Não mencione que é minha esposa”, avisou o magnata frio, mas uma palavra destruiu seu império por completo. A chuva batia violenta contra as janelas do pequeno apartamento quando Caio Mendes atravessou a porta.
Helena Silva olhou para aquele homem alto, de ombros largos e terno impecável, e sentiu um calafrio percorrer a espinha. Ela o conhecia apenas de fotos nos jornais. o magnata do transporte rodoviário, herdeiro de um império construído ao longo de três gerações. Mas nas fotos ele não parecia tão perigoso. Os olhos castanhos de Caio eram duas lascas de gelo. Havia raiva ali. Uma raiva contida, concentrada, que parecia queimar tudo ao redor.
Helena a engoliu seco, apertando as mãos suadas contra o vestido simples. “Senrita Silva”, ele disse, a voz grave eando no silêncio. nem sequer estendeu a mão para cumprimentá-la. Imagino que saiba porque estou aqui. Helena a sentiu incapaz de falar. Sabia sim. Sabia perfeitamente. Três meses.
Apenas três meses desde que o pesadelo começara. O acidente. Seu pai, Roberto Silva, trabalhava como motorista de caminhão havia 30 anos. Homem honesto, trabalhador, que nunca causara problemas. Até aquela manhã de julho, na rodovia Presidente Dutra, uma falha no freio do caminhão que dirigia, um veículo da Frota Mendes Transportes, ironicamente causou uma colisão múltipla: sete veículos envolvidos, dezenas de feridos e Rafael Mendes, o irmão caçula de Caio, em estado crítico.
O jovem de 23 anos, promessa da natação olímpica brasileira ficara preso entre as ferragens por 4 horas. Quando finalmente o resgataram, os médicos foram categóricos, danos neurológicos graves, coma induzido, prognóstico incerto. Rafael poderia nunca mais acordar. A investigação concluiu: falha mecânica, mas também negligência do motorista. Roberto não percebera os sinais de problema nos freios.
Deixara de fazer a verificação de segurança obrigatória. O laudo técnico foi devastador. A indenização cobrada pela família Mendes era astronômica. R milhões deais. Uma fortuna impossível para a família Silva. Seu pai, diagnosticado com problemas cardíacos graves, não suportaria o estresse de um processo judicial prolongado. Os médicos foram claros.
Qualquer choque emocional intenso poderia matá-lo. Helena, recém-nformada em administração de empresas e ainda procurando o primeiro emprego, via tudo desmoronar. A casa hipotecada, as dívidas acumulando, seu pai defininhando na cama do hospital, com o coração falhando aos poucos. E então Caio Mendes apareceu. Tenho uma proposta, ele disse, afinal quebrando o silêncio tenso.
Não se sentou, embora Helena tivesse indicado o sofá, permaneceu de pé, dominando o ambiente com sua presença, uma que resolverá todos os seus problemas. Senr. Mendes, eu Helena tentou falar, mas a voz saiu trêmula. Meu pai não teve culpa. Foi o caminhão, a manutenção. Não me interessa. Ele a cortou gelado. O laudo diz negligência. Seu pai é responsável e eu quero que alguém pague pelo que aconteceu com Rafael.
Helena sentiu as lágrimas queimarem os olhos, mas forçou-se a não chorar. Não na frente dele. Nós não temos como pagar. Nem em 100 anos conseguiríamos juntar esse valor. Eu sei. Caio deu um passo em direção a ela. Helena recuou instintivamente, mas ele continuou. Por isso estou aqui. Não quero seu dinheiro. Então o que quer? Os olhos dele percorreram na dos pés à cabeça.
Uma avaliação fria e calculista que fez Helena se sentir exposta, vulnerável. Case-se comigo. O silêncio que se seguiu foi absoluto. Helena piscou, certa de ter ouvido errado. O quê? Você me ouviu perfeitamente. Caio manteve a expressão impassível. Case-se comigo. Seja minha esposa pelo tempo que eu determinar. E em troca eu perdoo toda a dívida.
Retiro as ações judiciais contra seu pai. Pago todas as despesas médicas dele. Garanto que ele terá o melhor tratamento disponível. Helena balançou a cabeça incrédula. Isso, isso não faz sentido. Por que faria isso? Meus motivos são meus. Ele tirou um envelope do bolso interno do palitó e estendeu a ela.
Aqui está o contrato. Leia com atenção. Você terá 48 horas para decidir. Com mãos trêmulas, Helena pegou o envelope. O papel era grosso, caro. Cláusula um. As partes concordam em contrair matrimônio civil pelo período mínimo de um ano, prorrogável, conforme desejo exclusivo da parte A, Caio Mendes. Cláusula 2.
A parte B, Helena Silva, compromete-se a residir na residência da parte A e cumprir as aparências de um casamento convencional em eventos sociais e profissionais. Cláusula tr. Não haverá obrigações de cohabitação íntima entre as partes, sendo o casamento de natureza contratual. Cláusula 4. Em contrapartida, a parte a perdoa integralmente a dívida de R$ 5 milhões deais e assume todas as despesas médicas de Roberto Silva.
Havia mais cláusulas detalhando questões financeiras, patrimoniais de divórcio futuro. Quando abriu, encontrou várias páginas de documento legal redigido em linguagem formal. Seus olhos percorreram as cláusulas rapidamente, mas Helena mal conseguia processar. Sua mente girava em círculos. “Por que eu?”, ela perguntou, levantando os olhos do papel. “Por que faria isso?” Caio se aproximou até ficar a poucos centímetros dela.
Helena pôde sentir o perfume masculino caro que emanava dele. Viu os detalhes do rosto esculpido, a mandíbula forte, as sobrancelhas grossas, os lábios firmes. Ele seria bonito se não fosse a expressão de gelo permanente. Porque quero que você pague, ele disse, tão baixo que era quase um sussurro. Mas cada palavra carregava peso, ameaça.
Seu pai tirou meu irmão de mim. Rafael está numa cama de hospital conectado a máquinas, talvez para sempre. Alguém tem que sentir o que eu sinto e essa pessoa será você. Helena sentiu o sangue gelar nas veias. Entendeu? Então, não era uma proposta de negócio, era vingança. Ele queria alguém para punir, alguém para descontar a dor, a raiva, o desespero e ela seria o alvo. “E se eu recusar?”, ela conseguiu perguntar, embora já soubesse a resposta.
Então, prossigo com o processo. Tomo tudo que vocês têm e quando seu pai tiver o próximo ataque cardíaco por causa do estresse, você poderá se consolar, sabendo que ao menos manteve sua dignidade. Ele virou-se para sair, mas parou na porta. 48 horas, Senrita Silva. Escolha bem. E então ele se foi, deixando Helena sozinha com o contrato nas mãos e a sensação de que o mundo estava desmoronando ao seu redor. Naquela noite, Helena não dormiu.
Ficou sentada ao lado da cama do hospital, onde seu pai respirava com dificuldade, conectado a monitores que apitavam constantemente. Os cabelos dele, antes negros, estavam completamente brancos. Agora o rosto vincado de rugas profundas. parecia ter envelhecido 20 anos em três meses. “Filha”, ele sussurrou, abrindo os olhos. A voz estava fraca, mas carregava preocupação.
“Você não dormiu de novo?” “Estou bem, pai.” Ela mentiu, forçando um sorriso. Segurou a mão dele, sentindo como estava fria e frágil, só pensando no futuro. Helena, Roberto fechou os olhos e uma lágrima escorreu pelo rosto enrugado. “Eu arruinei tudo. Arruinei nossa vida.
Se eu tivesse verificado o caminhão, se tivesse sido mais cuidadoso, não foi sua culpa. Helena disse firmemente, embora soubesse que não adiantava. Ele repetia isso todos os dias, torturando-se. Foi o equipamento. Você não podia saber. Aquele garoto. Roberto engasgou com as palavras. O filho deles incoma por minha causa. Como vou viver com isso, pai? Para.
Helena apertou a mão dele, sentindo o desespero crescer. Você precisa se concentrar em melhorar, em ficar forte. Mas enquanto dizia isso, via os números no monitor cardíaco oscilarem perigosamente. Via o cansaço nos olhos dele. Sabia que o tempo estava se esgotando. A enfermeira entrou para verificar os sinais vitais e Helena aproveitou para sair do quarto.
No corredor, encostou na parede fria e fechou os olhos. Dois caminhos à frente, ambos terríveis. podia recusar Caio Mendes e assistir seu pai definhar até a morte, ou podia aceitar e se tornar prisioneira de um homem que a odiava, vender sua liberdade, vender a si mesma, mas realmente havia escolha.
48 horas depois, Helena estava no escritório da Mendes Transportes, no 30º andar de um prédio imponente no centro financeiro de São Paulo. O ambiente era luxuoso, piso de mármore, obras de arte nas paredes, móveis de designer. Tudo gritava poder e dinheiro. Caio a recebeu em sua sala particular, um espaço enorme com vista panorâmica para a cidade.
Ele estava sentado atrás de uma mesa de Mógno, digitando algo no computador. Nem levantou os olhos quando ela entrou. “Senrita Silva”, ele disse ainda olhando para a tela. Imagino que tenha tomado sua decisão. Helena aproximou-se da mesa, mantendo a postura ereta, mesmo que as pernas estivessem bambas, colocou o contrato assinado sobre o Mogno polido. Aceito agora sim.
Caio levantou o olhar, examinou-a com aquela mesma expressão fria e calculista. Tem certeza? Não há volta depois que assinarmos os papéis do casamento. Tenho. Helena ergueu o queixo, forçando-se a encontrar os olhos dele sem desviar. Mas quero deixar uma coisa clara. Você pode me obrigar a casar com você, pode me fazer viver na sua casa, comparecer aos seus eventos, mas não pode me obrigar a fingir que gosto de você. Não pode me obrigar a te respeitar.
Por um segundo, algo passou pelo rosto de Caio. Surpresa, admiração, mas desapareceu tão rápido que Helena achou que imaginou. Ele se levantou, contornando a mesa até ficar de frente para ela. “Não espero que goste de mim”, ele disse calmamente. “Na verdade, prefiro assim. Será mais honesto”, estendeu a mão. “Então, estamos de acordo, senora Mendes.
” Helena olhou para a mão estendida, grande, forte, com dedos longos e uma única cicatriz no polegar, a mão de um homem acostumado a ter o que queria, a controlar tudo ao seu redor e agora ela seria controlada também. apertou a mão dele, sentindo o calor da pele contra a sua. Ainda não sou sua esposa. Será amanhã? Caio soltou a mão dela. O cartório está agendado para as 10 da manhã. Espero que esteja pronta. Serei uma noiva linda.
Helena respondeu sem conseguir conter o sarcasmo na voz. Afinal, toda a garota sonha em se casar com um homem que a odeia. Os olhos dele estreitaram perigosamente, mas ele não rebateu, apenas voltou para trás da mesa, pegou uma pasta e a entregou a ela.
Documentos da transferência da dívida e do pagamento do tratamento do seu pai, tudo como acordado. Depois do casamento, os valores serão liberados. Helena pegou a pasta, sentindo o peso dela nas mãos. O peso da liberdade perdida. Ótimo. Ah, e Senrita Silva? Caio a chamou quando ela já estava na porta. Helena virou-se. Uma última coisa, não mencione a ninguém os termos reais desse casamento.
Para o mundo, somos um casal normal que se conheceu e se apaixonou, entendeu? Perfeitamente. Helena respondeu sorrindo com amargura. Afinal, qual seria a graça da sua vingança se as pessoas soubessem a verdade? Ela saiu antes que ele pudesse responder, atravessando o corredor com passos firmes, mesmo que o coração estivesse despedaçado. Amanhã seria a senora Helena Mendes.
Amanhã começaria sua vida como prisioneira de um homem frio e cruel, mas pelo menos seu pai viveria. E no fim era isso que importava, não era? O cartório era um prédio antigo no centro da cidade, com paredes de azulejos brancos desbotados e um cheiro de mofo que impregnava tudo.
Helena entrou usando um vestido bege simples, nada de branco para aquela farça e sapatos baixos. Não havia buquê, não havia véu, não havia nada que lembrasse um casamento de verdade. Caio já estava esperando, ladeado por dois homens de terno, que Helena presumiu serem as testemunhas obrigatórias. Ele usava um terno cinza escuro, impecável como sempre, e olhava o relógio com impaciência. Pontual, ele comentou quando a viu. Boa qualidade.
Helena não respondeu. Aproximou-se mantendo distância segura. A oficial do cartório, uma mulher de meia idade com óculos grossos, sorriu para eles com aquela alegria profissional de quem realiza cerimônias todos os dias. “Que casal lindo!”, ela exclamou. Prontos para o grande dia? Sim, Caio, respondeu, forçando um sorriso que não chegou aos olhos. Vamos começar.
A cerimônia foi rápida. Leitura dos artigos do Código Civil, perguntas formais. Helena ouvia tudo como se estivesse debaixo d’água, as palavras chegando abafadas e distantes. O senor Caio Roberto Mendes aceita a senrita Helena Maria Silva como sua legítima esposa. Aceito. A voz dele suou firme, decidida, como se estivesse fechando um negócio.
O que tecnicamente era verdade. A senrita Helena Maria Silva aceita o Sr. Caio Roberto Mendes como seu legítimo esposo. Helena respirou fundo. Última chance de recuar, última chance de fugir. Mas então pensou no pai, na cama do hospital, defininhando. Pensou nas dívidas, no processo judicial, em tudo que perderiam. Aceito.
Sua voz saiu mais baixa do que pretendia, mas foi suficiente. A oficial sorriu mais amplamente e pegou os documentos. Então, pelo poder que me confere o estado de São Paulo, eu os declaro marido e mulher. Podem assinar os documentos, assinaturas, carimbos, testemunhas rubricando. Tudo muito burocrático, frio, impessoal.
Quando terminou, a oficial estendeu duas certidões de casamento idênticas. Parabéns, agora já podem se beijar. Helena sentiu o sangue gelar. Não havia pensado nisso, mas é claro que haveria o beijo. Era tradição. Esperado, Caio pareceu tão desconfortável quanto ela. Hesitou por um segundo antes de se inclinar. Helena fechou os olhos, preparando-se mentalmente.
Os lábios dele tocaram os dela tão brevemente que mal poderia ser chamado de beijo, um roçar rápido, formal, sem qualquer emoção. E então, acabou. Pronto, Caio disse, afastando-se imediatamente, pegou sua certidão e guardou no bolso interno do palitó. Podemos ir. A oficial pareceu confusa com a frieza, mas manteve o sorriso profissional. Claro.
Felicidades para vocês. Do lado de fora do cartório, um Audi preto os esperava. O motorista abriu a porta traseira e Caio entrou sem esperar Helena. Ela seguiu, sentando-se no lado oposto do banco, o máximo de distância possível dentro do carro. O silêncio durante o trajeto foi sufocante. Helena olhava pela janela vendo a cidade passar. Prédios, pessoas, carros.
Vida normal acontecendo enquanto a dela desmoronava. Caio digitava algo no celular completamente absorto, como se ela não existisse. 20 minutos depois, o carro adentrou um condomínio de luxo em um bairro nobre. Grades altas, segurança na entrada, jardins perfeitamente cuidados. A mansão ao final da rua privativa era impressionante.
Três andares, fachada moderna de vidro e concreto, piscina externa visível do portão. “Chegamos”, Caio disse, descendo do carro assim que ele parou. Um empregado uniformizado já estava na porta para recebê-los. Helena saiu segurando sua pequena mala, tudo que trouxera de casa cabendo em uma única bagagem.
olhou para a mansão e sentiu um nó no estômago. Aquilo seria sua prisão pelos próximos meses, talvez anos. Bernardo Caio disse ao empregado: “Esta é a senhorita, minha esposa, Helena. Mostre o quarto dela, senhorita?” Helena não conseguiu evitar o comentário sarcástico. Pensei que agora eu fosse senhora. Caio a ignorou, entrando na casa sem olhar para trás.
Bernardo, um senhor de cabelos grisalhos e expressão gentil, sorriu constrangido para Helena. Por aqui, por favor. O interior da mansão era ainda mais impressionante. Pé direito altíssimo, escadaria em mármore, lustres de cristal, obras de arte que provavelmente custavam mais que toda a casa onde Helena cresceu. Tudo impecável, luxuoso, frio. Bernardo a guiou pelo segundo andar, passando por várias portas até parar na última do corredor.
Este será seu quarto. Helena entrou e piscou surpresa. O ambiente era enorme, maior que a sala e a cozinha do seu antigo apartamento juntas. Cama kingsize com docel, closet com portas espelhadas, banheiro privativo com banheira de hidromassagem, varanda com vista para o jardim, tudo decorado em tons de branco e bege, elegante, mas impessoal.
É bonito! Ela disse, sem saber o que mais falar. O quarto do Sr. Mendes fica no andar de baixo”, Bernardo explicou, evitando olhá-la nos olhos. A suí principal, se precisar de algo, há um interfone ali na parede. A cozinha funciona 24 horas. Obrigada, Bernardo. Ele assentiu e saiu fechando a porta suavemente.
Helena ficou parada no meio do quarto vazio, sua mala aos pés, sentindo o peso da realidade desabar sobre ela. Casada. Ela era casada com Caio Mendes, mas em quartos separados, em vidas separadas, unidos apenas por um papel e uma vingança. Sentou-se na cama, macia, confortável demais, e, finalmente, permitiu-se chorar, lágrimas silenciosas escorrendo pelo rosto, molhando o vestido bege. Chorou por tudo que havia perdido.
Chorou pela liberdade que nunca mais teria. chorou pelo casamento que deveria ter sido perfeito e era apenas uma transação comercial cruel. Quando finalmente parou de chorar, a noite já estava caindo. Helena levantou, lavou o rosto no banheiro luxuoso e começou a desfazer a mala. Não tinha muita coisa, algumas roupas simples, livros, objetos pessoais.
Tudo parecia ainda mais insignificante naquele ambiente de luxo. Uma batida suave na porta a fez virar. entre era uma mulher de uns 50 anos, magra, com uniforme de empregada e expressão bondosa. Boa noite, senhora. Sou Graça, responsável pela casa. Vim avisar que o jantar está servido. Senhora Helena, repetiu a palavra, sentindo o amargor.
Ainda não me acostumei. Graças sorriu com simpatia. É uma grande mudança mesmo, mas o Sr. Caio é um bom homem, no fundo. Helena duvidava, mas não disse nada. Ele janta comigo hoje? Sim. Depois, geralmente, o senhor janta no escritório, trabalha muito. Havia uma pitada de desaprovação na voz de graça, como se ela achasse que Caio trabalhava demais. Entendo.
Helena alisou o vestido amarrotado. Vou descer, então. A sala de jantar ficava no térrio, uma sala ampla, com mesa de madeira maciça que facilmente acomodaria 20 pessoas. Mas apenas dois lugares estavam postos, um em cada ponta da mesa. Caio já estava sentado lendo algo no tablet, um copo de vinho tinto ao lado. Helena sentou-se na outra ponta, a quilômetros de distância dele.
Um empregado apareceu imediatamente, servindo vinho e trazendo o primeiro prato, uma salada elaborada que parecia saída de um restaurante cinco estrelas. “Espero que o quarto esteja adequado”, Caio disse, sem tirar os olhos do tablet. Está perfeito. Helena respondeu pegando o garfo, grande, vazio, exatamente como este casamento.
Agora ele olhou para ela, os olhos castanhos brilhavam perigosamente. Cuide do que diz. Por quê? Medo que os empregados descubram a verdade, que ouçam que este casamento é uma farsa, uma vingança cruel para satisfazer seu ego ferido. Caio largou o tablet com força. O som ecoou pela sala. Cuidado, Helena. Ou o quê? Ela inclinou-se para a frente desafiadora.
Vai me bater, me expulsar? Ah, não, espera, você não pode. Precisa de mim aqui para sua vingança funcionar. Ele levantou-se tão abruptamente que a cadeira quase tombou. Em três passadas, estava ao lado dela, inclinado sobre a mesa, o rosto a centímetros do dela. Helena pôde ver as manchinhas douradas nas irris castanhas, pôde sentir o hálito quente misturado com o aroma do vinho. “Não me teste”, ele disse a voz baixa e perigosa.
“Você não faz ideia do que sou capaz quando provocado.” “Sei exatamente,” Helena, respondeu, recusando-se a recuar. é capaz de destruir a vida de uma inocente porque não consegue aceitar que acidentes acontecem, porque precisa culpar alguém pela dor que sente. Por um longo momento, eles ficaram assim, olhos nos olhos, respirações aceleradas, a tensão tão espessa que poderia ser cortada com faca.
Então Caio se afastou, pegando o palitó que estava na cadeira. Perdeu o apetite, ele disse, caminhando em direção à porta. Coma sozinha, é melhor assim. e saiu, deixando Helena tremendo, não de medo, mas de adrenalina. Pela primeira vez desde que tudo começou, ela não se sentiu impotente. Não se sentiu apenas uma vítima. Havia poder em enfrentá-lo.
Havia liberdade em não baixar a cabeça. Caio Mendes poderia ter comprado seu contrato de casamento, mas jamais compraria sua submissão. Os primeiros dias na mansão estabeleceram uma rotina clara: evitar um ao outro a todo custo. Caio saía às 6 da manhã antes mesmo do sol nascer.
Helena ouvia o carro partindo da garagem enquanto ainda estava deitada, olhando o teto do quarto vazio. Ele voltava depois da meia noite. Quando ela já estava, fingia estar dormindo. As refeições aconteciam separadas. Helena comia na sala de jantar sozinha, servida pelos empregados silenciosos. Caio comia no escritório ou nem comia, segundo Graça, comentara com preocupação.
“O senhor está se matando de trabalhar”, a empregada disse certa manhã, arrumando o quarto de Helena. Desde desde o acidente com o irmão dele, ele não descansa, fica no escritório até de madrugada. Helena estava escolhendo roupa no closet que Caio mandara abastecer. Peças de grife todas no seu tamanho exato, todas lindas.
Ela odiava usar. mas não tinha escolha. Suas próprias roupas pareciam miseráveis em comparação. “Ele culpa minha família”, Helena disse baixo, pegando um vestido azul marinho. “Provavelmente me vê como extensão da culpa.” Graça suspirou, alisando os lençóis já perfeitamente arrumados. O Sr. Caio sofreu muito.
Era muito próximo do irmão. Ver o menino Rafael naquele estado, sem saber se vai acordar, ela balançou a cabeça. Muda uma pessoa. Não justifica a crueldade. Helena retrucou, sentindo a raiva crescer. Sabia que não deveria descontar em graça, mas não conseguia segurar. Não justifica arrastar outra pessoa para dentro da sua dor. Não, senhora, não justifica.
Graça olhou para ela com compaixão. Mas talvez com tempo, com tempo o quê? Ele vai se apaixonar por mim? Vamos ser um casal feliz? Helena riu sem humor. Isso não é um conto de fadas, Graça. É um contrato de vingança. A empregada não respondeu. Apenas terminou a arrumação e saiu quieta. Helena se sentiu mal por ter sido ríspida, mas estava exausta demais para se importar.
Passava os dias vagando pela mansão como um fantasma. Explorava os cômodos vazios, olhava as fotos de família nas paredes. Caio criança sorrindo. Caio adolescente sério. Caio adulto imponente. E Rafael em todas elas, sempre rindo, sempre radiante. O quarto de Rafael ficava no terceiro andar. Helena descobriu por acaso uma tarde.
A porta estava entreaberta e ela entrou sem pensar. Era um santuário, tudo preservado exatamente como o jovem deixara. Troféus de natação nas prateleiras, pôsteres de nadadores famosos nas paredes, livros de engenharia naval espalhados pela mesa, uma guitarra no canto, fotos dele nas piscinas, sempre em primeiro lugar. Helena pegou uma foto emoldurada. Rafael no pódio, medalha de ouro no peito, sorriso enorme.
Era fácil ver a semelhança com Caio, os mesmos olhos castanhos, a mesma mandíbula forte. Mas onde Caio era gelo, Rafael parecia ter sido fogo, vida, alegria e agora estava numa cama de hospital conectado a máquinas, talvez nunca mais abrindo os olhos. A culpa atingiu Helena com força. Não era culpa dela, não era culpa do pai, foi o equipamento, foi azar, foi, mas tentasse quanto quisesse racionalizar. A dor permanecia.
Um jovem brilhante, futuro roubado, família destroçada. O que está fazendo aqui? A voz de Caio a fez pular, soltando a foto que caiu no carpete com um bac surdo. Ela girou, encontrando-o parado na porta, o rosto uma máscara de fúria contida. Eu A porta estava aberta. Eu não saia. Helena nunca tinha ouvido ele gritar. A voz ecoou pelas paredes, grave, carregada de dor. Ela correu para a porta, mas ele bloqueou o caminho.
Como ousa entrar aqui? Caio segurou o braço dela com força, não a ponto de machucar, mas o suficiente para impedi-la de fugir. Este quarto é proibido. Você não tem direito de tocar nas coisas do Rafael. Me solta. Helena tentou se desvencilhar, mas ele era muito mais forte. Você e sua família já tiraram tudo dele.
Não vai profanar a memória também. Ele não está morto”, Helena gritou de volta, a raiva finalmente explodindo. Ele está em coma. Ainda há esperança, mas você prefere ficar preso nesse quarto, nessa casa, nessa raiva, em vez de lutar por ele. A mão de Caio afrouxou. Os olhos dele a regalaram, surpresos. Helena aproveitou para se soltar, recuando até a parede. “Você não sabe de nada”, ele disse.
Mas a voz saiu quebrada. Não sabe como é ver alguém que você ama naquele estado, sem resposta, sem nada. Não, eu não sei. Helena, admitiu, respirando pesado. Mas sei que destruir minha vida não vai trazer seu irmão de volta, não vai curar ele, só vai criar mais dor. Caio ficou parado, olhando para ela como se realmente a visse pela primeira vez.
O silêncio se estendeu, pesado, carregado de emoções não ditas. Então ele simplesmente virou e saiu, fechando a porta do quarto de Rafael atrás de si com força. Helena ouviu os passos dele descendo as escadas, rápidos, furiosos. Ela deslizou pela parede até sentar no chão, abraçando os joelhos. Tremia inteira, de raiva, de medo, de adrenalina.
Quantos meses ainda teria que suportar aquilo? Quanto tempo até ele decidir que a vingança estava completa? Naquela noite, Helena não desceu para jantar. ficou trancada no quarto, deitada na cama enorme demais para uma pessoa só, olhando o teto. Graça trouxe uma bandeja com comida que Helena mal tocou. Ele está bebendo, Graça! Disse baixinho antes de sair no escritório. Já terminou uma garrafa inteira de whisky?” Helena não respondeu. Não era problema dela.
Se Caio queria se destruir com álcool. Não era a responsabilidade dela cuidar do homem que a mantinha prisioneira. Mas horas depois, quando o relógio marcava 3 da manhã, ela ouviu um barulho vindo de baixo, algo se quebrando. Depois, silêncio, ficou deitada, tentando ignorar. Não era problema dela. Não era outro barulho.
Mais alto, como algo pesado caindo. Droga. Helena resmungou, levantando, vestiu um hobby sobre a camisola e desceu as escadas descalça, o coração batendo rápido. O escritório de Caio ficava no térrio, uma sala enorme forrada com estantes de livros até o teto. A porta estava entreaberta, luz acesa vazando para o corredor. Helena empurrou devagar. Caio.
Ele estava caído no carpete ao lado da mesa de trabalho. Uma garrafa vazia de whisky que rolava perto da mão direita. Um porta-retratos quebrado no chão, foto de Rafael sorrindo, vidro em cacos espalhados. Caio Helena correu até ele ajoelhando, tentou virá-lo de costas, mas ele era pesado demais. conseguiu apenas verificar que estava respirando. Irregular, mas respirando.
Cheiro forte de álcool emanava dele. Estava completamente embriagado. “Você é um idiota”, ela murmurou tentando erguê-lo. Um idiota orgulhoso e teimoso. Conseguiu com esforço sentar ele no sofá de couro. A cabeça de Caio pendia para o lado, os olhos fechados. Helena pegou uma manta do encosto e cobriu ele.
Estava prestes a sair quando ele murmurou algo. Ela parou. O quê? Diz. Desculpa. Helena olhou para ele surpresa. Estava dormindo ou quase falando em sonhos, provavelmente. Mas mesmo assim a palavra a atingiu. Desculpa, primeira vez que ele dizia isso. Helena ficou parada, observando o rosto dele relaxado pelo sono, sem a tensão constante, sem a raiva contida.
Caio parecia humano, vulnerável, um homem destruído pela dor, fazendo escolhas terríveis para lidar com ela. Ainda assim, não mudava nada. Ele ainda a mantinha prisioneira, ainda usava dela para sua vingança distorcida. Mas pela primeira vez, Helena sentiu algo diferente de raiva e medo. Pena. Ela apagou a luz e saiu fechando a porta suavemente. Subiu para o quarto e deitou novamente, mas não conseguiu dormir.
Ficou pensando em Caio, em Rafael, em dor e culpa e escolhas impossíveis. E quando finalmente pegou no sono, sonhou com olhos castanhos não mais gelados, mas apenas tristes. Helena acordou com batidas insistentes na porta. Abriu os olhos desorientada. A luz do sol entrava pelas cortinas. Já devia ser tarde. Senhora Helena.
A voz de Bernardo urgente. O Senr. Mendes pediu que a acordasse. Vocês têm um compromisso em uma hora. Compromisso? Helena sentou na cama, passando as mãos nos cabelos bagunçados. Que compromisso? Um jantar de negócios com investidores internacionais. O senhor precisa que a senhora o acompanhe como esposa. Helena franziu a testa. Era a primeira vez que Caio pedia sua presença em algo desde o casamento. Diga que estarei pronta.
Bernardo assentiu e saiu. Helena correu para o banheiro, tomou um banho rápido, fez uma maquiagem leve e escolheu um vestido no closet. Um modelo preto elegante, discreto, mas sofisticado. Sapatos de salto alto preto, brincos discretos. Quando desceu, Caio estava na sala de estar ajustando a gravata diante do espelho. Usava um terno azul marinho impecável. Virou quando a ouviu entrar.
Os olhos dele percorreram-na rapidamente. Helena esperou um comentário ácido, uma crítica, mas ele apenas disse: “Está apresentável. Vamos no carro. O silêncio era tenso, como sempre. Helena olhava pela janela sem saber o que esperar daquela noite. Caio finalmente quebrou o silêncio. O jantar é com investidores japoneses.
Eles são tradicionais, valorizam família. Por isso, preciso que você esteja lá, como minha esposa. Entendi. Helena disse, mantendo a voz neutra. Quer que eu sorria e aja como uma esposinha feliz. Quero que haja como um ser humano civilizado. Ele rebateu tenso. Nada mais. E quanto a ontem à noite? As palavras saíram antes que ela pudesse pensar.
Quando você desmaiou bêbado no escritório? Caio virou para ela surpreso. Como sabe sobre isso? Eu desci, te encontrei no chão, te botei no sofá. Helena o encarou e ouvi você pedindo desculpas, ainda que estivesse inconsciente. Ele desviou o olhar, a mandíbula tensa. Não deveria ter interferido. Deveria ter deixado você lá, então, congelando no carpete a noite inteira. Sim. Bem. Desculpa por ter um mínimo de decência humana.
” Helena cruzou os braços. “Mesmo que você não tenha”, Caio não respondeu. O resto do trajeto foi em silêncio absoluto. O restaurante era um dos mais caros de São Paulo. Decoração minimalista japonesa, mesas discretas, garçons vestidos em quimonos. Caio cumprimentou os investidores.
Três homens de meia idade internos escuros, com reverências respeitosas. Minha esposa Helena, ele apresentou, colocando a mão na parte baixa das costas dela. O toque a fez estremecer. Prazer em conhecê-los, Helena disse, sorrindo educadamente. Ah, muito prazer. O mais velho, senor Tanaka, sorriu amplamente. Senora Mendes é muito linda. Caio San é homem de sorte. Caio forçou um sorriso. Obrigado.
Sou mesmo. Sentaram-se à mesa. A conversa começou leve sobre Japão, Brasil, cultura, comida. Os investidores eram cordiais, interessados. Faziam perguntas para Helena também sobre sua formação, interesses, família. Ela respondia com cuidado, sempre consciente dos olhos de Caio sobre ela, monitorando cada palavra, certificando-se de que ela não estragasse seus negócios. Aí, há quanto tempo estão casados?”, Sr. Tanaka perguntou saboreando o saquê.
“Tês semanas”, Caio respondeu antes que Helena pudesse abrir a boca. Recémados. Outro investidor, Senr. Yamamoto, bateu palmas. Lua de mel ainda. Como se conheceram? Silêncio tenso. Helena e Caio trocaram um olhar. Nenhum deles tinha preparado uma história. Foi. Helena começou improvisando, bem inesperado. Meu pai trabalhava para a empresa do Caio.
Nós nos encontramos durante uma inspeção de frota e e foi amor à primeira vista. Caio completou a voz surpreendentemente suave. Ele pegou a mão de Helena sobre a mesa, entrelaçando os dedos. Tentei resistir. Achei que era inadequado, mas Helena é irresistível. Helena olhou para ele chocada. O sorriso dele parecia genuíno. Os olhos castanhos, geralmente tão frios, estavam quentes, amorosos. Era uma atuação perfeita. Que romântico.
Senr. Tanaka estava claramente encantado. Amor verdadeiro existe? Sim”, Helena, disse, forçando-se a sorrir. Apertou a mão de Caio de volta. Forte demais, quase doloroso. Existe. O jantar continuou. Caio manteve o papel de marido apaixonado perfeitamente. Tocava a mão de Helena, sorria para ela, contava histórias inventadas sobre o namoro.
Os investidores comiam cada palavra e Helena, por mais que odiasse, tinha que admitir. Ele era um bom ator, quase acreditava ela mesma. Quando os investidores foram ao banheiro, Helena virou para Caio. “Você mente muito bem.” “Não é mentira”, ele disse soltando a mão dela. “É negócio.
Eles precisam ver estabilidade, família, valores tradicionais e estou aqui como um acessório para convencê-los disso.” Exatamente. Helena sentiu a raiva crescer, mas segurou: “Não ali, não na frente dos investidores. O resto da noite foi tortura. sorrir, acenar, fingir. Quando finalmente voltaram para o carro, Helena tirou os sapatos de salto com um gemido de alívio.
“Você se saiu bem?”, Caio disse, surpreendendo-a. “Foi quase um elogio. Aprendi com o melhor mentiroso que conheço.” Ela retrucou. Ele quase sorriu. “Quase. Touchê”. O carro percorria as ruas iluminadas da cidade. Helena olhava as luzes passar pensando, Caio tinha sido diferente aquela noite.
Não gentil exatamente, mas menos cruel, menos distante. Por que bebeu tanto ontem? Ela perguntou baixinho. Até passar mal. Caio ficou rígido. Não é da sua conta. Somos casados. Mesmo que seja uma farsa, tecnicamente é da minha conta. Sim. Visitei Rafael ontem. Ele disse, afinal, a voz cansada, faz três meses sem mudança.
Os médicos disseram que cada dia que passa as chances dele acordar diminuem. Ele fechou os olhos. Então voltei para casa e bebi até esquecer disso. Helena sentiu o peito apertar. Não deveria sentir compaixão por ele. Não depois de tudo, mas algo na voz dele na vulnerabilidade involuntária. “Sinto muito,” ela disse sinceramente. “Pelo Rafael, deve ser muito difícil”.
Caio abriu os olhos, olhando para ela com surpresa. Por que está sendo gentil depois de tudo que fiz? Porque ao contrário de você? Helena respondeu: “Eu ainda tenho humanidade.” Ele absorveu isso em silêncio. Quando chegaram à mansão, ambos desceram do carro em silêncio. Caminharam lado a lado até a porta, uma distância segura, mas não tão grande quanto antes. Na entrada, Caio parou. Virou para Helena.
Obrigado por ontem à noite, por me ajudar. Foram apenas palavras simples, mas vindas dele significavam muito. De nada. Helena disse, subindo as escadas para seu quarto. Mas naquela noite, pela primeira vez desde que se casaram, ela não sentiu apenas raiva e desespero. Sentiu algo diferente, uma pequena, minúscula brecha nas muralhas entre eles.
Arrume as malas. Viajamos para Paris na segunda-feira. Helena quase derrubou o café que estava tomando. Era sábado de manhã e Caio raramente aparecia nos fins de semana. Geralmente ficava trancado no escritório, mas ali estava ele de jeans e camisa social parado na porta da sala de jantar. Paris, ela repetiu atordoada.
Por quê? Negociações com investidores europeus. Preciso de uma esposa presente para manter as aparências. Ele pegou uma maçã da fruteira na mesa. Então prepare-se. Partimos segunda às 8 da manhã. Espera, você não pode simplesmente posso e estou fazendo. Caio mordeu a maçã, olhando para ela com aquela expressão impassível. Leia o contrato se tiver dúvidas.
Você concorda em me acompanhar quando necessário. Helena cerrou os punhos. Ele tinha razão. Estava no maldito contrato. Por quanto tempo? Uma semana, talvez 10 dias. Ele deu de ombros. depende das negociações. E saiu, deixando Helena fumegando de raiva. Paris, uma semana inteira presa com ele em outro país. Maravilhoso. Graça ajudou a arrumar as malas. Leve roupas elegantes, senhora.
Paris é uma cidade chique. E na segunda-feira de manhã, o carro os levou ao aeroporto. Vou em primeira classe, obviamente. Caio mal falou com ela durante as 11 horas de viagem, absorto em trabalho no laptop. chegaram ao hotel uns cinco estrelas próximo à torre Effel no início da noite.
Helena esperava quartos separados, mas a recepcionista sorriu e entregou apenas uma chave. A suí presidencial, conforme reservado, Msur Mendes. Suí? Helena disse alarmada. Uma suí com dois quartos. Caio disse impaciente: “Não se preocupe, não vou invadir seu espaço. A suí era magnífica. Sala de estar ampla, dois quartos separados com banheiros privativos, varanda com vista para a cidade iluminada, tudo decorado em dourado e branco, opulento e romântico, completamente inapropriado para dois desconhecidos que se odiavam. Helena escolheu o quarto menor, arrumou suas
coisas e deitou exausta da viagem, mas não conseguiu dormir. Ficou olhando pela janela, vendo a torre Eifel brilhar na escuridão, pensando como seria estar ali com alguém que realmente amasse, alguém que não a visse como instrumento de vingança. Os dias seguintes foram uma rotina exaustiva. reuniões durante o dia. Helena presente como assistente executiva, conforme Caio instruiu.
Não mencione que é minha esposa, apenas finge trabalhar para mim, mais humilhação. Mas Helena engoliu o orgulho e obedeceu. Tomava notas, sorria educadamente, representava o papel. À noite, jantares com os investidores. Caio a tratava com cordialidade profissional, nada mais. E então, na quarta noite, conheceram Isabela Valmon.
O jantar era num restaurante sofisticado na Champs Elisee. Isabela era a CEO da Valmon Logistics, empresa francesa de transporte. Cabelos negros perfeitamente lisos, olhos azuis penetrantes, vestido vermelho que acentuava cada curva. Ela era linda, poderosa e sabia disso. E estava claramente interessada em Caio, Monsieur Mandis.
Ela ronronou em inglês com sotaque francês sexy, estendendo a mão. Finalmente nos conhecemos pessoalmente. Suas cartas de negócio são sempre tão intensas. Caio beijou a mão dela, sorrindo de um jeito que Helena nunca tinha visto. Genuíno, interessado. O prazer é todo meu, Madame Valmon. Ouço maravilhas sobre sua empresa. Isabela, por favor.
E esta é Helena Silva, minha assistente executiva. Assistente não esposa. Helena apertou a mão de Isabela, forçando um sorriso. Prazer, encantada. Isabela mal olhou para ela antes de voltar toda a atenção para Caio. Durante o jantar, Helena ficou praticamente invisível. Isabela monopolizava a conversa rindo das piadas de Caio, tocando o braço dele constantemente, inclinando-se para mostrar o decote generoso.
E Caio, ele não recuava, sorria de volta, flertava. Helena sentiu algo quente e desconfortável crescendo no peito. Não era raiva exatamente, era ciúmes. Não, impossível. Ela não podia estar com ciúmes, não de Caio, não do homem que a mantinha prisioneira. Mas quando Isabela sugeriu irem a um bar próximo para continuar esta conversa fascinante e Caio aceitou imediatamente, Helena quase explodiu.
No bar, Isabela sentou ao lado de Caio no sofá, deixando Helena na poltrona separada. A francesa pediu champanhe Caro e continuou com o flirte descarado. Caio ela disse a voz suave. Você é casado? Helena parou de respirar. olhou para Caio esperando. “Não”, ele disse sem hesitar. “Solteiro, a mentira a atingiu como um soco.” Helena sentiu as lágrimas queimarem, mas forçou-as de volta.
Levantou-se abruptamente. “Com licença, estou cansada. Vou voltar para o hotel.” “Quer que eu peça um táxi?”, Caio perguntou desinteressado. Não precisa, eu me viro. Helena pegou a bolsa e saiu antes que eles pudessem ver sua expressão. Na rua, a noite fria de Paris a envolveu. Ela caminhou sem rumo, as lágrimas finalmente caindo livremente.
Por que doía tanto? Porque o fato dele negar o casamento, negar ela, doía como se tivessem enfiado uma faca no seu peito. Acabou sentada num banco próximo ao cena, olhando a água escura correr. As luzes da cidade se refletiam na superfície, lindas e distantes. “Você é uma idiota, Helena”, ela disse para si mesma, limpando as lágrimas com raiva. “Não pode estar se apaixonando por ele. Não pode.” Mas a verdade era innegável.
Apesar de tudo, da crueldade do contrato da prisão, alguma parte estúpida e traidora dela tinha começado a sentir algo por Caio Mendes, e aquilo ia destruí-la. Voltou para o hotel bem depois da meia-noite. Entrou na suí silenciosamente, esperando que Caio ainda estivesse fora, mas ele estava sentado no sofá da sala de estar, gravata frouxa, copo de whisky na mão. “Você demorou”, ele disse, levantando os olhos. Estava preocupado.
Mentira. Helena passou direto por ele em direção ao quarto. Você nunca se preocupa comigo. Helena, boa noite, Caio. Aproveite sua nova conquista francesa. Tenho certeza que Isabela será uma companhia muito melhor que sua esposa. Ela cuspiu a última palavra com veneno. Espera. Ele levantou, mas ela já tinha fechado a porta do quarto com força. Deitada na cama, Helena finalmente deixou os soluços virem.
chorou até não ter mais lágrimas, até adormecer exausta, com o coração em pedaços. Do outro lado da porta, Caio ficou parado, a mão sobre a madeira, querendo bater, querendo entrar, querendo o quê? Ele não sabia. Só sabia que o som de Helena chorando o estava matando por dentro. Os dias seguintes foram tensos.
Helena mal falava com Caio, respondendo em monossílabos quando necessário. Ele não mencionou a noite com Isabela. Ela não perguntou, mas Isabela não desapareceu. Apareceu em todas as reuniões seguintes, sempre com uma desculpa para tocar Caio, sempre com aquele sorriso sedutor. Helena via tudo, sentindo os ciúmes corroê-la por dentro. Na última noite, em Paris, havia um coquetel de fechamento dos negócios.
Helena vestiu seu melhor vestido, um modelo verde esmeralda que realçava seus olhos, decote elegante, fenda discreta na perna. passou mais tempo na maquiagem e no cabelo que o habitual. Quando desceu para a sala de estar, Caio estava esperando de terno preto. Ele olhou para ela e ficou parado, apenas olhando. Você está Ele começou, então limpou a garganta. Está apresentável.
Obrigada pelo elogio eloquente, Helena disse sarcástica pegando a clutch. No coquetel, Isabela apareceu com um vestido vermelho ainda mais ousado. Colou em Caio imediatamente, mas desta vez algo era diferente. Ele estava distante, educado, mas frio. “Ms Mendes”, Isabela ronronou. “Aquele bar maravilhoso está com um quarteto de jazz hoje.
Podemos ir depois?” “Obrigado, mas não, Caio disse formalmente. Tenho outros compromissos.” Isabela piscou surpresa. Ó, que pena. Seu olhar virou para Helena, avaliando. Sua assistente é bastante dedicada, sempre presente. Sim. Caio concordou, mas não elaborou. Helena sentiu uma faísca de satisfação, pequena, mas presente. Mais tarde, quando Isabela foi ao banheiro, outro empresário francês se aproximou de Helena, Jaque Bomon, CEO de uma concorrente menor, homem atraente de uns 40 anos.
Mademoiselle Silva, ele disse em inglês charmoso, você está radiante esta noite. Posso trazer uma taça de champanhe? Ó, eu. E ela está comigo. Caio apareceu do nada, colocando a mão possessiva na cintura de Helena. Obrigado, Jaques. O francês levantou as mãos em rendição, sorrindo. Desculpe, Monami, não sabia que estava ocupada. Quando ele saiu, Helena virou para Caio.
O que foi aquilo? Ja é conhecido por ser um mulherengo. Estava te protegendo. Eu não preciso da sua proteção. Aparentemente precisa, sim. Ele rebateu, não soltando a cintura dela. Você é ingênua demais para lidar com homens como ele. Ingênua? Helena riu sem humor. Eu estou casada com você, Caio. Acho que já passei pela pior experiência com homens possível.
Algo passou pelo rosto dele. Dor, mas desapareceu rápido. Ainda assim, enquanto estiver aqui representando minha empresa, você está sob minha responsabilidade. Que conveniente. Sou sua esposa quando você precisa de aparências. Sou sua assistente quando não quer me assumir e agora sou sua responsabilidade quando outro homem demonstra interesse. Helena afastou a mão dele.
Decida logo o que eu sou para você, porque está me confundindo. Ela se afastou antes que ele pudesse responder, indo para a varanda respirar ar fresco. A noite parisiense era linda, céu estrelado, brisa suave, luzes da cidade cintilando abaixo. Posso fazer companhia? Helena virou. Era uma mulher mais velha, elegante, de uns 60 anos. Sorriso gentil. Claro. Sou Marie Bomon, esposa de Jaque.
Ela riu suavemente ao ver a expressão de Helena. Não se preocupe. Não estou aqui para brigar. Sei que meu marido é um incorrigível flirt. Eu não estava interessada. Helena disse rapidamente. Eu sei. Vi como você olha para Mon Mendes. Marie sorriu com conhecimento. É o olhar de uma mulher apaixonada. Helena sentiu o sangue subir ao rosto. Não é verdade.
Mentir para mim é uma coisa, mentir para si mesma é outra. Marie olhou para dentro do salão, onde Caio estava conversando com outros empresários. Ele também olha para você quando acha que ninguém está vendo. Ele me odeia, Helena disse baixinho. E tem bons motivos. Amor e ódio são duas faces da mesma moeda, mas ambos requerem paixão intensa.
A indiferença é o verdadeiro oposto do amor. Helena absorveu isso em silêncio. Maria apertou sua mão gentilmente e voltou para dentro. Quando o coquetel acabou, Helena e Caio voltaram para o hotel em silêncio. Na suí, ela foi direto para seu quarto. Helena Caio a chamou, fazendo-a parar. sobre Isabela. Não me deve explicações. Ela o interrompeu sem virar. Não somos um casal de verdade.
Você pode fazer o que quiser, eu sei. Mas quero que saiba que nada aconteceu com ela ou com qualquer outra pessoa. Helena virou então surpresa. Por quê? Porque ele hesitou como se as palavras fossem difíceis. Porque apesar de tudo, eu ainda tenho algum senso de decência. Sou casado. Mesmo que seja um casamento de papel.
Que nobre, Helena disse, sarcástica. O homem que me mantém prisioneira tem senso de decência. Você não é prisioneira. Não. Então posso ir embora, anular o casamento, voltar para minha vida? Silêncio. A resposta estava clara. É o que pensei. Helena disse entrando no quarto e fechando a porta.
Mas naquela noite, deitada na escuridão, ela pensou no que Marie disse sobre amor e ódio, sobre olhares secretos. e se perguntou-se, talvez apenas talvez, ela não era a única confusa sobre o que sentia. O voo de volta foi diferente. Caio não trabalhou no laptop o tempo todo. Em vez disso, ficava olhando pela janela, perdido em pensamentos.
Helena lia um livro, mas não processava as palavras. Helena, ele disse de repente. Ela levantou os olhos. O que Marie Bomont disse para você na varanda? Helena ficou surpresa que ele tivesse notado a conversa. Nada importante. Conselhos de relacionamento que não se aplicam a nós. Como o quê? Não importa, Caio. Para mim importa. Ele virou na poltrona de primeira classe, encarando-a. Diga. Helena suspirou.
Ela disse que eu te olho como uma mulher apaixonada e que você me olha da mesma forma quando acha que ninguém está vendo. O silêncio que seguiu foi absoluto. Caio ficou pálido, depois vermelho. Ela estava errada. Eu sei. Helena disse. Voltando para o livro. disse para ela a mesma coisa, mas seu coração batia descompassado, porque a verdade era que Marie não estava errada, pelo menos não sobre Helena.
Ela tinha se apaixonado pelo próprio carrasco e era a coisa mais estúpida que poderia ter feito. Quando chegaram à mansão, tudo parecia igual, mas algo fundamental tinha mudado. Helena sentia na forma como Caio olhava para ela, não com ódio, não com indiferença, mas com confusão, como se ele mesmo não entendesse o que sentia.
Os dias seguintes caíram numa nova rotina. Caio ainda saía cedo e voltava tarde, mas agora jantava em casa. com ela conversavam, assuntos superficiais, trabalho, notícias, mas conversavam. Uma noite, duas semanas depois de voltarem de Paris, Helena foi ao escritório dele levar alguns documentos que ele tinha pedido. Bateu na porta entre Caio estava debruçado sobre a mesa, dezenas de papéis espalhados.
Parecia exausto, olheiras profundas, cabelo bagunçado, camisa amassada. trouxe os relatórios que você pediu.” Ela disse, aproximando-se. “Obrigado.” Ele pegou os papéis, mas não olhou. Continuou focado no que estava fazendo. Helena hesitou. “Você está bem?” “Sim.” “Por quê?” “Porque parece que não dorme há dias.
” Caio finalmente levantou o olhar, sorriu sem humor, percepção aguçada. “O que está acontecendo?” Ele suspirou, passando as mãos no rosto. Problemas com a expansão da empresa, concorrentes agressivos e hesitou. Rafael teve uma crise ontem, infecção pulmonar grave. Quase, quase perdemos ele. O coração de Helena apertou. Caio. Mas os médicos estabilizaram por enquanto.
Ele voltou para os papéis, mas Helena viu suas mãos tremerem. Por enquanto ele está vivo. Helena não pensou, apenas agiu, contornou a mesa e pousou a mão no ombro dele. Caio ficou rígido com o toque, mas não se afastou. Ele vai acordar, ela disse baixinho. Você precisa acreditar nisso.
Como pode dizer isso? Caio virou para ela os olhos vermelhos. Como pode ter certeza? Não posso, mas posso ter esperança. E você deveria ter também. Por um longo momento, eles ficaram assim, olhos nos olhos, a mão dela no ombro dele, o silêncio carregado de emoções não ditas. Então Caio virou de volta para a mesa. Obrigado pelos documentos. Dispensa clara.
Helena saiu, mas algo dentro dela havia mudado. Ela não via mais apenas o homem cruel que a mantinha prisioneira. Via um homem destroçado pela dor, um homem lutando para manter tudo sob controle enquanto desmoronava por dentro. E contra toda a lógica, contra toda a razão, ela queria ajudá-lo. O e-mail chegou numa segunda-feira de manhã.
Helena estava no escritório da empresa. Caio a tinha colocado para trabalhar no departamento administrativo, já que estava ali mesmo, quando ouviu a comoção no andar da diretoria. Subiu para ver o que acontecia e encontrou Caio no corredor, segurando um tablet, o rosto, uma máscara de fúria contida. “O que houve?”, ela perguntou.
“Isabela Valmon.” Ele cuspiu o nome como veneno, fez uma proposta hostil de compra, que era adquirir 20% das ações da Mendes Transportes. Helena ficou pálida. Ela pode fazer isso? Pode-se conseguir convencer os acionistas menores a venderem para ela. Caio passou a mão nos cabelos, frustrado. E ela é persuasiva.
Por que faria isso? Vingança, provavelmente, por eu tê-la rejeitado em Paris. Ele riu sem humor. Isabela Valmont não lida bem com rejeição. Nas semanas seguintes, a guerra corporativa se intensificou. Isabela usava cada tática no manual, oferecia preços acima do mercado, espalhava rumores sobre problemas financeiros da Mendes, roubava clientes com contratos agressivos.
Caio trabalhava 18 horas por dia tentando conter os danos. Helena mal o via. Quando via, ele estava mais magro, mais pálido, mais exausto. Uma noite, ela o encontrou dormindo sobre a mesa do escritório, documentos espalhados ao redor, pegou uma manta e cobriu ele gentilmente. Caio abriu os olhos desorientado.
Helena, você precisa descansar de verdade, não posso. Isabela está destruindo tudo que meu avô construiu. Sua voz quebrou. Tudo que meu pai deixou e eu não consigo parar ela. Helena sentou na cadeira ao lado da mesa. Me conta sobre a empresa, sobre sua família.
E pela primeira vez, Caio falou, contou sobre o avô imigrante português que chegou ao Brasil com nada e construiu um império do zero sobre o pai, que expandiu os negócios, mas depois adoeceu e morreu cedo demais, sobre Rafael, que deveria ter assumido junto com ele, mas agora jazia em coma. “Eu sou o último Mendes”, ele disse, a voz embargada, “O último guardião do legado da família.
E estou falhando, não está?” Helena disse firmemente: “Você está lutando e vai vencer. Como pode ter tanta certeza? Porque te conheço e você não desiste nunca.” Kaio olhou para ela com uma expressão que Helena não conseguiu decifrar. Gratidão, admiração, algo mais? “Por que está sendo gentil comigo?”, ele perguntou. Depois de tudo que fiz.
Porque apesar de tudo, Helena disse suavemente, você ainda é humano e está sofrendo, e eu não consigo simplesmente ignorar isso. Ele estendeu a mão tocando o rosto dela. O polegar acariciou sua bochecha com uma ternura que a fez estremecer, Helena. Mas então o celular dele tocou, quebrando o momento. Caio se afastou atendendo. Helena saiu do escritório com o coração acelerado, o que quase tinha acontecido.
Helena estava organizando arquivos antigos do departamento financeiro quando encontrou uma pasta esquecida no fundo de um armário, coberta de poeira, datada de 8 anos atrás. Curiosa, ela abriu documentos fiscais, relatórios de auditoria, registros de transações e descobertas chocantes.
A empresa tinha problemas sérios 8 anos atrás, dívidas não declaradas, contas irregulares, práticas comerciais questionáveis. Mas o que mais chamou atenção foram os emails do pai de Caio Augusto Mendes para o contador da empresa. Ordens explícitas para esconder prejuízos, para manipular balanços, para enganar auditores. E a linha do tempo era clara.
Tudo aconteceu quando Caio estava na Europa fazendo MBA. Ele não estava no Brasil, não podia saber. Ele não sabia que o pai estava envolvido em práticas irregulares. Helena continuou vasculhando os arquivos, o coração acelerado. Encontrou mais provas. Augusto Mendes cortara custos drasticamente naquele período para esconder os problemas financeiros, incluindo manutenção de veículos.
Helena parou de respirar, pegou os relatórios específicos da frota e lá estava o caminhão que seu pai dirigia no dia do acidente. O caminhão cujos freios falharam. estava na lista de veículos com manutenção atrasada por decisão direta de Augusto Mendes. O acidente não foi culpa do pai dela, foi culpa de Augusto, do próprio pai de Caio.
A família Mendes destruiu Rafael e depois Caio destruiu a família Silva por um crime que seus próprios pais cometeram. Helena sentiu as lágrimas caírem enquanto juntava as provas. fotocópias, digitalizações, tudo. Ela tinha o poder de destruir Caio, de provar que ele estava errado, de conseguir sua liberdade de volta.
Mas olhando para aqueles documentos, tudo que Helena conseguia sentir era tristeza, porque a verdade não traria Rafael de volta, não curaria a dor de ninguém, apenas criaria mais sofrimento. Guardou os documentos numa pasta, escondeu no fundo do closet do quarto e saiu do escritório tremendo. Aquela noite não conseguiu dormir. Tinha o poder de se libertar.
A pergunta era: “Usaria?” Durante três dias, Helena guardou o segredo. Observava Caio se destruir lentamente, trabalhando sem parar, tentando salvar a empresa. E a cada dia ela apertava a pasta escondida no closet, debatendo. Use uma voz dentro dela dizia: “Prove que ele estava errado. Seja livre”. Mas outra voz mais suave sussurrava.
E depois destruir ele vai te fazer feliz. Na quarta noite, Caio chegou em casa mais tarde que o normal. Helena estava na sala de estar esperando. Ele parou ao vê-la surpreso. Ainda acordada. Precisamos conversar. Ele se sentou no sofá exausto. Se é para mais reclamações sobre o casamento, não é sobre isso. Helena respirou fundo. É sobre a empresa, sobre Isabela.
Eu eu quero ajudar. Caio a olhou como se ela tivesse enlouquecido. Ajudar? Como? Eu estudei administração, trabalhei no departamento financeiro, tenho contatos com alguns fornecedores, clientes que conheci nas reuniões. Ela se inclinou para a frente. Me deixa te ajudar de verdade, não como uma prisioneira cumprindo obrigações, mas como parceira.
Por quê? A pergunta era genuína, confusa. Por que faria isso? Porque Helena hesitou. Não podia dizer a verdade, que se apaixonara por ele, porque essa empresa emprega centenas de pessoas. Porque é o legado da sua família e porque eu não quero ver você destruído. Caio ficou em silêncio por longo tempo, então lentamente assentiu. OK, podemos tentar.
Nos dias seguintes, Helena mergulhou de cabeça no trabalho, ligava para fornecedores, negociava contratos, organizava documentos, trabalhava lado a lado com Caio, às vezes até de madrugada. E durante esse processo, algo mudou entre eles. As conversas ficaram menos tensas, os silêncios menos hostis. Caio começou a sorrir de vez em quando, sorrisos pequenos, mas reais.
Helena se pegava, olhando para ele quando achava que ele não via. Uma madrugada, depois de finalmente fecharem um contrato importante, Caio se recostou na cadeira e riu. Um riso genuíno de alívio. “Conseguimos”, ele disse incrédulo. “Realmente conseguimos. Nós fizemos um bom time.” Helena concordou sorrindo. Ele olhou para ela e havia algo diferente nos olhos castanhos.
Calor, Helena, Eu O telefone tocou interrompendo. Caio atendeu, o sorriso desaparecendo. Entendo. Estarei aí em meia hora. O que foi, Rafael? Outra crise. Ele levantou rapidamente, pegando o paletó, hesitou na porta. Você quer vir comigo? Helena ficou surpresa. Você quer que eu vá? Sim, eu sim. No hospital, a UTI estava em alerta. Os médicos corriam. Monitores apitavam.
Caio segurou a mão de Helena com força enquanto esperavam notícias. Ele vai ficar bem, ela sussurrou. Vai ficar. Quando o médico finalmente saiu, sua expressão era séria. Estabilizamos. Mas vocês precisam entender. Essas crises estão se tornando mais frequentes. O corpo dele está enfraquecendo. Quanto tempo? Caio perguntou a voz trêmula.
É difícil dizer. Semanas, talvez meses, Caio desabou numa cadeira, enterrando o rosto nas mãos. Helena se ajoelhou na frente dele, segurando suas mãos. Ei, olha para mim. Quando ele levantou os olhos vermelhos, ela disse firme: “Você não vai perder ele. Rafael é forte, é um lutador, vai voltar.
E se não voltar? E se eu perder ele sem nunca ter dito a Deus? Então você vai dizer agora todos os dias, vai entrar naquele quarto e falar com ele, contar sobre o dia, sobre a empresa, sobre sobre nós. A última palavra saiu baixa, carregada de significado. Caio olhou para ela intenso. Helena, mas ela se levantou antes que ele pudesse continuar. Vem, vamos entrar. Rafael precisa ouvir sua voz.
No quarto, Rafael parecia menor do que Helena imaginava. magro demais, pálido, conectado a tantas máquinas, mas mesmo assim dava para ver o rosto bonito, jovem, parecido com Caio. Caio se sentou ao lado da cama, segurando a mão do irmão. “Oi, Rafa”, ele disse, a voz embargada. Sou eu, seu irmão chato. Helena ficou no canto, dando espaço.
Observou Caio falar com Rafael sobre a empresa, sobre Paris, sobre Helena, viu as lágrimas escorrerem pelo rosto dele sem pudor. Eu conheci alguém, Caio disse para o irmão Helena, ela é complicada, teimosa, linda e está me fazendo sentir coisas que eu não sentia há muito tempo. Ele olhou para Helena, então, segurando o olhar dela. Coisas que eu não deveria sentir, mas sinto mesmo assim.
O coração de Helena bateu descompassado. Ele estava falando dela, com ela lhe ouvindo. Então você precisa acordar, Rafa. Caio continuou. Precisa conhecer ela. Precisa ver que seu irmão idiota finalmente encontrou algo de bom na vida. Helena sentiu as lágrimas caírem. Discretamente saiu do quarto, indo para o corredor respirar.
5 minutos depois, Caio apareceu, ficou parado na frente dela, mãos nos bolsos, expressão vulnerável. Você ouviu o que eu disse? Não era pergunta. Ouvi. Então sabe que eu não estou mais fingindo que isso se tornou real para mim. Caio, eu sei que comecei tudo errado, que te tratei terrivelmente, que fui cruel e injusto. Ele deu um passo mais perto. Mas, Helena, em algum lugar no meio de toda essa bagunça, eu me apaixonei por você.
Helena parou de respirar. O quê? Você me ouviu? Outro passo, eu me apaixonei pela mulher que deveria odiar, pela mulher que amarrei a um casamento falso. E agora não sei o que fazer, porque você provavelmente nunca vai me perdoar. Você você se apaixonou por mim?”, Helena repetiu, precisando ouvir de novo. “Sim, completamente, desesperadamente.
Ele estava tão perto agora que ela sentia o calor dele. E se você quiser ir embora, eu entendo. Eu liberto você do contrato, sem condições, porque não posso mais te manter prisioneira quando tudo que eu quero é te ver feliz.” As palavras ficaram suspensas entre eles. Helena olhou nos olhos de Caio e viu a verdade ali.
Vulnerabilidade crua, amor verdadeiro. Eu não quero ir embora. Ela sussurrou. O quê? Eu não quero ir embora. Porque eu também? Ela respirou fundo. Também me apaixonei por você, seu idiota. Por um momento, nenhum deles se moveu. Apenas olharam um para o outro, processando. Então, Caio puxou ela, envolvendo-a num abraço apertado.
Helena enterrou o rosto no peito dele, sentindo o coração acelerado, batendo contra o dela. “Nós somos dois idiotas”, ele murmurou contra os cabelos dela. “Os maiores idiotas do mundo”, ela concordou, rindo entre as lágrimas. Quando se separaram, Caio segurou o rosto dela entre as mãos.
Posso te beijar de verdade desta vez? Em resposta, Helena puxou ele, unindo os lábios deles num beijo que era tudo que o beijo do cartório não foi. Apaixonado, desesperado, real. Quando finalmente se separaram, ambos estavam sem ar. Isso foi Caio começou. Demorado. Helena completou. Você deveria ter feito isso semanas atrás. Ele riu, a testa encostada na dela.
Você está certa, como sempre. Naquela noite, pela primeira vez, eles voltaram para casa juntos, de mãos dadas, como um casal de verdade. As barreiras entre eles tinham finalmente caído. A felicidade durou três dias. Então, Isabela atacou com força total, chegou de surpresa ao Brasil, marcou reunião com os acionistas principais, fez uma oferta impossível de recusar.
E o pior, ela tinha descoberto irregularidades antigas da empresa, fraudes fiscais de 8 anos atrás. O advogado de Caio, Dr. Tavares, explicou numa reunião de emergência. Ela tem provas. Vai expor tudo se não vendermos a ela. Helena sentiu o sangue gelar, as mesmas provas que ela tinha encontrado. Isabela descobrira também.
Mas eu não cometi fraudes. Caio disse confuso. Eu estava na Europa naquela época. Eu sei, mas seu pai cometeu ilegalmente você é o sucessor. A responsabilidade recai sobre você agora. Caio ficou pálido. Meu pai sabia. Ele sabia e não me contou. Helena segurou a mão dele por baixo da mesa. Mais tarde, em casa, ela o encontrou no escritório, olhando velhas fotos do pai.
Eu idolatrava ele. Caio disse baixinho. Achei que era perfeito. Um homem de negócios brilhante. E o tempo todo ele estava mentindo, escondendo, destruindo o legado da família. Ele cometeu erros, Helena disse gentil. Mas você não tem que pagar por eles.
Tenho sim, porque se Isabela expuser isso, não é só a empresa que cai. É o nome Mendes, a honra da família. E Rafael, sua voz quebrou. Rafael não vai ter nada para voltar. Naquela noite, enquanto Caio dormia fitully ao lado dela, pela primeira vez dividindo a cama, Helena tomou uma decisão. Tinha que usar as provas que encontrara, não para destruir Caio, mas para salvá-lo.
Helena trabalhou em segredo, organizou todos os documentos que encontrara, adicionou novas pesquisas, construiu um caso completo, provando que Caio era inocente. Mais que isso, encontrou a conexão. O contador que ajudou Augusto Mendes nas fraudes estava trabalhando agora para Isabela Valmon. Ela o contratara há um ano atrás. Provavelmente o usou para ter acesso aos segredos da Mendes.
Era chantagem, manipulação e Helena tinha as provas, mas precisava de ajuda. Não podia fazer isso sozinha. Procurou o Dr. Tavares no escritório dele. O advogado ficou surpreso ao vê-la. Senora Mendes, o que posso fazer? Preciso da sua ajuda. Para salvar a empresa e o Caio. Ela colocou a pasta grossa sobre a mesa, mas preciso que você prometa não contar a ele. Ainda não. Dr.
Tavares abriu a pasta. Seus olhos se arregalaram ao ler. Meu Deus, onde conseguiu isso? Não importa. Importa que temos as provas para destruir o caso de Isabela, para provar a inocência do Caio e mais, para expor a própria Isabela por chantagem e manipulação. Isso é, isso muda tudo. Dr. Tavares olhou para ela com novo respeito. A senhora salvou a empresa? Ainda não.
Isabela tem reunião com os acionistas amanhã. Precisamos agir antes. Trabalharam a noite toda, prepararam o contraprocesso, alertaram os acionistas sobre as verdadeiras intenções de Isabela. Enviaram provas para as autoridades competentes. Quando amanheceu, a armadilha estava pronta. Helena voltou para casa exausta. Caio ainda dormia. Ela se deitou ao lado dele, observando o rosto tranquilo.
“Eu te amo”, ela sussurrou. “E vou te proteger. Custe o que custar”. Na manhã seguinte, a reunião com o acionista seria decisiva. Caio estava tenso, esperando perder tudo. Helena segurou a mão dele no carro. Confia em mim? Ele olhou para ela confuso. Sempre. Então me deixa tomar à frente hoje.
Na sala de reunião, Isabela estava radiante, confiante, até Helena se levantar para falar. Senhores acionistas, ela começou. Antes de votarmos qualquer coisa, preciso apresentar alguns documentos. Isabela franziu a testa. Quem é você? Helena Mendes, esposa de Caio e coincidentemente administradora muito eficiente. Ela abriu o laptop projetando os documentos na tela. Estas são as supostas fraudes que a senhora ou a senora Valmon ameaça expor.
E estas são as provas de que Caio Mendes não teve envolvimento algum nelas. Murmúrios na sala. Isabela ficou pálida. Helena continuou implacável. Mais interessante. O contador que ajudou nas fraudes originais trabalha agora para a Valmont Logistics. Foi contratado um ano atrás. Suspeito. Não, isso é absurdo.
Isabela se levantou. É a verdade. Documentada e comprovada. Helena a encarou friamente. A senhora veio ao Brasil não para fazer negócios, mas para chantagear e manipular. E isso, senhores acionistas, é crime. A sala explodiu em conversas. Caio olhava para Helena com uma mistura de choque e admiração. Dr.
Tavares sorria discretamente. Isabela, vendo que perdera, pegou sua bolsa e saiu furiosa. Vocês vão se arrepender disso. Mas já era tarde. Os acionistas votaram confiança total em Caio Mendes. A empresa estava salva. Quando todos saíram, Caio puxou Helena para um canto. Como você? Encontrei as provas semanas atrás. Guardei, investiguei e usei quando necessário.
Por que não me contou? Porque você estava destruído demais. Precisava te proteger até o momento certo. Ela sorriu. Desculpa pela manipulação, mas funcionou. Caio a puxou num beijo intenso ali mesmo na sala de reunião vazia. Você é incrível, sabe disso? Eu sei”, ela brincou, rindo, “mas a felicidade seria breve, porque Isabela Valmon não aceitaria derrota tão facilmente, e sua vingança estava apenas começando.
A revenge de Isabela veio uma semana depois, não contra a empresa, mas contra a Helena. Ela investigou, descobriu o acidente, o envolvimento do pai de Helena e mais, descobriu a verdade sobre o casamento deles. Um e-mail chegou para Caio numa quinta-feira à noite, anexos com cópias do contrato matrimonial, provas do casamento arranjado e uma ameaça. Ou ele vendia parte da empresa para ela, ou tudo seria exposto publicamente.
Caio deletou o e-mail sem responder. Dois dias depois, a reportagem explodiu na mídia. Magnata casa por vingança. Contrato de casamento. Espan e chantagem familiar. Helena viu a manchete no jornal online e sentiu o mundo desabar. Fotos dela e de Caio. Trechos do contrato, entrevistas com fontes anônimas que confirmavam tudo. O escândalo foi instantâneo.
Repórteres cercaram a mansão. O telefone não parava de tocar. Clientes ligavam preocupados. Acionistas demandavam explicações. “Eu cuido disso”, Caio disse, preparando-se para uma entrevista coletiva. “Não, Helena o segurou. Vamos falar a verdade juntos.
” Na entrevista transmitida ao vivo, Caio e Helena sentaram lado a lado. Ele segurava a mão dela firme. É verdade, Caio começou. Que nosso casamento começou como um contrato. Após o acidente que feriu gravemente meu irmão, eu estava cego de dor e raiva. Culpei injustamente a família da Helena e ofereci esse acordo como forma de vingança, murmúrios entre os jornalistas.
Mas o que a mídia não sabe, ele continuou olhando para Helena, é que nós nos apaixonamos de verdade, que esse casamento que começou em ódio se transformou em amor genuíno e que eu me arrependo imensamente de ter colocado Helena nessa posição. Senr. Mendes, um jornalista perguntou. A senora Mendes estava ciente dos termos do contrato? Estava. Helena respondeu firme.
Aceitei para salvar meu pai. Ele não teria sobrevivido ao estresse de um processo judicial. Eu fiz o que achei necessário. E agora? Vão se divorciar. Helena olhou para Caio. Ele olhou de volta. Um entendimento silencioso passou entre eles. Não. Ambos disseram juntos. Não vamos nos divorciar. Caio elaborou. Porque este casamento é real agora.
As circunstâncias iniciais foram erradas, terríveis, mas o amor que temos é verdadeiro e vamos lutar por ele. A coletiva continuou por mais uma hora. Perguntas difíceis, respostas honestas. Quando terminou, Helena estava exausta. “Fizemos o certo”, ela perguntou no carro, voltando. “Fizemos a coisa honesta?” Caio respondeu.
É tudo que podíamos fazer, mas a polêmica não acabou. Nos dias seguintes, opiniões se dividiram. Alguns apoiavam o casal, outros condenaam. A empresa sofreu alguns danos à reputação, mas permaneceu de pé. Uma semana após o escândalo durante o jantar, o telefone de Caio tocou. Era o hospital. Rafael, ele mexeu a mão. Está respondendo a estímulos. Caio deixou o garfo cair.
Helena cobriu a boca, lágrimas nos olhos. Ele está voltando, o médico disse. Ainda vai levar tempo, mas está voltando. Naquela noite no hospital, eles viram Rafael abrir os olhos pela primeira vez em meses, olhar confuso ao redor, focar em Caio. Mano, a voz saiu fraca, rouca de desuso. Estou aqui. Caio chorava abertamente. Estou aqui, Rafa.
Você voltou. Rafael sorriu fracamente. Depois seus olhos encontraram Helena. Quem? Esta é Helena. Caio apresentou radiante. Minha esposa e a mulher que me salvou quando eu estava perdido. Legal. Rafael murmurou, fechando os olhos novamente, exausto, mas vivo. No corredor, Caio abraçou Helena com força. Ele voltou.
Rafael voltou. Eu disse que voltaria. Ela sussurrou, chorando também. Você tinha razão, sobretudo. Ele segurou o rosto dela. Eu te amo mais que qualquer coisa neste mundo. Eu também te amo, Helena disse. Mais do que imaginei ser possível. O beijo deles ali no corredor do hospital selou a verdade que ambos finalmente aceitavam.
Eles tinham começado como inimigos, mas terminaram como almas gêmeas. E agora, finalmente podiam começar de verdade. Seis meses depois, Helena entrou no quarto que antes fora seu. Agora era apenas um quarto de hóspedes. Ela dormia na suíte principal com Caio como marido e mulher de verdade. Pronta, ele apareceu na porta. Lindo, interno cinza claro.
Quase. Helena ajustou os brincos. Pérolas que pertenceram à avó de Caio. Um presente dele. Hoje era um dia especial. A renovação de votos. Caio quis fazer certo um casamento de verdade na frente de amigos e família com amor. A pequena cerimônia aconteceu no Jardim da Mansão, decorado com flores brancas, convidados selecionados, amigos próximos, família, funcionários queridos.
E Rafael, ainda em recuperação, mas andando com auxílio, sentado na primeira fileira, sorrindo. Quando Helena desceu as escadas, usando um vestido branco, simples, mas lindo, Caio sentiu o ar faltar. Ela estava radiante, feliz, finalmente livre. Na frente do celebrante, eles se encararam. Caio Roberto Mendes. Helena disse a voz firme.
Da primeira vez que nos casamos foi por obrigação, por necessidade, por dor, mas hoje eu caso contigo por escolha, porque você é o amor da minha vida, porque você me fez descobrir que até das situações mais difíceis pode nascer algo lindo. Lágrimas escorriam pelo rosto dele. Helena Maria Silva Mendes. Eu comecei nossa história de forma terrível, com crueldade e vingança, mas você me ensinou sobre perdão, sobre segundas chances, sobre amor verdadeiro.
Hoje caso contigo não para prender você, mas para me libertar junto com você. Trocaram alianças novas, ouro branco com inscrições personalizadas. Dentro da dele, da dor ao amor. Dentro da dela, do ódio à eternidade. Eu os declaro marido e mulher. O celebrante sorriu novamente, mas desta vez com o coração. O beijo foi aplaudido por todos. Rafael assobiou, fazendo todos rirem.
Na festa, enquanto dançavam, Caio sussurrou: “Obrigado! Por quê? Por não desistir de mim, mesmo quando eu merecia. Obrigado você.” Helena respondeu por me deixar te amar, mesmo achando que não merecia. Nós dois somos idiotas, então os maiores, ela concordou, rindo. Meses se passaram, a vida encontrou um ritmo.
Caio reduziu as horas de trabalho, delegando mais. Passava tempo com Rafael ajudando na recuperação. Passava tempo com Helena, construindo o casamento que ambos mereciam. Helena abriu uma consultoria para pequenas empresas. usava sua experiência para ajudar outros negócios familiares. Encontrou propósito no trabalho.
O pai dela, Roberto, melhorou com o tratamento adequado. Visitava-os frequentemente, reconciliado com o passado. Caio o tratava com respeito, nunca amigos íntimos, mas com paz entre eles. Um ano após a renovação de votos, Helena descobriu que estava grávida. Vamos ter um bebê”, ela disse, mostrando o teste para Caio numa manhã de sábado.
Ele ficou paralisado por um segundo. Depois gritou de alegria, pegando ela no colo e girando. “Um bebê? Vamos ter um bebê. Caio, cuidado. Estou grávida. Lembra?” Ele a colocou no chão gentilmente, as mãos indo para a barriga dela com reverência. Um bebê nosso, uma família de verdade, uma família construída no amor. Helena corrigiu sorrindo.
No amor, ele concordou, beijando-a. Meses depois, numa manhã de primavera, Clara Mendes nasceu, pequena, perfeita, com os olhos castanhos do pai e o sorriso da mãe. No hospital, segurando a filha nos braços, Caio olhou para Helena. Você transformou minha vida. Trouxe luz, onde só havia escuridão. Trouxe esperança quando só havia dor. E agora me deu esta dádiva. Nós fizemos isso juntos.
Helena disse tocando o rosto dele. Superamos o impossível. Transformamos ódio em amor, vingança em perdão e construímos algo lindo das cinzas. Rafael, agora totalmente recuperado, entrou no quarto com um buquê de flores. Posso conhecer minha sobrinha? Caio passou clara para ele cuidadosamente. Rafael olhou para a bebê com ternura. Oi, pequena.
Sou o seu tio Rafa e você não faz ideia da história maluca que seus pais têm. Uma história que terminou bem”, Helena disse, apoiando a cabeça no ombro de Caio. “Não terminou”, Caio corrigiu suavemente. Apenas começou de verdade. E ele estava certo. Porque o amor verdadeiro não tem fim, apenas transforma, cresce, eterniza.
5 anos depois, Clara brincava no jardim da mansão. Enquanto Helena esperava o segundo filho. Caio a observava da varanda. Rafael ao lado. “Você é um homem de sorte. Rafael comentou: “Eu sei”, Caio sorriu. “Quase estraguei tudo. Quase perdi ela por orgulho e vingança.
Mas não perdeu, porque ela viu, além da sua raiva, viu o homem que você poderia ser e me ajudou a me tornar esse homem.” Helena olhou para cima, vendo-os na varanda. Acenou, sorrindo. Caio acenou de volta, o coração transbordando. Tinham percorrido um caminho impossível, sobrevivido ao impensável. E do outro lado encontraram não apenas amor, encontraram redenção, encontraram paz, encontraram lar.
E no final era isso que todos precisavam, não uma história perfeita, mas uma história real, sincera, transformadora. Uma história que prova que até dos erros mais graves pode nascer algo belo, que o perdão tem mais poder que a vingança e que o amor verdadeiro sempre, sempre encontra um caminho. Epílogo. Anos se passaram.
Mendes Transportes prosperou sob nova liderança, com Caio e Helena trabalhando juntos e Rafael assumindo gradualmente mais responsabilidades. Criaram o Instituto Clara Mendes, ajudando famílias endividadas a recomeçar. transformaram dor em propósito. Clara cresceu ouvindo a história dos pais, a versão editada apropriada para crianças sobre como o papai e a mamãe se conheceram numa época difícil, como aprenderam a se amar, apesar das circunstâncias, como construíram uma família baseada em perdão e segundas chances. “Vocês sempre
se amaram?”, ela perguntou certa noite aos 8 anos. Caio e Helena trocaram olhares. Não. Helena respondeu honestamente. No começo não. Mas aprendemos. O amor verdadeiro não é fácil, Caio adicionou. Mas vale a pena lutar por ele. Clara pareceu pensar nisso. Como na Bela e a Fera, ambos riram. Algo assim, Helena disse, mas com final feliz de verdade.
Naquela noite deitados na cama, Caio puxou Helena para perto. Você se arrepende de ter aceitado minha proposta maluca naquele dia? Helena pensou. Não, porque me levou até você, até nós, até esta vida. O caminho foi tortuoso, mas o destino, ela beijou ele suavemente. O destino valeu cada dificuldade.
Eu te amo! Ele murmurou contra os lábios dela. Mais a cada dia. Eu também te amo. Ela respondeu: “Para sempre.” Do lado de fora, a lua brilhava sobre a mansão, que antes foi prisão, e agora era lar, um lar construído sobre as ruínas do passado, um lar fundamentado em amor conquistado, não dado, e dentro dele uma família que provava algo essencial, que não importa como a história começa, importa como você escolhe continuá-la.
Caio e Helena escolheram o amor, escolheram o perdão, escolheram um ao outro. E essa escolha fez toda a diferença. Do ódio nasceu o amor, da vingança o perdão. E das cinzas de um passado doloroso ergueu-se um futuro brilhante. Porque no fim o que nos define não são nossos erros, mas nossa coragem de recomeçar. M.
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