Antes de começar, me conta de onde você está assistindo. Deixa nos comentários. E se você ama histórias de romance dramático cheias de revira-voltas, se inscreve no canal e deixa aquele like para fortalecer. Agora, prepare-se para uma montanha russa de emoções. O cheiro de desinfetante hospitalar já havia se tornado parte de Valentina Silva.
três meses, 90 dias, sentada naquela cadeira plástica desconfortável da UTI, observando o peito do irmão subir e descer, conectado a tubos e máquinas que apitavam sem parar. Lucas tinha apenas 23 anos quando o acidente aconteceu, um segundo de distração no trânsito, um caminhão desgovernado e toda a vida de Valentina desmoronou junto com o carro amassado do irmão.
Ela segurava o envelope pardo com mãos trêmulas. As letras vermelhas gritavam a sentença: aviso final de cobrança, R$ 380.000 mais 380.000. Sua conta bancária tinha R$ 1247. Sua casa já estava hipotecada, seu cartão de crédito estourado e o hospital começaria a desligar os aparelhos de Lucas em 48 horas se ela não pagasse.
Senrita Silva. A voz grave atirou dos pensamentos sombrios. Valentina ergueu os olhos cansados. Um homem alto, de terno impecável cinza carvão, estava parado diante dela. Cabelos negros perfeitamente penteados para trás, olhos cor de mel que pareciam atravessá-la, mandíbula marcada com uma barba por fazer proposital, que lhe dava ar de poder controlado. Ele segurava uma pasta de couro.
“Quem é você?”, Valentina perguntou desconfiada. Vendedores de plano funerário já haviam tentado abordá-la três vezes naquela semana. Rodrigo Almeida. Ele estendeu a mão com um cartão de visita dourado. CEO da Almeida Holdings, desenvolvimento imobiliário. Ela não pegou o cartão. Não tenho dinheiro para comprar apartamento. Se é isso que veio vender.
Um sorriso mínimo curvou os lábios dele. Não era de diversão. Era de alguém acostumado a sempre conseguir o que queria. Não vim vender nada, Senrita Silva. vim fazer uma proposta, uma que resolverá todos os seus problemas financeiros. Ele se sentou na cadeira ao lado dela sem pedir licença, cruzando as pernas com elegância irritante.
Sei exatamente quanto você deve, R$ 380.000. Também sei que seu irmão precisa de cirurgia especializada em Boston, que custa outros 200.000, e sei que você tem s dias antes de perder sua casa. O sangue de Valentina gelou. Como você? Quem diabos você pensa que é para investigar minha vida? Alguém que pode pagar todas essas dívidas hoje mesmo.
Rodrigo abriu a pasta e colocou um cheque sobre o colo dela. Era azul com o logotipo de um banco suíço. O valor estava preenchido. R.000 high. R$ 500.000. Isso é seu agora, sem juros, sem prazo de pagamento. Valentina pegou o cheque com dedos trêmulos. Aquele papel era a salvação de Lucas. Era a diferença entre vida e morte.
O que você quer em troca? Sua voz saiu rouca porque ela já sabia que nada era de graça, nunca era. Rodrigo se inclinou para a frente, apoiando os cotovelos nos joelhos. Seus olhos dourados a estudavam como se ela fosse um quebra-cabeça fascinante. Case-se comigo. O mundo pareceu parar. O barulho dos monitores cardíacos desapareceu. Valentina piscou, tentando processar as palavras.
você o quê? Um casamento legal oficial, com certidão e tudo mais. Rodrigo falava com a mesma naturalidade de quem pedia um café por dois anos. Você mora na minha cobertura, aparece nos eventos sociais necessários, finge ser minha esposa apaixonada quando houver câmeras, nada mais. Você está louco. Valentina devolveu o cheque como se queimasse. Não me conheço.
Por que diabos um milionário quereria casar comigo? herança. A resposta foi direta, sem rodeios. Meu avô deixou uma fortuna de R milhões deais que só posso acessar se estiver casado aos 36 anos. Faço 36 em 15 dias. Preciso de uma esposa. Você precisa de dinheiro. É uma transação comercial perfeita. Valentina sentiu náusea subir pela garganta. Sou arquiteta, não prostituta.
Não estou pedindo sexo. Rodrigo não se abalou com o insulto. Quartos separados. Nenhuma intimidade, apenas aparências públicas. Em dois anos nos divorciamos, você fica com uma quantia generosa de recisão e seguimos nossas vidas. Por que eu? A pergunta saiu mais fraca do que Valentina gostaria. Rodrigo hesitou pela primeira vez.
Algo passou por seus olhos. Algo perigoso e profundo demais. Antes de ele recompor a máscara de indiferença, você é conveniente, sem família complicada, sem escândalos, bonita o suficiente para ser crível e claramente desesperada o suficiente para aceitar. As palavras eram cruéis, mas verdadeiras.
Valentina olhou para Lucas através do vidro da UTI, seu irmãozinho, o garoto que ela criou depois que os pais morreram, o rapaz que desistiu da faculdade para trabalhar e ajudá-la a apagar a dela. Agora ele estava ali preso entre a vida e a morte, e ela era a única pessoa no mundo que poderia salvá-lo. “Quanto tempo tenho para decidir?”, Valentina perguntou, a voz quebrando. O cheque expira em 3 horas. O casamento acontece daqui a três dias.
Três dias. 72 horas para trocar sua liberdade por dinheiro, para se tornar propriedade temporária de um estranho. Valentina pegou o cheque novamente. Seus olhos ardiam, mas ela não deixou as lágrimas caírem. Não na frente dele, onde assino? Três dias depois, Valentina estava diante de um espelho corpo inteiro no vestiário do cartório, olhando para uma versão irreconhecível de si mesma.
O vestido branco que Rodrigo havia mandado entregar era elegante, de seda italiana, mas era simples demais para ser um vestido de noiva de verdade. Não havia véu, não havia flores, não havia amor. A porta se abriu. Rodrigo entrou impecável interno azul marinho. Ele parou ao vê-la e algo estranho cruzou seu rosto. Algo quase parecido com admiração. Você está adequada. Ele ajeitou os punhos da camisa, evitando o olhar dela. Adequada.
Valentina cruzou os braços. Que romântico. Romance não faz parte do contrato. Rodrigo estendeu a mão. Pronta? Não, ela não estava pronta. Nunca estaria. Mas Lucas agora estava em um avião particular rumo a Boston, com os melhores médicos do mundo esperando por ele. O hospital havia sido pago, sua casa salva e agora ela pertencia a este homem de olhos frios por dois anos de sua vida. Valentina colocou a mão na dele. A palma de Rodrigo era quente e firme, envolvendo-a dela completamente.
Por um segundo, apenas um segundo, ela sentiu algo passar entre eles. Eletricidade, perigo, ou talvez fosse só medo. A cerimônia durou 8 minutos. sem discursos, sem lágrimas, sem beijos, apenas assinaturas em documentos gelados e um aperto de mão formal que selou o acordo mais surreal da vida de Valentina.
Quando saíram do cartório, havia uma limusine preta esperando. Rodrigo abriu a porta para ela com cortesia automática, mas assim que entraram e as portas se fecharam, ele se afastou para o lado oposto do banco de couro, criando o máximo de distância física possível. Vou te levar para a cobertura agora. Ele não olhava para ela focado no celular.
Suas coisas já foram transferidas. Você tem o quarto da ala leste. Eu fico na ala oeste, a banheiro privativo e closet. Amanhã começaremos com as aulas de etiqueta. Aulas de etiqueta? Valentina virou-se para ele incrédula, você vai frequentar eventos com a elite de São Paulo.
Precisa saber como se comportar, como se vestir, como falar. Finalmente ele a encarou. E havia algo gelado naquele olhar. A partir de agora, Valentina, você não é mais apenas uma arquiteta comum. Você é a senhora Almeida e há um padrão a ser mantido. Valentina sentiu o estômago revirar. Ela não havia apenas vendido dois anos de sua vida, ela havia vendido a si mesma.
Quando a limusine parou em frente a um arranha espelhado nos jardins, Valentina olhou para cima, para o topo do prédio que perfurava as nuvens. Lá em cima, no último andar, estava sua nova prisão dourada. Rodrigo desceu primeiro e estendeu a mão para ajudá-la.
Valentina olhou para aquela mão, a mesma que assinara o contrato que mudara sua vida para sempre. Bem-vinda ao seu novo lar, esposa. A palavra esposa saiu fria, mecânica, como se ele estivesse lendo de um script. E Valentina Silva, agora Valentina Almeida, subiu os degraus de mármore em direção a uma vida que não escolhera, ao lado de um homem que não amava, presa em uma mentira que duraria 74 meses.
O que ela não sabia, o que não poderia saber era que Rodrigo Almeida havia mentido sobre tudo e quando a verdade finalmente viesse à tona, destruiria ambos de maneiras que nenhum contrato poderia prever. A cobertura era um pesadelo de perfeição, piso de mármore, calacata tão polido que refletia o teto, paredes brancas imaculadas, móveis de design minimalista que pareciam mais esculturas do que objetos funcionais.
Tudo era frio, impessoal, como se ninguém realmente vivesse ali, apenas existisse. Valentina carregava sua única mala pela sala de estar, absurdamente grande, quando uma mulher surgiu do corredor, alta, magra demais, cabelos loiros presos em coque tão apertado que puxava a pele do rosto. Ela usava um vestido preto e segurava uma prancheta como se fosse uma arma.
Madame Dubo a mulher não ofereceu a mão, apenas a estudou de cima a baixo, com olhos azuis gélidos, cheios de julgamento. Serei responsável por sua transformação. Transformação? Valentina franziu a testa. Sim. Madame Duboá começou a andar em círculos ao redor dela, como um predador avaliando a presa. Postura deplorável, ombros caídos, andar pesado, roupas de prateleira, cabelo sem trato profissional.
Temos muito trabalho pela frente. Cada palavra era uma faca. Valentina cerrou os punhos, sentindo raiva ferver no peito. Não vim aqui para ser insultada. Veio aqui por dinheiro. A resposta de Madame Duboá foi cortante. E para ganhar esse dinheiro, precisa aprender a se comportar como uma Almeida. Segunda a sábado, das 7 às 10 horas, aulas de etiqueta. Das 10 hor às 12 horas, personal trainer.
Nutricionista às 14 horas, estilista às 16 horas. Domingo é dia livre, mas você passará estudando o dossiê que preparei sobre todos os eventos sociais do mês. Valentina abriu a boca para protestar, mas Madame Dubá já havia virado as costas, seus saltos altos ecuando no mármore como tiros.
Seu marido está no escritório. Ele quer vê-la. O escritório de Rodrigo ficava na outra ponta da cobertura, atrás de uma porta dupla de Mogno. Valentina bateu três vezes. Nenhuma resposta. Ela girou a maçaneta e entrou. Rodrigo estava de costas, olhando para a cidade através do vidro blindado do chão ao teto. As luzes de São Paulo brilhavam como estrelas caídas. Ele havia tirado o palitó.
As mangas da camisa branca estavam dobradas até os cotovelos, revelando antebraços musculosos. Um copo de whisky estava em sua mão. “Você queria me ver?” Valentina manteve a voz firme, embora seu coração batesse descompassado. Rodrigo virou-se lentamente. Seus olhos dourados estavam mais escuros agora, intensos sob a luz fraca da luminária de mesa.
“Sente-se, não era um pedido, era uma ordem.” Valentina se sentou na poltrona de couro em frente à mesa dele, as costas retas, as mãos no colo. Rodrigo permaneceu de pé, dominando o espaço, criando uma dinâmica de poder intencional. Há regras. Ele pousou o copo de whisky e pegou um papel da gaveta, deslizando-o pela mesa até ela. Leia.
Valentina pegou o documento. Era uma lista digitada em fonte Times New Roman, impessoal e fria. Regras do casamento Rodrigo Alvalentina Almeida. Um. Quartos separados. Nenhuma exceção. Dois, nenhum contato físico íntimo. Beijos e toques apenas quando houver câmeras ou público.
Três, nenhuma pergunta pessoal sobre passado, família ou assuntos privados. Quatro. Descrição absoluta sobre a natureza do casamento. Cinco. Valentina participará de todos os eventos sociais designados. Seis. Nenhum relacionamento extraconjugal durante os dois anos do contrato. Sete, redes sociais serão monitoradas. Nenhuma postagem sem aprovação prévia. Oito.
Amigos e familiares não podem visitar sem aviso prévio de 48 horas. Jantar juntos três vezes por semana para manter aparências domésticas. 10. Em caso de descumprimento, o contrato é anulado e Valentina deve devolver todos os valores recebidos. Valentina leu cada linha duas vezes, sentindo o nó na garganta apertar. Aquilo não era um casamento, era um contrato de trabalho.
Ela era uma funcionária, uma atriz contratada para fazer um papel. Assine no final. Rodrigo empurrou uma caneta cara na direção dela. Você é sempre assim? As palavras saíram antes que ela pudesse filtrar. Tão controlador? Algo perigoso brilhou nos olhos dele. Controle é o que me trouxe até aqui, Valentina.
Controle é o que me mantém no topo. E controle é o que vai garantir que este casamento funcione exatamente como planejado. Não é um casamento. Ela devolveu o olhar com a mesma intensidade. É uma farsa. Uma farça que você aceitou por R$ 500.000. Rodrigo se inclinou sobre a mesa, aproximando o rosto do dela. Ele cheirava a whisky caro e perfume amadeirado.
Não venha agora com moral, arquitetinha. Você vendeu dois anos da sua vida. Eu comprei. Agora viva de acordo com as regras ou devolva o dinheiro e vá embora. Valentina segurou a caneta com força suficiente para embranquecer os nós dos dedos. Cada célula do corpo dela gritava para jogar aquele papel no rosto dele e sair batendo a porta.
Mas então ela pensou em Lucas, em Boston, nos médicos que estavam salvando a vida dele naquele exato momento. Ela assinou. O sorriso que curvou os lábios de Rodrigo não tinha calor. Era a vitória de um homem acostumado a sempre ganhar. Ótimo. O jantar será servido em 30 minutos, vista algo apresentável. O jantar foi uma tortura silenciosa.
A mesa de jantar era longa o suficiente para acomodar 12 pessoas, mas só havia dois lugares postos, um em cada ponta. Valentina e Rodrigo sentaram com 6 m de distância entre eles, como estranhos em um restaurante que detestavam frequentar. A empregada a uma senhora de 50 anos chamada Márcia serviu salmão grelhado com aspargos. Valentina comeu mecanicamente, sem sentir o gosto. Como foi, Boston? Ela quebrou o silêncio, referindo-se a Lucas.
Não fazemos perguntas pessoais, lembra? Rodrigo cortou um pedaço de salmão com precisão cirúrgica. Você acabou de inventar essa regra hoje. Além disso, perguntar sobre meu irmão não conta. Rodrigo ergueu os olhos. Por um momento, Valentina viu algo ali, algo quase parecido com curiosidade. Ele está bem. Cirurgia foi um sucesso. Começará a reabilitação na segunda-feira. Obrigada, Valentina.
disse baixinho e para sua surpresa era sincero. Rodrigo acenou com a cabeça e voltou a comer. O silêncio se instalou novamente, pesado e sufocante, mas Valentina percebeu algo estranho. Sempre que ela erguia os olhos do prato, Rodrigo desviava o olhar rapidamente, como se ele a estivesse observando quando achava que ela não notava.
Havia algo na forma como ele segurava o garfo com tensão, como se estivesse se controlando para não fazer ou dizer algo. Por que eu? Valentina perguntou de repente. Já conversamos sobre isso. Não, você disse que eu era conveniente, mas há milhares de mulheres convenientes em São Paulo. Por que, especificamente eu? Rodrigo largou os talheres lentamente.
Seus olhos encontraram os dela pela mesa absurdamente longa. E havia algo perigoso naquele olhar, algo faminto e escuro. Porque você não me fará perguntas inconvenientes? Mas havia mentira na resposta. Valentina sentia isso e algo nela, algo teimoso e autodestrutivo, decidiu que descobriria a verdade. Não importava quanto tempo levasse. Após o jantar, Rodrigo desapareceu no escritório.
Valentina explorou a cobertura, passando pelos quatro quartos de hóspedes, pela sala de cinema privativa, pela academia com vista panorâmica. Tudo era perfeito demais, sem fotos, sem recordações, sem vida. Até que ela encontrou o escritório de Rodrigo destrancado. Ela sabia que não devia entrar. Era invasão de privacidade, mas a curiosidade foi mais forte. Valentina empurrou a porta devagar. A sala estava vazia.
Rodrigo havia saído para alguma reunião. Ela se aproximou da mesa, olhando para os papéis organizados de forma obsessiva. E então ela viu emoldurada na parede atrás da cadeira havia uma prancha de projeto arquitetônico. Seu projeto, o mesmo que ela havia apresentado em uma conferência três anos atrás, um complexo de moradias sustentáveis para famílias de baixa renda.
Rodrigo havia criticado publicamente o projeto na época, chamando-o de idealista e financeiramente inviável, mas ali estava ele emoldurado, e ao redor, com caligrafia manuscrita de Rodrigo, havia anotações. Genial, inovador, exatamente o que o mundo precisa. O coração de Valentina disparou. Ela se aproximou, tocando o vidro da moldura com dedos trêmulos.
Por que Rodrigo tinha seu projeto na parede? Por que ele havia mentido publicamente sobre o que achava dele? Tá mirando seu próprio trabalho? Valentina girou tão rápido que quase perdeu o equilíbrio. Rodrigo estava na porta, encostado no batente, os braços cruzados. Seu rosto não revelava nada.
Você tem meu projeto na parede e daí? Você o criticou. Disse que era inviável. Eu menti. Rodrigo entrou no escritório, fechando a porta atrás de si. Era bom demais. Não queria que ninguém mais notasse isso antes de eu ter a chance de estudá-lo melhor. Valentina sentiu algo estranho revirar em seu estômago. Era possessividade, obsessão. Você é doente.
Sou eficiente. Rodrigo se aproximou dela, parando a poucos centímetros, tão perto que Valentina podia sentir o calor do corpo dele. E você deveria estar no seu quarto, não invadindo meu espaço privado. A porta estava aberta. Não estava. Você a abriu sem permissão. Os olhos dele desceram para os lábios dela por uma fração de segundo antes de ele se afastar bruscamente.
Não faça isso novamente. Ele saiu do escritório sem olhar para trás, deixando Valentina sozinha, com o coração acelerado e uma certeza crescente e assustadora. Rodrigo Almeida não era apenas um milionário frio que precisava de uma esposa falsa. Ele estava escondendo algo, algo sobre ela.
E Valentina tinha a terrível sensação de que quando descobrisse a verdade já seria tarde demais para escapar. O Copacabana Palace brilhava como uma joia arteco sob o céu estrelado do Rio de Janeiro. Valetes uniformizados abriam portas de carros importados e mulheres em vestidos de grife deslizavam pelo tapete vermelho como cisnes elegantes.
O evento beneficente da noite arrecadaria fundos para crianças carentes. uma ironia amarga, considerando que a maioria dos presentes gastava mais em uma bolsa do que muitas famílias ganhavam em um ano. Valentina olhou pela janela da limusine, sentindo o estômago revirar. Era o primeiro evento público dela, como senhora Almeida, a estreia da farsa.
Nervosa? Rodrigo perguntou ao lado dela, ajeitando o laço da gravata preta. Ele estava devastadoramente bonito de smoking. O tecido negro acentuava a largura dos ombros e a camisa branca contrastava com a pele bronzeada do rosto. O cabelo estava penteado para trás com gel, revelando a testa e os ângulos marcados do rosto. Ele parecia saído de um filme de James Bond. Não.
Valentina mentiu. Rodrigo virou o rosto para ela e, pela primeira vez, desde que haviam entrado no carro, ele realmente a olhou. Seus olhos dourados percorreram o vestido vermelho que Madame Dubois havia escolhido, decote em V discreto, tecido de seda que abraçava as curvas dela sem ser vulgar, fenda lateral que terminava no meio da coxa.
Os cabelos de Valentina estavam presos em um coque baixo elegante, com alguns fios soltos e moldurando o rosto. Brincos de diamante, emprestados não dados, brilhavam nas orelhas. Você está Rodrigo hesitou, algo estranho cruzando o seu rosto. Perfeita. Não era adequada dessa vez. Era perfeita. Valentina sentiu o calor subir pelo pescoço. É o vestido caro. Não.
Rodrigo manteve o olhar fixo nela. É você. Antes que Valentina pudesse processar o que aquilo significava, a porta da limousine se abriu. O flash de dezenas de câmeras explodiu como trovões. Vozes gritavam nomes de celebridades e empresários. E então, como mágica ensaiada, Rodrigo se transformou. O homem frio e controlado desapareceu. Em seu lugar estava um marido apaixonado.
Rodrigo desceu primeiro, depois virou-se e estendeu a mão para Valentina com um sorriso caloroso que não alcançava os olhos, mas que enganaria qualquer câmera. Vem, amor. A palavra amor saiu tão suave, tão convincente, que até Valentina quase acreditou. Ela colocou a mão na dele. Os dedos de Rodrigo se fecharam ao redor dos dela com firmeza protetora.
Ele a puxou para fora do carro e imediatamente seu braço envolveu a cintura dela, puxando-a para perto do corpo. Os flashes aumentaram, as câmeras clicavam em frenesi. “Olhe para mim!”, Rodrigo sussurrou no ouvido dela, a respiração quente contra a pele. Sorria como se eu fosse o homem mais maravilhoso do mundo. Valentina forçou um sorriso.
Rodrigo inclinou a cabeça, aproximando os lábios do cabelo dela em um gesto que parecia íntimo demais. Do lado de fora parecia um beijo terno, mas ele apenas sussurrou: “Boa garota! Eles caminharam pelo tapete vermelho como um casal de conto de fadas. A mão de Rodrigo nunca deixou a cintura dela. Ele acenou para fotógrafos, cumprimentou conhecidos, mas sempre voltava a atenção para Valentina, tocando seu rosto, ajeitando uma mecha de cabelo, sorrindo para ela como se guardasse o segredo mais precioso do mundo. Era tudo mentira, mas Deus era uma mentira convincente.
Uma repórter da Vog Brasil se aproximou com o microfone. Rodrigo, Rodrigo Almeida. Ela praticamente gritou. É verdade que você se casou em segredo? Quem é a sortuda? Rodrigo parou, puxando Valentina ainda mais para perto. Seu sorriso era de propaganda de pasta de dente, perfeito demais para ser real. Esta é minha esposa, Valentina Almeida.
Ele olhou para ela com uma intensidade que fez o coração dela pular. E sim, nos casamos recentemente. Queríamos privacidade. Como vocês se conheceram? A repórter estava estasiada. Rodrigo passou o polegar pela bochecha de Valentina em uma carícia tão delicada que arrepios percorreram a espinha dela. Conferência de arquitetura há 3 anos.
Vi Valentina apresentando um projeto e soube naquele momento que ela era a mulher mais extraordinária que eu já tinha visto. Demorei dois anos para ter coragem de convidá-la para sair. Mentira, tudo mentira, mas dita com tanta convicção que até Valentina sentiu um aperto no peito. E a química de vocês? A repórter gesticulava animadamente. Dá para sentir daqui, Valentina? É tudo que eu sempre quis.
Rodrigo disse, e havia algo na voz dele, algo baixo e perigoso, que fez Valentina se perguntar se aquela frase era parte do roteiro ou algo mais. Finalmente entraram no salão. A transformação de Rodrigo foi instantânea. Assim que as câmeras desapareceram, ele soltou a cintura dela como se queimasse. Dois passos de distância. A máscara fria voltou. Você se saiu bem.
Ele ajeitou a gravata sem olhar para ela. Continue assim. Valentina sentiu raiva ferver. Você ensaiou tudo isso? As falas, os toques? Obviamente. Rodrigo pegou uma taça de champanhe de uma bandeja que passava. Nada é deixado ao acaso. Você é um psicopata. Sou um empresário. Ele finalmente olhou para ela e havia frieza naqueles olhos dourados.
Há diferença? A noite se arrastou em uma sucessão interminável de sorrisos falsos e conversas vazias. Valentina conheceu dezenas de pessoas cujos nomes ela esqueceria em 5 minutos. Todos a estudavam com curiosidade mal disfarçada, se perguntando quem era a desconhecida que havia capturado o bilionário mais cobiçado de São Paulo. Às 11 da noite, Valentina precisava de ar. Ela escapou para a varanda externa, onde o som das ondas do mar competia com a música do salão.
Você realmente acha que engana alguém? Valentina se virou. Uma mulher estava encostada na coluna de mármore, fumando um cigarro fino. Ela era linda de forma agressiva, cabelos loiros platinados, lábios vermelhos, vestido dourado que mais parecia a armadura, mas havia crueldade nos olhos verdes.
Desculpe, essa farsa ridícula de casamento feliz. A mulher deu uma tragada longa, soltando a fumaça na direção de Valentina. Todo mundo sabe que Rodrigo Almeida é incapaz de amar. Ele coleciona coisas, empresas, prédios, agora aparentemente esposas. Valentina cerrou os punhos. E você é Diana Vasconcelos? Exde Rodrigo. Bem, uma de muitas.
Ela riu, mas não havia humor no som. Ele faz isso, sabe? te faz sentir especial, te envolve até você não conseguir respirar sem ele e então, quando ele se cansa, te descarta como lixo. Não me importa com suas experiências passadas. Deveria. Diana jogou o cigarro no chão, pisando com o salto agulha. Porque Rodrigo Almeida destrói tudo que toca.
E você, querida, acabou de assinar sua sentença de morte emocional. Ela saiu com um rebolado triunfante, deixando Valentina sozinha com o coração acelerado. No caminho de volta, algo caiu do palitó de Rodrigo quando ele se levantou de uma conversa. Valentina se abaixou rapidamente e pegou antes que ele percebesse.
Era uma foto antiga, desgastada nas pontas, como se tivesse sido manuseada muitas vezes. Mas Valentina não conseguiu ver o que era porque Rodrigo se virou e arrancou a foto da mão dela com violência surpreendente. Não toque nas minhas coisas, voz dele era venenosa. Caiu do seu bolso. Rodrigo guardou a foto no palitó interno com tanta urgência que Valentina teve certeza.
Havia algo importante ali, algo que ele não queria que ela visse. Vamos embora. Ele pegou o braço dela com mais força do que o necessário, praticamente arrastando-a para fora do salão. Na limusine, o silêncio era pesado. Valentina olhava pela janela, mas sua mente estava na foto.
Por que Rodrigo reagira com tanta agressividade? Para de pensar. A voz dele cortou o silêncio. Como você sabe que estou pensando? Porque eu te conheço? Valentina virou a cabeça tão rápido que o pescoço estalou. Você não me conhece. A gente se conheceu há uma semana. Rodrigo desviou o olhar, mas não antes de Valentina ver algo passar por seus olhos. Culpa ou talvez medo.
Você tem razão? Ele disse finalmente. Eu não te conheço. Mas era mentira. Valentina sentia isso nos ossos. E quando chegaram em casa e ela finalmente se trancou no quarto, Valentina ficou acordada até às 3 da madrugada, olhando para o teto com uma certeza crescente e aterrorizante. Rodrigo Almeida estava mentindo sobre tudo e ela estava presa em um jogo cujas regras não entendia.
três semanas, 21 dias desde o casamento. E Valentina estava começando a acreditar que conseguiria sobreviver aqueles dois anos sem enlouquecer completamente. As aulas com Madame Dubisá eram uma tortura diária, postura, etiqueta à mesa, conversação superficial sobre vinhos caros e destinos de férias que Valentina nunca visitaria.
Mas ela aprendeu a jogar o jogo, sorrir, acenar, fingir que se importava. Rodrigo continuava sendo um enigma, frio durante o dia, charmoso apenas quando havia câmeras. Mas às vezes, às vezes, Valentina pegava ele olhando para ela, não com a frieza calculada de um empresário, mas com algo mais profundo, algo faminto e assustador.
E então Lucas voltou de Boston. A campainha da cobertura tocou em uma sexta-feira chuvosa. Valentina correu para a porta esperando entrega de comida, mas quando abriu, seu irmão estava ali. Lucas estava diferente, mais magro, com uma cicatriz ainda rosada na testa, mas vivo, milagrosamente, maravilhosamente vivo. “Vau!”, ele abriu os braços.
Valentina se jogou neles, as lágrimas finalmente caindo. Depois de meses contidas. Lucas assegurou firme, cheirando a sabonete de hospital e expectativa. Você está bem, ó meu Deus, você está bem, graças a você. Lucas a afastou, estudando o rosto da irmã com preocupação. E graças ao seu marido, a palavra marido soou estranha.
Entre, você não deveria estar caminhando tanto. Lucas entrou mancando levemente, maravilhado com a cobertura. Caramba, Val, você casou com um bilionário de verdade. Não é o que parece. Parece um apartamento de R$ 100 milhões de reais. Antes que Valentina pudesse responder, Rodrigo saiu do escritório.
Ele usava apenas calça de alfaiataria e camisa branca com as mangas dobradas, gravata afrouxada. Parecia ter acabado de sair de uma reunião. “Lucas”, Rodrigo estendeu a mão com um sorriso que quase parecia genuíno. “Bem-vindo”, Lucas. apertou a mão claramente intimidado. “Senor Almeida, eu não sei como agradecer pelo que o senhor fez. Os médicos disseram que eu não teria chance pelo tratamento em Boston.
Não precisa agradecer.” Rodrigo colocou as mãos nos bolsos. “Sua irmã é minha esposa. Cuidar da família dela é minha responsabilidade.” Valentina observou a interação com desconfiança. Rodrigo estava sendo gentil. Era desconcertante. “Onde você está ficando?”, Rodrigo perguntou. “Consegui um quarto em uma república perto da faculdade.” “Não.” Rodrigo balançou a cabeça.
“Você acabou de sair de uma cirurgia séria. Precisa de cuidados. Fique aqui. Temos quartos de sobra.” Valentina piscou surpresa. “Rodrigo, você não precisa”, insisto. Ele olhou para ela e havia algo ali, algo macio na borda dura do olhar. “Sua família é bem-vinda aqui, Valentina.
” Lucas ficou e para choque completo de Valentina, Rodrigo não apenas tolerou a presença do irmão dela, ele foi genuinamente atencioso. Mandou instalar uma barra de apoio no banheiro, contratou um fisioterapeuta particular, até pediu para o chefe preparar refeições específicas para ajudar na recuperação. “Seu marido é estranho.” Lucas comentou uma noite enquanto assistiam TV juntos. Rodrigo estava trancado no escritório como sempre.
Tipo, ele age como um robô na maior parte do tempo, mas às vezes eu pego ele olhando para você de um jeito intenso para Valentina jogou uma almofada nele. Ele não olha para mim de jeito nenhum, mas ela sabia que Lucas estava certo. Uma semana depois, Rodrigo fez algo completamente inesperado.
Ele convidou Valentina para um vinho no terraço. Não era jantar obrigatório, não havia câmeras, era só eles dois, uma garrafa de bordô caro e a cidade de São Paulo, brilhando quilômetros abaixo, como um oceano de estrelas caídas. Valentina se sentou na espreguiçadeira, segurando a taça com mãos nervosas.
Rodrigo estava recostado na cadeira ao lado, olhando para o céu. A luz da lua acentuava os ângulos do rosto dele, criando sombras dramáticas. Por que você me convidou aqui? Valentina quebrou o silêncio. Não sei. A resposta foi surpreendentemente honesta. Estava cansado de ficar sozinho.
Você sempre está sozinho, mesmo quando a gente por perto. Rodrigo virou o rosto para ela. Algo mudou na expressão dele, as paredes se afrouxando apenas uma fração. Você me entende bem demais para alguém que me conhece há um mês, cinco semanas. Valentina corrigiu. Um sorriso mínimo curvou os lábios dele, genuíno.
Não era a máscara pública, era algo real. Conte-me sobre sua família. Valentina ousou perguntar. Você nunca fala deles. A sorriso desapareceu. Não há nada para contar. Todo mundo tem família. Não famílias que importam. Rodrigo bebeu o vinho de uma vez, reabastecendo a taça. Meu pai era um tirano, minha mãe uma alcólatra funcional e meu irmão.
Sua voz tremeu pela primeira vez desde que Valentina o conhecera. Felipe era bom demais para aquela família. Felipe? Valentina se inclinou para a frente. Rodrigo nunca havia mencionado um irmão. Ele morreu há 5 anos, overdose de heroína. Rodrigo falava, olhando para a taça, como se as palavras fossem arrancadas à força. Meu pai o chamou de fraco.
Disse que Felipe era uma decepção e eu eu não fui ao funeral. Estava fechando um negócio em Dubai. Achei que negócios eram mais importantes. Valentina sentiu o coração apertar. Rodrigo, não diga que sente muito. Ele cortou, finalmente, olhando para ela. Os olhos dourados estavam molhados. Eu não mereço pena. Eu o abandonei quando ele mais precisava de mim. Eu escolhi dinheiro em vez do meu próprio irmão e agora ele está morto.
E eu vivo nessa cobertura de vidro sozinho porque descobri que não sei amar nada além de contratos e negócios. Silêncio. Valentina não sabia o que dizer. Pela primeira vez, ela via Rodrigo Almeida não como o magnata frio e calculista, mas como um homem quebrado, escondido atrás de paredes de mármore e terno de grife. Você visitou Lucas em Boston.
Valentina disse suavemente 12 vezes. Rodrigo ficou rígido. Como você um dos enfermeiros comentou, um homem de terno que ia sempre de quinta-feira, sentava ao lado da cama e lia em voz alta. Rodrigo desviou o olhar. O maxilar tenso. Não significa nada, significa tudo. Valentina colocou a taça de lado e se aproximou da cadeira dele.
Você lia para meu irmão enquanto ele estava em coma. O que você lia? Isso não é relevante, Rodrigo. Ele suspirou derrotado. Dom Casmurro, seu irmão mencionou uma vez antes da cirurgia, que nunca havia terminado de ler. Pensei que talvez ouvir a voz ajudasse a trazer ele de volta. Lágrimas queimaram os olhos de Valentina.
Por que você fez isso? Porque eu não pude fazer nada pelo Felipe. A voz de Rodrigo estava rouca, mas podia fazer algo pelo Lucas. E se isso te mantivesse perto de mim? Mesmo que fosse só por obrigação, então valia cada maldito voo para Boston. Valentina segurou a mão dele impulsivamente.
Os dedos de Rodrigo se fecharam ao redor dos dela, como se ela fosse a única coisa sólida em um mundo desmoronando. “Você não é incapaz de amar”, ela sussurrou. “Você só não sabe como”. Rodrigo olhou para a mão entrelaçada com a dela. “E você acha que pode me ensinar?” Não era uma pergunta real. Era um desafio, uma súplica disfarçada. Valentina não respondeu porque ela não sabia se queria ensinar um homem que a comprou como ensinara a amar.
Mas uma coisa era certa, as rachaduras na armadura de Rodrigo Almeida estavam se alargando e Valentina estava começando a ver o homem quebrado por trás da fachada de bilionário, um homem perigosamente próximo de ser real. Valentina estava começando a acreditar que algo estava mudando. As conversas no terraço se tornaram quase diárias.
Rodrigo ainda era controlador, ainda mantinha distância física, mas havia momentos breves e raros, onde ela via por trás da máscara. Até que Isabela Monteiro entrou em cena. Era uma terça-feira quando Rodrigo a chamou ao escritório. Ele estava tenso, dedos tamborilando na mesa de Mógno. Um sinal de nervosismo que Valentina aprendeu a reconhecer.
Preciso te pedir algo. Ele não a convidou para sentar. Algo importante. O que é Isabela Monteiro, herdeira dos laboratórios Monteiro, patrimônio de 2 bilhões. Rodrigo falava como se recitasse dados de um relatório. Ela está interessada em investir 200 milhões no meu novo projeto, o complexo de uso misto que venho planejando há 5 anos.
Isso é ótimo. Valentina não entendia onde ela entrava nisso. Ela tem uma condição. Rodrigo finalmente a encarou e havia algo sombrio naquele olhar. Quer me conhecer melhor, pessoalmente, sem distrações. O estômago de Valentina despencou. Distrações? Você. A palavra caiu entre eles como vidro quebrando. Ela quer que eu finja que não sou casado.
Valentina cruzou os braços, sentindo raiva ferver. Não, exatamente. Rodrigo se levantou, começando a andar de um lado para o outro. Há um evento beneficente daqui a dois dias. O baile Esmeralda. Isabela estará lá. Ela deixou claro que se ela me vir grudado na esposa, o investimento não acontece. Então me deixa em casa. Não posso.
A imprensa esperará nos ver juntos. Se você não aparecer, levantará suspeitas sobre o casamento. Rodrigo parou na frente dela, os olhos suplicantes de uma forma que ela nunca vira. Preciso que você vá, mas mantenha distância. Finja que somos apenas conhecidos. Chegue separada. Saia separada.
Não olhe para mim. Não fale comigo. Valentina sentiu como se tivesse levado um soco. Você quer que eu te ajude a conquistar outra mulher? Não é conquista, é negócios. Para você tudo é negócios. Valentina explodiu. Nosso casamento, as conversas no terraço. Cada maldita palavra que sai da sua boca é calculada. Valentina.
Rodrigo tentou tocar o braço dela, mas ela se afastou. Não me toque. Lágrimas de raiva queimavam seus olhos. Você sabe o que é engraçado. Eu estava começando a achar que talvez, só talvez você fosse humano embaixo dessa armadura. Mas não, você é exatamente o que Diana Vasconcelos disse, um colecionador.
E eu sou só mais um objeto na prateleira, não é verdade? Então me diga, Rodrigo. Valentina deu um passo em direção a ele, desafiadora. Me diga que este negócio não é mais importante do que do que seja lá o que está acontecendo entre nós. Silêncio. Rodrigo abriu a boca, fechou. Os músculos do maxilar se contraíram. É, R milhões de reais.
É o projeto mais importante da minha carreira. A resposta foi uma faca no peito. Então está decidido. Valentina virou-se para sair. Você vai? A voz dele era rouca. Ela parou na porta sem olhar para trás. Não tenho escolha, lembra? Sou sua funcionária. Você me comprou. Valentina saiu deixando Rodrigo sozinho no escritório com o peso das próprias escolhas. Na noite anterior ao baile Esmeralda, Valentina fez as malas.
Não para fugir, não ainda, mas para ter a opção. Lucas estava dormindo no quarto de hóspedes, recuperado o suficiente para voltar à faculdade na semana seguinte. Ela não precisava mais ficar, mas então olhou ao redor do quarto luxuoso. Pensou nas dívidas pagas, na vida do irmão salva, em tudo que Rodrigo havia feito, mesmo que por motivos egoístas, decidiu ficar por enquanto.
O vestido para o baile chegou no dia seguinte. Era verde esmeralda, com pedrarias que brilhavam como estrelas líquidas, decote ombro a ombro, cintura marcada, saia fluida que tocava o chão. Era o vestido mais lindo que Valentina já vira e ela o odiou porque sabia que Rodrigo o escolhera para impressionar Isabela. Não ela. O baile Esmeralda acontecia no Museu de Arte Moderna. Valentina chegou sozinha como instruído.
Seu coração batia descompassado enquanto entregava o convite na entrada. O salão era espetacular. Lustres de cristal pendiam do teto alto, refletindo luz verde em homenagem ao tema. Mesas redondas com arranjos de flores brancas e verdes circulavam a pista de dança. Uma orquestra tocava Vivaldi.
E então ela o viu. Rodrigo estava do outro lado do salão, devastadoramente bonito em smoking preto, mas não estava sozinho. Isabela Monteiro estava pendurada no braço dele. Ela era exatamente como Valentina imaginara, alta, cabelos castanhos em ondas perfeitas, vestido dourado que abraçava um corpo escultural.
Mas era o sorriso que machucava, aquele sorriso possessivo enquanto ela sussurrava algo no ouvido de Rodrigo, fazendo rir. Valentina sentiu Billy subir pela garganta. “Cumpra o papel”, ela repetiu mentalmente. “Seja invisível.” Ela se sentou em uma mesa distante, aceitando champanhe de um garçom. Tentou não olhar, tentou não sentir, mas era impossível não ver quando Isabela pressionava o corpo contra o de Rodrigo na pista de dança.
Impossível não notar quando ela alisava a lapela do palitó dele com dedos possessivos. Impossível não ouvir a risada aguda dela ecoando pelo salão. Patético, não é? Valentina virou-se. Um homem mais velho, de barba grisalha e terno azul marinho estava sentado ao lado dela. Desculpe, Rodrigo Almeida. O homem acenou com a cabeça na direção deles. Sempre foi assim.
Venderia a própria alma por um negócio lucrativo. Até a esposa, aparentemente. Você me conhece? Não pessoalmente, mas reconheço o olhar de alguém que está sendo humilhado publicamente. Ele ofereceu a mão. Eduardo Santos, sócio da Almeida Holdings até dois anos atrás, quando Rodrigo me traiu em um negócio. Bem-vinda ao clube das pessoas que ele destruiu.
Valentina não apertou a mão, mas as palavras do homem ecoaram em sua mente. Ela observou Rodrigo e Isabela e então algo chamou sua atenção. Isabela estava falando com um grupo de amigas próximo ao bar. Valentina não ouvia, mas conseguia ler os lábios. Aquela arquitetinha sem graça, ele casou por pena.
Assim que eu investir, ela vira a história. Algo quebrou dentro de Valentina. Não era tristeza, era raiva. Pura, incandescente raiva. Ela não era um objeto, não era um acessório descartável. E se Rodrigo Almeida pensava que podia trocá-la como peça de mobília, ele ia descobrir que tinha se casado com a mulher errada. O leilão beneficente começou.
Obras de arte, pacotes de viagem, experiências exclusivas. Valentina mal prestava atenção até que um quadro de Tarcila do Amaral foi colocado no pedestal. Lances iniciais em R$ 500.000, o leiloeiro anunciava. Isabela levantou a plaquinha. R.000. Outro lance. 600. 700. Isabela continuava cobrindo. R$ 900.000 R para a dama de Dourado. E então, Valentina fez algo completamente insano.
Ela se levantou, caminhou até o palco sob os olhares de 300 pessoas, pegou o microfone do leiloeiro e disse alto e claro: “Nilhão deais, silêncio absoluto. Todos os olhos se viraram para ela. Isabela estava boque aberta. E Rodrigo? Rodrigo estava paralisado, o rosto completamente branco.
“Meu nome é Valentina Silva Almeida”, ela falou no microfone, a voz firme, apesar do coração disparado, “Esposa de Rodrigo Almeida e ofereço R milhão de reais por este quadro”. O escândalo explodiu. Sussurros correram pelo salão como fogo. Câmeras de celulares se levantaram. Isabela jogou a taça de champanhe chão com tanta força que estilhaçou. Valentina desceu do palco, andando em direção à saída.
Ela não olhou para Rodrigo, não precisava. Podia sentir a fúria dele atravessando o salão como um raio. Mas ela não se importava mais, porque pela primeira vez desde que assinara aquele contrato maldito, Valentina Silva Almeida tinha escolhido a si mesma, que não havia dinheiro no mundo que pudesse comprar isso de volta.
O silêncio na limusine era ensurdecedor. Valentina olhava pela janela vendo São Paulo passar em borrões de luz. Seu coração ainda batia acelerado pela adrenalina do que havia feito. 1 milhão deais. Ela oferecera R 1 milhão deais em um leilão. Dinheiro que nem tinha, mas valera cada centavo imaginário só para ver a expressão no rosto de Isabela.
Rodrigo não dissera uma palavra desde que entraram no carro. Ele estava sentado no lado oposto, maxilar travado, mãos cerradas em punhos sobre as coxas. A raiva emanava dele em ondas quase visíveis. Quando chegaram à cobertura, ele saiu do carro tão rápido que o motorista mal teve tempo de abrir a porta. Valentina o seguiu, saltos ecoando no mármore da entrada.
O elevador privativo subiu os 40 andares em silêncio tenso. Assim que as portas se abriram direto na cobertura, Rodrigo explodiu. Você perdeu a cabeça? Ele girou para ela, os olhos dourados queimando de fúria. Você tem alguma ideia do que fez? Exatamente o que você me pediu para não fazer. Valentina jogou a bolsa no sofá, encarando-o sem recuar. Causar uma cena.
Isabela cancelou o investimento. Rodrigo puxou a gravata com violência, quase rasgando o tecido. R milhões de reais. 200 milhões que eu venho negociando há 6 meses. E você destruiu tudo em 30 segundos. Ótimo. Espero que ela enfie os 200 milhões onde o sol não bate. Você não entende.
Rodrigo agarrou os cabelos, começando a andar de um lado para o outro como um leão enjaulado. Este projeto, este projeto é tudo. 5 anos de planejamento. E agora a imprensa está em frenesi, questionando nosso casamento, investigando nossa vida. Talvez porque nosso casamento é uma mentira. Valentina gritou de volta.
E talvez, apenas talvez, eu esteja cansada de ser tratada como mobília. Você aceitou isso? Rodrigo apontou o dedo para ela. Você assinou o contrato sabendo exatamente o que estava fazendo. Eu assinei porque você me manipulou quando eu estava desesperada. Ninguém colocou uma arma na sua cabeça. Não. Você só colocou meu irmão entre a vida e a morte e me ofereceu o único caminho de salvação. Silêncio.
Ambos respiravam pesado, peitos subindo e descendo, enfrentando-se como dois combatentes em um ring. Eu vou embora. Valentina virou-se em direção ao quarto. Vou fazer as malas e sair da sua vida. Pode ficar com seu projeto precioso e sua Isabela. Você não vai a lugar nenhum. Algo na voz dele fez Valentina parar. Era baixo, perigoso.
Não pode me impedir. Rodrigo puxou o celular do bolso. Alguns toques na tela. Acabei de cancelar seus cartões de crédito. Suas contas bancárias estão congeladas e há dois seguranças na entrada com ordens para não deixá-la sair. Valentina virou-se lentamente, o sangue gelando nas veias. Você Você não pode fazer isso. Acabei de fazer. Rodrigo guardou o celular com uma calma aterrorizante.
Você quebrou o contrato. A cláusula nove diz claramente: “Em caso de comportamento que prejudique a imagem do casamento, você deve devolver todos os valores recebidos e até que você devolva R$ 500.000 pertence a mim. Isso é isso é prisão ilegal. É cumprimento de contrato.” Rodrigo caminhou em direção ao escritório. Seu quarto está trancado também.
Você dormirá na sala de hóspedes. Não há acesso ao elevador sem minha autorização digital. Márcia está de folga por três dias. A comida na geladeira. Sugiro que se acostume com sua nova realidade. Rodrigo. Ele parou na porta do escritório de costas para ela. Você me humilhou, Valentina, na frente de 300 pessoas. Destruiu o negócio mais importante da minha carreira. Sua voz estava fria como gelo. Agora vai pagar o preço.
A porta do escritório se fechou. Valentina ouviu a tranca automática clicar. Ela estava presa. Tr dias, 72 horas de claustrofobia em uma gaiola de luxo. Valentina tentou tudo, ligou para Lucas, celular bloqueado, tentou sair pela escada de emergência, trancada com código digital. procurou o telefone fixo, desconectado. Rodrigo não saía do escritório.
Ela ouvia o som de conversas telefônicas abafadas, teclado de computador sendo digitado furiosamente. Ele estava trabalhando, sempre trabalhando. A comida que ele dissera haver na geladeira era mínima: frutas, iogurte, água, como se ele quisesse mantê-la viva, mas desconfortável. Na primeira noite, Valentina dormiu no sofá da sala, recusando-se a usar a sala de hóspedes. Na segunda, a exaustão venceu.
Na terceira, ela estava ficando desesperada. Foi procurando uma saída, qualquer saída que ela encontrou. O closet de Rodrigo estava destrancado. Ela não deveria entrar. Sabia disso. Mas três dias de prisão destruíram qualquer senso de limites. Valentina abriu as portas duplas. O closet era maior que seu antigo apartamento.
Fileiras de ternos organizados por cor, gavetas de relógios caríssimos, sapatos que custavam mais que um carro. E então ela viu uma caixa de madeira no canto superior da estante. Valentina puxou uma cadeira, subiu nela e pegou a caixa. Era pesada. Tinha um pequeno cadeado, mas estava destrancado. Ela abriu e o mundo pareceu parar. fotos, dezenas, talvez centenas de fotos, todas dela.
Valentina em uma conferência de arquitetura apresentando um projeto. Valentina saindo do metrô. Valentina comprando café em uma padaria. Valentina rindo com amigos em um bar. As fotos eram antigas, muito antigas. Algumas datavam de três anos atrás, muito antes do acidente de Lucas, muito antes da proposta de casamento.
Com mãos trêmulas, Valentina pegou um caderno que estava embaixo das fotos. A capa era de couro, desgastada. Ela abriu na primeira página. A caligrafia era de Rodrigo e a data, 3 anos atrás, 5 de março. Vi uma mulher hoje na Conferência Nacional de Arquitetura. cabelos castanhos, olhos que brilhavam quando ela falava sobre construir casas populares sustentáveis.
“Ela é a mulher mais linda que já vi e ela nem sabe que eu existo.” Valentina virou as páginas, o coração disparado. 12 de março. Descobriu o nome dela. Valentina Silva, arquiteta formada pela USP. Trabalha em um escritório pequeno. Mora sozinha com o irmão mais novo. Não consigo parar de pensar nela. 20 de abril. Assisti sua apresentação novamente. Gravei o vídeo.
Ouço sua voz toda a noite antes de dormir. Isso é obsessão, eu sei, mas não consigo parar. 15 de julho. Segui ela hoje. Ela foi a uma livraria. Comprou três livros de Gabriel Garcia Marques. Também gosta de realismo fantástico. Temos isso em comum. Ela não sabe, mas eu sei tudo sobre ela. Lágrimas desciam pelo rosto de Valentina.
Ela continuou lendo, virando páginas que documentavam três anos de obsessão meticulosa. 3 de outubro. Vi ela chorando hoje no metrô. Provavelmente teve um dia ruim. Queria consolá-la. Queria dizer que tudo ficaria bem, mas sou um covarde. Apenas observo de longe, como sempre faço. E então ela chegou à última entrada, datada de seis meses atrás. 10 de abril.
Descobri que o irmão dela se acidentou. As dívidas hospitalares são insuperáveis. Ela vai perder tudo. Esta é minha chance. A única chance de tê-la perto de mim. Eu a comprarei. Pagarei as dívidas e ela será minha, mesmo que seja apenas por obrigação, mesmo que ela nunca me ame. Valentina soltou o caderno, as mãos tremendo violentamente.
Rodrigo não a escolhera por conveniência. Ele a observava há tr anos. Ele planejara tudo. O acidente de Lucas apenas deu a ele a oportunidade perfeita de executar uma obsessão que começara muito antes. Encontrou meu segredo. A voz de Rodrigo fez Valentina pular. Ela girou segurando a caixa contra o peito.
Ele estava encostado no batente da porta do closet, os braços cruzados. Não havia raiva no rosto, apenas cansaço. Você A voz de Valentina tremeu. Você me observava há anos. Sim, você me perseguia. Sim, você manipulou o acidente do Lucas para me ter. Não. Rodrigo balançou a cabeça, dando um passo para dentro do closet. Eu não causei o acidente, mas quando soube vi uma oportunidade e a aproveitei.
Valentina sentiu náusea revirar o estômago. Você é um monstro, provavelmente. Rodrigo pegou uma foto da caixa. Era Valentina rindo em um café, mas sou um monstro apaixonado e isso me torna ainda mais perigoso. Isso não é paixão, é obsessão doentia. Eu sei. Rodrigo olhou para a foto com uma tristeza profunda. Acredite em mim, Valentina. Eu sei exatamente o que sou.
Sei que sou quebrado. Sei que não deveria ter feito isso. Mas quando você é incapaz de amar normalmente, faz o que pode. E o que eu podia fazer era comprar dois anos da sua vida e fingir que você era a minha por escolha, não por desespero. Lágrimas de raiva e algo mais complicado queimavam os olhos de Valentina. Me liberte agora. Não, Rodrigo, eu te amo.
As palavras saíram cruas, sem filtro. Eu te amo de um jeito doente e obsessivo, que provavelmente precisa de terapia, mas é amor e se te deixar ir agora, nunca mais teverei. Então não, não vou te libertar. Valentina deixou a caixa cair no chão, fotos espalhando pelo piso de mármore. Ela caminhou até Rodrigo e fez algo que ele não esperava.
Ela o esbofeteou, a cabeça dele virou com um impacto. Um fio de sangue escorreu do lábio inferior, mas ele não se moveu, apenas aceitou. Me liberte. Valentina repetiu a voz baixa e perigosa. Ou eu grito até alguém ouvir e você será preso por cárcere privado. Rodrigo limpou o sangue do lábio com o polegar. Seus olhos encontraram os dela.
Dourado contra castanho, obsessão contra raiva. Está bem. Ele se afastou pegando o celular. Alguns toques. Seus cartões estão ativos. Contas desbloqueadas. Os seguranças foram liberados. Você pode sair. Valentina piscou surpresa. Assim tão fácil? Não há nada de fácil nisso. Rodrigo puxou papéis da gaveta do closet.
Estes são os documentos de divórcio. Já estão preenchidos. Só falta sua assinatura e a minha. Ele assinou primeiro, bem na frente dela, sem hesitar. Pronto. Rodrigo empurrou os papéis para ela. Você está livre, Valentina. A prisão nunca foi essa cobertura. Era eu, era minha obsessão e não vou mais te prender com ela.
Valentina olhou para os papéis, para a assinatura de Rodrigo, para o homem que a comprara, a prisionara e agora a libertava. Por quê? Ela perguntou confusa. Por que agora? Porque eu percebi algo nos últimos três dias. Rodrigo guardou a caneta a voz rouca. Te ter aqui, sabendo que você me odeia é pior do que não te ter de jeito nenhum. Prefiro viver com a sua ausência do que com o seu desprezo. Ele caminhou até a porta parando antes de sair. Pode ficar na cobertura até se organizar.
Eu vou para o hotel. Lucas pode morar aqui o tempo que precisar. A pensão de divórcio foi depositada na sua conta. R 5 milhões de reais, sem condições. E Valentina? Ela o encarou, lágrimas descendo silenciosamente. Sinto muito. Por tudo. Você merecia um homem que te amasse de jeito certo. Não um monstro que nunca aprendeu como. Rodrigo Almeida saiu levando apenas uma mala.
E Valentina Silva ficou sozinha em uma cobertura de R$ 100 milhões de reais, segurando papéis de divórcio que libertariam ambos de uma mentira. Mas por que então seu coração estava partido em pedaços? Valentina não assinou os papéis. Não, imediatamente. Ela passou dois dias na cobertura vazia, evitando o closet onde as fotos estavam espalhadas, evitando pensar no caderno que documentava três anos de obsessão de Rodrigo. Lucas voltou no terceiro dia.
Ele percebeu imediatamente que algo estava terrivelmente errado. “Vau! Onde está o Rodrigo?” Foi embora. Valentina estava enrolada em um cobertor no sofá, assistindo a um filme que não processava. Nos divorciamos. O quê? Lucas largou a mochila da faculdade. Como assim se divorciaram? Vocês mal casaram. Foi complicado. Desclica.
Então, Valentina contou tudo. O acordo inicial, o baile, Isabela, a prisão, as fotos, a obsessão. Lucas ouviu em silêncio crescente, o rosto passando de confusão para choque, para algo que Valentina não conseguiu identificar. Ele te observava há três anos. Lucas repetiu, processando. Sim, e manipulou meu acidente para se casar contigo.
Não causou, mas aproveitou a oportunidade. Lucas se levantou, começando a andar de um lado para o outro. Isso é insano. É doento. É, eu sei. Valentina enterrou o rosto nas mãos. Eu sei tudo isso. Então, por que eu não consigo assinar os malditos papéis? Lucas parou. Você está apaixonada por ele. Não estou.
Valentina se levantou tão rápido que ficou tonta. Ele me comprou, me prendeu. É um psicopata obsessivo que pagou minhas dívidas, que me levou para Boston, que leu Dom Casmurro ao meu lado enquanto eu estava em coma. Valentina fechou a boca. Ele te contou sobre isso? Lucas perguntou gentilmente. Um enfermeiro comentou. Val.
Rodrigo não foi a Boston só 12 vezes. Lucas se sentou ao lado da irmã pegando a mão dela. Ele foi todas as semanas por quase um ano. Antes do casamento de vocês, antes até de você saber que ele existia. O mundo pareceu inclinar. O quê? Eu acordei uma vez por alguns segundos antes da cirurgia. Rodrigo estava lá.
Ele estava segurando minha mão e dizendo: “Você precisa acordar. Sua irmã precisa de você e eu preciso dela. Lágrimas escorreram pelo rosto de Valentina. Por que você não me contou? Achei que tinha sido um sonho induzido por remédios. Lucas apertou a mão dela, mas depois, quando acordei de verdade, perguntei aos enfermeiros. Eles confirmaram. Um homem de terno vinha toda quinta-feira. Ficava horas sentado ao meu lado, lendo em voz alta.
Valentina cobriu a boca com a mão, soluçando. Ele nunca mencionou isso porque ele é um idiota emocionalmente incompetente. Lucas limpou as lágrimas dela com o polegar. Mas Val, ele te ama de um jeito torto e assustador, mas ama. E eu acho, eu acho que você também o ama. Mesmo se eu amasse, Valentina fungou. Isso não muda o que ele fez.
Ele me mentiu, me manipulou. Sim. E você tem todo o direito de não perdoá-lo. Lucas se levantou. Mas se não vai perdoar, então assina os papéis e segue em frente, porque ficar nesse limbo vai te destruir. Valentina assinou os papéis. Era uma sexta-feira chuvosa. Ela pegou os documentos, uma caneta e assinou com mão firme feito.
Mas quando foi levar os papéis ao escritório de Rodrigo para deixá-los para ele pegar, ela viu algo na mesa, uma carta endereçada a ela com a caligrafia de Rodrigo. Valentina sabia que não deveria ler. Deveria apenas deixar os papéis sair daquela cobertura e nunca mais olhar para trás. Mas ela abriu a carta.
Valentina, se você está lendo isso, significa que assinou os papéis. Não te culpo. Na verdade, te admiro por ter demorado tanto. Eu teria me divorciado de mim mesma no primeiro dia. Não sei como começar a me explicar sem soar ainda mais doente do que já sou. Então vou ser direto.
Te vi pela primeira vez há três anos, conferência nacional de arquitetura. Você estava no palco apaixonada pelo projeto de moradias sustentáveis. E algo em mim quebrou. ou consertou, não sei explicar. Minha vida inteira foi contratos, números, negócios. Nunca senti nada real. E de repente ali estava você, real, vibrante, viva. E eu quis isso.
Quis você, quis sentir o que fosse que te fazia brilhar daquele jeito. Mas eu não sabia como fazer. Não sabia como conversar com você, como me apresentar, como ser normal. Então, fiz o que sabia fazer. Observei, estudei, planejei, torno-me obsecado. Eu não dormi direito em três anos, Valentina. Toda noite eu assistia o vídeo da sua apresentação, lia suas postagens em redes sociais, imaginava conversas que nunca teríamos e sabia, sabia que era doento, mas não conseguia parar.
Quando soube do acidente do Lucas, meu primeiro pensamento foi: “Essa é minha chance e Deus, me odeio por isso. Me odeio por ter transformado a tragédia da sua família em oportunidade, mas eu era tão desesperado para te perto que menti para mim mesmo, dizendo que estava te salvando quando na verdade estava te aprisionando.
A verdade é esta: Eu te amo. Amo de um jeito que provavelmente precisa de anos de terapia. Amo de um jeito que assusta até a mim mesmo, mas é o único jeito que sei amar. Você merece mais. Merece um homem que te corteje com flores, não com contratos, que te conquiste com palavras bonitas, não com chantagem financeira.
Que te ame de jeito normal, não com obsessão de 3 anos e closets cheios de fotos. Estou te libertando porque essa é a única coisa boa que fiz em toda essa bagunça. Você voa agora que eu vou aprender a viver com o vazio que você deixa. Não me perdoe, por favor, não me perdoe. Apenas seja feliz. Rodrigo. Valentina leu a carta três vezes, depois uma quarta e uma quinta.
E então ela percebeu algo que deveria ter percebido muito antes. Rodrigo Almeida nunca aprendera a amar porque ninguém nunca o amara. Seus pais eram casados por conveniência. Seu irmão morrera sozinho. Ele crescera em um mundo onde amor era fraqueza e emoção era algo a ser controlado ou eliminado.
E então ele a viu e pela primeira vez em sua vida sentiu algo incontrolável e não soube o que fazer com isso. Além de tentar possuir, documentar, aprisionar. Era errado. Deus era tão errado, mas também era trágico. Valentina pegou os papéis de divórcio assinados, olhou para a assinatura dela, para a de Rodrigo, e então ela rasgou tudo. Encontrar Rodrigo foi mais difícil do que esperava.
Ele não estava em nenhum hotel, não estava no escritório da empresa. Ligações iam direto para a caixa postal. Foi Lucas quem descobriu. Ele está em um apartamento que a empresa possui, rua Augusta. Uso comercial. Lucas mostrou o endereço no celular. Acho que está se escondendo. Valentina pegou um Uber. O trânsito estava infernal, mas ela não se importava.
Seu coração batia tão forte que ela tinha certeza de que todos no carro podiam ouvir. O prédio era corporativo, feio, nada como a cobertura luxuosa. Valentina convenceu o porteiro a deixá-la subir, dizendo que era esposa de Rodrigo.
O apartamento era no 10º andar. Ela bateu na porta três vezes. Nenhuma resposta. Rodrigo. Ela bateu mais forte. Eu sei que está aí. A porta se abriu. Rodrigo estava terrível. Cabelo despenteado, barba por fazer de dias, olhos vermelhos. Ele usava apenas calça de moletom e uma camiseta velha. Valentina nunca o vira tão humano. Valentina? Ele piscou confuso. O que você? Ela entrou sem esperar convite, fechando a porta atrás de si. Você mentiu. Eu sei.
Eu não sobre o casamento. Valentina o cortou. Você mentiu quando disse que visitou Lucas 12 vezes. Foram 62. Rodrigo ficou pálido. Você descobriu. Por que não me contou? Porque ele passou a mão pelos cabelos, um gesto de frustração que Valentina conhecia bem. Porque então você saberia que minha obsessão começou muito antes do acidente.
Saberia que planejei tudo meticulosamente e me odiaria ainda mais. Eu não te odeio. Silêncio. Rodrigo a encarou como se ela tivesse falado em língua alienígena. Você deveria. Eu sei. Valentina deu um passo em direção a ele. Mas não odeio. E sabe por quê? Porque você foi a primeira pessoa em três anos que não me tratou como vítima, coitadinha. Você não me ofereceu pena.
Me ofereceu um acordo desrespeitoso e manipulador, mas um acordo. Valentina, você salvou meu irmão, não por bondade, por obsessão, mas salvou. E ficou ao lado dele lendo livros quando não precisava, quando eu nem sabia que você existia. Lágrimas escorriam pelo rosto de Rodrigo. Agora eu não sou bom, Valentina. Não sou o herói dessa história. Eu sei.
Ela estava tão perto agora que podia sentir o calor dele. Mas também não é o vilão. Você é apenas quebrado. E talvez eu também seja. E talvez dois quebrados possam se consertar juntos. Você não pode me perdoar. Eu te prendi. Eu sei. E ainda estou furiosa com isso. Valentina colocou a mão no peito dele, sentindo o coração disparado. Mas também entendo.
Você nunca aprendeu a amar de jeito certo, porque ninguém nunca te amou de jeito certo. Rodrigo cobriu a mão dela com a sua. Não sei como amar sem controlar, então vamos aprender juntos. Valentina ergueu o queixo, enfrentando o olhar dourado dele. Terapia, limites, comunicação honesta, nada de segredos, nada de manipulação.
Você realmente me daria uma segunda chance depois de tudo? Não sei, Valentina admitiu, mas quero descobrir, porque quando estou com você, mesmo com toda a loucura, eu me sinto viva, e isso assusta, mas também é excitante. Rodrigo puxou-a para um abraço tão apertado que ela mal conseguia respirar.
Ele enterrou o rosto nos cabelos dela e Valentina sentiu lágrimas molhar em sua cabeça. “Eu te amo”, ele sussurrou. Deus, eu te amo tanto que dói. Eu sei. Valentina abraçou de volta. Agora me ensina a te amar sem te odiar. E ali, naquele apartamento feio na rua Augusta, dois corações quebrados começaram o processo doloroso e lindo de aprender a amar de jeito certo. Duas semanas depois, Valentina e Rodrigo não estavam vivendo juntos.
Não, ainda. Era cedo demais para isso. Rodrigo estava fazendo terapia três vezes por semana. Valentina duas. Eles se encontravam para jantares, mas sempre em locais públicos, sem pressão, sem controle. Era estranho recomeçar um casamento que nunca foi real para torná-lo real, mas estava funcionando até que a carta chegou.
Valentina estava no pequeno apartamento que alugara, modesto, mas seu, quando o envelope dourado foi entregue. Logo da Guinzatelier Bomon, uma das firmas de arquitetura mais renomadas do mundo, sediada em Paris. Ela abriu com mãos trêmulas. Cara Senrita Silva, temos o prazer de oferecer-lhe uma posição em nosso escritório de Paris. Seu projeto de moradias sustentáveis chamou nossa atenção e acreditamos que sua visão se alinharia perfeitamente com nossa missão. Salário inicial, 120.000 anuais.
Benefícios completos. Assistência com visto de trabalho e moradia. Início 1eiro de novembro. Aguardamos sua resposta cordialmente. Atelier Bomon. Valentina leu três vezes. Depois uma quarta. Paris. Seu sonho desde a faculdade, trabalhar em uma firma que ela admirava, salário que mudaria sua vida. Era perfeito.
Ela ligou para Rodrigo imediatamente. Oi. A voz dele estava mais quente agora, menos controlada. Recebi uma proposta de emprego em Paris. Silêncio do outro lado. Paris. Rodrigo repetiu. E Valentina ouviu algo quebrar na voz dele. Na França? Sim. Por quanto tempo? permanente. Mais silêncio, é uma grande oportunidade.
Rodrigo finalmente disse, mas a voz estava tensa. Você deveria aceitar. Eu estava pensando. Aceite, Valentina. Ele cortou. É o que você sempre quis. Arquitetura em nível internacional. Não deixe nada te prender. Nem eu. Rodrigo, tenho uma reunião. Conversamos depois. Ele desligou. Valentina ficou olhando para o celular, o coração pesado. Ela sabia o que aquilo significava. Rodrigo estava deixando ela ir porque a amava.
Ela aceitou a proposta. Três dias depois, Valentina estava organizando documentos para o visto quando recebeu uma ligação da atelier Bomon. “Senrita Silva.” A voz do outro lado era tensa. Lamentamos informar que houve um erro. A posição não está mais disponível. O estômago de Valentina despencou.
“Como assim? Vocês me enviaram uma oferta formal, questões internas. Pedimos desculpas pelo inconveniente, mas eu já recusei outras ofertas, já avisei meu escritório atual. Novamente nossas desculpas. A ligação terminou. Valentina ficou paralisada. Aquilo não fazia sentido. Ofertas formais não eram canceladas assim de repente.
A não ser que ela ligou para Lucas. Preciso que você investigue algo para mim. Lucas era estudante de ciência da computação e tinha contatos em lugares duvidosos. Em duas horas, ele descobriu a verdade. Val, você não vai gostar disso. Lucas mostrou o laptop. Ateli Bomon foi parcialmente comprada na semana passada.
40% das ações foram para uma holding chamada Serpentis Internacional. E Serpentis é uma subsidiária da Almeida Holdings. Valentina sentiu o mundo inclinar. Rodrigo, ele comprou parte da empresa e usou influência para cancelar sua oferta. Lucas tinha raiva na voz. Val, ele sabotou seu emprego. Algo quebrou dentro de Valentina. Não era só raiva, era traição profunda.
Depois de tudo, depois das promessas, depois da terapia, Rodrigo voltara a controlá-la. Valentina invadiu o escritório da Almeida Holdings como um furacão. Empurrou a secretária que tentou pará-la, chutou a porta de Mógno do escritório de Rodrigo com tanta força que a dobradiça rachou. Rodrigo estava ao telefone.
Ele desligou imediatamente ao vê-la. Valentina, você sabotou meu emprego? Ela gritou jogando o laptop de Lucas na mesa até ela mostrava a transação. Comprou 40% da atelier Bomon para me impedir de ir para Paris. Rodrigo se levantou devagar, as mãos levantadas em gesto apaziguador. Deixa eu explicar. Explicar o quê? Lágrimas de raiva desciam pelo rosto dela.
Que você mentiu? que fingiu estar mudando, que a terapia era só teatro para me manter presa. Não. Rodrigo deu a volta na mesa. A terapia é real, mas Paris. Sua voz quebrou. Paris é longe demais. Eu não posso te deixar ir. Você não tem escolha. Eu te amo. Rodrigo agarrou os próprios cabelos, parecendo desesperado. E amor para mim é aterrorizante, porque significa perder controle. E se você for para Paris, eu te perco.
Então você me aprisiona de novo. Valentina estava incrédula. Depois de tudo, depois de eu te dar uma segunda chance, eu sei que é errado. Rodrigo caiu de joelhos na frente dela. E Valentina nunca ouvira assim, despedaçado. Eu sei que sou doente, mas te perder é pior que qualquer coisa. Por favor, Valentina, me ensine a te deixar ir, porque sozinho eu não consigo.
Valentina o encarou. Esse homem poderoso, de joelhos, implorando. E ela percebeu algo fundamental. Rodrigo nunca mudaria sozinho. Ele era como um viciado. Sempre haveria recaídas, sempre haveria controle, sempre haveria obsessão e ela não poderia salvá-lo. Só ele poderia fazer isso. Libere meu emprego Valentina disse a voz firme.
Registre o divórcio. Se você realmente me ama, me deixe ir. E se eu fizer isso? Rodrigo olhou para cima, os olhos dourados, devastados. Você volta algum dia? Não sei. Isso é tudo que tenho. Um talvez. É mais do que você me deu quando me comprou. Silêncio.
Rodrigo se levantou lentamente, pegou o celular, fez uma ligação. Marcos, reverta a compra da Bomon. Agora não. Não há discussão. Faça. Ele desligou. Depois pegou papéis da gaveta. novos papéis de divórcio. Assinou na frente de Valentina. Pronto, estou fazendo o que você pediu. Suas mãos tremiam. Mas antes de você ir, há algo que você precisa saber.
O quê? Rodrigo entregou um envelope. Abra isso quando estiver em Paris. Valentina pegou o envelope desconfiada. O que é a verdade? Toda ela. Rodrigo recuou, colocando as mãos nos bolsos. E depois que ler, se ainda quiser que eu desapareça da sua vida, eu desaparecerei. Rodrigo, vá. Ele virou de costas para ela. Vá para Paris. Seja feliz. E Valentina? Ela parou na porta.
Obrigado por tentar me salvar, mesmo eu não merecendo. Valentina saiu com o coração despedaçado em direções opostas. Quatro dias depois, ela estava em um voo para Paris e o envelope de Rodrigo estava intacto na bagagem de mão, queimando como segredo não revelado. Paris era tudo que Valentina sonhara e nada do que ela queria.
O apartamento que a atelier B providenciou era charmoso, teto com vigas expostas, janelas com vista para a torre Eifel, varandinha onde ela podia tomar café toda manhã. O trabalho era desafiador e gratificante, os colegas acolhedores, mas havia um vazio.
Todas as noites, Valentina olhava para o envelope lacrado de Rodrigo e todas as noites decidia não abrir, porque abrir significava enfrentá-lo e ela não estava pronta. Dois meses passaram. Valentina fez amigos, explorou cafés escondidos, visitou museus, aprendeu francês básico, projetou uma escola comunitária que seria construída em um bairro pobre. Era uma boa vida, mas era incompleta. “Você está apaixonada”, disse Camille, uma colega francesa durante almoço, em uma bracerie. Isso é óbvio. Não estou. Valentina cortou o croassan com mais força que o necessário.
Sherry, você olha para Notreddame e suspira, para macarrons e suspira, para pombos e suspira. Tudo te lembra dele. Valentina largou o garfo. Ele me mentiu, me controlou, me sabotou. Sim, e claramente você ainda o ama. Camille deu de ombros de forma muito francesa. Amor não escolhe homens perfeitos. Se escolhesse, eu não teria me casado com meu marido, que nunca tira meias fedorentas. Apesar de tudo, Valentina riu.
Mas Camil estava certa. Paris estava cheio de Rodrigo. Ela via homens de terno e pensava nele. Ouvia Chopan e lembrava das noites no terraço. Até o café amargo do escritório lembrava os jantares silenciosos. No terceiro mês, Lucas foi visitá-la. Eles se encontraram em um café perto do Arco do Triunfo.
Lucas estava diferente, mais saudável, mais forte, sorrindo de um jeito que ele não sorria há anos. Você está bem? Valentina o abraçou. Você está terrível. Lucas retrucou. Quando foi a última vez que dormiu? Durmo. Mentirosa. Eles se sentaram. Lucas pediu dois expressos e depois puxou um pen drive do bolso. Vim aqui para te dar isso.
O que é a verdade? Lucas deslizou o pen drive pela mesa. Sobre Rodrigo, sobre meu acidente, sobre tudo. Valentina franziu a testa. Lucas, só assiste, Val. Os olhos dele estavam sérios. e depois decide se ainda quer continuar odiando ele. Valentina assistiu ao vídeo naquela noite. Estava sozinha no apartamento, vinho na mão, coração acelerado. O vídeo começou com Lucas falando diretamente para a câmera.
Val, você merece saber a verdade completa e eu precisava te contar pessoalmente. Então, aqui está. Ele respirou fundo. Meu acidente não foi acidente. Lucas disse. E Valentina congelou. Eu estava devendo dinheiro para traficantes. Muito dinheiro. 200 milhões. Eles iam me matar se eu não pagasse. Então eu eu tentei fugir. Foi por isso que bati o carro. Estava sendo perseguido. Lágrimas caíram pelo rosto de Valentina.
As dívidas do hospital, metade era real, mas a outra metade era com criminosos. E eles não iam esperar. Eles iam me encontrar no hospital e acabar comigo. Lucas limpou as lágrimas. Rodrigo descobriu, não sei como, mas ele apareceu uma noite, três semanas antes de você saber de qualquer coisa.
E ele, Val, ele enfrentou esses homens sozinho, pagou tudo e ainda ofereceu mais para eles nunca mais se aproximarem de mim. O vídeo mudou. Agora mostrava filmagens de segurança Grainy, Rodrigo em um armazém escuro, cercado por cinco homens armados. Ele estava calmo, aterrorizantemente calmo, negociando. Ele poderia ter morrido. Lucas continuou, mas não recuou.
Pagou R$ 500.000 para me salvar. E depois, quando eu acordei, pagou minha reabilitação em clínica privada, pagou terapia para meu vício, pagou minha volta à faculdade. Tudo sem você saber. Valentina soluçava agora. Ele visitava toda semana. Ficava horas lendo, conversando comigo mesmo quando eu ainda estava em coma.
Os médicos diziam que minha recuperação foi milagrosa, mas Val foi Rodrigo. Foi ele que nunca desistiu. O vídeo mudou novamente. Agora era uma gravação tremida de celular. Valentina reconheceu a cena imediatamente. Era uma festa dois anos atrás. Ela estava bêbada, tropeçando. Um homem a segurava pelos ombros, tentando arrastá-la para fora. E então Rodrigo apareceu.
Ele empurrou o homem com violência, pegou Valentina no colo e a levou para um táxi. No vídeo dava para ouvi-lo, dizendo: “Você está segura agora. Eu te protejo”. Valentina nem lembrava daquela noite. Acordara em casa, achando que uma amiga a levara. Mas fora, Rodrigo, sempre fora, Rodrigo. O vídeo voltou para Lucas.
Ele te amou por três anos sem você saber, te protegeu, me salvou, fez tudo errado, de jeito doentil e obsessivo, mas Walter ele fez e nunca pediu nada em troca, até que viu a chance de ter você perto. Lucas se inclinou para a câmera. Não estou dizendo para perdoá-lo. Só estou dizendo que você merece saber a história completa antes de decidir. O vídeo terminou.
Valentina ficou olhando para a tela preta, lágrimas escorrendo em silêncio. Rodrigo não apenas a observara, ele a protegera. Salvara Lucas não uma, mas dezenas de vezes. Arriscara a própria vida enfrentando criminosos. E nunca contara, porque não queria que ela se sentisse em dívida. Com mãos tremendo, Valentina finalmente abriu o envelope que Rodrigo dera. Dentro havia uma carta e uma foto.
A foto era antiga, desbotada. Mostrava um menino de talvez 10 anos, abraçado com outro garoto um pouco mais velho. Ambos sorriam. Valentina reconheceu o menino mais novo. Era Rodrigo. O mais velho devia ser Felipe. A carta dizia: “Valentina, esta é a única foto que tenho com meu irmão, onde ambos estamos felizes. Foi tirada duas semanas antes dele começar a usar drogas.
Duas semanas antes de nossa família desmoronar.” Quando Felipe morreu, jurei que nunca deixaria ninguém morrer sozinho de novo. Nunca deixaria alguém sofrer sem ajuda. E então vi Lucas e vi você e vi a chance de finalmente fazer algo certo. Salvei seu irmão porque não pude salvar o meu. Amei você porque finalmente senti algo além de vazio. Fiz tudo errado.
Controlei porque estava com medo de perder. Menti porque estava com medo da verdade, mas há uma verdade que nunca menti. Eu te amo e amar você me tornou humano de novo. Não precisa voltar. Não precisa me perdoar. Só precisava saber que tudo que fiz, mesmo as partes doentias, foi porque te amo de um jeito que não sei nomear. Seja feliz em Paris. É o que sempre quis para você, Rodrigo.
PS: Há um projeto em anexo. É o projeto dos seus sonhos. moradiaas sustentáveis que finalizei usando suas ideias. Está sendo construído agora em seu nome, não por você me amar de volta, mas porque você merece ver seus sonhos virarem realidade. Valentina pegou o pen drive. Dentro havia os planos completos de um complexo habitacional sustentável, enorme, lindo, exatamente como ela sonhara.
E no canto de cada planta, em letras pequenas, projetado por Valentina Silva, sonhado por um coração que acredita em casas, não prisões. Valentina desmoronou. chorou por horas, por Rodrigo, por Lucas, por eles dois, por tudo que perderam e tudo que poderiam ter sido. E quando as lágrimas finalmente secaram, ela pegou o telefone e comprou uma passagem, não para São Paulo, para um lugar ainda mais importante.
Valentina chegou ao Luvre em uma quinta-feira chuvosa. Lucas descobrira, através de redes sociais de conhecidos em comum, que Rodrigo estaria em Paris essa semana, uma conferência de investidores, e que ele passaria à tarde de quinta no Louvre algo sobre clarear a cabeça. Valentina comprou um vestido novo, verde esmeralda, o mesmo tom do baile fatídico, uma escolha proposital.
Ela o encontrou na ala de esculturas gregas, parado sozinho em frente a Vênus de Milo. Rodrigo estava diferente, mais magro. O terno que sempre servira perfeitamente, agora estava ligeiramente largo nos ombros. A barba estava mais longa que o habitual e havia olheiras profundas sobre os olhos.
Ele parecia destruído. Valentina se aproximou em silêncio. Quando estava a 3 m, Rodrigo falou sem se virar. Eu senti você entrar. Ela parou. Como sempre sinto quando você está perto. Rodrigo finalmente se virou. Seus olhos dourados se arregalaram ao vê-la. Valentina. Ele disse o nome dela como oração, como se não acreditasse que era real. Você está em Paris.
Ele deu um passo em direção a ela, depois parou como se tivesse medo de assustá-la. Por quê? Vi o vídeo. Valentina disse simplesmente e li sua carta. Rodrigo fechou os olhos. Lucas não deveria. Ele devia. Valentina deu um passo. Porque eu merecia saber a verdade, toda ela. E agora que sabe. Rodrigo abriu os olhos. Havia medo ali. Medo real. Me odeia ainda mais. Deveria.
Valentina deu mais um passo. Você ainda me controlou. Ainda mentiu. Ainda me manipulou. Eu sei. Mas também salvou Lucas. Arriscou sua vida, me protegeu quando nem sabia que eu existia. Mais um passo. Eles estavam perto, agora perto o suficiente para tocar. Construiu meus sonhos quando achei que tinha perdido tudo. Lágrimas desciam pelo rosto de Rodrigo. Não chore por mim, Valentina.
Não mereço. Não, você não merece. Ela colocou a mão no peito dele, sentindo o coração disparado. Mas eu também não mereço um homem que me ame tão completamente, que quase se destrói no processo. O que você está dizendo? Valentina olhou nos olhos dourados que a assombravam há meses. Estou dizendo que talvez possamos recomeçar de verdade dessa vez, sem mentiras, sem manipulação, com terapia real, limites reais.
E se você pisar fora da linha uma vez, eu sumo e você nunca mais me encontra. Rodrigo soltou um som entre riso e soluço. Você Você Você me daria outra chance mesmo depois de tudo? Não sei. Valentina foi honesta. Mas quero tentar, porque estar em Paris sem você foi a coisa mais vazia que já senti. E descobrir que você me amava quando eu não sabia que você existia. Isso mudou tudo.
Rodrigo caiu de joelhos ali mesmo no meio do Luvre, sob o olhar da Vênus de Milo e duas dezenas de turistas chocados. Valentina Silva, sua voz tremeu. Eu não mereço você. Nunca merecerei. Mas se me der essa chance, passarei o resto da vida tentando ser digno. Case comigo de verdade dessa vez. Não por contratos, não por dinheiro, mas porque te amo, porque você é a única coisa real que já tive.
Ele puxou uma caixa do bolso, um anel de diamante, simples, delicado, completamente diferente do anel falso do casamento anterior. Este anel não tem cláusulas, não tem condições, só tem amor. Amor torto, doentio, obsessivo, mas amor de verdade. Valentina olhou para o homem ajoelhado, para o anel, para o futuro incerto, e disse: “Sim, com condições.” Rodrigo piscou. Condições. Terapia semanal sem faltar.
Valentina contou nos dedos. Você fecha a empresa por seis meses e tira férias. Primeiras férias reais da sua vida. Viajamos juntos. Aprendemos a ser pessoas normais antes de sermos casal. Feito. E se você pisar fora da linha? Se tentar me controlar, manipular ou prender de qualquer forma? Valentina se abaixou, ficando na altura dele. Eu desapareço. E dessa vez você não me encontra. Entendido. Entendido.
Rodrigo sorriu através das lágrimas. Mais alguma coisa? Me beija. Valentina sussurrou. Me beija de verdade, não para câmeras, não para show, só porque me ama. Rodrigo puxou-a para um beijo que era tudo. Desespero, alívio, amor, promessa.
As mãos dele tremiam ao tocar o rosto dela, como se ela fosse feita de vidro e pudesse quebrar. Aplausos ecoaram pelo museu. Turistas tiravam fotos. Alguém gritou: “Ui”. Em francês quando se separaram, Rodrigo colocou o anel no dedo dela. “Prometo tentar todos os dias.” Ele disse: “Prometo não ser perfeito, mas tentar. É tudo que peço.” Valentina limpou as lágrimas do rosto dele.
Agora me leva para jantar, um jantar de verdade, onde conversamos sobre tudo sem segredos. Sem segredos? Rodrigo concordou. Eles saíram do Luvre de mãos dadas e pela primeira vez em três anos de obsessão e se meses de casamento falso, Rodrigo Almeida e Valentina Silva começaram algo de verdade, assustador, incerto, real e talvez, apenas talvez pudesse funcionar. O pedido no Luvre viralizou.
Em 12 horas, o vídeo de Rodrigo Ajoelhado tinha 5 milhões de visualizações. Hashtags Love in Luvre e Kunto Second Chances estavam trending no Twitter. A imprensa brasileira enlouqueceu, mas Valentina não se importava com nada disso. Ela e Rodrigo passaram a noite inteira conversando em um pequeno restaurante francês escondido, depois caminhando pelas margens do Sena, sob a chuva fina, finalmente no quarto de hotel dele, onde ficaram acordados até o amanhecer, apenas conversando. Rodrigo contou tudo sobre a infância abusiva,
sobre assistir o pai bater na mãe e não poder fazer nada, sobre Felipe morrendo sozinho enquanto ele fechava negócios do outro lado do mundo. Sobre a obsessão que começou como admiração e se tornou doença, Valentina contou sobre o medo de falhar com Lucas, sobre se culpar pelo acidente, mesmo não tendo culpa, sobre sentir que não merecia felicidade, porque Lucas estava sofrendo.
Eram 5 da manhã. Quando Rodrigo finalmente pegou o telefone. “O que está fazendo?”, Valentina perguntou sonolenta, fechando a empresa por seis meses. Ele digitava rapidamente. Você disse que era condição. Estou cumprindo agora? Agora. Rodrigo enviou o e-mail. Pronto. Marcos assume tudo e eu eu tiro férias pela primeira vez em 15 anos. Valentina sorriu. E para onde vamos? Onde você quiser, quero lugares simples.
Valentina se aninhara contra ele. Não hotéis, cinco estrelas, acampamentos, hostels, lugares onde pessoas normais vão. Rodrigo beijou o topo da cabeça dela. Então vamos ser pessoas normais juntos. Eles estavam fazendo checkout do hotel dois dias depois, quando Isabela Monteiro apareceu. Ela estava no lobby com três advogados de ternos escuros segurando uma pasta grossa.
O sorriso no rosto dela era de predadora. Rodrigo! Ela se aproximou com saltos que ecoavam como tiros. Que coincidência te encontrar em Paris. Rodrigo imediatamente colocou o braço em volta da cintura de Valentina, um gesto protetor. Isabela, o que quer? Vim buscar o que me é devido. Isabela entregou a pasta para ele. R milhões de reais por quebra de contrato.
Você me prometeu exclusividade no projeto do complexo de uso misto. E então se casou com essa arquitetinha e sabotou tudo. Não houve contrato assinado. Rodrigo devolveu a pasta sem abrir. Houve acordo verbal na frente de testemunhas. Isabela estava triunfante. Meus advogados estão preparados para processar e ganharemos.
Então, ou você paga os 200 milhões, ou eu destruo sua reputação tão completamente que você nunca mais fecha um negócio em São Paulo. Silêncio. Valentina sentiu Rodrigo ficar tenso ao lado dela. Esse projeto era 5 anos de trabalho, sua obra prima, e agora estava sendo usado como chantagem. Quanto tempo tenho para decidir? Rodrigo perguntou a voz fria. 48 horas.
Isabela se virou para sair, mas parou e olhou para Valentina com desdém. Espero que tenha valido a pena. Escolher ela sobre 200 milhões. Deve ser muito boa de cama. Rodrigo deu um passo em direção a Isabela, com raiva nos olhos, mas Valentina o segurou. “Não vale a pena”, ela sussurrou. Isabela saiu com os advogados rindo.
No quarto de hotel, Rodrigo desmoronou no sofá a cabeça nas mãos. “Cos!”, ele murmurou. “Cos de planejamento! E ela vai tomar tudo, não vai? Valentina se ajoelhou na frente dele. Porque você não vai pagar? Se eu não pagar, ela me destrói. Então deixa. Valentina segurou o rosto dele, forçando-o a olhar para ela.
Deixa ela destruir o magnata Rodrigo Almeida, porque eu me apaixonei pelo homem quebrado que lê livros para pessoas em coma, não pelo bilionário. Valentina, você tem dinheiro suficiente para mil vidas? Ela continuou. Não precisa desse projeto, não precisa da aprovação dela ou de mais ninguém. O que precisa é aprender a viver sem essa armadura de sucesso.
Rodrigo puxou-a para um abraço apertado. Como você faz isso? Ele sussurrou. Como me faz querer ser melhor? Porque te amo. Valentina disse as palavras pela primeira vez. Deus me livre, mas eu te amo. O homem obsessivo, controlador, quebrado. Eu te amo. Rodrigo fez algo que Valentina nunca vira. Ele chorou de verdade. Soluços que sacudiam o corpo dele.
Anos de dor, controle, solidão, tudo saindo de uma vez. E Valentina segurou-o através de tudo. Rodrigo enviou um e-mail para Isabela naquela noite. Fique com os 200 milhões em processos. Fique com o projeto, fique com tudo. Estou desistindo do maior negócio da minha carreira porque descobri que há coisas mais importantes que dinheiro.
Como amar de jeito certo, como ser humano de verdade. Boa sorte destruindo um homem que não se importa mais com reputação. A resposta veio em 30 minutos. Era só uma linha. Homem que escolhe amor sobre dinheiro constrói coisas que duram. Esqueça o processo. Quero investir no próximo projeto. Se me deixar.
Rodrigo leu três vezes. Ela desistiu, aparentemente. Valentina estava surpresa também. Talvez pessoas não sejam só vilãs. Naquela noite no hotel, Rodrigo e Valentina fizeram amor. Não o sexo controlado e performático que seria esperado de um casal falso, mas algo real, vulnerável. Ele tremia ao tocá-la com medo de quebrá-la. Ela guiou suas mãos, mostrando que não quebraria.
E pela primeira vez desde que se conheceram, estavam completamente honestos. Depois, deitados emaranhados nos lençóis, Rodrigo traçou o rosto de Valentina com dedos reverentes. “Não desisti de nada”, ele disse. “Ganhei tudo.” Valentina beijou a palma da mão dele. “Agora vem a parte difícil. Aprender a viver sem ser o homem de negócios implacável.
Me ensina? Vamos aprender juntos.” E debaixo das estrelas parisienses, dois corações feridos começaram a jornada real de cura, a mais difícil, a mais assustadora, mas também a única que importava. Seis meses depois, a cerimônia aconteceu em Santorini, na Grécia. Não havia 300 convidados, apenas Lucas, Camille e o marido Eduardo Santos, que Rodrigo pedira desculpas pessoalmente, e Márcia, que chorou mais que a noiva. Valentina usava um vestido branco simples de linho, com flores no cabelo.
Rodrigo usava calça de alfaiataria e camisa branca, sem gravata, sem palitó. Ele estava bronzeado, o cabelo ligeiramente mais longo e havia algo diferente nos olhos. Paz. Eles trocaram votos escritos por eles mesmos, sem padre, apenas um juiz de paz local, Valentina. Rodrigo segurou as mãos dela a voz firme. Eu estraguei tudo na primeira vez.
Te comprei, te menti, te prendi, mas você me deu uma segunda chance que eu não merecia. E prometo que vou estragar de novo às vezes, porque sou humano e quebrado. Mas também prometo tentar todos os dias te amar de jeito certo, te honrar, te deixar voar. Lágrimas escorriam pelo rosto de Valentina. Rodrigo, você não é perfeito. E graças a Deus porque eu também não sou. Somos dois quebrados, aprendendo a existir juntos.
E talvez seja exatamente isso que amor de verdade é. Não encontrar alguém perfeito, mas alguém disposto a crescer ao seu lado. Eu te amo com todas as falhas, com toda a bagunça. O beijo selou promessas que dessa vez eram reais. Os seis meses de folga foram transformadores. Rodrigo e Valentina viajaram sem plano. Passaram três semanas acampando em parques nacionais na Nova Zelândia.
Duas semanas em hostel barato, em Budapeste. Um mês em um vilarejo na Tailândia ensinando crianças. Rodrigo aprendeu a fazer coisas simples: cozinhar, lavar louça, armar barraca, jogar futebol com crianças de rua. Valentina aprendeu a confiar, a deixá-lo ter momentos de controle sem entrar em pânico, a comunicar limites antes que fossem cruzados. A terapia continuava. Duas sessões por semana via videochamada.
Houve brigas, discussões terríveis onde pratos quase foram jogados. Momentos onde Rodrigo recaía em comportamento controlador e Valentina tinha que lembrá-lo das regras, mas eles não desistiam. Um ano depois do casamento real, eles retornaram ao Luvre, mesma ala de esculturas, mesma vênus de Milo, mas pessoas diferentes.
Faria tudo de novo? Valentina perguntou, olhando para a escultura. Não. Rodrigo a puxou para perto. Faria certo desde o começo. Te convidaria para um café normal, te conheceria normal, te cortejaria normal, mas então não seríamos nós. Verdade. Ele sorriu. Nossa história é torta, errada. Mas é nossa. Valentina se virou para ele. Não me arrependo de nada, nem das partes ruins, nem eu.
Eles ficaram ali dois sobreviventes de sua própria toxicidade, agora aprendendo a construir algo saudável. Epílogo: Dois anos depois. O escritório de arquitetura social ficava em um bairro simples de São Paulo. Não tinha o glamur da Almeida Holdings, mas tinha Alma. Valentina e Rodrigo fundaram juntos. Projeto Casas, não prisões.
Arquitetura sustentável para comunidades carentes sem lucro. Todo o dinheiro de Rodrigo investido em construir sonhos de outras pessoas. Eles moravam em uma casa em Parati, não cobertura, uma casa de verdade com jardim onde Valentina plantava vegetais e um escritório onde Rodrigo trabalhava sem a pressão de ser magnata.
Rodrigo ainda tinha dias ruins, dias onde o controle voltava, dias onde a obsessão se manifestava em verificar o celular dela ou ficar ansioso quando ela chegava tarde. Mas agora ele reconhecia, comunicava, voltava para terapia extra quando necessário. Valentina ainda tinha dias de insegurança, dias onde questionava se realmente deveria ter dado segunda chance, se amor realmente podia consertar alguém tão quebrado.
Mas então, Rodrigo fazia café do jeito que ela gostava, ou surpreendia com flores silvestres do jardim, ou simplesmente segurava-a nos dias ruins sem tentar consertar, apenas estando presente. E ela lembrava: Amor não era perfeição, era escolha. Uma noite chuvosa, dois anos depois do casamento real, eles dançavam descalços no jardim encharcado, sem música, apenas o som da chuva e dois corações batendo. “Feliz?”, Rodrigo perguntou, girando-a. “Absurdamente.
” Valentina riu. “Você? Mais do que mereço.” “Talvez mereça, sim.” Ela parou, encarando-o sob a chuva. “Porque você mudou? De verdade? Não perfeitamente, mas mudou”. Rodrigo beijou-a ali sob o dilúvio, em uma casa simples, longe da vida de bilionário que ele abandonara, e percebeu que não perdera nada, ganhara tudo, porque amor verdadeiro não precisava ser perfeito, só precisava ser verdadeiro. Co?
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