Ela era só uma empregada simples, mas quando viu aqueles dois bebês chorando todas as noites, descobriu um segredo sombrio que o pai milionário escondia. O que ela fez em seguida mudou tudo para sempre. Eu pago R$ 3.000 por mês e vocês não conseguem fazer dois bebês pararem de chorar.

 Marcos Silveira gritou para a 12ª babá que pedia demissão em três meses. Que tipo de profissional vocês são? Fernanda, uma mulher de 40 anos com 20 anos de experiência, estava com as mãos tremendo enquanto arrumava suas coisas. Senor Marcos, eu nunca vi nada igual. Esses bebês não param de chorar nem por 5 minutos. É como se estivessem possuídos. Possuídos? Marcos riu amargamente. Eles têm 8 meses de idade.

São bebês normais. Normais? Fernanda se virou para encará-lo. Bebês normais não choram 8 horas seguidas. Todas as noites, bebês normais não olham para o teto como se vissem alguma coisa que não existe. E bebês normais têm pais que os pegam no colo. A última frase cortou Marcos como uma lâmina. Ele sentiu o rosto esquentar de raiva.

 Como ousa questionar como eu crio meus filhos? Eu trabalho 16 horas por dia para dar tudo que eles precisam, tudo menos carinho. Fernanda murmurou pegando a mala. O que você disse? Nada, senhor. Só espero que o senhor encontre alguém que consiga ajudar essas crianças, porque elas estão sofrendo. A porta bateu com força, deixando Marcos sozinho no de entrada da mansão.

 Do andar de cima vinham os gritos familiares dos gêmeos Pedro e Paulo, que aos 8 meses de vida pareciam ter declarado guerra contra o silêncio. Era 2 da tarde de uma quinta-feira e eles já choravam há 4 horas ininterruptas. Marcos subiu as escadas com passos pesados, parando na porta do quarto dos bebês. Através da fresta podia ver os dois berços de madeira maciça balançando com o desespero dos filhos.

 Pedro estava vermelho de tanto chorar, os punhos cerrados, o corpo todo tenso. Paulo fazia a mesma coisa, como se estivessem sincronizados na agonia. “Carmen!”, Ele gritou e a governanta apareceu correndo. Sim, senhor. Preciso de outra babá hoje mesmo. Ligue para todas as agências que conhece. Carmen baixou os olhos.

 Senhor, eu já tentei ontem depois que a Fernanda avisou que ia sair. Nenhuma agência quer mandar funcionárias aqui. Como assim não quer? Elas dizem que suas babás sempre voltam traumatizadas. Uma agência até falou que vai nos colocar na lista de clientes problemáticos. Marcos sentiu o mundo desabar. Em oito meses havia tentado de tudo.

 Babás diplomadas, enfermeiras especializadas, até uma mulher que se dizia expert em bebês difíceis. Todas fugiram como se a casa estivesse pegando fogo. E agora o que eu faço? Tem uma moça na porta querendo falar com o senhor sobre emprego. Carmen disse hesitante. Babá? Não, senhor. Empregada doméstica. Mas ela disse que tem experiência com crianças.

 Marcos olhou para Carmen como se ela tivesse enlouquecido. Carmen, a casa já está limpa. Eu preciso de alguém que faça esses bebês pararem de chorar. Eu sei, mas ela insistiu muito. E do jeito que as coisas estão, os gritos do andar de cima ficaram mais altos, como se os bebês soubessem que estavam sendo discutidos. Marcos passou as mãos pelo cabelo, sentindo que ia enlouquecer.

 Tá bom. Manda ela entrar, mas não prometo nada. Helena Silva entrou na sala como se não tivesse medo de nada. 28 anos, cabelos loiros presos em rabo de cavalo, blusa branca simples e calça jeans desbotada. Não parecia intimidada pela mansão luxuosa, nem pelos gritos que ecoavam pela casa.

 “Boa tarde, senor Marcos”, ela disse estendendo a mão. “Meu nome é Helena Silva”. Helena, vou ser direto. Não preciso de empregada doméstica. Preciso de alguém que faça meus filhos pararem de chorar. Eu ouvi eles lá fora. Deve ser muito difícil para todo mundo. Difícil? Marcos quase gritou. Eu não durmo direito há 8 meses.

Já perdi contratos importantes porque chego nas reuniões parecendo um zumbi. 12 babás pediram demissão. Helena manteve a voz calma. E o que os médicos disseram? que não há nada errado com eles. Exames normais, saúde perfeita, mas eles choram como se estivessem sendo torturados.

 Posso subir e ver eles? Para quê? Você não é babá? Não, mas já cuidei de bebê que chorava muito. Marcos a olhou com desconfiança. Quando criei meu irmão caçula sozinha quando tinha 18 anos. Meus pais morreram e ele tinha dois meses. E ele chorava assim. Pior, havia algo na voz de Helena que fez Marcos parar de questionar.

 Tá bom, mas só para olhar subiram juntos, o som do choro ficando ensurdecedor. O quarto dos gêmeos era um contraste assustador. Móveis caríssimos, brinquedos importados, tudo perfeito. E no meio de tanto luxo, dois bebês pequenos choravam como se o mundo estivesse acabando. Helena se aproximou dos berços devagar.

 Pedro estava com o rosto molhado de lágrimas, os bracinhos esticados para cima. Paulo se contorcia como se algo o machucasse. Há quanto tempo eles estão assim hoje? Desde às 10 da manhã e ontem, das 9 da noite às 6 da manhã. Helena ficou observando os bebês em silêncio. Não tentou pegá-los, não fez barulhinhos, não tentou distraí-los com brinquedos, apenas observou. Senr.

Marcos, ela disse depois de alguns minutos. Posso fazer uma pergunta? Fale. Com que frequência o senhor pega seus filhos no colo? A pergunta foi como um tapa na cara. Marcos sentiu a raiva explodir no peito. Escute aqui, Helena, não sei das quantas. Eu não preciso de lições sobre como ser pai. Preciso de alguém que resolva esse problema. Não estou dando lição.

 Ela disse sem se alterar. Só estou tentando entender. Entender o quê? Por que eles choram? Já te disse que os médicos não encontraram nada. Eu acredito, mas nem sempre o problema é físico. Marcos parou de gritar. O que você quer dizer? Bebês sentem tudo, senhor. Sentem raiva, tristeza, solidão. Mesmo sem entender, eles absorvem as emoções dos adultos.

Isso é papo de maluco, talvez. Mas meu irmão parou de chorar quando eu aprendi a ficar calma perto dele. Os gêmeos continuavam chorando, como se nada no mundo pudesse consolá-los. Marcos olhou para os filhos e, pela primeira vez em meses, realmente os viu. Dois bebês pequenos, indefesos, que talvez estivessem pedindo algo que ele não sabia dar.

 O que você quer em troca de tentar ajudar? Trabalho como empregada doméstica. R$ 2.000 por mês. E 2.000? Era menos que ele gastava em uma noite de restaurante. Por que tão pouco? Porque não sou babá profissional. Sou só alguém que entende de bebês tristes. Marcos olhou para Helena, depois para os filhos. Não tinha mais nada a perder.

Você pode começar amanhã cedo, mas deixo claro, não faça milagres. Só tente descobrir porque eles choram tanto. Helena assentiu. Vou descobrir, senhor, prometo. Quando ela saiu, Marcos ficou sozinho com os bebês que continuavam chorando.

 Pela primeira vez se perguntou se o problema não estava neles, mas nele mesmo. Aquela noite seria a última em que ele ignoraria completamente os gritos dos filhos, porque amanhã Helena chegaria e com ela verdades que ele não estava preparado para enfrentar. Helena chegou na manhã seguinte às 7 em ponto como combinado. Carmen a recebeu na porta dos fundos com uma expressão de pena no rosto, como se estivesse vendo alguém caminhando direto para um precipício.

 “Menina, você tem certeza que quer trabalhar aqui?”, sussurrou a governanta, olhando nervosa para as escadas. “Ainda dá tempo de desistir.” “Por que eu desistiria?”, Helena perguntou, amarrando o avental. “Porque eles estão chorando desde às 5 da manhã?” O Senr. Marcos nem desceu para tomar café. Está trancado no escritório com a porta batida, como se fosse um sinal. Os gritos dos gêmeos ecoaram pela casa inteira.

 Um som desesperador que fazia qualquer pessoa querer sair correndo. Helena ouviu atentamente, como se estivesse decifrando uma música complexa. “Eles estão com fome?”, perguntou. “Já tomaram uma madeira às seis. Também já foram trocados. Tiveram banho, tudo certinho, mas não param de chorar”. Helena subiu as escadas devagar, seguindo o som do choro.

 O corredor do segundo andar era elegante, com quadros caros nas paredes e um carpete grosso que abafava os passos. Mas havia algo estranho que ela notou imediatamente. Todas as portas estavam fechadas, exceto a do quarto dos bebês. Carmen! Ela chamou quando a governanta subiu atrás dela. Qual é o quarto do Senr. Marcos? o último do corredor. Depois do escritório dele, Helena olhou na direção indicada.

 Entre o quarto dos bebês e o quarto do pai havia pelo menos 20 m de distância. E ele sempre dormiu aí, sempre, desde que os meninos nasceram. E antes, quando a esposa era viva, Carmen ficou desconfortável. Antes eles dormiam no quarto principal, que fica do outro lado da casa. Mas depois que a dona Isabela faleceu, ele mudou para o quarto mais distante.

Helena parou na porta do quarto dos gêmeos. Pedro e Paulo estavam nos berços, chorando com uma intensidade que parecia impossível para bebês tão pequenos. Mas ela não entrou imediatamente. Em vez disso, ficou observando o corredor. Carmen, me mostra a casa toda. Quero conhecer cada cômodo. Para quê? Você vai trabalhar só na cozinha e nas áreas de serviço.

 Quero entender como esta família vivia antes dos bebês nascerem. A governanta hesitou, mas acabou concordando. Desceram para o térrio e Carmen começou o tour. A casa era imensa. Sala de estar, sala de jantar, biblioteca, escritório, cozinha gourmet, área de lazer, tudo impecavelmente decorado, mas com um ar frio, como se ninguém realmente vivesse ali.

 Onde vocês faziam as refeições quando a dona Isabela estava viva? Helena perguntou. Na sala de jantar, sempre. Ela fazia questão de que fossem momentos em família. E agora o Senr. Marcos come no escritório quando come, às vezes fica o dia inteiro só tomando café. Helena foi até a sala de jantar. A mesa de Mógno para 12 pessoas estava impecável, como se nunca tivesse sido usada.

 Mas em cima do aparador havia marcas circulares na madeira, como se alguém tivesse removido objetos que ficavam ali sempre. “O que tinha aqui em cima?”, Ela perguntou, passando o dedo nas marcas. Carmen baixou os olhos. Fotos da família. O Senr. Marcos mandou guardar tudo depois que os meninos nasceram. Guardar onde? No quarto que era da dona Isabela.

 Ele trancou a porta e ninguém pode entrar. Helena sentiu um aperto no peito. Ele proibiu que qualquer coisa da esposa ficasse à vista. Não apenas proibiu, ele mesmo recolheu tudo. Fotos, roupas, perfumes, até as plantas que ela cuidava. disse que não queria lembranças dolorosas pela casa. E isso aconteceu quando? Logo depois que trouxe os bebês do hospital.

 Na primeira semana, Helena subiu novamente para o segundo andar, desta vez prestando atenção em detalhes que havia perdido antes. As paredes do corredor tinham marcas retangulares mais claras, como se quadros tivessem sido removidos. No final do corredor havia uma porta com uma fechadura diferente das outras. Aquele é o quarto da dona Isabela. Ela perguntou. Era o quarto principal do casal. Agora está fechado há ito meses.

 Helena se aproximou da porta e encostou o ouvido. Do outro lado, vinha um silêncio sepulcral, como se o cômodo estivesse morto. Mas o que mais a chamou atenção foi a posição. O quarto ficava exatamente ao lado do quarto dos bebês. Carmen, posso te fazer uma pergunta muito pessoal? A governanta ficou tensa. Depende da pergunta.

 Como a dona Isabela morreu no parto, complicações na cesariana, perdeu muito sangue e não conseguiram salvar. E o Senr. Marcos estava presente. Estava na sala de cirurgia quando ela quando ela partiu. Saiu de lá completamente destruído. Helena voltou para o quarto dos bebês, onde Pedro e Paulo continuavam chorando. Dessa vez ela entrou e se aproximou dos berços.

 Os bebês estavam claramente exaustos, mas não conseguiam parar de chorar. “Vocês sentem, não é?”, ela sussurrou, olhando para eles. “Vocês sabem que alguém muito importante deveria estar aqui, mas não está.” Como se entendessem suas palavras, os bebês choraram ainda mais alto. Helena notou algo que nenhuma das babás anteriores havia percebido.

 Eles não choravam, olhando para qualquer direção. Sempre olhavam para a parede que dividia o quarto deles do quarto principal. “Carmen,” ela chamou. “Vem cá um minuto.” A governanta entrou relutante no quarto. “O que foi? Repara onde eles estão olhando quando choram.” Carmen observou por alguns segundos. Pedro estava com o rostinho virado para a parede da direita.

 Paulo fazia a mesma coisa. Era como se estivessem chamando alguém que estava do outro lado. “Meu Deus!”, Carmen murmurou. “Eles estão olhando para o quarto da mãe. Exato. E aposto que fazem isso desde que nasceram, mas isso é impossível. Bebês não sabem onde as pessoas estão. Não sabem onde estão.” Helena corrigiu, “mas sabem ondeveriam estar. Nesse momento, a porta do quarto se abriu bruscamente.

Marcos entrou como um furacão, com os cabelos despenteados e uma expressão furiosa no rosto. O que vocês estão fazendo aqui? Por que não estão cuidando do que foram contratadas para fazer, senor Marcos? Helena disse calmamente. Estou tentando entender porque seus filhos choram tanto. Já te disse ontem que não há explicação.

 Eles simplesmente choram. Há explicação, sim. E o senhor sabe qual é, Marcos? parou de gritar. Como é que é? Seus filhos estão chamando pela mãe e eles sabem que o Senhor os culpa pela morte dela. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Mesmo os bebês pararam de chorar por alguns segundos, como se sentissem atenção no ar. Marcos ficou pálido, as mãos tremendo de raiva.

“Você não sabe do que está falando”, ele disse com a voz perigosamente baixa. “Sei sim. O Senhor removeu todas as lembranças da esposa, mudou de quarto para ficar o mais longe possível dos filhos e evita tocá-los porque eles lembram a perda. Cale a boca, Marcos explodiu. Você não tem direito de falar sobre minha família.

 Seus filhos não são sua família? Helena perguntou sem se alterar. A pergunta atingiu Marcos como um tiro. Ele olhou para os bebês que haviam voltado a chorar, depois para Helena, que o encarava sem medo. Eles mataram minha esposa ele disse, a voz quebrada. Isabela estava perfeitamente bem até decidir ter filhos. Se ela não tivesse engravidado, ainda estaria viva. Carmen levou a mão à boca, chocada.

 Em 8 meses, nunca havia ouvido Marcos falar tão abertamente sobre a culpa que carregava. Senhor Marcos. Helena disse suavemente, posso contar uma coisa sobre mim? Não quero ouvir. Quando meu irmão nasceu, minha mãe teve complicações no parto. Ela morreu três dias depois. Marcos parou de andar e olhou para ela.

 Eu tinha 18 anos e passei esses três dias odiando aquele bebê. Achava que ele havia matado minha mãe. Quando ela realmente partiu, eu culpei meu irmão por tudo. E daí? Daí que fiquei dois meses tratando mal uma criança inocente até meu pai morrer no acidente. Aí percebi que meu irmão não havia matado ninguém.

 Ele era apenas o resultado do amor dos meus pais. Marcos sentou na poltrona do quarto como se não conseguisse mais ficar em pé. Mas Isabela morreu por causa deles. Isabela morreu para dar vida a eles. Helena corrigiu. E aposto que se ela pudesse escolher novamente faria a mesma escolha. Você não a conhecia. Não, mas conheço mães e mães não culpam os filhos pela própria morte.

 Elas pedem para os pais amarem as crianças por elas. Os bebês continuavam chorando, mas agora parecia um choro diferente. Não era desespero puro, era um pedido, um chamado por alguém que precisavam desesperadamente. O pai, Senr. Marcos, Helena disse, quando foi a última vez que o senhor pegou seus filhos no colo? Eu eu não lembro.

 Não lembra ou nunca pegou? Marcos fechou os olhos. Nunca consegui. Sempre que olho para eles, vejo Isabela morrendo na mesa de cirurgia. E eles sentem isso, por isso choram tanto. Sabem que deveriam ser amados, mas só encontram rejeição. Carmen, que havia ficado em silêncio até então, finalmente falou: “Senhor Marcos, a dona Isabela sempre dizia que queria que os filhos crescessem cercados de amor.

 Ela dizia isso?”, Marcos perguntou com a voz embargada. Dizia. Nos últimos meses de gravidez, ela só falava sobre como seria criar os meninos com muito carinho. Helena se aproximou de Marcos devagar. Quer tentar só por alguns minutos? Tentar o quê? Pegar um dos seus filhos no colo.

 Marcos olhou para os berços como se fossem bombas prestes a explodir. Eu não consigo. Consegue sim. e eles precisam disso. Helena foi até o berço de Pedro e o pegou no colo com cuidado. O bebê continuou chorando, mas se acalmou um pouco ao sentir o toque humano. Ela caminhou até Marcos e estendeu a criança para ele. Só por um minuto ela insistiu.

 Com as mãos tremendo, Marcos pegou o filho nos braços. Pedro era menor do que ele imaginava, mais frágil, mais real. E no momento em que sentiu o calor do pai, parou completamente de chorar. O silêncio no quarto foi mágico. Pela primeira vez em 8 meses, um dos gêmeos parou de chorar nos braços do pai. Paulo, vendo o irmão tranquilo, também diminuiu o choro.

 “Meu Deus!”, Marcos sussurrou, olhando para o filho. Ele parou, porque é isso que ele queria desde sempre. Helena disse. O amor do pai. Marcos olhou para Pedro, que agora o observava com olhinhos curiosos, como se estivesse conhecendo o pai pela primeira vez. “E talvez estivesse mesmo. Eu sou um péssimo pai”, ele murmurou.

 “Não é, é apenas um pai com medo de amar e perder de novo. E se eu não conseguir? E se eu só trouxer mais dor para eles?” Helena sorriu pela primeira vez desde que havia chegado. “Então eu vou te ensinar. Afinal, é para isso que estou aqui. Do lado de fora começava a chover, como se o céu estivesse lavando anos de dor acumulada.

 E pela primeira vez em 8 meses, a casa dos Silveira conheceu alguns minutos de paz. Mas Helena sabia que aquilo era apenas o começo. As verdades mais dolorosas ainda estavam por vir. O momento mágico durou apenas 5 minutos. Pedro havia parado de chorar nos braços do pai. Paulo observa curioso do berço e pela primeira vez em oito meses a casa conheceu o silêncio.

 Mas quando Marcos tentou devolver o bebê para Helena, suas mãos começaram a tremer violentamente. “Eu não posso”, ele disse, estendendo Pedro rapidamente. Não consigo olhar para ele sem ver Isabela morrendo. Helena pegou o bebê, que imediatamente voltou a chorar, como se soubesse que havia perdido a chance de conexão com o pai.

 Senhor Marcos, o que aconteceu exatamente no dia que eles nasceram? Eu já disse. Isabela morreu no parto. Não, eu quero saber o que realmente aconteceu. Os detalhes. Marcos se levantou bruscamente da poltrona. Por que você quer saber isso? Não vai mudar nada.

 Vai sim, porque enquanto o senhor não enfrentar a verdade, seus filhos vão continuar chorando. Eles sentem sua dor, Senr. Marcos. Sentem sua culpa. Carmen, que havia ficado em silêncio observando a cena, deu um passo à frente. Senhor, talvez seja a hora de conversar sobre aquele dia. Carmen, não. Fazito meses que o senhor carrega esse peso sozinho. Não está funcionando.

 Marcos caminhou até a janela, dando as costas para todos. Do lado de fora, a chuva havia parado, mas o céu continuava cinzento. Vocês não entendem? Eu matei minha esposa. Como? Helena perguntou suavemente. Eu a convencia a ter filhos. Isabela tinha medo da gravidez desde sempre. Dizia que tinha pressentimentos ruins, mas eu insisti. Disse que ela estava sendo boba, que mulheres tinham filhos todos os dias sem problema.

 Os bebês choravam mais baixo agora, como se estivessem ouvindo a confissão do pai. Continue, Helena encorajou. Durante a gravidez, ela teve várias complicações. Pressão alta, sangramento. O médico sugeriu repouso absoluto, mas eu estava focado nos negócios. Achava que ela estava exagerando. Carmen baixou os olhos. Ela lembrava de tudo perfeitamente.

 No dia do parto, Isabela estava apavorada, segurava minha mão e dizia que tinha certeza de que algo ia dar errado. Eu ria. Disse que estava sendo dramática. Marcos se virou para olhar os filhos, os olhos cheios de lágrimas. As últimas palavras que ela ouviu de mim foram: “Para de frescura, Isabela, vai dar tudo certo”.

 O silêncio no quarto era pesado. Helena continuou embalando Pedro, que havia se acalmado um pouco. E então, então ela entrou na cirurgia. Eu fiquei na sala de espera, nervoso, mas ainda achando que eram preocupações bobas dela. Quando os médicos saíram com os bebês, pensei que tinha acabado, mas eles voltaram correndo. A voz de Marcos começou a falhar. Hemorragia.

 Não conseguiam estancar o sangue. Passou uma hora, duas horas, médicos entrando e saindo da sala de cirurgia. E eu lá, rezando para Deus por mais tempo. O que aconteceu depois? Depois um médico veio me dizer que tinham conseguido parar o sangramento, mas Isabela havia entrado em coma. Disse que as próximas horas seriam decisivas. Helena se aproximou dele.

 E os bebês? Os bebês estavam na UTI neonatal, perfeitos, saudáveis, chorando alto, e eu os odiava. Marcos engoliu em seco. Eu olhava para eles e pensava: “Por causa de vocês, minha esposa pode morrer. Senr. Marcos, deixa eu terminar.” Ele explodiu. Isabela ficou em coma por três dias.

 Três dias que eu passei no hospital sem comer, sem dormir, apenas orando. E sabe o que eu fazia? Negociava com Deus. Como assim? Dizia: Deus, se você salvar minha esposa, eu faço qualquer coisa. Dou todos os meus bens para caridade. Dedico minha vida aos pobres. Qualquer coisa, só não tira ela de mim. Carmen estava chorando silenciosamente.

 Ela nunca havia ouvido essa versão da história. No terceiro dia, Isabela acordou. Por algumas horas, pensei que Deus havia atendido minhas orações. Ela estava fraca, mas consciente. Falou comigo, perguntou pelos bebês: “E o que você disse?” Disse que eles estavam bem. Prometi que íamos criá-los juntos, que ela ia se recuperar completamente.

Mentiras. Mentiras que eu queria que fossem verdade. Helena percebeu que estava chegando na parte mais dolorosa da história. Naquela noite, Isabela piorou de novo. Infecção generalizada. O corpo dela não tinha mais forças para lutar. Quando os médicos me chamaram pela última vez, eu sabia. Marcos se sentou na poltrona novamente, como se não conseguisse mais ficar em pé.

 Ela me pediu para prometer uma coisa antes de partir. O quê? Que eu amaria nossos filhos por nós dois. que não os culparia pela morte dela. Helena sentiu um nó na garganta. E o que você respondeu? Prometi. Segurei a mão dela e prometi que seria o melhor pai do mundo. E então ela sorriu, fechou os olhos e Marcos não conseguiu terminar a frase.

 Desabou a chorar pela primeira vez emito meses. Soluços profundos que saíam do fundo da alma. Helena colocou Pedro no berço e se aproximou de Marcos. Senhor, não foi sua culpa. Foi sim. Se eu não tivesse insistido para ter filhos, ela estaria viva. Ou não, ninguém sabe o futuro.

 Isabela escolheu ter filhos também, Senr. Marcos. Foi decisão dela. Mas eu a convenci. Convencer não é obrigar. Ela podia ter dito não. Carmen se aproximou também. Senr. Marcos, posso contar uma coisa que nunca contei? Ele olhou para ela através das lágrimas. Dona Isabela veio falar comigo duas semanas antes dos meninos nascerem. Ela disse que tinha medo de morrer no parto, mas que não se arrependia de estar grávida.

 Ela disse isso? Disse, falou que se alguma coisa acontecesse com ela, eu deveria lembrar o Senhor de que a escolha havia sido dela também, que ela queria muito ser mãe. Marcos ficou em silêncio, processando a informação. Há mais. Carmen continuou. Ela me pediu para esconder algumas coisas para os meninos, cartas, fotos, lembranças.

 Disse que quando eles crescessem, eu deveria dar tudo para eles. Que cartas? Cartas que ela escreveu para Pedro e Paulo. Uma para cada ano de vida deles, até os 18 anos. 36 cartas no total. Helena sentiu os cabelos do braço se arrepiarem. Onde estão essas cartas? escondidas no quarto dela.

 Dona Isabela me deu uma chave extra e me fez prometer que só abriria o quarto quando o Senhor estivesse pronto. Marcos olhou para Carmen com incredulidade. Você teve acesso ao quarto esse tempo todo? Tive, mas respeitei sua dor. Sabia que não era hora. E agora é, Helena se adiantou. Agora seus filhos precisam conhecer a mãe e o senhor precisa se despedir de verdade.

 Marcos olhou para os bebês que haviam se acalmado um pouco durante a conversa. Era como se eles soubessem que algo importante estava acontecendo. “Eu não sei se consigo entrar naquele quarto”, ele admitiu. “Não precisa entrar sozinho,” Helena disse. Nós vamos com você. E se for muito doloroso, vai ser. Mas a dor que o senhor está sentindo agora, fugindo das lembranças, é pior.

 Carmen pegou um molho de chaves da gaveta. Senhor, há 8 meses esse quarto está fechado. Talvez seja a hora de deixar o ar entrar. Marcos se levantou devagar, como um homem caminhando para o próprio julgamento. Tá bom, mas se eu não conseguir ficar lá dentro, a gente sai. Combinado, Helena disse. Saíram do quarto dos bebês, deixando a porta aberta para poderem ouvir se eles voltassem a chorar.

Caminharam pelo corredor até a porta do quarto principal, que estava fechada há tantos meses. Carmen colocou a chave na fechadura, mas antes de girar olhou para Marcos. Senhor, tem certeza? Ele respirou fundo. Tenho. A porta se abriu com um rangido. O quarto estava escuro, com as cortinas fechadas e um cheiro de ambiente fechado.

 Carmen acendeu a luz e todos ficaram parados na entrada. O quarto estava exatamente como Isabela havia deixado. A cama arrumada, os perfumes na penteadeira, roupas no armário entreaberto. Era como se ela tivesse saído para o hospital e fosse voltar a qualquer momento. Marcos deu um passo à frente e parou. Eu posso sentir o perfume dela. Dona Isabela sempre usava aquele perfume de rosas.

 Carmen disse suavemente. Helena observou o quarto com atenção. Havia fotos por toda parte. Marcos e Isabela viajando, comemorando aniversários, o dia do casamento. E na mesinha de cabeceira, uma foto dela grávida, sorrindo e segurando a barriga. Ela parecia feliz grávida. Helena observou. Era Marcos admitiu mesmo com medo, ela estava radiante.

 Dizia que sentia os bebês se mexendo e conversava com eles todas as noites. Carmen foi até o guarda-roupa e abriu uma gaveta no fundo. As cartas estão aqui. Tirou uma caixa de madeira decorada, cheia de envelopes numerados. No primeiro envelope estava escrito para Pedro e Paulo. Primeiro ano de vida. Marcos pegou o envelope com mãos trêmulas. Posso abrir? Pode.

 Ela deixou instruções para que fossem abertas quando necessário. Ele abriu cuidadosamente e tirou uma carta escrita à mão com a letra delicada de Isabela. Lê em voz alta, Helena pediu. Marcos começou a ler a voz embargada. Meus amores, Pedro e Paulo, se vocês estão ouvindo esta carta, significa que eu não pude ficar para cuidar de vocês pessoalmente, mas saibam que cada segundo da gestação foi a época mais feliz da minha vida.

 Ele parou, as lágrimas tornando difícil continuar. Continue, Helena encorajou. Seu pai pode estar triste e com raiva agora. Talvez até culpe vocês pela minha partida, mas não culpem ele. Ele me amava tanto que deve estar perdido sem mim. Tenham paciência com o papai de vocês. Marcos desabou a chorar novamente. Quero que saibam que escolhi vocês.

 Mesmo sabendo dos riscos, escolhi dar vida a vocês e faria a mesma escolha milhões de vezes. Vocês são o maior presente que eu poderia dar ao mundo. Helena sentiu lágrimas escorrendo pelo próprio rosto. Cuidem um do outro. Sejam amigos para sempre e cuidem do papai também. Ele vai precisar muito do amor de vocês.

 Um dia, quando crescerem, digam a ele que eu não culpo ninguém pela minha morte. Foi o preço que paguei pela vida de vocês e foi um preço justo. Marcos não conseguia mais falar. Carmen terminou de ler. Vivam felizes, meus amores. Sejam gentis. Sejam corajosos, sejam amados. E saibam que onde eu estiver, estarei sempre cuidando de vocês. Com todo o meu amor. Mamãe Isabela.

 O silêncio no quarto foi total. Três adultos choravam, processando palavras escritas por uma mulher que sabia que ia morrer, mas que escolheu deixar amor em vez de amargura. Ela não me culpa Marcos sussurrou. Nunca culpou, Carmen confirmou. Ela me disse que a única coisa que a deixava triste era pensar que o Senhor poderia se culpar para sempre.

 Helena se aproximou de Marcos. Seus filhos não mataram sua esposa, Senr. Marcos. Eles são o último presente que ela lhe deu. Marcos olhou ao redor do quarto, vendo pela primeira vez não um mausoléu de dor, mas um lugar cheio de amor e lembranças felizes. “Eu quero tentar”, ele disse finalmente. “Tentar o quê?” “Ser o pai que Isabela esperava que eu fosse?” Helena sorriu através das lágrimas. “Então vamos começar agora.

” saíram do quarto deixando a porta aberta pela primeira vez em oito meses. Quando chegaram ao quarto dos bebês, encontraram Pedro e Paulo dormindo pacificamente. Pela primeira vez em 8 meses, eles não estavam chorando. 3 da manhã, pela primeira vez em 8 meses, Marcos não foi acordado pelos gritos dos gêmeos. O silêncio na casa era tão profundo que ele acordou sozinho, confuso, achando que alguma coisa terrível havia acontecido. Levantou-se rapidamente e correu para o quarto dos bebês, com o coração disparado.

 Pedro e Paulo dormiam tranquilamente nos berços, respirando suavemente, com as expressões serenas que ele nunca havia visto nos rostos dos filhos. Pela primeira vez, pareciam realmente bebês normais, não crianças atormentadas por algo que não conseguiam expressar.

 Helena estava sentada numa poltrona ao lado dos berços, também dormindo. Havia passado a noite toda ali observando para ter certeza de que os bebês realmente estavam em paz. Marcos ficou parado na porta, observando a cena que nunca imaginou ser possível. Senhor Marcos. Helena sussurrou, acordando com o barulho dele na porta. Eles estão bem? Ele perguntou baixinho, com medo de quebrar o encanto.

 Estão dormiram a noite toda sem um único gemido. Marcos se aproximou dos berços devagar, como se estivesse vendo os filhos pela primeira vez. Pedro tinha uma expressão tranquila no rosto, um punhinho fechado próximo à boca. Paulo dormia de bruços com o rostinho rosado encostado no travesseiro.

 “Eles parecem diferentes”, ele murmurou. “Não são eles que estão diferentes, senhor Marcos? É o senhor. Como assim?” Helena se levantou da poltrona, cuidando para não fazer barulho. Ontem, quando o Senhor leu a carta da Isabela, alguma coisa mudou dentro do Senhor. E eles sentiram. Bebês não sentem essas coisas? Sentem sim, principalmente quando se trata dos próprios pais.

 Eles viveram oito meses sentindo sua culpa, sua raiva, sua rejeição. Ontem sentiram amor pela primeira vez. Marcos ficou em silêncio, observando os filhos. Era verdade que algo havia mudado nele depois de ler a carta de Isabela. A culpa esmagadora que carregava 8 meses havia diminuído, substituída por uma compreensão dolorosa, mas necessária. Helena, ele disse baixinho.

 Posso te perguntar uma coisa? Claro. Por que você se importa tanto? Você nem me conhece, nem conhecia a minha família. Por que está fazendo isso? Helena sorriu tristemente. Porque eu sei como é crescer sem o amor do pai. Seu pai não te amava? Meu pai me amava, mas estava perdido na própria dor.

 Depois que minha mãe morreu, ele ficou dois anos me culpando pelo que aconteceu. Dois anos em que eu senti que não merecia existir. Marcos sentiu um aperto no peito. E o que aconteceu? Ele morreu no acidente antes de conseguir me perdoar, antes de conseguir me amar de verdade novamente. Sinto muito. Eu não quero que seus filhos passem pelo que eu passei. Não quero que cresçam achando que são culpados pela morte da mãe.

Pedro se mexeu no berço, fazendo um ruído baixinho, mas continuou dormindo. Marcos teve um impulso estranho de se aproximar e tocar no rosto do filho, mas ainda hesitou. Pode tocar nele, Helena encorajou. Não vai acordar. Com cuidado extremo, Marcos estendeu a mão e tocou na bochecha de Pedro. A pele era macia e quente, completamente real.

 Por oito meses havia olhado para os filhos como se fossem fantasmas da esposa morta, mas agora via que eram apenas bebês que precisavam do pai. “Ele é tão pequeno”, murmurou e indefeso. “Precisa muito do senhor. Eu não sei como ser pai, Helena. Nunca aprendi. Ninguém nasce sabendo. A gente aprende fazendo. Marcos retirou a mão devagar e se afastou do berço.

 E se eu fizer tudo errado? E se machucá-los sem querer? Então a gente conserta. Mas fazer errado tentando é melhor que não fazer nada. Nesse momento, Paulo acordou não chorando, apenas abrindo os olhos e olhando ao redor. Quando viu Marcos, não começou a berrar, como sempre fazia. Apenas observou. Curioso. Ele está me olhando. Marcos disse surpreso. Está.

Quer conhecer o pai. E agora? O que eu faço? Fala com ele. Bebês gostam de ouvir a voz dos pais. Marcos se aproximou do berço de Paulo, nervoso. Oi, filho. A palavra filho saiu estranha da boca dele, como se fosse um idioma que não dominava. Mas Paulo sorriu, um sorriso pequeno, mas inconfundível. Ele sorriu. Marcos exclamou baixinho.

 Sorriu porque reconheceu a voz do pai. Pedro também acordou com o som das vozes, mas como o irmão não chorou. Apenas observou a cena com interesse infantil. “Eles são realmente lindos”, Marcos admitiu, olhando os dois filhos acordados e tranquilos. São iguais a Isabela quando sorri. Helena disse: “É verdade.

 Tem os olhos dela, o formato do rosto e a personalidade do senhor, provavelmente.” Marcos riu baixinho. Espero que não. Eu sou muito teimoso. Teimoso pode ser bom, significa que não desiste fácil. Paulo começou a fazer ruídos baixinhos, não de choro, mas como se estivesse tentando conversar. Marcos olhou para Helena sem saber o que fazer. Ele quer atenção”, ela explicou.

 “Quer que o pai converse com ele?” “Conversar sobre o quê? Ele não entende nada. Não importa. Bebês gostam do som da voz, do carinho. Conta alguma coisa sobre a mãe dele.” Marcos hesitou, mas depois se aproximou mais do berço. “Paulo, você sabia que sua mãe era a mulher mais bonita do mundo?” Paulo parou de fazer ruídos e prestou atenção como se entendesse cada palavra.

Ela ficou muito feliz quando soube que vocês vinham. Comprou roupinhas, escolheu nomes, preparou este quarto com muito amor. Pedro também parecia estar ouvindo os dois bebês fixos no pai. Ela cantava para vocês quando ainda estavam na barriga. Sempre a mesma música, uma canção de Ninar que a avó dela cantava.

 O senhor lembra da música? Helena perguntou. Lembro. Marcos começou a cantar olar baixinho, uma melodia suave que havia ouvido Isabela cantar centenas de vezes durante a gravidez. O efeito foi mágico. Os dois bebês relaxaram completamente, como se a canção despertasse alguma memória profunda do tempo em que estavam seguros no ventre da mãe.

 “Eles conhecem essa música?” Helena disse emocionada. Isabela cantava todos os dias. dizia que queria que eles nascessem já sabendo que eram amados. E sabem, por isso pararam de chorar quando o Senhor finalmente começou a demonstrar amor. Marcos continuou cantando por alguns minutos até os bebês voltarem a adormecer.

 Depois ficou ali parado, observando-os, sentindo algo novo crescendo no peito. Não era mais dor ou culpa, era proteção, cuidado, responsabilidade. Helena, ele disse, posso te contar um segredo? Claro, eu sempre quis ser pai. Desde pequeno sonhava em ter filhos, ensinar coisas para eles, vê-los crescer. Mas quando Isabela morreu, foi como se esse sonho tivesse virado pesadelo. E agora? Agora estou com medo.

Medo de tentar e não conseguir ser o pai que eles merecem. Helena se aproximou dele. Senr. Marcos, posso contar uma coisa que aprendi cuidando do meu irmão? Pode. Não existe pai perfeito. Existem pais que tentam, que se importam, que estão presentes. Isabela não esperava que o Senhor fosse perfeito.

 Ela esperava que o Senhor tentasse. E se eu tentar e falhar? Então tenta de novo e de novo até acertar. Pedro se mexeu no berço e abriu os olhos novamente. Desta vez, quando viu Marcos, estendeu os bracinhos para cima, como se pedisse colo. Ele quer que eu pegue ele no colo? Marcos perguntou incrédulo. Quer? Está pedindo o carinho do pai.

 Com o coração batendo forte, Marcos pegou Pedro nos braços. O bebê se aconchegou contra seu peito, suspirando contente. Era a primeira vez em 8 meses que um dos filhos se sentia realmente seguro nos braços do pai. “É uma sensação incrível”, Marcos murmurou. É o que Isabela queria que o Senhor sentisse desde o primeiro dia. Paulo, vendo o irmão no colo do pai, também começou a estender os bracinhos.

 Marcos olhou para Helena dividido. Posso pegar os dois? Claro, são seus filhos. Com cuidado, Helena ajudou Marcos a acomodar Paulo no outro braço. Ali estava ele pela primeira vez na vida, segurando os dois filhos ao mesmo tempo. Pedro e Paulo se acalmaram completamente, como se finalmente estivessem onde sempre deveriam estar.

 “Eles são tão pequenos”, Marcos disse emocionado, “e dependem completamente de mim. Dependem, mas o Senhor é capaz de cuidar deles. Como você pode ter tanta certeza? Porque viu o amor nos seus olhos quando leu a carta da Isabela. Esse amor sempre esteve lá, Senr. Marcos. Só estava escondido embaixo da dor. Marcos ficou em silêncio, embalando os filhos suavemente.

 Era incrível como se sentia completo com eles nos braços, como se uma parte dele que estava quebrada há ito meses finalmente estivesse se curando. Helena, ele disse depois de alguns minutos. Você salvou minha família. Não salvei, apenas mostrei o que já existia. Mesmo assim, eu te devo mais do que posso pagar. Não me deve nada, senhor. Ver esses bebês felizes já é pagamento suficiente. Marcos olhou para ela com curiosidade.

Por que você é tão diferente das outras pessoas que trabalharam aqui? Diferente como? Todas as babás vinham aqui só pelo dinheiro. Faziam o trabalho mecanicamente, sem se importar realmente com Pedro e Paulo. Você se importa de verdade. Helena sorriu. Porque já estive no lugar deles.

 Sei como é ser criança e sentir que não é amada. E seu irmão, como está ele agora? Cresceu bem, apesar de tudo. Está casado, tem filhos, é um homem bom, mas carrega cicatrizes da infância que nunca vão sarar completamente. Que tipo de cicatrizes? Insegurança, medo de não ser bom o suficiente, dificuldade para confiar no amor das pessoas, coisas que poderiam ter sido evitadas se meu pai tivesse superado a dor mais rapidamente.

 Marcos olhou para os filhos nos braços. Eu não quero que Pedro e Paulo tenham essas cicatrizes. Então não terão, porque o Senhor vai estar presente, vai demonstrar amor, vai ser o Pai que eles precisam com sua ajuda, sempre que precisar. Mas o Senhor vai descobrir que ser pai é mais instintivo do que parece. Nesse momento, Pedro começou a chorar mingar baixinho.

Não era o choro desesperado dos últimos ito meses, mas um chorinho normal de bebê. O que ele quer? Marcos perguntou ligeiramente em pânico. Helena riu. Provavelmente está com fome. Que horas eles tomaram a última mamadeira? Não sei. Carmen, quem cuida disso? Então vamos aprender. Ser pai inclui saber quando os filhos estão com fome. Desceram para a cozinha.

 Marcos ainda carregando os dois bebês. Era 4 da manhã e a casa estava silenciosa, mas pela primeira vez em meses era um silêncio pacífico, não tenso. Helena preparou as mamadeiras enquanto Marcos ficava na sala, observando os filhos. Pedro continuava choramingando baixinho, mas Paulo permanecia calmo, como se estivesse aproveitando o colo do pai.

 “Aqui está”, Helena, disse, voltando com as mamadeiras mornas. “Eu posso dar?”, Marcos perguntou. Claro, vou te ensinar. Helena mostrou como posicionar os bebês, como segurar as mamadeiras, como saber se eles estavam satisfeitos. Marcos seguiu as instruções cuidadosamente, concentrado como se estivesse aprendendo a operação mais complexa do mundo.

 Pedro sugou a mamadeira avidamente, claramente com fome. Paulo tomou mais devagar, parando de vez em quando para olhar para o pai, como se ainda não acreditasse que estava realmente ali. Eles tomam uma madeira desde quando nasceram? Marcos perguntou. Sim. Como a Isabela não pôde amamentar, Carmen e as babás sempre deram uma madeira. Isabela queria amamentar, queria muito.

 Falava sobre isso durante toda a gravidez. Dizia que era a forma mais íntima de demonstrar amor pelos filhos. Marcos sentiu uma pontada de tristeza, mas desta vez não era a dor paralisante de antes. Era uma saudade suave, misturada com gratidão pelas lembranças boas. Ela teria sido uma mãe incrível, ele disse.

 Vai ser através das cartas, das lembranças, das histórias que o Senhor vai contar sobre ela. Quando os bebês terminaram as mamadeiras, Marcos os colocou no ombro para fazer arrotar, seguindo as instruções de Helena. Era incrível como movimentos que pareciam tão naturais para outras pessoas eram completamente novos para ele.

 “Estou fazendo certo?”, perguntou inseguro. Perfeitamente. Vê como é natural. Pedro arrotou alto, fazendo Marcos rir. Igualzinho ao pai. Ele brincou. E Paulo é mais delicado como a mãe. Helena observou. Depois de arrotoarem, os bebês ficaram sonolentos novamente. Marcos os embalou suavemente, cantarolando a canção que Isabela cantava.

 Em poucos minutos, ambos estavam dormindo profundamente. “Vou colocá-los nos berços”, ele disse. Quer que eu ajude? Não, quero tentar sozinho. Subiu as escadas cuidadosamente, carregando os dois filhos. No quarto, colocou Pedro primeiro, depois Paulo, cobrindo-os com cobertinhas leves. Eles continuaram dormindo com expressões serenas. Helena ficou na porta observando.

 Era a primeira vez que via Marcos agir como pai de verdade e a transformação era impressionante. “Senor Marcos,” ela disse baixinho. “Posso fazer uma sugestão?” “Claro. Que tal dormir no quarto ao lado hoje para ficar perto deles?” Marcos olhou para o quarto de hóspedes que ficava entre o quarto dos bebês e o quarto principal.

 “Você acha que é uma boa ideia?” Acho assim, se eles acordarem, o senhor pode cuidar pessoalmente. E se eu não souber o que fazer, chama a mim ou a Carmen, mas aposto que vai saber instintivamente. Marcos assentiu. Tá bom, vou tentar. Quando Helena estava saindo do quarto, ele a chamou. Helena? Sim. Obrigado por tudo. De nada, senor Marcos. Durma bem.

 Helena desceu para o quarto que Carmen havia preparado para ela no térrio. Pela primeira vez, desde que chegara na casa, sentia que havia cumprido sua missão. Os bebês estavam em paz. Marcos estava aprendendo a ser pai e a família estava começando a se curar. Mas ela sabia que ainda havia um longo caminho pela frente.

 A transformação havia começado, mas seria preciso muito trabalho para que se tornasse permanente. Do andar de cima não vinha nenhum som. Pela primeira vez em ito meses, a casa do Silveira dormia em completo silêncio. Uma semana havia-se passado desde a noite em que tudo mudou.

 Marcos acordava todos os dias às 6 da manhã, não mais pelo choro desesperado dos filhos, mas por vontade própria. Havia descoberto que gostava de observar Pedro e Paulo dormindo, de ver as expressões serenas que nunca havia notado antes. Naquela manhã de sexta-feira, encontrou Helena na cozinha preparando as mamadeiras, como fazia todas as manhãs desde que chegara. Bom dia, Helena”, ele disse, pegando Pedro no colo.

 O bebê havia acordado primeiro e o observava com curiosidade. “Bom dia, senor Marcos. Dormiu bem?” “Melhor que nos últimos 8 meses?”, ele respondeu sinceramente. “E você também? É incrível como a casa fica diferente quando a paz.” Carmen entrou na cozinha nesse momento com uma expressão de espanto no rosto. “Senhor Marcos, o senhor sabe que horas são?” 6:15 da manhã. Exato.

 E o senhor está acordado por vontade própria, sorrindo com seu filho no colo. Marcos riu. É estranho mesmo, não é? Semana passada eu odiava acordar. Agora acordo ansioso para ver Pedro e Paulo. A dona Isabela ficaria muito feliz, Carmen disse emocionada. Ela sempre dizia que o Senhor seria um pai maravilhoso quando superasse o medo. Ela falava sobre isso.

Falava. Durante a gravidez. Dizia que o senhor tinha tanto amor guardado que quando deixasse sair seria avaçalador. Helena observava a conversa enquanto terminava de preparar a segunda mamadeira. Era incrível ver como Marcos havia mudado em apenas uma semana.

 O homem amargo e culpado havia sido substituído por alguém que realmente queria aprender a ser pai. Helena, Marcos disse, posso te pedir um favor? Claro. Quero levar Pedro e Paulo para conhecer o escritório da empresa hoje. Você pode ir comigo? Helena ficou surpresa. O senhor tem certeza? É um ambiente muito diferente para bebês pequenos. Tenho certeza. Quero que meus funcionários conheçam meus filhos. Durante 8 meses.

 Agi como se eles não existissem. Agora quero mostrar para todo mundo que sou pai. Carmen sorriu orgulhosa. A dona Isabela sempre quis que o senhor levasse os meninos para o trabalho de vez em quando. Ela falou sobre isso. Dizia que queria que os filhos crescessem, vendo como o pai trabalhava para se orgulharem dele. Marcos sentiu aquela pontada familiar de saudade, mas agora era diferente.

 Não era mais dor paralisante, mas uma saudade doce, misturada com vontade de honrar a memória de Isabela. Então vamos, ele disse para Helena. Que horas os bebês costumam ficar mais calmos? De manhã, logo depois da mamadeira. Mas, senhor Marcos, tem certeza que não é cedo demais? Eles ainda são muito pequenos. Helena, durante o ito meses eu os tratei como se fossem problema.

 Agora quero tratá-los como o que são meus filhos. Duas horas depois estavam no carro a caminho da empresa. Marcos dirigia nervoso, olhando constantemente pelo retrovisor para verificar se os bebês estavam bem nos bebês conforto que havia comprado, especialmente para a ocasião. “Eles estão bem?”, perguntou pela quinta vez em 10 minutos.

 “Estão ótimos?”, Helena respondeu pacientemente. Pedro está dormindo e Paulo está observando a paisagem. Eles podem ficar enjoados com o movimento do carro? Podem. Mas é improvável. Estão acostumados desde pequenos. Como você sabe disso? Helena hesitou antes de responder. Porque Carmen já levou eles ao pediatra várias vezes.

 Sempre viajaram bem. Marcos parou no sinal vermelho e se virou para olhar os filhos. Eu deveria ter ido junto nessas consultas médicas. Deveria, mas não se culpe. O importante é que está presente agora. Helena, posso te perguntar uma coisa pessoal? Pode.

 Por que você nunca teve filhos próprios? Você é incrível com bebês. Helena ficou em silêncio por alguns segundos. Era uma pergunta que mexia com feridas ainda abertas em sua vida. “Tive um noivado que terminou mal alguns anos atrás.” Ela disse finalmente: “Meu ex-noivo não queria que eu cuidasse do meu irmão. Disse que eu tinha que escolher entre ele e minha família.

 E você escolheu sua família?” Escolhi. Meu irmão precisava de mim mais que qualquer namorado. Ele não entendeu? Não disse que eu nunca seria uma boa esposa porque já tinha responsabilidades demais. Marcos sentiu raiva de um homem que nunca havia conhecido. Ele estava errado. Qualquer homem deveria se sentir sortudo por ter uma mulher como você.

Helena sorriu tristemente. Obrigada. Mas depois disso decidi que talvez não fosse para mim ter uma família própria. E você se arrepende às vezes? Mas depois vejo casos como o seu, famílias que preciso ajudar e penso que talvez meu propósito seja esse. Que propósito? Cuidar de famílias quebradas, ajudar pais e filhos a se reconectarem.

 Chegaram ao prédio da empresa e Marcos estacionou na vaga reservada para ele. Era um edifício elegante de 20 andares com o nome Silveira Importações em letras douradas na fachada. Impressionante, Helena disse. Isabela sempre dizia que queria trazer os meninos aqui para verem onde o pai trabalhava.

 Marcos comentou pegando Pedro no colo enquanto Helena pegava Paulo. Entraram no lobby do prédio, causando um rebuliço imediato. Funcionários que conheciam Marcos há anos ficaram boqueabertos ao vê-lo carregando um bebê acompanhado de uma mulher jovem com outro bebê. Bom dia, senhor Silveira”, disse o porteiro, claramente curioso, mas tentando manter a compostura. “Bom dia, Roberto. Estes são meus filhos, Pedro e Paulo.

” Roberto arregalou os olhos. Durante 8 meses, havia visto Marcos chegar ao trabalho com cara de poucos amigos, irritado, cansado. Agora estava sorrindo, orgulhoso, apresentando os filhos. São lindos, senhor. Parecem muito com o senhor. Obrigado, Helena. Vamos subir no elevador. Marcos estava visivelmente nervoso.

 E se os funcionários acharem estranho eu ter trazido os bebês, vão achar lindo. Todo mundo gosta de bebês. E se Pedro e Paulo começarem a chorar? Se começarem, a gente desce, mas eles estão calmos. O elevador parou no 15º andar, onde ficava a diretoria. Quando as portas se abriram, Sandra, a secretária de Marcos há 10 anos, quase caiu da cadeira.

 Senhor Marcos, que surpresa! E estes são meus filhos?” Ele disse com orgulho óbvio na voz. Pedro e Paulo. Sandra se aproximou, os olhos brilhando. Posso vê-los de perto? Claro. Sandra observou os bebês com atenção. Meu Deus, eles são idênticos e que olhos lindos. São os olhos da mãe. Marcos disse suavemente. São mesmo.

 Lembro da dona Isabela. Que mulher especial. Outros funcionários começaram a se aproximar, atraídos pela comoção. Em poucos minutos, havia uma pequena multidão ao redor de Marcos e Helena, todos querendo conhecer os bebês. “Senhor Marcos”, disse Carla da Contabilidade.

 “Desculpe a curiosidade, mas esta é a nova babá?” “Esta é Helena?” Marcos respondeu. Ela nos ajudou muito nas últimas semanas. Helena notou que ele não havia explicado exatamente qual era a sua função e ficou grata por isso. Seria constrangedor dizer que era empregada doméstica diante de todos aqueles executivos.

 Pedro começou a ficar agitado com tantas pessoas ao redor, fazendo ruídos baixinhos que Marcos já havia aprendido a reconhecer. “Ele está ficando incomodado”, disse para Helena. “Vamos para sua sala. Menos pessoas, ambiente mais calmo, entraram na sala de Marcos. Um ambiente elegante com vista para a cidade. Helena colocou Paulo no sofá de couro enquanto Marcos embalava Pedro.

Que vista incrível, ela comentou. Isabela adorava esta vista. Sempre que vinha aqui ficava horas olhando a cidade. Ela vinha com frequência? Vinha, principalmente nos últimos anos. dizia que queria conhecer meu trabalho para poder conversar comigo sobre os negócios. Marcos se aproximou da janela, ainda embalando Pedro.

 Ela se sentava ali no sofá, onde Paulo está agora, e ficava me observando trabalhar. Dizia que era relaxante ver como eu me concentrava. Vocês eram muito unidos. Éramos. Talvez por isso tenha sido tão difícil aceitar a perda. Helena se aproximou dele. Senhor Marcos, posso te contar uma coisa que aprendi sobre luto? Pode.

 A dor da perda nunca vai embora completamente, mas com o tempo ela se transforma. Deixa de ser uma dor que paralisa e vira saudade que impulsiona. Como assim? O Senhor pode usar o amor que sentia pela Isabela para amar Pedro e Paulo. Pode criar eles da forma que ela gostaria, ensiná-los os valores que ela tinha.

 Marcos olhou para o filho nos braços. Você acha que eu consigo? Tenho certeza. Vi como o Senhor mudou em uma semana. Se conseguir isso, consegue qualquer coisa. Pedro havia se acalmado completamente e agora observava o pai com atenção. Paulo no sofá também estava tranquilo, como se sentisse que estava em um lugar importante para a família.

 Helena, Marcos disse, quero te mostrar uma coisa. foi até a mesa e abriu uma gaveta, tirando um porta-retratos que estava virado para baixo. Era uma foto de Isabela grávida, sorrindo e segurando a barriga. Esta foto ficava sempre na minha mesa. No dia que os meninos nasceram, eu virei ela para baixo e nunca mais consegui olhar. E agora? Marcos colocou a foto em pé na mesa, na posição de sempre.

 Agora quero que ela veja como nossos filhos estão crescendo. Helena sentiu os olhos se encherem de lágrimas. A Isabela ficaria muito orgulhosa do pai que o senhor está se tornando. Você acha? Tenho certeza. Nesse momento, Sandra bateu na porta. Senr. Marcos, desculpe interromper, mas tem uma situação que precisa da sua atenção.

 Que tipo de situação? O fornecedor chinês está com problemas na documentação. Pode atrasar a entrega em duas semanas. Marcos olhou para Pedro em seus braços, depois para Paulo no sofá. meses atrás, essa situação o deixaria desesperado, o faria trabalhar até tarde para resolver. Agora, suas prioridades eram completamente diferentes. Sandra, agenda uma videoconferência para segunda-feira.

 Hoje quero ficar com meus filhos. Sandra ficou surpresa. O Marcos de 8 meses atrás jamais adiaria um problema urgente para passar tempo com qualquer coisa que não fosse trabalho. Tem certeza, senhor? É um contrato de R 2 milhões deais. Tenho certeza. Dinheiro a gente recupera. Tempo perdido com os filhos. Nunca. Depois que Sandra saiu, Helena olhou para Marcos com admiração.

O senhor realmente mudou. Isabela sempre dizia que eu trabalhava demais, que ia perder momentos importantes da vida por causa dos negócios. E agora entende o que ela queria dizer? Entendo. Estes dois meninos vão crescer rapidinho. Não posso perder nenhum dia com eles. Paulo começou a chorar mingar no sofá.

Marcos imediatamente o pegou no colo, deixando Helena segurando Pedro. “O que ele quer?”, perguntou já mais confiante que uma semana atrás. “Provavelmente quer trocar fralda e depois vai estar na hora da mamadeira. Tem um banheiro aqui com trocador.” Helena olhou ao redor da sala executiva. Não me parece. Então vamos improvisar.

 Marcos limpou a mesa de reuniões e estendeu uma toalha que havia no armário. Aqui serve? Serve. Perfeitamente. Helena observou Marcos trocar a fralda de Paulo com cuidado, ainda desajeitado, mas determinado a aprender. Era incrível ver como um homem que uma semana atrás nem tocava nos filhos, agora fazia questão de cuidar pessoalmente de cada necessidade deles.

“Pronto”, ele disse orgulhoso quando terminou. “Está limpo e cheiroso.” “Muito bem. Agora, Pedro”. Marcos trocou Pedro também, ganhando confiança a cada movimento. Quando terminou, os dois bebês estavam tranquilos e alertas. Eles parecem gostar de estar aqui, Helena observou. É como se soubessem que este lugar é importante para o pai.

 Nesse momento, a porta se abriu e um homem de 50 anos entrou sem bater. Era Rodrigo Mendes, sócio minoritário da empresa e uma das pessoas mais próximas de Marcos. Marcos, preciso falar com você sobre meu Deus. Rodrigo parou no meio da frase ao ver Marcos com os dois bebês nos braços.

 Rodrigo, estes são meus filhos, Pedro e Paulo. Rodrigo ficou boca e aberto. Conhecia Marcos há 15 anos e nunca o havia visto demonstrar qualquer interesse pelos filhos. Marcos, o que está acontecendo? Você sumiu uma semana da empresa, não atende telefone e agora aparece aqui com os bebês. Aconteceu que eu finalmente aprendi a ser pai.

 Como assim? Marcos olhou para Helena, que a sentiu encorajadoramente. Rodrigo, você se lembra de como eu fiquei depois que Isabela morreu? Lembro. Você estava destruído. Eu culpava Pedro e Paulo pela morte dela. Durante 8 meses, evitei qualquer contato com eles. Rodrigo se sentou pesadamente numa cadeira. Marcos, eu não sabia. Ninguém sabia.

 Eu escondi de todo mundo, mas Helena me ajudou a entender que eu estava errado. Rodrigo olhou para Helena com interesse. E você é Helena Silva. Trabalho para a família. Ela salvou meus filhos, Rodrigo, e me salvou também. Como? Marcos respirou fundo e contou resumidamente tudo que havia acontecido na última semana.

 O choro constante dos bebês, a descoberta de que eles sentiam sua rejeição, as cartas de Isabela, a transformação gradual. Incrível! Rodrigo murmurou quando Marcos terminou. E agora? Agora vou ser o pai que Isabela queria que eu fosse. Vou reduzir minha carga de trabalho, passar mais tempo em casa, criar meus filhos com amor e a empresa.

 A empresa vai continuar crescendo, mas não será mais minha única prioridade. Rodrigo sorriu pela primeira vez desde que havia entrado. Isabela ficaria orgulhosa de você? Espero que sim. Pedro começou a fazer ruídos de fome e Paulo logo se juntou a ele. Helena olhou o relógio. Hora da mamadeira, ela disse.

 Tem algum lugar aqui para esquentar leite? Marcos perguntou. Tem uma cozinha pequena no andar da diretoria. Rodrigo respondeu: “Mas, Marcos, você vai dar mamadeira para eles aqui mesmo?” Vou. Por quê? É que bem, é um escritório executivo. Marcos olhou para o sócio com uma expressão que Rodrigo nunca havia visto antes. Não era irritação ou impaciência, era determinação serena. Rodrigo, estes são meus filhos.

 Eles são bem-vindos em qualquer lugar que eu esteja. Claro, claro. Desculpe, é que foi uma surpresa. Helena voltou com as mamadeiras aquecidas e Marcos se instalou confortavelmente na poltrona de couro para alimentar os bebês. Era uma cena inusitada. Um CEO milionário dando mamadeira para gêmeos no meio de uma sala executiva.

 “Posso te ajudar?”, Rodrigo ofereceu, vendo Marcos tentar equilibrar os dois bebês. Pode segurar Pedro enquanto eu alimento Paulo. Rodrigo pegou Pedro no colo com cuidado. Há quanto tempo não seguro um bebê, murmurou. Eles são especiais, não são? Marcos disse, observando Paulo sugar a mamadeira. São. E parecem muito calmos. Nem sempre foram assim. Helena me ensinou que bebês refletem as emoções dos adultos ao redor.

 Quando eu estava em paz, eles ficaram em paz. É verdade isso? Rodrigo perguntou para Helena. É, bebês são muito mais sensíveis do que imaginamos. Sentem tensão, raiva, tristeza, mas também sentem amor, segurança, tranquilidade. E como você aprendeu isso? experiência própria. Criei meu irmão caçula sozinha. Ah, entendo. Quando os bebês terminaram de mamar, Marcos se levantou.

 Acho que está na hora de voltarmos para casa. Eles precisam do cochilo da tarde. Marcos Rodrigo disse: “Posso falar uma coisa?” “Claro. Em 15 anos de parceria, nunca te vi tão completo. Você parece realmente feliz.” Marcos olhou para os filhos que estavam sonolentos nos braços dele e de Helena.

 Sabe, Rodrigo, eu achava que havia perdido tudo quando Isabela morreu, mas na verdade ela me deixou o maior presente que podia dar. Seus filhos. Exato. E quase joguei esse presente fora por causa da minha dor egoísta. Mas não jogou. Ainda deu tempo de recuperar. Deu. Graças à Helena. Helena corou com o elogio. Senr. Marcos, o mérito é todo seu. Eu apenas mostrei o caminho.

 Um caminho que eu nunca teria encontrado sozinho. Saíram da empresa sob olhares curiosos e admirados dos funcionários. No carro, Marcos dirigia mais relaxado que na vinda, cantarolando baixinho a canção de Ninar que Isabela costumava cantar. Senr. Marcos, Helena disse quando estavam chegando em casa.

 Posso te perguntar uma coisa? sempre pode. O que pretende fazer no futuro em relação aos bebês, ao trabalho, à sua vida? Marcos pensou por alguns segundos antes de responder: Quero criar Pedro e Paulo da forma que Isabela sonhava. Quero que cresçam sabendo que são amados, que a mãe os queria muito, que o pai está presente.

 E o trabalho? O trabalho vai se adaptar. Vou contratar mais gente, delegar mais responsabilidades. Quero estar presente nos primeiros passos deles, nas primeiras palavras, nas primeiras vezes de tudo. Isabela, como vai lidar com a saudade? Vou honrar a memória dela, sendo o marido e pai que ela queria que eu fosse.

 Vou contar histórias sobre ela para Pedro e Paulo, mostrar fotos, ler as cartas que ela deixou. Helena sorriu. Ela ficaria muito orgulhosa. Espero que sim. Quando chegaram em casa, Carmen os esperava na porta com uma expressão ansiosa. Como foi? Os meninos se comportaram bem? Se comportaram perfeitamente. Marcos respondeu orgulhoso: “Foram os bebês mais admirados de São Paulo hoje.

 E o senhor? Como se sentiu levando eles? Me senti completo, Carmen. Pela primeira vez em 8 meses me senti um pai de verdade.” Carmen sorriu com lágrimas nos olhos. A dona Isabela está vendo tudo lá de cima. Tenho certeza. Também acho que está. Entraram na casa, que já não parecia mais o lugar sombrio e silencioso de uma semana atrás.

 Havia vida ali, havia futuro, havia esperança. Helena subiu com Marcos para colocar os bebês para dormir. No quarto, ele os colocou nos berços com cuidado, cobrindo-os com cobertinhas leves. “Durmam bem, meus amores”, ele sussurrou. Papai vai estar sempre aqui para vocês.

 Pedro e Paulo fecharam os olhos quase imediatamente, como se soubessem que finalmente estavam seguros, amados, protegidos. “Senhor Marcos, Helena disse quando saíram do quarto. Posso dizer que estou orgulhosa do Senhor?” “Pode.” “E Helena?” Sim. Obrigado por me devolver meus filhos e por me devolver a mim mesmo. Foi um prazer ver essa família se reconectar foi o maior presente que eu poderia receber. Desceram juntos para a cozinha, onde Carmen estava preparando o jantar.

A casa estava em paz, cheia de vida e possibilidades. A transformação estava completa. Marcos havia se tornado o pai que sempre teve potencial para ser. Pedro e Paulo finalmente tinham o amor paterno que precisavam e Helena havia cumprido sua missão de curar uma família quebrada, mas ainda restava uma última surpresa, uma descoberta que mudaria tudo para sempre.

 Seis meses depois daquela primeira noite de paz, a casa do Silveira havia se transformado completamente. As risadas de Pedro e Paulo, que agora tinham um ano e 2 meses, ecoavam pelos corredores que antes conheciam apenas silêncio e tensão. Marcos havia se tornado o pai presente que Isabela sempre sonhara e Helena continuava sendo o anjo da guarda que mantinha a família unida.

 Era uma manhã de sábado, quando tudo mudou para sempre. Helena estava na cozinha preparando o café da manhã quando ouviu Marcos conversando com os bebês no quarto. Nos últimos meses, ele havia desenvolvido o hábito de contar histórias sobre Isabela todas as manhãs, mostrando fotos da mãe e lendo trechos das cartas que ela havia deixado.

 “Pedro, Paulo, vejam que lindos vocês estão nesta foto com a mamãe”, ela ouvia ele dizer. Ela segurava vocês na barriga e dizia que vocês iam ser os bebês mais amados do mundo. Helena sorriu preparando a mamadeira matinal. Em se meses, nunca havia se cansado de ouvir Marcos falando com carinho sobre Isabela. A dor havia se transformado em saudade doce e a culpa havia dado lugar à gratidão.

 Helena, a voz de Marcos gritou do andar de cima com uma urgência que a assustou. Ela subiu correndo, temendo que algo tivesse acontecido com os bebês. Encontrou Marcos no quarto, segurando Pedro no colo, com os olhos cheios de lágrimas de alegria. “O que aconteceu?”, ela perguntou preocupada. “Helena, você não vai acreditar”, ele disse. A voz embargada de emoção.

 “O quê?” Marcos colocou Pedro no chão e o bebê ficou em pé sozinho por alguns segundos antes de dar seus primeiros passos cambaliantes em direção à Helena. Ele andou. Marcos gritou. Pedro deu os primeiros passos. Helena se ajoelhou e abriu os braços para receber Pedro, que chegou até ela, sorrindo orgulhoso de sua conquista. Meu Deus, que lindo. Parabéns, Pedro.

 Paulo, vendo a comoção, também quis tentar. Marcos o colocou de pé e, para surpresa de todos, Paulo também deu alguns passos trôpegos antes de cair sentado no tapete, rindo alto. “Os dois no mesmo dia”, Helena exclamou. “Que coincidência incrível! Helena!” Marcos disse pegando os dois filhos no colo. “Não é coincidência, é hoje.

 Como assim é hoje? Hoje faz exatamente um ano que Isabela morreu, um ano que nossos filhos nasceram.” Helena sentiu um arrepio. Realmente era 15 de fevereiro, a data que havia marcado tanto dor quanto vida na família Silveira. E eles escolheram hoje para dar os primeiros passos.

 Ela murmurou: “É como se Isabela estivesse dizendo que está tudo bem, que a vida continua, que nossos filhos estão crescendo felizes.” Carmen apareceu na porta do quarto, atraída pelos gritos de alegria. O que está acontecendo aqui? Carmen, Pedro e Paulo andaram. Marcos anunciou orgulhoso. Os dois no mesmo dia. No mesmo dia. E não é qualquer dia, Carmen.

 É o aniversário de morte da Isabela. Carmen levou a mão ao peito, emocionada. A dona Isabela está vendo tudo. Tenho certeza absoluta. Marcos colocou os bebês no chão novamente e eles continuaram tentando andar, cada passo sendo celebrado como uma grande vitória. Helena observava a cena com o coração apertado de emoção. Senr.

 Marcos ela disse, posso contar uma coisa? Sempre pode. Hoje também é um dia especial para mim. Por quê? Helena respirou fundo antes de responder: “Porque hoje faz exatamente seis meses que cheguei aqui e nesses se meses vi a transformação mais incrível que já presenciei na vida. Que transformação! A sua, senhor Marcos.

 Seis meses atrás, o senhor era um homem quebrado, consumido pela culpa, incapaz de amar os próprios filhos. Hoje é o pai mais dedicado que conheço.” Marcos sentiu os olhos se encherem de lágrimas. Helena, sem você, eu nunca teria chegado até aqui. Teria sim. Talvez demorasse mais, talvez fosse mais difícil, mas o amor sempre encontra um jeito.

 Pedro se aproximou de Helena cambaleando e levantou os bracinhos pedindo colo. Ela o pegou e ele encostou a cabecinha no ombro dela, um gesto que fazia todos os dias há meses. Helena, Marcos disse suavemente. Preciso te contar uma coisa. O quê? Você não é mais nossa empregada. Há muito tempo deixou de ser.

 Como assim? Você é família, Helena. Pedro e Paulo te amam como se fosse da família. Carmen te trata como filha. E eu, eu te vejo como a irmã que Isabela teria escolhido para cuidar dos nossos filhos. Helena sentiu lágrimas escorrendo pelo rosto. Senhor Marcos, para de me chamar de senhor. Somos família.

 Carmen se aproximou e abraçou Helena. Menina, desde o primeiro dia que você chegou aqui, eu soube que não era coincidência, foi providência divina. Como vocês podem ter tanta certeza? Marcos sorriu. Porque você chegou no momento exato em que precisávamos? Porque sabia exatamente o que fazer. Porque nunca desistiu de nós, mesmo quando tudo parecia impossível.

 Paulo também se aproximou de Helena querendo colo. Ela pegou os dois bebês, um em cada braço, sentindo-se completa de uma forma que nunca havia experimentado. Helena, Marcos, disse: “Quero te fazer uma proposta. Que tipo de proposta? Quero que seja oficialmente a madrinha de Pedro e Paulo, não apenas no papel, mas na vida.

 Quero que ajude a criá-los, que esteja presente em todas as fases da vida deles. Marcos, eu não sei se mereço essa honra. Merece mais que qualquer pessoa no mundo. Você nos devolveu a vida, Helena. Nos ensinou a ser família de novo. Carmen assentiu vigorosamente. A dona Isabela ficaria muito feliz, sabendo que tem alguém como você cuidando dos meninos.

 Helena olhou para Pedro e Paulo em seus braços. nos últimos seis meses, havia se apegado aos bebês de uma forma que não imaginava ser possível. Eles realmente haviam se tornado os filhos do coração que nunca tivera. “Aceito”, ela disse finalmente. “Seria uma honra ser madrinha deles.

” Marcos a abraçou, ainda segurando os bebês. “Obrigado, Helena, por tudo.” Nesse momento, Pedro olhou para Marcos e disse claramente: “Papai!” Todos ficaram em silêncio absoluto. Era a primeira palavra clara que qualquer um dos bebês havia falado. Ele disse: “Papai!” Carmen gritou. Disse mesmo. Marcos confirmou pegando Pedro no colo. Diz de novo, filho. Papai.

 Papai. Pedro repetiu, sorrindo orgulhoso. Paulo, não querendo ficar para trás, também tentou. Pá, papai. Os dois falaram no mesmo dia que aprenderam a andar. Helena exclamou. Que dia especial! Marcos olhou para cima, como se estivesse falando com Isabela. Amor, nossos filhos estão crescendo e estão felizes. Espero que esteja orgulhosa.

 Carmen limpou as lágrimas dos olhos. Ela está, Senr. Marcos. Ela está vendo tudo e sorrindo. Helena observou a família que havia ajudado a reconstruir. Seis meses atrás era uma casa cheia de dor, silêncio e culpa. Agora era um lar cheio de amor, risadas e esperança. Marcos, ela disse, posso sugerir uma coisa? Claro.

 Que tal visitarmos o túmulo da Isabela hoje para contar para ela sobre os primeiros passos e as primeiras palavras dos meninos? Marcos sorriu através das lágrimas. É uma ideia perfeita. Ela vai querer saber de tudo e podemos levar flores, rosas brancas que eram as favoritas dela. Carmen sugeriu: “Vamos todos juntos.” Marcos decidiu como família.

 Uma hora depois estavam no cemitério. Marcos carregava Pedro, Helena carregava Paulo e Carmen levava um buquê de rosas brancas. Era a primeira vez que Marcos visitava o túmulo de Isabela desde o enterro. Oi, amor”, ele disse, se ajoelhando diante da lápide. “Trouxe nossos filhos para você conhecer”. Colocou Pedro no chão, que imediatamente começou a andar em direção ao túmulo.

Paulo fez a mesma coisa, como se soubesse instintivamente onde estava. Eles aprenderam a andar hoje, Isabela, e disseram: “Papai, pela primeira vez, estão crescendo lindos e saudáveis”. Helena se aproximou. E muito amados, todos os dias eu conto para eles como a mamãe é especial. Isabela. Marcos continuou. Quero que conheça Helena.

 Ela nos salvou, nos ensinou a ser família de novo. Vai ser madrinha de Pedro e Paulo. O vento balançou as árvores ao redor, como se Isabela estivesse dando sua aprovação. Obrigado, amor. Marcos sussurrou, por me dar estes dois tesouros, por me ensinar que o amor é mais forte que a dor, por me perdoar. Ficaram ali por alguns minutos em silêncio.

 Uma família reconstruída pelo amor e pela determinação de nunca desistir. Quando voltaram para casa, Pedro e Paulo correram, ou melhor, andaram cambaliantes para seus brinquedos, bebês felizes e amados. Helena preparou o almoço enquanto Marcos trabalhava no laptop, mas desta vez com os filhos brincando ao lado. Helena, ele disse, você salvou mais que nossa família. Você salvou o futuro de Pedro e Paulo. Ela sorriu.

 E vocês salvaram o meu. Me deram a família que sempre sonhei ter. Do lado de fora, o sol brilhava forte, iluminando uma casa que havia conhecido as trevas mais profundas e encontrado a luz mais brilhante. A empregada que ninguém queria havia se tornado a peça mais importante da família. E os bebês, que choravam todas as noites, agora enchiam a casa com risadas todos os dias.

 O milagre estava completo. [Música]