? Sobrevivi disse Clusa, tentando suar leve. Fofocas, olhares, perguntas invasivas. O de sempre. Desculpa. Roberto pareceu genuinamente arrependido. Eu trouxe isso para você. Clou ao redor. Havia pelo menos cinco funcionários fumando na área externa. todos com olhos grudados neles.
A encenação tinha plateia. “Vamos sair daqui”, murmurou ela. “Por favor.” Roberto assentiu e eles caminharam juntos até o estacionamento. Ele parou ao lado de um carro preto elegante. Clusa não entendia de marcas, mas sabia reconhecer caro quando via. “Posso te levar para casa?”, perguntou Roberto, destravando as portas. Clusa hesitou.
Deixar ele ver onde ela morava. O apartamento minúsculo em Guarulhos que ela dividia com duas colegas. A diferença entre os mundos deles ficaria ainda mais óbvia, mas ela havia estabelecido uma regra sem mentiras entre eles. Ok, disse ela, mas aviso que não é nada parecido com o que você deve estar acostumado. Cl. Roberto a olhou sério.
Eu cresci num apartamento de dois cômodos no tatu aapé. Minha mãe e eu dormíamos no mesmo quarto até eu ter 15 anos. Não tenho problema com apartamentos pequenos. Clou no carro. O interior cheirava a couro novo e algo amadeirado, o mesmo perfume de Roberto. Era limpo, organizado, com um carregador de celular e uma garrafa de água no porta-copos.
Endereço? Perguntou Roberto ligando o GPS. Cluitou e viu ele não fazer nenhuma expressão de julgamento quando o GPS calculou uma rota de 40 minutos até Guarulhos. O trajeto foi silencioso no início. Roberto dirigia com confiança, desviando do trânsito pesado da Paulista, pegando ruas alternativas que Clusa nem sabia que existiam.
“Você dirigindo parece meio perigoso”, comentou ela, tentando quebrar o silêncio. Roberto Riu. Aprendi a dirigir no interior de São Paulo quando tinha 16 anos, num Fusca 77 que minha mãe comprou de terceira mão. Dirijo há 26 anos. Confie em mim. Fusca. Sério? Sério? Roberto sorriu claramente nostálgico. Minha mãe economizou por três anos para comprar aquele carro. Era tudo que ela queria. Independência.
Não precisar mais depender de ônibus lotado às 5 da manhã. Quando finalmente comprou, ela chorou. Chorou dirigindo pela primeira vez. E eu, garoto de 13 anos, sentado no banco do passageiro, jurei que um dia daria a ela um carro melhor, um carro novo, zero km, com ar condicionado e tudo. E deu dei, quando tinha 28 anos depois que a construtora decolou, comprei para ela um Honda Civic Zero prata com todos os opcionais.
Ele parou num semáforo, os dedos tamborilando no volante. Ela usou por dois anos. Depois o câncer veio e ela nunca mais dirigiu. Clusa sentiu um nó na garganta. Você ainda tem o carro? Tenho. Está na garagem do meu prédio. Não consigo me desfazer dele. O semáforo abriu. Eles seguiram em silêncio novamente, mas era um silêncio diferente, agora, mais confortável, como se compartilhar aquela memória tivesse criado uma ponte entre eles.
“Minha mãe está na Bahia”, disse Clusa de repente, no interior. “Ela tem 62 anos. trabalhou a vida inteira na roça, na casa de família dos outros. Se eu vim para São Paulo há 8 anos, prometi que ia mandar buscar ela, que a gente ia ter uma casa melhor, que ela não ia precisar mais trabalhar. Mas 8 anos depois, ela olhou pela janela, vendo a cidade passar embaçada. Ela ainda está lá.
Eu ainda mando R$ 400 por mês. E ela ainda trabalha. R$ 400 faz diferença. Disse Roberto gentilmente. E você está aqui lutando? Isso conta, mas não é suficiente. É, Clou-se para ele. Nunca é suficiente. Quando você é pobre, você trabalha, trabalha, trabalha e mesmo assim fica no mesmo lugar, como se estivesse correndo numa esteira.
Sabe? Movimento sem progresso. Roberto não respondeu imediatamente. Quando o fez, sua voz era baixa, carregada de entendimento. Eu sei. Eu lembro. A sensação de que, não importa o quanto você se esforce, o sistema está programado para você não vencer. Eu tive sorte. Bolsa de estudos, professores que acreditaram em mim, a USP.
Eu tive oportunidades que muitos não têm e mesmo assim quase não consegui porque o jogo é injusto. Sempre foi. Eles estavam saindo da zona central de São Paulo agora, entrando em Guarulhos. As ruas ficavam mais estreitas, os prédios mais velhos, as calçadas mais rachadas. O carro de Roberto se destacava como uma joia num monte de cascalho. É ali.
Cl apontou para um prédio de cinco andares. Pintura descascada, grades nas janelas. Apartamento 304. Roberto estacionou em frente, desligou o motor, olhou para o prédio, então para Clusa. “Obrigado”, disse ele. Clusa piscou. “Por quê? Por me deixar entrar na sua vida.
Por confiar em mim, mesmo depois de tudo, por ser honesta, Cltiu algo estranho no peito, algo quente, desconfortável, assustador. “A gente se fala”, disse ela rapidamente, abrindo a porta. “Qualquer coisa me manda mensagem. Clusa.” A voz de Roberto a deteve. Ela olhou para trás. “Amanhã posso te buscar de novo?” Ela deveria ter dito não. Deveria ter estabelecido limites. Deveria ter lembrado que aquilo tudo era fingimento.
Mas o que saiu de sua boca foi: “Pode.” E quando ela entrou no prédio, subindo as escadas quebradas até o terceiro andar, ela se pegou sorrindo, o que era perigoso, muito perigoso. Três semanas. Três semanas desde a acusação, desde Roberto aparecer em sua vida como um furacão elegante e transformar tudo.
Três semanas de mensagens diárias de Roberto buscá-la no trabalho, de cafés na padaria, jantares em restaurantes onde Clusa tinha que pesquisar no Google como segurar os talheres corretamente. Três semanas de fingimento que começava a não parecer mais tão falso assim. Clusa estava ajeitando os travesseiros de um quarto no 10º andar quando seu celular vibrou. Uma mensagem de Roberto.
Estou pensando em você. É estranho como você ocupa meus pensamentos sem pedir licença. Ela releu a mensagem três vezes, o coração acelerando. Aquilo não era parte do acordo. Aquilo era real demais. Digitou e apagou cinco respostas diferentes antes de simplesmente mandar. Também estou pensando em você. E era verdade.
Clusa se pegava pensando nele nos momentos mais aleatórios, quando acordava de manhã, quando lavava louça, quando via um homem de terno na rua. Roberto havia se infiltrado em seus pensamentos como água em rachaduras, devagar, constante e inevitável. Clusa. Maria apareceu na porta sem fôlego. Você não vai acreditar. O que foi? Instagram.
Alguém postou uma foto sua e do Roberto no restaurante semana passada e está viralizando. O sangue de Clusa congelou. O quê? Maria enfiou o celular na cara dela. Era uma foto granulada, claramente tirada de longe, mas inconfundível. Clusa e Roberto na mesa daquele restaurante italiano caro, ele dizendo algo que a fez rir, a mão dele sobre a dela na mesa.
A legenda dizia: “E empresário Roberto Almeida, jantando romanticamente com suposta namorada. Quem é ela? Alguém sabe? Já tinha 30.000 curtidas e os comentários. Ela trabalha como camareira no Hotel Imperial. Deve estar atrás do dinheiro dele. Óbvio, ele pode ter qualquer mulher e escolhe essa. Aposto que está grávida e ele é obrigado a ficar com ela. Ela é bonita, mas claramente é interesseira.
Clu náuseia subir. Eu preciso, preciso ligar para ele. Ela saiu do quarto ignorando os protestos de Maria e ligou para Roberto com mãos trêmulas. Ele atendeu no segundo toque. Cla, tudo bem? Tem uma foto nossa no Instagram. está viralizando as pessoas estão, Sua voz falhou, estão dizendo coisas horríveis. Silêncio do outro lado. Então, onde você está? No hotel trabalhando.
Espera por mim. Chego em 20 minutos. Roberto, você não precisa. 20 minutos. Clusa, não sai daí. Ele desligou. Clusa ficou parada no corredor vazio, o celular ainda na mão, sentindo o mundo desmoronar novamente. Isso era o que ela temia: exposição, o julgamento público. E o pior, ele não era nem real.
Todo aquele ódio, toda aquela especulação eram sobre um relacionamento que nem mesmo existia de verdade ou existia. Roberto chegou em 15 minutos, não 20. Clusa estava esperando na porta de funcionários quando o viu atravessar o estacionamento em passadas largas, mandíbula tensa, olhos determinados. “Me mostra”, foi tudo que ele disse.
Clusa mostrou o post, viu a mandíbula dele apertar ainda mais conforme lia os comentários. “Desculpa”, disse ela baixinho. “Eu devia ter sido mais cuidadosa. Não devíamos ter ido a lugares tão público para Roberto”. Levantou os olhos do celular. “Não é sua culpa.” E não vamos nos esconder como se estivéssemos fazendo algo errado.
Mas as pessoas estão dizendo, pessoas na internet sempre dizem coisas horríveis. É mais fácil julgar, especular, inventar histórias do que aceitar que às vezes as coisas simplesmente acontecem. Ele segurou o rosto dela com as duas mãos, forçando-a a olhar nos olhos dele. Você está com medo? Estou.
De quê? Do que vão pensar? Disso, de você? De mim? de Clusa sentiu lágrimas ameaçarem. Eu não sei mais o que é real, Roberto. A gente começou isso fingindo, mas agora eu eu não sei mais o que eu sinto e isso me assusta. Roberto respirou fundo por um longo momento. Ele só a olhou, os polegares acariciando as bochechas dela gentilmente. Também estou assustado, admitiu ele.
Porque eu acordo pensando em você. Porque eu sorrio quando vejo uma mensagem sua. Porque quando estou num negócio tedioso, fico contando os minutos para poder te ver. E não era assim que deveria ser. Era para ser fingimento. Era para ser fácil. Mas você, Class Santos, não é nada fácil. Você é complicada e teimosa e linda e forte. E eu estou me apaixonando por você mesmo, sabendo que provavelmente não deveria.
O coração de Clusa parou, depois disparou. O quê? Você ouviu, Roberto? sorriu um sorriso meio torto, meio assustado. “Eu estou me apaixonando por você. E se você quiser parar isso tudo agora, terminar esse acordo, eu vou entender. Mas se você quiser, se você quiser tentar para valer, eu quero isso também”.

Clusa não conseguia respirar, não conseguia pensar, só conseguia sentir o calor das mãos dele em seu rosto, o peso daquelas palavras, a impossibilidade e a inevitabilidade de tudo aquilo. Eu começou ela, mas não sabia como terminar. Então Roberto a beijou. Foi suave, hesitante, como se ele estivesse pedindo permissão, mesmo sem palavras.
E Clusa, que deveria ter recuado, que deveria ter sido sensata, se viu retribuindo. Suas mãos foram para o peito dele, sentindo o coração batendo acelerado por baixo do tecido da camisa. Quando se separaram, Cl. Isso. Murmurou ela. Real, completou Roberto. Isso foi real. E era pela primeira vez em três semanas, algo era completamente indiscutivelmente real.
Clusa abriu a boca para responder quando ouviu alguém limpando a garganta atrás deles. Viraram-se ao mesmo tempo. O Senr. Ferreira estava na porta com uma expressão que Clusa não conseguiu decifrar. Senr Almeida, Clusa. Ele olhou de um para o outro. Precisamos conversar agora. A sala do gerente parecia menor do que Clusa lembrava. Ou talvez fosse apenas a tensão que sugava o ar.
O senhor Ferreira sentou-se atrás da mesa de madeira escura, os dedos entrelaçados, a testa franzida. Roberto e Claneceram de pé, lado a lado. E Clusa percebeu que ele havia movido a mão até tocar levemente a dela, um gesto pequeno, mas que dizia: “Estou aqui, preciso ser direto”, começou o Sr. Ferreira, evitando olhar diretamente para a Clusa. A situação está ficando complicada. A foto de vocês viralizou.
Estamos recebendo ligações de jornalistas, perguntas nas redes sociais do hotel, hóspedes comentando, e isso está criando um desconforto. Desconforto? Repetiu Roberto. A voz perigosamente calma. Pode elaborar. O Sr. Ferreira finalmente olhou para ele. Senor Almeida, o senhor é investidor minoritário deste hotel e Clá funcionária.
Um relacionamento entre vocês, independente de como começou, cria um conflito de interesses. Há questões de aparência, de ética. Ética? Clusa sentiu raiva borbulhar. Onde estava a ética quando aquela mulher me acusou de roubo sem prova nenhuma? Quando você estava pronto para me revistar, me humilhar, talvez até me demitir, tudo sem investigação. O Senr. Ferreira teve a decência de parecer constrangido. Aquilo foi um erro, um mal entendido que foi corrigido.
Foi corrigido porque Roberto me defendeu. Clusa deu um passo à frente, os punhos cerrados. Se não fosse por ele, você teria me destruído sem pensar duas vezes. E agora vem falar de ética. Clusa. Roberto tocou seu braço suavemente. Não era para silenciá-la, mas para acalmá-la. Então voltou-se para o gerente. Onde exatamente você quer chegar com essa conversa? O senor Ferreira suspirou.
Estou sugerindo que talvez seja melhor para todos se Clusa se afastasse do hotel temporariamente até que as coisas se acalmem. Você está me demitindo? A voz de Clusa saiu estranhamente calma. Não, não é demissão, é uma licença remunerada. Você continuaria recebendo normalmente, mas não precisaria vir trabalhar e lidar com a pressão, os comentários.
Você quer me esconder? Cluziu porque está constrangido que uma camareira esteja namorando alguém importante, porque isso baixa o nível do seu hotel precioso. Não é isso? É exatamente isso. Roberto cortou e havia gelo em sua voz. Você não liga para o bem-estar de Clusa, liga para a imagem do hotel e está tentando disfarçar uma demissão de afastamento temporário. Senor Almeida, por favor, seja razoável.
Razoável? Roberto deu uma risada sem humor. Vou ser razoável, então. Clusa não vai a lugar nenhum. Ela vai continuar trabalhando normalmente, se é isso que ela quiser. E se você insistir nessa ideia ridícula de licença remunerada, eu mesmo arco com o salário dela enquanto processo este hotel por assédio moral. e discriminação de classe.
Tenho certeza que os mesmos jornalistas que estão ligando adorariam uma história sobre como o hotel Imperial trata seus funcionários. O silêncio foi absoluto. O Sr. Ferreira ficou pálido. Isso não é necessário. Então não necessitamos mais desta conversa. Roberto pegou a mão de Clusa, firme e quente. Vamos, querida.
Eles saíram da sala antes que o gerente pudesse responder. Caminharam pelo corredor de serviço, passaram pela área de descanso, onde outros funcionários rapidamente fingiram não estar olhando e só pararam quando chegaram ao estacionamento. Clentiu as pernas fraquejarem. Roberto assegurou pelos ombros.
“Respira”, disse ele baixinho. “Só respira. Eu quase fui demitida, mas não foi. Só porque você está aqui. Cl empurrou não com força, mas com frustração. Você entende? Sozinha eu não tenho poder nenhum. Sozinha eu sou descartável. E isso é é humilhante. Roberto não rebateu. Deixou que ela continuasse. Se anos. Seis anos naquele hotel.
Nunca cheguei atrasada, nunca reclamei, fiz tudo certo, mas no segundo que viro inconveniente, no segundo que minha presença causa desconforto, eles querem me tirar como se eu fosse móvel velho que estraga a decoração. “Eu sei”, disse Roberto quietamente. “Eu sei, Clusa, e você está certa. É injusto. É cruel. É o Brasil que temos, não o Brasil que merecemos.” Clusa sentiu lágrimas queimarem.
E agora? O que eu faço agora? Voltar lá? trabalhar, sabendo que todos estão me olhando, julgando, esperando eu cometer um erro para me jogar fora. Roberto a puxou para um abraço. E diferente daquela manhã, quando era estranhos, agora o abraço era familiar, seguro.
Cl afundou nele, deixando-se quebrar por um momento. “Você não precisa decidir agora”, murmurou Roberto contra o cabelo dela. “Você não precisa decidir hoje ou amanhã, mas Clusa.” Ele a afastou gentilmente para olhar em seus olhos. Se você quiser sair, se quiser tentar outra coisa, eu te apoio. Não financeiramente, porque sei que você não aceitaria, mas com contatos, referências, oportunidades.
Você não precisa ficar presa lá se não quiser. Clou as lágrimas com as costas da mão. Eu sempre quis ter meu próprio negócio confessou ela, voz rouca. Serviço de limpeza, mas não como os outros. algo diferente, onde as funcionárias sejam tratadas com dignidade, tenham salários justos, benefícios, onde trabalhar com limpeza não seja visto como serviço menor. Mas isso é só um sonho.
Eu não tenho capital inicial, não sei como abrir empresa. Não, eu sei, interrompeu Roberto. Eu sei como abrir empresa. Sei sobre CNPJ, contabilidade, contratos, legislação trabalhista. E posso te ensinar tudo isso. Não dar. Ensinar. A empresa seria sua. A decisão seria sua. Mas eu poderia te orientar. Clusa o encarou, procurando sinais de piedade ou condescendência. Não achou.
Só viu sinceridade. Por que você está fazendo isso? Perguntou ela. Por que está sendo tão bom comigo? Roberto sorriu. E era um sorriso triste, carregado de memórias. Porque ninguém foi bom com minha mãe, porque ela trabalhou a vida inteira sendo invisível, sendo descartável, sendo tratada como menos.
E quando ela precisou de ajuda, de apoio, de alguém que a visse como ser humano, não teve. Eu era jovem demais, não tinha recursos, não podia fazer nada. Ele tocou o rosto de Clusa suavemente. Mas agora eu posso. Agora eu tenho recursos, conexões, conhecimento.
E se eu posso ajudar você a construir a vida que sonha, por que eu não faria? Porque isso te coloca em risco? Disse Clusa. A foto viralizou. As pessoas estão falando e quanto mais você me apoia, mais elas vão falar. Sua reputação. Minha reputação pode ir para o inferno se for baseada em me afastar de você. Roberto disse isso com tanta convicção que Clusa quase acreditou.
Eu não construí tudo que tenho para ser covarde na hora que importa. Minha mãe me ensinou que caráter é o que você faz quando ninguém está olhando, mas também o que você faz quando todo mundo está. E todo mundo está olhando agora. Então que olhem. Clentiu algo se mover dentro dela.
Algo grande, assustador, inevitável. Eu acho”, começou ela, a voz tremendo. “Eu acho que estou me apaixonando por você também”. Roberto pareceu parar de respirar. “Sério? Sério? E isso me apavora porque a gente é de mundos diferentes. Porque isso começou com mentira? Porque eu não sei se vai dar certo, se as pessoas vão aceitar.
Roberto acalou com outro beijo, esse menos hesitante, mais urgente, mais desesperado, como se ele estivesse tentando comunicar tudo que palavras não podiam. Quando se separaram, ele encostou a testa na dela. “A gente vai descobrir”, disse ele, “ajuntos, um dia de cada vez”. “E se não der certo?” “Bem, pelo menos tentamos”. Clusa assentiu, incapaz de falar.
E ali, naquele estacionamento barato de um hotel na Paulista, com funcionários provavelmente olhando pelas janelas e o trânsito buzinando ao fundo, Clantouse acreditar, pela primeira vez em 8 anos em São Paulo, que talvez, só talvez, ela merecesse ser feliz, que talvez ela não fosse descartável, afinal, que talvez o amor pudesse ser real, mesmo quando começava com mentira.
Dois meses, dois meses desde aquele dia no estacionamento, desde o primeiro beijo real, desde decidiram que o fingimento havia se tornado verdade e Cluno mesmo tempo. Roberto era presente, intensamente presente. Eles jantavam juntos três vezes por semana.
Ele a levava para lugares que ela nunca imaginara ir, o MASP num domingo chuvoso, onde Clusa ficou paralisada diante de obras de arte que só conhecia por fotos. O mercado municipal para comer sanduíche de mortadela, onde Roberto confessou que vinha desde criança com a mãe a sala São Paulo para um concerto de música clássica que Clusa não entendia, mas sentiu na alma. Mas mais importante, ele a escutava.
ouvia sobre seus planos para o negócio próprio, fazia perguntas, dava sugestões sem jamais parecer condescendente. Aos poucos, o sonho abstrato de limpeza digna serviços começava a ganhar forma concreta. Clusa estava no apartamento dela numa quarta-feira à noite, revisando planilhas que Roberto havia ensinado a fazer quando seu celular tocou.
Não era Roberto, era um número de São Paulo que ela não conhecia. Alô, Clant. A voz era feminina, profissional, fria. Sim, meu nome é Patrícia Silveira. Sou repórter do jornal Estado de São Paulo. Estou fazendo uma matéria sobre Roberto Almeida e sua empresa. Gostaria de fazer algumas perguntas sobre seu relacionamento com ele. O sangue de Clusa congelou.
Eu não tenho nada a declarar. É verdade que vocês se conheceram quando você foi acusada de roubo no hotel Imperial e que ele mentiu chamando você de esposa para te defender? Como ela sabia disso? Eu não vou. Também soube que há investigações envolvendo a empresa de Roberto, desvio de verba em obras públicas, superfaturamento.
Você está ciente disso? O mundo parou. O quê? Então você não sabia. A repórter soou quase satisfeita. Uma última pergunta, Clusa. Você acha que Roberto está usando você para melhorar a imagem dele? Uma espécie de relações públicas humanizado, o empresário rico com namorada pobre. Clusa desligou o telefone com mãos trêmulas. Ligou para Roberto imediatamente. Tocou, tocou, tocou.
Caixa postal. Roberto, me liga. Urgente. Sua voz saiu fina, assustada. Uma repórter ligou falando de investigações de desvio de verba. Eu não entendi nada. Por favor, me liga. Ele não ligou. Na manhã seguinte, Clu porê. A manchete estava em todo lugar. Sites de notícias, redes sociais, até na TV que tocava na recepção do hotel.
Empresário Roberto Almeida, investigado por corrupção em obra pública, Clusa, leu a matéria completa no celular, o estômago revirando a cada parágrafo. Roberto Almeida, 42 anos, dono da Almeida em Construtora, está sendo investigado pelo Ministério Público e pela Polícia Federal por supostos crimes de corrupção e desvio de verba pública.
De acordo com fontes da investigação, Almeida teria superfaturado custos de materiais em obra de reforma do Hospital Estadual São José, desviando aproximadamente 2,3 milhões de recursos públicos. O empresário também teria falsificado notas fiscais e feito pagamentos a empresas fantasmas. Eduardo Maldonado, ex-sócio de Almeida, prestou depoimento à Polícia Federal, afirmando que Almeida era o responsável direto pelo esquema.
Clusa não conseguiu terminar de ler. O celular caiu no chão. Não, não podia ser verdade. Roberto não era assim. Ele falava sobre honestidade, sobre fazer o certo, sobre os valores que a mãe ensinou. Ele não podia. Seu celular vibrou uma enchurrada de mensagens. Maria, outros funcionários do hotel, até números desconhecidos, todos com a mesma pergunta. Você sabia? Não. Ela não sabia de nada.
Clusa pegou a bolsa e saiu do hotel sem avisar ninguém. Precisava ver Roberto. Precisava ouvi-lo explicar. Precisava Precisava de algo que fizesse sentido. O escritório da Almeida em Construtora ficava num prédio comercial elegante na Faria Lima. Clusa nunca havia ido lá. Roberto sempre vinha buscá-la.
sempre marcavam encontros fora do trabalho dele, mas agora ela precisava de respostas. A recepção estava caótica, repórteres tentando entrar, seguranças barrando, telefones tocando incessantemente. Cruza empurrou a porta, passou pelos repórteres que não a reconheceram e foi direto à recepcionista. “Preciso falar com Roberto Almeida.
” A recepcionista, uma moça jovem de olhos vermelhos como se tivesse chorado, olhou para ela sem compreender. Ele não está recebendo ninguém. Eu sou Clusa, a namorada dele pela primeira vez. Ela disse isso com propriedade, sem hesitação. Por favor. A recepcionista olhou para ela. Realmente olhou, reconhecendo da foto viral, e assentiu. Último andar. Sala presidencial. Clusa subiu no elevador com o coração aos pulos.
As portas se abriram num corredor amplo, paredes de vidro, vista panorâmica de São Paulo e no fim do corredor uma porta entreaberta. Ela entrou sem bater. Roberto estava sentado atrás de uma mesa enorme, a cabeça entre as mãos. Havia papéis espalhados por todo lado, um laptop aberto mostrando a matéria difamatória, dois copos de café entocados.
Ele levantou os olhos quando a ouviu entrar e Clu algo que nunca tinha visto antes. Medo. Clusa. Ele se levantou rapidamente. Você não deveria estar aqui. Os repórter é verdade. Ela cortou. Você desviou o dinheiro público? Não. A palavra saiu explosiva. Claro que não. Cl. Você conhece? Você sabe que eu nunca Eu sei o que você me contou.
Clusa sentiu lágrimas queimando. Mas eu não sei de verdade. Sei? A gente se conhece há dois meses. Dois meses, Roberto? E se E se tudo for mentira? E se você for realmente culpado? E eu olha para mim. Roberto veio em direção a ela, mas Clusa recuou. A expressão no rosto dele se quebrou. Por favor, olha para mim.
Clusa forçou-se ao olhar. Eduardo começou Roberto, a voz controlada, mas vibrando de raiva contida. Eduardo Maldonado era meu sócio há 5 anos. Eu confiava nele. Dividíamos decisões, contratos, responsabilidades. Dois meses atrás, descobri que ele estava desviando dinheiro da obra do hospital, superfaturando materiais, criando empresas fantasmas, poqueteando a diferença. Quando confrontei, sabe o que ele disse? Roberto deu uma risada amarga.
Ele disse que todo mundo fazia isso. Era o jeitinho brasileiro de fazer negócios e que eu era idiota de me importar. Que você fez? O que minha mãe teria me mandado fazer? Juntei todas as provas, todas as notas, todos os e-mails e denunciei pro Ministério Público, pra Polícia Federal, pra Controladoria. Entreguei tudo. Cltiu algo na garganta e agora ele está dizendo que foi você.
Ele conseguiu um advogado caro, advogado com conexões, e de alguma forma convenceu os investigadores de que eu era o responsável. Virou o jogo. Agora sou eu sendo investigado enquanto ele anda livre por aí. Mas você tem as provas? Tenho. Roberto bateu a mão na mesa. Tenho tudo. E-mails, notas, transferências, tudo em nome dele.
Mas o sistema é lento, Clusa. Lento e burocrático. E enquanto eles verificam, enquanto investigam, minha reputação está sendo destruída. Clientes cancelando contratos, bancos congelando crédito, funcionários pedindo demissão com medo de associação. Ele passou a mão pelo cabelo desesperado. Eu vou provar minha inocência. Eu sei que vou. Mas até lá, até lá você perde tudo.
Roberto não respondeu. Não precisava. Clusa sentiu as pernas bambas, sentou-se numa das cadeiras de couro diante da mesa. Por que você não me contou? Há dois meses isso estava acontecendo porque Roberto sentou-se na beirada da mesa na frente dela porque tinha acabado de te conhecer e você já estava lidando com tanta coisa.
O escândalo da acusação, as fofocas no hotel, as pessoas nos julgando. Eu não queria adicionar meus problemas aos seus. Eu pensei, pensei que conseguiria resolver sozinho antes de afetar você. Mas afeta. Clusa olhou para ele. A repórter que me ligou ontem insinuou que você está usando o nosso relacionamento para melhorar sua imagem, que eu sou relações públicas humanizado.
A expressão de Roberto ficou péria. Você acredita nisso? Clusa queria dizer não, queria ter certeza absoluta, mas a verdade era que não sabia. Não, realmente, dois meses, apenas dois meses. Como ter certeza de qualquer coisa? Eu não sei sussurrou ela. Eu não sei no que acreditar. O silêncio que seguiu foi doloroso.
Então vai, disse Roberto, a voz sem emoção. Agora vai embora. Eu entendo. Isso virou grande demais, perigoso demais. Sua reputação vai ser manchada junto com a minha. Você não merece isso. Clou, caminhou até a porta, segurou a maçaneta e não conseguiu girar. Porque enquanto estava ali com a mão na porta, prestes a sair, ela se lembrou.
Lembrou de Roberto defendendo-a no hotel. Lembrou dele pesquisando atrás do móvel até achar a pulseira. Lembrou de como ele falava da mãe com tanta dor e tanto amor. Lembrou de cada jantar, cada conversa, cada momento de honestidade brutal e lembrou do que ele havia dito: “Porque quando alguém está na tempestade, a gente não pergunta se a pessoa merece ajuda, só pega na mão dela e enfrenta tudo junto.
” Ela havia dito isso para ele e agora ele estava na tempestade. Clou a maçaneta, virou-se. “Eu não vou embora”, disse ela. Roberto levantou os olhos confuso. Clusa. Eu não vou embora. Ela caminhou até ele com determinação. Você estava lá quando eu estava afundando. Agora é minha vez. Nós vamos provar sua inocência juntos.
Você tem certeza? Porque as coisas vão piorar antes de melhorar. Os jornais, as redes sociais vão te destruir junto comigo. Deixa. Cl pegou a mão dele. Deixa que falem. Deixa que julguem. Eu sei quem você é e é isso que importa. Roberto a puxou para um abraço desesperado, enterrando o rosto no pescoço dela.
“Obrigado”, murmurou ele. “Obrigado por não desistir de mim. Nunca”, prometeu Clusa. “nunca vou desistir de você”. E ali, naquele escritório prestes a desmoronar, com o império de Roberto caindo aos pedaços ao redor deles, Clusa percebeu algo. Ela amava aquele homem completamente, irrevogavelmente, apesar de tudo. E amor verdadeiro não fugia quando as coisas ficavam difíceis.

Amor verdadeiro ficava e lutava. As semanas seguintes, foram um borrão de advogados, documentos, reuniões intermináveis e noites sem dormir. Clu licença não remunerada do hotel, não por pressão, mas porque não conseguia se concentrar em trocar lençóis quando Roberto estava lutando pela liberdade e pela reputação. Ela passava os dias no escritório dele, agora quase vazio.
Metade dos funcionários havia pedido demissão. Os que ficaram eram os leais, os que acreditavam nele. Clusa se tornou uma presença constante, trazendo marmitas quando Roberto esquecia de comer, organizando documentos que ele precisava revisar, simplesmente ficando ali quando a pressão ficava insuportável.
Uma tarde, duas semanas depois do escândalo estourar, Clão do escritório, cercada por pilhas de papéis quando Roberto entrou segurando o laptop. Encontrei”, disse ele, a voz tremendo de algo entre raiva e alívio. “Encontrei a prova definitiva!” Clusa se levantou num pulo. “O quê?” Roberto virou o laptop para ela.
Era uma troca de e-mails entre Eduardo Maldonado e alguém chamado Marcelo Santos. “Leia”, instruiu Roberto. Clube: “Marcelo, preciso que você crie mais duas empresas fantasmas. Documentação falsa igual das outras. Vou direcionar mais 300 cada obra do hospital.” Roberto não pode saber. Você conhece. Ele é honesto demais. Vai criar caso. A resposta: Eduardo, isso é perigoso. E se descobrirem? Não vão.
E se descobrirem? A gente joga no Roberto. Tudo está no nome da construtora dele também. Ele que lute para se defender. Clusa sentiu náusea. Ele planejou isso desde o início. Planejou te incriminar. Sim. Roberto fechou o laptop com força e eu tinha esse e-mail o tempo todo, mas estava em uma pasta antiga que meu advogado não tinha revisado.
Encontrei por acidente hoje quando estava procurando contratos do ano passado. Isso muda tudo. Class segurou os ombros dele. Isso prova que você não sabia de nada, que você foi a vítima. Meu advogado já está mandando para o Ministério Público. Roberto sorriu e era o primeiro sorriso genuíno que Clus havia em semanas. Vai demorar um pouco.
O processo legal é lento, mas isso vai me inocentar. Eu sei que vai. Clusa o puxou para um beijo desesperado, aliviado, cheio de esperança. Nós conseguimos murmurou ela contra os lábios dele. Nós conseguimos. Você conseguiu. Roberto a afastou para olhar nos olhos dela. Você ficou quando todo mundo foi embora. Quando teria sido tão fácil me abandonar. Você ficou.
Por quê? Porque eu te amo”, disse Clusa, e era a primeira vez que dizia essas palavras em voz alta. Eu te amo, Roberto Almeida, completamente. E quando você ama alguém de verdade, você não foge na primeira tempestade. Roberto não respondeu com palavras, apenas a beijou novamente, mais devagar, dessa vez, mais profundo, como se estivesse tentando memorizar cada segundo.
Dois meses depois, a verdade finalmente veio à tona. Eduardo Maldonado foi preso em flagrante, tentando deixar o país com documentos falsos. O Ministério Público concluiu a investigação e inocentou Roberto completamente de todas as acusações. Os jornais que haviam publicado as manchetes difamatórias foram obrigados a publicar retratações e direitos de resposta, mas o estrago já estava feito.
Clusa estava sentada com Roberto no apartamento dele, um lugar grande demais, vazio demais, com vista para a paulista que ela ainda achava surreal enquanto ele olhava para os números na tela do laptop. “Perdi metade dos contratos”, disse ele à voz neutra. “Três dos maiores clientes cancelaram mesmo depois da minha inocentação.
Disseram que não queriam associação com a imagem negativa. Vou ter que demitir mais 10 funcionários semana que vem. Fechar o escritório regional de Campinas.” Ele fechou o laptop. A construtora vai sobreviver, mas vai ser muito menor. Você vai reconstruir, disse Clusa com firmeza. Você é inteligente, honesto, trabalhador. Você vai reconstruir.
Roberto olhou para ela e havia algo vulnerável em seus olhos. Você sabe o que é engraçado? Passei os últimos 15 anos construindo tudo isso, o império, o sucesso, o reconhecimento. Pensei que era isso que definia quem eu era. Mas quando tudo desmoronou, quando perdi tudo, a única coisa que realmente importou foi você. Foi ter você ao meu lado. Clentiu lágrimas queimarem.
Roberto, eu amo você. Ele pegou as mãos dela. Amo tudo em você. Sua força, sua honestidade, sua lealdade, a forma como você nunca desistiu de mim quando teria sido tão fácil. Você é a melhor coisa que já me aconteceu, Clantos. E eu não quero mais esperar. Ele se levantou e foi até o quarto.
Quando voltou, estava segurando uma pequena caixa de veludo azul. Cl parou de respirar. Roberto, o que você? Ele se ajoelhou na frente dela, abriu a caixa. Não havia anel ali. Havia uma corrente de prata com um pingente em forma de chave. “Eu não estou te pedindo em casamento”, disse ele a voz trêmula. “Ainda não, porque sei que você precisa de tempo, de certeza.” Mas isso ele ergueu a corrente. “É uma promessa.
Uma promessa de que quero construir uma vida com você. uma promessa de que você tem a chave do meu coração. E quando você estiver pronta, quando tiver absoluta certeza, eu vou fazer a pergunta de verdade. Mas até lá, usa isso como símbolo de nós. Clorando abertamente agora. Sim, murmurou ela. Sim, eu uso. Roberto colocou a corrente nela com mãos trêmulas.
O pingente de chave brilhava contra o peito de Clusa, sobre o coração. “Te amo”, disse ele novamente. “Te amo mais do que pensei ser possível amar alguém. Também te amo.” Clusa puxou-o para um abraço. Te amo. Te amo. Te amo. E ali, naquele apartamento grande demais, com o império desmoronado, mas o amor intacto, Clantu algo fundamental.
O que realmente importava não era o tamanho do sucesso, o valor da conta bancária ou o status social. O que importava era ter alguém que ficasse na tempestade, alguém que a visse, realmente a visse, pelo que ela era, não pelo que ela tinha. E ela tinha isso em Roberto, como ele tinha nela. Três meses. Três meses desde a inocentação de Roberto, desde a corrente de prata, desde a promessa.
E a vida havia se estabilizado num novo normal, diferente do que era antes, mas não necessariamente pior. Clia o escritório da limpeza digna serviços. Era um espaço pequeno, alugado numa galeria comercial, não muito longe de Guarulhos. Não era Chique. Não era a Faria Lima, mas era dela.
Roberto havia ensinado sobre abertura de CNPJ, registro de empresa, emissão de notas fiscais, contratação pelo regime CLT. Eles passaram semanas estudando juntos à noite. Roberto pacientemente explicando conceitos que para ele eram óbvios, mas para Clusa era um idioma estrangeiro. E agora, 4 meses depois de pedir demissão do hotel imperial, Clusa era dona do próprio negócio.
Então, disse Mariana, a primeira funcionária que Clusa a contratara, uma mulher de 35 anos com três filhos. Você tem certeza que vai dar férias remuneradas? e 13º e plano de saúde. Tenho. Cl sorriu. Vocês vão trabalhar dignamente com direitos, respeito e salário justo. É isso que a empresa representa. Mariana olhou para as outras quatro mulheres sentadas ao redor da mesa, todas ex-diaristas, todas acostumadas a trabalhar sem carteira assinada, sem benefícios, sem segurança.
“A gente nunca teve isso antes”, disse ela suavemente. “Obrigada, Clusa. Não me agradeçam ainda. Cluiu os contratos impressos. Ainda temos muito trabalho pela frente, mas eu prometo, vocês nunca vão ser tratadas como descartáveis aqui, nunca. As mulheres assinaram os contratos com mãos trêmulas, algumas com lágrimas nos olhos. E Clusa sentiu algo quente no peito.
Propósito? Ela havia encontrado propósito. O telefone da empresa tocou. Clusa a atendeu ainda sem acreditar que aquele era o telefone dela, da empresa dela. Limpeza digna serviços Clusa falando. Clusa era Roberto. Tenho uma notícia. Boa ou ruim? Boa. Muito boa. Ela podia ouvir o sorriso na voz dele. Consegui um novo contrato grande. E vou precisar de serviços de limpeza para a obra.
Interessada? O coração de Clusa disparou. Você está falando sério? completamente. Não é caridade. Ele se apressou em acrescentar. É negócio. Você tem uma empresa séria, com funcionárias treinadas e eu preciso de um serviço confiável, mas só se você quiser. Sei que você não gosta de misturar nossa vida pessoal com profissional. Clusa pensou. Era um risco.
Trabalhar juntos poderia complicar as coisas, mas também era uma oportunidade. O primeiro grande contrato da empresa dela. Manda os detalhes disse ela. Finalmente. Vou fazer uma proposta formal. E aí você decide como empresário, não como namorado. Dill. Roberto Rio. Te amo. Você sabe disso, né? Também te amo. Clusa sorriu. Agora volta ao trabalho. Temos contratos para negociar.
Ela desligou e olhou para as cinco funcionárias que a observavam com expressões curiosas. “Meninas”, disse Clusa, sentindo energia pulsar. “Acho que acabamos de conseguir nosso primeiro grande cliente.” O grito de comemoração que ecoou no pequeno escritório foi tão alto que o vizinho do lado bateu na parede, mas Clusa não ligou. Pela primeira vez em 8 anos em São Paulo, ela não se sentia invisível.
Ela era dona do próprio destino e estava apenas começando seis meses. Seis meses desde aquela manhã de segunda-feira, quando tudo começou, quando Cl, quando Roberto apareceu como um furacão elegante e mudou tudo. Cl imperial, olhando para o prédio com uma mistura de emoções que ela não sabia nomear.
Roberto estava ao seu lado, segurando sua mão. “Você não precisa fazer isso”, disse ele suavemente. “Você não deve nada para eles.” “Eu sei.” Clusa apertou a mão dele, “mas preciso fazer isso por mim.” Eles entraram juntos. O saguão estava exatamente como Clusa lembrava. Mármore brilhante, lustres de cristal, o cheiro de perfume caro e amaciante de roupa de hotel.
Mas agora ela não se sentia pequena ali, não se sentia invisível. O Sr. Ferreira os viu e veio em direção a eles a expressão indecifrável. Senor Almeida, Clusa. Ele assentiu para ambos. Não esperava vê-los aqui. Tenho uma proposta, disse Roberto à voz profissional. Como você sabe, recentemente comprei a participação majoritária do hotel.
Agora sou o principal investidor. O Senr. Ferreira empalideceu levemente. Clusa não sabia disso. Olhou para Roberto surpresa, mas ele continuou. E quero fazer algumas mudanças. Salários melhores para os funcionários, acima do piso da categoria, plano de saúde completo, vale alimentação adequado, treinamento profissional e, principalmente, ele olhou diretamente para o gerente. Respeito.
Os funcionários deste hotel merecem ser tratados com dignidade, não como servos descartáveis. Eu eu sempre tratei os funcionários com respeito, começou o senor Ferreira. Tratou? Clalmente falou. Sua voz calma, mas firme. Você estava pronto para me revistar, me humilhar, talvez até me demitir, tudo sem investigação adequada, apenas porque alguém rica me acusou. Isso é respeito? O Sr.
Ferreira abriu a boca. Fechou. Não tinha resposta. Roberto continuou. As mudanças começam segunda-feira. Vou contratar uma consultoria de RH para revisar todas as políticas de trabalho. E você, Sr. Ferreira, vai passar por um treinamento sobre liderança empática e dignidade no local de trabalho. Se não concordar com as novas diretrizes, está livre para buscar outras oportunidades.
Foi um golpe, mestre. Clusa quase sorriu. Roberto não estava humilhando o gerente. Estava dando a ele uma escolha: evoluir ou sair. Eu entendo, senhor. O senor Ferreira engoliu em seco e agradeço pela oportunidade de melhorar. Ótimo. Roberto assentiu. Clusa tem algo a dizer também. Clusa respirou fundo. Era sua vez.
Eu vim aqui devolver isso. Ela tirou do bolso o crachá de funcionária que nunca havia retornado oficialmente. E para dizer obrigada, apesar de tudo que aconteceu, trabalhar aqui me ensinou muito. Me ensinou a valorizar dignidade. Me ensinou que eu merecia mais.
Me ensinou que não preciso aceitar ser tratada como menos só, porque minha profissão é vista como inferior. Ela colocou o crachá na mão do Sr. Ferreira. E agora? Continuou Clusa. Sou dona da minha própria empresa. Limpeza digna serviços. Se o hotel precisar de serviços externos de limpeza, ficamos felizes em fazer uma proposta. Mas como parceiros comerciais, não como funcionários subordinados que aceitam qualquer coisa. Havia poder naquelas palavras.
Poder que Clusa nunca soube que tinha. O Sr. Ferreira olhou para o crachá na mão, depois para Clusa, depois para Roberto. Eu peço desculpas. As palavras saíram difíceis, forçadas, mas genuínas pelo que aconteceu, pela forma como você foi tratada. Você não merecia aquilo. Não concordou Clusa. Eu não merecia, mas me fez mais forte. Então, de certa forma, obrigada.
Ela virou-se para sair, mas parou ao ver Maria e outros funcionários observando de longe. Clé eles. “Vocês merecem melhores condições”, disse ela autossuficiente para outros ouvirem. Vocês merecem respeito. Não aceitem menos do que isso. Nunca. Maria a puxou para um abraço apertado. Você conseguiu sair, sussurrou ela. Você realmente conseguiu.
Você também pode. Clusa se afastou para olhar nos olhos dela. Qualquer um pode. Só precisa acreditar que merece mais. Quando Clusa e Roberto saíram do hotel indo em direção ao carro, ela sentiu algo se soltar no peito. Era como se um capítulo tivesse finalmente terminado. “Um capítulo doloroso, mas necessário.
Você estava incrível lá dentro”, disse Roberto, abrindo a porta do carro para ela. “Eu estava apavorada”, admitiu Clusa. “Mas você estava certo. Era algo que eu precisava fazer, encerrar aquele ciclo nos meus termos.” Roberto a beijou suave e rápido antes de entrar no carro também. Para onde agora? Clusa pensou e então sorriu.
Lembra quando você me levou ao e eu disse que nunca tinha imaginado que poderia estar lá? Lembro. Quero voltar. Mas não como alguém que está sendo levada, como alguém que escolhe estar lá, como alguém que pertence a qualquer lugar que queira estar. Roberto sorriu aquele sorriso que sempre fazia o coração de Clusa acelerar. Então vamos.
E eles foram, mas dessa vez era diferente. Dessa vez Clusa não estava sendo apresentada a um mundo novo. Ela estava reivindicando seu direito de estar ali porque ela havia aprendido a lição mais importante. Dignidade não é algo que te dão, é algo que você reclama e nunca mais deixa te tirarem.
Uma semana depois da visita ao hotel, Clamento de Roberto preparando café quando seu celular tocou. Era um número com o DDD de Bahia. Seu coração pulou. Mãe, Clusa, minha filha. A voz de dona Teresa veio do outro lado, carregada e preocupada. Vi as coisas que estão falando de você na internet. Esse homem rico, as fotos, minha filha, o que está acontecendo? Clusa fechou os olhos.
Ela havia ligado para a mãe algumas vezes nos últimos meses, mas sempre omitindo detalhes, dizendo apenas que estava conhecendo alguém. Mas em cidades pequenas, especialmente no interior, fofocas viajavam rápido e aparentemente alguém havia mostrado as matérias para sua mãe. Mãe, eu posso explicar? Você está se vendendo por dinheiro.
A voz de dona Teresa estava mais triste que zangada. Minha filha, eu não te criei para mãe. Clompeu, respirando fundo. Não é assim, Roberto. Não é, não é o que você está pensando. Ele é Ele é bom. Ele me ama de verdade e eu amo ele. Silêncio do outro lado. Então, como eu posso saber disso? Como eu sei que ele não está só brincando com você? Homens ricos não ficam com meninas como nós, Clusa.
Não para sempre. E quando ele cansar, você vai ficar com o coração partido e a reputação manchada. As palavras doeram porque Clusa já havia pensado nisso inúmeras vezes, especialmente nas noites em que não conseguia dormir, quando o medo sussurrava que talvez sua mãe estivesse certa.
Então vem conhecer ele, mãe. As palavras saíram antes que Clusa pudesse pensar. Vem para São Paulo. Fica na minha casa, conhece Roberto e aí você julga. Clusa. Por favor, mãe, eu preciso que você veja. Eu preciso que você entenda que isso é real. Mais silêncio. E então, surpresa. Tá bom, vou. Duas semanas depois, Cler Congonhas, nervosa como nunca esteve.
Roberto estava ao seu lado, também visivelmente tenso. “E se ela me odiar?”, perguntou ele pela terceira vez. “Ela não vai te odiar.” Clusa apertou a mão dele, tentando convencer a si mesma também. Só seja você mesmo, honesto, respeitoso. Ela vai ver. E se ela achar que estou te usando, aí eu vou ter que convencer os dois de que estão errados. Clusa forçou um sorriso.
Quando dona Teresa apareceu no saguão de desembarque, Clusa quase não a reconheceu. Haviam passado dois anos desde que se viram pessoalmente. Sua mãe parecia mais velha, mais cansada, os cabelos grisalhos mais abundantes, as mãos mais calejadas. Mãe! Clusa correu e a abraçou, sentindo cheiro de ervas e sabão de coco, o cheiro de casa.
Dona Teresa a abraçou de volta, apertado, como se estivesse verificando se a filha era real. “Deixa eu te olhar.” Ela afastou Clusa pelos ombros, examinando. “Você está diferente, mais brilhante.” Clusa riu emocionada. É o amor, mãe, faz a gente brilhar. Dona Teresa olhou por cima do ombro de Clusa.
Roberto estava a alguns metros, respeitando o momento, mas claramente nervoso. “Esse é ele?”, perguntou dona Teresa. “Esse é ele.” Clusa acenou para Roberto se aproximar. “Mãe, esse é Roberto Almeida? Roberto, essa é minha mãe, dona Teresa.” Roberto estendeu a mão, mas dona Teresa a ignorou, o encarando dos pés a cabeça com olhos críticos de mãe que já viu muito da vida. Senhor empresário”, disse ela finalmente. “Minha filha diz que você é homem bom.
Vamos ver se é verdade. Roberto engoliu em seco, mas assentiu respeitosamente. Espero provar que sou dona Teresa. Os três dias seguintes foram os mais estranhos e maravilhosos da vida de Clusa. Dona Teresa ficou no apartamento que Clusa dividia com as colegas em Guarulhos, mas Roberto insistiu em pagar por um hotel melhor. Dona Teresa recusou, dizendo que não precisava de luxo, só de verdade.
Roberto levou as duas para jantar em restaurantes que não eram caríssimos nem muito populares, lugares do meio, onde dona Teresa não se sentiria desconfortável, mas também não acharia ofensivamente simples demais. No segundo dia, dona Teresa pediu para conhecer o escritório da limpeza digna. Clusa a levou, mostrando tudo com orgulho, os contratos, as funcionárias, o planejamento financeiro.
Dona Teresa olhou tudo em silêncio, então perguntou: “Quem ensinou você a fazer tudo isso?” “Roberto”, respondeu Clonestamente. Ele me ensinou sobre empresa, impostos, contratação. Me orientou sem pedir nada em troca, sem pedir nada. Dona Teresa olhou para a filha por um longo momento. “Você ama ele de verdade?” “De verdade? mãe do fundo do coração.
E ele te trata bem, te respeita? Mais do que qualquer pessoa já me respeitou. Dona Teresa assentiu lentamente. Então talvez eu estivesse errada. No último dia, Roberto convidou as duas para jantar no apartamento dele. Ele mesmo cozinhou. Nada sofisticado, apenas macarrão com molho e salada, mas feito com cuidado. Após o jantar, Roberto pediu licença e voltou com uma caixa velha de papelão amassado.
“Dona Teresa”, começou ele e a voz embargada. “Eu queria te mostrar algo.” Ele abriu a caixa. Dentro havia fotos antigas, recortes de jornal amarelados, um caderno desgastado. “Esa minha mãe.” Roberto mostrou uma foto de uma mulher negra, sorriso largo, olhos cansados. mais gentis. Dona Conceição, ela trabalhou a vida inteira como diarista, como faxineira, como empregada doméstica.
Criou-me sozinha depois que meu pai foi embora. E ela, tá sua voz falhou. Ela me ensinou que o valor de uma pessoa não está no que ela tem, mas em como ela trata os outros. Dona Teresa pegou a foto, olhando com atenção. Ela era bonita. Era e forte e digna. Roberto limpou os olhos rapidamente. Quando conheci Clusa, quando vi ela sendo humilhada naquele hotel, vi minha mãe.
Vi todas as vezes que ela foi tratada como menos, como invisível, como descartável e não pude deixar acontecer de novo. Ele olhou diretamente para dona Teresa. Eu não estou com sua filha porque tenho pena dela ou porque quero me sentir bom.
Estou com ela porque ela me faz querer ser melhor, porque ela é a pessoa mais forte e honesta que já conheci. Porque quando meu mundo desmoronou, quando todo mundo me abandonou, ela ficou e eu vou passar o resto da minha vida tentando ser merecedor dessa lealdade. Clorando abertamente agora. Dona Teresa também tinha lágrimas nos olhos. “Cá, sua mãe ficaria orgulhosa de você”, disse dona Teresa suavemente. “Eu eu acho que posso confiar você com minha filha”.
Roberto soltou um suspiro de alívio tão profundo que Clu entre as lágrimas. Obrigado, dona Teresa. Isso significa tudo para mim. Naquela noite, quando levaram dona Teresa de volta para Guarulhos, a mãe de Clusa a puxou para um abraço na porta. “Você escolheu bem, minha filha”, sussurrou ela.
Ele é bom, de verdade, bom. Não deixe ele escapar. Não vou, mãe, prometo. E quando Clusa voltou para o carro onde Roberto esperava, quando ele perguntou com olhos ansiosos: “Como foi?” Ela simplesmente sorriu e disse: “Ela te ama quase tanto quanto eu”. O sorriso que iluminou o rosto de Roberto poderia ter acendido São Paulo inteira. 7 meses.
Sete meses desde aquele começo caótico, desde a acusação, desde a mentira que virou verdade. E agora Clusa estava numa encruzilhada que nunca imaginou enfrentar. Era uma quinta-feira à noite. Clório da limpeza digna, revisando contratos quando seu celular tocou. Número privado. Alô, Clusa Santos. Voz masculina desconhecida. Sim, meu nome é Fernando Guzmão.
Sou gerente de uma rede de hotéis aqui de São Paulo. Soube do seu trabalho através do Hotel Imperial. As mudanças que o senhor Almeida implementou lá estão gerando muitos comentários positivos e estamos interessados em contratar sua empresa para a limpeza de cinco hotéis da nossa rede. Clusa quase derrubou o telefone.
Cinco hotéis? Sim, seria um contrato grande. Precisaríamos expandir sua equipe significativamente, mas estamos dispostos a dar tempo para isso. Interessada? Eu? Sim. Sim. Muito interessada. Ótimo. Mando os detalhes por e-mail amanhã. Ah, e clusa, o homem fez uma pausa. É inspirador ver alguém construindo algo com dignidade e respeito.
Precisamos de mais empresas assim. Quando ele desligou, Clouada por 5 minutos inteiros processando. Cinco hotéis. Era enorme. Era mais do que ela jamais sonhara. Era assustador. Ela ligou para Roberto imediatamente. Uma hora depois, estavam sentados no apartamento dele e uma garrafa de vinho aberta que Clinda mal tocara, nervosa demais para beber.
É uma oportunidade incrível, disse Roberto, animado por ela. Cinco hotéis, exclusa, você vai precisar contratar pelo menos mais 15 funcionárias. Vai ter que alugar um escritório maior, talvez comprar equipamentos profissionais. Mas você consegue. Eu sei que consegue. E se eu não conseguir? A voz de Clusa saiu pequena.
E se eu aceitar e estragar tudo? E se não der conta? E se E se der certo? Roberto a interrompeu gentilmente. E se você for incrível? Como eu sei que você é? E se isso for apenas o começo de algo ainda maior? Clou caminhando até a janela. Lá embaixo, São Paulo pulsava. Carros, luzes, pessoas. o caos constante da cidade que nunca dormia. “Eu tenho medo”, confessou ela.
“Medo de falhar, medo de não ser boa o suficiente, medo de que tudo que construí desmorone porque eu quis demais, rápido demais”. Roberto veio por trás dela, colocando as mãos em seus ombros. Medo é normal. Medo é humano. Eu estava apavorado quando abri minha empresa.
Cada novo contrato, cada decisão grande sempre veio com medo. Mas sabe o que eu aprendi? Ele a girou suavemente para olhar nos olhos dela. Que medo significa que você se importa? E pessoas que se importam de verdade não falham. Elas podem tropeçar, cometer erros, mas não desistem. E se eu precisar de ajuda? Perguntou Clusa. Não dinheiro. Você sabe que eu nunca aceitaria, mas conselhos, orientação.
Sempre. Roberto sorriu sempre, Clusa. Eu vou estar aqui como parceiro, como namorado, como amigo, do jeito que você precisar. Clusa respirou fundo, olhou para a corrente de prata no pescoço, o pingente em forma de chave e tomou a decisão. Vou aceitar. Vou aceitar e vou dar tudo de mim para fazer funcionar. Roberto a puxou para um abraço apertado.
Esse é meu amor. Destemida, forte, incrível. Eles ficaram assim por um longo momento, apenas abraçados, sentindo a respiração um do outro, o conforto da presença. E então Roberto se afastou com uma expressão estranha no rosto. Cla, tem outra coisa, algo que eu preciso te contar. O estômago dela afundou.
O quê? Roberto foi até a mesa e pegou uma pasta. Entregou para ela. Abra com mãos trêmulas. Clusa, abriu. Dentro havia documentos, contratos, plantas arquitetônicas. É um projeto novo! Explicou Roberto. Um conjunto residencial, 40 apartamentos. E não é em São Paulo, é na Bahia, no interior, perto de onde sua mãe mora.” Clusa olhou para ele sem entender por você está me mostrando isso? Porque Roberto respirou fundo. Eu estou pensando em expandir para lá, abrir um escritório regional.
E se eu fizer isso, eu vou precisar passar metade do tempo lá, pelo menos nos primeiros seis meses até a obra decolar. Clentiu como se o chão tivesse sumido. Você vai embora? Não, não permanentemente. Roberto segurou as mãos dela. Seria vai e vem. Duas semanas lá, duas aqui. Mas Clusa Felizou.
Eu queria saber se você se você consideraria ir comigo, não para sempre, mas às vezes ver sua mãe estar perto das suas raízes e ele sorriu nervoso. E talvez, quem sabe, a gente poderia pensar em construir algo lá, não só profissionalmente, mas uma vida eventualmente. CLA processou as palavras lentamente.
Você está falando em nos mudarmos juntos para a Baia? Não imediatamente e não permanentemente. Roberto se apressou, mas sim eventualmente quando você estiver pronta. Se você quiser. Eu sei que é muito, eu sei que estou pedindo muito, mas Clou com um beijo profundo, desesperado, cheio de amor e medo e esperança. Tudo misturado. Sim, disse ela quando se separaram. Sim, para tudo.
Para a Baahia, para construir uma vida juntos, para para tudo. Roberto a olhou como se não acreditasse no que ouvia. Sério? Sério? Clu entre lágrimas. S meses atrás, eu era uma camareira sendo acusada de roubo, achando que minha vida havia acabado. E agora? Agora eu tenho minha própria empresa. Tenho você. Tenho possibilidades que nunca imaginei. E tudo porque você apareceu e disse: “Ela é minha esposa quando nem me conhecia”.
Melhor decisão que já tomei”, murmurou Roberto. “Segunda melhor”, corrigiu Clusa. “A primeira foi me conhecer de verdade e escolher ficar. Sempre vou ficar.” Roberto encostou a testa na dela. “Se sempre cruza. Não importa o que aconteça, eu fico. Eu também.” Ela fechou os olhos, sentindo a presença dele, a solidez, a certeza.
Eu também fico. E naquele apartamento com vista para a Paulista, naquela cidade que era ao mesmo tempo implacável e cheia de possibilidades, dois corações escolheram um ao outro mais uma vez, não porque era fácil, mas porque era real. E às vezes o real é a única coisa que importa. Mes meses desde aquela segunda-feira.
que mudou tudo e Clestes a enfrentar o momento mais importante de sua vida. O evento era grande, inauguração de um shopping center que a construtora de Roberto havia ajudado a erguer. Empresários, políticos, jornalistas, o tipo de evento que Clostumava apenas ver na TV, jamais imaginar estar presente. Mas ela estava não como acompanhante invisível, mas como Roberto Almeida a apresentava.
Minha namorada Clusa Santos, empresária e dona da limpeza digna serviços. O título ainda soava estranho nos ouvidos dela. Empresária. Ela que o ito meses atrás trocava lençóis no hotel imperial. Cl vestido azul marinho que Roberto insistira em comprar. Uma das poucas coisas que ela aceitara dele. E apenas porque ele argumentou que era investimento profissional.
O tecido era leve, o corte elegante, mas não exagerado. Ela se sentia bonita, poderosa, até nervosa. Roberto sussurrou ao lado dela enquanto caminhavam pelo salão. Apavorada, admitiu Clusa. Metade das pessoas aqui provavelmente me reconhece daquela foto viral e a outra metade está se perguntando o que uma favelada está fazendo num evento desses. Primeiro, você não é de favela.
Segundo, mesmo se fosse, qual é o problema? E terceiro, ele parou e a girou para olhá-lo. Você pertence a qualquer lugar que queira estar, lembra? Clou fundo. Lembro. Ótimo. Agora vem. Tem alguém que eu quero que você conheça. Roberto aguiou até um grupo de homens e mulheres de meia idade, todos vestidos caríssimos, todos exalando poder e dinheiro.
Clonheceu alguns dos rostos da TV. Pessoal”, disse Roberto com confiança, “quero apresentar Clusa Santos, minha namorada e dona da limpeza digna serviços. Os olhares que Clusa recebeu foram variados, alguns curiosos, alguns críticos, alguns os piores, de pena. Como se ela fosse projeto de caridade de Roberto.
Uma mulher loira de uns 50 anos, vestido vermelho justo, sorriu de um jeito que não alcançou os olhos. Que interessante! Uma empresa de limpeza, você disse. O tom era condescendente. Clusa conhecia aquele tom. Era o mesmo da senora Monteiro naquele dia no hotel. Sim, respondeu Clant voz firme. Serviços de limpeza profissional especializados em hotéis, escritórios corporativos e obras. Diferencial competitivo. Funcionárias com salários acima do mercado.
Todos os benefícios previstos em lei mais plano de saúde e treinamento contínuo. Acreditamos que trabalhadores dignificados entregam serviços melhores. A mulher piscou claramente, não esperando uma resposta tão estruturada. Ah, que nobre da sua parte. Não é nobreza, disse Clusa, sentindo algo esquentar no peito. É essência básica e bom negócio. Rotatividade baixa significa custos menores a longo prazo.
Funcionários satisfeitos significam qualidade consistente. Não é caridade, é inteligência comercial. Um dos homens do grupo Cabelos Grisalhos, terno cinza perfeito, Rio, genuinamente impressionado. Ela tem razão. Rodrigo Silva. Prazer. Ele estendeu a mão para Clusa, dono de uma rede de academias e estou sempre procurando serviços de limpeza confiáveis. Você tem cartão? Cl.
Roberto havia insistido que ela fizesse e carregasse sempre. Com mãos que não tremiam tanto quanto ela esperava, entregou o cartão. “Vou entrar em contato”, prometeu Rodrigo. “Gosto de empresários que pensam a longo prazo.” A conversa fluiu e, para surpresa de Clusa, ela se manteve.
respondeu perguntas, explicou o modelo de negócio, até fez rir com uma piada sobre como a maioria das empresas trata limpeza como despesa, não como investimento. Quando o grupo se dispersou, Roberto a puxou para um canto mais quieto. “Você foi perfeita”, disse ele, os olhos brilhando de orgulho. “Absolutamente perfeita. Eu não sabia que conseguiria”, confessou Clusa, ainda tremendo de adrenalina.
Mas quando aquela mulher me olhou com aquela expressão, algo dentro de mim se recusou a encolher. Eu não sou mais a camareira assustada, Roberto. Eu sou eu sou mais que isso agora. Você sempre foi mais. Roberto tocou o rosto dela. Só precisava acreditar. Eles foram interrompidos por um funcionário do evento.
Senr Almeida, hora do seu discurso. Roberto assentiu, olhou para Clusa. Fica perto do palco. Eu eu quero que você esteja lá sempre. Clusa sorriu. O palco estava montado no centro do salão. Iluminação profissional, microfone, tudo muito oficial. Roberto subiu sob aplausos educados. Clicou na lateral, coração batendo acelerado, sem saber porquê.
Roberto começou agradecendo os presentes, falando sobre o shopping, sobre a parceria comercial. E então ele fez uma pausa, olhou diretamente para a Clusa. Mas hoje, continuou ele, a voz mais suave agora. Eu não quero falar apenas de negócios. Quero falar sobre algo mais importante, sobre dignidade, sobre como tratamos pessoas, sobre o que significa realmente valorizar alguém.
A sala ficou em silêncio absoluto. Clentiu o sangue congelar. meses atrás, Roberto continuou: “Eu conheci uma mulher que mudou minha vida completamente. Ela estava sendo humilhada publicamente, acusada de algo que não fez, tratada como descartável, apenas por causa da sua profissão. E quando vi aquilo, vi minha mãe.
Vi todas as mulheres que trabalham honestamente, mas são tratadas como menos.” Ele desceu do palco, caminhou em direção à clusa, todos os olhos acompanharam. “Essa mulher!” Roberto parou na frente dela, pegando suas mãos. É Clusa Santos. E naquele dia eu menti. Eu disse que ela era minha esposa, mas não era. Era uma estranho, tentando proteger outra estranha de uma injustiça. Clentiu lágrimas queimarem.
Onde ele estava indo com isso? Mas sabe o que descobri nos últimos ve meses? Roberto sorriu e havia lágrimas nos olhos dele também. Descobri que aquela mentira era a verdade que eu ainda não sabia que queria. Descobri que Clant é a mulher mais forte, mais honesta, mais incrível que já conheci.
Ela ficou ao meu lado quando meu mundo desmoronou, me ensinou sobre lealdade real. Me mostrou que amor não tem nada a ver com status ou dinheiro ou posição social. Amor é sobre escolher alguém todos os dias, mesmo quando é difícil. Ele largou as mãos dela e ajoelhou-se. O salão inteiro soltou um suspiro coletivo. Clou as mãos à boca sem acreditar.
E Clusa Santos disse Roberto tirando uma pequena caixa do bolso e abrindo, revelando um anel simples de prata com uma pequena pedra azul. Nove meses atrás, eu disse que você era minha esposa. Deixa eu fazer isso virar verdade. Casa comigo. Silêncio absoluto, total. E então Clusa se ajoelhou também, ficando na mesma altura que ele, as lágrimas correndo livres.
Agora você é louco! Sussurrou ela. Louco e perfeito e maravilhoso! Sim, mil vezes sim. Roberto deslizou o anel no dedo dela com mãos trêmulas e a beijou ali mesmo no meio do salão, sob os aplausos e gritos de celebração de 200 pessoas que agora eram testemunhas de algo real, puro, verdadeiro.
Quando se separaram, Roberto encostou a testa na dela. “Eu te amo”, disse ele. “Te amo desde aquele primeiro café, desde a primeira conversa real. Te amo mais do que pensei ser capaz de amar alguém. Também te amo. Cl rimas. Também te amo. E sim, Roberto Almeida, eu vou casar com você. O beijo que veio depois foi diferente de todos os outros. Era uma promessa. Era um sim.
Era o começo de algo novo e assustador e maravilhoso. E quando finalmente se levantaram de mãos dadas, encarando o salão cheio de pessoas que aplaudiam e choravam e testemunhavam, Clá Santos percebeu algo. Ela não era mais invisível. Ela nunca mais seria, porque ela havia encontrado alguém que havia, realmente via, e escolhia vê-la todos os dias para sempre.
E isso era tudo que sempre quis, ser vista, ser amada, ser suficiente. Um ano, um ano desde aquela segunda-feira caótica no Hotel Imperial. Mas agora Clusa estava num lugar completamente diferente, literal e figurativamente. Ela estava na Avenida Paulista, do lado de fora do que costumava ser. apenas o hotel onde ela trabalhava.
Roberto estava ao seu lado, segurando sua mão, mas não era mais a corrente de prata com o pingente de chave pendurada no pescoço dela. Agora era uma aliança simples de prata, combinando com a dele. Eles haviam se casado três meses atrás. Cerimônia pequena, apenas família e amigos próximos. No interior da Bahia, perto de onde a mãe de Clusa morava, com vista para o campo onde ela havia crescido. Foi simples, foi perfeito.
Foi deles que agora estavam de volta a São Paulo, de volta ao lugar onde tudo começou para fazer uma última coisa. Você tem certeza? perguntou Roberto. Não precisa fazer isso se não quiser. Eu quero. Cl apertou a mão dele. Eu preciso fazer isso. Fechar o círculo completamente. Eles entraram no hotel. O saguão estava igual.
Mármore, lustres, o cheiro de luxo. Mas Clusa não se sentia pequena ali. Não. Mais. O Sr. Ferreira os viu e veio ao encontro, mas havia algo diferente nele. Respeito genuíno, talvez, ou pelo menos consciência. Senhor e senhora Almeida, ele assentiu respeitosamente. A reunião está pronta. Todos os funcionários estão reunidos na sala de conferências. Obrigado.
Roberto acenou, mas deixou Clusa liderar o caminho. A sala de conferências estava cheia, todos os funcionários que Clusa conhecia e muitos novos que haviam sido contratados após as reformas de Roberto. Maria estava na primeira fileira, sorrindo com os olhos vermelhos de emoção. Cl. respirou fundo e começou. Há um ano eu trabalhava aqui neste hotel como camareira e fui acusada publicamente de roubo.
Fui humilhada, julgada, quase demitida. E naquele momento eu me senti menor do que nunca, descartável. Ela viu alguns funcionários a sentirem. Eles lembravam, todos lembravam. Mas uma coisa aconteceu naquele dia. Clou. Alguém me defendeu, não porque me conhecia, não porque esperava algo em troca, mas porque viu uma injustiça e se recusou a ficar em silêncio. E aquilo mudou tudo.
Ela olhou para Roberto, que estava encostado na parede, os olhos brilhando. Nos últimos 12 meses, aprendi muito. Aprendi que dignidade não é algo que te dão, é algo que você reclama. Aprendi que seu trabalho não define seu valor como pessoa e aprendi que amor verdadeiro, o tipo que dura, não tem nada a ver com dinheiro ou status.
Tem a ver com respeito, com parceria, com escolher ficar quando seria mais fácil ir embora. Ela fez uma pausa, olhando para cada rosto na sala. Vocês merecem dignidade, merecem respeito, não porque alguém rico decidiu ser generoso, mas porque são seres humanos que trabalham honestamente. E eu vim aqui hoje para dizer: Nunca aceitem menos.
Nunca deixem ninguém te fazer sentir menor por causa do seu trabalho. E se alguém tentar, ela sorriu, lutem, porque vocês têm valor. Sempre tiveram, sempre vão ter. O silêncio que seguiu foi carregado e então Maria começou a aplaudir. E um por um, todos os funcionários se levantaram aplaudindo, alguns chorando, todos vendo não apenas Class Santos ali na frente.
Eles viam esperança, viam possibilidade, viam alguém que era como eles e conseguiu. Quando os aplausos finalmente cessaram, Clenou para Roberto. Ele se aproximou, entregando-lhe uma pasta. Uma última coisa, disse Clusa, a limpeza digna serviços está abrindo vagas. Cinco novas posições. Salário acima do mercado, todos os benefícios, ambiente de trabalho respeitoso.
Se algum de vocês estiver interessado em mudar, em tentar algo novo, eu adoraria trabalhar com vocês. Não como chefe que trata funcionários como subordinados, mas como líder que valoriza sua equipe. Ela colocou a pasta numa mesa ao lado. Informações de contato, descrição das vagas, formulário de interesse. “Obrigada”, disse Clusa.
Finalmente, por tudo, pelos momentos ruins que me ensinaram força, pelos bons que me ensinaram gratidão e por serem testemunhas de onde comecei, porque nunca vou esquecer, nunca vou esquecer de onde vim e vou passar o resto da minha vida, garantindo que outras pessoas, como eu tenham as oportunidades que eu tive.
Cl e Roberto saíram do hotel de mãos dadas. Pararam na calçada da Paulista, observando a cidade girar ao redor deles. Carros, ônibus, pessoas correndo, vendedores ambulantes. A loucura constante de São Paulo. Como você se sente? Perguntou Roberto completa. Clusa sorriu pela primeira vez em talvez para sempre. Me sinto completa.
O que vamos fazer agora? Clusa pensou. Havia tanto pela frente. A expansão da empresa, o projeto na Bahia, talvez um dia filhos. talvez mil outras aventuras. “Vamos viver”, disse ela simplesmente, “Viver com dignidade, amar com honestidade, trabalhar com propósito e nunca, nunca deixar ninguém nos fazer sentir pequenos”.
Roberto a puxou para um beijo ali mesmo na calçada movimentada, com a Paulista pulsando ao redor deles. E quando se separaram, ele sussurrou: “Para sempre, para sempre! Clusa encostou a testa na dele. Você e eu, contra o mundo, como sempre foi, como sempre vai ser. Eles caminharam pela avenida, desaparecendo na multidão, apenas mais dois rostos na metrópole de milhões. Mas para eles eram tudo que importava, porque haviam aprendido a lição mais importante.
O verdadeiro valor de uma pessoa não está no que ela tem, mas em como trata quem não pode lhe oferecer nada em troca. E amor verdadeiro não pede status ou riqueza. Amor verdadeiro pede apenas coragem. Coragem para ver além das aparências. Coragem para ficar nas tempestades e coragem para escolher todos os dias que o outro importa. M.
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