Para de fazer escândalo. Seu pai vai chegar e ver que tipo de criança você é. Os gritos vinham do segundo andar da mansão. Valentina parou na porta dos fundos, ouvindo uma criança chorar desesperadamente. Ninguém aguenta mais você. Fica aí chorando até aprender. Uma porta bateu com força.
Nossa, que situação! Sussurrou Carmen, a empregada que recebeu Valentina. A patroa tá nervosa de novo. Que patroa? Dona Fabiana, a madrasta da menina. Mais gritos da criança ecoaram pela casa. E cadê o pai? Viajando, sempre viajando. Carmen balançou a cabeça. Olha, querida, vou logo avisando. Esse emprego não é fácil, não. Valentina subiu correndo às escadas, seguindo o som do choro.
No corredor, uma mulher loira e elegante saía de um dos quartos batendo a porta atrás de si. Você deve ser a faxineira nova. Fabiana ajeitou o cabelo, tentando parecer calma. Que bom, porque preciso sair. A menina tá fazendo birra. Quando parar, você pode começar o trabalho. A menina tá bem? Tá sim, só fazendo escândalo, como sempre.
Fabiana desceu as escadas rapidamente, pegou a bolsa e saiu. O choro continuava vindo do quarto. Valentina bateu na porta. Oi, pequena. Posso entrar? O choro diminuiu um pouco. Não vou brigar, prometo. Ela abriu a porta devagar. Uma menininha de cabelos castanhos estava sentada no chão, abraçando as próprias pernas, rosto molhado de lágrimas, olhinhos inchados.
Oi, linda, como você se chama? A menina a olhou desconfiada. Melissa. Melissa, que nome bonito. Eu sou a Tina. Por que você estava chorando? Melissa apontou para a barriga. Dói. Tá com fome? A menina fez que sim com a cabeça. Que horas você comeu? Não comi. Valentina olhou o relógio. 1 da tarde. Não tomou café da manhã? Fabiana esqueceu.

Esqueceu? Como alguém esquece de dar comida para uma criança? Vem, vamos achar algo gostoso para você. Melissa hesitou, mas pegou na mão de Valentina. Desceram juntas paraa cozinha. Que tal um sanduíche? e um suco. Gosto. Enquanto preparava o lanche, Valentina observava a menina.
Ela balançava as perninhas na banqueta, prestando atenção em tudo. Quantas fatias eu cortei? Valentina mostrou o sanduíche. Duas. Certinho. Você sabe contar até quanto? 1 2 3 4 5 Nossa, que esperta. O rostinho de Melissa se iluminou. Era óbvio que ela não recebia elogios com frequência. Pode comer. Melissa devorou o sanduíche como se tivesse morrendo de fome. Tina, boa.
Você que é boa, Melissa. Muito especial. Fabiana disse eu. Ruim. O coração de Valentina apertou. Fabiana tá errada. Você é uma menina linda e inteligente. Melissa parou de mastigar e olhou nos olhos de Valentina. Algo passou entre elas naquele momento. Confiança. Tina, fica. Vou trabalhar aqui todos os dias. Bom, depois de comer, Melissa quis mostrar seus brinquedos.
O quarto era grande, mas bagunçado. Ninguém ajudava ela a organizar. Ela pegou uns livros de figuras e começou a falar as cores. Azul, vermelho, amarelo. Perfeito. Sabe mais cores? Rosa, verde, roxo. Era impressionante. A menina tinha muito mais capacidade do que quem convivia com ela percebia.
Estavam brincando quando ouviram a porta da frente. Fabiana voltou. Melissa ficou tensa na mesma hora, passos subindo à escada. Fabiana apareceu na porta, viu Valentina e Melissa brincando, e o rosto dela mudou. Melissa, você comeu? A menina fez que sim, encolhendo os ombros.
Quem deixou? Melissa apontou para Valentina, mas não falou nada. Eu vi que ela estava com fome e fiz um lanche. Valentina explicou. Da próxima vez pergunta antes. Melissa tem horários para comer. Se come fora da hora, não vai querer jantar. Fabiana se aproximou da filha com um sorriso forçado. Não é mesmo, amor? Você sabe que tem que esperar o jantar. Melissa olhou para Valentina, depois para Fabiana, confusa.
Agora fica quietinha enquanto a moça trabalha, tá bom? Melissa fez que sim, mas quando Fabiana saiu do quarto, ela se aproximou de Valentina e sussurrou: “Ela, Ma, machuca!” Valentina sentiu um frio na barriga, o jeito que Melissa falou, o medo nos olhinhos. Como ela machuca! Mas Melissa já tinha ouvido Fabiana voltando e fingiu estar brincando.
Fabiana entrou no quarto de novo. Melissa, guarda esses brinquedos. Tá uma bagunça. A menina começou a guardar rapidamente com medo. Mais rápido. Seu pai não gosta de bagunça. Melissa tropeçou, tentando guardar tudo correndo, e alguns blocos caíram. Olha só, desastrada. Desculpa, desculpa, não adianta.
Fabiana pegou o braço de Melissa com mais força do que precisava, deixando a pele vermelha. Para de ser lenta. Melissa começou a chorar baixinho. E para de chorar também. Seu pai não gosta de criança chorona. Valentina teve que se controlar para não interferir.
Se fizesse isso, seria mandada embora na hora e Melissa ficaria sozinha com Fabiana. Pronto, agora vai brincar sozinha enquanto a Tina trabalha. Fabiana saiu do quarto. Melissa mostrou o braço para Valentina. Estava com uma marca vermelha. Dói. Vem cá. Valentina abraçou a menina devagar. Melissa, quando alguém te machuca, pode me contar, tá bem? Fabiana disse: “Não pode por papai vai me dar para outras pessoas”.
Valentina sentiu uma raiva enorme. Como alguém podia ameaçar uma criança assim? Melissa, me escuta. Seu papai nunca vai te dar para ninguém. Ele te ama. Ama? A pergunta partiu o coração de Valentina. Melissa não tinha certeza se o pai a amava. Claro que ama. Você é a filha dele.

Melissa pensou um pouco, depois pegou papel e giz de cera, desenhou duas figuras. Uma grande com cabelo amarelo e uma pequena no chão chorando. É você? Valentina apontou paraa figura pequena. Melissa fez que sim. E essa é a Fabiana? Fez que sim de novo. Ela faz isso quando seu papai não tá. Faz. Valentina guardou o desenho. Talvez um dia precisasse provar o que estava acontecendo.
Quando estava indo embora, no final do dia, ouviu Fabiana ao telefone. Oi, amor. Tudo bem por aqui? A Melissa comeu direitinho, brincou. Tá uma gracinha. Mentira. Melissa tinha passado o dia com medo e fome. A fachineira nova é boa. Melissa gostou dela. Pausa. Claro que vou cuidar bem da nossa princesa. Beijo. Valentina saiu da casa com o coração apertado. Melissa estava em perigo e ela era a única pessoa que sabia disso.
No segundo dia, Valentina chegou e encontrou Melissa sentada na escada ainda de pijama. Oi, querida. Por que não se vestiu? Fabiana não ajudou. Onde ela tá falando no telefone. Valentina ouviu a voz de Fabiana vindo da sala. Tom doce, carinhoso. Leonardo, a Melissa dormiu super bem. Já tomou café? Tá brincando. Uma gracinha mesmo.
Valentina sabia que Melissa não tinha tomado café. A menina estava com fome há horas. Claro, amor. Pode ficar tranquilo no trabalho. Aqui tá tudo sob controle. Fabiana desligou e gritou. Melissa, vem aqui. A menina desceu correndo, tropeçando no pijama comprido. Por que ainda tá de pijama? Já passou da hora de se arrumar? Você não me acordou.
Eu não sou sua babá. Você tem que aprender a fazer as coisas sozinha. Melissa baixou a cabeça. Vai lá se vestir e rápido. A menina subiu devagar. Valentina a seguiu. Precisa de ajuda? Preciso. Valentina ajudou Melissa a escolher a roupa e se vestir. A menina estava com fome, então desceram pra cozinha.
Que tal ovos mexidos? Gosto. Enquanto cozinhava, Valentina observava Fabiana pela janela. Ela estava no jardim. falando ao telefone de novo, rindo descontraída. Mãe, eu não aguento mais essa situação. Toda vez que olho para ela, lembro que ele já foi pai de outra mulher. Valentina prestou atenção. Não é só isso, mãe.
É que quando eu perdi meu bebê e ela tá aí viva, ocupando o lugar que deveria ser do meu filho. Melissa puxou a blusa de Valentina. Ovo. Pronto, já vai, querida. Fabiana continuou. Eu sei que não é culpa dela, mas eu não consigo. E agora com essa faxineira nova, a menina tá ficando mais esperta. Leonardo vai perceber que eu não cuido bem dela.
Valentina serviu os ovos paraa Melissa, mas continuou ouvindo. Às vezes penso que seria melhor ela ir para uma escola especial, sabe, interna. Aí eu e Leonardo podíamos ter nossa família de verdade. O sangue de Valentina gelou. Fabiana queria se livrar de Melissa. Claro que não vou falar isso pro Leonardo agora, mas se eu conseguir provar que ela tá muito difícil de lidar, a ligação acabou.
Fabiana entrou na cozinha e parou ao ver Melissa comendo. Ela não podia esperar o almoço. Ela estava com fome. Valentina respondeu: “Melissa, você sabe que tem horário para comer. Se come agora, não vai querer almoçar. Mas tava com fome. Fome não é desculpa para desobedecer. Fabiana se aproximou da menina.
Termina logo isso e vai pro seu quarto. Preciso conversar com a Tina. Melissa comeu rapidinho e saiu. Fabiana esperou ela sumir para falar: “Olha, Valentina, você parece uma boa pessoa, mas preciso deixar claro uma coisa. Melissa é uma criança especial. Ela precisa de rotina, de limites. Se você ficar mimando, ela vai atrapalhar o desenvolvimento dela.
Eu só sei que você quer ajudar, mas quem decide o que é melhor para Melissa sou eu e o Leonardo. Você tá aqui para limpar a casa, não para educar a menina. Entendi. Ótimo. Agora, se me der licença, preciso cuidar da minha intiada. Fabiana subiu às escadas. Poucos minutos depois, Valentina ouviu Melissa, o que é essa bagunça? Desculpa, os brinquedos caíram.
Quantas vezes eu tenho que falar? Você tem que ter mais cuidado. Um barulho. Depois choro. Para de chorar. Chorar não resolve nada. Valentina subiu correndo. Encontrou Melissa no chão do quarto, segurando o braço. O que aconteceu? Ela tropeçou. Fabiana disse friamente. Eu avisei que ela é desastrada. Não tropecei. Melissa sussurrou. Fabiana empurrou. Melissa, para de inventar mentiras. Fabiana gritou.
A menina começou a chorar mais forte. Tá vendo? Ela inventa histórias quando faz algo errado. É uma mania que ela desenvolveu. Valentina ajudou Melissa a levantar. O braço da menina estava vermelho. Machucou. Um pouco. Não machucou nada. Fabiana interveio. Ela é dramática. Qualquer coisinha vira escândalo.
Valentina levou Melissa pro banheiro e passou água fria no braço dela. Melhorou? Melhorou? Melissa, a Fabiana te empurrou mesmo? A menina olhou pro corredor com medo, depois fez que sim, baixinho. Por quê? Ela disse: “Eu lenta para guardar brinquedos”. Valentina sentiu uma raiva enorme, but se controlou. Vem, vamos descer. O resto do dia passou tenso.
Fabiana tratava Melissa com frieza, ignorando quando a menina tentava conversar com ela. Na hora do almoço, Fabiana serviu apenas uma pequena porção pra Melissa. Mas é só isso? Valentina perguntou. Ela comeu ovos de manhã, lembra? Não pode comer demais. Melissa comeu tudo rapidinho, ainda com fome, mas não pediu mais.
À tarde, quando Melissa estava desenhando na sala, Fabiana chegou perto dela. Que desenho feio. Por que você não consegue desenhar direito? Melissa parou de desenhar. Desculpa. Seu pai vai ficar triste se vir esses rabiscos. Melissa rasgou o desenho. Assim é melhor. Pai não gosta de bagunça. Valentina assistiu tudo da cozinha com o coração partido.
Quando Leonardo chegou no final do dia, a transformação de Fabiana foi impressionante. Oi, amor. Ela correu para abraçá-lo. Como foi o dia? Cansativo. E aqui? Tranquilo. Melissa se comportou bem? Brincou, desenhou? Mentira. Melissa tinha passado o dia intimidada e triste. Onde ela tá? No quarto descansando. Teve um dia cheio. Leonardo nem subiu para ver a filha. E a faxineira nova. Boa. Melissa gostou dela. Talvez até demais.
Como assim? Ah, nada demais. É que Melissa tá ficando muito dependente dela. Isso me preocupa um pouco. Por quê? Ela já perdeu a mãe, Leonardo. Se ficar muito apegada à faxineira e depois ela sair, entendo. Mas não é nada sério. Só acho que devemos ficar de olho. Valentina ouviu tudo da cozinha. Fabiana estava plantando sementes de dúvida sobre ela na cabeça de Leonardo.
Quando estava indo embora, Valentina subiu rapidinho para se despedir de Melissa. Tchau, querida. Até amanhã. Tina, Fabiana vai machucar de novo? Não, se você ficar quietinha, tá bem? E se ela fizer alguma coisa, você me conta amanhã, tá? Você é uma menina muito corajosa, Melissa. Sou. É sim. E inteligente também. Melissa sorriu pela primeira vez no dia.
Valentina saiu da casa sabendo que a situação era pior do que imaginava. Fabiana não era apenas negligente. Ela tinha um plano para se livrar de Melissa. E o pior, Leonardo não fazia ideia do que estava acontecendo na própria casa. No terceiro dia, Valentina chegou e ouviu gritos vindos do quarto de Melissa. Eu falei para ficar quieta. Por que você não obedece? Desculpa, só queria água.
Água não. Você já bebeu água na hora do café? Valentina subiu rapidamente. A porta do quarto de Melissa estava trancada por fora. Melissa, Tina, me ajuda. Valentina procurou a chave e encontrou na cômoda do corredor. Quando abriu, Melissa correu pros seus braços. Por que você estava trancada? Perguntei pro papai por ele não fala comigo.
E aí Fabiana ficou brava. Valentina sentiu um nó na garganta. A menina foi castigada por fazer uma pergunta pro próprio pai. Quando isso aconteceu? Café da manhã. Ou seja, Leonardo saiu pro trabalho, sabendo que a filha estava trancada no quarto. “Vem, vamos tomar café.” Estavam na cozinha quando ouviram barulho de carro.
“Papai!” Melissa correu pra sala. Leonardo tinha voltado para buscar uns documentos. Quando viu Melissa correndo na direção dele, parou surpreso. Oi, princesa. Que bom te ver acordada, papai. Melissa se jogou nos braços dele. Leonardo pareceu desconcertado com o carinho da filha. O que você tava fazendo? Tava trancada. Trancada onde? Fabiana desceu as escadas rapidamente.
Leonardo, por que voltou? Esqueci uns papéis. Melissa, o que você quer dizer com trancada no quarto? Porque você não fala comigo? Leonardo olhou para Fabiana confuso. Ela tava fazendo birra, Leonardo. Fabiana explicou rapidamente. Tive que deixar ela no quarto para se acalmar. Não. Eh, fiz birra. Só perguntei por papai não fala comigo.
A pergunta simples deixou Leonardo sem resposta. Quando foi a última vez que ele realmente conversou com Melissa? Claro que eu falo com você, princesa. Quando Leonardo ficou em silêncio, Fabiana aproveitou. Viu como ela é? Sempre questionando, sempre insatisfeita. Às vezes é difícil lidar com ela. Não sou difícil. Melissa disse baixinho.
Claro que não é. Leonardo se abaixou na frente da filha. Hoje à noite nós conversamos, tá bem? Quando eu voltar. Promete? Prometo. Leonardo pegou os documentos e saiu. Melissa ficou radiante o dia todo, contando pra Valentina. Papai vai conversar comigo. Que bom, você tá feliz? Muito.
Mas quando Leonardo chegou à noite, Fabiana já tinha a desculpa pronta. Leonardo, Melissa teve um dia difícil, fez birra, não quis comer direito, tá incubando alguma coisa, já dormiu. Ela não tava doente de manhã, sabe como é criança. De uma hora para outra fica indisposta. Leonardo subiu só para dar uma olhadinha.
Melissa fingiu que estava dormindo para não causar problema paraa Fabiana. No dia seguinte, o rostinho da menina estava triste. Papai esqueceu. Ele não esqueceu, querida. Fabiana falou que você tava doente. Não tava. Eu sei. Por Fabiana mente. Como explicar para uma criança de 7 anos a maldade dos adultos? Às vezes as pessoas fazem coisas erradas porque tão sofrendo. Fabiana sofre? Acho que sim.
Nos dias seguintes, Valentina percebeu um padrão. Sempre que Leonardo mostrava interesse em ficar com Melissa, Fabiana inventava uma desculpa. A menina estava cansada, doente, passando por uma fase difícil. Valentina decidiu ajudar Melissa de outra forma. começou a ensinar coisas para ela durante o dia.
“Vamos aprender os dias da semana, como segunda, terça, quarta?” Melissa repetiu animada. Valentina ensinou também números até 20, como amarrar sapatos, algumas palavras em inglês. A transformação foi incrível. Em poucos dias, Melissa estava mais falante, mais confiante, mais feliz. Numa quinta-feira, Leonardo chegou e encontrou Melissa contando até 20.
Melissa, onde você aprendeu isso? Tina ensinou. Leonardo olhou para Valentina surpreso. Ela é muito inteligente, só precisa de estímulo. Os médicos sempre disseram que ela teria limitações. Toda criança tem limitações, mas toda criança também tem potencial. Leonardo ficou observando Melissa mostrar como sabia amarrar os sapatos. Era óbvio que ele estava vendo a filha com olhos novos.
Fabiana observava da cozinha e não gostou nada do que viu. Naquela noite, Valentina ouviu uma discussão no quarto do casal. Não acho bom paraa Melissa ficar tão dependente da faxineira. Dependente? Ela tá aprendendo. E quando a Valentina sair, Melissa vai ficar frustrada. Porque ela sairia.
Leonardo, empregada não fica para sempre e Melissa já tá muito apegada. Ou talvez seja exatamente o que ela precisava, alguém que acredita nela. Você tá dizendo que eu não acredito? Não tô dizendo nada. Só acho que Melissa tá feliz. E você acha que eu não quero ela feliz? A conversa continuou, mas Valentina teve que ir embora. Uma coisa estava clara. Fabiana estava plantando dúvidas sobre ela na cabeça de Leonardo e isso significava perigo paraa Melissa. A oportunidade que Fabiana esperava chegou numa sexta-feira.
Leonardo teve uma reunião que se estendeu e Melissa acordou chorando de um pesadelo na madrugada. Valentina chegou de manhã e encontrou Melissa no quarto, ainda abatida, enquanto Fabiana falava ao telefone com Leonardo. Não sei o que fazer, amor. Ela teve uma noite horrível. Gritou a madrugada toda, agora tá fazendo birra, não quer comer.
Valentina observou. Melissa não estava fazendo birra, tava assustada e cansada. Talvez você precise conversar com ela quando chegar. Ou quem sabe eu ligo pro pediatra. Às vezes criança especial precisa de remédio para controlar o comportamento. Remédio para controlar comportamento? Melissa tinha só 7 anos. Tá bom, amor.
Beijo. Fabiana desligou e olhou paraa Melissa com frieza. Seu pai tá muito preocupado com você. falou que se não melhorar vai ter que tomar remédio para ficar mais calma. Melissa ficou apavorada. Não quero remédio. Então para de fazer escândalo. Valentina não aguentou. Fabiana, ela não tá fazendo escândalo. Teve pesadelo. É normal criança ficar abalada.
Desculpa, mas quem decide o que é normal para Melissa sou eu e o Leonardo. Você é só a faxineira. A frase foi como um tapa na cara de Valentina. Durante o dia, Valentina tentou acalmar Melissa, que estava perturbada com a ameaça dos remédios. Conseguiu fazer ela comer um pouco e até sorrir brincando com massinha.
Quando Leonardo chegou no final da tarde, encontrou Melissa desenhando na sala. “Como ela tá?” Melhor, Fabiana, respondeu. A faxineira conseguiu distrair ela, mas ainda acho que você devia conversar com ela. Leonardo se aproximou de Melissa. Princesa, a Fabiana disse que você teve uma noite difícil.
Melissa olhou paraa Fabiana, depois pro pai. Tive pesadelo. Com o quê? Monstro queria me levar. Leonardo sentiu um aperto no peito. Ninguém vai te levar, Melissa. Você é minha filha. Vai ficar sempre comigo. Sempre. Sempre. Melissa se jogou nos braços do pai. Por um momento, Valentina achou que tudo podia se resolver, mas no sábado Leonardo decidiu trabalhar em casa.
Era uma chance rara de ver como as coisas funcionavam. Valentina estava limpando o escritório quando ouviu Fabiana chamando Melissa. Melissa, guarda esses brinquedos. Ainda brincando. Eu disse agora. Mas um pouco? Não, agora. A voz de Fabiana ficou agressiva. Melissa, com medo, começou a guardar os brinquedos, mas derrubou alguns blocos. Cuidado, você é muito desastrada.
Desculpa. Desculpa, não adianta. Você sempre quebra tudo. Isso não era verdade. Melissa era até mais cuidadosa que outras crianças. Enquanto Melissa guardava os últimos brinquedos, Fabiana esbarrou nela. A menina perdeu o equilíbrio e caiu machucando o joelho. Ai, viu? Desajeitada mesmo. Melissa começou a chorar. Leonardo apareceu na porta. O que foi? Melissa tropeçou brincando.
Eu avisei que ela estava agitada. Não tropecei. Fabiana me empurrou. Silêncio pesado. Leonardo olhou para Fabiana, que fez cara de espanto. Leonardo, você ouviu isso? Ela tá mentindo. Melissa não mente. Criança inventa história. Ela tropeçou e agora tá me culpando. Não menti. Fabiana empurrou. Melissa. chorava, frustrada por não conseguir explicar direito.
Leonardo estava dividido, filha falando uma coisa, esposa falando outra. Fabiana viu o momento crucial. Leonardo, tô preocupada. Melissa tá inventando cada vez mais histórias desde que essa faxineira chegou. Ontem disse que eu tranquei ela, hoje que eu empurrei. Acho que alguém tá colocando ideias na cabeça dela.
O olhar de Leonardo foi paraa Valentina. Valentina, você falou alguma coisa paraa Melissa sobre sobre como ela deve se relacionar com a Fabiana? Não, senhor. Só brinco e ensino algumas coisas. Que tipo de coisas? Cores, números, palavras. E você nunca sugeriu que alguém estava maltratando ela? Valentina estava numa encruzilhada. Se falasse a verdade, seria demitida.
Se mentisse, trairia Melissa. Eu só escuto quando ela quer conversar. E ela disse que alguém maltrata ela. Às vezes ela fica triste e não sabe explicar porquê. Viu? Fabiana disse triunfante. Ela tá confundindo a cabeça da menina. Melissa nunca teve esses problemas antes dessa mulher chegar. Leonardo suspirou. Valentina, acho melhor você se concentrar só na limpeza, tá bem? A educação da Melissa deixa por nossa conta. Sim, senhor.
Valentina voltou pro escritório com o coração partido. Tinha acabado de falhar em proteger Melissa e sabia que as coisas iam piorar muito a partir dali. Depois da bronca de Leonardo, Valentina teve que ser mais cuidadosa, mas Melissa encontrou um jeito de se comunicar com ela sem palavras. Quando Fabiana estava chegando, a menina corria até Valentina e tocava no braço dela, fazendo com o dedinho.
Esperta. Valentina sussurrava. Melissa sorria orgulhosa. A menina começou a usar desenhos simples para se comunicar. Uma casa significava Fabiana brava. Um coração significava papai chegando. Uma carinha triste significava tenho medo. Você é muito inteligente, Melissa. Sou muito mais do que todo mundo pensa.
Durante a semana, Valentina percebeu que Melissa entendia expressões faciais melhor que qualquer adulto. Ela sabia quando Fabiana estava mentindo só de olhar. Como você sabe? Olho fica pequeno e quando seu papai tá triste, não olha para mim. Era impressionante como a menina lia as emoções das pessoas.
Na quarta-feira, Melissa fez um desenho que gelou o sangue de Valentina, uma figura com cabelo amarelo falando no telefone e ao lado escreveu: “Melissa, sai”. Onde você ouviu isso, Fabiana? Telefone. O que ela disse? Escola longe. A menina tinha entendido que Fabiana queria mandá-la para um internato.
Você tem medo? Melissa fez que sim, lágrimas nos olhos. Não quero sair. Eu também não quero que você saia. Naquela tarde, Fabiana desceu e viu Valentina dando biscoito pra Melissa. Quantas vezes vou ter que falar? Ela tem horário. Era só um biscoito. Biscoito vira dois. Dois vir onde vão parar os limites? Fabiana se aproximou de Melissa. Sobe pro quarto.
Mas ainda tô comendo agora. Melissa se levantou rapidinho, mas o biscoito caiu no chão. Olha só, sujou tudo. Desculpa, você é muito desastrada. Por isso as pessoas não têm paciência com você. A frase cruel fez Melissa abaixar a cabeça. Sobe e não quero ouvir barulho. Melissa subiu correndo.
Valentina se aproximou de Fabiana. Ela é só uma criança e eu sou a responsável por ela. Não preciso de opinião. Eu só Você só nada. Tá aqui para limpar, não para educar. Fabiana subiu atrás de Melissa. Poucos minutos depois, Valentina ouviu a porta do quarto bater com força.
Quando Leonardo chegou, Fabiana já tinha a versão pronta. Como foi o dia da Melissa? Bem, brincou, comeu direitinho. Onde ela tá? Descansando. Teve um dia cheio. Leonardo nem questionou. subiu rapidinho só para dar boa noite”, encontrou Melissa fingindo dormir. “Boa noite, princesa. Boa noite, papai. Amanhã nós brincamos, tá? Tá.
Mas quando Leonardo desceu, Fabiana comentou: “Leonardo, tenho notado que Melissa tá ficando muito dependente da faxineira. Como assim? Ela só quer brincar quando a Valentina tá por perto. Quando somos só nós duas, fica quieta, meio rebelde. Rebelde? Ah, nada sério, só uma fase. Mas acho que devemos ficar atentos.
Atentos a quê? Criança pode ficar confusa se receber educação diferente de pessoas diferentes. Leonardo ficou pensativo. Você acha que Valentina tá fazendo algo errado? Não, errado. Só diferente do que eu faço. E isso pode confundir Melissa. Entendi. Não é nada grave. Só acho que devemos conversar com ela sobre manter consistência.
No dia seguinte, Valentina chegou e encontrou Melissa meio tristinha. O que foi, querida? Melissa mostrou um desenho, uma figura pequena sozinha, longe das outras. Esse é você? É por você tá sozinha. Fabiana disse que você vai embora. Valentina sentiu o coração apertar. Eu não vou embora. Mas ela disse que papai não gosta de mim brincar com você. Isso não é verdade.
É, seu papai quer que você seja feliz e você fica feliz brincando comigo. Fico. Então, tá tudo bem. Melissa se animou um pouco, mas Valentina percebeu que Fabiana estava plantando inseguranças na cabeça da menina. À tarde, quando Melissa estava desenhando na sala, Fabiana se aproximou. Que desenho é esse? É a Tina. E eu, por que você sempre desenha a Tina? Nunca me desenha.
Melissa ficou sem resposta. Você gosta mais da Tina do que de mim? Eu responde. Gosta mais dela? Ela é legal comigo e eu não sou. Melissa não sabia o que dizer. Tá bom, já entendi. Fabiana pegou todos os desenhos de Melissa e rasgou. Se você prefere a fachineira, então não precisa desenhar mais nada. Melissa começou a chorar.
E para de chorar, criança chorona é chata. Quando Valentina viu os desenhos rasgados no lixo, sentiu uma raiva enorme, mas sabia que não podia confrontar Fabiana diretamente. No final do dia, quando estava arrumando suas coisas para ir embora, encontrou Melissa escondida atrás da cortina da sala. O que você tá fazendo aí? Escondida de quem? Fabiana brava comigo.
Por quê? Porque gosto de você. A frase partiu o coração de Valentina. Melissa estava sendo punida por gostar dela. Melissa, não tem nada de errado em gostar de mim. Tem, Fabiana, disse Fabiana tá errada. Melissa mostrou uma folha amassada. Tinha conseguido salvar um desenho antes de Fabiana rasgar tudo.
Era uma figura pequena com lágrimas nos olhos. Esse sou eu. Por que você tá chorando no desenho? Porque Fabiana vai me mandar embora se eu gostar de você. Valentina abraçou Melissa, sabendo que a situação estava ficando cada vez mais perigosa. Fabiana não estava apenas sendo cruel, ela estava destruindo sistematicamente qualquer fonte de alegria na vida de Melissa.
E o pior, Leonardo não fazia ideia do que estava acontecendo na própria casa. Leonardo decidiu trabalhar em casa na quinta-feira. Queria observar melhor a dinâmica familiar. Vou ficar hoje”, ele anunciou no café. Fabiana ficou tensa. “Mas você tem aquela reunião importante. Remarquei. Quero passar tempo com Melissa. Leonardo, ela tem rotina. Se você mudar, ela fica agitada.
Agitada ou apenas feliz de ver o pai?”, a pergunta pegou Fabiana desprevenida. Durante a manhã, Leonardo observou tudo com atenção. Melissa estava brincando na sala quando Fabiana chegou perto. Melissa, guarda esses brinquedos. Posso brincar mais? Não, teu pai tá trabalhando e precisa de silêncio. Mas não tô fazendo barulho. Tá sim. Agora guarda.
Leonardo, que estava no escritório com a porta aberta, sabia que Melissa realmente não estava fazendo barulho. Poucos minutos depois, Valentina se aproximou da menina. Quer ajuda para guardar? Quero. Que tal um jogo? Carrinhos vermelhos numa caixa, azuis noutra. Jogo! Melissa ficou animada.
Em 5 minutos, tudo estava arrumado e ela tinha aprendido separação por cores. Muito bem, você é super esperta. Leonardo viu a diferença com Fabiana. Melissa guardava com medo. Com Valentina aprendia brincando. À tarde, Leonardo desceu para brincar com a filha. O que você quer fazer? Posso mostrar o que sei. Claro. Melissa correu buscar papel e gis de cera.
Sei escrever nome. Ela escreveu Melissa com letras trêmulas mais legíveis. Nossa, quem te ensinou? Tina. Leonardo olhou para Valentina surpreso. Ela é muito inteligente, aprende rápido. Melissa, que mais você sabe? A menina mostrou contar até 20 algumas palavras em inglês, amarrar sapatos. Tô indo bem. Muito bem, tô impressionado.
Era óbvio que Leonardo estava vendo a filha com olhos novos. Fabiana observava da cozinha incomodada. Leonardo, ela não tá ficando agitada demais? Agitada? Ela tá feliz, mas olha como tá falando alto, gesticulando. Ela tá empolgada porque alguém tá prestando atenção nela. Durante o jantar, Melissa contou sobre seus desenhos, músicas que sabia, histórias que gostava.
“Ela tá muito falante hoje”, Fabiana comentou com crítica. Ela sempre foi falante. Só precisava de quem escutasse. Depois do jantar, Leonardo levou Melissa pro quarto. “Gostou de brincar comigo?” “Adorei, princesa. Pode de novo? Posso todo dia? Leonardo olhou nos olhos da filha. Ela estava implorando por atenção. Vou tentar mais. Promete? Prometo. Quando desceu, encontrou Fabiana na sala com cara fechada.
Preciso falar com você. Sobre o quê? Sobre hoje. Você viu como Melissa ficou diferente? Diferente como? mais agitada, barulhenta. Isso não é normal. Fabiana, pela primeira vez em muito tempo vi minha filha feliz. Mas criança especial precisa de calma, de rotina. Ela precisa de amor e atenção.
E você acha que eu não dou isso? Leonardo hesitou. Dá, mas talvez não do jeito que ela precisa. T, como assim? Hoje eu vi uma menina inteligente, curiosa, diferente da criança limitada que você sempre descreve. Ela teve um dia bom, mas as limitações continuam existindo. Ou talvez ela tenha mais potencial do que estamos percebendo.
Leonardo, você trabalha fora. Eu convivo com ela todo dia. É exatamente por isso que quero observar mais. Você tá duvidando do meu cuidado? Não tô duvidando, só quero entender melhor. Entender o quê? Porque Melissa parece uma criança diferente quando você não tá por perto? Fabiana ficou sem resposta. Amanhã quero ficar com ela de novo.
Leonardo, não é pedido, é decisão. Naquela noite, Leonardo pensou em tudo que tinha visto. Melissa era mais capaz do que ele imaginava. E Valentina tinha conseguido em semanas o que nem ele nem Fabiana conseguiram em anos. Pela primeira vez, começou a questionar se Fabiana realmente queria o melhor paraa Melissa.
ou se ela queria apenas o que era mais fácil para ela. No dia seguinte, Fabiana acordou determinada a retomar controle. Leonardo tinha saído pro trabalho depois de avisar: “Quero que Melissa tenha um bom dia.” Mas Fabiana tinha outros planos. Melissa, vem aqui. A menina desceu animada porque o pai prometera brincar de novo à tarde.
Preciso conversar com você sobre ontem. Melissa se sentou na ponta do sofá. Você deixou seu pai preocupado. Como? Ficou muito agitada, muito barulhenta. Mas ele disse que gostou. Ele disse para não te magoar, mas depois me falou que você precisa aprender a se controlar. Melissa ficou confusa. Tinha certeza de que o pai ficara feliz.
Pai gosta de criança calma, educada, não de criança que fica gritando, fazendo escândalo. Não! Gritei! Gritou sim. E se continuar assim, ele não vai mais querer brincar com você. Não, não. Ninguém gosta de criança mal educada. Melissa começou a duvidar de si mesma. Se quiser que ele continue te amando, tem que ficar quietinha, sem falar muito, sem fazer barulho.
Mas ele pediu para eu contar coisas. Ele estava sendo educado, na verdade ficou cansado. Lágrimas apareceram nos olhos de Melissa. Não chora. Choro é feio. Pai odeia a criança chorona. Melissa engoliu o choro, confusa e machucada. Agora vai pro quarto e lembra, se quer que ele goste de você, fica quieta. Melissa subiu devagar, destruída pelas mentiras de Fabiana.
Quando Valentina chegou, a casa estava estranhamente silenciosa. Cadê Melissa? No quarto descansando. Ela tá bem? Tá. Só aprendendo a se comportar melhor. Posso ver ela? Não. Ela precisa de disciplina. Valentina passou a manhã preocupada. Não ouvia nenhum som do quarto de Melissa. Na hora do almoço, Fabiana chamou a menina. Pode descer.
Melissa desceu com olhos vermelhos, mas sem chorar. Oi, querida. Valentina sussurrou. Melissa olhou para ela, mas não respondeu. Melissa, a Tina falou com você. Oi. A menina respondeu sem ânimo. Durante o almoço, Melissa comeu em silêncio, sem levantar os olhos. “Tá vendo como ela tá comportada?”, Fabiana comentou. “Muito melhor que ontem.
” Mas Valentina sabia que aquilo não era bom comportamento, era tristeza. À tarde, Leonardo chegou animado. “Cadê minha princesa?” no quarto. Mas Leonardo, ela tá meio estranha hoje. Estranha como? Muito quieta, meio triste. Acho que ficou envergonhada por ontem. Envergonhada? Por quê? Criança às vezes percebe quando se comporta inadequadamente. Leonardo subiu confuso. Encontrou Melissa sentada na cama, olhando pela janela. Oi, princesa.
Oi, senhor. Senhor, por que não me chama de papai? Fabiana disse que é mais educado. Melissa, eu sou teu pai, me chama de papai. Tá. O que você quer fazer hoje? O que o senhor quiser. Eu quero saber o que você quer. Melissa ficou em silêncio. Ontem você tava tão animada. O que aconteceu? Fiquei mal educada.
Quem disse isso? Fabiana. Leonardo sentiu um incômodo. Melissa, eu adorei brincar contigo ontem. Mas Fabiana disse que o senhor ficou cansado. Fabiana tava errada. Tava. Tava. E quero brincar de novo. Um sorrisinho apareceu no rosto de Melissa. Pode mostrar desenho novo? Claro.
Mas quando Leonardo viu os desenhos, ficou chocado. Eram figuras tristes, pessoas chorando. Por que teus desenhos estão tão tristes? Não sei. Tu tá triste? Melissa olhou pro corredor com medo. Às vezes. Por quê? Não posso falar. Para mim pode falar qualquer coisa. Fabiana disse que não posso contar segredos. Leonardo sentiu algo errado.
Que tipo de segredos? Não posso falar, senão o senhor não vai mais gostar de mim. A frase alarmou Leonardo. Melissa, eu sempre vou gostar de ti. Sempre. A menina olhou nos olhos do pai, querendo acreditar, mas ainda com medo. Leonardo desceu perturbado. Encontrou Fabiana na cozinha. Que segredos Melissa não pode contar? Segredos? Ela disse que não pode me contar certas coisas. Ah, isso.
Eu expliquei para ela que não deve repetir tudo que houve. Criança às vezes distorce as coisas. Distorce como? Leonardo, ela tem síndrome de Down, às vezes entende errado e depois conta de forma confusa. Mas ela parecia com medo de me contar algo. Medo de te decepcionar.
Eu ensino que ela deve pensar antes de falar. A explicação fazia sentido, mas Leonardo ficou com uma pulga atrás da orelha. Alguma coisa não estava batendo e ele ia descobrir o quê. Leonardo passou o fim de semana observando. Começou a perceber pequenas coisas que nunca tinha notado antes. No sábado de manhã, durante o café, Melissa derrubou um pouco de leite na mesa.
“Cuidado, Melissa”, Fabiana disse com irritação. “Desculpa”. Melissa encolheu os ombros como se esperasse uma bronca maior. “Não tem problema, princesa, acontece. Leonardo disse limpando com guardanapo. Melissa olhou pro pai surpresa, como se não tivesse acostumada com reações tão tranquilas. À tarde, Leonardo estava lendo no escritório quando ouviu Fabiana na sala.
Melissa, para de fazer barulho com esses brinquedos. Leonardo prestou atenção. O som era mínimo, apenas blocos sendo empilhados. Mas não tô fazendo barulho. Tá sim. Teu pai tá tentando trabalhar. Posso brincar mais baixo? Não. Guarda tudo e vai pro quarto. Leonardo franziu a testa porque Melissa não podia brincar na sala da própria casa.
No domingo, ele decidiu testar algo. Melissa, quer me ajudar a lavar o carro? Posso? Claro. Fabiana interveio rapidamente. Leonardo, ela vai se sujar toda e pode escorregar com a água. Ela é cuidadosa, mas se acontecer alguma coisa, não vai acontecer nada. Leonardo levou Melissa pro quintal. A menina ficou radiante, ajudando a ensaboar o carro. Gosto de ajudar, papai.
E eu gosto da tua ajuda. Quando voltaram, Fabiana comentou: “Olha só como ela tá suja. Agora vai ter que tomar banho de novo. Não tem problema.” Leonardo disse: “Para você não tem. Quem vai dar banho sou eu. Eu posso dar. Você, Leonardo, você nem sabe como dar banho nela. Posso aprender. Ela precisa de cuidados especiais.
Tem toda uma rotina.” Leonardo percebeu que Fabiana sempre arranjava desculpas para ele não cuidar da própria filha. Na segunda-feira, decidiu fazer um teste mais direto. Fabiana, hoje eu vou buscar Melissa na escola. Por quê? Porque quero. Mas eu sempre busco. Ela tá acostumada comigo. Ela também pode se acostumar comigo.
Leonardo. Mudança de rotina deixa ela nervosa. Como você sabe? Já tentamos? Não precisa tentar. Criança especial funciona melhor com rotina fixa. Ou talvez ela só precise de mais flexibilidade. Fabiana ficou incomodada com a insistência de Leonardo. Naquela tarde, quando foi buscar Melissa, Leonardo conversou com a professora.
Como Melissa tá se desenvolvendo? Muito bem. Ela é uma das alunas mais dedicadas. Dedicadas? Sim. faz todas as atividades, interage bem com outras crianças, é muito carinhosa. E o comportamento exemplar, nunca tivemos problemas com ela. Leonardo ficou confuso. A descrição da professora não batia com a criança difícil que Fabiana sempre descrevia.
Ela fala sobre casa? Às vezes fala muito da Tina. Acho que é a babá faxineira. Ah, sim. Ela adora essa Tina. Sempre desenha vocês duas brincando. E sobre sobre a madrasta? A professora hesitou. Bem, ela não fala muito sobre isso. Não fala nada. Ela uma vez desenhou uma figura feminina que chamou de madrasta, mas no desenho a figura tava longe das outras pessoas.
longe, separada, como se não fizesse parte da família. Leonardo dirigiu de volta para casa pensativo. Na escola, Melissa era descrita como carinhosa e bem comportada. Em casa, segundo Fabiana, era difícil e problemática. Qual era a verdade? Quando chegaram em casa, Fabiana perguntou: “Como foi?” Bem, a professora disse que Melissa é uma das melhores alunas. Claro, na escola ela se comporta.
O problema é em casa. Por que seria diferente? Porque em casa ela se sente mais à vontade para fazer birra. Ou talvez em casa ela se sinta aceita. A frase escapou sem Leonardo perceber. Fabiana ficou ofendida. Você tá insinuando que eu não aceito ela? Não tô insinuando nada. Tá sim. Você acha que eu trato ela mal, Fabiana? Eu só acho que talvez possamos ser mais positivos com ela. Positivos como? Elogiando mais, criticando menos.
Leonardo, elogio demais estraga a criança. Ela precisa de limites. Claro que precisa, mas também precisa de carinho. E você acha que eu não dou carinho? Leonardo olhou paraa esposa. Quando foi a última vez que viu Fabiana abraçar Melissa espontaneamente ou elogiar algo que ela fez? Acho que todos nós podemos melhorar.
Mas por dentro, Leonardo estava começando a questionar seriamente se Fabiana realmente amava Melissa ou se apenas tolerava a presença dela. Na terça-feira, Fabiana acordou sabendo que precisava agir. Leonardo estava fazendo perguntas demais, observando demais. Valentina, preciso falar com você. Sim, senhora. Tenho notado que você tá se envolvendo muito com Melissa.
Como assim? Ensinando coisas, brincando. Isso não faz parte do seu trabalho. Ela gosta de aprender. Mas quem decide o que ela deve aprender somos eu e Leonardo, não você. Valentina ficou em silêncio. Além disso, Melissa tá ficando muito dependente de você. Isso não é saudável. Ela só, ela só nada.
Você tá confundindo uma criança que já tem limitações. Senhora Fabiana, eu só quero ajudar. A melhor forma de ajudar é fazer seu trabalho. Limpar a casa, só isso. E se Melissa quiser conversar comigo, você escuta educadamente, mas não fica enchendo a cabeça dela com ideias. Que tipo de ideias? que ela é mais inteligente do que realmente é, que pode fazer coisas que não pode.
Valentina sentiu raiva, mas se controlou. Entendi. Ótimo, porque se eu perceber que você continua interferindo na educação dela, vou ter que dispensar seus serviços. A ameaça foi clara. Valentina assentiu e voltou ao trabalho. Mais tarde, Melissa se aproximou dela na cozinha. Tina, porque você triste? Não tô triste, querida. Tô.
Seus olhos tão diferentes. A percepção de Melissa era impressionante. É que às vezes os adultos ficam preocupados com coisas do trabalho. Fabiana foi má com você? Valentina hesitou. Como responder sem mentir, mas sem complicar as coisas. Fabiana só quer que eu faça meu trabalho direito. Você faz direito. Obrigada, querida. Melissa ficou pensativa.
Tina, você vai embora? Por que pergunta isso? Fabiana disse que você pode ir embora. Valentina sentiu o coração apertar. Fabiana estava usando a ameaça para assustar também Melissa. Eu não vou embora, tá bem? Promete? Prometo. Mas por dentro, Valentina sabia que a promessa podia ser difícil de cumprir. À tarde, Leonardo chegou do trabalho e encontrou Melissa quieta demais.
O que você fez hoje, princesa? Brinquei no quarto sozinha? Sozinha? Por que não brincou na sala? Melissa olhou para Fabiana antes de responder. Porque tenho que ficar quieta. Quem disse isso? Fabiana disse que você gosta de casa. Silenciosa. Leonardo olhou pra esposa confuso. Eu nunca disse que queria casa silenciosa. Não disse diretamente, Fabiana explicou.
Mas você sempre reclama quando chega cansado e tem barulho. Que barulho? Melissa brincando. Às vezes ela fica agitada. Fabiana, ela tem 7 anos. Criança de 7 anos faz barulho. Mas criança especial precisa de mais disciplina. Disciplina não é silêncio total. Leonardo se abaixou na frente de Melissa. Princesa, você pode brincar na sala, pode fazer barulho de criança.
Tá bem. Mas Fabiana disse: “Esquece o que Fabiana disse. Pai tá dizendo que pode.” Melissa olhou incerta entre o pai e a madrasta. Leonardo, não acha que isso vai confundir ela? Fabiana interveio. O que vai confundir é ela receber ordens contraditórias. Não são contraditórias, são complementares. Como assim? Eu cuido da disciplina diária.
Você pode ser mais flexível nos fins de semana. Por que só nos fins de semana? Porque durante a semana ela precisa de rotina rígida. Leonardo estava ficando irritado com tantas regras. Melissa, a partir de hoje você pode brincar onde quiser na casa. Tá bem. Tá, papai. Fabiana ficou visivelmente contrariada.
Naquela noite depois que Melissa dormiu, a discussão explodiu. Leonardo, você tá minando minha autoridade. Autoridade ou controle excessivo, controle necessário. Você não convive com ela todo dia. E de quem é a culpa? Você sempre arranja desculpa para eu não ficar com ela? Porque você não entende as necessidades dela? ou porque você não quer que eu entenda? Fabiana ficou sem resposta por um momento. Leonardo, tô tentando proteger você.
Proteger de quê? Disse decepcionar. Melissa tem limitações reais. Se você criar expectativas demais, as únicas limitações que vejo são as que você coloca nela. A frase saiu mais dura do que Leonardo pretendia. Mas era o que sentia. Eu não coloco limitações. Eu reconheço a realidade. Que realidade? A professora diz que ela é uma das melhores alunas.
Na escola é diferente. Por que seria diferente? Fabiana ficou sem resposta convincente. Leonardo, você tá mudando muito desde que essa faxineira chegou. Mudando como? Questionando tudo que faço, duvidando do meu cuidado com Melissa. Talvez porque tô vendo Melissa com outros olhos. Que olhos? Os olhos de um pai que percebeu que estava negligenciando a própria filha. Leonardo subiu pro quarto, deixando Fabiana sozinha na sala.
Ela sabia que estava perdendo o controle da situação. Leonardo estava acordando. Melissa estava ficando mais confiante e tudo por causa de Valentina. Era hora de se livrar dela de uma vez por todas. No dia seguinte, Fabiana ligou para uma amiga. Oi, Patrícia.
Você conhece alguma agência de empregadas confiável? Por quê? Problemas com a atual? Muitos problemas. Preciso trocar urgente. O que ela fez? Tá se metendo onde não deve, influenciando Melissa de forma inadequada. Nossa, que tipo de influência. enchendo a cabeça dela com ideias erradas, fazendo ela questionar minha autoridade. E Leonardo sabe, Leonardo tá sendo manipulado também.
Essa mulher é perigosa, então demite ela. Não é tão simples. Leonardo gosta do trabalho dela. Preciso de uma justificativa sólida. Que tipo de justificativa? Algo que prove que ela não é confiável. Fabiana desligou com um plano formado na cabeça. Se não conseguia demitir Valentina por motivos óbvios, ia criar motivos que Leonardo não pudesse ignorar. E o primeiro passo seria colocar Melissa contra Valentina.
Afinal, se a própria criança rejeitasse a fachineira, Leonardo não teria escolha a não ser demiti-la. Fabiana sorriu friamente. Ia ser mais fácil do que imaginava. Melissa era apenas uma criança com síndrome de Down. Como poderia resistir à manipulação de um adulto determinado? Mas Fabiana subestimou duas coisas: a inteligência emocional de Melissa e a força da ligação que a menina tinha desenvolvido com Valentina.
A guerra estava apenas começando e Melissa, sem saber, ia se tornar a peça central de uma batalha pela sua própria felicidade. Na quarta-feira, Fabiana acordou determinada. Leonardo estava fazendo perguntas demais. Era hora de se livrar de Valentina definitivamente. Ela esperou Leonardo sair e chamou Melissa. Preciso da sua ajuda hoje. Com o quê? Vamos descobrir se a Tina é honesta.
Fabiana tirou uma pulseira de ouro do próprio punho. Vou deixar isso num lugar especial. Se ela pegar, vamos saber que ela rouba. Ela não rouba. Vamos ver. Você não pode contar para ninguém, tá bem? Por quê? Porque é nosso segredo. Se você contar, a Tina vai fugir antes de provarmos que ela é má. Melissa ficou confusa, mas assentiu.
Fabiana escondeu a pulseira dentro do pano de prato que Valentina sempre usava para limpar. Agora você vai ficar quietinha e observar. Quando Valentina chegou, começou a limpeza normalmente. Fabiana a observava de longe esperando. Valentina, pode limpar a cozinha hoje? Precisa de uma caprichada. Claro, senhora. Valentina foi buscar os panos. Quando pegou o pano de prato, a pulseira caiu no chão com um barulho.
Que estranho. Valentina murmurou se abaixando para pegar. Era exatamente o que Fabiana queria. Melissa, vem aqui agora. A menina correu pra cozinha assustada. Olha só, peguei a Tina roubando. Melissa viu Valentina segurando a pulseira confusa. Valentina, o que você tá fazendo com minha pulseira? Eu caiu do pano.
Não sei como caiu do pano. Como minha pulseira foi parar no pano? Não sei, senhora. Eu só peguei o pano e ela caiu. Melissa, você viu a Tina com minha pulseira? Melissa olhou entre as duas sem entender. Vi ela compulseira. Então ela roubou. Não, eu não roubei nada. Valentina protestou. Claro que roubou. Tava escondida no pano para você levar depois. Isso não é verdade.
Melissa viu você com a pulseira, não viu? A menina a sentiu, mas estava claramente confusa. Pega suas coisas e sai da minha casa. Senhora, por favor, me deixe explicar. Não tenho que explicar. Ladra não fica na minha casa. Eu nunca roubei nada. A pulseira tava no pano.
Que conveniente, não é? Valentina olhou para Melissa desesperada. Melissa, você sabe que eu jamais roubaria. Você me conhece. Melissa olhou nos olhos de Valentina e viu desespero genuíneo, mas lembrou que Fabiana disse que era segredo. Eu não sei. Pega suas coisas agora. Valentina pegou a bolsa com lágrimas nos olhos. Melissa, eu vou sentir muito sua falta.
A menina começou a chorar quando Valentina saiu. Para de chorar. Você devia ficar feliz. Tiramos uma ladra da nossa casa. Não queria que ela fosse embora. Ela era má, Melissa. Você vai entender quando crescer. Mas Melissa continuou chorando o resto do dia. Quando Leonardo chegou à noite, Fabiana contou a versão dela. Demiti Valentina hoje. Por quê? Peguei ela roubando minha pulseira de ouro.
Como assim roubando? Melissa viu ela com a pulseira na mão. Leonardo olhou pra filha. Melissa, o que você viu? Vi Tina com pulseira. Onde? Cozinha. E você viu ela pegando a pulseira de algum lugar? Melissa hesitou. Lembrou que Fabiana disse que era segredo. Não sei. Como não sabe? Pulseira caiu. Caiu de onde? Do Siipano. Leonardo franziu a testa.
Fabiana, a pulseira tava no pano de limpeza. Tava. Ela escondeu lá. Você viu ela escondendo? Não precisei ver. A evidência tava lá. Que evidência? Se ela escondeu no pano, por que deixaria cair na frente de vocês? Porque foi pega desprevenida. Leonardo não estava convencido. Melissa, a Tina parecia estar roubando. Não, parecia assustada.
Assustada? Como se não entendesse, a observação inocente fez Leonardo pensar. Onde Valentina tá agora? Não sei. Não me interessa. Eu vou procurar ela. Para quê? Para ouvir a versão dela. Leonardo, você não acredita em mim? Quero ter certeza antes de acusar alguém de roubo. Fabiana ficou nervosa.
Se você trouxer essa ladra de volta, vou sair de casa. Fabiana, não é ameaça, é decisão. Leonardo olhou paraa esposa, percebendo pela primeira vez o tom de ultimato. Por que você tem tanto medo de eu conversar com ela? Não tenho medo. Só não aceito ladra na minha casa.
Se ela realmente roubou, não tem problema eu conversar com ela. Problema é você duvidar da minha palavra. Não tô duvidando, só quero entender melhor. Fabiana percebeu que estava sendo muito defensiva. Tá bom, faz o que quiser, mas se ela voltar, eu saio. Leonardo ficou pensativo. A reação de Fabiana estava estranha demais. No dia seguinte, ele decidiu investigar por conta própria.
Na quinta-feira, Leonardo saiu para trabalhar, mas voltou uma hora depois, sem avisar. estacionou longe e entrou pelos fundos. Queria observar como Melissa estava se comportando sem Valentina. Encontrou a menina sentada na sala sozinha, sem brincar com nada. Oi, princesa. Papai. Melissa correu pros braços dele. Por que você voltou? Fabiana apareceu surpresa.
Esqueci uns documentos. Leonardo se abaixou para Melissa. Por que você não tá brincando? Não quero. Por que não? Tô triste. Triste por quê? Melissa olhou para Fabiana com medo. Saudade da Tina. Melissa, já falamos sobre isso. Fabiana interveio. A Tina era má. Ela não era má. Era sim. Ela roubou de nós. Não roubou.
Leonardo prestou atenção na convicção da menina. Melissa, como você sabe que ela não roubou? A menina olhou paraa Fabiana dividida. Porque pulseira não era dela. Exato. Por isso ela roubou. Não. Melissa ficou agitada. Fabiana pôs pulseira no pano. Silêncio total na sala. O que você disse? Leonardo perguntou. Fabiana. Pus lá. Melissa, para de inventar histórias. Fabiana gritou. Não inventei.
Vi você e colocar. Leonardo olhou pra esposa. Fabiana, você colocou a pulseira no pano? Claro que não. Ela tá confundindo as coisas. Não confundi. Você disse era segredo. Melissa tem síndrome de Down. Leonardo inventa histórias. Não invento. Melissa começou a chorar. Leonardo pegou a filha no colo. Calma, princesa.
Conta pro papai o que aconteceu. Fabiana pôs pulseira pano a pra Tina achar. Por quê? Para dizer que Tina ruim. Leonardo sentiu o sangue ferver. E ela mandou você não contar. mandou, disse era segredo. Leonardo olhou para Fabiana com uma expressão que ela nunca tinha visto. É verdade isso, Leonardo? Você vai acreditar numa criança com problema mental? Ela não tem problema mental.
Tem sim. E tá inventando para defender a faxineira. Por que ela inventaria algo tão específico? Porque sente falta da Valentina e quer ela de volta. Leonardo colocou Melissa no sofá. Princesa, vai pro seu quarto um minutinho. Papai precisa conversar com Fabiana. Melissa saiu correndo. Fabiana, me conta a verdade. Já contei.
A verdade verdadeira. Leonardo, você armou para Valentina ou não? Fabiana percebeu que não tinha mais saída. Eu eu suspeitava que ela tava roubando. Suspeitava como pequenas coisas sumindo. Ela sempre perto, que coisas? Um brinco, uma caneta. E você achou que testar com sua pulseira de ouro era boa ideia? Queria ter certeza.
E quando ela não pegou a pulseira, você decidiu acusar ela mesmo assim. Ela pegou sim, Fabiana. Ela achou a pulseira porque você colocou lá, mas a intenção dela podia ser roubar. A intenção? Você tá acusando alguém por intenção? Leonardo tava gritando. Você destruiu a reputação de uma pessoa inocente, Leonardo. Ela tava atrapalhando nossa família.
Como? Fazendo Melissa ficar rebelde você questionar meu cuidado. Talvez porque seu cuidado mereça ser questionado. Eu cuido muito bem da Melissa. Cuidar bem é usar ela para mentir sobre uma pessoa inocente. Fabiana ficou sem resposta. Eu vou atrás de Valentina para pedir desculpas e depois depois vou pedir para ela voltar. Leonardo, se você fizer isso, eu saio de casa. Então sai. Fabiana ficou chocada.
Como assim sai? Se você não consegue conviver com alguém que faz minha filha feliz, o problema é seu. Você tá escolhendo uma faxineira ao invés da sua esposa. Tô escolhendo fazer o que é certo. Leonardo pegou as chaves. Aonde você vai? Procurar Valentina. E se ela não quiser voltar? Vou entender.
Depois do que você fez, ela tem todo o direito. Leonardo, se você sair por essa porta, o quê? Você vai fazer o quê? Fabiana percebeu que tinha perdido toda a influência sobre o marido. Nada. Só vou refletir sobre nosso casamento. Boa ideia. Leonardo saiu, deixando Fabiana sozinha com suas mentiras desmascaradas. Ela subiu pro quarto de Melissa. sua peste.
Você contou tudo. Você disse para não contar mentira. Eu disse para não contar o segredo. Mas papai perguntou. E você não podia ter mentido? Não gosto de mentir. Fabiana olhou pra menina com ódio. Por sua causa, eu vou perder meu marido. Desculpa. Desculpa, não adianta. Você arruinou tudo.
Melissa começou a chorar. Para de chorar. Não resolve nada. Fabiana saiu do quarto batendo a porta. Ela sabia que quando Leonardo voltasse com Valentina, sua posição na casa ia ficar insustentável. Era hora de ir embora. Mas não sem antes dar o último golpe. Se não podia ficar com Leonardo, ia se certificar de que ninguém mais conseguiria também. Leonardo dirigiu pela cidade, procurando Valentina.
Lembrou que ela mencionara morar num bairro próximo ao centro. Depois de uma hora rodando, parou num posto para perguntar se alguém conhecia uma mulher chamada Valentina, que trabalhava como faxineira. Valentina Costa? Perguntou o frentista. Sei sim. Ela tá ali na esquina vendendo quentinha.
Leonardo encontrou Valentina numa barraquinha simples, servindo marmitas para trabalhadores. Valentina? Ela olhou e ficou surpresa. Senhor Leonardo, posso falar com você? Claro. Eles se afastaram da barraquinha. Vim te pedir desculpas. Desculpas? Melissa me contou a verdade sobre a pulseira. Valentina ficou em silêncio. Fabiana armou tudo, colocou a pulseira no pano para te incriminar.
Eu sabia que tinha algo errado, mas quem ia acreditar em mim? Você tem razão e eu peço perdão por não ter investigado antes. Obrigada por acreditar agora. Valentina, quero te oferecer o emprego de volta. Ela hesitou. Não sei se é boa ideia. Por quê? A senora Fabiana vai continuar lá e ela claramente me odeia.
Na verdade, acho que Fabiana vai sair de casa. Como assim? Brigamos. Ela disse que se eu te trouxesse de volta ia embora. E o senhor escolheu me trazer? Escolhi fazer o que é certo para Melissa. Valentina olhou pra barraquinha de quentinhas, depois de volta para Leonardo.
Como Melissa tá destruída, chorando, não quer brincar? pergunta por você o tempo todo. Coitadinha, ela foi quem me contou a verdade. Mesmo com medo, ela defendeu você. Ela é uma menina especial. É. E precisa de você. Valentina pensou por alguns segundos. Tá bom, eu volto. Sério? Mas se a senora Fabiana me maltratar de novo, eu saio e não volto.
Isso não vai acontecer, eu garanto. Eles voltaram juntos para casa. Quando entraram, a casa estava estranhamente silenciosa. Melissa. Leonardo chamou. Papai. A voz veio do quarto. Desce aqui. Tem uma surpresa. Melissa desceu devagar e viu Valentina. Tina. Ela correu e se jogou nos braços de Valentina. Oi, querida. Senti muito sua falta. Você voltou para sempre? Voltei. Promete? Prometo.
Cadê Fabiana? Leonardo perguntou. Quarto fazendo malas. Malas? Ela disse que vai embora. Leonardo subiu para falar com Fabiana. Encontrou ela arrumando suas coisas. Então você decidiu sair mesmo? Não tenho escolha. Tenho. Você deixou claro que prefere eles a mim. Prefiro a verdade a mentira. Leonardo, eu cometi um erro.
Erro? Fabiana? Você destruiu a reputação de uma pessoa inocente. Eu tava tentando proteger nossa família. Proteger de quê? De alguém que faz Melissa feliz? De alguém que estava tirando ela de mim? Melissa nunca foi sua. Você nunca tentou conquistar o amor dela.
Tentei sim, mentindo para ela, usando ela nas suas armações. Fabiana parou de arrumar as malas. Leonardo, me dá uma chance. Eu posso mudar. Como posso aprender a lidar melhor com Melissa? Fabiana, você usou minha filha para incriminar uma pessoa inocente. Como eu posso confiar em você depois disso? Porque eu te amo. Amor, não faz isso que você fez. Leonardo, por favor.
Fabiana, é melhor você ir mesmo. Precisamos de tempo para pensar. Tempo para quê? Para decidir se ainda temos futuro juntos. E se eu não sair? Aí vai ficar muito desconfortável para todo mundo. Fabiana percebeu que não tinha mais poder de negociação. Tá bom, mas isso não acabou, Leonardo.
Ah, como assim? Melissa é uma criança especial. Ela precisa de cuidados que uma faxineira não pode dar. Que tipo de cuidados? Cuidados de mãe. E se eu não puder ser a mãe dela, talvez seja melhor ela ir para uma família que possa cuidar adequadamente. Do que você tá falando? Estou falando que existem famílias especializadas em crianças como Melissa.
Fabiana, você tá sugerindo que eu abandone minha filha? Tô sugerindo que você pense no bem-estar dela. O bem-estar dela é ficar com o pai que a ama e com uma fachineira como figura materna. Melhor com uma fachineira que a ama do que com uma madrasta que a maltrata. Fabiana terminou de fazer as malas em silêncio. Leonardo, você vai se arrepender dessa decisão.
Por quê? Porque criar uma criança especial sozinho não é fácil e nenhuma mulher vai querer se casar com um homem que tem uma filha problemática. Melissa não é problemática para você não é, mas pra sociedade. A sociedade que se dane. Fabiana desceu com as malas. Na sala encontrou Melissa brincando com Valentina.
Melissa, vem se despedir. A menina olhou para ela sem se mexer. Não quer não? Por que não? Porque você é má? Eu não sou má, só tentei te educar. Mentiu sobre Tina. Melissa, vai embora e não volta. A frieza de Melissa surpreendeu até Leonardo. Tá bom, mas um dia você vai entender que eu estava tentando te proteger. De quê? Melissa perguntou.
De pessoas que fingem gostar de você. Melissa olhou para Valentina depois de volta para Fabiana. Tina, não finge, você que fingia. A observação simples e direta deixou Fabiana sem resposta. Ela saiu da casa sabendo que tinha perdido tudo, mas também sabendo que não ia desistir tão fácil assim.
Se não podia ter Leonardo, ia se certificar de que ele também não seria feliz e sabia exatamente como fazer isso. Com Fabiana fora de casa, a vida mudou completamente. Melissa voltou a sorrir, brincar e aprender com Valentina. Leonardo começou a trabalhar meio período para passar mais tempo com a filha. Pela primeira vez, ele sentia que tinha uma família de verdade.
Papai, posso perguntar uma coisa? Melissa disse durante o jantar. Claro, princesa. Fabiana vai voltar? Não sei. Por pergunta. Porque tenho medo. Medo de quê? Dela ser má de novo? Leonardo olhou para Valentina que estava ajudando Melissa a cortar a comida. Princesa, se Fabiana voltar um dia, ela vai ter que prometer ser boa com você.
E se ela mentir? Como assim? Se prometer, mas continuar má? A pergunta mostrou como Melissa tinha aprendido a desconfiar de adultos. Então eu não vou deixar ela voltar. Promete? Prometo. Melissa sorriu e continuou comendo. Depois do jantar, Leonardo colocou Melissa para dormir e desceu para conversar com Valentina.
Como você acha que ela tá lidando com tudo isso? Melhor do que eu esperava. Criança é resiliente, mas as coisas que Fabiana disse para ela, você acha que causaram algum trauma? Causaram, mas amor cura trauma. E Melissa sabe que é amada. Por mim e por você? Sim. Leonardo ficou em silêncio por um momento. Valentina, posso te fazer uma pergunta pessoal? Pode. Por que você se importa tanto com Melissa? Porque ela me lembra meu irmão.
Você tem um irmão com síndrome de Down? Tinha. Ele morreu quando eu tinha 15 anos. Como? Pneumonia. Mas na verdade ele morreu de falta de amor. Como assim? Meus pais se envergonhavam dele. Viviam escondendo. Não levavam em lugar nenhum, não estimulavam. Quando ele ficou doente, quase não lutaram para salvar.
Leonardo ficou chocado. Quando vi como Fabiana tratava Melissa, lembrei do Júnior e jurei que não ia deixar acontecer de novo. Por isso você se dedicou tanto a ela. Por isso e por ela merece. Melissa é uma menina incrível. É sim. Eles ficaram conversando até tarde sobre planos pro futuro de Melissa, escola, atividades.
Por uma semana tudo foi perfeito, mas na sexta-feira Leonardo recebeu uma ligação no trabalho. Leonardo Mataratsu? Sim, aqui a Dra. Regina Santos do Conselho Tutelar. O sangue de Leonardo gelou. Pois não. Recebemos uma denúncia sobre negligência com uma menor sob sua guarda. Como assim negligência? Melissa Matarazo, 7 anos, síndrome de Down.
O que aconteceu com ela? Segundo a denúncia, a criança está sendo cuidada por uma funcionária sem qualificação enquanto o pai trabalha. A funcionária tem toda a qualificação e eu tô trabalhando meio período. Senr. Leonardo, preciso fazer uma visita técnica para avaliar a situação. Quando? Hoje à tarde. Hoje? É urgente. A denúncia alega risco iminente à criança. Leonardo desligou tremendo. Sabia exatamente quem tinha feito a denúncia.
Chegou em casa correndo. Valentina, Melissa. O que foi? Valentina apareceu assustada. Fabiana denunciou a gente pro Conselho Tutelar. Como assim denunciou? disse que Melissa tá sendo negligenciada, mas isso não é verdade. Eu sei, mas eles vão vir aqui hoje fazer uma avaliação e se eles acreditarem na denúncia, podem tirar Melissa de mim. Valentina ficou pálida.
O que a gente faz? Prepara tudo direitinho. Casa limpa, Melissa bem cuidada, documentos em ordem. E eu? Você o quê? Eu sou só faxineira. sem curso, sem qualificação oficial. E se eles acharem que não posso cuidar dela? Leonardo não tinha pensado nisso. A gente explica que você tem experiência, que Melissa te ama. Leonardo, se eles quiserem ser rigorosos, vão dizer que criança especial precisa de cuidador qualificado.
Então, o que você sugere? Que você contrate uma babá com curso técnico? E você? Eu continuo como faxineira, mas oficialmente não cuido da Melissa. Mas ela não vai aceitar outra pessoa. Vai ter que aceitar pelo menos até essa situação se resolver. Às 3 da tarde, Dra. Regina chegou com uma assistente social. Boa tarde, sou Dra. Regina Santos. Esta é a assistente social Marina. Boa tarde. Entre, por favor.
Onde está Melissa? no quarto descansando. Posso vê-la? Claro. Elas subiram. Melissa estava brincando com blocos de montar. Oi, Melissa. Eu sou Regina. Oi, como você tá? Bem. Quem cuida de você quando seu papai trabalha? Melissa olhou para Leonardo insegura. A tia Marina. Leonardo mentiu, apontando paraa assistente social que entendeu o código. E onde está a tia Marina? Aqui.
A assistente social entrou na encenação. Oi, Melissa. Como foi seu dia? Bom, as perguntas continuaram por meia hora. Melissa respondeu tudo direitinho, mas Leonardo percebeu que ela estava confusa com a situação. Depois elas conversaram com Leonardo sozinho. A denúncia alega que uma fachineira sem qualificação está responsável pela criança.
Como podem ver, isso não é verdade. Marina é formada em pedagogia. Posso ver o diploma dela? Leonardo estava numa cuuca de bico. Tá no carro dela. Ela pode buscar. Pode. A assistente social saiu buscar o diploma inexistente. Senr. Leonardo, quem fez a denúncia alega ter informações detalhadas sobre negligência. Que tipo de informações? Que a criança fica sozinha com empregada, que não recebe estímulos adequados, que está sendo prejudicada no desenvolvimento.
Isso é mentira. Posso falar com a denunciante? Quem é? Fabiana Mataradzo diz ser madrasta da criança. Exmadrasta. Estamos separados. Por isso ela denunciou. Provavelmente. Doutora Regina anotou tudo. Vou fazer relatório baseado no que vi hoje. A criança parece bem cuidada. Ela é muito bem cuidada. Mas vou precisar acompanhar a situação por algumas semanas. Sem problema.
Depois que elas saíram, Leonardo se sentou no sofá exausto. “E agora, Valentina perguntou? Agora a gente torce para Fabiana não ter mais cartas na manga”. Mas Leonardo sabia que Fabiana não ia desistir. A guerra tinha apenas começado e dessa vez estava em jogo não apenas a felicidade de Melissa, mas a própria guarda dela.
Na segunda-feira, Leonardo contratou Doutor Carlos Mendes, advogado especializado em direito de família. A denúncia é séria ele explicou. Fabiana alega abandono de incapaz e negligência, mas Melissa tá bem cuidada. Legalmente, o problema é, Valentina, não ter qualificação oficial para cuidar de criança especial.
E o que isso significa? Podem determinar que Melissa precisa de cuidador qualificado ou até mesmo transferir a guarda. Para quem? Para quem o juiz considerar mais adequado, incluindo Fabiana. Leonardo sentiu o chão desabar. Existe alguma solução? Algumas. Você pode contratar uma babá com diploma, colocar Melissa em escola em tempo integral ou ou casar com Valentina.
Como assim? Se ela for sua esposa, pode cuidar de Melissa legalmente. Madrasta tem direitos. Mas não é muito óbvio? É, mas se vocês realmente se amam, pode funcionar. Leonardo voltou para casa pensativo. Encontrou Valentina ajudando Melissa com lição de casa. Como foi, papai?”, Melissa perguntou. “Foi bem, princesa. Continue estudando.” Leonardo chamou Valentina para conversar na cozinha. A situação é complicada. Dr.
Carlos disse que podem tirar Melissa de mim. “Como assim tirar? Se provarem que você não tem qualificação para cuidar dela. E o que fazemos? Tem algumas opções.” Leonardo explicou as alternativas. Valentina ficou em silêncio. E a opção do casamento? Ela perguntou. Seria conveniente, mas não quero que você se sinta obrigada.
Leonardo, posso ser honesta? Claro. Eu te amo já faz tempo. Leonardo ficou surpreso. Sério? Sério? Mas nunca falei porque você era casado e depois porque achei que era apenas gratidão. Não é gratidão. Eu também. Também me apaixonei por você. Mesmo vendo como você ama Melissa, como cuida dela, como faz nossa casa ser um lar de verdade. Eles se aproximaram.
Então, quer se casar comigo? Leonardo perguntou. Para proteger Melissa? para proteger nossa família. Nossa família, Valentina? Não sei como explicar, mas vocês duas viraram minha vida. Não consigo mais imaginar existir sem isso. Nem eu. É um sim. É um sim. Eles se beijaram pela primeira vez, selando não apenas o compromisso legal, mas o emocional.
Mas temos que ser discretos, Leonardo disse, se parecer muito óbvio que a estratégia entendo. No dia seguinte, eles foram ao cartório. Casamento civil simples, apenas com testemunhas necessárias. Agora você é oficialmente senhora Matarazo! Leonardo disse saindo do cartório. E Melissa tem uma mãe legal. Quando chegaram em casa, Melissa correu para recebê-los.
Cadê vocês foram? Fizemos uma coisa importante. Leonardo disse. O quê? A Tina agora é minha esposa. Melissa ficou confusa. Esposa é o quê? É como quando duas pessoas se amam muito e decidem ser família. Tina é família. Agora sempre foi, mas agora é oficial. Posso chamar ela de do que você quiser. Melissa olhou para Valentina.
Posso chamar de mamãe? Valentina se emocionou. Se você quiser. Quero. Então pode, mamãe. Era a primeira vez que Melissa dizia essa palavra desde a morte da mãe biológica. À tarde, Dra. Regina chegou paraa quarta visita. Boa tarde. Soube que houve mudanças na situação familiar. É verdade. Me casei com Valentina. Quando? Hoje de manhã.
Bem conveniente, não acha? Doutora Regina, posso ser franco? Pode, sim, foi conveniente, mas também foi o que eu queria fazer há tempos. Como assim? Eu me apaixonei por Valentina, vendo como ela cuida da Melissa. O timing legal apenas acelerou uma decisão que eu já tinha tomado emocionalmente. E você, Valentina, também se apaixonou convenientemente? Doutora, eu me apaixonei por Leonardo muito antes de saber dos problemas legais.
Se fosse só conveniência, teria arranjado outro emprego. Por que não arranjou? Porque não conseguia abandonar Melissa. mesmo sendo maltratada pela ex-esposa dele, principalmente por isso, Melissa precisava de alguém que acreditasse nela. Dra. Regina anotou tudo. Posso conversar com Melissa? Claro. Ela subiu pro quarto da menina. Oi, Melissa.
Como você tá? Bem. Soube que agora você tem uma mãe nova. Tenho. Mamãe Tina. E como você sente com isso? Feliz. Por quê? Porque agora tenho família completa. Explica isso para mim, papai, mamãe e eu, como outras famílias. E você gosta da mamãina? Gosto muito. O que ela faz que você gosta? Brinca comigo? Ensina coisas? Não grita.
Alguém gritava com você? Fabianas gritava. E agora? Agora não. Só amor. Só amor. Papai ama. Mamãe ama. Eu amo. Dout. Regina desceu emocionada. Melissa parece genuinamente feliz. Ela é Leonardo confirmou. Vou fazer o relatório final. Baseado em tudo que observei, não vejo motivos para intervenção. Sério? A criança está bem cuidada, feliz, se desenvolvendo.
O casamento pode ter sido estratégico, mas o resultado é positivo para ela. E a investigação, vou recomendar arquivamento do caso. Depois que Dra. Regina saiu, a família comemorou. Acabou? Melissa perguntou. Acabou, princesa. Fabiana, não pode me levar? Não pode.
Bom, naquela noite, Leonardo e Valentina conversaram depois de colocar Melissa para dormir. “Você se arrepende?”, ele perguntou. “De ter me casado, de ter assumido uma família complicada. Leonardo, essa família não é complicada, é especial. Como assim? Melissa me ensinou que amor não tem limitações, que felicidade tá nas coisas simples, que família é quem ama, não quem tem o mesmo sangue.
E eu aprendi que ser pai não é só dar comida e casa, é dar atenção, carinho, presença. Agora somos três pessoas que se amam de verdade. Três pessoas que vão enfrentar tudo juntas. Mas Leonardo sabia que Fabiana não ia aceitar a derrota facilmente. A guerra ainda não tinha acabado. As primeiras semanas de casamento foram de adaptação. Melissa levou alguns dias para se acostumar a chamar Valentina de mamãe, mas quando se acostumou não parava mais.
“Mamãe, olha”, ela dizia a cada pequena conquista. Mamãe, vem quando queria mostrar algo. Mamãe, fico com você. Quando tinha medo, Leonardo observava as interações com emoção crescente. Pela primeira vez, desde a morte de Camila, sentia que Melissa tinha uma figura materna de verdade. Leonardo, posso perguntar uma coisa? Valentina disse numa noite. Claro.
Você sente que tá atraindo a memória da Camila? A pergunta pegou ele desprevenido. Às vezes sim, mas não do jeito que você imagina. Como assim? Eu me sinto culpado por ter demorado tanto para dar pra Melissa o que ela precisava. Que coisa! Uma mãe que realmente a amasse. Camila amava. Ela amava. Mas Camila morreu quando Melissa era bebê.
Ela cresceu sem referência materna e com Fabiana. Fabiana fingia e eu era cego demais para perceber. Leonardo, você fez o melhor que podia. Fiz. Deixei minha filha ser maltratada por dois anos. Você não sabia. Devia ter sabido. Sou pai dela. Valentina pegou na mão dele. O importante é que agora você sabe e está fazendo diferente. Graças a você, graças a nós, somos uma equipe agora.
Na escola, as mudanças em Melissa eram evidentes. A professora comentou com Valentina: “Melissa tá muito mais participativa nas aulas. Como assim? Antes ela era mais quieta, retraída, agora levanta a mão, faz perguntas, interage com os colegas. Isso é bom, né? Muito bom. Mostra que ela tá se sentindo mais segura.
Segura como criança que se sente amada em casa fica mais confiante na escola. E como ela fala sobre casa, sempre fala da mamãina com muito carinho. Desenha vocês três juntos o tempo todo. Em casa, Melissa realmente desenhava a família constantemente, sempre as três figuras juntas. Papai alto, mamãe média, ela pequena. Todas sorri.
No quarto mês de casamento, Melissa teve uma crise de choro inexplicável. O que foi, princesa? Leonardo perguntou. Tenho medo. Medo de quê? Mamãe ir embora. Porque ela iria embora. Fabiana foi embora. Leonardo entendeu. Melissa tinha medo de que Valentina também a abandonasse. Melissa, olha para mim. Ela olhou. Mamãe Tina não é igual Fabiana. Como sei? Porque mamãe Tina te ama de verdade.
E Fabiana? Não amava não. Fabiana fingia. Como sei que mamãe não finge? Era uma pergunta difícil de responder para uma criança. Porque quando alguém ama de verdade, você sente aqui. Leonardo apontou pro peito. Sinto. Sente o quê? Que mamãe me ama. Então pode ficar tranquila, Valentina.
que ouviu a conversa da porta, entrou no quarto. Melissa, posso te contar um segredo? Pode. Eu te escolhi. Como assim? Fabiana foi obrigada a cuidar de você porque casou com seu pai. Eu escolhi cuidar de você porque quis. Escolheu mesmo. Escolhi desde o primeiro dia que te vi. Por quê? Porque você é especial. E eu sempre quis ter uma filha especial como você. Mesmo, mesmo.
Melissa abraçou Valentina forte. Eu também escolho você. Para quê? Para ser minha mãe para sempre. Para sempre. A partir daquela conversa, Melissa ficou mais segura, parou de perguntar se Valentina ia embora e começou a fazer planos pro futuro. Mamãe, quando eu crescer, posso morar com vocês? Claro, você sempre vai ser nossa filha.
E quando vocês ficarem velhinhos, eu cuido de vocês, se você quiser. Quero, porque família, cuida de família. Leonardo e Valentina se olharam emocionados. Melissa tinha entendido perfeitamente o conceito de família. Uma noite, Leonardo encontrou Valentina chorando na cozinha. O que foi? Nada grave, só felicidade. Felicidade, Leonardo, eu nunca pensei que ia ter uma família e agora tenho você e Melissa.
E nós temos você. Às vezes parece sonho. Se for sonho, não quero acordar. Nem eu. Eles se abraçaram, sabendo que tinham construído algo especial. Mas na semana seguinte, Fabiana voltaria para tentar destruir tudo que eles tinham conquistado. Numa quinta-feira de manhã, Fabiana apareceu na porta com um homem de terno.
Leonardo, preciso falar com você. O que você quer, Fabiana? Vim buscar o que é meu. Você não tem nada aqui. Tenho sim direitos sobre Melissa. O homem se apresentou. Dr. Márcio Silva, advogado, venho representar os interesses da senora Fabiana. Que interesses? Valentina perguntou, aparecendo na porta. A senhora foi madrasta da menor por do anos.
Isso lhe garante direitos de convivência. Leonardo chamou o Dr. Carlos pelo telefone. Doutor, preciso de você aqui. Urgente. Enquanto esperavam, Fabiana entrou na casa. Cadê Melissa? na escola. Bem, a propósito, assim posso falar sem ela ouvir. Falar o quê? Sobre o futuro dela. Fabiana, você não tem futuro com Melissa? Tenho sim.
Fui madrasta dela por dois anos. Cuidei, eduquei. Fui figura materna. Valentina quase riu. Figura materna? Você maltratava ela. Isso é sua versão. É a verdade. Prove. Doutor Carlos chegou rapidamente. Qual a situação? Dr. Márcio explicou. Minha cliente quer direitos de convivência com a menor. Lei garante isso a madrastas que conviveram familiarmente.
Por quanto tempo? Do anos. E qual o pedido específico? Visita as quinzenais supervisionadas. E se o pai se opuser, pode apelar paraa justiça, alegando que casamento dele com a faxineira foi apenas para prejudicar direitos da minha cliente. Leonardo percebeu a armadilha. Se lutasse contra as visitas, Fabiana usaria isso para questionar seu casamento. Dr.
Carlos, ela pode conseguir isso? Tecnicamente sim. Se provar convivência familiar, eu posso provar. Fabiana disse: “Tenho fotos, vídeos, documentos. Que tipo de documentos? Consultas médicas que acompanhei, reuniões na escola, compras que fiz para ela. Leonardo sabia que Fabiana tinha mesmo essas coisas. Ela sempre documentava tudo para parecer boa madrasta. Mas tem um problema, Dr.
Carlos disse. Qual? Se for provado que houve maus tratos durante essa convivência, os direitos são anulados. Como provar maus tratos? Dr. Márcio perguntou. Testemunhas, evidências, confissão. Não há nada disso. Valentina teve uma ideia. Dr. Carlos, posso falar 5 minutos sozinha com Fabiana? Não é recomendado. Por favor, talvez a gente consiga resolver isso sem advogados.
Fabiana aceitou. Os advogados saíram. Leonardo ficou na cozinha, mas deixou o celular gravando escondido. Fabiana, o que você realmente quer? Quero meus direitos. Que direitos? Você odiava, Melissa? Eu não odiava. Odiava sim. Você mesma falou várias vezes quando? quando disse que ela deveria ter morrido com a mãe Valentina, quando beliscava ela, quando deixava com fome, quando gritava, eu perdia a paciência às vezes.
Às vezes era sempre você maltratava uma criança inocente. Eu eu tentava amar ela. Tentava? Amor não se tenta, Fabiana. Ou existe ou não existe. Eu não conseguia. Toda vez que olhava para ela, sentia raiva. Raiva de uma criança de 7 anos. Raiva da situação do fato de Leonardo nunca ter me amado como amou a Camila.
E você descontou isso na Melissa? Eu? Talvez. Sim. Como você descontava? Sendo dura, impaciente. Que mais? Valentina, você quer que eu confesse? Quero que você seja honesta pela primeira vez na vida. Tá bom. Eu odiava ter que fingir que gostava daquela menina. Odiava ter que cuidar dela. E como demonstrava esse ódio, sendo cruel, dizendo que ela era um fardo, que por causa dela, Leonardo nunca ia me amar completamente.
Você disse isso pra Melissa? Disse e disse mais. disse que ela arruinou minha chance de ser mãe. Leonardo na cozinha gravou tudo. Os advogados voltaram. “Chegaram a algum acordo?”, Dr. Márcio perguntou. “Chegamos.” Valentina disse. Fabiana vai desistir de qualquer direito sobre Melissa. Como assim desistir? Leonardo apareceu com o celular.
Porque ela confessou que odiava e maltratava Melissa. Tá tudo gravado. Dr. Márcio olhou para Fabiana chocado. É verdade isso? Fabiana percebeu que tinha caído numa armadilha. Foi uma conversa privada que pode ser usada como evidência. Dr. Carlos confirmou. Fabiana. Leonardo disse você tem duas escolhas. Desiste dos direitos sobre Melissa ou uso essa gravação contra você.
Mas mais nada. Você confessou que odiava minha filha, que maltratava ela, que dizia coisas cruéis. Dr. Márcio sussurrou algo no ouvido de Fabiana. Minha cliente aceita desistir dos direitos. Por escrito, por escrito. Dr. Carlos preparou um documento de renúncia. Fabiana assinou com lágrimas nos olhos.
Leonardo, você vai se arrepender do quê? De escolher essa família ao invés de mim. Já escolhi Fabiana e foi a melhor decisão da minha vida. Fabiana saiu da casa sabendo que tinha perdido definitivamente. À tarde, quando Melissa voltou da escola, Leonardo contou que Fabiana não ia mais incomodá-los. Ela foi embora para sempre. Para sempre.
Bom, por que bom? Porque agora posso ser feliz sem medo. E pela primeira vez desde que Fabiana saíra de casa, Melissa sorriu sem nenhuma sombra de medo no olhar. Três meses depois, a vida da família tinha se estabilizado completamente. A ameaça de Fabiana havia passado e agora eles podiam focar no que realmente importava. ser felizes juntos. Melissa estava florescendo de uma forma que surpreendia até mesmo os médicos.
Na última consulta com o pediatra, Dr. Roberto comentou: “O desenvolvimento da Melissa está excepcional”. “Como assim, Leonardo perguntou. Ela está atingindo marcos que não esperávamos pra idade dela. E que tipo de marcos? Comunicação, coordenação motora, interação social, tudo melhorou significativamente.
O que pode ter causado isso? Ambiente estável, amor incondicional, estímulos adequados? Valentina sorriu orgulhosa. E na escola, professora diz que ela é uma das alunas mais queridas da turma. Mesmo sendo diferente, Melissa perguntou. Princesa, você não é diferente. Você é especial. Leonardo respondeu: Especial é bom. Especial é maravilhoso. Em casa, Melissa tinha desenvolvido pequenas rotinas que mostravam como se sentia segura.
Todas as manhãs ela acordava e ia direto pro quarto de Leonardo e Valentina. Bom dia, papai. Bom dia, mamãe. Bom dia, meu amor. Valentina respondia. Posso fazer café com vocês? Claro que pode. Na cozinha, Melissa ajudava com tarefas simples. Colocar pães na mesa, guardar louça, organizar as coisas, sempre cantarolando baixinho, sempre sorrindo.
Mamãe, posso perguntar uma coisa? Pode, você vai ter bebê? Valentina ficou surpresa. Por que pergunta isso? Porque outras mães da escola têm bebês. E você quer um irmãozinho? Quero, mas só se vocês quiserem. E se tivermos um bebê, você vai ajudar a cuidar? Vou vou ensinar ele tudo que mamãe me ensinou. Leonardo e Valentina se olharam.
Eles tinham conversado sobre ter filhos, mas ainda não tinham decidido nada. Melissa, mesmo se tivermos outro bebê, você sempre vai ser nossa primeira filha. Sempre. Sempre. Bom, uma semana depois na escola houve festa do dia da família. Cada criança podia levar os parentes para apresentar pra turma. Melissa estava radiante.
Papai, mamãe, venham conhecer meus amigos. Ela os apresentou para toda a turma. Este é meu papai, Leonardo. Esta é minha mamãe. Tina. Uma criança perguntou: “Melissa, por que sua mãe não parece com você?” “Porque ela me escolheu. Como assim escolheu? Ela não precisava ser minha mãe, mas quis. Isso é mais especial. A professora ficou emocionada com a resposta.
Durante a atividade, cada criança tinha que desenhar sua família. Melissa fez o desenho de sempre. Três figuras de mãos dadas, todas sorrindo. Mas desta vez ela escreveu embaixo: “Minha família que me ama.” Melissa, você escreveu isso sozinha?”, a professora perguntou. “Escrevi, mamãe”, me ensinou. Oh, ficou lindo.
No final da festa, a diretora conversou com Leonardo e Valentina. Quero agradecer vocês. Por quê? Melissa mudou completamente desde que vocês se casaram. Ela era uma criança triste, retraída, agora é uma das mais participativas. Ela sempre foi especial, só precisava de amor. E vocês deram isso a ela. Ela nos deu muito mais.
No caminho de volta para casa, Melissa disse: “Papai, mamãe, posso contar um segredo?” Pode. Eu sou a criança mais feliz da escola. Por quê? Porque tenho a melhor família do mundo. Mesmo nós não sendo ricos, Leonardo perguntou: “Ricos em quê?” “Em dinheiro. Somos ricos em amor. É melhor.” Naquela noite, depois de colocar Melissa para dormir, Leonardo e Valentina conversaram na varanda.
“Você se arrepende de alguma coisa?”, ele perguntou. “De nada.” “E?” Só me arrependo de ter demorado tanto para perceber o que realmente importa. Que coisa, que família não é quem você nasce, é quem você escolhe amar. E quem escolhe amar você de volta. Melissa escolheu a gente desde o primeiro dia e a gente escolheu ela também.
Leonardo pegou na mão de Valentina. Sabe o que eu quero pro futuro? O quê? Quero envelhecer vendo Melissa crescer, se formar, talvez casar, talvez ter filhos. Você acha que ela vai conseguir tudo isso? Com o amor que ela tem em casa, ela vai conseguir qualquer coisa, até ser mãe, principalmente ser mãe.
Ela vai ensinar pros filhos dela o que aprendeu com você. O que eu ensinei? Que amor não tem limites, que todo mundo merece ser amado, que família é sobre escolhas, não sobre sangue. Valentina se emocionou. Leonardo, obrigada por me deixar fazer parte disso. Obrigado por completar nossa família. Eles se beijaram sob as estrelas, sabendo que tinham vencido a batalha mais importante de suas vidas.
Dentro de casa, Melissa dormia tranquila. sonhando com sua família perfeita, um pai que a amava, uma mãe que a escolheu e um lar onde ela podia ser exatamente quem era. No criado mudo estava o desenho que ela tinha feito na escola. Três figuras de mãos dadas, sorridentes, com a frase “Minha família que me ama”, escrita com capricho.
Era a prova de que o amor verdadeiro sempre vence e que as melhores famílias são aquelas construídas com escolhas do coração, não com obrigações do sangue. Gostou dessa história? Você acha que Fabiana teve o que mereceu? Acha que Leonardo demorou demais para enxergar a verdade? Me conta nos comentários. Até a próxima história.
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