Você já se apaixonou pela pessoa mais impossível do mundo? Aquela que parece viver em um universo completamente diferente do seu? Hoje vou te contar a história de Mateus, um assistente executivo comum e Carolina, a CEO mais temida de Porto Alegre. Uma tempestade de inverno na Serra Gaúcha, um chalé isolado e um momento de vida ou morte mudaram tudo entre eles.
Antes de começar, me conta nos comentários de onde você está assistindo. E se você gosta de histórias intensas de transformação e superação, se inscreve no canal e deixa aquele like para me ajudar a trazer mais conteúdo assim. Agora vamos à história de Mateus e Carolina. Mateus Machado olhou o relógio pela décima vez em 5 minutos.
7:25 da manhã. Tinha exatamente 5 minutos para garantir que tudo estivesse perfeito antes que ela chegasse. O café precisava estar preto, quente, sem açúcar, a temperatura da sala exatamente em 22º. Os relatórios impressos, grampeados, organizados por ordem de prioridade sobre a mesa de vidro imaculada.
Aos 26 anos, Mateus conhecia essa rotina melhor que qualquer coreografia. 3 anos como assistente executivo de Carolina Hendler o haviam transformado em uma extensão silenciosa da mente dela. Ele antecipava necessidades, dissolvia problemas antes que se tornassem crises e mantinha o mundo girando perfeitamente ao redor da mulher mais temida do cenário corporativo de Porto Alegre. A porta do escritório se abriu exatamente às 7:30.
Carolina Handler entrou como sempre e entrava, com passos firmes que ecoavam a autoridade, o tailer azul marinho impecável moldando sua silhueta de 1,70 m, o cabelo castanho preso em um coque tão apertado que parecia doloroso. Seus olhos castanhos varreram o ambiente em uma inspeção rápida e implacável, catalogando cada detalhe. Bom dia, Dra. Carolina.
Mateus se levantou, estendendo a xícara de café fumegante. Ela aceitou sem olhar para ele, os dedos roçando brevemente nos dele. Reunião com a Petrolux às 9. Os números finais, impressos e revisados. Identifiquei três pontos que podem gerar questionamentos. Preparei respostas complementares na página 7. Pela primeira vez ela o olhou.
Não era gratidão. Carolina Hendler não conhecia a gratidão. Era reconhecimento, a confirmação de que ele havia cumprido sua função. Eficiente como sempre, Mateus. Ela passou por ele em direção à sua sala privativa, deixando um rastro sutil de perfume francês caro. A porta se fechou com um clique definitivo, restaurando a barreira invisível mais sólida entre os mundos deles.
Mateus voltou para sua mesa no espaço externo, olhando pela janela panorâmica. que mostrava Porto Alegre acordando sob um céu cinzento de julho. Lá fora, a cidade fervilhava. Aqui dentro, no 22º andar do edifício corporativo, no bairro Moinhos de Vento, tudo era controle, precisão, distância. Ele conhecia cada preferência dela.
Sabia que ela detestava reuniões após às 5 da tarde, que tomava chá verde às 3 em ponto, que ficava irritada quando alguém usava basicamente, ou literalmente incorretamente, que trabalhava 16 horas por dia, 7 dias por semana, como se tentar provar algo para fantasmas do passado. Mas Mateus não sabia nada sobre Carolina Handler, a pessoa não sabia se ela tinha família, se sonhava, se chorava, se alguma vez, em 32 anos de vida, havia abaixado a guarda tempo suficiente para simplesmente sentir. A Handler, estratégia, ocupava o andar inteiro. 15
consultores especializados, três salas de reunião, uma cozinha gourmet que ninguém usava. Carolina havia fundado a empresa 4 anos atrás após sair de um grande grupo corporativo onde, segundo os sussurros de corredores, não era levada a sério por ser mulher.
Ela havia provado que estavam errados, brutalmente errados. A consultoria cresceu em ritmo vertiginoso, atraindo clientes de prestígio, startups promissoras e multinacionais estabelecidas. Carolina tinha um dom perturbador para identificar fraquezas estruturais. e transformá-las em vantagens estratégicas.
Ela enxergava o que outros não viam, pensava três movimentos à frente. Era objetivamente brilhante e absolutamente aterrorizante. Mateus viera de Pelotas 3 anos atrás, recém formado em administração, com recomendações excelentes, mas zero experiência real. Seu pai era mecânico, sua mãe professora de escola pública. Ele cresceu em uma casa pequena, onde amor compensava a falta de luxo, onde domingo era churrasco na laje e risadas altas.
O kitnet de 25 met quadrados na cidade baixa, que ele chamava de lar, era o oposto do apartamento de Carolina no Moinhos de Vento, um triplex com vista para o Guaíba, que ele nunca vira mais imaginava suntuoso. Eles não tinham nada em comum, exceto passar 10 horas por dia a poucos metros um do outro, existindo em órbitas que nunca se tocavam.
Às 9:05, Mateus bateu na porta dela. Dra. Carolina, os representantes da Petrolux chegaram. Ela saiu ajustando os punhos da blusa, o rosto, uma máscara de profissionalismo polido. Passou por ele sem uma palavra e Mateus a seguiu três passos atrás, como sempre fazia, carregando os dossiê extras. A reunião foi implacável.
Carolina desmontou as projeções financeiras deles em 20 minutos, reconstruindo a estratégia com uma clareza que beirava o cruel. Os executivos saíram impressionados e levemente intimidados, exatamente como ela planejara. De volta ao escritório, Carolina parou na frente da janela, olhando a cidade sem realmente vê-la. Mateus: “Sim, Dra.
Carolina, o seminário anual começa sexta-feira. Confirmou as reservas no hotel? Tudo confirmado. 15 quartos na pousada serra azul em Gramado. Transfer contratado. Refeições organizadas. Sala de conferências reservada com equipamento audiovisual. Você vai? Não era pergunta, era ordem. Claro. Estarei lá para garantir que tudo corra perfeitamente.
Ela se virou e por um segundo, apenas um segundo, Mateus viu algo diferente no olhar dela. Cansaço, talvez, ou solidão disfarçada de determinação. Você sempre está, Mateus. Sempre está. Havia algo estranho na voz dela, quase como reconhecimento, quase como gratidão real.
Mas antes que ele pudesse processar, Carolina já havia voltado a ser a seou impenetrável, dispensando-o com um gesto da mão. Mateus saiu do escritório enquanto o céu sobre Porto Alegre escurecia, carregado de nuvens de inverno que prometiam tempestade. não sabia enquanto organizava os últimos preparativos para o seminário, que aquela tempestade mudaria tudo, que em 72 horas a distância cuidadosamente mantida entre seus mundos se estilhaçaria como vidro sob pressão impossível.
A van Branca percorreu a sinuosa estrada que levava à Serra Gaúcha, serpenteando entre montanhas cobertas de pinheiros e araucárias. Júlio transformava a região em um cenário de inverno europeu, temperaturas beirando 0 grau, névoa densa grudada nas encostas, geada cristalizando cada folha.
Mateus estava sentado no banco de trás, revisando cronogramas no tablet enquanto os colegas conversavam animados. Carolina ia no banco da frente ao lado do motorista, silenciosa como sempre, digitando e-mails no smartphone com dedos rápidos e precisos. Rafael, consultor sior, com ego proporcional à ausência de Tato, virou-se para Mateus.
Cara, você não cansa de ser a sombra dela? Tr anos fazendo café e organizando agenda. Quando vai assumir um caso de verdade? Mateus não mordeu a isca. Gosto do que faço. Gosta de ser invisível? Gosto de garantir que as coisas funcionem. Carolina não se virou, mas seus dedos pausaram sobre a tela do celular por uma fração de segundo. Depois voltaram a digitar mais rápido. A pousada serra azul emergiu da névoa como ilustração de conto de fada sombrio, construção em estilo bárbaro, madeira escura e pedra rodeada por jardins congelados. A recepcionista, uma senhora de uns 60 anos com sutaque carregado do interior, entregou as chaves com
sorrisos efusivos, quartos aquecidos. Lareira central sempre acesa. Se precisarem de algo, é só chamar. Mas atenção, previsão de tempestade forte para amanhã à tarde. Melhor ficarem abrigados. Carolina acenou brevemente e subiu para seu quarto sem se despedir. Mateus conferiu as acomodações de todos antes de ir para o seu pequeno, mas aconchegante, com vista para as montanhas que desapareciam na névoa.
O seminário começou na manhã seguinte. Carolina comandou as sessões com maestria habitual, desse estratégias de mercado, apresentando estudos de caso, desafiando a equipe a pensar além do óbvio. Mateus anotava tudo, gerenciava equipamentos, garantia que café e água não faltassem. Durante o intervalo do almoço, enquanto os outros se espalhavam pelo salão de refeições, Carolina o chamou para uma das salas vazias.
A apresentação das 3 da tarde. Os slides estão desatualizados. Mateus piscou confuso. Revisamos ontem. Tudo estava perfeito. Os dados da Johnson mudaram. Recebi e-mail esta manhã. Precisam ser corrigidos antes da sessão. Ela estendeu o smartphone. Mateus leu o e-mail, o estômago afundando. Alterações substanciais que exigiriam pelo menos duas horas de trabalho. Vou dar um jeito. Sei que vai.
Havia algo no modo como ela disse isso. Não era apenas confiança profissional, era pessoal, como se ela conhecesse algo nele que mais ninguém via. Mateus pulou o almoço, trabalhou freneticamente no quarto, refazendo gráficos, recalculando projeções, reformatando slides. Às 2:50 desceu correndo com o pen drive atualizado. Carolina o esperava na porta da sala de conferência.
pegou o pen drive, seus dedos roçando os dele um segundo a mais que o necessário. Obrigada, Mateus. A apresentação foi impecável. Ninguém notou as alterações de última hora, ninguém além dele e dela. Quando a sessão terminou, já passava das 5. O céu lá fora havia escurecido prematuramente, carregado de nuvens negras que pareciam prunciar apocalipse.
Rajadas de vento polar sacolejavam as janelas. Os colegas se espalharam, alguns para o spa, outros para o bar da pousada. Rafael organizou um grupo para a trilha na manhã seguinte, apesar da previsão ruim. Carolina observava tudo da varanda coberta, os braços cruzados, o senho franzido. Mateus se aproximou. Tudo bem, Dra. Carolina, preciso voltar amanhã.
Reunião importante na segunda de manhã, mas o seminário termina só domingo. Eu sei, mas não posso ficar. Ela o encarou. Você vem comigo. Saímos amanhã depois do café da manhã, antes que a tempestade piore. Não era pedido, era ordem, mas havia algo mais nos olhos dela.
Uma urgência que não tinha nada a ver com reuniões, algo que parecia estranhamente como medo de ficar ali, naquele lugar que exigia desaceleração, tempo, vulnerabilidade. Amanhã de sexta-feira, amanheceu com um silêncio perturbador. O tipo de silêncio que precede desastres naturais. O céu estava uniformemente cinza, as árvores completamente imóveis, como se a própria natureza estivesse prendendo a respiração.
Mateus fez sua mala rapidamente, despediu-se dos colegas que ainda dormiam e encontrou Carolina já esperando no estacionamento ao lado do Audi Preto Reluzente. Trânsito deve estar tranquilo nesse horário. Ela jogou a bolsa no banco de trás. Estaremos em Porto Alegre antes do meio-dia. Mateus entrou no banco do passageiro, apertando o cinto enquanto Carolina ligava o motor.
O carro roncou suavemente, aquecimento automaticamente ativado contra o frio cortante de 5º. Saíram da pousada às 7:15. A estrada sinuosa descia em curvas acentuadas, margeada por precipícios de um lado e mata densa do outro. Carolina dirigia com a mesma precisão que fazia tudo na vida. Controlada, eficiente, atenta.
Os primeiros 20 minutos transcorreram em silêncio confortável. Mateus olhava a paisagem. Pinheiros cobertos de névoa, pequenas propriedades rurais com fumaça subindo de chaminés, o verde profundo da serra, que aos poucos dava lugar a tons mais suaves. Então o céu mudou. Não foi gradual, foi abrupto, violento.
As nuvens cinzentas viraram preto tinta em questão de minutos, como se alguém tivesse despejado tinta escura sobre o mundo. O vento antes inexistente começou a uivar entre as árvores com força primitiva. Merda. Carolina reduziu a velocidade, as mãos tensas no volante. A chuva chegou como punição divina, não pingos, cortinas densas de água gelada que transformaram a visibilidade em quase zero.
Os limpadores do para-brisa, mesmo na velocidade máxima, mal davam conta. “Talvez devêsemos parar”, Mateus sugeriu, tentando manter a voz calma. “Onde? Não há nada aqui além de estrada.” Ela tinha razão. Estavam em um trecho isolado, longe de qualquer cidade. Carolina continuou dirigindo devagar, os olhos fixos na faixa amarela mal visível, os faróis lutando para penetrar a cortina d’água. O vento aumentou.
Rajadas polares sacolejavam o carro, fazendo-o oscilar perigosamente na pista molhada. Galhos começaram a cair, batendo no asfalto com estalos secos. Então eles viram 50 m à frente, uma araucária gigantesca desabou atravessada na estrada, bloqueando completamente a passagem. Carolina pisou no freio. O carro derrapou levemente antes de parar completamente.
“Caralho!”, ela murmurou, as mãos ainda agarradas ao volante. “Era a primeira vez que Mateus a ouvia praguejar. Vamos ter que voltar. Voltar para onde? A estrada é estreita demais para virar aqui. Eles ficaram ali por um minuto. A chuva martelando o teto, o vento uivando. Mateus procurou o celular. Sem sinal. Carolina respirou fundo, recompondo o controle. Há um entroncamento alguns quilômetros atrás. viu uma placa indicando o vilarejo.
Ela deu ré cuidadosamente, fazendo manobras milimétricas para virar o carro sem cair no acostamento lamento. Voltaram pela estrada, agora quase intransitável, procurando o desvio. A placa apareceu fantasmagórica na chuva. Vila das hortênsias, 5 km. Carolina virou. A estrada secundária era pior. Terra batida transformada em rio de lama.
O Audi, apesar da atração, lutava contra a natureza. As rodas patinavam, girando no vazio antes de finalmente encontrarem aderência. Ali, Mateus apontou, meio escondida entre pinheiros, uma placa desbotada. Chalé para alugar 500 m. Carolina não hesitou. Virou por uma trilha ainda mais precária que serpenteava morro acima. Árvores fechavam dos dois lados, galhos raspando a lataria.
O carro sacudiu violentamente, mergulhando em buracos profundos, cheios de água gelada, mas Carolina segurou firme e, finalmente, no topo de uma pequena elevação, o chalé surgiu. Era pequeno, construção em madeira escura, estilo europeu, com telhado inclinado e uma varanda coberta. Parecia desocupado, cortinas fechadas, sem luz, mas estava inteiro, sólido, abrigado.
Carolina estacionou o mais próximo possível da entrada. A chuva era tão forte que mal conseguiam ver 5 metros à frente. Vou checar se tem alguém. Mateus abriu a porta. Mateus, espera. Mas ele já tinha saído. O frio o atingiu como soco no estômago. Não era frio comum, era frio polar de montanha, 0 grau, amplificado pela chuva gelada.
Mateus correu para a entrada e não viu o córego. O córrego era fino, talvez 30 cm de largura em circunstâncias normais, mas a tempestade o transformara em torrente raivosa, que descia pela encosta, engrossado pela chuva que caía sem parar a horas na serra. Mateus pisou onde pensou ser terra firme. Não era. Seu pé mergulhou na água gelada. O choque foi instantâneo. 5º, talvez menos.
Temperatura de degelo de montanha. Ele tentou se equilibrar, mas o outro pé escorregou na pedra musgosa submersa. Caiu completamente. A água gelada o envolveu como abraço hostil, encharcando-o da cabeça aos pés em segundos. O terno cinza ficou pesado instantaneamente, colado na pele. Mateus engasgou, o choque roubando-lhe o ar dos pulmões.
Ele se levantou, cambaleando, tremendo violentamente, e correu os últimos metros até a porta do chalé. girou a maçaneta com dedos já dormentes aberta. Ele entrou tropeçando e se virou, fazendo sinal desesperado para Carolina. Ela saiu do carro com a capa de chuva, relativamente protegida, e correu para dentro, fechando a porta atrás de si com força.
Por um momento, houve apenas o som da chuva martelando o telhado. Então, Carolina o viu. Mateus estava parado perto da entrada, tremendo incontrolavelmente. Não o tremor leve de quem sente frio, tremor violento que sacudia todo o seu corpo, dentes batendo com força audível.
Água gelada escorria do cabelo do terno completamente encharcado, formando uma poça aos seus pés. Seus lábios estavam começando a ficar arrocheados. Meu Deus! A voz de Carolina saiu diferente, sem controle, sem máscara, puro alarme. Mateus, você caiu no córrego? E eu? Sim. A a água tava ele mal conseguia formar palavras. Gelada, Carolina agiu instantaneamente, largou a bolsa, procurou o interruptor.
A luz se acendeu, havia eletricidade. Seus olhos varreram o chalé rapidamente. Sala principal com kitchenete, mesa de madeira, poltronas gastas e uma grande lareira de pedra. Ao fundo, porta entreaberta mostrando um quarto. Ela se aproximou de Mateus, tocando suas mãos. Estavam geladas como gelo, a pele praticamente azulada. Você está em hipotermia inicial.
Sua voz tinha urgência que Mateus nunca ouvira antes. Mateus, me escute. Você precisa tirar essa roupa agora e tomar um banho quente. Não é sugestão. É necessidade médica. Hipotermia pode matar. Entendeu? Mas eu na não sem discussão. Ela segurou o rosto dele com as duas mãos, forçando-o a olhá-la. Seus olhos castanhos tinham algo que ele nunca vira. Medo real.
Você vai entrar naquele banheiro, vai tirar toda essa roupa molhada, vai tomar um banho bem quente, comece morno, aumente gradualmente e depois vai se enrolar em cobertores. Agora já o Tom não admitia a contestação. Mateus a sentiu ainda tremendo violentamente. Carolina correu para a lareira. Com movimentos surpreendentemente eficientes, ela preparou a fogueira. Papel jornal de um cesto.
Pequenos gravetos, lenha maior por cima. Riscou um fósforo. As chamas se espalharam rapidamente. “Vá”, ela ordenou, apontando o banheiro. “Deixa a roupa no chão. Eu pego depois para secar”. Mateus cambaleou até o banheiro. Com dedos quase sem sensibilidade, começou a tirar a roupa. O palitó despencou pesado. A camisa grudava na pele como segunda epiderme molhada.
A calça estava tão encharcada que precisou lutar para tirá-la. Tudo caiu no chão do banheiro com sons molhados e grotescos. Ficou nu, tremendo descontroladamente, e abriu o chuveiro elétrico. A água começou morna, como Carolina instruíra. Contra sua pele gelada, até morno parecia escaldante.
Ele gemeu baixo, mas permaneceu sob o jato, aumentando gradualmente a temperatura. Batidas na porta. Mateus, vou pegar sua roupa. Ele entreabriu a porta, passando a pilha encharcada sem olhar. Carolina pegou rapidamente, mantendo os olhos desviados. Sob a água quente, Mateus sentiu o frio mortal começar a recuar milímetro por milímetro.
Primeiro os dedos perderam aquele dormente terrível, depois os braços, o peito, as pernas. Ele ficou ali por 15 minutos, deixando o calor expulsar a morte de seus ossos. Quando finalmente fechou o chuveiro, ainda tremia, mas suavemente agora, não mais aquele tremor violento de hipotermia severa. Cor voltava aos lábios, conseguia pensar claramente, batidas novamente. Aqui peguei cobertores.
Carolina passou dois grandes cobertores de lã por uma fresta da porta. Mateus se enrolou neles como múmia. saiu do banheiro descalço, ainda zonzo. Carolina já tinha estendido todas as roupas dele sobre o encosto das poltronas arrastadas perto do fogo. Calça, camisa, palitó, até a cueca e meias. Tudo disposto com pragmatismo profissional, sem constrangimento. Ela mesma tinha tirado o blazer do Tyer.
Estava apenas com a blusa branca, um cobertor sobre os ombros. Olhava o fogo com expressão indecifrável. Senta aqui. Ela indicou a poltrona ao lado dela. Precisa do calor da lareira. Mateus obedeceu, afundando na poltrona ainda envolto nos cobertores. O fogo creptava, ondas de calor acariciando seu rosto.
“Obrigado”, sua voz saiu rouca. “A senhora me salvou”. Carolina se virou para olhá-lo e Mateus viu algo extraordinário. Aqueles olhos sempre tão controlados, tão frios, estavam brilhando. “Você me deu um susto, Mateus. Um susto de verdade. Não era mais Dr. Carolina falando, era apenas Carolina, mulher humana, assustada. Como está se sentindo? Melhor, muito melhor.
Ainda tremendo um pouco, mas ele tentou sorrir. Acho que vou sobreviver. Vai sim. E pela primeira vez em três anos, Carolina sorriu de verdade. Não sorriso corporativo, sorriso genuíno, quase aliviado. Você vai. Ela estendeu a mão, Mateus a pegou e nenhum dos dois soltou.
Lá fora, a tempestade de inverno gaúcho uivava contra o chalé isolado, mas dentro algo muito mais poderoso começava a despertar. Algo que ambos haviam trancado tão profundamente que esqueceram que existia. O silêncio entre eles era diferente de qualquer silêncio que já haviam compartilhado. Não era o silêncio profissional do escritório, carregado de distância respeitosa e hierarquia implícita.
Era silêncio pesado, quase palpável, repleto de coisas não ditas que pediam voz. As mãos continuavam entrelaçadas entre as poltronas. Carolina foi a primeira a se mover. Soltou devagar, como se acordasse de transe, e se levantou. Você deve estar com fome um pouco. Ela desapareceu na kitenete, abrindo armários, latas de conserva, macarrão, molho de tomate.
O chalé é mantido para locação. Pelo menos deixam mantimentos básicos. Mateus a observou enquanto ela preparava algo simples. Macarrão com molho. Os movimentos eram eficientes, como tudo que Carolina fazia, mas havia algo diferente na postura. Os ombros não estavam tão rígidos. O maxilar não estava cerrado em permanente tensão. Não sabia que a senhora cozinhava. Ela riu.
Foi um som tão inesperado que Mateus levou um segundo para processar que era riso de verdade. Há muitas coisas que você não sabe sobre mim, Mateus. Como o fato de que a senhora sabe acender uma lareira perfeitamente. Passei verões de infância no interior. Minha avó tinha uma casa antiga, lareira enorme.
Ela me ensinou. Carolina mexia o molho distraídamente. Parece outra vida. Outra pessoa? Era a frase mais pessoal que ela já dissera para ele. E quando foi a última vez que a senhora foi essa outra pessoa? Carolina pausou a colher suspensa no ar. Não sei. Anos, talvez nunca mais depois que criei a empresa. Não há espaço para vulnerabilidade no mundo em que escolhi viver.
Mas aqui tem. Mateus falou baixo. Aqui agora somos só duas pessoas presas numa tempestade. Ela se virou para encará-lo. Os olhos escuros brilhavam, refletindo as chamas da lareira. Você quase morreu, Mateus, mais 10 minutos com aquela roupa encharcada, 5 graus lá fora. Você estaria em hipotermia severa. Poderia ter tido um ataque cardíaco. Poderia ter morrido.
A voz dela tremeu na última palavra. Mas não morri. A senhora não deixou. Eu não poderia. Ela não terminou a frase, voltou a mexer o molho com movimentos bruscos. O jantar vai ficar pronto em 10 minutos. Comeram a mesa de madeira, apenas a luz do fogo e uma luminária fraca iluminando o chalé. Lá fora, a tempestade continuava implacável, chuva gelada martelando o telhado, vento uivando entre as árvores, frio mortal esperando além das paredes de madeira, mas dentro estava quente, seguro, surrealmente íntimo.
“Me conta sobre você”, Carolina disse de repente, os olhos fixos no prato. A versão real, não a que aparece no currículo. Mateus piscou surpreso. O que quer saber? Tudo. De onde você veio? Por que aceitou ser meu assistente? O que sonha além de organizar minhas reuniões? Ele respirou fundo. Crescia em Pelotas, casa pequena, família humilde, mas feliz.
Meu pai conserta carros, minha mãe dá aula no ensino fundamental. Eles economizaram cada centavo para me dar educação melhor que a deles. E você se formou em administração top da turma. Achei que o mundo se abriria, mas quando cheguei em Porto Alegre descobri que ninguém contrata recém formado sem experiência para posições relevantes. Então, quando vi a vaga de assistente executivo na Handler Estratégia, ele deu de ombros.
Pensei que seria trampolim. Dois anos, pego experiência, pulo para algo melhor. Mas ficou três. Fiquei por quê? Mateus a encarou. Porque descobri que era bom nisso. Porque me sentia útil. Porque ele hesitou. Ah, porque trabalhando com a senhora, eu aprendi mais sobre estratégia, negociação, liderança do que qualquer MBA ensinaria. A senhora é brilhante, Dra.
Carolina, implacável, mas brilhante. Ela não respondeu por um longo momento. Depois me chame de Carolina. Apenas Carolina. Não há hierarquia aqui. Carolina. Ele testou o nome estranho na língua. Sua vez. Me conta sobre você. Ela riu amargo. O que quer saber? A parte em que me divorciei há 5 anos ou a parte em que construí uma empresa de sucesso, mas sacrifiquei qualquer chance de vida pessoal real. Ambas.
Carolina bebeu um gole de água, os olhos perdidos no fogo. Casei aos 24. Rodrigo era advogado, ambicioso, charmoso. Tudo parecia perfeito. Até que comecei a ter sucesso de verdade. Ele não conseguia lidar com o fato de que eu ganhava mais, de que clientes me pediam. Não a ele de que eu era boa, realmente boa no que fazia. Sua voz ficou mais dura.
Ele começou a fazer comentários sutis no início, depois cruéis. Dizia que eu estava me masculinizando, que nenhum homem de verdade quer uma esposa que ganha mais que ele, que eu deveria escolher, carreira ou casamento. E você escolheu? Escolhi minha dignidade, minha competência, meu direito de ser excelente sem pedir desculpas. Ela o encarou ferozmente. Nunca me arrependi.
Mas ficou sozinha. Solidão é preço que mulheres bem-sucedidas pagam. Homens não nos querem. Querem versões diminuídas de nós que não os amecem. Nem todos os homens são assim. Não. Ela se inclinou para a frente, desafiadora.
Me diga, Mateus, você namoraria uma mulher que ganha 10 vezes mais que você, que tem mais poder, mais prestígio, mais tudo? Ele segurou o olhar dela. Se ela fosse a pessoa certa, absolutamente. Você é muito ingênuo. Ou você está muito machucada para enxergar que há homens que não se intimidam com mulheres fortes, que admiram, que respeitam? Carolina ficou muito quieta. Homens assim não existem. Estou bem aqui. A frase pairou entre eles como confissão.
O ar ficou denso, carregado. Carolina se levantou bruscamente. Vou vou lavar a louça. Mas Mateus também se levantou e desta vez foi ele quem segurou a mão dela. Carolina. Ela parou, mas não se virou. Obrigado por me salvar hoje. Obrigado por me ver. Obrigado por ser humana comigo, finalmente.
Carolina se virou devagar. Havia lágrimas nos olhos dela, pequenas, contidas, mas reais. Você não deveria me agradecer. Eu deveria pedir desculpas. Por quê? Por ter sido tão fria, tão distante, por tratar você como ferramenta em vez de pessoa. Você merecia melhor. Você estava se protegendo. Eu entendo. Entende? A voz dela quebrou. Tr anos, Mateus.
Três anos. Você esteve ali todos os dias, antecipando minhas necessidades, me mantendo funcionando. E eu nunca perguntei se você estava bem, se tinha sonhos, se alguém o esperava em casa. “Ninguém me espera, alguém deveria”, ela sussurrou. “Alguém deveria te esperar. Alguém deveria te fazer café. Alguém deveria perguntar como foi seu dia. Carolina, eu fui terrível com você.
Você está sendo humana agora. É tudo que importa.” Eles estavam muito próximos. centímetros apenas. Mateus podia ver cada detalhe do rosto dela. Pequenas rugas de tensão, cílios úmidos, lábios entreabertos. “O que estamos fazendo?” Carolina sussurrou. “Não sei, mas estou cansado de fingir.
Fingir o quê? Que não vejo você, que não admiro você, que não percebo quando você pula refeições ou trabalha até passar mal? Que não ouço quando sua voz fica cansada demais? Que não desejo, Ele parou. Foi longe demais, mas Carolina não recuou. Deseja o quê, Mateus? Ele reuniu toda a coragem que tinha.
Conhecer a pessoa por trás da máscara, a Carolina que sabe acender lareiras, que se preocupa quando alguém cai em córregos gelados, que tem lágrimas reais nos olhos. Ela fechou os olhos. Você não sabe o que está pedindo. Essa pessoa está quebrada. Todos estamos quebrados. A questão é: quem você deixa ver as rachaduras? Quando Carolina abriu os olhos novamente, algo tinha mudado neles. Decisão, rendição ou ambos.
Fica comigo esta noite. Não como, não de forma física, apenas fica. Não quero estar sozinha. Era a coisa mais vulnerável que ela já havia dito. E Mateus soube que era momento de definição, momento em que escolheria entre profissionalismo seguro e o abismo aterrorizante de algo real.
Mateus não respondeu com palavras, simplesmente segurou a mão de Carolina, pequena, fria, tremendo levemente, e a guiou até a frente da lareira. Eles se sentaram no tapete gasto, cobertores sobre os ombros, tão próximos, que podiam sentir o calor um do outro, misturado ao calor do fogo. Lá fora, a tempestade continuava sua fúria polar, mas dentro do chalé havia uma bolha de silêncio quente, íntimo, surreal. 3 anos.
Carolina disse baixo, olhando as chamas. Três anos compartilhando o mesmo espaço. E esta é a primeira conversa real que temos. Melhor tarde que nunca. Ela riu. Um som cansado, mas genuíno. Você sempre foi otimista assim? Minha mãe diz que nasci sorrindo. Meu pai brinca que é defeito de fábrica, otimismo excessivo em mundo cínico.
Deve ser bom enxergar o melhor nas pessoas e deve ser exaustivo, esperar sempre o pior. Carolina se virou para encará-lo. Uma sobrancelha erguida. Touch. Não foi crítica, foi observação. Você constrói muros, Carolina. Muros altos, grossos, intransponíveis. É mecanismo de sobrevivência. Eu entendo, mas ele hesitou.
Mas deve ser muito solitário viver atrás de muros o tempo todo. Ela não respondeu imediatamente. Seus dedos brincavam com a barra do cobertor, desfiando um fio solto. Quando Rodrigo me deixou, ele disse algo que ficou comigo.
Disse: “Você nunca vai encontrar ninguém, Carolina, porque homens não querem mulheres que os façam sentir pequenos.” E a parte mais cruel, sua voz ficou rouca, “É que parte de mim acreditou? Ele estava errado. Estava porque desde então todos os homens que tentei namorar confirmaram exatamente o que ele disse. Ou se intimidavam com meu sucesso, ou queriam me colocar no meu lugar, ou achavam que era desafio interessante até perceberem que eu não ia mudar para acomodá-los.
Então, você parou de tentar? Não parei de tentar. Parei de esperar. Ela o encarou com intensidade perturbadora. Expectativa é raiz de toda decepção. Se você não espera nada, nunca fica desapontada, mas também nunca fica verdadeiramente feliz. Felicidade não é opção para pessoas como eu. Por que não? Porque ela gesticulou vagamente, porque não é compatível.
Sucesso requer sacrifício. Comando requer distância. Poder requer solidão. É tradeof que aceitei quando fundei a empresa. Conhecia as regras do jogo. Mateus se moveu para ficar de frente para ela, forçando-a a olhá-lo. E se as regras estiverem erradas? E se fosse possível ter tudo? Sucesso e conexão humana real. Carolina rio amargo.
Estamos falando de conto de fadas agora. Estamos falando de possibilidades. Possibilidades não pagam contas, não constróem empresas. Não, não te fazem feliz? Ele terminou suavemente. Carolina, quando foi a última vez que você foi realmente feliz? Ela abriu a boca, fechou. Seus olhos ficaram brilhantes novamente. Não sei. A voz saiu quebrada. Não lembro.
Talvez, talvez quando minha avó estava viva, talvez no interior, perto da lareira dela, quando eu era criança e o mundo ainda parecia cheio de possibilidades infinitas antes que eu aprendesse que possibilidades têm custos. Mateus segurou o rosto dela com as duas mãos, polegares acariciando as maçãs do rosto. O mundo ainda está cheio de possibilidades. Você apenas parou de olhar.
Não posso me dar ao luxo de olhar. Tenho empresa para administrar. Pessoas dependem de mim. Clientes esperam resultados. Não posso. Você pode ser humana, pode ter fraquezas, pode aceitar que precisa de mais do que apenas trabalho. Isso não te faz menos competente, te faz completa. Você não entende.
Carolina tentou se afastar, mas ele não soltou. Vulnerabilidade é arma. Qualquer sinal de fraqueza e vou ser devorada. O mundo corporativo não perdoa a humanidade, especialmente não em mulheres. Então, talvez seja a hora de parar de viver inteiramente no mundo corporativo, de criar espaço para algo mais, para alguém.
Os olhos dela se arregalaram. Está dizendo o que eu acho que está dizendo? Mateus respirou fundo. Era momento de verdade, de coragem ou loucura, linha era tênue. Estou dizendo que passei três anos admirando você de longe. Estou dizendo que seu sucesso não me intimida, me inspira. Estou dizendo que sua força não me ameaça, me atrai. Estou dizendo que quando você caiu naquele córrego gelado, sua voz tremeu.
A quando te vi tremendo lábios roxos em hipotermia, percebi que a ideia de te perder me aterrorizava de forma que não era profissional, não era apropriada, era pessoal, profundamente pessoal. Carolina ficou completamente imóvel. Mateus, sei que estou cruzando todas as linhas. Sei que é inapropriado.
Sei que amanhã voltaremos para escritório e tudo será diferente. Mas agora aqui neste chalé, longe de regras e hierarquias e expectativas, ele a puxou levemente mais perto. Quero que saiba que te vejo, a pessoa real e ela é extraordinária. Uma lágrima escorreu pelo rosto dela, depois outra. Ela não tentou escondê-las.
Por que está fazendo isso? Por que está destruindo os muros que levei anos construindo? Porque você não deveria ter que viver atrás deles. Porque mesmo a mulher mais forte precisa de alguém que assegure quando ela finalmente se permitir cair. E se eu cair e nunca mais conseguir me levantar? Então eu levanto com você.
Carolina fechou os olhos, lágrimas caindo livremente agora. Você vai se arrepender. Eu vou te decepcionar. Sempre decepciono. Deixa eu ser o juiz disso. Ela abriu os olhos. E pela primeira vez, Mateus viu tudo. A vulnerabilidade que ela escondia sob controle, a solidão que escondia sob competência, o desejo desesperado de conexão que escondia sobrieza profissional. “Tenho medo”, ela sussurrou.
“Eu também, mas ainda quer tentar mais que qualquer coisa.” O espaço entre eles desapareceu. Carolina fechou a distância, pressionando os lábios contra os dele. Suave no início, hesitante, como se testasse realidade. Mateus correspondeu com gentileza, mãos ainda moldando o rosto dela, polegar acariciando lágrimas. Mas quando ela aprofundou o beijo, algo quebrou.
Urgência substituiu gentileza. Anos de solidão, de negação, de muros cuidadosamente mantidos desmoronaram em um beijo desesperado, faminto, real. As mãos dela subiram para o cabelo dele, puxando-o mais perto. As dele desceram para a cintura dela, segurando como se fosse escorregar para longe a qualquer momento.
Quando finalmente se separaram, ambos estavam sem fôlego, testas encostadas, olhos fechados. Fica comigo esta noite. Carolina repetiu o pedido, mas agora tinha significado diferente. Não era apenas sobre não estar sozinha, era sobre escolher ser vulnerável, escolher confiar, escolher ele. Eles não foram para a cama.
ficaram ali enrolados nos cobertores em frente à lareira, corpos entrelaçados no tapete, observando as chamas dançarem enquanto a tempestade lá fora gradualmente perdia força. Carolina estava aninhada contra o peito de Mateus, a cabeça apoiada no ombro dele, o braço dele ao redor dela em abraço protetor.
Seus dedos traçavam padrões preguiçosos sobre o peito dele por cima do cobertor. “Sabe o que é mais louco nisso tudo?”, Ela murmurou contra o pescoço dele. O quê? Que parece certo? Completamente louco, profundamente inapropriado. Mas certo. Mateus beijou o topo da cabeça dela. Às vezes, as melhores coisas são aquelas que não fazem sentido no papel.
Meu terapeuta teria um ataque de campo se soubesse que beijei meu assistente executivo em um chalé isolado durante uma tempestade. Você tem terapeuta? Toda CEO bem-sucedida tem. É parte do pacote terapeuta, personal trainer. Nutricionista, todos pagos para me manter funcionando em alto desempenho. E funcionam, Carolina Rio baixo.
Funcionam para manter meu corpo saudável e minha ansiedade gerenciável. Não funcionam para fazer eu me sentir menos sozinha. E agora? Ainda se sente sozinha? Ela se apertou mais contra ele. Agora me sinto aterrorizada. Porque isso? Ela gesticulou vagamente entre eles. Isso é real. E coisas reais podem te machucar de formas que sucesso profissional nunca pode.
Também podem te curar de formas que sucesso profissional nunca pode. Sempre tão otimista, sempre tão pessimista. Ele rebateu suavemente. Ela se apoiou em um cotovelo para olhá-lo. O fogo lançava sombras dançantes sobre o rosto dela, suavizando as linhas de tensão que Mateus estava tão acostumado a ver. “O que vai acontecer amanhã?”, Ela perguntou, voz pequena, vulnerável.
Amanhã voltamos para Porto Alegre e segunda-feira. Segunda-feira, Mateus escolheu as palavras cuidadosamente. Se segunda-feira você volta a ser Dra. Carolina Hendler, CEO da Handler Estratégia, e eu volto a ser Mateus Machado, seu assistente executivo. Dor cruzou o rosto dela.
Então, fingimos que isso nunca aconteceu? Não, mas talvez precisemos navegar isso com cuidado. Sua reputação, a empresa. minha reputação. A intensidade na voz dela o surpreendeu. Passei a vida toda sacrificando felicidade em nome de reputação. Construí império em cima de solidão. E para quê? Para morrer sozinha em apartamento chique, Carolina. Não, escuta.
Ela se sentou completamente, o cobertor escorregando dos ombros. Pela primeira vez em anos. anos. Mateus, eu me senti viva hoje, não funcional, não produtiva, viva. Senti medo real quando te vi tremendo de hipotermia. Senti alívio real quando começou a se recuperar. Senti desejo real quando finalmente parei de lutar e te beijei. Seus olhos brilhavam ferozmente. E você quer que eu finja que não senti nada disso? Não quero que finja nada.
Só quero proteger você, proteger nós dois. Relacionamentos no ambiente de trabalho são complicados. Especialmente quando há hierarquia, então mudo a hierarquia. O quê? Se o problema é hierarquia, mudo. Te promovo, te dou escritório independente, te tiro da posição de assistente executivo e te transformo em consultor júnior. Assim, não há mais linha ética sendo cruzada.
Mateus a encarou atordoado. Você está falando sério? Completamente. Você merece essa promoção de qualquer forma. Está comigo há 3 anos. conhece a empresa melhor que metade dos consultores, tem formação excelente.
A única razão de ainda ser assistente é porque eu fui egoísta demais para te promover e perder seu suporte direto. Isso não resolve tudo. As pessoas vão falar. Deixa falarem. Deixa Rafael fazer comentários maldosos. Deixa os clientes erguerem sobrancelhas. Não me importo mais. Ela segurou o rosto dele com as duas mãos. Estou cansada de viver para expectativas de outros. Estou cansada de ser perfeita.
Estou cansada de estar sozinha. Tem certeza? Porque uma vez que cruzarmos essa linha publicamente, não há volta. Tenho certeza de que quero tentar. Tenho certeza de que você me faz sentir coisas que pensei serem impossíveis. Tenho certeza de que estou apavorada e animada em partes iguais. Tenho certeza. Sua voz ficou rouca.
Tenho certeza de que não quero acordar amanhã e fingir que esta noite foi erro. Mateus puxou-a de volta para seus braços, beijando-a profundamente. Quando se separaram, ele sussurrou contra os lábios dela. Não foi erro. Foi o começo de algo que os dois precisávamos desesperadamente. Eles voltaram a se deitar, entrelaçados, observando o fogo transformar-se em brasas incandescentes.
A tempestade lá fora havia passado. O silêncio agora era paz, não mais ameaça. Mateus, hum, obrigada. Por quê? Por me salvar, não só da tempestade, de mim mesma. Ele beijou o topo da cabeça dela novamente, apertando o abraço. Eles adormeceram assim.
Enrolados um no outro enquanto a noite dava lugar à aurora cinzenta do inverno gaúcho. E quando Mateus acordou horas depois, com luz pálida filtrando pelas cortinas, sua primeira visão foi Carolina dormindo contra seu peito, rosto sereno, sem as linhas de tensão habituais. Ela parecia anos mais jovem, parecia em paz. Ele soube naquele momento que não importava o que segunda-feira trouxesse, não importava quantas complicações enfrentariam, não se arrependeria desta noite, porque às vezes a coisa mais perigosa que podemos fazer é nos recusar a correr riscos. E às vezes o maior
risco de todos é desperdiçar a vida inteira, protegendo um coração que nunca permitimos que fosse realmente tocado. A viagem de volta para Porto Alegre aconteceu sob céu limpo e frio cortante de inverno.
A tempestade havia passado, deixando a serra coberta de geada cristalina, que fazia tudo brilhar sobre o sol fraco da manhã. Carolina dirigia em silêncio, mas era silêncio diferente do habitual. De vez em quando, sua mão direita soltava o volante e encontrava a mão de Mateus sobre o console central. Toque breve, discreto, mas carregado de significado. “Nervoso?”, ela perguntou quando estavam a 20 minutos da cidade. Aterrorizado. “Bem-vindo ao clube.
” Ela sorriu pequeno, mas real. Estava pensando e talvez devêsemos ir devagar. Devagar como? Como manter distância no escritório inicialmente, não mudar nada drasticamente, dar tempo para processar o que aconteceu antes de transformar em algo público. Mateus processou isso. Faz sentido, mas Carolina, sim.
Não estou propondo que finamos que nada aconteceu, só que sejamos estratégicos sobre como lidar. Estratégicos é meu idioma natal. Ela apertou a mão dele. Vamos descobrir isso juntos. Carolina o deixou na frente do prédio, na cidade baixa. Por um momento, ficaram apenas olhando um para o outro, através da janela aberta do passageiro. Segunda-feira, ela disse.
Segunda-feira, ele confirmou, então fez algo inesperado, se inclinou e a beijou rapidamente, suavemente, através da janela. Carolina ficou surpresa, mas correspondeu. Te vejo no escritório, Dra. Carolina. Dessa vez, quando ela sorriu, alcançou os olhos. Te vejo lá, Mateus. O fim de semana foi tortura. Mateus tentou manter rotina normal.
Comprou compras, limpou o kitnet minúsculo, assistiu futebol na TV, mas sua mente estava completamente em outro lugar, no chalé, na lareira, nas confissões murmuradas no escuro, no modo como Carolina se encaixou perfeitamente contra ele no beijo, nos beijos. Ele revisitou cada momento obsessivamente, procurando sinais de que fora real e não alucinação induzida por hipotermia. Seu celular vibrou domingo à noite.
Mensagem de Carolina. Não consigo parar de pensar nisso. Ele sorriu, dedos voando sobre o teclado. Eu também tenho medo do que segunda vai trazer. Vamos descobrir juntos, lembra? Juntos. Gosto desse conceito. Boa noite, Carolina. Boa noite, Mateus. Segunda-feira amanheceu fria e nublada. Mateus chegou ao escritório 15 minutos mais cedo que o habitual, preparando tudo mecanicamente.
Café preto sem açúcar, relatórios organizados, temperatura da sala ajustada. Carolina chegou pontualmente às 7:30, mas quando entrou não foi a Carolina do chalé, foi a CEO, taur cinza impecável, cabelo preso severamente, olhos frios e avaliadores. Bom dia, Mateus. A voz era profissional, distante, como se o fim de semana nunca tivesse acontecido.
Mateus sentiu algo se contrair no peito. Bom dia, Dra. Carolina. Ela pegou o café sem olhar para ele e foi direto para sua sala. A porta se fechou. Mateus ficou ali atordoado. Será que imaginou tudo? Será que para ela fora apenas aberração momentânea, fraqueza que agora se arrependia? O dia arrastou-se interminável. Carolina manteve distância profissional perfeita.
reuniões, ligações, briefings, tudo exatamente como sempre fora. Exceto que agora Mateus sabia o que era vê-la sem máscaras, sabia o gosto dos lábios dela, sabia o som do riso verdadeiro dela. E essa Carolina, assou fria e eficiente, parecia performance cruel. Às 5 da tarde, quando os colegas começaram a ir embora, Mateus preparou suas coisas.
estava quase saindo quando viu a luz da sala dela ainda acesa. Ele deveria ir embora. Deveria aceitar que fora erro. Deveria. A porta se abriu. Carolina estava parada ali, olhando para ele. E pelos 3 segundos que durou o olhar, a máscara caiu. Ele viu tudo. Desejo, medo, confusão, necessidade. Então ela voltou para dentro da sala. Mateus esperou. 5 minutos. 10.
Quando todos tinham ido embora e o escritório estava vazio, ele se aproximou da porta dela, bateu suavemente entre. Carolina estava na frente da janela, de costas para ele, olhando o Porto Alegre, iluminando-se para a noite. “Tranca a porta!” Ele obedeceu, coração disparando. Quando se virou, Carolina estava ali a poucos centímetros, sem aviso.
Ela o puxou e o beijou desesperadamente, urgentemente, como se estivesse se afogando e ele fosse ar. Quando se separaram, ambos estavam ofegantes. “Desculpa”, ela sussurrou. “Desculpa por hoje.” Entrei em modo automático. Entrei em pânico. Achei que se fingisse que nada tinha mudado, seria mais fácil. Mas ela encostou a testa na dele. Não foi.
Foi tortura para mim também. Não quero fingir, Mateus. Não quero te tratar como assistente quando você é muito mais. Mas tenho medo. Medo do que as pessoas vão dizer. Medo de estragar tudo. Medo de te perder. Não vai me perder. Mas também não posso viver com migalhas. Ou é real e encontramos um jeito, ou é real. Ela o cortou. É tão real que me apavora.
Mas ela respirou. fundo. Mas talvez seja a hora de parar de viver com medo. O que está dizendo? Estou dizendo que talvez seja a hora de assumir, de parar, de esconder, de mostrar para o mundo que Dra. Carolina Hendler é humana, afinal? Tem certeza? Não. Mas vou fazer mesmo assim.
Ela segurou o rosto dele, porque você vale o risco. E o beijou novamente, selando promessa que mudaria tudo. Porque às vezes coragem não é ausência de medo, é fazer a coisa certa, apesar do terror paralisante. Eles decidiram ir devagar, pelo menos publicamente. Durante o dia, eram Dra. Carolina e Mateus, chefe e assistente, profissionais, distantes.
Mas as noites, quando o escritório esvaziava e as portas se trancavam, eram apenas Carolina e Mateus. A primeira semana foi dança cuidadosa, olhares furtivos durante reuniões, mãos roçando acidentalmente ao passar documentos, mensagens codificadas. reunião particular no meu escritório às 18:30 significava mal posso esperar para te beijar.
Preciso revisar esses relatórios com você, significava fica um pouco mais. Jantar de trabalho significava vem para minha casa. O apartamento de Carolina no Moinhos de Vento era exatamente como Mateus imaginara. Triplex elegante com vista panorâmica do Guaíba, decoração minimalista e cara, cozinha gourmet. que provavelmente nunca tinha sido usada até ele aparecer.
Na primeira noite que passou lá, ele cozinhou macarrão simples como no chalé, mas desta vez com mais ingredientes e menos urgência de sobrevivência. Carolina o observou, recostada no balcão, taça de vinho na mão. Sabe o que é surreal nisso? O quê? Ter alguém na minha cozinha? Alguém que não seja eu às 2as da manhã comendo cereal em pé? Alguém que, ela gesticulou vagamente, que faz parecer lar em vez de apenas endereço elegante.
Isso é triste ou reconfortante? Ambos, principalmente reconfortante. Ela se aproximou, envolvendo os braços ao redor dele por trás. Você tornou tudo mais suportável. O trabalho, as pressões, a solidão. Ele se virou nos braços dela, mãos encontrando a cintura dela. Então, por que ainda estamos escondendo? Porque estou processando? Porque quero ter certeza, porque ela mordeu o lábio.
Porque assim que assumirmos tudo muda. As pessoas vão questionar minhas decisões, vão especular sobre favoritismo, vão reduzir tudo que construir para se ou dorme com o funcionário. Ou vão ver que até cios brilhantes merecem felicidade. O mundo não funciona assim, Mateus. Especialmente não para mulheres.
Homens podem namorar secretárias e ninguém pisca. Mulheres namoram assistentes e vira escândalo. Ele sabia que ela tinha razão e odiava isso, mas também entendia. Então esperou. As semanas se transformaram em mês, dois meses. Eles eram cuidadosos, obsessivamente cuidadosos. Nunca chegavam ou saíam juntos.
Nunca se tocavam onde pudessem ser vistos. Mantinham interações profissionais durante o dia, mas as noites eram deles. Jantares na ilha da cozinha conversando por horas, filmes no sofá enorme, corpos entrelaçados, manhãs de domingo preguiçosas, café na cama, luz dourada filtrando pelas cortinas. Carolina ia baixando guardas gradualmente, contava histórias da infância, do divórcio doloroso, do primeiro cliente que apostou nela quando ninguém mais apostaria, das noites chorando sozinha.
Achando que jamais seria suficiente. Mateus compartilhava seus próprios demônios. a pressão de ser primeiro da família na faculdade, o medo de ter desperdiçado o talento sendo assistente, a solidão de morar em cidade grande sem ninguém que realmente o conhecesse.
Eles se conheciam de formas que vão além do físico, aprendiam linguagens emocionais um do outro, aprendiam o que acalmava, o que irritava, o que curava e apaixonavam-se mais profundamente a cada dia. Mas segredos t preço. Rafael começou a fazer comentários. Mateus, você anda especialmente dedicado ultimamente. Fica até mais tarde, chega mais cedo buscando promoção, apenas fazendo meu trabalho. Claro. E a Dra.
Carolina parece diferente, menos glacial. Será que finalmente encontrou alguém? Mateus forçou indiferença. Não faço ideia da vida pessoal dela, Rafael Riu. Claro que não, santinho demais para fofocar, né? As perguntas começaram a pesar. a mentira constante, a performance, chegar ao escritório e fingir que não acordou nos braços dela horas antes, vê-la em reuniões e não poder tocar, ouvir colegas especulando sobre vida amorosa dela, enquanto ele, o único que realmente sabia, tinha que ficar calado.
Uma noite, depois de reunião particularmente estressante, Carolina desabou no sofá dela a cabeça nas mãos. Não sei quanto tempo mais consigo fazer isso. Mateus sentou ao lado dela. Fazer o quê? Fingir, mentir, esconder a única coisa boa na minha vida como se fosse vergonha.
Não é vergonha, mas estou tratando como se fosse, mantendo você em segredo, como se você fosse erro que preciso esconder. Carolina, não, Mateus, pensa sobre isso. Namoro há três meses e ninguém sabe. Meus pais não sabem, minhas poucas amigas não sabem. No papel ainda estou sozinha, exceto que não estou. Estou com você e você merece mais que isso. Eu entendo suas preocupações.
Entende? Porque estou começando a achar que não entendo mais. Construí carreira baseada em transparência estratégica. Aconselho CEO sobre autenticidade de liderança. E aqui estou eu vivendo mentira gigantesca. Não é mentira, é proteção. Proteção de quê? do julgamento. o julgamento da fofoca. Deixa falarem de perder clientes.
Se clientes me abandonarem porque estou feliz, que se danem. Mateus sorriu. Está falando sério? Estou exausta, Mateus. Exausta de performance, de máscara, de Ela o olhou intensamente. De não poder te beijar quando quero, de não poder segurar sua mão em público, de não poder apresentar você como o que você é a pessoa mais importante da minha vida. O coração dele parou. Sou.
É, você é. E está na hora de parar de esconder isso. O que está propondo? Carolina se levantou, começando a andar. Estava em modo planejamento estratégico. Mateus reconhecia sinais. Promoção real. Te tiro do cargo de assistente e te promovo para consultor júnior. Escritório independente. Missão que não depende diretamente de mim.
Remove conflito de interesses ético. Carolina. Depois, reunião geral. Assumo publicamente que estamos juntos. Explico mudanças estruturais. Deixo claro que é relacionamento sério, não aventura. Isso é louco, talvez, mas necessário, porque não consigo mais viver assim, meio escondida, meio autêntica, meio feliz. Ela parou na frente dele.
Quero tudo com você, publicamente, oficialmente, verdadeiramente. Mateus se levantou, segurou o rosto dela. Tem absoluta certeza? Porque não há volta depois disso. Tenho certeza de que você vale qualquer consequência. Tenho certeza de que mereço ser feliz sem me desculpar. Tenho certeza seus olhos brilharam. Tenho certeza de que te amo. As palavras pairaram entre eles como revelação sagrada. Diz de novo? Ele sussurrou.
Te amo. Te amo com força, que me assusta. Te amo com intensidade, que não sabia ser possível. Te amo! Ele a beijou, interrompendo as palavras, mostrando, sem falar o que palavras não conseguiam capturar completamente. Quando se separaram, ele encostou a testa na dela. Também te amo.
E se você realmente quer fazer isso, assumir publicamente, estou com você. Mesmo sabendo das consequências, especialmente por isso, porque você vale lutar. E naquele momento, ambos souberam que a performance tinha prazo de validade, que autenticidade, não importa quão assustadora, sempre seria melhor que segurança da mentira. A decisão estava tomada. Na sexta-feira seguinte, Carolina convocaria a reunião geral para tornar público o relacionamento deles.
Os dias que precederam aquela data foram mistura estranha de alívio e terror. Mateus acordou na quinta-feira de manhã no apartamento de Carolina, algo cada vez mais frequente. Ele estava aos poucos migrando para lá, deixando escova de dentes, mudas de roupa, marcas de sua presença por todo o triplex, antes impecável e vazio. Vai ser amanhã.
Carolina disse do chuveiro, onde Mateus podia ouvir a água correndo. Sim, amanhã tudo muda. Arrependido? Ele entrou no banheiro, vapor enevoando o espelho. Nunca. Ela abriu a porta do box, água escorrendo pelo corpo, cabelo solto pela primeira vez, tão diferente do coque severo. Sorriu. Vem aqui. Vamos nos atrasar. Deixa. Eles se atrasaram. Chegaram separados ao escritório.
Sempre separados. sempre cuidadosos, mas havia algo diferente no ar. Antecipação, liberdade iminente. Amanhã transcorreu normalmente reuniões, e-mails, café preto sem açúcar, servido precisamente às 7:30. Rafael fez apresentação para cliente novo. Carolina deu feedback incisivo. Todos tomaram notas. Então, no meio da tarde, aconteceu.
Carolina estava em sua sala com a porta aberta, revisando contratos. Mateus estava em sua mesa organizando cronogramas para a semana seguinte. O escritório estava quieto, metade da equipe em reuniões externas, a outra metade mergulhada em trabalho focado. O celular de Carolina tocou. Ela a atendeu distraídamente.
Alô? A voz do outro lado era masculina, alta o suficiente para Mateus ouvir vagamente do lado de fora. Carolina, Rodrigo. Mateus viu o corpo dela enrijecer. O ex-marido. Rodrigo, quanto tempo? O que quer? Direto ao ponto, como sempre. Houve rumores interessantes. Que tipos de rumores? Sobre você e seu assistente, pequeno passarinho, disse que andam muito próximos ultimamente.
O sangue de Mateus gelou. Como alguém sabia? Foram tão cuidadosos. Carolina, para seu crédito, não revelou nada na voz. Não sei de onde tirou essa informação, mas é completamente inapropriada. É porque minha fonte é confiável. E honestamente, Carolina, esperava mais de você. Depois de tudo que construiu, jogar tudo fora por assistente. Esta conversa terminou.
Só estou te avisando. Você sabe como é o mundo corporativo. Esse tipo de escândalo pode arruinar reputação que levou anos construindo. Apenas pensa bem. Carolina desligou. Suas mãos tremiam levemente. Mateus se levantou e foi até a porta dela. Você ouviu? Ouvi. Como ele sabe? Não sei, mas ela passou as mãos pelo rosto, mas confirma que tomar isso público amanhã é decisão certa.
Se rumores já estão circulando, melhor controlar narrativa. Rafael apareceu na porta. Tudo bem, Dra. Carolina. Ouvevi vozes alteradas. Tudo ótimo, Rafael. Apenas ligação complicada. Ele olhou entre ela e Mateus com expressão indecifrável. Claro. Bom, se precisar de qualquer coisa, obrigada. Rafael foi embora, mas algo, no modo como ele olhou para eles, fez alarme soarem na cabeça de Mateus.
Mais tarde, naquela noite, no apartamento de Carolina, eles tentaram relaxar, mas a tensão era palpável. Rafael sabe. Mateus disse finalmente: “Como pode ter certeza? O modo como olhou para nós, como se estivesse confirmando suspeita. Carolina, e se foi ele que contou para Rodrigo, por que faria isso? Ciúme, ambição? Rafael sempre quis sua atenção, sempre achou que merecia mais reconhecimento.
Carolina se sentou pesadamente. Se for verdade, significa que amanhã não é só sobre assumir relacionamento, é sobre conter dano de controle. Mudou de ideia? Não, mas ela o encarou. Mas precisamos estar preparados para que seja mais difícil que antecipamos. Eles ficaram acordados até tarde, planejando cada palavra que Carolina diria na reunião, antecipando objeções, preparando respostas.
Quando finalmente foram para a cama, Mateus segurou Carolina contra ele, sentindo a tensão no corpo dela. “Vai ficar tudo bem”, ele murmurou. “Como pode ter certeza? Porque independente do que aconteça amanhã, vamos enfrentar juntos”. Ela se virou nos braços dele, olhos buscando-os dele no escuro juntos. Sempre eles se beijaram devagar, profundamente, selando promessa.
Sexta-feira amanheceu com céu pesado de inverno, nuvens baixas ameaçando chuva. Mateus acordou com borboletas no estômago, ansiedade e excitação misturadas. Carolina estava na varanda apenas de roupão, olhando a cidade despertar. Ele se aproximou por trás, envolvendo-a nos braços. Pronta, aterrorizada, mas pronta.
O que vai acontecer depois? Não sei, mas vamos descobrir. Ela se virou, beijando-o suavemente. Independente do que aconteça, valeu a pena. Valeu cada segundo. Você me devolveu humanidade, Mateus me lembrou que sucesso sem conexão é prisão bonita. E por isso ela segurou o rosto dele. Por isso vou lutar por nós, não importa o custo. Chegaram separados ao escritório uma última vez.
Mateus preparou tudo mecanicamente. Café, relatórios, temperatura. Às 9 da manhã, Carolina enviou e-mail para a equipe inteira. Reunião geral obrigatória às 10 horas. Todos devem estar presentes. O burburinho começou imediatamente. Reuniões gerais eram raras, significavam anúncios importantes. Mateus viu Rafael coxixando com outros colegas, um sorriso satisfeito no rosto.
Confirmado, fora ele, 10 horas chegaram rápido demais e devagar demais. Simultaneamente todos se reuniram na sala de conferência principal. 15 pessoas, alguns ansiosos, outros curiosos. Rafael, visivelmente expectante. Carolina entrou por último. Tailher preto, impecável, cabelo preso, expressão neutra, mas determinada, ficou de pé na cabeceira da mesa. Obrigada a todos por virem. Tenho anúncio importante a fazer.
O silêncio era absoluto. Ela respirou fundo, olhou diretamente para Mateus, que estava no fundo da sala, e começou: “Mateus Machado e eu estamos em um relacionamento.” As palavras pairaram no ar como explosão silenciosa. Por 3 segundos, ninguém se moveu, ninguém respirou. Então começou murmúrios, olhares chocados, Rafael com expressão de triunfo mal disfarçado.
Carolina ergueu a mão pedindo silêncio. Sua voz era firme, controlada, mas Mateus via o leve tremor nos dedos que seguravam a borda da mesa. Sei que isso pode levantar questões sobre profissionalismo e conflito de interesses. Por isso, implementaremos mudanças estruturais imediatas. Ela fez contato visual com cada pessoa na sala. Efetivo, segunda-feira, Mateus deixará o cargo de assistente executivo.
Será promovido a consultor júnior com escritório independente e missão que não dependerá diretamente de mim. Mais murmúrios, alguns expressões de surpresa genuína, outros de ceticismo. Rafael levantou a mão. Dout. Carolina, com todo o respeito, isso não parece conveniente demais? Promoção coincidindo com revelação de relacionamento. Carolina o encarou friamente.
Mateus está comigo há três anos. Rafael conhece esta empresa melhor que metade dos consultores seniores. Tem formação excepcional. A única razão de ainda ser assistente é porque eu fui egoísta demais para promovê-lo antes. Esta promoção é merecida independente do relacionamento. Mas como podemos ter certeza de que futuras promoções não serão baseadas em favorecimento pessoal? Porque minha reputação foi construída em base de meritocracia e resultados. Não vou destruir isso por favoritismo.
Mateus será avaliado pelos mesmos critérios rígidos que todos vocês. Talvez até mais rigorosamente dado o escrutínio extra. Juliana, consultora sior e uma das poucas mulheres além de Carolina, falou: “Doutora Carolina, entendo que isso é pessoal, mas como isso afeta a nossa dinâmica de equipe.
Alguns clientes são conservadores, podem ver isso como não profissional.” Carolina assentiu, reconhecendo a preocupação válida. É risco o que estou assumindo conscientemente, mas acredito que clientes nos contratam pela qualidade do trabalho, não pela minha vida pessoal. Se algum cliente decidir nos abandonar por isso, francamente, não são clientes que quero.
Fácil dizer quando não é seu salário em risco, Rafael, murmurou, mais alto o suficiente para todos ouvirem. Rafael, a voz de Carolina tinha gume de aço. Se tem algo a dizer, diga diretamente. Ele se levantou, cruzando os braços. Apenas acho interessante. Você prega igualdade, meritocracia, profissionalismo, mas primeira coisa que faz quando arranja namorado é promovê-lo. Meio hipócrita. Não.
Mateus sentiu raiva ferver, mas Carolina gesticulou sutilmente para ele ficar calado. Isso era dela para lhe dar. Hipócrita seria promovê-lo sem qualificações, seria dar a ele casos que ele não pode gerenciar, seria tratá-lo diferente de outros consultores. Ela se inclinou para a frente. Mas não é isso que vai acontecer.
Mateus terá os mesmos desafios, as mesmas expectativas, os mesmos benchmarks. E se você ou qualquer outro acreditam que podem fazer melhor, estou aberta a demonstrações. Sempre estive. Rafael abriu a boca para replicar, mas Juliana interveio. Dout. Carolina, acho que falo pela maioria quando digo que precisamos de tempo para processar isso. É muito.
Entendo completamente e estou disponível para conversas individuais se alguém tiver preocupações específicas. Mas uma coisa precisa ficar clara. Ela olhou ao redor da sala. Isto não é fofoca de corredor, não é escândalo, é relacionamento entre dois adultos que se encontraram em circunstâncias incomuns e decidiram dar chance. E espero que todos tratem com respeito o que merece. Ela pausou, deixando palavras assentarem.
Reunião encerrada. Voltem ao trabalho. As pessoas saíram lentamente em grupos pequenos coxixando. Juliana passou por Mateus e murmurou boa sorte, com expressão genuinamente solidária. Rafael foi o último a sair, parando na porta. Sabe, Mateus, sempre soube que você era esperto, mas não imaginei que seria esperto assim. Belo golpe.
Não foi golpe, Rafael. Foi poupe-me. Você viu a oportunidade e aproveitou. Bem jogado. Ele saiu antes que Mateus pudesse responder. Carolina ainda estava na sala de conferência, apoiada na mesa, cabeça baixa. Mateus se aproximou, tocando suavemente seu ombro. Você foi incrível. Fui desastrosa. Metade da equipe me odeia agora.
Metade da equipe estava esperando isso porque Rafael espalhou fofoca antecipadamente. Mas fosse, fosse você mesma. Foi transparente, foi forte. Ela se virou, olhos brilhando. E se eu arruinei tudo? E se clientes realmente nos abandonarem? E se a empresa que construí desmoronar porque escolhi ser feliz? Então reconstruímos juntos. Ele segurou o rosto dela. Carolina, você passou a vida inteira provando seu valor.
Não precisa fazer mais isso. Não para mim, não para ninguém. Ela fechou os olhos, lágrimas escorrendo. Tenho tanto medo. Eu sei. Também tenho, mas fizemos a coisa certa. Como pode ter tanta certeza? Porque pela primeira vez em muito tempo, você está vivendo autenticamente e isso vale qualquer custo.
Eles ficaram assim por um momento, segurando um ao outro no meio da sala de conferência vazia, as consequências de sua honestidade começando a se desdobrar ao redor deles. O resto do dia foi tenso. Alguns colegas parabenizaram discretamente, outros evitavam contato visual. Rafael mal disfarçava hostilidade.
Mateus recebeu e-mail do RH sobre processo de transição para nova função, burocracia necessária, mas que tornava tudo mais real. Às 5 da tarde, Carolina chamou Mateus para sua sala. Ela estava pálida, olhando a tela do computador com expressão tensa. Temos problema. O quê? Rodrigo enviou e-mail para três dos nossos maiores clientes, insinuando que a Handler Estratégia está comprometida por questões éticas não resolvidas, mencionando relacionamento inapropriado entre liderança e subordinado. O estômago de Mateus despencou.
Filho da Dois clientes já responderam dizendo que vão reavaliar a parceria. Sua voz estava vazia. Mateus, isso pode destruir tudo. Ele não pode fazer isso. É difamação. É, é dele usando contatos para me ferir, como sempre fez. Ela fechou o laptop bruscamente. E pior parte, ele só consegue porque dei munição.
Assumi publicamente, criei vulnerabilidade e agora? Agora nada, Carolina, você não fez nada errado. Rodrigo é ex-marido tóxico que não superou que você teve sucesso sem ele. Isso não tem nada a ver com você ou com nós. Tem tudo a ver com nós. Se eu não tivesse o quê? Ficado sozinha para sempre para não dar satisfação para ex-marido mesquinho? Carolina, ouve o que está dizendo.
Você está deixando ele controlar sua vida mesmo 5 anos depois do divórcio. Ela o encarou, raiva e medo lutando no rosto. E se eu perder tudo? Você não vai perder, porque você é brilhante, porque seus clientes sabem que você entrega resultados. Porque ele segurou as mãos dela. Porque você é Carolina Handler. E Carolina Hendler não desiste nunca.
Ela desmoronou, não desabou, mas permitiu que Mateus assegurasse enquanto lágrimas silenciosas escorriam. Estou tão cansada, Mateus, tão cansada de lutar, de provar, de Eu sei, mas não precisa lutar sozinha mais. Deixa eu lutar com você.
Eles ficaram assim até a noite cair sobre Porto Alegre, o escritório vazio ao redor, apenas eles dois contra a tempestade que ajudaram a criar, mas que também, de forma estranha, os libertou. Porque às vezes verdade tem preço alto, mas mentira no final sempre cobra mais caro. O fim de semana foi guerra estratégica. Carolina passou horas ao telefone com os clientes, explicando a situação, defendendo sua integridade profissional, provando que a Handler Estratégia continuava sendo referência de excelência, independente de quem ela namorava.
Mateus ouvia do sofá, vendo-a em ação, vendo a Carolina brilhante, articulada. implacável que conquistou aquele império e apaixonava-se mais ainda. No domingo à noite, ela desligou o último telefone e se jogou ao lado dele, exausta. E então, Mateus perguntou suavemente. Dois dos três clientes concordaram em manter parceria. O terceiro, ela suspirou.
O terceiro disse que precisa consultar o conselho, ou seja, provável que nos abandone. Sinto muito, é parte do jogo e, honestamente, ela se virou para encará-lo. Se eles nos deixarem, por isso que vão. Não quero trabalhar para pessoas que acreditam que minha vida pessoal compromete minha competência profissional. Você parece diferente. Pareço, mais leve. Mesmo com toda essa merda acontecendo, você parece livre.
Carolina processou isso. Sabe de uma coisa? Talvez esteja certa. Passei tanto tempo escondendo, controlando, gerenciando percepção. E agora que está tudo exposto, ela sorriu cansado. Não há mais nada a esconder. É libertador de forma estranha. Então não se arrepende de ter assumido publicamente? Não, de te escolhido nunca.
Ela beijou-o suavemente. Mas, Mateus, preciso que entenda algo. O quê? Isso não vai ser fácil. Haverá julgamento. Haverá gente como Rafael, que nunca vai aceitar. Haverá clientes conservadores que vão questionar. Ainda quer isso? Ele a puxou mais perto, cada segundo. Mesmo sabendo que vem tempestade, especialmente por isso, porque tempestades passam.
Mas arrependimento de não ter coragem quando importava, esse fica para sempre. Eles passaram o resto da noite planejando, não apenas sobre como gerenciar a crise, mas sobre futuro, sobre onde viviam, seu apartamento, definitivamente seu apartamento, sobre como navegariam dinâmica no escritório, sobre sonhos e medos e tudo entre isso. Segunda-feira amanheceu com sensação de recomeço.
Mateus chegou cedo para esvaziar sua antiga mesa. Alguém já tinha trazido caixas. Ele empacotou três anos de trabalho, blocos de notas, canetas, aquela foto da formatura que mantinha escondida na gaveta. Seu novo escritório era pequeno, mas tinha janela. Vista, não era espetacular, mas era dele. Carolina parou na porta.
Gostou? É perfeito. Ela entrou, fechando a porta atrás de si. Pela primeira vez em três anos, beijaram-se no escritório sem esconder. Pronto para o primeiro dia como consultor? Nascei pronto. Bom, porque tem o caso perfeito para você. Startup de tecnologia precisa reestruturação completa. Desafiador. Mas você consegue.
Sério? Primeiro dia e já caso independente? Disse que ia tratá-lo como todos os outros. Isso significa confiar que você consegue. Ela sorriu. Acredito em você, Mateus, profissional e pessoalmente. O caso era realmente desafiador. Mateus mergulhou, trabalhando 12 horas por dia, provando para si mesmo e para todos que merecia aquela promoção independente de quem namorava.
Rafael tentou sabotá-lo sutilmente, esquecendo de repassar informações críticas, fazendo comentários depreciativos em reuniões, mas Mateus persistiu e gradualmente começou a conquistar respeito. Juliana o puxou de lado uma tarde. Estou impressionada. Achei que a promoção fosse favorecimento, mas você está entregando. Parabéns. Obrigado. Isso significa muito. E sobre você e a Dra. Carolina, ela hesitou.
Inicialmente fiquei desconfortável, mas vendo como ela está mais humana, menos robótica, acho que você faz bem para ela, para ambos. Comentários assim começaram a aparecer mais. A resistência inicial dava lugar à aceitação gradual. Nem todos. Rafael continuaria hostil, mas o suficiente. O cliente que ameaçara sair decidiu ficar.
Seus resultados falam por si. Dra. Carolina, desculpe duvidar. Carolina aceitou a desculpa com graça, mas Mateus viu o alívio nos olhos dela. Três meses depois da revelação pública, as coisas começaram a normalizar. O relacionamento deles não era mais fofoca, era apenas fato. Carolina e Mateus. Mateus e Carolina.
Eles ainda mantinham profissionalismo no escritório, mas não era performance, era respeito por limites apropriados. E à noite no apartamento que agora compartilhavam oficialmente eram apenas eles. Uma quinta-feira à noite, cozinhando juntos. Mateus cozinhava, Carolina ajudava bebericando vinho e roubando ingredientes. Ela disse algo inesperado. Sabe, tenho pensado.
Pensado no quê? Em contratar assistente executivo novo. Mateus congelou. Está me substituindo já? Ela riu. Idiota. Não é sobre substituir você, é sobre reconhecer que posso ter vida além do trabalho, que posso delegar mais, que posso, Ela pausou. Também que posso ter tempo para nós sem culpa. Carolina Hendler delegando e priorizando vida pessoal.
Quem é você e o que fez com minha chefe, Work Holic? Ela o golpeou brincalhona com pano de prato. Sua chefe evoluiu graças a certo consultor teimoso e otimista demais, que insiste em me fazer acreditar que felicidade não é luxo impossível. E é, não, é escolha. Escolha difícil, às vezes assustadora, mas escolha. Ela o envolveu nos braços por trás enquanto ele mexia o molho. Escolho você sempre.
Mateus se virou, pegando-a pela cintura. O molho momentaneamente esquecido também te escolho através de tempestades, através de julgamentos, através de tudo. Eles se beijaram ali na cozinha, luz dourada do entardecer filtrando pelas janelas panorâmicas, Porto Alegre se estendendo infinitamente abaixo.
E Mateus percebeu que chegaram a algo crucial, não final, mas fundação, base sólida sobre a qual poderiam construir algo duradouro. Não era conto de fadas, era melhor, era real. Seis meses após tornarem o relacionamento público, Carolina convocou Mateus para a reunião em comum. Almoço fora, apenas nós dois. Meio-dia. Ele ergueu sobrancelha.
Oão especial? Talvez. Talvez apenas queira ver meu namorado no meio do dia sem desculpas corporativas, mas havia algo no olhar dela. Nervosismo, antecipação. Encontraram-se em restaurante discreto no moinhos de vento, mesa no canto, privacidade relativa. Carolina estava linda de forma diferente, cabelo solto, raridade, vestido azul em vez de taurer, sem armadura corporativa. Você está diferente, Mateus observou depois que pediram.
Diferente? Bem ou mal? Bem, definitivamente bem, só diferente. Carolina brincou com a taça de vinho, súbita timidez tão incongruente em mulher, normalmente tão segura. Mateus, há algo que preciso te dizer. O coração dele disparou. Está assustando. Não é ruim. Pelo menos não acho que seja, mas é grande. Carolina apenas diz. Ela respirou fundo, encontrando os olhos dele.
Meu terapeuta me fez pergunta semana passada. Perguntou: “Quando você pensa sobre daqui 5 anos, o que vê e o que você viu?” Você vi você em cada imagem. Acordo e você está lá. Volto do trabalho e você está lá. Fico doente e você cuida de mim. Comemoro vitórias e você está ao meu lado. Enfrento derrotas e você me levanta. Sua voz tremeu levemente.
Em toda a versão do meu futuro que consigo imaginar, você está presente. Mateus sentiu garganta fechar. Carolina, deixa eu terminar, por favor. Ela segurou a mão dele sobre a mesa. Tenho 33 anos. Já fui casada antes e falhou miseravelmente. Jurei que nunca mais me permitiria ser tão vulnerável.
Mas com você, lágrimas brilhavam nos olhos. Com você, vulnerabilidade não parece fraqueza. Parece força, parece escolha consciente de confiar novamente. Para onde está indo com isso? Ela sorriu através das lágrimas para lugar aterrorizante e emocionante, simultaneamente. Pausa. Quero que você se mude oficialmente, não apenas meio morando lá. Quero suas coisas completamente misturadas com as minhas.
Quero acordar todo dia sabendo que você estará lá. Quero sim. Ele interrompeu. Deixa eu terminar. Não precisa. A resposta é sim. Para tudo, para qualquer coisa. Carolina riu, lágrimas finalmente caindo. Você nem sabe o que ia pedir. Não importa, seja o que for. Sim. Ela balançou a cabeça divertida e emocionada. Você é louco.
Louco por você, completamente. Eles permaneceram assim, mãos entrelaçadas sobre a mesa, o resto do restaurante desaparecendo ao redor deles. “Há mais uma coisa, Carolina disse eventualmente. Mais? Estou pensando em reestruturar a empresa, trazer sócio, dividir responsabilidade de liderança, alguém confiável que compartilhe a visão, mas me permita ter vida além do trabalho.
Sério? Isso é enorme. É e aterrorizante. Sempre fui dona única, controladora única, mas percebi que controle é prisão. Quero liberdade para viver, não apenas existir. Está pensando em alguém específico, Juliana? Ela é competente, comprometida, tem visão de longo prazo e crucialmente não me deixa passar por cima dela. Preciso disso. Mateus sorriu.
Você realmente mudou. Transformei graças a você. Graças àquela noite no chalé quando caiu naquele córrego gelado ridículo e quase morreu de hipotermia e me forçou a ser humana pela primeira vez em anos. Ela apertou a mão dele. Você me salvou, Mateus. Não apenas daquela tempestade de mim mesma.
E você me salvou também de desperdiçar potencial sendo invisível, de aceitar migalhas em vez de exigir mesa completa, de um barulho à entrada do restaurante os interrompeu. Eles olharam, Rafael, entrando com o cliente que Mateus reconheceu, CEO de grande corporação que havia considerado contratar a Handler Estratégia, Rafael os viu imediatamente. Seu rosto passou por várias expressões, surpresa, raiva, algo malicioso.
Ele se aproximou o cliente a reboque. Tour Carolina, Mateus, que coincidência. Carolina se endireitou, máscara profissional, deslizando no lugar instantaneamente, mas não totalmente. Mão ainda entrelaçada com a de Mateus sobre a mesa. Rafael, Senr. Almeida. Ela cumprimentou o cliente. Espero que estejam bem. Muito bem.
Rafael estava me mostrando alguns restaurantes da região antes de nossa reunião à tarde. O Sr. Almeida olhou entre Carolina e Mateus com expressão indecifrável. Vejo que estão almoçando. Sim, almoço pessoal. Carolina não se desculpou, não explicou, apenas declarou como fato. Rafael não conseguiu resistir. Deve ser bom poder misturar negócios e prazer tão facilmente. O ambiente ficou tenso. Mateus ia responder, mas Carolina se adiantou.
Rafael, se tem algo a dizer, diga diretamente em vez de insinuações passivo-agressivas, apenas observando, alguns de nós mantemos vida pessoal separada do trabalho. Alguns não tanto. Alguns de nós também conseguem manter clientes satisfeitos enquanto tem vida pessoal. Alguns, Carolina sorriu friamente. Ainda estão aprendendo essa habilidade.
Rafael ficou vermelho. O Senr. Almeida interveio claramente desconfortável. Bem, vamos deixá-los em paz. Bom almoço. Quando se afastaram, Mateus murmurou: “Ele nunca vai superar, vai?” Não, mas não é problema dele. É nosso. Carolina apertou a mão dele. Deixa ele ter amargura. Nós temos outra coisa. O quê? Felicidade real. É isso, Mateus. Vale mais que aprovação de Rafael ou de qualquer outro.
O almoço continuou mais leve agora, apesar da interrupção. Eles fizeram planos. Mudança oficial, talvez adotar cachorro, viagem de férias, primeira de Carolina em 5 anos. Quando saíram do restaurante, mãos entrelaçadas publicamente, sem esconder, Mateus sentiu algo clicar no lugar. Não era final, era começo de capítulo novo, capítulo onde não tinham que escolher entre amor e ambição, entre vulnerabilidade e força, entre pessoal e profissional.
podiam ter tudo, não perfeitamente, nunca perfeitamente, mas autenticamente. E autenticidade, perceberam, era a única métrica que realmente importava. meses depois do chalé, 6 meses depois da revelação pública, Mateus acordou com luz dourada de sábado, filtrando pelas cortinas do quarto. Seu quarto, não quarto dela, ou quarto onde ele às vezes dormia, mas genuinamente deles.
A mudança oficial acontecera três meses atrás. Seu kitnet na cidade baixa fora abandonado em favor do triplex no moinhos de vento, que agora tinha toques dele por todo lado. Livros de administração misturados com romances dela, tênis dele ao lado das escarpãs impecáveis dela, fotos deles em corredores antes vazios.
Carolina ainda dormia virada para ele, um braço jogado sobre o peito dele, rosto sereno de forma que nunca era durante horas acordada, o cabelo castanho espalhado no travesseiro, livre do coque severo, lábios entreabertos, sem batom corporativo. Ela parecia anos mais jovem assim. Parecia em paz. Ele observou por tempo indeterminado, memorizando detalhes.
A pequena cicatriz acima da sobrancelha esquerda, infância, caiu de bicicleta. As poucas sardas na ponte do nariz que maquiagem sempre escondia, a linha tênue entre as sobrancelhas que aparecia mesmo dormindo, tensão que nunca completamente desaparecia. “Está me observando?”, ela murmurou sem abrir os olhos. Culpado. Carolina abriu um olho, depois o outro, sorrindo preguiçosamente.
Creepy, romântico, debatível, mas ela se aninhou mais contra ele. Que horas são? Cedo demais para sábado. Volta a dormir. Não consigo mais. Você me acordou com seu olhar intenso. Mentirosa. Você acordou porque relógio biológico Worka Holic não te deixa dormir além das 8 mesmo em fim de semana. Ela riu. Som que ele nunca cansava de ouvir. Me conhece bem demais. E você me conhece melhor ainda.
É aterrorizante e perfeito em partes iguais. Eles ficaram assim por tempo delicioso, apenas existindo, sem agenda ou expectativas. Sabe no que estava pensando? Carolina eventualmente quebrou o silêncio. Hum. Em como minha vida é irreconhecível comparada a um ano atrás. Bom, irreconhecível ou ruim? Bom, definitivamente bom. assustadoramente bom.
Ela se apoiou em um cotovelo, olhando-o. Ano passado, por essa época, eu era CEO solitária, vivendo apenas para trabalho. Acordo, trabalho, durmo. Repito, nem considerava outra existência possível. E agora? Agora acordo ao seu lado. Tomo café enquanto você faz panquecas ruins. Ei, minhas panquecas melhoraram marginalmente. Ela sorriu.
Vou ao trabalho, mas volto em horário humano porque sei que você está me esperando. Tenho reuniões, mas também tenho almoços contigo. Tenho clientes, mas também tenho fins de semana preguiçosos, fazendo absolutamente nada produtivo. Soua horrível. Ele brincou. Soua equilibrado pela primeira vez na vida adulta. Soua equilibrado. Seus olhos ficaram sérios e tenho você.
Tenho alguém que me vê completamente, ambições, falhas, medos, sonhos e escolhe ficar mesmo assim, especialmente por isso. Não mereço você, besteira. Você merece tudo. Carolina beijou-o devagar, profundamente, dizendo sem palavras tudo que palavras não conseguiam capturar completamente. Quando se separaram, ela disse algo inesperado. Quer saber um segredo? Sempre.
Às vezes ainda me pego esperando que você perceba, que perceba que pode ter alguém melhor, alguém menos complicado, menos danificado, menos ela gesticulou vagamente, menos eu. Mateus segurou o rosto dela com as duas mãos. Carolina, me escuta. Você não é complicada, é profunda. Você não é danificada, é humana, com cicatrizes que provam que sobreviveu.
E você não é demais. Você é exatamente suficiente. Lágrimas brilharam nos olhos dela. Como você faz isso? Fazer o quê? Me fazer acreditar que sou digna de amor, de felicidade, de Ela riu através das lágrimas, de tudo que sempre achei impossível, porque é verdade e vou passar o resto da vida provando. Eles se levantaram eventualmente. Mateus fazendo panquecas, que realmente melhoraram.
Carolina fazendo café, que ela finalmente aprendeu a fazer do jeito que ele gostava. Café da manhã na varanda. Porto Alegre se estendendo abaixo, céu claro de inverno, gradualmente aquecendo conforme sol subia. Juliana aceitou a sociedade, Carolina disse casualmente. Mateus quase derrubou o café. Sério? Quando? Ontem.
Ia te contar, mas aí tivemos aquele jantar romântico que você insistiu em cozinhar e ela sorriu. Me distraí. Essa é notícia enorme. Como está se sentindo? Aterrorizada, aliviada, animada. Ela olhou para ele pronta, pela primeira vez, genuinamente pronta para compartilhar controle, para confiar que a empresa vai sobreviver sem eu microgerenciar cada detalhe, porque agora tem algo mais importante.
Porque agora entendo que ter algo mais importante não diminui minha competência profissional, a amplifica. Pessoas equilibradas tomam decisões melhores. Pessoas felizes lhe deram melhor. Ela alcançou através da mesa, pegando a mão dele. Você me ensinou isso. Nós nos ensinamos mutuamente. O dia desenrolou-se preguiçosamente. Caminhada no parcão, comparadas para Carolina tirar selfies. Algo impensável ano atrás. Almoço em restaurante casual.
Tarde assistindo filmes no sofá. Corpos entrelaçados. À noite preparando jantar juntos. Carolina cortando vegetais com competência surpreendente. Mateus tentando não rir quando ela praguejava ao cortar cebola. Ele fez pergunta que vinha aguardando. Carolina, posso te perguntar uma coisa? Claro.
Você se arrepende de todo o drama que Assumir publicamente causou, de perder aquele cliente, de lidar com Rafael e fofoca e julgamento? Ela parou de cortar, olhando para ele. Está perguntando se me arrependo de te escolher? Estou perguntando se o preço valeu. Carolina colocou a faca, contornou a ilha, ficando na frente dele.
Mateus, escuta com atenção. Valeu cada segundo de julgamento. Valeu cada cliente perdido. Valeu cada comentário maldoso. Porque tudo isso me trouxe aqui para este momento nesta cozinha com você. Mesmo sabendo que poderia ter sido mais fácil se eu tivesse escolhido solidão segura em vez de amor arriscado. Sim, teria sido mais fácil e incrivelmente vazio.
Ela segurou o rosto dele. Você devolveu minha humanidade. Me lembrou que sucesso sem conexão é apenas lista de conquistas vazias. Me mostrou que vulnerabilidade não é fraqueza, é coragem. E você me mostrou que força não é sempre sobre ser inquebrantável. Às vezes é sobre quebrar e deixar alguém te ajudar a reconstruir.
Eles se beijaram ali, cercados por vegetais meio cortados e panelas fumegantes. E foi perfeito, bagunçado e imperfeito e absolutamente real. Depois do jantar enrolados no sofá com taças de vinho, Carolina disse: “Sabe o que é louco? Hum, se alguém tivesse me dito ano atrás, exatamente ano atrás, que em 12 meses eu estaria namorando meu assistente executivo, dividindo minha empresa e genuinamente feliz. Ela riu.
Eu teria mandado essa pessoa procurar terapeuta. E se alguém tivesse me dito que cairia em córrego gelado na serra, quase morreria de hipotermia e isso levaria ao relacionamento mais significativo da minha vida. Mateus completou: “Também acharia loucura. Às vezes as melhores coisas nascem do caos ou tempestades ou tempestades. Ela concordou, apertando-se contra ele.
Aquela noite no chalé foi ponto de virada para tudo. Para nós, sem arrependimentos nenhum. E você, Mateus pensou sobre tudo, a revelação pública, as complicações, os julgamentos, as mudanças. pensou sobre acordar ao lado dela todos os dias, sobre risadas compartilhadas e planos futuros e intimidade que ia muito além do físico. Nenhum, só gratidão.
Por quê? por você ter tido coragem de baixar guardas, por terme visto quando eu era apenas assistente invisível, por ter escolhido felicidade em vez de segurança. Ele beijou o topo da cabeça dela por terme escolhido. Eles ficaram assim até tarde, eventualmente adormecendo, entrelaçados no sofá, Porto Alegre, piscando luzes pela janela.
E quando Mateus acordou na madrugada com Carolina dormindo contra seu peito, percebeu algo fundamental. Felicidade não era destino, era escolha diária, escolha de ser vulnerável, de confiar, de arriscar, de escolher conexão real em vez de distância segura. Eles tinham feito essa escolha repetidamente, conscientemente, corajosamente, e continuariam fazendo dia após dia, construindo algo duradouro sobre fundação de honestidade brutal e vulnerabilidade mútua.
O futuro era incerto, sempre seria, mas enfrentariam juntos tempestades, julgamentos, alegrias, derrotas, tudo. Porque às vezes a coisa mais corajosa que podemos fazer é permitir que outra pessoa verdadeiramente nos veja. E às vezes a maior recompensa é encontrar alguém que olhe todas nossas falhas, medos e imperfeições e diga: “Sim, você, escolho você”. M.