O tecido de seda do vestido sussurrava contra o mármore frio do corredor do hotel. Isis Tavares pressionou a mão contra o estômago, o palco de borboletas que dançavam ali dentro há horas. Este era o seu dia, 27 anos de espera. Se tudo corresse como planejado, ela teria um marido e, em breve, uma casa e uma família. “Merda, o buquê”, ela sussurrou, percebendo que havia deixado o arranjo de reserva na suíte. A cerimônia começaria em dez minutos. Os convidados já estavam esperando.

Bruna, sua madrinha e melhor amiga de oito anos, havia insistido para que Isis levasse dois buquês por via das dúvidas. Agora, Isis estava agradecendo essa pequena paranoia. Seus sapatos de salto repicaram no corredor vazio do quinto andar do hotel em São Paulo. Ela parou em frente à porta.

Isis empurrou-a devagar, um sorriso nos lábios ao pensar em Gabriel esperando no altar, lindo em seu smoking. Este era o homem que ela amava. Gemidos. Seu corpo congelou com o tipo de som que ela nunca tinha ouvido em nenhum lugar, mesmo nunca tendo bem feito aquilo. Gabriel sempre dissera que esperaria até o casamento. “Você é especial demais, Isis. Mulheres como você merecem ser honradas.”

A frase ecoou em sua mente como uma piada cruel. Os gemidos vinham do quarto nupcial, a suíte que eles dividiriam naquela noite. Suas mãos tremeram ao tocar a maçaneta. Uma parte dela, a parte ingênua, a parte que ainda não estava completamente destruída, gritou para ela ir embora. Mas a outra parte, a parte que precisava saber, girou a maçaneta lentamente.

A cena que se desenrolou diante de seus olhos foi pior que qualquer pesadelo. Gabriel, seu Gabriel, estava nu, suas mãos agarrando os quadris de uma mulher que estava de quatro na cama king-size, uma cama coberta com as pétalas de rosas que Isis havia escolhido pessoalmente.

O corpo da mulher era magro, com curvas emergenciais, totalmente diferente da silhueta deliciosa que ele afirmava amar. O que a fez finalmente cair no chão foi o rosto dela. Bruna, sua melhor amiga, sua madrinha, a pessoa que havia segurado sua mão quando sua mãe morreu, a mulher que deveria estar na igreja organizando os últimos detalhes. “Isso, amor, do jeito que você gosta, nada de frescura.”

Gabriel ofegava, o mesmo homem que se recusava a fazer certas coisas com Isis, considerando-as degeneradas para uma mulher decente. O tecido de seda do vestido de noiva pesou mil toneladas. Ela não conseguia respirar, mas também não conseguia se mover. Eles nem notaram sua presença. Ela não podia mais fazer nada.

Ela assistiu ao rosto de Bruna se contorcer em prazer, e, finalmente, ao desespero dela se transformar em cumplicidade. Aquela risada íntima, cúmplice, de quem fazia aquilo há muito tempo. “Bem, Gabe, muito mais livre.” Nenhuma palavra foi uma punhalada. Isis recuou, suas mãos encontrando a parede atrás dela. O buquê. Ela tinha vindo buscar o buquê.

Em vez disso, encontrou a verdade. Ela precisava de algo, qualquer coisa, para provar que aquilo aconteceu. Por sorte, havia documentos e celulares na mesinha. Seus pés a levaram para o corredor, para o elevador, para o saguão. As pessoas olhavam, uma noiva linda, sozinha, com o rosto completamente branco, olhos vidrados.

“Senhora, está tudo bem?”, perguntou um funcionário preocupado. Isis mal o ouviu. Ela só sabia que precisava sair dali. Precisava desaparecer. Um táxi parou em frente ao hotel. Ela abriu a porta traseira com as mãos trêmulas. Para onde? Para onde ela queria ir? Isis abriu a boca, mas nada saiu. E a festa? Duas centenas de pessoas esperando.

Sua casa estava pronta para recebê-los após a lua de mel. Toda a sua vida estava planejada ao redor de um homem que, naquele exato momento, estava transando com sua melhor amiga a metros de onde ela deveria estar dizendo “sim”. “Qualquer lugar”, ela finalmente conseguiu dizer. “Me leve para qualquer lugar longe daqui.”

Enquanto o táxi se afastava, seu celular tocou. “Gabriel”. Ela olhou para a tela, para o nome “Amor da minha vida” piscando insistentemente. Com um gemido, ela desligou o telefone e finalmente se permitiu chorar.

Ela não sabia que tinha chegado ali. O bar sofisticado no Itaim Bibi. “São R$ 140, moça,” o taxista disse, mas sua voz estava gentil. Ele tinha visto muita coisa em São Paulo, mas uma noiva fugindo em pleno vestido de casamento era novidade. Isis pagou com as notas amassadas que encontrou na bolsa e saiu do carro. O vestido era pesado, com metros de tule e renda francesa que custaram uma fortuna.

Gabriel não tinha insistido no modelo. “Você tem que ser perfeita, afinal, vai ser minha esposa.” Minha esposa? Uma ironia a fez rir. Um som estranho, quase histérico, que fez os seguranças do bar trocarem olhares preocupados. “Senhora, tem certeza que quer entrar?”, perguntou um deles. “Absoluta.” Isis respondeu, empurrando a porta de vidro.

O bar era exatamente o tipo de lugar que Gabriel adoraria: minimalista, caro, com uma carta de vinhos que provavelmente custava mais que o aluguel de um apartamento. A iluminação era baixa, criando sombras dramáticas nas paredes de tijolo aparente. Todas as conversas pararam quando ela entrou. Uma noiva sozinha, com maquiagem borrada e olhos vermelhos.

Isis atravessou o salão com a cabeça erguida, arrastando metros de tecido branco, e sentou-se no balcão. “Me dá a bebida mais forte que vocês têm.” O barman, um homem de uns 40 anos com tatuagens nos braços, piscou. “Senhora…” ela repetiu, sua voz saindo mais firme do que esperava. “Uma bebida mais forte. E não me chame de senhora. Não sou casada.”

O homem hesitou, depois assentiu. Segundos depois, ele colocou um copo de uísque escocês na frente dela. O tipo que Gabriel guardava para ocasiões especiais. “Por conta da casa,” ele disse baixinho. “Parece que você precisa.” Isis pegou o copo e bebeu de uma vez.

O líquido queimou sua garganta, fez seus olhos lacrimejarem, mas ela adorou. Adorou a dor física que substituiu por um breve segundo a dor emocional. Outro gole. Foi quando sentiu alguém sentar no banco ao seu lado. O vestido dela, da coleção Valentino 2024. Uma voz masculina, profunda e controlada, disse: “Caríssimo e, se não me engano, encomendado para o casamento de Gabriel Fonseca.” Isis virou a cabeça lentamente.

O homem era alto. Ela podia ver mesmo sentada. Ombros largos sob um terno escuro, perfeitamente cortado. Cabelos negros penteados para trás. Mandíbula forte com uma barba por fazer que deveria parecer desleixada, mas a tornava perigosamente atraente. Mas foram os olhos que a prenderam: cinzentos, penetrantes, inteligentes e frios.

“Quem é você?”, ela perguntou. A bebida já estava fazendo seu cérebro ficar lento. Um sorriso tocou os lábios dele. Não era um sorriso gentil. “Dante Almeida Costa,” ele disse estendendo a mão. “E você deve ser a noiva fujona que deixou Gabriel Fonseca no altar.”

O nome a atingiu como um tapa. Dante Almeida Costa. Gabriel falava dele com ódio, com veneno, o inimigo mortal no setor imobiliário, o homem que supostamente usava táticas sujas para destruir concorrentes, o empresário sem escrúpulos que faria qualquer coisa para vencer. “Ele te odeia,” Isis ouviu-se dizer.

“O sentimento é mútuo,” Dante respondeu, pegando seu próprio copo de uísque. “Mas estou curioso. O que faz uma noiva estar bebendo sozinha num bar em vez de estar celebrando seu casamento?”

Talvez fosse a bebida, talvez fosse o choque, talvez fosse o fato de que esse completo estranho, esse inimigo de Gabriel, era a primeira pessoa que não a olhava com pena. Então Isis contou tudo, cada detalhe humilhante: a descoberta, os gemidos, Bruna, as coisas que Gabriel fazia com ela, mas recusava a fazer com Isis porque “ela era especial demais”. A virgindade que ela guardara como um presente idiota para um homem que transava com sua melhor amiga, sabe-se lá há quanto tempo.

Dante ouvia em silêncio absoluto, seus olhos fixos nela, sem interrompê-la uma única vez. Quando ela terminou, tremendo, bêbada e miserável, ele finalmente falou: “Gabriel Fonseca é um lixo humano,” ele disse calmamente, como se estivesse comentando o clima. “Mas você já sabia disso, não é? Lá no fundo.”

As palavras deveriam machucá-la, mas não machucaram, porque eram verdade. “Sim,” ela sussurrou. Dante se inclinou para mais perto e Isis sentiu o cheiro dele. Madeira, algo cítrico, masculino. “Então, me deixe fazer uma proposta, Isis Tavares,” ele sabia seu nome. “Uma proposta que vai destruir Gabriel Fonseca e dar a você tudo que merece.”

Seus olhos brilhavam com algo perigoso, algo que deveria assustá-la. Em vez disso, pela primeira vez em horas, Isis sentiu curiosidade. “Que tipo de proposta?” O sorriso de Dante foi lento, predatório. “Case-se comigo.”

Isis piscou uma vez, duas vezes. Certamente havia escutado errado. “O quê?” “Você me ouviu perfeitamente,” Dante respondeu, seus olhos nunca deixando os dela. “Case-se comigo. Hoje. Agora.”

A risada que escapou de Isis foi incrédula, banhada em álcool e desespero. “Você está maluco. Eu não te conheço. Eu literalmente acabei de descobrir que meu noivo me traía.” “E você quer vingança,” Dante a cortou, sua voz firme. “Eu quero vingança, e você quer fazer Gabriel pagar pelo que fez. Nossos interesses estão perfeitamente alinhados.”

Ele girou no banco para ficar de frente para ela, e Isis percebeu como ele era imponente, alto, musculoso sob o terno caro, com uma presença que dominava o espaço ao redor. “Gabriel me humilhou publicamente há três anos,” Dante começou, sua mandíbula se apertando com a memória. “Usou informações privilegiadas que roubou do meu servidor para me tirar um terreno que valia milhões. Não satisfeito, espalhou mentiras sobre mim, destruiu minha relação com minha família, manchou minha reputação. E sabe o que ele disse quando o confrontei?” Dante se inclinou mais perto, tanto que Isis podia ver as manchinhas douradas em seus olhos cinzentos.

“Que homens como eu nunca venceriam homens como ele, que eu era lixo tentando brincar com a elite.” A amargura em sua voz era palpável. “E agora,” ele continuou. “A noiva dele, virgem, linda, de vestido de noiva, está sentada num bar destruída, e eu tenho a oportunidade de ouro de dar a ele exatamente o que merece.” “Me usando,” Isis concluiu, a mente girando. “Nos usando mutuamente,” Dante corrigiu.

“Você acha que Gabriel vai se importar que você simplesmente sumiu? Ele vai contar alguma história, fazer você parecer louca, desequilibrada, vai ficar com Bruna publicamente e ser o homem que ‘superou’. Você vai ser esquecida.” Cada palavra era uma facada, mas verdadeira. “Mas se você casar comigo,” os olhos de Dante brilharam. “Se você se casar com o inimigo mortal dele na mesma noite que deveria ser dele, imagine a humilhação. A alta sociedade paulistana vai falar disso por anos.”

“E o que você ganha?”, Isis perguntou tentando manter a voz firme. “Satisfação,” ele disse simplesmente. “E talvez alguns contratos que ele vai perder quando sua reputação desmoronar. Empresários não gostam de homens que não conseguem nem manter sua noiva.”

Fazia um sentido torto, um sentido cruel, calculista, totalmente insano. “Por quanto tempo?”, ela sussurrou. “Um ano,” Dante respondeu. “Nos casamos hoje em um cartório que conheço. Mantemos as aparências por um ano. Jantares, eventos, fotos. Depois, divórcio civilizado. Eu te dou uma cobertura em Moema, R$ 500.000, e cartas de recomendação para você abrir seu próprio escritório de arquitetura.”

Ele sabia que ela era arquiteta, tinha pesquisado. “Gabriel nunca deixaria você trabalhar de verdade, deixaria?”, Dante perguntou, lendo sua expressão. “Sempre teve uma desculpa para você não aceitar projetos grandes. ‘Espere o casamento.’ ‘Depois dos filhos.’ ‘Não precisa se preocupar com dinheiro’.” Isis sentiu as lágrimas queimarem. Porque sim, Gabriel sempre havia bloqueado sua carreira com promessas gentis e preocupação falsa.

“Por que eu?”, ela finalmente perguntou. “Você poderia arruinar Gabriel de outras formas.” Dante ficou em silêncio por um longo momento, estudando seu rosto. “Porque você merece mais,” ele disse. E pela primeira vez, sua voz tinha algo além de frieza. “E porque quando Gabriel vir você, linda, bem-sucedida, casada com seu maior inimigo, vai doer de uma forma que dinheiro nunca conseguiria.”

Isis olhou para suas mãos. A aliança de noivado que Gabriel havia dado brilhava sob a luz do bar. Dois quilates, ouro branco. “O melhor para a melhor,” ele tinha dito. Mentiras. Tudo mentiras. “Eu estou bêbada,” ela finalmente disse. “Eu sei,” Dante concordou. “Mas você ainda é capaz de tomar decisões. E, sinceramente, Isis, o que você tem a perder?”

Tudo. Ela tinha tudo a perder, mas também não tinha nada. Seu noivo a traía. Sua melhor amiga a traía. Sua vida estava destruída. “Regras,” ela disse de repente, erguendo o queixo. “Se eu concordar – e é um ‘sim’ gigante – preciso de regras.” Um sorriso tocou os lábios de Dante. “Pode falar.”

“Nada de sexo.” Ele arqueou uma sobrancelha. “É um casamento de negócios,” Isis insistiu, sentindo seu rosto esquentar. “Não quero complicações.” “Aceito,” Dante respondeu facilmente. “Próxima.” “Eu quero um contrato, tudo por escrito, e um advogado olhando antes de eu assinar.” “Óbvio. Próxima.” “Se eu mudar de ideia nos primeiros três meses, posso sair sem consequências.” Dante considerou isso, depois assentiu. “Desde que você não conte para Gabriel que foi tudo planejado. Aí você estraga minha vingança.”

Era louco, completamente, absolutamente louco. Mas quando Isis pensou em voltar para aquele hotel, para aquela igreja, para aquela vida… “Temos um acordo.” Ela ouviu-se dizer. O sorriso de Dante foi triunfante. “Ótimo. Vamos. Agora. Você não quer que Gabriel tenha tempo de criar uma narrativa? Quanto mais rápido, melhor.” Ele se levantou, estendendo a mão.

Isis olhou para ela como se fosse uma serpente. Depois, lenta, dramaticamente, ela tirou a aliança de noivado de Gabriel e a colocou no balcão. “Guarda isso,” ela disse para o barman atônito. “Se um idiota chamado Gabriel vier procurar por mim, devolve e diz que eu espero que ele se engasgue com ela.”

Dante riu. Um som genuíno, surpreendente. “Vou gostar de ser casado com você, Isis Tavares.” Ela pegou sua mão, cambaleando um pouco quando ficou de pé. “Ainda estou bêbada, só para constar.” “Eu sei,” ele disse, segurando seu cotovelo para estabilizá-la. “Mas amanhã, quando acordar sóbria, vai agradecer a si mesma por isso.”

Enquanto eles saíam do bar, Isis de vestido de noiva amassado e Dante em seu terno impecável, ela teve um último momento de sanidade. “Vou me arrepender disso, não vou?” Dante olhou para ela, seus olhos cinzentos, impossíveis de ler. “Provavelmente,” ele admitiu, “mas vai ser glorioso.” E pela primeira vez naquele dia horrível, Isis sorriu.

Isis acordou com o pior gosto na boca que já havia experimentado e uma dor de cabeça que parecia um martelo batendo contra seu crânio. Onde ela estava? A cama era enorme, os lençóis tinham uma contagem de fios absurda, e a luz que entrava pela janela do chão ao teto era forte demais para seus olhos sensíveis.

Lentamente, muito lentamente, as memórias da noite anterior começaram a voltar. O hotel, Gabriel, Bruna, o bar, o homem de olhos cinzentos, o casamento. “Não,” ela gemeu, sentando-se de repente e depois se arrependendo quando tudo girou. “Não, não, não.”

“Bom dia para você também, Isis,” gritou, puxando os lençóis até o queixo. Dante estava encostado no batente da porta, vestindo calças de moletom cinzas e nada mais. Seu abdômen era ridiculamente definido e Isis forçou-se a manter os olhos em seu rosto. “Nós… nós realmente…” Ela não conseguiu terminar a frase.

“Nos casamos. Sim,” Dante respondeu erguendo sua própria mão esquerda, onde uma aliança simples de ouro brilhava. “Bem-vinda ao matrimônio, esposa.”

Isis olhou para sua própria mão. Uma aliança igual estava em seu dedo anelar. “Eu vou vomitar.” “O banheiro é à esquerda,” ele indicou casualmente. “Deixei água e aspirina na mesinha de cabeceira. Ah, e suas coisas chegaram da casa de Gabriel há uma hora. Mandei meu assistente buscar tudo enquanto ele estava na igreja, sendo humilhado publicamente.”

Isis o encarou. “Você mandou buscar minhas coisas?” “Óbvio, você mora aqui agora, precisa das suas coisas.” Ele consultou um relógio caro no pulso. “Aliás, temos uma reunião com o meu advogado em duas horas para você assinar o contrato pré-nupcial. Depois, almoço no Fasano. Gabriel sempre almoça lá aos sábados.”

A realidade da situação a atingiu como uma onda. “Eu casei com você,” ela sussurrou. “Eu realmente casei com um completo estranho.” “Tecnicamente não somos mais estranhos,” Dante apontou. “Somos marido e mulher. E antes que entre em pânico completo, nada aconteceu. Você caiu no sono no carro a caminho do cartório. Eu carreguei você até aqui, troquei suas roupas com os olhos fechados na maior parte do tempo. E você roncou a noite inteira.” “Eu não ronco.” “Ronca sim. É até fofo.”

Isis não sabia se queria rir ou chorar. “Por que você está sendo gentil comigo?” A pergunta pareceu surpreendê-lo tanto quanto a ela. “Porque posso ser um filho da puta nos negócios,” ele disse depois de um momento. “Mas não sou cruel com pessoas que não merecem. Você passou por um inferno ontem. Estou te dando tempo para processar.” Ele se afastou da porta. “Mas essa gentileza tem prazo de validade. Às duas da tarde, você é minha esposa para todo mundo, e isso significa certas expectativas.”

“Que tipo de expectativas?” Dante se virou e a intensidade em seus olhos a fez engolir em seco. “Em público, somos o casal perfeito, apaixonados, inseparáveis. Você sorri para mim como se eu fosse a melhor coisa que já aconteceu na sua vida. Eu te toco como se não conseguisse manter as mãos longe de você. Vendemos a história de amor à primeira vista. E em privado? Em privado, você tem seu espaço. Eu tenho o meu. Essa cobertura tem quatro suítes. Você pode escolher qualquer uma, exceto a minha. Não mexo nas suas coisas. Você não mexe nas minhas. Cada um vive sua vida.”

Parecia simples, clínico, nada ameaçador. Então, por que o coração dela estava acelerado? “E se alguém perguntar como nos conhecemos, deixa comigo,” Dante sorriu. “Já preparei a história perfeita. Você estava no bar afogando mágoas. Eu estava fechando um negócio. Nossos olhos se encontraram. Foi instantâneo, avassalador, impossível de resistir. Você percebeu que Gabriel nunca foi o homem certo. Eu percebi que tinha encontrado minha alma gêmea.” “Isso é ridículo.” “Isso é romântico. As pessoas adoram histórias românticas, especialmente quando envolvem escândalo.”

Ele tinha razão e Isis sabia disso. “Meu celular,” ela começou, “explodiu em mensagens e ligações. Gabriel ligou 47 vezes. Bruna 23. Sua família, seus amigos, todo mundo está desesperado para saber onde você está. Eu preciso falar com eles.” “Não,” Dante disse firmemente. “Não até depois do almoço. Gabriel precisa ver com os próprios olhos. Precisa sentir o choque. Se você avisar antes, ele vai tentar impedir, vai criar drama, vai manchar nossa história.” “Nossa história é mentira,” Isis apontou. “Todas as boas histórias são,” ele respondeu, “mas vão parecer reais. Confia em mim.” E, estranhamente, contra toda a lógica, ela confiava.

Duas horas depois, Isis estava sentada no escritório de advocacia mais caro de São Paulo, lendo um contrato pré-nupcial de 20 páginas. Tudo que Dante havia prometido estava ali. A cobertura em Moema, os R$ 500.000, as cartas de recomendação, o divórcio limpo após um ano. “Está tudo certo?”, o advogado, um homem de meia-idade, de aparência séria, perguntou. “Está,” Isis confirmou, assinando seu nome com mão firme. Dante assinou em seguida, e foi feito. “Bem,” ele disse, levantando-se. “Hora do show.”

O Fasano estava lotado. A alta sociedade paulistana adorava ver e ser vista ali. E Dante sabia exatamente disso. Eles entraram de mãos dadas, Isis usando um vestido midi azul-marinho que Dante havia providenciado de alguma forma, perfeitamente ajustado ao seu corpo, elegante, mas sexy. Seus cabelos, que uma cabeleireira havia arrumado na cobertura, caíam em ondas brilhantes sobre seus ombros. Ela se sentia uma fraude, mas quando todas as cabeças viraram para olhá-los, quando sussurros começaram a se espalhar como fogo, Isis ergueu o queixo.

“Sorria,” Dante murmurou em seu ouvido, sua mão na base de suas costas, queimando mesmo através do tecido. “Você está radiante.”

E então ela o viu. Gabriel, sentado numa mesa no canto com Bruna ao seu lado. Seus olhos encontraram os dela e Isis viu o exato momento em que ele reconheceu o homem ao seu lado. Dante Almeida Costa. O inimigo. Gabriel ficou branco.

“Perfeito,” Dante murmurou, guiando-a até uma mesa, diretamente no campo de visão de Gabriel. “Agora me beija.” “O quê?” Mas ele não esperou resposta. Sua mão se entrelaçou nos cabelos dela, puxando-a para ele, e seus lábios encontraram os dela. O beijo foi diferente de tudo que Isis já havia experimentado. Gabriel a beijava delicadamente, quase castamente. Dante a beijava como se ela fosse ar e ele estivesse se afogando, com fome, com possessividade. Sua língua traçou o lábio inferior dela, pedindo entrada, e quando ela abriu a boca em surpresa, ele aprofundou o beijo até que ela esqueceu onde estava.

Quando ele se afastou, ela estava ofegante. “Bom,” ele disse baixinho, seus olhos brilhando, “muito convincente.” Ao redor deles, o restaurante havia ficado em silêncio. E na mesa ao lado, Gabriel parecia prestes a ter um ataque cardíaco. A vingança, Isis percebeu, era deliciosa.

Os três primeiros dias foram surreais. Isis Tavares, agora Isis Almeida Costa, acordava na suíte luxuosa de uma cobertura que fazia sua antiga casa parecer uma caixa de sapatos. Tomava café preparado por uma chefe particular e via seu marido sair para reuniões usando ternos que provavelmente custavam mais que um carro. “Bom dia,” Dante dizia toda manhã, sempre formal, sempre distante, antes de desaparecer em seu escritório particular. À noite, ele voltava tarde, cheirando a café e estresse, e trancava-se no mesmo escritório até altas horas. Se não fosse pelas alianças douradas e as fotos deles que explodiram nas redes sociais (“Empresário Dante Costa casa em segredo com noiva de seu rival”), Isis poderia acreditar que tinha sonhado tudo.

Gabriel tentava ligar constantemente. Ela bloqueou o número dele. Bruna apareceu na portaria da cobertura no segundo dia, chorando, implorando para falar. O porteiro, sob instruções de Dante, não a deixou subir. “Você não deve satisfação a nenhum dos dois,” Dante havia dito enquanto trabalhavam nos detalhes de sua história oficial para a imprensa. “Deixa eles sofrerem na incerteza.” Era cruel. Mas, considerando o que haviam feito com ela, Isis não sentia nenhum pingo de remorso.

Na quarta-feira, uma estilista apareceu com malas de roupas de grife. “O Senhor Costa pediu para renovar seu guarda-roupa,” a mulher, Sofia, explicou com um sorriso eficiente. “A esposa de um empresário do calibre dele precisa estar sempre impecável.” Isis quase recusou por orgulho, mas então olhou para suas próprias roupas, escolhidas para agradar Gabriel, conservadoras, sem personalidade, e aceitou.

Quando Dante chegou em casa naquela noite, ela estava usando um conjunto de calça de alfaiataria preta e uma blusa de seda branca. Ele parou no meio da sala. “Ficou bem,” ele disse. E havia algo diferente em sua voz. “Obrigada,” Isis respondeu, sentindo uma estranha borboleta no estômago. Silêncio desconfortável. “Você já jantou?”, ele perguntou. “Não.” “Eu também não. A chefe deixou algo na geladeira.” “Massas,” Isis confirmou. Outro silêncio. “Podemos jantar juntos?” Ele ofereceu e pareceu tão surpreendido pela própria sugestão quanto ela. “Claro.”

Eles comeram em um silêncio que era quase, mas não totalmente, confortável. “Amanhã temos um evento,” Dante finalmente disse. “Jantar beneficente no instituto do meu amigo Ricardo. Tapete vermelho, imprensa. Toda a alta sociedade estará lá.” “Gabriel também. Com certeza. Ele nunca perde uma oportunidade de aparecer.” Isis assentiu, brincando com o garfo.

“Você está nervosa?”, Dante observou. “Estou,” ela admitiu. “Não sou boa em mentir.” “Você não vai mentir,” ele disse, inclinando-se para a frente. “Você só vai omitir certas verdades. E quando as pessoas perguntarem como nos apaixonamos, você vai lembrar de como se sentiu quando me viu pela primeira vez no bar. Confusa e bêbada…” Um sorriso tocou os lábios dele. “…intrigada, atraída, segura. Pela primeira vez em horas.”

Ele estava certo. Ela tinha se sentido tudo isso. “E quando olharem para você e duvidarem?”, Dante continuou, sua voz mais baixa. “Você vai lembrar que é mais forte do que eles pensam, que sobreviveu ao pior dia da sua vida e saiu do outro lado. Seus olhos se encontraram através da mesa. Você é impressionante, Isis. Precisa começar a acreditar nisso.”

Ninguém nunca havia falado com ela assim. Gabriel sempre a tratava como algo frágil, delicado, que precisava de proteção. Dante a tratava como uma igual. “Obrigada,” ela sussurrou. Ele assentiu, afastando-se, a parede voltando. “Vou trabalhar mais um pouco. Boa noite.” “Boa noite.” Isis ficou sentada por muito tempo depois que ele saiu, sua mente girando. Esse casamento era temporário, de negócios, uma transação fria. Então, por que ela não conseguia parar de pensar naqueles olhos cinzentos?

O evento beneficente foi tudo que Dante havia previsto. Luzes, câmeras, jornalistas gritando perguntas, celebridades e empresários se misturando em vestidos de grife e ternos caros. “Respira,” Dante murmurou quando o carro deles parou em frente ao tapete vermelho. “Você está linda.”

E ela estava. O vestido vermelho-sangue que Sofia havia escolhido abraçava cada curva. O decote era ousado, mas elegante, e seus cabelos estavam presos em um coque sofisticado. Dante estava de smoking e Isis tinha que admitir que ele era criminosamente bonito. “Pronta?”, ele perguntou, estendendo a mão. Isis respirou fundo e aceitou.

Os flashes a cegaram instantaneamente. “Dante, aqui! Quem é a mulher? É verdade que vocês se casaram? Isis, você era a noiva de Gabriel Fonseca? O que aconteceu? Foi amor à primeira vista?” Dante puxou-a para mais perto, sua mão firme em sua cintura, e sorriu para as câmeras com uma confiança que fez parecer que eles faziam isso todo dia.

“Cavalheiros,” ele disse, sua voz charmosa, mas firme. “Apresento minha esposa, Isis Almeida Costa. E sim, nos casamos. Quanto ao resto, bem, algumas histórias são muito especiais para compartilhar com estranhos.” Ele piscou, e os fotógrafos enlouqueceram.

Eles caminharam pelo tapete vermelho, parando para fotos. Dante posicionando-a perfeitamente, sua mão nunca deixando sua cintura. “Você é boa nisso,” Isis murmurou entre sorrisos forçados. “Anos de prática,” ele respondeu. “Sorria mais. Olha para mim como se eu fosse a melhor coisa que você já viu.” Isis virou o rosto para ele, pronta para reclamar da arrogância. Mas o modo como ele a olhava de volta, intenso, possessivo, quase real, fez as palavras morrerem em sua garganta. “Assim,” ele sussurrou, seus olhos caindo brevemente para seus lábios. “Exatamente assim.” O flash de uma câmera os trouxe de volta à realidade.

Dentro, o salão era espetacular. Lustres de cristal, mesas decoradas com flores exóticas, uma orquestra tocando música clássica. E lá, perto do bar, Gabriel, com Bruna pendurada em seu braço como uma joia cara. Isis sentiu Dante ficar tenso ao seu lado. “Ele trouxe ela,” ele murmurou. E havia raiva verdadeira em sua voz. “Que filho da…” “Não,” Isis disse suavemente, tocando seu braço. “É perfeito. Deixa todo mundo ver com quem ele ficou. Deixa eles julgarem.”

Dante olhou para ela surpreso. “Quando você ficou tão estrategista?” “Aprendi com o melhor,” ela respondeu com um pequeno sorriso. Gabriel os viu. Seu rosto ficou vermelho de raiva e começou a caminhar em direção a eles. “Merda,” Dante murmurou. “Ele vem aí.” “Deixa ele vir,” Isis disse, erguendo o queixo.

Mas quando Gabriel parou na frente deles, tão perto que ela podia sentir o cheiro familiar de sua colônia, seu coração disparou. “Is,” ele disse, e sua voz estava quebrada. “Precisamos conversar.” “Não temos nada para conversar,” ela respondeu, mantendo a voz firme. “Você não entende,” Gabriel insistiu, ignorando completamente Dante. “Foi um momento de fraqueza. Eu te amo. Sempre te amei.”

“Engraçado o jeito de mostrar amor,” Dante interveio, sua voz gelada. “Transando com a melhor amiga dela no quarto nupcial.” Gabriel finalmente olhou para ele e o ódio em seus olhos era quase tangível. “Isso é culpa sua,” ele cuspiu. “Você sempre quis me destruir. Usou ela para…” “Usei ela,” Dante riu sem humor. “Amigo, você que usou ela por anos, a manteve na coleira, impediu a carreira dela, fodeu com a cabeça dela. Eu só dei a ela uma saída.”

“E que saída?”, Gabriel zombou. “Casamento de mentira. Todo mundo sabe que vocês não se amam. É só uma farsa para me atingir.” Foi Isis quem respondeu, dando um passo à frente. “Você está certo,” ela disse calmamente. “Isso começou como vingança. Mas sabe qual a diferença entre você e Dante?” Gabriel piscou. “Ele é honesto sobre suas intenções. Você me mentiu por anos.”

E então, porque Dante tinha razão sobre ela ser impressionante, Isis fez algo completamente inesperado. Ela agarrou Dante pela lapela do smoking e o beijou. Não um beijinho casto, um beijo de verdade, profundo, intenso, cheio de raiva e desejo, e algo mais que ela não conseguia nomear. Dante ficou rígido por um microssegundo antes de responder com igual fervor, suas mãos indo para sua cintura, puxando-a tão perto que não havia espaço entre eles.

Quando se separaram, ofegantes, havia silêncio ao redor. Todo mundo estava olhando. “Isso responde sua pergunta?”, Isis disse para Gabriel, sua voz rouca. E então ela entrelaçou seus dedos nos de Dante e o puxou para longe, deixando Gabriel parado sozinho como um idiota.

Apenas quando estavam seguros em um canto vazio do salão, Dante finalmente falou: “Aquilo foi parte do show?” “Certo,” Isis completou rapidamente, seu rosto em chamas. “Certo,” ele concordou, mas seus olhos diziam outra coisa: “O show.” Mas ambos sabiam que algo havia mudado, algo perigoso, algo real.

A semana seguinte passou em um borrão de eventos sociais, entrevistas cuidadosamente planejadas e sessões de fotos “espontâneas” que Dante orquestrava com a precisão de um maestro. Isis estava se acostumando com a rotina: acordar na cobertura luxuosa, tomar café enquanto lia e-mails de potenciais empregadores que de repente estavam interessados em seu portfólio, almoçar com Sofia, que tinha virado quase uma amiga, e depois se preparar para qualquer evento noturno que Dante julgasse necessário para manter sua imagem pública.

“Jantar hoje à noite?”, ele informou numa quinta-feira, durante um dos raros cafés da manhã que faziam juntos. “Camila Duarte, designer de interiores, uma das melhores de São Paulo.” “Camila Duarte,” Isis quase cuspiu seu café. “A Camila Duarte, a mulher que fez o projeto do Museu de Arte Moderna?” “A mesma,” Dante confirmou, escondendo um sorriso atrás de sua xícara. “Ela é amiga e está começando um projeto grande, um complexo residencial em Pinheiros. Pode precisar de um arquiteto talentoso.” O coração de Isis acelerou. “Dante, você não precisa fazer isso.” “Não estou fazendo nada,” ele interrompeu. “Só estou apresentando duas profissionais talentosas. O que acontecer depois depende do seu trabalho, não da minha influência.” Mas havia algo em seus olhos que fazia parecer mais pessoal do que profissional.

O restaurante era elegante, mas descontraído, com decoração contemporânea e uma carta de vinhos impressionante. Camila chegou pontualmente, uma mulher de uns 40 anos com cabelos grisalhos cortados Chanel e um estilo impecável. “Dante,” ela cumprimentou com beijos, depois se virou para Isis com um sorriso caloroso. “Então, você é a mulher que finalmente capturou o coração desse workaholic impossível.” “Ainda não tenho certeza se consegui,” Isis respondeu antes de pensar. E Camila riu. “Já gosto de você.”

O jantar começou bem. Camila era inteligente, engraçada, e elas tinham opiniões similares sobre arquitetura sustentável. Isis sentiu pela primeira vez em semanas que estava tendo uma conversa real, não performática. Até que ela apareceu. “Dante.” A voz era feminina, rouca, íntima demais.

Isis olhou para cima e viu uma mulher que parecia ter saído direto de uma revista de moda: alta, magra, vestido preto que provavelmente custou uma fortuna, cabelos loiros perfeitamente lisos, caindo pelas costas. E ela olhava para Dante como se Isis nem existisse.

“Melissa,” Dante disse. E havia algo em sua voz que Isis não conseguiu identificar. “Que coincidência.” “Coincidência?”, a mulher Melissa riu e o som era como cristal quebrando. “Querido, você sabe que eu janto aqui toda quinta. Desde quando você começou a frequentar meus lugares?” Ela se aproximou da mesa, seus olhos finalmente deslizando para Isis de forma avaliativa. “E quem é sua acompanhante?” O modo como ela disse “acompanhante” deixou claro que essa não era a palavra que queria usar.

“Minha esposa,” Dante disse firmemente. “Isis, essa é Melissa Cardoso, uma conhecida de longa data.” “Conhecida,” Melissa repetiu, seu sorriso afiado. “É assim que você me chama agora? Me lembro de um tempo em que o termo era um pouco mais carinhoso.”

Isis sentiu algo estranho e desconfortável se contorcendo em seu estômago. Ciúmes. Mas por quê? Era apenas um casamento de negócios. Dante tinha todo o direito de ter um passado, de ter ex-amantes. “Melissa, não é uma boa hora,” Dante disse, sua voz tensa. “Oh, tenho certeza que sua esposa,” a palavra foi praticamente cuspida, “não se importa de ouvir sobre nosso passado. Afinal, vocês se casaram tão rápido. Certamente já discutiram ex-namoradas, não é?”

Camila pareceu desconfortável. “Talvez eu devesse…” “Não,” Isis disse de repente, surpreendendo a si mesma. “Fique, Camila. Melissa estava apenas de saída.” Os olhos de Melissa brilharam perigosamente. “Desculpe?” Isis se levantou lentamente, mantendo o contato visual. “Você claramente veio aqui causar uma cena, mas eu não vou te dar essa satisfação. Então, sim, estava de saída.”

Por um longo momento, as duas mulheres se encararam. “Interessante,” Melissa finalmente disse. “Dante sempre preferiu mulheres mais dóceis.” “Talvez seja por isso que vocês terminaram,” Isis respondeu docemente. Camila abafou uma risada. Melissa ficou branca, depois vermelha. “Você não tem ideia de onde está se metendo,” ela sibilou. “Dante Almeida Costa não é o homem que parece ser. Pergunte a ele sobre o que aconteceu com a última mulher que pensou que podia domesticá-lo.” E com isso ela saiu, seus saltos repicando dramaticamente no chão de madeira.

Isis sentou novamente, seu coração martelando, mãos tremendo sob a mesa. “Bem,” Camila disse depois de um momento. “Isso foi dramático.” Dante estava em silêncio, olhando para Isis com uma expressão que ela não conseguia ler. “Você está bem?”, Camila perguntou gentilmente. “Perfeitamente,” Isis mentiu, pegando seu vinho e bebendo generosamente.

O resto do jantar passou em uma névoa. Camila, sensível, manteve a conversa leve e, quando se despediram, ela abraçou Isis e sussurrou: “Você foi espetacular. E sobre o projeto, liga para mim na segunda. Vamos trabalhar juntas.” Mas Isis mal registrou. Ela só conseguia pensar em Melissa, nos olhos de Dante quando a viu, na intimidade entre eles.

A viagem de volta para casa foi silenciosa. “Quer conversar sobre isso?”, Dante finalmente perguntou quando entraram na cobertura. “Sobre o quê?” Isis jogou sua bolsa no sofá com mais força que o necessário. “Melissa. Não é da minha conta com quem você se relacionou antes.” “Não,” ele concordou lentamente, “mas parece ser.”

Isis se virou para encará-lo e todas as emoções confusas da noite explodiram. “Você ainda se encontra com ela?” A pergunta saiu antes que ela pudesse se impedir. Dante deu um passo em direção a ela, seus olhos intensos. “Com ciúmes, esposa?” Ele respondeu à pergunta. Mais um passo. Ele estava tão perto agora que ela podia sentir o calor dele. “Não,” ele disse, sua voz baixa. “Eu não me encontro com ela. Não me encontro com ninguém desde que casei com você.”

“Por quê?” A pergunta era ousada, perigosa. Dante ergueu a mão, tocando o rosto dela gentilmente. “Porque quando fiz um voto, mesmo que por razões erradas, eu o levo a sério.” Seus olhos caíram para os lábios dela. “E por quê?” Ele continuou, sua voz ainda mais baixa. “Nenhuma delas era você.”

O ar entre eles estava elétrico. Isis deveria recuar. Deveria lembrar das regras. Nada de sexo, nada de complicações. Em vez disso, ela se inclinou para a frente. Dante fez o mesmo. Seus lábios estavam a milímetros de distância quando o celular dele tocou, alto e insistente. Eles se separaram bruscamente, como se tivessem sido queimados.

Dante atendeu, sua voz profissional novamente, mas seus olhos nunca deixaram os dela. “Alô? Sim. Agora está bem. Estarei aí em 20 minutos.” Ele desligou, passando a mão pelos cabelos. “Emergência no escritório. Problema com um contrato que preciso resolver pessoalmente.” “Tudo bem,” Isis disse. Sua voz um pouco rouca. Dante hesitou. “Isis…” “Vai. O trabalho é importante.” Ele assentiu lentamente, pegando suas chaves, mas antes de sair ele se virou. “Aquilo que quase aconteceu, não aconteceu,” Isis interrompeu. “Então não importa.” Mentira. Importava mais do que ela queria admitir. Dante a estudou por um longo momento, depois assentiu e saiu.

Isis ficou sozinha na sala enorme, seu coração ainda acelerado, seus lábios formigando com a lembrança de um beijo que nunca aconteceu. “Merda,” ela sussurrou para o silêncio. “Eu estou em apuros.”

Quando Dante sugeriu um final de semana em sua casa de praia em Búzios, Isis deveria ter recusado. “Para as redes sociais,” ele explicou casualmente durante o café da manhã. “Precisamos de fotos de casal apaixonado em cenário romântico. A imprensa está começando a achar estranho nunca postarmos nada mais pessoal.” Fazia sentido. Era estratégico, lógico, parte do plano. Então, por que seu coração tinha acelerado?

“Ok,” ela concordou, tentando soar indiferente. “Quando?” “Amanhã. Já pedi para Sofia separar algumas roupas para você. Biquínis, vestidos de praia, essas coisas.” Biquínis. Estar em um local isolado com Dante em roupa de banho. Isis engoliu em seco. “Perfeito.”

A casa de praia não era uma casa. Era uma mansão à beira-mar, toda vidro e madeira clara, com uma piscina infinita que parecia se fundir com o oceano, uma vista que deixava qualquer um sem palavras. “Meu Deus,” Isis murmurou quando saíram do carro. “Comprei há dois anos,” Dante disse pegando as malas. “Venho para cá quando preciso pensar… ou não pensar.”

A casa estava impecável, claramente mantida por uma equipe, mesmo quando vazia. Havia flores frescas em jarras, a geladeira estava abastecida e as camas feitas com lençóis que cheiravam a lavanda. “Dois quartos,” Dante indicou. “Você pode escolher qual quiser.” Claro, porque eles eram marido e mulher de fachada, nada mais.

Isis escolheu a suíte azul com vista direta para o mar e começou a desempacotar. Dante estava fazendo ligações de trabalho, porque claro que ele trabalhava mesmo de férias. Quando ela colocou o primeiro biquíni que Sofia havia separado, quase gritou. “Ela está louca,” Isis murmurou, olhando para si mesma no espelho. O biquíni era branco, mínimo, deixando muito mais pele à mostra do que ela estava confortável, mas era de uma grife cara e ela tinha que admitir: a fazia parecer incrível. “Dane-se,” ela decidiu. “É só um final de semana. Só negócios.”

Quando ela saiu no terraço onde Dante já estava, ele quase derrubou o laptop. Seus olhos a percorreram lentamente, da cabeça aos pés, e quando voltaram para seu rosto, estavam escuros. “Preciso tirar fotos para o Instagram,” ele disse. Sua voz um pouco rouca. “Certo.”

A sessão de fotos começou inocentemente. Isis posando perto da piscina. Dante tirando fotos com seu celular, dando instruções profissionais. “Sorri mais.” “Olha para o horizonte, agora para mim.” Mas então ele pediu para tirarem fotos juntos. E tudo mudou. Sua mão na cintura dela para a pose, seu peito pressionado contra as costas dela, seu hálito quente no pescoço dela enquanto se posicionavam para a selfie. “Assim está bom?”, ela perguntou, sua voz saindo mais baixa que pretendia. “Perfeito,” ele murmurou contra seu ouvido, mandando arrepios por toda sua espinha.

O dia passou em uma tortura doce. Mergulhos na piscina, onde seus corpos ficavam perigosamente próximos. Toques acidentais que duravam mais que o necessário. Olhares que significavam muito mais do que deveriam.

À noite, Dante preparou o jantar, risoto de frutos do mar, que era surpreendentemente delicioso. “Não sabia que você cozinhava,” Isis comentou impressionada. “Tem muita coisa que você não sabe sobre mim,” ele respondeu, servindo vinho. “Como o quê?” Ele hesitou, depois se sentou ao lado dela no balcão da cozinha gourmet. “Cresci pobre,” ele disse de repente. “Muito pobre. Minha mãe criava eu e minha irmã sozinha, trabalhando três empregos. Aprendi a cozinhar porque precisava cuidar da minha irmã enquanto minha mãe trabalhava.”

Isis o olhou com novos olhos. “Nunca teria adivinhado.” “Não muitas pessoas sabem. Prefiro manter essa parte da minha vida privada.” Ele tomou um gole de vinho. “Construí tudo do zero. Estudei com bolsa, trabalhei desde os 14. Economizei cada centavo. Quando finalmente consegui abrir minha primeira empresa, jurei que nunca mais seria aquele menino pobre que não tinha onde cair morto. E Gabriel…” A mandíbula de Dante se apertou.

“Nasceu rico, tudo foi dado para ele e mesmo assim achou necessário roubar de quem estava lutando. O terreno, entre outras coisas.” Ele girou o vinho na taça. “Mas a pior parte não foi o dinheiro, foi o que ele fez com minha família. Ele espalhou rumores que eu tinha conseguido meus contratos de forma ilegal: subornos, chantagem, tudo mentira. Mas minha mãe, ela acreditou, me disse que estava desapontada comigo. Minha irmã parou de falar comigo por seis meses.” Pela primeira vez, Isis viu a dor real por trás da máscara fria de Dante.

“Demorei quase um ano para limpar meu nome, para provar que era tudo mentira. E quando provei, Gabriel só deu de ombros. Como se destruir uma família fosse sem importância.” “Desculpa,” Isis disse suavemente, tocando sua mão. Dante olhou para onde suas mãos se tocavam, depois para seu rosto. “Você não tem culpa das coisas que ele fez.”

“Mas eu quase casei com ele. Quase passei minha vida com um homem assim.” “Você não sabia.” “Deveria saber,” ela insistiu. “Os sinais estavam todos lá. O jeito que ele me controlava, me diminuía, me mantinha dependente. Eu só não queria ver.” “Por quê?” A pergunta era gentil, mas firme.

Isis pensou por um longo momento. “Minha mãe morreu quando eu tinha 18. Câncer, foi rápido, brutal. Meu pai nunca se recuperou. Morreu dois anos depois, coração partido, literalmente. Eu fiquei sozinha.” Ela piscou para afastar as lágrimas. “Gabriel apareceu quando eu estava no meu pior momento. Foi gentil, atencioso, me ofereceu estabilidade. Acho que confundi gratidão com amor.” “E agora?” A pergunta pesava toneladas. “Agora eu sei a diferença.”

Seus olhos se encontraram e a tensão entre eles era quase palpável. Dante se inclinou para a frente, sua mão indo para o rosto dela. “Isis…” Mas ela falou primeiro: “Vou tomar banho. Tem muita areia.” Ela fugiu antes que ele pudesse responder, antes que fizesse algo estúpido, como beijá-lo de verdade.

O chuveiro foi longo, quente, dando-lhe tempo para pensar. Ela estava se apaixonando por um homem que a tinha casado por vingança, por um homem que seria seu ex-marido em menos de dez meses. Era loucura.

Quando finalmente saiu, vestindo um roupão branco felpudo, Dante estava esperando no corredor. Seus cabelos ainda estavam molhados. Ele também tinha tomado banho. Estava de bermuda de moletom cinza e nada mais. Gotículas de água ainda brilhando em seu peito definido.

“Eu…” Ele começou. “Não,” ela interrompeu. “Não fala nada que você vá se arrepender.” “E se eu não for me arrepender?” Ele deu um passo em direção a ela. “E se tudo que eu quiser é fazer isso.” Suas mãos foram para a cintura dela, puxando-a contra ele. “Dante, me diz para parar,” ele murmurou. Seu nariz roçando o dela. “Me diz que você não quer isso também e eu paro.”

Mas ela não conseguia, porque queria. Deus, como queria. “Temos regras,” ela sussurrou fracamente. “Foda-se as regras.” E ele a beijou.

Diferente dos outros beijos calculados para show, esse foi desesperado, faminto, real. Isis correspondeu com igual intensidade, suas mãos subindo pelo peito nu dele, sentindo os músculos se contraírem sob seu toque. Dante gemeu contra seus lábios, suas mãos deslizando pelo roupão, abrindo o nó. “Espera!” ela ofegou quando o tecido começou a cair.

Ele parou imediatamente, olhando para ela com olhos escuros de desejo, mas também preocupação. “Você tem certeza?”, ele perguntou, sua voz rouca. “Porque se cruzarmos essa linha, não sei se consigo voltar atrás.”

Isis olhou para ele, esse homem complicado, ferido, que havia lhe oferecido uma saída quando ela mais precisava, que a tratava como igual, que a fazia sentir coisas que Gabriel nunca havia feito. “Tenho certeza,” ela disse e puxou ele de volta.

Dante a pegou no colo, suas pernas automaticamente envolvendo a cintura dele, e a carregou para seu quarto. Não dela, o dele. Quando a deitou na cama, ele a estudou por um longo momento. “Você é linda,” ele disse simplesmente. E então fez amor com ela devagar, reverentemente, tocando-a de formas que faziam seu corpo cantar.

Foi só quando ele a penetrou gentilmente, encontrando resistência, que entendeu. “Isis,” ele disse, seus olhos arregalando. “Você… você ainda é virgem?” Ela confirmou, mordendo o lábio. “Gabriel nunca… merda.” Dante praguejou, começando a se afastar. “Não posso. Não assim. Você merece…” Mas ela segurou seu rosto com as duas mãos. “Eu mereço escolher,” ela disse firmemente. “E eu escolho você.”

Algo mudou em seus olhos, algo profundo e assustador. “Então vou fazer isso direito,” ele murmurou e fez. Foi lindo, doloroso e perfeito. Depois, deitados juntos, suados e ofegantes, Dante a puxou para seus braços. “Is!” “Não,” ela sussurrou. “Não estraga, só fica.” Ele ficou. E, pela primeira vez em semanas, ambos dormiram profundamente abraçados.

Mas quando Isis acordou de manhã, Dante já estava acordado, olhando para o teto com uma expressão que parecia muito com medo. E ela soube que algo havia mudado para sempre.

A manhã seguinte foi estranha. Dante acordou antes do sol, encontrando Isis enroscada contra seu peito, cabelos espalhados no travesseiro, respiração suave de quem dorme sem pesadelos. E ele entrou em pânico. Ele tomou a virgindade dela, a virgindade que ela havia guardado por anos, que Gabriel nunca teve o direito de tocar. E ele, um homem que a tinha usado como peça em um jogo de vingança, havia sido o primeiro. A culpa era esmagadora.

Cuidadosamente, tentando não acordá-la, Dante se levantou e foi para a varanda. O mar estava calmo, o céu pintado em tons de rosa e laranja. Deveria ser pacífico. Em vez disso, sua mente era um caos. Ele não podia se apaixonar por ela. Não podia transformar isso em algo real. Porque quando inevitavelmente terminasse, e terminaria porque tudo que ele tocava eventualmente desmoronava, machucaria Isis de uma forma que ela não merecia. “Recue,” ele murmurou para si mesmo. “Mantenha distância. É melhor para ela.”

Mas quando Isis apareceu na varanda minutos depois, vestindo apenas a camisa dele, com olhos ainda sonolentos e um sorriso tímido nos lábios, toda sua resolução quase desmoronou. “Bom dia,” ela disse suavemente. “Bom dia,” ele respondeu, mantendo a voz neutra. Ela percebeu. Claro que percebeu. “Está tudo bem?” “Perfeitamente,” ele mentiu, “só pensando em trabalho.” A mentira ficou entre eles como uma parede de vidro.

“Dante, devíamos voltar para São Paulo hoje,” ele interrompeu, não olhando para ela. “Tenho reuniões amanhã cedo.” Isis ficou em silêncio por um momento e, quando ele finalmente a olhou, seus olhos estavam feridos. “Claro.” Ela finalmente disse, sua voz pequena. “Vou arrumar minhas coisas.” E ela se foi, deixando ele sozinho com sua covardia.

A viagem de volta foi tensa, silenciosa. Dante dirigia focado na estrada, enquanto Isis olhava pela janela, perdida em pensamentos que ele não conseguia ou não queria ler. “Ontem foi um erro,” ele finalmente disse quando estavam chegando em São Paulo. Pelo canto do olho, viu ela ficar rígida. “Foi?” “Cruzamos uma linha que não devíamos ter cruzado. Isso é um casamento de negócios. Lembra?” “Como poderia esquecer?”, ela respondeu. E havia uma nota amarga em sua voz que o fez se sentir péssimo. “Isis, não…” “Você está certo. Foi um erro.” Ela finalmente olhou para ele e seus olhos estavam secos, mas furiosos. “Afinal, isso tudo termina em alguns meses. Bobagem deixar sentimentos atrapalharem.” A palavra “sentimentos” ficou pendurada no ar. “Exatamente,” Dante disse, odiando cada palavra. “Ótimo. Que bom que estamos na mesma página.” Mas não estavam, e ambos sabiam.

As semanas seguintes foram uma tortura. Em público, continuavam o show perfeito. Mãos dadas em eventos, sorrisos para câmeras, beijos calculados para a imprensa. Mas em privado, mal se falavam. Isis mergulhou no trabalho, aceitando o projeto com Camila, que consumia suas noites e fins de semana. Dante voltou a sua rotina workaholic, dormindo no escritório mais noites do que em casa. Quando se cruzavam na cobertura, era sempre tenso, educado, doloroso. “Boa noite.” “Boa noite.” E então cada um ia para seu quarto.

Mas à noite, quando Dante finalmente caía na cama exausto, tudo que conseguia pensar era em como Isis havia se sentido em seus braços, em como havia sussurrado seu nome, em como ele havia destruído algo precioso por puro medo.

Foi numa quinta-feira que tudo explodiu novamente. Dante voltou para casa mais cedo que o normal, planejando talvez – ele nem sabia – pedir desculpas, conversar. Mas quando entrou, encontrou Isis na sala chorando no sofá, segurando o celular. “O que aconteceu?”, ele perguntou imediatamente, toda a distância esquecida.

“Ele está me machucando, Gabriel,” ela soluçou. “Ele… ele apareceu no escritório. Bruna está grávida.” Dante ficou congelado. “Ele disse que foi um erro, que sempre me amou, que vai dar dinheiro para Bruna cuidar do bebê sozinha se eu voltar para ele.”

Raiva, raiva pura e queimante inundou Dante. “Aquele filho da…” “Eu mandei ele embora,” Isis continuou rapidamente. “Disse que preferia estar sozinha para sempre do que voltar para ele. Mas Dante,” seus olhos encontraram os dele, vulneráveis. “Ele ofereceu muito dinheiro, mais do que você está me dando. E eu quase, quase considerei, não porque quero ele, mas porque estou tão cansada de fingir que não me importo com você quando me importo. E seria mais fácil apenas…” Ela não conseguiu terminar porque Dante a puxou para seus braços.

“Não volta para ele,” ele disse ferozmente. “Promete.” “Por quê?”, ela sussurrou contra seu peito. “Por que você se importa?” Dante deveria ter se afastado. Deveria ter voltado ao seu plano de manter distância. Em vez disso, ele inclinou o rosto dela para cima e a beijou. Não foi gentil, foi possessivo, desesperado, cheio de todas as emoções que havia tentado esconder por semanas. “Porque você é minha,” ele murmurou contra os lábios dela. “Casamento de fachada ou não, você é minha.”

E então a carregou para o quarto. Dessa vez não foi como Búzios. Foi urgente, quase selvagem. Ambos tomando o que precisavam desesperadamente. Depois, deitados juntos, ofegantes, Isis disse o que nenhum dos dois tinha coragem de dizer. “Estamos ferrados, não estamos?” Dante riu sem humor. “Completamente.” Mas ele não se afastou e ela não pediu.

Eles começaram um caso dentro do próprio casamento de fachada. Um segredo que só eles conheciam. Era confuso, complicado, provavelmente um desastre esperando para acontecer, mas nenhum dos dois conseguia parar.

Outubro chegou trazendo a primavera para São Paulo e um convite que Dante tentou ignorar três vezes antes de finalmente admitir que precisaria ir. “Jantar na casa da minha mãe,” ele anunciou durante o café da manhã, sem olhar para Isis. “Sábado à noite. Ela insiste em conhecer você oficialmente.” Isis quase cuspiu seu café. “Minha mãe e minha irmã Júlia,” Dante confirmou, ainda evitando seus olhos. “Elas estão insistindo bastante. Acham estranho eu não ter levado minha esposa para conhecê-las ainda.”

O nervosismo de Dante era quase cômico. Esse homem que comandava empresas sem piscar, que enfrentava rivais sem medo, estava claramente apavorado com um jantar em família. “Está com medo?” Isis provocou. “Aterrorizado,” ele admitiu, finalmente olhando para ela. “Minha mãe tem um detector de mentiras embutido. Se ela perceber que isso começou como farsa…” “Começou,” Isis disse suavemente. “Mas não é mais.” “É?”, a pergunta ficou pendurada no ar.

Nas últimas semanas, desde Búzios, eles haviam caído em uma rotina perigosamente parecida com um casamento de verdade. Jantares juntos, conversas até tarde da noite, noites apaixonadas, seguidas de manhãs preguiçosas e palavras nunca ditas, mas que pairavam sobre cada toque, cada olhar. “Não,” Dante finalmente admitiu, “não é mais.”

A casa de Dona Helena ficava em Vila Madalena, um sobrado charmoso pintado de amarelo com trepadeiras e uma varanda acolhedora. “Não é o que você esperava?”, Dante perguntou quando Isis parou na calçada, surpresa. “Achei que seria maior.” “Ofereci comprar uma mansão para ela mil vezes,” Dante disse tocando a campainha. “Ela sempre recusa. Diz que essa casa tem memórias.”

A porta se abriu revelando uma mulher de uns 60 anos, cabelos grisalhos presos em um coque baixo, vestida de forma simples, mas elegante, com olhos cinzentos idênticos aos de Dante. “Meu filho!”, ela exclamou, puxando Dante para um abraço apertado. “Finalmente! Achei que ia morrer sem conhecer essa esposa misteriosa.” “Mãe, para de dramatizar. Você tem 62 anos e saúde de ferro.” “E você é um workaholic que nunca visita a própria mãe.” Eles claramente tinham esse debate decorado.

Dona Helena se virou para Isis e seus olhos, perspicazes, inteligentes, a estudaram de cima a baixo. “Então você é Isis?” “Sim, senhora,” Isis respondeu estendendo a mão. “É um prazer conhecê-la.” Para sua surpresa, Dona Helena ignorou a mão e a puxou para um abraço. “Nada de senhora. Pode me chamar de Helena. E obrigada.” “Por quê?” “Por fazer meu filho sorrir de verdade pela primeira vez em anos.”

Antes que Isis pudesse responder, uma jovem mulher apareceu atrás de Helena, 20 e poucos anos, também de olhos cinzentos, com energia vibrante. “A famosa Isis,” ela cantarolou. “Júlia, irmã do ogro aqui.” “Ogro?” Dante protestou. “Você trabalha 18 horas por dia e mal sorri. Definição de ogro.” Mas o abraço que ela deu em Dante era cheio de afeto.

O jantar foi revelador. A casa cheirava a alho e temperos caseiros. A mesa estava posta com uma toalha simples, mas limpa. Pratos desemparelhados que claramente tinham história. E havia amor em cada detalhe.

“Então,” Helena começou enquanto servia arroz. “Me conta como vocês se conheceram de verdade. Não me venham com essa história de amor à primeira vista que contaram para a imprensa.” Dante e Isis trocaram olhares nervosos. “Mãe, eu…” “Dante Almeida Costa, eu criei você. Sei quando está mentindo.” Júlia riu no seu vinho. “Isso vai ser bom.”

Isis tomou uma decisão. Se ia mentir para o mundo, pelo menos podia ser honesta com a mãe de Dante. “Foi complicado,” ela começou. “Nos conhecemos numa noite muito difícil para mim. Dante me ofereceu uma saída e eu aceitei por vingança contra Gabriel Fonseca.” “Que a traiu no dia do casamento,” Helena completou, sem julgamento na voz.

Dante ficou branco. “Como você…?” “Por favor, filho. Acham que não leio jornais, que não vejo as datas? A noiva de Gabriel desaparece misteriosamente. Você casa no mesmo dia com uma mulher que ninguém sabia que conhecia?” Helena tomou um gole de água. “Não sou idiota.”

Silêncio chocado. Mas Júlia interveio. “Vocês não parecem estar fingindo agora.” Era verdade. A mão de Dante tinha ido instintivamente para a coxa de Isis sob a mesa. Eles compartilhavam olhares privados. Havia uma intimidade que não podia ser falsa. “Não estamos,” Isis admitiu. “Não mais.”

Helena estudou os dois por um longo momento, depois assentiu. “Então está tudo bem. Não me importo como começou. Importo-me que sejam felizes. Mas podem parar com o casamento falso.” Júlia adicionou. “É exaustivo assistir.”

O resto do jantar foi mais leve. Helena contou histórias embaraçosas da infância de Dante, como quando ele tentou vender limonada para comprar um computador aos oito anos, ou quando ganhou o primeiro contrato e chorou de alegria. “Ele tinha tanta determinação,” Helena disse orgulhosamente. “Desde criança, quando queria algo, movia céu e terra para conseguir.” Isis olhou para Dante, que estava vermelho de embaraço, mas sorrindo. Esse era um lado dele que ela nunca tinha visto, vulnerável, humano, real.

“Vem comigo,” Helena disse depois do jantar, pegando o braço de Isis. “Quero te mostrar uma coisa.” Elas foram para a cozinha, ostensivamente para pegar sobremesa, mas Helena fechou a porta atrás delas. “Você ama meu filho?”, ela perguntou sem rodeios.

Isis abriu a boca, fechou. Abriu novamente. “Eu não sei. Talvez. Sim. Não… talvez.” “Ou ama ou não ama.” As palavras saíram antes que Isis pudesse filtrá-las. “Amo, mas tenho medo.” “Do quê?” “Que não seja real para ele. Que quando o contrato acabar, ele…?” “Meu filho,” Helena interrompeu suavemente. “É um idiota teimoso. Workaholic com medo de ser feliz porque acha que não merece. Mas eu vi como ele olha para você, e ele te ama. Mesmo que seja burro demais para admitir.”

Lágrimas arderam nos olhos de Isis. “Como você sabe?” “Porque ele trouxe você aqui. Dante nunca traz ninguém aqui. Essa casa representa tudo que ele passou, tudo que superou. Ele só compartilharia isso com alguém que realmente importasse.” Helena abraçou Isis gentilmente. “Seja paciente com ele,” ela sussurrou. “E não deixe ele se autossabotar, porque ele vai tentar.”

Aquela noite, de volta à cobertura, Isis e Dante deitaram juntos na cama dele. E pela primeira vez foi diferente. Não foi urgente ou desesperado. Foi lento, reverente, cheio de emoções não ditas. Dante a beijou como se tivesse todo o tempo do mundo. Tocou-a como se fosse preciosa, quebrável, sagrada. E quando finalmente se uniram, ele manteve os olhos abertos, presos nos dela. “Is…” ele sussurrou, sua voz quebrada. “Eu sei,” ela respondeu acariciando seu rosto. Ele estava perto, tão perto de dizer as palavras. Mas no último segundo ele se conteve, escondendo o rosto no pescoço dela. Isis fechou os olhos, lágrimas silenciosas deslizando, porque ela sabia: ele a amava, mas estava com medo demais para admitir. E ela não sabia quanto tempo conseguiria esperar.

Novembro chegou com calor sufocante e com revelações que mudariam tudo. Isis estava revisando plantas no escritório temporário que Camila havia providenciado quando sua secretária – agora ela tinha secretária – entrou nervosa. “Tem um homem aqui querendo falar com você. Disse que é urgente.” “Quem?” “Gabriel Fonseca.” O mundo de Isis parou. “Manda ele embora.” “Ele disse que não sai até falar com você.” Isis apertou os olhos. Sabia que eventualmente teria que enfrentá-lo de verdade, não apenas em eventos públicos onde tinham plateia. “Cinco minutos,” ela decidiu. “E fica por perto.”

Gabriel entrou parecendo destruído. Sua aparência impecável estava manchada. Barba por fazer, olhos vermelhos, roupa amarrotada, nada como o empresário polido que ela conhecia. “Isis,” ele começou e sua voz tremia. “5 minutos, Gabriel. Fala logo.”

Ele se afundou numa cadeira sem ser convidado. “Bruna está grávida de 4 meses. É meu. Eu sei. Você já me contou isso.” “Ela quer me casar, quer que assuma publicamente, quer metade dos meus bens.” E Gabriel a olhou com olhos suplicantes. “E eu não a amo. Nunca amei. Foi sexo, Isis. Só sexo. Você sempre foi a que eu queria casar, construir uma vida.” “Para,” Isis disse friamente. “Para agora. Me escuta.”

“Não.” A palavra saiu mais alta que pretendia. “Você não tem direito. Você me traiu, Gabriel. Me humilhou, tirou minha virgindade, minha confiança, minha paz de espírito. E agora vem aqui parecendo merda, me pedindo o quê?” “Perdão?” ele sussurrou. “Estou te pedindo perdão e uma chance. Vou te dar tudo que quiser. Dinheiro, casa, carreira, muito mais do que Dante está dando. Eu sei sobre o contrato de vocês.” Isis ficou gelada. “Do que está falando?”

Gabriel puxou um envelope de dentro do paletó. “Tenho cópias. O casamento de um ano. O valor que ele vai te pagar, tudo.” “Merda. Como você…?” “Não importa como. Importa que sei que não é real, que você está usando ele tanto quanto ele está te usando.” Gabriel se inclinou para a frente. “Volta para mim. Peça divórcio. Vou te dar um milhão.”

O dobro do que ele ofereceu. Por um momento, apenas um. Isis considerou. Um milhão de reais. Independência total, sem complicações emocionais. Mas então pensou em Dante, em como ele a fazia rir, em como a beijava como se ela fosse oxigênio, em como a tratava como igual, em como ela o amava. “Sai daqui,” ela disse calmamente.

“Isis,” agora Gabriel se levantou lentamente. “Você vai se arrepender. Quando Dante te largar, quando o contrato acabar e ele te jogar fora como lixo, vai se arrepender de não ter voltado para mim.” “Nunca,” ela disse com convicção. “Prefiro estar sozinha para sempre do que passar mais um segundo com você.” Ele saiu batendo a porta. Isis afundou na cadeira, tremendo.

O que ela não sabia era que Dante tinha visto tudo. A segurança privada que ele havia contratado para protegê-la, sem contar a ela, incluía câmeras discretas no escritório. E quando o alerta de “Gabriel Fonseca no local” chegou ao seu celular, ele assistiu a conversa inteira, viu Gabriel oferecendo dinheiro, viu Isis hesitar e viu ela recusar. Algo dentro dele se quebrou e se consertou ao mesmo tempo. Ela havia escolhido ele, não pelo dinheiro, não pela vingança, por ele.

Aquela noite, quando Isis chegou em casa, exausta, encontrou a cobertura iluminada por velas. “Dante,” ela chamou, confusa. Ele apareceu na sala vestindo jeans e uma camisa simples, cabelos bagunçados. “Vi o que aconteceu hoje,” ele disse sem rodeios. “Merda, as câmeras. Você estava me vigiando?” “Protegendo,” ele corrigiu. “E vi você mandar Gabriel embora mesmo quando ele ofereceu mais dinheiro.” “E daí?”

Dante caminhou até ela lentamente, seus olhos intensos. “E daí que percebi algo.” “O quê?” “Que sou um idiota. Que estava tão ocupado tentando não me apaixonar por você que não percebi que já era tarde demais.” O coração de Isis parou. “Dante.”

Ele a puxou para seus braços, enterrando o rosto em seus cabelos. “Você me escolheu,” ele murmurou, “mesmo quando tinha uma saída mais fácil. Me escolheu.” “Sempre vou te escolher,” Isis sussurrou de volta.

Eles fizeram amor ali mesmo no chão da sala, cercados por velas, urgente e desesperado, e completamente, totalmente apaixonado. E dessa vez, quando Dante estava perto, quando seus olhos estavam presos nos dela, ele disse: “Eu te amo.” Três palavras simples, aterrorizantes, verdadeiras. “Repete,” Isis pediu, lágrimas escorrendo. “Eu te amo,” ele disse novamente, beijando-a entre cada palavra. “Te amo. Te amo. Te amo.” “Eu também te amo,” ela respondeu rindo e chorando ao mesmo tempo. E pela primeira vez, o casamento falso se tornou completamente real.

Mas a felicidade, como sempre, era temporária, porque no dia seguinte Isis encontrou algo que mudaria tudo. Documentos esquecidos no escritório de Dante, e-mails impressos, conversas com seu advogado, datas. Ele tinha sabido sobre a traição de Gabriel semanas antes do casamento. Havia orquestrado tudo, inclusive o encontro casual no bar. Tudo era mentira desde o princípio.

Isis ficou olhando para os documentos por tanto tempo que as palavras começaram a desfocar. E-mails, planilhas, conversas impressas. Tudo datado de duas semanas antes de seu casamento com Gabriel. Dante sabia. Ele sabia sobre Bruna, sobre a traição, sobre tudo e tinha orquestrado o encontro casual no bar como se fosse destino. Suas mãos tremiam quando ela ouviu a porta da cobertura se abrir. “Isis, cadê você?” A voz dele, a voz que sussurrava “Eu te amo” horas antes, agora soava como traição.

Ela saiu do escritório dele, segurando os papéis. Dante parou ao vê-la, seus olhos imediatamente indo para os documentos em suas mãos. “Merda. Merda.” Isis riu. O som sem humor. “É tudo que tem a dizer?” “Deixa eu explicar.” “Você sabia?” A voz dela subiu. “Sabia há semanas que Gabriel estava me traindo. Tinha informantes no hotel. Sabia exatamente onde eu estaria, quando estaria. Orquestrou tudo.” “Sim,” Dante admitiu. E pelo menos teve a decência de parecer envergonhado.

“Mas…” Ela jogou os papéis nele. “Não tem ‘mas’. Você me usou. Tanto quanto Gabriel, pior, porque pelo menos ele nunca fingiu ser meu salvador.” “Não foi assim, não foi?” Isis caminhou até ele, fúria irradiando. “Você me viu no meu pior momento, quebrada, vulnerável, e viu uma oportunidade, uma peça perfeita para seu jogo de xadrez contra Gabriel.”

“No começo, sim,” Dante admitiu, passando as mãos pelos cabelos. “No começo foi sobre vingança, mas Isis, tudo mudou. Eu mudei. Você tem que acreditar.” “Acreditar?” Ela riu amargamente. “Como posso acreditar em qualquer coisa que você diz? Nosso encontro foi planejado. Nosso casamento foi calculado. O que mais é mentira? O sexo? As palavras de amor?” “Não.” Ele agarrou seus braços. “Isso é real. O que sinto por você é real.”

Isis se soltou. “Eu não sei mais o que é real. E essa é a parte que mais dói. Lágrimas escorriam livremente agora. Passei minha vida inteira com um homem que mentiu para mim, que me controlou, que me usou.” Sua voz quebrou. “E então você apareceu. Meu cavalheiro de armadura reluzente, me ofereceu liberdade, respeito, escolha, e tudo… tudo era só outra manipulação.”

“Não,” Dante implorou. E havia desespero real em sua voz. “Talvez no início, mas desde o primeiro beijo verdadeiro, desde Búzios, desde cada noite em que te segurei nos meus braços, isso foi real, meu amor. É real.” “Como posso ter certeza?” A pergunta ficou suspensa entre eles. Dante abriu a boca, fechou, porque não havia a resposta que ela acreditaria.

“Preciso de tempo,” Isis finalmente disse. “Preciso de espaço.” “Não,” o pânico em sua voz era tangível. “Não me deixa. Vamos conversar, trabalhar nisso.” “Tempo?”, ela gritou. “Me dá tempo, Dante.” Ele recuou como se tivesse sido atingido. “Quanto tempo?” “Não sei.”

Isis foi para o quarto de hóspedes, trancando a porta. Do outro lado, ela ouviu Dante socar a parede, ouviu ele praguejar, ouviu o silêncio devastador e chorou até não ter mais lágrimas.

Os dias seguintes foram um inferno. Isis ficou no quarto de hóspedes. Dante dormia – quando dormia – no sofá. Eles mal se falavam quando se cruzavam. Era educado, frio, doloroso. “Bom dia.” “Bom dia.” E nada mais. O pior é que ainda tinham que manter aparências em público. Um evento beneficente na quinta-feira foi tortura: sorrir, tocar, fingir que estava tudo perfeito enquanto por dentro ela desmoronava. “Vocês estão bem?”, Camila perguntou, perspicaz. “Você parece triste.” “Só cansada,” Isis mentiu. “O projeto está me consumindo.” Mas Camila não acreditou.

Foi numa segunda-feira, uma semana após a descoberta, que tudo explodiu. Uma jornalista investigativa, Mariana Campos, conhecida por expor escândalos, publicou uma matéria bombástica: “Casamento de Vingança: A verdade por trás da união de Dante Costa e Isis Tavares”. A matéria tinha tudo: prints de e-mails entre Dante e seu advogado, planejando o casamento. Cópias do contrato pré-nupcial com valores exatos. Gravações de conversas comprometedoras. E até fotos de Dante no hotel na noite do casamento de Isis com Gabriel, por coincidência, no mesmo corredor.

A internet explodiu. “Empresário usou mulher traída para vingança.” “Casamento falso exposto.” “Isis Tavares, vítima ou cúmplice?” Os comentários eram cruéis. “Ela só queria o dinheiro dele,” “oportunista,” “bem feito, por ficar com o inimigo do ex.” “Gabriel teve sorte de escapar.” Isis leu cada palavra, cada acusação, sentindo seu mundo desmoronar pela segunda vez em meses.

Pior ainda, Gabriel usou a matéria para limpar sua própria imagem. “Sempre soube que havia algo errado. Isis e Dante merecem um ao outro. Espero que sejam felizes juntos.” A hipocrisia fez Isis querer vomitar.

“Foi você,” Ela acusou quando Dante chegou em casa naquela noite, pálido e destruído. “O quê?” “Você vazou tudo para ganhar simpatia para você.” “Está louca?”, Dante explodiu, pela primeira vez perdendo a compostura. “Por que eu destruiria minha própria reputação? Por que exporia nosso acordo?” “Não sei. Você me explica?” “Foi Gabriel,” Dante gritou. “Hackeou meus servidores, roubou arquivos, entregou tudo para a jornalista. Exatamente como fez há três anos quando me destruiu antes.” Isis parou. “Como sabe?” “Porque minha equipe de TI rastreou o leak. Veio dos servidores dele. E ela,” ele jogou um tablet para Isis, “acaba de publicar uma correção, admitindo que recebeu os documentos de fonte anônima conectada a Gabriel Fonseca.”

Isis leu a atualização, sentindo náusea. “Mas o estrago está feito,” ela sussurrou. “Sim,” silêncio. “Acho,” Isis começou, sua voz quebrada. “Acho que preciso ir embora por um tempo.” “Não, Dante,” não. Ele agarrou suas mãos. “Não me deixa. Não, agora. Vamos lutar contra isso juntos.”

Mas Isis estava cansada demais para lutar. “Não tenho mais forças,” ela admitiu, lágrimas escorrendo. “Fui traída por Gabriel, manipulada por você, humilhada publicamente duas vezes. Eu só preciso sumir.” “Para onde?” “Minas. Para a casa da minha avó. Só… preciso de silêncio.” “Por quanto tempo?” “Não sei.”

Dante a soltou lentamente, derrotado. “Tudo bem,” ele disse, e sua voz estava quebrada. “Vai. Mas, Isis, por favor, volta, porque sem você não sei quem eu sou.” Ela beijou seu rosto gentilmente. “Talvez seja disso que você precisa, descobrir quem é sem vingança, sem ódio, sem mim.” E então pegou uma mala e saiu, deixando o apartamento, a cidade e o homem que amava, deixando Dante sozinho com suas mentiras e arrependimentos.

Isis passou quatro semanas em Ouro Preto, a cidadezinha mineira onde sua avó ainda morava. Era o oposto de São Paulo. Silêncio, montanhas, ar puro e nenhuma expectativa de ser alguém além de si mesma. Sua avó, Dona Zélia, com 83 anos e mais sabedoria que dez bibliotecas, não fez perguntas. Simplesmente abriu a porta, abraçou a neta e disse: “Seu quarto está do jeito que deixou.”

Os dias passavam lentamente. Isis acordava com o canto dos pássaros, tomava café da manhã na varanda com vista para as montanhas, ajudava a avó no jardim. À noite, sentavam juntas enquanto Dona Zélia tricotava e Isis finalmente processava tudo.

“Ele te ama?”, a avó perguntou uma noite. “Diz que sim.” “Você acredita?” Isis ficou em silêncio por um longo tempo. “Acho que acredito que ele pensa que ama. Mas como diferenciar amor real de culpa, de possessividade?” “Amor real te liberta,” Dona Zélia disse sabiamente. “Qualquer outra coisa é só desejo de possuir.” “E se eu ainda o amo? Mesmo depois de tudo?” “Amor não desaparece porque alguém nos machuca, menina. Seria muito mais fácil se desaparecesse.” Isso era verdade. Porque Isis descobriu, para sua frustração, que bloqueou Dante de tudo – WhatsApp, ligações, redes sociais – mas ainda sonhava com ele toda a noite. Ainda sentia falta do jeito que ele a abraçava, do sorriso raro que ele guardava só para ela. Ainda o amava. Maldito seja.

Em São Paulo, Dante estava desmoronando. Nos primeiros dias após Isis partir, ele mergulhou no trabalho, como sempre fazia quando queria evitar sentimentos. Mas trabalho não ajudava, não quando cada contrato o lembrava dela. Cada negócio era vazio, sem poder dividir com ela à noite. Ele parou de comer, mal dormia. Sua mãe apareceu na cobertura e o arrastou para a casa dela. “Você vai comer um prato decente e vai conversar comigo,” ela ordenou.

“Não tenho nada para falar.” “Besteira. Está destruído. Isis foi embora e você está se punindo.” Dante ficou em silêncio, mexendo na comida que não queria. “Eu estraguei tudo,” ele finalmente admitiu. “Usei ela, menti para ela. E quando ela finalmente me amava de verdade, descobriu que tudo começou como manipulação. E agora? Agora ela se foi e não sei como fazê-la voltar.”

Helena estudou seu filho por um longo momento. “Você quer ela de volta pelos motivos certos ou porque não gosta de perder?” A pergunta atingiu como uma bala. “Eu não sei.” “Então, talvez seja bom ela ter ido, porque Isis merece um homem que tem certeza, não alguém que a ama só quando é conveniente.” As palavras doeram, mas eram necessárias.

Foi Júlia quem trouxe a notícia que mudou tudo. “Gabriel está tentando um último golpe,” ela anunciou, irrompendo no escritório de Dante. “Descobri pelo meu namorado que trabalha no escritório dele.” Dante olhou para cima. Exausto. “O que agora?” “Ele está aproveitando que você está vulnerável. Preparou uma armadilha no contrato do complexo comercial de Pinheiros. Se você assinar amanhã, vai perder não só o projeto, mas metade da empresa.”

Dante leu os documentos que Júlia trouxe. Ela estava certa. Gabriel havia enterrado cláusulas que, na prática, o fariam perder tudo, e ele provavelmente assinaria, porque estava tão devastado que mal conseguia ler contratos. “Merda. Não vai fazer nada?”, Júlia perguntou assustada. “Como o quê? Lutar? Revidar?” “Dante, você é um dos empresários mais espertos de São Paulo. Não vai deixar aquele canalha te destruir.” Mas Dante apenas deu de ombros. “Talvez eu mereça.”

“Merda nenhuma.” Júlia bateu na mesa. “Você merece felicidade, merece Isis e ela merece um homem que luta pelo que ama.” Algo nas palavras de sua irmã finalmente despertou algo nele. “Ela merece,” ele concordou lentamente. “Merece alguém que seria capaz de perder tudo por ela.” E de repente ele sabia o que fazer.

Isis estava ajudando Dona Zélia a colher tomates quando seu celular tocou. Número desconhecido. Ela quase não atendeu, mas algo a fez aceitar. “Alô?” “Isis. É a Helena, mãe do Dante.” Seu coração acelerou. “Ele está bem?” “Fisicamente, sim. Emocionalmente é um desastre. Mas não liguei por isso. Liguei porque preciso te contar algo.”

E Helena contou tudo sobre o golpe de Gabriel, sobre como Dante ia assinar um contrato terrível que o destruiria empresarialmente. “Ele vai fazer isso mesmo sabendo?”, Isis perguntou, chocada. “Ele não se importa mais. Diz que sem você nada importa.” “Isso é loucura!” “É amor,” Helena corrigiu. “Amor real, do tipo que te faz disposto a perder tudo.” Isis sentiu lágrimas queimarem. “Por que está me contando isso?” “Porque meu filho finalmente entendeu o que significa amar alguém. E você merece saber. O que fizer com essa informação é sua escolha.” A ligação terminou. Isis ficou parada no jardim, celular na mão, coração acelerado. Dante ia perder tudo. Por ela. Por amor. “Merda!” ela murmurou. “O que foi?”, Dona Zélia perguntou. “Preciso voltar para São Paulo.”

Mais tarde naquela noite, Isis descobriu algo mais. Estava passando mal há dias: náusea matinal, cansaço, sensibilidade. Tinha atribuído ao estresse, mas quando o enjoo foi forte demais, Dona Zélia a arrastou para a farmácia da cidade. “Faz o teste,” ela ordenou. “Vó, não é isso.” “Faz!”

5 minutos depois, Isis olhava para duas linhas rosa. Grávida de Dante. Ela riu, chorou, entrou em pânico. “E agora?” ela sussurrou. “Agora?”, Dona Zélia disse firmemente. “Você volta para São Paulo e conta para aquele homem que vai ser pai e decidem juntos o que fazer, porque criança merece ter ambos os pais, se possível.” Isis assentiu, tremendo.

No dia seguinte, ela embarcou em um ônibus para São Paulo, esperando que não fosse tarde demais. Para Dante, para eles, para o bebê que carregava.

O ônibus chegou a São Paulo às 6 da manhã. Isis pegou um Uber direto para o escritório de Dante, onde, segundo Júlia, a assinatura catastrófica aconteceria às 9. Seu coração martelava. Ela não havia dormido a noite toda, ensaiando mentalmente o que diria. Mas quando chegou ao prédio corporativo, onde ficava a sala de reuniões, seguranças a bloquearam. “Desculpe, senhora. Reunião privada.” “Preciso falar com Dante Almeida Costa. É urgente.” “Não posso permitir.” “Por favor.” Ela agarrou o braço do segurança. “Ele está prestes a cometer um erro terrível. 5 minutos. É tudo que peço.”

Algo em seu desespero o fez hesitar. “Espera aqui.” 2 minutos depois, a porta da sala de reuniões se abriu e lá estava Dante. Ele parecia destruído, emagrecido, olheiras profundas, barba por fazer, terno amarrotado, nada como o empresário impecável que ela conhecia. “Is,” ele sussurrou, como se fosse uma miragem.

“Não assina,” ela disse imediatamente. “Por favor, não assina esse contrato.” Gabriel estava atrás dele, junto com advogados e testemunhas. “Que cena tocante!”, Gabriel zombou. “A esposa arrependida voltando, mas tarde demais. Dante já decidiu…” “Calado, Gabriel,” Dante disse sem tirar os olhos de Isis. “Como você soube?” “Sua mãe me contou.” “Dante, você não pode fazer isso, perder metade da sua empresa.” “Por quê?” “Por quê?”, ele disse simplesmente, “Nada disso importa sem você. A empresa, o dinheiro, a vingança, tudo é vazio se você não estiver aqui.”

Lágrimas escorreram livremente agora, mas eu te machuquei. Isis disse. Fui embora quando você mais precisava e tinha todo o direito. Ele a interrompeu, caminhando até ela. Eu te manipulei. Menti, usei você. Mereço perder tudo. Não. Ela agarrou suas mãos. Você merece felicidade, merece sucesso e eu não vou deixar você se sacrificar. Isis se virou para Gabriel, que assistia com expressão frustrada. Você nunca vai vencer, ela disse friamente.

Porque ao contrário de você, Dante tem pessoas que o amam de verdade, que lutam por ele. Palavras bonitas. Gabriel cuspiu, mas ele já concordou em assinar. Ah, é. Uma nova voz interveio. Todos viraram. Bruna estava parada na porta, mais magra, mais pálida, claramente grávida, com uma pasta de documentos na mão. Bruna, Gabriel ficou branco.

O que você está fazendo aqui? Finalmente crescendo, ela disse entrando na sala e trazendo presentes. Ela jogou a pasta na mesa de conferências. Dentro tem todas as evidências das fraudes de Gabriel nos últimos 5 anos. Contratos falsos, subornos, contas offshore, tudo. Silêncio chocado. Por que você, Gabriel começou, por que me usou? Bruna disse, sua voz quebrando. Me prometeu amor, futuro, família.

Depois que engravidei, me tratou como nada. Quis me pagar para desaparecer com nosso filho. Ela olhou para Isis. Lamento, lamento tanto. Você era minha melhor amiga e eu te traí pelo homem mais miserável do planeta. Isis não sabia o que sentir. Por que está fazendo isso? Porque você não merecia o que fizemos. E Dante não merece perder tudo por causa dele.

Ela indicou Gabriel com desdém. Os advogados de Gabriel estavam foliando os documentos, ficando progressivamente mais pálidos. Isso, isso é, um deles gaguejou. suficiente para processos criminais. Bruna completou. Já enviei cópias para o Ministério Público. Gabriel ficou roxo de raiva. Sua vagabunda traíra. Cuidado, Dante disse. Sua voz gelada. Fala assim com ela de novo e eu mesmo te quebro.

A reunião terminou em caos. Advogados correndo. Gabriel ameaçando, mas sem poder fazer nada. Seguranças sendo chamados. No meio de tudo, Isis e Dante se olhavam. Vem”, ele disse, pegando sua mão. “Vamos sair daqui”. Eles foram para a cobertura.

A mesma cobertura que havia testemunhado seu casamento falso, seu primeiro beijo real, suas primeiras noites juntos. “Preciso te falar uma coisa”, ambos disseram ao mesmo tempo. Você primeiro, Dante ofereceu. Isis respirou fundo. Estou grávida. O mundo parou. Dante a encarou, processando as palavras. Grávida. Você está Nós vamos ter um bebê. Ela completou. Se você quiser. Se ainda quiser.

Eu em resposta, ele a pegou no colo e girou, rindo e chorando ao mesmo tempo. Se eu quero, Isis, você é tudo que eu quero. Você e agora, nosso filho. Quando ele a colocou no chão, seus olhos estavam sérios. Minha vez, ele disse. Fiz muita coisa errada. Manipulei você. Comecei tudo pelos motivos errados. Mas Isis, juro por tudo que sou que não fui eu quem vazou nossos contratos.

Gastei as últimas semanas provando isso e encontrei o culpado. Gabriel hackeou meus servidores. Ele puxou documentos do bolso. Meu advogado tem provas. Posso processar, mas não vou fazer. Por quê? Porque estou cansado de vingança, cansado de ódio. Quero paz. Quero construir algo real com você. Se me perdoar. Isis tocou seu rosto gentilmente.

Só se você me perdoar por ter ido embora. Nada para perdoar. Eles se beijaram finalmente, completamente honestos. Casa comigo, Dante disse quando se separaram. De verdade, dessa vez, sem contratos, sem vingança, só amor. Já somos casados. Isis apontou, sorrindo. Então renovamos os votos do jeito certo, na frente da minha família, da sua avó. Pequeno, íntimo, real. Sim”, ela sussurrou. Mil vezes, sim? E pela primeira vez o futuro parecia brilhante.

Seis meses depois, Isis estava sentada em sua prancheta no escritório que havia aberto, sem dinheiro de Dante, apenas seu próprio talento e os contratos que ganhou com Camila. Ita, arquitetura, dizia a placa na porta. Isis Tavares Almeida. Ela havia mantido ambos os nomes, afinal. A gravidez estava de 7 meses agora. Sua barriga impossível de esconder, mas linda de ver. Quer um chá?, Camila ofereceu entrando com uma bandeja. Você não precisa me servir. Isis riu. É minha sócia, não minha empregada. Grávida de sete meses, merece todas as regalias.

Elas haviam se tornado sócias oficialmente dois meses antes e o escritório já estava bombando com projetos. O telefone tocou. Ita arquitetura. Oi, amor. A voz de Dante do outro lado a fez sorrir, saindo agora da reunião. Te busco em 20. Não precisa. Posso pegar Uber? Minha esposa grávida não vai andar de Uber enquanto eu estiver vivo. 20 minutos. Ela revirou os olhos afetuosamente. Controlador, apaixonado. Existe diferença.

O casamento verdadeiro havia acontecido três meses antes. Não no hotel cinco estrelas, não com 200 convidados, mas na casa de dona Helena, no jardim, com 20 pessoas que realmente importavam. Isis usou um vestido simples, branco, que acomodava a barriga já aparente de 4 meses. Dante chorou quando a viu caminhar em direção a ele. Você está linda, ele sussurrou quando ela chegou. Você também, ela respondeu, limpando suas lágrimas. A cerimônia foi curta, íntima, perfeita. E quando o juiz disse pode beijar a noiva? Dante a beijou como se fosse a primeira e última vez. Finalmente? Ele murmurou contra seus lábios. Finalmente, real.

Quanto a Gabriel, as evidências que Bruna forneceu resultaram em investigação federal. Ele não foi preso, conseguiu bons advogados e acordos, mas sua reputação estava destruída. A empresa faliu, seus parceiros o abandonaram. Ele se mudou para o interior, recluso e derrotado. Isis não sentia satisfação com sua queda, apenas nada. Ele era irrelevante. Agora, Bruna deu à luz um menino, Rafael.

Ela e Isis haviam conversado longo e dolorosamente, e, embora nunca voltassem a ser amigas, havia perdão. Obrigado, Bruna havia dito no hospital, segurando o bebê. Por não me odiar, ódio cansa, Isis respondeu simplesmente, E a vida é curta demais.

Quando Dante chegou para buscá-la, Isis estava finalizando as últimas plantas do dia. Pronta?, ele perguntou, beijando seu rosto. Quase, Mais 5 minutos. Ele se sentou ao seu lado, observando a trabalhar. Quer saber de uma coisa? Ele disse de repente. Hum, às vezes ainda não acredito que você é real. Que isso? Ele tocou sua barriga gentilmente. É real. Isis parou de desenhar e olhou para ele. Também tem dias que parecem sonho. Bom sonho? O melhor.

O bebê chutou exatamente naquele momento, fazendo ambos rirem. Ela já é respondona. Dante brincou. Ela? Ainda não sabemos o sexo. Sei que é menina. Intuição de pai. Se for menino, você vai ficar decepcionado. Dante ficou sério. Isis, eu poderia ter qualquer coisa. Menina, menino, gêmeos, não importa, porque tenho você e isso é mais do que eu jamais mereci. Lágrimas. Malditos hormônios encheram seus olhos. para com isso, senão vou chorar no escritório. Ele a puxou para um abraço. Te amo, ele sussurrou. Comecei tudo querendo vingança, mas me apaixonei por você na primeira noite, quando vi como era forte, mesmo quebrada, como era corajosa, mesmo assustada, e cada dia desde então só me fez te amar mais. Eu também te amo, ela respondeu.

Mesmo quando foi difícil, mesmo quando doeu. Você sempre foi o escolhido. Dois meses depois, Dante, o grito de Ises ecoou pela cobertura às 3 da manhã. Ele acordou instantaneamente, já pulando da cama. O quê? O que aconteceu? Acho que acho que estou em trabalho de parto. Pânico, puro pânico nos olhos dele agora. Mas ainda faltam duas semanas.

Eu não. A mala está pronta. O carro tem gasolina. Eu, Dante, Isis, gritou, depois riu, apesar da dor. Respira. Já liguei para a médica. Está tudo bem? Está tudo ótimo. Ele estava tendo um ataque. Você está tendo um bebê. Tecnicamente, nós estamos tendo um bebê. Não me faz rir agora. Mas ele estava sorrindo mesmo em pânico.

12 horas depois, Helena Ises Almeida nasceu 3,G 200 g de perfeição, com olhos cinzentos do pai e cabelos escuros da mãe. Dante segurou a filha pela primeira vez e chorou. Oi, pequena, ele sussurrou. Sou seu pai e prometo passar o resto da vida te protegendo, te amando e sendo metade do homem que sua mãe me fez ser.

Isis, exausta, mas radiante, observava seu marido segurar a filha com reverência. Ficou bonito no papel. Ela brincou. Papel de pai. Ele se sentou na cama ao lado dela, a bebê segura em seus braços. Obrigado, ele disse simplesmente. Por quê? Por tudo. Por me perdoar, por me amar, por me dar uma família. Obrigado você, ela respondeu, por aparecer naquele bar, por me oferecer uma saída, por se tornar minha casa. O futuro seria doce, cheio de promessas, e ali, naquele quarto de hospital, com sua filha entre eles, ambos descobriram que finalmente estavam onde sempre deveriam estar: juntos.

Epílogo. A fita vermelha foi cortada na cerimônia de inauguração de seu escritório. Sol brilhando, céu azul e um grande número de pessoas em São Paulo. Ita Arquitetura e Design, um sucesso retumbante. Isis estava no palco, Helena nos braços. Dante era o homem que ela amava, determinado a participar de tudo, desde a discussão sobre a abertura do novo projeto até a troca de fraldas. Ela estava onde pertencia. Cada momento de dor, humilhação, desespero, parecia ter sido apenas um guia para o momento mais importante de sua vida. Se o Dante estava em seu caminho, ele seria o lançamento no Helena 2.0. Depois de um longo tempo, ela conseguiu resolver o problema que a Helena tinha tido uma vez. Aprender que a vingança pode se transformar em amor, que você pode ser quebrada e enfrentar seus erros para ter sua família de verdade. A vingança.

Depois da cerimônia, Dante se encontrou. com as duas filhas nos braços. “Que disco”, ele disse orgulhoso. “Aprendi com o melhor negociador que conheço.” “Modesto também,” ele provocou. Isis riu, pegando Helena de volta. Vamos para casa?, disse a vovó Zélia, que jantamos lá hoje. Vamos. Enquanto caminhavam para o carro, Helena deixou o cabelo de Ísis. Mamãe, papai, amor. Sim, be yeu. Dante respondeu, beijando a testa da filha. muito amor. E era verdade. Começou como um plano torto, cínico, e a oposição se transformou em uma família imperfeita, complicada, e totalmente feliz.

Isis olhou para o marido, para as filhas, para a vida que construiu das cinzas de suas piores versões e percebeu porque às vezes os finais mais felizes vêm dos começos mais ingênuos. E dela e Dante fizeram uma mudança e vingança, quem a conheceu, ou o amor, se tornou como o amor.