Me dê um herdeiro e eu te ajudo. Foi o que ele disse. Mas a noite do acordo o fez se perder no amor. Agora respira fundo, porque você está prestes a mergulhar em uma montanha russa de emoções. A chuva martelava as janelas do apartamento em venda nova, com aquela insistência típica de março em Belo Horizonte.
Ana Carolina Silva observa as gotículas deslizarem pelo vidro embaçado, cada uma parecendo carregar um pedaço da esperança que ela tentava manter viva. Aos 27 anos, arquiteta formada pela UFMG com especialização em design sustentável, ela nunca imaginou que estaria ali desempregada há 8 meses, afogada em dívidas e vendo sua mãe esquecer um pouco mais de si mesma a cada dia, o celular vibrou no sofá gasto. Mais uma resposta negativa de emprego, a 17ª do mês.
Mãe! Ana chamou, secando as lágrimas com as costas da mão antes que Maria pudesse ver. Quer um chá? Maria da Silva estava sentada na poltrona da sala, olhando para um ponto fixo na parede, com aquela expressão distante que se tornara frequente desde o diagnóstico de Alzheimer precoce.
Aos 52 anos, a mulher que criara Ana sozinha, que trabalhara como fachineira em três casas diferentes para pagar a faculdade particular da filha, agora lutava para lembrar se já havia almoçado. Filha Maria piscou lentamente, trazendo os olhos castanhos de volta ao presente.
Você já voltou da escola? O coração de Ana se apertou outra vez a escola. Maria achava que ela ainda tinha 15 anos. Já, mãe, faz tempo. Ana forçou um sorriso, ajoelhando-se ao lado da poltrona e segurando a mão enrugada da mãe. Estou crescida agora, lembra? Maria olhou para a filha como se a visse pela primeira vez.
Então, num lampejo de lucidez que se tornava cada vez mais raro, seus olhos se encheram de lágrimas. “Você está cansada, minha filha?” A voz saiu trêmula. “Eu te fiz isso?” Eu não. Ana apertou a mão dela. A senhora me deu tudo. Tudo, mãe. Mas tudo estava desmoronando. As contas sobre a mesa da cozinha eram uma pilha acusatória, 45.000 rales em dívidas. O medicamento principal de Maria, don Pesil custava 00 por mês.
O farmacêutico do bairro, Senr. Jorge, vinha segurando os preços antigos por piedade, mas até sua bondade tinha limites. A luz estava para ser cortada, a água também. Hana se levantou as pernas bambas e foi até a cozinha pegar o envelope com os últimos 300 Herenires que ganhara, fazendo um frila de design gráfico.
Três notas de R$ 100. Era tudo o que restava entre elas e o abismo total. O celular tocou de novo, número desconhecido. Provavelmente mais um credor, pensou Ana, mas atendeu mesmo assim. Talvez fosse alguma oportunidade de trabalho de última hora. Alô, Ana Carolina Silva. A voz era feminina, profissional, com aquele tom polido de quem trabalha em escritórios corporativos de alto padrão.
Sim, sou eu. Meu nome é Patrícia Santos. Sou assistente executiva do Sr. Carlos Roberto Mendes, da Mendes, construtora e incorporações. Houve uma pausa calculada. O Sr. Mendes gostaria de marcar uma reunião com a senhora. Amanhã às 14 horas em nosso escritório na Avenida Raja Gabaglia. Seria possível? Ana sentiu o coração acelerar. Mendes, construtora. Todo mundo em Belo Horizonte conhecia.
Carlos Roberto Mendes era praticamente uma lenda. Bilionário aos 33 anos. construíra um império do zero após herdar uma pequena construtora do pai. Era conhecido por ser implacável nos negócios e extremamente reservado na vida pessoal. Posso perguntar sobre o que seria a reunião? O Sr. Mendes prefere discutir pessoalmente. Patrícia manteve o tom cordial mais inflexível.
Posso confirmar sua presença? Cana olhou ao redor do apartamento minúsculo para a mãe perdida em seus próprios pensamentos para as contas sobre a mesa. O que ela tinha a perder. Estarei lá. Quando desligou, Ana percebeu que suas mãos tremiam. Algo naquela ligação parecia importante demais para ser apenas mais uma entrevista de emprego.
Havia uma urgência velada na voz de Patrícia, um peso nas palavras que sugeria que aquela reunião mudaria tudo se ao menos ela soubesse o quanto. O prédio comercial na Avenida Raja Gabalha era uma estrutura de vidro e aço que refletia o céu cinzento de Belo Horizonte como um espelho gigante. Ana parou na calçada, olhando para cima, sentindo-se minúscula diante daquela demonstração de poder e riqueza.
Seu único conjunto social, blazer preto, que já tinha 5 anos, e calça que ela mesma ajustara três vezes, parecia inadequado, mas era o melhor que tinha. O saguão tinha pé direito duplo, com uma recepção de mármore italiano que provavelmente custava mais do que Ana ganharia em toda sua vida. A recepcionista, uma mulher elegante, de cabelos presos em um coque perfeito, sorriu com profissionalismo ensaiado.
Ana Carolina Silva: “Sim, o Senr. Mendes está esperando. 22º andar, última porta à esquerda. O elevador era espelhado e Ana aproveitou a subida para verificar sua aparência. magra demais, havia perdido peso com o estresse, olheiras mal disfarçadas com o corretivo que restava no fim do tubo, mas os olhos, pelo menos, ainda tinham aquela determinação que Maria sempre dizia ser sua marca registrada.
O corredor do 22º andar era silencioso, revestido com madeira nobre. Ana sentiu o coração bater mais forte a cada passo. Quando chegou à última porta, respirou fundo e bateu entre. A voz era grave, firme, com uma autoridade natural que fazia as pessoas obedecerem antes mesmo de pensar. Ana girou a maçaneta. O escritório era enorme, com janelas do chão ao teto, que ofereciam uma vista panorâmica de Belo Horizonte.
A cidade se estendia como um tapete de prédios e montanhas, até onde os olhos alcançavam. Mas não foi à vista que roubou a atenção de Ana, foi ele. Carlos Roberto Mendes estava de pé ao lado da janela, as mãos nos bolsos de uma calça social perfeitamente cortada. Ele usava camisa branca com as mangas dobradas até os cotovelos, revelando antebraços musculosos.
O cabelo preto estava levemente desalinhado, como se ele tivesse passado as mãos nele recentemente. Mas foram os olhos que aprenderam, castanhos escuros, intensos, analíticos, olhos que pareciam ver através de máscaras e defesas. “Senhorita Silva!” Ele se aproximou, estendendo a mão. “Obrigado por vir”. Ana apertou a mão dele, surpreendendo-se com o calor e a firmeza do aperto. “Obrigada pelo convite, senor Mendes.
Embora eu confesse que não faço ideia do motivo.” Um sorriso mínimo tocou os lábios dele. “Sente-se, por favor.” Ana se sentou em uma das poltronas de couro diante da mesa, observando enquanto Carlos contornava a mesa e se sentava de frente para ela. Ele abriu uma pasta e Ana reconheceu imediatamente o que estava dentro.
Seu currículo, seu portfólio, cópias de projetos que ela fizera na faculdade. Seu trabalho me impressionou. Carlos folhou as páginas com dedos ágeis, especialmente seu projeto de conclusão de curso: Habitação popular sustentável, uso inteligente de materiais recicláveis, captação de água da chuva, painéis solares acessíveis. Você não pensou apenas em construir casas, pensou em construir dignidade.
Ana sentiu o rosto esquentar com o elogio, mas manteve a compostura. Obrigada. Sempre acreditei que a arquitetura sustentável não deveria ser privilégio de quem pode pagar. Exatamente. Carlos fechou a pasta e se inclinou para a frente, os olhos fixos nela, com uma intensidade que fazia Ana querer desviar o olhar.
E é por isso que você está aqui. O senhor tem um projeto que precisa de arquiteto especializado em sustentabilidade? Tenho vários. Carlos pegou uma caneta, girando-a entre os dedos num gesto que parecia nervoso, embora nada mais nele demonstrasse nervosismo.
Estou fechando parcerias com investidores europeus, alemães e holandeses. Eles não investem em nada que não seja comprovadamente sustentável. Preciso de alguém com sua visão, liderando o setor de projetos verdes da empresa. O coração de Ana disparou. Era perfeito. Era tudo o que ela precisava. Mas havia algo na voz dele, uma hesitação quase imperceptível que a fez esperar. “Mas, ela perguntou.
Carlos sorriu de novo e dessa vez havia aprovação genuína no sorriso. Você é perceptiva. Gosto disso.” Ele se levantou, voltando para perto da janela, as mãos novamente nos bolsos. Sim, há um mas. Na verdade, há uma condição, algo que preciso de você antes de podermos discutir contratos de trabalho. Ana sentiu um frio na espinha.
Que tipo de condição? Carlos ficou em silêncio por um longo momento, olhando para a cidade lá embaixo. Quando finalmente falou, sua voz era controlada, mas Ana percebeu a tensão nos ombros dele. Eu fiz uma pesquisa completa sobre você, Ana. Não apenas seu trabalho profissional, sua vida pessoal também. Ele se virou para encará-la.
Sei sobre sua mãe, sobre o Alzheimer precoce. Sei que você está desempregada há 8 meses. Sei que deve 45.000 ráis entre medicamentos, hospital e contas atrasadas. Ana se levantou bruscamente, o rosto queimando de humilhação e raiva. Como o Senhor ousa investigar minha vida? Que direito? O mesmo direito que você tem de escolher recusar minha proposta e sair por aquela porta agora.
Carlos não pareceu intimidado por sua explosão, mas antes de sair gostaria que me ouvisse, porque o que vou propor vai mudar sua vida e a da sua mãe. Ana ficou parada, o peito subindo e descendo com respiração acelerada. Fale. Carlos voltou para a mesa, apoiando-se nela com as duas mãos.
Eu quero um filho, um herdeiro, mas não quero as complicações de um relacionamento tradicional. Não quero casamento. Ele fez uma pausa, os olhos penetrantes fixos nela. O que eu quero é uma transação clara e honesta entre dois adultos inteligentes. Ana sentiu o mundo girar levemente. O senhor está me pedindo para ser uma barriga de aluguel? Não. Carlos balançou a cabeça.
Quero que você seja a mãe do meu filho. Fertilização vitro. Custódia compartilhada, embora eu seria o guardião principal, você teria a participação completa na vida da criança. O silêncio que se seguiu era denso, carregado de choque e incredulidade. Em troca, Carlos continuou. Eu apago todas as suas dívidas. Todas.
Você terá um apartamento no Lourdes durante a gravidez, plano de saúde premium no Mat Day e um cargo como arquiteta chefe na minha empresa, salário de 25.000 mensais e recursos ilimitados para garantir que sua mãe tenha os melhores cuidados possíveis. Ana não conseguia respirar direito. Porque eu Carlos se aproximou, parando a uma distância respeitosa. Porque você é inteligente, determinada, tem princípios mesmo diante do desespero.
E você entende sacrifício, entende o que significa fazer escolhas impossíveis por quem ama? Ele estendeu a mão. Então me diga, Ana Carolina Silva, dê-me um bebê e eu te dou uma vida nova. E naquele momento, com a chuva começando a cair novamente lá fora, Ana percebeu que estava prestes a tomar a decisão mais louca de sua existência. Ana não lembrava como saiu do prédio.
Suas pernas a levaram automaticamente até o ponto de ônibus, mas ela mal sentia o chão sob. A proposta de Carlos Roberto Mendes ecoava em sua mente como um tambor incessante. Dê-me um bebê. O ônibus para venda nova estava lotado, como sempre. Ana se espremeu entre passageiros, a cidade passando do lado de fora, prédios, carros, vidas acontecendo como se o mundo não tivesse acabado de virar de cabeça para baixo. Quando chegou em casa, já era noite.
Maria estava na sala, assistindo a uma novela antiga com aquela expressão confusa, de quem não consegue mais acompanhar a trama. Filha, seu rosto se iluminou ao ver Ana. Você demorou. Estava preocupada. Desculpa, mãe. Ana beijou o topo da cabeça dela. Tive uma reunião.
Conseguiu emprego? Ana abriu a boca para responder, mas as palavras travaram. Ainda estou decidindo. Depois de dar o jantar para Maria e ajudá-la a tomar a medicação da noite, Ana se trancou no próprio quarto, pegou o laptop velho e começou a pesquisar. Carlos Roberto Mendes. As informações pipocavam na tela. empresário Constrói Império do Zero. Mendes, construtora fatura 2 bilhões.
O bilionário solteiro mais cobiçado de Minas Gerais. Havia fotos dele em eventos empresariais, sempre de terno impecável, sempre com aquela expressão controlada. Mas então, Ana encontrou algo diferente, uma matéria antiga de fofoca social. Helena Vieira confirma fim de relacionamento com Carlos Mendes. Ana clicou. Helena Vieira, uma socialite loira, dava uma entrevista lacrimosa sobre o término.
Carlos nunca conseguiu se entregar de verdade para ninguém, dizia Helena. É como se houvesse uma parede de vidro ao redor dele. Você vê, mas não toca, sempre mantendo distância. No final, percebi que ele não era capaz de amar ninguém além de si mesmo. Ana fechou o laptop, o coração apertado. Então era por isso. Carlos não queria as complicações de um relacionamento porque ele não acreditava em amor.
Ana se deitou, encarando o teto manchado. Uma criança. Ele estava pedindo que ela gerasse uma criança. Não era apenas seu corpo que estaria em jogo. Era uma vida. Mas então, não era assim que Maria havia tido ela também? Ana nunca conhecera o pai. Maria criara a filha sozinha, sem arrependimentos.
Trabalhara até os ossos para dar a Ana tudo o que podia. E agora era Ana quem tinha a chance de retribuir, de dar a Maria os meses finais de vida com dignidade. O celular tocou, número desconhecido. Ela atendeu. Alô, Ana. Era a voz de Carlos. Desculpe ligar tão tarde, mas imaginei que você não estivesse dormindo. Imaginou, certo? Um silêncio.
Ana ouviu o som de líquido sendo servido. Sei que foi muito de uma vez. A voz dele soou diferente pelo telefone, menos controlada, quase humana, e sei como deve estar se sentindo. E não está comprando-me? Não. Carlos respondeu com firmeza. Estou te oferecendo uma escolha, uma saída, mas também uma oportunidade.
Você acha que é fácil para mim fazer essa proposta? Expor o que eu quero assim tão crua e diretamente? Ana ficou em silêncio. Por que você quer tanto um filho, Carlos? Outro silêncio, mas longo. Quando ele falou, havia algo quebrado na voz. Porque eu cresci sem pai. Minha mãe fez o que pôde, mas estava sempre trabalhando. Fui criado pela empregada dela, dona Benedita, que foi mais mãe para mim. Ele parou.
Quando herdei a construtora, jurei que construiria algo grande. Mas império não aquece você à noite. Não te chama de pai. Sua voz ficou mais baixa. Quero deixar algo além de prédios. Quero deixar alguém. Ana sentiu as lágrimas escorrerem. E por que não fazer isso do jeito normal? Conhecer alguém, se apaixonar? Porque eu já tentei e não funciona. Eu não funciono.
Não desse jeito, mas posso funcionar como pai. Ele fez uma pausa. E você, Ana, por realmente considerando Ana precisava ser honesta pela minha mãe, porque ela sacrificou tudo por mim, porque quero que os últimos anos dela sejam mais que apenas sobrevivência. Ana limpou as lágrimas. Mas também porque estou cansada.
Cansada de ser invisível, cansada de enviar currículos e ser ignorada. Sua proposta é insana, mas pelo menos pelo menos alguém me viu, me escolheu. Não é errado. Carlos falou baixo. Não há nada de errado em querer ser vista. Eles ficaram em silêncio por um longo momento. Dois estranhos conectados por uma proposta impossível. Preciso de tempo. Ana finalmente disse.
Quanto tempo você precisa? Uma semana. Você tem três dias. A resposta foi imediata. As contas não esperam, Ana. O mundo não espera. Se você quer tempo para pensar, tudo bem. Mas seja realista. Ele estava certo. Três dias. Então, uma última coisa, Ana. Se você aceitar, não vai se arrepender.
Eu prometo cuidar de você, de sua mãe e do nosso filho. Isso eu posso prometer. E então ele desligou. Ana ficou segurando o celular, o coração disparado. Três dias para decidir seu futuro. Três dias para escolher entre continuar afundando ou agarrar a mão de um estranho que oferecia salvação. Lá fora, começou a chover novamente e Ana não conseguiu evitar pensar que era como se o céu chorasse pela escolha que ela já sabia no fundo que faria. Ana não dormiu nas duas noites seguintes.
Cada vez que fechava os olhos via números. 45.000 1700 300, mas também via outras coisas. O rosto confuso de Maria, a pilha de currículo sem resposta, o olhar de piedade do Senr. Jorge. No terceiro dia, uma terça-feira chuvosa, Ana tomou sua decisão, ligou para o número que Carlos havia deixado. Ele atendeu no segundo toque. Ana, eu aceito.
As palavras saíram firmes, mas com condições. Silêncio. Então, estou ouvindo. Ana leu a lista que fizera. Primeiro, participo de todas as decisões médicas. Segundo, mantenho meu próprio apartamento, não vou morar com você. Terceiro, contrato garantindo minha participação real na vida da criança. Quarto, se houver complicações, não serei culpabilizada.
Quinto, 3 meses de licença maternidade. E sexto, terapia psicológica incluída. Outro silêncio. Ana segurou a respiração. Aceito tudo. Carlos finalmente disse e adiciono uma condição minha. Antes de iniciarmos o processo médico, quero que passemos tempo juntos, jantares, conversas. Precisamos nos conhecer melhor.
Ana não esperava por isso. Por quê? Porque mesmo eu não sou frio o suficiente para fazer isso com uma completa estranha. Havia algo quase vulnerável na voz dele. E por que nosso filho vai perguntar um dia? Quero poder dizer que pelo menos tentamos nos entender primeiro. OK. Quando começamos? Hoje às 19 horas. Vou te buscar.
Vista algo confortável. Às 19 horas em ponto, um BMW preto parou em frente ao prédio dela. Carlos desceu do carro e Ana percebeu que nunca o vira tão normal. Ele usava jeans escuros e uma camiseta cinza sob um casaco de couro. Nada de terno. “Oi?”, Ele disse: “Oi”. Por um momento, apenas se olharam.
“Você está linda”, Carlos disse. E Ana sentiu o rosto esquentar. “Você está diferente, menos empresário, mais humano.” Ele sorriu. “Venha, vamos jantar.” Ele a levou para Santa Teresa e parou em frente a um pequeno bistrô de esquina. Como descobriu esse lugar? Vinha aqui com dona Benedita quando era adolescente. Carlos puxou a cadeira para ela. Ela adorava o risoto daqui.
Eles pediram vinho. Ana, que raramente bebia, sentiu o líquido tinto aquecê-la. Carlos estava relaxado. “Me conta sobre você”, ele pediu. “As coisas reais?” Ana hesitou. “Quando foi a última vez que alguém realmente quisera saber sobre ela? O que você quer saber?” tudo. Comece de onde quiser. Então Ana começou a falar.
Contou sobre crescer em Venda Nova, sobre assistir Maria trabalhar até a exaustão, sobre decidir ser arquiteta porque queria construir coisas bonitas para pessoas como sua mãe. Quando minha mãe foi diagnosticada, Ana continuou a voz baixa. Foi como se o chão desaparecesse. Ela sempre foi minha rocha. Ver ela esquecendo, Ana sentiu os olhos arderem. É como morrer aos poucos. Carlos estendeu a mão sobre a mesa e tocou a dela. Eu entendo.
Dona Benedita teve Alzheimer também. Nos últimos anos ela me chamava pelo nome do filho dela que morreu. Eu simplesmente aceitava porque pelo menos ela estava feliz. Ana virou a mão, entrelaçando seus dedos com os dele. E você? Quem é Carlos Roberto Mendes quando não está construindo impérios? Carlos riu, mas não era um riso feliz. Ninguém interessante.
Alguém que trabalha demais dorme de menos e finge que isso é propósito ao invés de fuga. Fugindo de quê? Carlos ficou em silêncio. O garçom trouxe os pratos, mas nenhum dos dois começou a comer. De vazio, Carlos finalmente admitiu, de acordar em uma mansão enorme e perceber que não há ninguém além de mim, de ter tudo que sempre quis e descobrir que não é suficiente. Ele olhou para ela.
Por isso, o bebê, Ana, não é apenas sobre herdeiros. É sobre ter alguém que me faça querer chegar em casa. Ana sentiu algo se mover dentro dela. Não, amor. Seria loucura. Mas compreensão, podíamos estar cometendo o maior erro das nossas vidas. Provavelmente estamos. Carlos concordou. Ou talvez seja a decisão mais certa. Não saberemos até tentar.
Eles comeram lentamente, conversando sobre coisas mundanas. E a cada troca, o acordo entre eles começava a aparecer menos com um contrato e mais com algo que Ana não conseguia nomear. Quando Carlos a deixou em casa, já passava da meia-noite. Ele desligou o carro e se virou. Amanhã assinaremos os papéis. Depois começamos o processo médico. Ainda está segura? Ana olhou para ele.
Sim. E você? Sim. Eles ficaram se olhando no escuro. Então Carlos se inclinou e beijou a testa dela. Foi casto, mas queimou a pele de Ana. Boa noite, Ana. Boa noite, Carlos. Ela saiu do carro, observou ir embora e só quando as luzes traseiras desapareceram é que percebeu.
Estava sorrindo e Maria, que esperava acordada, notou: “Você parece feliz, filha.” E Ana respondeu: “Talvez eu esteja começando a ficar.” Mas o que nenhuma das duas percebeu era que decisões como essa nunca eram simples e que o caminho que Ana escolhera estava prestes a ficar muito mais complicado. O Hospital Mat Day era um monumento de vidro e eficiência médica. Ana nunca havia entrado ali antes.
Era o tipo de lugar para onde iam pessoas com planos de saúde caríssimos. Agora ela estava sentada na sala de espera da clínica de reprodução humana com Carlos ao seu lado, preenchendo formulários íntimos. Mas Carlos não era mais um estranho, não completamente. Nas duas semanas, desde que aceitara a proposta, eles haviam jantado juntos cinco vezes. Cada encontro revelava novas camadas.
Carlos, que cantava mal no chuveiro. Ana que tinha medo de palhaços, Carlos que fazia doações anônimas. Ana, que escrevia poesia ruim em guardanapos. Senr. Mendes, senhora Silva. Uma enfermeira sorriu. Dr. Fernando Oliveira está pronto. O consultório era acolhedor. Dr. Oliveira era um homem de meia idade, com óculos de armação fina e um sorriso gentil. Então, vocês querem fazer uma fertilização em vitro? São casados? Não.
Carlos respondeu sem hesitação. Temos um acordo. Ela terá meu bebê. Ambos seremos pais. Mas não somos um casal no sentido tradicional. Ana esperava julgamento, mas Dr. Oliveira apenas a sentiu. Compreendo. Não é a primeira situação não convencional. Ele abriu uma pasta. O importante é que ambos estejam conscientes do que estão fazendo.
Ele passou a próxima hora explicando o processo em detalhes. Ana, você precisará fazer injeções diárias de hormônios por duas semanas. Haverá inchaço, mudanças de humor, possivelmente náuseas. Doutor Oliveira olhou para ela com simpatia. Não é fácil. E mesmo com tudo isso, não há garantias. Qual a taxa de sucesso? Carlos perguntou com pacientes saudáveis da idade dela, cerca de 40 a 50% por tentativa. Ana sentiu Carlos pegar sua mão sobre a mesa.
Estamos cientes? Ele respondeu. Bom, então vamos começar com os exames iniciais. Os exames mostraram que Ana estava perfeitamente saudável. Carlos também. Na segunda-feira seguinte, ela começou as injeções. A primeira foi no consultório com uma enfermeira mostrando a Carlos como aplicar. Porque ele precisa aprender? Porque você não conseguirá fazer sozinha.
As injeções são subcutâneas na barriga. Então, toda a noite às 20 horas, Carlos aparecia no apartamento de Ana. Maria já estava acostumada com ele. Nas tardes de lucidez, ela adorava Carlos. Nas tardes ruins, ela achava que ele era o motorista. Carlos era paciente de qualquer jeito. “Ok”, ele dizia lavando as mãos.
“Pronta, Ana levantava a blusa. A primeira vez foi constrangedora, a quinta foi rotineira. Pela décima ela mal sentia a agulha, mas sentia outras coisas. Sentia os hormônios bagunçando seu corpo. Chorava por nada. brigava por menos ainda. Carlos aguentava tudo. Uma noite depois da injeção, Ana simplesmente desabou em lágrimas. Carlos sentou-se ao lado dela, puxando-a para seu peito.
Eu não sei se consigo, Ana soluçou. Você é Você é a pessoa mais forte que conheço, Ana. Como você pode dizer isso? Mal me conhece. Conheço o suficiente. Conheço alguém que criou um projeto sustentável, premiado, enquanto trabalhava três frilas. Conheço alguém que cuida da mãe doente sem reclamar.
Conheço alguém que aceitou uma proposta insana porque tinha coragem. Ele a afastou para olhar em seus olhos. Você é forte, Ana. Nunca duvide disso. Ana se pegou, olhando para aquele homem, para os olhos castanhos intensos, para a vulnerabilidade que ele tentava esconder. E então, sem pensar, ela o beijou.
Foi um beijo desesperado, carregado de hormônios e medo e uma conexão que nenhum dos dois esperava. Carlos ficou tenso por um segundo, mas então correspondeu, suas mãos subindo para os cabelos dela, aprofundando o beijo. Quando se separaram, Ana viu pânico nos olhos dele. Não podemos. Isso não estava no acordo. Não podemos complicar. Já está complicado desde o primeiro jantar. Você sabe disso. Carlos se levantou abruptamente.
Se você engravidar, Ana, e nós estivermos junto, o que acontece quando terminar? Porque sempre termina. Relacionamentos terminam e então não é apenas sobre nós dois, é sobre uma criança que perde a família. Ana se levantou também. E se não terminar, já pensou nisso? Não existe real. Carlos falou com amargura.
Existe atração, existe química, mas amor, amor que dura. Isso é conto de fadas, Ana. As palavras doeram. Ela forçou a voz a sair firme. Então vá, volte quando for hora da próxima injeção. Vamos manter isso profissional. Carlos olhou para ela por um longo momento, algo parecido com arrependimento passando por seu rosto, mas então assentiu, pegou sua jaqueta e foi embora.
Ana ficou na sala vazia, os lábios formigando, o coração partido de uma forma que não deveria ser possível. Mas então Maria chamou do quarto. Filha, você está bem? E Ana, secando as lágrimas, forçou a voz. Estou, mãe, estou ótima. Mas ela não estava. E no carro, Carlos Roberto Mendes também não estava, porque ambos haviam acabado de perceber algo aterrorizante.
O acordo que fizeram como estranhos estava se transformando em algo muito mais perigoso. Duas semanas depois, Ana estava de volta ao Mat Day para a coleta dos óvulos. O procedimento seria feito sob sedação leve. Carlos insistiu em levá-la e buscá-la. Eles mal haviam se falado desde o beijo. Ele ainda aparecia para as injeções, mas ficava apenas o tempo necessário. Nada de conversa. Era como se uma parede de gelo tivesse surgido.
Nervosa? Carlos perguntou no carro um pouco. Ana olhava pela janela. Dr. Oliveira disse que é tranquilo, mas você está com medo de que algo dê errado. Sim. Carlos estacionou e finalmente olhou para ela. Vai dar tudo certo e eu vou estar aqui quando você acordar. Prometo. Havia sinceridade em sua voz que fez o coração de Ana apertar. O procedimento em si era uma névoa.
Ana lembrava da máscara de oxigênio, da voz suave da anestesista, de adormecer contando. Quando acordou, estava em uma maca, uma dor surda no baixo ventre. Correu perfeitamente. Dr. Oliveira coletou 14 óvulos, um número excelente. Ana sentiu lágrimas escorrerem sem saber porquê. Talvez fossem os hormônios. Talvez fosse a realização do que aqueles 14 óvulos representavam. 14 possibilidades de vida.
Onde está Carlos? Na sala de espera. Quer que eu o chame? Sim, por favor. Minutos depois, Carlos apareceu, os olhos imediatamente encontrando os dela. Ana viu alívio genuíno. Como você está? Dopada, dolorida, mas viva. Ana sorriu fraco. 14 óvulos. É bom. É excelente. Carlos apertou a mão dela. Você foi incrível, Ana. Três dias depois, Dr. Oliveira ligou com os resultados.
Oito embriões viáveis, excelentes qualidades. Estão se desenvolvendo perfeitamente. Podemos fazer a transferência na próxima semana. Ana desligou, o coração batendo forte. Oito. Oito possibilidades. Seu celular tocou imediatamente. Carlos, você ouviu? Ouvi. Oito embriões. Você está feliz? Ana pensou. Feliz. Estava aterrorizada, ansiosa, mas sim, feliz. Estou.
E você? Houve uma pausa. Ana, podemos conversar pessoalmente agora? Agora. 20 minutos depois, Carlos estava na porta, mas não era o empresário controlado. Ele parecia exausto, com olheiras profundas e os cabelos bagunçados. Entre. Carlos entrou e foi direto ao ponto. Eu estava errado. Ana piscou. Sobre.
Sobretudo, Carlos começou a andar de um lado para o outro, sobre fingir que não há nada entre nós, sobre tentar manter distância, sobre achar que posso controlar isso. Ele parou, olhando para ela com intensidade. Eu não consigo parar de pensar em você, Ana. Acordo pensando em você. Durmo pensando em você.
E aquele beijo? Ele balançou a cabeça. Aquele beijo me assustou porque me fez sentir coisas que jurei que nunca sentiria de novo. O coração de Ana estava batendo forte. Carlos, deixa eu terminar. Ele se aproximou, pegando suas mãos. Eu sei que é loucura.
Sei que pode complicar tudo, mas Ana, eu não quero mais fingir que você é apenas a mãe do meu futuro filho, porque você é mais, muito mais. E se tem uma chance, por menor que seja, de que isso possa funcionar, eu quero tentar de verdade, não como acordo, como relacionamento. Ana sentiu as lágrimas escorrerem. Você disse que relacionamentos sempre terminam. Eu estava com medo.
Carlos limpou as lágrimas dela com os polegares, com medo de me machucar, de te machucar, de estragar tudo. Mas ficar longe de você, isso já está me machucando, então prefiro arriscar. Ana olhou para aquele homem que aparecera com uma proposta impossível e que de alguma forma se tornara impossível de ignorar. Eu também quero tentar, mesmo com medo, mesmo sem saber como vai terminar.
Então vamos entrar nessa juntos. Carlos a puxou para seus braços sem garantias, apenas juntos. E desta vez, quando se beijaram, não havia desespero, havia promessa, havia esperança, havia o começo de algo que nenhum dos dois esperava. Maria assistiu tudo da porta do quarto, um sorriso lúcido em seu rosto.
E mesmo que amanhã ela não lembrasse, hoje ela lembrava e hoje era suficiente. Porque às vezes os melhores finais nascem dos começos mais improváveis e às vezes acordos se transformam em amor. Mas a verdadeira prova ainda estava por vir. Na próxima semana, quando dois embriões fossem transferidos e nenhum deles estava preparado para o que aconteceria em seguida.
A sala do procedimento no Mat Day era fria e asséptica, mas Dr. Oliveira tinha um jeito de tornar tudo menos aterrorizante. Ana estava deitada na maca com Carlos sentado ao seu lado, segurando sua mão como se fosse uma tábua de salvação. “Vamos transferir dois embriões?” Dr. Oliveira explicou, mostrando no monitor as imagens dos embriões que seriam implantados.
Ambos são categoria AA, as melhores qualidades possíveis. Isso aumenta significativamente suas chances. Ana olhou para as pequenas estruturas celulares na tela. Elas eram minúsculas, quase irreais, mas representavam tudo. Futuro, esperança, uma vida que mal começara. Eles são perfeitos! Ela sussurrou. Carlos apertou sua mão mais forte.
Como você? O procedimento em si foi rápido, menos de 15 minutos. Não doeu, mas Ana sentiu cada segundo se arrastar como uma eternidade. Quando Dr. Oliveira finalmente recuou, sorrindo, ela soltou um suspiro que não sabia estar segurando. Pronto, agora é esperar. 14 dias até o teste de gravidez. Ele olhou para ambos com seriedade. Tentem manter a calma. Estresse não ajuda.
Façam coisas que os deixem felizes. E tenham paciência. Paciência. como se fosse fácil quando seu futuro inteiro pendia em um fio tão fino. Carlos levou Ana para casa, mas antes parou em uma sorveteria. “O que você está fazendo?”, Ana perguntou quando ele voltou com dois sorvetes enormes de chocolate. Dr. Oliveira disse para fazer coisas que nos deixem felizes.
Carlos entregou um para ela com um sorriso tímido. “Você mencionou uma vez que chocolate te faz feliz.” Ana sentiu os olhos arderem. que ele lembrasse de um detalhe tão pequeno de uma conversa casual semanas atrás significava mais do que ele provavelmente percebia. Obrigada. Eles comeram sorvete no carro em silêncio confortável, observando a cidade passar.
E pela primeira vez em semanas, Ana sentiu algo parecido com paz. Os 14 dias seguintes foram os mais longos da vida de Ana. Carlos passou todos os dias com ela inventando desculpas para não ir ao escritório ou simplesmente dizendo que tinha prioridades mais importantes. Eles assistiram filmes ruins no sofá velho de Ana. Caminharam pela Lagoa da Pampulha ao entardecer.
Carlos conheceu os vizinhos de Ana, que o olhavam com desconfiança inicial, mas que rapidamente o adotaram quando viram como ele tratava Maria. Uma tarde, enquanto Maria dormia, Carlos e Ana preparavam o jantar juntos na cozinha. minúscula. Ele estava tentando cortar cebolas e falhando miseravelmente. “Você constrói prédios de milhões, mas não sabe picar uma cebola?” Ana riu pegando a faca dele. “Ei, cada um tem suas habilidades.
” Carlos a puxou pela cintura, beijando seu pescoço. “A minha é te fazer feliz. está funcionando. Naquele momento, com o cheiro de alho e cebola no ar, com a televisão ligada no quarto de Maria, com Carlos a abraçando como se ela fosse a coisa mais preciosa do mundo, Ana percebeu algo aterrorizante. Ela estava apaixonada, completamente irremediavelmente apaixonada por aquele homem, que começara como uma transação e se tornara seu mundo inteiro em questão de semanas. Carlos! Hum, eu te amo.
” As palavras saíram antes que Ana pudesse detê-las. Ela sentiu Carlos ficar tenso atrás dela e seu coração despencou. Ela se virara para encará-lo, preparada para ver pânico ou rejeição. Mas o que viu foi algo completamente diferente. Carlos estava chorando.
Não lágrimas dramáticas, mas aquele tipo de choro silencioso que escorre sem aviso quando a emoção é forte demais para conter. Ninguém nunca disse isso para mim antes”, ele sussurrou, a voz quebrada. “Não, de verdade, não do jeito que você acabou de dizer.” Ana tocou o rosto dele, limpando as lágrimas com os polegares. Então, está na hora de alguém dizer: “Carlos Roberto Mendes, eu te amo. Amo seu jeito torto de demonstrar carinho. Amo como você trata minha mãe.
Amo como você canta mal no chuveiro. Amo cada pedaço de você, até os pedaços que você acha que não merecem ser amados.” Carlos a puxou para um abraço tão apertado que Ana mal conseguia respirar. Eu também te amo. As palavras saíram abafadas contra o cabelo dela. Te amo tanto que me assusta. Te amo de uma forma que eu não sabia que era possível.
E se isso der errado, se eu te perder, não vai dar errado. Ana se afastou para olhar em seus olhos. Vai dar certo. Tem que dar certo. Mas mesmo enquanto dizia isso, ela sentia a dúvida, roendo suas entranhas. E se não funcionasse? E se os embriões não se implantassem? E se tudo que construíram desmoronasse? Como se sentisse seus pensamentos, Carlos beijou sua testa.
Independente do que acontecer com a gravidez, você e eu, a gente continua, OK? Não importa o resultado, você não é apenas a mãe do meu futuro filho. Você é minha pessoa, minha parceira, meu amor. Ana assentiu, as lágrimas escorrendo livremente agora. E naquele momento, com a comida esquecida no fogão e o mundo parecendo se reduzir àquela cozinha minúscula em venda nova, Ana acreditou.
Acreditou que amor podia surgir de acordos impossíveis. Acreditou que finais felizes eram possíveis para pessoas como eles. Acreditou que de alguma forma tudo daria certo. Mas o que ela não sabia era que em apenas três dias tudo mudaria de novo, e dessa vez seria para sempre. O 14º dia amanheceu nublado, com aquela promessa de tempestade que Belo Horizonte conhecia tão bem.
Ana acordou às 5 da manhã, o coração batendo como um tambor de guerra no peito. Hoje era o dia do teste de gravidez. Carlos havia dormido no sofá. Ele vinha fazendo isso nas últimas noites, dizendo que queria estar perto caso Ana precisasse de algo. Na verdade, Ana sabia que ele estava tão ansioso quanto ela e que nenhum dos dois conseguia ficar longe um do outro.
Ela se levantou silenciosamente, foi até a sala e encontrou-o acordado, olhando para o teto com aquela expressão que ela aprendera a reconhecer, medo disfarçado de pensamento profundo. “Não dormiu?”, Ana perguntou baixinho. Carlos se sentou passando as mãos pelo cabelo bagunçado. Não consegui. Fiquei pensando em tudo. No que acontece se for positivo, no que acontece se for negativo.
Ele olhou para ela, vulnerabilidade nua em seus olhos. E percebi que tenho mais medo do negativo do que imaginava. Não apenas por causa do bebê. Mas porque E se você decidir que sem a gravidez não faz sentido continuarmos? Ana se sentou ao lado dele no sofá, pegando sua mão. Carlos, eu te disse. Independente do resultado, você e eu continuamos.
Eu não estou aqui pelo acordo. Estou aqui por você. Promete? Prometo. Eles se abraçaram ali no sofá gasto enquanto a manhã clareava lentamente do lado de fora. E quando finalmente se separaram, Carlos tinha um sorriso trêmulo, mas esperançoso. Vamos descobrir então. O laboratório do Mat Day tinha um cheiro característico de desinfetante e esperança.
Ana estava sentada em uma cadeira de plástico azul, observando a enfermeira coletar o sangue para o teste de HCG. Carlos estava ao seu lado, segurando sua outra mão com tanta força que os dedos estavam ficando brancos. Os resultados saem em duas horas, a enfermeira informou com um sorriso profissional. Podem esperar aqui ou voltar. Dr. Oliveira vai ligar assim que tiver os números. 2 horas 120.
Entre eles e a resposta que mudaria tudo. Vamos embora. Ana decidiu. Não consigo ficar aqui olhando para as paredes. Carlos concordou imediatamente. Eles dirigiram sem destino por Belo Horizonte, passando pelos bairros que Ana conhecia desde criança, Venda Nova, onde crescera, Santa Teresa, onde tiveram o primeiro jantar, A Lagoa da Pampulha, onde caminharam de mãos dadas pela primeira vez como um casal de verdade.
“Você está com fome?”, Carlos perguntou, embora nenhum dos dois parecesse capaz de comer. Não, mas podemos parar em algum lugar. Eles acabaram em uma pequena padaria no bairro Floresta, pedindo café e pão de queijo que não tocaram. Ficaram sentados um de frente para o outro, os celulares sobre a mesa esperando. Se for negativo, Carlos começou, mas Ana o interrompeu. Não, não vamos pensar assim.
Vai dar certo. Mas e se não der? Tentamos de novo, quantas vezes for preciso. Ana sentiu os olhos arderem, que ele estivesse disposto a passar por tudo aquilo de novo, sabendo o quão difícil era, significava tudo. E se nunca der certo? Ela precisava perguntar. E se meu corpo não conseguir? Carlos se levantou, contornou a mesa e se ajoelhou ao lado dela, pegando seu rosto entre as mãos. Então, a gente adota. Ou vivemos só nós dois ou encontramos outro caminho.
Mas Ana, você precisa entender. Eu quero uma família, sim, mas mais do que isso, eu quero você. Se tiver que escolher entre você e ter filhos, eu escolho você sempre. Ana desabou em lágrimas ali mesmo na padaria, abraçando Carlos como se ele fosse a única coisa sólida em um mundo que insistia em desmoronar. O celular de Carlos tocou.
Eles ficaram paralisados, olhando para o aparelho, vibrando na mesa, como se fosse uma bomba prestes a explodir. O nome na tela, Dr. Fernando Oliveira. Carlos atendeu com mãos trêmulas, colocando no viva-voz. Alô, Carlos. Ana. A voz do médico era cuidadosamente neutra. Tenho os resultados.
Ana segurou a mão de Carlos tão forte que suas unhas deviam estar cravando na pele dele. E Carlos mal conseguiu formar a palavra. Houve uma pausa que pareceu durar séculos e então, positivo. O teste deu positivo. O mundo parou. O quê? Ana sussurrou, não ousando acreditar. Está grávida, Ana. O nível de HCG está em 1200, o que é excelente para esta fase.
Na verdade, doutor Oliveira fez uma pausa. Esse número sugere que ambos os embriões se implantaram, mas vamos confirmar com ultrassom na próxima semana. Ana olhou para Carlos. Ele olhou de volta e então, simultaneamente, ambos desabaram em lágrimas de alívio, alegria, descrença. “Obrigado, Carlos conseguiu dizer ao telefone. Obrigado, doutor. Parabéns para vocês dois.
Marquem o ultrassom com a secretária.” E Ana, Dr. Oliveira fez uma pausa. Prepare-se. Você pode estar esperando gêmeos. Quando desligaram, Ana e Carlos simplesmente se abraçaram ali na padaria, chorando e rindo ao mesmo tempo. As pessoas ao redor olhavam com curiosidade, mas nenhum dos dois se importava. Estamos grávidos.
Ana repetiu como se precisasse ouvir em voz alta para acreditar. Estamos realmente grávidos. Você está grávida. Carlos corrigiu, beijando-a com tanta ternura, que novas lágrimas brotaram. Você, incrível, forte, perfeita, você está carregando o nosso bebê ou bebês. Ana riu através das lágrimas. Gêmeos. Carlos podem ser gêmeos, então seremos pais de dois. Carlos sorriu. Aquele sorriso largo e genuíno que Ana raramente via.
Duas vezes a bagunça, duas vezes as fraldas, duas vezes o amor. Eles ficaram ali por horas, replanejando tudo. O apartamento em venda nova seria pequeno demais. Precisariam de espaço, de quartos, de um jardim, talvez onde as crianças pudessem brincar. “Vem morar comigo,”, Carlos disse de repente.
“Na casa, nas mangabeiras tem espaço suficiente, tem jardim. E eu não quero passar um único dia longe de você, nem de nosso bebê. Ana pensou em sua independência, nas condições que estabelecera no acordo original, mas tudo isso parecia tão distante agora, tão irrelevante comparado ao que realmente importava. Ok, ela concordou, mas Maria vem com a gente e contratamos alguém para ajudar a cuidar dela.
Já está feito. Carlos beijou sua testa. Tudo o que você quiser. Tudo o que vocês precisarem. E enquanto voltavam para a venda nova para contar as novidades a Maria, Ana se permitiu acreditar em algo que antes parecia impossível. Finais felizes, famílias construídas de formas inusitadas, amor nascido de acordos e transformado em algo verdadeiro e duradouro. Mas primeiro ela precisava contar a sua mãe que ia ser avó.
E essa Ana sabia seria uma conversa que ficaria na memória, mesmo que Maria não lembrasse amanhã. Porque hoje, hoje era para celebrar, era para agradecer, era para abraçar o milagre que acabara de acontecer e prometer ao pequeno ser ou seres, crescendo dentro dela, que nunca jamais duvidaria do amor que o trouxe ao mundo. Uma semana depois, Ana e Carlos estavam de volta ao consultório do Dr. Oliveira para o primeiro ultrassom.
Ana estava visivelmente nervosa, as pernas balançando enquanto esperavam. Carlos notou e colocou a mão sobre o joelho dela, acalmando o movimento. “Vai dar tudo certo”, ele murmurou. “E se não der? E se foi um alarme falso? E se, Ana?” Carlos virou o rosto dela para ele. Respira. Um passo de cada vez. A porta se abriu e Dr. Oliveira entrou com seu sorriso tranquilizador.
Prontos para conhecer seu bebê? Ana se deitou na maca, levantando a blusa. Carlos ficou ao seu lado, segurando sua mão. O gel estava frio na barriga dela, fazendo-a estremecer. Dr. Oliveira moveu o transdutor, os olhos fixos no monitor. O silêncio se estendeu por segundos que pareciam eternidades.
Ana sentiu o pânico começar a subir e então eles ouviram. Tamp, tamp. Um batimento cardíaco, rápido, forte, perfeito. Aí está. Dr. Oliveira. apontou para o monitor primeiro bebê. Batimento cardíaco de 160 bpm, perfeito para seis semanas. Ana sentiu as lágrimas escorrerem. Ela olhou para a tela, para aquele pontinho minúsculo pulsando, e não conseguiu acreditar que aquilo estava dentro dela, que aquilo era parte dela e de Carlos. É real, ela sussurrou. É realmente real.
Carlos beijou sua mão, mas seus olhos estavam fixos no monitor, com uma expressão de puro espanto. E agora, Dr. Oliveira moveu o transdutor ligeiramente. Vamos ver se temos companhia. Tamp, tamp, tump, tump. Outro batimento, diferente do primeiro, mas igualmente forte. E aí está o segundo. Dr. Oliveira sorriu amplamente.
Gêmeos confirmados. Batimento de 158 bpm. Ambos se desenvolvendo perfeitamente. Ana Solou. As lágrimas agora caindo livremente. Carlos se abaixou, beijando sua testa, suas bochechas, seus lábios. E quando ela olhou para ele, viu que ele também estava chorando. Dois. Carlos disse a voz embargada. Dois bebês, Ana.
Fizemos dois bebês. Tecnicamente, a ciência ajudou. Dr. Oliveira brincou, mas seu sorriso era genuíno. Mas sim, vocês vão ter gêmeos. Parabéns. Eles passaram os próximos minutos olhando para o monitor, memorizando cada pixel daquelas duas pequenas vidas. Dr. Oliveira imprimiu várias fotos do ultrassom e Ana assegurou como se fossem o tesouro mais precioso do mundo.
Porque eram? No carro a caminho de venda nova para contar a Maria, Ana não conseguia parar de olhar para as imagens. Eles são tão pequenos ela murmurou, tão perfeitos e pequenos. Vão crescer. Carlos dirigia com uma mão, a outra entrelaçada com a Diana. E vamos estar aqui para cada segundo.
Quando chegaram ao apartamento, encontraram Maria na sala com dona Carmen, a cuidadora que Carlos havia contratado há alguns dias. Era uma tarde de lucidez. Maria estava assistindo a novela e comentando sobre os personagens com coerência. Mãe! Ana se sentou ao lado dela, segurando suas mãos. Tenho uma notícia. Maria olhou para a filha, então para Carlos, e um sorriso lento se formou em seu rosto. “Você está grávida?” Ana piscou surpresa.
“Como você? Como soube? Porque você está brilhando, minha filha?” Maria tocou o rosto de Ana com ternura. Do mesmo jeito que eu brilhava quando estava grávida de você. Uma mãe sempre sabe. Ana sentiu o nó na garganta apertar. Não é só um bebê, mãe. São dois gêmeos. Maria ficou em silêncio por um momento, processando.
Então seus olhos se encheram de lágrimas. Dois netos. Ela olhou para Carlos. Você vai cuidar da minha filha, dos meus netos? Carlos se ajoelhou ao lado de Maria, pegando sua outra mão. Com minha vida, dona Maria. Prometo a senhora. Maria estudou seu rosto por um longo momento, então assentiu. Você é um bom homem, Carlos.
Não perfeito, mas bom. Ela sorriu. E, às vezes, bom é melhor que perfeito. Perfeito é frio. Bom é humano. Carlos sorriu, as lágrimas brilhando em seus olhos. Obrigado. Isso significa mais do que a senhora imagina. Maria voltou sua atenção para Ana, segurando o rosto da filha entre as mãos. Você vai ser uma mãe maravilhosa, melhor do que eu fui.
Mãe, não diga isso. Deixa eu terminar. Maria a interrompeu gentilmente. Eu fiz o que pude com o que tinha, mas você vai ter mais. Vai poder dar a esses bebês tudo que eu não pude te dar e isso me deixa feliz, muito feliz. A senhora me deu tudo Ana insistiu, abraçando a mãe. Tudo que importa.
Elas ficaram assim, por um longo momento, mãe e filha, chorando lágrimas de alegria e alívio e amor. Mais tarde, quando Maria já estava dormindo e dona Carmen havia ido embora, Ana e Carlos ficaram sentados no sofá, olhando para as fotos do ultrassom espalhada sobre a mesa de centro. “Precisamos de nomes,”, Carlos disse de repente. Ana olhou para ele.
“Já? Nem sabemos os sexos ainda, mas podemos pensar. sonhar. Carlos a puxou para mais perto. Se for menino, Ana pensou por um momento. Gabriel, sempre gostei de Gabriel. Gabriel Mendes. Carlos testou o nome. Gosto. E se for menina? Sofia. Ana respondeu sem hesitar. Sofia sempre me pareceu um nome forte, mas delicado ao mesmo tempo. Sofia Mendes.
Carlos sorriu. Perfeito. E se for um de cada? Ana Rio, então serão Gabriel e Sofia Mendes. Ela colocou a mão sobre a barriga ainda plana. Oi, Gabriel. Oi, Sofia. Somos seus pais e já amamos vocês mais do que palavras podem expressar. Carlos colocou sua mão sobre a dela.
E vamos passar o resto das nossas vidas provando isso. Não importa o que aconteça, vocês sempre terão amor, sempre terão família, sempre terão um lar. Naquela noite, enquanto Ana dormia no sofá, Carlos ficou acordado observando-a, observando a mulher que entrara em sua vida como uma solução para um problema e se tornara a solução para solidões que ele nem sabia que tinha.
E ele fez uma promessa silenciosa, não apenas para os bebês crescendo dentro dela, mas para ela também. Ele seria o homem que eles mereciam, o pai que seus filhos precisavam, o parceiro que Ana sempre deveria ter tido. Não perfeito. Como Maria disse, perfeito era frio, mas bom, humano, real. E às vezes isso era mais do que suficiente. Era tudo. A mudança aconteceu duas semanas depois.
Carlos insistiu em contratar uma empresa para embalar e transportar tudo, mas Ana fez questão de, pessoalmente embalar as coisas de Maria, as fotos antigas, os vestidos que ela usava quando ainda trabalhava, o terço que pertencera à avó de Ana. A casa nas mangabeiras era tudo que Ana nunca usara sonhar.
Era uma construção moderna de dois andares, com enormes janelas que deixavam entrar luz natural em cada cômodo. Mas o que realmente encantou Ana foi o jardim. Havia jabuticabeiras, mangueiras, limoeiros e um espaço verde que parecia infinito compado ao apartamento em venda nova. “Maria vai amar aqui”, Ana disse, os olhos marejados enquanto explorava o que agora era sua casa. E você?”, Carlos perguntou, abraçando-a por trás.
“Você ama?” Ana se virou em seus braços. “Eu amo você. A casa é só um bônus.” Eles passaram os dias seguintes transformando dois quartos em bersários. Carlos queria contratar decoradores, mas Ana insistiu em fazer ela mesma. Ela pintou um dos quartos de azul claro e o outro de rosa suave, adicionando estrelas fosforescentes no teto de ambos, para que eles sempre tenham um céu estrelado, mesmo em noites nubladas.
Ela explicou a Carlos que a observava do batente da porta com uma expressão de adoração mal disfarçada. Maria se adaptou surpreendentemente bem. Dona Carmen vinha todos os dias e nas tardes boas elas caminhavam pelo jardim. Maria apontando para as jabuticabeiras. e contando histórias de quando era jovem. Uma tarde, enquanto Ana descansava no sofá, as náuseas do primeiro trimestre estavam fortes, Carlos recebeu uma ligação de trabalho.
Era sobre o projeto em Itaquera, um conjunto habitacional sustentável que Ana havia projetado antes de conhecê-lo. “Os alemães estão impressionados”, Carlos disse depois de desligar. “querem se encontrar com a arquiteta responsável?” Ana sentou-se abruptamente, ignorando a tontura. “Comigo? Mas eu eu estou grávida com enjousos. Eu Você é a arquiteta mais talentosa que conheço. Carlos se sentou ao lado dela. E gravidez não te torna menos capaz. Se você quiser essa reunião, eu marco.
Se não quiser, eu recuso. Mas não deixe o medo decidir por você. Ana pensou por um longo momento. Parte dela queria recusar, esconder-se atrás da gravidez. Mas a outra parte, a parte que sempre sonhara em ver seus projetos saírem do papel, essa parte queria muito essa chance. Marca a reunião. Carlos sorriu, beijando-a suavemente. Essa é minha garota.
A reunião com os investidores alemães aconteceu uma semana depois. Ana usava um vestido solto que disfarçava a barriga ainda pequena, mas não conseguia esconder o brilho nos olhos quando falava sobre sustentabilidade, sobre construir lares dignos para pessoas de baixa renda. Os alemães foram diretos.
Este projeto, Senrita Silva, é exatamente o que procuramos. eficiência energética, custo acessível, respeito ao meio ambiente. O mais velho do grupo, Herhmith se inclinou para frente. Gostaríamos que você liderasse não apenas este projeto, mas todos os nossos empreendimentos sustentáveis no Brasil. Ana sentiu o coração disparar. Seria uma honra.
Quando saíram da reunião, Carlos agirou no ar, ignorando os olhares curiosos das pessoas ao redor. Você foi incrível. Eles te amaram, Carlos. Cuidado, os bebês. Ele imediatamente a colocou no chão, parecendo horrorizado. Desculpa, desculpa, eu esqueci. Ana riu, beijando-o. Está tudo bem. Eles estão seguros aqui dentro. Ela colocou a mão sobre a barriga.
Mas sim, eu fui incrível, não foi? A mais incrível. Carlos a abraçou, respirando fundo o perfume dela. Estou tão orgulhoso de você, tão incrivelmente orgulhoso. Ana sentiu os olhos arderem. Ouvir essas palavras vindas dele significava mais do que qualquer contrato ou reconhecimento profissional. Obrigada por acreditar em mim quando eu parei de acreditar.
Sempre, Ana, sempre vou acreditar em você. Naquela noite em casa, enquanto preparavam o jantar juntos, Ana começou a sentir algo estranho. Não era dor exatamente, era mais como movimento, como borboletas presas dentro dela. Carlos, ela chamou, a mão voando para a barriga. Carlos, venha aqui. Ele largou a faca que estava usando para cortar tomates e correu até ela.
O que foi? Está sentindo dor? Precisamos ir ao hospital. Não, não é isso. Eh, eu acho que sinto eles, os bebês mexendo. Carlos ficou congelado. Sério? Acho que sim. É muito sutil, mas Ela pegou a mão dele, colocando sobre sua barriga. Espera. Talvez você consiga sentir. Eles ficaram assim por um longo momento.
Carlos com a mão sobre a barriga dela, ambos mal respirando. E então claramente houve um movimento pequeno, mas inconfundível. Carlos caiu de joelhos, as mãos agora com as duas sobre a barriga de Ana, o rosto pressionado contra o tecido do vestido. “Oi”, ele sussurrou. “Oi, pequenos. É o papai. Eu sei que vocês não podem me ouvir ainda, mas vocês são amados, tão amados.
Por mim, pela sua mãe, pela vovó Maria, vocês nem nasceram ainda e já tem mais amor esperando do que a maioria das pessoas tem na vida inteira.” Ana passou as mãos pelos cabelos dele, as próprias lágrimas escorrendo livremente. Esse era o momento, esse era o instante em que tudo mudara irreversivelmente.
Não quando assinaram o contrato, não quando fizeram a fertilização, não mesmo quando viram os batimentos cardíacos. Mas agora com Carlos de joelhos declarando amor para bebês que ainda eram do tamanho de pêssegos, Ana soube. Eles eram uma família real, bagunçada, imperfeita. mas verdadeira. E nada, absolutamente nada poderia mudar isso. O segundo trimestre trouxe alívio das náuseas constantes, mas também novas preocupações.
No ultrassom de 20 semanas, quando finalmente descobriram os sexos dos bebês, Dr. Oliveira também detectou algo preocupante. “Ana, seus níveis de pressão arterial estão elevados.” Ele olhou para ela com seriedade. Não é pré-eclâmpse ainda, mas precisamos monitorar de perto. Gêmeos já são naturalmente de alto risco. Vou precisar que você reduza o estresse e aumente o repouso.
Mas o projeto em Itaquera. Ana começou. Pode esperar. Carlos a interrompeu firmemente. Sua saúde e dos bebês vem primeiro. Ana queria discutir, mas a expressão no rosto de Carlos, medo genuíno misturado com determinação, a fez calar. Ele estava certo. Nada valia o risco. OK, ela concordou. Repouso.
Mas repouso, descobriram, era mais difícil do que parecia. Ana não estava acostumada a ficar parada. Ela era uma fazedora, uma criadora. Ficar deitada o dia todo a deixava irritada e inquieta. Carlos tentava de tudo para mantê-la entretida. Trazia filmes, livros, até jogos de tabuleiro, mas nada parecia funcionar completamente.
Uma tarde, quando Ana estava particularmente frustrada, Carlos entrou no quarto com algo escondido atrás das costas. Tenho uma surpresa. Se for outro quebra-cabeça, eu juro que ele revelou o que estava segurando. Um sketbook enorme e uma caixa de lápis de cor profissionais. Pensei que você pudesse projetar. Não para trabalho, apenas por prazer, como você fazia antes de a arquitetura se tornar sobre dinheiro e sobrevivência.
Ana sentiu o peito apertar. Quando foi a última vez que desenhara apenas por desenhar, sem pensar em clientes, em orçamentos, em aprovações, ela não lembrava. “Obrigada”, ela sussurrou pegando o sketbook como se fosse algo sagrado. Carlos beijou sua testa. Desenhe para eles, para Gabriel e Sofia. Desenhe o mundo que você quer que eles conheçam. E Ana desenhou.
Começou com a casa, adicionando detalhes que só existiam em sua imaginação. Uma casa na árvore no jardim, um balanço pendurado na mangueira, uma horta onde as crianças pudessem aprender de onde vinha a comida. Desenhou parques sustentáveis onde crianças de todas as classes sociais podiam brincar juntas.
Desenhou escolas com painéis solares e jardins no telhado. Desenhou um mundo melhor, um tijolo imaginário de cada vez. Carlos observava fascinado, enquanto a frustração de Ana se transformava em criatividade e a criatividade em paz. “Você é incrível”, ele disse uma noite, observando um desenho particularmente detalhado de uma biblioteca comunitária.
“Sabe disso, né?” Ana olhou para ele, para esse homem que a conhecera em um momento de desespero e escolhera ver não sua fraqueza, mas sua força. Você me faz sentir incrível. Não, Ana. Carlos se deitou ao lado dela na cama. Você sempre foi incrível. Eu apenas tive sorte de ser a pessoa que conseguiu te mostrar isso. O oitavo mês chegou com mais complicações. A pressão de Ana continuou subindo e Dr.
Oliveira a colocou em repouso absoluto, nem mesmo para ir ao banheiro sozinha. Ele instruiu severamente. Carlos, ela não pode fazer esforço algum. Entendeu? Carlos entendeu. E nos dias que se seguiram, ele se tornou enfermeiro, chefe, companhia e apoio emocional, tudo em um. Ele a carregava para o banheiro, preparava todas as refeições.
Lia para ela à noite não apenas livros sobre bebês, mas romances, poesia, até notícias do jornal quando ela insistia. Uma noite, Ana acordou chorando. Carlos estava imediatamente alerta. O que foi? Está com dor? Os bebês? Não. Ana enxugou as lágrimas. Eu estava sonhando com minha mãe, com ela está piorando. E pensando que e se ela não conhecer os bebês? E se quando eles nascerem ela já não souber mais quem eu sou? Carlos a puxou para seus braços o máximo que a barriga enorme permitia.
Então nós contaremos a ela todos os dias, se for preciso. Mostraremos as fotos, contaremos as histórias, que nos dias bons, quando ela lembrar, será como conhecê-los pela primeira vez todas as vezes. Ele beijou seus cabelos. E mesmo que ela esqueça, Ana, o amor está lá. Pode não estar na memória, mas está no coração, e isso ninguém pode tirar. Ana se agarrou a ele, chorando silenciosamente, até que o cansaço a levou de volta ao sono. Na semana seguinte, aconteceu algo que nenhum deles esperava.
Ana estava descansando quando ouviu vozes alteradas vindas do andar de baixo. Ela reconheceu a voz de Carlos, mas havia outra mulher, uma voz que ela reconheceu das entrevistas que pesquisara meses atrás, Helena Vieira. Ignorando as ordens médicas, Ana se levantou e foi até o topo da escada. onde podia ouvir sem ser vista. O que você está fazendo aqui, Helena? A voz de Carlos estava tensa.
Ouvi que você ia ser pai. Helena soava amarga, com uma arquiteta pobre de venda nova. Que romântico, Carlos. Fazendo caridade agora. Sai da minha casa. Você a ama? Helena riu. Um som sem humor. Ou isso é apenas você tentando preencher o vazio? Porque nós dois sabemos que você não é capaz de amar ninguém de verdade.
Você me disse isso, lembra? Ana sentiu o coração disparar, a pressão subindo perigosamente. Eu estava errado. A voz de Carlos saiu firme sobre tudo. Sobre não ser capaz de amar. Sobre não querer família. Sobre achar que solidão era melhor que vulnerabilidade. Houve uma pausa. Ana me mostrou que eu estava errado e agradeço a Deus todos os dias por ela ter entrado na minha vida. Ela vai te deixar”, Helena insistiu.
“Quando perceber quem você realmente é, quando o brilho passar e ela ver o homem vazio por baixo, Ana!”. O grito de Carlos foi de pânico puro. Ana percebeu muito tarde que estava caindo, o mundo girando, a escada parecendo se mover sob seus pés. Braços fortes a pegaram antes que ela caísse completamente.
Carlos assegurou, gritando por dona Carmen, por ambulância, por socorro. “Os bebês!”, Ana, murmurou a visão, escurecendo. Carlos, os bebês vão ficar bem. Todos vocês vão ficar bem. Ele assegurou mais apertado, lágrimas escorrendo por seu rosto. Eu prometo. Eu prometo. E então tudo ficou escuro.
Ana acordou em um quarto de hospital, cercada por monitores que apitavam em um ritmo constante. Sua primeira reação foi levar a mão à barriga, procurando pela protuberância familiar. Ela ainda estava lá, graças a Deus. Ana Carlos estava ao lado da cama parecendo um caco. Ele tinha olheiras profundas, o cabelo completamente bagunçado, a camisa amarrotada, como se ele tivesse dormido nela, que provavelmente tinha. “Os bebês?” A voz de Ana saiu rouca. “Estão bem.
” Carlos pegou sua mão, beijando-a repetidamente. Os batimentos cardíacos estão fortes. Mas Ana, você teve um pico hipertensivo. Dr. Oliveira disse que foi por pouco. Se você tivesse demorado mais alguns minutos para chegar aqui, ele não precisou terminar. Ana sabia. Desculpa, eu não devia ter me levantado. Mas eu ouvi Helena e esquece, Helena.
Carlos a interrompeu, sua voz saindo mais áspera do que pretendia. Ela não importa. Nunca importou. Você importa. Nossos bebês importam. E eu quase perdi vocês por causa das palavras vazias de alguém que não tem lugar na nossa vida. Mas o que ela disse sobre você não ser capaz de amar era mentira. Carlos segurou o rosto de Ana entre as mãos.
Ou talvez fosse verdade naquela época. Mas não é mais. Ana, você me transformou. me ensinou que amor não é fraqueza, que família não é armadilha, que vulnerabilidade não é vergonha. Ele pressionou a testa contra a dela. Eu te amo. Amo esses bebês. Amo a família que estamos construindo.
E se você precisar que eu prove isso todos os dias pelo resto da minha vida, eu vou provar. Ana sentiu as lágrimas escorrerem. Eu sei. Eu sempre soube. Só que ouvir alguém dizer aquilo me machucou também. Carlos admitiu, porque parte de mim ainda tinha medo de que fosse verdade, de que uma hora você perceberia que eu não sou bom o suficiente, que sou um empresário frio tentando comprar algo que deveria ser ganhado. Você ganhou.
Ana segurou o rosto dele. A cada jantar, a cada injeção, a cada vez que segurou minha mão ou limpou minhas lágrimas, você ganhou meu coração, Carlos. Não com dinheiro, com presença, com cuidado, com amor que você jurava não ter, mas que estava lá o tempo todo.
Eles se beijaram ali no quarto de hospital, com monitores apitando ao redor e enfermeiras passando do lado de fora. Mas nada disso importava. O que importava era eles, era aquele momento de reafirmação, de escolha renovada. “Casai comigo”, Carlos disse de repente, afastando-se apenas o suficiente para olhar em seus olhos. Ana piscou.
O quê? Casa comigo? Carlos repetiu dessa vez com mais firmeza. Eu sei que não estava no acordo. Eu sei que começamos isso sem intenção de casamento. Mas, Ana, eu quero. Quero que você seja minha esposa. Quero acordar todos os dias, sabendo que você escolheu ficar.
Quero que nossos filhos tenham pais casados, não porque tinham que ser, mas porque queriam ser. Carlos, você não precisa responder agora. Ele se apressou em dizer: “Pensa, eu só precisava que você soubesse que isso é o que eu quero. Não porque o acordo dizia, mas porque meu coração diz.” Ana sorriu através das lágrimas. Você é impossível, sabia? É um sim ou um.
É um Me pergunta de novo quando eu não estiver em um leito de hospital com risco de pré-eclâmpsia. Ana brincou. Porque quando eu disser sim e vou dizer sim, quero estar de pé. Quero poder te beijar direito. Quero que seja um momento que a gente lembre para sempre. Carlos riu. Um som de puro alívio e alegria. Justo.
Mas você disse quando? Não se. Então vou me agarrar nisso. Agarrai-te bem. Ana puxou-o para mais um beijo. Dr. Oliveira entrou alguns minutos depois, encontrando-os assim. Carlos meio deitado na cama de hospital com Ana. Ambos sorrindo como adolescentes apaixonados. Bem, pelo menos a pressão dela está melhor. Ele observou os monitores.
Mas Ana, você está em repouso absoluto até o parto e considerando que estamos na trxa semana com gêmeos, estamos falando de dias, talvez uma semana no máximo. Eles estão prontos? Ana perguntou a mão automaticamente indo para a barriga. Os pulmões estão maduros, os pesos estão bons.
Se você entrar em trabalho de parto agora, ou se precisarmos fazer uma cesárea de emergência, os bebês estarão bem. Dr. Oliveira sorriu. Você fez um trabalho incrível, Ana. Carregou esses bebês com saúde e amor até aqui. Agora é só a reta final. A reta final. O nascimento de Gabriel e Sofia estava a dias de distância, e, de repente, toda a jornada da proposta impossível ao amor improvável, das injeções dolorosas aos ultrassons emocionantes, das brigas às reconciliações, tudo levara a esse momento.
Eles iam ser pais de verdade, não papel ou em um contrato, mas na vida real, com bebês reais que chorariam e precisariam e os amariam de volta. Estamos prontos. Ana disse, olhando para Carlos. Você está pronto? Carlos pensou na pergunta. Estava assustado. Sim, incerto, sempre. Mas pronto, com você ao meu lado. Ele beijou sua testa. Estou pronto para qualquer coisa. E ele realmente acreditava nisso.
O que ele não sabia era que em menos de 48 horas seria testado de formas que nunca imaginou. Porque trazer vida ao mundo nunca era simples, nunca era apenas alegria, mas sempre, sempre valia a pena. Às 5 da manhã de uma quinta-feira chuvosa, Ana acordou com uma dor surda nas costas. Ela tentou ignorar, virar de lado, voltar a dormir, mas então sentiu algo diferente, uma contração que apertou sua barriga como um punho gigante. Carlos ela sacudiu o braço dele. Carlos, acorda.
Ele estava instantaneamente alerta, anos de sono leve de empresário fazendo efeito. O que foi? Está na hora? Outra contração mais forte. Ana agarrou a mão dele. Acho que sim. O caos que se seguiu foi uma névoa de atividade frenética. Carlos ligou para doutor Oliveira enquanto ajudava Ana a se vestir.
Dona Carmen apareceu para ficar com Maria e então estavam no carro voando pelas ruas ainda vazias de Belo Horizonte em direção ao Mat Day. Respira. Carlos mantinha uma mão no volante e outra segurando a Diana. Você consegue. Eu estou aqui. Dói. Ana o fegou através de outra contração. Carlos, dói tanto. Eu sei, amor. Eu sei. Mas logo vai acabar. Logo eles estarão aqui no hospital. A equipe já estava esperando.
Doutor Oliveira examinou Ana rapidamente. 4 cm de dilatação, pressão ainda elevada. Ele olhou para sua equipe. Vamos fazer cesárea. Não podemos arriscar com a pré-eclâmpsia. Tudo aconteceu muito rápido depois disso. Ana foi levada para o centro cirúrgico, Carlos vestindo roupas estéreis para entrar com ela. Ela estava assustada, chorando, agarrando a mão dele como se fosse a única coisa sólida em um mundo que girava. “Eu estou aqui.” Carlos repetiu como um mantra.
Não vou a lugar nenhum. A anestesia foi aplicada e Ana sentiu suas pernas ficarem dormentes. Havia um tecido bloqueando sua visão, mas ela podia sentir pressão, movimento. E Carlos estava ali segurando sua mão, sussurrando palavras de encorajamento, mesmo quando ela via o medo em seus olhos. E então um choro alto, indignado, perfeito. É um menino alguém anunciou.
Hana soluçou, tentando levantar a cabeça para ver, mas Carlos já estava olhando, lágrimas escorrendo livremente por seu rosto. Ele é perfeito, Ana. Ele é perfeito. Segundos depois, outro choro se juntou ao primeiro, mais suave, mas igualmente insistente. E uma menina? Pesos? Dr. Oliveira perguntou.
Menino, 2,8 kg. Menina 2,5 kg. Ambos chorando bem. Apgars excelentes. Carlos estava chorando abertamente agora, beijando a testa de Ana repetidamente. Você fez isso. Você trouxe eles ao mundo. Ana, você é incrível. E então os bebês estavam ali embrulhados em mantas, sendo colocados no peito de Ana. Ela olhou para eles, para Gabriel com cabelos escuros como o pai e Sofia com cabelos mais claros como ela, e sentiu seu coração simplesmente explodir de amor. Oi! Sua voz saiu quebrada pela emoção.
Oi meus amores. Eu sou a mamãe de vocês. Carlos tocou as cabecinhas deles com uma reverência quase religiosa. E eu sou o papai. Ele olhou para Ana, os olhos brilhando. Obrigado por eles, por nós, por tudo. Ana não conseguia parar de olhar para seus filhos. Eles eram reais, eram deles.
Eram milagres nascidos de um acordo impossível e transformados em amor verdadeiro. Gabriel, ela beijou a testa do menino. Sofia, outro beijo para a menina. Vocês são tão amados, tão incrivelmente amados. Quando Ana foi levada para o quarto de recuperação, com os bebês nos berços ao lado de sua cama, Carlos finalmente permitiu se desabar.
Ele se sentou na cadeira ao lado dela e simplesmente chorou. de alívio, de alegria, de medo transformado em gratidão. Hei! Ana estendeu a mão para ele. Estamos bem todos nós. Eu sei. Só que Carlos enxugou os olhos. Por um momento lá, quando você estava sangrando mais do que deveria, eu pensei, eu pensei que ia te perder e percebi que não importa quantos bilhões eu tenha, quantos prédios eu construa, sem você não sou nada. Você nunca foi nada, Carlos. Ana o corrigiu suavemente.
Você sempre foi tudo. Você só não sabia. Eles ficaram assim por um longo momento, observando Gabriel e Sofia dormir em seus primeiros momentos no mundo. E então Ana lembrou: “Maria, precisamos dizer a ela.” Carlos pegou o celular e ligou para dona Carmen, colocando no viva voz.
Quando Maria atendeu, sua voz estava surpreendentemente clara. “Ana, você está bem?” Estou ótima, mãe. Ana sorriu através das lágrimas. E você é avó de gêmeos, um menino e uma menina. Houve um silêncio do outro lado. Então Maria começou a chorar. Meus netos. Eu tenho netos. Gabriel e Sofia.
Ana disse: “E mal podemos esperar para você conhecê-los. Eu vou lembrar.” Maria prometeu. A voz trêmula. Amanhã quando você trouxer eles para casa, eu vou lembrar. Eu prometo que vou lembrar. E embora todos soubessem que não havia garantias, que o Alzheimer era imprevisível e cruel, naquele momento escolheram acreditar, escolheram ter fé.
Mais tarde naquela noite, quando os bebês estavam sendo alimentados por enfermeiras e Ana finalmente descansava. Carlos ficou ao lado da janela, olhando para Belo Horizonte iluminada lá embaixo. Ele pensou em como tudo começara, com solidão e desespero de ambos os lados. com uma proposta que qualquer pessoa sensata chamaria de loucura. Três palavras que mudaram tudo.
Mas agora, olhando para a cidade, Carlos sabia a verdade. Ana não lhe dera apenas um bebê, ela lhe dera dois. E mais importante, ela lhe dera amor, propósito. Uma razão para acordar, além de conquistar, uma razão para voltar para casa, além de dormir. Ela lhe dera uma família.
E ele, que começara achando que estava fazendo um favor, que estava salvando uma mulher desesperada, ele agora sabia quem realmente havia sido salvo. “Vem aqui”, a voz sonolenta de Ana o chamou da cama. Carlos se deitou ao lado dela, cuidadoso para não machucá-la, e a abraçou. “Obrigado”, ele sussurrou no escuro. “Por dizer sim, por acreditar, por me amar, mesmo quando eu não sabia como me amar”. Ana virou o rosto, beijando-o suavemente.
Obrigado por fazer aquela proposta maluca, por me ver quando eu era invisível, por provar que finais felizes existem, mesmo quando começam nos lugares mais improváveis. Eles adormeceram assim, entrelaçados, exaustos, mas completos, de uma forma que nenhum acordo jamais poderia ter previsto.
E nos berços ao lado, Gabriel e Sofia dormiam inconscientes de que eram fruto não apenas de ciência, mas de amor. Amor que nascera de desespero e se transformara em algo eterno. Amanhã traria novos desafios, fraldas, mamadeiras, noites sem dormir. Mas também traria alegrias. Primeiros sorrisos, primeiras palavras, primeiros passos.
E Carlos e Ana enfrentariam tudo juntos, como sempre deveria ter sido. A manhã seguinte, trouxe um céu limpo sobre Belo Horizonte, como se a cidade estivesse celebrando os novos cidadãos que acabavam de chegar. Ana acordou com os choros sincronizados de Gabriel e Sofia.
Aparentemente, eles já haviam descoberto como exigir atenção ao mesmo tempo. Carlos estava ao lado de um dos berços, segurando Gabriel com uma mistura de terror e devoção que faria a Ana rir se não estivesse tão cansada. “Ele está chorando?” Carlos declarou o óbvio. “O que eu faço? Está com fome?” Provavelmente. Ana tentou se sentar e fez uma careta de dor. A cesárea ainda estava fresca. Fica quieta.
Carlos rapidamente colocou Gabriel de volta no berço e foi ajudar Ana. Eu trago eles para você. E assim começou a nova rotina. Carlos trouxe os bebês. Ana os amamentou com a ajuda de enfermeiras pacientes que mostraram como fazer dois ao mesmo tempo. Era desajeitado, bagunçado e absolutamente perfeito.
“Somos péssimos nisso,”, Ana comentou quando Sofia cuspiu um pouco de leite em sua blusa de hospital. Por enquanto, Carlos limpou delicadamente a boca da filha. Mas vamos melhorar. Temos o resto das nossas vidas para praticar. O momento que todos esperavam chegou na tarde daquele dia.
Dona Carmen trouxe Maria ao hospital, preparando-a cuidadosamente durante o trajeto sobre o que veria. Ana recuperando de cirurgia, dois bebês, seus netos. Quando Maria entrou no quarto, houve um momento de silêncio absoluto. Ela olhou para Ana na cama, para Carlos ao lado, segurando uma criança em cada braço, e suas mãos voaram para a boca. Ana! A voz saiu trêmula, mas era a voz de alguém que sabia exatamente onde estava e o que estava vendo. Minha menina. Oi, mãe.
Ana estendeu a mão. Vem conhecer seus netos. Maria se aproximou lentamente, como se estivesse em um sonho. Carlos, com infinito cuidado, colocou Sofia nos braços dela primeiro. “Esta é Sofia”, ele disse suavemente. “Sua neta”. Maria olhou para o bebê em seus braços, para a carinha enrugada e os olhos fechados e começou a chorar silenciosamente.
“Ela é linda, é tão, tão pequena, tão perfeita.” Maria olhou para Ana. Você fez isso, filha? Você trouxe vida ao mundo. Nós fizemos. Ana corrigiu olhando para Carlos. Os três, você, eu e Carlos. Carlos então mostrou Gabriel para Maria. E este é Gabriel, seu neto. Maria tocou a cabeça do menino com reverência. Gabriel e Sofia. Ela repetiu os nomes como uma oração. Meus netos.
Eu tenho netos e vou A voz dela quebrou. Vou tentar lembrar. Todo dia vou olhar para eles e tentar lembrar que eles são meus, que são parte de você. Hana estava chorando abertamente agora e Carlos não estava muito melhor. Mesmo nos dias em que não lembrar, mãe, Ana disse, eles vão saber que você os ama. Nós vamos contar todo dia. Vamos mostrar fotos.
Vamos fazer com que você seja parte das vidas deles. Não importa o quê. Maria ficou ali por uma hora segurando os bebês, cantando canções de Ninar que ela achava que havia esquecido, mas que voltavam quando mais precisava. E quando finalmente foi hora de ir embora, ela beijou a testa de cada neto depois de Ana.
Você é uma boa mãe Maria disse, os olhos claros e presentes. Melhor do que eu fui. A senhora foi perfeita. Ana segurou a mão dela e me ensinou tudo que preciso saber sobre Amar incondicionalmente. Quando Maria saiu, Carlos se sentou ao lado de Ana na cama. Ela vai esquecer, ele disse suavemente. Provavelmente até amanhã. Eu sei. Ana limpou as lágrimas. Mas hoje ela lembrou.
Hoje ela conheceu seus netos e soube quem eles eram. E isso, isso tem que ser suficiente. E era, tinha que ser. Três dias depois, Ana recebeu alta. A casa nas mangabeiras havia sido transformada. Os bersários estavam prontos, completos com monitores, trocadores e milhares de fraldas. Carlos havia contratado uma enfermeira neonatal para as primeiras semanas, mas ambos sabiam que queriam fazer o máximo possível sozinhos. A primeira noite em casa foi caótica.
Gabriel acordava chorando. Ana o alimentava, colocava para dormir e então Sofia acordava. Carlos tropeçava nos próprios pés, tentando esquentar mamadeiras. Dona Carmen, que ficara para ajudar, ria gentilmente de suas tentativas desajeitadas. É assim mesmo no começo ela assegurou. Logo vocês vão pegar o jeito. E pegaram. Não rapidamente, não facilmente, mas pegaram.
Carlos descobriu que tinha talento especial para fazer Gabriel arrotar. Ana descobriu que cantar baixinho fazia Sofia dormir mais rápido. Eles desenvolveram um sistema. Carlos ficava com as mamadas das 2 horas da manhã, Ana com as das 5, dividiam banhos, trocas de fraldas, infinitas lavagens de roupa. Era exaustivo, era desesperador, às vezes era absolutamente perfeito.
Duas semanas após o nascimento, em uma tarde tranquila, com ambos os bebês dormindo, Carlos encontrou Ana no jardim. Ela estava sentada no balanço que ele havia instalado, olhando para as jabuticabeiras que começavam a florescer. Tem um minuto?”, Carlos perguntou, as mãos nos bolsos com nervosismo. “Para você sempre.
” Carlos respirou fundo e, para total surpresa de Ana, ajoelhou-se na frente dela. “Carlos, o que você disse que quando você dissesse sim, queria estar de pé.” Carlos a interrompeu, tirando uma pequena caixa de veludo do bolso. “Mas eu não posso esperar mais. Ana Carolina Silva, você entrou na minha vida quando eu estava mais perdido.
Aceitou uma proposta que qualquer pessoa sensata recusaria e transformou um acordo frio em amor mais quente que o sol. Ele abriu a caixa, revelando um anel simples, mas elegante, com um diamante que captava a luz do entardecer. Você me deu uma família, me deu propósito, me deu amor que eu nem sabia que merecia.
Então eu estou aqui de joelhos, implorando: “Casa comigo”. Não por causa dos bebês, não por causa do acordo, mas porque eu te amo, porque quero passar o resto da minha vida te fazendo feliz, porque não consigo imaginar um único dia sem você. Ana estava chorando, as mãos cobrindo a boca. Isso não é justo. Ela disse através das lágrimas.
Você sabe que eu não posso dizer não quando você fala assim. Então diga sim. Carlos sorriu esperançoso. Sim. Ana não hesitou. Sim. Carlos Roberto Mendes. Mil vezes. Sim. Carlos colocou o anel em seu dedo com mãos trêmulas. Então a puxou para um beijo que era promessa e celebração e tudo que palavras não podiam expressar. Quando se separaram, ambos estavam rindo e chorando ao mesmo tempo.
“Vamos casar rápido”, Ana disse. Não quero esperar. O quão rápido? Mês que vem. Algo pequeno, apenas família próxima e amigos. Perfeito. Carlos beijou-a de novo. Absolutamente perfeito. O casamento aconteceu cinco semanas depois no próprio Jardim das Mangabeiras. Foi simples, íntimo, com apenas 20 pessoas presentes. Maria estava tendo um dia bom.
Ela usava um vestido lilás e segurava Sofia durante a cerimônia, enquanto Carlos segurava Gabriel. Ana usava um vestido branco simples que acomodava seu corpo ainda em recuperação. Não havia vé, não havia marcha nupscial tradicional. Apenas eles, os bebês e as pessoas que amavam, sob um céu de Belo Horizonte, que finalmente decidira cooperar com um pô do sol espetacular. O juiz de paz era um amigo de Carlos que sorriu ao vê-los.
Então vocês escreveram votos próprios. Ana e Carlos trocaram olhares. Eles não haviam falado sobre isso, mas de alguma forma ambos sabiam o que dizer. Eu escrevi, Ana, disse, tirando um pedaço de papel amarrotado do bolso, mas não sei se consigo ler sem chorar. Tenta. Carlos encorajou, segurando sua mão livre. Ana respirou fundo.
Carlos, quando você entrou na minha vida, eu estava afundando e você não jogou uma corda. Você pulou na água comigo. Você me fez uma proposta que era loucura, mas que era também a coisa mais corajosa que alguém já fez por mim. Acreditar que eu valia algo mesmo quando eu não acreditava. Ela limpou as lágrimas.
Você me deu um lar quando eu não tinha onde cair morta. Me deu esperança quando eu estava em desespero. Me deu amor quando eu achava que não merecia ser amada. E agora você me deu uma família. Não apenas os bebês, mas você. Você é minha família, Carlos, meu parceiro, meu amor, minha casa.
E eu prometo passar o resto da minha vida te mostrando que você fez a escolha certa naquele dia chuvoso quando me ligou. Eu prometo te amar nos dias bons e nos dias impossíveis. Eu prometo ser sua parceira, sua confidente, sua melhor amiga. E prometo que, não importa o que aconteça, nós sempre vamos ser uma equipe. Sempre. Carlos estava chorando abertamente agora, não se importando com quem via.
Isso foi perfeito. Não sei como vou superar. Tenta Ana devolveu com um sorriso molhado. Carlos limpou os olhos e se virou para encará-la completamente. Ana, eu não escrevi nada porque não conseguiria colocar em palavras o que sinto, mas vou tentar. Ele apertou a mão dela. Você me salvou.
Eu sei que você acha que fui eu quem te salvou, mas foi o contrário. Você me salvou de uma vida de solidão, de uma existência vazia, de morrer sozinho em uma mansão cheia de coisas, mas vazia de amor. Você me ensinou que vulnerabilidade não é fraqueza, que amar não é perder controle, é ganhar tudo que realmente importa.
E você me deu não apenas filhos, mas uma razão para ser melhor, para tentar todo dia ser o homem que você e eles merecem. Sua voz ficou mais firme. Eu prometo te amar com tudo que sou. Prometo te fazer rir quando você quiser chorar. Prometo segurar sua mão nas tempestades e dançar com você nos dias de sol. Prometo ser pai presente para nossos filhos e marido devoto para você. E prometo que cada dia vou escolher você.
Sempre você, para sempre você. Não havia um olho seco no jardim. O juiz limpou a própria garganta antes de continuar. Com os votos trocados e os anéis dados, eu agora os declaro marido e mulher. Carlos pode beijar sua esposa. E Carlos beijou Ana como se fosse a primeira vez e a última vez ao mesmo tempo. Como se estivesse selando não apenas um casamento, mas um pacto.
Uma promessa que transcendia papel e legalidade. Uma promessa de sempre. Três meses depois, Ana estava no escritório da Mendes Construtora. seu escritório agora como arquiteta chefe, revisando os planos finais para o conjunto habitacional em Itaquera. Gabriel e Sofia estavam em um cercadinho ao lado de sua mesa, brincando com brinquedos coloridos e gorgolejando para si mesmos.
Carlos entrou parando na porta para apenas observar. Sua esposa trabalhando no que amava, com seus filhos por perto. Não havia visão mais perfeita. Está encarando de novo. Ana disse sem levantar os olhos dos planos. Não posso evitar. Vocês três são tudo. Ana levantou a cabeça sorrindo. Vem aqui. Carlos se aproximou contornando a mesa para ficar atrás dela, os braços ao redor de seus ombros enquanto olhavam juntos para os planos. Isso vai mudar vidas. Ele disse.
Famílias vão ter lares dignos por causa do seu projeto. Nosso projeto. Ana corrigiu. Você tornou possível. Nós tornamos possível. Carlos beijou seu pescoço juntos. Sofia escolheu aquele momento para começar a chorar, seguida rapidamente por Gabriel. Ana riu. Acho que alguém está com fome. Eu pego. Carlos se afastou pegando os bebês do cercadinho com a prática de três meses de experiência.
Vocês dois são impossíveis. Sabiam disso? Ele falou com eles, que pararam de chorar para olhar para o pai. Mas são os impossíveis mais perfeitos do mundo. Ana observava o coração tão cheio que poderia explodir. Esse homem que começara tão fechado, tão convencido de que não sabia amar, agora era o pai mais dedicado que ela poderia imaginar. Ei, Carlos! Hum, obrigada.” Ele olhou para ela confuso.
Por quê? Por aquela proposta maluca, por ter-me visto, por ter acreditado que isso poderia funcionar mesmo quando era impossível. Ana se levantou, indo até onde ele estava com os bebês. Por me dar tudo. Carlos a beijou suavemente. Obrigado você por dizer sim, por transformar um acordo em amor, por me dar uma família.
Eles ficaram assim, os quatro, abraçados no escritório, enquanto Belo Horizonte se estendia pela janela, uma família construída das circunstâncias mais improváveis, um amor nascido de desespero e transformado em algo eterno. E ali, naquele momento, Ana percebeu algo fundamental. Não importava como começaram, não importava que houvesse um contrato, um acordo, termos e condições.
O que importava era onde chegaram, era quem escolhiam ser todo dia. Era o amor que construíram tijolo por tijolo, beijo por beijo, promessa por promessa. A proposta de Carlos fora simples: “Dê-me um bebê”. Mas o que Ana realmente lhe dera foi muito mais. Esperança, família, lar, propósito, amor. E o que ele lhe dera em troca não podia ser medido em dinheiro ou contratos.
Era algo infinitamente mais valioso. Um parceiro, um pai para seus filhos, um amor para toda a vida. Eles começaram como estranhos, com um acordo impossível. Terminaram como família, com um amor indestrutível. E se alguém perguntasse a Ana se ela se arrependia daquela decisão louca de aceitar a proposta de um bilionário que ela mal conhecia, ela riria, porque aquela decisão, aquele único momento de coragem em meio ao desespero, não apenas mudou sua vida, criou uma vida inteiramente nova para todos eles. E isso, Ana sabia com cada fibra do seu ser. Era o tipo de
final feliz que não se encontrava em contos de fadas. Era o tipo que se construía com trabalho, com amor, com escolha diária de ficar, de lutar, de amar. Era o tipo de final feliz que valia cada lágrima, cada medo, cada momento de incerteza. Porque no fim amor não era sobre como se começa, era sobre onde se escolhe chegar juntos.
E eles, contra todas as probabilidades, chegaram exatamente onde estar, em casa, em família, em amor. Às vezes, os melhores finais nascem dos começos mais impossíveis e às vezes, acordos se transformam em amor que dura para sempre. Esta é a história de Ana e Carlos, que provaram que milagres acontecem quando se tem coragem de dizer sim para o impossível. M.
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